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Unidade II
5 CLASSIFICAÇÕES DO EXAME CITOPATOLÓGICO CÉRVICO-VAGINAL
Em 1941, George Papanicolaou propôs uma nomenclatura citopatológica que procurava expressar
se as células observadas eram normais ou não, atribuindo-lhes uma classificação em cinco classes:
• classe II: células atípicas (anormais), mas sem evidência de malignidade, alterações inflamatórias;
Entretanto, essa classificação não se preocupava com a possibilidade de lesões precursoras, apenas
verificava a presença ou a ausência de células malignas. Além disso, não era possível fazer uma correlação
com os aspectos histopatológicos (INCA, 2012).
No final dos anos 1950, James Reagan levou em consideração as alterações histológicas e introduziu
o termo displasia para distinguir o epitélio normal de um epitélio cervical anormal (atípico), bem como
um carcinoma in situ. E essa classificação foi dividida em: normal, com atipia, displasia leve, moderada,
acentuada (que depende do grau de comprometimento da espessura epitelial por células atípicas),
carcinoma in situ e carcinoma escamoso (ou adenocarcinoma). No entanto, o diagnóstico continuava
inespecífico e não fazia uma correlação adequada com o prognóstico da lesão.
Em 1967, Ralph Richart sugere outra nomenclatura para o diagnóstico citológico das alterações
invasivas no epitélio escamoso do colo do útero: Neoplasia Intraepitelial Cervical (NIC), substituindo as
displasias e carcinoma in situ, classificado em:
• neoplasia intraepitelial cervical grau I (NIC I), que se refere à displasia leve;
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CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA
• neoplasia intraepitelial cervical grau II (NIC II), que corresponde à displasia moderada;
• neoplasia intraepitelial cervical grau III (NIC III), que está relacionada à displasia severa e carcinoma
in situ (INCA, 2012).
Esse sistema inclui alterações que se baseiam no acúmulo de dados e nos avanços no conhecimento
do processo do câncer cervical. Estabeleceu-se que, para representar o epitélio escamoso, deve-se usar
a sigla ASC (do inglês Atypical Squamous Cells), que significa atipia de células escamosas. Muitas vezes
podem representar alterações sugestivas de lesão intraepitelial escamosa de baixo grau, no entanto, não
apresentam um resultado, quantitativa ou qualitativamente para a interpretação definitiva.
Atualmente, ASC é subdividida em dois grupos. São eles: ASC-US (do inglês Atypical Squamous Cells
of Undetermined Significance) e ASC-H (do inglês Atypical Squamous Cells Cannot Exclude High-Grade
Squamous Intraepithelial Lesions). A sigla ASC-US significa a presença de atipia de células escamosas
de significado indeterminado. É comum encontrar no laudo citopatológico cérvico-vaginal o resultado de
ASC-US. Entretanto, isso não significa necessariamente que são alterações malignas, pode se tratar
do resultado de uma inflamação, e até desaparecer espontaneamente. A sigla ASC-H (do inglês, Atypical
Squamous Cells Cannot Exclude High-Grade Squamous Intraepithelial Lesions) representa atipia de
células escamosas de significado indeterminado não excluindo lesão de alto grau (INCA, 2012).
Pelo sistema de Bethesda, quando são observadas alterações nas células escamosas, é utilizada a
sigla LSIL (do inglês Lowgrade Squamous Intraepithelial Lesion), que representa uma lesão intraepitelial
escamosa de baixo grau, considerada uma displasia leve e NIC grau I. Ela é causada pela infecção pelo
HPV, podendo haver regressão da lesão em um ou dois anos, porém, a evolução da lesão não pode ser
excluída (PRADO et al., 2012). Quando essas alterações são caracterizadas por alterações na morfologia da
célula, isso é sugestivo de invasão com grande probabilidade de ser uma lesão pré-maligna. Nesse caso, é
utilizada a sigla HSIL (do inglês High Grade Cervical Squamous Intraepithelial Lesion), que significa lesão
intraepitelial escamosa de alto grau, sendo considerada displasia de moderada à severa (NIC graus I e II).
Kulasingam et al. (2006) demonstraram que em mulheres com alteração ASC-US, a prevalência de
ocorrer evolução para HSIL e neoplasia uterina é de cerca de 10%. Em uma LSIL, é menos provável que
ocorra uma progressão para o carcinoma invasino. No entanto, HSIL pode evoluir para um carcinoma
invasivo dependendo da infecção causada por tipos de HPVs oncogênicos (DEMAY, 2005).
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Unidade II
Para representar o epitélio glândular, o termo AGUS (do inglês Atypical Glandular Cells of
Undetermined Significance) foi inserido e significa a presença de atipia de células glandulares de
significado indeterminado. Essas alterações em células epiteliais glandulares podem compreender
células endocerviciais e endometriais, e tais alterações morfológicas significativas podem evoluir para
carcinoma in situ (INCA, 2012).
HSIL HSIL
Classe IV Carcinoma in situ NIC III Adenocarcinoma Adenocarcinoma
in situ in situ
De acordo com Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc, do inglês, International Agency
for research on Cancer), é necessário seguir algumas regras sobre a classificação Bethesda. As principais
diferenças entre a classificação de Bethesda de 1991 e de 2001 são: inclusão de tipo de amostra
coletada, inclusão de testes complementares utilizados e inclusão de informações sobre qual método
automatizado foi utilizado – por exemplo, o teste para identificar o subtipo do HPV (IARC, [s.d.]).
Observação
Além disso, a categoria “diagnóstico descritivo” foi alterada para “interpretação e resultados”. Nessa
classificação é importante indicar qual foi o tipo da amostra utilizada.
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CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA
Tipos de amostra
Adequação da amostra
• Insatisfatório para avaliação: necessário especificar o motivo pelo qual a amostra foi rejeitada ou
não processada (ou especificar o motivo, se a amostra foi processada e avaliada e, no entanto, foi
considerada insatisfatória para avaliação de anormalidade epitelial).
Outra diferença em relação à classificação Bethesda de 1991 é que o termo sobre a “amostra
satisfatória, porém limitada” foi excluído, sendo aceitos os critérios segundo os quais a amostra não é
considerada satisfatória, por exemplo, quando mais de 75% das células estão prejudicadas por sangue
ou inflamação.
A expressão “diagnóstico geral”, presente na classificação de Bethesda de 1991, foi alterada para
“categorização geral”, sendo opcional esse termo no relatório.
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Unidade II
Interpretação e resultado
• Negativo para lesão intraepitelial ou malignidade: quando a paciente não possuir a presença
de células malignas, sempre descrever o fato na categorização geral acima e/ou na seção de
interpretação/resultado do laudo, verificando se apresenta ou não organismos ou outros achados
não neoplásicos.
• Organismos:
— Trichomonas vaginalis;
— atrofia.
• Outros:
Células escamosas
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CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA
• lesão intraepitelial escamosa de alto grau: abrangendo: displasia moderada e acentuada, NIC 2 e NIC 3,
com características suspeitas de invasão (se houver suspeita de invasão);
Células glandulares
• Atípicas: células endocervicais (sem outras especificações ou especificar nos comentários); células
endometriais (sem outras especificações ou especificar nos comentários); células glandulares
(sem outras especificações ou especificar nos comentários).
Em 2014, foi realizada a revisão de Bethesda, na qual recomendou-se que, quando há presença de
células endometriais fora do período menstrual após os 45 anos de idade, é necessário ser relatado
devido à possibilidade de alguma anormalidade glandular no endométrio (DEMAY, 2005). Alguns estudos
demonstraram o aumento do valor preditivo desse achado em mulheres nessa faixa etária (NAYAR;
WILBUR, 2015).
Saiba mais
• citologia convencional;
No momento da entrada da lâmina no laboratório, para ser analisada, deve-se fazer seu registro
e identificação. Se no primeiro momento a lâmina apresentar alguma causa de rejeição, o fato deve
ser notificado.
Além disso, uma amostra será rejeitada em algumas circunstãncias: quando os dados do paciente
forem divergentes do pedido médico; na ausência de amostra e/ou do pedido médico; quando o material
biológico não apresentar identificação ou houver erro na identificação da lâmina e/ou do frasco; em caso
de lâmina danificada ou ausente; quando a identificação da lâmina e/ou do frasco não se apresentar
coincidente com a do formulário por causas alheias ao laboratório. É importante sempre especificar qual
foi a causa da rejeição.
Lembrete
É um resultado citológico dentro dos limites da normalidade no material analisado, cujo resultado
é completamente normal.
A nomenclatura brasileira criou uma categoria separada para todas as atipias em células escamosas (ASC):
células escamosas atípicas de significado indeterminado, possivelmente não neoplásicas (ASC‑US) e de
acordo com a classificação ASC-US de Bethesda. A outra categoria é definida como células escamosas
atípicas de significado indeterminado, não podendo excluir lesão intraepitelial de alto grau (ASC-H),
como na classificação de Bethesda (INCA, 2012).
atípicas de significado indeterminado em que não se pode excluir lesão intraepitelial de alto grau.
Sempre que possível, deve-se mencionar a origem da atipia, seja endocervical, endometrial ou sem
outras especificações (nesse caso, quando existe dificuldade em especificar o local de origem da atipia
celular). Além disso, introduziu-se a categoria “de origem indefinida” para designar aquelas situações
em que não é possível estabelecer com clareza a origem da célula atípica (INCA, 2012).
De acordo com a nomenclatura brasileira de Laudos Citopatológicos cervicais (2012), o termo neoplasia
foi substituído por lesão intraepitelial, pois estabelece duas condições de lesão intraepidelial: de baixo e
alto grau. A lesão intraepitelial escamosa de baixo grau compreende as alterações citopáticas induzidas
pelo HPV, lesão conhecida anteriormente através das classificações da OMS como displasia leve em Richart
como NIC 1. A lesão intraepitelial escamosa de alto grau compreende as lesões denominadas previamente
pelas classificações da OMS e de Richart como displasia moderada/NIC 2 e displasia acentuada/carcinoma
in situ/NIC 3. Além disso, inclui também as lesões intraepiteliais escamosas de alto grau com características
suspeitas de microinvasão (lesão intraepitelial de alto grau, não podendo excluir microinvasão) e carcinoma
escamoso invasor (INCA, 2012).
A revisão de Bethesda (2014) relatou a presença de células endometriais fora do período menstrual
e após os 45 anos de idade (NAYAR; WILBUR, 2015). A presença de células endometriais, em amostra
citopatológica obtida fora do período menstrual ou de mulher na pós-menopausa, sem uso de terapia
hormonal, deve ser investigada mais profundamente, pois pode estar relacionada com anormalidade
glandular no endométrio (DEMAY, 2005).
De acordo com as diretrizes do Inca (2016), são considerados achados microbiológicos normais, por
exemplo: Lactobacillus spp., cocos e outros bacilos que fazem parte da microbiota normal da vagina.
E quando a paciente não possui qualquer sintoma da presença de microrganismos, não é considerada
infecção. No entanto, se a paciente apresenta alguns sintomas, como odor genital desagradável,
corrimento ou prurido na presença de agentes patogênicos, é necessário seguir a rotina de rastreamento
citológico e buscar o tratamento médico adequado.
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CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA
Dessa forma, ficam estabelecidos os critérios da Nomenclatura Brasileira para Laudos Citopatológicos
Cervicais (INCA, 2012) descrita a seguir.
• Escamosas (ASC):
— não podendo excluir lesão intraepitelial de alto grau (ASC-H da classificação de Bethesda).
• Glandulares (AGC):
• De origem indefinida:
• Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau - LSIL (compreendendo efeito citopático pelo HPV e
NIC grau 1).
• Lesão intraepitelial escamosa de alto grau - HSIL (compreendendo NIC graus 2 e 3).
• Adenocarcinoma in situ.
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Unidade II
Microbiologia
• Lactobacillus spp.;
• Outros bacilos;
• Cocos;
• Candida spp.;
• Trichomonas vaginalis;
• Actinomyces spp.;
• Outros a especificar.
Lembrete
O início da coleta deve ser aos 25 anos de idade para as mulheres que já
tiveram ou têm atividade sexual. Os exames periódicos devem seguir até os
64 anos de idade e, nas mulheres sem história prévia de doença neoplásica
pré-invasiva, devem ser interrompidos quando elas tiverem pelo menos dois
exames negativos consecutivos nos últimos cinco anos (INCA, 2011a).
As células da categoria ASC-US, quando são analisadas, sugerem alterações indicativas de lesão
intraepitelial escamosa de baixo grau, porém, são quantitativa ou qualitativamente insuficientes para
uma interpretação definitiva. Essas células apresentam núcleos com, aproximadamente, 2,5 a 3 vezes
a área do núcleo de uma célula intermediária normal. Geralmente, a relação entre núcleo e citoplasma
é discretamente aumentada. Também pode apresentar hipercromasia nuclear e leves irregularidades
na distribuição da cromatina ou na forma nuclear, como ilustra a figura a seguir. A primeira imagem,
designada pela letra A, representa as células escamosas normais e a seta aponta uma célula
intermediária. A imagem B representa a categoria ASC-US e uma das células intermediárias (indicada
pela seta) apresenta núcleo hipercromático, aproximadamente 2,5 vezes maior que o núcleo da célula
intermediária normal vizinha. A imagem C representa uma lesão intraepitelial escamosa de baixo
grau; nessa figura, uma das células intermediárias (indicada pela seta) exibe um núcleo aumentado
com três vezes o tamanho do núcleo da célula normal ao lado, hipercromasia e irregularidades da
borda nuclear.
A) B) C)
As células da categoria ASC-H apresentam-se do tamanho de uma célula metaplásica com núcleos
que podem ser de 1,5 a 2 vezes maiores que aqueles das células metaplásicas normais. Além disso, há
um aumento do núcleo em relação ao citoplasma, que é bem maior do que em uma célula metaplásica
normal e pode apresentar leve hipercromasia e irregularidade nuclear (BARROS et al., 2012). Na imagem
a seguir, a figura A representa o esfregaço cérvico-vaginal de uma mulher com diagnóstico de ASC-H,
em que as células do tipo metaplásico apresentam núcleos aumentados de volume, além de aumento da
relação núcleo e citoplasma. Também há alteração da forma dos núcleos e leve hipercromasia nuclear (na
seta podem ser visualizadas alterações degenerativas nucleares sobrepostas). Na imagem B, o esfregaço
cérvico-vaginal apresenta células de origem metaplásica com aumento nuclear e aumento da relação
núcleo e citoplasma, exibindo uma leve hipercromasia nuclear e uma discreta irregularidade da borda
nuclear (indicado pela seta).
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Unidade II
A) B)
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CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA
Lembrete
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Unidade II
Saiba mais
A lesão intraepitelial escamosa de alto grau acomete as células mais profundas (intermediárias,
parabasais e basais) do epitélio estratificado pavimentoso não queratinizado. Essas células podem ser
observadas no esfregaço cérvico-vaginal isoladas em grupos ou agregados tipo sincício. Além disso,
podem apresentar células parabasais com núcleo aumentado, contornos nucleares irregulares, com
anisocariose e anisocitose em uma população homogênea de células.
Quando observadas do ponto de vista citológico, são caracterizadas por apresentar células do
tipo metaplásico imaturas ou que parecem com as células de reserva, células ovais ou redondas. Há
um aumento em relação a núcleo e citoplasma e também um aumento do volume nuclear, além de
irregularidades marcadas na borda do núcleo e citoplasma delicado, denso ou queratinizado, com
presença de pequenos vacúolos.
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CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA
A evolução do carcinoma escamoso ocorre a partir de etapas precursoras. Por exemplo, a lesão
intraepitelial escamosa de baixo grau pode progredir com o tempo para lesão intraepitelial escamosa de
alto grau, e, finalmente, as células neoplásicas podem romper a membrana basal invadindo o estroma
subjacente e, consequentemente, evoluindo para o carcinoma invasivo. Entretanto, essas etapas não são
necessariamente obrigatórias, e alguns tumores parecem não se iniciar como lesões de baixo grau, mas
acabam evoluindo desde o início de lesões de alto grau.
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Unidade II
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CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA
Figura 22 – Adenocarcinoma in situ. Esfregaço cérvico-vaginal, presença de células endocervicais atípicas com
forma colunar preservada, núcleos volumosos e alongados, com cromatina densa, formando uma roseta
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Unidade II
Observação
A citologia em meio líquido é uma metodologia desenvolvida na década de 1990 para realização de
exames citopatológicos com o intuito de rastrear o câncer do colo do útero. Essa técnica surgiu para resolver
algumas limitações da citologia convencional, como sobreposição celular ou baixa representatividade
celular no esfregaço, causadas por uma coleta inadequada ou até mesmo amostra insuficiente. Diante
disso, foi desenvolvido um sistema que retém apenas as células epiteliais e remove artefatos, sangue
ou muco. Consequentemente, essa metodologia aumenta a sensibilidade, a especificidade e melhora a
eficiência no manejo de amostras e também a produtividade do laboratório. Outro aspecto importante
é a possibilidade de realizar testes complementares, como de biologia molecular, no mesmo material
encaminhado para o estudo citológico.
As principais vantagens são: melhor preservação celular e distribuição das células analisadas;
redução da quantidade de muco, exsudato inflamatório e hemácias; diminuição do tempo de
leitura; possibilidade de se repetir o teste da amostra sem a necessidade de coletar uma nova
amostra; utilização para testes de biologia molecular para vírus como o HPV, Chlamydia trachomatis
e Neisseria gonorrhoeae, entre outros microrganismos patogênicos; e diminuição do número
de amostras insatisfatórias para avaliação. As desvantagens são o alto custo de equipamentos,
manutenção e treinamento técnico.
Novas tecnologias na citologia em meio líquido permitem métodos não automatizados como
liqui‑prep e gel hidroalcoólico, entre outros, além de métodos automatizados como o ThinPrep
(Hologic, Inc.), BD SurePath (Becton, Dickinson and Co.) e GynoPrep (THARMAC GmbH), que permitem
padronização da coleta das amostras, coloração e preparo da lâmina. Dessa forma, há um excelente
controle de qualidade dos testes (BARROS et al., 2012).
BD SurePath (Prep Mate e Prep Stain) são equipamentos automatizados que permitem o
processamento e a coloração das amostras cervicais. Mas, antes de processar a amostra, é necessário
utilizar um kit de coleta contendo uma escova endocervical específica que, após a coleta da amostra
cérvico-vaginal, é colocada em um recipiente com líquido preservante, que mantém as células por um
mês sem refrigeração, em temperatura ambiente (15 ºC a 30 ºC), ou por seis meses em temperatura de
2 ºC a 8 ºC. Depois de fazer a coleta, utiliza-se o equipamento PrepMate que automatiza o processo de
enriquecimento inicial da mistura e distribuição da amostra; posteriormente, a coloração da lâmina é
realizada pelo equipamento automatizado PrepStain. No fim, obtemos resultados padronizados e de alta
qualidade na citologia em meio líquido.
Ele proporciona alta produtividade processando 96 lâminas não coradas a cada 64 minutos e 48
lâminas coradas a cada 60 minutos. Após esse tempo, a lâmina pronta já pode ser analisada.
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CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA
A maioria das técnicas utilizadas na rotina clínica consegue diagnosticar as lesões cervicais, no
entanto, não permitem detectar a presença do vírus. Para determinar o genótipo do vírus são necessários
outros métodos complementares, como reação em cadeia da polimerase (PCR), hibridização in situ,
captura híbrida e citometria de fluxo, entre outros.
O método de PCR foi criado em 1983 por Kary Mullis. Representa uma técnica de biologia molecular
in vitro que gera um milhão de cópias a partir de uma única molécula de DNA, na presença da enzima
DNA polimerase após amplificação de 30 ciclos. A reação de PCR se baseia no anelamento e na extensão
enzimática de um par de oligonucleotídeos utilizados como iniciadores (primers) que delimitam a
sequência de DNA de fita dupla alvo da amplificação.
O avanço das técnicas de biologia molecular permitiu o conhecimento dos genomas de muitos tipos
de HPVs, e o método de PCR mostra-se excelente e o mais sensível para a identificação da genotipagem
do vírus existente nas amostras cérvico-vaginais, auxiliando na resolução do diagnóstico citopatológico
e histopatológico das lesões precursoras do câncer do colo de útero e proporcionando um tratamento
mais apropriado para cada paciente.
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Unidade II
A Captura Híbrida 2 (CH2) é o método molecular utilizado para a detecção de HPV. Essa técnica
baseia‑se na hibridização de DNA do HPV em questão com sondas de RNA específicas contra os
tipos de HPV considerados de baixo risco e alto risco oncogênico em amostras cérvico-vaginais. Após
a desnaturação, há a hibridização, captura dos híbridos, reação dos híbridos com o conjugado e,
posteriormente, a detecção dos híbridos através de quimioluminescência (BAGARELLI; OLIANI, 2004).
Quando o resultado da captura híbrida for negativo e as técnicas de PCR apresentarem resultado
positivo, deve-se considerar o resultado da PCR, pois as técnicas de PCR são realizadas com iniciadores
(primers) específicos para a detecção dos tipos de HPV de baixo e alto risco (RODRIGUES et al., 2009).
6.5.4 Imuno-histoquímica
Histologicamente o condiloma imaturo é uma lesão que ocorre devido à proliferação de células
escamosas imaturas com atipia citológica e está a associada à infecção pelo HPV, geralmente pelos
tipos de HPV de baixo risco, 6 e 11. A definição diagnóstica de condiloma imaturo é dada pelo estudo
histopatológico, muitas vezes sendo necessários testes complementares como a imuno-histoquímica
para os marcadores p16 e CK 17 (BARROS et al., 2012).
Alguns estudos demonstraram o uso de marcadores p16 e Ki-67 para auxíliar no diagnóstico
histopatológico e como marcadores prognósticos das lesões intraepiteliais do colo uterino. Além disso,
sugerem que p16 melhora a concordância diagnóstica de NIC 2 ou lesões mais graves, mas não obtém o
mesmo resultado de forma significativa na categoria de NIC 3 ou lesões mais graves (REUSCHENBACH
et al., 2014).
Resumo
Exercícios
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Unidade II
1,6
1,4
1,2
Fluorescência
1,0
0,8
0,6
0,4 (A)
(B)
0,2
Threshold
0,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
Ciclos
Figura 27
A) O Ct (ciclo threshold) pode ser determinado pela intersecção da linha do limiar de detecção da
reação threshold com a linha da amplificação gênica de cada amostra.
B) O aumento da fluorescência indica que a amplificação da sequência alvo está ocorrendo, pois a
cada ciclo, durante a desnaturação da dupla fita, ocorre liberação da fluorescência.
C) A linha paralela ao eixo referente ao número de ciclos, na altura em que se inicia a fase exponencial
da amplificação gênica, denominado threshold, representa falsos sinais positivos por contaminação
das amostras por DNA genômico.
D) A análise comparativa das duas amostras deve ser realizada a partir da estabilização da
amplificação, que ocorre na fase platô, sendo alcançada no ciclo 28 para a amostra A, e no
ciclo 40, para a amostra B.
A) Alternativa correta.
Justificativa: o Ct marca o ciclo a partir do qual a fluorescência pode ser detectada acima da
fluorescência de ruído. Portanto, para se obter o Ct em um gráfico de fluorescência emitida versus o
número de ciclos, é necessário observar em qual ciclo, no eixo x, o valor da fluorescência atingiu o limiar
(eixo y), ou seja, a partir de qual ciclo a fluorescência detectada pelo equipamento pode ser considerada
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CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: para que haja emissão da fluorescência, não é necessário que ocorra desnaturação da
dupla fita, mas somente a incorporação de fluoróforos à fita complementar sintetizada pela Taq polimerase.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: a linha paralela ao eixo referente ao número de ciclos, na altura em que se inicia a fase
exponencial da amplificação gênica, é denominada limiar ou threshold e indica o valor de fluorescência
a partir do qual é possível detectar sinais específicos, ou seja, acima do ruído de fundo e, portanto, sinais
referentes à fluorescência emitida pelos fragmentos de DNA amplificados durante a reação.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: a análise comparativa das duas amostras deve ser realizada durante a fase log, ou fase
exponencial, que ocorre a partir do ciclo 17 até o ciclo 26 na amostra A e a partir do ciclo 26 até o
ciclo 37 na amostra B.
E) Alternativa incorreta.
Questão 2. (Iades 2016) Acerca da técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR), assinale a
alternativa correta.
A) Três ciclos de reação produzem oito cópias da sequência alvo de DNA, quatro das quais possuem os
mesmos comprimentos e correspondem exatamente a uma ou outra fita da sequência original. As
outras fitas contêm DNA extra que está além da sequência original, replicado nos primeiros ciclos.
B) O molde original para a reação de PCR pode ser tanto DNA ou RNA, de modo que tanto uma cópia
de DNA genômico quanto um cDNA pode ser obtido por PCR.
C) A técnica de PCR vem sendo atualmente substituída pela utilização de anticorpos contra proteínas
da capa viral para detectar a presença de infecções virais em amostras humanas, devido ao fato
de esta última compreender um método de detecção mais sensível.
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Unidade II
D) A amplificação de qualquer sequência de DNA pela técnica de PCR requer que as amostras
biológicas estejam bastante preservadas, inviabilizando a realização do teste em amostras muito
antigas, como fósseis.
E) A PCR é uma técnica muito sensível e tem diversas aplicações em biologia, inclusive na medicina
forense. Uma de suas vantagens é que a polimerase amplifica segmentos de DNA confiáveis,
mesmo em grandes segmentos (maiores que 2 Kb), fazendo com que essa técnica seja amplamente
utilizada na identificação da impressão digital de DNA.
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: três ciclos de reação produzem oito cópias da sequência alvo de DNA, porém os
comprimentos não são iguais. A replicação é semiconservativa, em que uma fita é o molde (antiga) que
irá formar a fita nova.
B) Alternativa correta.
Justificativa: a Reverse Transcriptase-PCR (rtPCR) utiliza RNA como molde e a enzima Transcriptase
reversa, capaz de sintetizar o chamado DNA complementar (cDNA), que será posteriormente amplificado.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: as reações enzimáticas vêm sendo substituídas pelas moleculares, como a técnica de
PCR, que utiliza anticorpos contra proteínas da capa viral para detectar a presença de infecções virais em
amostras humanas devido ao fato de esta última compreender um método de detecção mais sensível.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: os marcadores STR, por exemplo, têm justamente a vantagem de conseguir amplificar
amostras mais degradadas pelo curto comprimento do fragmento de análise.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: uma das limitações da Taq polimerase é que ela só amplifica fragmentos menores que
2kb (2.000 pares de base).
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