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Outubro/2021
ÍNDICE
● GÖTSCH, Ernst: “‘TAO' para nossa compreensão da vida [alternativa ao nosso conceito
atual, no que diz respeito à vida”..…………………………………………………………….……….…...1
Data:2
6-03-2019
Primeiro,s obreo
c onteúdo:
Afi
guraa s eguir,à q
uale ud
eio
n
omed
e1
5P
RINCÍPIOS,N
OMEADOS:
'TAO'P
ARAN OSSAC OMPREENSÃOD AV
IDA[ ALTERNATIVAA
ON
OSSOC
ONCEITO
ATUAL,N OQ
UED
IZR ESPEITOÀ
V
IDA]
é concebido sob a forma de um compêndio, composto por 15 princípios.
Proposições, conclusões, resultantes de décadas de questionamento - e tentando
criar alternativas ao
nosso
conceito atual, sobre a vida e a natureza. Além daquele
anterior, algumas reflexões, e também como agir, para que a nossa participação se
torne útil e benéfica para todos os seres submetidos e afetados por nossas
interações.
1
Paralelamente a isso, sempre me esforcei para pôr em prática o conteúdo de
minhas conclusões, fazendo inúmeras experiências, a fim de testar a validade
de
minha hipótese: primeiro na Europa Central e, há quarenta anos, continuando,
fazendoo m
esmo,m asp rincipalmenten ost rópicos.
Em 1992, comecei a escrever em palavras e a projetar em numerosas figuras
aquelas minhas conclusões, que me pareceram significativas para nossa questão. A
partir de então, - há 27 anos - esses princípios se transformaram em diretrizes
rígidas para todas as minhas interações. Isto é, como agricultor, trabalhando com o
ciclo
da água, solo,
plantas e animais. E isso,
aplicando-os, realizando-os nos mais
diversos contextos, em relação à vegetação, textura e composição do solo, bem
como em termos de condições climáticas, nos lugares onde tenho ou tive o
privilégio de
participar, de
lugares áridos, sub-desérticos, a floresta tropical úmida
ed
on íveld om ara téá rease mg randesa ltitudes.
O foco principal, durante meus mais de 60 anos de constante e intenso
envolvimento profissional, sempre foi - muitas vezes começando com os
chamados "solos pobres" a alcançar, combinando alta produtividade dos "meus"
ecossistemas agrícolas, com vigor e saúde de ' minhas plantas e animais e, ao
mesmo tempo, obter um equilíbrio positivo, considerando a vida estabelecida,
bemc omoe nergicamente.
Questionando e testando, de novo e de novo, lutando para entender o "por quê" e
o "como", e para entrar em acordo com muitas contradições entre nosso
conhecimento estabelecido e o mundo
real.
E então,
traduzir isso
em
ação, e isso
de certo modo, ser capaz de transformar nossa atividade de cultivar comida em
um empreendimento alegre, realizando-a, movida pelo prazer interno,
e chegar a
um ponto de tornarmos úteis para o ecossistema no qual intervimos, e sermos
benéficosp arat odoso sq
ues ãos ubmetidose a fetadosp orn
ossasinterações.
Esses princípios, quando compreendidos e depois postos em prática em nossos
esforços para obter alimentos abundantes e de melhor qualidade, como um
dos
efeitosd en
ossasinteraçõesc omo r einod
asp
lantas,n
osp ermitem:
-O
btê-loa b
aixoc usto,m
ateriale e nergeticamente,
2
- resultando, que nossa atividade realmente se torne benéfica, para o agricultor,
parao e cossistemae p
arat odoso sd emaisinfluenciadosp orn
ossao peração.
Além disso, adotando o que eu sugiro em nossa prática, chegaremos a uma
agricultura baseada em processos, na qual o maior insumo externo necessário
para fazê-lo funcionar será o conhecimento. Conhecimento em microbiologia,
micorriza, biologia do solo, ciclo da água, propriedades eco-fisiológicas e sociologia
de plantas e animais tratados etc., etc. ... e, por último, mas não menos
importante, ética: ponha em prática, em toda a nossa interação, os
princípios
do
amor incondicional e da cooperação e vivendo de acordo com o dito do
"imperativoc ategórico".
Ems egundolugar,p
arao
se ducadores:
O conteúdo, afirmações, que compõem esses princípios mencionados aqui, podem
ter propriedades que
para
muitos professores podem parecer bastante estranhos,
... ou pelo menos "incomuns", ou, digamos, derivados de um universo dissimilar
ao que somos parte. - Apesar disso, peço-lhe, antes
de
rejeitar
tudo
de
uma
vez,
para tentar, pelo menos, compreender e talvez - mais tarde - perceber toda a
gama de ideias
e deduções que,
afinal,
me trouxeram para este
novo
mundo: um
mundod eh armonia,d ep
az.O m
undod av ida.
Eu recomendo considerar que nosso modo de perceber, muitas vezes, é
fortemente influenciado, pelo que vemos, olhando em nosso espelho, e menos
por aquilo que está presente em nosso redor,
o mundo
real.
Isto
principalmente,
por
acreditarmos que estamos - e por
nos convencermos, e nos comportarmos de
acordo, como se fôssemos "espécies inteligentes". [ Nós somos? Ou
modestamente somos apenas parte de um sistema inteligente?]. Essa crença
acima mencionada, e em sua consequência, nosso comportamento resultante
disso, nos torna sujeitos a comportarmos de maneira “autista” e, em
conseqüência, compilamos o que vemos, olhando em nosso espelho, a um quadro
3
axiomático, chamado "verdades" e "fatos", sobre o qual não raramente se baseiam
asc rençase c omportamentosd
es ociedadesinteirase c ivilizaçõesinteiras.
Nós realmente sabemos disso, mas por não estarmos prontos, ou - talvez não
sendo capazes de querer [?] - pagar o preço sobre o que sabemos, e o que
deveríamosf azer,p referimosignorá-lo.
Críticas ou declarações de alguns membros sábios da nossa espécie, apontando
para este tipo de crenças, ou erros cometidos, normalmente são rejeitadas ou
interpretadasd eu mam aneirap araq ues ee nquadremn op
aradigmad ominante.
Em terceiro lugar, uma anotação sobre a terminologia usada, pois algumas
palavrase e xpressõesp odemp arecerincomuns:
Para o significado da maioria das expressões, o leitor atento entenderá sozinho.
Outros, na verdade todos eles, também estão sendo usados em contextos, que
revelarão seu
significado em
uma série
de
artigos escritos e ainda não editados, e
figuras projetadas por mim. [Sua publicação está sendo planejada para acontecer
nosp
róximosm eses.]
15P
RINCÍPIOS:
'TAO' PARA NOSSA COMPREENSÃO DA VIDA [ALTERNATIVA AO NOSSO CONCEITO
ATUAL,N OQ UED
IZR
ESPEITOÀ
V
IDA]
I - Estudando o funcionamento e o comportamento da vida neste planeta, e
também a vida
em
suas
interações
com - e em
sua
relação
com
o Planeta Terra, e
4
este último, visto como um macroorganismo, podemos claramente atribuir-lhe
características funcionais, digamos, propriedades ‘instrumentais’ e, assim sendo,
como parte integrante de um ‘instrumentário’, que o Planeta Terra criou para si
mesmo,a fi md er ealizars uae stratégias intrópica‘complexificadora’d es er.
II - Percebendo a vida da maneira supra descrita, observaremos o conceito
instrumental e funcional na existência de todas as espécies que já apareceram,
bem como nas que possam vir a existir: cada espécie que aparece, o faz para
realizars uast arefase specíficase p arac umprirs uaf unção.
III - Cada indivíduo, de cada geração, de cada espécie aparece precondicionado
pelo que o precedeu. Com sua chegada, por meio de
seu
metabolismo,
modifica
seu entorno e codefine, e nesse sentido compartilha, faz parte da definição
daquiloq ueo irás uceder.
IV - O aparecimento de novos genótipos de espécies já existentes acontece por
alteração nas condições de vida com as quais precisou lidar. O surgimento de
novas espécies é necessário quando surgem tarefas cujas realizações ainda não
estejam codificadas (não está incluída no código potencial das espécies
existentes).
V
- A instrumentalidade da
vida
com
relação ao macroorganismo Terra se mantém
a mesma; as tarefas a serem realizadas, no entanto, estão sujeitas a constantes
mudanças devido às incessantes alterações nas condições de vida. Essas mudanças
sãoc ausadasp orf atorese ndógenose b emc omoe xógenos.
VI - A regeneração periódica dos ecossistemas, bem como a criação de novos,
acontecem parte a parte, comparáveis às peças constituintes de um
quebra-cabeças. Esse processo segue padrões equivalentes à reprodução
generativa no nível do indivíduo. No nível do ecossistema esse processo é
chamado de
‘sucessão natural das
espécies’ que, por sua vez, é o meio pelo qual a
vidas em oven ot empoe n
oe spaço.
VII
- A vida
como um todo no nosso planeta constitui um grande macroorganismo.
Todo o seu funcionamento corresponde ao de um organismo: tudo está conectado
eé interdependente.
5
VIII - A grande rede de conexões fúngicas, proliferando nas camadas superficiais de
solo rico em matéria orgânica e coberto por serapilheira abundante cria as
pré-condições para um forte sistema imunológico do solo que influencia
grandemente,f ortificaa s aúdee o v igord
asp
lantas.
XIX - ‘Pestes’ e doenças, bem como os predadores, são integrantes do,
digamos,
‘departamento de otimização dos processos de vida’. O critério que usam para
intervir é a otimização dos processos de vida realizada pelo objeto (potencial
presa) confiado aos cuidados deles (os predadores) por parte do
ecossistema no
quala quelap resainterage.
X
- O apetite e a fome são meios, usados por todos os seres vivos para transformar
(também) aquele ato na realização de suas tarefas e cumprimento de suas
funções, ligado – direta ou indiretamente – ao ato de comer – ingerir – ou
absorvers ua‘comida’,p arae lesu
me ventoa paziguantee a trativo.
XII
- As relações inter e intraespecíficas - com a exceção do ser humano moderno e
da maioria dos animais por ele domesticados e deformados – são baseadas nos
princípiosd oa morincondicionale d ac ooperação.
XIII
- Todas as
espécies
- com a exceção do ser humano moderno e da maioria dos
animais domesticados por ele adotados – agem baseadas nos princípios do
“Imperativo Categórico”, formulado por Immanuel Kant (1724-1804) que
diz: ‘Aja
de modo que você
gostaria que os
princípios submetidos a suas
interações sejam
elevados imediatamente a princípios de
leis
universais’.
(Ou seja,
aplicados a você
mesmo).
XIV - ‘As leis que regem o macroorganismo, do qual você faz parte, são dadas’
(pré-estabelecidas). ‘Nem a nós, Deuses do Olimpo, nos é incumbido fazer ou
modificar essas leis”. (Esopos 700 a.C, em
Cronos falando ao homem em uma de
suasp arábolas).
6
XV - A interferência desarmônica de alguma das entidades que juntas constituem o
macroorganismo induz a modificações neste
último que,
por
sua
vez,
terão
como
resultado que a presença do emissor daquelas interferências desarmônicas se
tornaráinoportuna.”
ErnstG
ötsch
7
Autor:E rnstG
ötsch
Data:2
7-03-2018
Designparaomediterrânero-
enriquecimentodeumolival
TrabalhorealizadonoworkshopdeAgriculturaSintrópicanaHerdadedo
FreixodoMeio,naregiãodoAlentejo,emPortugal,emmarçode2018.
8
Modelo1 :
Exemplificação para a transformação de um olival de aproximadamente 50 anos
de idade para um sistema complexo, multiestrato, que se assemelhará ao
ecossistema natural e original do local tanto em sua dinâmica, quanto em seu
funcionamentoe e stratificação.
Usoa tual:
9
Vista superior do
sistema
em
seu
estado
atual,
considerando
o atual
diâmetro
da
copa:
Passosp
arao
e
nriquecimentod
os istema
1- n
afi
lad
aso
liveirase xistentes:
a)m
odeloilustrativo- e stadoa tual
10
a') modelo esquemático - estado atual:
b) modelo ilustrativo - intervenção passo 1: enriquecimento de mais 1 estrato
agregando, a cada intervalo de oliveiras, 3 pessegueiros ou pistaches.
c)
Modelo
ilustrativo - intervenção
passo
2:
agregando
mais
um
estrato composto
porn ogueirae c houpo.
11
Trabalhor ealizadod
uranteo
w
orkshop
2- C
anteirosd
om
eio:
(idênticos com relação à posição entre as oliveiras, com os canteiros para as
hortaliçasd o“ modelob ”)
Espéciesu
sadasa lémd
asv erduras:
a) Fruteiras ou noz arbórea, cítricos (limão, tangerina, laranja) ou pêssego ou
pistache.
12
b) Vines together with their
future
living
tutors
– fig,
Morus
nigra,
Schinus
molle,
weepingw illow.
Plante juntas todas as 5 espécies em uma área linear de 30 cm (vide figura).
Planta-seu mav ideirae ma mboso sladosd op
lantiod ost utores.
Em todos os canteiros, idênticos àqueles feitos nas filas das oliveiras, ocupar
plenamentec omv erduras,a romáticas,fi god
aíndiae fl
ores.
c)O
rganizaçãod osc anteirosc oma sv ideirase e spaçamento:
spacing:f ruitt reesw ithp istachio/vinesa longw itht reesf ort heirt utorials tructure
Completeb edc omposition:( trees,v inesa ndv egetables)
13
d)d
esenhod
osm
esmosc anteirosc oma sá rvorese a sv ideirasa dultas:
O
sistema é composto, em
sua maioria, por espécies caducifólias a serem podadas
(todas elas) anualmente no inverno. Com isso adquirimos matéria orgânica
abundante para poder criar canteiros largos, com uma rica camada de material
ramial. E, adicionalmente, com luz suficiente e proteção de geadas para poder
cultivar
um amplo
conjunto de
verduras – como, por
exemplo, tomate,
pimentão,
repolhoe tc,s emn ecessidaded ea ported ef ertilizantese s emirrigação.
14
____________________________________________________
Emn
omed
oL ifeinS yntropy...
…
we want
to
express our deepest gratitute to Herdade do Freixo do Meio, represented by
the competent farmer Alfredo Sandim and to Silvio Gouveia, who made our trip to
Portugal possible. We also want to thank all the amazing-hard-working participants.
Not
oner ana way f romt her aina ndt hec old,🙂
15
16
AVISO
Todoso sd
esenhosd eE rnstG
ötschs ãoe specíficosp arao lugaro ndea contecea
intervenção.A A
griculturaS intrópican ãos eguen emp ropõemr eceitas.É a p artir
deu mc onjuntod ec ritériosé ticose a valiativosq uea A
griculturaS intrópica
instrumentalizao a gricultorp arap lanejare m
anejars eus istemad ea cordoà s
suasc ondições.H istóricod aá rea,c lima,s olo,a ltitude,p luviosidade,e xposição
solar,d eclividade,a cessoa implementose a dubação( entreo utrosf atores)
determinama se spéciese o e
spaçamentou tilizado.P ortanto,o sm
odelos
apresentadosp orE rnstG ötschs ãod emonstrativos,e n
ãod evems er
indiscriminadamentec opiadoss obo n
omed eA griculturaS intrópica.
17
Autor : Ernst Götsch
Data: 24-04-2018
Uma pergunta que comumente nos fazem é “qual a diferença entre agricultura
sintrópica e agricultura orgânica?”. Já produzimos alguns materiais que abordam
o tema - e que, inclusive, procuram posicionar a agricultura sintrópica também
diante das outras nomenclaturas que compõem o universo das agriculturas
sustentáveis e regenera vas – mas resolvemos pedir para o próprio Ernst Götsch
dar a sua resposta, e é isso o que você confere agora!
18
Agricultura Orgânica e Sintrópica são duas irmãs, par ndo da mesma ideia, porém,
a abordagem para a solução dos problemas que encontram nos seus trajetos as
levou para diferentes esferas. A Agricultura Orgânica visa subs tuir a adubação
química (usual na agricultura convencional) por uma adubação primordialmente
orgânica (compostos feitos de restos orgânicos, adubação verde, esterco, caldos
etc.). Na Agricultura Sintrópica trabalha-se o desenho dos arranjos com diferentes
espécies, passando pela implantação e, depois, con nuando em cada passo na
condução das nossas plantações de modo que elas produzam o seu próprio adubo.
Para essa finalidade, planta-se numa alta densidade árvores, gramíneas e ervas
que têm em comum a caracterís ca de fácil e vigoroso rebrote após poda. E
maneja-as de acordo. O efeito daquela poda, periodicamente feita, resulta - além
da condução da oferta de luz para as nossas culturas - em matéria orgânica em
grandes quan dades que, colocada sobre o solo, cria vida próspera nele e,
indiretamente, adubo para as nossas plantas.
19
Um bene cio adicional, do tamanho dos primeiros dois - luz e adubo - se não
maior, é o efeito do rejuvenescimento do sistema todo que acontece após a poda:
informação de novo crescimento, vigor e saúde para o sistema inteiro, induzido
pelo rebrote dos nossos aliados.
Isto nos leva para a próxima diferença entre a Agricultura Orgânica e a nossa
Sintrópica: na agricultura orgânica é previsto um controle fitossanitário, ou seja, o
combate às doenças e pragas. Para isto há normas que definem o que é permi do
e o que não é permi do, e disponibilizam para o uso todo um arsenal de
preparados, caldos, misturas de minerais para fortalecer as plantas, ou para matar
ou afastar pragas e doenças, armadilhas para captar insetos não queridos, criação
e depois liberação dirigida de predadores etc. etc. No fundo, são ferramentas
desenvolvidas e usadas como consequência da divisão, da separação entre o bem
e o mal.
20
de doenças como indicadores de pontos fracos nas nossas plantações, causados
por erros come dos por nós mesmos. Erros come dos no desenho ou na
condução dos nossos agroecossistemas e, olhando assim para eles, são aliados
indiretos, integrantes do sistema imunológica do macro-organismo vida do planeta
Terra (do qual não escapamos de ser parte).
Olhando por essa perspec va, não existe bem e mal. Existe, sim, função. Aqueles
colegas, considerados pragas, podem indiretamente nos dar pistas de como
interagir de forma mais orgânica no sen do do macro-organismo, para que não
haja a necessidade de uma diligência de urgência pela parte dos bombeiros do
sistema. Por isso, mais uma vez, são aliados, integrantes do sistema imunológico,
igualmente aos glóbulos brancos no nosso corpo que entram em ação e se
proliferam quando os processos de vida nele (do macro-organismo) saem da dada
matriz.
Ou, escute o que Êsopos (700 a.C.) disse, ou o que ele deixou Cronos falar para o
homem que, segundo ele, nha criado os seres neste planeta, e assim também o
homem. “Homem, te ponho neste lugar, seja ele o seu paraíso! Viva bem! ocupe-o
e mul plique-se! Seja cria vo! Podes fazer o que quiseres. Te encante! Tem uma
21
condição só, um limite: as leis em que o macro-organismo, cujo parte tu és, gira,
funciona, dadas são (pré-estabelecidas). Nem a nós, deuses do Olimpo, cabe fazer
as nossas próprias leis!“. O homem viveu feliz. Um dia, no entanto, ele começou a
pensar “e se nós fizéssemos as nossas próprias leis? Mais poderosos que os deuses
do Olimpo ficaríamos.” E, fazendo isto, (as suas próprias leis), eles entraram em
conflito com aqueles deuses (do Olimpo) e começaram a fazer guerra contra eles.
E com isto dadas são as leis de Êsopos, e o fato de ter aceitado isto, e o agir de
acordo, chega-se a fechar o círculo, e nós voltaremos para o início da minha
resposta para sua pergunta: a abordagem para a solução dos problemas que
encontramos acabou por levar a agricultura sintrópica e orgânica para esferas
diferentes.
22
Perenes
Parte I
Ernst Götsch
1st Edição
23
Perenes
ÍNDICE
Próximas publicações:
Parte II
Parte III
Parte IV
- Perspectivas para um - possível - futuro.
- Agricultura da paz (Peace-farming).
- Homem redesenhado para a natureza.
- Volta ao Paraíso.
Índice ii
24
Perenes
Prefácio
Prefácio iii
25
PARTE I
26
Perenes
Parte I 5
27
Perenes
Parte I 6
28
Perenes
FATOS
Parte I 7
29
Perenes
- O maior e quase único, [mas sem igual!] “input” externo que eles
tinham, para produzir em suas terras o que precisavam, era o seu
conhecimento. E esse último, habilidade profissional - tudo indica
- eles tinham.
Parte I 8
30
Perenes
E, aliás,
Além disso, o tempo para eles não era dinheiro. Olhando para
eles, para o que eles fizeram e o modo como o fizeram, chegaremos à
conclusão, que o tempo era considerado por eles como uma oportunidade,
para ser útil, aproveitável, para cumprir sua função. Ou, em outras
palavras, eles não faziam suas tarefas de forma alienada, tentando com
perícia alcançar as vantagens pessoais em primeiro lugar, como é comum
hoje em dia, e eles não faziam as coisas por dinheiro. E muito menos
ainda, eles poderiam ter imaginado considerar o dinheiro como um
equivalente à felicidade. Nosso slogan moderno "tempo é dinheiro" não
existia para eles. Apenas a hipótese de se adaptarem a algo assim como
diretriz para suas atividades cotidianas e para a vida, provavelmente teria
sido considerada por eles como um absurdo, um grave erro. Poderíamos
dizer como uma “sina”. Esse último termo, por sua vez, tinha para eles
Parte I 9
31
Perenes
Parte I 10
32
Perenes
Parte I 11
33
Perenes
Parte I 12
34
Perenes
Parte I 13
35
Perenes
Parte I 14
36
Perenes
Parte I 15
37
Perenes
Mas antes, vamos nos ater às cercas vivas desta área, as espécies
nelas empregadas como elementos arbustivos e arbóreos, e então a
alocação destas últimas: Tudo indica, igualmente àquilo descrito com
relação aos critérios utilizados pelos nossos antepassados, que aquelas
florestas frutíferas complexas, funcionais e altamente produtivas eram
projetadas e plantadas e, como demonstram alguns dos exemplos acima,
eles empregavam os mesmos parâmetros para o desenho de todo o seu
agro-eco-sistema. E aquelas "suas" cercas vivas eram de importância
fundamental para o seu funcionamento e para a sua dinâmica. Isso em
diferentes sentidos:
Parte I 16
38
Perenes
Parte I 17
39
Perenes
Parte I 18
40
Perenes
Parte I 19
41
Perenes
E tudo isso junto, apenas por olhar de um ângulo diferente para si e para o
mundo em que viviam. De uma maneira mais modesta, mais
compreensiva, do que aquela que muitos de nós estamos fazendo hoje em
relação a nós mesmos e à nossa posição no contexto da vida.
Parte I 20
42
Perenes
Parte I 21
43
Perenes
Parte I 22
44
Perenes
ERVAS:
Parte I 23
45
Perenes
FRUTAS:
BAGAS:
Parte I 24
46
Perenes
Parte I 25
47
Perenes
FRUTAS DE CAROÇO:
Parte I 26
48
Perenes
Parte I 27
49
Perenes
MAÇÃS:
Parte I 28
50
Perenes
PERAS:
Parte I 29
51
Perenes
Uma das variedades a ser usada para esse fim foi chamada de
"Sülibirne". Nós tínhamos apenas um único indivíduo dessa variedade,
mas - em compensação - era a maior árvore de pera que eu - até agora - já
vi e, ao mesmo tempo, também aquela que mais produzia e, era dito, que
nunca falhara em fazer isso. Ela florescia e estabelecia suas novas folhas
apenas no final de maio. … Isso era depois do período de floração do
dente-de-leão e dos cereais de inverno. E então, também como a última de
seu gênero, seus frutos amadureciam. Normalmente entre o começo e o
meio de novembro, isto é, depois das primeiras geadas mais fortes. Eles
eram pequenos, açucarados e com não mais de 4 cm de diâmetro. Para a
colheita eles tinham que ser chacoalhados, recolhidos e depois colocados
em sacos grandes, cada um deles com capacidade de 100 litros. Todo
outono, recebíamos daquela árvore uma quantidade de suas minúsculas
frutas, que enchiam de 25 a 30 unidades dessas sacolas.
Parte I 30
52
Perenes
CASTANHAS:
Avelãs:
Cultivadas, bem como as selvagens, estas últimas prosperando nas
fronteiras leste e sudeste das florestas. De acordo com o nosso vizinho
mais velho, as avelãs tinham sido um dos constituintes amplamente
utilizados nas cercas vivas nas partes do sudeste, leste ou ligeiramente
setentrional das áreas cultivadas na nossa região. Variedades parcialmente
"welsh" (enxertadas); o grosso, no entanto, genótipos locais, ou seja,
árvores selecionadas por sua saúde, crescimento vigoroso, nozes grandes e
saborosas, bem como por sua alta produtividade.
Nozes:
Dentro da coleção de todas as árvores nos arredores de nossa
casa, as nogueiras tinham uma posição especial. A elas era atribuída algo
como uma personalidade independente. Tivemos muitos delas e eles
foram bem cuidadas, e por isso, ao seu lado, reforçavam sua tendência
natural, para ter uma coroa redonda geometricamente equilibrada, bonita e
também para a madeira fina. E em terceiro lugar, por último, mas não
menos importante, por suas nozes muito apreciadas, das quais elas davam
muito, a cada dois anos.
Parte I 31
53
Perenes
Um dos ditos de meu pai era: "Enche os seus bolsos pela manhã
com avelãs, maçãs secas e peras, e você passará o dia sem fome, e terá
excedente suficiente, para dar uma boa parte aos seus amigos, e ainda
sobrará para alguns esquilos e pássaros!"
Parte I 32
54
Perenes
AS RAINHAS DESTRONADAS
Parte I 33
55
Perenes
Parte I 34
56
Perenes
Isso era estranho para mim, porque no decorrer dos anos eu havia
identificado tantos genótipos maravilhosos com sementes extremamente
saborosas. Por exemplo: doces, sem qualquer adstringência, algumas com
aspecto de farinha, outras mais crocantes. Algumas dessas, quando
assadas, eram comparáveis com castanhas tostadas. Outros eram amargas
e / ou adstringentes. Mas mesmo essas, quando mantidas imersas por
algumas semanas e mudando a água de seu "banho" a cada um ou dois
dias, perdem seu amargor e adstringência. Em seguida, elas podem ser
comidas moídas ou maceradas como ingredientes para sopas, omeletes ou
até 50% para a massa do pão.
Parte I 35
57
Perenes
EPÍLOGO
Ernst Götsch
Parte I 36
58
Autora:D
ayanaA
ndrade
Data:2
9-06-2019
Adignidadedecavarb
uracos.Comoosvaloressociaisafetama
motivaçãod oagricultor.
As vantagens de métodos agrícolas mais sustentáveis já foram amplamente
estudadas. Se formos falar apenas dos sistemas agroflorestais – dentre os quais
está a agricultura sintrópica
- podemos elencar inúmeras pesquisas em diferentes
ecossistemas que atestam os benefícios que essas práticas oferecem, seja
para
o
agricultor (segurança alimentar, resiliência do
plantio, aumento de
produtividade,
diversificação da renda, etc) seja para o meio ambiente (sequestro de carbono,
proteçãod aá gua,r ecuperaçãod os olo,a umentod ab iodiversidade,e tc).
Com tantos exemplos de casos de sucesso e reiteradas comprovações científicas,
era de se esperar que o número de pessoas que adotam tais práticas também
registrasse um
crescimento equivalente. Mas isso
não acontece. Ao menos não na
velocidade que gostaríamos. O porquê de isso não acontecer é o que buscam
responder os estudos sobre adotabilidade na agricultura. A resposta ainda não
é
unânime, porém, cada vez mais
se
fortalece a suspeita científica
de
que aspectos
culturais, mais do que técnicos, impõem limitações à adoção de novas práticas
agrícolas( 5)(6).
Um caso que vivi recentemente pode ajudar a ilustrar essa hipótese. Eu estava
com o Felipe em uma das escolas em que implantamos hortas sintrópicas, quando
um
senhor, por
volta
de
seus 70
anos,
se
aproximou para puxar conversa, como já
havia feito alguns outras vezes. A conversa era sempre sobre amenidades e
simpatias. A diferença é que, dessa
vez,
nós
estávamos cavando os
ninhos
para o
plantio de mudas de árvores, então o trabalho era um pouco mais pesado e as
pedras do terreno contribuíam para que, aos olhos de nosso interlocutor, aquilo
fosse lido como uma cena de sofrimento. Ele chegou mesmo a me dizer que se
59
fosse um filho dele a fazer aquele serviço ele lhe perguntaria “para quê gastei
tantoc oms euse studos?”.
Na verdade, relacionei a reação daquele senhor com outros casos derivados da
nossa experiência de
ensinar agricultura sintrópica. A relação parece distante, mas
nãoé .A companhec omigo.
60
Sempre refletimos, juntos com os muitos parceiros que ministram cursos,
vivências e estágios, sobre as dificuldades da capacitação nessa área.
Muitas das
pessoas que procuram aprender agricultura sintrópica dão muito mais voltas do
que aquele nosso recente amigo da horta. Elas geralmente são aquelas pessoas
que fazem muitas reflexões sobre o que querem fazer de suas vidas e estão em
busca de
um propósito. São também geralmente aquelas que não se iludem com o
pacote de sucesso imposto por nossa sociedade, pois o percebem como uma
escravidão pré-programada. São
enfim,
de
um
modo geral,
aquelas que criticam e
questionam o status quo e o sistema dominante. Mas... mesmo essas pessoas,
entra dia e sai dia.... em algum momento elas também se ressentem de cavar
buracos. E isso quer dizer mais sobre nossa sociedade do que inicialmente
podemosimaginar.
Sugiro aqui
três
interpretações para o fato: uma fundamentada em uma dimensão
mais econômica, outra
mais
social
e,
por fim,
uma última interpretação (pasmem)
literária.
A última interpretação chamei de “literária” porque foi inspirada por um estudo da
literaturac lássicad
eH
esíodoe d
eV irgílio,f eitop
orS tephanieN
elson( 7).
61
Por mais inesperado que isso possa parecer, foi ali que encontrei profundas
reflexões sobre a relação entre o fazer
agrícola e a visão de mundo compartilhada
por um grupo em uma determinada época. Isso tem mais a ver com uma
orientação ética e com valores morais ali
descritos do
que com aspectos técnicos
da
agricultura. Stephanie Nelson defende a ideia de que
a maneira como fazemos
agricultura mantém íntima relação com
nosso entendimento sobre se vivemos em
harmonia ou alienados dos mundos físico, moral e espiritual que está ao nosso
redor. Tanto Virgílio quanto Hesíodo, cada um a sua maneira, demonstraram como
o
universo da agricultura é um
microcosmos e um reflexo do
papel do homem no
mundo.
Isso é ratificado na história do surgimento da própria agricultura, cujos achados
arqueológicos cada vez mais sugerem que fatores cognitivos, mudanças
socioculturais e simbólicas coexistem com
as
tradicionais interpretações baseadas
62
no aumento populacional e na escassez de recursos para explicar
a transição, na
chamada Revolução Neolítica, para uma economia produtiva baseada na
agricultura (2)(3). Um novo sistema estrutural de
imagens
mentais compartilhado
coletivamente passa a representar a relação da sociedade humana com o
ambiente no qual ela se encontra. Além disso, observa-se também junto com o
surgimento da agricultura uma ocorrência repentina de padrões de práticas
religiosas cada vez mais transcendentais. Ou seja, objetos, animais e fenômenos
naturais deixaram de ser reverenciados e foram substituídos por divindades
etéreas. É como se, a partir da agricultura, nós tivéssemos passado a viver uma
separação e uma desconfiança da natureza e isso teria nos levado a imaginar
cultosa ncestraise d eusesd oc éu( 4).
Neste livro, o arqueólogo francês Jacques Cauvin propõe um alternativa para a
interpretação do surgimento da agricultura. A ênfase se desloca dos motivos
ambientaisp arao sm
otivosc ulturais.
63
O que isso tem a ver com cavar buracos? Tudo. O discernimento sobre o que é
bom, o que
é certo e até
mesmo o que é belo na agricultura implica um particular
entendimento da natureza, do cosmos e da nossa relação,
como seres
humanos,
com o mundo físico e com os outros seres. Enquanto a noção de agricultura estiver
separada da noção de natureza, ao ser humano só restam as opções de
expectador ou de explorador. Nas duas condições, o ato de cavar buracos só vai
fazer sentido se
eu enxergar um
benefício próprio, a curto prazo e, de preferência,
exclusivo.
Em última instância, podemos dizer que para que haja uma onda de adoção de
práticas agrícolas mais sustentáveis, temos que ser capazes de mudar os nossos
“quereres”. Precisamos encontrar na interação benéfica com o meio
nossa
razão,
nossa motivação e nossa recompensa. É preciso ver um solo descoberto, uma
árvore precisando de poda ou uma semente indo para o lixo e sentir a mesma
aflição de se
ver
uma criança passando fome,
outra sem conseguir respirar direito
e
outra desperdiçando o seu
futuro. É preciso ter o mesmo ímpeto incontrolável e
a
mesma satisfação de poder contribuir para a diminuição do sofrimento do outro.
Seja com um prato de comida, seja cuidando de um jardim, seja respeitando e
dando valor à continuidade da vida.
É uma escolha de
conduta que
não
pode ser
imposta,é p recisos ers entida.
64
Na foto vemos Ernst Götsch cavando canais de drenagem em uma área alagada e
degradada na Fazenda São Sebastião. A visão da futura prosperidade do lugar é sua
motivação. O resultado
pode
ser
visto
aqui
(português) e aqui
(inglês).
A convivência com
Ernst e seu
exemplo de conduta foram o estímulo inicial e fundamental das reflexões deste
texto.
REFERÊNCIAS
(2)
BOWLES,
S.;
CHOI, J.
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Farming
and
Private Property During the Early Holocene”. Proceedings of the
NationalA
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Emergence of Sustainability” In: Wegener, L.; Lüttge, U. (eds.). Emergence and Modularity in Life
Sciences.S pringer-Nature,C ham,2
019.
Agricultura:u
mp
roblemad
e1
0m
ila nos
DayanaA
ndrade
A agricultura é de longe a atividade mais inovadora e revolucionária que a humanidade já testemunhou.
Ela moldou todos os aspectos da nossa existência e definiu como percebemos e nos relacionamos com o
mundonatural.
66
Autora: Dayana Andrade
Data: 20-09-2018
A continuação dessa história você vai poder acompanhar aqui no site. Publicaremos
todas as novidades que tivermos sobre:
67
Autora:DayanaAndrade
Data:20-09-2018
Agricultura:umproblemade10milanos
A agricultura é de longe a atividade mais inovadora e revolucionária que a
humanidade já testemunhou. Ela moldou todos os aspectos da nossa existência e
definiu como percebemos e nos relacionamos com o mundo natural. Através da
agricultura, nós mudamos o planeta de
uma forma que nenhuma espécie jamais fez,
deixandonossosrastrosdesdeatopodaatmosferaatéofundodooceano.
Nesse sentido, o que sabemos sobre a história da agricultura nos mostra que o
polêmico debate em torno do que levou caçadores e coletores à cultivar a terra é
mais especulativo do que
concreto. Há teorias que sustentam que a motivação dos
primeiros agrupamentos agrícolas esteve relacionada com aspectos tão distintos
quanto: adaptação às mudanças climáticas após a última glaciação; necessidade de
ter um meio mais eficiente de acesso à comida; evolução inevitável do progresso
técnico; limitações físicas como baixa estatura e pouca força física de alguns que
não seriam aptos à caça e à coleta; ou ainda expansão demográfica (ora como
motivo, ora como resultado); e há até
quem levante a hipótese de
que o desejo
de
posse pode ter sido uma motivação para as comunidades começarem a se
estabelecer, cuidar e proteger alguns bens. Naturalmente, predominam as
abordagens que entendem este como sendo um processo composto por
diferentes
variáveissimultâneas,atuandoemumlongointervalodetempo.
68
No Oriente, por exemplo, um dos mais antigos centros de origem da
agricultura, a
fase de
transição de
caçadores e coletores para protoagricultores teria durado mais
de 1.000 anos. Os achados arqueológicos que nos contam essa história são
compostos por vestígios de plantas e animais domesticados, utensílios de
trabalho
como foices, machados e moendas, cerâmicas para armazenamento, além de
uma
evidente evolução na constituição das habitações que se formaram entre 9.500 e
9.000 anos antes da Era presente. Um certo nível de exigência de complexidade
social parece ser indissociável do surgimento da agricultura,não restando dúvidas,
portanto, quanto à correlação entre esta
atividade produtiva e muitas mudanças de
ordemecológica,social,econômica,culturaletecnológica.
Outra explicação que as pesquisas arqueológicas buscam é com relação ao que
motivou a transformação tecnológica seguinte da agricultura: aquela em que se
passou de um sistema de produção itinerante para um sistema de produção
permanente. O fato
de
o novo
modelo
ser mais trabalhoso e menos
rentável parece
sugerir que apenas uma forte restrição poderia impelir tal mudança. Nesse caso
a
pressão demográfica é a mais provável das hipóteses - mas não sem estar
associadaàslimitaçõesecológicasetécnicascircunstanciais.
Enquanto que na agricultura itinerante a base técnica é a derrubada e queima,
na
agricultura permanente começa-se a trabalhar com o arado e com o pousio (para
garantir a recuperação das áreas exauridas). A vantagem, em comparação com a
69
agricultura itinerante, seria a da necessidade de uma menor área disponível para
umamaiorproduçãoproporcionalmente.
Para o pesquisador David Montgomery, que estuda a emergência e a decadência
das civilizações pelos rastros de erosão que deixaram no
solo, o avanço da fronteira
agrícola tem relação direta com as condições ecológicas cujas limitações foram, a
cada passo, sendo colocadas apenas um pouco mais adiante. Ou seja, primeiro
foram escolhidas as terras de boa qualidade em regiões com um bom regime de
chuvas. Exauridas essas terras e com o desenvolvimento da irrigação, a atividade
agrícola pode migrar para as terras de boa qualidade, mas sem chuvas. Com a
invenção do arado, foi
possível também expandir para as
terras nem tão boas assim
ou voltar àquelas já
desgastadas pelo uso. O resultado direto da agricultura intensiva
e do pastoreio de cabras foi o abandono de aldeias inteiras na região central da
Jordânia cerca de 6000 a.C,
deixando para
trás
um rastro de erosão e degradação
dosolo..
Um dos registros escritos mais antigos sobre agricultura é a "A Instrução do
Fazendeiro”, uma espécie de manual de técnicas agrícolas da Suméria. Escrito
como uma carta com orientações de
um agricultor para seu filho, nele é citado o uso
do arado junto com uma espécie de
semeador, a técnica de pousio, a irrigação e a
preocupação com a salinização e, sobretudo, expressamente é desencorajado
qualquer tipo de
experimento. A
inovação na
agricultura é vista como um risco com o
qualaatividadeagrícola,simplesmente,nãopodearcar.
Esses exemplos nos apontam duas
condições intrínsecas da agricultura
que, aparentemente, fizeram com que
ela não
fosse um
ambiente
fértil
para
a
inovação na remota realidade suméria
equesereproduzematéaatualidade.
Quais sejam, as ideias de que 1)
estamos no
limite
ecológico
e 2)
de que
não podemos arriscar diminuir a
produção sob o risco da escassez
alimentar. Ou seja, a história da
agricultura mostra que essa atividade
está constantemente fugindo ou
combatendo a inexorabilidade da
natureza e sempre constrangida pelo
conflito entre ter que atender as
demandas do presente imediato ou
ponderar a responsabilidade com o
70
futuro,oquesignificariapriorizarpráticasmaissustentáveis.
O
fato de
termos, ao longo desses 10 mil anos, superado (ou adiado) as imposições
dos limites da natureza, induz uma certa crença ou fé
de que a solução para a crise
ambiental crônica virá exclusivamente pela via tecnológica. Inteligência artificial,
robotização, nanotecnologia ou descoberta da água em Marte, surgem como
esperanças que um deus ex machina resolva todos os grandes impasses, sem que
precisemos mudar significantemente nossas estruturas sociais e modelos de
produção e consumo. Essa visão ignora o fato de que, como disse Lynn Margulis,
até agora a única forma pela qual nós, seres humanos, provamos nossos domínios
foi pela expansão. “Continuamos a ser atrevidos, broncos e recentes, mesmo à
medida que nos tornamos mais numerosos”. Não podemos reproduzir mecanismos
de vida e de incremento do capital natural que ainda não conseguimos nem ao
menosdescrevercompletamente.
No outro extremo, temos aqueles que advogam pelo retorno às agriculturas
tradicionais, e a uma natureza pristina mítica. No entanto, vivemos uma época em
que as
atividades humanas apesar de não controlarem a natureza (como professado
pelo ideal Iluminista) de fato determinam todas as dimensões da vida ecológica. E os
movimentos “back to land” dos anos 60 e 70
apesar de terem deixado um importante
legado,tambémsãoumroteirojáconhecidodeconvicçõeselimites.
Quando estudamos a história da agricultura tendo a agricultura sintrópica como
perspectiva, suspeitamos que tampouco uma solução conciliadora entre o retorno às
tradições associado às novas tecnologias pode ser suficiente pois, os paradigmas
que as fundamentam foram justamente as racionalidades que nos trouxeram ao
ponto em que hoje nos encontramos, tanto de crise ecológica quanto de crise
produtiva.
Não mudaremos a maneira pela qual interagimos com a natureza enquanto um
manejo mais “integrado”, ou “ecológico”, ou “sustentável” estiver condicionado a
determinações biológicas, restrições tecnológicas, coerções legais ou punições
sociais. Por outro lado, se mudarmos nossa matriz de pensamento e pudermos nos
reposicionar enquanto espécie no ecossistema - como a agricultura sintrópica
sugereeopera-aomenosumaluznofimdotúnelpodecomeçaraaparecer.
71
Autora: Dayana Andrade
Data: 30-08-2018
ÁGUA SE PLANTA!
Ernst Götsch fez essa declaração em nossos vídeos e, desde então, o bordão
pegou! Mas será que isso foi só uma frase de efeito? Ou tem algum fundamento? O
que ele falou antes e depois disso? Qual era o contexto? No Life in Syntropy nós
temos a alegria de fazer justamente isso: revisitar nosso acervo e compartilhar com
vocês essas pérolas. Assista agora, definitivamente, o porque água se planta – e de
quebra conheça um exemplo de uma área degradada por sucessivos plantios de
cana de açúcar que foi recuperada para o plantio de grãos e madeira.
* Este vídeo foi gravado no interior de São Paulo. Ernst atualmente assiste plantios
de larga escala em Goiás, Mato Grosso (no coração do agronegócio brasileiro) e na
Martinica. Em breve publicaremos aritigos, imagens e entrevistas gravadas em uma
viagem bastante produtiva e inspiradora.
If you can’t see the English subtitles, please click on the “CC” button to turn it on.
72
Autora: Dayana Andrade
Data: 01-12-2018
Neste vídeo Ernst Götsch explica e demonstra a formação de um ninho para plantio
de figo da índia (Opuntia ficus-indica). As explicações valem para qualquer uma das
várias espécies de cactáceas que têm o formato achatado típico da palma forrageira.
● comem-se os frutos, as flores e as raquetes (que não são folhas, mas sim
“cladódios”, ou caules modificados);
● é uma espécie muito resistente e rica em água, por isso costuma ser utilizada
para a alimentação animal em regiões sob condições severas de seca;
● tem apelo paisagístico e funciona como uma excelente cerca-viva;
● e ainda é possível extrair de suas sementes um óleo essencial com
propriedades cosméticas.
Na Agricultura Sintrópica a palma é vista como uma espécie chave para lidar com
características típicas de semiárido. Geralmente em consórcio com babosa, Aloe
vera, mamona (Ricinus communis) e sisal (Agave sisalana), essas plantas formam
uma cobertura vegetal capaz de continuar produzindo fotossíntese mesmo quando
outras espécies já não suportariam mais o calor e a seca. O resultado do seu
metabolismo, por sua vez, promove modificações sintrópicas no ambiente, criando
justamente as condições adequadas para que outras espécies mais exigentes
possam se estabelecer futuramente.
É curioso observar neste vídeo a escolha das espécies que vão funcionar como
placenta para a palma. Alhos, cebolas e rabanetes servirão como uma primeira
proteção para a palma recém-plantada. O pequeno aporte externo de esterco que foi
dado beneficiará todos ao mesmo tempo, pois o crescimento de um estimula o
crescimento do outro. Ao final, além da cobertura feita com capim seco disponível
naquele lugar, foi também plantada em toda a volta a futura fonte de matéria
orgânica para aquele ninho: ervilhaca, trigo ou cevada – não para serem colhidos,
mas sim para serem podados e incorporados no ninho.
73
Essas foram as espécies escolhidas neste caso porque esse ninho foi feito em
contexto mediterrânico durante o inverno. Mas elas poderiam, por exemplo, ser
substituídas no semiárido brasileiro por um conjunto de sementes composto por
feijão, milho, andu (Cajanus cajan), fava (Vicia faba) e também as frutas como caju
(Anacardium occidentale), umbu (Spondias tuberosa), abacaxi (Ananas comosus),
araticum (Annona montana), mamão (Carica papaya), etc. Para o fornecimento de
matéria orgânica teríamos aroeira (Schinus terebinthifolius), gliricídia (Gliricidia
sepium), sabiá (Mimosa caesalpiniaefoliaHá também experiências no semiárido
brasileiro de plantio de palma como tutor vivo para o maracujá.
Ou seja, a lógica é a mesma. São escolhidas espécies com crescimento rápido para
colheita inicial e para proteção inicial das sementes de árvores, além de espécies
que funcionem como nossa fábrica de adubo, com bom crescimento e que reagem
bem às podas. Considerando essas características e funções, a composição do
ninho pode ser traduzida e adaptada para qualquer outra condição específica local.
Sem exagero podemos dizer que a palma é uma espécie ao mesmo tempo guerreira
e generosa. Mesmo com pouca água e em solos considerados pobres ela é capaz
de produzir matéria orgânica que ajuda a criar outras espécies e ainda armazena
água e oferece seus frutos para animais de porte grande. Só que, como muitas
outras espécies também guerreiras, ela por vezes é interpretada como invasora ou
infestante. Na Austrália e no sul da África há muito essa discussão sobre a
introdução da palma pelos primeiros exploradores. Sob essa ótica da competição, a
74
falta de parasitas e de concorrentes naturais de seu local de origem promoveriam a
propagação descontrolada da espécie.
Por outro lado, através dos óculos da Agricultura Sintrópica o que vemos são áreas
tão degradadas pela ação inconveniente do ser humano que hoje apenas espécies
como a palma são capazes de prosperar. E o trabalho que elas realizam por meio de
seu metabolismo é o de modificar e incrementar aquelas condições, no sentido
sintrópico, como todas as outras espécies o fazem. O papel do agricultor sintrópico,
nesse caso, seria o de potencializar esse trabalho que ela já está fazendo, incluindo
as espécies que nos interessam e trabalhando para que todas prosperem.
75
Autora: Dayana Andrade
Data: 11-11-2018
76
Autora: Dayana Andrade
Data: 25-11-2019
Você já viu aqui no nosso site o relato da experiência que vemos com a
implantação de hortas escolares sintrópicas.Compar lhamos também a
fundamentação teórica que esteve por trás dessa inicia va e algumas reflexões
derivadas da prá ca.e.
No entanto, conforme fomos conhecendo outras inicia vas de hortas com crianças
que, inspiradas no nosso caso, resolveram também colocar a mão na massa,
pensamos que faria muito mais sen do se esse material fosse público. Por isso,
compar lhamos aqui com vocês as 10 primeiras a vidades que desenvolvemos e
testamos nas hortas escolares sintrópicas.
77
Outra caracterís ca desse material é que ele nunca teve a pretensão de ser um
guia defini vo. Muito pelo contrário, ele é como um diário de experiências reais e,
justamente por isso, pode e deve ser sempre atualizado. Portanto, além de
compar lhar publicamente, convidamos aqueles que também aceitaram enfrentar
o desafio de traduzir a agricultura sintrópica para crianças para contribuir na
construção desse conteúdo. Então, a par r de agora, este é um material em
progresso e de construção cole va!
78
No fundo, o que nos une é o fato de que assumimos a responsabilidade de
contribuir para a educação para o futuro da comunidade em que vivemos. E, ao
fazê-lo, nos deparamos com tantos pacotes pedagógicos desatualizados, mal
informados (ou mal-intencionados) que decidimos produzir nossas próprias
referências. Estas baseadas não apenas em ideias ou planos de como fazer, mas
sim em experiências reais, de como foi feito. Portanto, é pré-condição para a
contribuição no nosso guia realizar sua ideia em campo para só depois relatá-la, de
forma autên ca e sincera.
Nas primeiras aulas, antes de iniciarmos os plan os, sugerimos que as crianças
fizessem o desenho de uma horta. Repe mos a mesma a vidade no final do ano e
a diferença foi bastante representa va. Enquanto que no começo as imagens eram
genéricas, abstratas ou reproduziam um padrão de monocul vo, na segunda vez a
horta passou a ter árvores e uma grande diversidade de espécies crescendo juntas.
O imaginário do que é uma horta se transformou pela experiência.
79
80
* Por enquanto, o guia está disponível apenas em português. Contribuições para a
tradução do conteúdo são muito bem-vindas!
81
Autora:D
ayanaA
ndrade
Data:3
1-05-2019
Horta Sintrópica na Escola ganha 2º lugar em concurso
nacionaldesustentabilidade
Com muita alegria compartilhamos com vocês a notícia
de
que o projeto
de
hortas sintrópicas nas escolas, que iniciamos há apenas seis meses,
ganhou o concurso de
sustentabilidade promovido pela
Fundação Galp
em
Portugal. Graças à Professora Goretti que inscreveu a horta da
escola de
Santana de Cambas para concorrer ao prêmio, os alunos do 1º ciclo
puderam apresentar o projeto diante de uma plateia de 350 pessoas no
evento "Energy BootCamp", em Matosinhos. Em um universo de 1437
escolas, foram analisados 150 projetos, dos quais nos destacamos em
segundo lugar na
categoria "MissãoUP". Assista abaixo ao
vídeo usado na
apresentação.
Linkdovídeosobreoprojeto:h
ttps://vimeo.com/339432345
OCOMEÇO
Quanto mais nós estudamos a história da agricultura, mais se reforça a
hipótese de que mudanças substantivas na maneira como produzimos
alimentos sempre estiveram e sempre estarão associadas a importantes
mudançassociais.
Foi com essa ideia na cabeça que eu e o Felipe abraçamos de corpo e
alma a oportunidade de trabalhar com as crianças de todas as escolas
municipais de uma pequena grande vila no interior de Portugal. Pequena
porque em número de
habitantes somos poucos. Grande por dois
motivos:
porque o território abrange uma extensa área de terras, mas também
porque aqui se
encontram pessoas e instituições dispostas a assumir
uma
importante responsabilidade: a de preparar as crianças de hoje para um
futuroambientalinstável.
82
Em termos de ecossistema e paisagem, essa região se assemelha muito
às condições do semiárido brasileiro, de todo o mediterrâneo e de partes
da Califórnia, Chile, Austrália e África do Sul. Todas áreas que não
precisam de
relatórios oficiais ou prospecções climáticas catastróficas para
concluir que o deserto já bate à sua porta. Solo e água são limitações
concretas e cotidianas e isso coloca a discussão sobre novas formas de
fazeragriculturanocentrododebate.
83
OQUEJÁCOLHEMOS
Desde que iniciamos esse trabalho, há 6 meses, nossa horta já rendeu
muita
alface, brócolis,
couve, batata,
cebola, grãos
e diversas hortaliças da
temporada.Mastambémfizemosoutrasimportantescolheitas:
● Mais de 50 alunos envolvidos que adotaram a horta como seu
novo
espaçopara,aomesmotempo,brincareaprender;
● Foramcriadosespaçosdesociabilidadeintergeracional;
● Isso tudo alimenta vínculos e relações de afeto na comunidade e
comoterritório,oquediminuioêxododessasregiões;
● As crianças puderam refletir sobre a origem e a sazonalidade dos
alimentos e souberam reconhecer a importância de um alimento livre
deagroquímicos;
● As árvores plantadas junto com a horta deixam como resultado
permanente para a escola novas áreas de sombreamento e
drenagemdecalor.
84
Agradecemos às pessoas dentro das instituições que tornaram esse
trabalho possível. Somente com parcerias movidas por um
bem comum é
que
se
torna
viável sonhar e concretizar
as
mudanças sistêmicas que
tanto
necessitamos. Agradecemos à Câmara Municipal de
Mértola, Agrupamento
Escolar de
Mértola, Escola Profissional Alsud, Associação Terra Sintrópica,
Somincor, e claro, às crianças, familiares e funcionários das escolas que
tantoseenvolvemcomoprojeto.
85
Autora:D
ayanaA
ndrade
Data:0
5-01-2020
MAISDOQUESOLOCOBERTO-osbenefíciosdemanter
espéciessempreemcrescimentonoseuplantio
Mais
do
que
cobertura morta, a proposta da Agricultura Sintrópica é de que o solo
permaneça sempre ocupado por espécies em crescimento. As vantagens são
inúmeras: otimização da fotossíntese, estímulo da cadeia de vida do solo,
constante aporte de matéria orgânica e, sobretudo, a total independência de
herbicidas.
Neste vídeo Fernando Rebello, do CEPEAS – Centro de Pesquisa em Agricultura
Sintrópica, apresenta áreas experimentais implementadas sob a orientação de
Ernst Götsch, nas quais árvores, grãos e hortaliças crescem harmoniosamente.
Assim temos uma ocupação total do campo no tempo (s ucessão natural) e no
espaço (estratificação). O resultado é um campo biodiverso, ecologicamente
resilientee q
ueg arantefl
exibilidadefi nanceirap arao
a gricultor.
LINKD
OV
ÍDEO:h
ttps://vimeo.com/381884591
86
Autora: Dayana Andrade
Data: 13-01-2019
No vídeo dessa semana, compartilhamos com vocês uma técnica que procura
simular o solo da floresta na composição de um canteiro em situação de alta
degradação. Pode parecer estranho, mas colocamos madeira triturada no fundo do
canteiro. A sugestão foi de Ernst Götsch, quando esteve aqui conosco em Mértola,
Portugal. No vídeo dá pra ver o passo-a-passo e a explicação da dinâmica que se
pretende impulsionar com esse “truque”. Juntos, lascas de madeira, esterco e plantio
adensado podem estimular a formação de solo.
87
Autora:D
ayanaA
ndrade
Data:2
2-12-2019
OmelhorcafédoanoédaAgriculturaSintrópica
88
89
O café
do
Recanto
dos
Tucanos foi avaliado com pontuação acima de 88,3 durante
a Semana Internacional do Café, que aconteceu em Belo Horizonte, Minas
Gerais/Brasil.
Conversamos com
Wilians Valério
Jr.
que,
seguindo os passos de seu pai, hoje está
à frente dos plantios do Recanto dos Tucanos. O histórico do
sítio
é um exemplo
bastante representativo de como um plantio de café
já
estabelecido pode passar
poru mat ransiçãor umoà lógicad ec onsórciose m
anejod aa griculturas intrópica.
WILIANS: “M eu pai comprou a propriedade quando eu tinha 10
anos de idade.
Havia uma área com 3 mil pés de café e na outra parte era pasto. Ele plantou
café em tudo só
que o café
não dava
muito resultado porque era
vendido como
commodity. Não existia o mercado de café especial naquela época, portanto, o
preço não compensava. Então meu pai acabou desistindo. Foi quando ele cortou
o café e plantou frutas: pera, pêssego e azeitona. Ele manteve o café cortado
parad eixara sf rutasc rescerem.”
90
RÔMULO: O ecossistema ali é uma Mata Atlântica de altitude. Tem araucária,
jabuticaba, juçara, ingá, tudo isso na mata. O lugar já é muito bonito e os
plantios
que o pai do Wilians fez são lindos: pereiras, pessegueiros, marmeleiros,
oliveiras.O
p
aid
eleé
u
ma gricultorm
uitob
om,t udoo
q
uee
lec uidap
rospera.
WILIANS: Foi essa área que, 40 anos depois, eu peguei para manejar com
agriculturas intrópicae
é
d
essec aféq
uee
ue
stouc olhendoh
oje.
RÔMULO: Quando o Wilians começou a tomar conta dos cafés para o pai,
eles
deixaram aquele café que havia sido cortado rebrotar. Esse café voltou
lindamente por baixo das árvores frutíferas. A pera no estrato emergente, a
oliveira no estrato médio alto, o pêssego no estrato médio. Há muitas coisas
espalhadas, mas sem um desenho de estratificação intencional. Foram feitos
alguns raleamentos, mas o gargalo ali ainda é a produção de matéria orgânica
dentro das áreas. Não houve a previsão de nenhum plantio no meio para ser
roçado e alimentar as árvores.
O grande
desafio
dessa
transição,
portanto,
está
sendo pegar um cafezal já implantado e produzir biomassa no meio. Hoje
91
estamos colocando bastante bananeira no meio do café, com a finalidade de
cortare
s upriro
s istemad
eb
iomassa.
CAFÉN
OM
UNDO
92
O
café é um importante produto agrícola no mercado mundial, com uma produção
de aproximadamente 9 milhões de toneladas por ano. Cerca de 125 milhões de
pessoas na América Latina, África e Ásia dependem dessa cultura para sua
subsistência. Quarenta anos depois da instabilidade de preços vivenciada pelo
Wilians pai, as altas e baixas do mercado continuam a assombrar cafeicultores
mundo afora – condição que hoje em dia é ainda agravada pelo aumento do preço
dos insumos, maior incidência de pragas e doenças, secas mais frequentes e
padrões irregulares de precipitação e clima. Por outro lado, a demanda por café
especial indica uma potencial expansão de
cultivos que
prezam pela qualidade do
produto final. A pergunta central, portanto, passa a ser: qual é a condição ideal
para a produção de
café?
Para Ernst
Götsch, o café ocorre natural e originalmente
em “florestas de distúrbio semicaducifólias” e,
portanto, são
essas condições que
devemosr eplicare mn ossosa gro-eco-sistemas.
ERNST GÖTSCH: O café é de florestas de distúrbio semicaducifólia.
Semicaducifolia porque é uma floresta em que principalmente as espécies que
compõem os estratos alto e emergente perdem parcialmente as suas folhas.
Floresta de distúrbio são florestas de abundância, ou seja, se transformam em
florestas de abundância e cada distúrbio resulta no rejuvenescimento e na
repetição do
trabalho
das
espécies
que
ali
crescem.
Há
muitas
espécies
que
são
típicas de distúrbio: nas Américas temos o cajá, certas bombacáceas também,
pupunha e a jussara por exemplo. Nós podemos induzir essa dinâmica de
distúrbio.
As
plantas
classificadas por Ernst
Götsch como típicas de florestas de distúrbio são
aquelas que em
suas
condições originais
estão naturalmente sujeitas a constantes
distúrbios causados por ventos, furacões, etc. O cacau seria outro importante
exemplo - sobre ele já falamos aqui e aqui. A reprodução dessa dinâmica de
distúrbios dentro dos plantios sintrópicos acontece fundamentalmente por meio
dasp odas.
ERNST
GÖTSCH: Eu planto, por exemplo, café com ingazeiras, ou com mangueiras
ou jaqueiras ou outras espécies de rápido crescimento. Pode ser também com
93
siriguela, umbu-cajá etc. Enquanto essas árvores estão crescendo eu colho a
mandioca,
o que
em
si
também
já
é um
pequeno
distúrbio,
assim como quando
tiro
o abacaxi ou podo o guandu. Quando sobem as ingazeiras ou as jaqueiras, as
mangueiras, os citrinos, naquele momento ocorre um excelente efeito no
café.
Mas, 2 ou 3 anos depois, o produtor acaba chegando à conclusão de que sua
produtividadee
stáindop
orá guaa baixo.
A produção de café em sistemas sombreados não é exatamente uma novidade.
Tradicionalmente, cultivos sombreados have always been practiced, especially in
northern Latin America. Despite the recognized ecological advantages, this
method is generally associated with low productivity. For
Ernst
Götsch,
this
effect
is mainly related to the aging of the
system as
a whole.
But,
this
obstacle can be
overcome.
94
ERNST GÖTSCH: Quando isso acontece, o agricultor tem que aprender, assim
como eu
tive
que
aprender,
a podar
esse
sistema.
Com
a poda,
esse
sistema
vai
ter muita matéria orgânica, não só da queda das folhas, mas também muita
matéria oriunda de madeira, muita madeira de poda - e as espécies
mencionadas
são muito boas pois aguentam muito bem a poda. O agricultor tem
que
fazer
essa
poda
em
um
momento
muito
específico
que
é quase junto com a
colheita – seria em maio aqui no nosso subcontinente. Nesse
momento
ele
faz
uma poda forte, se ele tiver pupunha ele tira o excesso, poda as ingazeiras,
se
tiver muitos jequitibás vai podá-los também, se tiver outras árvores, vai
podar
também.
Isso
traz
luz,
imitando a fase em que todos do estrato alto e emergente
perdem as folhas. Depois também, nesse momento cortam-se todas as
bananeiras para ficar só o filho-cifre. Assim, todo
mundo
começa
a rebrotar
de
novo,
em
plena
seca,
no
dia curto, tanto a transpiração quanto a evaporação são
bem
menores.
Ao
mesmo
tempo acontece um crescimento muito forte o que faz
com que a própria vegetação consiga beber água da atmosfera e a matéria
orgânica no chão retém água, protege da evaporação, e os fungos que vão se
desenvolver também bebem água da atmosfera. Então, vai haver um
crescimento superforte. Assim, há um superforte crescimento no inverno, ou
seja,
no
momento
atípico
para um sistema de acumulação, e atípico de qualquer
forma também para uma floresta subúmida, que tem tendência para ficar
parada nessa fase. Mas se você observar bem, os
estratos
baixo
e médio
estão
superativos naquele momento quando se trata de sistemas de abundância.
Portanto, a gente vai favorecer
essa
dinâmica
mediante
a poda.
Dessa
forma,
o
agricultor vai chegar mais rapidamente e mais fortemente a um saldo positivo
energeticamente, enquanto vida consolidada tanto no sublocal em que ele
interage quanto no planeta por inteiro. Ou seja, o agricultor chega para um
sistema verdadeiramente sintrópico. Para isso é muito importante que as
árvores sejam plantadas em alta densidade e não
na
densidade
definitiva.
Tem
95
que ser um plantio muito mais denso para que o agricultor possa depois fazer
raleamento, escolher pelas melhores etc, e porque na hora da
poda
as
árvores
não
podem
estar
muito
afastadas
umas
das
outras
pois
senão
vai
haver
falta de
material. Então, tem que ser muito mais denso do que em um sistema de
acumulação.
A
diferença, portanto, na
proposta de Ernst Götsch da agricultura sintrópica reside
tanto no consórcio biodiverso e em alta densidade quanto também no manejo
adequado. Isso é o que garante a reprodução da dinâmica de uma floresta de
distúrbioe q uev aiimpactarp ositivamenten af rutificação.
RÔMULO:
Um
café
apenas
sombreado não tem essa dinâmica. Ele é um café que
fica
sob
árvores
velhas,
o estrato baixo é removido, a regeneração que garantiria
as árvores do futuro
é praticamente
exterminada.
Não
é feito
um
trabalho
com
poda,
não é feito efetivamente um trabalho com estratificação, ou seja, você não
tem uma deposição de
material,
não
tem
uma
abertura
dos
estratos
superiores
para entrada de luz no estrato baixo no momento certo. Nada disso costuma
acontecern
osp
lantiosd
ec afés ombreadoq
uev emosp
ora í.
96
TRANSIÇÃOP
ARAA
A
GRICULTURAS INTRÓPICA
WILIANS: Eu
já
estava trabalhando com a ideia do orgânico, mas conforme eu fui
ouvindo sobre a agricultura sintrópica, vendo os vídeos, eu comecei a fazer
alguns
testes. Aquilo me fez
começar
a ver
as
coisas de
uma forma diferente, só
97
que eu
ainda não entendia muito bem. Quando fiz o primeiro curso foi que eu vi
o tanto que eu ainda tinha que aprender. O maior desafio era mesmo eu
acreditar, porque eu nunca tinha visto ninguém fazendo aquilo aqui perto de
mim. Como que eu ia acreditar? Mas eu acreditei, fiz e deu certo. Na
primeira
poda que eu fiz
nas plantas eu
já
vi
a diferença. O Ernst fala que a poda é o pulo
do gato e, realmente, ele não está brincando quando fala isso. Ele não brinca
quando está falando de agricultura sintrópica. A gente tem que aprender com
ele. Se você fizer de coração dá certo. Mas tem que fazer, senão não adianta
nada. Depois que eu entendi isso eu entendi que era mais simples do que eu
imaginava, e hoje a gente
participa do sistema
todo dia.
O dia que não participa
ficac hateado.
98
99
Autora: Dayana Andrade
Data: 03-08-2019
100
diária de mais de cinco décadas. A lógica que orienta sua tomada de decisão
percorre um trajeto que nasce na é ca de Kant e atravessa a sica, a filosofia grega
e a matemá ca. Ele também se apoia na biologia, química, ecologia e botânica, e
se abastece da cena tecnológica do momento, adaptando técnicas e ferramentas
de outras áreas. Portanto, a agricultura de Ernst Götsch se vale de um
encadeamento coerente e sistemá co de dados, livre de contradições internas,
que não somente percorre uma narra va lógica como também inclui uma
expressão concreta no fim do caminho. Do planejamento à execução do plan o,
há método, e há resultado prá co. Mais que uma boa ideia, a Agricultura
Sintrópica comprovadamente funciona, e pode responder aos maiores desafios
sociais e ambientais do nosso tempo. Leia abaixo o ar go onde Ernst descreve os
15 princípios nos quais baseia a Agricultura Sintrópica.
Na Agricultura Sintrópica cova passa a ser berço, sementes passam a ser genes, a
capina é a colheita, concorrência e compe ção dão lugar à cooperação e ao amor
incondicional e as pragas são, na verdade, os agentes-de-o mização-do-sistema.
Esses e outros termos não surgem por acaso, mas sim, derivam de uma mudança
na própria forma de ver, interpretar e se relacionar com a natureza.
Muitas das prá cas agrícolas preconizadas como sustentáveis baseiam-se na lógica
da subs tuição de insumos. Troca-se os químicos por orgânicos, plás co por
material biodegradável, defensivos por preparados. Porém, a forma de pensar
ainda está muito próxima daquela a quem fazem oposição. Em comum, combatem
as consequências da falta de condições adequadas para o crescimento saudável
das plantas. A Agricultura Sintrópica, por outro lado, capacita o agricultor a
replicar e acelerar os processos naturais de sucessão ecológica e estra ficação,
dando às plantas condições ideais para seu desenvolvimento, cada qual ocupando
sua posição natural no espaço (estra ficação) e no tempo (sucessão). É uma
agricultura baseada em processos, e não insumos. A colheita agrícola passa a ser
vista como um efeito colateral da regeneração de ecossistemas, ou vice-versa.
101
sintrópicos. Há que se harmonizar o espaço (estra ficação) ao longo do tempo
(ciclo de vida), respeitando os passos sucessionais (Placentas, Secundárias e
Clímax) dentro de cada um dos Sistemas (Colonização, Acumulação e Abundância
ou Escoamento), segundo definições de Ernst Götsch. Uma agrofloresta sintrópica,
portanto, se desenvolve e se transforma ao longo do tempo e do espaço, sempre
“no sen do do incremento da quan dade e da qualidade de vida consolidada”, diz
Ernst.
O que é Sintropia?
É muito fácil dizer que se quer trabalhar com a natureza e não contra ela. Mas de
qual natureza estamos falando? Qual leitura e interpretação que fazemos dessa
natureza observada? Esse é um dos principais pontos diferenciadores da
102
agricultura sintrópica. E no centro desse entendimento está o conceito de
sintropia.
103
Sintropia e Agricultura
Representação proposta por Ernst Götsch de fluxos de energia tanto em sua fase de
dispersão (entropia) quanto na fase de complexificação (sintropia).
104
Autora: Dayana Andrade
Data: 30-12-2018
No vídeo abaixo Ernst Götsch nos conta do quê os bois e as vacas deveriam se
alimentar em um contexto Mediterrânico: folhas de vinha, de freixo e de choupo,
além de luzerna (Medicago sativa), trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum),
Dactylis glomerata, Festuca pratensis, Lolium L, entre outras.
Essa paisagem descrita por Götsch deriva de sua percepção de que o Mediterrâneo
é um ecossistema preparado para “ficar verde o ano inteiro”, mesmo com as
variações de temperatura e umidade. Porém, o que atualmente nossos olhos
testemunham é uma realidade muito longe dessa floresta biodiversa, estratificada e
com intensa dinâmica natural visionada por Ernst Götsch. Hoje, ao invés desses
grandes ruminantes viverem em Sistemas de Abundância, a maioria das criações de
gado bovino se encontra em áreas que estão em condições de Sistemas de
Acumulação – passo sucessional em que não há alimentos, nem habitat, nem
funções adequadas para esses animais. O resultado é que, diante de pastagens
com baixa produtividade, torna-se comum a prática de recorrer cada vez mais à
suplementação alimentar por ração ou algum outro insumo externo, o que significa:
105
● Desvantagem ecológica, pois isso via de regra significa que outro
ecossistema está sendo minerado para a produção de grãos e fibras.
● Redução do bem estar animal que deixa de exercer o seu comportamento
habitual e saudável de forragear.
Naquele caso a proposta foi a de usar justamente o cisto, malquisto por ocupar as
pastagens, para ajudar a estabelecer azinheiras, carrascos, oliveiras, medronheiros,
figueiras e videiras. A sugestão é específica para o local analisado, mas a lógica por
trás da explicação é a mesma de sempre: fazer a leitura sintrópica do ecossistema e
potencializar os processos de vida no sentido do aumento da quantidade e da
qualidade de vida consolidada. Para nós que acompanhamos o trabalho de Ernst
Götsch há anos foi como ouvir uma mesma velha e familiar história, mas agora
sendo contada com personagens diferentes. Independentemente das condições de
solo, do clima e da vegetação existentes, podemos, como diz Ernst, criar
agroecossistemas parecidos aos naturais e originais dos locais, tanto em sua forma,
quanto em sua dinâmica e função. Nós também somos animais de porte grande e,
portanto, também dependemos de Sistemas de Abundância para sobreviver. Nosso
papel, enquanto animais que se auto denominam sapiens sapiens, seria o de
entender e potencializar os processos sintrópicos da vida.
106
Autora:D
ayanaA
ndrade
Data:0
9-06-2019
Oscustoseobjetivosveladosdatecnologia
Desafiosatuais
Atualmente, a produção de alimentos, madeira e fibras alterou a
capacidade de suporte dos seres humanos no planeta, ao mesmo tempo
em que
promoveu um
grande impacto no
resto
da
diversidade biológica. A
agricultura é a maior causa do desmatamento nos trópicos e já ocupou
70% das pradarias do mundo, 50% das savanas e 45% das florestas
temperadas. Por isso, é uma das maiores responsáveis por poluição e
alterações climáticas. Além de resolver todas essas questões atuais,
urgentes e fundamentais, a agricultura precisa também dar conta de
produzirduasvezesmaisaté2050devidoaoaumentopopulacional.
Se mantemos nosso otimismo e continuamos a agendar férias com a
família sem pensar nesses problemas gravíssimos é porque temos fé de
que a tecnologia, tal qual um deus ex machina, surgirá com soluções
inimagináveis. Pode até ser verdade. Mas corremos o risco de isso ser
apenas fruto
de
um
instinto de
autopreservação reconfortante acionado em
tempos de crise. Uma fuga pela fé. Mas afinal, a tecnologia pode nos
salvar? Nesse texto,
refletimos sobre os valores
abstratos e os
usos
sociais
107
do conceito de tecnologia, questionando sua suposta neutralidade e
presumidaautoridadenaagricultura.
Portrásdoconceito
A agricultura representa, por excelência, o ambiente de interface do
trinômio homem-natureza-tecnologia. O que historicamente tem sido
entendido como inovação na agricultura frequentemente esteve associado
à criação, ao uso e à aplicação de tecnologias, sejam elas no âmbito da
produçãooudaorganizaçãoagrícola.
108
Muito antes de Hornborg – e partindo de uma perspectiva distinta - o
filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976), no ensaio intitulado “A
Questão da Técnica”, de 1949, já apontava haver uma diferença
fundamental entre aquilo que concede possíveis sentidos à tecnologia e
aquilo que é sua essência. Sob essa ótica, estaríamos apenas arranhando
a superfície dos instrumentos da tecnologia e de suas finalidades, sem
questionar ou repensar sua ontologia. Para o filósofo alemão, na busca
pela essência da tecnologia desvela-se que ela
não tem nada de técnica e
tem muito da expressão de um modo de ser em determinada época. Para
Heidegger, a tecnologia não é nem um bem, nem um mal em si mesma.
Tampouco é neutra. Ela seria um desvelar desafiador (H
erausfordern) que
impõe à natureza a não razoável demanda de fornecer energia que pode
ser extraída e armazenada. O grande perigo reside no que, em alemão, o
autor chamou de Bestand, o fundo de reserva exposto à exploração -
aquilo de
que a tecnologia se serve. Não apenas como um estoque ou um
armazém, mas como uma fonte completamente à disposição imediata, tal
como – em analogia utilizada pelo próprio filósofo - um avião taxiando à
espera da ordem de decolagem, com todas as suas operações em
prontidão. O custo de
não reconhecer isso seria o de
restringir nosso olhar.
Seria como reduzir um rio a uma barragem à serviço da usina hidrelétrica,
ou a terra a um depósito de minério a ser extraído. Esse desvelar
desafiador presente também na agricultura enquanto “indústria de comida
mecanizada”, não aconteceria, no entanto, na terra cultivada pelo
camponês que incorpora no trabalhar a terra também o cuidar e o manter.
Em última instância, o que ocorre é a subordinação do homem e de suas
109
atividades ao mesmo desvelar desafiador, quer ele se dê conta disso ou
não.
"Como você
gostaria
de
ficar conhecido, como o descobridor
do
fogo
ou
o
primeiro homem a poluir a atmosfera?" Fonte:
https://sites.google.com/site/metmodule4/module-4-readings/heidegger
De modo geral, quando se fala em tecnologia na agricultura, pouco ou
nada se reflete as implicações pensadas e interpretadas por tais autores.
Geralmente, a tecnologia é simplesmente entendida como o produto de
novas descobertas e invenções. Essa
epistemologia tecnológica
tem
como
ícone fundador a máquina a vapor e sua associada ideia de progresso.
Derivam dessa mesma narrativa noções mais corriqueiras de eficiência e
produtividade (mesmo que atualmente com a nova
roupagem da
revolução
da
informação). É nessa tecnologia que são
depositadas grande
parte
das
110
esperanças de solução para os
atuais problemas de sustentabilidade. Para
suprir a necessidade de fontes exógenas de energia fia-se na promessa
das energias renováveis como a energia solar ou
dos ventos.
Para superar
limitações de solos férteis investe-se em pesquisa sobre hidroponia ou
indoor farms.
Para resolver (pontualmente e sucessivamente) a resistência
e a produtividade de determinadas espécies cultivadas, a aposta é na
modificação e na edição genética de organismos. Poderíamos nos deter
aqui em analisar as contradições internas de cada uma
dessas propostas.
Mas, de maneira breve, podemos ao menos apontar que as tais
“agriculturas de ambiente controlado”, grupo que congrega muitas dessas
propostas, encontra inúmeras críticas com relação: ao custo de
implantação e manutenção, aos resíduos poluentes gerados (mesmo em
sistemas circulares) e, acima de tudo, no que se refere ao impasse com
relação à alta demanda energética, para o que as soluções de “energia
limpa” levariam à curiosa (senão embaraçosa) substituição do Sol por
painéisdeenergiasolar(J onathanF oley).
111
Odilemadatecnologia
Revive-se, como em um pesadelo cíclico, um mesmo padrão de
comportamento: a ação
é a de
se
extrair
e a reação é a de
se
combater as
supostas limitações diagnosticadas de forma analítica, sem nunca
questionar se essa é a única ou melhor maneira de garantir nossa
sobrevivência, e do mundo com o qual interagimos. Celebramos e
consideramos mais eficientes exatamente aquelas tecnologias que
melhor
e por mais tempo garantam a manutenção de nossos atuais modos de
vida, mesmo que esses sejam, fundamentalmente, as causas de nossos
problemas. Precisamos desse questionamento para saber onde mirar
nosso esforço tecnológico. Isso
define não apenas frentes de
investimentos
concretos, mas também os valores éticos e morais que abastecerão as
futurasmentesinovadoras.
112
Referências
FOLEY, J. “No, Vertical Farms Won’t Feed the World”. Disponível em:
<https://globalecoguy.org/no-vertical-farms-wont-feed-the-world-5313e3e961c0> Acesso e m:
janeirod
e2
019.
FOLEY, J. A., Ramankutty, N., Brauman, K. A., Cassidy, E. S., Gerber,
J.
S.,
Johnston,
M.,
…
Zaks, D. P. M. (2011). Solutions for a cultivated planet. Nature, 478(7369), 337–342.
https://doi.org/10.1038/nature10452
ROJCEWICZ, R. “The Gods and Technology”. State University of New York Press: New York,
2006.
HEIDEGGER, M. “The Question Concerning Technology (and other essays)”. Tradução para
o
inglês do original em alemão “Die
Grage
nach
der
Technik”
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por
William
Lovitt,
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Row:N ovaIorque,1 977.
HORNBORG, A. “Footprints in the Cotton Fields: the industrial revolution as time-space
appropriationa
nde
nvironmentalloadd isplacement.E col.E con.5 9(1),7 4-81,2
006.
HORNBORG, A. “Global Ecology and Unequal Exchange: fetishism in a zero-sum world”.
Routledge:L
ondon,2
013.
ZAMORA, D., & Udawatta, R. P. (2016, October 1). Agroforestry as a catalyst for on-farm
conservation and diversification. Agroforestry Systems. Springer Netherlands.
https://doi.org/10.1007/s10457-016-0013-1
113
Autora:D
ayanaA
ndrade
Data:1
0-11-2019
PlantandoPedras
Pedras no campo costumam ser um problema e a única solução é
removê-las.MasErnstGötschtemumanovasugestão:plantarpedras!
A ideia de enterrar as pedras está relacionada principalmente com três
aspectos. Primeiro, com o fato de que o preparo da área na agricultura
sintrópica só acontece uma única vez, portanto, essa
primeira intervenção
é nossa chance de organizar os elementos presentes na
área da
maneira
mais eficiente possível. Pedra na superfície é um
problema, mas pedra
sob
osoloéumrecurso.
114
Isso
nos leva
ao segundo aspecto. A pedra enterrada se
transforma em um
recurso porque a dinâmica de vida que ali
será estabelecida com
o plantio
será capaz de, aos poucos, “digerir” as pedras. O plantio adensado,
estratificado e sucessional mantém íntima relação com processos bióticos
eabióticosdeformaçãodesoloedebiodisponibilizaçãodenutrientes.
Isso, por sua vez, nos leva ao terceiro aspecto pois com isso um ciclo
virtuoso se estabelece: quanto mais nutrientes e melhor o solo, mais
saudáveis crescem as plantas e, cada vez mais, esse crescimento ativa
processos de formação de solo e as
pedras inicialmente “plantadas” ficam
cada vez mais organizadas nas camadas mais profundas, e nunca mais
voltarãoaserumproblemaparaoagricultorsintrópico.
115
Autora: Dayana Andrade
Data: 28-02-2019
No artigo dessa semana trazemos uma reflexão sobre alguns conceitos que
fazem parte do processo de decisão do agricultor sintrópico, e que
normalmente deixam margem para interpretações distintas.
116
animais por ele domesticados, todas as relações inter e intraespecíficas
ocorrem, segundo sua perspectiva, unilateralmente movidas pelo amor
incondicional e pela cooperação. Muito além do senso comum do "amor
maternal", ou do "amor pelo semelhante" (da herança judaico-cristã), o amor
incondicional se expande no âmbito da Agricultura Sintrópica para um amor
entre diferentes espécies, um amor por sistemas abióticos e até mesmo um
amor por ciclos biogeoquímicos. Para os seres humanos, que têm o
expediente da deliberação de conduta, Ernst Götsch sugere, sempre
associado ao princípio do amor incondicional e da cooperação, a aplicação do
imperativo categórico de Kant, segundo o qual há que se agir de modo que as
suas ações possam ser elevadas imediatamente a leis universais – ou seja,
uma orientação ética intencionalista é a chave mestra e o fiel da balança das
atitudes do agricultor sintrópico.
Para Ernst essa diretriz é válida para todas as interações que mantém
enquanto agricultor, ou seja, na sua relação “com o solo, com as plantas, com
os animais, bem como com o ciclo da água e dos nutrientes”. A princípio, isso
seria semelhante à biofilia (amor pela vida e pelos sistemas vivos), conceito
proposto pelo psicologista Erich Fromm em 1964. Mas é divergente, no
entanto, especialmente daquilo que é elaborado na década de 80 pelo biólogo
e teórico Edward Wilson na "Hipótese da Biofilia", segundo a qual os seres
humanos teriam uma tendência psicológica de filiação a tudo que que seja
vivo, ou um amor inato pela natureza. Nesse último caso, o amor seria
explicado por uma herança genética que nos conectaria às outras formas de
vida. Ou seja, amaríamos não porque essas outras vidas teriam um valor em
si, mas porque uma conexão evolutiva justificaria e nos impeliria a tanto. Já o
amor a que Ernst Götsch se refere é bem menos antropocêntrico, e a conexão
é mais uma evidência do que uma explicação.
117
A suposta simplicidade semântica da ideia de amor incondicional, esconde um
grave deslocamento de uma categoria fundamental da cultura ocidental
moderna: a ideia de indivíduo. O indivíduo ou o interesse pessoal ficam
completamente suplantados sob a ótica do funcionamento do ecossistema.
Com a premissa da sintropia - esta não sujeita a negociações ou barganhas –
o amor é pautado pelo cumprimento da estratégia de incremento de energia
do sistema, mesmo que isso signifique, em determinada fase do
desenvolvimento, a supressão de um indivíduo - seja este uma erva, uma
jaqueira ou um veado.
A partir de seus escritos e de uma intensa convivência com Ernst, não é difícil
perceber que ele não dedica muita preocupação à explicação do amor
incondicional por conta de um outro axioma de seu pensamento: o
entendimento de que nós seres humanos seríamos apenas parte de um
macro-organismo inteligente. “[Nós agimos e nos comportamos como se]
fôssemos ‘a espécie inteligente’. Somos? Ou apenas, modestamente, somos
parte de um sistema inteligente?”, diz.
118
Porém, a ideia de que a Terra é um organismo único - atalho geralmente
frequentado tanto por aliados quanto por opositores da Teoria de Gaia - é na
verdade uma imprecisa redução, segundo Lynn Margulis (2001), colaboradora
de Lovelock na Teoria de Gaia e responsável pela Teoria da Endossimbiose
Sequencial - cujas implicações vão do entendimento do ecossistema
planetário aos processos evolutivos. Mais acurado, segundo ela, seria dizer
que “a Terra, no sentido biológico, tem um corpo mantido por complexos
processos fisiológicos”. Margulis também procurou alertar Lovelock para os
riscos de deificação que o uso do nome Gaia – deusa da Terra na mitologia
grega - poderia trazer a reboque. Se o conselho foi considerado, não o foi a
tempo de prevenir a incorporação do termo pela corrente mística do discurso
ambientalista do período que viu na personificação da “Mãe Terra” o álibi
perfeito para suas agendas. Essa leitura pode ter contribuído para a
desconfiança que a teoria levantou no meio acadêmico tradicional, quando de
seu surgimento, e pelo consequente atraso na apreciação mais cautelosa de
seu potencial. Atualmente, na iminência de uma crise global climática e
ambiental, essas discussões são revisitadas e ganham novo fôlego com
Bruno Latour, Bruno Clarke e Timothy Lenton. Muitas das críticas a essa
teoria se baseiam na interpretação da teoria darwiniana da seleção das
espécies baseada na competição. A sobrevivência do mais apto seria
incompatível com a ideia de que seres vivos, por seu metabolismo, modificam
o ambiente de tal modo que as condições para sua própria existência deixam
de existir e abrem espaço para novas espécies prosperarem. No entanto, há
exemplos exatamente disso desde a formação da atmosfera até a própria
119
sucessão ecológica. O fato é que a vida é um fenômeno planetário e,
contrariando as probabilidades, a superfície da Terra está viva há pelo menos
3.7 bilhões de anos, mantendo sua dinâmica com os sistemas abióticos.
120
O quadro conceitual da Agricultura Sintrópica, portanto, exclui completamente
as ideias de concorrência e competição fria e as substitui pelas concepções
de cooperação e amor incondicional. Como se já não fosse árduo o bastante
para nosso sistema de pensamento científico incorporar, na interpretação de
ecossistemas, conceitos como o de amor, Ernst ainda propõe outra categoria:
a do prazer – que seria o resultado obtido por agir conforme esse
entendimento. “Cada indivíduo, de cada geração, de todas as espécies,
aparece equipado para realizar suas tarefas e cumprir suas funções movidos
pelo prazer interno (...)”. Sujeito a interpretações equivocadas, o prazer
interno pode e costuma ser tomado por hedonismo. Porém, mais uma vez,
como no caso do amor incondicional, o indivíduo não está no centro, mas sim
a tendência sintrópica da vida. A consequência desse descolamento é que o
prazer interno está mais relacionado com a ideia de pertencimento ao
macroorganismo do que com uma satisfação pessoal em si. Considerando
que a língua nativa de Ernst Götsch é o alemão, suspeitamos que ali
poderíamos encontrar pistas dos sentidos e das valorações subjetivas que,
normalmente, carregamos desde nossa matriz linguística. Quando perguntado
sobre qual seria a tradução de prazer interno para o alemão, Ernst indicou
Inneren Antrieb que, portanto, estaria mais próximo das ideias de motivação,
estímulo e impulso. Nesse sentido, o trabalho de um agricultor de manejar um
121
ecossistema mantendo ou favorecendo o fluxo sintrópico de energia lhe
proporcionaria esse sentimento de realização. Ao abordarem o conceito de
sintropia aplicado à psicologia, os pesquisadores italianos Ulisse di Corpo e
Antonella Vannini (2014) chegaram a semelhantes conclusões em seus
experimentos, mencionando as ideias de propósito e de sentimento de
realização em contraposição aos “sentimentos de vazio, dor emocional,
ansiedade e angústia” – estes experimentados como resultado de ações
contrárias à sintropia.
Deste breve apanhado de princípios inferimos alguns dos motivos pelos quais
a Agricultura Sintrópica, apesar de se mostrar agronomicamente eficiente,
ainda encontra dificuldade de reivindicar sua cidadania no universo da ciência.
Além dos conceitos até agora discutidos, há ainda o caráter teleológico,
muitas vezes apontado como um suposto ponto fraco da teoria da Agricultura
Sintrópica. Afirmações de Ernst Götsch tais como “a vida é uma estratégia
que o planeta Terra criou para cumprir a sua função”, podem parecer sugerir
uma predestinação imanente, uma finalidade causal, o que entraria em
conflito com todo o secular esforço de libertar a ciência (e o indivíduo) do
subjugo do pensamento cristão medieval. A mentalidade científica moderna
ou clássica se amparou, desde aquele momento, na racionalidade e na
objetividade como promessa definitiva de autonomia e liberdade (o que era
coerente com o cenário histórico das revoluções burguesas dos séculos XVII
e XVIII). Como em uma espécie de trauma, essa ruptura deixaria marcas
duradouras e, mesmo com o avanço das discussões sobre a
contemporaneidade e os sistemas complexos com pensadores como
Prigogine e Morin, o debate científico, nas ciências sociais e sobretudo nas
ciências naturais, ainda se ressente na presença de uma linguagem
teleológica por associá-la a ideias de propósito e de desígnio. Palavras tais
como “estratégia” e “tática”, por exemplo, foram expressamente
descredenciadas, inclusive em editoriais de revista científica: “Termos como
‘estratégia’ e ‘tática’ são filosoficamente questionáveis quando aplicados a
plantas e animais inferiores, sendo melhor deixá-los para os políticos, os
militares e os técnicos esportivos”, escreveu Kramer em 1984.
122
cultura cristã e árabe islâmica por meio de uma teleologia transcendental -
dando margem para mais tarde o compreensível ressentimento ilustrado pela
ironia do editorial de Kramer. Mas sim, uma tradição que recupera o
entendimento kantiano de que a finalidade aparece como um princípio
regulador do qual nos valemos para acessar o conhecimento sobre o mundo
natural. Ou seja, não seria um atributo constitutivo da natureza, mas uma
pressuposição adotada para resolver nossas questões práticas de
conhecimento.
Faz parte da nossa cultura acreditar que todas as espécies competem para
sobreviver. As pessoas tomam isso como um processo natural e uma lição
moral para carregar na vida. E se não for? E se nós reinterpretarmos o
propósito da vida na Terra desconsiderando esses conceitos? É possível, e
123
pode oferecer algumas ferramentas para repensar nosso comportamento e
impedir nosso relacionamento brutal com a natureza.
124
Autor:F
elipePasini
Data:12-02-2019
Apodacomoaduboeirrigação
Para Ernst Götsch, a poda é o combustível das transformações e a chave para a
aceleração da sucessão natural. Segundo a ótica da Agricultura Sintrópica, o papel do
ser humano no planeta seria, tal como qualquer outra espécie, o de manejar
ecossistemas no sentido de favorecer dinâmicas de complexificação de vida, tendo
como meio as relações simbióticas com outros organismos. Sob essa perspectiva, o
agricultor sintrópico seria capaz de favorecer a produção primária de biomassa, por
meio da poda das
espécies segundo os
critérios
da estratificação, ciclo
de
vida e lugar
na
sucessão. Busca-se assim criar um
ambiente de constante ciclagem e incremento de
nutrientes orgânicos e inorgânicos, maximizando a fotossíntese e acelerando a
capacidade do sistema de metabolizar e converter energia em
formas mais complexas
devida.
Ernst Götsch se vale
de um
exemplo didático
que facilita
a compreensão do papel
das
podas em ecossistemas naturais, e remete-se ao
conhecimento tradicional
indígena da
região amazônica do Alto Beni, Bolívia, onde o cacau (Theobroma cacao) é nativo.
Ainda vivendo de caça e coleta,
os indígenas desenvolveram outras percepções sobre o
125
comportamento de espécies que lhes são úteis, construindo assim critérios de
identificação de indivíduos altamente produtivos e algumas relações relevantes com o
ambiente onde estes
estão inseridos. Nesses lugares,
o cacau ocorre preferencialmente
em beira de rios e canais de vento, locais que são periodicamente submetidos a
distúrbios, seja pelos pulsos de inundação fluvial, seja pelos fortes vendavais que
normalmente fustigam os vales dos Andes. Os nativos daquela região reportaram ao
Ernst que a cada quatro anos o vento é especialmente forte
e que
o distúrbio
é muito
grande. De acordo com a percepção dos moradores, isso coincide com os anos de
maiorproduçãodecacau.
O que
o Ernst fez
foi
traduzir essa observação para o manejo de
seu sistema agrícola.
Ou seja, ao trabalhar com
espécies como o cacau, que coevoluiram com o distúrbio, a
poda correta se torna imprescindível. Isso resulta tanto em boa frutificação quanto em
grande beneficio pro sistema inteiro devido ao aporte de biomassa. Diferentemente de
outros cultivos agroflorestais de
cacau (cacau sombreado), a área do Ernst é manejada
em todos os andares. O segredo de sua grande produtividade e qualidade em
comparação a outros produtores da
região não está
na adubação e na irrigação, já
que
ele prescinde de ambos. Além do zelo usual às árvores de cacau, sua produção
depende do manejo e poda de Erytrhinas, jaqueiras, bananeiras e tantas outras
espéciesqueestãopresentesnaárea.
● O corte e posicionamento sistemático da matéria orgânica sobre o solo (nunca
dentro),estimulaaaçãodeorganismoseaceleraatransformação.
126
● As plantas
podadas investem em
novo
crescimento
tanto
na
parte
aérea (galhos
efolhas)quantoemsuasraízes.
● A informação de crescimento também altera a composição bioquímica de
hormônios e enzimas das
raízes,
o que
indiretamente favorece maior
retenção
de
águaenutrientes.
Ou seja,
a poda
funciona como uma
adubação e irrigação,
só
que
via processos, e não
via insumos. Dessa forma, o agricultor
deixa
de
ser um
mero transportador de
adubo e
água, para atuar como um mediador entre a vegetação e o solo, provendo a este o
máximode"combustível"aomesmotempoemquemantémasaúdegeraldoplantio.
127
Nas ilustrações abaixo, os benefícios que a poda
traz
para
o crescimento
das
plantas,
extraídodeumestudorealizadoporJoachimMilz( leiaaqui).Livroemespanhol.
Ilustração reproduzida a partir do trabalho de Joachim Milz que representa o impacto
queasenescênciadeplantasmadurastrazparaocrescimentodasdemais.
Apodanotempocorretomantémasplantasemumótimodecrescimento
128
Em qualquer desenho, Ernst inclui espécies que possuem grande capacidade de
produção de biomassa para que possam suprir uma quantidade de matéria orgânica
similar ou maior que um ambiente natural, como o “Eucalyptus sp” e a “Acacia
mangium”, por exemplo. Como são espécies de ecossistemas com pouca
disponibilidade de água e nutrientes, se adaptam aos solos pobres e degradados de
outros biomas. O metabolismo rápido dessas plantas permite o processamento de
grande quantidade de energia
em
um
período de
tempo curto e em
condições de solos
difíceis.
Para Ernst, se fossem
avaliadas pela
quantidade de
biomassa que conseguem
produzir e pela sua capacidade impressionante de suportar podas drásticas, elas não
seriam categorizadas como vilãs do meio ambiente. Agricultores sintrópicos as usam
como estratégia de recuperação de solos, ou seja, de poda, para que outras árvores
maisexigentesconsigamseestabelecerfuturamente.
Apodaobedeceacritériosdeestratificaçãoeciclodevida,mantendoadistribuiçãoidealdeindivíduoseluzao
longodosandaresdafloresta(FazendaOlhosD'Água)
A pulsão do sistema é quando o agricultor "segura" a sucessão por meio de podas
drásticas e frequentes de todos os indivíduos. Essa prática é adotada sobretudo por
produtores que têm foco
em espécies de ciclo curto,
como hortaliças (placenta I,
II
e III).
Por meio da pulsão do sistema é possível repetir o plantio nos canteiros duas ou
três
vezes (retornar ao estágio.de placenta),
até
"soltá-lo" para
que as espécies do
próximo
passo sucessional (secundárias I, II e III) possam dominar. Essa técnica também é
utilizada para sincronizar espécies implantadas em
diferentes momentos no sistema ou
para enriquecê-lo com mais diversidade. Ernst Götsch sempre lembra que não se
deve
pulsar um sistema muitas vezes seguidas. Um ecossistema tem estágios de
crescimento a cumprir – placenta, secundária e clímax – e mantê-lo em estágio de
129
placenta promove,
segundo
Götsch,
um "aborto"
da
floresta,
ou
seja,
o solo
degrada-se
pelainterrupçãodasucessãonatural.
A tabela acima ilustra a sucessão natural de uma área de Mata Atlântica. Lista de
espécies:ErnstGötsch.Ilustração:UrsulaArztmann.
Leituraadicional:
ANDRES, C;
COMOÉ, H .;
BEERLI,
A .;
SCHNEIDER, M .;
RIST,
S .;
JACOBI,
J.
“Cacau
em
monocultivo e agrofloresta dinâmica”. Em:
Lichtfouse
E. (eds)
Revisões sustentáveis
daagricultura.,V(19).Springer,2016.
SCHNEIDER, M .;
ANDRES, C;
TRUJILLO, G .;
ALCON, F .;
AMURRIO, P .;
PEREZ, E
.;
MILZ, J.
“Cacau e rendimento
total
do
sistema de
agrofloresta orgânica
e convencional
vs. Sistemas de
monocultura em um
experimento de
campo de longo
prazo na Bolívia
”.
AgriculturaExperimental,v.53( 3),pp.351–374,2017.
130
Autor: Felipe Pasini
Data: 09-09-2018
Ernst Götsch foi ao La Loma Viva pela primeira vez no começo de 2016. Depois disso,
Ryan Botha veio até o Brasil para passar um tempo conosco, aprender mais sobre
agricultura sintrópica e para praticar em campo junto com outros agricultores. Ao voltar
para casa, Ryan e sua parceira Karen De Vries decidiram plantar novas áreas. Ernst
voltou à Espanha em 2017 para o primeiro workshop e para ajudar o casal a lidar com
as áridas condições do sul da Espanha.
La Loma Viva fica em uma localizacão estratégica, com potencial para passar uma
importante mensagem. Antes do belíssimo mar mediterrâneo, nossos olhos caem sobre
outro oceano, nada bonito, cobrindo 52 quilômetros quadrados de estufas de plástico
uma área tão grande que pode ser vista do espaço. Essas estufas não só são altamente
poluentes e insustentáveis como também submetem os agricultores a péssimas
condições de trabalho.
É neste cenário que encontramos a La Loma Viva, um oasis de esperança que nos
oferece um excelente exemplo de como é possível cultivar fora de estufas e sem
degradar o meio ambiente. Pelo contrário, ajudando a restaurar a fertilidade e a
capacidade de retenção de água do solo.
131
Estamos muito felizes com a já bonita e produtiva florestinha mediterrânea do Ryan e da
Karen. Em março, estive lá junto com Ursula Arztmann, para visitar as áreas e para
ministrar o workshop "Construindo uma linguagem comum para a Agricultura
Sintrópica." Embora ainda estivéssemos em um inverno tardio, ficamos impressionados
com a saúde das plantas e do solo. A propósito, agradecemos ao casal pelo envio de
imagens extras com o crescimento espantoso do sistema assim que a primavera
chegou.
Workshop "Construindo uma linguagem comum para a Agricultura Sintrópica", em marco de 2018 no La Loma
Viva
132
Autor: Felipe Pasini
Data: 30-01-2019
Você está cansado de capinar em torno de suas árvores? No vídeo desta semana,
mostramos como transformar uma área geralmente inútil em um canteiro de vegetais
que beneficia a árvore, o solo e o agricultor.
Em quase todos os quintais o espaço ao redor de uma árvore é exposto ao sol, sem
qualquer vegetação para proteger o solo. Na Agricultura Sintrópica, aprendemos que "o
solo exposto é como uma ferida aberta", então nossa abordagem é um pouco diferente.
Em vez de manter a área "limpa", semeamos o maior número de plantas possível.
Existem várias vantagens em fazer isso:
● Um solo mais fresco e protegido hospeda mais vida. Mais vida significa plantas
mais saudáveis e uma transformação mais rápida da biomassa.
● As árvores encontram espaço para expandir suas raízes, abrindo caminho para
oxigênio, água, nutrients e microrganismos benéficos.
All that combined results in fertile and good soil. Give it a try,
133
Autor:F
elipePasini
Data:30-03-2019
ComposiçãodeconsórcioscomplexosnosuldaEspanha(LaLoma
Viva)
Olá pessoal. Em março de 2019, fizemos um workshop com Ryan Botha e Karen De
Vries no sul da Espanha. Eles administram uma pequena fazenda chamada La Loma
Viva. Graças à persistência e competência do casal, eles têm ajudado
a provar
que
é
possível transformar a região degradada quase desértica em uma floresta luxuosa
sempreverdeeprodutiva.
Passei dias
maravilhosos com os
queridos
amigos amigos Ryan, Karen e todo o time do
La
Loma, sem
mencionar o incrível
grupo
de participantes. Não é comum ter
uma turma
tão focada e que trabalhe de maneira tão colaborativa. Em apenas cinco dias,
conseguimos cobrir toda a teoria baseada nos 15 princípios recentemente publicados
porErnstGötsch,etambémimplementamostrêsáreasdistintas.
Duranteaworkshop,colocamosmaisde1.000plantasnosoloemtrêsfrentes.
● Emumcantoondeasmáquinasnãopodiamalcançar,fizemosvários"ninhos"
paraconstruirumaparededevegetaçãoquefuncionassecomoumpomar
produtivoecomoumquebra-ventoestratificado.
● Emumterraço,implementamoslinhasfáceisdemecanizar.OdesigndeErnst
Götschéfocadoemabacateecítricosentrecanteirosdehortaliças.
● Nabordadoterraço,tambémmontamosumquebra-ventodesenhadoporErnst.
Linkdovídeo“LalomavivaWorkshoparea”:h ttps://vimeo.com/327443610
A cerca de um ano atrás nós fizemos esse vídeo
contando
um
pouco
a história
do
La
LomaVivaesuaposiçãoestratégicanoMediterrâneo.
ttps://vimeo.com/288909874
Linkdovídeo“SyntropicFarmingatLaLomaViva”:h
134
Autor:F
elipePasini
Data:18-07-2019
Eucalipto:maisumbodeexpiatóriodanossasociedade
Colaboração:DayanaAndrade
"Uma reconciliação paradoxal torna-se possível: se todos os homens desejam a
mesma coisa e nunca
se
entendem, porém, aqueles que odeiam juntos o mesmo
adversário se entendem com muita
facilidade. De certa
forma, essa
harmonia é o
que chamamos de política! Também é o que eu chamo de mecanismo da vitima
única,omecanismodobodeexpiatório"
RenéGirard
No artigo dessa semana vamos responder a uma das perguntas mais recorrentes que
recebemos: “por
que
vocês gostam tanto
de
eucalipto?”. Para começo de
conversa, já é
bom dizer que não gostamos mais do eucalipto do que de qualquer outra das tantas
espécies resilientes e eficientes como ele. Mas, como para muita gente o eucalipto é
visto como um vilão,
o fato
de
Ernst Götsch
incluí-lo
como uma das espécies chave de
muitos dos desenhos de agricultura sintrópica abre
espaço para um interessante debate.
O eucalipto se tornou o bode expiatório para muitos danos ambientais, uma espécie
condenada a carregar a culpa de outros. Por isso, é importante ajudar a esclarecer:
afinal,porqueusamostantooeucalipto?
Linkdovídeo“ErnstGotschsobreEucalipto”:h
ttps://vimeo.com/342823801
ACUSAÇÕES | Culpado por favorecer incêndios, degradar solo e secar nascentes, o
eucalipto
é réu
de
muitas
acusações.
Como o Ernst
diz,
uma
planta não
pode contratar
135
advogados, e por isso não consegue se defender. Mas, o problema não
é o eucalipto.
Todos esses efeitos negativos são consequência da forma como ele é cultivado. A
organização e o manejo dos eucaliptais monodominantes condena o ecossistema à
degradação. Não é culpa da planta,
mas sim
do
nosso sistema de
produção. Qualquer
outra espécie plantada nessas mesmas condições reproduziria os mesmos efeitos
danosos daquilo que, com razão, ficou conhecido como “deserto verde”. As
monoculturas de eucalipto (e de qualquer outra espécie arbórea) reproduzem a
dinâmica, arquitetura e os efeitos de uma floresta clímax envelhecida, pouco antes
da
formação da clareira. Ou seja, a maior densidade de copa se concentra nos estratos
mais altos, com pouca vegetação por baixo. Ou, pior ainda, nenhuma vegetação por
baixo - situação garantida pelas sucessivas aplicações de herbicida nos monocultivos
convencionais. Isso sim degrada o solo e seca o ambiente tornando-o vulnerável a
incêndios.
Linkdovídeo“ErnstGotschsobreEucaliptoparte2”:h
ttps://vimeo.com/342826870
LÓGICA NATURAL DA CLAREIRA | Quando as árvores de crescimento mais lento de
uma floresta chegam à maturidade e começam a fechar o dossel, é sinal de que aquele
sistema está se preparando para a clareira. Essas são as espécies de estratos alto e
emergente que compõem uma floresta clímax e esse estágio faz
parte do ciclo natural
daquele ecossistema. Nesta fase, a diminuição da incidência de luz nos estratos
inferiores eventualmente faz com que eles diminuam sua densidade. A ausência de
vegetação no sub-bosque significa menor produção de
biomassa e,
com isso, o solo fica
menos protegido. Isso permite a entrada de vento seco que retira a umidade do solo,
aumenta a temperatura e, consequentemente, causa mudanças drásticas das
interações termodinâmicas. O solo fica mais quente que a água da
chuva, e isso tanto
impede que a água infiltre
por
diferença de
gradiente, quanto contribui para que o solo
expulse umidade, o que aumenta a compactação e a degradação. Esse é o ambiente
ideal para vários tipos de cipós, lianas e trepadeiras que, por sua vez, amarram as
árvores altas umas às outras. Quando uma planta envelhecida cai, outras também
caem.Eiscomonaturalmentesurgemasclareiras.
CÓPIA MAL FEITA | Um monocultivo de eucalipto (ou de outra espécie arbórea)
reproduz a forma e a função dessa fase do
desenvolvimento de uma floresta, ou
seja, o
seu fim. A diferença é que
nos ciclos naturais
os
fins se ligam aos recomeços, sempre
com incremento de energia. O saldo energético de uma clareira florestal é positivo,
ou
seja, há aumento do capital natural entre o início e o término de um ciclo. Quando o
estrato baixo reduz sua densidade isso acontece sem perda de reserva genética. Pelo
contrário, assim que a clareira é aberta, todo o banco de sementes é imediatamente
acionado para começar um novo ciclo. Não apenas a floresta cria condições físicas
136
favoráveis à vida, como transforma a biomassa acumulada no ciclo atual em
investimento para o próximo ciclo, em um incremento exponencial de complexidade.
Não por acaso, a fertilidade aumenta em qualquer ecossistema natural livre de
interferênciahumana.
ESTRATIFICAÇÃO E CONSÓRCIOS | Todos os efeitos negativos atribuídos ao
eucalipto não ocorreriam caso ele fosse plantado em consórcio com outras espécies.
Em sistemas estratificados e biodiversos - com vários andares ocupando diferentes
faixas de captação de luz – acontecem efeitos termodinâmicos que garantem um
microclima favorável aos processos de vida. Por exemplo, o desenho que o Ernst
implantou na Fazenda da Toca tinha capim mombaça por baixo, fruteiras nos
estratos
médio e alto, e eucalipto no estrato emergente. Seria de se esperar um resultado
desastroso ao
combinar duas plantas
famosas por “secar o solo”,
como o eucalipto
e a
bananeira. Nada disso.
Esse sistema atravessou a famosa crise hídrica do estado de
SP
em 2014 sem grandes danos. No pico da seca, víamos a bananeira com as folhas
abertas, em um claro
sinal
de ausência de
estresse. A estratificação organiza as
plantas
137
verticalmente de forma a funcionar como uma estação de captação e manutenção de
água. Daí
vem
a célebre frase
do
Ernst,
“água se planta”. Não porque
onde há
água,
há
vida.Masocontrário.ParaGötsch,ondehávida,háágua.
Quatro "andares" de vegetação significam mais fotossíntese e mais água no sistema.
Capimmombaça,banana,cítricoseeucaliptonaFazendadaToca.
"Nãoéporqueondeháágua,hávida.Masocontrário.Ondehávida,háágua."
ErnstGötsch
138
Umsistemaestratificadoregulatemperaturaeumidade.
CHUVA QUE CAI, CHUVA QUE SE BEBE | Viktor Schauberger demonstrou que em
florestas naturais a temperatura do
solo costuma ser
poucos graus mais fria
que a água
da chuva. Isso quer dizer que, além de a chuva naturalmente chegar ao solo por
gravidade, também é verdade que o solo “bebe” água por sucção. Ou
seja, a infiltração
ocorre também por diferença de gradiente de temperaturas (do quente para o frio). A
fotossíntese em andares distintos contribui para isso, pois maior peso nos estratos
inferiores e menor ocupação na medida que alcança as árvores mais altas permite uma
sobreposição gradual de faixas de captação de luz. Mas não só
isso. A fotossíntese é
um processo endotérmico (ao invés de
emitir calor, esfria o ambiente). Portanto, essas
camadas graduais funcionam, segundo Götsch e Schauberger, como biocondensadores,
capazesdebombearáguapormeiodeprocessostermodinâmicos.
139
Semsub-bosque,osoloaqueceeresseca.
EUCALIPTO AJUDA NATIVAS | Incluir diferentes espécies em andares já seria bom.
Mas, ainda não é o suficiente. Há que se incluir plantas de diferentes estágios
sucessionais. Na classificação do Ernst, o eucalipto é uma árvore de estrato emergente,
que se estabelece nos estágios iniciais de floresta secundária e que tem a capacidade
de transitar até o clímax se
não houver outra espécie para substituí-lo. Ou seja, é uma
árvore de rapidíssimo crescimento e pode viver muito tempo, acompanhando a floresta
até sua maturidade. Por exemplo, em nossa fazenda no Rio de Janeiro, o Ernst plantou,
entre diversas outras espécies, eucalipto e araribá, ambas emergentes. A primeira, de
rápido crescimento, ajudou a criar a segunda, espécie climáxica nativa de madeira
nobre. Se tivéssemos plantado o araribá desde o começo, as mudas não teriam
suportado a incidência do sol. O eucalipto puxou o crescimento do araribá com sua
sombra, biomassa e informação bioquímica. Podado duas vezes ao ano, o eucalipto
despeja para os vizinhos enzimas e hormônios relativos ao crescimento, além de
oferecer nutrientes e proteção com sua biomassa que é fragmentada e organizada nas
linhas das árvores. Incontestavelmente, uma espécie exótica e odiada ajudou a
estabelecer uma espécie nativa mais exigente. No lugar do eucalipto, poderia também
ter sido utilizadas outras emergentes, por
exemplo, o guapuruvu ou a trema micanthra.
Não nos
apegamos a uma ou
outra espécie, mas na organização e dinâmicas do plantio
140
no espaço e no tempo. Graças às suas características, o eucalipto poderia ser um
grandealiadonarecuperaçãodeáreasdegradadas.
Oararibá"Centrolobiumtomentosum"crescesaudávelsoboeucalipto.
Por
isso, fica
aqui
o convite:
vamos
fazer nossos próprios testes e recontar
a história
a
partir de
nossa experiência real,
sem falsos heróis, mas também sem bodes
expiatórios.
Ao focar nossas frustrações no eucalipto, e não na lógica que alimenta seus cultivos,
perdemos a chance de identificar a verdadeira origem do problema e pouco fazemos
para,defato,resolvê-lo.
Linkdovídeo“Exóticas”:h
ttps://vimeo.com/118802811
141