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ROLF DOBELLI

A arte de
pensar
claramente
Como evitar as armadilhas do pensamento e
tomar decisões de forma mais eficaz

Tradução
Karina Janini e Flávia Assis

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Copyright © 2011, 2012 by Carl Hanser Verlag München
Copyright © 2013 by Rolf Dobelli

Todos os direitos desta edição reservados à


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Tel.: (21) 2199-7824 – Fax: (21) 2199-7825
www.objetiva.com.br

Título original
Die Kunst des klaren Denkens e Die Kunst des klugen Handelns

Capa
Adaptação de Barbara Estrada sobre design original de Christopher Tobias

Revisão
Fatima Fadel
Bruno Fiuza
Ana Grillo

Editoração eletrônica
Abreu’s System Ltda.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

D662a
2. ed.
Dobelli, Rolf
A arte de pensar claramente: como evitar as armadilhas do pensamento e tomar
decisões de forma mais eficaz / Rolf Dobelli; tradução Karina Janini; Flávia Assis. –
2. ed. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2014.

Tradução de: Die Kunst des klaren Denkens e Die Kunst des klugen Handelns
316p. ISBN 978-85-390-0607-6

1. Psicologia. I. Título.

14-12709 CDD: 150.1952


CDU: 159.964.2

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Para Sabine

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SUMÁRIO

Introdução 11

1 Por que você deveria visitar cemitérios 15


2 Harvard deixa você mais inteligente? 18
3 Por que você superestima sistematicamente seu conhecimento
e suas capacidades 20
4 Quando 50 milhões de pessoas afirmam uma besteira, ela não
deixa de ser uma besteira por conta disso 23
5 Por que você deveria esquecer o passado 26
6 Por que você não deve deixar que lhe paguem uma bebida 29
7 Fique atento quando ouvir a expressão “caso especial” 31
8 Murder your darlings 34
9 Por que você não deve respeitar as autoridades 37
10 Deixe suas amigas modelos em casa 40
11 Por que é preferível usar o mapa errado de uma cidade a não
usar nenhum 42
12 Se alguém lhe falar que o caminho vai ser difícil, seus alarmes
devem soar 45
13 Mesmo histórias verdadeiras são contos de fadas 48
14 Por que você deveria escrever um diário 51
15 Não leve a sério apresentadores de telejornais 54
16 Você controla menos do que pensa 56

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17 Nunca pague seu advogado por hora 59
18 A eficácia duvidosa de médicos, consultores e psicoterapeutas 62
19 Por que pessoas racionais não apelam para a razão 64
20 Nunca julgue uma decisão com base no resultado 67
21 Menos é mais 69
22 Você age de modo irracional porque quer ser amado 72
23 Não se apegue às coisas 74
24 A inevitabilidade de acontecimentos improváveis 76
25 A calamidade da conformidade 78
26 Por que os prêmios se tornam cada vez maiores 80
27 Por que você paga caro demais pelo risco zero 83
28 Por que o último biscoito do pote deixa você com água na boca 86
29 Quando você ouvir um tropel, não espere ver uma zebra 88
30 Por que a chamada “força do universo” é uma bobagem 90
31 Por que a roda da fortuna vira nossa cabeça 92
32 Como fazer com que as pessoas percam seus milhões 95
33 Por que o mal impressiona mais que o bem 97
34 Por que equipes são preguiçosas 99
35 Surpreendido por uma folha de papel 102
36 Quanto você pagaria por um dólar? 105
37 Nunca pergunte a um escritor se seu romance é autobiográfico 108
38 Por que você não deve acreditar na cegonha 111
39 Por que pessoas atraentes têm mais facilidade para crescer na
carreira 114
40 Parabéns! Você ganhou na roleta-russa 117
41 Falsos profetas 119
42 Por que histórias plausíveis podem seduzir 122
43 Não é o que você fala, mas como você fala 124
44 Por que esperar para ver é uma tortura 127
45 Por que você é a solução — ou o problema 130
46 Não me culpe 132

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47 Tenha cuidado com o que você deseja 135
48 Não se espante por existir 137
49 Por que às vezes a experiência pode danificar seu poder de
julgamento 140
50 Cuidado quando, no início, tudo der certo 143
51 Doces mentiras 146
52 Carpe diem — mas, por favor, só aos domingos 148
53 Desculpas esfarrapadas 150
54 Decida melhor — decida menos 153
55 Você usaria o suéter de Hitler? 155
56 Por que não existe algo como guerra média 157
57 Como os bônus acabam com a motivação 160
58 Se você não tem nada a dizer, não diga nada 163
59 Como aumentar o QI médio de dois Estados 165
60 Se você tem um inimigo, dê-lhe informação 167
61 Dói, mas eu gosto 170
62 Por que coisas pequenas assumem grandes dimensões 173
63 Frágil 175
64 Radar de velocidade à frente! 177
65 Como desmascarar um charlatão 179
66 Trabalho voluntário é para as aves 181
67 Por que você é escravo das suas emoções 183
68 Seja seu próprio herege 186
69 Por que você deve incendiar seus próprios navios 189
70 Descarte o novinho em folha 191
71 Por que propaganda dá certo 193
72 Por que sempre temos mais de duas opções 196
73 Por que miramos nos jovens talentos 199
74 Por que não se pode confiar em primeiras impressões 202
75 Por que o que é “feito em casa” é sempre melhor 204
76 Como lucrar com o improvável 207

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77 Conhecimento é pessoal e intransferível 209
78 O mito do pensamento unânime 212
79 Você estava certo desde o princípio 214
80 Por que você se identifica com seu time de futebol 216
81 A diferença entre risco e incerteza 218
82 Por que seguimos o status quo 221
83 Por que entramos em pânico diante da “última chance” 224
84 Detalhes vistosos nos deixam cegos 226
85 O dinheiro não está nu 228
86 Por que resoluções de ano novo não funcionam 231
87 Construa seu próprio castelo 233
88 Por que você prefere novelas a estatística 235
89 Você não faz ideia do que está ignorando 237
90 Palavras ao vento 240
91 Cadê o botão de desligar? 242
92 Por que você assume tarefas demais 244
93 Martelos só enxergam pregos 246
94 Missão cumprida 249
95 O barco é mais importante do que a remada 252
96 Por que as listas de checagem enganam você 255
97 Desenhando o alvo em torno da flecha 258
98 A caça pré-histórica a bodes expiatórios 261
99 Por que os apressadinhos parecem ser motoristas cautelosos 264
100 Por que você não deve ler jornais 267

Epílogo 271

Agradecimentos 277

Notas e referências 279

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INTRODUÇÃO

T
udo começou em uma noite de outono, em 2004. A convite do
editor Hubert Burda, viajei a Munique para participar do chama-
do “intercâmbio voluntário com intelectuais”. Nunca antes me
sentira um “intelectual” (estudei administração de empresas e me tornei
empresário — portanto, o contrário de um intelectual); no entanto, publi-
quei dois romances, e, pelo visto, isso era suficiente.
À mesa estava sentado Nassim Nicholas Taleb, que em outros tempos
fora um obscuro investidor de Wall Street com inclinação para filosofia.
Fui apresentado a ele como conhecedor do iluminismo inglês e escocês, em
especial de David Hume. Aparentemente, tinham me confundido com
outra pessoa. Eu não disse nada, sorri um pouco inseguro para o círculo de
pessoas e deixei que o silêncio que surgiu agisse como prova de meus enor-
mes conhecimentos de filosofia. De imediato, Taleb puxou uma cadeira
vaga e, batendo no assento, convidou-me para sentar perto dele. Felizmen-
te, após algumas frases, a conversa passou de Hume para Wall Street, as-
sunto que, pelo menos, eu podia acompanhar. Divertimo-nos com os erros
sistemáticos cometidos por diretores executivos, sem nos excluirmos. Con-
versamos sobre o fato de que, quando considerados retroativamente, acon-
tecimentos improváveis parecem muito mais prováveis. Rimos dos investi-
dores que mal conseguem separar-se de suas ações quando as cotações estão
abaixo do preço de custo.
Posteriormente, ele me enviou páginas manuscritas, que comentei,
critiquei em parte, e que foram inseridas no best-seller internacional

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Introdução

A lógica do cisne negro. O livro catapultou Taleb à liga mundial das estre-
las da intelectualidade. Com apetite intelectual crescente, devorei a bi-
bliografia do Heuristics and Biases [Heurísticas e vieses]. Em paralelo,
intensifiquei o intercâmbio com um sem-número de p ­ essoas que pode-
riam ser designadas como a intelligentsia da Costa Leste americana.
Anos mais tarde, percebi que, além do meu trabalho como escritor e
empresário, havia concluído uma verdadeira graduação em psicologia
social e cognitiva.
Erros de pensamento, tal como emprego o termo aqui, são desvios
sistemáticos em relação à racionalidade, ao pensamento e ao comporta-
mento ideais, lógicos e sensatos. A palavra “sistemático” é importante, pois
nos enganamos muitas vezes na mesma direção. Por exemplo, é muito mais
frequente superestimar nosso conhecimento do que subestimá-lo. Ou en-
tão, o perigo de perdermos alguma coisa: ele nos faz agir muito mais rápido
do que a perspectiva de ganhar alguma coisa. Um matemático falaria de
uma divisão skewed (assimétrica) de nossos erros de pensamento. Que sor-
te: às vezes, a assimetria torna os erros previsíveis.
Para não perder levianamente a capacidade que acumulei ao longo de
minha atividade como escritor e empresário, comecei a listar os erros siste-
máticos de pensamento, junto com anotações e histórias pessoais — sem a
intenção de algum dia publicá-los. Fiz isso só para mim. Logo percebi que
essa lista me era útil não apenas na área do investimento financeiro, mas
também na vida empresarial e particular. Conhecer os erros de pensamen-
to deixou-me mais tranquilo e cauteloso: reconheci as armadilhas do meu
pensamento a tempo e pude evitá-las antes que elas me causassem grandes
danos. E, pela primeira vez, consegui perceber quando outras pessoas
agiam de modo insensato e pude opor-me a elas estando preparado — tal-
vez até com alguma vantagem. Porém, o mais importante foi que, graças a
esse conhecimento, o fantasma da irracionalidade estava banido — eu ti-
nha categorias, conceitos e esclarecimentos à mão para afugentá-lo. Desde
Benjamin Franklin, raios e trovões não se tornaram mais raros, mais fracos
nem mais silenciosos, mas causam menos medo — e assim me sinto desde
então com minha própria irracionalidade.
Em pouco tempo, os amigos aos quais falei a respeito começaram a se
interessar por meu pequeno compêndio. Esse interesse me levou a uma

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A arte de pensar claramente

coluna semanal no Frankfurter Allgemeinen Zeitung e no periódico suíço


SonntagsZeitung, a inúmeras palestras (principalmente para médicos, in-
vestidores, conselhos administrativos e CEOs) e, por fim, a este livro. ­Voilà.
Agora, você tem em mãos não sua felicidade, mas, pelo menos, uma garan-
tia contra uma infelicidade muito grande, que pode ser causada por você
mesmo.

Rolf Dobelli, 2011

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Por que você deveria visitar cemitérios
Viés de sobrevivência

N
ão importa para onde Rick olhe, vê astros do rock por toda par-
te. Eles estão na televisão, nas capas de revistas, na programação
de shows e nas páginas de fãs na internet. Suas músicas não
passam despercebidas — nos shoppings, na sua playlist, na academia. Os
astros do rock estão em todos os lugares. São muitos. E fazem sucesso.
Animado pelo sucesso de inúmeros heróis da guitarra, Rick cria uma ban-
da. Será que vai conseguir fazer sucesso? A probabilidade é pouco maior
que zero. Como tantos, ele deverá acabar no cemitério dos músicos fracas-
sados. Essa sepultura conta com 10 mil vezes mais músicos do que os pal-
cos de shows; contudo, nenhum jornalista se interessa por fracassados — a
não ser pelos superastros em decadência. Isso torna o cemitério invisível
para quem está de fora.
O viés de sobrevivência significa: como no dia a dia o sucesso produz
maior visibilidade do que o fracasso, você superestima sistematicamente a
perspectiva de sucesso. Estando do lado de fora, você sucumbe (tal como
Rick) a uma ilusão. Desconhece quão ínfima é a probabilidade de ser
bem-sucedido.
Por trás de todo escritor de sucesso escondem-se outros cem, cujos livros
não são vendidos. E por trás de cada um desses cem, outros tantos que não
encontraram editora. E, por sua vez, por trás destes, mais cem com um ma-
nuscrito iniciado na gaveta. No entanto, só ouvimos falar dos bem-sucedidos
e desconhecemos quão improvável é o sucesso de um escritor. O mesmo vale
para fotógrafos, empresários, artistas, atletas, arquitetos, prêmios Nobel, apre-
sentadores de programas de televisão e misses. A mídia não tem interesse em

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Por que você deveria visitar cemitérios

procurar nos cemitérios dos fracassados. Tampouco tem competência para


isso. Em outros termos: esse trabalho intelectual tem de ser assumido por
você, caso queira desativar o viés de sobrevivência [survivorship bios].
No mais tardar, você será surpreendido pelo viés de sobrevivência
quando lidar com o tema “dinheiro”. Um amigo cria uma start-up. Você
também faz parte do círculo de investidores potenciais e fareja a oportuni-
dade daquilo que poderia vir a ser a próxima Microsoft. Talvez você tenha
sorte. Qual a situação no momento? O cenário mais provável é que a em-
presa não saia da linha de largada. A próxima probabilidade é a falência
após três anos. Das empresas que sobrevivem aos três primeiros anos, a
maioria encolhe e se transforma em pequena ou média com menos de dez
funcionários. Moral da história: são ofuscadas pela presença midiática das
empresas de sucesso. Isso significa que não se devem correr riscos? Não.
Mas é bom corrê-los tendo consciência de que o diabinho chamado viés
de sobrevivência deforma as probabilidades como um vidro facetado.
Tomemos o índice Dow Jones. Ele consiste apenas em sobreviventes.
De fato, em um índice de ações não são representados os fracassados nem
as empresas que não cresceram — ou seja, a maioria. Um índice de ações
não é representativo para a economia de um país. Assim como a imprensa
não relata de maneira representativa a totalidade dos músicos. A enorme
quantidade de livros e treinadores de sucesso também deveria deixá-lo des-
confiado: afinal, fracassados não escrevem livros nem dão palestras sobre
seus fracassos.
O viés de sobrevivência torna-se bastante complicado quando você
faz parte do grupo de “sobreviventes”. Mesmo quando seu sucesso baseia-
-se em puro acaso, você descobrirá coisas em comum com outras pessoas
bem-sucedidas e tenderá a explicá-las como “fatores de sucesso”. Contudo,
se visitasse o cemitério dos fracassados (pessoas, empresas etc.), iria consta-
tar que, muitas vezes, os supostos “fatores de sucesso” também foram utili-
zados por eles.
Se um número razoável de cientistas pesquisar determinado fenômeno,
alguns desses estudos terão resultados estatisticamente relevantes por puro
acaso — por exemplo, sobre a relação entre o consumo de vinho tinto e o
aumento da expectativa de vida. Desse modo, esses estudos (errôneos) ob-
têm de imediato um alto grau de notoriedade. Um viés de sobrevivência.

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A arte de pensar claramente

Mas agora chega de filosofia. O viés de sobrevivência significa o se-


guinte: você superestima sistematicamente a probabilidade de sucesso.
Como contramedida, visite o máximo que puder as sepulturas dos proje-
tos, dos investimentos e das carreiras que um dia foram muito promissores.
É um passeio triste, mas saudável.

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