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Debieux Rosa. As Escritas Do Ódio
Debieux Rosa. As Escritas Do Ódio
PSICANÁLISE E POLÍTICA
Coleção
Margens: Psicanálise, cultura e política
Dirigida por Miriam Debieux Rosa
Editora
Maria Cristina Rios Magalhães
Conselho Editorial
Prof. Dr. Henrique Figueiredo Carneiro (UNIFOR)
Prof. Dr. Paulo Roberto Ceccarelli (PUC-MG)
Prof. Dr. Gisálio Cerqueira Filho (UFF)
Prof. Dr. Luis Cláudio Figueiredo (USP, PUC-SP)
Profa. Dra. Elisabeth Roudinesco (École Pratique des Hautes Études, FR)
Profa. Dra. Ana Maria Rudge (PUC-RJ)
Comissão Científica
Prof. Dr. Jorge Broide (PUC-SP)
Profa. Dra. Erica Burman (Universidade de Manchester - Inglaterra)
Profa. Dra. Ana Maria Medeiros da Costa (UERJ-RJ)
Prof. Dr. David Pavón-Cuéllar (Universidad Nicolaita-MX) confirmar
Prof. Dr. Paulo Endo (USP-SP)
Prof. Dr. Christian Hoffmann (Universidade Paris - França))
Prof. Dr. Ian Parker (Universidade de Laicester-UK)
Prof. Dr. Daniel Omar Perez (Unicamp-SP)
Prof. Dr. Esteban Radiszcz (Universidad de Chile) confirmar
Prof. Dr. Vladimir Pinheiro Safatle (USP-SP)
Prof. Dr. Edson Luiz André de Souza (UFRGS-RS)
Profa. Dra. Sandra Djambolakdjian Torossian (UFRGS-RS)
??????
Processo Fapesp n. 2016/07663-3
MIRIAM DEBIEUX ROSA
ANA MARIA MEDEIROS DA COSTA
SERGIO PRUDENTE
(ORGANIZADORES)
AS ESCRITAS DO ÓDIO:
PSICANÁLISE E POLÍTICA
© by Editora Escuta para a edição em língua portuguesa
1a edição: setembro de 2018
Capa
Ana Maria Rios Magalhães
Produção editorial
Araide Sanches
ISBN 978-85-7137-398-3
1. Psicanálise. 2. Clínica psicanalítica 3. Dimensão sociopolítica.
4. Sofrimento. I. Título. II. Série.
CDU 159.964.2
CDD 616.8917
Apresentação ...........................................................................................9
Miriam Debieux Rosa, Ana Maria Medeiros da Costa,
Sérgio Eduardo Lima Prudente
Parte I
Ódio e escrita da experiência
Licença para odiar: uma questão para a psicanálise e a política ....15
Miriam Debieux Rosa, Sandra Alencar, Raonna Martins
O discurso do ódio, paixão contemporânea .....................................31
Doris Rinaldi
Odiai-vos uns aos outros .....................................................................41
Oscar Angel Cesarotto
Considerações sobre transmissão e
posição cínica no discurso ...................................................................51
Ana Maria Medeiros da Costa
O retorno das vociferações ..................................................................65
Mauro Mendes Dias
O que é o ódio? De onde ele vem? ......................................................71
Emília Estivalet Broide
Um breve ensaio acerca das fraternidades do corpo ........................79
Sérgio Eduardo Lima Prudente
6 As escritas do ódio
Destrói um, mais um, outro, mais outro, até a terra devastada
— pois não há sujeito sem o outro. Ao modo de Clarice Lispector
(1999), dizemos que, ao destruir o suposto lado do mau, destrói-se
tudo. Ela nos ilumina quanto a isso. Ao saber que um “facínora fora
morto com treze tiros”, ela diz:
se há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o segundo
tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no
quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha,
o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no
nono e no décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro
digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo chamo meu
irmão. O décimo terceiro tiro me assassina — porque eu sou o
outro. (p. 123-4)
E acrescenta a sua posição política — Porque eu quero ser o
outro.
Na direção da complexidade que está em jogo na questão da
verdade, retomamos a análise anterior sobre a guerra civil. O âma-
go desta descoberta está na constatação de que a violência é, funda-
mentalmente, fratricida. Aqui, política e psicanálise nos ajudam a
entender. Tento explicar: a ambivalência está no cerne do sujeito e da
agressividade que habita cada um, ou seja, amor e ódio são dirigidos
ao mesmo objeto e o ódio está sempre presente como potencialidade.
Há duas consequências: não há vencedores na destruição do
outro, pois o objeto destruído não lhe é inteiramente externo e a
destruição retorna de vários modos, seja sobre o sujeito, sobre a co-
munidade a que pertence e ressoa por gerações. Por em ato amor,
ódio ou destruição é escolha e responsabilidade do sujeito — mas
o ultrapassa. Põe em jogo de um lado a trama pulsional do sujeito
e também a trama política, ideológica ou cultural de uma dada co-
munidade que sustenta tal ato. Torna-se um fato social, de respon-
sabilidade coletiva (Rosa, 2016, p. 63).
O que está em pauta é o fundamento da guerra, do ódio, da
destruição do outro e possíveis saídas. Não é simplista e permite
diferentes camadas de leitura — política, histórica, psicanalítica.
Isso posto, retomamos: o ódio é uma problemática clínica e
política, pois instala-se numa economia psíquica e num laço so-
cial que gera discursos e atos. E, mesmo em tempos de laços sociais
Licença para odiar: uma questão para a psicanálise e a política 23
Referências
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completar
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Revista Subjetividades, n. 3, número especial – “A psicanálise e as formas do
político”.
Zizek, S. Eles não sabem o que fazem. Rio de Janeiro: Zahar, 1992.
O discurso do ódio,
uma paixão contemporânea1
Doris Rinaldi
1. Este trabalho tomou com ponto de partida o texto “Ódio, paixão con-
temporânea”, elaborado em coautoria por Doris Rinaldi, Rosana Aguiar
e Manoel Ferreira, membros de Intersecção Psicanalítica do Brasil (IPB)
e apresentado na Jornada Interna da Comissão de Enlace Regional de
Convergencia (Rio de Janeiro, junho de 2016). As alterações introduzidas e
os acréscimos feitos são de minha inteira responsabilidade e fizeram dele,
em parte, outro texto.
32 Doris Rinaldi
Referências
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D.; Coutinho Jorge, M. A. Saber, verdade e gozo. Rio de Janeiro: Rios
Ambiciosos, 2002. p. 25.
Odiai-vos uns aos outros
Oscar Cesarotto
Datação mítica
I. Cain x Abel
II. Horda primitiva
I’. Decálogo: Não matar
II’. Pacto social e obediência retrospectiva
III.O império da lei
Datação lógica
O fratricídio precede ao parricídio?
Datação histórica
Após tantos anos de esplendido isolamento e solilóquio au-
toral, Freud teve pacientes, discípulos, colegas. Nas reuniões das
quartas-feiras, todos dialogavam, expondo ideias germinais; Adler,
Steckel e Jung, interlocutores privilegiados, encartados e descarta-
dos em 1914, na altura de “Introdução ao narcisismo”. Hoje, lemos
tal artigo inesgotável de maneira anacrônica, desde Lacan. O pio-
neirismo possibilitou os avanços deste, inaugurando seu seminário
com a “tópica do imaginário”, baseada em três escritos coinciden-
tes: “A agressividade em psicanálise” (1948); “O estádio do espelho
como formador da função do eu” (1949); “Algumas reflexões sobre
o eu” (1951). Cotejando as leituras, surgem questões correlatas que
42 Oscar Cesarotto
*
**
Odiai-vos uns aos outros 43
*
**
Referências
não dá conta e que ali ficam até que o “pescador” os traga como um
interpretante do que restou, do que não se enlaça à “simples fala”.
Sua obra inacabada “Passagens” é um testemunho desses restos,
como uma versão de um real em causa no século XIX, que retorna e
insiste nos séculos posteriores.
Mas como fazer passar esses restos? E aqui Arendt traz uma
particularidade da posição de Benjamin, que vai situar também nos
outros autores abordados, o dom de pensar poeticamente: “Esse
pensar, alimentado pelo presente, trabalho com os ‘fragmentos do
pensamento’ que consegue extorquir do passado e reunir sobre si”
(p. 176). Fragmentos que remeteriam a um fenômeno originário
e não à História, não a uma recuperação nostálgica. O originário,
em Benjamin, diz respeito a algo que incide na nossa referência à
linguagem.
Os ensaios de Arendt trazem questões que também interes-
sam à psicanálise. Situar a articulação entre experiência singular e a
relação ao laço discursivo coloca em causa muitos elementos de que
a psicanálise se ocupa, sendo a referência a Walter Benjamin uma
via de interlocução importante. Antes de passar às contribuições da
psicanálise, farei referência a outro autor — Giorgio Agamben —
que também se utiliza de construções benjaminianas. Em seu artigo
O que é o contemporâneo ocupa-se de pensar o que resiste na apreen-
são que fazemos do tempo em que vivemos. Também se utiliza do
tema da “sombra”, remetendo-o à questão do originário. Esse autor
propõe que em toda apreensão do contemporâneo temos uma zona
de sombra, algo inapreensível nas análises que fazemos do tempo em
que se vive. Com este autor, trago aqui outro elemento na referência
ao pensamento, o tema do saber. Numa releitura de Benjamin, ele si-
tua o originário do lado de nossa relação à linguagem, na medida em
que a referência ao saber inclui o que da origem resta incognoscível.
Assim, o escuro pode equivaler-se a um olhar inatingível, suspenso
— na sua expressão — a um “ainda não” e um “já não mais”. Um
tempo inexistente, mas ainda assim operante, que insiste na nossa
relação ao saber. Ou seja, acrescenta-nos ao tema da verdade, que si-
tuei em Arendt, a articulação entre saber e tempo.
“Sombrio” e “escuro”, no campo dos autores, remete às con-
dições de produção da fala e do pensamento, na relação que
54 Ana Costa
na clássica afirmação: “eu sei, mas mesmo assim”. Esse “eu” que diz
“sei” reconhece que o traço que o sustenta depende da pantomima,
então ele busca brandi-lo à exaustão, porque faz seguidores. Isso
porque lá onde o traço torna-se índice de fascínio, na medida em
que nada parece encobrir, serve para acalentar a ilusão de que nada
falta.
Retomando o filme, podemos dizer que, num primeiro tempo
— instante de ver — se sabe que houve ditadura, se sabe que houve
luta armada, se sabe que houve desaparecidos e que foram mortos.
Aqui estamos no campo da informação, de um “se sabe” anônimo
e desimplicado. Pertence ao que poderíamos nomear de evidência,
que os meios de informação manipulam — uns mais, outros me-
nos — de acordo com seus interesses. É a evidência pertencente ao
instante de ver, um “eu vejo, eu sei” sem implicação e que poderia
ter qualquer texto para justificar diferentes posições. Toda a propo-
sição da informação, constituída pela mídia, permite uma clivagem
entre enunciado e experiência. O jogo da informação, veiculado co-
tidianamente pela TV, ou meio digital, constitui uma relação a um
saber desimplicado, um saber que não constitui experiência. É, en-
tão, o campo da experiência que evoco para situar onde se dá uma
implicação. Porque nesse “eu vejo, eu sei”, que se constitui como
evidência, o sujeito está excluído. Ou seja, dispensa a experiência,
economiza, ou mesmo dispensa a inclusão.
Freud tratou de uma relação particular com o saber, na cons-
tituição de uma clivagem responsável pela manutenção de repre-
sentações opostas, tal como situei na pantomima da posição cínica.
Há uma particular elisão do sujeito na relação com o olhar, com a
manutenção lado a lado de registros contraditórios. Isso que per-
tence ao campo do olhar (evidência) situa um instantâneo da ima-
gem em que “se sabe”, dispensando a experiência. Essas questões
dizem respeito a quando a saída se dá no primeiro tempo, o instan-
te de ver do tempo lógico.
No filme, temos também o lugar do personagem Telmo, cons-
tituindo uma outra posição no saber, na medida em que viveu aqui-
lo que trata de construir na peça. Suporíamos que só ele sabe, visto
que presenciou. Ele sabe, mas também não sabe: o branco na me-
mória traz uma formação do inconsciente, algo do campo de uma
62 Ana Costa
Referências
Referências
Coerção, silenciamento
Referências
A fraternidade
Referências
Ilana Mountian
Introdução
O Outro:
intersecções de gênero, sexualidade, raça e classe
isso não quero dizer que as relações de poder não estejam presentes
na construção histórica dessas posições discursivas. Como Butler
(2006) aponta em seu debate sobre política identitária, há opressões
históricas, social e culturalmente localizadas que os grupos sofrem.
Um exemplo disso seriam as diversas formas de opressão de mu-
lheres em sociedades patriarcais. No entanto, as posições identitá-
rias do sujeito não são homogêneas. Colocando como tarefa “no
interior dessa estrutura constituída, uma crítica às categorias de
identidade que as estruturas jurídicas contemporâneas engendram,
naturalizam e imobilizam” (Butler, 2006, p. 22).
A teoria psicanalítica pode contribuir a interrogar essa cons-
trução de alteridade através da (re)atuação cotidiana de relações de
poder, atravessadas por categorias como gênero, raça, classe e se-
xualidade. Como Ahmed (2000) aponta, para evitar o “fetichismo
do estranho” é necessário interrogar as relações sociais que estão na
fundação de tais encontros, “relações sociais que são ocultadas por
esse exato fetichismo” (p. 6). Por outro lado, a psicanálise é central
para dar conta da importância da dimensão do desejo (Freud 1900;
Lacan 1962) para o sujeito, visando a desconstrução de posições fi-
xas discursivas, nesse sentido, o questionamento sobre qual o dese-
jo do Outro, torna-se fundamental.
Em relação à escuta psicanalítica, destaco aqui a importância
em se considerar as especificidades do encontro com o imigrante,
os efeitos subjetivos do próprio processo de imigração e a necessi-
dade em rever o nosso entendimento do sujeito enquanto o Outro,
o que não quer dizer anular as diferenças. Neste ponto, retomo os
desafios deixados à psicanálise, mais precisamente sobre como é
possível escutar o Outro.
O Outro e a psicanálise:
política e posicionamento
Sobre a escuta:
posicionamentos da psicanálise
Considerações finais
Referências
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Escuta psicanalítica e alteridade 103
Referências
O risco de que este “nós” possa produzir uma fala que aliena e
homogeniza o sujeito, trazendo uma suposta resposta diante da au-
sência de identidade dele consigo mesmo, não é para ser ignorado,
é para ser enfrentado com todo rigor teórico que a psicanálise tem
condição de fazer. Como aponta Fanon (2008), “... pensamos que
130 Ana Paula Musatti Braga, Priscila Santos de Souza
olhar, devorar sem freios e sem pudor, como nos mostra o prefeito
carioca. Acreditamos que isso nos ajude a reler diversos casos rela-
tados nas pesquisas psicanalíticas brasileiras.
Tomemos o caso de Maria, paciente de José Thiago Reis Filho
(2005) como exemplar. Ela chega dizendo que precisa parar de se
mutilar e que sentia seu corpo como um fardo. Desde a adolescên-
cia queria ser invisível e procurava não chamar a atenção. No mo-
mento que começa a menstruar é um momento em que o espelho
fica insuportável:
Um dia se viu mergulhada em uma angústia tão grande que come-
çou a se bater, não conseguiu ver-se no espelho ou o que viu “não
era ela”. Passou a ter crises cada vez mais constantes e se “mutilava”.
(Reis Filho, 2005, p. 108)
Maria era filha de um pai negro e de uma mãe branca que fa-
zia críticas à família do marido, dizendo que as cunhadas, negras,
gostavam de se mostrar e não se davam ao respeito. O que estamos
tentando apontar é a complexidade que há em habitar o corpo de
uma mulher negra: durante séculos não houve respeito para com as
mulheres negras, então, o que significaria se dar ao respeito? Como
fazer com que o outro respeite um corpo identificado no imaginá-
rio social como aquele em relação ao qual supõe-se que não há ne-
cessidade de pudor, segredos ou respeito algum: fazendo seu corpo
invisível? Como colocar alguma barreira ao acesso desmedido em
relação ao seu corpo por parte de um outro que se sente autorizado
por uma licenciosidade social (Aragão, 1991): mutilando-o?
Ao tomar a pesquisa de Neusa Souza (1990), por exemplo,
muitas vezes o que é salientado é que seus depoentes se refeririam
ao próprio corpo com desprezo, vergonha e hostilidade ao “beiço
grosso” do negro, ao “nariz chato e grosso”, ao “cabelo ruim”, ao
“bundão”, ao “primitivismo sexual”. Sim, os depoentes apontam esta
relação com um corpo supostamente desvalorizado e o que se en-
tende é que isso seria consequência da internalização de um Ideal
de Eu branco. As marcas de um corpo negro são apontadas como
uma decepção de não conseguir alcançar os padrões deste supos-
to ideal, maciçamente imposto pela cultura. Mas lembremos do que
Isildinha Batista (1999) defende no seu texto O corpo da mulher
Racismo e sexismo 137
Considerações finais
Referências
3. Cito Lacan a respeito deste que ficou conhecido como o “mito da peste” de
Freud: “É assim que o dito de Freud a Jung, de cuja boca o ouvi, quando,
ambos convidados da Univerdade Clark, avistaram o porto de NovaYork e
a célebre estátua que ilumina o universo, “Eles não sabem que lhes estamos
trazendo a peste” é-lhe devolvido como sanção por uma arrogância cuja
antífrase e perfídia não extinguem seu brilho perturbador.” In: Escritos,
1998, p. 404.
152 Ana Luiz Andrade
Referências
1. Há uma discussão sobre o fim destes termos, tais como Novas Mídias,
Midias Tradicionais, ou seja, para pesquisadores que pensam sobre o
pós-digital não caberia mais esta distinção. Uso ainda os termos pois
acredito que ainda há distinção entre jornais, revistas, televisão, rádio etc e
Facebook, Twitter etc. Também me parece que o próprio termo “pós-digi-
tal” carrega uma carga de desilusão com as novas tecnologias.
170 João Angelo Fantini
4. Não vou me deter neste artigo sobre este conceito, que afirma que que cada
indivíduo forma parte de una matriz de categorias e contextos e será de
algum modo privilegiado e outros contextos desfavorecido.
174 João Angelo Fantini
Referências
14. (...) Como Hegel afirmou, o que morre na cruz não é o representante
terreno e finito de Deus, mas o próprio Deus, o Deus transcendente do
além. Os dois termos da oposição, Pai e Filho, o Deus substancial como em
si absoluto e o Deus para nós, ou revelado para nós, morrem, ou seja, são
suprassumidos no Espírito Santo. (...). Isso significa que, apesar de todo o
seu poder fundador, o Espírito é um ente virtual, no sentido de que seu
status é aquele de um pressuposto subjetivo: ele só existe na medida em
que o sujeito age como se ele existisse. Seu status é semelhante àquele de
uma causa ideológica, como o comunismo ou a Nação (Zizek & Milbank,
2014. p. 108).
180 João Angelo Fantini
16-cada-macaco-no-seu-galho---zuckerman.shtml
A ‘democratização’
1. Para mais detalhes sobre essa junção entre a cultura hacker e comunitá-
ria, recomendo Castells (2003). Para Castells, enquanto a cultura hacker
forneceu os fundamentos tecnológicos da internet, a cultura comunitária
moldou as formas sociais.
De promessa de “emancipação” à disseminação do ódio 183
estranho no mesmo plano que eles estão” (p. 114). De certa forma,
aqui se concentraria o que poderia justificar a fragilidade da socie-
dade idealizada ‘emancipada’ que foi vislumbrada tanto por Castells
como por Lévy. Pois, mesmo que digitalizada e favorável às redes e
agrupamentos, a ‘sociedade digital’ é constituída por seres humanos
e por isso é passível de suas constituições psíquicas e dos efeitos de
formações coletivas. É agrupamento que pode acirrar ou afrouxar a
potência social.
O que tivemos em imagem foi uma guerra ‘político-ideológi-
ca’, na qual dispositivos como o Facebook e o Twitter foram trans-
formados em grandes expositores da intolerância ou hostilidade
inerentes aos laços; da ‘inclinação à agressão’ que, segundo Freud é
“através da qual a coesão entre membros da comunidade é tornada
mais fácil” (p. 119), ou seja, em torno da qual também o Um unifi-
cante ou homogeneizante opera. Neste sentido, a potencialidade de
questionar o campo político e saber fazer com o conflito e crítica,
como sugere a política, deram espaço ao seu contrário. O ativismo
presente nas redes sociais passou, em grande parte, a ser apenas
uma resposta reativa sustentada pelo ressentimento e, então, o ima-
ginário tornou-se despolitizado.
Além disso, outro aspecto que contribuiu é o algoritmo uti-
lizado nas redes que acabam por sustentar a formação de ‘bolhas’.
Ao indicarem conteúdos de maior interesse aos seus usuários, os
grupos acabam falando para si, retroalimentando as similaridades
e também as diferenças e fazendo crer em sua ‘razão ideológica’. De
acordo com Ethan Zuckerman (2017):
Com a ascensão dos sites de busca, a navegação baseada em inte-
resses passou a nos conduzir à segregação ideológica, seja por cau-
sa dos tópicos que selecionamos, seja pela linguagem que usamos.
Não espere fazer amigos conservadores em um site de culinária
vegetariana, da mesma forma que buscar progressistas em um site
sobre caça pode ser frustrante.(...)
O que a mídia social oferece de diferente não é a possibilidade de
escolhermos os pontos de vista com os quais entraremos em con-
tato, mas sim o fato de que muitas vezes não estamos cientes das
escolhas.
A coesão de uma comunidade ou de um grupo, como afirma
De promessa de “emancipação” à disseminação do ódio 193
Referências
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lítica democrática radical. São Paulo: Intermeios, 2015.
Quinet, A. Os outros em Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2012.
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Zuckerman, E. Redes sociais criam bolhas ideológicas inacessíveis a quem
pensa diferente. 2017. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ilus-
trissima/2017/09/1920816-cada-macaco-no-seu-galho---zuckerman.shtml>.
Acesso em: 5 mar. 2018.
Rap: o “efeito colateral” da
segregação
mano, quebrada, ter moral, entre outros tantos que, além de ofere-
cer sentido às experiências de jovens das periferias, também per-
mitem a partilha pública dessas experiências. E isso em uma chave
na qual a fala não se dirige apenas à periferia, mas também fala pela
periferia.
Com efeito, abordar os jovens desde outra perspectiva, que
realce seu modo de fazer laço social, pode interrogar a premis-
sa de que a violência é algo dado, e de que sem a presença de um
poder soberano o caos se instala inexoravelmente. E é isso que
tais movimentos, singulares e orgânicos das periferias — que não
se resumem a formas de expressão da privação e da exceção, mas
constituem soluções originais e criativas, e com forte compromisso
com a transformação social — vêm sistematicamente interrogando.
Ademais, tais soluções nos oferecem material para refletir sobre as
condições de possibilidade de formação de grupos que permitam
escapar da irracionalidade das massas, uma forma de coletivizar os
sujeitos sem que para isso seja preciso haver uma uniformidade de
ideais particulares, quer seja sob a forma de imposição de um único
objeto de satisfação, quer seja pela miragem de um mesmo ideal.
Considerações finais
Referências
Referências
Esteban Radiszcz
prolonga, como lo observa Freud (1933b), según los medios del de-
recho en cuyo nombre, a su vez, se perpetúa la desigualdad entre
“varones y mujeres, padres e hijos, […] vencedores y vencidos, […]
amos y esclavos” (p. 189). Como lo hemos visto, se trata de un par-
ticular arreglo de la culpa, el crimen y el castigo de acuerdo al cual
la soberanía del superyó se vale, hasta el extremo, de la agresividad
engendrada por el drama especular para imponer el imperio de su
condena a destinos funestos. Pero, lejos de implicar algún supuesto
arcaísmo de la conciencia moral o alguna pretendida deficiencia de
la sentimiento de culpabilidad, ello concierne una modalidad espe-
cífica de aquello que, para Balibar (2007), sostiene el giro freudiano
respecto de “la relación de un sujeto […] a un universo — igual-
mente específico, agregaríamos nosotros — de coacción y obliga-
ción, sin exterior ni escapatoria”, el cual configura “un tejido de
contradicciones insolubles” (p. 57). Es decir, se trata de una varian-
te de los destinos de ley en la subjetividad que, tributaria del poder
soberano, cabría distinguir como régimen soberano del superyó y di-
ferenciar de otras formas diversas de su ejercicio, particularmente,
de aquella donde su acción se articula conforme a la vigilancia y la
rectificación.
En efecto, más allá de la hipótesis represiva y a pesar del lu-
gar perentorio que Foucault (1976) concede en ella a Freud, las
maneras según las cuales éste último se refiere, con frecuencia, al
proceder del superyó no resultan para nada ajenas de las manio-
bras de normalización y corrección destacadas por Foucault (1975)
a propósito del poder disciplinar. Las potestades sancionatorias y
punitivas del superyó, así como sus disposiciones proscriptoras y
prohibitivas, no impiden a Freud (1933a) discernir paralelamente a
éste como el severo “abogado del afán de perfección” (p. 62) o el
intransigente promotor de “determinadas normas de conducta sin
atender a las dificultades” (p. 73). Participando en labores de “guía”,
de “gobierno” y, aún, de “educación” (p. 58), el superyó comporta
facultades de observación sostenida que, llegando incluso a fisca-
lizar motivos caídos bajo represión, admite atributos por entero
semejantes a los que Foucault (1975) reconoce en el panoptismo
de la disciplina penal. Detentor de una vigilancia ubicua, el su-
peryó igualmente opera según una modalidad donde la sanción o
254 Esteban Radiszcz
vinculación entre sí. Muy por el contrario, las más de las veces, el
superyó se vale de expedientes tanto de uno como de otro régimen
conforme a modulaciones heteróclitas y, probablemente, heterogé-
neas en cada caso. Como lo indicamos, incluso en Ricardo III re-
sultaría espurio atribuir todo proceder del superyó al exclusivo
imperio del régimen soberano, sin admitir además la incidencia del
régimen disciplinar en, al menos, la pesadilla de Glóster, su poste-
rior división subjetiva y su ulterior desprecio de la culpa cobarde
conciencia. Sin duda, esta consideración añade aún más preguntas
en torno a las multiplicidad de los arreglos de la ley en lo incons-
ciente conforme a la diversidad de participaciones entre uno y otro
régimen. No obstante, la diferenciación de regímenes del superyó
según variantes en el ejercicio del poder tiene, a nuestro juicio, no
sólo el valor de destacar la, con frecuencia escamoteada, condición
sensiblemente política del superyó, sino también la ventaja de evi-
tar las demasiado usuales derivas deficitaristas o evolutivas, cuyos
propósitos moralizantes y normalizantes nos merecen múltiples ob-
jeciones tanto teóricas y técnicas como éticas y políticas.
Referências
Caterina Koltai
Referências
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268 Caterina Koltai
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O mal-estar na democracia
Ivan Estêvão
Introdução
Parte 1
Mal-estar
Parte II
Estruturação
Outro, grafado por Lacan como S(). O que começa a ficar claro,
em toda a volta que demos até então, é que se trata na estruturação
e subjetividade de criar um sistema que aparte o sujeito do vazio e
desamparo primordial que aparece como contingência e não com-
plementaridade (o que Lacan também chamará de não relação se-
xual), elementos do registro do Real.
Nesse processo, algo fica de fora, algo cai, o que Lacan chama
de objeto a, tornando-se assim um resto do Real que não se inscre-
ve, operando como objeto causa de desejo e que pode ser tomado
também como um dos suportes que levam a sustentação da moda-
lidade Real do Mal-Estar. Algumas operações advêm daí: uma vez
que o Outro é inscrito como faltoso, há de se tentar recriar esse
Outro absoluto para poder se sentir amparado novamente ou ain-
da, o que dá no mesmo, há de se buscar complementaridade em al-
gum outro lugar/pessoa.
Esse processo institui 4 pontos:
1. Um Eu-ideal, miragem de uma suposição do que foi em um pas-
sado mítico plenamente amparado;
2. Um suposto Outro Absoluto, que está em algum lugar;
3. Um Eu, ou seja, construção alienante do que se supõe ser;
4. Um Ideal de Eu (ou Ideal do Outro): ideal de recuperação do es-
tado de plenitude do Eu-Ideal perdido e que se pode, seguindo
as exigências do Outro, voltar a atingir. O Ideal de Eu é a mira-
gem que o Eu sustenta para manter a possibilidade de haver uma
complementariedade futura.
Cria-se todo o sistema que se sobrepõe ao sujeito: o Eu as-
sume o lugar do sujeito como um sistema constituído a partir das
identificações, tomando o outro (pequeno outro) como suporte
destas identificações2 que dão a medida das ações de cada um. O
Eu move-se no sentido de sustentar sua auto-imagem supostamente
direcionando-o ao encontro de uma complementariedade, de uma
felicidade ou gozo perdido que se busca (re)encontrar. O Ideal de
Figura 1
O esquema R (Lacan, 1998, p. 559)
Parte III
Ditadura e democracia
Conclusão
Referências
Paulo Endo
que fala já é uma violência que pretende ter razão; é uma violência
que se situa na órbita da razão e que já começa a se negar como
violência.(p. 60)
Esse sentido, a princípio um tanto prescritivo, sobre o ponto
de tangenciamento entre violência e linguagem, revelaria uma ta-
refa sublimatória conferida à linguagem, relativamente à pulsão de
destruição. Mas também posicionaria a violência como outro da
linguagem. Um como iminência do outro; um como borda no qual
o outro se reconhece em abismo.
Mas é preciso também atentar para a violência que fala. Ela
fala sob a forma da ameaça, da suspeita, do comando e mesmo
da lei lavrada e aplicada. Não se trata, evidentemente, de lingua-
gem como lugar onde distinções são preservadas e singularida-
des são exercidas, mas de sua execução e ataque à linguagem por
obra do discurso autocrático que preserva para si a última palavra1
E em seguida:
Todo Estado se fundamenta na força’, disse Trotski em Brest-
Litovsk. Isso é realmente certo. Se não existissem instituições so-
ciais que conhecessem o uso da violência, então o conceito de
“Estado” seria eliminado, e surgiria uma situação que poderíamos
designar como “anarquia”, no sentido específico da palavra. É cla-
ro que a força não é, certamente, o meio normal nem o único, do
Estado — ninguém o afirma — mas um meio específico do Estado.
(p. 56 )
Hannah Arendt, incidindo crítica obre essa posição de Weber,
coloca em questão a definição de Estado e poder que teria como
seu corolário a violência, e que teria povoado a obra dos prin-
cipais pensadores políticos modernos, a partir da evidência de
que essa articulação supõe que a relação de poder seria constituí-
da pela ideia de dominação, de subalternização e, portanto, seria
em si mesma incapaz de sustentar a forma e a substância de uma
república.
Porém, como vimos, uma longa tradição do pensamento po-
lítico, ratifica a dominação, como um dos mais importantes atribu-
tos do Estado, dos governos e da preservação das leis e introduz, no
cerne mesmo da lei, o sentido da obediência a ela. Devemos, em
última e primeira instância, obedecermos a lei. A espada pública,
de Hobbes, é o último patamar do poder e a violência, a egrégia ga-
rantidora da obediência à essas mesmas leis.
Mas esse sentido das leis revela ao menos dois perigos: pri-
meiro o de que a obrigação à submissão às leis, confira, digamos,
por decreto uma submissão aos legisladores, aos operadores do di-
reito e assim por diante. O cidadão comum deve, por eles, ser sub-
metido porque submeter-se a eles significaria submeter-se à Lei.
Seriam todos beneficiários da violência aplicável pelo Estado a fim
de colher daí a obediência às leis, e o medo o sentimento necessário
que garantiria a ordem e a obediência.
O risco da violência iminente seria, portanto, o que garanti-
ria uma definição de sociedade pacificada pautadas pela contínua
ameaça e temor. O medo assumiria, implicitamente, um lugar egré-
gio para o bom convívio social e a violência o termo que executaria
Violência, democracia e linguagem 305
Referências
Daniel Coelho
Cultura de paz
1. http://www.comitepaz.org.br/a_unesco_e_a_c.htm
2. Fonte: http://www.comitepaz.org.br/a_unesco_e_a_c.htm
312 Daniel Coelho
“À paz perpétua”
Ética e ambivalência
morte satisfazia o ódio, mas era preciso dar destino também à cor-
rente afetiva amistosa, o que frequentemente se fazia mediante tais
ritos. Essa ambivalência de sentimentos quanto ao morto seria o de
ponto de partida para a especulação filosófica e para a ética. O sen-
timento de culpa nos colocaria, talvez, cara a cara com “o príncipe
mau em nós mesmos”. Freud lamenta, no texto, que seus contem-
porâneos tenham perdido a sensibilidade ética dos antigos: aos que
retornavam das trincheiras da primeira grande guerra, nenhum tra-
tamento diferente era dado. Nenhum tabu era erigido quanto a eles,
nenhuma purificação lhes era oferecida. Nenhuma reflexão quanto
a seus atos lhes era exigida.
Nosso fascínio e nosso horror diante do mito que Freud nos
apresenta em “Totem e tabu” (1912-1913) frequentemente esquece
que a pesquisa antropológica apresentada por Freud vem na estei-
ra dos seus dados clínicos, como uma tentativa de esclarecimento
deles. São tais dados que apontam, primeiramente, para a ambiva-
lência dos sentimentos e seu tratamento pela formação do totem
e do tabu — pelo “retorno” do totemismo na infância. Por trás da
fascinante cena original da humanidade, temos as banais cenas ori-
ginais da infância de cada um, nas quais, tentamos efetivamente ma-
tar, ainda que nossa agressão tenha sido marcada pela impotência
dos corpos infantis. Dessa forma, o mito é a elaboração teórica do
material clínico. O fim apoteótico do texto, novamente com uma
citação de Goethe — “no princípio foi o Ato” (Freud, 1912-1913,
p. 244) — deve recuperar essa dimensão específica, ou seja, não o
princípio do mundo, ou o princípio da humanidade, mas o princí-
pio de uma pessoa. Pode-se discutir muito sobre o Ato da Origem
da Humanidade, mas não parece que haja muita discussão sobre os
atos do início da vida de cada um.
Gewalt
Honrar a violência
3. https://pt.wikisource.org/wiki/Carta_de_Albert_Einstein_para_Franklin_
Delano_Roosevelt
“Cultura da Paz” 317
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Spyvak, G. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.
A hipótese de um vínculo de
libertação no contexto do “poder
exacerbado” no Brasil
Pablo Castanho
é vista como trivial no nosso meio hoje. Neste ponto, vale subli-
nhar que a psicanálise não era estranha a Paulo Freire, sendo Erich
Fromm, para ele, um autor de referência ao pensar as questões da
opressão. Nesta linha, notemos que o psicanalista alemão teria dito
sobre o trabalho de Paulo Freire que “uma prática educativa assim é
uma espécie de psicanálise histórico-sociocultural e política” (apud
Freire, 2015, p. 77). Depois do trabalho de Piera Aulagnier (1984)
sobre a historicidade e da crescente importância que vem sendo
dada à intersubjetividade na psicanálise contemporânea, tais quali-
ficativos atribuídos à psicanálise geram muito menos surpresa hoje
e podem até soar redundantes para alguns ouvidos mais seletos. O
que não dizer então da relação do autor pernambucano com o lega-
do do criador dos grupos operativos Enrique Pichon-Rivière? Nas
palestras e diálogos com Paulo Freire em 1993 na Primera Escuela
Privada de Psicologia Social, em Buenos Aires, instituição fundada
por Pichon-Rivière (registrados em Freire; Quiroga, 1995), eviden-
ciam-se interesses e sensibilidades comuns entre os autores. Ainda
assim, é lícito dizer que leituras ou apropriações psicanalíticas das
proposições freirianas permanecem raríssimas.1
Mesmo neste texto, tateia-se um campo extremamente hete-
rogêneo altercando-se os olhares teóricos sobre as questões que
a prática suscita. A discussão sobre o “poder exacerbado” inicia a
nossa reflexão, impondo um diálogo preliminar com Jessé Souza e
Martin-Baró. Na sequência, o artigo se debruça sobre algumas vi-
nhetas da vida profissional, interrogando os modos como o “poder
exacerbado” marca a vida de crianças e adolescentes vulneráveis,
especialmente no que concerne a sua educação e criação. A circu-
laridade entre oprimido e opressor, a oscilação e complementarida-
de entre autoritarismo e licenciosidade e a raiva justa são temas que
se impõe e interrogam as teorias psicanalíticas de grupo. A conclu-
são almeja um passo rumo a uma articulação entre Paulo Freire e
a Psicanálise, ao retomar discussões sobre as alianças inconscientes
(Kaës, 2009) e a hipótese de um vínculo de libertação (Castanho,
Referências
Introdução
seria então por outro significante que não a panela, agora vazia,
deixada ao uso musical e instrumento de manifestação da insatisfa-
ção política o que se encontrará como significante articulador desta
reversão da fantasia ideológica.
O contexto do “Panelaço”
já que sempre será uma lei sem forma de lei, o vizinho parece go-
zar mais e mais, percebe-se, portanto, que o condomínio não é
uma comunidade, pois falta-lhe um líder que funcione como ideal.
Finalmente a formação do sintoma, que Dunker (2015) elenca al-
guns, cito: “o adolescente sem limite, a dona de casa desesperada, a
criança cujo cuidado é subempreitado, o pai de família casado com
seu trabalho, o funcionário impessoal” (p. 57). Aqui o panelaço for-
nece a substância popular para as manobras jurídicas, as aplicações
seletivas ou transitórias da lei no interior dos diferentes processos
jurídicos necessários para operar a destituição da presidente.
No quarto tempo o panelaço torna-se vergonha e luto. Nas
sacadas e janelas, também não se formam mais grupos, não se rei-
vindica por um projeto coletivo ou uma mudança social. A ex-
ternalização do descontentamento pessoal não evolui para um
compromisso com o novo estado de coisas. A exceção foi produzida,
mas ninguém é virtualmente responsável por ela. Ninguém apoiou
Temer, mas apenas não Dilma. Sua deposição não exprime um
projeto ou traz à luz a realização de um fim. Esta ausência de
sentido, esta lacuna de implicação é o próprio instante de alienação
da fantasia fundamental quando ela processa a inversão ideológica
da demanda. O que se pode encontrar neste quarto tempo é a
exploração secundária do panelaço para justificar a emergência
da reposição do significante mestre, como nome da ordem, como
expressão Quando a voz do ódio toma as ruas, clama pela presen-
ça de um pai poderoso, o exército, a polícia o estado de exceção de
fato. O instante de exceção é ao mesmo tempo o ponto máximo de
alienação e a possibilidade de separação. Aparentemente a escrita do
ódio subsequente parece indicar a primeira solução.
Quando o ódio passa ao escrito, quando ele se faz história e se
erige em lei, ele se vê apropriado por outros discursos metonimica-
mente, que procuram suturar sua emergência pela via da repetição.
Por isso há sempre outro golpe dento do golpe. Por isso ele é uma
série e não um evento de exceção. A fantasia ideológica parece ser
que o sujeito compra a esperança de entrar na sua cidade medieval
deixando para fora toda exceção, mas acaba entrando num campo
de concentração sem se dar conta, sofrendo assim as consequências
desta escolha em forma de sintoma. Por isso, o perigo de demandar
362 Nadir Lara Jr., Marcus Teschainner, Christian Ingo L. Dunker
Considerações finais
Referências
Jorge Broide
O Caso
A violência do Estado
de rua e seus efeitos fossem tão grandes e diz que a multa existe
sim, e que é uma grande perversidade. Abre o Código penal e mos-
tra que a multa faz parte da sentença. Ali está escrito que para to-
dos os crimes contra o patrimônio, incluindo tráfico de drogas é
pena de “x anos de reclusão, mais multa.”.
Esta começa a contar a partir do momento da prisão.
Quando ele sai, há juros e a correção monetária sobre o valor es-
tipulado pelo juiz. Nos casos que tenho escutado agora os valo-
res giram em torno de 10, 15, 20 mil reais. O não pagamento pelo
egresso significa que não cumpriu uma parte da pena. Assim, o
único documento que pode tirar é a carteira de identidade e se-
gue devedor da justiça. Não pode trabalhar formalmente, e pode
ser preso novamente a qualquer momento. Torna-se também uma
dívida fiscal.
O juiz me relata que a Corregedoria Geral do Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo havia feito um documento que pos-
sibilitava aos juízes abonarem a multa penal, mantendo somente a
multa fiscal, o que permite que o sujeito tenha seus documentos e
vida normal. Pergunto a ele qual a porcentagem de juízes que não
abonam a multa penal. Ele me diz: “80%!”.
Em tantos anos de trabalho eu nunca soubera desse fato.
Pensei que eu é que estava sendo negligente. Comecei a checar e
percebi então que os colegas, juízes, gestores, secretários municipais
também não sabiam desta situação. Pergunto-me: “O que é isso?
Como todos ficamos cegos diante de fato tão grave? Que violên-
cia é essa que nos deixa cegos, surdos e mudos?”. Por que o silencio
dos egressos que estão nas ruas? Talvez a vida dentro do Sistema
Penitenciário seja tão apartada da realidade externa aos presídios e
seja vista pela sociedade em geral com tal preconceito, e medo da
violência que esta situação encerra, que o egresso não fale de sua
história pelo temor de mais um passo no processo de exclusão. Por
outro lado, a negação por parte da sociedade sobre o tema, ilustra a
violência que será apresentada a seguir.
A questão da multa penal faz com que a sentença seja mui-
to maior do que parece. Condena o sujeito a mais profunda exclu-
são para o resto da vida. Um fator que me permitiu descobrir o que
ocorria foi o aumento de egressos na população em situação de rua,
372 Jorge Broide
Conclusão
Referências
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ticipativa. In: Broide, E, E.; Broide J. População de rua. Pesquisa Social
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completar
Acesso em: ?????
O trabalho clínico junto às populações afetadas pela violência de Estado 375
Catarina Koltay
Psicanalista. Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São
Paulo (1968). Graduação em Sociologie pela Université Paris Descartes(1971),
especialização em DESS on Planificacion de L’Education pela Université Pa-
ris 1 Pantheon-Sorbonne(1975). Mestrado em Planejamento dos Recursos
Humanos pela Université Paris 1 Pantheon-Sorbonne(1977). Doutorado em
Psicologia (Psicologia Clínica) pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo(1997). Foi Professora na Faculdade de Ciências Sociais da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. Tem experiência nas áreas de Sociologia e
Psicanálise. Atua principalmente nos seguintes temas: estrangeiro, Psicanálise,
Política. Tem vários livros e artigos publicados.
Daniel Coelho
Psicanalista. Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia
e do Departamento de Psicologia da UFS. Mestre e Doutor em Teoria
Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ).
Doris Rinaldi
Professora Associada do Instituto de Psicologia da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro – UERJ), membro do colegiado de docen-
tes do Programa de Pós-graduação em Psicanálise do IP/UERJ, Pro-
cientista da UERJ, Coordenadora, junto com Ana Costa, da Rede de
Pesquisa Escritas da Experiência (CNPq), Psicanalista, membro de
Intersecção Psicanalítica do Brasil Psicanalítica do Brasil.
Esteban Radiszcz
Psicanalista. Professor de Psicopatologia Fundamental e Psicanálise
e Doutor em Psicanálise e psicopatologia (Université Paris 7 Denis
Diderot). Professor Associado do Departamento de Psicologia da Fa-
culdade de Ciências Sociais, onde é diretor do Laboratório Transdis-
ciplinar em Práticas Sociais e Subjetividade (LaPSoS) e pesquisador
do Programa de Estudos Psicanalíticos: Clínica y Cultura. Entre suas
publicações se encontra sua participação como Editor dos Volumes:
Malestar y destinos del malestar: políticas de la desdicha (Social-E-
diciones, 2014) y Malestar y destinos del malestar: artes del descon-
tento (Social-Ediciones, 2015). Asimismo, es traductor al español
de libro de Geneviève Morel La ley de la madre. Ensayo sobre el sin-
thome sexual (FCE, 2012). Autor de artigos em revistas indexadas e
capítulos de livros publicados no Chile e no estrangeiro.
Ilana Mountian
Psicanalista. Pesquisadora e docente (bolsa PNPD/CAPES) no Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo. Mestrado em psicologia e saúde
pública pela Manchester Metropolitan University (1999) e doutorado em
Psicologia pela Manchester Metropolitan University (2005). Pós-doutora pela
Manchester Metropolitan University (2009). Pesquisadora honorária do Re-
search Institute for Health and Social Change da Manchester Metropolitan
University. Foi bolsista PRODOC/CAPES na Universidade Federal de Minas
Gerais e bolsista Fapesp em pós-doutorado no Instituto de Psicologia da Uni-
versidade de São Paulo. Foi conselheira do Conselho Regional de Psicologia de
São Paulo (2014-2016). Seus temas de pesquisa são: gênero, drogas, imigração.
Autora do livro Cultural Ecstasies: drugs, gender and the social imaginary (Lon-
dres e Nova York: Routledge).
Ivan Estevão
Psicanalista. Professor de Psicologia da Escola de Artes, Ciências e
Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH/USP). Professor
do programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica do Instituto
de Psicologia da USP. Pesquisador do Laboratório de Psicanálise e
Sociedade do Instituto de Psicologia da USP. Membro do Fórum do
Campo Lacaniano. Experiência na área de Psicologia, com ênfase em
teoria e clínica psicanalítica e sua epistemologia e também em saú-
de mental, atuando principalmente nos seguintes temas: psicanálise,
Lacan, Freud, neurose e psicose e articulação da psicanálise com as
teorias sociais.
381
Joao Fantini
Psicanalista. Mestre e Doutor pela PUC de São Paulo. Pós-doutorado
na University of London (Birkbeck College) em 2012. Atualmente é
Professor Associado IV do curso de Psicologia da Universidade Fede-
ral de São Carlos. Pesquisa sobre Sintomas na Clínica Contemporâ-
nea e Estudos sobre Intolerância (UFSCar) e Semiótica Psicanalítica
(PUC-SP). Líder de grupo de pesquisa e orientador em cursos de gra-
duação e pós-graduação na Psicologia da UFSCar e na USP e PUC-SP
como professor convidado. Autor de Raízes da intolerância (Edufscar,
2014); Semiótica psicanalítica: clínica da cultura (Iluminuras, 2013);
Imagens do pai no cinema: clínica da cultura (EDUFCAR, 2009), entre
outros. Editor da revista Leitura Flutuante do Centro de Estudos em
Semiótica e Psicanálise da PUC-SP.
Jorge Broide
Psicanalista. Doutor em Psicologia Social pela PUC-SP. Professor na Facul-
dade de Ciências Humanas e da Saúde – PUC/SP. Professor no Centro de Es-
tudos Psicanalíticos. Analista membro da APPOA. Consultor na área de Po-
líticas Públicas e Desenvolvimento Social a Secretarias Municipais, Estaduais
Ministérios e Iniciativa Privada. Analista Institucional. Pesquisa: juventude;
adolescentes em conflito com a lei; violência e vulnerabilidades sociais, psi-
canálise nas situações sociais críticas. Tem vários livros, destacando-se A psi-
canálise nas situações sociais críticas: violência, juventude e periferia, em uma
abordagem grupal (Juruá , 2010). Em coautoria publicou: População de rua:
pesquisa social participativa e perfil demográfico e condições de vida em São
Paulo (Juruá, 2018); A psicanálise nas situações sociais críticas: metodologia, clí-
nica e intervenções (Escuta, 2015); Pode Pá: uma nova abordagem em medidas
falta
socioeducativas em meio aberto (?????, 2016). editora
Marcus Teschainner
Psicanalista. Possui graduação em Psicologia e em Direito pela Ponti-
fícia Universidade Católica de São Paulo. Mestre e Doutor em Ciências
Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Membro
do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da Universida-
de de São Paulo (LATESFIP/USP). Participante da Escola de Psicaná-
lise do Forum do Campo Lacaniano de São Paulo. Tem experiência na
área de Sociologia, Psicologia Clínica e Filosofia, atuando principal-
mente nos seguintes temas: Psicanálise, Biopolítica, Agamben, Poder
e Foucault.
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Pablo Castanho
Professor doutor do Instituto de Psicologia da Universidade de São
Paulo. Membro do Núcleo de Estudos em Saúde Mental e Psicanálise
das Configurações Vinculares (NESME). Membro da International
Association for Group Psychotherapy and Group Processes (IAGP) e
da rede interuniversitária Groupes et liens intersubjectifs
Paulo Endo
Psicanalista. Professor Livre-Docente do Instituto de Psicologia da
USP e da Pós-graduação em Humanidades, Direitos e Outras Legiti-
midades da FFLCH/USP. Coordena o Grupo de Pesquisa em Direitos
Humanos, Democracia, Política e Memória do Instituto de Estudos
Avançados da USP. Pesquisador da Unit Research on Dreams, Me-
mory and Imagination Studies, dos Territórios Clínicos de la Memória
(TeCMe-Argentina) e membro da Memory Studies Associaion (Dina-
marca). Foi Professor Visitante na Universidade de Gdansk (Polônia)
em 2015. Pós-doutoramento no CEBRAP (2004-2005). Foi membro
do: Grupo Interdisciplinar Independente de Combate à Tortura e à
Violência Institucional da SEDH da Presidência da República; Comitê
Nacional de Prevenção e Combate à Tortura e à Violência Institucional
no Brasil (CNPCT); da Cátedra UNESCO de Educação para a Paz,
Direitos Humanos, Democracia e Tolerância do IEA- USP. Tem livros
e artigos publicados, entre eles o livro A violência no coração da cidade:
um estudo psicanalítico, que foi agraciado com o Prêmio Jabuti (2005).
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Raonna Martins
Psicanalista. Mestre em Psicologia Social pela PUC-SP e doutoran-
da em Psicologia Clínica pela USP-SP. Pesquisadora do Laboratório
de Psicanálise, Sociedade e Política do IP-USP. Pesquisa nas áreas:
políticas públicas, drogadição, escuta clínica em contextos violentos,
violência de estado, grupos.
Pareceristas