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TEXTO A
Cena 9
Bertoli vira-se. Alegoria aproxima-se das costas dele e percorre-as com o dedo até
encontrar a zona do canto, onde o dedo para para depois se mover mais lentamente à
medida que vai cantando.
[…]
BERTOLI – Uma canção. Uma pequena canção que me faz comichão nas costas. Foi
numa conferência sobre música popular. Há mais, um pouco mais adiante, estás a vê-
las?
ALEGORIA – Estou. Mas àquela acrescentaram qualquer coisa ao lado, na margem. Está
meio apagado, dir-se-ia uma pauta com notas de música. Fazes ideia do que seja?
BERTOLI – Sim, já mas leram e cantaram antes. Era o professor louco. Mal aqui che-gava,
punha-se a corrigir os livros, sobretudo os livros de música e as partituras. Quando se
deram conta, proibiram-no de voltar cá. Nunca vos calhou?
ALEGORIA – Não...
RAGIONELLO – A mim também não. Mas conheci outros loucos. Havia um que me
requisitava todos os dias e que me decorava entoando-me em voz baixa. Tinha as
unhas incrivelmente sujas. Por fim, também o expulsaram, quando se deram conta de
que ele limpava as unhas com os cantos dos livros. Nunca cheguei a saber quem ele
era. Em contrapartida, aquele que arrancava uma a uma as páginas da Razão pura, vim
a saber que era um estudante alemão. Quando o apanharam em flagrante, eu estava
em cima da mesa, no topo da pilha de livros que ele tinha requisitado. Cheguei a pensar
que também eu não escapava.
[…]
RAGIONELLO – Aqui tudo é sonho e visão. Até os leitores que cá vêm, até o mundo que
está lá fora. Tudo se extinguirá.
2. Que tipo de informação nos transmite a primeira didascália apresentada? Numa representação
teatral, a quem poderá interessar esta informação?
4. Explicita os motivos que conduziram à expulsão da biblioteca de algumas das pessoas referidas.
TEXTO B
Sabemos que acaba mal. Orfeu não resistiu a olhar para trás e Eurídice mor-
5 reu. Os deuses não lhe perdoaram, apesar de o terem provocado. Mas o que pode
o amor? Orfeu desceu aos infernos para resgatar Eurídice, sob promessa de nunca
olhar para trás, mas a tentação foi maior e ela ficou, para sempre, nas mãos dos
deuses, rudes, impiedosos, cruéis.
É um mito, sobre o que fazemos por amor, dos mais belos que o tempo guardou
10 e que até domingo se mostra na Culturgest, em Lisboa, através das imagens – no
palco pelos bailarinos e projetadas por vídeo – criadas pelos coreógrafos Domini-
que Hervieu e José Montalvo, também diretores artísticos do Théâtre de Chaillot,
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onde a peça se estreou em 2010.
A dupla de coreógrafos é, poderíamos dizer, velha amiga da Culturgest onde já
apresentou Le Jardin Io Io Ito Ito (2000), Bebelle Heureuse (2003), On Danfe
(2005) e Good Morning Mr. Gershwin (2009). Em todos os seus espetáculos a
combinação entre a dança clássica e a contemporânea, entre os efeitos
tecnológicos e a coreografia, serve uma estrutura aberta, que convida o espectador
a projetar um desejo de evasão nos espaços deixados por preencher pela profusão
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de elementos. Não é diferente agora. Misturam a dança clássica com o hip-hop,
cantores-bailarinos africanos com bailarinos contemporâneos, num gesto que
procura ir ao encontro da universalidade artística e filosófica do mito.
A história de Orfeu e Eurídice foi, ao longo dos séculos, e desde Ovídio e
Virgílio, objeto de múltiplas adaptações, das óperas de Monteverdi, Gluck e Philip
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Glass aos filmes de Jean Cocteau e Marcel Camus, do quadro de Rubens aos
sonetos de Rilke. Em todas as leituras se procurou dar a Orfeu o mais humano dos
rostos, alimentando a ideia de que o seu drama era intemporal e, por isso mesmo,
reconhecível por todos. “Poeta divino, mas sobretudo poeta humano”, dizem os
coreógrafos, para quem a peça se equilibra “entre a força da arte e do amor”, onde
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surge “o encantamento, o caos e a estranha magia da arte do apaziguamento,
perda, o olhar mortal, o inferno e a fronteira entre os mortos e os vivos”.
8. Seleciona, em cada item (8.1. a 8.6.), a opção correta relativamente ao sentido do texto.
8.2. A expressão “A dupla de coreógrafos é, poderíamos dizer, velha amiga da Culturgest” (l. 14)
significa que
a. frequentam esse espaço há muitos anos.
b. colaboraram anteriormente com essa instituição.
c. apreciam as peças apresentadas neste local.
d. são amigos da atual direção deste organismo.
Grupo II
Coluna A Coluna B