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PROJETO R.A.C.

A F E R R A M E N TA D E A U T O T R A N S F O R M A Ç Ã O
E AU TO - R E CO N ST R U ÇÃO H U M A N A M A I S
PO D E R O SA D O M U N D O.

FE LIPE AMORIM
SUPER-HUMANO
Copyright 2022 Yesbooks Editora
Categoria: Desenvolvimento

Primeira edição — 2022


Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução total ou
parcial sem a permissão
escrita dos editores.

Autor: Felipe Amorim

Projeto Gráfico e editorial: Yesbooks Editora

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dos textos, incluindo as ideias, opiniões e con-
ceitos publicados, é de inteira responsabilidade
de seus autores, não refletindo necessariamente
a opinião dos editores.
DEDICATÓRIA/
AGRADECIMENTO

A Deus, por ter me mostrado o caminho, a verdade e a vida,


que me salvou e me deu uma nova chance.
À minha esposa, Renata Amorim, que não desistiu de mim
quando eu mesmo já havia desistido.
Aos meus filhos, Gabby e Luiz, que são as razões que me fa-
zem “levantar e andar” todos os dias.
À Alice — lá do País das Maravilhas —, que me mostrou que
existe algo além daquilo que meus próprios olhos conseguem
enxergar.
Ao meu amiguinho príncipe, desde lá do seu pequeno come-
ta, que me lembra a todo instante que o essencial é invisível aos
olhos e me alerta, constantemente, para que eu nunca me torne
um adulto chato e confunda a beleza de uma cobra que engoliu
um elefante com um simples chapéu.
PREFÁCIO

Prezado leitor,
Este é um projeto cem por cento filantrópico, desenvolvido
pelo meu esposo — alguém que amo e admiro muito. Ele chega
às suas mãos após anos de estudo e prática, e não porque um
belo dia meu esposo resolveu escrever um livro com conteúdo
motivacional, autoajuda ou sobre personalidades, não. Mas por
que ele decidiu dar acesso a você sobre algo que efetivamente
transformou a vida dele, da nossa família e de milhares de alunos.
A sigla R.A.C. resume em apenas três letras todo um siste-
ma de mudança de vida, que restaurou completamente a nossa
família, várias famílias de seus alunos e que tenho certeza que
impactará a sua vida também!
Por isso, quero encorajá-lo a ler e a praticar com precisão tudo
o que ele desenvolveu e está entregando nesta obra. Eu desejo,
de todo o meu coração, que todas as pessoas possam não so-
mente conhecer a si mesmas, as suas personalidades e entender
seus comportamentos; mas sim, reconhecer tudo isso e saber o
quê podem fazer com essas informações. Tenho certeza de que
assim, elas poderão experienciar a transformação que eu vivi e
que ainda vivemos constantemente dentro do nosso lar, por in-
termédio da prática do R.A.C.
E por que digo isso? Por que após anos, com dificuldades de
comunicação, de relacionamento e de entendimento na nos-
sa vida conjugal, eu experimentei uma mudança inenarrável no
meu esposo, que após o R.A.C, se transformou literalmente em
uma “máquina de bater metas”! Hoje tenho um esposo incrível,
um ser humano sensível, determinado, disciplinado e admirável e
que tem ajudado milhares de pessoas em todo o país.
Esta obra traz tudo o que ele fez e que milhares de alunos dele
também fizerem, e podem ajudar você a se tornar, também, uma
pessoa imbatível.
Boa leitura! Você nunca mais será o mesmo, assim como nós
também nunca mais fomos!

Renata Amorim.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................. 9

PRIMEIRA PARTE | O ENEAGRAMA E SEUS TIPOS


OS PRINCÍPIOS............................................................................ 17
A PERSONALIDADE.....................................................................21
OS TIPOS....................................................................................... 27
OS INSTINTOS............................................................................ 39
DESTRUIR PARA RECONSTRUIR............................................ 45
UMA VISÃO AMPLA..................................................................... 51
SEGUNDA PARTE | PROJETO R.A.C — SUPER-HUMANO
A DIFERENÇA ENTRE IMITAÇÃO E MODELAGEM............213
DESMONTE SUAS CRENÇAS.................................................. 221
A IMAGEM E A AÇÃO............................................................... 233
CRIE UMA NOVA MEMÓRIA.................................................. 245
ENTRE NO CICLO DA TRANSFORMAÇÃO.......................... 265
O PODER DA DECISÃO — DE/CISÃO................................. 285
FAKE IT UNTIL YOU MAKE IT...............................................297
VIVA O SEU MILAGRE............................................................ 309
INTRODUÇÃO
O
Eneagrama de Personalidades, ou simplesmente enea-
grama, é um modelo de estudo da psique humana en-
tendido e analisado como uma ferramenta de tipologia
que cria, ao mesmo tempo, uma divisão de nove tipos de perso-
nalidade, com algumas interconexões entre eles.
A palavra eneagrama tem sua origem no grego ennea, que
significa nove; e grammos que, por sua vez, significa escrita ou
desenho. Sendo assim, a palavra representa uma figura que pos-
sui nove pontas.
As origens exatas do símbolo do eneagrama se perderam na
história, não sabemos de onde ele vem, já que a origem dele,
enquanto sabedoria de transmissão oral não é documentada ou
clara. Mas acredita-se que essa figura surgiu há mais de 2000
anos, pois muitas das ideias abstratas relacionadas ao eneagra-
ma, para não falar em sua geometria e derivação matemática, su-
gerem que sua origem se deu com o pensamento grego clássico.
Também, as teorias a ele subjacentes podem ser encontradas nas
ideias de Pitágoras, Platão e alguns dos filósofos neoplatônicos.

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No entanto, foi a partir do século IV que o símbolo do enea-
grama começou a ser utilizado para explicar o ser humano e seus
estados emocionais. Isso por influência dos primeiros monges do
cristianismo, como Antônio de Alexandria, aquele que esteve na
origem dos que ficaram conhecidos como Padres do Deserto.
Um desses Padres do Deserto, Evagrius Ponticus (345-399), um
teólogo grego, registrou pela primeira vez as suas ideias a respeito do
tema por meio da escrita. Ele se destacou ao apresentar um símbolo
idêntico ao atual e “oito pensamentos maus”. O que dariam origem,
posteriormente, aos sete pecados mortais. Foi Ponticus também que
registrou informações sobre a dinâmica entre os tipos.
Mais tarde, esses Padres do Deserto acabaram por abandonar
as Montanhas; local de sua moradia — atualmente, a região do
Afeganistão —. Assim, deixaram esse conhecimento como herança
aos Sufis. O sufismo é um ramo místico do islamismo, que assume
na Jihad; a guerra santa contra o ego, no transe dos dervixes e na
caligrafia simbólica e o Wajh Allah — o sinal da presença de Deus
— baseando-se no mesmo diagrama, mas abordando as paixões
de um ponto de vista manifestamente diferente daquele. Sendo
assim, podemos dizer que o eneagrama foi preservado pelos Sufis,
que se tornaram os guardiões dessa antiga sabedoria.

Já no mundo moderno, a presença do eneagrama se deve


a Gurdjieff, filósofo Russo que ensinou filosofia do autoconhe-
cimento profundo, no começo do século passado. Gurdjieff de-
parou-se com o símbolo em uma de suas viagens e passou a
utilizá-lo como um modelo de processos naturais.
Alguns anos mais tarde, Oscar Ichazo, filósofo boliviano que,
assim como Gurdjieff, era fascinado pela ideia de recuperar conhe-
cimentos perdidos, pesquisou e sintetizou os vários elementos do

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eneagrama. No início da década de 60, Ichazo associou as nove pon-
tas do símbolo aos nove atributos divinos que refletem a natureza
humana, oriundos da tradição cristã. Foi assim que nasceu a relação
entre o eneagrama e os tipos de personalidade.
Ao longo dos anos seguintes, Ichazo estabeleceu a sequên-
cia adequada de emoções no símbolo, descrevendo processos e
criando o primeiro mapa da psique humana para elevação do
nível de consciência.
Apesar de serem muitas as teorias, o mais importante é
entender que os estudos contemporâneos que utilizamos são
oriundos especialmente do filósofo e professor boliviano Oscar
Ichazo, entre meados de 1950 e do psiquiatra e psicoterapeuta
chileno Claudio Naranjo por volta de 1970. Foram os estudos
de Naranjo que influenciaram as teorias finais de George Gurd-
jieff, filósofo e pensador russo. Aqui neste livro, seguiremos
sempre os estudos de Naranjo que, na minha opinião, foram
sempre os mais claros e eficientes. Como já afirmei, as teorias
e utilização para o Eneagrama têm algumas versões e escolas
diferentes. No entanto, com adaptações feitas por mim, basea-
das em estudos didatas, observação e experimentação in vivo
nos últimos quinze anos.
O fato é que o eneagrama defende existir apenas nove tipos
de personalidade, as quais são representadas pelos nove pontos
dessa figura geométrica. Porém, todos os pontos, apesar de inde-
pendentes, estão de algum modo relacionados e interconectados.
Sua teoria foi muito promovida e utilizada — e ainda é — no
meio corporativo, dentro de agências e departamentos de RH
de grandes empresas e também entre as principais agências de
inteligência de diversos países. Em escala bem menor, tem sido

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utilizada em treinamentos de desenvolvimento humano e espi-
ritual pelo mundo todo.
Contudo, dentro do mundo corporativo, o eneagrama conti-
nua a ser amplamente utilizado como ferramenta de “alocação de
pessoal”. Ou seja, ferramenta de recrutamento direcionado, advo-
gando para o fato de que “não existe funcionário ruim, mas mal
posicionado”. Particularmente, concordo com essa tese.
Apesar de serem muitos os possíveis modos de utilização do
eneagrama, prefiro entender e utilizá-lo como a melhor e mais
poderosa ferramenta de autoanálise e autorreconstrução hu-
mana. Isso porque, ao longo dos anos, compreendi que, mais que
analisar os outros, o eneagrama me dá a capacidade de entender
a mim e me ajuda a modificar quaisquer habilidades que eu ne-
cessite ou tenha vontade de incorporar.
Obviamente que o eneagrama e seus estudos ajudam ampla-
mente a melhorar a comunicação interpessoal, os relacionamen-
tos, a empatia, a simpatia, a interação com o próximo e muito
mais. Mas, descobri; e nunca vi ninguém tratar o eneagrama des-
sa forma; esse instrumento como uma ferramenta superpotente
de modelagem.
Para quem não sabe o que é modelagem, explico: esse é um
conceito muito desenvolvido na Psicologia, na Programação Neu-
rolinguística (PNL) e na Hipnose que nos ensina a buscar mo-
delos de ação, ou pessoas com características e resultados que
queremos ter. Depois, nos aconselha a observar e se esforçar para
agir da mesma forma que esses modelos.
Atualmente, esse conceito é muito difundido por coaches e pela
PNL; mas é entendido e tem sido utilizado de forma completamen-
te errada. O que traz um atraso e prejuízo incalculáveis. Inclusive,
do ponto de vista mental e emocional. Existe uma confusão muito

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grande sendo feita —e, pior, ensinada — quando se trata de mo-
delagem. Talvez, essa seja uma das coisas que as pessoas menos
entendam como fazer… Mas modelar é perceber e absorver carac-
terísticas que se quer ter, mas que ainda não as possui. No entanto,
a obtenção dessas qualidades ajudará a pessoa a realizar tarefas no
seu dia a dia.
Contudo, o que mais vejo sendo feito é pessoas imitando os mo-
delos de ação que escolheram. Tal comportamento foi intensificado
ainda mais com a internet e com as redes sociais. Assim, você en-
contra muitas pessoas que imitam o jeito de agir, falar, vestir, fazem
as mesmas escolhas e até cometem os mesmos erros de outras.
Se você busca modelar alguém, já se deu conta do que estou
dizendo? Que em vez de modelar você pode estar imitando?
O ponto é que da imitação surge um problema muito grave: a
perda de identidade.
O que acontece é que, quando modelamos, buscamos por
habilidades específicas que queremos e que outras pessoas têm,
mas não tentamos ser a outra pessoa. A imitação, por outro lado,
provoca um conflito interno devastador, justamente por causa da
perda da identidade. Exatamente por que buscamos ser como o
outro. E, quando isso acontece, perdemos o propósito e a direção.
Mas isso é assunto para outra hora.
Mas foi justamente tentando evitar que mais pessoas percam
suas identidades e, em consequência, seu propósito que percebi
que o eneagrama é a ferramenta perfeita para aperfeiçoar capa-
cidades. Porque em vez de admitir alguém como um modelo, é
possível usar as características do tipo para absorver apenas isso:
as características.
Deixe-me ser mais claro: sem uma pessoa no processo há
pouquíssima, ou nenhuma, chance de acontecer uma imitação.

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Quando compreendi isso, tive o meu momento “Eureca!”. As-
sim, usei o eneagrama para criar uma ferramenta de modelagem
que me daria acesso a qualquer tempo, a qualquer habilidade
que eu quisesse — ou precisasse — com os padrões que deveria
utilizar para desenvolvê-la — ou quantas quisesse — sem ne-
cessariamente ter que validá-la pelo exemplo de uma pessoa. E,
para qualquer situação que eu estivesse vivendo e me exigisse
uma habilidade que ainda não possuo, seria simplesmente ir até
o tipo que melhor desenvolveu essa característica e reproduzir o
mesmo padrão.
O que me proponho neste livro é ensinar este método que
desenvolvi, ao qual denomino Projeto R.A.C — Super-humano.
Minha proposta é ajudá-lo a alcançar suas metas, objetivos, me-
lhores relacionamentos e alta performance em suas atividades.
Para isso, dividi este livro em duas partes. Na primeira, conver-
sarei com você, leitor, de forma mais técnica. Falarei sobre as per-
sonalidades, o que envolve cada tipo do eneagrama. E também
sobre crenças, conceitos, instintos. Na segunda, serei mais prático,
teremos uma conversa mais leve. Mostrarei de forma objetiva e
com exemplos, como se tornar este ser humano super, fantástico,
que você foi criado para ser. Mas em todo o tempo meu propósito
é mostrar a você como usar o eneagrama como ferramenta de
modelagem e reconstrução humana.
E aí, você está pronto? Está disposto a abrir mão de quem você
é hoje para se tornar uma pessoa melhor ainda? Um super-hu-
mano? Então, venha comigo!

Boa leitura,
Felipe Amorim.

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PRIMEIRA PARTE
O ENEAGRAMA
E SEUS TIPOS
OS PRINCÍPIOS
N
aranjo, psiquiatra e filósofo chileno, conheceu o eneagrama
diretamente de Ichazo, mas evoluiu em seus estudos e teve
o real entendimento pelo método quando já estava nos Es-
tados Unidos, no Esalen Institute com seus estudantes, em Berkeley,
Califórnia. Entre esses estudantes, estavam alguns padres jesuítas
que adaptaram o eneagrama para um uso mais espiritual e com
relações diretas com o cristianismo.
Sendo assim, ao contrário do que a maioria imagina, o eneagra-
ma tem profundas raízes cristãs. E foi, desde o início, associado aos
nove tributos divinos que refletem a natureza humana, ou mais co-
nhecidos como os nove dons do espírito. A saber: sabedoria, ciência
(conhecimento), fé, cura, milagres (maravilhas), discernimento de
espíritos, profecia, falar em línguas, interpretar línguas.
Por isso, em meu entendimento, o eneagrama não foi adaptado
pelos padres jesuítas para servir a um objetivo espiritual. Ao contrário,
ele nasceu de uma visão espiritual cristã e foi servir a outras frentes
anos mais tarde. Mas sempre foi um instrumento de Deus para aju-
dar no entendimento do homem e sua evolução mental e espiritual.
Veja, em 1 Coríntios 11:28 lemos: “Examine-se, pois, o homem a si
mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice” (ACF). Esta é uma
dentre muitas passagens bíblicas que nos convida à introspecção e à

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reflexão sobre nós e nossa permanente melhoria como ser e criatura.
Mas também como criação divina e imagem semelhante a Deus. Afinal,
o termo cristãos significa pequenos cristos. E isso é verdade, porque nos
foi revelado que o Reino de Deus está dentro de nós (Lc 17:20-25).
Para aprofundarmos esse entendimento de que há um objetivo
espiritual no eneagrama, quero que pensemos um pouco na figura
única em sua construção e facilmente reconhecida do eneagrama.
Esse elemento geométrico é formado por um eneágono —
que é um polígono de nove lados — composto por três partes:
um círculo, um triângulo — conectando 3-6-9 — e um hexágono
irregular — formado pelos números 1-2-4-5-7-8 —.
De acordo com a tradição dos estudos geométricos, o círculo
representa a unidade. Ou seja, uma coisa só. Isso simboliza o
aspecto divino no qual todos estamos inseridos. Também, repre-
senta o infinito. E ainda, o começo e o fim; e os ciclos.
É como quando Jesus disse a Filipe que ele estava no Pai e o
Pai estava nele; e faziam até as mesmas obras (Jo 14:10). E mais
tarde, Jesus afirmou que o Reino de Deus está dentro de nós (Lc
17:20-25). Isso quer dizer que sendo à imagem e à semelhança
de Deus é possível também sermos um pouquinho criadores. E
Jesus ainda reafirma o que disse anteriormente, garantindo que
faríamos, inclusive, as mesmas obras e maiores até (Jo 14:12).
Sobre o triângulo podemos dizer que ele simboliza a Lei dos Três.
Esta é amplamente conhecida por nós, cristãos, como Santíssima
Trindade. Na verdade, o número três tem um significado e uma sim-
bologia muito importante em toda a doutrina cristã. Indo além, o
mesmo se dá em muitas tradições místicas e espirituais, em toda a
história. Mesmo na psicologia e nos estudos da mente a Lei dos Três
ficou muito conhecida e difundida com a concepção de mente – cor-
po – espírito; ou corpo – alma – espírito; ou águia – leão – boi, etc.
Por fim, o hexágono representa a Lei dos Sete. Conectando na
sequência 1-4-2-8-5-7-1, uma vez que o ciclo fechado cria uma

19
sétima posição implícita chamada de ponto potencial. Essa posição
implícita é muito difundida nas tradições orais espirituais de prati-
camente todos os povos. Sem mais profundidade, para não envere-
darmos por teorias quânticas ou similares, a ideia é que este seria o
potencial decimal criado pela divisão de todos esses números pelo 7.
Mas a ideia contida aqui é clara: são sete os dias da criação,
sete os pecados da carne, sete eras — ou períodos — até o fim
dos tempos, etc. Na Bíblia, o número 7 é o número máximo de
Deus, o número limite dele nos seus planos para o homem. Se
lermos as Escrituras com atenção veremos que são muitas as re-
ferências, desde as mais maravilhosas até as mais simples e sutis.
Veja: “Estas pois são as vestes que farão: um peitoral, e um
éfode, e um manto, e uma túnica bordada, uma mitra, e um cinto;
farão, pois, santas vestes para Arão, teu irmão, e para seus filhos,
para me administrarem o ofício sacerdotal. (…) Faze-lhes também
calções de linho, para cobrirem a carne nua; irão dos lombos até
as coxas” (Êxodo 28:4,42 – ACF).
Portanto, a união desses três princípios dá forma ao eneagra-
ma como conhecemos hoje e é o que será nossa ferramenta de
estudos nos próximos capítulos.

20
A PERSONALIDADE
21
E
xiste a crença de que o tempo muda as pessoas. Isso é,
talvez, uma das maiores mentiras que a humanidade já
acreditou. O tempo não muda absolutamente nada, nem
ninguém. Ao contrário, o tempo reforça padrões. Quem você era
na infância, é quem continua sendo, pois a sua personalidade
é formada na sua primeira infância. Assim, com o tempo, cada
pessoa se torna mais “ela mesma”. É por esse motivo que, quan-
do ficamos bem mais velhos, é comum termos muitas “manias”,
como diziam os mais antigos.
É provável que você tenha pego este livro, porque busca mu-
dar traços de sua personalidade, seus hábitos, aquelas coisinhas
que incomodam. Então, tenho algo a lhe falar: só há dois mo-
dos de se mudar um comportamento. Primeiro, em função de se
passar por um trauma muito grande a ponto de abalar as raízes
de sua crença pessoal. Ou, segundo, uma intervenção pontual e
técnica, como a que estamos propondo neste estudo.

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Portanto, somos noventa porcento do tempo a criança que
éramos vivendo no corpo do adulto. Mudam as recompensas,
mas quase nunca o comportamento em busca delas. Indepen-
dentemente de qualquer fator, a personalidade nunca muda. Esta
permanece para sempre, como uma digital do seu próprio ser.
E como identificamos as personalidades no eneagrama? São
nove tipos, dispostos e interconectados de maneira específica e
por uma razão própria. Eles englobam todos os seres humanos
e têm sua origem ainda na formação da personalidade. Após o
término da formação da personalidade, ou seja, ao final da pri-
meira infância — entre os sete e dez anos de idade —, a perso-
nalidade nunca mais será diferente, em nenhum aspecto. O que
pode acontecer, algumas vezes, é uma mudança de contexto de
vida que exige uma adaptação dinâmica de algumas habilidades
e padrões de crenças. Portanto, o comportamento pode ser alte-
rado, mas a personalidade não mais. Sendo assim, sempre haverá
um princípio original do comportamento que estará vinculado à
personalidade.
Compreendido isso é importante saber ainda que a perso-
nalidade é baseada na interpretação que a criança dá aos fatos
e ao contexto de vida dela durante o período da primeira in-
fância. Uma pergunta recorrente quando abordo esse aspecto
é a seguinte: “Podemos direcionar uma criança a ter um tipo
de personalidade, ou outro?”. Teoricamente, a resposta é sim.
Isso pode até ser possível. Mas isso nos leva a outras questões.
Vamos pensar juntos?

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Primeiro, por que você deseja que seu(sua) filho(a) seja de um
determinado tipo de personalidade? Será que isso não tem a ver
com o seu próprio tipo? Curioso, não?! Haja vista que qualquer
tipo tem grandes e visíveis qualidades, mas também tem defeitos
e problemas consideráveis. Será que a sua vontade de construir
uma personalidade específica para seu filho(a) não está mais li-
gada à sua percepção, ou vontade, daquilo que lhe faz falta, ou é
importante para você? Segundo, tão importante quanto uma ou
outra personalidade é a sua atuação como pai ou mãe. Lembre-
-se de que independentemente do que você faça, o que determi-
na a formação da personalidade, e do tipo dela, é a interpretação
individual da criança.
Isso quer dizer que, é mais comum do que se imagina que
dois filhos, dentro da mesma casa, recebam a mesma criação e
desenvolvam personalidades completamente diferentes. Às ve-
zes, essa diferença radical se deve a detalhes simples e quase im-
perceptíveis de mudança de contextos da vida familiar.
Dito tudo isso, melhor é aprender sobre os tipos de personali-
dade para direcionar você a exercer sua melhor função para o seu
melhor bem. Aprendendo assim, ao longo da vida, a controlar
seus maus impulsos e a valorizar e a potencializar os bons. Se
fazemos isso, damos expressão àquilo que há de melhor em cada
tipo. E, como consequência, conseguimos usar tudo isso para ser-
mos melhores para nós e para melhor convivermos e lidarmos
com os outros também.

24
O último ponto que quero abordar neste capítulo é que
existe um recurso escondido no eneagrama, do qual eu nunca
ouvi ninguém comentar ou ensinar. Por quinze anos eu o es-
tudei e experimentei em mim — e nas pessoas ao meu redor
— para descobrir que, na verdade, o eneagrama se tratava de
uma poderosa e eficiente Ferramenta de Autorreconstru-
ção Humana.
Isso quer dizer que é possível aprender a navegar entre os ti-
pos de personalidade para se utilizar daquilo que existe de me-
lhor em cada tipo. A prática, com o tempo, leva a pessoa, inclusive,
a se tornar uma espécie de camaleão entre os tipos a ponto de ser
impossível determinar o seu próprio tipo. Isso não significa que
a personalidade tenha se perdido, não. Ela continua no mesmo
lugar e comanda as principais determinantes do ser. Mas o fato
é que a pessoa pode se conduzir com as habilidades que precisa
para contextos e situações específicas de vida que exigem carac-
terísticas que, talvez, não sejam naturais a ela.
A verdade é que a grande maioria das pessoas passa uma
vida desejando ter recursos e habilidades que não têm, para
tornar a vida um pouco mais fácil, mas não sabe como de-
senvolve-las, levando-as a uma profunda frustração e a um
determinismo apático.
Fico feliz em afirmar novamente que descobri um modo
de usar o conceito de modelagem dentro do eneagrama, para
me abastecer de tudo aquilo que preciso. Isso em termos de
características e habilidades, no meu dia a dia, para enfrentar a
vida de maneira mais fácil, menos desgastante, mais eficiente,

25
motivante e sempre com os melhores resultados e em altíssi-
ma performance.
Sobre a modelagem e o processo que utilizarei aqui, ex-
plicarei o assunto com minúcias nos capítulos seguintes. Mas,
antes disso, quero apresentar o Eneagrama de Personalida-
des, em detalhes.
Portanto, se prepare! Você ficará assombrado, querido leitor,
querida leitora, como um simples texto de algumas páginas pode
contar tão claramente quem é você, porque faz o que faz e como
faz e o que aconteceu na sua vida que fez com que se construísse
dessa maneira. Venha comigo!

26
OS TIPOS
C
omo já vimos, o eneagrama é um antigo sistema de desen-
volvimento humano, que descreve nove tipos diferentes de
personalidade e suas inter-relações.
O eneagrama de tipos é parte de uma tradição de ensino oral,
e esse material ainda é mais bem transmitido ao se assistir e ouvir
grupos de pessoas do mesmo tipo — de personalidade — fala-
rem sobre suas vidas. A verdade é que assistir e ouvir um grupo
de pessoas articuladas e dispostas a expressar um ponto de vista
semelhante transmite muito mais a força do sistema do que, pos-
sivelmente, um mero registro escrito de suas palavras.
O que acontece, na prática, é que após cerca de uma hora, um
grupo de pessoas que, no início, parecia fisicamente muito dife-
rente, começa a se parecer igual. O espectador pode perceber as
semelhanças nos padrões de retenção física, do tom emocional,
nos pontos de tensão no rosto e nas características da emanação
pessoal, que correspondem aos sinais mais sutis do tipo.
A princípio, um grupo de pessoas do mesmo tipo pode parecer
não ter nada em comum, porque o espectador presta atenção às
diferenças de sexo, idade, raça, profissão e estilo pessoal. Contudo,

28
dentro de uma hora, as pessoas começam a parecer iguais: suas
histórias, escolhas, preferências, metas. As coisas que evitam e
com que sonham começam a parecer as mesmas.
Fato é que cada tipo tem características boas e não tão boas
e são todas profundamente relacionadas ao contexto de vida —
especialmente à infância —, de modo muito íntimo, para que se
desenvolvesse aquilo que reconhecemos por um tipo de perso-
nalidade, dentre os nove tipos. Logo, ninguém nasce com uma
personalidade definida, mas, repetindo, esta é construída ao longo
da primeira infância. Por isso, as histórias entre pessoas do mesmo
tipo são tão comuns e afins.
Temos todos, portanto, um tipo de personalidade definido e
indubitável, com características específicas que conduzem nosso
comportamento em todas as áreas da vida. Para determinar qual
o “tipo de personalidade”, haverá um teste de personalidade dire-
cionado mais à frente.
Cada tipo do eneagrama tem um medo e um desejo primor-
diais, uma mensagem do superego e uma virtude que deveriam
desenvolver. Esses aspectos também são entendidos por ponto
de fixação (atenção), motivador, vício, ideia sagrada e compul-
são neurótica, mas se tratam da mesma ideia. Abordarei isso, mi-
nuciosamente, na sequência.
As linhas de conexão também predizem os meios em que
cada ponto ou tipo provavelmente irá alterar seu comportamento
usual quando posto sob tensão ou em uma situação de vida se-
gura. De modo que, cada ponto é, na verdade, uma combinação
de três aspectos principais: um aspecto dominante, que identifica
a visão de mundo do tipo, e dois aspectos complementares, que
descrevem o comportamento em uma condição de segurança e
de tensão. Eles também são chamados de ponto de estresse/

29
ponto de desintegração ou ponto de segurança/ponto de inte-
gração. Eles podem nos confundir com os tipos em seus estados
mais evoluídos, ou mais destrutivos.
O que acontece é que, quando perdemos a capacidade de
observar nosso próprio comportamento de modo imparcial, fi-
camos então sob o controle de nossos próprios hábitos e perde-
mos a liberdade de escolha. E estamos em ascensão no espectro
evolucionário, quando somos capazes de nos libertar dos hábi-
tos que limitam nosso ponto de vista e de expandir nossa cons-
ciência para além das preocupações que definem nosso tipo.
Consegue compreender?
Por isso, o objetivo de conhecer o tipo de personalidade é
aprender a colocá-lo de lado, a fim de prosseguir o trabalho efe-
tivo de incorporar uma consciência superior. Há duas razões para
que você busque incorporar uma consciência superior. A primeira
para descobrir o seu próprio tipo é poder formar uma relação de
trabalho consigo. A segunda para estudar tipos é compreender as
outras pessoas como elas são para elas, e não como você as vê de
seu ponto de vista.
A tabela a seguir nos oferece uma visão básica e resumida de
cada um dos nove tipos. Mais à frente, cada um dos tipos será
tratado de maneira independente e detalhada.

30
TABELA DOS TIPOS

Preste atenção! Os pontos de estresse e de segurança — desin-


tegração e integração — são tipos em contraposição do tipo per-
sonalidade, conectados — em linha — na figura do eneagrama e
que podem refletir — e até confundir — e influenciar uma pes-
soa em fases diferentes, quando em circunstância extremamente
tranquilas ou gravemente adversas.
Dizemos que quando um tipo alcança o auge da sua evolução,
ou paz, este pode ser confundido com o tipo saudável referente
ao seu ponto de segurança (1-7-5-8-2-4-1 / 9-3-6-9). Já quando
alguém se encontra em seu momento mais surtado, pode então
ser confundido com o tipo neurótico referente ao seu ponto de
estresse (1-4-2-8-5-7-1 / 9-6-3-9). Os contrapontos de cada tipo
são como na imagem a seguir:

31
Os pontos que aparecem de cada lado dos pontos são varia-
ções das personalidades nucleares, chamadas de asas. A asa de
uma pessoa é o tipo; além do tipo de uma pessoa, o que mais
se assemelha com ela. Isso significa que os dois pontos das asas
de 3, que são 2 e 4, compartilham uma preocupação com a
imagem e vivem também variações da questão: “O que estou
sentindo?”.
As asas de 6; 5 e 7; compartilham uma paranoia subjacen-
te e também hábitos emocionais de medo. As asas de 9; 8 e 1;
compartilham uma pré-disposição básica para o sono do esque-
cimento de si mesmo. Que, na verdade, é o esquecimento das
prioridades pessoais, bem como uma predisposição para a raiva.
Não há duas pessoas pertencentes ao mesmo tipo que sejam
idênticas, embora compartilhem as mesmas preocupações.

32
Por fim, mas não menos importante, poucos são aqueles que
se atentam ao fato das tríades do eneagrama. Seguindo ainda o
modelo da Lei dos Três, o eneagrama é subdivido em 3 tríades
(8-9-1) (2-3-4) (5-6-7). A partir do entendimento das tríades é
possível identificar onde sua essência ficou mais presa à sua per-
sonalidade. Algo como se fosse a raiz de tudo: a origem.
Gosto de pensar também que isso tem íntima relação com
qual foi o meu canal de recepção; ou percepção; preferido e ado-
tado para interpretar o mundo quando na formação da minha
personalidade. Portanto, captar informações prioritariamente por
meio dos sistemas auditivo, visual, ou cinestésico me direcionaria
a uma dessas 3 tríades por tendência.
Se você é uma pessoa mais presa aos traços físicos, dá mais foco ao
agir, ir para cima, fazer acontecer, sempre voltada para o mundo físico,
para o corpo. Consequentemente, o maior desejo é possuir, conquistar,
adquirir, ou se esquivar e evitar perder coisas (ou alguma coisa).
Agora, para os mais emocionais, a atenção está voltada aos
vícios e compulsões, aos pecados e aos sentimentos. Estes agem
menos por impulso e vivem muito mais na base da intuição; do
feeling. O que importa é o que está sentindo… o agora!

33
Da mesma forma, quando dizemos que alguém vive na esfe-
ra mental, este está aprisionado no mundo da mente e cria um
afastamento proposital das pessoas. E, por vezes, do “mundo real”.
Esse é o tipo de pessoa que estuda muito e quer saber de tudo
nos mínimos detalhes; desde que não esteja em sua fase mais
obscura e fraca da expressão da sua personalidade; nesse caso,
rejeita completamente os estudo e o conhecimento.
Mas o arranjo das tríades que mais me parece lógico é quando
fragmentamos em Centro do Instinto — ou seja, físico: corpo;
entranhas, controle, raiva — , Centro do Pensamento —a saber,
mental: mente; alma, segurança, medo — e Centro do Sentimen-
to — isso é, emocional: espírito; coração, aprovação, vergonha —.
Respectivamente, como na próxima imagem.

Assim, os tipos dentro do centro mental são mais desenvolvidos.


Naturalmente, as pessoas gostam de tratar com o “dom”: ao cons-
ciente, ao pensamento, ao raciocínio. Aqueles do centro emocional
estão voltadas ao subconsciente. E aos do centro do instinto são mais
ligadas ao corpo, à ação, prontas para entrar em movimento.
A primeira impressão, quando se compara os tipos dentro das
tríades em relação aos “dons” de cada tipo, soa não muito lógica,

34
pela aparente distante semelhança entre os tipos de uma tríade.
Por exemplo, como pode um tipo 7 — eufórico e entusiasmado
— ter algo a ver com um tipo 5 — ressabiado e reflexivo —?
O que passa muitas vezes despercebido é a motivação. Dize-
mos que motivação é aquilo que aciona o gatilho para iniciar a
ação, ou dar intencionalidade à ação.
Na sequência, farei uma breve descrição da motivação de cada
tipo em suas respectivas tríades.
Um tipo 8 atua expondo e exacerbando sua raiva, instinto e ener-
gia. Quando um 8 percebe a ira nascer, imediatamente responde de
modo físico, intenso, aumentando a voz e usando da força como
principal ferramenta (a expressão da força física é clara em um tipo 8).
Já tipos 9 têm a tendência a negar a raiva e os instintos di-
zendo: “Mas que raiva? Eu não sou uma pessoa que tenho raiva
muito fácil. Raramente sinto isso… não há motivos para a ira…”.
Os tipos 9 se colocam, na maioria das vezes, fora do alcance da
raiva e do instinto animalesco; não por que os tenham, mas por
que se sentem ameaçados e amedrontados por eles. Mas é óbvio
que eles ficam com raiva, assim como todo mundo. A diferença
é que tentam ficar distantes desses sentimentos “obscuros e tão
maléficos, que destroem a paz e a calma”. Fazem isso focando na
manutenção de relacionamentos ideais; isso, do ponto de vista
deles.
Pessoas tipo 1 estão sempre tentando controlar, coordenar e
frear seus impulsos, instintos e raiva. Elas acreditam que têm a
obrigação de ter autocontrole. Especialmente diante dos impul-
sos instintivos e do sentimento de ira. Elas preferem direcionar e
gastar energia em concordância com seu superego, para que tudo
saia o mais perfeito possível e dentro do mais absoluto controle.

35
Pessoas tipo 2, dentro do centro do sentimento, se esforçam para
controlar a vergonha por meio da tentativa incansável, e esgotan-
te, de fazer os outros gostarem delas e perceberam o quanto elas
são boas. Boas no sentido de ser bom aos outros; ou seja, altruístas,
caridosas, benfeitoras. Aliás, pessoas tipo 2 tentam, o tempo todo,
convencerem a si disso, focando em fazer os outros se sentirem bem.
Mesmo que isso custe a elas se sentirem mal; ou terem de abrir mão
das próprias vontades — e até da própria vida —, uma vez que acre-
ditam que os outros os apreciarão se não expressarem sentimentos
de raiva e ressentimento. A verdade é que, desde que consiga res-
postas positivas das pessoas — a respeito dela mesmo, é claro— , ela
se sente benquisto e controla sua vergonha.
Pessoas tipo 3 negam veementemente a vergonha e se man-
têm distante, propositalmente, de sentimentos de inadequação.
Elas tentam superar a vergonha, sem demonstrar isso a ninguém,
se esforçando para tornarem-se valiosas e bem-sucedidas aos
olhos de todos, pela sua eficiência e performance. O fato é que
pessoas tipo 3 são supereficientes de verdade e fazem isso para
serem aceitas, se destacando sobremaneira, a qualquer custo, pa-
recendo que nunca se cansam, ou que nada as pode deter na
busca pelo sucesso e pela performance. Mas, na verdade, isso é a
rota de fuga que encontraram para se verem livres — e distantes
— do medo da vergonha e do sentimento de serem falíveis.
Pessoas tipo 4 controlam sua vergonha, algumas vezes, ten-
tando dar foco em quão especial são seus sentimentos, talentos,
originalidade e características pessoais. Elas enfatizam sua indi-
vidualidade e criatividade, para conseguirem conviver com seus
sentimentos e pensamentos vergonhosos, mesmo que adorem
sucumbir aos seus surtos de sentimentalismo de inadequação.
Também lidam com tudo isso cultivando um romantismo dramá-

36
tico, para não terem que lidar com o fato de suas vidas parecerem
sem sentido, sem energia e desinteressantes.
Dentro do centro da mente, pessoas tipo 5 temem enormemen-
te o mundo “aí fora” e sua habilidade para lidar com esse “mundo
real”. Ao contrário, eles lidam com esse pavor se internalizando e se
acolhendo em introspecção dentro de si e em seus “mundos ideais”
criados por eles, dentro de suas mentes, fantasias e sonhos. São re-
servados, isolados e solitários e gastam a vida inteira vivendo dentro
de suas mentes e seus mundos idealizados. Mas, na verdade, temem
serem feridos e ameaçados, se demonstrarem suas fraquezas e in-
capacidades. Na iminência da dor preferem o afastamento, a solidão
e se vestem com uma armadura de conhecimento, com o objetivo
proposital de afastar as pessoas; especialmente, aquelas mais próxi-
mas, que mais amam e que, em teoria, precisariam desenvolver al-
guma intimidade. Só saem para a vida real quando estão totalmente
preparados (dentro dos seus próprios termos) para entender todas as
realidades que irão enfrentar. O problema é que, na imensa maioria
das vezes, eles nunca se sentem totalmente preparados e prontos. E,
por isso, sempre se envolvem em mais complexidades, para procras-
tinar terem que se arriscar. Por nunca se sentirem prontos, por vezes
sobem demais o nível de complexidade para justificar suas recorren-
tes desistências a tudo, ou até mesmo ao fato de nem começarem.
Uma pessoa tipo 6 é o que exibe o maior medo de todos,
muitas vezes seguida por uma ansiedade geral, o que causa uma
profunda ausência de autoestima e confiança em si. Ao oposto
de um tipo 5, os tipos 6 têm sérios problemas em confiarem em
suas mentes e em seus julgamentos. E, por isso, passam a vida
buscando a afirmação e o auxílio dos outros para validarem suas
questões. Têm a tendência em acreditar e se apegarem em tudo,
desde filósofos, crendices e muita fé, a relacionamentos, autori-

37
dades etc. Ou até a combinação disso tudo, em busca de uma se-
gurança extrema. O problema é que não interessa o quão segura
seja a estrutura que criaram ao seu redor — isso engloba a parte
física e emocional —, eles ainda duvidarão e caso se sintam inse-
guros, haja vista que se trata de um comportamento compulsivo,
agirão da mesma maneira novamente, como em um looping.
Agora, atenção! O tipo 6 é o único tipo que pode se apresen-
tar como o que caracterizamos como um tipo inverso. Ou seja,
algumas pessoas tipo 6 podem responder ao medo e à ansieda-
de enfrentando-as de maneira radicalmente inconsequente. Elas
desafiam e negam o medo com o intuito de se livrarem dele a
qualquer custo. Um bom exemplo é aquela pessoa que tem fobia
à altura, mas que quando colocada sozinha no alto de um prédio,
pula; tamanho é o desespero gerado pelo medo e pela insegu-
rança. Ou seja, a morte parece ser a solução mais rápida e mais
fácil, em vez de enfrentar o medo de altura.
As pessoas tipo 7 vivem a experiência de ter o medo dentro de
suas próprias mentes e dentro de si. Sentimentos como dor, perda,
privações e ansiedade são pontos que os fazem questão de dei-
xar claros que são possibilidades reais. Para confrontar tudo isso,
mantêm sua mente ocupada com as possibilidades e as opções
mais excitantes possíveis. Desde que tenham algo alimentando e
estimulando suas necessidades por experimentação a novidades
excitantes, sabem que podem desviar a atenção daqueles sen-
timentos que lhes causam tanta dor e pavor. O problema, por
vezes, é que para elas não basta provar; precisam viver no limite
o tempo todo; fazendo tudo ao mesmo tempo, com o máximo
de intensidade. São intensas e impulsivas em começar projetos,
buscando o máximo de experiências possíveis ao mesmo tempo,
para mantê-las entretidas o máximo de tempo possível.

38
OS INSTINTOS
S
eguindo a mesma ideia ancorada na Lei dos Três, nos de-
paramos com o que alguns estudos tratam por Subtipos —
de maneira errônea —. Melhor é defini-los como Instintos.
Sendo assim, depois de averiguada a definição de um tipo de
personalidade, a distinção do instinto primordial de cada indi-
víduo é também importante para o autoconhecimento. É ainda
indispensável saber que o cérebro humano tem três áreas impor-
tantes; dentre outras, claro; para o entendimento do nosso estudo.
A saber: o cérebro reptiliano, o cérebro límbico e o neocórtex.
O neurocientista Dr. Paul MacLean associou essa divisão aos
conceitos mental – emocional – físico. Logo, o cérebro reptiliano é
o responsável pela manutenção da nossa sobrevivência. É ele que
controla os nossos instintos. Quero, de agora em diante, subdividi-lo
em três instintos: autopreservação — ou seja, que preserva nosso
corpo físico e funções vitais —, social — isso quer dizer, aquele que
nos agrega e preserva o nosso patrimônio emocional —, e o sexual
— o que promove, prospera e evolui a espécie —.
Portanto, os instintos são comuns a todos os indivíduos da
espécie, independentemente do seu tipo de personalidade. Os
instintos, por sua vez, respondem antes mesmo da ação provo-

40
cada pela resposta à personalidade. Ou seja, diferentemente do
que a maioria de nós tende a crer, pensamos primeiro como gru-
po, como espécie, na sobrevivência e prosperidade da espécie e
somente depois pensamos como indivíduos. O mesmo acontece
com todas as nossas ações e reações resultadas de nossas deci-
sões. Como já vimos, todos temos os três instintos. No entanto,
existe um instinto dominante em caráter individual.
O fato é que os instintos direcionam profundamente a persona-
lidade. Do mesmo modo que a personalidade determina qual o ins-
tinto primordial de cada indivíduo. Ou seja, a personalidade faz com
que, individualmente, se enfatize um instinto mais que outros. A este
damos o nome de instinto dominante. E este tende a ser uma prio-
ridade; em outras palavras, a área da vida onde damos mais atenção.
Por influência do instinto dominante é que podem haver pequenas
variações de atuação entre pessoas do mesmo tipo.
Na sequência, explicarei os tipos em que cada instinto é dominante:

 Autopreservação — estão focados mais em si mesmos e


em sua sobrevivência no meio ambiente que habitam.
São ligados a bens, posses, conforto material. Podem desejar
acumular dinheiro e posses; mas não para mostrarem aos demais,
mas como uma segurança de sua preservação como seres vivos. As
pessoas que têm esse como seu instinto dominante estão preocu-
padas com a segurança, o conforto, a saúde, a energia e o bem-estar
do corpo físico. Em uma palavra, eles estão preocupados em ter re-
cursos suficientes para atender às demandas da vida.
A identificação com o corpo é um foco fundamental para to-
dos os seres humanos, e precisamos que nosso corpo funcione
bem para estarmos vivos e ativos no mundo. A maioria das pes-
soas nas culturas contemporâneas não enfrentou a “sobrevivên-
cia” da vida ou da morte no sentido mais estrito. Assim, os tipos

41
de autopreservação tendem a se preocupar com comida, dinheiro,
moradia, questões médicas e conforto físico.
Além disso, aqueles voltados principalmente para a autopre-
servação, por extensão, geralmente estão interessados ​​em man-
ter esses recursos também para outros. Seu foco de atenção natu-
ralmente vai para coisas relacionadas a essas áreas, como roupas,
temperatura, compras, decoração e afins, principalmente se eles
não estiverem satisfeitos nessas áreas ou tiverem um sentimento
de deficiência devido à infância.
Os tipos de autopreservação tendem a ser mais fundamentados,
práticos, sérios e introvertidos do que os outros dois tipos instintivos.
Eles podem ter uma vida social ativa e um relacionamento íntimo
satisfatório, mas se sentem que suas necessidades de autopreser-
vação não estão sendo atendidas, ainda tendem a não ser felizes ou
ficarem à vontade. Em seus relacionamentos primários, essas pessoas
são “aninhadas”; isso quer dizer que elas buscam tranquilidade e segu-
rança doméstica com um parceiro estável e confiável.

 Sexual — preferem relações um a um.


Em geral, são pessoas que estão sempre em busca de um
grande amor, uma grande paixão, focalizam sua vida na relação
sexoafetiva; mas nem sempre é sexo por si só. Normalmente,
gostam de intensidade na vida e buscam intimidade nas relações
com os outros mais do que os outros dois subtipos. Podem ser
propensos a grande carência afetiva quando estão sem uma rela-
ção sexoafetiva. Via de regra, são mais diretos e intensos em sua
expressão do que os outros subtipos. Com muita frequência são
indivíduos sinceros e francos; às vezes, faltando um pouco de tato,
especialmente se o subtipo social for o reprimido.
Muitas pessoas originalmente se identificam com esse tipo
porque aprenderam que os tipos sexuais estão interessados ​​em

42
“relacionamentos um a um”. Mas todos os três tipos instintivos
estão interessados ​​em relacionamentos individuais por diferentes
razões; então, isso não os distingue. O elemento-chave nos tipos
sexuais é um intenso impulso para estimulação e uma constante
consciência da “química” entre eles e os outros. Os tipos sexuais
estão imediatamente cientes da atração, ou da falta dela, entre
eles e outras pessoas. Além disso, embora a base desse instinto
esteja relacionada à sexualidade, não se trata necessariamente
de pessoas envolvidas no ato sexual. Há muitas pessoas com as
quais estamos empolgados por termos química com as quais não
temos intenção de “nos envolver”. Não obstante, podemos estar
cientes de que nos sentimos estimulados na companhia de certas
pessoas e menos na companhia de outras.
O tipo sexual está constantemente se movendo em direção a
essa sensação de estimulação intensa e a ter essa energia sucu-
lenta em seus relacionamentos e em suas atividades. Eles são os
mais “energizados” dos três tipos instintivos e tendem a ser mais
agressivos, competitivos, carregados e emocionalmente intensos
do que os tipos autopreservação ou social. Os tipos sexuais pre-
cisam ter uma intensa carga energética em seus relacionamen-
tos primários ou ficam insatisfeitos. Eles gostam de estar inten-
samente envolvidos; até mesmo fundidos; com outros, e podem
desencantar-se com parceiros que são incapazes de satisfazer sua
necessidade de intensa união energética. Perder-se em uma “fu-
são” de ser é o ideal para os tipos sexuais; e eles estão sempre
procurando esse estado com os outros e com objetos estimulan-
tes em seu mundo.

 Social — preferem relações em grupo.


Em geral, são preocupados com a opinião alheia e podem se
guiar demais pelas opiniões dos demais ou em padrões sociais.

43
Podem gostar de fofocas e tudo que envolva o instinto social do
ser humano, como encontros sociais e festas.
Na maioria das vezes, são pessoas que têm facilidade de fazer
amizades. Assim como muitas pessoas tendem a se identificar
erroneamente como tipos sexuais porque querem relacionamen-
tos individuais, muitas pessoas não se reconhecem como tipos
sociais porque têm a falsa ideia de que isso significa estar sempre
envolvido em grupos, reuniões e festas. Se os tipos de autopre-
servação estão interessados ​​em ajustar o ambiente para se torna-
rem mais seguros e confortáveis, os tipos sociais se adaptam para
atender às necessidades da situação social em que se encontram.
Quer seja em situações íntimas ou em grupos. Eles também estão
cientes de como suas ações e atitudes estão afetando aqueles ao
seu redor. Além disso, se os tipos sexuais buscam intimidade, os
tipos sociais buscam conexão pessoal, pois querem ficar em con-
tato de longo prazo com as pessoas e se envolver em seu mundo.
Os tipos sociais são os mais preocupados em fazer coisas que
terão algum impacto em sua comunidade, ou mesmo em domí-
nios mais amplos. Eles tendem a ser mais calorosos, mais abertos,
envolventes e socialmente responsáveis do​​ que os outros dois ti-
pos. Em seus relacionamentos primários, eles procuram parcei-
ros com quem possam compartilhar atividades sociais, querendo
que seus íntimos se envolvam em projetos e eventos com eles.
Paradoxalmente, tendem a evitar longos períodos de intimidade
exclusiva e solidão silenciosa, vendo ambos como potencialmen-
te limitantes. Os tipos sociais perdem seu senso de identidade e
significado quando não estão envolvidos com outros em ativida-
des que transcendem seus interesses individuais.

44
DESTRUIR
PARA
RECONSTRUIR
C
omo já vimos, a personalidade foi formada durante a pri-
meira infância; ou seja, até os dez anos de idade. E construí-
da a partir da interpretação individual dos fatos e contextos
da vida, percebidos pela criança por meio dos seus cinco sentidos.
Com prioridade, claro, por um canal de percepção priorizado e
selecionado “aleatoriamente”; saber, visual, auditivo ou cinestési-
co. Com tudo isso crenças foram estabelecidas na mente de cada
pessoa e se tornaram assim seus paradigmas de vida e suas “ver-
dades absolutas”.
Essas crenças e paradigmas são o que determinam a forma
como as pessoas se relacionam e entendem o mundo. Mais que
isso, elas são os recursos — podemos chamá-las de memórias e
habilidades — usadas pela mente para fazer com que cada um
de nós viva e projete o seu futuro diante daquelas situações que
surgirão e precisarão ser enfrentadas, ou tomada uma reação.
Dito isso, podemos ver que as crenças foram construídas a par-
tir das nossas personalidades, e não o contrário. Isso será impor-
tante compreender porque aqui há um aspecto bem significativo:
é possível mudar qualquer que seja a crença; ou paradigma;

46
por qualquer motivo. Isso será feito conforme escolha e decisão
de cada um. Mas é impossível mudar a personalidade depois da
sua formação. Sei que já afirmei isso anteriormente, mas sempre
é bom relembrar.
Talvez, pensar nisso gere certo desconforto, pois, aparente-
mente, há aqui um determinismo irreversível. Mas essa também
não é a verdade. Entenda algo muito importante; e que é o obje-
tivo final deste livro: você tem uma personalidade; mas não é
prisioneiro dela. E, mais que isso, pode ajustar e apurar essa
personalidade, absorvendo as mais diversas habilidades. Mes-
mo as que não sejam naturais ao seu tipo. Isso a ponto de um
dia não ser possível distinguir a sua real personalidade.
Para que você entenda isso melhor, quero explicar o que sig-
nifica a palavra personalidade. Personalidade vem da palavra de
origem grega persona, que quer dizer máscara. Acredita-se que
esse termo é oriundo das máscaras utilizadas pelos atores dos an-
tigos teatros gregos realizados ao ar livre, na beira de encostas al-
tas e ovaladas; pois assim o povo podia ter melhor visão e acústi-
ca; chamadas de plateia. O uso da persona — ou máscara — era o
único momento no qual os líderes e governantes gregos podiam
ser afrontados e criticados. Ou seja, quando dizemos que temos
uma personalidade, na verdade estamos dizendo que temos uma
máscara que nos dá condições, as mais diversas, e habilidades
de atuar nas situações do nosso dia a dia. Essa perspectiva torna
tudo ainda mais interessante se eu entender que, posso maquiar
a minha máscara de acordo com a situação que preciso enfrentar,
ou até mesmo ter várias máscaras para as mais diversas situações.
E é exatamente este o meu objetivo: ensinar você a absorver e
a desenvolver recursos dos mais variados tipos, para as mais di-
versas situações da vida. Mesmo que essas habilidades não sejam

47
inerentes ao seu ser. Para tal, ensinarei você a utilizar o eneagra-
ma como ferramenta de transformação. Assim, você aprenderá a
navegar entre os tipos e suas características — um pouco do que
já mostrei até aqui.
Nas próximas páginas será possível conhecer o seu tipo de
personalidade em detalhes e em profundidade também; para de-
pois iniciarmos o trabalho de transformação, desenvolvimento e
aprimoramento.
No entanto, antes de avançarmos, algumas considerações fi-
nais são importantes. Veja, a descoberta de nosso tipo pode ser
um grande choque, porque, simultaneamente com essa desco-
berta, vem a consciência do quanto o tipo reduz nossas opções e
nos restringe a um ponto de vista limitado. Ainda de que a maior
parte de nossas decisões e interesses se baseie mais em hábitos
altamente sofisticados do que em um verdadeiro livre-arbítrio.
Por isso, é muito importante, a certa altura do estudo de si mes-
mo, encontrar seu traço principal, o que significa sua fraqueza
principal, como o eixo em torno do qual tudo gira.
O traço principal é um hábito neurótico que se desenvolveu
durante a infância. É também um mestre pessoal, um fator de
lembrança, que tem uma presença constante na privacidade in-
terior. Por intermédio dele, enxergamos o que precisamos ver a
fim de sobreviver e nos esquecemos do resto. Não vemos a mes-
ma realidade, porque estamos cegos para aquilo que não atrai
nossa atenção. E também, porque tendemos a focalizar a infor-
mação importante para nosso tipo.
Sendo assim, eu pergunto: “Você está consciente de quê? Você
está presente ou disperso?”. Observe o objeto ao qual está pres-
tando atenção. Note para onde vai a sua atenção. É comum es-
tarmos alertas para as nossas questões, mas não para as formas

48
como colhemos as informações que alimentam essas preocupa-
ções psicológicas. O fardo é que nosso hábito de atenção serve
para nos manter inconscientemente em contato com a própria
informação que alimenta nossas preocupações neuróticas.
É impressionante a possibilidade de preocupações de um tipo
o tornarem predisposto a desenvolver formas intuitivas de per-
ceber a própria informação que perpetuaria preocupações neu-
róticas. Isso quer dizer que, a forma de você prestar atenção às
questões-chaves de sua vida pode estar bem além do limite da
percepção ordinária, já dentro de uma zona intuitiva, sem que
tome consciência de que algo incomum esteja ocorrendo.
O principal obstáculo na identificação do próprio tipo é a pre-
sença daquilo que Gurdjieff chamava de amortecedores. Ocul-
tamos de nós mesmos os traços negativos de nosso caráter, por
meio de um elaborado sistema de amortecedores internos ou de
mecanismos psicológicos de defesa, que nos cegam para as forças
que agem dentro de nossa própria personalidade.
Atualmente, temos uma consciência maior do fato de que de-
pendemos de defesas psicológicas para manter nosso senso do
eu. Os principais mecanismos de defesas psicológicas para man-
ter nosso senso do eu relacionados aos tipos de eneagrama, do
tipo 1 ao 9, são respectivamente: formação reacional, repressão,
identificação, introjeção, isolamento, projeção, racionalização, ne-
gação e narcotização.
A causa do aparecimento desses amortecedores é a existên-
cia de muitas contradições do homem: contradições de opiniões,
de sentimentos, de simpatias, de palavras e ações — até porque,
o ser humano é um constante paradoxo —. Gurdjieff afirmava
que, embora os amortecedores facilitem a vida, também reduzem
o atrito dentro do sistema, atrito esse capaz de fazer as pessoas

49
crescerem. Por isso, esteja alerta às contradições internas, pois são
elas que o levarão à descoberta dos amortecedores.
Preste atenção especial a qualquer matéria à qual você seja
sensível. Os mecanismos inconscientes de defesa são desvios
muito específicos da atenção que nos fazem ver a realidade de
maneira distorcida. A mobilidade de nossa atenção se restringe às
preocupações que adquirimos; um conjunto de ideias e de cren-
ças que obtivemos imitando nossos pais, aceitando nossas perdas
e aprendendo a fingir. A percepção de que estamos agindo por for-
ça do hábito indica também a presença de um observador interno.
Pense um pouco comigo e considere a diferença entre as
afirmações: “A vida é chata” e “Estou chateado comigo mesmo”.
A mesma diferença no posicionamento da atenção é indicada
em declarações tais como “estava com tanta raiva, que me es-
queci do que estava fazendo” e “eu me vi ficando furioso com
ela”. A primeira, indica que os sentimentos de raiva substituíram
a capacidade de se observar, ao passo que, a segunda, indica a
existência de uma consciência que permanece destacada. Con-
segue perceber?
Por fim, um conselho: Não se apaixone pelo seu tipo! Não se
orgulhe dele! Apenas o acolha com carinho e gratidão, mas com a
certeza de que, a partir de agora, você será quem quiser ser e usa-
rá máscara que quiser usar na busca por se tornar a sua melhor
versão. Como costumo dizer: “É possível nos tornamos indestru-
tíveis, desde que eu aceite me destruir primeiro”. Fazendo coro a
isso, a Bíblia afirma, em João 3:3, que: “Ninguém pode ver o reino
de Deus se não nascer de novo” (NVI). Portanto, esteja disposto a
se “destruir”, a “nascer de novo” e aproveite a viagem. Ah, e antes
que eu me esqueça: Seja bem-vindo — ou bem-vinda — à sua
nova vida.

50
UMA VISÃO
AMPLA
A
gora, vamos entrar no eneagrama. Quero mostrar a você,
primeiro com uma estrutura básica, oferecendo uma vi-
são ampla e geral de cada tipo. E, adiante, o detalha-
mento em profundidade de cada tipo e tudo que lhes concerne,
minuciosamente.

1. O Perfeccionista
Críticos de si mesmos e dos outros. Convencidos de que existe
apenas um caminho correto. Sentem-se eticamente superiores.
Protelam por medo de cometer um erro. Usam muito os verbos
dever e precisar.
Pessoas tipo 1 evoluídas podem ser criticamente profundas,
“heróis da moral”.

2. O Auxiliador
Exigem afeição e aprovação. Buscam ser amados e aprecia-
dos, tornam-se indispensáveis a outra pessoa. Empenhados
em satisfazer necessidades alheias. Manipuladores. Têm muitos
“eus”; mostram um eu diferente a cada bom amigo. Agressiva-
mente sedutores.

52
Pessoas tipo 2 evoluídas sabem dar apoio e carinho genuínos.
3. O Empreendedor
Buscam ser amados pelo desempenho e pelas conquistas.
Competitivos. Obcecados pela imagem de vencedor e pelo status
comparativo. Mestres em aparência. Confundem o eu real com a
identidade profissional. Podem parecer mais produtivos do que
realmente são. Pessoas viciadas em trabalho — workaholics —, su-
jeitas a ataques cardíacos por trabalharem em excesso, sujeitas à
pressão alta, impacientes com aqueles que querem trabalhar em
um ritmo mais lento.
Pessoas tipo 3 evoluídas podem ser líderes eficientes, promo-
tores competentes, capitães de times vencedores.

4. O Romântico Trágico
Atraídos pelo inacessível; o ideal nunca é o aqui e o agora. Trá-
gicos, tristes, artísticos, sensitivos; concentrados no amor ausente,
na perda de um amigo.
Pessoas tipo 4 evoluídas são criativas em seu estilo de vida
e capazes de ajudar os outros a atravessar o sofrimento. Estão
comprometidas com a beleza e com a vida passional: nascimento,
sexo, emotividade e morte.

5. O Observador
Mantêm distância emocional dos outros. Protegem a priva-
cidade, não ficam envolvidos. Prescindir é uma defesa contra o
envolvimento. Sentem-se esgotados por compromissos e pelas
necessidades alheias. Compartimentalizam obrigações; desliga-
dos de pessoas, sentimentos e coisas.

53
Pessoas tipo 5 evoluídas podem ser excelentes árbitros e de-
liberadoras, intelectuais da torre de marfim e monges abstêmios.
6. O Patrulheiro/Questionador
Medrosos, cumpridores do dever, atormentados pela dú-
vida. Protelação; pois o pensamento substitui a ação; receo-
sos de tomar a iniciativa, porque a exposição leva ao ataque.
Identificam-se com causas de injustiça social, antiautoritários,
abnegados, leais à causa. Os seis fóbicos vacilam, se sentem
perseguidos e sucumbem quando encurralados. Os seis con-
trafóbicos se sentem continuamente encurralados e saem,
portanto, para enfrentar o terror de uma maneira agressiva.
Pessoas tipo 6 evoluídas podem ser excelentes jogadores de
equipe, soldados leais e bons amigos. Dispostas a trabalhar por uma
causa do mesmo modo que outros trabalham por lucro pessoal.

7. O Aventureiro
Peter Pan — o puer aeternus — o eterno jovem. Diletantes,
amantes volúveis e descartáveis, superficiais, aventureiros, inter-
pretação gourmet da vida. Problemas com compromissos, que-
rem manter as opções em aberto, querem ficar emocionalmente
por cima. Geralmente alegres, estimulam o ambiente, têm hábito
de iniciar as coisas, mas de não as acompanhar até o fim.
Pessoas tipo 7 evoluídas são bons sintetizadores, bons teóri-
cos, tipos renascentistas.

8. O Patrão
Extremamente protetores. Tomam a defesa de si mesmos e
dos amigos; combativos, assumem o controle, adoram uma briga.
Precisam estar no controle. Manifestações ostensivas de raiva e de

54
força; grande respeito por oponentes que resistem e lutem. Fazem
contato por meio do sexo e de confrontações face a face. Estilo
de vida excessivo: quantidades excessivas, altas horas da noite, o
volume máximo.
Pessoas tipo 8 evoluídas são excelentes líderes, especialmen-
te no papel de antagonistas. Capazes de dar um apoio poderoso a
outros; querem deixar o caminho seguro para os amigos.

9. O Mediador/Pacificador
Obsessivamente ambivalentes; veem todos os pontos de vis-
ta; substituem prontamente os próprios desejos pelos desejos
alheios e objetivos concretos por atividades não essenciais. Ten-
dência à narcotização pela comida, pela TV e pela bebida. Conhe-
cem as necessidades alheias melhor do que as próprias; tendên-
cia ao devaneio, sem certeza de que querem estar aqui ou não,
de que querem pertencer ao time ou não. Agradáveis, a raiva sai
por caminhos indiretos.
Pessoas tipo 9 evoluídas tornam-se excelentes mediadoras, con-
selheiras, negociadoras, conseguem muito quando concentradas e
atentas à tarefa em curso.

55
TIPO 1: O perfeccionista

O dilema
Pessoas tipo 1 foram meninos e meninas bonzinhos. Apren-
deram a se comportar de maneira adequada, a assumir respon-
sabilidades e, acima de tudo, a ser corretos aos olhos dos outros.
Eles se lembram de ter sido dolorosamente criticados e, como
consequência, aprenderam a se monitorar com severidade, a fim
de evitar erros que chamassem a atenção alheia.
Sendo assim, supõem com grande naturalidade que todo o
mundo compartilhe seu desejo de autoaperfeiçoamento. Por isso,
muitas vezes, ficam desapontados com aquilo que veem como
falha de caráter nos outros.
Pessoas tipo 1 estão convictas de que a vida é dura e de
que o bem-estar deve ser conquistado, de que a virtude é a sua
própria recompensa e de que o prazer deve ser adiado, até que
tudo o mais tenha sido feito. Em geral, perfeccionistas não per-
cebem que negam prazer a si mesmos. Estão preocupados com
o que “deveriam” fazer e com “o que deve ser feito”; tanto que,
raramente, se perguntam o que querem da vida.
Agora, sempre há espaço para o aperfeiçoamento; e pessoas tipo
1 extremamente compulsivas podem usar grande parte de suas ho-
ras de lazer trabalhando para se tornarem melhores. Sentar no ôni-
bus que os leva ao trabalho significa praticar uma série de exercícios
posturais, almoçar é sinônimo de dez mastigações por bocado e hora
de folga significa fazer algo construtivo e educativo.
Pessoas tipo 1 dizem viver com aquela espécie de crítico interno
severo que a maioria de nós só conheceria se tivesse cometido um

56
grave crime. Normalmente, ouvem uma voz julgadora como parte
de seu próprio pensamento, e, embora saibam que essa voz tem ori-
gem dentro deles, ela pode parecer tão invasora, como se viesse de
uma fonte externa. Sua voz interior se torna excessivamente crítica,
manifestam profundo ressentimento contra os que parecem estar
violando as regras, sem nenhum indício de remorso.
Em via de regra, se sentirão impelidas a serem boas, ao mes-
mo tempo em que estarão julgando intimamente aqueles que
desobedecem às normas. O crítico interno está tão integrado ao
modo de pensar dos perfeccionistas, que estes só podem supor
que todas os outros também vivem com uma torrente de pensa-
mentos julgadores.
A atenção de um perfeccionista está tão concentrada na
questão do que é conveniente fazer, ou do que deve ser feito, que
não sobra espaço mental para que brotem em sua consciência
seus próprios desejos. Portanto, são pessoas ressentidas; palavra
que descreve um sentimento crônico de irritação.
O ressentimento pode ser descrito como o grau de diferen-
ça entre desejos reais esquecidos ou preteridos e a compulsão
de trabalhar duro para satisfazer às demandas do crítico mental.
Adiar o prazer gera uma sensação de estar agindo corretamente.
A recreação e o divertimento serão considerados após se ter colo-
cado a vida no rumo certo e se ter cumprido plenamente às obri-
gações. Os horários são programados e fechados com todos os
ingredientes necessários a uma vida perfeitamente equilibrada: a
hora da música, o período de exercícios, a visita ao amigo doente,
o bloco de tempo para os estudos.
A visão de mundo do perfeccionista se origina de uma suposi-
ção de que, afinal de contas, existe apenas uma solução, uma saída
correta para cada circunstância. A noção de que pode haver múltiplos

57
caminhos corretos, ou de que o correto para uma pessoa pode ser
incorreto para outra, parece abrir as portas para o caos.
Os julgamentos se centram em geral na raiva e na sexualidade,
porque esses impulsos foram punidos na infância. Normalmente,
não sabem quando estão com raiva. Mesmo com um aperto visí-
vel da mandíbula e uma contração dos lábios, como se fosse para
manter sob controle palavras de críticas, elas não percebem que
estão irritadas, porque, inconscientemente, bloqueiam a percep-
ção de uma emoção “ruim”.
Vendo a raiva como um sentimento ruim, só conseguem admitir
seu próprio ressentimento depois de ter absoluta certeza de estar
com a razão. Contudo, quando estão seguros de um ponto de vista,
têm acesso a um enorme fluxo de energia física. O crítico mental
recua, quando têm a convicção de estar certo, e a ventilação da rai-
va contida parece deslanchar. Essa energia pode ser usada para fins
altamente construtivos. Muitas vezes, estão na vanguarda de causas
humanitárias, às quais servem de forma desinteressada. Quando são
imaturas, a mesma atração por uma causa justa serve ao propósito
de criar uma tribuna de virtudes, de onde denunciam os outros por
maus procedimentos.

A grande verdade é que pessoas tipo 1 vivem numa casa di-


vidida. No andar de cima, mora um crítico, e esse crítico, em geral,
não percebe as torrentes de sentimentos que, periodicamente,
inundam os porões da casa. Bebedeira, acessos de raiva ou pe-
ríodos de intensa atividade sexual são meios de liberar a pressão
que periodicamente se acumula, devido ao não reconhecimento
de suas próprias necessidades.
Pessoas tipo 1 com alçapão são aquelas que desenvolvem
uma solução de vida dupla para o problema de viver numa casa

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dividida. Desenvolvem dois temperamentos distintos: um para
“onde sou conhecido” e outro para o “longe daqui”. São responsá-
veis e respeitados no meio onde são conhecidos, mas se tornam
mais relaxados e sexualmente sedutores num ambiente longe da
família e dos amigos. A solução do alçapão pode ser encenada de
forma tão inofensiva como ir passar férias num lugar, onde não
sejam conhecidos nem tenham responsabilidades, ou pode ser
encenada em combinações bizarras, tais como bibliotecária/pros-
tituta, ou missionário/ladrão.
Outro meio de aliviar a tensão de viver numa casa dividida é per-
doar. Se o erro puder ser admitido, então o crítico interno desaparece.
No entanto, são as pessoas mais pacientes e construtivas do
eneagrama, quando se trata de reparar um erro, desde que pos-
sam admitir que o erro foi cometido. Também são capazes de
sentir o prazer de um trabalho bem-feito, com uma gratidão que
eleva seus corpos como em um voo com anjos. O senso da per-
feição pode ser estimulado por coisas simples: uma casa limpa,
uma frase bem construída ou um momento numa conversa em
que tudo está perfeitamente em seu lugar.

As preocupações do tipo 1 compreendem:

» Padrões internos de correção que podem se tornar puri-


tanamente exigentes. Fluxo de pensamentos autocríticos.
» Uma necessidade compulsiva de agir de acordo com o que
parece correto.
» Fazer a coisa certa.
» Uma crença na própria superioridade ética moral. As me-
lhores pessoas. Os dez por cento do topo, os que fazem a
coisa certa.

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» Dificuldade em reconhecer necessidades reais que não es-
tejam em conformidade com os padrões de correção.
» Comparação mental com os outros: “Sou melhor ou pior
do que eles?”. Preocupação com a crítica alheia: “Eles estão
me julgando?”.
» Adiamento da decisão por medo de cometer erros.
» Reformadores do mundo. Transferência da raiva gerada
pela não satisfação de necessidades para aquilo que pa-
rece ser um alvo externo legítimo.
» A emergência de duas personalidades: a personalidade séria,
que vive em casa, e a lúdica, que desponta longe de casa.
» O erro sobressai como percepção de primeiro plano: “Pense
na perfeição que isso poderia ter”.

História de família
Pessoas tipo 1 normalmente relatam ter sido duramente criti-
cadas ou punidas quando mais novas, tornando-se por fim obce-
cadas em tentar ser bons como forma de evitar problemas. Foram
filhos obedientes, mas forçaram a controlar seu comportamento,
internalizando, assim, a voz crítica dos pais.
A atmosfera, a seu respeito, era de altas expectativas, sem re-
compensas. Os perfeccionistas eram repreendidos por maus pro-
cedimentos, sem ser distinguidos pelo sacrifício de serem bons.
Assim, quando se privam, forma-se um nível crítico de pressão
que os faz liberar o ressentimento de uma forma tal, que sua pró-
pria raiva permanece oculta deles mesmos.

Uma paixão pela raiva justa


Muitas pessoas tipo 1 não têm consciência de que estão
com raiva. Há uma grande atração para expressar a raiva como

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veículo de uma causa justa. Se o ponto de vista for correto, a
raiva pode ser expressa sem a autorrecriminação por abrigar
sentimentos ruins. É por essa razão que são atraídas por pontos
de vista puristas que fornecem uma plataforma de lançamento
segura para a raiva justa, em nome de uma causa meritória.
O fato é que causa uma terrível sensação de se forçar a ser
bom, enquanto os outros permanecem ignorantes de seu sacri-
fício e empenho. Como seus desejos foram punidos na infân-
cia, perderam o contato com o que querem de verdade; mas são
profundamente sensíveis àquilo que acreditam que deveria ser
feito. Por isso, podem sentir muita raiva de pessoas que violam
as regras; mas não falarão abertamente, a menos que estejam
plenamente convictos de estarem com a razão.

Desarmando o alçapão
A raiva e a dor dos perfeccionistas se originam do fato de suas
necessidades pessoais não estarem sendo satisfeitas. Desejos le-
gítimos foram reprimidos e substituídos por uma lista de deveres.
Dessa forma, qualquer pequeno erro assume uma importância
esmagadora. A atenção é obsessivamente atraída para o erro que
precisa ser corrigido. “Você deve fazer isso”, ou “Ela deveria agir as-
sim”. O que se leva a pensar que, “todo belo rosto tem sua mácula,
todo recinto tem seu canto empoeirado e todo pôr do sol deixa
algo a desejar”.
No entanto, de tempos em tempos, pessoas tipo 1 acham um
meio de igualar a pressão entre suas próprias necessidades e o
crítico mental, ou seja, vivendo duas vidas. Haverá uma vida pú-
blica decorosa, na qual regras e normas serão seguidas, e uma
vida privada, na qual são encenadas fantasias proibidas.

61
Perfeccionismo
Pessoas tipo 1 dizem ser muito dolorosa a crítica alheia, por-
que já se sentem oprimidos pelo julgamento que fazem de si
mesmos. Distribui elogios é muito difícil para elas, porque faz
com que se sintam menores por comparação. Do seu ponto de
vista, cumprimentos só podem ser ganhos em função de um in-
tenso escrutínio de si mesmo e da perfeita execução de cada eta-
pa rumo a determinada meta.
Como é possível acharem correção em si próprios, se suas
mentes comparam suas melhores realizações a padrões inatingí-
veis de perfeição? A preocupação em ser bom implica em uma
obsessão de evitar o que é mau.

Um único caminho certo


O perfeccionismo reside na hipótese de que há uma única
solução correta para qualquer situação. E que, uma vez achada
essa solução certa, as pessoas de opinião diversa hão de ver a luz
da razão e quererão concordar com ela.
É chocante para pessoas tipo 1 perceber que outros não ade-
rem a essa ideia, que veem uma única maneira correta de viver,
porque, para elas, a ideia de que há múltiplos caminhos certos
parece um convite à anarquia.

Protelar e se preocupar
Tomar decisões põe em evidência o conflito entre desejos não
admitidos e a necessidade de ser correto. Tomar decisões se apre-
senta como um dilema, no qual a escolha do correto pode irritar
pessoas tipo 1, porque não obtêm o que desejam; e a escolha do
desejado as deixa preocupadas com a possibilidade de cometer

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um erro. A ansiedade cresce à medida que metas prazerosas se
tornam uma possibilidade.
Quando a ansiedade cresce, são passíveis de ouvir críticas im-
plícitas quando de fato não há nenhuma crítica. Conversas ino-
centes parecem entrelaçadas em insinuações negativas, que os
fazem sofrer em virtude da falsa crença de que os outros as estão
julgando secretamente.

Relacionamentos íntimos
O desejo mais profundo de um perfeccionista é se sentir
amado, mesmo que seja de forma imperfeita. Afinal, o amor foi
equiparado ao bom comportamento no passado; o que faz com
que se sintam indignos de amor. Até porque, se descobriram a
imperfeição em si mesmos, passa a ser difícil acreditar que um
parceiro possa amá-los como são, aceitando tanto seus aspectos
bons quanto os ruins de seu caráter.
Sendo assim, pequenas falhas são exageradas à medida que
se aprofunda a intimidade. O que acontece é que perfeccionistas
vivem na permanente suposição de que algo em seu modo, ou
em seus hábitos pessoais, sem dúvida irá repelir o parceiro. Esse
estado interior de tensão é agravado pela crença de que o prazer
e a felicidade devem ser merecidos e ganhos; e de que, se más
qualidades forem reveladas, o parceiro se afastará.
No auge da tensão, se tornam tão suscetíveis à rejeição que há
grandes chances de começarem a julgar o parceiro em autodefesa.
Ocorrerão brigas alimentadas pela convicção de que o parceiro aca-
bará mesmo se afastando. A ideia que passa pela cabeça é: “Então,
por que não acabar logo com isso antes que a gente se envolva?”.
Pessoas tipo 1 geralmente não percebem a intensidade da
própria raiva, nem as formas não verbais em que transmitem seus

63
julgamentos não pronunciados, nem o fato de proferirem suas
críticas com uma veemência, às vezes, tão dolorosa quanto o pró-
prio teor da crítica.
Estão na busca do relacionamento perfeito, o que dificulta a acei-
tação de que boas e más características devam coexistir na mesma
pessoa. Querem se consagrar às excelentes qualidades que o par-
ceiro traz para o relacionamento e tendem, assim, a colocá-lo num
pedestal, a perdoar qualquer fraqueza de caráter e a se fazer de cegos
à mistura de traços positivos e negativos do parceiro.
Mas veja que interessante: uma vez que tenham visto o lado
bom de alguém, perfeccionistas são capazes de nunca abandonar
a esperança de reformar o lado simplesmente não tão desejável
do outro. No entanto, se perdem o contato com o que querem do
relacionamento ou se começam a se sentir ameaçados ou enciu-
mados, voltam a criticar intensamente os lapsos de caráter do com-
panheiro. Precisando dar vazão a frustrações reprimidas, começam
a controlar as ações do parceiro, fazendo tentativas coléricas de en-
quadrá-lo para forçá-lo a se comportar como desejam. Também se
percebem o parceiro causando embaraços ou claramente violando
uma regra de comportamento, ficarão vivamente indignados, in-
capazes de resgatar a visão do outro como sendo uma pessoa de
bem. E, detalhe: antigos ressentimentos serão ressuscitados e ma-
nifestados repetidas vezes, permanecendo em evidência enquanto
for necessário dar vazão para o alívio da irritação em curso.
Porém, pessoas tipo 1 reagem prontamente a pessoas capa-
zes de admitirem seu próprio erro. Seu hábito mental de julgar
os outros deixará de existir, se o erro puder ser admitido, e serão
particularmente fiéis, se perceberem empenho, esforço e boas in-
tenções em seus parceiros.

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Relacionamentos hierárquicos
Perfeccionistas estão buscando a autoridade que seja der-
radeiramente correta. Sua preocupação com a correção os torna
sensíveis a erros e injustiças por parte das autoridades. Se o líder
é visto como alguém capacitado e justo, eles assumem responsa-
bilidades. Se não, tendem a agir com cautela e a transferir culpa
para que não os achem em erro.
Assim, criarão confiança numa organização por meio de uma
série de críticas; sobretudo, a respeito de detalhamento e de pro-
cedimentos. Esses pequenos pontos de crítica se destinam a con-
figurar melhor a situação e a estabelecer áreas claras de respon-
sabilidade, mas parecerão um desagradável controle de detalhes.
Eles operam segundo os regulamentos e, se os procedimentos
são alterados, podem se sentir ardilosamente expostos à crítica.
Sendo assim, recuarão se tiverem de dar o primeiro passo numa
decisão arriscada. Em contrapartida, trabalharão com muito em-
penho se acharem que os outros também estão dando o máximo
de si mesmos, ou se puderem ser inspirados pela causa certa.
De positivo, pessoas tipo 1 têm ótima capacidade organizacio-
nal e podem sentir verdadeiro prazer no desenvolvimento de suas
destrezas profissionais. Se estiverem absolutamente convictos de
que seu ponto de vista é correto, saberão assumir uma postura
solitária contra toda oposição. Uma vez convencidos de que estão
corretos, tornam-se invencíveis, porque seu crítico interno recua,
e eles deixam de se preocupar com erros ou com que os outros
pensam. Firmemente assentados no único caminho correto, per-
feccionistas trabalham incansavelmente até a conclusão do serviço.
De negativo, pessoas tipo 1 temem se opor abertamente à
autoridade por medo da retaliação e da possibilidade de estarem
cometendo um erro de julgamento. Tendem a desconfiar da au-
toridade, mas esperam que os responsáveis reparem em seu bom
desempenho e ofereçam recompensas merecidas.

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Contudo, no correr desse processo, criticarão pontos impor-
tantes de um programa, mas, devido ao risco de erro, terão difi-
culdade em propor uma solução. Não se sentem à vontade em
interações que exijam grande tolerância para com diferenças de
opinião, preferindo regras e estruturas previsíveis.

Como pessoas tipo 1 prestam atenção


O perfeccionista é amparado pelo hábito de fazer comparações
mentais. É uma forma de prestar atenção em que pensamentos e
ações são automaticamente julgados segundo um padrão ideal de
perfectibilidade da situação. O palco interno do processo de tomada
de decisão tem a imagem de uma cena de tribunal. Cada opinião é
mentalmente trazida perante a corte, onde é então atacada, de-
fendida e, por fim, julgada por sua correção.
Também sofrem com o hábito de comparar seus próprios níveis
de realização ao longo do tempo, o que também pode gerar a sen-
sação de nunca estar à altura das metas. Até certo ponto, todos nós
julgamos nossos próprios avanços em comparação a padrões de alta
qualidade, mas vivem com uma vara de medição interna que tam-
bém se estende para compará-los cronicamente a outros.
Fazer comparações mentais é, muitas vezes, um fator automá-
tico e não reconhecido na percepção dos eventos da vida diária
e é uma causa importante de sofrimento. Pois, automaticamente
percebem o que é certo ou errado em qualquer situação; e por se-
rem partidários de um ponto de vista que vê apenas um caminho
como certo, a vitória do outro os faz se sentir perdedores.
No entanto, é possível começar a mudar o estilo de atenção do
perfeccionista, reparando no momento em que surge essa lousa
mental. Toda vez que a atenção se deslocar para uma avaliação deta-
lhada dos pontos positivos e negativos do outro e houver a sensação
de que, quando essa pessoa está por cima, se está por baixo, há uma
chance de se desviar a atenção para um terreno neutro.

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Estilo intuitivo
Há uma sensação física de desprendimento e de bem-estar
quando pessoas tipo 1 estão na presença de uma solução de-
finitivamente correta. Se houvesse palavras para descrever essa
sensação, seria algo como: “ Não poderia ser mais perfeito”.

Ambientes atrativos
Empregos que requerem organização e detalhamento meti-
culosos são os preferidos de pessoas tipo 1. Sendo assim, ensino,
contabilidade, organização de empresas e planejamento em lon-
go prazo. O que acontece é que gostam de empregos que depen-
dam de etiqueta, protocolos e procedimentos sociais formais. São
pesquisadores, gramáticos e pregadores. São encontrados em re-
ligiões e sistemas que exijam estrita adesão a regras. Fundamen-
talistas religiosos, esquerdistas de linha de partido.

Ambientes não atrativos


Para pessoas tipo 1 empregos que requerem risco de erro na
tomada de decisão ou alto nível de responsabilidade pessoal por
decisões controvertidas não são interessantes. Também aqueles
que precisam de interações que exijam a aceitação de pontos de
vista múltiplos, ou que requerem grande tolerância para diferen-
ças de opinião. Ainda interações nas quais as decisões devem ser
tomadas com base em informações flutuantes ou parciais, e não
com base em diretrizes claramente enunciadas.

A perfeição como qualidade superior da mente


Perfeccionistas sofrem porque, habitualmente, comparam o
modo como as coisas são com “o modo perfeito como poderiam
ser”. Vivem com um tipo de impulso irresistível de realinhar a

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realidade ordinária à perfeição. O mundo é branco ou preto. É
perfeito, ou tem um defeito fatal.
Assim, sofrem por quererem uma perfeição fixa e permanente;
como se crianças adoráveis de repente se tornassem em impossí-
veis e difíceis, porque correram para brincar na lama.
A realidade é que todo produto perfeito e acabado teve de passar
por estágios que pareceram situações de risco e má sincronização,
sendo, portanto, de enorme benefício verem que, o que talvez pare-
çam erros terríveis estão ligados a um resultado com fim correto.
E que são responsáveis apenas por fazer o melhor trabalho que
puderem em um tempo determinado qualquer.
Permitir margem para o erro ou, pior ainda, para pontos de
vista múltiplos parece um convite à loucura. Desde a infância,
pessoas tipo 1 vêm trabalhando sob a hipótese inadvertida de
que o pensamento correto e o trabalho duro levarão a uma justa
recompensa e que o mal será reconhecido e punido. Sendo as-
sim, normalmente, se dizem chocados por ter de admitir que a
virtude e o bom comportamento não levam necessariamente às
recompensas e ao reconhecimento.

A virtude da serenidade
A raiva engarrafada e arrolhada é uma forma de descrever um
dilema, porque pessoas tipo 1 podem se enrijecer fisicamente de
energia; ao mesmo tempo em que cerram a garganta e mandíbula,
incapacitados de falar, de pedir ajuda ou de liberar um grito de raiva.
É preciso que aprendam que, uma vez aceitas as assim cha-
madas emoções negativas, sua importância exagerada desapare-
ce. No entanto, relatam que pensamentos julgadores ou críticos
são uma excelente indicação de que algum impulso verdadeiro
está sendo bloqueado à consciência.

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Méritos
Pessoas tipo 1 são dedicadas às causas de valor. Uma vez con-
vencidas da correção de uma causa ou das boas intenções dos
envolvidos, trabalharão pela recompensa da satisfação de um tra-
balho bem-feito assim como outras trabalham pela recompensa
da segurança e do poder.
A necessidade neurótica de fazer o bem, que pode surgir como
um reformismo irritante do gênero “eu sou melhor do que vocês”,
pode também ser usada num esforço permanente rumo ao cres-
cimento.
Como estão empenhadas em fazer do mundo um lugar me-
lhor, se tornam professores dedicados. Atêm-se às virtudes e
querem ensinar aos outros a reconhecer o melhor. Têm ânsia de
explicar, de pesquisar e de transmitir informações precisas e têm a
certeza de que as pessoas podem mudar radicalmente suas vidas
por intermédio da informação correta.
Algo interessante é que não cooperam se houver transigência
nos padrões e, dependendo de que conjunto de padrões ado-
taram como o caminho perfeito, serão figuras proeminentes na
extrema-esquerda ou na extrema-direita.
A tendência à crítica dos perfeccionistas pode ser facilmente
desarmada, se outras pessoas envolvidas forem capazes de ad-
mitir suas próprias falhas, ou se tiverem uma posição claramente
desvantajosa.
No entanto, têm verdadeira paciência com aqueles que de-
monstram força de vontade, mas que são limitados não por culpa
própria. São pródigos em paciência com os que lutam contra as
disparidades. Também oferecem, de imediato, uma cota de boa
vontade a pessoas capazes de admitir erros e que se esforcem por
ajudar a si mesmas.

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Igual a seu ponto nuclear 9, o 1 caiu no sono do esquecimento
de si mesmo. A pessoa tipo 9 esqueceu seus desejos reais desen-
volvendo uma preocupação obsessiva em concordar ou não com
a opinião alheia. O modelo do esquecimento de si mesmo do
tipo 1 se centra na substituição de desejos reais por uma preocu-
pação obsessiva em fazer a coisa certa.
Ciúme, inadaptabilidade e ansiedade surgem na tensão entre
os desejos esquecidos e a necessidade de agir corretamente.

Ciúme (ardor) em relacionamento íntimo


O ciúme assume a forma de controle dos atos do outro e de
julgamento crítico de tudo o que se interponha entre o perfeccio-
nista e o parceiro.

Inadaptabilidade nas relações sociais


A inadaptabilidade surge com a confusão entre os desejos
pessoais e a necessidade de se alinhar rigidamente a uma posi-
ção social correta.
Ansiedade (preocupação) com a autopreservação
Pessoas tipo 1 se preocupam com o fato de não serem perfeitas,
de não merecerem sobreviver e sobretudo de cometer erros que po-
nham em risco à sobrevivência.

O que ajuda pessoas tipo 1 a evoluir


Muitas vezes pessoas tipo 1 têm dificuldades em buscar auxí-
lio, porque, desse modo, têm de admitir que algo está errado. As
razões típicas para buscar ajuda são crises de ansiedade, episódios
de abuso de álcool ou drogas — para escapar ao crítico interno —
ou um distúrbio físico com raízes na tensão psicológica.

70
No entanto, pessoas tipo 1 podem se ajudar:

» Não partindo para a ação compulsiva; não assumindo


responsabilidades consecutivas de modo a não ter como
pensar em suas prioridades reais.
» Sentindo necessidade de modificar o rigor dos padrões in-
ternos. Sentindo necessidade de questionar as regras.
» Não transformando insights em ataques contra si mes-
mos. Por exemplo: “Como pude ficar cego para os meus
próprios erros?”.
» Buscando um cotejamento com a realidade. Quando sur-
gir a ideia de que outros estão julgando ou criticando, che-
car se está acontecendo de fato. Ou seja, quando houver
preocupação, obter informação factual para eliminar an-
siedade desnecessária.
» Percebendo quando a solução do gênero “um único ca-
minho correto” limita as oportunidades ou outras opções.
» Atentando para o valor e para a consistência do sistema de
valores de outras pessoas.
» Aprendendo a pedir e a receber prazer.
» Aprendendo a questionar a diferença entre o que “deve”
ser feito e o que é de fato desejável.
» Usando a consciência da raiva contra outras pessoas “que
estão se safando impunemente” como um indício do fato
de que aquilo com que se safam é o desejável.
» Percebendo a raiva não assumida. Não “fazer um rosto fe-
liz” enquanto está louco de raiva por dentro; palavras gen-
tis, mas uma agudeza crítica na voz; um sorriso e um corpo
rígido.

71
Coisas que devem perceber
Raiva e críticas sobre o eu ou sobre outras pessoas se originam
do fato de as necessidades pessoais não estarem sendo satisfeitas.
Pessoas tipo 1 deveriam se esforçar para identificar e reconhecer
suas necessidades reais e agir com base nelas, percebendo as se-
guintes questões que podem surgir durante essa transformação:

» A sensação de dois “eus”, um lúdico e outro punitivo.


» A anulação dos desejos pessoais.
» Amarração do tempo de modo a não existir sobra para o
prazer.
» Protelar. Complicar demais procedimentos simples para
adiar um compromisso final.
» Necessidade de achar falhas no ambiente.
» Necessidade de refazer um projeto desde o início apenas
porque encontrou um erro. Derrubar toda a casa por que a
escada está no lugar errado.
» Necessidade crescente de atribuir culpa a outras pessoas a
fim de contrabalançar a intensa crítica já dirigida a si mesmos.
» Rigidez de atenção. Focalizar intensivamente um setor da
vida que precisa de correção e não prestar atenção a ou-
tros setores à medida que se desmantelam. Uma forma de
seccionar e esquecer áreas de conflito.
» Intolerância para com pontos de vista múltiplos. Evitar o pen-
samento: “Para mim as coisas ou são certas ou erradas”.

72
TIPO 2: O auxiliador

O dilema
Pessoas tipo 2, ou auxiliadores, se movem na direção dos
outros como se buscassem uma resposta à pergunta interior:
“Gostarão de mim?”. O que acontece é que têm uma necessidade
marcante de afeição e de aprovação; querem ser amados, prote-
gidos, querem se sentir importantes na vida dos outros.
Foram crianças que ganharam carinho e segurança, satisfa-
zendo os desejos alheios. Como fruto de sua busca de aprovação,
desenvolveram um sensível radar pessoal para a detecção de es-
tados de espírito e de preferências. São auxiliadores e dizem que
adaptam seus sentimentos aos interesses alheios e que, ao adap-
tá-los, são capazes de assegurar sua própria popularidade. Se não
estiverem obtendo a aprovação de que precisam, o hábito de se
adaptar pode se tornar compulsivo, a ponto de se esquecerem de
suas próprias necessidades, numa tentativa impulsiva de agradar
aos outros, como forma de adquirir amor.
Como foram criados na compreensão de que a sobrevivência
dependia da aprovação dos outros, os relacionamentos sobres-
saem como a área mais importante da existência. Dizem saber
como se apresentar para que gostem deles e que essa capacidade
se torna opressiva, porque lhes permite amortecer possíveis rejei-
ções, dando aos outros aquilo que querem. No entanto, o hábito
de se alterar para agradar gera, muitas vezes, a sensação de terem
enganado os outros, só lhes mostrando o que querem ver.
Pessoas tipo 2 se sentem como tendo muitos “eus”, pois são
capazes de mudar para se acomodar às necessidades daqueles que

73
são importantes em suas vidas. Um grau considerável de confusão
pode surgir entre esses vários “eus”, trazendo a sensação de “qual é
meu eu verdadeiro?”. São particularmente propensos a se entregar a
relacionamentos com pessoas poderosas e muitas vezes descrevem a
sensação de perda da identidade pessoal como uma alteração de si, a
fim de se tornar a personalidade que mais agrade ao parceiro.
As fases iniciais de um relacionamento são dominadas pelas
pessoas tipo 2 vivenciando os aspectos de si que alimentam as ne-
cessidades do parceiro. As fases posteriores são dominadas pelo sen-
timento de ser controlado pela vontade do outro, aliado a um desejo
opressivo de liberdade. À medida que o relacionamento amadurece,
há frequentes acessos histéricos de raiva, uma vez que os aspectos
do “eu” esquecidos durante o namoro começam a reaparecer.
Elas sofrem o conflito entre o hábito de moldar sua apresen-
tação pessoal, de modo a ser basicamente irresistíveis para um
parceiro, e o desejo de ter a liberdade de fazer o que lhes aprou-
ver. Na posição de doadores, tendem a se fazer indispensáveis ao
parceiro, ou às pessoas no poder, como forma de obter a satisfa-
ção dessas necessidades esquecidas.
Os indivíduos deste tipo satisfazem seus próprios desejos, con-
quistando o amor de pessoas que possam fazer esses desejos se
materializar. O êxito no controle de um relacionamento não se dá por
força ou por coerção aberta, mas, sim, pela prestação de ajuda. Quei-
xar-se é também uma tentativa, por parte de quem ajuda, de fazer os
outros reconhecerem quanto lhe devem. Se seus esforços não forem
reconhecidos, ou se a aprovação lhes for negada, se sentirão feridas,
como se seu valor dependesse de como são vistas pelos outros. Se
uma deferência especial deixar de se materializar, depois de tanta
assistência de alto nível, quem surgirá é o manipulador, o operador
por trás dos bastidores, a eminência parda.

74
As preocupações de pessoas tipo 2 compreendem:
» Obter aprovação e evitar rejeição.
» Orgulho pela importância de si mesmos nos relacionamentos.
Costumam dizer com frequência: “Nunca teriam feito sem mim”.
» Orgulho pela satisfação das necessidades alheias. Falam
sempre: “Não preciso de ninguém, mas todo mundo pre-
cisa de mim”.
» Confusão entre os inúmeros “eus” que se desenvolvem a
fim de satisfazer as necessidades alheias.
» Atenção sexual como garantia de aprovação. Pensamentos
do tipo: “Eu não quero dormir com você, mas quero saber
que você gostaria de dormir comigo”.
» Ligação romântica com “o grande homem” ou “com a mu-
lher inspirada”.
» Luta pela liberdade. Sensação de ser controlada pelas ne-
cessidades alheias.
» Histerismo e raiva quando os desejos e as necessidades reais
emergem e entram em conflito com os inúmeros “eus” que
foram criados com o intuito de agradar aos outros.
» Um estilo de atenção que consiste em se alterar para satis-
fazer as necessidades alheias e que pode levar a:
» Uma relação empática com os sentimentos de outras pessoas;
» Uma adaptação manipulável aos desejos dos outros como
forma de garantir seu amor.

História de família
Pessoas tipo 2 foram crianças amadas por serem agradáveis.
Tanto que aprenderam a manter o fluxo de atenção convergindo
para elas. Outro cenário comum relatado é que a sensibilidade às
necessidades e aos desejos alheios se desenvolveu, porque tive-

75
ram de dar apoio emocional aos próprios pais. Algo como: “Assim,
cuidando de meus pais eu os fazia bastante fortes para cuidarem
de mim. Eu trabalhava e dava a ele o dinheiro para que nos sus-
tentasse, para que ele pagasse as minhas coisas. Se ele pensasse
que era eu quem de fato cuidava de mim mesma, era como se eu
não fosse amada, porque não estava sendo cuidada por ele”.

Outro protótipo de infância descrito por pessoas tipo 2 que


perceberam as possibilidades manipuláveis de se tornar indis-
pensáveis e amados e usaram suas capacidades de sedução para
extrair de outras pessoas o que precisavam é: “Eu vivia uma espé-
cie de triângulo amoroso. Meu pai era bondoso e muito divertido,
minha mãe estava sempre atrapalhando. Então, eu simplesmente
a colocava em primeiro lugar e a mim em segundo e, não brigan-
do com ela, sempre conseguia tudo o que queria dele. Ele queria
me controlar, então eu o bajulava sendo boazinha, ou então lhe
desobedecia na cara. Eu desobedecia não por que quisesse mes-
mo sair com o rapaz errado, ou por que quisesse chegar em casa
tarde, mas porque, desobedecendo, eu recebia dele uma atenção
possessiva que me fazia sentir o quanto eu era importante”.

Múltiplos “eus”
A consideração de outras pessoas pode inspirar pessoas tipo 2
a um melhor desempenho, mas também percebem que se adap-
tam às imagens do que convêm aos outros, a fim de garantirem
para si um suprimento de amor.
Ao mudarem de identidade para se conformar ao aspecto de si
mesmas que agrade a certos amigos, correm o risco de perder con-
tato com seus sentimentos autênticos. Seus próprios sentimentos
e emoções são esquecidos à medida que o foco de sua atenção se

76
confunde com os desejos dos outros. A atenção é, portanto, treinada
a se concentrar externamente, de modo que as necessidades pes-
soais sejam negligenciadas, a fim de garantir o recebimento de amor.

Efeito guarda-chuva: Dando para receber


Auxiliadores obtêm a satisfação de seus próprios desejos e
necessidades por intermédio de pessoas capazes de fazer esses
desejos e necessidades se materializarem. O êxito no controle de
uma parceria não é obtido por ação frontal, mas se oferecendo,
metaforicamente, um guarda-chuva para proteger o companhei-
ro da chuva e depois sendo levado pelo braço da outra pessoa.
É importante que pessoas tipo 2 percebam que aquilo que dão
aos outros é o que vão esperar em troca. Quando oferecem ajuda,
provavelmente o fazem com a expectativa de serem incluídas se o
empreendimento for bem-sucedido. Outra tática é seccionar partes
do eu para diferentes pessoas como na fórmula de apresentação
“madona e prostituta”, na qual a mesma mulher oferece aspectos radi-
calmente diferentes de si para diferentes homens. Ou, no caso de um
homem, ele oferece diferentes aspectos de si para várias mulheres.
Uma pessoa tipo 2 pode aparecer vestida com roupas revela-
doras e levar uma conversa para considerações sobre o amor, sem
fazer ideia da clareza com que ela, ou ele, está emitindo sinais
sexuais a fim de obter a resposta de que é atraente ou amável.

Apresentação pessoal: Sedutora


Todas as pessoas tipo 2 são sedutoras, no sentido de serem
hábeis em manobrar outros de forma a que gostem delas. Vivem
na permanente suposição de que podem ter quase todo o mun-
do à disposição, bastando um tratamento adequado e a aplicação
sutil, em dose apropriada, de uma atenção especial.

77
A motivação oculta para uma apresentação sedutora é ganhar
atenção. Ser desejado em qualquer área da vida de outro dá uma
sensação de segurança; mas, sobretudo, o que dá segurança é ser
fisicamente desejado. No entanto, pessoas tipo 2 contam, normal-
mente, que, embora queiram apresentar uma imagem atraente,
estão mais interessados em receber atenção sexual do que em ser
promíscuos. Muitas vezes, há um verdadeiro medo de intimidade,
porque o contato íntimo expõe o fato de o eu ter sido traído e ven-
dido com o fim de agradar aos outros. Sendo assim, podem temer a
intimidade, mas usarão uma apresentação pessoal sexy como forma
de conferir o clima sexual inconsciente numa nova situação.

A questão da dependência x independência


Pessoas tipo 2 são propensas a sentir muita confusão durante o
período de uma relação quando precisam manifestar o eu real a fim
de selar um compromisso verdadeiro. São menos conscientes, ou
menos perceptivas, capazes de viver uma vida inteira dependentemen-
te absorvidas pelos desejos do parceiro, ou convencidas de que são to-
talmente independentes do parceiro que pode ser controlado mediante
a sua adulação. Assim, acabam percebendo que a luta por liberdade
em relação a um parceiro não é mais livre, nem independente do que o
desejo desesperado de receber aprovação daquela mesma pessoa.

Triangulação
O hábito de se adaptar a outros é prejudicado pelo fato de
pessoas tipo 2 serem atraídas por pessoas que incorporam carac-
terísticas de valor para seu crescimento pessoal. Ao ajudar o outro,
ajudam a si por tabela. Mas podem também se identificar tanto
com as potencialidades de um parceiro que as fronteiras entre o
eu e o outro se confundem.

78
Auxiliadores dizem que entram em casos de amor triangu-
lares por uma razão principal. As insinuações sexuais implícitas
em seu relacionamento com um dos seus pais, o que é carregado
para a vida adulta como a atração de ser o favorito, ou a favorita,
em segredo, aquele, ou aquela, que de fato compreende. Nor-
malmente, o desejo é o de ser um amante especial para o parcei-
ro casado e não o de fazê-lo romper seu casamento. Muitas vezes,
são atraídas pela indisponibilidade do parceiro casado; mas não
têm nenhum desejo específico de magoar o cônjuge do parceiro.

Orgulho
Nessa visão de mundo, a atenção se concentra externamente,
em formas de agradar aos outros. Por isso, pessoas tipo 2 têm
uma tendência a acreditar que os outros são dependentes do que
elas decidem dar ou reter.
Dessa maneira, vivem com a ideia permanente de que o amparo
e a assistência emanam delas para os outros e de que, sem elas,
o resto do mundo ficaria empobrecido. Quando conscientes de si,
reconhecem a sensação de se inflarem de orgulho; sensação esta
vinculada ao fato de se sentirem honradas por aquilo que deram.
Uma sensação de convencimento, que, por ser dependente da con-
sideração alheia, pode ser facilmente desmontada, caso a atenção
seja negada.

Relacionamentos íntimos
Desafio é a palavra-chave no relacionamento. Um sedutor ex-
perimentado precisa de desafios a fim de ser inspirado até o ápice
de suas habilidades. Pessoas tipo 2 mostram o melhor de si ao
ingressarem num relacionamento desafiador. Elas também sa-
bem se posicionar de forma a ser notadas, se inserir nos momen-
tos oportunos ou críticos da vida do parceiro em potencial e estar

79
à disposição quando se precisa de ajuda. A fase mais excitante e
vital de um relacionamento é quando ainda há obstáculos para
superar e a caçada está em curso.
Pessoas tipo 2 são às vezes tão reprimidas com respeito
aos seus próprios desejos que têm dificuldade de saber o que
querem e, assim, se sentem limitadas por aquilo que o parceiro
acredite ser importante.
Nas primeiras fases de um relacionamento, tendem a se fundir
aos desejos do parceiro, mas, uma vez que o relacionamento esteja
garantido, essa fusão de dependência começa a dar a impressão de
um aprisionamento aos desejos do outro. Quase sempre há uma
revolta frontal contra tudo o que o parceiro deseje. Revolta essa ali-
mentada pela suspeita emergente de que o verdadeiro eu foi ven-
dido e liquidado a fim de adquirir a afeição e a boa vontade do outro.
Durante essa fase, ficam exigentes e irritáveis e não estão dispostos a
atender às necessidades do parceiro. Há um desejo de reativar os in-
teresses do eu esquecido, de exercer atividades que o outro acha per-
turbadoras e de fugir pela porta dos fundos para outros casos de amor.
De positivo, pessoas tipo 2 são profundamente comprome-
tidas em ajudar a potencializar as melhores características dos
outros. Sabem pôr em evidência metas e estratégias para aju-
dar o parceiro a ter sucesso.
De negativo, se tornam guardiões do parceiro, caso tenham gran-
de necessidade de manter o controle do relacionamento. Com atitu-
des do tipo: “O sucesso dele (ou dela) depende do meu amor”.

Relacionamentos hierárquicos
Pessoas tipo 2 são atraídas pelo poder e querem ser amadas
por pessoas poderosas. Sabem muito bem reconhecer vencedores
em potencial e se colocar como ajudantes em pontos estratégicos

80
da operação do líder. Ao mesmo tempo em que não admitem
precisar de alguma coisa das autoridades a quem dão ajuda, são
muito exigentes da presença e dos conselhos de uma autoridade.
Geralmente, confundirão identidades com uma autoridade
adaptando-se ao que o líder considere desejável. Embora tenham
as habilidades necessárias para a liderança, geralmente preferem
ser a eminência parda, o primeiro-ministro em vez do rei. Prote-
gendo a autoridade, garantem seu próprio futuro e, ao mesmo
tempo, ganham amor. É extremamente raro achar uma pessoa
tipo 2 num cargo público impopular, a menos que também haja
uma aliança com uma fonte de poder.
Pessoas tipo 2 não perdem seu tempo valioso numa relação
com autoridades subalternas. A reação para com uma autoridade
punitiva ou indiferente é forjar nos bastidores a tomada do poder
por um rival que provavelmente saiba apreciar melhor a colabo-
ração do auxiliador.
De positivo, veem os potenciais nos outros. Estão dispostos a
trabalhar em troca de pequenas recompensas materiais se a qua-
lidade do contato humano for boa. São capazes de ir na direção
dos outros, de fazê-los se sentir à vontade, de fazê-los se expan-
dir. São adaptáveis a qualquer meio, sociáveis e socializadores.
De negativo, têm propensão a manipular os outros por meio
da bajulação. As pessoas são vistas como dignas de se cultivar a
amizade ou indignas de atenção. Competem com iguais e com
colegas por aqueles que “valem a pena”. São sedutores para com
os superiores e condescendentes para com os inferiores.

Ambientes atrativos
Incluem qualquer posição de ajuda ou de associação com um
líder poderoso. Devoto de um guru exigente, groupie de estrela

81
de rock, a mulher ou o homem braço-direito que dá conselhos
ao chefe. A secretária do presidente que faz a companhia funcio-
nar. O defensor dos desvalidos, voluntário para causas sociais. As
profissões assistenciais. Aquele que ajuda a distribuir sopa aos
pobres. Caso de amor triangulado. O outro, a outra. Um emprego
com conotações sexuais. Maquiador, vedete, consultor de moda.

Ambientes não atrativos


Dificilmente se encontraria uma pessoa tipo 2 trabalhando em um
órgão de arrecadação, a não ser que estivesse apaixonada pelo chefe.

Como pessoas tipo 2 prestam atenção


A atenção é, por hábito, concentrada nas flutuações emocionais
de outras pessoas significativas, e guiada pelo desejo de se tornar o
objeto de amor delas. No nível dos sinais físicos, isso significaria algo
como vigiar para ver se ele, ou ela, sorri ou franze o cenho quando
um tópico específico de conversação é trazido à baila, e tentar então
se unir a esses interesses de uma forma que agrade. Como a atenção
se concentra exteriormente no que os outros desejam, há falta siste-
mática de atenção para as necessidades pessoais. Do ponto de vista
psicológico, essas necessidades reprimidas são satisfeitas ajudando
outros a viver uma vida que gostariam de compartilhar.

A liberdade como característica de mente superior


Desviar a atenção interiormente produz frequentemente, mui-
ta ansiedade para pessoas tipo 2. Elas podem se tornar tão habi-
tuadas a reparar no que os outros querem que não perceberão o
fato de que sofrem as consequências da ajuda que dão. Reconhe-
cem sua dependência em relação aos outros, mas há ocasiões em
que devem agir sozinhas.

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Ter uma ação independente é capaz de produzir uma angústia
terrível, sobretudo se a ação for contra os desejos de alguém a
quem gostariam de agradar.

Estilo intuitivo
Pessoas tipo 2 foram crianças amadas por serem agradáveis; e
como adultos são levadas a acreditar serem especialmente sensí-
veis aos desejos alheios.
Como crianças desenvolveram uma preocupação em obter
aprovação e, motivadas por sua necessidade de amor, se conven-
ceram de que eram particularmente capazes de perceber e pres-
sentir os desejos mais íntimos dos outros.

Pessoas tipo 2 e tipo 9 se parecem


Igual a pessoas tipo 9, os auxiliadores, ou tipo 2, percebem mais
aquilo que os outros querem do que aquilo que eles mesmos que-
rem. Contudo, pessoas tipo 2 se comportam de modo diferente
de pessoas tipo 9, porque alternam a apresentação pessoal, com
uma agenda voltada para garantir o controle sendo agradáveis.
Pessoas tipo 9 não se alteram nem controlam mediante o ato
de dar. Elas descrevem a forma de se fundir com outros como “ser
a imagem de um espelho”, absorvendo e refletindo o ponto de vista
que os outros lhes impõem. Dizem também que exercem controle
reduzindo o ritmo, ou se desligando, e não por meio da manipulação.
Outra diferença entre pessoas tipo 2 e pessoas tipo 9 é que
as tipo 2 se movem ativamente na direção de outros, ao passo
que, as tipo 9 são lentas para se apresentar.
Pessoas tipo 2 perdem sua identidade naquilo que são seme-
lhantes no outro, ou no aspecto do outro que parece inspirador.
São seletivas com relação àqueles com quem perdem a identida-

83
de. Há de ser alguém que valha a pena. Já pessoas tipo 9 descre-
veriam sua característica de perder a identidade como algo seme-
lhante a “se transformar no outro e pegar tudo o que achar nele”.
O tipo 2 perde a identidade sentindo o que é desejado e se
alterando para agradar.

Pessoas tipo 2 e tipo 3 se parecem


Igual àqueles no seu núcleo — ponto 3 —, o tipo 2 perdeu
a conexão com seus verdadeiros sentimentos pessoais. Os três
pontos agrupados do lado direito do eneagrama, 2, 3 e 4, repre-
sentam modos diferentes em que os verdadeiros sentimentos da
infância foram sacrificados a fim de conciliar o conflito entre de-
sejos pessoais e desejos dos pais.
O êxito em se adaptar às necessidades alheias garantiu — e
garante — segurança e proteção. Tipo 2 e tipo 3 podem se pa-
recer no caso de o 2 ser um grande empreendedor. Pessoas tipo
2 também podem ser dinâmicas e ambiciosas em termos profis-
sionais, mas a motivação interna delas é a de serem amadas pelo
que são mais do que por seus empreendimentos.

Méritos
Pessoas tipo 2 sabem fazer os outros se sentirem bem con-
sigo mesmos. Têm a capacidade de extrair o melhor dos outros
com seu entusiasmo; sabem tornar mais fáceis mudanças difíceis
de empreender. São mais felizes numa posição de apoio àqueles
que buscam o poder e podem ser um trunfo importante para um
amigo ou sócio que esteja enfrentando adversidades.
O relacionamento sobressai como a faceta mais importante da
vida de um auxiliador, e eles se comprometem a manter os rela-
cionamentos vivos seja lutando, seja seduzindo, seja absorvendo
as necessidades do parceiro, seja arrumando muita confusão.

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São também capazes de sentir raiva e não guardar nenhum res-
sentimento. Aniversários e férias serão lembrados com um presente
especial que exigiu pensamento e empenho para preparar.

Ambição em situações sociais


A ambição envolve a associação com pessoas poderosas como
fonte de proteção e como garantia de status dentro do grupo.

O que ajuda pessoas tipo 2 a evoluir


Aprender a reconhecer a diferença entre desejos verdadeiros
e as acomodações que ocorrem a fim de concordar com ou lutar
contra aquilo que outros querem. Casos típicos incluem questões
ou doenças de relacionamento, tais como enxaquecas ou asma,
que podem ter sua origem na somatização reprimida.

Pessoas tipo 2 podem se ajudar:


» Detectando o desejo de manipular.
» Admitindo o seu real valor para os outros.
» Reconhecendo a bajulação como um sinal da ansiedade
crescente.
» Notando a tentação de ceder o poder aos outros.
» Detectando o desejo de parecer desamparado, de manter
a terapia confortável e de não trazer à baila material que
macule o orgulho ou uma boa imagem.
» Vendo as prioridades conflitantes dos “múltiplos eus”, e
desenvolvendo uma apresentação pessoal consistente
para as outras pessoas que não se altere a fim de agradar.
» Não atraindo os outros usando de bajulação e reconhe-
cendo que a necessidade de retaliação é causada por or-
gulho ferido.

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Coisas que pessoas tipo 2 devem perceber; e será muito útil
se o fizerem:
» Vontade de brincar de ser outra pessoa, de fantasiar dife-
rentes formas de ser amada.
» Confusão entre os vários “eus”.
» Vontade de estar com o “melhor”, mas, por temer a rejeição,
ficar com “o que mais precisa de mim”.
» A crença de que receber aprovação é igual a receber amor.
» A crença de que ter independência levará a nunca ser
amado novamente.
» A crença de que os outros estão tentando limitar a sua
liberdade.
» Luta por liberdade. Recusa em assumir compromissos que
pareçam limitar a expressão de seus múltiplos “eus”. Exigên-
cia de liberdade ilimitada.
» Atração para relacionamentos difíceis. Triangulação. Afir-
mação do controle indo atrás do difícil de obter. Impedi-
mento de uma verdadeira intimidade.
» Inexperiência com a verdadeira intimidade. Sensações se-
xuais e emocionais verdadeiras não são familiares.
» Necessidade de ver a diferença entre um gostar e um des-
gostar passageiro, e um nível mais profundo de compro-
misso.

86
TIPO 3: O realizador

O dilema
Pessoas tipo 3, ou desempenhadores, foram crianças apreciadas
por suas realizações. Lembram-se de que, ao voltarem da escola,
lhes perguntavam pelo seu desempenho, e não pelas sensações ou
sentimentos que pudessem ter em relação àquele dia. O desem-
penho e a imagem eram recompensados mais do que as relações
emocionais ou um envolvimento profundo com a vida de outros.
Sendo assim, a ideia era trabalhar duro pelo reconhecimento, as-
sumir papéis de liderança e vencer. Era muito importante evitar o
fracasso, porque só os vencedores são dignos de amor.
Por isso, pessoas tipo 3 adotam a imagem arquetípica de
qualquer grupo: o executivo com terno e gravata, a supermãe que
faz o serviço andar, as crianças cheias de vitalidade dos anúncios
da TV, o hippie com os cabelos até os calcanhares.
São camaleões que se transformam nos executores e em-
preendedores valorizados por qualquer grupo do qual se descu-
bram membros e, talvez, involuntariamente, podem vir a acreditar
ser a imagem que atrai aprovação daqueles a quem respeitam.
Exibem uma fachada de aparente otimismo e bem-estar.
Trabalharão por recompensas externas, muitas vezes, sem exa-
minar seus sentimentos em relação ao trabalho em si. Iden-
tificam-se com o nome prestigioso de uma firma, atribuem
seu próprio valor pessoal ao número de zeros em sua renda
mensal. O trabalho pode ser terrivelmente enfadonho, mas um
título impressivo pode ser uma compensação para elas.
Pessoas tipo 3 simplesmente permanecem tão ocupadas que
não têm tempo para deixar a vida deprimi-las. O trabalho é a área
preferida de atividade e, como o valor para elas depende de que

87
tudo saia bem, sabem se comprometer integralmente com uma
tarefa. Passam sem pestanejar da ideia para a ação, com muita
pouca demora entre o pensar e o fazer.
Por isso, mantêm a programação atulhada. Há uma atividade
contínua durante todo o dia sem nenhum tempo livre para o aflora-
mento de sentimentos e emoções. Elas querem levar trabalho para
fazer nas férias, preencher o tempo de lazer com uma viagem de es-
tudos ou com uma maratona em cinco países que lhes garanta estar
ativamente ocupadas durante todo o período de descanso.
Ter tempo livre sem a garantia de saber o que se fará em se-
guida é assustador para aqueles que foram condicionados a acre-
ditar que o valor depende do que se faz e não do que se é. O
tempo livre também é evitado, porque os sentimentos pessoais
ganharão a consciência e sentimentos podem interferir na efi-
ciência da execução do trabalho.
Pessoas tipo 3 são intolerantes para com os que realizam algo
abaixo de suas capacidades e para com os que se deixam abater
pelas emoções. Elas sentem vaidade do que fazem. São pessoas cujo
amor-próprio depende mais do reconhecimento de sua produção
do que de serem adorados como pessoas. No entanto, se receberem
um elogio, assumem que foi dado ao produto e não a elas mesmas.
Em relações íntimas descobrem que se transformam para as-
sumir a aparência que teria uma pessoa íntima. Mas, frequente-
mente, percebem, ao mesmo tempo, que projetam uma imagem
de como uma pessoa empática agiria em vez de estarem conec-
tados a sentimentos que a intimidade implica. Quando se espera
que os sentimentos venham à tona, de repente, lhes ocorre o
compromisso das nove horas ou um almoço de negócios.

88
As conversas são repletas de: “Viajamos juntos”, ou “Jogamos
muito tênis”, ou “Conversamos sobre as crianças”. A atenção está
nas atividades e nas programações mais do que no tempo livre
para fazer nada e ficar juntos.
Pessoas tipo 3 têm um relacionamento que flui com eficiên-
cia; um casamento “que funciona”. Trabalhos e renda serão alta-
mente considerados. É primordial evitar o fracasso e maximizar o
êxito. Para elas, os fracassos são emoldurados como êxitos incom-
pletos; mobilização para o cumprimento dos prazos e competição
são preferíveis ao descanso.
Com o tempo, desenvolvem a capacidade de se adaptar a pa-
péis profissionais, de incorporar a imagem e as características a
uma apresentação profissional. Essa capacidade, semelhante à
do camaleão, de assumir os maneirismos de um modelo com
um papel de sucesso serve para impressionar os outros, levan-
do-as a confiar em suas capacidades. Mas pode também servir
como fonte profunda de ilusão consigo mesmo; pois substituem
as emoções verdadeiras por sentimentos que supostamente são
típicos de pessoas bem-sucedidas. A imagem assumida é capaz
de substituir necessidades e desejos autênticos.
Assim, sofrem do hábito de enganar a si e aos outros ao assu-
mir imagens que garantam respeito. Impelidas pela necessidade
neurótica de sobressair naqueles momentos em que sua aten-
ção fica tão imersa na tarefa em curso, que parecem se tornar o
protótipo ideal de seu próprio trabalho e já não sabem apontar a
diferença entre a imagem e elas mesmas.

As preocupações habituais do tipo 3 incluem:


» Identificação com realização e desempenho.
» Eficiência.
» Competição e impedimento do fracasso.

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» A crença de que o amor vem daquilo que se produz e não
daquilo que se é.
» Atenção seletiva a tudo o que seja positivo.
» Dessintonia com o que é negativo.
» Pouco acesso a sentimentos pessoais. As emoções ficam
suspensas enquanto se está em atividade.
» Apresentação de uma imagem que é ajustada para ganhar
aprovação.
» Personalidade pública muito visível.
» Confusão entre o eu real e as características adequadas ao
seu papel ou trabalho.
» Uma forma de prestar atenção a denominado pensamen-
to convergente, em que uma mente com múltiplas trilhas
se concentra numa única meta.
» Ajustar intuitivamente a apresentação pessoal, muitas vezes
ao ponto de acreditar que aquela imagem é o verdadeiro “eu”.

História de família
Pessoas tipo 3 aprenderam que o meio de obter aprovação e
amor era o sucesso no desempenho, tornando-se assim peritos
em se autopromover e em projetar uma imagem que incorporava
as características ideais de qualquer papel. Qualquer empreendi-
mento se tornava a referência para o sucesso seguinte.

“Meus feitos não eram cumulativos, era preciso continuar fazendo mais”.

As características de um tipo alcançam o ápice no final da ado-


lescência ou na casa dos vinte anos. Pessoas tipo 3 se tornam o
protótipo ideal de qualquer grupo por eles valorizado.

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“Desde que eu era pequena, minha mãe dizia que eu ia fazer algo de
especial. Quando eu era criança, não me sentia amada pelo que eu era,
mas recebia um carinho por um trabalho bem-feito. Quase todo mundo
rouba meu tempo se, no meio, houver carinho e reconhecimento”.

Por isso, se manter ocupado garante um fluxo constante de


produção, além de absorver com eficiência qualquer tempo vago
em que possam aflorar sensações de ansiedade sobre fracassos
eventuais.
Pessoas tipo 3 estão acostumadas a fazer várias coisas ao mes-
mo tempo e serão partidárias em manter aberto o maior número
possível de frentes como forma de usar o tempo eficientemente.
Quem, porém, está de fora tende a ver essa necessidade de uma
atividade polifásica contínua como uma forma de não ter tempo
para uma vida emocional.

“Posso falar ao telefone, dar comida à minha filha, marcar um compro-


misso, ouvir uma conversa, tudo ao mesmo tempo e não perder nada. É
só tendo todo o meu tempo preenchido, sem nenhum espaço morto, que
me sinto realmente em segurança. Relaxar serve para eu me preparar
para o próximo round”.

Imagem
Pessoas tipo 3 modificam facilmente sua apresentação exte-
rior e descobrem, muitas vezes, que se ajustaram intuitivamente
a fim de incorporar uma imagem que transmita sua mensagem,
ou que ajude a promover visibilidade profissional no campo de
trabalho que escolheram. Quando cônscios de si, sabem que
suspendem suas emoções enquanto trabalham e que podem re-
nunciar a si se tornando o que outros querem que sejam.

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Na medida em que não percebam seu hábito de suspender os
sentimentos pessoais enquanto é feito o trabalho, são passíveis
de acreditar que elas e a imagem que projetam são a mesma
coisa. Pode ser doloroso reconhecerem que têm necessidades e
desejos que vão contra uma imagem pública muito visível que
maximiza a eficácia de um papel.
Agências de publicidade incorporam as qualidades clássicas
das pessoas tipo 3. A classe dos publicitários conhece as imagens
que os outros valorizam e sabe embalar e promover essas ima-
gens de forma atraente.
Um desempenhador se tornará o protótipo de qualquer norma cul-
tural que seja valorizada. Um surfista terá uma prancha incrementada e o
bronzeado perfeito; um gerente exibirá um estilo carismático de liderança.

“As decisões mais importantes de minha vida foram tomadas à luz da


imagem. Tudo com base no prestígio”.

A substituição dos sentimentos reais por uma personalidade de


desempenho adequado ou satisfatório pode ser particularmente
dolorosa para pessoas tipo 3 quando descobrem que são capazes
de assumir compromissos honestos e duradouros com pessoas ín-
timas, baseados em todas as nuances adequadas e num estilo de
apresentação envolvente sem estar verdadeiramente conectados às
emoções que se ouvem descrever.
Pode ocorrer uma crise pessoal se desperta para a disparidade
entre sentimentos reais e o fato de que estiveram enganando os
outros projetando uma fachada atraente. Podem se sentir como
impostores, ou alguém que tem se safado impunemente com
uma história fraudulenta sem ser descoberto.

92
Pessoas tipo 3 estão identificadas com as imagens que proje-
tam: belas estampas de juventude, inteligência e produtividade.
Vindos de uma infância na qual apenas os bem-sucedidos eram
todos tido em alta conta, os adultos vivem com a compulsão de
correr na dianteira, de ser o vencedor digno de ser amado.
A atenção dos desempenhadores se concentra no status com-
parativo e na aquisição de símbolos de status que sejam a evi-
dência tangível de sucesso. São vaidosos de suas realizações, das
honrarias recebidas e da vitória total sobre os concorrentes. Esfor-
çam-se por estar em posições em que tenham poder sobre a vida
de outros. São narcisistas no sentido de que estão convencidos
de sua própria competência e superioridade e estão egocentrica-
mente concentrados nos projetos que, a seu ver, lhes darão valor.
Sua vaidade, porém, se baseia antes em sua capacidade de de-
sempenho, de ganho pelo trabalho, e não exatamente numa sen-
sação ilusória de um valor inato. Pessoas tipo 3 trabalham pelo que
obtêm; seu poder está em ser capaz de sobreviver à competição e
em concluir o projeto. Sentem uma angústia extrema se são inca-
pazes de ganhar status e respeito. Tanto é investido no sucesso que,
se ocorre um fracasso real, redefinem o fracasso como um sucesso
parcial, ou então põem a culpa em outros. Há uma premência em
escapar de projetos duvidosos ou de relacionamentos que este-
jam afundando e se dirigir sem demora para algo melhor. Assim,
não haverá nenhum sentimento de fracasso se outra oportunidade
promissora puder ser mobilizada com bastante rapidez.
Por isso, pessoas tipo 3 sabem mudar de emprego e de iden-
tidade num só fôlego, e, desde que haja bastante atividade e bas-
tante esperança de um futuro melhor, os sentimentos negativos
podem ser mantidos em xeque. Sua extrema adaptabilidade pro-
duz uma capacidade de movimento rápido e eficaz sob pressão.

93
Dessa maneira, são percebidos como pessoas capazes de trocar
de camisa por interesses pessoais.

Enganando a si e aos outros


Pessoas tipo 3 normalmente dizem perceber as possibilidades
manipuláveis de projetar deliberadamente uma imagem gerado-
ra de confiança. Ficam tão imersas em seus papéis que enganam
a si prestando atenção seletiva a fontes de aprovação e descar-
tando o feedback negativo, como se este fosse as uvas verdes dos
maus perdedores.
Assim, desde que as necessidades de uma imagem estejam sen-
do satisfeitas, quererão avançar com excitamento rumo a uma vitória.

“Quando tento ficar com meus sentimentos é pura confusão”.

Se for preciso sensibilidade, sensibilidade será apresentada;


mas não necessariamente sentida. Têm um fraco por desempe-
nhar papéis íntimos, por se tornar aquilo que, em sua opinião,
deveria ser um parceiro potente, ou fazer o par perfeito.
De positivo para os relacionamentos, pessoas tipo 3 dão um
apoio extraordinário às metas e aspirações de membros da fa-
mília. Esforçam-se por prover o sucesso daqueles com quem se
identificam e se regozijam com ele. São ótimos em tirar outras
pessoas do isolamento ou de emoções negativas e levá-las a ati-
vidades emocionalmente construtivas. Se identificam com a vida
em família, investem tempo e energia na família. Caso se identifi-
quem com a ideia de intimidade, se esforçam por ser um parceiro
íntimo. Contudo, caso se reconheçam em determinado trabalho,
não haverá muito tempo nem para a família nem para o amor,
devido à ânsia por sucesso pessoal.

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Relacionamentos hierárquicos
Pessoas tipo 3 querem ser a autoridade. O mais comum é
competirem por um ganho pessoal; assim, talvez, criem estraté-
gias para assumir a liderança de um grupo. Caso se identifiquem
com o empenho de uma equipe, não medirão esforços em unir o
grupo e assumir um papel de liderança não reconhecido. Ter uma
pessoa tipo 3 na equipe garante o movimento de avanço.
De positivo, são um exemplo de autoridade pessoalmente
comprometida e um ponto de união para os outros. Passam di-
retamente da ideia para a ação e estão dispostas a aceitar outras
autoridades com visões opostas.
De negativo para as interações hierárquicas, pessoas tipo 3 ten-
dem a assumir o controle trabalhando em oposição às autoridades
existentes. Há probabilidade de autopromoção exagerada ou uma
tendência de se relacionar com os outros por intermédio de um pa-
pel profissional mais do que por meio dos sentimentos.

Méritos
O tipo 3 personifica um entusiasmo contagiante por projeto
e metas futuras. Munidos de imensas capacidades para trabalhar
duro, seus exemplares podem inspirar outras pessoas a atingir
altos níveis de qualidades pessoais. Há um desejo vital em apren-
der e um talento antidepressivo para achar coisas interessantes
para fazer.
Pessoas tipo 3 possuem um talento natural para se apresentar
e expor seus projetos de modo convincente. Há um interesse em
apoiar programas sociais que ajudem as pessoas a ascender ma-
terialmente por seus próprios esforços e em desenvolver líderes
para o futuro.

95
Ambientes atrativos
Incluem pequenos negócios estabelecidos graças a esforços pes-
soais e longas horas de trabalho. Se dão bem como gerentes, vende-
dores, agentes de mídia, publicitários e produtores de imagens.
Pessoas tipo 3 se tornam o modelo de seu habitat: o protótipo
radical de esquerda, o protótipo conservador de direita. Gravitam
por ambientes nos quais possam se sobressair e evitam aqueles
em que não possam empreender. Empregos de alta visibilidade
com margem para promoção. Políticos que recebem votos por sua
imagem na mídia e pelo estilo pessoal.

Ambientes não atrativos


Empregos com futuro limitado. Trabalho que não seja presti-
gioso. Projetos de criação que exijam introspecção ou períodos de
tentativa e erro antes que haja alguma produção. Pessoas do tipo
3 são jornalistas mais do que romancistas, diretores de arte de
revistas mais do que pintores sérios que precisem de meses para
produzir uma peça.

Como pessoas tipo 3 prestam atenção


Se alguém é bom, elas têm de ser melhor, porque sua autoes-
tima depende da vitória. O valor e a segurança pessoal dependem
de quanto são capazes de fazer. Por isso, fazem, habitualmente,
várias coisas ao mesmo tempo.
A atenção raramente fica com o projeto em curso, mas passa
rapidamente para a coisa seguinte a ser feita. Praticamente não há
espaço entre os pensamentos para a reflexão, para a reconsideração
de prioridades, para prestar atenção aos sentimentos pessoais sobre
o trabalho. Veem as pessoas em termos do que possuem ou do que
podem fazer para ajudar seu projeto a se concretizar.

96
À medida que os objetivos se tornam mais bem focaliza-
dos, seus interesses aumentam e também a velocidade com
que querem trabalhar. Se considerarem outros como autôma-
tos obstruindo o caminho, os ignoram ou os contornam. E se
forem autômatos úteis ao projeto, os procura por aquilo que
podem dar.
Ninguém ama o segundo lugar. Para pessoas tipo 3 ou se
fica com o primeiro, ou não há nenhuma outra classificação.
Se os obstáculos continuarem, então se recolherá e examinará
mentalmente todas as situações similares de que é capaz de
se lembrar, esmiuçando todas as soluções relevantes do pas-
sado que tenham alguma relação com o problema atual. Esse
estreitamento da atenção para todos os fragmentos de indí-
cios no ambiente, para velhas memórias e soluções passadas
relacionadas ao objetivo presente é denominado pensamento
convergente. É o estado mental ao qual estão particularmente
adaptadas e que as ajuda a encontrar soluções criativas após
fracassarem com as rotineiras.

Identificação
Para uma pessoa tipo 3 identificação pode significar: “Tornei-
-me o protótipo daquilo que faço”. No entanto, quando ocorre a
identificação, tem dificuldade em separar o valor pessoal do valor
de sua produção. E se o produto vier a ser questionado, então se
sentirá pessoalmente atingido.
Muitas vezes, não percebe que não interrompe o trabalho
tempo suficiente para se perguntar como se sente a respeito do
que está fazendo, ou se preferiria estar fazendo outra coisa.
Isso porque é apenas uma pessoa que se esconde atrás de
uma máscara, representando um papel com o intuito de causar

97
boa impressão. A identificação, porém, pode ser suficientemente
penetrante para fazer com que assuma um papel e o viva por
muitos anos. Talvez, até que uma doença ou uma crise de meia-
-idade force uma interrupção do trabalho, dando tempo para que
aflorem seus sentimentos.
Se houver um título, uma imagem impressiva, ou muito di-
nheiro em jogo, pessoas tipo 3 são capazes de trabalhar até cair
“pela firma”, “pela empresa”, por qualquer função com a qual te-
nham se identificado, sem jamais parar para se perguntar se suas
vidas estão preenchidas pela atividade que estão fazendo.

Esperança como característica da mente superior


Os desempenhadores medem seu próprio valor em termos da-
quilo que impressiona aos outros. São vaidosos por seus empreen-
dimentos, mas acreditam ter pouco valor à parte daquilo que fazem.
Quando começam a trabalhar compulsivamente, quando arrastam
montanhas para lançar um projeto, é porque se esqueceram de si
dirigindo a atenção para um hábito neurótico de buscar sua identi-
dade por meio de um trabalho. Com o tempo, se tornam peritos em
perceber quanto se requer de energia em diferentes trabalhos.
Com frequência, pessoas tipo 3 estão convencidas de sua
própria solidez psicológica. O desarranjo emocional é para per-
dedores, para os que não têm nada a fazer, ou que não sabem
acompanhar o passo.
Não gostam de emoções pegajosas, ou não gostam de sentir
a existência de suas necessidades emocionais. Pessoas tipo 3 são
enérgicas e têm a necessidade de projetar uma imagem de oti-
mismo e sucesso.
Desempenhadores, em geral, encaram seus verdadeiros sen-
timentos quando forçados a uma redução no ritmo. Comumente,

98
param devido a uma suspensão do trabalho, ou a uma doença,
ou à intervenção do cônjuge, mais do que por uma decisão vo-
luntária de reduzir o passo. A inatividade imposta pode ser terrível
para alguém cuja visão de mundo repousa em conquistar mérito
por intermédio do trabalho.

“Se você não estiver em ação, terá a pura sensação de que não existe”.

Desempenhadores estão acostumados a agir, não a sentir, e, ha-


bitualmente, suspender suas emoções enquanto está em curso uma
atividade. Sua questão existencial se torna então: “Devo seguir o que
sinto, ou devo ficar com meu hábito de saber o que fazer?”.
O risco em seguir os sentimentos é que, inevitavelmente, perdem
o reconhecimento garantido de quando realizam coisas; e o risco de
não seguir os sentimentos é o de viver a vida como uma mentira.

“Meu primeiro impulso era fugir, não sentir nada, porque, assim que eu
tivesse muito tempo livre, a única coisa que eu sentia é que eu tinha
medo. Domingo era o pior dia. Um dia inteiro sem ter nada para fazer”.

Subtipos
Os subtipos são preocupações geradas na infância como meio
de reduzir a ansiedade. Para crianças do tipo 3, qualquer situação
capaz de prover dinheiro, posses — segurança —, prestígio, ou
uma imagem feminina, ou masculina realçada, ajudava a dimi-
nuir o medo de não ter valor aos olhos de outras pessoas.
Quando pessoas tipo 3 percebem que o que sentem hones-
tamente talvez seja diferente das normas socialmente apreciadas,
pode-se estabelecer uma crise de decisão. “Que caminho seguir?”.

99
“O do sucesso ou o da descoberta do eu?”. Com frequência, ad-
mitem esse dilema quando são confrontados pela aposentadoria,
quando imobilizados por uma doença, ou quando dispõem da-
quilo que parece um excesso de horas vagas.

Imagem masculina ou feminina em relacionamentos com


uma pessoa
Pessoas tipo 3 tendem a adotar uma imagem sexualmen-
te atraente e muitas vezes percebem que estão desempenhando
um papel. Ser reconhecido como fisicamente atraente ou sexual-
mente potente é visto como uma prova de valor pessoal, e elas
sabem competir por serem atraentes aos olhos de outras pessoas.

Prestígio em grupos sociais


Pessoas tipo 3 têm a preocupação de apresentar uma boa
imagem social. Sua apresentação pessoal se modifica para assu-
mir as características apreciadas do grupo. Elas querem conduzir
o rebanho.

Segurança na área da autopreservação


Pessoas tipo 3 estão envolvidas com dinheiro e posses ma-
teriais como forma de reduzir a angústia quanto à sobrevivência
pessoal. Trabalham duro para produzir o dinheiro e o status que
lhes dão segurança.

O que ajuda pessoas tipo 3 a evoluir


Sentimentos reais, muitas vezes, interferem na capacidade de
desempenho e podem ser confusos para uma pessoa que nunca
percebeu em si a existência de uma vasta gama de sinais internos.
Por isso, os desempenhadores precisam identificar os momentos

100
em que os compromissos e as tarefas começam a controlar os
sentimentos e precisam aprender a aguardar os afloramentos de
reações autênticas.

Elas podem ser ajudadas:


» Aprendendo a parar.
» Reservando um tempo para o afloramento de emoções e
de opiniões autênticas.
» Reconhecendo quando as verdadeiras habilidades são substi-
tuídas por fantasias de sucesso pessoal.
» Não se desviando de problemas, iniciando novas ativida-
des, reestruturando o fracasso em sucesso, ou desacredi-
tando fontes de crítica.
» Reconhecendo o adiamento da felicidade emocional. “Serei
feliz depois da próxima promoção”.
» Identificando uma profunda diferença entre um “eu” pri-
vado e emergente e o “eu” público, desempenhador. Ter a
percepção de estar separado da imagem.
» Notando o desejo de ser o cliente perfeito da terapia. De
revelar sonhos freudianos para o analista, de esmurrar o
travesseiro para o terapeuta de Gestalt. De relatar expe-
riências energéticas ao guru. A terapia se torna um traba-
lho para dominar.
» Reconhecendo a existência de sentimentos, primeiro desco-
brindo e depois nomeando as sensações subjacentes a eles.
Por exemplo, se for difícil identificar uma emoção, comece
dando nome a qualquer sensação física que sinta no seu cor-
po. “Meu rosto está quente” ou “minha barriga parece tensa”.
Dar nome a sensações físicas ajuda a reconhecer o que está
sentindo.

101
» Aprendendo a dizer a diferença entre fazer e sentir. Lembran-
do-se de desviar a atenção do trabalho para os sentimentos
a respeito do trabalho.
» Aprender a se deixar emocionar.
» Dando apoio a si na opção por sentimento em detrimento
do status.

Coisas que pessoas tipo 3 devem perceber:


À medida que a atenção é redirecionada das preocupações
relacionadas à imagem e de um estilo de vida workaholic, é ne-
cessário notar as seguintes reações:

» Confusão a respeito de sentimento. “Possuo o sentimento


certo?”, “Qual o verdadeiro?”.
» Uma vida de fantasias superativa.
» Fabricação de uma imagem fantasiosa de ser iluminado
ou “ser um exemplar evoluído do tipo 3”.
» Desejo de resultados ultrarrápidos, sentindo-se melhor
quando substitui sentimentos por trabalho.
» Necessidade de provas de sucesso. Desejo de se tornar o
instrutor.
» Hábito de se separar dos sentimentos quando falam em
questões pessoais. Crença de que essas questões foram
resolvidas assim que se deu nome a elas e se conversou
sobre elas, sem ter de sentir emoções.
» Sentimento de como se fosse um santo quando os outros
criticam: “Já realizei tanto que não preciso ouvir”.

102
TIPO 4: O romântico trágico

O dilema
Pessoas tipo 4 se lembram de abandono na infância. E, em
consequência, sofrem de um senso de perda e privação. Sua con-
dição interior se reflete no protótipo literário do romântico trágico
que, tendo obtido reconhecimento e sucesso material, permanece
firmemente focado no amor perdido, inalcançável. Ou num amor
futuro e numa imagem de felicidade que só o amor pode trazer.
Para compreender essa visão de mundo, é preciso se projetar
num estado mental no qual as decisões se baseiam na química
cambiante do humor tanto quanto na percepção de fatos reais.
Também, em que as conversas são lembradas tanto por seu tom
emocional e insinuações quanto por quaisquer palavras que real-
mente tenham sido expressas.
Assim, a depressão é um humor frequente. Ela pode levar a
vida a um tipo de paralisação em que os dias são passados na
cama, a mente lamuriosamente atada a algum erro inalterável
do passado. “Se ao menos, se ao menos, se…”. A atenção se trava
como a agulha de um toca-discos emperrada num sulco cerebral
profundo. “Se ao menos eu tivesse agido de forma diferente. Se ao
menos houvesse mais uma chance. Se…”.
Pessoas tipo 4 são unânimes na compreensão do humor
sombrio da depressão. Alguns o aceitam fatalmente, sucumbindo
a longos períodos de isolamento. Outros combatem a depressão
com hiperatividade contínua. Outros ainda canalizam suas emo-
ções para uma profunda exploração artística do lado sombrio da
experiência humana.

103
A melancolia cria uma atmosfera de doce pesar. Pessoas tipo
4 se sentem intensamente vivas nessa cambiante névoa emocio-
nal. Nada é permanente, porque o humor pode mudar amanhã.
A questão central é a perda e uma consequente baixa da au-
toestima. “Se eu tivesse mais valor, eu teria sido abandonado?”.
Muitas vezes, há uma história de abandono puro e simples
e a necessidade de lamentar uma perda prematura; no entanto,
esse sentimento de abandono é dolorosamente recriado na vida
adulta por meio de uma atração compulsiva pelo inalcançável e
pelo hábito — em geral, não reconhecido — de rejeitar tudo o
que seja fácil de obter. Inconscientemente, concentram a atenção
nos detalhes mais refinados daquilo que falta, de modo que, por
comparação, o que está à mão parece sem atrativos. A atenção
circula atrás do melhor naquilo que está faltando, e por compara-
ção tudo o que esteja disponível parece sem interesse e sem valor.
Um dos matizes mais suaves da melancolia é a associação da
tristeza pela perda do amor com a expectativa romântica de um fu-
turo parceiro ideal. Românticos trágicos têm propensão a sabotar
ganhos reais. Quando a atenção é trazida para eventos cotidianos
de um caso de amor da vida real, podem se tornar furiosamente
desapontados ao ter de catar as meias do parceiro e de tolerar as
idiossincrasias do outro. A imagem de um futuro esplêndido que
deveria surgir por intermédio do amor é ameaçada pelo fato de
que um relacionamento real contém alguns momentos aborreci-
dos. Pequenas falhas na apresentação de um parceiro se tornam
motivos de importante irritação. Há uma raiva por ter de se adaptar
à falta de gosto de alguém e uma necessidade impetuosa de se
preservarem para o futuro despertar de um amor.
Quando parecer que a intimidade exigirá um sacrifício de seus
padrões elitistas, pessoas tipo 4 quererão afastar seus parceiros,
e forçá-los a partir antes que a imagem de um autêntico e con-

104
sumado relacionamento seja corrompida por uma influência ne-
gativa. Torna-se claro que a culpa é do outro. Sentindo-se amar-
gamente frustradas, quererão dizer as coisas que mais firam o
parceiro a fim de deixar perfeitamente claro quanto foram traídas.
Assim que o relacionamento for rechaçado para uma distância
segura, o romântico tornará a sentir sua falta. Nos relacionamentos
há um padrão de vaivém: afastar o que está disponível e atrair o que
é difícil de obter. A grama é sempre mais verde a distância; é quando a
atenção se desvia para os pontos altos de uma parceria ausente.
Pessoas tipo 4 mantêm a vida a uma distância segura do
comprimento do braço. Não longe demais por medo de que a fa-
miliar intensidade da nostalgia se torne em negro desespero; mas
não perto demais. Pois, embora haja muita ânsia por intimidade
com o outro, a intimidade efetivamente desencadeia o medo de
ser considerado imperfeito e de ser potencialmente abandonado
de novo. Se o parceiro se cansar de ser mantido a distância de um
braço e ameaçar partir, poderá se seguir uma doença repentina ou
uma intensa recriminação, pois mais uma vez anseiam pelo con-
tato. Na verdade, apelam para todas as emoções quando assoma
o abandono. Haverá cenas teatrais e violentas acusações, gestos
suicidas e profundo desespero, à medida que a perda original es-
tiver sendo recriada numa maneira altamente dramatizada.
Há uma sensação de ser forasteiro, de ser estranho à realidade
comum, de ser único e singularmente distinto, de ser um ator que
percorre as cenas da própria vida. Renunciar ao sofrimento de uma
vida emocional exaltada significaria sacrificar a sensação de ser espe-
cial, coisa que o drama tende a gerar. Para pessoas tipo 4, a perspec-
tiva de se tornarem felizes talvez ameace fechar também o acesso a
um mundo emocionalmente profundo. Pior de tudo, há o risco de se
contentar com uma visão prosaica e uma vida comum.

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As preocupações do tipo 4 incluem:
» A sensação de alguma coisa faltando à vida. Outros têm o
que lhe falta.
» Uma atração pelo distante e pelo inalcançável. Idealização
do ser amado ausente.
» Humor flutuante, boas maneiras, luxo e bom gosto como
sustentáculos exteriores da autoestima.
» Um vínculo com o humor da melancolia. Ter como meta
a profundidade do sentimento mais do que a simples
felicidade.
» Impaciência com a “vulgaridade dos sentimentos comuns”.
Necessidade de intensificar os próprios sentimentos por meio
da perda, da imaginação exaltada e dos atos dramáticos.
» Busca pela autenticidade. A sensação de que o presente não
é real, de que o verdadeiro eu precisa emergir no futuro por
intermédio da experiência de ser profundamente amado.
» Uma afinidade com o que é essencial e intenso na vida. Nas-
cimento, sexo, abandono, morte e eventos cataclísmicos.
» O enfoque se alterna entre os traços negativos do que se tem
e os traços positivos do que está distante e é difícil de obter.
» Sentimentos de abandono e perda, mas também se presta
a uma emocionalidade e à dor de outras pessoas. Uma
capacidade de dar apoio aos outros em crise.

História de família
O tema subjacente é a perda na infância. Pessoas tipo 4 des-
crevem muitas versões de serem abandonados por alguém im-
portante no início da vida. Muitas vezes, descrevem um abando-
no puro e simples, sendo o exemplo mais comum o divórcio, no
qual foi embora a mãe ou o pai por eles amado.

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Também se sentiam abandonados porque um dos pais ia e vi-
nha, ou era alternadamente cruel e bondoso. A criança se apegou
à promessa de afeição e de amor e ficou com raiva quando esta
não foi cumprida.

“Mas quando as pessoas perguntam o que está me faltando na vida e o


que estou procurando, não repondo que estou procurando ‘aquela coi-
sa, ou aquela pessoa, ou aquele dinheiro’. Estou em busca disto: aquele
sentimento de conexão com algo maravilhoso que está sempre oculto e
sempre fora de alcance”.

Outro tema é o de ter nascido numa família pesarosa, em que


a criança era valorizada por sua identificação com o sofrimento de
um adulto próximo.

Raiva e depressão
Há com frequência um sentimento de raiva de ter sido priva-
do de alguma coisa, de raiva contra o pai ou contra a mãe que
o abandonou e causou tanto pesar, enquanto outros receberam
mais. É provável que essa raiva apareça como um sarcasmo mor-
daz, como uma necessidade de reduzir os outros verbalmente, de
igualar o placar por ter sido tão duramente ferido.
A raiva de um romântico trágico, em geral, se volta contra si,
na forma de intensa autocrítica por não ter sido digno o bastante
para merecer amor. Essa crítica dirigida internamente faz com que
se sinta desamparado e produz longos períodos de inércia, du-
rante os quais não parece haver nenhuma linha de ação possível
que leve à felicidade. A depressão é baseada em sentimentos de
tristeza por ter perdido uma conexão humana básica e valiosa.

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Depressão e melancolia
Pessoas tipo 4 comparam a depressão a estar aprisionados em
um poço negro. Eles se retiram para dentro de si mesmas, vão para
um canto solitário da casa e eliminam aos poucos o contato exter-
no. Há a sensação de que a vida nunca foi tão ruim assim antes e
uma convicção de que a situação não mudará. Se a depressão se
aprofunda, ofertas de ajuda começam a soar absurdas em face das
dificuldades. A ajuda é recusada e a pessoa é impotente para agir em
seu próprio favor. A atividade para e, por fim, se perde a esperança de
que alguém possa compreender a situação interior.
O humor melancólico se origina da mesma sensação de perda
que produz uma depressão desconfortável. Pessoas tipo 4 dizem
preferir a riqueza da melancolia àquilo que outras pessoas descre-
vem como felicidade. A melancolia é um humor que promove a vida
daquele que não foi aceito, ou que foi abandonado, a uma postura
de sensibilidade temperamental única.

“Estou neste mundo como um forasteiro, e ninguém compreende quem eu


sou, o que me faz sentir diferente e mal compreendido. Isso também traz
uma espécie de desespero contido. Ninguém me entende, sou um elemento
estranho e, por isso, atormentado por não pertencer a parte alguma, mas
também, por ser atormentado, tenho uma intensa vida interior. Vivo nos li-
mites extremos de tudo o que os seres humanos podem suportar no tocante
a sentimentos”.

É muito fácil localizar uma pessoa tipo 4 que tenha entrado


em depressão. Há muita lamentação contínua por tudo quanto
falte na vida. A melancolia, porém, embora também esteja baseada
no anseio, projeta eventos ordinários nas dimensões do estético. O
anseio assume a característica de busca, e a depressão é transforma-
da numa apreciação poética da condição humana.

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Dor e criação
Há uma linha tênue entre viver como expressão artística a se en-
volver com a dor como forma de criar uma imagem estética de si
mesmo. Também, a imagem do artista que prefere morrer de fome
numa morada miserável a comprometer sua vida criativa vendendo
para ter uma subsistência lucrativa. A vida como arte e a vida como
dor estão com frequência entrelaçadas, visto que o sofrimento pode
sensibilizar nossa apreciação do que é mais essencial na vida.
As perdas destacam a pessoa da massa comum. Provisoria-
mente, a tornam um ser trágico e diferente e, de certo modo,
especial, visto que nesse período de tempo ela sente de forma
mais profunda que os outros.
O dilema de uma criatividade que é incitada pela dor, a certeza
de que, se seus demônios fossem expelidos, seus anjos também
receberiam um choque. O 4 é o lugar do artista no eneagrama, o
que também indica um temperamento que prefere o estado de
evocação sentimental e emocional.

Oscilações do humor
Românticos trágicos vivem nos polos extremos da vida emocio-
nal. Há uma tendência a oscilar entre a depressão em um extremo e
a hiperatividade no outro.
Há três tipos de pessoas tipo 4. Todos os três sentem que algo
vital da vida foi levado embora e estão buscando recuperar o que foi
perdido, mas os diferentes tipos partem nessa busca por meios radi-
calmente distintos.
São eles: Os oscilantes no humor entre os dois extremos emo-
cionais. Os deprimidos, que tendem a se recolher interiormente
absorvidos em si na busca de um significado. Os hiperativos, que
não têm absolutamente a aparência de deprimido e sabem entrar e

109
sair com rapidez de atividades e de casos de amor, tentando extrair
um sentido das mesmas fontes externas que parecem tornar outras
pessoas felizes. No entanto, o 4 é aquele cujo humor oscila entre os
polos de depressão e hiperatividade que exibe a imagem mais fiel da
emoção interior descrita por todos os românticos. Ele vive mudanças
radicais na emoção; pois o amor se transforma em ódio e a paixão
em apatia. É provável a atração por amores impossíveis ou destru-
tivos, acompanhada de cenas dramáticas e a descarga de intensos
sentimentos sob a forma de fantasias suicidas.
Pessoas tipo 4 dizem que o suicídio surge em suas mentes
como uma “opção” no caso de a vida começar a ficar muito ruim,
pois estão propensos a um humor sombrio mordaz e sarcástico,
que revela sua raiva interior. Descrevem o suicídio como “algo
com que se pode contar se a vida exigir demais”, sem nenhuma
intenção firme de colocá-lo em prática.

Vida emocional dramatizada


Pessoas tipo 4 dizem que os outros acham suas emoções
muito intensas, que têm de refrear seus sentimentos, porque suas
paixões são muito fortes. Magoam-se quando são esquecidos so-
cialmente: um aniversário ignorado causa profunda frustração, um
comentário casual leva à indisposição contra os amigos.
Por intensidade querem viver nos extremos da reação emocio-
nal. Um desses extremos é o sofrimento, o outro é a fantasia da
total satisfação. Não há muita experiência com a gama de senti-
mentos intermediários.
Por exemplo, uma mulher 4, sozinha num recinto, pode ficar
tão absorta em seus próprios devaneios a respeito de “como me
senti quando ele me feriu”, ou “como será quando ele me amar”,

110
que ela pode perder a noção de como se sente em relação a ele
no momento presente.
O acesso a sentimentos verdadeiros fica bloqueado na medi-
da em que um 4 se identifica com os sentimentos exacerbados
oriundos de um excitamento do humor.
Se fizerem a um 4 uma pergunta: “Como vai você?”, a primeira
reação, talvez a mais autêntica, é contornada à medida que passa
por uma série daquilo que parece ser considerações internas de
como ele — ou ela — realmente se sente. A resposta é o resulta-
do de uma cadeia de ideias recordadas e associadas a diferentes
maneiras de se sentir que encobrem a reação espontânea. Esse
hábito pode transformar uma resposta simples tal como “estou
bem” em, “bem, tenho atravessado muitas mudanças difíceis”.

Relacionamentos íntimos
Uma quantidade tremenda de atenção interna é dirigida para
a preparação da chegada do ser amado. É como se o presente
existisse como um tempo para se aprontar para o futuro desper-
tar para o amor. Se não estiver havendo nenhum relacionamento
real, então o encontro futuro é imaginado com grande sentimen-
to. Se um relacionamento concreto estiver ocorrendo, então é ne-
cessário se afastar a fim de saborear a ideia do encontro com o
ser amado.
Os relacionamentos são prejudicados pelo hábito da pessoa
tipo 4 concentrar a atenção nos aspectos negativos de tudo o que
esteja presente. Existe a crença de que o verdadeiro eu surgirá por
intermédio do recebimento do amor, de que o drama interior se
amenizará e de que nascerá uma pessoa simples e contente que
se sentirá inteira e completa, sem a necessidade de ansiar por mais
nada. Contudo, a fim de que tal sentimento de inteireza se expan-

111
da, a atenção deveria primeiro se estabilizar no presente. Seria pre-
ciso encontrar o que de bom existe e aceitá-lo como suficiente.
Esse padrão de relacionamento tipo elástico coloca um ro-
mântico na posição de ser abandonado repetidas vezes, mas
de uma forma controlada. Se a intimidade se torna assustado-
ra demais, então o parceiro começa a parecer um pouco ex-
cêntrico, o que justifica uma briga e a fuga para a conhecida
postura da separação.
Com a distância, as qualidades do parceiro sobressaem de novo,
e o 4 fica outra vez atraído para o relacionamento. A possibilidade de
receber amor está tão vinculada à possibilidade de abandono que é
mais seguro rejeitar do que correr o risco de outra perda.
Manter a intimidade a uma distância segura é uma forma
de arte para pessoas tipo 4. Nem longe, nem perto demais.
Suficientemente longe para observar seletivamente as melho-
res características de um parceiro e suficientemente perto para
desejar mais.
De positivo, pessoas tipo 4 querem manter a intensidade do
relacionamento. Elas são idealmente talhadas para assistir outros
em suas crises e não se curvarão nem sob uma emocionalidade
feroz nem sob o pesar do outro. Valorizam a estética de um rela-
cionamento: o amor da beleza, das insinuações, do ambiente e da
apresentação pessoal. Sabem que as pessoas mudam com o pas-
sar do tempo e são capazes de permitir que um relacionamento
se desenvolva atravessando várias fases. São capazes de começar
tudo de novo e sabem enterrar um passado negativo.
De negativo, fazem comparações invejosas entre si e o que os
outros parecem estar tirando de seus relacionamentos. A tristeza
os leva a acreditar que o pouco caso dos outros foi a causa dessa
tristeza. Ficarão à espera da desforra por terem sido magoados.

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Também querem ser essenciais na vida emocional dos filhos e
parceiros. Gostam de falar sobre experiências e sentimentos e de
ser procurados e consultados sobre questões de família.

Relacionamentos hierárquicos
Pessoas tipo 4 tendem a ignorar autoridades subalternas e a
conceder enorme soma de respeito às “grandes” autoridades. Auto-
ridades subalternas — o policial ou o comerciante que faz você espe-
rar numa fila — devem ser ignoradas ou contornadas. Mas grandes
autoridades — tais como reis e rainhas ou pessoas aclamadas pela
crítica — devem ser encaradas com respeito. Elas tendem a acreditar
que regras e regulamentos ordinários não se aplicam a eles.
Se a autoridade for punitiva ou restritiva, o 4 tenderá a que-
brar todas as regras de comportamento e a escapar tanto quanto
possível. A grande autoridade, por outro lado, é muito admirada,
sobretudo se a situação der suporte a uma imagem de singula-
ridade e de apresentação de elite. Um 4 quer ser selecionado por
seus talentos únicos e quer ter por mentores e estimuladores as
melhores pessoas ao redor.
Assim, tornam-se pacientes de analistas de renome mun-
dial e confidentes de gênios excêntricos. Há uma necessidade de
ser reconhecido por pessoas eminentes e de serem amados por
aqueles que acreditam estar em contato com a real profundidade
das coisas.
De positivo, pessoas tipo 4 sabem perceber talentos genuínos
e tonalidades de sentimentos em outras pessoas. Sabem distin-
guir “o melhor” do “mais conhecido”. Transformarão uma apre-
sentação sem gosto, e sem estilo, em algo belo e singular e são
capazes de ver possibilidades extraordinárias numa situação co-
mercial comum.

113
De negativo, competem com colegas pelo respeito das grandes
autoridades. Tornam-se rancorosos quando não reconhecidos e não
gostam de estar em posição servil, nem de trabalhar num ambiente
comum, a menos que seja a serviço de “meu verdadeiro trabalho
como artista” ou de “minha verdadeira vocação como místico”.

Padrões de elite
A ideia de ter sido vitimizado por perdas contribui para uma
baixa na autoestima. Sentem que não teriam sido abandonadas se
tivessem sido atrativos ou tido mais valor. Há um sentimento de ter
perdido na vida por causa de algum defeito fatal na personalidade
que torna um 4 menos valoroso do que os que receberam amor.
Com frequência, pessoas tipo 4 desenvolvem uma imagem
pessoal dramatizada como uma forma de compensar sentimen-
tos de baixa autoestima. Há uma elegância singular na apresen-
tação pessoal; uma expressão do fato de que se é diferente por
meio de roupas e maneiras e por estar à frente do estilo corrente.
As páginas das revistas de alta costura estão repletas de pes-
soas tipo 4 dramaticamente na moda. São elegantes e esguios e
estão arrumados e vestidos por criações exclusivas que nunca são
destinadas à massa comum. Apresentam uma imagem exterior
diametralmente oposta aos sentimentos íntimos de vergonha por
terem sido desamados e abandonados no passado. Questões de
bom gosto e distinção podem se tornar essenciais para a sobre-
vivência. O toque dos tecidos comerciais é inaceitável; seja o que
for que esteja em liquidação não é o que vão usar.
Uma versão extrema da preocupação com a imagem estética
aparece na anorexia nervosa e em outros distúrbios psicológicos nos
quais haja uma tentativa inexorável de forçar o corpo a se adequar a
um padrão de elite.

114
A não conformidade elitista
Uma espécie de amoralidade pode se desenvolver à medida
que a autoimagem de um 4 evolui do excluído rejeitado para
alguém que se coloca à parte e ligeiramente acima da massa co-
mum. Existe uma atração para quebrar as regras sociais. O que, de
acordo com a adesão a padrões de elite, pode ser encenada como
criminalidade de luvas de pelica, por exemplo, furtar nas butiques
apenas suéteres de lã angorá branca.
Pessoas tipo 4 se deleitam em “escapar impunemente”. Gos-
tam da emoção dos delitos secretos e de atuar nos limites do
escândalo. Há uma excitação em cortejar a desgraça, em ser ex-
cêntrico ou difícil e, portanto, em receber tratamentos especiais.
Sentimentos de indignidade se aliam a um desejo raivoso de
se desforrar das pessoas que parecem estar tirando mais da vida.
A associação do masoquismo e da raiva poderia estar encapsu-
lada na imagem da matrona da sociedade, que serve um jantar
perfeitamente cronometrado e fica à espera do momento certo
para anunciar que está apoiando uma causa controversa que a
maioria de seus convidados despreza.

“A situação também fica crítica, para mim, quando as coisas se tornam


previsíveis ou tranquilas demais. Me dá vontade de alterar o clima di-
zendo algo chocante que dê a entender que estou achando a conversa
uma chatice. É também minha maneira de provocar algum estranho
que seja especial e que instintivamente perceberia que estou tentando
elevar o nível de uma conversa ruim”.

Inveja
A inveja é alimentada pela crença de que os outros estão des-
frutando uma satisfação emocional que vem sendo negada à

115
pessoa tipo 4. Por isso, tentarão minorar sentimentos de privação
alterando o cenário, usando ornamentação, ou se cercando de
coisas atraentes. Também disputam as atenções de uma pessoa
popular na esperança de se sentirem mais dignos.

“Momento a momento é a sensação de que algo está faltando”.

A inveja é também um motivador poderoso. É como ficar es-


premido entre o “não posso ter essa coisa” e o “preciso ter essa
coisa”. A pressão da inveja pode transformar o desespero numa
forma de ação que atravessará qualquer obstáculo a fim de alcan-
çar a felicidade. Há uma disponibilidade de andar para frente até
que o sucesso comece a se materializar. Paradoxalmente, quando
os resultados começam a surgir, a atenção, com frequência, se
desvia para interesses diferentes.

Méritos
A vida toda passada junto ao sofrimento torna os românticos
particularmente aptos a colaborar com pessoas atravessando cri-
se ou em aflição. Têm um vigor incomum para ajudar os outros
a atravessar episódios emocionais intensos e disposição de ficar
com um amigo durante longos períodos de recuperação.
A busca por um significado profundo nas coisas os leva a
acreditar, erroneamente, que relacionamentos despreocupados
são levianos e, portanto, indignos de consideração.

Ambientes atrativos
Pessoas tipo 4, normalmente, têm dois empregos: “O emprego
que me dá dinheiro e o meu verdadeiro emprego como artista”. São
atraídos por ambientes que exigem disciplina física, como meio de

116
se conformar a padrões especiais. Bailarina, cantora da noite, modelo
fotográfico. São donos de ateliês, decoradores de interior, coleciona-
dores de antiguidades e donos de excelentes lojas de artigos de se-
gunda mão. São metafísicos e psicólogos das profundezas humanas;
buscam uma conexão com planos superiores da mente. São conse-
lheiros e orientadores psíquicos, feministas, ativistas dos direitos dos
animais. São atraídos para a religião, para o ritual e para a arte.

Ambientes não atrativos


Empregos mundanos em ambientes comuns. “Trabalho num
escritório, mas aquele não sou eu.” Trabalho íntimo com pessoas
que ganham mais ou que têm mais. Serviços administrativos,
prestação de serviços, anonimidade. Um emprego em que talen-
tos específicos não sejam vistos.

Como pessoas tipo 4 prestam atenção


Românticos raramente vivem no presente. Seu foco de aten-
ção viaja para o passado, para o futuro, para o ausente, para o
difícil de obter. Há uma preocupação subjacente com tudo o que
pareça estar faltando: o amigo ausente no banquete, as associa-
ções perdidas, etc. Dizem que sentem um elo íntimo com amigos
ausentes e que, na verdade, seus sentimentos de afeto podem se
fortalecer com uma separação forçada.
Quando um 4 é forçado a se concentrar no que está ocorrendo
no momento atual, há uma sensação de estar sendo desaponta-
do, de estar vendo os aspectos negativos da situação, talvez, pela
primeira vez. Involuntariamente, empenha a imaginação de tal
forma que os aspectos positivos ausentes se tornam um dese-
jo opressor e, usando o mesmo desvio de atenção, amplifica na
imaginação os aspectos negativos presentes de modo a parecer
muito menos atraentes do que são na realidade.

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É espantoso notar que uma alta porcentagem de pessoas tipo
4 relata ter o que poderia ser chamado de autoimagem anoré-
xica, na qual, ao se olharem num espelho, seus corpos parecem
disformes e obesos, quando, de fato, são relativamente magros.
O mesmo desvio inconsciente da atenção que serve para alterar
imaginativamente as aparências físicas, também pode agir como
amplificador das reações emocionais.

Estilo intuitivo
Pelo seu lado neurótico, pessoas tipo 4 tendem a exagerar
seus climas emocionais. Dizem que se sentem tão próximos de
alguém a distância como no momento em que o outro está fi-
sicamente presente no recinto. Também afirmam que assumem
as emoções alheias, que sua vasta experiência com humores va-
riáveis lhes permite se adequar à tonalidade emocional de outros
como forma de se manter ligados.
Temendo o abandono e detestando ser ignoradas, crianças
tipo 4 aprendem a internalizar uma conexão sentimental com
pessoas amadas que poderiam ir embora.
No entanto, pessoas tipo 4 se sentem muitas vezes oprimidas
pelo hábito de assumir as emoções alheias. Dizem-se vulneráveis
captando a dor e a depressão sem perceber e falam também que
podem passar um dia inteiro sem se dar conta de que o humor
que carregam, talvez, não seja o deles.
Têm ainda uma sensibilidade infalível para se igualar à qualidade
emocional ou sentimental de clientes, membros de família e ami-
gos. Isso é muito mais do que uma ideia ou hipótese sobre o que
um amigo ou amiga possa estar sentindo; é um verdadeiro acompa-
nhamento das flutuações do humor do outro dentro do próprio corpo.

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A conexão original como a mente superior
A sensação de perda na infância de um 4 prossegue na vida
adulta na forma de uma consciência de fundo de que está faltan-
do certo fator determinante para a felicidade. Ele pode ter de tudo
e saber que algo está faltando. Assim, como a vida objetiva não
produz satisfação, há em geral a sensação de duas realidades: o
mundo objetivo e o que está por trás do cenário.
Pelo lado neurótico, pessoas tipo 4 são ferozmente determi-
nadas a se agarrar ao lado negro do sentimento. Querem per-
manecer únicos e resistem em ser remoldados como pessoas
felizes comuns.

A virtude da equanimidade — o equilíbrio


A inveja descreve uma atração compulsiva para o indisponível
ou inexistente. Pessoas tipo 4 podem empregar muito tempo e
energia tentando obter algo atraente apenas para achar defeito
quando estiver ao alcance. Para aquelas gravemente obcecadas, o
desejo de possuir e a necessidade de rejeitar podem surgir quase
ao mesmo tempo. Elas admitem se sentir atraídas por pessoas
indisponíveis que sabem de imediato que não lhes farão bem, ou
por pessoas relutantes em se comprometer num relacionamento.
O equilíbrio é a resolução do sofrimento causado pela atração
por aquilo que não podem ter e pela rejeição daquilo que veio
até as mãos. Ainda é o reconhecimento de que possuem bastante
daquilo de que realmente precisam.
O processo de encarnar a virtude da equanimidade começa com
o fortalecimento da capacidade da observação de si até o ponto em
que se é capaz de reconhecer os momentos em que a atenção se
desvia para o passado, para o futuro, para o distante ou para o que é

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difícil de alcançar. Pessoas tipo 4 sentirão equanimidade quando fo-
rem capazes de reverter sua consciência suavemente para o presente
e prestar atenção à satisfação corporal que está no presente.

Subtipos
Competição nos relacionamentos com uma pessoa
Pessoas tipo 4 muitas vezes competem devido a uma neces-
sidade de ter valor aos olhos de uma mulher competindo com
outra por um homem, ou um homem competindo com outro por
uma mulher.
Num relacionamento não sexual, a competição é encenada
como “o desejo de ter o respeito das melhores pessoas”.
Também apresentam vergonha de não corresponder aos pa-
drões grupais. Então, competem. Quanto à sobrevivência pessoal,
recriam a possibilidade da perda por meio de ações imprudentes.
A excitação de jogar no limite do desastroso.

O que ajuda pessoas tipo 4 a evoluir


Com frequência, românticos buscam ajuda a fim de superar uma
depressão ou estabilizar intensas oscilações de humor. Eles preci-
sam reconhecer os momentos em que a atenção se desvia para a
idealização do inalcançável ou para a busca de defeito naquilo que
é possível ter.

Como pessoas tipo 4 podem se ajudar:


» Aceitando o fato de que a perda na infância foi real, que
precisa ser pranteada e finalmente posta de lado.
» Reconhecendo a absorção em si que ocorre durante pro-
fundas mudanças de humor. Rompendo essa absorção
mediante o movimento em direção aos outros e da con-
centração naquilo que é importante para o outro.

120
» Tendo o hábito de concluir projetos. Analisando as formas
pelas quais projetos benéficos são sabotados ou abando-
nados.
» Analisando como os sentimentos de vitimização são per-
petuados por meio da rejeição de tudo o que seja fácil de
se obter.
» Encontrando em si mesmo uma versão das qualidades in-
vejadas nos outros.
» Permanecendo conscientes do hábito de atrair os outros
para explosões dramáticas.
» Admitindo a atração secreta por aqueles que não se dei-
xam levar por essas explosões.
» Honrando a capacidade de sentir empatia pela dor alheia,
mas aprendendo a desviar a atenção voluntariamente.
» Notando quando a atenção flutua. Percebendo como se
presta atenção especial a aspectos negativos da situação
presente.
» Formando interesses e amizades múltiplas como meios de
intervir na depressão.
» Construindo o hábito do exercício físico como forma de
alterar o humor.

Coisas que pessoas tipo 4 devem perceber:


» Como analisam um milhão de ângulos e abordagens do
mesmo problema como forma de não sair do lugar.
» Que não querem ser categorizadas nem vistas como al-
guém que tem um problema comum.
» Sentir que os outros não compreendem a singularidade e a
gravidade da situação psicológica.

121
» Que querem uma cura mágica.
» Que lamentam muito: “É tarde demais para mudar”. Ou:
“Se eu ao menos tivesse agido de outra forma”.
» Seus pensamentos e gestos suicidas.
» Seus desejos de luxo: “Lavar roupa está abaixo de mim”.
» Suas comparações invejosas com outros: “Ela é mais boni-
ta”. “Ele se veste bem”.
» Como seduzem e rejeitam. Acham defeitos nos outros, an-
tes que sejam rejeitados por eles.
» Têm uma intensa autocrítica; uma percepção equivocada de
si e do próprio corpo como sendo de certa forma repugnan-
te. Às vezes, uma imagem anoréxica de si é percebida como
obesidade quando não é objetivamente assim. Em grande
maioria, têm anorexia ou bulimia como sintomas.
» Sarcasmo mordaz, diminuir os outros. Colocar a culpa do
próprio sofrimento nos outros.
» Que pedem conselho e depois o rejeitam. Não são capazes de
abrir mão da intensidade do sofrimento.

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TIPO 5: O observador

O dilema
O ego do observador é como um castelo, com uma estrutura
alta e impenetrável, com minúsculas janelas no topo. O ocupante
raramente deixa seus muros, observando em segredo quem vem
até a porta e evitando ao mesmo tempo ser visto. Observadores
são pessoas muito privadas. Gostam de viver em lugares ermos,
longe da tensão emocional. Com frequência, estão em casa com
o telefone desligado e observam a ação à margem da multidão,
fazendo uma tentativa exploratória de tomar parte.
Pessoas tipo 5 se sentiram incomodadas quando eram crianças;
as paredes de seu castelo foram rompidas e sua privacidade rou-
bada. Sua defesa estratégica é a retirada, minimizar o contato, sim-
plificar suas necessidades, fazer todo o possível para proteger seu
espaço privado. Elas afirmam que inventam formas elaboradas para
criar uma distância segura, porque, assim que alguém se aproxima
demais, perdem sua defesa fundamental. O mundo exterior parece
intrusivo e perigoso. Em consequência, preferem acolher o pouco que
encontram pelo caminho a se arriscar a deixar os muros seguros do lar.
Elas podem ser ermitãs, levando uma vida reclusa e em geral
mental, dentro dos limites de uma casa pequena, se aventurando
a sair apenas até a biblioteca e o mercado. Podem ser também
bastante públicas, mas numa posição de controle remoto, em que
as interações da linha de frente são feitas por outros que provavel-
mente farão relatórios por telefone. Quando aparecem em público,
é provável que estejam se escondendo numa pose, o que significa
que minimizaram seus sentimentos antes de entrar em cena.

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Pessoas tipo 5 preferem não se envolver. Transações finan-
ceiras têm a sensação de perigo. Compromissos são coercivos. A
raiva e a competição dever ser controladas, e os vínculos emocio-
nais são sentidos como se fossem um dreno. Também podem se
sentir coagidas pelas expectativas positivas de outros. A distância
segura significa não se envolver, e, a menos que se trate a in-
timidade e a afeição com garantias de contínua independência,
encontrarão meios de se esconder ou de isolar o contato íntimo
num setor regularizado de sua vida global.
São particularmente sensíveis a interações que as tornem visíveis
aos outros. A autopromoção, a competição e as demonstrações de
amor ou de ódio, tudo isso faz com que se sintam como se esti-
vessem dando vantagens a outros. Assim, se mantêm afastadas de
interações em que possam ser julgadas. Esse é um hábito de au-
toproteção que, muitas vezes, é mascarado por sentimentos de su-
perioridade em relação àqueles que suspiram pelo reconhecimento
e pelo sucesso. Mas acreditam que os desejos e a emocionalidade
intensa denotam falta de controle e que, quando os sentimentos são
dolorosos, deveriam ser tirados da mente. Há uma sensação de reali-
zação por serem capazes de se livrar tão facilmente das necessidades
que dominam a vida de outros.
É bem verdade que pessoas tipo 5 são independentes. Podem
viver felizes na solidão, têm necessidades muito modestas, sentem
grande prazer com a fantasia de sua própria vida e não se desviam
de seus objetivos para gastar tempo e energia com interesses triviais.
Sua independência, porém, se baseia em sua capacidade de afastar a
atenção de sua vida emocional e instintiva, o que tem o dispendioso
efeito secundário de forçá-las a viver em suas mentes.
O amor à privacidade se transforma em solidão quando se
isola e não consegue alcançar os outros. Quando a forma de con-
tato é despertada, percebem que é muito difícil ir até os outros e

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que é muito frequente ficarem observando a própria vida passar.
Vivem numa atmosfera de escassez, preferindo a “independên-
cia” à satisfação, vigilantes de seus próprios desejos que podem
levá-las a se ligar a outros. Vazias por dentro e incapazes de pedir
mais, tornam-se extremamente apegados ao pouco que têm: al-
gumas lembranças para preencher o espaço vazio e algumas ideias
incalculavelmente preciosas para a mente faminta.

“Quando quero fazer contato, é como morrer de fome num banquete.


Suspiro pelos sentimentos que vejo nos outros. Não posso avançar nem
posso retroceder. Minha mão é uma pedra de gelo no meu colo debaixo
da mesa”.

Desconectadas da emoção e ansiando por uma conexão, pes-


soas tipo 5 investirão tempo e esforço infindáveis para reencontrar
um vínculo mental que as traga de volta à sua própria humanida-
de. Tendo centrado sua existência na mente, buscam uma conexão
por meio do conhecimento especializado. Raras vezes seu interesse é
atraído pela riqueza ou pelas coisas materiais. Dinheiro é bom ape-
nas pela privacidade que compra, pela independência de ter tempo
livre para estudar e seguir seus outros interesses. Elas não gastarão
sua limitada energia na aquisição de grandes quantidades de coisas
mundanas. Se herdarem dinheiro, é provável que o acumulem pela
independência que garante, mas continuarão a viver num luxo mo-
desto. Se nascerem sem dinheiro, não trabalharão para outras pes-
soas a fim de acumulá-lo. No entanto, destinarão tempo e esforço
intermináveis para o estudo e para outras atividades mentais.
Pessoas tipo 5 dizem que têm mais acesso aos seus sentimen-
tos quando não há ninguém por perto para ver. Falam que é difícil
liberar o eu verdadeiro com outras pessoas por perto, que a solidão

125
é a plataforma para as fantasias de sua vida privada. Afirmam ainda
que se desligam de seus sentimentos durante a maior parte do tem-
po, que precisam ficar sozinhos para “separar as coisas e descobrir o
que realmente estou sentindo”. Têm certeza de que se sentem mais
ligados às pessoas quando estão sozinhas, recordando o que foi dito,
do que durante uma conversa ao vivo. Seu prazer pela vida surge mais
facilmente quando estão a sós e livres para saborear retroativamente o
que se deixou de sentir no decorrer do dia.
Um rápido encontro pode significar muito para o 5 que des-
frutará a interação mais tarde, na privacidade do lar. Eles têm que-
da por compartilhar interesses especiais ou certo vínculo especial
de entendimento com cada um de seus diferentes amigos. Os
amigos talvez nunca sejam apresentados entre si, nem informa-
dos das outras coisas que estão ocorrendo na vida do observa-
dor, mas sua presença será muito apreciada dentro de certos
limites do vínculo especial de confiança.
Pessoas tipo 5 são capazes de se sentir intimamente ligadas
de uma maneira não verbal, precisando apenas de um contato
mínimo para manter vivo um relacionamento. Pequenos rituais
de amizade serão reverenciados, e, se os amigos forem inteligen-
tes, farão do observador seu conselheiro em vez de esperarem
que ele — ou ela — demonstre emoção ou que seja o iniciador
de um relacionamento.

As preocupações habituais de uma pessoa tipo 5 incluem:


» Privacidade.
» Manter o não envolvimento; retirar-se e apertar o cinto
como primeira linha de defesa.
» O ponto do medo. Tem medo de sentir.
» Supervalorização do autocontrole. Desviar a atenção dos
sentimentos. “O drama é para seres inferiores”.

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» Emoções retardadas. Sentimentos retidos enquanto há ou-
tros presentes. As emoções aparecem mais tarde quando so-
zinho e em segurança.
» Compartimentalização. Os compromissos na vida são
mantidos separados uns dos outros. Um tempo limitado
para cada compartimento.
» Desejo de previsibilidade. Querer saber de antemão o que
vai acontecer.
» Interesses por conhecimentos específicos e por sistemas
analíticos que possam explicar como as pessoas funcio-
nam. Querer um mapa para explicar as emoções.
» Um estilo de atenção que consiste em focar a vida e a si
mesmo a partir do ponto de vista de um observador ex-
terior, o que pode levar a um isolamento em relação aos
sentimentos e aos eventos de sua própria vida.
» Capacidade de manter um ponto de vista isento de in-
fluências emocionais.

História de família
Há dois padrões de família que normalmente fazem as crianças
querer se retrair. O primeiro é descrito por aqueles que se sentiram
tão completamente abandonados que aceitaram seu destino, mas
aprenderam a se desligar dos sentimentos a fim de sobreviver. O
segundo, é o relato mais frequente sobre a infância. É aquele em que a
família era tão psicologicamente intrusiva que a criança se fechou emo-
cionalmente com o intuito de escapar.

Distância emocional
Crianças que sentem que têm de escapar acharão maneiras de
se distanciar. Erguendo um muro de distanciamento emocional,
separando-se de seus sentimentos, por exemplo.

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“É preciso muita concentração interna para criar a distância, a parede
atrás da qual você pode ler em paz o cardápio e tomar sua decisão. Ao
mesmo tempo, há uma sensação de invasão, de impotência”.

A melhor forma de manter autonomia em relação a uma in-


fluência coerciva é na ausência de conexões fortemente sentidas.

“Era como se lembrar o encontro fosse bem mais intenso do que o fato
de estar juntos”.

Há uma sensação de observar os outros, como se houvesse


um vasto espaço vazio entre eles e os outros no recinto, ou como
se estivessem engajados numa conversa a partir da perspectiva
de estar do lado invisível de um espelho de manjamento (são
aqueles que apenas um lado vê, geralmente, são usados em celas
ou cadeias especiais). A tática defensiva de não se envolver em
embaraços emocionais se estende tanto para emoções positivas
quanto para negativas. Querer alguma coisa é abrir a porta para
a perda, e querer muito significa sofrer as consequências de se
permitir apegar a outros e deles depender.

Prevendo e revendo sentimentos


Pessoas tipo 5, normalmente, relatam que tentam obter de an-
temão informações completas sobre um evento a fim de poder se
preparar prevendo tudo o que possa ocorrer. Qualquer coisa ines-
perada ou qualquer exigência forte por parte de outros tende a
pô-los em pânico ter de se sentir numa situação não desejada.
Portanto, a estratégia é examinar um evento secretamente, e com
antecedência, imaginando a melhor forma de se comportar, e então

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se desligar dos sentimentos enquanto transcorre o evento, muitas
vezes com a sensação de “Já passei por isso antes”. Quando, de novo,
na segurança de sua solidão, o 5 organizará o evento e os sentimen-
tos a ele relacionados a fim de calcular uma postura emocional.
Observadores ficam mais disponíveis emocionalmente quando
os limites de uma interação são claros. Quando conhecem os limites
da agenda e o tempo de duração do encontro, ficam libertos para se
expressar plenamente e, apaixonadamente, de acordo com o tópico
e com o prazo de tempo. Assim, quando a agenda estiver concluída
e quando chegar a hora da conversa fiada, irão para casa.
Muitas pessoas tipo 5 relatam que são muito mais extrover-
tidas e têm facilidade de ir ao encontro dos outros quando estão
viajando. É a situação ideal para que se expandam, porque existe
a ideia de ser observador de uma cultura diferente e porque eles
podem controlar o tempo da permanência. Em consequência,
podem desfrutar uma situação única plenamente e condensarão
tanta experiência quanto possível numa pequena porção de tem-
po e armazenarão lembranças para saboreá-las mais tarde.

Compartimentalização
A primeira linha de defesa de uma tentativa elaborada de criar
uma distância segura é se retirar fisicamente, desligar o telefo-
ne e ficar incomunicável. Uma forma mais interna de dar espaço
envolve o desligamento da atenção de modo que experiências
potencialmente intensas sejam emparedadas e separadas umas
das outras. Pessoas tipo 5 separam os diferentes setores da vida.
A compartimentalização da vida em setores isolados signifi-
cará privacidade mais do que uma aversão a ser conhecido to-
talmente, numa arena aberta de negociação ou conflito, a defesa
preferida é não chamar a atenção de modo algum.

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Outra forma de criar um afastamento seguro é seccionar as lem-
branças de modo que aquilo que aconteceu de manhã pareça des-
conectado com as ações da tarde. A memória descontínua não signi-
fica que não possa haver lembrança da manhã; mas é antes como se
os eventos parecessem ocorrer em pequenos capítulos sem que haja
uma disposição psicológica contínua para ligá-los como um todo.

As alegrias da privacidade
Pessoas tipo 5 ganham vida quando estão sozinhos. Com fre-
quência, precisam se afastar dos outros a fim de recarregar suas
baterias e liberar os sentimentos que foram contidos enquanto
estavam na presença alheia. O tempo privado é preenchido por
devaneios e por pensamentos sobre coisas de interesse. Elas gos-
tam muito da companhia de suas próprias mentes e, a menos
que sua privacidade se aprofunde e se transforme em sentimento
de isolamento, raramente estão deprimidas ou aborrecidas por
não terem nada o que fazer.
Embora observadores possam parecer solitários e socialmente
isolados, do ponto de vista de tipos mais extrovertidos, por si próprios
preferem estar sozinhos. São, de fato, extraordinariamente indepen-
dentes. Não se voltam para outros em busca de aprovação, preferem
ser economicamente autossuficientes, insistem no poder de ir e vir
conforme lhes agrade e querem permanecer livres das exigências
emocionais dos relacionamentos de dependência.

Formas de se esconder em locais públicos


Pessoas tipo 5 criarão formas engenhosas de desviar a aten-
ção de si mesmas. Uma tática óbvia é mudar a conversa para um
tópico de interesse mútuo, ou desviar o foco de luz para a trama
de outra pessoa.

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Elas podem dar o apoio de sua amizade, desde que estejam na
função de conselheiros daqueles que buscam a própria indepen-
dência e que não esperem extrair um vínculo emocional com elas.
Também podem se relacionar com outros em profundidade e
compreender a perturbação emocional de um ponto de vista pu-
ramente mental, estudando um sistema tal como a Psicanálise ou
a Astrologia. Ao aprenderem como as pessoas funcionam emo-
cionalmente, são capazes de falar com desenvoltura sobre pa-
drões de sentimento, sem ter medo de se envolver pessoalmente.
Na verdade, são especialistas em outra forma de se ocultar
publicamente: desaparecer por trás de uma pose apropriada. A
pose é ajustada conforme as circunstâncias.

Relacionamentos íntimos
A questão central é o medo de sentir. Um observador apaixo-
nado está preso entre a influência de fortes sentimentos positivos
e o hábito de não querer sentir nada absolutamente.
Pessoas tipo 5 lutam com o fato de serem mais emocionais em
relação aos outros quando estão sozinhas e quando estão recriando
um encontro do que quando estes estão fisicamente presentes.
O fato de serem capazes de sentir mais em retrospectiva, quando
estão livres de intrusão, fica patente ao procurarem o isolamento
logo após um encontro profundamente íntimo.
Como raramente falam sobre isso, em geral, seus amigos não
têm consciência de quanto se concentram nas pessoas significa-
tivas em suas vidas durante seus períodos de isolamento, ou de
quanto tempo é gasto prevendo ou revendo seus encontros com
aqueles que são importantes em suas vidas. Um poderoso víncu-
lo mental pode ser formado por parte de um 5, sem que a outra
pessoa envolvida tenha consciência de como se tornou central na
vida interior dele.

131
Como desviam a atenção de emoções intensas e como mentali-
zam suas afeições, com frequência, são vistos pelos parceiros como
permanentemente retraídos e, portanto, como emocionalmente frios.
De positivo para o contato íntimo, pessoas tipo 5 apreciam as
pessoas em muitos níveis abstratos de relação. O comportamento
é primeiro assumido na mente; e, depois, emocionalmente. Uma
vez assumido, o comprometimento pode ser duradouro, embora
sempre com limites claros de tempo e energia. Decididamente
evitarão situações que produzam sentimentos espontâneos, es-
pecialmente à confrontação.

Relacionamentos hierárquicos
Pessoas tipo 5 têm aversão a colocar seu tempo e sua energia
à disposição de outros. Vivem com a sensação de possuir recursos
limitados de energia e de se gastar facilmente com as interações
pessoais. Sentem-se especialmente esgotados se não têm certeza
do que os outros vão esperar deles, ou se suas obrigações profis-
sionais estão sujeitas a mudanças rápidas.
Motivados pela relutância de ter seu suprimento limitado de
energia usado pelos outros, observadores resistem afastando-
-se do controle autoritário. Preferem um mínimo de supervisão e
detestam sobretudo a supervisão de um chefe que aparece sem
avisar e deseja estar constantemente informado.
O contato com estranhos dá a impressão de invasão, a menos
que os limites do que será discutido possam ser estabelecidos
claramente de antemão. Geralmente, veem em recompensas, tais
como títulos e salários, armadilhas que a autoridade usa para
persuadir empregados a permitir que lhes esgotem o tempo e a
energia. Por isso, preferem passar sem esse tipo de reconhecimen-
to, na condição de serem capazes de estabelecer as condições sob as
quais trabalharão.

132
Porém, estarão dispostos a trabalhar duro sob um sistema
autoritário que lhes permita estabelecer seu próprio horário e
lhes dê liberdade de escolher as condições sob as quais irão
interagir com as pessoas. Podem ser expansivos e amistosos
desde que informados com antecedência sobre o que será es-
perado deles.
Por exemplo, observadores costumam querer saber alguma
coisa sobre as pessoas que comparecerão a um encontro e quais
serão os prováveis tópicos de discussão a fim de se prepararem.
Seu nível de preocupação em ter sua privacidade potencial-
mente invadida por parte de fontes de autoridade subalterna va-
ria de uma relutância neurótica em atender ao telefone a esforços
elaborados e demorados para evitar interação com vizinhos, se-
nhorios e órgãos públicos, tais como o Fisco.
A razão subjacente para evitar contatos é que não têm prati-
camente nenhuma defesa contra a confrontação. Uma vez que
a autoridade lhes envie diretamente uma carta, ou, pior ainda,
solicite um encontro frente a frente, se sentirão duramente pres-
sionados a negociar contra o que quer que a autoridade possa exigir.
Muitas vezes, são o cérebro por trás da cena, aquele que fica
frio enquanto os outros se afligem. Têm uma propensão natural
para o planejamento fracionado e para projetos em longo pra-
zo que exijam uma pesquisa teórica de base ampla. São bem
mais eficientes quando protegidos do confronto e quando usados
como cérebros do que quando recebem a responsabilidade de
acompanhar o projeto até o fim ou de fiscalizar os detalhes.
De negativo para os relacionamentos hierárquicos, podem ser
evasivos quando se sentem supersolicitados, e vão se tornar in-
disponíveis fisicamente. Podem anunciar férias de repente, justa-
mente quando o projeto começa a aquecer.

133
Como pessoas tipo 5 prestam atenção
O isolamento de um 5 não depende apenas de seu recuo para
a privacidade, nem mesmo da construção de paredes emocio-
nais. O isolamento psíquico pode ser visto como o hábito de se
desvencilhar de sentimentos a fim de observar. Esse hábito de
atenção pode se tornar particularmente óbvio em situações de
estresse, de intimidade ou em situações imprevisíveis que exijam
uma resposta espontânea. Em casos extremos de desprendimen-
to, ele pode tentar desaparecer congelando a atenção num ponto
situado no exterior imediato do corpo físico.
Pessoas tipo 5 podem observar o que está acontecendo sem se
envolverem emocionalmente. A atração pode, infelizmente, ser o de-
sejo de se tornar um mestre do não envolvimento e de se proteger
de jamais ter de sentir os medos e desejos da vida comum.

Avareza
Durante épocas difíceis, um observador prefere se arrumar
com menos a se arriscar a buscar outras pessoas para obter mais.
A reação preferida é se afastar, instituir um movimento de econo-
mia, reduzir as necessidades pessoais ao estritamente necessário
e minimizar a dependência em relação aos outros. Há um senti-
mento de independência quando diz mentalmente: “Não preciso
disso, posso passar sem”.
Pessoas tipo 5 abastadas também gostam de prescindir.
Isso dá uma sensação de prazer e até mesmo de superioridade
em relação àqueles que dão duro para obter riquezas mate-
riais, “como poderiam aqueles com necessidades materiais mí-
nimas algum dia sentir as pontadas da ganância?”. O fato é que
o desprendimento é mais compulsivo do que optativo. Está ba-
seado no medo de perderem o pouco que têm, de sacrificarem

134
a independência por meio do envolvimento com aqueles que
querem se apoderar das suas fontes de suprimento, de serem
invadidos por pessoas, conforme foram no passado. É como se
a independência repousasse em ser capaz de registrar mental-
mente: “Posso passar sem isso”.
Quando algo se torna tão valioso que permeia o espaço privado,
quando são pegas pelo desejo de possuir uma pessoa ou uma coisa,
então essa pobreza interior é intensificada pela invasão do desejo.
Como pessoas tipo 5 dependem muito de conhecimento pré-
vio para se proteger, seu vínculo principal é com o conhecimento
mais do que com as pessoas e com as coisas. Em via de regra,
relatam que sua sensação interna de isolamento é aliviada quan-
do se sentem próximas de saber como funciona o universo ou a
compreender o comportamento humano.

A virtude do desapego
O desapego é sem dúvida o oposto do apego, e o apego provém
da sensação de desejos frustrados. Quando podemos obter tanto
quanto necessitamos de alguma coisa, podemos abrir mão dela, sa-
bendo que, se necessário, podemos tê-la de volta. O falso despren-
dimento de um 5 se baseia numa aversão à possibilidade de sentir
desejos e não numa sensação de plenitude por ter o bastante.
Porém, a necessidade compulsiva de não se envolverem, de não
se sentirem conectados e de não serem coagidos, pode levá-lo à
crença em sua própria superioridade, porque sabe prescindir, mas
não a um sentimento de satisfação em obter aquilo que deseja.
O que aplaca o medo de quem tem medo de sentir? O que
saciaria a necessidade de estar prevenido, de se salvar de um
mundo potencialmente intrusivo? Para um tipo de persona-
lidade que abandonou o corpo em favor da mente, a melhor
defesa é o conhecimento.

135
Méritos
Observadores são capazes de cultivar interesses pessoais sem
o apoio de outros. A capacidade de reduzir a um fio o contato com
sentimentos lhes possibilita assistir aos outros em períodos de
estresse. A mesma capacidade para o distanciamento emocional
os torna bons no processo decisório, porque sabem pensar com
clareza sob pressão.
Eles fazem amigos para toda a vida se as condições de amiza-
de lhes possibilitar uma independência completa e a liberdade de
se recolher quando necessário. São capazes de expressar muita
afeição de forma não verbal e apreciar os outros em muitos níveis
abstratos e não verbais de amizade.

Ambientes atrativos
Pessoas tipo 5 são, com frequência, especialistas em ramos
de estudo obscuros, mas importantes; o círculo interno dos que
sabem. O psicólogo do psicólogo. O dicionário definitivo de uma
língua tribal remota. Cubículos acadêmicos, as “estantes da bi-
blioteca”. Programadores de computador que preferem trabalhar
no turno da noite. Aqueles que administram o almoxarifado nos
fundos da loja.

Ambientes não atrativos


Ambientes não atrativos são os tipos de emprego que exigem
competição aberta ou confrontação direta: vendedor, debatedor pú-
blico, o candidato político sorridente.

Subtipos
Os subtipos descrevem preocupações que surgiram da necessi-
dade de proteger a privacidade pessoal contra influência externas.

136
Confidências no relacionamento com uma pessoa
Pessoas tipo 5 sentem a privacidade de um vínculo no rela-
cionamento com uma pessoa por meio da troca de confidências.
O castelo na área de autopreservação — o lar
Pessoas tipo 5 veem o lar como a proteção segura contra um
mundo invasor. Há a preocupação com o controle do espaço pri-
vado e pessoal. “Um útero com uma janela”.

O que ajuda pessoas tipo 5 a evoluir


Frequentemente, pessoas tipo 5 entram em terapia, porque
começam a se sentir isolados e solitários. Desconectados dos sen-
timentos e, no entanto, cônscios de que os outros são capazes de
sentir, se colocarão em situações em que possam ser provocadas.
Apresentações típicas incluem dificuldades com relações so-
ciais, a perda de uma pessoa ou de um objeto a que se tornaram
apegadas e fobias que restrinjam a liberdade de movimento. Elas
precisam aprender a tolerar seus próprios sentimentos sem se
desprender.

Como pessoas tipo 5 podem ajudar a si mesmas:


» Notando o desejo de se conter quando outros esperam
uma reação. Abrindo mão do controle de se retirar estra-
tegicamente como forma de manipulação. “Vou me dar
bem quando eu quiser; mas não quando vocês tiverem a
expectativa”.
» Atentando para os momentos em que as emoções são
substituídas pela análise, ou quando sínteses mentais se
tornam substitutos da experiência.
» Percebendo que o acesso aos sentimentos nem sempre
equivale a ser magoado.

137
» Detectando o desejo de ser reconhecido sem exercer es-
forço.
» Descobrindo como é fácil desistir. “Tentei uma vez e não
funcionou.”
» Trabalhando com os três “S S S”: Segredo, Superioridade e
Separação.
» Aprendendo a tolerar acontecimentos espontâneos.Arris-
car-se, expandir-se, ativar sonhos privados.
» Vendo a discrepância entre quanto pode ser sentido quan-
do outros estão presentes e o que se pode sentir quando
seguramente a sós.
» Reconhecendo as intensas necessidades de controle do
espaço pessoal e de controle de tempo gasto com pessoas
íntimas.
» Aprendendo a concluir projetos importantes e a permitir
que se tornem públicos. Deixar-se ser visto.
» Percebendo que os sentimentos e a revelação de si mes-
mos podem realmente efetuar uma mudança.
» Constatando o pouco com que está disposta a se contentar.
» Questionando a forma minimalista de viver.
» Vendo as formas como os outros são forçados a ser os
agentes ativos.
» Estando atento as formas em que a sua inação força outros
a dar o primeiro passo.
» Aprendendo a capitalizar a busca de conhecimentos espe-
cíficos e o pensamento simbólico.
» Aprendendo a tolerar as necessidades e as emoções
alheias.
» Dispondo-se a trazer as emoções para o momento atual.

138
Coisas que pessoas tipo 5 devem perceber
Pessoas tipo 5 deveriam identificar os seguintes comportamen-
tos durante os períodos de transformação:
» Saída do corpo e refúgio na mente.
» Desejo de acumular tempo e energia. Economizar em vez
de consumir.
» Dificuldade com a revelação de si mesmos. Censura de
conversas que revelem o eu. Retenção de informações.
» Relutância em dar, sentimento de estar sendo explorado
pelas necessidades de outras pessoas.
» Intensificação da necessidade de autossuficiência. “Posso passar
sem você”; — dirigida ao terapeuta, aos amigos, à família.
» Sensação de esgotamento pelo ato de se comprometer.
Permissão que os outros só tenham um pouquinho.
» Retraimento causado pela mentalização de experiências.
Intensificação da postura do solitário. Inserção de pessoas
numa vida de fantasias em vez de enfrentar a vida real.
» Fantasia de ser especialmente eleito, de ser reconhecido
sem precisar se apresentar. “Se Deus me quiser, Ele virá
até mim”.
» Dissimulação numa pose.
» Crença de estar acima da necessidade de sentir. “A raiva é para
seres inferiores. Por que eles não sabem se controlar?”.
» Paralisia da ação concomitante ao surgimento de desejos.
» Impossibilidade de recuar.
» Seccionamento da vida emocional. Segredo. Ninguém vai
conhecer o todo.
» Confusão entre desprendimento espiritual e a necessidade
de se afastar da dor emocional.

139
TIPO 6: O patrulheiro

O dilema
Pessoas tipo 6 perderam a fé nas autoridades quando peque-
nos. Lembram-se de que tinham medo dos que tinham poder
sobre eles e de que não eram capazes de agir em benefício pró-
prio. Essas lembranças foram trazidas para a vida adulta na forma
de suspeita dos motivos de outras pessoas. Assim, tentam ate-
nuar essa insegurança, ou buscando um protetor forte, ou agindo
contra a autoridade na postura do patrulheiro. Tanto a postura
do cumpridor do dever quanto a do patrulheiro se originam da
desconfiança em relação à autoridade.
Como têm medo de agir em seu próprio interesse, pessoas
tipo 6 têm problemas em finalizar tarefas. O pensamento subs-
titui a ação. A dúvida leva à protelação, a qual previne o ressur-
gimento do medo de punição que a criança 6 suportou por agir
contra a autoridade.
Assim, se movem rumo ao sucesso aos trancos e barrancos.
Há em geral uma história de mudanças de emprego e de projetos
inacabados. A falta de confiança em si e a protelação se intensi-
ficam quando começam a se expor e a se aproximar do sucesso.
A postura antiautoritária faz com pessoas tipo 6 gravitarem
para causas de oprimidos. São muito fiéis na posição do “nós con-
tra eles”, porque o dever exige uma ação bem definida e, uma vez
que estejam tomados partido, as intenções de uma autoridade se
tornam perfeitamente claras.
São propensas a se tornar mais vigilantes se forem tratadas
com afeto, porque, no passado, quando confiaram, foram feridas

140
assim que relaxaram a vigilância. Por isso, querem estar preve-
nidas e preparadas, e essa necessidade as faz querer descobrir o
que se encontra debaixo de uma imagem e o que pode ser oculto
por um sorriso agradável.

Tipo fóbico e contrafóbico


Há dois tipos de pessoas tipo 6 ou duas visões de mundo
paranoicas.
Um 6 fóbico parece evasivo e amedrontado em relação à
vida. Tal como a caracterização que Woody Allen fez de si mes-
mo, um tipo fóbico irá vacilar, substituindo a ação pela análise,
cheio de contradições e dúvidas a respeito de si. Se fosse con-
trafóbico, seria mais propenso a cativar os clientes, a conversar,
a examiná-los, a reduzir sua ansiedade fazendo-os gostar dele.
Já um 6 contrafóbico também pode deixar os clientes pouco
à vontade ao querer sondar suas verdadeiras intenções. Quando
igualmente aterrorizado, diz que correu diretamente para a boca
do dragão tornando-se campeão de paraquedismo em queda li-
vre a fim de dominar o medo de altura.

As preocupações habituais das pessoas tipo 6 incluem:


» Protelamento da ação. O pensar substitui o fazer.
» Problemas com trabalhar e não terminar.
» Amnésia com respeito ao sucesso e ao prazer.
» Problemas de autoridade: submeter-se à autoridade ou
rebelar-se contra ela.
» Desconfiança dos motivos de outras pessoas, sobretudo
autoridades.
» Identificação com causas de opressão.

141
» Fidelidade e responsabilidade em relação à causa, ao opri-
mido e ao líder forte.
» Medo da raiva direta. Atribuição da própria raiva aos outros.
» Ceticismo e dúvida.
» Prestar atenção esquadrinhando o ambiente em busca de
indícios que possam explicar a sensação íntima de ameaça.
» Um estilo intuitivo que depende de uma imaginação po-
derosa e da atenção dirigida a um só ponto, ambos natu-
rais à mente medrosa.

História de família
Pessoas tipo 6 relatam ter sido criados por autoridades ou res-
ponsáveis que não eram dignos de confiança. A falta de confiança
normalmente girou em torno da punição ou da humilhação por
parte dos pais, sobretudo quando estes eram imprevisíveis e des-
regrados na forma de lidar com a criança.
Crianças 6 tinham de prever o comportamento de adultos
propensos a se enfurecer sem nenhuma clara indicação do que
fizeram. É esse enfoque de atenção dirigido para o exterior, alia-
do aos sentimentos de que eram impotentes para agir em de-
fesa própria, que perpetua o estilo neurótico do patrulheiro. Foi
assim que perderam a confiança em figuras de autoridade. Isso
resultou numa dependência da autoridade “para cuidar de mim,
porque me sinto fraca e com medo” ou numa rebelião contra a
autoridade “que está tentando tirar vantagem da minha fraque-
za me fazendo sentir medo”.
A atribuição exagerada de poder a autoridades acontece em
geral na forma de:

142
1. Idealizar e seguir um protetor forte: meu guru, meu men-
tor, “meu Führer”.
2. Unir-se a um grupo de opiniões afins: nós contra eles ou
contra o mundo.
3. Rebelar-se com o questionamento da autoridade.
Seguidores ou discípulos 6 têm a propensão a reagir de ma-
neira extrema, adotando uma postura antiautoritária e atacando
o líder.
A união a um grupo de mesma opinião despista a pressão da
paranoia. Muitas pessoas tipo 6, porém, acreditam que ganham
certo tipo de poder pessoal se colocando estrategicamente contra
as desigualdades, contra o sistema, contra os caminhos fáceis.
São, muitas vezes, atraídas para esportes perigosos ou muito
competitivos, porque a situação exige reação imediata. Elas tam-
bém são seduzidas para causas perdedoras ou para reviravolta
em empreendimentos, situações em que sua rebelião contra a
opressão encontra um escape natural e construtivo.
É difícil elogiar pessoas tipo 6, pois têm dificuldade em aceitar o re-
conhecimento quando foi ganho. Além disso, há problemas com dar
continuidade e concluir projetos, mesmo com uma vitória garantida.

Exemplo de um relacionamento hierárquico:


Pessoas tipo 6 e tipo 1 — o patrulheiro e o perfeccionista
Nem o 1 nem o 6 são particularmente confiantes nas boas
intenções de outras pessoas. O 1 tem medo da crítica, e o 6 teme
ser atacado por um grupo ou ser molestado. Para um 6, proteger
outra pessoa é uma postura mais fácil do que agir diretamente e
com êxito para si próprio.

143
O hábito de pressupor o pior
Pessoas tipo 6 são ao mesmo tempo abençoadas e castiga-
das por uma imaginação poderosa. São sensíveis quanto à pos-
sibilidade dos piores resultados nas situações e assim tendem a
imaginar o pior, sem perceber que não dedicaram igual atenção a
imaginar o melhor. Examinam com tanta frequência e minúcia o
ambiente em busca de indícios que expliquem a sensação inte-
rior de ameaça, que muitos consideram imaginar o melhor uma
forma ingênua de fantasia baseada em anseios infantis.
É mais fácil compreender a reação do 6 fóbico a imagi-
nações cheias de medo do que a do 6 contrafóbico. A reação
contrafóbica seria sair atrás do perigo. Tipos contrafóbicos que
buscam a opção do perigo se parecem com 8 — o patrão —
no sentido de que podem ser muito agressivos naquilo que
percebem como uma situação de acuamento, em que têm de
enfrentar uma ameaça.
Se um tigre ameaçador aparecer na rua, um 6 fóbico sensato
correrá e subirá numa árvore. Já o 6 contrafóbico tenderá a se
precipitar sobre o pescoço do tigre em vez de se empoleirar numa
árvore e vivenciar uma noite de lúgubres fantasias mentais. Esse
é o soldado que atira em sombras, o medroso.
Pessoas tipo 6 são impacientes e ansiosas como crianças que
temem alguém maior do que elas, porque podem ser atacadas
se desviarem o olhar. São viciadas em imaginar os piores pos-
síveis resultados, porque isso parece criar uma fonte legítima de
informações corretas. A imaginação faz parte da defesa de aten-
ção. Abrir mão dela seria relaxar a própria guarda, enfrentar a vida
despreparado.

144
Projeção
O ponto cego no modo de um 6 prestar atenção é que um
ponto de vista deve ter primeiro surgido em sua mente, a fim de
lhe autorizar a busca de provas e indícios que lhe deem suporte.

Procrastinação da ação
Pessoas tipo 6 demoram a entrar em ação, porque os perigos
envolvidos são vistos como bem mais reais do que a promessa
de êxito. Até mesmo os contrafóbicos de aparência agressiva es-
tão preocupados com imaginar os piores resultados e dizem que
protelam até que a paranoia os instigue a enfrentar seus medos,
o que é preferível a ter de viver com um filme mental daquilo que
os tornou amedrontados.
Há comumente uma história de coisas incompletas: um grau
não concluído, um projeto importante não realizado.
O ponto de vista de cada especialista tem de ser levado a sério,
e as objeções em potencial não devem ser esquecidas antes que a
tese possa avançar. Isso significa que pessoas tipo 6 acabam por
questionar sua própria posição de advogadas do diabo como um
adversário digno de enfrentar.
Elas sentem grande diferença entre a luta pela sobrevivência
e a competição pelo sucesso. Muitas vezes têm um desempe-
nho brilhante sob pressão, ao passo que são menos produtivas
sob condições ótimas de trabalho. São antiautoritárias e só sabem
acreditar que, uma vez se distingam, os outros as verão como
opressores e duvidarão de suas boas intenções.
São hábeis em encontrar formas de despistar o sucesso. Os
relatos mais comuns são de que perdem o interesse ou lançam
a vitória para alguém que parece precisar mais dela. Podem tam-
bém, de repente, descobrirem um defeito fatal em todo o proces-

145
so, ficam doentes ou, subitamente ficam reenergizados com uma
tarefa previamente descartada.
Uma última forma pela qual pessoas tipo 6 evitam reconhecer
o próprio sucesso é estabelecer requisitos sobre-humanos para si
mesmas. A preocupação com poder e força encobre uma fraqueza
interior. A necessidade de fazer uma contribuição vital e surpreen-
dente torna difícil a apreciação honesta do sucesso.

Relacionamentos íntimos
Pessoas tipo 6 têm, com frequência, casamentos de longa
duração, porque estão dispostas a assumir “o problema do ca-
samento” e sentem o dever de “desvendar o problema”. A for-
mação da confiança é lenta devido à vulnerabilidade à dúvida.
Um pequeno problema é capaz de pôr em questionamento todo
o relacionamento. Assim, premissas básicas serão questionadas
repetidas vezes. Nada é permanente. “Será que confio em meu
parceiro?”. A questão fica em aberto.
Patrulheiros podem aceitar a felicidade e o prazer sexual com
mais facilidade quando o casal é visto em conluio contra um
mundo ameaçador. O parceiro é visto como digno de confiança
porque sabe que tipo de ajuda deve dar. Não há nenhuma mani-
pulação específica no ato de dar. Eles não dão para obter nada em
troca. Sabem tolerar extremos de comportamento neurótico sem
ter de fazer o outro mudar.
Ficam com raiva ao descobrir que podem ser feridos, que
aquilo que o parceiro faz pode ter uma importância terrível e
que, quando seus desejos de prazer são despertados, o outro
tem controle sobre a satisfação desses desejos. Há o impulso
de repelir o prazer, de ceder a temores de abandono, de dei-
xar o relacionamento ou de separar cabeça, coração e corpo

146
em relacionamentos diversos. São capazes de construir uma
hipótese elaborada sobre o que de fato está se passando no
inconsciente do companheiro e podem desenvolver um con-
junto elaborado de crenças sem nenhuma verificação da rea-
lidade. Uma vez a hipótese tenha sido tecida, acreditam nela
tanto quanto num fato vigente.
Não visam manipular o parceiro nem querem usá-lo em be-
nefício próprio e são capazes de extrema fidelidade em tempos
difíceis. São capazes de pôr o bem-estar das pessoas em primeiro
lugar e de se sentir o êxito alheio como se fosse o próprio.
De negativo para os relacionamentos, pessoas tipo 6 tendem
a atribuir seus próprios sentimentos ao parceiro. Se estão com
raiva e sentindo atração por outra pessoa, então o parceiro pro-
vavelmente será acusado de estar com raiva inconscientemente,
ou de ter um caso.

Méritos
Pessoas tipo 6 têm capacidade para grandes atos de abne-
gação em nome do dever ou da responsabilidade com outros.
São capazes de trabalhar sem a recompensa do reconhecimento
público. Estão dispostos a lutar contra as adversidades e contra o
status quo por um empreendimento arriscado que valha a pena,
sobretudo se em colaboração com aliados. Estão dispostos a so-
frer, a se sacrificar e a retomar a causa.

Ambientes atrativos
Ambientes hierárquicos com linhas de autoridade claramente
definidas e áreas problemáticas claramente definidas são atrativos
para pessoas tipo 6.

147
Empregos fóbicos, nos quais a competição é minimizada e
onde possam trabalhar por trás de um líder forte. Empregos con-
trafóbicos que envolvam perigo físico ou a defesa de causas de
oprimidos. Reparador de pontes. O brilhante tático empresarial
que salva a firma e depois se afasta.

Ambientes não atrativos


Empregos de muita pressão que envolvam decisões imediatas
e em que não seja possível nenhuma preparação com antece-
dência. Empregos de alta exposição, competitivos, com diretrizes
ambíguas e muitas manobras nos bastidores.

Estilo intuitivo
Crianças amedrontadas irão desenvolver estratégias para so-
breviver emocionalmente, e parte desse sistema de sobrevivência
repousa na identificação de fontes de dano em potencial. O ponto
de vista paranoico tem em geral alguma base de verdade. Ele ten-
derá a um segundo estilo de intuição que parece se originar da
necessidade de adotar na infância uma postura de vigilância em
relação aos adultos e de prever como eles agirão.

A virtude da coragem
Como todos nós, pessoas tipo 6 muitas vezes não têm per-
cepção das questões centrais que governam suas vidas. Um 6
talvez acredite que ele, ou ela, não tem mais medo do que as
demais pessoas e talvez ignore o fato de que hábitos mentais
e emocionais podem tornar a pessoa cronicamente apreensiva.
Uma pessoa medrosa quer uma postura intelectualmente correta

148
a partir da qual rechace possíveis oposições; como se uma análise
brilhante substituísse a necessidade de tomar iniciativa.
Para um 6 que ainda tem o hábito de pensar antes de agir,
ater-se ao ato de correr entre pessoas numa rua sem ter a ener-
gia para fiscalizá-las pode ser uma aflição.

A fé como característica da mente superior


Para o tipo 6, um ataque de dúvida pode questionar toda uma
crença ou opinião estruturada. Um contratempo num projeto,
uma discussão num relacionamento pode anular meses de con-
fiança construída gradualmente.

Força/beleza no relacionamento com uma pessoa


A preocupação com a força advém da necessidade de de-
senvolver poder pessoal como uma compensação por sentir
medo. Isso pode se transformar numa apresentação falsamen-
te machista no homem contrafóbico e numa preocupação com
o poder de afetar homens sexualmente em mulheres contrafó-
bicas. Tantos homens quanto mulheres têm essa preocupação
com a beleza.

“Você fica com medo de ser abandonado e, de outro, fica muito crítico
da pessoa amada quando fica muito próximo, por isso você se protege
sendo ‘forte’ e um pouco ‘frio’”.

Calidez na área da autopreservação


Manter a afeição das outras pessoas é um meio de desarmar
a hostilidade em potencial. Se as pessoas gostam, não é preciso
temê-las.

149
O que ajuda pessoas tipo 6 a evoluir
Longa história de coisas incompletas. A procrastinação assume
várias formas, mas se centra, sobretudo no término dos projetos.
Casos típicos são uma mudança contínua de empregos, proble-
mas em confiar em superiores e colegas de trabalho e a invenção
de razões para debandar perto da conclusão bem-sucedida de
um projeto.
Patrulheiros precisam de ajuda para manter a atenção firme-
mente concentrada numa meta positiva sem descambar para a
dúvida. É tão difícil para um 6 se manter no rumo quanto para
um 3 parar.
É útil que pessoas tipo 6 identifiquem as seguintes situações
quando estas se manifestarem:

» Necessidade de checar os medos com a realidade. A não


posse de todos os fatos. É útil dar nome aos medos em voz
alta para um amigo que dê um feedback de confiança e
checar as conclusões sobre fatos com uma opinião neutra.
» Busca de significados ocultos no comportamento alheio.
» Dúvida de que seja possível receber ajuda. Confiança vaci-
lante nos relacionamentos.
» Necessidade de ter as posições claramente expressas.
» Vigilância para ver se as ações dos outros correspondem
àquilo que eles dizem que irão fazer.
» Necessidade de permanecer em contato. Afastar-se por
medo e depois projetar que os outros é que foram embora
por raiva.

150
» Contração física e eliminação do lúdico como forma de se
manter tenso e vigilante.
» Suspeição de afetuosidade e de elogios, que aumenta à
medida que a vigilância se afrouxa. “O golpe virá quando
eu estiver despreparado.”
» Desejo de ter a aprovação da autoridade antes de dar um
passo.
» Questionamento da liderança mais do que a busca de
áreas de consenso.
» Percepção de que lembranças negativas estão mais dispo-
níveis do que as positivas.

O que pessoas tipo 6 devem perceber:


À medida que a atenção é retirada de preocupações habituais,
pessoas tipo 6 deveriam perceber reações tais como:

» Suspeição de fontes de ajuda em potencial, com o subse-


quente desejo de passar pela situação sozinhos.
» Afloramento de medos do sucesso. O medo de sobrepujar
os pais.
» A sensação de se tornar passivo à medida que os medos
são suspensos.
» O hábito de se concentrar em detalhes negativos numa
situação que, de modo geral, é boa.
» Desejo de superar intelectualmente aqueles que dão as-
sistência ao movimento de avanço. Ver a terapeuta ora bri-
lhante, ora inadequada para a tarefa.

151
» Discurso ininterrupto. Deixar a cabeça tomar conta do
coração. Discurso e análise substituem a ação sobre im-
pressões viscerais e emocionais.
» Um sentimento emergente de dúvida sobre si.
» Megalomania. Tornar a tarefa de se transformar muito
difícil. Fantasiar feitos impressionantes bloqueia etapas
lógicas rumo a objetivos realistas.

152
TIPO 7: O aventureiro

O dilema
Os pontos 5,6 e 7 agrupados do lado esquerdo do eneagra-
ma representam três estratégias diferentes para lidar com o medo
sentido na infância. Pessoas tipo 6 no ponto nuclear do medo se
super preparam esquadrinhando e vigiando o ambiente, e pes-
soas tipo 5 se afastam de qualquer coisa que os amedronte. Já
pessoas tipo 7 não parecendo absolutamente apreensivos, se
movem rumo aos outros numa tentativa de cativar e desarmar
com graça e jocosidade. Defrontadas por um início de vida assus-
tador, crianças tipo 7 dispersaram seu medo escapando para as
possibilidades ilimitadas da imaginação.
Assim, pessoas tipo 7 não transmitem nenhuma ansiedade.
Elas não parecem ter medo. Tendem a ser alegres e radiantes,
muitas vezes entregues aos planos e aos prazeres. Seu núcleo
de paranoia (6) não desponta enquanto o pensamento possa ser
canalizado para planos visionários de um futuro auspicioso.
Este é o ponto do Peter Pan, do puer — e da puerella — aeter-
nus, a eterna criança. É também o ponto de Narciso, o jovem que
se apaixonou pela imagem do próprio rosto refletido num lago.
Narciso foi amado pela ninfa Eco, mas como estava absorto no
reflexo de seu próprio esplendor, não pôde ouvi-la chamando seu
nome. Envolvido consigo mesmo, deixou de responder, e a voz da
ninfa foi reduzida a um eco.
Todo mundo precisa de um pouco de narcisismo saudável. To-
dos nós precisamos reconhecer nossos méritos e valores únicos. A
dificuldade surge apenas quando nos tornamos tão convictos de

153
nosso valor especial que deixamos de ouvir a opinião daqueles
que refletem a verdade objetiva.
Aventureiros estão convencidos de suas próprias qualida-
des excepcionais e procuram ambientes e pessoas que possam
dar suporte ao seu valor. Eles têm gostos sensíveis e querem
experimentar do melhor que a vida pode oferecer. Gostam de
manter alto seu astral. Querem aventuras e querem manter
em alta suas expectativas. Há uma química para experiências
culminantes como se champanhe, e não sangue, corresse em
suas veias.
São sustentados pela crença de que a vida é ilimitada. Há sem-
pre coisas interessantes para fazer. “Se a vida não for aventurosa,
por que vivê-la?”. “Por que ficar amarrado se é possível continuar
avançando?”. O entusiasmo dado por uma crença nas oportunida-
des da vida é em grande parte intensificado pelo hábito de man-
ter múltiplas opções em aberto e de assumir compromissos, com
a segurança de planos substitutos ou suplementares.
O compromisso é sempre amortecido com alternativas. O
consenso é “aquele que cai bem na ocasião”. Se o plano A for
abandonado por causa da chuva, vai-se para o plano B como
apoio. Se o B parece pegajoso, sempre tem o plano C. Se A é
cancelado e se C fica aborrecido demais, sempre se tem B, que
pode levar até D. Organização de atenção é o que encoraja o
desconhecimento ou o esquecimento de opções negativas.
Como estratégia defensiva, o planejamento do futuro ao longo
das linhas de opções de contingência se destina a intensificar os
prazeres da vida eliminando os problemas de tédio e sofrimento.
Por exemplo, um 7 poderia ter um emprego numa sapataria e ter
mentalmente planejado a opção de se encaixar no mesmo em-
prego numa loja concorrente do outro lado da rua. Plano seme-

154
lhante poderia parecer bastante natural, pois estaria concentrado
na semelhança de objetivos e na identidade de propósitos entre
os dois empregos mais do que no modo como as firmas possam
estar em desacordo entre si.
De positivo, essa forma de concentrar a atenção se presta a um
gênero especificamente criativo de resolver problemas, no qual se
pode achar o ajuste correto de associações entre pontos de vista
que parecem antagônicos. Assim, sustentam a mais otimista de
todas as visões de mundo, porque, para pessoas tipo 7 um gran-
dioso plano se desenvolverá em algum ponto do futuro, quando
então todas as melhores possibilidades se encaixarão numa vida,
por fim, satisfatória.

As preocupações habituais de pessoas tipo 7 incluem:


» A necessidade de manter altos níveis de excitamento.
Muitas atividades, muitas coisas interessantes que fazer. O
desejo de estar emocionalmente por cima.
» Manutenção de múltiplas opções como forma de evitar o
compromisso a um único curso de ação.
» Substituição do contato profundo por alternativas mentais pra-
zerosas. Falar, planejar e intelectualizar.
» Charme como primeira linha de defesa. Tipos medrosos
que se movem rumo às pessoas. Evitar o conflito direto
escapando pelas frestas. Escapar de encrencas por meio
da conversa.
» Um estilo de atenção que consiste em interrelacionar e
sistematizar informações de modo que os compromis-
sos necessariamente incluam brechas e outras opções de
apoio. Esse estilo de atenção pode levar:

155
» a um escapismo racionalizado de tarefas difíceis ou limi-
tativas, e
» a capacidade de sintetizar conexões e paralelismos inco-
muns entre pontos de vista que parecem antagônicos ou
não relacionados.

Tipo 3 e 7 se assemelham
Pessoas do tipo 7 têm muita energia e vão trabalhar duro des-
de que seus interesses se mantenham. Na superfície, eles podem
se assemelhar ao tipo 3, dispostos a competir, interessados em
vencer e certamente preocupados com o espelhamento de suas
qualidades excepcionais nos olhos de outras pessoas. Esses pon-
tos podem parecer semelhantes para alguém de fora, mas ope-
ram a partir de visões de mundo internas muito diferentes.
Pessoas tipo 3 querem poder sobre os outros, porque se me-
dem pelo grau de respeito e consideração que recebem deles.
Querem escolher uma trilha profissional em que possam subir ao
topo da escada competitiva. As provas de uma ascensão satisfató-
ria são imagem, segurança, título e prestígio.
Pessoas tipo 7, assentadas no mesmo banco competitivo da
frente, são envolvidas por “uma atividade interessante, uma das
muitas que eu faço”. Também querem a alta consideração dos
outros, mas não na forma de poder sobre elas. Não gostam de
ser rotuladas de acordo com a profissão. “Chamar-me de médico
é limitado. Sou bem mais do que uma coisa apenas.” A ideia é
manter uma alta qualidade em atividades interessantes. “Corro,
sozinho, escrevo versos, posso fazer qualquer coisa”.
Elas são bem menos inclinadas a subir até o topo, sobretudo se
o seu tempo disponível for muito solicitado, ou se tiverem de con-

156
frontar aqueles que não pensem bem a respeito delas. Querem ser
aceitas para competir na melhor das vias, mas podem querer não
limitar seus outros interesses a fim de avançar para o ponto mais
alto. “Quero saber que sou capaz, mas não tenho de me pôr à prova”.
Provavelmente, trabalharão vários dias seguidos a fim de ganhar o
dinheiro para ir embora, em vez de vários dias seguidos para com-
prar um carro da moda. As provas do sucesso, para elas, são fazer
um monte de coisas fascinantes na vida e ter galgado ao topo sem
ficarem presas por um compromisso permanente.
A diferença psicológica entre o 3 workaholic e o 7 mais ver-
dadeiramente narcisista é que, para o 3, o valor pessoal reside na
conquista de realizações. O verdadeiro eu talvez não exista, mas as
credenciais da pessoa, sim. O foco da atenção está em fazer uma
coisa muito bem, porque o valor de um 3 aos olhos dos outros
depende da realização brilhante de uma tarefa. Trabalham bem
mais duro do que gostariam, porque sua recompensa está não
em se sentir bem, mas, sim, em poder dispor do respeito alheio.
Pessoas tipo 7, igualmente desejosas da boa opinião alheia,
verão a consideração dos outros com um espelho exato de seu
valor pessoal interior. Elas não precisam se esforçar o tempo todo
porque “a vida é boa, e eu estou feliz por ser eu mesmo”. Se os
outros não reconhecerem seus méritos internos, elas se voltarão
para si em busca de consolo, racionalizando a rejeição como não
sendo um erro delas. O eu possui inúmeras dimensões, inúmeras
vias possíveis para o jogo e para a diversão. Um momento ruim
pode ser apagado por uma caminhada no campo, um bom livro,
um dia de sol claro, uma xícara de chá quente.
De certa forma, narcisistas sofrem menos do que 3 com a des-
consideração alheia, porque têm a si próprios como companhia e
porque estão convencidos do brilhantismo de seu próprio destino.

157
História de família
Pessoas tipo 7 têm lembranças agradáveis de seus anos de
infância. Os relatos têm a característica de um lindo álbum de re-
tratos: o menino no balanço, a menina de avental. Normalmente,
não há nenhuma amargura. “Papai roubou mamãe de nós. Eu
tinha oito anos e aos nove já tinha me esquecido dela”. Mesmo
com um enredo objetivamente ruim, há pouco resíduo de rancor
ou de culpa. Nos enredos que contêm objetivamente memórias
ruins, há o toque do “decidi que não ia ser daquele jeito” e do
“achei o que fazer para não ficar por baixo”.
O desvio da atenção é para a memória positiva. O menino que
diz ter aprendido caratê para se salvar põe em foco a descrição de
suas melhores lutas por faixa. A menina que fugiu de casa aos
quinze anos minimiza as razões da fuga e descreve a sua excita-
ção. Temos aqui o desvio da atenção oposto ao do 6: advogados
do diabo tendem a se lembrar do pior. Mas são aventureiros que
buscam o prazer e se afastam da dor, por isso, tendem a ter me-
mórias do melhor.
Para pessoas tipo 7 há muitas lembranças da infância que
são positivas e objetivamente reais. Há uma tendência a favorecer
a mãe em detrimento do pai, pois a rebeldia paranoica contra a
autoridade paterna assume um tom docemente antiautoritário.

Planos e programações
Para pessoas tipo 7 o dia está sempre cheio de possibilida-
des. Há listas mentais de coisas interessantes a se fazer. Essas são
pessoas antidepressivas, para quem o trabalho está mesclado à
imaginação e aos jogos mentais. Entremeado à sua atividade ou
projeto, podem sentir prazer com o ondular de um cabelo de mu-
lher à luz do Sol, ou ficar fascinadas com as sombras na parede.

158
A ideia é manter o espírito animado, trabalhar até o instante em
que se sintam cansadas e então partir para outra coisa antes que
o tédio ou um senso de obrigação ganhe terreno.
Elas podem trabalhar incessantemente, preferindo lidar com
três ou quatro atividades de uma só vez. Mas os projetos rara-
mente avançam como se fossem o único objetivo, e todo projeto
é entremeado por coisas agradáveis de fazer. A intenção por detrás
dos planos e programações é nunca ficar deprimida ou paralisada;
tudo o que se tem de fazer é se ligar a um fluxo estimulante de
coisas interessantes.
Pessoas tipo 7 possuem a convicção entusiasmada de que a
vida é ilimitada, desde que as opções sejam mantidas em jogo. A
ideia é de não deixar passar nada, de modo que uma opção possa
ser mentalmente guardada como um tesouro, mesmo quando
não houver lugar algum para incluí-la na programação do dia.
Assim, compromissos casuais são fáceis, mas o compromisso es-
tável é difícil, porque a estabilidade cerceia a sensação de um fu-
turo ilimitado. Elas são ávidas por experiências e tendem a querer
pequenas provas do que há de melhor mais do que a se compro-
meter com um único ponto de vista.

Pensando opcionalmente
O encaixe de opções significa que uma pessoa tipo 7, de fato,
nunca pode estar imobilizada. Sempre há diversas trilhas mentais
em funcionamento e, por estarem todas elas interrelacionadas,
na mente do 7, cursos de ação muito distintos podem, de uma
forma estranha, parecer a mesma coisa. De seu ponto de vista,
cada insight e cada abordagem está intrinsicamente ligada a to-
dos os outros. Esse hábito de atenção pode ser visto como um
movimento em várias direções ao mesmo tempo.

159
Charme e chicana
Embora compartilhem o núcleo da paranoia com 5 e com 6,
7 não parecem absolutamente sentir medo. São agregadores e
faladores. São cativantes e gostam de jogos e brincadeiras. A atra-
ção por falar e intelectualizar poderia também ser vista como um
substituto da ação pelas palavras ou pelo discurso. E, na verdade,
dizem que prefeririam discutir exaustivamente soluções geniais
para os problemas a ser limitados pela chateação e pela escravi-
dão do trabalho.
Tanto o 5 quanto o 6 têm problemas com produção e conclu-
são. Ambos temem o julgamento de seus projetos. E pessoas tipo
7 têm exatamente os mesmos problemas com a ação, mas seu
medo de serem vistas é oculto por uma conversa fascinante e um
estilo agradável.
Na verdade, há um medo de ir fundo demais em qualquer
coisa, medo este mascarado por uma fascinação por muitas coi-
sas. A atração pelo prazer é vista como um movimento positivo
quando, na realidade, mascara uma fuga da dor e do sofrimento.
Elas têm dificuldade em se limitar a um projeto ou a uma
atividade única, porque, com esse estreitamento da atenção, as
capacidades objetivas vêm à luz. Qualquer ideia inflada a respeito
de uma especialidade inata desaparece sob exame cerrado.
Por conseguinte, o 7 narcisicamente inclinado evitará ser des-
coberto, amplificando seus potenciais até que apareçam realidades
concretas. Uma aptidão por matemática faz de alguém um matemá-
tico, porque, com uma apresentação bastante graciosa e um pen-
dor inconsciente por definições, experts em matemática podem ser
vistos como aqueles cujos insights especiais os colocam acima da
necessidade de graus acadêmicos.

160
Pessoas tipo 7 também têm sido estereotipados como charla-
tães, porque são atraentes e querem que os outros os adorem. Elas
elevam as expectativas dos outros, que podem não estar tão acostu-
mados a flores, ao charme e a “compartilhar os melhores momentos”.
Ainda, querem ser adoradas por gente interessante, mas se chateiam
logo com a repetição, sobretudo à luz fria do dia. Seu egocentrismo,
de fato, se revela quando o interlúdio da noite que passou é esque-
cido, quando a nova namorada liga, e já esqueceram seu nome.

Superioridade/inferioridade
Para pessoas tipo 7, atração por altos níveis de estimulação
pode ser usada para propósitos escapistas, mas também motiva a
curiosidade intelectual e a pesquisa criativa. Um narcisista pato-
lógico simplesmente assumiria sua própria superioridade mental
e se sentiria, portanto, com direito a ser reconhecido e assistido.
No entanto, em um 7 que esteja começando a abandonar a
convicção neurótica de que tem habilitações especiais, encontra-
ríamos alguém que descobriu que, ao correr com tanta pressa na
direção do prazer, estava, na verdade, correndo do sofrimento e
da dor.
A dor dos narcisistas é a de que eles podem ser revelados como
sendo menos do que acreditam ser. Há um questionamento in-
terior: “Onde é que eu fico? Sou melhor ou pior do que a pessoa
com quem me encontro? Quem é melhor aqui? Eu ou meu amigo?”.
Patologicamente, a resposta sempre será: “Eu sou superior”. No en-
tanto, para pessoas tipo 7 que estão trabalhando em si, a questão
do valor comparativo ainda está viva em seus pensamentos, mas
pode ser usada como lembrete para que prestem atenção às suas ca-
pacidades objetivas.

161
“A pista do meu próprio narcisismo é quando começo a olhar um amigo
de cima. A coisa assume formas bem insidiosas. Eu o perdoo por ser
idiota, ou então o repreendo silenciosamente por ser tão errado. Uma vez
que eu encasquete com a ideia de que estou lidando com alguém que
não sabe manter o nível, me dá vontade de sair da sala. Aborrece-me
tudo o que ele vai dizer, e ele parece tão previsível que tenho vontade de
gritar! Então digo para mim mesmo: ‘que gente tacanha, que falta de
amplitude!’. Ou então enterro a objeção dele com dois ou três argumen-
tos de um ponto de vista contrário”.

Assim, quando pessoas tipo 7 alinham atividades de forma


contígua, não deixando tempo algum entre “os componentes de
uma vida interessante”; quando a atenção salta compulsivamente
entre várias opções interessantes, estão em fuga.

Relacionamentos hierárquicos
Pessoas tipo 7 querem nivelar a autoridade preferindo um
sistema em que não haja ninguém nem acima nem abaixo deles.
No início, as autoridades são apenas pessoas, às quais pessoas
tipo 7 se sentem inatamente superiores e que muitas vezes respon-
dem aos seus pontos de vista bem articulados. Mas a realidade é que
aventureiros são tipos medrosos que buscam contatos prazerosos e
agradáveis como meio de desarmar o controle da autoridade.
Em geral, se tornam ferozmente antiautoritários se, de alguma
forma, lhes cercearem a liberdade. O poder de uma autoridade
subalterna é automaticamente minimizado, pois se presumem
capazes de, por uma conversa, se safar de qualquer um que ache
de se colocar no seu caminho.
De positivo para uma interação hierárquica, pessoas tipo 7 são
ótimas para levantar o ânimo de um grupo. Têm um tempera-
mento predominantemente agradável, sabem bastante a respeito

162
de todas as coisas para pretender que sabem mais e discursam
bem. Ficarão com as alternativas positivas sem incorrer em dúvidas e
são particularmente boas quando um projeto está no estágio de ideali-
zação ou numa fase de dinamismo.
São capazes de alinhar objetivos e metas de um projeto a ou-
tras posições teóricas, de trabalhar em rede com outros e promo-
ver ideias alheias. São mais eficientes no início de um projeto e
em manter a fé quando o projeto sofre um deslize.
De negativo para o relacionamento com a autoridade, pessoas
tipo 7 perdem o entusiasmo após o lançamento da ideia e os está-
gios de planejamento. O interesse some gradativamente no meio do
projeto, e conclusões são muito difíceis quando as opções se fecham.
Uma vez que o projeto esteja solidificado e embalado, ficam descon-
tentes com a rotina e com a restrição das possibilidades.
A verdade é que seriam mais produtivos se designados para a
pesquisa de novas ideias, para o ajuste do projeto a uma imagem
maior, para o trabalho em rede, ou se fossem contratados em
tempo parcial como consultores de planejamento.
Pessoas tipo 7 podem se tornar insistentes em relação a uma
ideia interessante, porém impraticável. Há uma substituição da
monotonia do trabalho duro, de ordem prática, por planos e teo-
rias e uma tendência a desprezar aqueles com “uma visão menor”.

Idealismo e futurismo
Pessoas tipo 7 são tão antiautoritárias quanto qualquer pa-
ranoica verdadeira; porém, mais do que se envolverem em con-
frontos diretos, procuram nivelar de modo suave o controle da
autoridade. Dizem: “Você faz sua parte, e eu faço a minha”. E isso
realmente significa que são agentes livres, responsáveis apenas
por si mesmo. Implica também em: “Deixe-me em paz! Não me
diga o que fazer!”.

163
Há uma estranha incongruência entre os ideais de uma subje-
tividade radical, em que cada indivíduo é respeitado como único,
e o fato de se sentirem superiores aos outros. São capazes de
ver que cada um é passível de ter habilidades únicas, mas que a
maioria está limitado apenas a um talento. Mas pessoas tipo 7
acreditam que chegam a ter todos os talentos.
Elas veem como a matemática e a música se moldam entre si,
de modo que não precisem fazer o trabalho de uma ou de outra
para possuir a ambas.
Também, uma autoimagem idealizada as leva a supor que,
com pouco trabalho e com a superioridade natural de talentos e
dons, tanto a música quanto a matemática por exemplo, podem
ser dominadas em questão de meses.
Sua tendência para a imaginação positiva preenche os vazios
de informações reais com fantasias e ideias. Essas ideias embe-
lezadas formam um eu idealizado que substitui os requisitos de
uma substância e de uma profundidade genuínas.
Uma boa parte do prazer de uma pessoa tipo 7 está no planejar e
no antecipar eventos. Eventos futuros são saboreados mentalmente
como doces imagens que se tornam tão tangíveis e materiais quanto
mesas e cadeiras. Por exemplo, a melhor parte de uma refeição é
muitas vezes antes de a comida ser servida, porque todas as delicio-
sas combinações podem ser saboreadas pela mente.
Igualmente, se um aventureiro estiver de fato saboreando uma
refeição delicada, a experiência pode ser imensamente expandida
acrescentando a ela, por intermédio da imaginação, os melhores as-
pectos de outras espécies de prazer. A sensação de ver o pôr do sol
junto a amigos especiais entra em jogo. Os melhores aspectos de
opções passadas e futuras podem ser saboreados juntamente ao pa-
ladar concreto de uma refeição.

164
Pessoas tipo 7 são capazes de ficar intoxicadas pela própria
imaginação, porque, dentro dela, os melhores aspectos de cada
opção se reuniram de uma forma concreta. No entanto, o pla-
nejamento não precisa ser escapismo. Elas relatam que derivam
extremo prazer de atividades intelectuais e mentalmente criativas.
Suas habilidades naturais de atenção lhes permitem produzir so-
luções brilhantes para problemas comuns e viajar para domínios
da imaginação que pareceriam extraordinários àqueles que ten-
dem a prestar atenção de forma prosaica.

Relacionamentos íntimos
Pessoas tipo 7 se relacionam compartilhando o que é maravilho-
so e admirável em cada um dos parceiros, mas com uma consciên-
cia específica de restrições ao comprometimento. São mais felizes
quando todas as opções estão abertas. “O que pode haver de errado
em estar apaixonado? O que pode existir de mau em compartilhar
as melhores coisas?”. Há uma preferência definitiva por saborear um
pouquinho das melhores aventuras a ter uma refeição completa de
qualquer uma delas.
Estar comprometido com uma só aventura, por mais atraente
que ela seja, produz sentimentos de tédio e de saciedade e põe
uma restrição ao próximo romance possível. Se surge um proble-
ma, as atividades podem ser tão imprensadas entre si que não
há tempo para falar da questão. “Coisas vitais a fazer” podem ser
programadas com tanta proximidade que terão “dez minutos para
discutir nossa separação antes de partir para tomar um avião”.
Confrontação e recriminação são difíceis para um narcisista
devido às implicações de que ele, ou ela, teria falhado. Há o de-
sejo de pôr conversas sérias na agenda e então fechar a ranhura
transferindo-se para planos alternativos.

165
Em certo sentido, pessoas tipo 7 não vivem relacionamentos
da vida real, porque suas mentes são facilmente inundadas pelas
associações mentais e pelas fantasias sugeridas pelos relaciona-
mentos. Por outro lado, são admiravelmente capazes de levantar
o moral de um relacionamento em crise, induzindo o casal para
coisas mais brilhantes.
Um efeito colateral do fato de poderem substituir com tanta faci-
lidade sentimentos negativos por uma opção agradável é que muitas
vezes têm dificuldades com pessoas emocionalmente dependentes
ou carentes.
O fato de um parceiro não ser capaz de desviar a atenção de
um quadro de sofrimento ou de dor, ou de não ser capaz de dei-
xar passar uma contrariedade emocional, parece uma limitação
grave para o otimista 7. Normalmente, dizem que têm de abafar
o estado depressivo de um parceiro com uma programação de
atividades longe de casa.
Embora seja difícil assumir um compromisso final, pessoas
tipo 7 sentem falta de um bom relacionamento se o casal se se-
para. Sua imagem idealizada do amor é a do parceiro devendo
ser um acréscimo de companhia para atividades com que o já se
deleitam sozinhas. O parceiro deveria corroborar o fato de que a
vida é boa e de que nem limitações, nem restrições, deveriam ser
impostas. Se não se der esse retorno do parceiro, então a melhor
opção seguinte seria programar uma relação que os mantenha
interessado, mas nunca a ponto de se aborrecer ou sentir compe-
lido a permanecer nela.
De positivo para os relacionamentos íntimos, pessoas tipo 7
se comprometem a manter vivos os sentimentos por meio de
atividades, ocupações intelectuais, sexo, jogos e diversões. São
também capazes de despertar novos interesses a serem com-

166
partilhados, de enterrar velhos ressentimentos e começar tudo
de novo.
De negativo para a intimidade, querem debandar se o parceiro
fica emocionalmente carente ou deprimido. A saída tende a ser a
racionalização de seu compromisso original, introduzindo contin-
gências que mudem o plano original.

Como pessoas tipo 7 prestam atenção


Para alguém de fora, uma pessoa tipo 7 pode parecer um dile-
tante com muitos interesses difusos: vários projetos acontecendo
ao mesmo tempo, três ou quatro livros semiacabados espalhados
pelo chão. A atenção é acionada pela experiência e se mantém
estimulada por mais experiência, numa corrida impetuosa atrás
da próxima empreitada fascinante.
Do ponto de vista de um 7, todos esses interesses parecem relacio-
nados. Tudo parece estar levando a algum lugar. Em algum ponto no
futuro, tudo se juntará. Que maravilha encontrar a síntese perfeita! Num
sentido escapista, a atenção é capaz de se mover fluidamente entre do-
ces lembranças, ideias fascinantes e atraentes planos futuros.
Uma pessoa tipo 7 que estruturou sua forma de prestar aten-
ção, num método útil de resolução de problemas, é capaz de fo-
calizar todas as suas opções num único problema. Em vez de se
alternar entre opções a fim de dissipar um problema.

A capacidade mental superior para o trabalho


Para pessoas tipo 7, o aspecto evasivo do planejamento é du-
plo. Primeiro, se o planejamento for bastante imaginativo e inte-
ressante, é a atividade preferível a começar a levar a sério ao lado
tedioso do trabalho. “Por que não viver nos sonhos e deixar os
outros pagarem a conta?”.

167
O segundo tipo de fuga é mais sutil e envolve desconsiderar
o fato de que, quando assumem um compromisso, os outros en-
volvidos concordam com as premissas básicas em que repousa
esse compromisso e não apenas com alguns de seus pontos mais
agradáveis. Por exemplo, se há um comprometimento com a mo-
nogamia; ela não é seguida por ser uma consequência do amor
recíproco, mas pelo 7 ter se apaixonado pela pessoa com quem
quer viver. E não porque ambas as pessoas estão apaixonadas.
A maioria das pessoas tipo 7 naturalmente perceberia a
falsidade desse raciocínio, mas estaria inclinada a minimizar o
fato de um compromisso quebrado e enfatizar algo na linha do
“Mas que erro pode haver com o amor? O amor iguala as coi-
sas; toda a espécie de amor não será amor?”. Isso tem o efeito
de colocar as pessoas responsáveis e cumpridoras do dever na
posição daquelas que não sabem ir na onda.
Com o trabalho não é diferente, já que implica um compromisso
integral a um único curso de ação, em lugar de uma circulação entre
muitos cursos de ação, por não se querer perder nada do que possa
ser bom. Trabalhar implica ainda em certo grau de restrição volun-
tária. É preciso limitar outras opções e se comprometer a um úni-
co plano. Também, não é possível mudar o plano quando for ruim,
nem desistir dele se houver críticas. Menos ainda se outros não se
entusiasmarem com as “boas ideias” apresentadas.
Do ponto de vista da atenção, trabalho significa o empenho
em manter a atenção estabilizada no momento atual preciso e a
capacidade de aceitar o que vier, seja alegre ou triste, quer traga
um sentimento ótimo, quer acarrete um sentimento ruim, mau.
Quando se trabalha, é preciso ficar focado numa coisa de cada
vez, até que o projeto seja concluído.

168
Gula
A gula das pessoas tipo 7 se caracteriza por uma fome de
excitações e experiências sentida pelo corpo. Elas dizem que têm
o vício da própria adrenalina. Adoram o ímpeto da energia física,
a agitação da aventura e estimulação mental. São também, com
frequência, atraídas pelos alucinógenos e por outras substâncias
que sirvam para mantê-las por cima, embriagadas.
A gula é uma fome que o corpo sente, mais de estimulação
e de experiências do que propriamente de comida. De fato,
elas abandonariam uma experiência antes de ficar saciados a
fim de garantir a continuidade de seu interesse. Elas têm um
gosto “gourmet” por vivências, preferindo pequenas provas do
que há de melhor a uma overdose como experiência única.
A gula mental é comumente descrita como a mente de maca-
co. O ensinamento usa a imagem de um macaco que salta agil-
mente pelas árvores da floresta. A versão corporal da mente de
macaco é descrita por pessoas tipo 7 como o desejo de ter toda
experiência possível. Dizem que se sentem mais vivas quando
estão se movimentando entre várias atividades fascinantes e que
dispõem de recursos infinitos de energia física, desde que seu
interesse permaneça vivo. O segredo delas é abandonar uma ati-
vidade exatamente na hora em que começam a se cansar, ou a
sentir uma ponta de enfado. Também falam que preferem ficar
sem dormir a abrir mão de algo interessante por fazer.

A virtude da sobriedade
Sobriedade significa simplesmente ser capaz de prosseguir
um curso de ação sem ter de introduzir digressões nem planos
secundários excitantes. Pessoas tipo 7 dizem que têm medo de
diminuir o ritmo e de se comprometer com um único curso de

169
ação, porque compromissos sempre implicam aborrecimentos e
sofrimentos.
Num nível mental, elas têm uma propensão para imaginar
coisas positivas exatamente opostas ao hábito de um 6 de imagi-
nar o pior a fim de estar preparado, em guarda.
Aventureiros são capazes de se embriagar com o poder de
suas próprias imaginações e também sentem uma euforia cor-
poral que se aproxima da embriaguez, quando podem dar plenas
asas ao desejo de se fartar de tanta excitação quanto possível.
São encorajados por um plano grandioso para o futuro que,
em geral, contém a visão de um modo de vida integrado no qual
os interesses principais e certos confortos especiais estão sinteti-
zados num todo; não há controvérsias, tudo transcorrendo sem
problemas, muita estimulação e não se faz nenhuma pergunta
difícil e embaraçosa.
Em um nível prático, sobriedade significa que cada mo-
mento deve ser aceito não importando o tipo de experiência
que forneça. Tanto as boas quanto as más devem ser tratadas
com igual interesse em lugar de se prestar atenção seletiva a
experiências positivas.
Uma pessoa tipo 7 sóbria sabe tomar uma coisa de cada vez e
apreciar seu verdadeiro valor e conveniência, em vez de incrementá-
-la em poder e excitação, imaginando-a como mais do que é.

Méritos
Os méritos das pessoas tipo 7 incluem entusiasmo por possi-
bilidades criativas e uma verdadeira capacidade de ir ao encontro
de outros e de produzir novas ideias. São excelentes nos trabalhos
em rede e experts em dificuldades; sobretudo, no início ou no lan-
çamento de uma empreitada. Têm disposição para experimentar

170
e de relacionar seus próprios princípios com novos conceitos para
ver os pontos de concordância que se sobrepõem entre opos-
tos; sempre dispostas a ver o melhor em todas as coisas. Capazes
de levantar o moral nas fases negras de um projeto ou de um
relacionamento. Demonstram genuíno interesse e energia para
projetos aventureiros. Apresentam disposição para trabalhar duro
visando bons momentos, projetos interessantes e por uma causa
válida. Isso do mesmo modo que outros trabalham por salários e
ganhos pessoais.

Ambientes atrativos
Com frequência, encontramos pessoas tipo 7 entre editores,
escritores e contistas. São teóricos de um novo paradigma. São
planejadoras, sintetizadoras e coletoras de ideias. Buscam meios
naturais de permanecerem animadas.
São eternamente jovens e, para permanecerem ativas e sau-
dáveis, frequentam academias e lojas de produtos naturais. Apa-
recem nas páginas de revistas de Nova Era. São idealistas, futuris-
tas, e viajantes internacionais. “Logo vou estar no avião, por isso
não estou todo hoje aqui.” Buscam o melhor como entusiastas de
comidas e vinhos. O derradeiro sorvo, a visão da quintessência.
Aparecem nos corpos docentes das universidades como promo-
tores de estudos interdisciplinares.

Ambientes não atrativos


Pessoas tipo 7 normalmente não são encontradas no traba-
lho rotineiro que não traga consigo o espírito de aventura. Por
exemplo, técnicos de laboratório, contadores, empregos fecha-
dos com rotinas previsíveis. Ou trabalho sob supervisão de um
chefe crítico.

171
Subtipos
As três questões centrais ao narcisismo: espelhamento (refle-
xo), futurismo e idealização.

Sugestionabilidade — fascinação
Nos relacionamentos com uma pessoa
Para pessoas tipo 7, novas experiências e novas ideias são
elevadas pela imaginação positiva ao ponto em que adquirem a
força de fatos consumados.

Sacrifício — mártir — na arena social


Pessoas tipo 7 são capazes de aceitar a limitação de opções
impostas por obrigações para com outros, porque a associam à
crença de que toda limitação é temporária e de que rumam a
metas futuras positivas.

Família — defensores dos que têm a mesma orientação —


como uma tática de autopreservação
Uma pessoa tipo 7 gosta da segurança de pertencer a um
grupo de pessoas com afinidade de pensamento que espelhem
as suas crenças.

O que ajuda pessoas tipo 7 a evoluir


Pessoas tipo 7, com muita frequência, começam a fazer tera-
pia, porque querem “tirar mais da vida”. Também, durante a crise
da meia-idade, época que realça a discrepância entre as expecta-
tivas imaginadas e o que foi efetivamente realizado.
Questões típicas são a convicção de que outros membros da
família é que têm problemas, a incapacidade de assumir compro-

172
missos numa relação e a dificuldade de tolerar um projeto abor-
recido ou dificultoso em curso. Podem ter dificuldades com em-
pregos, drogas e finanças em consequência da fuga para o prazer
como defesa psicológica.
Aventureiros devem identificar os momentos em que a aten-
ção se desvia de um sofrimento concreto para um devaneio men-
tal positivo ou para uma substituição prazerosa da atividade.

Pessoas tipo 7 podem aprender a se ajudar:


» Reconhecendo o apego à juventude e à energia. Permitin-
do-se ver o valor no amadurecimento e na idade.
» Aprendendo a suportar uma questão dolorosa o tempo sufi-
ciente para ver que o problema existe.
» Notando os momentos em que ocorrem evasões mentais:
programação excessiva, múltiplos projetos, novas opções,
planos futuros. Quando o pensamento e a atividade pas-
sam a ser compulsivos, estão em fuga.
» Identificando o hábito de substituir a tensão de vivenciar a
coisa real por uma ideia de como é o sofrimento.
» Percebendo que o prazer superficial e a falta de profundi-
dade nos compromissos levam ao desejo compulsivo de
mais prazer e diversão.
» Descobrindo que se perde a profundidade das experiên-
cias e do prazer quando se fica na superfície.
» Distinguindo o medo de ficar profundamente comprome-
tido consigo mesmo.
» Admitindo a pretensão de ter direito a um tratamento es-
pecial.
» Vendo o alcance da responsabilidade real que, em geral, é
muito mais do que aquilo que quer fazer.

173
» Distinguindo entre a crítica e a autoavaliação realista.
» Constatando seus sentimentos de medo quando o concei-
to do valor pessoal é desafiado, e o desejo de se promover
a fim de se sentir superior de novo.
» Tendo a disposição de trabalhar episódios de fúria quando
o conceito pessoal for questionado. Não perdendo o con-
trole quando as coisas parecerem ruins.
» Percebendo a tendência de inventar histórias a fim de evi-
tar a dor e o sofrimento. Quando cria histórias divertidas
que têm apenas uma relação tangencial com a verdade.
Ou usa analogias para racionalizar emoções difíceis. E des-
via a atenção para uma imagem mental com o intuito de
bloquear a experiência da dor.
» Identificando o momento da fuga para a fantasia, para es-
timuladores do ânimo e do humor, para o abuso dos im-
pulsos sensoriais. Desenvolvendo a capacidade de ficar no
momento presente em vez de fugir.
» Distinguindo a sensação de limitação e de medo que sur-
ge quando se perde uma opção.

Coisas que pessoas tipo 7 devem notar


Aventureiros deveriam ter a percepção de que algumas das
seguintes questões provavelmente despontarão durante o pro-
cesso de transformação:
» Sentimentos de superioridade.
» Associar uma situação difícil a tantos paralelos mentais
que o fato perde a força.
» Desejo de acelerar as atividades ao surgirem questões de
compromisso.
» Sentir-se preso e entediado com o compromisso.

174
» Uma preocupação com hierarquias internas. “Onde fico?
Qual é o meu lugar? O que os outros estão vendo em mim?”.
» Problemas com autoridade. Não querer ser o patrão. Não
querer se submeter a um patrão. Nivelar a autoridade para
evitar a dor de ser mandado.
» Culpa por ter se safado impunemente às custas do charme
e sedução.
» Falhas na lembrança quanto a experiências negativas do
passado.
» Expressar raiva debochando do problema. Vendo o proble-
ma como algo ridículo. Trivializando as preocupações dos
outros e se divertindo com elas.

175
TIPO 8: O patrão

O dilema
Pessoas tipo 8 descrevem uma infância combativa, na qual os
fortes eram respeitados e os fracos não. Na expectativa de serem
prejudicados, aprenderam a se proteger adquirindo uma sensibi-
lidade requintada quanto às intenções negativas dos outros. Por
isso, se veem como protetores.
Assim, em lugar de se deixarem intimidar pelo conflito, encon-
tram sua identidade como forçadores da justiça, sentindo muito or-
gulho de sua disposição em defender os fracos. Se expressando mais
frequentemente por meio da proteção do que por meio de senti-
mentos ternos. Da mesma maneira, estar comprometido significa
manter a pessoa amada debaixo da asa e tirar o perigo do caminho.
A questão central é o controle. Quem é que tem o poder? E
essa pessoa será justa? A posição preferida é tomar as coisas a
seu cargo, exercer o seu próprio poder sobre a situação e manter
controle sobre outros rivais fortes.
Se pessoas tipo 8 estão numa posição de subordinação, mi-
nimizarão o fato de que a autoridade tem o mesmo comando
sobre o seu comportamento e testarão os limites e interpretarão
as regras a seu favor até que as penalidades se tornem claras.
Já quando colocadas numa posição de liderança, irão assegurar
os limites de seu império. A estratégia será tomar o poder por com-
pleto em vez de buscar alianças que dependam de uma negociação
cortês ou de diplomacia. O teste de poder mais comum é pressionar
os pontos vulneráveis dos outros e observar como reagirão.
Durante a briga com um amigo, o patrão checa as motivações.
Essa é uma condição para uma intimidade mais profunda, porque
acreditam que a verdade se revela na luta, na disputa. O fato de que,

176
brigando, se pode alcançar a intimidade, é um choque para quem se
intimida com a raiva aberta ou um desalento para quem descobre
uma possível ligação precisa entre a intimidade e a raiva. O exterior
duro de uma pessoa tipo 8 encobre o coração de uma criança depen-
dente que foi prematuramente exposta a circunstâncias adversas.
Muitas pessoas tipo 8 vivem a vida sem olhar para dentro de
si. Isso traz a consequência infeliz de um hábito permanente e
arraigado de buscar fora de si o culpado. Quando, por fim, a aten-
ção se volta para dentro e percebem que todos temos um papel
em nossa própria anulação ou destruição, essa realidade pode
atingi-las com uma força suicida. Culpa e o desejo de punir o mau
procedimento são as preocupações principais porque, ao definir
um ponto de culpa, podem agir legitimamente para assumir o
controle de protetores dos inocentes e promotores da justiça.
A raiva e a força podem ser mobilizadas contra uma ameaça ex-
terna, e a raiva faz uma pessoa tipo 8 se sentir poderosa, porque
substitui instantaneamente o medo subjacente de ser feito vulnerá-
vel a outros, ou de ser traído por alguém em quem se confiou.
Partindo de uma visão de mundo em que o forte sobrevive e
o fraco perece, segurança significa saber a quem se deve enfren-
tar e quem dará cobertura. Sob pressão, a atenção se restringe a
comparar o próprio poder com a força ou a fraqueza do oponente.
Sendo assim, patrões raramente questionam a própria opi-
nião. Vacilar quanto aos méritos de uma opinião, ou examinar as
próprias motivações psicológicas, só serviria para desgastar uma
posição pessoal forte.
Pessoas tipo 8 querem previsibilidade e controle de suas vi-
das, mas logo ficam irritadas e entediadas sem o desafio de uma
posição para defender. Uma vez que as regras de conduta tenham
sido estabelecidas, muitas vezes passarão a romper as diretrizes
nas quais elas mesmas podem ter insistido. Se estão aborrecidas,

177
ou têm energia extra para queimar, criarão problemas. Isso, mui-
tas vezes, significa comprar uma briga, e gastarão uma enorme
quantidade de energia numa questão irrelevante, do tipo: “Quem
roubou meu descascador de batata?”.
Exagerar é outra forma de gastar energia extra. É uma solução
que a pessoa tipo 8 normalmente adota para o problema do tédio.
Exagerar tudo o que parece bom em termo de sexo, comida, bebida
ou drogas. Farras a noite inteira. Entretenimento pesado. Trabalhar
tão exaustivamente que se cai como uma árvore cortada. Gostar tan-
to do sabor da comida que se terminam três pratos rapidamente. As-
sim que a atenção se liga ao prazer, é difícil desviá-la. Uma coisa boa
leva a outra e assim por diante, até que seja o último a sair da festa.

As preocupações habituais de uma pessoa tipo 8 incluem:

» Controle dos bens pessoais e do espaço pessoal, e controle


de pessoas capazes de influenciar a sua vida.
» Agressão e franca expressão da raiva.
» Preocupação com a justiça e com a proteção de outros.
» Briga e sexo como formas de fazer contato. Ter confiança
em pessoas capazes de aguentar uma luta.
» Excessos como antídoto contra o tédio. Chegar tarde, entrete-
nimento pesado, farras. Tudo em demasia, barulho demais,
quantidades excessivas.
» Um estilo de atenção radical do tipo tudo ou nada e que
tende a ver as coisas nos extremos. As pessoas são for-
tes ou fracas, justas ou injustas, não há meio-termo. Esse
estilo de atenção pode levar ao não reconhecimento das
próprias fraquezas e à negação automática de outros pon-
tos de vista em favor da única opinião “legítima” que o
fará se sentir seguro, ou ao exercício apropriado da força a
serviço de outras pessoas.

178
História de família
Pessoas tipo 8 sobreviveram à infância assumindo uma pos-
tura pessoal de força e dureza. Seu mundo era dominado por
pessoas maiores e mais fortes que queriam lhes controlar a vida.
A criança 8 lutou contra uma atmosfera de diferenças injus-
tas e sobreviveu graças a uma forma qualquer de confrontação
que fizesse os inimigos recuarem. Os relatos vão desde crianças
espancadas que revidavam até crianças de bairros pobres que
conquistaram o respeito de seus iguais por não chorar, por não
demonstrar fraqueza e por vencer brigas. Em famílias nas quais
não havia maus-tratos físicos, há relatos de que eram respeitadas
por serem fortes e rejeitadas quando pareciam fracas.
Pessoas tipo 8 normalmente se descrevem como aquelas que
tentaram ser boas quando novas. Dizem que, de início, quiseram
agradar aos outros, mas que se aproveitaram de sua inocência, e
que foram magoadas e feridas quando mostraram seu lado vul-
nerável. Elas acreditam que começaram a repelir os outros em
defesa própria e logo descobriram que era mais divertido violar as
regras do que tentar cumpri-las.

Negação
Crianças tipo 8 florescem numa atmosfera de competição aberta,
usando quaisquer dotes naturais que possuam como vantagem para
vencer. Pequenas guerreiras em combate não podem se dar ao luxo
de pensar em suas fraquezas, contam consigo apenas e aprendem a
avançar pressionando a defesa do inimigo. São crianças que apren-
deram a negar suas limitações pessoais a fim de parecer fortes.
Sendo assim, uma vez que a atenção de uma pessoa tipo 8 se fixe
a uma postura de discussão ou disputa, o campo de percepção se res-
tringe a um enfoque dos pontos fracos na defesa do oponente.

179
É difícil para uma pessoa tipo 8 compreender os contra-ar-
gumentos do oponente, porque sua atenção interna se recusa
a reconsiderar uma questão. Assim que a sua atenção se dirige
a uma postura de combate, a maior parte das provas contrárias
será negada, porque ela não pode se dar ao luxo de desviar sua
atenção um tempo suficientemente longo para examinar com
detalhes qualquer evidência.

“Raras vezes considerei a possibilidade de minhas opiniões estarem


equivocadas. De qualquer maneira, isso não tinha a menor importância,
porque era o confronto direto que me excitava e me fazia sentir vivo. Ou
é trabalho e nenhuma diversão, ou então é puro divertimento sem um
pingo de trabalho. Seja o que for, é tudo ou nada”.

O estado de existência preferido é o do excesso e do movi-


mento cheio de energia. O intervalo de tempo entre o desejo e
a ação é curto; e, desde que a meta desejada esteja fixada na
mente, o patrão adota aquele tipo de atenção inflexível que fun-
damenta a postura do combate.
Negar limitações pessoais, muitas vezes, leva a um hábito pa-
ralelo de negar a própria dor física e emocional. Pessoas tipo 8,
com frequência, contam histórias de como terminaram um gran-
de jogo de futebol no colégio com uma bandagem no joelho le-
sado e desmaiaram de dor depois de chegarem em casa.
A alteração necessária da percepção para negar uma expe-
riência dolorosa é um recurso fundamental para um bom lutador,
mas pode se tornar fonte de terrível sofrimento quando este co-
meça a ser afetado pelo que outras pessoas pensam, ou quando
começa a se apaixonar. No início do romance, pessoas tipo 8 se

180
descobrem divididos entre o desejo de reabrir os sentimentos ter-
nos do coração e o hábito de negar emoções mais delicadas.

Controle
Pessoas tipo 8 se sentem seguras quando são capazes de
controlar uma situação, tomando as decisões e fazendo os outros
obedecerem. Também se sentem poderosas quando vão contra
as regras de conduta às quais outros se submetem. Como querem
o poder tanto para estabelecer limites quanto para quebrá-lo, seu
comportamento, muitas vezes, parece oscilar entre a imposição
de exigências puritanas para se comportar integramente em rela-
ção a si e aos outros e o extremo oposto da violação de todas as
coisas que elas tenham se proibido de fazer.
Um exemplo de um patrão assumindo controle seria ele, ou
ela, estabelecer uma lista extenuante de exigências e depois ir
pescar por uma semana. A semana seria isenta de culpa e deli-
ciosamente temperada com turbulências. Outro exemplo seria o
patrão — literalmente — atormentar pessoalmente os empre-
gados a ir trabalhar mais cedo em nome da eficiência e então
manter esses mesmos empregados sentados numa reunião geral
por uma hora até que ele, ou ela, chegue.
Pessoas tipo 8 estão preocupadas em ser capazes de limitar, ou
pelo menos predizer, o grau de influência que outros podem ter so-
bre suas vidas. Piadas étnicas de mau gosto, insinuações de homos-
sexualidade e histórias de regressão a vidas passadas são os tipos de
manobras coloquiais capazes de polarizar quase todas as situações
sociais em facções de amigos e de inimigos e capazes de forçar as
pessoas a apresentarem o tipo de reação de baixo ventre, à zona
mais vulnerável, que satisfaz a preocupação com o controle.
No entanto, pequenos erros desconcertam as pessoas tipo 8 e
as levarão a reagir ruidosamente, porque foram atingidas em seu

181
ponto fraco sem que pudessem prever. Erros de grande monta
são paradoxalmente atraentes, sobretudo se catastróficos o bas-
tante para exigir uma confrontação total.
Se assim for, uma pessoa tipo 8 quererá eliminar a dificuldade
em potencial antes que tenha chance de crescer. E, se algo sur-
preendente ou inconveniente ocorrer, a atenção pode se tornar
tão meticulosamente concentrada num pequeno erro que ela se
esquece das reações dos outros e dos meios óbvios de reparar
o erro. Isso pode ter consequências sociais constrangedoras, na
medida em que o patrão se torna dogmático e insiste em tentar
reestabelecer o controle.

Vingança
Planejar o modo de revidar serve para bloquear sentimentos
de humilhação e de ameaça que brotam do fato de ter sido derro-
tado por um adversário. O hábito de uma pessoa tipo 8 culpar os
outros como a fonte de seus problemas e de rejeitar mentalmente
opiniões contestatórias como idiotas ou tolas, sem refletir sobre elas,
são outras linhas de defesa contra a sensação de ser controlada por
alguma influência externa.
Pessoas tipo 8 normalmente confundem seu desejo de ir à
forra com um senso de justiça. Elas foram ofendidas de uma
maneira que parece injusta; é por isso que retaliar, para elas, é
como equilibrar os pratos de uma balança, mais do que sim-
plesmente fazer vingança.

Justiça
A necessidade de manter o controle desempenha um papel
na preocupação da pessoa tipo 8 com a justiça. Essa inquietude
é alimentada pelo desejo frustrado na infância de achar uma au-

182
toridade tão digna de confiança que, se pudesse, renunciaria ao
controle sem medo de ser enganada ou dominada.
Assim, o patrão pressiona para descobrir as verdadeiras mo-
tivações das pessoas; sobretudo, para ver se são justas. Pois, o
conceito que faz de si é o de defensor dos fracos que, com natu-
ralidade, gosta de entrar numa situação injusta e de resolvê-la.
O triste efeito bumerangue dessa posição de defensor é que
pessoas tipo 8 são muitas vezes tão agressivas na defesa de uma
causa válida, que podem ser percebidas antes como turbulentas
do que como aliadas úteis.
Contudo, pessoas tipo 8 também são passíveis de serem ma-
nipuladas a lutar as lutas dos outros. Em famílias problemáticas,
é, com frequência, a criança 8 que percebe a raiva não admitida
pelos adultos e age contra ela. Nesse cenário, é provável que os
outros membros da família o apontem como o encrenqueiro, sem
perceber a clareza com que a agressividade interna deles se trans-
mite para a criança.

A verdade como uma qualidade da mente superior


A preocupação com o jogo limpo faz a atenção se voltar para as
intenções ocultas de outras pessoas. Patrões querem testar a veraci-
dade do que os outros dizem e confrontá-los diretamente nas ques-
tões sensíveis para ver como a verdade é capaz de se alterar sob pres-
são. Buscar a verdade não parece um combate, do ponto de vista de
uma pessoa tipo 8. No entanto, é antes a percepção de quando uma
opinião parcial está sendo emitida, ou de quando uma informação
está sendo retida, e é também a obediência a um impulso natural de
agitar e desconcertar todas as partes envolvidas, até o ponto de elas
deixarem escapar seus reais sentimentos. Brigar é entendido como
fundamental para a amizade, porque é sob pressão que as pessoas
revelam suas intenções ocultas.

183
Pessoas tipo 8 respeitam uma luta justa. O conceito idealizado
de si mesmos, de que são pessoalmente poderosas, é projeta-
do externamente como uma admiração por quem sustenta uma
opinião forte. Há uma identificação com aqueles que, sob fogo,
não cedem terreno, e há desrespeito por qualquer um que tente
evitar a confrontação.
Do ponto de vista de um estranho, “a luta justa” do patrão pode
dar a ideia de dois oponentes inflexíveis colocados em posição de
combate num ringue de boxe. Aqueles de nós que não têm contato
com a própria agressividade armam muitas vezes esquemas para fi-
car fora do caminho de um 8, para reter as más notícias, ou adulterar
informações. No entanto, do ponto de vista de uma pessoa tipo 8,
brigar é uma fonte de excitamento e é bem mais divertido trabalhar
contra um oponente respeitável do que conquistar uma vitória fácil.
A raiva que vem à tona para fazer face à situação é sentida como
um poder direcionado e concentrado. Ela é antes sentida como uma
excitação em vez de uma emoção negativa. Uma luta justa é, na ver-
dade, uma situação de sempre vencer: derrotar um oponente dá a
satisfação de asseverar o controle, e perder para um oponente valo-
roso, que foi testado e avaliado como justo, diminui a suspeita em
torno daqueles que têm poder sobre a vida da pessoa tipo 8.
Mentalmente engrenados para passar por cima de qualquer po-
sição, a atenção assume uma posição de combate, cujos alvos são
os aspectos negativos da oposição e os positivos da própria situação.
Opiniões alternativas são mentalmente rotuladas de imbecis e po-
dem automaticamente abandonar a mente sem ser consideradas no
todo, porque a atenção da pessoa tipo 8 está estreitamente focaliza-
da na realização da meta que dá sustento à sua segurança.
Em uma pessoa tipo 8 madura, a necessidade neurótica de
criar conflito como forma de descobrir a verdade enterrada é um

184
hábito do passado; e o que se desenvolve a partir desse ponto
de sofrimento neurótico é uma capacidade rara de reconhecer a
verdade única de cada indivíduo.

Como pessoas tipo 8 prestam atenção


Pessoas tipo 8 têm várias formas para não perceber informa-
ções ameaçadoras. Suas defesas psicológicas giram em torno de
uma ideia de si próprias como mais poderosas do que qualquer
oposição em potencial, de modo que, em consequência, suas
percepções tendem a maximizar suas próprias forças e minimizar
as vantagens de um oponente.
Para elas, excessos como farras, bebedeiras ou esbanjamento ser-
vem facilmente para bloquear o surgimento de um insight doloroso
ou de uma percepção capaz de ameaçar o sentimento de poder pes-
soal. O terreno perceptivo delas tende a tomar pontos de referência
excludentes. “Você é amigo ou inimigo? Líder ou liderado? Forte ou
fraco? Contra mim ou por mim?”. O insight de que existem áreas inter-
mediárias para soluções conciliatórias é geralmente acompanhado por
um sentimento de que se é extremamente vulnerável.

Estilo intuitivo
Pessoas tipo 8 se preocupavam com poder e controle, e
assim, a criança aprendeu a registrar no próprio corpo impres-
sões sobre o grau da força gerada pelos outros.

Raiva exposta
A expressão desinibida da raiva é essencial para a psiquê
de uma pessoa tipo 8 e é, ao mesmo tempo, ponto de grande
orgulho e de grande sofrimento para eles. Há orgulho no fato
de que, se algo precisar ser dito, ela dirá francamente, e há

185
muita autoincriminação por essas mesmas palavras que, ditas
com raiva, podem levar à perda de uma amizade, por exemplo.
Patrões foram recompensados por serem poderosos no pas-
sado, e pode ser chocante para eles perceberem que ganhar uma
discussão é capaz de produzir rejeição e não respeito.
Pessoas tipo 8 relatam que, ao entrarem numa disputa, se con-
centram tanto na vitória que se esquecem de que os outros envol-
vidos estão se sentindo hostilizados pela exibição de força. O clímax
físico de argumentar vivamente por uma causa válida não parece de
modo algum negativo para elas; na verdade, a raiva ser exposta pare-
ce essencial à construção de um relacionamento digno de confiança.

“Qualquer tipo de medo é quase anulado com o acesso da raiva. Desco-


bri que não sou nada corajosa. É que subestimo tanto a possibilidade de
perigo, que acabo por não ter nenhuma reação a ele”.

A raiva, por outro lado, pode ser instantânea e é algo muito


físico. Serve para espantar o pior dos medos, que é o de cair nas
mãos de pessoas vis. A “raiva ajuda a descarregar; faz você se sen-
tir forte e traz uma espécie de energia prazerosa”.
É provável que uma pessoa tipo 8 sem consciência de si es-
pere oposição como fato normal e exerça inconscientemente toda
a força necessária para assumir o controle. Tal comportamento
é marcado por uma inflexibilidade de opinião, uma insistência
numa verdade parcial e numa incapacidade de desviar a atenção
para outros pontos de vista. As energias usadas para exercer con-
trole seriam a força física e a raiva.

Luxúria
Pessoas tipo 8 são propensas a seguir seus impulsos. Na in-
fância, a capacidade de passar rapidamente do impulso para a

186
ação foi parte de um esquema de sobrevivência que dependia de
agir primeiro, para pensar depois. Por isso, elas têm baixa tole-
rância à frustração. É difícil conter a raiva, deixar de agir com base
numa atração sexual ou não comer um terceiro prato no brunch
de domingo, por exemplo.
Assim, patrões são propensos a acreditar que tudo o que os
faça se sentir bem e poderosos deve ser um curso correto de ação
e, por serem relativamente isentos da culpa e do questionamento
interno que a maioria de nós associa ao excitamento do nosso pró-
prio corpo, acham natural levar até o fim uma atração sexual.
Por isso, dizem que ficar com raiva das pessoas é, muitas vezes,
um contato positivo para eles. Uma boa briga os torna confiantes
quanto às verdadeiras intenções do outro, o que lhes permite se
sentirem mais confiantes no relacionamento. Eles também re-
latam a possibilidade de surgir um tipo de intimidade durante
uma briga, de modo que a raiva se transforma em sentimentos
sexuais, e a briga acaba em sexo.

Excesso
Obter mais de tudo o que seja bom é uma solução das pes-
soas tipo 8 para a questão central da indecisão quanto às suas
verdadeiras metas pessoais. O excesso de estímulos tem o efei-
to de amortecer a percepção de outros sentimentos e substitui
a necessidade de examinar os verdadeiros objetivos emocionais.
Embora possam mobilizar energia para a satisfação de suas ne-
cessidades e pareçam desinibidas em seu desejo de gratificação,
podem estar, no fundo, tão afastadas de seus verdadeiros desejos
quanto a pessoa tipo 9, que se esqueceu de si.
A capacidade de ação de pessoas tipo 8 se originam da inten-
sa concentração de atenção no prazer e na excitação do conflito,

187
como um meio de se inflamar. Buscando estimulação, eliminam
o tédio e também conseguem negar sua vulnerabilidade pessoal.
Forçar os limites até a extravagância dos prazeres oferece uma
sensação amplificada da vida. Uma vez que a atenção seja atraída,
há pouquíssima vacilação ou autoquestionamento ambivalentes.
Não existe faro para moderação. Ou se possui um interesse ob-
sessivo ou um tédio completo.

Relacionamentos íntimos
De certa forma, pessoas tipo 8 têm mais predisposição para a
solidão do que para a intimidade. No início do interesse por um
relacionamento, a sexualidade e o amor são tratados condicional-
mente. A intimidade e a amizade despontam ao longo das linhas
de uma política de coalizão: “Sei exatamente até onde posso con-
fiar nele”, ou “sei exatamente qual é a ‘dela’”. O relacionamento é
baseado na aventura, num bom sexo e em atividades que ambos
gostem de fazer juntos.
À medida que a relação evolua para a intimidade, pessoas
tipo 8 penetram na posição incomum de ter de fazer consultas
com outro alguém.
O que acontece é que patrões se consideram fontes de poder,
e a dependência em relação a outros não se encaixa num sistema
de poder montado para a autogratificação. Por isso, irão querer
saber tudo o que se passa na vida do parceiro e terão opiniões
fortes sobre quem o parceiro vê, bem como sobre quando, onde
e de que modo ele, ou ela, passa o seu tempo.
Quando pessoas tipo 8 descobrem que estão se tornando de-
pendentes do amor de um parceiro, se sentirão instigadas a uma
contrarreação, assumindo no relacionamento a posição de aliadas
e de protetoras poderosas. Desse modo, quererão se encarregar de

188
tudo, o que pode facilmente se transformar no controle da rotina da
vida do parceiro como forma de se sentir menos vulnerável.
Se o parceiro se sujeitar, surgirá um conflito interessante. O patrão
quererá dominar, mas ficará bem mais atraído se o parceiro resistir à
dominação. O fato é que se aborrecem facilmente, perdem o interesse por
qualquer um que não saiba assumir uma postura digna de um opositor.
O que quer dizer que o caminho para a intimidade atravessa
testes de poder, porque pessoas tipo 8 também confiam em pes-
soas cujo uso do poder foi testado e considerado real.
Pessoas tipo 8 descrevem seus grandes amores como colocar
a pessoa amada debaixo de suas asas. Elas renunciam ao contro-
le do relacionamento confiando pouco a pouco no parceiro, do
mesmo modo que confiam em si. Podem ainda se sentir solitá-
rias em relação ao resto do mundo, mas sentem que o parceiro
se tornou uma parte digna de confiança de um organismo único.

“Mesmo quando sei o que quero e mesmo quando estou pensando em


pedir algo pessoal, sei que não vou fazê-lo. Minha convicção íntima é
de que a gente só pode contar com a gente, por isso a ideia é apanhar
aquilo de que você precisa sem consulta”.

“Mas seguir o desejo do meu coração é muito difícil, e parece mais fácil não
arriscar, ficar com aquilo que você faz bem, ou se apaixonar por alguém que
esteja louco atrás de alguma coisa e a quem você pode ajudar”.

Exemplo de relacionamento íntimo de casal:


Pessoa tipo 8 e pessoa tipo 4 — o patrão e o romântico trágico
Os dois tipos compartilham uma atração por experiências mar-
ginais. Ambos são amorais, acreditando, em algum nível, que as
regras normais não se aplicam a eles. O tipo 4 está acima da lei, e o
tipo 8 é mais forte que a lei. Ambos são facilmente entediados pela

189
repetição e, se o clima externo não for de bastante aventura, cada
um intensificará o clima emocional à sua própria maneira: o 8 com
brigas, e o 4 com atos dramáticos e sofrimento. A pessoa tipo 8 não
cede terreno sob ataque e vai à luta em vez de evitá-la.

Relacionamentos hierárquicos
A questão principal é o controle. Pessoas tipo 8 preferem as-
sumir a liderança e manter estrito controle e supervisão de todos
os aspectos de uma operação. Há também um desejo de proteger
os inocentes da organização contra um mau tratamento e de mo-
bilizar aqueles que estão submetidos a um controle hierárquico
injusto. Acima de tudo, há um forte desejo de testar o senso de
justiça e a capacidade de outras autoridades.
O interesse provavelmente será dirigido para a competição com
outros líderes, motivado pelo objetivo de garantir as fronteiras de um
império pessoal, pois têm mais interesse pelo poder do que pelas
recompensas. Por isso se concentram pesadamente em questões de
segurança, sobretudo na lealdade de aliados e subordinados. Uma
vez em ação, a atenção se concentra numa direção de avanço e com
uma tática única: alvejar os pontos fracos na defesa do inimigo. Em
consequência, têm uma percepção escassa das chances diplomáticas
e preferem uma tomada do controle por completo a mudanças sutis
de posição, que são exigidas nas negociações.
O segredo para trabalhar com patrões é mantê-los totalmente
informados, pois se irritam mais ainda quando sentem que estão
sendo mantidos na ignorância. Além disso, se o portador das más
notícias não souber lidar com a própria agressividade, a raiva apare-
cerá pessoalmente direcionada e será potencialmente violenta.
De positivo, patrões têm uma imensa capacidade para dar for-
ça e continuidade a um projeto.

190
De negativo, são perturbadores e intrometidos quando ente-
diados. Procuram alguém para culpar e punir quando as coisas
perdem o ritmo, ou não dão certo, e não estão dispostos a dar ao
outro a oportunidade de livrar a cara ou de se reagrupar.

Méritos
Patrões se preocupam com o poder e o controle. Quando ob-
cecados, acharão segurança ao fazerem outros se submeterem
ao seu ponto de vista. Mas esse mesmo comprometimento com
o poder pode se desenvolver e se transformar num talento para
exercer a medida certa de pressão a fim de fazer avançar um em-
preendimento maciço.
Apesar de toda a sua assertividade e de seu comportamento
extravagante, têm dificuldades em expor seus desejos mais pro-
fundos e dar início a seus próprios objetivos.
Uma pessoa tipo 8 gera problemas e brigas a fim de man-
ter vivo o interesse, mas se o interesse for fornecido externa-
mente, então, ela assume com satisfação o módulo do controle
para fazer as metas se materializarem.
Pessoas tipo 8 fazem outros conhecerem a exata posição de-
las. Quando tentam manipular, em geral é de forma tão pesada,
que logo se torna óbvio e, portanto, ineficaz. Querem a verdade
absoluta nos relacionamentos. Tendo pouca imagem pública para
defender, vão atrás do que exatamente querem. São generosas
com o tempo e com a energia dos amigos e têm um vigor imen-
so para participar de eventos.

Ambientes atrativos
Patrões são, frequentemente, corretores do poder ou políticos
dos bastidores. Têm mentalidade mafiosa: “Meu território, nossa

191
gente”. Ainda, líderes de sindicatos, sobreviventes de regiões re-
motas. Pessoas de coração mole e cabeça dura.

Ambientes não atrativos


Em geral, não se encontram patrões em empregos que de-
pendam de bom comportamento e da obediência a ordens, pois
não gostam de situações que sejam suscetíveis a manobras im-
previsíveis de poder ou a tomadas de poder. Desconfiam de em-
pregos que dependam da boa vontade de superiores, e que não
haja a possibilidade de reparar injustiças.

Possessividade/capitulação nos relacionamentos íntimos


Pessoas tipo 8 querem possuir o coração e a mente do par-
ceiro. Desejam acesso à alma do outro. Já capitular é o desejo de
abrir mão dessas necessidades obsessivas de controle para um
parceiro que é totalmente digno de confiança.
Amizade nos relacionamentos sociais
Para pessoas tipo 8, a amizade é a confiança estendida àque-
les que você protege e por quem é protegido.

Sobrevivência satisfatória na área da autopreservação


Pessoas tipo 8 se atêm ao controle da mecânica da sobrevi-
vência e do espaço pessoal. Uma preocupação com a satisfação
das necessidades de sobrevivência substitui a busca das deman-
das essenciais.

O que ajuda pessoas tipo 8 a evoluir


Pessoas tipo 8 vão para a terapia, geralmente, por ordem da
família ou por decisão de um tribunal. Situações típicas incluem
problemas com colegas de trabalho, depressão e uso excessivo de

192
drogas, bebida, comida etc. Elas precisam aprender a identificar os
momentos em que a atenção se desvia dos desejos reais para uma
capa de dureza que nega esses desejos.
Podem se ajudar:

» Reconhecendo o desejo de violar regras uma vez estabe-


lecidas.
» Tentando ver a formação de circunstâncias que criam re-
lacionamentos hostis. Percebendo quando há o desejo
de controlar, ou de provocar confusão, como forma de ver
quem é amigo e/ou inimigo.
» Observando que sensações de tédio são uma máscara
para outras emoções.
» Notando que os outros são consistentes dentro de um
ponto de vista diferente.
» Identificando os momentos em que desejos reais são subs-
tituídos por uma socialização excessiva, pelo abuso de álcool,
comidas e drogas e pelo desejo de controlar as pessoas.
» Vendo como a preocupação com a justiça e com a prote-
ção de outros pode polarizá-los como amigos ou inimigos.
» Desviando a atenção da fórmula “o meu jeito versus o seu
jeito”, a fim de identificar as inúmeras gradações de opi-
niões intermediárias.
» Reconhecendo a dificuldade de admitir que cometeu erros.

O que pessoas tipo 8 devem perceber


Pessoas tipo 8 devem estimular quaisquer sinais de surgi-
mento de sentimentos mais suaves ou a capacidade de empatizar
com outros pontos de vista.

193
À medida que ocorrem mudanças, deveriam perceber reações
tais como:

» Controle excessivo e prematuro dos detalhes de uma in-


teração. “Vou cancelar a festa se não encontrar a minha
panela favorita”.
» Afastar fontes de ajuda em potencial. Necessidade de dizer
coisas duras a alguém para o seu próprio bem. Falta de
tato intuitivo. Pressionar os pontos nevrálgicos dos outros
sem reconhecer o dano.
» Esquecer metas. Entretenimento, comida, sexo, drogas em
excesso. Quanto mais, tanto melhor. Querer o bocado se-
guinte antes de ter engolido o que está na boca.
» Dificuldade com compromissos. Querer controlar ou se afas-
tar sem perceber zonas intermediárias.
» Sentir pequenas omissões como traição da confiança.
» Paralisar sentimentos. Períodos em que tudo se fecha. In-
diferença total.
» Culpar e precisar achar defeito como forma de agir contra
a vulnerabilidade.
» Fazer regras e tentar manter controle sobre os outros.
» Um desejo exuberante de violar as próprias regras como
meio de se sentir poderoso e incontrolável.

194
TIPO 9: O mediador

O dilema
Pessoas tipo 9 foram crianças que se sentiram negligenciadas.
Lembram-se de que seu ponto de vista era raramente ouvido
e que as necessidades de outros eram mais importantes que as
suas. Adormeceram no sentido de que sua atenção se desviou
de desejos reais, e elas se tornaram preocupadas com pequenos
confortos e substitutos para o amor. Percebendo que suas pró-
prias prioridades tendiam a ser desconsideradas, aprenderam a se
entorpecer de si próprias. Assim, quando uma prioridade pessoal
se manifesta, ela pode ser facilmente posta de lado.
Desse modo, recados e pequenas tarefas podem se tornar tão
urgentes quanto um prazo de entrega importante. Quanto mais
próximo estiver uma pessoa tipo 9 de ter tempo e energia dispo-
níveis para uma prioridade, tanto mais atenção pode ser des-
viada para atividades secundárias. Quando há disponibilidade
de tempo, menos é feito, porque, para ela, pode ser difícil dis-
tinguir um assunto crítico de coisas menos importantes.
Pessoas tipo 9 relatam que perdem o contato com o que que-
rem, deixando-se absorver pelos desejos alheios, desviando a ener-
gia para tarefas secundárias e fugindo da realidade com um aparelho
de TV, uma rotina previsível e bastante comida ou cerveja.
Elas tendem a acompanhar as agendas dos outros. Aprenderam
a incorporar os entusiasmos de outras pessoas como se fossem seus.
Podem acordar no meio de um compromisso ou engajamento se
sentindo arrastadas pelos desejos alheios, se perguntando como
chegaram até ali e tendo dificuldade em dizer “não”.

195
Dizer “não” é particularmente difícil para pessoas propensas a
assumir os sentimentos das outras. Dizer “não” ao outro pode ser
tão frustrante para pessoas tipo 9 quanto ter alguma coisa nega-
da em suas vidas.
O fio da conexão entre a criança 9 e as outras pessoas depen-
dia da manutenção da paz, da capacidade de perceber os desejos
dos outros e de acompanhá-los. Contudo, a aparente concordân-
cia de um mediador não deveria ser confundida com um verda-
deiro comprometimento.
Por isso, pessoas tipo 9 podem embarcar numa situação por
um longo período enquanto ainda estão tentando se decidir. Di-
zem ser bem mais fácil conhecer o estado interior de outros do
que achar um ponto de vista próprio. Quando uma decisão pre-
cisa ser tomada, parecem cordatos e podem ainda seguir junto.
Mas essa placidez exterior encobre uma desordem interna. “Con-
cordo ou discordo do meu amigo? Estou com esse grupo ou que-
ro ir embora? Devo comprar essa casa ou procurar outra?”.
A lista de obsessões é interminável, e a atenção oscila entre os
vários aspectos da questão. É menos ameaçador pensar obsessi-
vamente sobre uma decisão do que fazer uma opção e se arriscar
a ter os próprios esforços desconsiderados, ou ter de defender um
ponto de vista perante outros. Pessoas tipo 9 se refugiaram na
segurança de não saber o que querem, de não ter de defenderem
um ponto de vista perante os outros. Se refugiaram na segurança
de não saber o que querem, de não terem que defender a si nem
a nenhuma posição.
O 9 é o ponto mais teimoso do eneagrama. Os que tentam
ajudar as pessoas tipo 9 a tomar uma decisão, ou que os for-
çam a tomar um partido, descobrem que elas escapam e se
recusam a se mover. Elas não veem necessariamente sua resis-

196
tência como uma resposta negativa, pois são mais propensas a
ver a resistência como uma recusa a ser pressionada a assumir
um compromisso prematuramente, porque ainda não se re-
solveram. Sua raiva profunda por não serem ouvidos é contida
ao não tomarem suas decisões. Sendo assim, a decisão é não
tomar decisão alguma. Também, sentir raiva, mas guardá-la
dentro de si e parecer acompanhar, embora internamente per-
maneça dividida.
Contudo, uma vez que uma posição tenha sido estabelecida,
pessoas tipo 9 podem ser tão teimosas em se agarrar a ela quan-
to foram em ter de escolhê-la.
São chamados de mediadores e mantenedores da paz, exa-
tamente porque sua ambivalência natural lhes permite tanto con-
cordar com qualquer ponto de vista como não se comprometer
totalmente com nenhum deles.
A tomada de decisão também é retardada por questões anti-
gas não resolvidas. Lembranças de eventos que ocorreram há anos
podem vir à tona com a força de algo que acabou de ocorrer na
semana passada e precisam ser analisados ainda mais uma vez.
Pessoas tipo 9 querem prosseguir num curso de ação co-
nhecido em lugar de se arriscar a um desvio repentino. Se
pressionadas, são passíveis de exercer controle por meios pas-
sivos, diminuindo o ritmo, sentando-se no meio de um confli-
to e esperando o seu término, não reagindo e esperando que
o problema se extinga. Elas sofrem por não saberem o que
querem. Por terem perdido a sua posição pessoal, são frequen-
temente capazes de se incorporar intuitivamente à experiência
interior de outros.
Preste atenção! Se você se identifica com cada um dos tipos do
eneagrama, é muito provável que você seja uma pessoa tipo 9.

197
As preocupações habituais de uma pessoa tipo 9 incluem:
» As coisas mais importantes são deixadas para o final do
dia.
» Dificuldade com decisões. “Concordo ou discordo?”; “Quero
ou não quero estar aqui?”.
» Agir pelo hábito e pela repetição de soluções familiares.
Ritualismo.
» Dificuldade em dizer “não”.
» Contenção da energia física e da raiva.
» Manutenção do controle por meio da teimosia e da agres-
são passiva.

História de família
Pessoas tipo 9 se sentiram negligenciadas quando crianças e,
por conseguinte, formaram o hábito de desconsiderar suas pró-
prias necessidades essenciais. Vão desde serem desprezadas pelo
ofuscamento por outros irmãos a serem ignoradas ou atacadas
quando lutavam por suas próprias ideias. É a sensação de não
serem ouvidas quando apresentavam uma opinião e a percepção
de que demonstrar raiva abertamente não contribuía para que
seu ponto de vista fosse ouvido.
O desejo de um mediador de manter a paz resulta, muitas
vezes, de estar preso entre facções opostas. Por que tomar parti-
do quando você pode ver que a opinião de todos os outros têm
seu valor? Por que dar uma opinião própria quando ninguém vai
escutar mesmo?
Crianças tipo 9 se resignam ao fato de não poder mudar a
situação da família. Elas aprendem a se distanciar, a abstrair, a
amortecer seus sentimentos com pequenos confortos físicos, a
ficar de fora até que outro alguém tome a iniciativa.

198
Concordo ou discordo?
Com uma perna fincada na imagem e na conformidade — 3
— e a outra enraizada no antiautoritarismo — 6 —, o ponto 9 está
preso num conflito entre querer a aprovação dos outros e querer
desobedecer. O ponto 1, que é uma de suas asas e que é a posi-
ção do menino e da menina bonzinhos do eneagrama, e o ponto
8, que é sua outra asa e representa o menino e menina mauzi-
nhos, intensificam o conflito de querer ser correto, mas também
querer ir contra as regras.
Diz-se que pessoas tipo 9 adormeceram para si próprias
porque a tendência de sua atenção é se concentrar na questão
de concordar com a visão alheia ou discordar dela, em lugar de
procurar sua posição. Isso estimula a preocupação interna de
alienar os outros e, portanto, de serem abandonadas, ou ainda
a preocupação de se submeter a outros e, dessa forma, de ser
controladas.
A criança 9 tentou resolver o dilema de aquiescer ou de se
rebelar, não escolhendo nenhuma opção. Dizer “não” diretamente
significa ter que tomar um partido, e pessoas tipo 9 estão engaja-
das em ver todos os lados de uma questão de modo a não ter de
escolher. Elas esperam para ver. Para elas sempre haverá tempo,
sempre haverá o amanhã. Sem uma posição firme, sempre há
tempo para os problemas se resolverem sozinhos. Pessoas tipo
9 são capazes de retardar o fim de uma discussão entrando em
devaneio e parecendo totalmente distante dali.
A ansiedade que pessoas tipo 9 sentem com suas escolhas
pessoais é amenizada com o estabelecimento de rotinas. Elas são
capazes de acordar de manhã sabendo exatamente o que têm de
ser feito sem se defrontar com uma escolha. Quando agem por
hábito, dizem que “estão no automático”. É necessário um esforço

199
extremo para desviar a atenção delas para qualquer coisa que não
faça parte da rotina.

Hábito
O pecado mortal da preguiça é atribuído a pessoas tipo 9, por-
que seus hábitos se destinam a drenar energia e a atenção para
fora daquilo que lhes é essencial na vida. O meio mais fácil para
elas se esquecerem de si é abandonar a atenção a um hábito vi-
ciador, que pode variar da necessidade de narcóticos ou de álcool
ao entorpecimento pela TV, à tagarelice e aos pequenos confortos
da vida.
Pessoas tipo 9 são capazes de esquecer o que é mais precioso
para elas se sua existência for definida por um hábito que se tor-
nou tão forte que não sabem pensar em nada além dele. Muitas
criam substitutos de alto nível para as verdadeiras prioridades.
Interesses secundários, com frequência, recebem tanta atenção
quanto os que estão no centro da vida emocional ou profissional;
e o que é mais importante é deixado de lado, ou empurrado para
o final de um dia laborioso.

Essencial/não essencial
Quando pessoas tipo 9 precisam se esquecer de si, assumem
mais compromissos, ao passo que um número menor de compro-
missos originais será concluído, gerando uma aparência externa de
indolência. Assim, estão perpetuamente sobrecarregadas e são, por-
tanto, incapazes de completar o que é mais importante para elas.

Acumulação
Pessoas tipo 9 adquirem muita coisa e não deixam passar
nada. O espaço extra é preenchido com um acervo confuso, e

200
o tempo extra com pequenos encargos. A mente fica cheia de
assuntos não concluídos, e as inúmeras cadeias de pensamentos
sinuosos acabam bloqueando o que é importante e correto. Por
exemplo, enquanto o closet não for totalmente evacuado, nada
precisa ser jogado fora. A acumulação também se aplica à coleção
de qualquer coisa, desde xícaras de chá até gibis antigos.
Uma versão altamente construtiva da acumulação é a capaci-
dade de um mediador de consumir volumes de informação sobre
um tema favorito de todo ponto de vista concebível e de reconci-
liar as diferenças entre todos eles.
Ainda, mediadores se apegam à memória com uma tenaci-
dade que lhes dá uma existência carregada. Ao se aterem tão
firmemente ao passado, praticamente não se comprometem com
seu próprio presente.

Contenção de energia
A raiva cumpre a função de tornar clara uma posição pessoal.
Sabemos exatamente o que não queremos quando estamos com
raiva e isso nos aproxima da percepção daquilo que queremos.
Portanto, se mediadores reunissem energia o bastante para sen-
tirem raiva, então uma posição clara teria de emergir, ao menos
por um processo de eliminação.
Na verdade, pessoas tipo 9 são mais capazes de tomar uma
decisão se lhes oferecerem uma série de opções. A que não for
rejeitada é a preferida.
O 9 é a posição nuclear dos três tipos da raiva, 8-9-1 situados no
topo do eneagrama, e é o ponto da agressão passiva, em que a raiva
adormeceu. Mantendo a energia disponível canalizada para tarefas
não essenciais, nunca há energia suficiente, no sistema, para enfren-
tar o conflito que envolve a realização de desejos pessoais.

201
Pessoas tipo 9 podem absorver a energia extra comendo de-
mais e se autogratificando de alguma outra forma. Podem se sen-
tir paradoxalmente exaustos e com sono, embora não estejam
fisicamente cansados.

Inércia e depressão
Há sempre energia suficiente apenas para manter as coisas
não essenciais e para deixar para o final do dia tarefas essen-
ciais. Assim, não há tempo para a depressão que poderia se
insinuar, se não houvesse nada a fazer, e sem dúvida não há
tempo para expectativas elevadas nem para a concretização de
prioridades reais.
A inércia é uma das leis da física. Ela declara que um corpo em
repouso tende a ficar em repouso e que um corpo em movimento
tende a ficar em movimento. Quando uma pessoa tipo 9 está numa
posição de inércia, precisa em geral de ajuda externa. Um novo rela-
cionamento, uma nova oportunidade ou uma programação definida
com clareza pode ajudá-la a se pôr de novo em movimento.
Pessoas tipo 9 são capazes de se reanimar com mais facilida-
de se puderem se associar ao entusiasmo de outros, ou reagir à
necessidade do outro.

A raiva que adormeceu


Pessoas tipo 9 expressam sua raiva indiretamente. A expec-
tativa é que deixar extravasar a raiva por ações indiretas impedirá
um confronto aberto que parece conduzir ao abandono, ou à ne-
cessidade de defender uma posição contra outros.
Ter de fazer uma escolha pode ser tão traumático que, muitas
vezes, a decisão é deixar a situação se deteriorar a ponto de se
desintegrar. Como pessoas tipo 9 sabem o que não querem, mas

202
não o que querem, têm igualmente a tendência de armazenar
internamente queixas até que um nível crítico seja alcançado e
uma explosão vulcânica ocorra.
Há a tendência de persistir na raiva não expressa até atingir
um nível de irritação que o force a entrar em ação. Guardar res-
sentimentos é uma forma interna de discordar de outras pessoas,
ao mesmo tempo em que se parece concordar, esse ressentimen-
to provê o combustível para uma tática passivo-agressiva.
Mediadores sempre sabem o que outras pessoas querem e
são, portanto, capazes de deixar os outros com raiva simplesmen-
te não fazendo o que é esperado. Podem, por exemplo, trabalhar
mediocremente nos detalhes de um trabalho importante, ou co-
meçar a diminuir o ritmo quando os outros estão com pressa,
ou se fazer de apáticos sabendo que os outros estão altamente
empenhados em certo curso de ação. Seja como for, uma pessoa
tipo 9 com raiva procurará fazer com que o outro não consiga o
que espera.
A raiva demora a surgir porque, a princípio, a opinião dos
outros parece correta para uma pessoa tipo 9. Depois, vem um
longo período de protelação, quando a questão é examinada
de todos os ângulos implicados. Finalmente, surge a convicção
de que não há problema algum em sentir raiva. E, por último,
a raiva é expressa em geral com uma força vulcânica tal que
pode chocar aqueles que se acostumaram à faceta agradável
de um mediador.

Relacionamentos íntimos
Mediadores assumem os interesses e as prioridades de seus
parceiros, como se eles fossem os seus. Com frequência, têm mais
capacidade de descrever os sentimentos alheios do que reconhe-
cer os próprios. Também acusam uma sensação desconfortável

203
de possessividade e a necessidade de culpar os outros se as deci-
sões não dão certo, exatamente porque fizeram do outro o agente
ativo na determinação de um ponto de vista pessoal.
Quando amam, em geral, é com o desejo de se deixar absor-
ver totalmente pelo parceiro, de assumir a vida do outro como se
fosse a sua, mais do que com o desejo de manipular o outro, de
tirar proveito dele ou de dominá-lo.
Relacionar-se é uma fórmula-chave para pessoas tipo 9 con-
tinuarem em andamento. Elas se identificam tanto com os de-
sejos de outros que, de positivo, há o talento efetivo de conhecer
o outro em profundidade e, de negativo, há a possibilidade de
perder seu ponto de vista pessoal.
Como são capazes de sentir um parceiro como uma parte de
si mesmas, há o desejo de se unir completamente a um parceiro
ideal que então se tornará a razão de sua vida. Há também grande
dificuldade em abrir mão de um relacionamento, porque é como
cortar uma parte da própria existência.
A apatia pode também ser mascarada por uma atração in-
discriminada por múltiplos parceiros, ou pelo emprego de ener-
gia em atividades não essenciais, que ardilosamente disfarçam o
descuido de suas reais necessidades.
De positivo para os relacionamentos, mediadores são capazes de
dar atenção e consideração incondicionais aos outros. Tendo pouca
imagem ou posição que defender, é capaz de ouvir sem julgar.
São capazes de adormecer para as verdadeiras motivações
e de amar por hábito, e não porque o sentimento esteja vivo.
Os altos e baixos da vida emocional podem ser reduzidos a um
terreno intermediário onde haja segurança e no qual os relacio-
namentos sejam previsíveis.

204
Relacionamentos hierárquicos
Pessoas tipo 9 são bons líderes se a situação apresentar um
curso claro de ação; mas não se sentem à vontade, se a lideran-
ça exigir um conjunto permanente de decisões. Decisões são
difíceis porque os prós e os contras podem aparentemente ter
o mesmo peso, o que, aliado à tendência de se polarizar contra
processos novos ou arriscados pode levar a uma ação paralisan-
te em sua liderança.
Por isso, são melhores quando há regras claras para a promo-
ção e para as gratificações. Podem ou não competir pelas gratifi-
cações, mas querem saber que a oportunidade existe.
De positivo para os relacionamentos hierárquicos, são exce-
lentes mediadores porque são capazes de se identificar com to-
das as opiniões envolvidas. São eficientes, sobretudo, se forem
levados até o palco das hostilidades manifestas.
Em contrapartida, querem sentimentos amistosos e coopera-
tivos e têm interesse em ouvir até o fim o ponto de vista de ou-
tras pessoas. Trabalham bem se receberem credibilidade pública
e consideração positiva, mas não buscam abertamente o reco-
nhecimento. Prosperam em empregos que ofereçam um retorno
justo e regular pelos seus esforços.
De negativo, são capazes de internalizar as tensões de um gru-
po sem conseguir articular uma mudança construtiva. Com fre-
quência, as objeções não são expressas. Preferem, assim, dessin-
tonizar o problema a agir, esperando que ele vá embora.
São capazes de controlar indiretamente, transferindo respon-
sabilidades, ou divagando em serviço. Há um padrão de inércia
no desempenho profissional: é difícil começar, só há mobilização
quando o prazo está se esgotando e explode uma crise de alta ve-

205
locidade para a conclusão. Uma vez engatado, é difícil parar, e a
energia extra pode ser espalhada por entre atividades triviais.

Méritos
Pessoas tipo 9 sabem dar um grande suporte, pois são pro-
fundamente afetados pela vida de outros. Ainda, são capazes
de ouvir e aceitar o outro sem ter de exercer o poder no rela-
cionamento e também são capazes de se inserir numa vida
pessoal problemática.

Ambientes atrativos
Empregos que dependam de rotina, protocolo e procedimen-
tos reconhecidos. Burocracia, empregos que dependam da moni-
toração de detalhes.

Ambientes não atrativos


É raro encontrar pessoas tipo 9 em empregos de muita ex-
posição e que requeiram autopromoção contínua. Elas não são
felizes em empregos que demandem uma mudança rápida de
procedimentos nem naqueles em que a estrutura e os detalhes
sejam sacrificados em favor da teoria.

Estilo intuitivo
Quando, com seu estilo de prestar atenção globalmente,
pessoas tipo 9 põem o foco em outros, podem se ver “sendo”
o outro que teve forte influência sobre elas. Por isso, às vezes,
têm a sensação de que estão se apossando delas. Por exem-
plo, podem perder seu ponto de vista tão completamente numa
conversa, que começam a assimilar os maneirismos, a caracte-

206
rística energética e até mesmo as opiniões de alguém que tenha
chamado a atenção.
Pessoas tipo 9 têm uma relação com os termos entrega, fu-
são, absorção, perda de identidade. Dizem que sabem descrever o
ponto de vista do outro bem melhor do que o seu próprio.

Ainda parecem absorver os outros como um todo e, às


vezes, têm dificuldade em distinguir a fonte de suas informa-
ções quando estão na presença física de alguém que os afete
intensamente. “Essa reação é dele ou minha?” “Estou entu-
siasmado por esse projeto, ou estou transferindo para mim a
excitação dela?”; “Quero ir ao cinema, ou confundi o desejo
dele com o meu?”.
O fato é que podem perder sua identidade para muitas pes-
soas no decorrer de um só dia, mas se sentem particularmente
atraídos por isso quando estão amando, ou quando são levados à
união pela necessidade do outro.

A virtude da ação
Para uma pessoa tipo 9, a preguiça não é necessariamente a
preguiça do corpo no sentido de não ter um emprego, ou dormir
até o meio-dia. Muitas vezes, têm dois empregos e se gabam de
ter muita energia física. Fazem muito, mas têm bloqueios em sua
capacidade de perceber um curso correto de ação e de ficar no
rumo sem se desviar por coisas não essenciais.

Amor como uma característica da mente superior


Pessoas tipo 9 tendem a absorver a identidade do grupo, do am-
biente ou das pessoas significativas com quem se relacionem. Sem

207
um grupo ou parceiro com quem se relacionar, sofrem com sua pró-
pria apatia interior.
Ainda, podem incorporar e assumir a vida do parceiro como
sua, mas a verdadeira mensagem é: “Por favor, não me abando-
ne, e eu não irei contra você.” Como, no amor, são capazes de se
entregar totalmente; mas são também vulneráveis a terríveis sen-
timentos de ciúmes e desespero, como se o seu próprio ser fosse
ameaçado pela perda de alguém que é percebido como parte de
si mesmos.
Têm o potencial de amar incondicionalmente, no sentido de
que possuem o hábito permanente de perceber os outros através
de seu próprio corpo. Seu hábito é o de sentir os outros dentro de
si mesmo, sem o desejo de controlar, ou de fazer o outro mudar.

Subtipos
Mediadores desenvolveram, durante a infância, um meio
de substituir desejos reais por substitutos compensatórios. Essa
substituição amortece o ressurgimento da ansiedade que a crian-
ça sentiu quando seus desejos pessoais foram ignorados por
adultos cujas prioridades eram outras.

União no relacionamento íntimo


Para pessoas tipo 9 a união é o desejo de se fundir por inteiro
com um companheiro. Essa preocupação também pode se esten-
der a um desejo absorvente de se unir ao divino.

Participação em grupos sociais


Pessoas tipo 9 são totalmente avessos a se unir a grupos, ou
gostam de passar tempo com grupos sociais, tais como clubes de
atividades especiais e com amigos.

208
O que ajuda pessoas tipo 9 a evoluir
Mediadores precisam identificar os momentos em que come-
çam a dormir. Nesse contexto, dormir significa desviar a atenção de
uma autêntica prioridade pessoal para um pensamento obsessivo,
ou para uma atividade não essencial. Assim, devem perceber sua ca-
pacidade de agir pela força do hábito enquanto estão “adormecidos”.

Pessoas tipo 9 podem se ajudar:


» Notando os momentos em que a outra pessoa se torna o
referencial para suas decisões.
» Estando atentas aos momentos em que uma obsessão
pelos prós e pelos contras de uma decisão tiver substituído
os seus sentimentos e os seus desejo verdadeiros.
» Usando estrategicamente prazos e datas limites; estrutu-
rando projetos como forma de se concentrar nas metas.
» Expressando suas opiniões.
» Aprendendo a terminar projetos sem se distrair com ou-
tras coisas.
» Se concentrando nos sentimentos que precedem os des-
vios da atenção para substitutos não essenciais, tais como
comida ou TV, por exemplo. Observando quando esses
sentimentos ocorrem, em vez de ir buscar substitutos.
» Focando no próximo passo imediato e não na meta final.
Olhar para a meta final fará com que ela pareça grande
demais para ser alcançada.
» Percebendo que se tornam teimosas quando pressionadas.

O que pessoas tipo 9 devem perceber


À medida que as prioridades se concretizam, a raiva que foi
expressa de forma passivo-agressiva, tais como fazendo teimosia

209
ou reduzindo o ritmo, virá à tona. A raiva é a energia da trans-
formação e pode ser cultivada a fim de tornar clara uma posição
pessoal. Por isso, é importante estar atento a:

» Culpa. Tendo-se deixado absorver tanto pelos desejos


alheios que “a culpa é dos outros”, quando as coisas saem
errado.
» Obstinação. Sentir-se pressionadas por outros. Indisposi-
ção para trazer à baila questões com fortes componentes
emocionais. Resistência, o que força os outros a se mover
primeiro.
» Ânsia por novos compromissos que suguem tempo e
energia.
» Falta de sintonia. Entrar e sair de conversas pensando em
várias coisas de uma só vez.
» Necessidade de discriminar as verdadeiras decisões da
tendência de deixar questões insignificantes ocuparem
obsessivamente a atenção.
» Importância de discriminar as verdadeiras metas do hábito
de estabelecer rotinas e agir mecanicamente.
» Esperar que as conversas difíceis sejam adiadas em vez de
manifestar uma posição. Desejar que as palavras negativas
não declaradas permaneçam sem ser ditas.
» Necessidade de mais informações, ficar à espera de uma
explicação, na esperança de que a coisa ruim vá embora
por si só.
» Julgar o eu pelas potencialidades e os outros pelo que eles
efetivamente fazem.
» As coisas pendentes no trabalho. Sentir raiva e não querer
ser cuidadoso. Produção mínima.

210
» O sentimento de que tarefas simples são fardos esmagadores;
tanto que é difícil começar a fazê-las.
» Uma extrema sensibilidade a ter seus esforços ignorados,
criticados ou desconsiderados.
» Temer riscos e mudanças. Acreditar que mudanças trarão
mais sofrimento.
» Desviar a atenção do eu, introduzindo digressões nas conver-
sas, contando sagas muito longas sobre si mesmo e repetin-
do material antigo.

Até aqui conhecemos a história do eneagramas, vimos cada


tipo e os dissecamos a fundo. Imagino que você tenha se identi-
ficado com um deles, ou até um mais de um. Agora, espero que
esteja pronto a ir comigo para o próximo passo do estudo do
eneagrama que, para mim, é a forma mais especial de traba-
lhar com ele. Foi essa compreensão que mudou a minha vida
e sei que se você estiver disposto transformará a sua também.
Venha comigo!

211
SEGUNDA PARTE
PROJETO R.A.C —
SUPER-HUMANO
A DIFERENÇA
ENTRE
IMITAÇÃO E
MODELAGEM
O
ser humano tem uma tendência natural à imitação. Esse é
um comportamento adaptativo, evolutivo. Naturalmente,
ele vai imitar seus pares, seus relacionamentos, aquelas
pessoas que têm como referência; em especial aqueles que têm
como autoridade ou como modelo de função. Nos tempos anti-
gos, copiava-se líder do clã, o pajé, o rei, o general de guerra. E
por quê? Porque, como disse, o ser humano tem, intrínseco em si,
a tendência a buscar afinidades com aqueles parecidos consigo e,
por consequência, repetir as ações daqueles que admira.
Note que a criança imita os pais quando está se desenvol-
vendo. O aprendizado dela acontece não pelo que ouve seus pais
dizendo, mas pelo que os vê fazendo. Assim, ela reproduz suas
ações. Depois, pela validação de seus atos por parte dos pais, ou
da escola, ou da sociedade, ou da religião, ou da televisão, en-
fim… de alguém, a criança entende que o que faz é bom. Então,
incorpora ao seu modo de viver. Mas pode também acontecer ao
contrário, de ela fazer algo que desagrade. Sendo assim, receberá
um reforço negativo cada vez que repetir seu comportamento. E
com o tempo deixará de fazê-lo.

214
Mais à frente falarei um pouco mais sobre essa questão da
associação do resultado, do reforço positivo e negativo, da asso-
ciação à dor e ao prazer em relação às nossas ações. O fato é que,
por natureza, temos a tendência a imitar os nossos pares. Agora,
o que quero destacar é o que já abordei na introdução deste livro,
que é o problema da imitação em relação à modelagem.
Há uma frase atribuída a Einstein que diz: “Insanidade é conti-
nuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”.
Concordo com essa ideia. Porque se faço coisas boas, sempre terei
como consequência coisas boas. Mas se faço o que é ruim… Assim,
se conclui que, se faço a mesma coisa, logo, tenho o mesmo resul-
tado. Portanto, se continuo fazendo o que é ruim, apresento os mes-
mos resultados ruins de sempre. Porém, se faço uma coisa diferente,
se mudo o jeito de fazer algo, ou até se ajo de uma boa maneira,
posso alcançar um bom resultado. Agora, aqui surge o problema:
como fazer diferente? É neste ponto que entra a necessidade de re-
programar. É aqui que entra a ideia da modelagem…

O que é modelagem?
A modelagem nada mais é do que encontrar um shortcut,
um atalho, para se alcançar bons resultados. E qual o jeito de
encontrar esse caminho para aprender a fazer somente coisas
boas? Isso, baseado na ideia que apresentei: de que estamos
constantemente imitando as pessoas que admiramos. Sim-
ples, modelando. Para conseguir os resultados que se deseja
é preciso buscar alguém que tenha tido esses resultados. Ao
encontrar, analisa-se a pessoa, os padrões que ela reproduz,
como faz, o que fez, vejo as ações e reações e, na sequência,
reproduzo o que foi realizado. Tudo isso com o objetivo de al-

215
cançar os resultados que ela teve. É isso que, a grosso modo,
chamamos de modelagem.
O problema é que a grande maioria das pessoas confunde
modelar com imitar. A Psicologia, a Programação Neurolinguís-
tica, a Hipnose Ericksoniana, por exemplo, reforça muito a ideia
da modelagem como recurso para se atingir aquilo que se quer.
Todas essas ciências se baseiam nessa premissa que apresentei:
entender e repetir o comportamento de alguém que alcançou
aquilo que almejamos.
Como já disse, o triste fato é que, muitas vezes, encontramos
pessoas imitando em vez de modelando. E qual que é a diferen-
ça? Na imitação, em vez de apenas buscar as características, as
habilidades desejadas no modelo, a pessoa se torna uma cópia
do outro. Ela quer mudar a própria personalidade. E é nesse pon-
to que reside o problema.
“E por quê?”, você pode estar se perguntando. Eu respondo.
Porque a personalidade não muda, cada um tem a sua e pronto.
A personalidade é desenvolvida na primeira infância. Depois que
esse desenvolvimento acontece, pronto: acabou. Ninguém mexe
mais na personalidade. Mas é possível incrementá-la, com ca-
racterísticas ou habilidades adquiridas, tornando-a mais evoluída.
Pelo estudo do eneagrama conseguimos ter essa personali-
dade mais desenvolvida. E como fazer isso? Reconhecendo suas
próprias habilidades, valorizando-as, colocando-as para trabalhar
em altíssima performance. Mas, também, absorvendo as habi-
lidades dos outros tipos do eneagrama e fazendo com que elas
trabalhem a seu favor. Isso a ponto de mais à frente ser difícil re-
conhecer se essa característica é sua ou adquirida, ou seja, não é
possível identificar o seu tipo de original personalidade.

216
Isso não significa que você não tenha um tipo de personali-
dade, que não seja por característica um determinado tipo. Pelo
contrário, você continua sendo, intrinsecamente, por exemplo,
um tipo 5, ou um tipo 2, por característica, por base, por core; isso
é, o coração da sua personalidade continua sendo o mesmo. A
mudança está no fato de que você consegue atuar de forma dis-
tinta em diferentes contextos de vida.
No capítulo Destruir para reconstruir, apresentei a personalidade
pelo conceito grego de máscara. Lembra? Então, a máscara é usada
para vivermos. Quando temos a nossa personalidade, temos uma
máscara, certo? E qual que é o problema de termos várias e as usar-
mos se elas possibilitam uma vida melhor, de mais qualidade, com
relacionamentos melhores? O fato é que carregamos um estigma,
uma crença limitante que nos impuseram. Coisas do tipo, “eu tenho
que ser eu mesmo” ou “eu não posso ter duas caras”. Não. Nada
disso! É possível ter nove caras, se esse for o caso, desde que essas
caras, essas máscaras, sejam usadas para o bem e para melhorar a
minha vida, a minha performance, melhorar os meus relacionamen-
tos. Acredite: você pode ter quantas caras quiser!
O que quero dizer é que, a personalidade, a persona máscara
que eu uso, que é minha por origem, não será possível de maneira
nenhuma tirá-la e colocar outra no lugar. É por isso que muita gente
boa sofre. Porque quer se livrar de sua personalidade original. Mas o
que é possível é obter características mais eficientes, mais agradáveis
para essa máscara que é minha. Torná-la melhor com mais recursos,
habilidades, funções que me levam a uma vida muito melhor.
Então, voltando, a diferença da habilidade para a imitação, na
modelagem. Por exemplo, na imitação, eu começo a imitar o ou-
tro e não apenas adquirir características. Quando eu imito, quero
ter a personalidade do outro. E isso gera um conflito interno. E

217
por quê? Porque estou tentando mudar a minha personalidade. E
como já disse, a personalidade não é possível de ser mudada. Se
há uma insistência nesse sentido, se perde a própria identidade.
Se isso acontece, a mente “frita”, “buga”. Ela começa a argumentar,
da seguinte forma: “Opa, opa, para aí! Até aqui eu trouxe você desse
jeito. Eu consegui que você sobrevivesse relativamente bem dessa
maneira. Claro, com algumas dores aqui, outras ali, mas a gente veio.
Então, para que você está querendo alterar a ordem das coisas? Pare
tudo! Esqueça esse negócio besta com o qual você está mexendo aí,
e vamos voltar para o que vínhamos fazendo o tempo todo e estava
dando certo. Para que mudar mesmo?”.
É exatamente nesse ponto que você desiste de lutar e conti-
nua a viver do mesmo jeito; sem efetuar mudança alguma. Ou
seja, até começa um processo de transformação, mas não con-
segue ter uma perpetuidade.
É por isso que a maioria das pessoas passa a vida lendo livros
de autoajuda, indo a reuniões com coaches, pagando por treina-
mentos de autoajuda e desenvolvimento pessoal e continuam lá,
sem nenhum resultado. Ou ainda, passam dez, doze, quinze anos
fazendo terapia sem alcançar mudança ou melhora. E por quê?
Porque estão tentando mudar quem são. Mas quem se é não se
modifica. O que pode acontecer é uma transformação na forma
de atuar. É ter uma atuação mais eficiente daquilo que faz parte
do seu ser, do seu cerne, do core da sua personalidade.
O problema da modelagem se tornar imitação é porque, quan-
do isso acontece, há uma perda da identidade. Vejo isso a ponto de
muitas pessoas imitarem o tom da voz, o sotaque, o jeito de andar,
de vestir, do outro. Quando, na verdade, a proposta não é essa.
Hoje, com as redes sociais, o que mais se vê é seguir modelos na
base da imitação. Logo, “escolho” alguém e quero falar, me vestir, vi-

218
ver, ter o tipo de relações que ela tem. Mas, muitas vezes, acontece
de aquela pessoa estar atuando. E isso tem causado tanta frustração,
tanta infelicidade… Na verdade, há uma busca insana por felicidade, já
percebeu? As pessoas se valem de um conceito distorcido do que ela
seja, quando, na verdade, estão vivendo uma excitação. Isso gera uma
infelicidade imensa. Ao contrário de ser feliz realmente.
Quando você é feliz realmente, sente paz. Porque está sendo
coerente com o que pensa, com o que fala e com o que faz. Ao
ser coerente, encontra a paz. E essa paz gera felicidade. Se você
não é coerente, tentando imitar outra pessoa, mexer na sua per-
sonalidade, se transformar em outra pessoa, passa por um grande
conflito interno. Entra em um enorme turbilhão de insatisfações.
E por quê? Porque perdeu a sua identidade, não sabe quem é. E se,
não sabe qual é a sua própria identidade, não entende o próprio
propósito. Não entendendo o seu propósito, você não tem direção,
está perdido no mundo. Esse é o problema da imitação.
E quer que eu diga? Passei por tudo isso. Por toda essa busca
por mudança, por melhora, por transformação. Na verdade, quan-
do comecei a conhecer o eneagrama, estava cansado de tentar ser
quem eu não era. Um dia, me deu um estalo e falei, para mim
mesmo: “Cara, eu não quero ser outra pessoa. Eu quero ser eu
mesmo, mas melhor, com mais recursos. Eu quero ser eu mesmo
só que com mais habilidades. Eu gosto de algumas das minhas
características, só não gosto de todas, mas gosto de algumas de-
las. E eu não quero ter que eliminar as coisas que gosto, só quero
incluir habilidades que ainda não tenho e que preciso para viver
a minha vida, para viver os contextos que hoje tenho dificuldade”.
Por exemplo, pelo eneagrama aprendi que sou tipo 5. Sendo as-
sim, tenho problema com intimidade e afetividade. Eu me acostu-
mei a viver dessa maneira; então, para mim, não é algo importante,

219
mas para as pessoas com as quais me relaciono é. E isso atrapalhava
muito os meus relacionamentos. Sim, meu casamento, minha re-
lação com meus filhos e com meus pais. Eu queria mudar. O que
fazer? Como alguém tipo 5, tenho como característica a compulsão
pela aprendizagem, por ler muito, estudar muito, buscar muito co-
nhecimento. Essa característica eu não queria perder, mas, ao mes-
mo tempo, queria ser mais afetuoso e amoroso como um tipo 2, ou
como um tipo 9. Assim, ao entender o eneagrama e os tipos, passei
a ter a percepção do que gosto ou não, das características que que-
ro deixar para trás, das habilidades que precisava adquirir. E como
eu poderia fazer isso? Modelando. E aqui está o ponto. Por meio do
eneagrama, não preciso de uma pessoa para imitar, até porque eu
precisava modelar as características, as habilidades que me interes-
savam. E onde foi possível encontrar esses traços, essa forma de ser,
sem obrigatoriamente estarem vinculados a uma pessoa? No enea-
grama. Quando entendi isso, virei uma chave dentro de mim. E disse:
“Cara, eu posso modelar o tipo especificamente, mas não a pessoa.
Dessa maneira, eu não perco a minha identidade, continuo a ser eu
mesmo, mas começo a absorver outras características”.
O que quero dizer a você é que o eneagrama, como já mostrei,
tem todas as características e habilidades que um ser humano
precisa para viver. Então, imagine se alguém pudesse ser todos os
tipos, ao mesmo tempo, de maneira evoluída? Seria, com certe-
za, um super-humano. E é exatamente isso que estou propondo.
Sim, que você possa navegar pelos tipos, modelando especifica-
mente características que não tem, mas quer, ou precisa, adquirir.
Pode ser que você esteja pensando: “Ah, beleza, o papo está
bacana, mas como é que eu faço isso? Como é que eu modelo
então apenas a característica e não a pessoa?”. Que bom que você
perguntou, porque é exatamente isso que vamos ver nos próxi-
mos capítulos. Vamos juntos!

220
DESMONTE
SUAS CRENÇAS
B
em… sabendo agora que você não deve imitar, mas mode-
lar, conhecendo a diferença entre um e outro, quero entrar
na parte realmente prática.
A primeira coisa que quero apresentar são dois truques. Na
verdade, não gosto muito dessa ideia, desse conceito de truque.
Mas sei que você entende o que essa palavra quer dizer. Ou seja,
truque é um meio hábil e sutil de agir, de fazer algo. Por isso, na
falta de uma palavra melhor, quero apresentar dois truques para
você sabotar os seus sabotadores.
Pode ser que você não saiba exatamente o que são sabota-
dores. Eu explico: sabotadores são aqueles comportamentos que
não são bons, mas nos quais temos um ganho secundário. E esse
ganho secundário, na maioria das vezes, se sobrepõe ao mal prin-
cipal que aquele comportamento traz. Por exemplo, uma pessoa
que fuma, sabe que seu vício faz mal. Mas com ele, ela tem um
ganho secundário. Como uma redução na ansiedade, ou a sen-
sação de participar do ambiente em que está atuando. Isso quer

222
dizer que ela é socialmente mais bem-aceita pelos amigos; ou
vários outros ganhos. Esse tipo de coisa são os sabotadores.
De forma prática, podemos dizer que os sabotadores nada
mais são do que partes do nosso comportamento que limitam
nossa evolução e o acesso a comportamentos mais eficientes.
Dar vazão aos sabotadores nos impedem, muitas vezes, de con-
quistar o que desejamos.
Na maioria das vezes, não sabemos bem o porquê de agirmos
como agimos; até porque, nem sempre nos damos conta do nos-
so comportamento. E a raiz do problema está em nossas crenças
ou sabotadores, como acabei de explicar.
Entendendo isso, desenvolvi duas perguntas com o objetivo
de sabotar os sabotadores. É a elas que chamo de truques. O que
acontece é que, basicamente, há, dentro de nós, uma disputa en-
tre a mente conscientemente e a mente inconsciente. Essa é uma
disputa velada, ela não é clara, nem afirmada para ver que mente
nos domina.
O fato é que a mente inconsciente e a mente consciente têm
dois idiomas diferentes, elas usam linguagens distintas; muito
embora uma consiga se comunicar com a outra. “Como assim?”,
você pode estar perguntando.
Veja, as suas crenças, os seus padrões de comportamento, fi-
cam na sua mente inconsciente, falando de uma maneira bem
simplista, apenas para ser mais didático. Agora, preste atenção!
Quando me refiro à crença, não falo de fé religiosa, não. Estou me
referindo às verdades absolutas que você traz consigo; aquelas
que aprendeu na sua primeira infância. Essas crenças foram ins-
taladas enquanto da formação da sua personalidade. E elas são
os seus princípios, as suas verdades absolutas que você carrega
para projetar e para viver. Ou seja, a sua mente inconsciente é

223
responsável por guardar esses padrões que dão referências de
como você deve viver.
Já a sua mente consciente é responsável por analisar o mun-
do. Ela sai, volta e pergunta para a mente inconsciente: “Mente
inconsciente, qual é a nossa referência nessa situação de vida?
Qual o nosso padrão de comportamento para esse contexto? Qual
a crença que vamos usar?”. Nesse ponto, a mente inconsciente “dá
para a mente consciente” esse padrão.
Ou seja, a mente inconsciente guarda o seu passado em forma
de crença e projeta o seu futuro baseado nas suas crenças que são
formadas no seu passado. Veja, o seu futuro está baseado no seu
passado. É por isso que é tão difícil mudar padrões de comporta-
mento. Sendo assim, se você não mexe nas suas crenças, se não
mexe no seu passado ou na referência dele na sua mente, está sim
predeterminado a viver como sempre viveu, para todo o sempre.
Pode me perguntar: “E por quê?”. Eu digo: porque a mente in-
consciente irá pegar os seus padrões de comportamento, as suas
crenças, os programas que “rodam no seu computador” e proje-
tará o seu futuro de tal maneira que você vai dizer para a mente
consciente: “Mente consciente, viva esse futuro”. E, claro, esse fu-
turo está baseado no que você conhece e que já é passado. Então,
a única maneira que existe para você mudar o seu futuro é res-
significando, ou mudando, as suas crenças que foram construí-
das baseadas no seu passado, elas foram feitas e construídas,
instaladas lá atrás, nas suas primeiras vivências.
Nesse ponto se apresentam dois conceitos. Já ouviu falar em
mudança interna? Ou que a “mudança tem que vir de dentro para
fora?” Esse é o maior engano. A mudança de dentro para fora é muito
mais difícil, porque esbarra em traumas, em padrões, em princípios,
em outras crenças, porque todas elas são todas ligadas na construção

224
das memórias. Então, se você quiser, por exemplo, mudar de dentro
para fora, ou seja, mudar primeiro o comportamento para depois
ter o hábito transformado, enfrentará muita coisa… será muito mais
doloroso e difícil. Fazer uma mudança interna não é fácil, porque, na
grande maioria das vezes, se esbarra em coisas que estão “esqueci-
das”, nas quais não se queria mexer. Entenda coisas que não se quer
mexer, como traumas, dores, fatos difíceis de se lidar. Mais à frente
quero falar sobre isso, mas por ora acredite que se você mudar o seu
comportamento, naturalmente, com o tempo, as suas crenças mu-
darão. E aos poucos os seus traumas serão solucionados. É possível
resolver essas “coisinhas” que machucam também no ciclo inverso,
no movimento contraintuitivo que ninguém pensou; mas, vá por
mim, é o mais eficiente, porque não me gera tanta dor.
Mas, voltando, quando acontecem essas disputas entre a
mente consciente com a inconsciente, todas as vezes, a incons-
ciente interromperá o processo de mudança e dirá: “Espera lá, es-
pera lá, para tudo! Se a gente chegou até aqui desse jeito, então
está tudo certo, você não precisa mudar nada!”. Isso porque essas
são as informações que ela carrega em si.
O que quero dizer é que todas as vezes que você confronta suas
crenças quem vence é a sua mente inconsciente. E por quê? Porque
ela está atuando no instinto, no comportamento reflexo. Entendeu?
Noventa por cento do seu tempo, você vive no “modo automático”.
Sim, você é uma criança vivendo no corpo de um adulto. Digo isso
porque a sua personalidade foi formada na infância, ela não muda. E
se ela está atuando na sua vida, você está vivendo como uma criança.
Como já disse, é possível evoluir a personalidade. Gerar no-
vas habilidades, novos recursos, o que traz capacidade de fazer a
mente inconsciente produzir novas soluções e dar para a mente
consciente executar. É assim que uma transformação acontece.

225
Sem choques, sem embates
Existe um exército da Programação Neurolinguística que afir-
ma que é possível colocar a mente consciente para conversar com a
mente inconsciente. Mas há a necessidade de, no início dessa con-
versa, fazer a mente consciente agradecer à mente inconsciente pela
ajuda, pelo suporte que ela deu trazendo você vivo até o momento
presente. Essa é uma forma de não rejeitar a mente inconsciente.
Baseado nisso a mente inconsciente fica “feliz” e entende que
não há um choque; que não há ninguém querendo ocupar a po-
sição dela. Lembra do conceito de mudar de dentro para fora?
Esse é ao contrário. Por isso, sem se sentir colocada contra a pare-
de, a mente inconsciente não gera nenhum nível de dor e é assim
que se torna possível desmontar os sabotadores.
A segunda parte dessa conversa é a mente consciente dizer
para a mente inconsciente que além de você agradecer esses pa-
drões, quer a ajuda dela porque agora está vivendo um novo con-
texto, uma nova vida. Por isso, precisa de novos padrões, de novas
crenças e pede a ajuda dela para auxiliá-lo a achar essas novas
crenças. Nesse ambiente não combativo, a mente inconsciente se
sentirá tranquila e poderá ajudar. Você pode pedir para ela, por
exemplo, três soluções para um novo problema.
E, acredite, ela ficará pensando, repensando, e buscará como
encontrar essas respostas. É bem provável que, de início, os pa-
drões sejam os mesmos de sempre. Mas insista em pedir uma
ajuda para novos padrões. E a mente inconsciente ficará buscando
por eles. Até que encontre algo que seja efetivo mesmo. É nesse
momento que você pode “tirar o CD antigo” e colocar este “novo”
no lugar. Pronto! A sua memória, o seu padrão, foi ressignificada.
Lembra daquelas fitas de videocassete as quais era preciso rebo-
binar para depois poder assistir ao filme novamente? Ela tinha dois

226
rolinhos que iam se ajustando à medida que o filme ia sendo pas-
sado. Nos padrões de comportamento, nas crenças, não é diferente.
Imagine que você volta a fita lá no começo, pega um pedacinho do
filme, corta e substitui por outro pedacinho. A partir dali, é possível
assistir a um novo filme. Agora, se fosse necessário regravar, teria
que refazer toda a filmagem; quem sabe modificar até o roteiro. Mas
“para que desse certo” era preciso apenas mexer naquele trechinho.
Por isso, fazer apenas aquele enxerto foi necessário. É exatamente
isso que quer dizer ressignificar crenças. A gente volta e bota outra
crença no mesmo lugar. Como tudo está conectado de alguma
forma direta, ou indiretamente, mais ou menos, várias outras
áreas da vida sofrerão um impacto positivo.
E por mudar uma crença do passado, é possível perceber
que outras áreas da vida também mudarão sem ser preciso “fa-
zer nada”, apenas recortar um trechinho do filme e colocar ou-
tro no lugar. Mas essa mudança se torna uma avalanche, e toca
outros setores que precisavam também de transformação.
O que quero dizer é que não adianta ser calmo, por exem-
plo, apenas enquanto se está meditando, ou enquanto se está
no treinamento de imersão do coach de autoajuda lá na chácara,
sem celular, sem internet, sem televisão, sem rádio, sem nada,
sem barulho, naquele ambiente propício. Lá é muito fácil comer
devagar, respirar devagar, refletir, sorrir. Mas o grande “xis” é quan-
do você sai dessa imersão e vai para a sua casa. Na primeira rota-
tória, um carro fecha você. E aí? Todo o tempo foi perdido, porque
você já abre o vidro nervoso, xinga um monte de palavrões, quer
brigar… Ou seja, tudo aquilo você construiu nesse retiro, só fun-
ciona naquele contexto. Mas o ponto é que as mudanças trazidas
para a nossa vida precisam dar certo em qualquer cenário em que
estivermos inseridos.

227
Foi pensando em tudo isso que apresentei até aqui que de-
senvolvi essas duas perguntas, ou truques, que eu chamo de
desmonta crenças. Afirmo isso, porque não há maneira de uma
crença permanecer instalada ou dominar você se, a partir de ago-
ra, passar a utilizar isso que vou lhe ensinar. Mas, lembre-se, é
preciso usar de forma efetiva.
E eu aposto, com quem quer que seja, que se você se fizer
essas duas perguntas todos os dias, pela manhã, da maneira que
vou ensinar e respeitar as respostas e atuar de acordo com elas,
em alguns meses você começará a ter promoções no emprego,
ou aumento de salário, ou ofertas de outras empresas. Por quê?
Porque você crescerá exponencialmente, e de maneira que jamais
imaginou na sua profissão, no seu trabalho, nas suas relações; ou
onde quer que aplicar esse conhecimento.
Então, todo dia, pela manhã, antes de fazer qualquer coisa, se
questione. A primeira pergunta: “Se fosse para fazer bem-feito,
como eu faria?”. Mas é bem-feito mesmo. Com excelência. E a
segunda: “E se as vidas das pessoas que eu mais amo depen-
desse, literalmente, disso, como eu faria?”.
Vá por mim, se você se perguntar essas duas questões a sua
mente dará a resposta. E você não gostará dela. Sabe por quê?
Porque essa resposta trará desconforto, e o obrigará a sair da sua
zona de conforto. Aliás, eu acho que enquanto lê, você já está
pensando nisso. E sim, eu tenho certeza de que se você for mui-
to sincero na forma de responder e de agir pelas suas respostas,
será impossível não crescer, nem performar melhor que todas as
outras pessoas. A partir desse conhecimento, você irá, com toda a
certeza, sabotar os seus sabotadores.
Talvez, você esteja se perguntando o que há de mágico nessas
perguntas. Se você for sensível a elas, agirá de uma forma melhor.

228
Consequentemente, terá um resultado melhor. Um melhor resul-
tado irá gerar motivação. Tendo motivação o seu compromisso e a
sua disciplina estarão impactados. Automaticamente, a disciplina
gerará consistência aos seus atos. E a consistência trará resulta-
dos melhores ainda. Por quê? Porque você passará a atuar mais
desse novo modo que aprendeu porque é bom, porque traz um
ganho. Assim, entrará em um círculo virtuoso que o levará a cada dia
se tornar melhor. Como consequência, se transformará, literalmente,
numa máquina de performance.
O que acontece, realmente, é que agindo assim você se com-
promete a fazer. E antes de fazer, cria esses novos padrões. Assim,
faz com que a sua mente inconsciente comece a gerar novos pa-
drões de análise e ação. Na verdade, é uma maneira indireta de
dizer a ela: “Olha a importância disso para mim. Eu preciso de
um padrão que seja realmente eficiente, diferente do que estou
fazendo hoje. O que estou fazendo agora não está dando tanto
resultado e eu concordo que você pode me ajudar a encontrar um
caminho; concordo que o chefe é você. Me ajude então a fazer
bem-feito”. Imagine-se conversando com a sua mente incons-
ciente. Tenho certeza de que você consegue!

Enfrente para se superar


Se você colocar a sua vida toda baseada nesses dois pilares:
“Se fosse para fazer bem-feito, como eu faria? e “E se as vidas das
pessoas que eu mais amo dependesse, literalmente, disso, como
eu faria?”, vá por mim: não existe nada, absolutamente nada, que
você não consiga fazer. A partir disso, é possível criar um padrão
de eficiência que, ao contrário do que vinha tendo — que é um
padrão de ineficiência, ou de neutralidade —, passa a ser um pa-
drão de alta performance.

229
Eu sei que esse conhecimento é diferente pelo simples fato de
você ter colocado a sua mente inconsciente para trabalhar a seu favor.
Dessa maneira, você gerou uma situação para a sua mente sabotar
os seus sabotadores. Esse novo padrão é a primeira coisa necessária
para aprender a lidar com o eneagrama e realmente passar a cons-
truir, ou reconstruir, a si mesmo com base nos tipos do eneagrama.
Mas agora quero que você pense em um atleta. Como foi que
ele ganhou condicionamento físico? Treinando, se esforçando, fa-
zendo todo dia um pouco. Agora, como ele aumenta esse condi-
cionamento? Se superando. Indo além do que ele já sabe, já tem,
já conquistou. É a isso que chamamos de superação.
E o que é superação? É superar uma ação inicial. Preste aten-
ção! Todas as vezes que você promove uma superação, supera
sua ação inicial, cresce em suas habilidades, evolui.
Mas vamos voltar a pensar em um atleta profissional. Vamos
imaginar que ele quer aumentar seu condicionamento físico. Ou
seja, se superar. Mas se todas as vezes que ele cansar dos exercícios,
da corrida, do que quer que seja em que esteja trabalhando para tal,
ele parar. Que mensagem estará mandando para a mente dele?
Não sei se você já sabe, mas a mente trabalha com o padrão
de não permitir que o seu corpo gaste energia à toa. Ela age assim
até por uma questão de sobrevivência. Então, se o atleta cansa e
para, a mensagem que ele está passando para a mente é de um
gasto excessivo de energia. Sendo assim, a mente pensa: “Opa, já
entendi como faço para ele parar o mais rápido possível. Assim,
ele não gastará tanta energia. É simples! Vou fazer com que se
canse o mais rápido possível. Ou vou desestimulá-lo o mais rápi-
do possível. Aí, ele para de gastar energia”.
Esse é o caso das pessoas que começam uma dieta na segun-
da-feira e na quinta param. Ou que vão à academia na segun-

230
da-feira e na sexta param. Ou qualquer outra atividade. A atitude
delas manda a mensagem ao cérebro de que aquilo demanda
um gasto de energia muito grande. E tudo que a mente não quer
é gastar energia. Lembra? O trabalho dela é fazer você economizar
energia para sobreviver.
Por isso, se você quer mudar o padrão, precisa ir além. Foi por
essa razão que dei o exemplo do atleta. Se ele quer ganhar condicio-
namento físico, vai mais adiante. Corre mais. Se exercita mais. Não
para. Ainda que desmotivado, continua fazendo. Dessa maneira, que
mensagem ele manda para a mente? De que não adianta, aconte-
ça o que acontecer ele continuará se exercitando. Assim, para que
ele não morra, para que a energia corporal não entre em colapso, a
mente manda ordens para todos os órgãos do corpo. Logo, há um
aumento a capacidade cardiovascular para aumentar o condiciona-
mento físico, há uma descarga de adrenalina na corrente sanguínea,
e com isso a motivação e a performance aumentam.
A questão é, não há outro jeito de melhorar a performance,
não há outro jeito de evoluir o tipo, se a pessoa não for adiante,
se não provocar a própria superação. Se não superar a sua ação
inicial. E é para isso que as perguntas para desmontar crenças
servem. Justamente para fazer com que se aprenda um padrão
eficiente para gerar superação todos os dias em tudo o que você
fizer. É um fato, independentemente do que seja se você aplicar
o mesmo padrão, terá o mesmo resultado. Lembra da frase de
Einstein? “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa
e esperar resultados diferentes”. É isso, para escrever uma história
de superação é preciso fazer diferente.
Por isso, antes de entrarmos no estudo da modelagem pelo
eneagrama é preciso, primeiro, criar a capacidade de estabelecer
esses padrões de eficiência. Para isso é necessário explicar para

231
a mente o seguinte: “A partir de agora, vamos funcionar em ou-
tro nível, em outro padrão, em outra frequência. Uma frequência
de motivação, de alta performance, de alta eficiência”. E, para dar
certo, é preciso driblar a sabotagem, as crenças limitantes que
carrega em si.
Gosto muito de comparar os aprendizados com algumas re-
ferências bíblicas. Por exemplo, quando Jesus fazia um milagre.
O que ele falava para a pessoa que o havia recebido? Em todas
as suas realizações havia um padrão; Ele sempre dizia a mesma
coisa. E isso me chama muito a atenção. Ele dizia assim: “Levanta
e anda”. Ou, “levanta, anda e não peque mais”. Sempre! Isso quer
dizer o seguinte: o milagre não pode funcionar apenas na frente
de Jesus, não. Ele tem que ser efetivo todos os dias, em todas as
áreas da vida. Não adiantava ser aleijado, receber o milagre e con-
tinuar deitado. Era preciso que o milagre, a transformação, fosse
real. Que fosse possível vivê-la.
Trazendo para o nosso contexto, a ideia é: realize por intermé-
dio daquilo que recebeu. Faça acontecer a partir do que aprendeu.
Coloque em prática o conhecimento que está adquirindo. Inclu-
sive, para finalizar este capítulo, imagine, de agora em diante: “Se
eu quisesse finalizar este estudo de verdade, se eu quisesse fazer
bem-feito, colocar em prática o que aprendi, estudar, me especia-
lizar nisso, melhorar minha vida, melhorar a vida da minha famí-
lia, melhorar a minha performance, o meu futuro e o tudo mais;
se eu quisesse realmente fazer isso bem-feito e mais que isso, se
as pessoas que eu mais amo no mundo, a vida delas dependesse
disso que estou fazendo agora, como eu faria? Como eu aplicaria
este novo conhecimento? Como interferiria em mim para melho-
rar? Como é que eu faria?”. Reflita e traga a transformação para a
sua vida de forma real e obtenha os resultados que tanto busca.

232
A IMAGEM E A
AÇÃO
A
inda antes de entrarmos no eneagrama, quero falar so-
bre algo muito importante quando estamos mudando o
nosso padrão de ineficiência para eficiência total. Quero
abordar neste capítulo algo conhecido como mentalização.
Mas preste atenção! A ideia que apresento aqui é completa-
mente diferente do que muitas pessoas ensinam por aí. Você já
deve ter ouvido falar na lei da atração, certo? Essa é uma grande
mentira que aprisiona as pessoas na inoperância e numa pas-
sividade doentia. Segundo essa lei, você deve se sentar no sofá
da sua casa, sem fazer absolutamente nada, e mentalizar que as
coisas começarão a acontecer, e a aparecer na sua vida. Mas isso,
simplesmente, não funciona. Isso é uma mentira deslavada!
Essa ideia criou, junto com o assistencialismo político-econômi-
co excessivo e malfeito; especialmente em países subdesenvolvidos;
uma geração inteira de bolhas preguiçosas que se sentem no direito
de exigir tudo, mas não querem se esforçar por absolutamente nada.
O resultado é uma sociedade que nunca esteve tão ruim, caótica
e destruída. E, sem querer entrar em discussões políticas ou mili-
tâncias, mas o fato é que o que vem sendo feito e defendido está

234
totalmente errado. Porque a gente avalia a eficiência de algo pelo
seu resultado final. E o resultado final dessa “nova forma de viver” é
simplesmente desastroso! Por isso, não confunda lei da atração com
fé nem, tampouco, com autoestima.
Não se choque com o que digo, mas essa é a minha verdade.
É o que tenho visto funcionar na minha vida e na de muitos ou-
tros. E por isso, compartilho que o que dá certo é a lei da ação. E
como ela acontece? Você planeja a sua ação, imagina a sua ação.
Ou seja, imaginação nada mais é do que imaginar a ação. E parte
para a ação. Isso é, sair para agir, para matar gigantes, mover pe-
dras, descer do barco e pular na água. Costumo dizer que filosofia
sem prática é mera demagogia. Então, querer algo, mas não fazer
nada por esse algo, inviabiliza que aconteça.
Me deixe desenvolver um pouco mais esses conceitos. O que
quero dizer é que você precisa agir. Precisa trabalhar em prol de
si mesmo. Você deve trabalhar com ação e não com a ilusão de
alguma coisa que o universo tem que dar de graça, sem que seja
preciso esforço algum. Acredite, o preço por tudo que vale a pena
é o esforço.
E quando trabalhamos no ponto de vista da ação tudo está
envolvido nisso. Assim, podemos dizer que estamos em oração.
Ou seja, em oração mais ação. Ou orar mais vigiar. Esse foi um
mandamento que Deus nos deu. Você precisa sim, orar, ter fé,
mas deve resolver o assunto pelo qual está orando também.
A Bíblia diz que lá no início, no princípio de todas as coisas,
era Deus. E Deus era o verbo. Verbo é o quê? É a palavra criado-
ra, a palavra seguida de ação, aquilo que constrói uma criação.
Sendo assim, Deus age, cria a ação, uma criação, ou provoca uma
transformação, ele transforma a sua ação inicial. Em Deus está o
princípio criador. Que cria a ação — criação, que transforma a ação

235
— transformação, que supera a ação inicial — superação, e que
resulta em motivação — um motivo para a sua ação. Eu costumo
dizer que, se você encontrar o motivo certo para a sua ação,
nunca vai ter problemas com motivação.
O que eu preciso que você entenda é que a tal da lei da atra-
ção não existe, não funciona; o que é necessário entender, aceitar
e tomar para si é que o que dá certo a lei da ação. Ou seja, levante
e anda. Mais uma vez, levante e anda. Faça! Aja! Lembra o que fa-
lei sobre os milagres de Jesus? Ele dizia “levanta e anda”. Ou seja,
ele mandava partir para a ação, para a vida.
O que quero dizer é que o processo de mentalização que
quero ensiná-lo é muito diferente de tudo o que você pode ter
aprendido até aqui. O que quero é dar parâmetros para você sair
para agir mais do que para ficar sentado esperando. De maneira
nenhuma eu vou dizer para você: “Mentalize e espere”. Não; o que
direi é o seguinte: “Planeje, reconheça e saia para agir. Depois,
planeje, estabeleça tarefas e saia para agir”. A diferença é que você
irá planejar e estabelecer as tarefas como se elas já fossem uma
verdade para você, como se realmente fosse algo que está consu-
mado, que já está pronto.
Na Bíblia, no livro de Mateus, capítulo 21, verso 22, diz o se-
guinte: “E tudo o que pedirem em oração, se crerem, vocês rece-
berão”. Isso quer dizer que tudo aquilo que você pede com fé,
crendo que já aconteceu, lhe será concedido. Isso é, já é um fato
consumado, é algo real.
Essa é uma revelação que tive e virou minhas chaves, e en-
contro muitas pessoas que são religiosas e se sentem ofendidas.
Mas essa não é a minha intenção, essa é a minha visão. Para mim,
Jesus nunca fez nenhum milagre. Pode ser que ao ler isso você
sinta vontade de parar esta leitura. Mas quero que bote abaixo

236
um pouco desses dogmas, desse estigma religioso e pense de
maneira mais reflexiva a respeito dessa grande figura que foi Je-
sus e sua passagem aqui na Terra.
Parto da minha ideia, analisando o seguinte: todos os milagres
que Jesus fez; em todos, sem exceção, ele dizia para a pessoa o se-
guinte: “A sua fé curou você. Não fui eu que o curei, foi a sua fé que o
curou”. Essa fala é reforçada em muitas situações. Outras passagens
trazem isso. Por exemplo, quando Jesus diz que quem tiver uma fé
do tamanho de um grão de mostarda, pode dizer a uma montanha
para se lançar ao mar que ela se lançará. E muitas outras palavras se-
melhantes. Não quero me ater de maneira literal as passagens, elas
podem ser consultadas na Bíblia, mas, para mim, Jesus está dizendo
o seguinte, em todos os seus milagres: saia, ande, faça as coisas com
fé, que tudo acontecerá.
Digo isso porque para se realizar algo é preciso atitude, ação,
não passividade para atrair. Pelo contrário, é necessário atuar na
ação para alcançar algo. Veja: atuação, atuar na ação. Em outras
palavras, colocar a ação de maneira ativa e prática na sua vida.
Isso que ensino é diferente, com certeza, da mentalização lá
do coach de autoajuda, ou da lei da atração. Esse mentalizar e agir
é o planejamento da imaginação para sair para a ação, para que
realmente as coisas façam sentido e comecem a acontecer.
Agora, é importante saber que a mente não consegue dife-
renciar o que é real do que é imaginado. “Como assim?”. Pode
ser que esse questionamento tenha surgido para você. Mas fique
tranquilo, eu explico. Quando tenho uma memória e eu a ati-
vo por qualquer motivo que seja; por lembrar de alguma coisa,
por vivenciar novamente uma situação parecida, por sentir um
cheiro, por ver uma cor, ou qualquer dessas coisas, não importa,
mesmo que eu não esteja vivendo aquilo, de fato, na vida real,

237
no meu corpo serão ativadas todas as reações físicas, fisiológicas,
emocionais daquela memória que eu revivi. Para a mente não há
diferença se é um fato da memória ou se está acontecendo no
exato momento.
Então, se eu disser para você pensar em um elefante cor-de-
-rosa, por exemplo, e você o enxergar em sua imaginação, a sua
mente não saberá dizer se esse elefante é de verdade ou de men-
tira. A função dela é apenas criar a imagem. Você tem a referência
do elefante e conhece a cor. Assim, a mente junta as duas infor-
mações e cria a imagem.
Outro exemplo, se eu pedir para você imaginar um limão bem
verdinho, bem suculento. Imagine-se pegando uma faca e par-
tindo esse limão cheio de sumo e o espremendo na sua boca.
Imagine abrir a boca, o ato de espremer, a acidez na sua língua,
a sua boca se enchendo d’água… apenas lendo essa descrição, o
que aconteceu? Com quase cem por cento de certeza você salivou
enquanto lia. Acertei? Isso foi para provar que a sua mente não
percebe a diferença do real para o imaginário. E por quê? Porque
as referências de memória ativam todas as suas partes sensoriais.
O que acontece é que a sua memória é construída à base
das suas emoções. E as emoções são construídas pelo que você
vive, pelo que sente. Então a sua percepção sensorial ativa as
suas emoções e tudo isso constrói a sua memória.
Agora, é muito importante saber disso, porque a partir des-
se conhecimento é possível compreender que pode usar esse
conhecimento para se favorecer. “Como?”, você deve estar per-
guntado mais uma vez. Simples; é possível gerar na mente uma
possibilidade. Algo que mesmo que não tenha acontecido ainda,
eu concebo como verdade. Assim, a minha mente passa a gerar
recursos para que aconteça. Ou seja, para a mente é tão real que

238
ela me apresentará alternativas para me impulsionar a fazer com
que o que foi imaginado, aconteça.

O universo não conspira por ninguém


Isso é algo bastante interessante, porque ouço muita gente
falar, por exemplo, que quando você se propõe a fazer alguma
coisa o universo conspira a seu favor. Preste atenção! O universo
não conspira a favor de ninguém. Pelo contrário, se há uma coisa
que o universo está em relação a você é contra. E sabe por quê?
Porque ele é caótico. Mas o que está inserido aqui é o seu desejo,
o seu caminhar para transformar a sua imaginação em algo real.
Vou relembrar mais uma passagem bíblica para você conse-
guir visualizar o que digo. Lembra quando Jesus mandou os dis-
cípulos entrarem no barco e seguirem viagem que depois Ele os
encontraria? Eles obedeceram e se viram no meio de uma gran-
de tempestade. De repente, Jesus apareceu caminhando sobre as
águas. E Pedro como sempre foi o mais impulsivo, mais fleumáti-
co, se ergueu de dentro do barco. Os outros estão todos no fundo
do barco escondidos, com medo. Mas Pedro partiu para o diálo-
go. Perguntou se era um fantasma, Jesus respondeu que não. E
aí, para provar que era Jesus mesmo, Pedro pediu que o Mestre
ordenasse que ele andassee sobre as águas. Naquele contexto,
o que Pedro está dizendo é o seguinte: ordene que eu faça algo
que humanamente é impossível, mas que eu sei que se o Senhor
ordenar, acontecerá. E qual foi a resposta de Jesus? Apenas uma
palavra: “Vem”.
Cristo não manda Pedro ter cuidado com os trovões, com as
ondas, com os relâmpagos, não. Ele disse apenas “vem”. Nisso, o
discípulo desceu do barco, deu três passos sobre a água, algo que
é humanamente impossível, mas aconteceu. E por quê? Primeiro,

239
porque Pedro concebeu como verdade, ele creu, por uma autori-
dade, por uma palavra que foi dita por alguém que ele realmente
confiava e, por isso, ele se lança ao mar.
Só que, de repente, Pedro se dá conta do que estava fazendo.
Por isso, parou e olhou para trás. Naquele momento, ele percebeu
a tempestade, também a impossibilidade humana do que estava
realizando. Ou seja, naquele momento, ele tirou os olhos do alvo,
do foco que, naquele contexto, era Jesus e começou a perceber as
dificuldades. E o que aconteceu? Ele começou a afundar.
Percebe? Não é que o universo conspire a seu favor. O que
acontece é que quando você está focado, quando mantém os
olhos no alvo do que deseja, não percebe as dificuldades. Então,
o caminho fica mais fácil. E, por mais clichê que possa parecer, por
não saber que é impossível você vai lá e faz.
Por isso, a primeira coisa que quero mostrar é essa menta-
lização para a ação. Ela é um planejamento. Você vai imaginar
a ação, planejar a ação e sair para a ação. Há uma lógica, uma
sequência: imaginação, planejamento e atuação. Você vai fazer
isso de maneira mental, no início do dia, para que consiga de-
finir os passos que precisa dar, durante o dia, para que o que
mentalizou aconteça.
Antes, porém, de fazer esse exercício com você quero apenas
refletir sobre depressão. O que a maioria das pessoas fala que ela
é? Dizem que a depressão é excesso de passado. Outras tantas pes-
soas afirmam que a ansiedade é excesso de futuro. Já ouviu essas
ideias? Então, eu concordo em parte e discordo em parte.
Explico: não é o seu passado ou o seu futuro que causam pro-
blemas. Até porque, eles não existem. O passado já se foi e o
futuro não existe ainda. Mas o seu futuro é construído no exato
momento em que você toma uma decisão. Ele não está pronto

240
ainda, mas você já decidiu. Sendo assim, o que causa dores, de-
pressão, são as memórias, a imaginação, a perspectiva. Agora a
ansiedade não é um excesso de futuro, propriamente, ela é a falta
de perspectiva de futuro, pela falta de um planejamento para o
futuro. O que acontece é que a mente não consegue lidar bem
com lacunas, com o desconhecido. Até por isso, temos medo da
morte, por exemplo. Mas o que quero que pense é que são todas
essas ideias que geram sentimentos em nós.
O trauma, por exemplo. Como é que a mente gera um trauma?
O que ele significa? Como ele é construído na mente, baseado em
nossas memórias? O trauma é a interrupção de uma aprendiza-
gem. Por exemplo, estou vivendo um momento na minha vida e
por algum motivo sofro uma ruptura. Algo acontece. Isso gera um
sentimento de tensão, trazendo um bloqueio na aprendizagem.
Isso quer dizer que não consigo acabar de aprender aquele fato,
de digerir o que está acontecendo comigo. Assim, é a incomple-
tude, a falta de conclusão que gera uma lacuna na mente.
Pelo fato de a mente não saber lidar bem com vazios, ela pega
qualquer coisa que tem como referência e coloca naquele ponto
para preencher aquela lacuna. Isso gera uma distorção da me-
mória, da imagem. Assim, quando eu passar por algo semelhan-
te a essa distorção, dispara aquele gatilho daquilo que não foi
aprendido, aquela percepção original, e a solução que fiquei sem
conhecer. Isso gera uma ansiedade brutal. O que leva ao pânico,
ao medo, a ficar travado, bloqueado e está aí instalado o trauma.
Abordei tudo isso para dizer que esses sentimentos são co-
muns a todo ser humano. O ponto é como lidar com eles. E aí,
vem o exercício de mentalizar para a ação. Logo pela manhã, as-
sim que acordo, eu faço as minhas perguntas desmonta crenças.
“Se fosse para fazer bem-feito, como eu faria? e “E se as vidas das

241
pessoas que eu mais amo dependesse, literalmente, disso, como
eu faria?”. Com base na resposta a essas perguntas, eu planejo
como será o meu dia.
Veja, não ache estranho o que acabei de dizer, pois não plane-
jo a minha semana com antecedência, não. E prometo falar disso
mais à frente. Mas o ponto vital, para mim, é o poder do hoje.
Isso quer dizer que hoje, só pelo dia de hoje, eu vou trabalhar
para construir um dia excelente. Assim, amanhã — será hoje de
novo — eu posso fazer tudo de forma excelente novamente. E no
dia seguinte também. Dessa maneira, é possível a cada dia ser
excelente e construir uma vida excepcional.
Como disse, à frente explicarei sobre isso e ficará fácil entender
porque não é preciso planejar a tão longo prazo. O que acontece
é que a modelagem não é assim; você tem o poder de executar
hoje. É possível até planejar a longo prazo, mas a execução tem
que ser imediata.
O ponto é que para o dia acontecer: faço as perguntas des-
monta crenças, dou um padrão de excelência para a minha men-
te seguir. E que padrão de excelência é esse? É nesse momento
que é preciso agir para que as coisas aconteçam. Fecho os olhos
rapidamente. Apenas alguns segundos, alguns minutos, coisa rá-
pida. Não é uma meditação de duas horas. Mas nesses poucos
minutos é preciso criar uma memória de maneira que aquilo seja
verdade.
Por exemplo, penso e visualizo: tenho que levantar agora, es-
covar meus dentes, tomar o meu café, sair sem enrolar, sem gas-
tar tempo com celular olhando as redes sociais que não me acres-
centam nada. Preciso hoje trabalhar o meu tempo com eficiência,
dar prioridade para as coisas mais importantes e assim por diante.
Dessa maneira, vou construindo, literalmente, na minha imagi-

242
nação como o meu dia tem que ser para que as tarefas que preci-
so cumprir sejam realizadas com eficiência. E tudo isso acontece a
partir da minha resposta às perguntas desmonta crenças.
Por exemplo, você trabalha em uma loja e tem que bater meta
de venda todos os dias. Pergunta: se você tivesse que fazer bem-
-feito como faria? Como atenderia os clientes? O que ofereceria? E
se a sua família, se as pessoas que mais ama dependessem disso,
como você faria? Como abordaria os clientes? Como ofereceria a
venda? Forçaria? E o local de trabalho? Como seria? Como trataria
os outros? Como se vestiria? Como chegaria ao trabalho? No horá-
rio ou atrasado? Com qual intenção, com qual humor trabalharia?
Conseguiu entender? É a partir dessas ideias que vou fazen-
do o meu planejamento e mentalizando as respostas para poder
partir para a ação. Confesso que, no início, isso foi um pouco
mais difícil, hoje, faço tranquilamente. E se você tentar, será a
mesma coisa.
Entenda que não existe outra forma de você conseguir uma
transformação se não agir, se não atuar. Por exemplo, muita gente
acha que emagrecer é difícil demais. Mas, não, não é. Se você ficar
sem comer à noite, emagrece; se ficar sem comer besteira, emagrece.
Ou seja, não é difícil. Mas é desconfortável. E por quê? Porque obri-
ga a pessoa a sair de sua zona de conforto. O que eu quero dizer é
que nada é difícil, mas pode ser desconfortável, porque vai tirá-lo de
onde é cômodo. Mas o que você alcançou estando acomodado? En-
tão, é partir para a ação. Agir, fazer diferente. Sair da zona de conforto.
Todas essas dicas que falei são ótimas, mas para funcionar é preciso
colocar em prática diariamente.
Não estou dizendo que será fácil. Mas é possível. Antes de desen-
volver esse método, antes de trabalhar comigo mesmo, eu não tinha
muita paciência e persistência. Por isso, precisei criar metodologias,

243
precisei encontrar recursos que me dessem a capacidade de fazer as
coisas acontecerem de maneira mais objetiva, mais rápida. Eu não
podia esperar cinco anos, por exemplo, para algo ser real na minha
vida. Eu não podia ficar em terapia dez anos, sem ver resultados. Eu
precisava de um negócio para já, algo que funcionasse.
Assim, fui desenvolvendo em mim, treinando comigo, testando
na minha vida os recursos que funcionavam no meu agora. E, no dia
seguinte, começava tudo de novo. Por isso, ao longo do tempo, fui
construindo esse caminho, me habituando, me condicionando, até
virar um comportamento. Deste modo, ao se tornar um comporta-
mento, eu não precisava pensar mais antes de fazer, porque a minha
crença já tinha sido mudada.
Também falarei disso mais adiante que é ciclo da transfor-
mação. Sim, é preciso passar por todos esses caminhos. Mas o
importante agora é você entender que tem que colocar em prática
de imediato, o que acabou de aprender. E aí? Pronto para mudar
sua vida?

244
CRIE UMA NOVA
MEMÓRIA
E
spero que até aqui você tenha entendido a diferença entre
imitação e modelagem. E o porquê da importância de mo-
delar tendo o eneagrama como instrumento dessa mode-
lagem. Então, antes de entrarmos na modelagem propriamente
dita, expliquei como treinar a mente para atuar por meio de pa-
drões mais eficientes. Isso se aplica com as perguntas desmon-
ta crenças e com a mentalização prática, com a mentalização da
atuação, com a lei da ação e não com a lei da atração — aliás,
esqueça essa lei, por favor. Daqui para a frente quero mostrar a
você como trabalhar a questão da neuroplasticidade. Isso é, como
transformar a mente para depois transformar o seu cérebro. Que-
ro levá-lo a conhecer a parte física, mostrando a reconstrução da
arborização neural da memória. Que, na verdade, é a construção
de um novo caminho para alcançar o que se deseja.
Meu objetivo neste capítulo é mostrar como você possui re-
cursos para se autotreinar. Até porque tudo o que você faz hoje
são coisas as quais foi treinado a fazer. Nenhum de nós nasceu
sabendo o que sabe, ou agindo como age, mas fomos treinados

246
para agir como agimos. Sim, tal qual cachorrinhos são treinados
a sentar, a rolar, dar a pata. Mas o mais importante: podemos nos
treinar de novo.

O que você seria se soubesse do que é capaz?


A nossa mente funciona um pouquinho diferente do que ima-
ginamos. Na verdade, optamos por pensar que ela é diferente, jus-
tamente, porque não queremos ficar nos treinando o tempo todo.
Porque pense: se você pudesse realmente se treinar o tempo todo
aquelas habilidades que quer e ter os recursos que deseja, para al-
cançar o que sonha, o que se tornaria? Uma pessoa descontrolada.
E quando falo de alguém descontrolado, me refiro não de for-
ma pejorativa, não. Faço menção àquela pessoa que não é contro-
lada por nada, nem por ninguém; que não permite que nenhum
contexto mine a sua autoestima. Que ousa, faz, atua! Alguém so-
bre quem ninguém coloca controle. Uma pessoa incontrolável, no
bom sentido. Aquela que não se bota sob controle de nenhuma
força, vive de suas decisões, e age pela sua consciência.
Então, o que você aprenderá neste capítulo são associações
mentais para aprender muito mais rápido, de forma muito mais
eficiente, e muito mais profunda. E detalhe, vou desmitificar essa
ideia de que aprendemos com os nossos erros. Não aprendemos
mesmo! Ouvimos muito e das mais variadas pessoas que os er-
ros nos ensinam. Não é verdade. O erro não ensina ninguém,
acredite. E se você se aprofundar neste conhecimento que vou
apresentar, entenderá o processo pelo qual será necessário passar.
Até chegar ao poder da decisão, no poder do só hoje e começará
realmente a se transformar em um super-humano.
Entendido isso, você compreenderá como ser uma máquina
em evolução, constante e incontrolável, com uma eficiência bru-

247
tal, com uma performance altíssima. Com capacidade de conquis-
tar tudo o que deseja. Tudo! E não falando de dinheiro apenas,
mas de prosperidade em todos os aspectos: nos relacionamentos,
no trabalho, na fé, na espiritualidade, em qualquer área da sua
vida. E por que será possível alcançar isso? Porque sempre será o
mesmo padrão que você terá de aplicar. Ou seja, assim que você
aprender o padrão que ensino, poderá se tornar uma pessoa de
alta performance em todas as áreas da sua vida, é simples e fácil.
Acredite!
Bem, entrando na parte da neuroplasticidade e da criação de
uma nova memória, isso é o que se conhece como arborização
neural. Não entrarei muito a fundo nessa relação da neuroplas-
ticidade, porque essa é uma teoria da neurociência que já está
provada e comprovada. Mas o que quero lhe mostrar é como co-
meçar a construir uma nova rota para as transformações que que-
remos fazer, nos baseando em tudo o que estudamos até aqui e no
que ainda aprenderemos.
É importante você entender como essas rotas são construí-
das. Porque essa compreensão faz toda a diferença, no momento
de ter uma perspectiva para construir novas habilidades, novas
crenças, novas memórias, um novo futuro. Mas, principalmente,
quando for preciso corrigir aquelas crenças, que já foram cons-
truídas no passado. Esse conhecimento lhe mostrará a forma
mais fácil de fazê-lo.
No entanto, quero insistir em algo que já afirmei: as gran-
des transformações não são feitas de dentro para fora; mas de
fora para dentro. Repito esse conceito, porque quando se ten-
ta fazer uma mudança primeiro, de forma interna, esbarrarmos
não apenas nas crenças que temos de mudar, mas nos traumas,
em questões do passado as quais não estamos prontos para me-

248
xer. Ou, muitas vezes, nem estamos conscientes delas. Assim,
não queremos lidar com essas coisas que, muitas vezes, causam
imensa dor. Na verdade, todas essas questões foram escondidas
pelo inconsciente no subconsciente. E quando entramos nessas
questões, que estão interconectadas entre si, a própria mente in-
consciente começará a rejeitar essas mudanças e a bloquear de
maneira consciente a transformação que está sendo proposta.
O ponto é que a mente consciente trabalha como um filtro. O
objetivo dela é que você chegue, ou não chegue, mas de maneira
programada, ao inconsciente daquilo que a mente inconsciente
acha que você pode acessar. E detalhe, essas coisas que você pode
acessar não a atrapalharão no percurso que ela faz para mantê-lo
vivo e fazer com que prospere enquanto indivíduo da espécie.

Padrões mentais
“O que isso tudo quer dizer?”, é bem provável que você es-
teja se perguntando. Então, até aqui foi só teoria, mas para não
tornar esse entendimento muito difícil, vamos à prática. A men-
te tem vários padrões, pois trabalha com vários princípios, faz
associações, generalizações, eliminações. Mas há princípios bá-
sicos aos quais ela segue. Eles fazem parte, principalmente, da
mente inconsciente e não são princípios negociáveis. A verdade
é que a mente que trabalha, na maior parte das vezes, interfe-
rindo nas nossas decisões é a mente inconsciente. Esses prin-
cípios básicos, esse modelo principal de como ela trabalha tem
por base alguns pilares.
E quais seriam eles? A referência de dor e prazer. Para a mente
não existe certo ou errado. Esse é um conceito moral social.
Tanto é que para algumas sociedades o que é certo nelas, pode
ser errado em outras e vice-versa.

249
Por exemplo, se você vê uma mulher usando burca, em uma
sociedade ocidental, soa como um hábito extremamente agressi-
vo e machista. Portanto, nesse contexto a burca é errada. Mas se
você está inserido na sociedade oriental, no contexto em que a
burca é um acessório indispensável pelas referências sociais, hu-
manas, religiosas, para aquelas pessoas, inseridas naquele con-
texto, a burca é correta.
Então, o primeiro ponto que é preciso compreender é que a
mente não entende esse conceito de certo e errado. Isso é um
caráter social, estou me referindo ao fato de não ter a ciência
em um ponto de vista da construção de memória, da constru-
ção de crenças. Está bem? É óbvio que de maneira consciente
a mente julga os fatos, mas de maneira inconsciente para a
construção da memória a mente não tem a referência de certo
ou errado.
O que a mente tem é a referência de resultado; que pode ser
positivo ou negativo. É isso que importa para a mente no ponto
de vista da construção da memória, da arborização neural, ou da
reconstrução de um caminho novo, de uma nova atualização de
neuralgia. Como disse, é a isso é que chamamos de neuroplas-
ticidade. Isso é, a capacidade do cérebro e da mente — abor-
dando do ponto de vista da mente como máquina e de uma
perspectiva um pouco mais filosófica —, mas é a referência do
resultado positivo e do resultado negativo.
Então, o que faz com que a mente dê um reforço positivo ou
um reforço negativo para os comportamentos que queremos re-
produzir ou não queremos reproduzir? E por que isso acontece?
Ou, como isso acontece? Simples. A mente associa a dor e o pra-
zer aos atos que realizamos, ou aos fatos que nos acontecem.
Então, vamos criar uma rota usando todos esses fatores.

250
A mente é especialista em fazer associações para você a res-
peito do prazer com o objetivo de afastá-lo da dor. Esse é um
comportamento adaptativo. E a mente usa esse mecanismo jus-
tamente para quê? Para que você comece a buscar padrões que
quer reproduzir evitando o que, por algum motivo, pode causar
dor, perigo, morte, qualquer outra coisa ruim. A mente atua dessa
maneira para direcionar o seu foco de vida.
Outro ponto é que a mente é especialista em reconhecer e
reagir a padrões. Por exemplo, se você quer comprar um carro
branco, quando sai na rua, parece que existem apenas carros
brancos. Será que é por que estão fabricando mais carros da cor
branca? Não. É por que você está focado em ter um carro branco.
A isso chamamos de viés cognitivo.
Outro exemplo, quando uma mulher do nosso círculo de con-
vivência está grávida, parece que, automaticamente, quando você
sai às ruas vê um monte de mulheres grávidas. Já reparou? É por
que há mais mulheres engravidando? Não. É por que você colo-
cou a sua mente para reconhecer e reagir a um padrão específico.
Assim, a sua mente cria um sistema compulsivo de buscar por
aquele padrão no máximo de lugares possíveis, nos mais diversos
contextos.
E por que ela age assim? Porque a mente começa a fazer uma
associação para o prazer e para o afastamento da dor. O mes-
mo se dá em um processo ao contrário. Quando algo gera dor, a
mente tem a tarefa de fazer com que você se afaste disso o mais
rápido possível. O objetivo é que aquele acontecimento não seja
recorrente na sua vida.
Ou seja, quando você sente prazer, a sua mente faz a tarefa
de associar o que lhe dá prazer para que você vá atrás desses
padrões e isso aconteça cada vez mais na sua vida. Afinal, aquilo

251
é bom. Como é que a mente faz isso? Dando reforço positivo
para aquele comportamento que, para ela, faz sentido que você
continue tendo. E dando um reforço negativo para aquele com-
portamento que para ela não faz sentindo que você continue
reproduzindo.
Um exemplo prático, que acontece em muitas casas. O filho
chega perto do pai para mostrar uma nota boa que conquistou na
escola. Mas aquele é um pai ausente, que não estabeleceu muito
vínculo com o filho. E, todas às vezes que aquele filho chega perto
do pai, ele tem uma certa percepção de abandono, em função do
vínculo que não foi criado. Mas, naquele dia, por estar feliz com
a nota que tirou, ele chega até o pai crendo que a recepção será
boa. Assim, mostra ao pai a nota da prova todo sorridente. E o pai,
em vez de ter um elogio para o filho, responde: “Você não fez mais
do que a sua obrigação”.
Logo, da próxima vez, a criança irá tirar uma nota ruim. E por
quê? Porque ela vai buscar a atenção do pai de alguma maneira.
Mesmo que seja com briga, porque aquela criança está procuran-
do um vínculo com esse pai. Aquela criança pensa: “Se eu tirar
nota ruim, ele vai olhar para mim. Vai me perceber”.
Eu poderia dar diversos outros exemplos, mas penso que
você já compreendeu. Na verdade, os pais estão ensinando o
filho de forma a se contentar com o negativo como prazer. Olha
só que coisa louca! Somos nós que criamos as crianças para
fazerem o que elas fazem e serem, posteriormente, os adultos
que são. Isso quer dizer que somos nós, os pais, os princi-
pais responsáveis pela formação da personalidade. E, princi-
palmente, para saber se aquele modelo de personalidade será
saudável ou não; se aquele adulto será saudável ou não. Er-
ros, falhas e problemas todo mundo tem. Mas você, como pai,

252
como mãe, pode contribuir para um ser humano compulsivo,
depressivo, ou emocionalmente abalado.
Isso se reflete nas pessoas que buscam por meio dos reforços
negativos os ganhos secundários. Lembra do cara que fuma? Ele
sabe que não faz bem para a saúde, sabe que está destruindo o
corpo dele, mas tem um ganho secundário que pode ser a acei-
tação social, por exemplo. É o reforço do negativo. Ou qualquer
outro mal hábito, ou vício, a pessoa não sabe por que continua
repetindo aquilo que a destrói, mas ainda assim continua fazen-
do. E por quê? Porque há um ganho secundário envolvido nele. A
mente não está usando a lógica, apenas o instinto no reforço do
negativo de se ter um prazer.
A mente usa a lógica instintiva de fazer você sobreviver, e de
levá-lo ao máximo possível adiante na vida. O objetivo da mente
é que você procrie e prospere. Mas veja, não é prosperar no sen-
tido financeiro, mas no sentido de procriar e deixar descendentes
viáveis. Isso é tudo o que a mente “pensa”. Por incrível que pareça,
do ponto de vista biológico, somos assim e agimos dessa maneira
noventa por cento do tempo. Ou seja, no “modo automático”. E é
assim que a gente constrói os nossos filhos. Note que os nossos
pais nos construíram, da maneira que os pais deles os construí-
ram. De certa forma, não estou dizendo que os erros que vivemos
hoje são culpa dos nossos pais. Não. São responsabilidade deles
sim, mas também são nossa responsabilidade, porque parte do
que somos vem de nossa concepção, de nossa interpretação do
que nos aconteceu.
Lembra que no início deste livro afirmei que grande parte da
construção da personalidade é a interpretação da criança sobre
aquilo que está acontecendo na vida dela? É por essa razão que
existem dois irmãos criados da mesma forma, com personalida-

253
des diferentes. Para isso, cada um interpretou, a seu modo, os
contextos da vida que lhe foi apresentada.
Agora, os pais então têm a responsabilidade, não a culpa
pelo que aconteceu e pelo que aquele adulto será em função
da formação que teve. E por que que estou falando de ter a
responsabilidade e não a culpa? Porque é muito comum encon-
trarmos adultos quase que odiando os pais em função de seu
contexto da infância. Isso acontece, principalmente, em algumas
correntes da psicologia que trabalham sob o aspecto de colocar
as crianças nessa posição. Eu não estou criticando diretamente
a psicologia; pelo contrário, sou adepto dela, sou um defensor
da terapia.
Essa é uma verdade porque fiz terapia durante muitos anos.
Mas confesso que também já fiz terapia que me atrapalhou muito
mais do que ajudou. A minha primeira terapeuta, por exemplo,
me fez odiar meus pais. E eu só fui entender isso muito tempo
depois. Por isso, tive de passar por um processo de perdão com-
plexo em relação principalmente ao meu pai. Porque, lá atrás, a
terapeuta me fez odiar meus pais. Ela colocou neles a culpa por
muitos dos meus problemas e não a responsabilidade. A culpa e
a responsabilidade são coisas bastante diferente.
Entretanto, precisamos aprender a pensar que a palavra de
nossos pais não está carregada de ódio, nem de ofensa. Muitas
vezes, a palavra deles está carregada de dor, sabia? E sabe por
quê? Na Bíblia, há um texto que diz que a boca fala do que o cora-
ção está cheio (Mt 12:34). O que que isso significa? Quer dizer que
os seus pais, na imensa maioria das vezes, tiveram uma intenção
muito positiva. E por que afirmo que a intenção é muito boa?
A Hipnose Ericksoniana e a Programação Neurolinguística afir-
mam que toda ação tem uma intenção positiva por trás. Isso quer

254
dizer tudo o que fazemos carrega em si uma intenção positiva.
Isso do ponto de vista de eu acreditar que é o certo, e é uma ver-
dade para mim. E por quê? Porque um mapa não é o território;
um mapa é apenas uma representação de mundo. E uma repre-
sentação é baseada nas minhas crenças que são as minhas ver-
dades absolutas. Então, o que eu faço é uma verdade para mim.
Mas não posso dizer que o outro está fazendo algo errado. E por
quê? Porque para esse outro, baseado em suas crenças, e em suas
verdades absolutas, ele está fazendo o que é certo.
Por exemplo, — e esse será um exemplo aterrorizante — se
você perguntar a um psicopata por que ele matou alguém e for
ouvindo as respostas, perceberá que haverá intenção positiva por
trás do ato dele. Eu não estou defendendo nenhum psicopata,
que isso fique bem claro, certo? O que estou mostrando é como a
mente funciona a partir de intenções positivas.
O que quero dizer é que, na verdade, a intenção dos pais foi
muito positiva. Porém, talvez, você tenha que pensar que é preci-
so criar um processo de perdão. Até porque, na maioria das vezes,
a vida de nossos pais foi muito mais dura do que a nossa, seus
filhos. Sendo assim, eles fizeram o que acreditaram que deveriam
fazer, pois aquilo era tudo o que conheciam e, consequentemen-
te, tinham a oferecer. Eles não sabiam percorrer outro caminho;
era fazer ou fazer.
O que apresentei até este ponto de nosso aprendizado é
que existe um processo de aprendizagem dentro da mente
inconsciente para o qual não existe nada parecido aqui fora.
Nem pelos processos de aprendizagem que pensamos ter co-
nhecido na escola, na religião, na sociedade, nos livros ou em
qualquer outro. Então, é importante saber que o processo de
aprendizagem real é esse que acontece no inconsciente; prin-

255
cipalmente, para construir as crenças e as memórias. Para isso,
elas passam por esses processos.
Isso quer dizer que qualquer contexto que você viver, irá gerar
dor ou prazer. Não há outra sensação. E é baseado na dor ou no
prazer, nesse resultado positivo ou negativo que a mente gera
uma associação ou uma dissociação do fato, sempre associando
ao prazer e/ou dissociando da dor. Por isso, é preciso aprender ou-
tro processo, para criar outra rota mental para ressignificar cren-
ças, ou para criar uma nova crença, ou para criar novas memórias,
ou, ainda, criar alternativas para ter uma nova vida.

Criar o prazer e a dor


O recurso mais fácil é começar a gerar dor e prazer nas situações
que eu quero, ou não quero, continuar reproduzindo. Isso é, eu mes-
mo ofereço esse reforço positivo, ou negativo, para aquilo que quero
continuar fazendo. “Como assim?”, você me pergunta. E eu respondo
com um exemplo bem simples. Tenho uma tarefa que precisa ser
cumprida diariamente e já estou cansado dela, sem motivação al-
guma. Mas como precisa ser realizada, me dou um reforço positivo.
Pode ser chupar um picolé todas as vezes que terminar de cumprir a
tal tarefa, ou comer um chocolate, ou namorar. Não precisa ser algo
grandioso, mas fazer algo que me deixa feliz.
Digamos que eu ame comer chocolate. Então, comer um pe-
dacinho, não precisa ser a barra inteira, fará a minha mente co-
meçar a liberar dopaminas e endorfinas. Ou seja, ela irá associar
prazer ao ato de terminar a tarefa. Assim, terei gerado um reforço
positivo. Logo, a mente começará usar aquilo como padrão para
buscar de maneira compulsiva no positivo.
O que quero dizer é que, no final das contas, a ideia é viciar
a nossa mente emocional e quimicamente para que libere en-

256
dorfinas e dopaminas e tudo mais associado ao prazer. A ideia
é viciar a mente química e comportamentalmente ao sucesso.
Ou aquele hábito bom que eu quero continuar reproduzindo,
ou na prosperidade, ou em qualquer coisa que se vá fazer. Veja,
é muito simples esse caminho e não é preciso fazer terapia por
dez anos para alcançá-lo. Ou sessões de hipnoterapia por não
sei quantos meses.
A verdade é que criamos a mudança de fora para dentro. Mais à
frente você verá como tudo isso é muito simples. Essa conexão fica-
rá mais clara e tudo isso fará sentido. Mas o que você precisa saber
agora é que começamos a construir esses caminhos usando esses
recursos de associar dor e prazer, reforço positivo e negativo.
Lembra da história do ganho secundário que mencionei?
Quero dar uma pausa em todos esses conceitos para contar uma
história que tem isso por base. Quando fiz o primeiro treinamento
em Hipnose Ericksoniana, ele foi de formação completa. Quem
oferecia esse curso era a American Born Fitness Association, nos Es-
tados Unidos. O foco desse estudo era uma formação e especializa-
ção em resolução de traumas e conflitos.
Em minha turma havia uma mulher que tinha sido uma
modelo relativamente conhecida. Não internacionalmente,
mas com uma carreira bem-sucedida. Ela havia se casado com
um ex-modelo também de sucesso. Ainda, ambos eram ex-
-atletas. Mas ela havia ido a esse treinamento porque entrara
em um círculo vicioso e ganhara muito peso e agora carregava
uma obesidade mórbida. E queria se encontrar, se entender
como pessoa.
Na época, ela devia pesar uns cento e trinta e poucos quilos e
devia ter um metro e setenta centímetros de altura. Meses antes,
ela havia se separado e estava depressiva, não sabia o que havia

257
acontecido, por que engordara. Aquela mulher buscava se encon-
trar, se redescobrir.
Em determinado momento do curso, o instrutor fez uma re-
gressão de memória com ela. Ele encontrou uma questão da in-
fância dela com seu pai. Na verdade, uma relação muito contur-
bada. Apesar de tudo, ela havia crescido, sido uma modelo de
sucesso, se casado e amava demais ao marido. Só que o marido
tinha muito ciúme dela, como o pai também havia tido. E o que
a mente dela fez? Criou a percepção de que se saísse na rua e
algum homem mexesse com ela, o marido ficaria com ciúme,
acharia ruim, se separaria, ainda que ela não tivesse culpa.
Assim, aquela mulher, sem saber, desenvolveu uma compul-
são interna, fruto do que a mente dela relacionou, e logo, ela pen-
sou inconscientemente que, se ganhasse peso, cada vez menos
os homens olhariam para ela e se interessariam por ela. Na ideia
dela, se deixasse de ser atraente, o marido não teria ciúme dela, e
o casamento estaria a salvo. Essa foi a “lógica” que a mente dela
criou para salvá-la de um futuro que poderia acontecer, mas que
não havia a menor probabilidade real de acontecer.
Lembra do conceito de ansiedade que apresentei? Uma pes-
soa vive a partir da perspectiva de algo que potencialmente pode
ou não se tornar realidade. A mente fica se preparando para algo
pelo simples fato de carregar informações das coisas já vividas.
Essas vivências trouxeram dor. Assim, a mente faz certas asso-
ciações e todas as vezes que, aparentemente, aquelas situações
acontecerem de novo, para não sofrer, a mente se "arma."
Vamos supor que, em algum momento, vivi uma situação
que me trouxe uma dor extrema. Possivelmente, um trauma.
Essa circunstância tinha relação com um quadro pendurado na
parede na cor azul. Hipoteticamente, claro. Havia outras coisas

258
naquela cena que também estavam naquele ambiente, naque-
le contexto onde vivi a dor; só que aquele quadro na parede,
de cor azul, foi um pedaço da construção da realidade daquele
momento que construiu a minha memória e me gerou dor e,
provavelmente, o trauma.
Muitos anos depois, estou vivendo a minha vida, e entro em
um ambiente completamente diferente, mas há um quadro azul
na parede. A minha mente volta ao passado, pega aquele frag-
mento de memória e começa a me preparar para um evento que
causa dor. Assim, fico tenso, a frequência cardíaca aumenta, mi-
nha pupila dilata, tenho uma contração vascular periférica para
mandar sangue para os meus órgãos. Quer dizer, me preparo, li-
teralmente, para a fuga ou para a guerra. É isso que é a construção
da ansiedade. É gerar reações físicas a respeito de algo que fere. Só
que, na grande maioria das vezes, ou melhor dizendo, em noventa
por cento das vezes, o evento que faz a ansiedade surgir não acon-
tece. E aí? Como viver essa situação?
Lembra que falei que a ansiedade não é o excesso de futuro
puro e simplesmente, mas é o excesso de um futuro que não
tem planejamento, que não tem perspectiva, que não se sabe
se acontecerá. Mas quem sofre com a ansiedade fica preparado,
pronto, “armado” o tempo todo? Pois é. A mente trabalha dessa
forma, associando dor e prazer, trazendo resultado positivo e ne-
gativo, com um toquezinho de ganho secundário no meio dis-
so, tudo embaralhado. Esse é o idioma da mente, é assim que
ela conversa com o consciente e inconsciente, principalmente a
mente inconsciente, para criar os seus padrões, as suas crenças,
as suas memórias e o que será referência para o seu futuro, são as
suas verdades absolutas que darão molde ao seu futuro.

259
O erro não ensina nada!
Quero começar nosso aprendizado efetivamente a partir de
algo que já abordei anteriormente. Já comentei que crescemos
ouvindo que a gente aprende errando. Mas quero desconstruir
essa ideia. Até porque ela é uma crença limitante que o mantém
errando. E por quê? Porque ela condiciona o aprendizado ao erro.
Perceba a relação que é feita, construída, intimamente entre o
erro e o seu sucesso. O que acontece é que quanto mais você
erra, mais estará longe de acertar. E seu foco ficará no erro, porque
pensa, erroneamente, que o erro serve como aprendizado. Mas,
na verdade, ele tem a função de âncora, porque estará puxando
você para baixo. E por quê? Porque a recompensa está em errar,
ou seja, em aprender errando. Note que o reforço aqui é negativo,
pois o erro se torna glamuroso. Torna-se valioso errar. Já reparou?
Todo mundo dá valor ao erro. Ele gera empatia. Já a prosperidade
é extremamente solitária. Prosperar traz em si um pouco de inve-
ja. Então, é mais fácil preferir aqueles que erram do que aqueles
que prosperam.
Mas, não quero me aprofundar nisso, quero desconstruir essa
crença que você carrega entre errar e aprender. Preste bastante
atenção e repita para si mesmo: o erro não ensina ninguém. Isso
é uma das maiores mentiras que já contaram para você e fizeram
com que acreditasse nisso.
Existe uma teoria que, fora de contexto, é tremendamente de-
sastrosa. E, pior, todo o mundo a vem utilizando de maneira cala-
mitosa. É a teoria das dez mil horas. Essa teoria prega que para ser
excelente em alguma atividade é preciso fazer essa atividade por
dez mil horas. Quer dizer então que, dez mil horas de experiência
vão torná-lo um expert em algo. Não, e não. Dez mil horas fa-
zendo alguma coisa errada o tornarão em um ignorante naquilo.

260
Não adianta você andar um caminho errado por dez anos, porque
ele não se tornará a estrada certa. Ele continuará levando você ao
lugar errado. Então, pergunto: se cometer o mesmo erro dez mil
vezes, você ficará excelente no quê?
Lembra que expliquei que a sua mente é especialista em re-
conhecer e reagir a padrões? Portanto, se o meu padrão é buscar
o erro, passarei a vida errando. O que mais escuto os outros, e isso
em todos os cenários possíveis, seja de negócios, de empreende-
dorismo, é o quê? Coisas do tipo: “Você tem que estudar os seus
erros e ver onde errou para que possa corrigir…". Não, não. Se você
está errando, não deveria nem estar ali, deveria parar e começar
de outro jeito. Não insista em corrigir o que não está dando certo.
Faça de novo, de outro jeito, do modo certo.
Deixe contar uma história para você. Lá no Éden, quando Deus
criou Adão, diz a Bíblia que Deus descia todo dia, à tarde, para
conversar com Adão. O relacionamento deles era muito próximo;
além de pai e filho, eles eram amigos. Mas quando Adão comeu o
fruto da árvore proibida, desobedecendo a ordem que Deus tinha
dado, naquela mesma tarde, Deus desceu e foi atrás de Adão. O
homem se escondeu e a voz de Deus ecoou pelo jardim pergun-
tando? “Adão, onde está você?”.
Vamos refletir um pouco nessa pergunta, sim? Independente-
mente de crença, nos atendo à história, Deus criou tudo; o universo,
o Éden, Adão, Eva, a árvore. Sendo assim, seria impossível que Deus
não soubesse onde estava Adão. Até porque, Deus é onisciente. Mas
o que ele estava perguntando, na verdade, vai muito além do lugar
onde o homem se encontrava. Deus queria que Adão se posicionas-
se. Era como se Deus dissesse: “Onde está você? Onde está aquele
cara que eu criei e que eu conheci o coração? Você mudou Adão;
você não é mais você. Não é mais o cara que eu criei”.

261
Vou contar a história toda, mas irei separar em duas partes.
Guarde essa primeira como reflexão sobre neuroplasticidade, ar-
borização neural, e esse padrão de dor e prazer, reforço positivo,
reforço negativo, resultado positivo, resultado negativo e ga-
nho secundário. Sobre o que afirmei em não apreendermos
com o erro.
Quando Deus diz para ele: “O que que você fez Adão? Poxa!
Você tinha o paraíso inteiro!”. Então, quando Deus faz essa per-
gunta para homem é como se dissesse: “Essa foi a única coisa que
eu pedi para você não fazer, o resto todo eu autorizei, era só isso”.
Mas o que Adão falou? “Ah, Senhor. A culpa não foi minha.
A culpa foi da mulher que o Senhor me deu”. — Vou usar esse
ponto da história mais à frente também, porque nos apresenta
muitas reflexões —. Veja, Adão redirecionou a responsabilidade
do seu comportamento para a mulher. Agora, Deus deu a cada
um de nós algo que conhecemos como livre-arbítrio. Ao fazer isso
é como se Deus dissesse: “Adão, eu te criei. Eu te conheço; então,
eu já sabia que você ia errar. O que eu quero saber é o que você
vai fazer depois disso com o erro que cometeu”.
Para Adão, era muito fácil ter resolvido o problema, até porque
Deus descia todos os dias para conversar com ele. Portanto, não
precisava ter se escondido, ele podia ter chamado Deus e falar:
“Deus, cometi um pequeno deslize, e a gente precisa resolver”.
Eu tenho certeza de que o problema teria sido resolvido. A
condenação não foi especificamente por causa do erro. Se vocês
lerem a história, verão que a condenação veio porque Adão se
escondeu e se esquivou daquele erro.
Mas partindo do pressuposto de que Deus já sabia que Adão
erraria, quero que você reflita sobre o seguinte: Errar uma vez é
uma coisa. Mas errar duas vezes na mesma situação é escolha.

262
Presta muita atenção a isso! É por isso que existe uma grande di-
ferença entre usar o erro como escada ou como âncora, entende?
Errei e subo a escada. Errei e ancoro no erro, logo, justifico para
mim que sou assim mesmo e as pessoas têm que aceitar o que
sou. Compreendeu?
Essas são crenças limitantes que o têm prendido ao lugar em
que se encontra hoje. E por quê? Porque elas usam o erro como
âncora para mantê-lo preso ao fundo da água, do rio, no fundo
do mar, do buraco. É muito diferente usar o erro como escada.
Quando isso acontece, você aceita, assume e fala: “Se eu cometi
um erro aqui, está tudo certo, errar faz parte da vida. Só que esse
erro eu não posso cometer mais!”.
Lembra do que conversamos sobre a associação da dor e do
prazer? Sobre a perspectiva, principalmente do viés cognitivo, se
recorda? Se você quer um carro branco, ficará vendo um por onde
for? Então, o que fazer a partir de agora com esse conhecimento
adquirido? Simples. Começar a fazer o mesmo com o erro e com
o acerto.
E como? Quando você errar, irá entender como parte do seu
processo. Mas não colocará o erro no seu foco. Ou seja, não vai dar
um reforço positivo ao erro, não colocará a sua atenção nele. Já
quando acertar, fará uma festa. Dará uma grande comemoração
a si mesmo. E por quê? Porque é preciso colocar o foco no acerto,
dar a ele um grande reforço positivo. Vai dar atenção ao que fez
de certo. Porque você associar prazer ao seu acerto constrói uma
nova memória forte. Lembra da recompensa que exemplifiquei?
Um picolé, um chocolate, sair para namorar? A ideia é essa. Assim
será possível criar uma ressignificação positiva. Também fará uma
reconstrução da arborização neural forte. E quanto mais rápido

263
tiver a recompensa de prazer associada àquele comportamento,
mais o reproduzirá; não o comportamento, mas a ação.
Mais à frente, quero mostrar o processo de chegar a construir
essa ação que hoje não é um comportamento, é só uma atitude.
Mas é possível fazer com que ela se torne um comportamento
para o qual não será preciso pensar mais para executar. E aí, a
transformação terá acontecido.
Desse modo, você irá focar no acerto e esquecer o erro. Lem-
bre-se de que a única semente que cresce é aquela que se rega.
A semente por si só, não tem o poder para germinar. Por isso,
é preciso plantá-la, regar, cuidar dela. Assim, ela dará fruto. Da
mesma maneira com os seus acertos. É naquilo que você foca
e cultiva que irá florescer e germinar. Esse é o conceito da lei da
semeadura.
A lei da semeadura diz o seguinte: não é a semente por si só,
é preciso cultivá-la. Ela crescerá a partir daquilo que você fizer a
ela. Sua ação, sua atitude, sua atenção, sua prioridade. Então, se
pergunte: onde você quer colocar o seu foco? O que você quer
alimentar? O que quer regar para fazer crescer? O acerto ou o erro?

264
ENTRE NO CICLO DA
TRANSFORMAÇÃO
N
este capítulo, quero entrar com você na próxima etapa da
sua mudança. Nesta fase, vamos entrar no que chamo de
ciclo de transformação. Todo este livro foi cuidadosamente
pensado para que cada capítulo fosse uma evolução. Você consegue
perceber que juntos subimos os degraus do conhecimento da men-
te, como ela se comunica, como age, como conversa, para ao final
ser possível, conhecendo o idioma da mente, modelar qualquer tipo.
Fique tranquilo porque o seu conhecimento é uma construção
também. Todo esse processo foi muito bem pensado. Nenhuma
dessas palavras, nenhuma dessas estruturas são por acaso. Aplico
aqui diversos métodos e técnicas de memorização, de oratória, de
aprendizagem acelerada. Acredite: há um sentido, uma lógica em
apresentar para você esse conteúdo, nesta ordem.
A primeira coisa para entendermos o ciclo da transformação é
voltar a história de Adão e Deus. Quando Deus perguntou a Adão
o que ele havia feito, o homem redireciona a responsabilidade
do seu erro não apenas para a mulher, mas também para Deus.
Afinal, fora Deus quem dera a mulher a ele. Adão tirou a culpa de
si mesmo. E isso é algo que fazemos muito.

266
Me desculpe x me perdoe
Veja, qual é a diferença entre um pedido de desculpas e um
perdão? O que faz toda a diferença entre um e outro é o que fa-
zemos depois dele. Por exemplo, quando eu peço para alguém:
“Você me desculpa?”. Isso quer dizer, você tira de mim a culpa que
é minha, mas concorda comigo? Se a culpa for minha, não tem
como fazer isso.
Costumo dizer sempre que existem duas coisas diferentes,
culpa e responsabilidade. Alguém veio e bateu no seu carro, a
culpa é sua? Não. Mas é sua responsabilidade? Continua sendo
sua e dessa pessoa, pois o seu carro é sua responsabilidade. Outro
exemplo, o erro que um pai, ou uma mãe, comete na criação dos
filhos, quando a intenção é positiva, sabendo que aquilo é tudo
o que ele tem como recurso? Lembra que comentei sobre isso?
Tudo que eu tenho, como pai, é o recurso com o qual fui criado.
Então é esse recurso que transfiro para os meus filhos, pois acre-
dito que aquilo é o certo a ser feito. Isso é, existe culpa? É provável
que sim, porque do mesmo jeito que acerto, muitas outras vezes
eu erro. Mas esses problemas são culpa minha? Não. Eu não sabia
disso, não estava fazendo com essa intenção, achei que era certo.
Então eu posso falar: “Me desculpe, a culpa não é minha”. Claro, a
responsabilidade continua sendo e, por isso, tenho o dever de re-
fletir, de, de repente, tentar melhorar, ou de dizer a eles: “Olha, eu
posso tentar ajudar, porque eu não tive culpa nisso, eu não sabia,
não tinha recursos, eu não tinha nem percepção disso, tá?”. Já a
culpa não. Nesse ponto, posso pedir desculpas. Ou seja, me des-
conecta disso, dissocie a culpa de mim, porque eu não tive culpa.
Então, quando Adão fala aquilo para Deus, ele está pedindo
para ser desculpado, para ser desconectado da culpa. Mas a culpa
era de Adão. Isso é diferente de quando a gente pede perdão. O

267
perdão é quando eu admito que a culpa é minha, a responsabi-
lidade também e mais que isso, eu me comprometo a não errar
aquele mesmo erro novamente.
Já comentei aqui sobre os milagres de Jesus. Mas quando ele
os realizava o que falava ao final? “Vá e não peque mais”. Isso
queria dizer, “Não peque mais o mesmo pecado porque você é
pecador e vai pecar”. Mas voltando a Adão, quando Deus pergunta
a Adão onde ele estava e o que havia feito, ele sabia. Porém, como
disse anteriormente, errar uma vez é, realmente, um erro. Mas
duas vezes é uma escolha.
Então, o pedido de perdão não somente declara que eu reco-
nheço que a culpa é minha, além da responsabilidade também, mas
me comprometo a não errar naquilo novamente; porque já vi que
é um erro e já senti o mal que causou para mim, para as outras
pessoas. Por isso, pedir perdão é diferente de pedir desculpa.
Em algumas circunstâncias é possível pedir desculpas. A culpa
não é sua, mas você tem responsabilidade sobre o que acontece e
é possível resolver você e o outro o problema. Mas quando a culpa
for sua, não peça desculpas, peça perdão. O perdão significa se
comprometer a melhorar, a tentar resolver, acertar, não mais errar,
a não cometer mais aquele pecado.
Certo dia, eu estava dando uma aula virtual e coloquei uma mú-
sica com uma imagem. E, propositalmente, antes de começar a aula,
perguntei pelo chat aos alunos: “Vocês estão escutando a imagem
e vendo o som?”. Todos responderam afirmativamente. Note a per-
gunta: “Vocês estão escutando a imagem e vendo o som?”. Depois
eu disse: “Impossível! Porque a imagem tem som e o som não tem
imagem. Prestem atenção à pergunta." Então, repeti e recebi as mais
variadas respostas: “Você fez uma pegadinha com a gente”, e “Você
enganou a gente”, ainda “Você induziu a resposta”, e muitas outras.

268
Eu disse: “Eu não, vocês não prestaram atenção à pergunta, é intrín-
seco do ser humano transferir responsabilidade”. Então, fui além e
perguntei qual deveria ter sido a resposta. Eles disseram: “Não, Feli-
pe, estamos vendo a imagem e escutando o som”. Falei novamente:
“Vocês estão errados de novo. A minha pergunta foi: vocês estão es-
cutando a imagem e vendo o som? A resposta de vocês deveria ser
simplesmente, não e ponto final”.
O que quero exemplificar é que essa condição de transferir
responsabilidade aos outros é intrínseca ao ser humano, está até
na Bíblia. Mas onde está o problema? O problema é que quando
transferimos a nossa responsabilidade, não entramos no ciclo da
transformação. O ciclo da transformação é um só, e obrigatoriamen-
te tem que ter uma sequência definida.
Quero detalhar o ciclo da transformação para você e tenho
certeza de que um horizonte se abrira a sua frente. A partir disso,
você perceberá que não apenas as coisas que aconteceram no
passado fizeram com que você não evoluísse, nem se transfor-
masse, como também não melhorasse a sua própria vida, não
prosperasse. Lembrando que quando falo em prosperar, não me
refiro apenas a dinheiro, mas a relacionamentos, família, profis-
são, negócios, tudo!
Além disso, você entenderá o processo que deverá fazer para
daqui para frente fazer diferente e realmente alcançar o que tanto
deseja. E por quê? Porque o primeiro passo é passar por esse ciclo
da transformação, por esse processo, que segue um passo a passo
definido, e não é aleatório.

Reconhecer, admitir e transformar


A primeira coisa que é preciso entender para entrar nesse ciclo
de transformação está vinculada a essa história da transferência

269
de responsabilidade. Como exemplifiquei na relação entre Adão
e Deus. O que acontece é que todas as vezes que você transfere a
sua responsabilidade, diante de um problema, automaticamente,
não existe problema, já percebeu? E ainda que exista, por você
transferir, esse problema não é seu. Ou seja, se você pede des-
culpas, diz que a culpa não é sua, e pede que o outro dissocie a
culpa de você.
Para entendermos o ciclo de transformação é preciso saber
que ele tem três pilares de referência. São eles: reconhecer, ad-
mitir e transformar.
O que que aconteceu com Adão? Ele desqualificou o proble-
ma. E ao fazê-lo fez com que sua atitude tomasse por comple-
to toda a sua existência e a da humanidade. Adão representa a
humanidade, certo? Quando ele desqualificou o problema, sua
atitude o condenou e a toda a humanidade, e isso foi tão sério,
a ponto de Jesus precisar vir à Terra, ser pregado em uma cruz
e sofrer uma morte que nenhum ser humano jamais imaginou
que fosse possível. A morte mais dolorosa da história. Tudo isso
por quê? Porque Adão pensou o quê? “Ah, apenas o fruto de uma
árvore, que mal tem?”. Mas quando Deus o questionou, ele não
reconheceu, não admitiu e, por isso, não se transformou, ou não
se corrigiu.
Por que que este livro se chama RAC? Porque quer dizer:
Reconhecer, Admitir e Corrigir ou transformar. Esses três pilares
são fundamentais ao ciclo da transformação. E irei explicá-los a
você.
Na minha casa, sempre que acontece alguma coisa com as
crianças, por exemplo, eu digo a eles: “Se acontecer algum pro-
blema, diga que é um problema e diga que ele é seu; porque aí a
gente tem o que corrigir, a gente tem o que transformar e a gente

270
irá pagar o preço por ele. Mas a gente vai resolvê-lo juntos”. E por
quê? Porque existe o que resolver. Quando você não reconhece,
não admite, não tem nada para corrigir. Em resumo: onde não há
problema, não existe o que corrigir, não há o que se transformar,
nem o que se consertar.
Mas pense comigo. Adão não tinha um relacionamento íntimo
com Deus? Deus não descia todo dia, à tarde, para conversar com
Adão? Teria sido muito mais simples se ele tivesse, depois de seu
erro, dito: “Senhor, desce aqui, a gente precisa conversar. Aconteceu
um problema e fui eu que provoquei”. Deus como pai — e bom pai
—, teria dito: “Adão, eu vou castigá-lo de forma leve, porque você tem
que pagar o preço. É preciso sofrer uma consequência pelos seus
atos para aprender. Mas agora fica mais fácil de eu ajudá-lo a se
corrigir, porque agora posso mostrar como não cometer isso nova-
mente”. Isso seria simples. Muito simples. Mas quando Deus chegou
no jardim, primeiro, Adão se escondeu. E depois disse: “Não tem pro-
blema, não existe erro”. Ele negou, não admitiu seu erro.
Agora, o segundo momento disso foi pior. Além de se escon-
der, ele não reconheceu. Adão disse: “O problema não é meu, a
culpa não minha, é da mulher que o Senhor me deu”. Ele não
admitiu seu problema. E por não reconhecer, logo, o problema
não existia. E o que Deus falou então? “Se não existe problema,
não há o que corrigir. Portanto, você está condenado, vá embo-
ra, você está expulso, não há o que fazer, acabou!”.
Eu falo a mesma coisa para as crianças em minha casa, se acon-
tecer alguma coisa, diga que há o problema e diga: "fui eu que fiz."
Haverá uma consequência, mas a gente conseguirá resolver a si-
tuação. Quando não há problema, não há o que corrigir e por não
existir correção é “fácil” continuar na mesma vida para sempre. Mui-

271
tas vezes, insatisfeito, infeliz, inconformado, mas repetindo o mesmo
padrão, por quê? Porque não se admite os erros.
Por isso, os três principais pilares do ciclo da transformação
são reconhecer — existe um problema. Depois, admitir — ele é
meu. Assim, será possível começar a corrigi-lo e, naturalmente,
partir para a transformação. É aqui que entra a parte mais baca-
na. Ao contrário do que se diz por aí, entrar em um processo de
transformação não tem nada de difícil, é muito fácil, é só a gente
entender como é que a mente fala, como ela conversa, qual o
idioma ela usa.
O que acontece é que quando não se reconhece um problema
e não se admite o problema, e por quê, na imensa maioria das
vezes não se consegue corrigi-lo nem o transformar? Porque a
mente não tem referência. A minha mente só consegue produ-
zir uma imagem, consegue apenas montar uma memória, uma
situação hipotética, inclusive, uma situação hipotética de solução
se ela possuir alguma referência. Então, como pensar em algo se
não há nenhuma referência? Logo, não será possível criar uma
imagem. Uma solução.
Existem historiadores que afirmam — embora haja confe-
rências em relação a isso —, e eu acredito muito que quando
os primeiros colonizadores chegaram às Américas, com as suas
caravelas gigantes, os índios conseguiram ver que o vento esta-
va diferente, as ondas estavam diferentes e conseguiram ver os
marinheiros depois que eles caíram na água andando em direção
à praia. Mas eles não conseguiram ver as caravelas. E por quê?
Porque eles não tinham nenhuma referência em relação a elas.
Por isso, não conseguiram ver literalmente. Era como se estives-
sem invisíveis aos olhos dos índios. Tempos depois, ao recebe-
rem explicações de que aqueles eram grandes barcos, com velas

272
amarradas, e cordas prendendo essas velas, os índios passaram a
ter referência. Desse modo, puderam criar uma imagem.
O mesmo se dá com a sua mente. Como é possível pedir a ela
que crie uma imagem de resolução de problemas se você não
tem uma referência. Entende? Então, primeiro é preciso criar um
padrão, um modelo do que precisa transformar. Por isso, é neces-
sário reconhecer que existe um problema. Depois é preciso dizer
para a mente: “Esse problema é meu”. E sabe por quê? Porque
se eu digo que ele não é meu, a mensagem que envio para a
minha mente é, se ele não é meu, isso não pode causar dor. E se
não pode causar dor, temos coisas muito mais importantes para
prestar atenção. Logo, estarei redirecionando o foco, olhando para
outra coisa e esquecendo. Dessa maneira, a mente não gera
uma solução para o problema. Logo, se torna impossível qual-
quer tipo de transformação acontecer.
Mas, se diferentemente, há o reconhecimento, a admissão
do problema, naturalmente, se corrige e se transforma. Por quê?
Porque a mente procura uma referência para aquele problema.
Lembra de que expliquei que a mente trabalha com referências?
Um dos recursos que ela utiliza é a generalização, problema, dor,
generaliza, associa e generaliza. Então, ela pensa: “Problema pode
me gerar dor. Opa! Se pode gerar uma dor, vou focar no que pode
me ajudar a resolver o mais rápido possível para evitar a dor”.
Lembra também sobre o que vimos entre a dissociação da dor
e a associação ao prazer? Então, tudo que possa me causar pelo
menos o mínimo de iminência de dor faz com que a mente foque
naquilo para tentar refutar o mais rápido possível.
Então, se eu disser para a minha mente: “Mente, existe um
problema, começa a olhar isso aqui ó, e procure uma referência
mental”. Agora, ao criar a referência, mostro que o problema é

273
meu. Então, a mente entra em alerta vermelho para resolver o
mais rápido possível aquilo que pode causar. Por isso, quando eu
reconheço e admito: existe um problema e ele é meu; a mensa-
gem que mando para a minha mente é: “Resolva isso para mim
imediatamente”. E aí a minha mente entra em ação.
Existe um exercício, inclusive, que a gente faz em hipnose, no
qual a sua mente consciente reconhece, conscientemente e con-
versa com a sua mente inconsciente e pede: “Mente inconsciente,
gere soluções para eu resolver isso. Porque isso pode causar uma
dor tremenda!”. A mente consciente na perspectiva de uma dor
futura começa a gerar soluções para aquele problema. Logo, na-
turalmente, é possível começar a corrigir o problema.
Sendo assim, o que você vai precisar fazer daqui por diante? É
só ter a sensibilidade de falar: “Dessa solução eu gosto”. Ou “dessa
solução eu não gosto”. E como fazer isso? Dando reforço positivo
ou negativo baseado no resultado negativo ou positivo que você
obtém. Veja, a mente inconsciente cria, dá para a mente cons-
ciente para vivenciar, testar. Eu gostei do resultado, eu dou um re-
forço positivo daquilo. A mente consciente associa o prazer àquela
referência, volta para a mente inconsciente e fala: “Esse padrão é
legal! Monte essa crença lá atrás e estabeleça isso como referência
para quando a gente ver isso de novo, você ter essa referência”.
Como você já sabe, essas são as suas crenças. As suas crenças
são exatamente as referências que carrega em si para projetar o
seu futuro. Então, você está se vendo indo lá fora, transforman-
do a situação, e voltando para dentro e falando: “Coloque essa
crença no lugar da outra que é melhor do que a antiga que você
tinha”. Como tudo está absolutamente interconectado, vários ou-
tros pontos da sua vida que nem estavam diretamente ligados
naquilo e que você nem estava pensando, às vezes vão começar a

274
se solucionar também, como num “passe de mágica”. E sabe por
quê? Porque você corrigiu aquele “probleminha” que fazia anos
que você vivia daquele jeito e não conseguia solucioná-lo.
É exatamente assim, por meio desses passos: reconhecer,
admitir, corrigir. E de novo, reconhecer, admitir, corrigir. E mais
uma vez, reconhecer, admitir, corrigir ou transformar, por isso
que o ciclo da transformação passa por esses passos, obrigato-
riamente, eles que as coisas podem mudar. E onde as pessoas
mais erram? No reconhecer e, principalmente, no admitir; mas,
principalmente, no admitir. Então, ou eu não reconheço, princi-
palmente não admito, eu me desculpo, eu me dissocio da culpa
e eu não gero solução, não gero correção, não gero transforma-
ção. E tudo continua como antes.
Quando começamos a promover transformações, estas pas-
sam por três momentos. Explicarei essa sequência e irei esta-
belecer um tempo para isso. Na verdade, esse tempo é muito
controverso em várias literaturas. Mas tenho minhas concepções
pessoais por ter passado vinte e seis anos estudando este assun-
to. Nesses vinte e seis anos, cheguei à conclusão que, para mim,
é a que mais funciona. Ela é um pouco mais longa, mas é muito
mais eficiente e a mudança é muito mais profunda e eficaz.
Então, quando estamos nesse ciclo da transformação, passa-
mos por três momentos. O primeiro é a constituição ou a criação.
Ou seja, construção do condicionamento. E o que é o condicio-
namento? É uma atitude que se tem, uma ação que se promove,
ou se provoca, que ainda é consciente e ainda gera dor. Em
geral, ela é realizada de forma consciente. É preciso se forçar
a realizá-la, mesmo que cause dor. A repetição dessa atitude
leva a uma condição de condicionamento. Depois de cumprida

275
essa fase de condicionamento, o que vier em continuidade será
a condição de um hábito.
Isso quer dizer que, quando se entra na fase do hábito, não
se está mais apenas condicionado, mas habituado também. O
hábito ainda é consciente, quem o pratica sabe que tem que ir lá
e fazer. Mas já não gera mais dor. É apenas algo que precisa ser
feito conscientemente. Assim, o hábito é algo que se faz porque
ficou mais fácil.
Quando se sai dessa fase, isso é, quando se constitui um hábito,
se continua repetindo esse hábito. Logo, a repetição leva à constru-
ção do comportamento. E é aqui que a vontade entra não apenas
ressignificando, mas substituindo a crença, trocando aquilo que era
a minha verdade absoluta por outra verdade absoluta. E para quê?
Para projetar o meu futuro e eu ter a oportunidade de uma nova vida.

Um ciclo de quarenta meses


O comportamento não é mais consciente, não precisa ser nem
precisa gera dor, ao contrário, ele pode gerar muito prazer. E por
quê? Porque ele já faz parte da minha vida, eu já não penso mais
para fazer, então já não gera mais dor, é simplesmente quem eu
sou, faz parte de mim porque agora é o meu comportamento.
Para passar por essas fases, existem correntes de estudo que de-
finem o tempo como vinte e um dias. Outros falam de ciclos de
sete dias. Acredite em mim, já testei todas essas teorias, mas a
que faz mais sentido são ciclos de quarenta dias.
Digo isso por vários motivos, mas o principal é por que em qua-
renta dias, mais ou menos, é o tempo que se leva para se começar
a construir uma nova arborização neural, a mexer de maneira pro-
funda na neuroplasticidade, na construção da memória de longo
prazo, principalmente. Agora, são ciclos, então a estruturação do

276
condicionamento leva mais ou menos quarenta dias para se estar
condicionado a qualquer coisa. Seja fazer uma dieta, novos exercí-
cios, um novo trabalho, uma nova profissão, novas características,
novas habilidades, desenvolver disciplina, desenvolver foco e tudo
mais, qualquer coisa. São necessários quarenta dias para se esta-
belecer uma estrutura de condicionamento.
Isso quer dizer, quarenta semanas dá mais ou menos dez me-
ses. Então, esse é o tempo para se estabelecer um hábito, estru-
turar, constitui-lo e estabelecer um comportamento. Pode ser que
você argumente que isso é tempo demais. Quer que eu diga?
Tempo demais é viver a vida inteira assim, quarenta, cinquen-
ta anos errando, sem construir, sem se transformar. E depois ter
que escrever um epitáfio nostálgico como aquela música do Titãs:
“Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o Sol nascer,
devia ter arriscado mais e até errado mais. Ter feito o que eu que-
ria fazer…". É isso, tempo demais é perder uma vida inteira viven-
do sem sentido algum.
Agora, o que proponho que são quarenta meses para uma
vida completamente diferente não é absolutamente nada! Então
quer dizer que você irá trocar viver do mesmo jeito só por causa
de meros quarenta meses? Essa é sua decisão? —Mais à frente,
trataremos do poder da decisão. E do processo de decisão —.
Sabendo agora dessas fases e dos pilares, há mais uma coisi-
nha que tenho que falar que está dentro do ciclo de transforma-
ção que é a roda que empregamos para dar o start nesse proces-
so. A primeira dificuldade de todo mundo é o quê? É o gatilho. É
apertar o gatilho, é aquela explosão inicial, é aquele tiro para nos
tirar do lugar, da inércia e começar a fazer com que nos movimen-
temos. Por quê? Porque só não muda aquilo que está morto. Sim,
no universo só não muda aquilo que está morto.

277
Dentro desse ciclo de transformação, como fazemos para dar
essa explosão? Esse pontapé inicial? O filósofo Clóvis de Barros,
que é a quem eu faço referência a este livro e deixo aqui a minha
humilde homenagem, porque é alguém que eu gosto muito de
ouvir e ler, pois, para mim, é um dos grandes pensadores brasi-
leiros, disse, certa vez, que até um pé na bunda faz a gente andar
para a frente. Por isso, às vezes, o que a gente precisa para andar
para frente é um pé na bunda. Sim, para dar esse start.
Porque, ao contrário do que se vê por aí, ninguém começa
com motivação. Na imensa maioria das vezes, — e eu fico mui-
to aterrorizado, principalmente nos tempos atuais, nos quais
vejo pessoas gastando a vida com cursos de motivação, aulas
com coach de motivação, vídeos de motivação, áudio de moti-
vação, música de motivação e continuam buscando tudo isso a
vida inteira — continuam desmotivadas sem conseguir fazer o
que é necessário. Por quê? Porque esses ensinamentos, em sua
grande maioria, fazem o processo ao contrário. Simples assim.
Eles começam o processo com motivação. Mas a transformação
não começa com motivação, a motivação é a última fase do
processo. Tudo isso precisa começar com o compromisso.
Eu não levanto pela manhã para fazer o que faço porque eu te-
nho motivação. Na imensa maioria das vezes, levanto porque tenho
o compromisso com aquilo. E de falar: “Cara, não interessa se está
doendo, não interessa se eu estou com medo, não interessa se eu
estou triste, eu tenho que fazer!”. Assim, me levanto e vou fazer.
Sendo assim, o compromisso, me leva a ter consistência. A
consistência é a habilidade de fazer a mesma coisa repetidas ve-
zes de maneira igual. Vamos conceituar. O compromisso de fazer,
fazer e fazer, me leva a ter consistência. A consistência é fazer algo
repetidas vezes, continuamente. Ela me leva a desenvolver ou co-

278
meçar a desenvolver disciplina, que é a habilidade de fazer alguma
coisa, independentemente da minha vontade.
Então, toda transformação começa com o compromisso. Eu
me levanto e faço. E faço de novo, e mais uma vez, e novamente,
quantas vezes necessário. Agir assim constrói a consistência. A
consistência me leva a ter disciplina e, depois que eu entro nesse
ciclo, naturalmente alcanço resultados. Porque estou fazendo o
que antes eu não fazia. E agora faço, com compromisso, consis-
tência, disciplina, aquilo me gera resultado.
Ao perceber o resultado, isso me traz motivação. O que é um
motivo para a ação. O resultado começa quando percebo o re-
sultado. Isso me traz cada vez mais motivação. Isso é, me dá um
motivo para minha ação. Costumo dizer que o dia que você achar
o motivo para a sua ação nunca mais terá problemas com a mo-
tivação. E posso gastar horas e horas falando sobre motivos para
uma ação. Mas uma vez que você descobre o motivo certo para a
sua ação, você não tem problema com a motivação mais.
E aí olhe só: o compromisso o levou a consistência, que ge-
rou disciplina, que trouxe resultados e que criou motivação e
que deu a sensação de motivação, com a sensação de motiva-
ção. Isso gera mais compromisso, porque agora existe um mo-
tivo. Então você começa a aumentar ainda mais o compromis-
so. Se você aumenta o compromisso, cresce a sua consistência.
Crescendo a sua consistência, a sua disciplina é ampliada. Tudo
isso se tornando maior, os resultados são maiores ainda. Com
resultados maiores, aumenta mais a motivação, que aumenta
mais seu compromisso, que traz mais consistência, mais dis-
ciplina, mais resultados, mais motivação, mais compromisso,
mais consistência, mais disciplina, mais resultados, mais mo-

279
tivação e você se torna uma máquina de resultados de perfor-
mance, de meta e de tudo o que você quer fazer na vida.
Por exemplo, eu não estou a fim de ir para a academia; ou
eu não estou a fim de emagrecer, ou, ainda, eu não estou a fim
de cuidar da minha saúde; mas eu vou levantar por compromis-
so, porque isso é o que eu tenho que fazer. Assim, me levanto
hoje, amanhã e depois, e depois. Isso gera consistência. Constrói
uma consistência. Minha atitude gera disciplina. Sim, começo a
criar uma disciplina. E aos poucos os resultados vêm. Depois de
duas, três, quatro ou cinco semanas, passo na frente do espelho e
vejo que a blusa assentou melhor. Minha visão periférica capta na
hora. Aí, volto, olho no espelho, faço uma pose e penso: “Caram-
ba! Não é que o negócio começou a dar uma melhorada aqui?
Não é que o negócio começou a dar resultado? Bacana, bacana
esse negócio!”. Olha só a motivação, porque começa a mexer na
minha autoestima. Então, mais motivado é mais fácil se compro-
meter a continuar fazendo. Esse é um exemplo bem claro.
Mas então o que gera motivação é o resultado. Mas é impor-
tante destacar que ele é a última parte do processo. O que dá o
start é o compromisso, é que você está fazendo aqui. No entanto,
durante esse processo pessoal, há algo muito importante que é
preciso pontuar, é preciso desenvolver a superação. Até porque,
ao longo desse processo todo, o cansaço vai bater e muitas vezes
vamos pensar em parar. Também, aqui ou ali haverá tropeços.
Mas é preciso levantar e continuar adiante.
Note que toda essa minha explicação é científica, emocional,
comportamental, mental. Não é algo empírico, baseado nas minhas
ideias. Não. Estou explicando como a mente funciona. Mas como
disse é preciso desenvolver a superação. Gosto muito de fazer jogos

280
com as palavras. Veja, todas essas palavras tem a ver com ação: mo-
tivação, oração, realização, educação. É preciso ação. Agir!
Certa vez, me perguntaram o seguinte: “Felipe, o que que você
acha da frase que é muito dita pela imensa maioria dos coach aí
fora, principalmente hoje que a gente está na década do burnout,
que você não pode ir demais, porque senão você pode ter um
burnout?”. Na verdade, antigamente, não existia isso. As gerações
dos nossos pais, dos nossos avós, não tinham burnout; eles tra-
balhavam até morrer e era assim porque sabiam que tinham que
fazer mais se quisessem ter mais. E ter não era apenas dinheiro;
era referência, meta, prosperidade, performance, era assim.
Atualmente, principalmente essa geração de agora — que é uma
geração de bolhas —acha que tem o direito de exigir tudo sem ter o
dever de fazer nada, sem ter o dever de se esforçar por nada, porque
essa geração que a gente está vivendo agora é a geração que está
com a boca aberta e não faz o trabalho nem de engolir. Ela quer lite-
ralmente que a gente mastigue e cuspa na boca e empurre a comida
para o estômago. E querem exigir isso, só que isso é antinatural e,
principalmente, é antievolutivo. Analise como está a sociedade; se a
rota estivesse certa, não estava tão desastroso assim, nunca esteve
tão catastrófico, em todos os aspectos.
E aí, ouço um monte de coaches dizendo a seguinte frase:
“Se você estiver cansado, aprenda a descansar, mas não aprenda
a desistir”. Quero que você registre a frase que direi, que é total-
mente diferente: “Se você estiver cansado, vá cansado mesmo.
Porque você terá a eternidade inteira para descansar. Agora não
é hora de descansar. Agora é hora de você ir para cima. Agora é
hora de 'fritar'. Agora é hora de conquistar aquilo que você quer
conquistar e de fazer o que quer fazer. Você veio à Terra para
prosperar, procriar, deixar um legado. Esse é o propósito princi-
pal, esse é o core, o coração, o cerne do seu propósito na Terra”.

281
Então, fazendo a conexão, quando digo que se estiver cansa-
do, vá cansado mesmo; se estiver com medo, vá com o mesmo
medo mesmo; se estiver doendo, vá doendo mesmo; falo isso por
quê? Porque é assim que você consegue provocar uma coisa na
sua vida chamada superação. O que é superação? Como já disse,
mas voltando a ideia, é superar a sua ação inicial. Isso é supera-
ção.
Como um atleta ganha condicionamento? Quero falar do pon-
to de vista filosófico e mental, emocional, comportamental. Ele
está lá correndo, já percorreu dez quilômetros. Então, se cansa,
cansa e para. A mente humana trabalha para não deixar o ser
humano gastar energia à toa.
O que acontece é que enquanto homem das cavernas era ne-
cessário ter energia para fugir, se precisasse; para caçar, se preci-
sasse. É, por isso, que hoje você não pode ficar gastando energia
à toa. Porque antigamente, no mundo selvagem, você viraria uma
presa fácil. O nosso cérebro reptiliano, a nossa mente, o nosso
tronco encefálico, a nossa mente instintiva, a nossa parte instinti-
va da mente ainda vivem nas cavernas. Não saíram de lá.
No início deste livro, vimos o que são os instintos de auto-
preservação, social e sexual. Isso quer dizer que a nossa roda da
vida ainda gira em cima desses três instintos, princípios originais.
Então, baseado nisso, a sua mente não quer que você gaste ener-
gia sem necessidade. Sendo assim, quando você se cansa e para,
sabe qual é a mensagem que manda para a sua mente? Ela capta
a sua atitude, sabe que reflexão ela faz? Como se ela fosse uma
terceira pessoa — e é —, ela pensa: “Ah, bom. Então agora eu já
sei como é que faço para ele parar, para não gastar energia sem
necessidade. Vou fazê-lo se cansar mais cedo. Assim, ele estoca
energia”. Isso significa que amanhã a mente fará com que se sinta

282
cansado, mais cedo. E no dia seguinte, mais cedo ainda. E assim
sucessivamente. Até que pare de correr.
Esse é o caso da pessoa que começa a dieta na segunda e para
na quinta. Ou do rapaz que começa a fazer academia na segunda e
na semana que vem ele não vai mais, porque está sentindo o corpo
mais dolorido.
Sabendo disso, o que é preciso fazer? Criar uma ação para sa-
botar os sabotadores. E essa ação me fará superar a minha ação
inicial. Isso é superação. Começo alguma coisa e, quando cansar,
vou mais um pouco, e mais um pouco, e mais um pouco. Porque
na hora que mando essa mensagem para a mente, sabe a refle-
xão que ela faz? “Então esse cara não vai parar de jeito nenhum.
Vai ficar assim até ele morrer. Logo, para eu não deixar ele mor-
rer, já que ele não vai parar, já que fazer ele cansar não adianta
porque ele não para, o que eu preciso fazer? Aumentar o con-
dicionamento dele, aumentar a capacidade dele de continuar
adiante, aumentar a capacidade dele de superar a ação inicial
dele, de superação”.
No caso dessa metáfora do atleta, a mente aumenta a capa-
cidade respiratória, a capacidade cardiovascular, a capacidade do
controle emocional, muscular, de flexão e várias e várias outras. As-
sim, a mente melhora a condição dele para exercer aquela ativida-
de específica.
O mesmo se dá conosco e nossos obstáculos quando não
paramos e nos superamos. A mente aumenta a condição de
bater metas no trabalho, aumenta a condição de melhorar nos
negócios, aumenta a condição dele de melhorar seus relacio-
namentos, de ser melhor como pessoa para que isso afete a
sua própria vida. E por quê? Porque eu promovo uma estrutura

283
para superar a ação inicial. Isso é superação. E é assim que se
ganha condicionamento.
Dessa maneira, a mente começa a trabalhar para trazer solu-
ções para que eu continue adiante, não para que eu pare. Porque
a minha postura mudou. Eu parti para a superação. Dando o meu
exemplo, sabe a mensagem que eu dou para minha mente? Eu
digo a ela: “Está vendo aquele penhasco ali? Eu vou pular, aliás, eu
já estou pulando, se vira para me manter vivo, esse é o seu trabalho,
mente. Agora, nem me questione se vou pular ou não, se eu vou
ter medo ou não, se vai doer ou não, não. Isso não me interessa, eu
estou pulando, estou pulando, se vira para me tirar dessa, porque
eu não vou parar enquanto eu não terminar. Eu não paro porque
eu canso, eu paro porque acaba, aliás, não porque acaba, eu não
paro quando eu canso, eu paro quando acaba, quando eu termino
de fazer aquilo a que me propus a fazer. É só assim que eu paro”. É
desse jeito que coloco a minha mente para trabalhar a meu favor.
Ela sabe que não vou parar, então ela tem que criar recursos para
me manter indo adiante e tem que me ajudar nesse processo, se
ela quiser que eu pare, ela vai ter que me ajudar a conquistar aqui-
lo o mais rápido possível. Isso é, estou trabalhando com o mesmo
mecanismo que ela usa para me sabotar. Mas estou trabalhando
para sabotá-la sem que ela saiba, claro.
É assim que você começa a criar processos de superação. Tudo
isso que compartilhei com você, sugiro que coloque em um bolo e
vá para a prática. Nessa estrutura organizacional, nessa sequência,
o final disso é que você se tornará uma máquina de resultados,
uma máquina de performance, uma máquina de bater metas. Você
se tornará um super-humano. Entendeu o projeto?

284
O PODER DA
DECISÃO — DE/
CISÃO
L
embra que afirmei que o processo de transformação é muito
mais fácil quando ele vem de fora para dentro e não de den-
tro para fora? Eu contei o porquê disso. Se você não recorda,
volte algumas páginas e busque essa informação porque ela é
muito importante neste momento.
Mas agora, depois de termos tratado sobre o ciclo da transfor-
mação, é preciso que entendamos o poder da decisão. Você já en-
tendeu que gosto muito de fazer jogos com as palavras. E decisão
é mais uma dessas palavras que entendo que, ao ser fraciona-
da, me dá uma percepção melhor do que ela realmente significa.
Portanto, se eu fracionar em duas partes, terei de — que quer
dizer direção, caminho ou origem de alguma coisa, ou às vezes
um apontamento para alguma direção. E cisão — que significa
rompimento, ruptura. Quando juntamos essas duas palavras e
formamos novamente uma só, decisão, entendemos que ela traz
o sentido de rompimento com um dos lados em prol de um outro
lado. Isso é, seu futuro é construído; ele não está pronto ainda,

286
não existe isso do seu futuro estar pronto, do seu destino estar
traçado e não há como você mudar o seu destino…
Quero explicar exatamente o contrário das crenças que proje-
tam um futuro para você. Sim, é possível mudar o futuro mudando
as suas crenças que são a referência do seu passado. Então, pode
ser que para mudar o seu futuro você precise mudar o seu passado,
a referência que tem dele, eu já expliquei isso anteriormente. Não
existe esse determinismo que muitas pessoas acreditam.
Gosto da seguinte frase, anote-a para usar no seu dia a dia:
“O seu futuro, ou o seu destino, você pode usar como quiser.
Ele é construído, ele é escrito no exato momento em que você
toma uma decisão”. Para mim, esse pensamento faz muito sen-
tido, porque imagine você anos atrás. Tente se recordar de fatos
que muitas vezes você acreditou que foram irrelevantes.
Por exemplo, fazer ou não fazer uma tarefa que foi imposta
a você fazer lá na sua infância. Ou imagine se você tivesse deci-
dido não ir naquele show. Ainda, pense se você tivesse decidido
não entrar naquele carro. Ou se você tivesse decidido continuar
aquele relacionamento ou não continuar. Também, se você tives-
se decidido obedecer ou não a uma determinação da sua mãe,
ou do seu pai. Isso quer dizer que são os mesmos processos de
decisão que, às vezes, nos parecem insignificantes do nosso pon-
to de vista hoje como adultos, mas que lá atrás fizeram a nossa
vida tomar uma direção que, se tivéssemos tomado uma decisão
contrária, teria sido uma vida completamente oposta. Então, essa
é a importância de aprender a tomar decisão certa. É por isso que
escrevi este livro, para que daqui para frente você aprenda a tomar
decisões certas. E por quê?
Porque a decisão de hoje constrói o seu futuro. O resultado
do que está vivendo hoje é resposta daquilo que você decidiu

287
cinquenta anos atrás. Ou cinco anos atrás. Ou mesmo cindo dias
atrás. Ou até mesmo há cinco minutos, ou há cinco segundos. E
a resposta que você vai ter lá na frente será a resposta da decisão
que tomar agora. Não existe outro jeito de ser, porque é o proces-
so de decisão que cria o futuro.

O futuro
Por isso, decidir certo possibilita encontrar um futuro promissor.
Decidir com eficiência dá a chance de vivenciar um futuro próspero
de agora para frente, porque a gente pode sim mudar o passado.
Mas o ideal não é ficar o tempo todo mudando o passado, o ideal é
que uma vez que esteja consciente seja possível criar o futuro sem
precisar errar, sem precisar cometer os mesmos erros. Como já afir-
mei, o passado fica no passado. Ele é um lugar, como diria o filósofo
americano. O passado é um lugar de referência e não de permanên-
cia. No entanto, você não pode eliminar o seu passado. Esse é um
erro gravíssimo que ouço muitas pessoas falarem o tempo todo: “Eu
quero esquecer o meu passado, como é que eu faço para esquecer
o meu passado?”. Não. Se você esquecer o seu passado, perde a re-
ferência daquilo que você já fez e não deu certo, comete os mesmos
erros porque perdeu a referência.
Então, é preciso do homem velho para construir um homem
novo. Você não pode simplesmente abandonar o homem velho,
agora não pode decidir viver a vida inteira como um homem ve-
lho; por isso, o seu passado serve como referência para aquilo que
você não pode fazer de novo ou, às vezes, por aquilo que você
tem que reproduzir. E está tudo certo, mas, na grande maioria das
vezes, para aquilo que precisamos mudar, que é essa a proposta
deste livro, o passado serve de referência para aquilo que não se
deve fazer de novo. É neste ponto que entra o poder da decisão. A

288
decisão de hoje constrói o futuro sem precisar gerar traumas para
que depois, futuramente, não seja preciso corrigir o passado. Daí
a importância de se aprender a tomar a decisão certa.
Pode ser que você esteja se perguntando: “Mas, Felipe, nesse
processo de decisão, eu rompo com um lado em prol do outro?
Como você falou? Só que se eu fizer isso, nunca mais terei aquela
possibilidade também?”. Sim. É verdade, o caminho que você optou
por não percorrer, ele acabou ali. Por isso, estou chamando a sua
atenção para esses exemplos. Se lá atrás, você tivesse optado por
uma decisão completamente oposta, a sua vida hoje criaria uma
bola de neve. É o efeito borboleta, como chamamos, o bater de
asas de uma borboleta em um continente provocou um furação.
Isso quer dizer que esse bater de asas foi se expandindo e tomando
conta das áreas da sua vida inteira, porque estão todas conectadas
entre si. Ou seja, uma decisão, direta ou indiretamente, interfere
em todas as áreas de uma vida.
Foi uma decisão, por exemplo, respeitar a minha esposa. Isso
interfere na minha família, que interfere nos meus filhos, que in-
terfere no meu trabalho, que interfere na minha condição física,
que interfere na minha saúde, que interfere na saúde da minha
família, que interfere nos meus negócios. E que também irá in-
terferir em todos os pontos da minha vida e ainda no meu futuro;
porque é como se fosse um papel que eu rasgo. Quando rasgo
uma folha de papel, posso até colá-la de novo. Mas sempre ha-
verá uma cicatriz ali. Assim, depois que tomo uma decisão, aquilo
está lançado, está escrito no destino, na história do tempo, no fu-
turo, não é possível mais mudar para a frente não. Quando chegar
no futuro, se alguma coisa der errado, há a possibilidade de voltar
e corrigir aquele pedaço. Mas uma vez que eu tomo a decisão
hoje, o meu futuro será construído em cima dessa decisão.

289
Então, essa é a importância de aprender a tomar decisão.
Estou trazendo este tema por um simples motivo, para você
refletir sobre isso a partir de agora e começar a buscar coisas
melhores para si se fazendo aquelas duas perguntas: “Se eu
tivesse que fazer bem-feito, como faria?”. “E se as pessoas que
eu amo dependessem disso, o que eu faria?”. E quero incluir
nessas perguntas uma terceira. E com ela fazer um desafio. Se
você é religioso, você pode colocar Deus ou Jesus à sua frente
e perguntar: “Se eu perguntasse a Jesus se o que estou fazen-
do é bom ou não, qual seria a resposta dele?”. E se você não
é religioso e não quer ter a persona de Jesus ou Deus à sua
frente, de forma fictícia obviamente, responda para si, da for-
ma mais sincera a mesma questão. Feche os olhos e responda.
Esse é um exercício da hipnose, inclusive. Você pode se ima-
ginar saindo do corpo e olhando para si, em terceira pessoa lá
de cima, — chamamos a isso de dissociação — e se perguntar:
“Será que essa decisão que estou tomando hoje, me levará
para o caminho que eu quero amanhã? Vai me colocar em di-
reção daquilo que eu estou buscando hoje? É essa realmente a
decisão que eu tenho que tomar?”
Se a sua resposta for contrária àquilo que você está esperando,
ela vai, de forma muito natural, começar a gerar um conflito in-
terno. E, honestamente, lá dentro a gente sabe. Isso porque você
tem certos princípios e começos. Mas você saberá mais ainda,
porque uma crença nova implica gerar esses conflitos com o pa-
drão novo. Logo, quando você começar a tomar decisões erradas,
as minhas crenças que agora estão sendo mudadas por crenças
muito melhores, elas impedirão esse processo também. Elas não
o deixarão tomar a decisão muito errada também. Até nesse pon-
to, elas o impactarão.

290
Sabendo disso tudo, desse poder da decisão, então é fa-
zer essa pergunta e se responder com honestidade e reproduzir
aquilo que foi respondido por mim mesmo, às vezes. Quando me
dissocio, a Programação Neurolinguística diz que sempre temos
três opiniões, a minha, a da outra pessoa que eu estou discutindo
ou questionando e uma terceira pessoa; como se existisse uma
terceira pessoa olhando de fora essa discussão. É preciso procurar
sempre essa opinião dissociada, porque ela está dissociada de
vieses cognitivos, de dissonâncias cognitivas e de tendências que
a gente tem baseados nas crenças ruins que carregamos.
É muito importante aprender a fazer esse exercício. Ele de-
mora de dez a quinze segundos para ser realizado. Depois, será
tão automático que você se acostuma a fazê-lo para todas as
situações que vivencia. Assim, torna-se simples se dissociar
e se questionar. Esse exercício é supereficiente. E, para quem
é mais espiritualizado, mais religioso; particularmente, gosto
muito de fazê-lo assim; imagino Jesus à minha frente, e per-
gunto para Ele: “Senhor, tomando essa decisão aqui é a coisa
certa a ser feita, sim ou não?” E com certeza você vai obter a
resposta certa.
Agora, para se acostumar a tomar decisões melhores é im-
portante fazer o que chamo de prime the brain. Prime the brain
é começar a dar recompensas positivas para a mente para ir
sempre melhorando estimulando a capacidade mental de tomar
decisões corretas.
Já tratamos aqui todo o processo anterior de recompensa, de
resposta positiva, de resultado positivo, de reforço positivo e refor-
ço negativo em função de dor e prazer, enfim, com os ganhos se-
cundários envolvidos e tudo mais. Você já sabe como o processo
funciona. E agora, será mais fácil colocá-lo em prática.

291
Uma das coisas que aprendi e foi uma das grandes viradas
de chave na minha vida; algo que me ajudou demais nesse pro-
cesso de transformação foi aprender a ajustar as minhas expec-
tativas. Não no sentido de dar menos daquilo que eu buscava;
pelo contrário, percebi que algumas das crenças que carregava
me forçavam a colocar metas altas demais com o propósito de
não as alcançar nunca. Assim, estaria reforçada a ideia de que
eu não conseguia mesmo. Por exemplo, quero emagrecer trinta
quilos. Isso é muito peso para se emagrecer. Só de pensar nesse
total, já há uma dor. E aí, olhe a mente associando dor e prazer.
Lembre-se de que tudo o que gera dor fica mais difícil de reali-
zar. E por quê? Porque meu cérebro, minha mente, começa a me
afastar do que me faz sofrer. A mente usa todo o seu esforço da
menor iminência de que algo possa me provocar dor. Mas notei
que existia algo completamente diferente em relação à minha
expectativa, a minha percepção das metas se eu falasse assim:
“Hoje, vou emagrecer duzentos gramas… Se eu parar de comer
aquele pão que como à noite já emagreço esses duzentos. Se eu
reduzir pela metade o meu almoço, consigo”.
Isso acontece mais rápido em quem está no processo de per-
da de peso. Se você colocar como meta cem gramas por dia,
em um mês terá emagrecido três quilos. E sem perceber o que
aconteceu. O motivo é que não gerou nenhuma dor, o esforço
foi diminuído.

Fracione suas metas


Esse é um processo de decisão otimizado. Assim, torna-se muito
mais fácil decidir por algo, começar alguma coisa, se ajustar as ex-
pectativas. E presta atenção a uma coisa: fracionar as metas. Imagi-
ne uma escada em que os degraus são de um metro em um metro.

292
Quão difícil será subir esses degraus? Será necessário dar saltos para
alcançar esses degraus. Agora, fracione esses degraus por dez cen-
tímetros. Essa escada será muito mais fácil de ser subida. Sim, falo
do esforço de dar um passo no degrau e não de subi-la por inteiro.
Mas se for assim, será possível ter dois ganhos e não apenas um. O
primeiro será real, matemático, de percepção de resultado. Ele não
gera dor e é possível tomar uma decisão mais rápida e mais eficiente.
Ao entrar em processo de emagrecimento, faço ciclos de quaren-
ta dias e entro no processo de condicionamento. Começo pelo com-
promisso, mas logo estarei condicionado. E aí é questão de continuar
fazendo a mesma coisa. Talvez surja a pergunta: “Mas é importante
continuar com a mesma meta fracionada?”. Estaremos trabalhando
para um ganho compensatório. Confesso que não sei se esse é o me-
lhor nome. Não sei se seria o correto, mas a ideia é que tenho ganho
emocional, mental e de compensação por ir vencendo as pequenas
metas. Porque quando coloco uma meta muito alta e não a atinjo,
reforço um padrão que eu tenho de várias crenças. Por exemplo, de
que não sou bom o suficiente, de que aquilo não é para mim, de
que eu não nasci para isso, de que não tenho o dom, de que tudo na
minha vida é muito mais sofrido, e muitos outros do mesmo gênero.
Colocar uma meta muito alta é criar um ciclo destrutivo. Se
assim for, nos acostumamos a não conseguir o que almejamos
e aceitamos as nossas sabotagens. Como já afirmei, quando fra-
cionamos as metas, temos dois ganhos importantíssimos. Primei-
ro, quase nenhuma dor é gerada. Quando pouquíssima dor en-
tra no processo, a mente não coloca nenhuma preocupação para
refutar o que está acontecendo. Ela foca em coisas importantes,
enquanto você está fazendo o que tem que fazer. E, segundo,
todas as vezes que você coloca uma meta menor a ser alcançada,
não quer dizer que irá parar quando a alcançar. É apenas para,

293
propositalmente, subir os degraus e crescer cada vez mais. Essa
estratégia faz com que seja possível sabotar o sabotador.
O que acontece é que ao se bater uma meta a cada dia, a au-
toestima vai se fortalecendo. Há uma diferença entre autoestima
e autoconfiança. E é preciso trabalhar na autoestima, pois a au-
toconfiança é uma mentira. Massagear a sua autoestima é dizer
para si o quanto você está se tornando bom em bater metas. Lem-
bra que os fatos positivos trazem uma quantidade de dopaminas
e muitas vezes um certo nível de ocitocinas? Isso acarreta em um
prazer absurdo. Esse prazer, inclusive, é intensificado se for mantido
constantemente no cérebro. O que traz um vício bom para a mente.
Assim, é possível liberar serotonina em situações que trazem a in-
tensificação desse prazer de longo prazo, desse prazer mais interno,
desse prazer mais de uma coisa quase que espiritual, quase que ge-
rando uma percepção transcendental do prazer. E por quê? Porque isso
vai mexendo lá com o meu íntimo, com a minha autoestima.
Quando a autoestima está satisfeita é mais fácil entrar na-
quele ciclo de transformação, em que se começa perceber os
resultados e os resultados causam prazer, geram motivação e
aumentam ainda mais a autoestima me dá ainda mais a von-
tade de ser disciplinado e consistente para atingir mais daquele
resultado. É assim que se entra nesse ciclo. E como isso aconte-
ceu? Porque lá atrás, foi utilizado o idioma da mente. E em vez
de permitir que ela me sabotasse, eu a sabotasse.

O poder do só hoje
Eu crio uma meta para bater todo dia. A isso eu chamo de
poder do só hoje. E como funciona? Todas as manhãs, ao acordar,
eu falo: “Só hoje, vou para o meu trabalho e vou fazê-lo muito
bem-feito. Como se eu fosse o melhor cara do mundo, só hoje”.
Amanhã é outro dia, esqueça amanhã.

294
Para isso é preciso fixar os olhos no alvo. Podemos até ser fle-
xíveis no processo, mas no alvo não. Ele é fixo. Ele é aquele que
precisa ser alcançado e pronto. Você precisa saber exatamente o
que quer conquistar, porque senão ficará perdido. Pense: se não
souber onde quer ir, não saberá qual é o caminho, muito menos
a direção. Agora, uma vez que sabe onde quer chegar, vai pegar a
estrada e seguir. Não importa se haverá curvas, pedras, ou bura-
cos, você tem um alvo e fará de tudo para alcançá-lo.
Agora, é preciso criar todos os mecanismos possíveis para que
essa trilha seja a mais fácil possível, para que tenha o menor número
de espinhos ou pedras. E como fazer isso? Fracionando esse caminho
em um passo de cada vez, é o step by step, dia após dia, só hoje. En-
tão, se proponha a hoje dar o seu melhor. “Hoje vou emagrecer cem
gramas”. “Só hoje vou à academia e farei uma série a mais”. “Só hoje
vou andar mais cento e cinquenta metros”. “Só hoje vou correr mais
cinco minutos”. “Só hoje não vou usar droga”. “Só hoje não vou aces-
sar pornografia”. “Só hoje”. Percebe? E assim fica mais fácil conquistar,
e conquistar, e conquistar, porque você se propôs a vencer só hoje. E
amanhã será “só hoje”. E assim por diante.
Quando se fraciona o horizonte temporal, as coisas ficam mui-
to mais fáceis, pois se sofre menos e se tem uma percepção maior
de superação. Consequentemente, isso traz mais prazer, há uma
maior liberação de todos aqueles hormônios, e a autoestima fica
muito mais estimulada. A ponto de você se tornar, literalmente,
uma máquina de performance. Isso acontece a ponto de você se
convencer não mais a parar, mas a entender que é alguém impa-
rável, indestrutível.
Foi por isso que no início deste livro falei que conhecia o ca-
minho para ajudá-lo a se tornar indestrutível. Só que seria ne-
cessário primeiro “destruí-lo”, para treiná-lo como outra pessoa.

295
E eu sei que agora, nesse looping de coisas boas, de sucesso, de
prosperidade, de eficiência, nesse círculo virtuoso só se tem a ga-
nhar. Por isso, é importante pelo dia de hoje se comprometer com
o que você irá alcançar. Até porque não existe essa coisa de tentar
para ver se vai dar certo.

Não existe tentar


Joseph O’Connor, um dos líderes criadores da PNL, certa vez, du-
rante uma palestra, mandou uma pessoa soltar uma garrafa d’água.
A pessoa tentou e a garrafa caiu. E ele explicou: “Não existe tentar, ou
você faz ou não faz alguma coisa. Tentar é uma coisa que não existe
no ponto de vista mental. Não dá para tentar soltar uma garrafa,
quando você tenta, já soltou. Ou você segura, ou solta”. Na vida é as-
sim, ou você prospera ou não prospera, ou você melhora ou não me-
lhora, ou você se transforma ou não se transforma, não existe tentar.
Já viu pessoas que dizem que vão tentar melhorar? Pois é, quem
fala que vai tentar fazer alguma coisa está no início do processo de
sabotagem, pois não quer se comprometer em fazer de verdade. En-
tão, o que é possível realmente? Falhar, cair, levantar e começar de
novo, mas tentar não existe. É possível falhar durante o processo,
mas tentar é o discurso de quem não quer se comprometer. É muito
mais fácil falar que está tentando, fazendo o seu melhor. Mas não. Ou
você não está fazendo nada, ou está fazendo tudo.
Eu desci do barco e afundei. Alguém foi lá e me deu a mão.
Assim, posso fazer de novo até acertar e entrar na direção e come-
ce a caminhar no caminho, na direção certa. Agora, tentar fazer,
simplesmente não existe. Já compartilhei com você como sabotar
os seus sabotadores. Então, não há mais como tentar. Há sim,
como partir para a luta, fracionar suas metas e vencer. Você pode
ser um super-humano.

296
FAKE IT UNTIL
YOU MAKE IT
Q
uando comecei a buscar respostas efetivas para os meus
conflitos, para as situações que não conseguia vencer, não
podia conceber o fato de que deveria passar por uma te-
rapia de cinco, ou seis, ou dez anos para começar a mudar. Eu
precisava de algo que fosse eficiente e rápido. Desse modo, do
buraco em que me encontrava, falei para a minha psicóloga: “Eu
não tenho mais um ano. Se eu não conseguir sair dessa agora,
não será nunca mais. Eu não posso esperar mais um ano. Tenho que
começar a ver as mudanças acontecendo agora. Não preciso mu-
dar tudo de uma vez, mas preciso ver alguma transformação. Eu
preciso recuperar minha autoestima agora, porque ela não existe
mais. E se demorar mais um ano, eu não vou suportar!”.
A bem da verdade, eu não tinha muito tempo para esperar.
Foi assim que me lancei a desenvolver ações, reações, exercícios e
práticas que tinham que me dar algum resultado ou pelo menos
deveriam me fazer perceber algum nível, pequeno que fosse, de
mudança. Eu sabia que se aquilo acontecesse, impactaria no meu
ciclo de transformação. E me daria, ao longo do tempo, capacidade

298
para continuar fazendo o que precisava ser feito. Dessa maneira, eu
usaria esse tempo para validar esse processo e conquistaria mais e
mais coisas até entrar nesse ciclo efetivamente de comportamento.
Daqueles ciclos de 40 dias, como já expliquei.
Mas como disse, nesse início eu não podia esperar tanto. En-
tão deveria me submeter a algo que não fosse filosófico em longo
prazo. Eu precisava de algo que funcionasse no agora. Tanto que
esses exercícios que apresentei, neste livro, se você os colocar em
prática hoje, eles funcionarão hoje, porque eu os testei e pratiquei
arduamente, em minha luta por transformação.
Há uma questão que apresentei a todo o momento que foi
a lei da ação. Acredite! Sem ela não há resultado. Por isso, agora
quero compartilhar o último, e na minha opinião o mais impor-
tante, exercício de todos os que apresentei neste livro. Mas pres-
te atenção! Todos eles são indispensáveis e devem ser colocados
em prática na ordem que apresentei. E agora, o que vou fazer é
justamente unir todas as informações, todo esse quebra-cabeças
que estudamos até aqui. Todos esses padrões, abordagens, lógi-
cas, princípios, exercícios, e colocá-los dentro de um pacote único
e exclusivo para ensinar você a modelar por meio dos tipos do
eneagrama. Para ensiná-los a adquirir as máscaras que precisa
para os mais diversos contextos que enfrenta. Para encontrar as
habilidades que não tem e está passando dificuldades por causa
delas, ou por não ter as habilidades para viver esses contextos.
O problema dos contextos da vida não é que não deveriam
acontecer, ou que sua vida é ruim, ou que você é azarado; não,
nada disso. Porque existem pessoas que passam pelo mesmo
contexto e tiram de letra. A grande sacada está em se ter ha-
bilidades específicas para viver aqueles contextos que porven-
tura apareçam no seu caminho. Até porque ninguém sabe o

299
que acontecerá, não é possível controlar o futuro, também não é
possível controlar o território. Mas é possível controlar o próprio
mapa. E isso será possível se houver uma mudança na lente
para determinar a maneira em que se vai enxergar o mundo.
Outra possibilidade é ter várias lentes para utilizar de acordo
com a necessidade. Ou como já expliquei, ter várias máscaras
para utilizar. Assim, uma máscara específica para um ambien-
te específico me dará habilidades específicas para viver, superar
com a maior eficiência possível, seja nos negócios, nas finanças,
na espiritualidade, nos relacionamentos, no casamento, na pa-
ternidade; ou maternidade; ou seja, em qualquer área da vida.
O que quero apresentar a você é um processo. Para isso pre-
ciso que entenda o seguinte: irei ensiná-lo a modificar algo, mas
fazendo por intermédio de um padrão. Irei ensinar você a alterar
qualquer crença e qualquer padrão que você queira. Mas lem-
brando que não há necessidade de fazer tudo de uma só vez.
Lembra o que expliquei sobre o fracionamento de metas de ex-
pectativas? Então, escolha um alvo e comece.
Escolha algo que precisa e comece. Por exemplo, você gostaria
de ser mais focado nos estudos. Comece a trabalhar o seu foco,
porque quando ver que, rapidamente, obteve resultados, passa a
ter estímulos e começa a ganhar vontade para fazer outras mu-
danças. Assim, naturalmente, outras transformações começam a
acontecer.

Você pode ser uma máquina


Quero que você entenda que esse processo de evolução pes-
soal é constante e interminável. E sabe por quê? Porque por me-
lhor que você esteja e quanto melhor fica, mais entra no nível dos
detalhes. E percebe o quanto evoluir pode ser prazeroso. É a ques-

300
tão de ter mais autoestima, e jogar na corrente sanguínea aquelas
bombas de prazer — serotonina e dopamina. Mais à frente, você
começa a entrar em níveis de mais detalhes, logo a transformação
se torna mais minuciosa. O que quero dizer é que, por isso, esse
processo é constante e interminável. E é exatamente nisso que
reside a do processo. Isso a ponto de as pessoas olharem para
você e o enxergarem literalmente como um super-humano.
As pessoas olharão para você e dirão: “Esse cara é uma máqui-
na. Tudo a que se propõe, ele conquista, faz, ele alcança. Os so-
nhos são grandes, mas ele os realiza, pois dá duro, tem disciplina,
tem foco. Parece que é uma máquina”.
Literalmente, a gente se torna uma máquina, é isso que eu
quero ser, uma máquina direcionada para o crescimento, um
canhão direcionado para a prosperidade, para o sucesso, para
a eficiência, para a felicidade, para o prazer, por aquilo que eu
gosto na vida. Um super-humano direcionado para aquilo que
desejo. E a beleza de conquistarmos essa escada está justa-
mente nisso, escolher a direção que quero ir. Assim, uma vez
que aprendo a me transformar, posso escolher a direção que eu
quero tomar. É por isso também que esse processo de evolução
se torna constante e interminável.
Bem, dentro desse contexto, você pode me perguntar: “Então,
como modelar pelos tipos e não por uma pessoa em si?”. Veja, de-
pois que você aprendeu todas as características de todos os tipos,
e também conheceu os processos que a mente utiliza, a lógica da
mente, o idioma que ela utiliza, a como fazer essas associações,
a como ajustar as expectativas, a como fracionar metas, a como
estimular a sua mente a se transformar, como aprender a tomar
decisões. Isso é algo muito simples mesmo.

301
Existe uma frase em inglês que diz o seguinte: “Fake it till you
make it”. Ela significa, “Finja até você conseguir”. Isto é, você finge
que é algo até que você se tornar o que deseja. O processo é jus-
tamente esse. Foi desconstruindo essa frase que criei todo esse
processo. Foi por meio de uma psicologia reversa, de um processo
contraintuitivo, que compreendi o processo mental contido nessa
ideia, ao contrário.
Você pode estar perguntando: “Como assim, fingindo eu me
torno? Então quer dizer que se eu fizer alguma coisa por muito
tempo na minha vida mudarei quem eu sou?”. Lembra que fri-
sei algumas vezes que a transformação não precisa vir de dentro
para fora, mas de fora para dentro? Quando isso acontece é muito
mais fácil, e muito menos dolorido porque não é preciso lidar
com traumas, com questões que, às vezes, trazem muito medo.
É possível começar com aquilo que é mais confortável; ou menos
desconfortável e ir mudando aos poucos.
Note que se finjo que sou alguma coisa e continuo fingindo
isso, começo a convencer a minha mente de que eu sou assim,
porque o meu comportamento a convence de mudar as pers-
pectivas de realidade que ela possui. O meu território começa a
transformar meu mapa. A percepção do território começa a trans-
formar o meu mapa. Assim a vida que comecei a levar começa a
impactar o meu comportamento porque começa a mexer com as
minhas crenças.
Darei o meu exemplo. Sou uma pessoa do tipo 5. Isso é algo
que não mudará nunca. Na essência, eu era extremamente in-
trospectivo, muito arrogante, muito soberbo, muito egoísta. Mas,
principalmente, muito fechado em relação a sentimentos, de-
monstração de afeto, carinho e intimidade. Isso impactou pro-
fundamente o meu relacionamento, principalmente o meu rela-

302
cionamento amoroso com a minha esposa. Acabei me separando
dela, porque não conseguia ter intimidade, não conseguia ter um
relacionamento direito; não conseguia confiar nela apesar de todo
o amor que ela me demonstrava e todo o respeito e a honra que
ela tinha por mim. Essa era uma característica só minha. No en-
tanto, o meu casamento era algo muito importante para mim, eu
queria mantê-lo.
Então, quando comecei ser diferente, pensei qual seria o tipo
do eneagrama que demonstra afeto de maneira muito impactan-
te e saudável, pegando a parte boa das qualidades, claro. Percebi
que o tipo 4 é amoroso, dramático. Tem um amor exacerbado na
intimidade, vive aquele sentimento de novela, de amor ideal, da
realização da princesa que encontrou seu príncipe encantado. Do
ponto de vista de relacionamentos, quem trabalhava os relacio-
namentos sem guardar rancor? Então, o que passei a fazer? Decidi
que me relacionaria com a minha esposa fingindo ter um tipo 9
e um tipo 4.
Foi assim que comecei, só por hoje, utilizando essas caracte-
rísticas. Sim, “Fake it till you make it”. Pode ser que você ache difí-
cil. Mas se lembra das duas perguntas? “E se eu tivesse que fazer
bem-feito, como é que faria?”. Ou seja, se eu quisesse ser um tipo
9, como faria? Eu seria mais amoroso, mais acolhedor, mais agra-
dável. Como? Eu sei que eu não sei ser. Nem sempre se consegue
tudo, mas é possível desenvolver.
Pode ser que você esteja pensando que se fingir ser quem não
é, não estará sendo você. Já conversamos sobre isso quando fa-
lamos sobre máscaras. Muitas vezes essa não é a estratégia ideal,
mas o ponto é: você está disposto a abrir mão de quem é para se
tornar uma pessoa melhor? Imagino que sua resposta tenha sido
sim. Então pergunto: se nesse contexto específico, uma pessoa

303
melhor for alguém um pouco mais voltado para o tipo 9, será que
é possível? Não é necessário se transformar numa pessoa tipo 9,
mas absorver as boas características desse tipo. E aí? Entendeu o
que digo?
Foi assim que comecei a colocar essas características em minha
vida. Assim, aos poucos me tornei mais acolhedor, mais amoroso,
menos guerreiro, menos crítico, menos conflituoso. Isso significa
que mudei o meu tipo de personalidade? Não, como já expliquei
a personalidade não muda. Sendo assim, ainda sou muito intros-
pectivo. Se me descuidar, eu ainda me fecho no meu mundo e
esqueço o mundo aqui fora, começo a me afastar e me torno frio.
Mas como conheço esse processo, ele se tornou fácil para mim.
Portanto, enquanto estou convivendo com ela sei o quanto
isso é importante para ela. Sei que esse tipo de demonstração
de carinho é importante para a minha esposa, por isso se torna
importante para mim também. Serei muito honesto, prefiro ter
“duas caras” porque vivo o que mais me importa.
Pode ser que você pense que isso é triste. Mas quer que eu
diga? Triste é fazê-la sofrer a vida inteira e ficar sofrendo também,
porque há uma grande importância no amor dela para mim e do
meu amor por ela. O sentimento dela, o componente emocional
dela, a sua vida, as suas dores, o seu amor, a sua presença, o nos-
so casamento, a nossa família, essas coisas são tão significativas
para mim que me comprometi a mudar o que era difícil para
mim.
Mas por ser tão importante para mim, entrei no jogo de “Fake
it till you make it”. E o que aconteceu? Comecei a modelar aque-
le tipo, literalmente, sem uma persona. Como expliquei, quando
não há uma pessoa por trás, não acontece a imitação, só apren-
demos as características. Note que eu não me visto diferente, não

304
ando num carro diferente, não tenho uma vida diferente, mas
tenho habilidades diferentes das minhas e eu finjo que tenho
aquelas habilidades até que elas façam parte de mim.
Acredite você: “Fake it till you make it”, no primeiro dia será
mais difícil, no segundo dia um pouco mais fácil que no primeiro.
No terceiro, mais fácil ainda que no primeiro e, assim, sucessiva-
mente. E em muito pouco tempo você estará com as habilidades
que deseja. Por quê? Porque isso passa a fazer parte da sua vida
de tal maneira que é possível navegar entre os tipos e qualquer
situação específica, determinada.
Por exemplo, lembra que eu falei por característica? Eu sem-
pre fui uma pessoa muito arrogante, soberbo e egoísta, quem
do eneagrama que é o mais altruísta possível e o mais doador e
o mais fazedor possível? O tipo 2, independentemente da mo-
tivação dele, ele tem os problemas de motivação que fazem ele
fazer isso com segundas intenções. Mas isso não me interessa; o
que me interessa são as características boas. E uma característica
boa do tipo 2 é ser o mais altruísta, o mais doador. Assim, quan-
do vivencio situações que me demandam ser um tipo 2, aquelas
questões vêm à minha mente: “Se eu tivesse que ser um tipo 2,
como faria? E se tivesse como um tipo 2 fazer bem-feito, como
faria?”. Dessa maneira, adoto características que me tornam mais
altruísta e doador. Note que não mudo de carro, nem de roupa,
nem de entonação de voz. Continuo sendo quem sou, mas tenho
características melhores dentro daquela circunstância específica.

Entenda e conheça os tipos


Sabendo disso, recomendo que você se aprofunde a entender
um pouco mais dos tipos. Este livro traz uma tabela para uma
consulta mais imediata. Mas recomendo que leia e releia os tipos

305
todos quantas vezes for necessário. Isso dará a você a habilidade
de reconhecer os tipos das outras pessoas rapidamente, numa
conversa, pelo tipo de diálogo, pelo tipo de pergunta, pelo tipo de
análise de contexto de vida, como a pessoa está vivendo, reações
que ela tem, então rapidamente você consegue se ajustar aquele
relacionamento. E por quê? Porque as pessoas têm uma capa-
cidade, uma necessidade intrínseca de se agruparem, de serem
gregárias. Se você entrar em uma sala com mil pessoas e deixar
que conversem entre si por algumas horas, automaticamente, for-
marão grupos do mesmo tipo. Essa experiência já foi feita várias e
várias vezes em conferências e reuniões. E qual é o motivo desse
ajuntamento? Porque as pessoas têm uma tendência a se agrupar
por afinidade, pelos mesmos interesses, pelas mesmas conversas,
pelas mesmas crenças, pelos mesmos ideais, pelo mesmo tipo de
personalidade.
Assim, quando eu reconheço, por exemplo, que a minha es-
posa; ou o meu marido; é um tipo de personalidade, fica muito
mais fácil de lidar com ele, porque sei como eu tenho de reagir.
Mesmo que ele não saiba disso. Então, muitas vezes, ele estará
fazendo algo que conseguirei relevar, porque sei que aquilo não
é propriamente de propósito. Ou, mesmo que, muitas vezes, me
magoe, eu consigo explicar a atitude da pessoa de forma mais
eficiente. Se eu falar de um jeito que ela possa entender, provoco
nela um processo de mudança muito mais imediata.
Outro motivo que me torna adepto a ler todos os tipos é co-
meçar esse processo de modelagem sabendo que todos esses
padrões que expliquei para você até agora faz parte de um pro-
cesso. Viemos até aqui e cada degrau conquistado foi para che-
garmos no ponto de modelagem. Eu sei que você compreendeu
que a modelagem por meio dos tipos é bastante simples. Mas se

306
eu tivesse explicado somente ela não faria sentido. Até porque, há
todo um processo mental para que essa modelagem seja efetiva.
Por isso foi necessário passar por toda essa construção de conhe-
cimento.
Agora quero deixar uma última tarefa: leia todos os tipos do
eneagrama, se familiarize com cada um deles, descubra o seu e
a partir do que conhece das conexões, de ganho e prazer, refor-
ço positivo, reforço negativo, vai começar o exercício de “Fake it
till you make it” a vida inteira. Até porque, o aprendizado nunca
acaba. Quando você acordar amanhã, planeje seu dia, pensando
como faria bem-feito, com as características de que tipo utilizaria.
Entenda que você não deixará, de jeito nenhum, de ser quem
é. Mas trocou a maquiagem da sua máscara para uma que lhe
dará mais habilidades para chegar aonde deseja. Se disponha a
cumprir o ciclo de transformação, a passar por aqueles processos
dos ciclos de 40 dias, e depois 40 meses. Até o ponto que você es-
tará atuando com um comportamento que a sua mente adotou.
Você já não se esforçará, será natural.
Digo isso porque nunca fui uma pessoa amorosa, mas posso
falar que sou hoje muito mais amoroso. Não quer dizer que sou o
mais amoroso do mundo, não. Mas desenvolvi essa habilidade. E
aqui quer chegar. Ganhei alguma vantagem na vida? Sim. Primei-
ra, porque consigo navegar entre os tipos e, consequentemente,
consigo ser melhor em várias situações diferentes. Consigo ser
bom em vários ambientes.
Mas há algo que preciso que você entenda. Costumo dizer que
nunca foi tão fácil ser bom, nunca foi tão fácil ser próspero, nunca
foi tão fácil ser eficiente, nunca foi tão fácil ser excelente, nunca
foi tão fácil ser bom. E por que digo isso? Porque estamos vivendo
uma geração muito ruim. Todos estão parados, amedrontados,

307
bloqueados, paralisados. Então, um por cento a mais que você
faça é o dobro do que os outros estão realizando. Isso quer dizer
que, um por cento hoje, um por cento amanhã, um por cento
depois e assim por diante, em cem dias você estará cem por cento
melhor do que estava a princípio.
O que quero dizer é que você não precisa fazer uma transfor-
mação imensa de uma vez só. Isso diz respeito ao fracionamento
das metas? Por que que falei de um por cento ao dia? Da expecta-
tiva pequena de propósito? Porque são muito poucas as pessoas
que estão se mexendo em busca de melhorias e transformação e
performance, eficiência e prosperidade. Portanto, coloque-se em
movimento. “Fake it till you make it” e use a sua mente a seu fa-
vor. Você precisa apenas começar, porque os seus resultados farão
com que desponte da imensa maioria numa velocidade absur-
da. Isso mexerá com a sua autoestima. Sendo assim, você só
precisa colocar isso para a ação. O que está faltando para você
levantar e andar?

308
VIVA O SEU
MILAGRE
N
o princípio desta segunda parte deste livro, citei uma pas-
sagem da Bíblia e afirmei que Jesus, quando aqui na Ter-
ra, havia trazido uma mensagem que passara despercebida
pela imensa maioria das pessoas. E que, para mim, era a mensagem
de maior importância dele. Não que as outras não sejam importan-
tes, mas essa dizia muito mais a mim. Digo isso porque pessoas que
são religiosas radicais me condenam quando afirmo isso. Mas essa é
uma figura de linguagem e espero que você entenda.
E se eu disser para você que Jesus nunca fez nenhum milagre?
Imagino que serei condenado por alguns, outros ficarão curiosos
e irão querer saber o porquê da minha fala, outros ainda dirão
que sou um herege. Mas, independentemente de Ele ter feito
milagres ou não, entendo que a mensagem que Ele deixou em
cada encontro que teve foi impressionante.
Como já ressaltei, ao final de cada milagre, invariavelmente,
Jesus dizia: “A sua fé curou você. Agora. Levante e ande”. Isso sig-
nificava, “Não fui eu que curei você, eu só fiz acreditar que isso era
possível. Em função da minha presença, você acreditou que era
possível; mas foi a sua fé que o curou, foi a sua vontade de agir

310
em direção à cura que o curou, foi a sua decisão de estar curado
que o curou”. E aqui vem a segunda parte. Mais importante ainda:
“Só que você não pode receber um milagre, eu não posso fazê-lo
andar se você continuar sentado. Não faz nenhum sentido, não
justifica o milagre, mesmo que seja eu, mesmo que tenha sido eu
que tenha feito o milagre”.
Quer dizer, de que adiantava Jesus ter feito o milagre de resti-
tuir os movimentos ao aleijado, mas ele continuar sentado, sem
andar? Os milagres têm de funcionar enquanto estamos vivos,
enquanto andamos. Então, levante-se e ande, vá viver o seu mi-
lagre, vá viver o seu processo de transformação, vá viver o proces-
so de correção e mudança, parta para a ação!
Há um ditado popular que diz que, por não saber que era im-
possível, ele foi lá e fez. E foi isso que Jesus lá no passado já tinha
dito para todos nós: “A sua fé curou você. Mas não basta, agora
você precisa levantar e andar, você precisa levantar e viver o seu
milagre e viver a sua transformação, porque a sua transformação
tem que funcionar na sua vida”.
Sim, não adianta a transformação funcionar no curso de au-
toajuda do coach famoso que reúne duas mil pessoas em uma
sala e todo mundo fica meditando, tranquilo, calmo e feliz no final
de semana. Mas ao sair de lá estão todos triste de novo e nada
se resolveu. Não. As transformações precisam funcionar enquan-
to estamos vivos. Por isso, contei a você que, quando comecei o
meu processo não tinha tempo para esperar dois anos, ou três
anos, ou dez anos para funcionar, eu não tinha mais esse tempo,
pois estava literalmente no fundo do poço. Então, para mim, tinha
que funcionar agora e tinha que funcionar na vida, não podia
ser uma coisa filosófica. Até porque sempre acreditei que filosofia
sem prática é demagogia. Por isso precisava ser um processo de

311
transformação prático. Foi por esse motivo que eu criei esses ca-
minhos todos, porque eu precisava disso, de verdade.
E por que eu deixei para falar tudo isso agora no final? Porque,
como já disse, não acredito na lei da atração. De nada adianta
você ficar sentado, esperando que o cheque de um milhão de
dólares caia na sua caixa de correio, mentalizando essa “dádiva”,
sentado na sua cadeira. Você precisa se levantar e agir, partir para
tomar a vida e se prontificar a realizar a sua transformação. Entrar
nesses processos de mudança e transformar a sua vida e se dire-
cionar para a ação, levantar e agir, levantar e andar, que é a lei da
ação.
Quero fechar este livro deixando um pequeno texto para você
refletir. Não vou explicá-lo, ele entrará no seu entendimento à
medida de suas necessidades. Sei que esse texto foi escrito na
dinâmica específica para funcionar baseado nas crenças que você
tem hoje. E se o ler daqui a dez anos, você o entenderá de ma-
neira diferente. Da mesma maneira que tenho passado por um
processo de transformação.
“Logo em seguida, Jesus insistiu com os discípulos para que
entrassem no barco e fossem adiante dele para o outro lado, en-
quanto ele despedia a multidão. Tendo despedido a multidão,
subiu sozinho a um monte para orar. Ao anoitecer, ele estava ali
sozinho, mas o barco já estava a considerável distância da terra,
fustigado pelas ondas, porque o vento soprava contra ele.
Alta madrugada, Jesus dirigiu-se a eles, andando sobre o mar.
Quando o viram andando sobre o mar, ficaram aterrorizados e
disseram: ‘É um fantasma!’ E gritaram de medo.
Mas Jesus imediatamente lhes disse: ‘Coragem! Sou eu. Não
tenham medo!’

312
‘Senhor’, disse Pedro, ‘se és tu, manda-me ir ao teu encontro
por sobre as águas’.
‘Venha’, respondeu ele. Então Pedro saiu do barco, andou sobre
a água e foi na direção de Jesus.
Mas, quando reparou no vento, ficou com medo e, começando
a afundar, gritou: ‘Senhor, salva-me!’.
Imediatamente Jesus estendeu a mão e o segurou. E disse:
‘Homem de pequena fé, porque você duvidou?’” (Mateus 14:22-
31 – NVI).

Preste muita atenção! Autoconfiança é uma mentira, algo no


qual o convenceram a acreditar para você não ter que admitir
que tem pontos fracos. Mas a autoestima é real. Ela é sobre o
que você realmente sente sobre si mesmo. Autoconfiança é o que
você tenta mostrar para os outros, especialmente em momen-
tos em que está com medo. Veja, não há problema nenhum em
ter medo, mas a obrigação de ser autoconfiante o tempo todo
neutraliza você e acarreta uma brutal ansiedade. Já a autoestima,
esta sim o faz ir adiante apesar do medo, apesar das dificuldades,
porque autoestima está relacionada em você saber quem é e o
que merece.
Fique com Deus, aproveite o conteúdo deste livro e coloque-o
em prática. Eu desejo sucesso e sorte. Nos vemos no topo!
Felipe Amorim.

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