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CENTRO UNIVERSITÁRIO CLARETIANO

CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA


Fundamentos da Educação – 1º Semestre 2020
Profa. Maria Cecilia de Oliveira Adao

Cristiana Rodrigues Pacheco – RA 8114756

Portfólio 1 – Mito de Orfeu

Portfólio 1 apresentado para a


disciplina Fundamentos da Educação
sob orientação da professora Maria
Cecilia de Oliveira Adao

São Paulo, 16 de maio de 2020


CENTRO UNIVERSITÁRIO CLARETIANO
CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA
Fundamentos da Educação – 1º Semestre 2020
Profa. Maria Cecilia de Oliveira Adao

O Mito de Orfeu

O mito escolhido foi o mito de Orfeu, por sua óbvia relação com meu objeto de
estudo, a música. Orfeu é um ser mítico, poeta e músico, foi um dos cinquenta Argonautas
que partiram com Jasão em busca do tosão de ouro. Casou-se com Eurídice, uma ninfa de
extrema beleza, a quem dedicava grande amor. Pórem a ninfa, enquanto passeia nas margens
de um rio, é avistada e perseguida por Aristeu. Na fuga, foi picada por uma cobra, o que
causou a sua morte. Inconformado, Orfeu não pode aceitar o fato, e uma vez que o amor pela
esposa não conhece limites, parte para a região subterrânea do Hades.
No Hades, ele consegue conquistar a tudo e a todos com a sua música encantadora: O
barqueiro Caronte, as almas dos mortos, as Eumênides, o cão Cérbero, o ávido Tântalo, Íxion,
as aves , as Bélides, e finalmente os governantes do Hades, Plutão e Perséfone. O pedido do
cantor é atendido desde que observe uma condição imposta pelos deuses do Tártaro: Não
olhar nenhuma vez para trás até que saiam completamente do mundo das sombras. Quase no
final da jornada, Orfeu não se contém e olha para trás, perdendo Eurídice para sempre.
Os mitos, transmitidos por tradição oral, continham ensinamentos profundos e ao
mesmo tempo práticos. As personagens dos mitos homéricos erem possuidores de extrema
honra, bravura, honestidade, amizade, sabedoria e um elevado senso de justiça, estes heróis
eram modelos a serem seguidos. Desde muito jovem o homem grego aprendia a respeitar os
deuses e acreditar nos mitos, e usar as virtudes dos hérois como modelos.
Força, habilidade com instrumentos musicais, beleza, ou ainda nobreza de sua linhagem, o
jovem grego deveria desenvolver-se ao máximo nestes atributos e sobressair-se aos demais,
atingindo assim a areté heróica. (termo grego que é comumente traduzido como virtude, ou
excelência).
Sendo originariamente privilégio de uma aristocracia de guerreiro, a educação grega
englobava aspectos técnicos, (como aptidões físicas ou com armas, oratória, dança ou canto,
habilidade de tocar instrumentos) quanto éticos, sendo igualmente necessários, conforme
Marrou (1998, p.20-p-25). “O homem grego, não é verdadeiramente feliz senão quando se
sente, quando se afirma como o primeiro em sua categoria, distinto e superior” - Marrou
(1998, p.30). Ele deve desenvolver suas habilidades olímpicas, nas guerras, na riqueza e
também na beleza (arte), buscando o destaque diante dos demais.
Orfeu é a representação do artista perfeito, do amor perfeito, que pode vencer até a
morte, mas não pode obter a vitória completa sobre esta. Filho de Apolo, deus de harmonia e
beleza escultural, e da mais importante musa, Calíope, que possuía o dom da música e o
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domínio sobre o presente, passado e futuro, Orfeu carrega o mesmo instrumento do pai, a lira.
Ele mesmo, porém, não é um deus, mas um mortal.
Este mito gerou diversas reflexões acerca de seu significado e lições ao longo das eras,
além daquela que deve ter impactado os gregos no período homérico. Segundo Guthrie, para
Platão, Orfeu teve que retornar de mão vazias porque “ele era somente um pobre músico sem
coragem que procurara entrar no inferno vivo, no lugar de ter a força de morrer para
encontrar de maneira normal a sua bem amada (como Alceste o fizera)”
Orfeu, ao olhar para trás estava agarrado a matéria, ao passado. Para conseguir seu
intento, ele deveria desapegar-se por completo. Assim, transgrediu o tabu das direções, que
assim como os pontos cardeais, tinham grande simbolismo para as culturas antigas. Não olhar
para trás pode simbolizar largar o passado, ter a capacidade de compreender, aceitar e
cumprir.
A música, como a arte do tempo, só pode existir no momento presente, então Orfeu
deve deixar tudo para trás. Ele pode conquistar quase tudo com sua música, mas o amor
perfeito, que suplantaria a morte, só pode vir com o completo desapego. Ao mesmo tempo,
Orfeu é neto da deusa Mnemósine, (memória), que pode também ser relacionada com a
música, já que todo aprendizado musical se dá através dela.
Reynaldo Sorel diz, sobre o Orfeu após o seu retorno do Hades: “Esta nova vida é uma
ferida, uma errância, uma solidão, uma dolorosa quebra. Mas Orfeu é mais “consciente”
(iniciado) do irreparável erro que cometeu esquecendo a lei de Perséfone... Esta é a razão
pela qual seu mito,...,incita os homens a cultivar as virtudes das memórias dos ritos a
cumprir, dos caminhos a seguir...a cabeça de Orfeu decapitada continua a cantar. E cantar
para o grego é submeter-se a memória.”

Bibliografia:
MARROU, H.-I. História da educação na antiguidade. São Paulo: EPU, 1990.
GUTHRIE, W. K. C. Orfeo y la religión griega. Buenos Aires: EUDEBA, 1970
SOREL, Reynald , L’Orfeé et l’Orfisme, 1. Ed Paris, Presses Universitaires de France,1985
OLIVEIRA, Maria Claudete de Souza, Presenças de Orfeu, Tese de doutoramento, USP
2006
SALEMA, Vivian Garcia, O mito de Orfeu nas metamorfoses de Ovídio , artigo, UFRJ

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