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ISSN

Revista Atualiza Saúde


revista eletrônica de divulgação científica
v.1, n. 1, janeiro/junho de 2015 | Atualiza Cursos

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 1, n. 1, jan./jun. 2015 | I


ISSN

Revista Atualiza Saúde


revista eletrônica de divulgação científica
Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde, Salvador, v. 1, n., jan./jun. 2015

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 1, n. 1, jan./jun. 2015 | 01


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Ficha catalográfica

R454 Revista Atualiza Saúde: revista eletrônica de divulgação


científica. Vol. 1, n. 1 (jan./jun. 2015). – Salvador: Atualiza
Cursos, 2015.

Bisemestral

ISSN online

1. Saúde – Periódico I. Atualiza Cursos II. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela


Bibliotecária Adriana Sena Gomes CRB 5/1568

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO | 04

ÚLCERAS POR PRESSÃO EM TERAPIA INTENSIVA


SOB O OLHAR DOS ENFERMEIROS | 07
Catarina Vieira Alcântara

A CONTRIBUIÇÃO DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE (SIS)


PARA O PROCESSO DE AUDITORIA DO SUS | 17
Ana Claudia Soares Brandão e Juliana Rocha de Almeida Silva

ENTENDIMENTO DOS ENFERMEIROS INTENSIVISTAS SOBRE AS


FORMAS DE PREVENÇÃO DE PNEUMONIA ASSOCIADA À VENTILAÇÃO
MECÂNICA INVASIVA: UMA REVISÃO DA LITERATURA | 25
Veronica Barreto Cardoso

APLICAÇÃO DO TESTE DE MICRONÚCLEO PARA AVALIAÇÃO DE POTENCIAL


GENOTÓXICO EM EPITÉLIO ORAL DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS | 35
Luis Eduardo Meira Faria e Jacqueline Ramos Machado Braga

“DO ROSA AO AZUL” NO CÂNCER DE MAMA: UMA PESQUISA


BIBLIOGRÁFICA SOBRE A NEOPLASIA MAMÁRIA NOS DIFERENTES GÊNEROS | 42
Aline Abdon Lima

CAPACITAÇÃO DOS ENFERMEIROS NA REANIMAÇÃO DE PACIENTES DA UTI | 51


Bárbara Galvão Menezes e Bárbara Gomes de Souza

A CONTRIBUIÇÃO DA ENFERMAGEM COMO AGENTE FACILITADOR DA INTERAÇÃO


ENTRE PAIS E FILHOS NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL | 60
Camila Alves de Medeiros Neves e Elisandra Rufino de Carvalho

IMPLEMENTAÇÃO DA PUNÇÃO UNIDIRECIONAL


NO CENTRO DE DOENÇAS RENAIS DE JEQUIÉ | 70
Ana Luiza Uzêda Oliveira

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ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DE INFECÇÕES
DE SÍTIO CIRÚRGICO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA | 76
Camila Araújo Santana e Célia Gonzaga Estrela Oliveira

ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO PROCESSO DO DESMAME


DA VENTILAÇÃO MECÂNICA: REVISÃO DE LITERATURA | 89
Mirian Mendes dos Santos

A IMPORTÂNCIA DOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM PRESTADOS EM TERAPIA


INTENSIVA A PACIENTES EM PROCESSOS HEMODIALÍTICOS VENOVENOSOS
CONTÍNUOS: PESQUISA BIBLIOGRÁFICA | 99
Verônica Jesus de Sousa

A IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DO SERVIÇO NA GESTÃO HOSPITALAR | 109


Gildasio Souza Pereira e Sueli Souza Pereira

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ÚLCERAS POR PRESSÃO EM TERAPIA INTENSIVA
SOB O OLHAR DOS ENFERMEIROS

Catarina Vieira Alcântara*

Resumo
As úlceras por pressão aumentam o tempo de internamento, elevam a morbidade e mortalidade
dos pacientes, impactando na disponibilidade de leitos hospitalares, no custo da hospitalização e
na carga de trabalho da enfermagem. O objetivo do estudo foi analisar, por meio de revisão inte-
grativa da literatura, a produção científica nacional dos enfermeiros sobre úlceras por pressão em
terapia intensiva. A amostra foi constituída de 11 artigos publicados entre 2007 e 2012. Conclui-
se que há uma carência de estudos sobre o custo do tratamento e da prevenção das úlceras em
pacientes críticos, além de estudos que definam melhor os fatores de risco para desenvolvimento
de UP e também que abordem, com mais precisão, as medidas de prevenção das úlceras.

Palavras-chave
Enfermagem/Cuidados de Enfermagem. Úlcera por pressão. Unidade de Terapia Intensiva.

1. Introdução qualquer pressão em áreas do corpo, favorecendo


a circulação e a percepção sensorial, que implicam
As Úlceras por Pressão (UP) são lesões decorren-
o nível de consciência e reflete a capacidade do
tes da hipóxia celular, levando à necrose tecidual,
sujeito em perceber estímulos dolorosos ou des-
causada por pressão mantida sobre a superfície da
conforto e reagir através da mudança de posição
pele, tensão tangencial, fricção e/ou uma combina-
(ANSELMI; PEDUZZI; JÚNIOR, 2008).
ção desses fatores (BEZERRA; LEITE, 2011).
Fatores intrínsecos e extrínsecos ao paciente in-
De acordo com Blanes e colaboradores (2004), o fluenciam a tolerância da pele à pressão. Dentre os
principal fator causador da UP é a pressão. Seu fatores intrínsecos, citam-se: condição nutricional,
efeito patológico no tecido pode ser devido à in- idade avançada e doenças crônicas. E os fatores
tensidade da pressão, duração da mesma e tolerân- extrínsecos como: exposição da pele à umidade,
cia tecidual. Estes aspectos relacionam-se com a fricção e cisalhamento (FERNANDES, 2006). Se-
mobilidade do paciente, a habilidade em remover gundo Soares e colaboradores (2011), o meio ex-

* Enfermeira Assistente da Unidade de Terapia Intensiva Neurocardíaca do Hospital da Bahia e do Centro


Obstétrico do Instituto de Perinatologia da Bahia. Especialista em Enfermagem em UTI pela Atualiza Cur-
sos. E-mail: cval_86@yahoo.com.br

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terno se relaciona com a fisiopatogenia das UPs, De acordo com Louro e outros (2007), a incidên-
compreendendo o meio externo, como a estrutura cia e a prevalência das UPs são utilizadas pela Or-
hospitalar, os recursos, os insumos, os profissio- ganização Mundial de Saúde (OMS) como indi-
nais e suas condutas para com o paciente. cadores da qualidade dos cuidados prestados nas
instituições hospitalares.
De acordo com a National Pressure Ulcer Advisory
Panel (1998), as úlceras são classificadas em: Cerca de 95% das úlceras por pressão podem ser
evitadas com a adoção de medidas simples de en-
a | Estágio I: a pele apresenta eritema que não em- fermagem, tais como: mudança de decúbito, po-
palidece quando pressionada; sicionamento adequado do paciente no leito, os
cuidados de higiene e outros (ANSELMI; PEDU-
b | Estágio II: a úlcera é superficial, evidencia-se
ZZI; JÚNIOR, 2008).
a perda parcial da pele abrangendo epiderme
e derme; Outra medida preventiva é a utilização das escalas
que avaliam os riscos dos pacientes desenvolve-
c | Estágio III: perda total da espessura da pele rem UP. A Escala de Risco de Braden é uma das
que envolve danos ou necrose do tecido sub- mais utilizadas mundialmente, composta por seis
cutâneo que pode se aprofundar; subescalas: mobilidade, atividade, percepção sen-
sorial, umidade da pele, estado nutricional, fric-
d | Estágio IV: perda do tecido com exposição ós-
ção e cisalhamento. A somatória da escala totaliza
sea, de músculo ou tendão;
de 6 a 23. Uma pontuação de 16 indica risco mí-
e | Úlceras que não podem ser estadiadas: perda nimo; 13 a 14, risco moderado, e menor ou igual
total da espessura da pele, onde a base da UP a 12, risco elevado. Em uma Unidade de Terapia
Intensiva, a escala de Braden deve ser aplicada
apresenta tecido necrótico e/ou escara;
na admissão, novamente em 48 horas e, depois,
f | Lesão suspeita de lesão tissular profunda: si- diariamente (PARANHOS; SANTOS, 1999; BRA-
tua-se em área de pele intacta, na coloração DEN; MAKLEBUST, 2005).
marrom ou roxa, ou em bolhas cheias de san-
Outra escala validada no Brasil é a de Waterlow,
gue, devido ao cisalhamento da área.
que avalia sete tópicos principais: relação peso/
A prevalência de úlcera por pressão no ambiente altura, avaliação visual da pele em áreas de risco,
hospitalar é elevada, chegando a 29,5% (COSTA et sexo/idade, continência, mobilidade, apetite e me-
al., 2005). De acordo com vários autores, a maior dicações, além de fatores de risco especiais, subnu-
trição do tecido celular, déficit neurológico, tempo
incidência de UP no ambiente hospitalar encon-
de cirurgia (acima de duas horas) e trauma abaixo
tra-se nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI),
da medula lombar. Os pacientes são estratificados
variando de 10,62% a 62,5% (ANSELMI et al.,
em três grupos, conforme a pontuação: em risco
2008; CARVALHO, 2012).
(10 a 14); alto risco (15 a 19) e altíssimo risco de
As úlceras por pressão estão associadas ao au- desenvolvimento de UP (maior ou igual a 20).
mento do tempo de internamento e, assim, ele- Quanto mais alto o escore, maior será o risco de
vam a morbidade e mortalidade destes pacientes, desenvolver UP (ROCHA; BARROS, 2007).
impactando na disponibilidade de leitos hospi- No Brasil, há poucos estudos que abordam o im-
talares, no custo da hospitalização e na carga de pacto financeiro da UP no sistema de saúde. Além
trabalho da enfermagem (LIMA; GUERRA, 2011; disso, os estudos sobre incidência e prevalência são
CARVALHO, 2012). escassos e retratam a realidade de determinadas ci-

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dades e instituições, não fornecendo um real pano- zando os seguintes descritores: “enfermagem/cui-
rama do problema. dados de enfermagem”, “úlcera por pressão”, “tera-
pia intensiva”.
Como as úlceras por pressão são uma realidade
constante na prática da enfermagem e sendo esta Definiram-se os seguintes critérios para a inclusão
a principal responsável por assegurar uma assis- de artigos: publicados no período de 2007 a 2012
tência qualificada à clientela, este estudo tem como em periódicos indexados nas bases eletrônicas ci-
objetivo analisar, por meio de revisão integrativa tadas acima, escritos em português, disponíveis na
da literatura, a produção científica nacional dos íntegra e cujos autores fossem enfermeiros.
enfermeiros sobre úlceras por pressão em terapia
Foram selecionadas 34 referências bibliográficas.
intensiva nos últimos cinco anos.
Após leitura e aplicação dos critérios de inclusão
Para o alcance do objetivo, optou-se pela revisão estabelecidos, obteve-se uma amostra de 11 arti-
bibliográfica integrativa da literatura. A revisão in- gos, sendo oito na base de dados LILACS, dois na
tegrativa é um método de revisão mais amplo, pois base de dados BDENF e um na base MEDLINE.
permite incluir literatura teórica e empírica bem
como estudos com diferentes abordagens meto-
dológicas (quantitativa e qualitativa). Os estudos 2. Desenvolvimento
incluídos na revisão são analisados de forma sis- Nesta revisão, analisaram-se 11 artigos que atende-
temática em relação aos seus objetivos, materiais e ram aos critérios de inclusão anteriormente esta-
métodos, permitindo que o leitor analise o conhe- belecidos. Quanto ao ano de publicação, verificou-
cimento pré- existente sobre o tema investigado se que, de 2007 a 2009, houve apenas um artigo por
(POMPEO; ROSSI; GALVÃO, 2009). ano. Mas, a partir do ano de 2010, ocorreu discreto
aumento na produção científica acerca da temáti-
Para a elaboração da revisão integrativa, houve a
ca. Quanto aos descritores, todos os artigos foram
necessidade de que fossem percorridas seis eta-
encontrados, utilizando-se os descritores, simul-
pas distintas: identificação do tema, busca na li-
taneamente: “enfermagem/cuidados de enferma-
teratura, categorização dos estudos, avaliação dos
gem”, “úlcera por pressão”, “terapia intensiva”.
estudos incluídos na revisão integrativa, interpre-
tação dos resultados e a síntese do conhecimento No Quadro 1, observa-se que 2 (18,18%) dos arti-
evidenciado nos artigos analisados ou apresenta- gos encontrados descrevem a intervenção no nível
ção da revisão integrativa (MENDES; SILVEIRA; de conhecimento da equipe de enfermagem e dos
GALVÃO, 2008). familiares dos pacientes sobre prevenção das UPs.
No estudo de Fernandes, Caliri e Haas (2008), foi
A questão norteadora desta revisão integrativa
avaliado o efeito de intervenções educativas no
constitui-se em: de que maneira a enfermagem
nível de conhecimento da equipe de enfermagem
brasileira desenvolveu a produção científica sobre
sobre prevenção da UP em um Centro de Terapia
úlceras por pressão em terapia intensiva nos últi-
Intensiva. Os autores concluem que houve certa
mos cinco anos?
melhora no conhecimento da equipe após a inter-
Os artigos foram selecionados no período de mar- venção educativa, apesar da falta de conhecimento
ço a junho de 2013, nas bases de dados LILACS em alguns pontos, como quanto ao tempo para re-
(Literatura Latino-Americana e do Caribe em posicionamento da pessoa sentada em cadeira. O
Ciências da Saúde), MEDLINE (Medical Literatu- estudo também foi prejudicado, pois a Direção de
re Analysis and Retrieval Sistem on-line) e BDENF Enfermagem não liberou os enfermeiros para par-
(Base de dados Brasileira de Enfermagem), utili- ticiparem das aulas.

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Já o segundo estudo descreveu o processo de ins- plementação de um protocolo de prevenção, em


trumentalização para a equipe de enfermagem um hospital-escola de São Paulo. A amostra foi
da UTI e familiares, para que estes continuem o composta por 78 pacientes considerados de risco
cuidado, após a alta, na prevenção da UP. Obser- para o desenvolvimento de UP, desses, 18 (23,1%)
vou-se um resultado positivo, pois a equipe de desenvolveram UP. Em estudo anterior, na mesma
enfermagem ficou empenhada e percebeu que os UTI, antes da implementação do protocolo, a in-
cuidados de prevenção e o uso da escala de Bra- cidência de UP era de 41,02%, comprovando que,
den são simples e fáceis. Já os familiares ficaram quando aplicados sistematicamente, os protocolos
satisfeitos em poder evitar a úlcera por pressão de prevenção impactam no controle da incidência
e proporcionar conforto ao seu familiar (LISE; de úlcera por pressão. Esse mesmo estudo obser-
SILVA, 2007). vou que a média do tempo de internação dos pa-
cientes com UP foi de 11 dias; verificou-se predo-
Apenas um estudo verificou a associação entre a
mínio de UPs localizadas em calcâneos (42,1%),
ocorrência de úlcera por pressão em pacientes em
região sacral (36,8%) e glúteo (15,8%); a maioria
estado crítico e a carga de trabalho de enfermagem,
das UPs (68,4%) encontrava-se no estágio II, não
mensurada pela Nursing Activities Score (NAS).
sendo encontradas úlceras nos estágios III e IV.
Notou-se que a carga de trabalho não se associa à
ocorrência de UP, mas pode ser preditora de risco Outros dois estudos (18,18%) tiveram como parte
para UP, quando associada à gravidade do paciente de seus objetivos identificar os fatores de risco ou
(CREMASCO et al., 2009). associados a úlceras por pressão em Unidades de
Terapia Intensiva. Um dos estudos foi desenvolvi-
Dois estudos (18,18%) analisaram a incidência
do em CTIs, em Belo Horizonte (MG). A amostra
de úlceras por pressão em UTI. Um deles ocor-
foi composta por 142 pacientes e constatou-se que
reu em uma unidade de tratamento intensivo, sem
os fatores independentes e fortemente associados
protocolo de prevenção, e o outro, após a imple-
à UP foram: tempo de internação maior que 10
mentação de um protocolo de prevenção. Bereta
dias no CTI; pacientes com diagnóstico de sepse;
e colaboradores (2010) analisaram o indicador de
que usam broncodilatadores e aqueles que tive-
úlcera por pressão em pacientes críticos interna-
ram risco alto e elevado na escala de Braden (GO-
dos em duas UTIs de um hospital-escola no no-
MES et al., 2010).
roeste paulista. O indicador Incidência de UP, que
se refere à qualidade, é definido como a relação Nesse mesmo estudo, os autores também observa-
entre o número de casos novos de pacientes com ram que a ocorrência de, pelo menos, uma úlcera
UP em determinado período e o número de pes- por pressão por paciente foi de 35,2%. As úlceras
soas expostas ao risco de adquiri-las no mesmo por pressão localizam-se, frequentemente, nas
período. O estudo concluiu que o indicador apre- regiões sacral (36%) e calcânea (22%), sendo que
sentou índices variáveis e elevados durante todo o 57% do total de úlceras eram de estágio II (GO-
ano nas duas unidades. O indicador de qualidade MES et al., 2010).
da UTI I foi de 20,3% e na UTI II, 12,6%. Após a
Nos estudos apresentados nessa revisão, a inci-
coleta dos dados, os autores implementaram um
dência de úlceras por pressão variou entre 12,6 e
protocolo de prevenção a fim de sistematizar e im-
35,2%. Em outros estudos nacionais, a incidência
plantar atividades desenvolvidas exclusivamente
de úlceras em Unidades de Terapia Intensiva varia
por enfermeiros.
de 25,8 a 62,5%. Portanto, a maioria dos índices
Já o estudo de Rogenski e Kurcgant (2012) anali- desse estudo está abaixo da média (LOURO; FER-
sou a incidência de úlcera por pressão após a im- REIRA; PÓVOA, 2007).

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ALCÂNTARA, C.V. | Úlceras por pressão em terapia intensiva sob o olhar dos Enfermeiros

Os estudos apontam que o tempo médio para o das UPs, que foram a região sacral, calcâneos e
surgimento de UP é de, pelo menos, dez dias, glúteos, entrando em acordo com Maklebust e
concordando com outros estudos que estabele- Siegreen (1996), que apontam que a maior parte
cem os primeiros 15 dias de internação como de- das úlceras acontece na parte inferior do corpo,
terminantes para o surgimento das UPs (O’NEIL, devido à presença de grandes proeminências
2004). Outra semelhança entre os resultados ósseas e distribuição desigual do peso corpóreo
dos estudos se refere às principais localizações nessas regiões.

Quadro 1. Relação dos artigos da revisão de acordo com autores, ano de publicação, objetivo e metodolo-
gia. Salvador, BA, Brasil, 2013. (continua)

AUTOR ANO OBJETIVO TIPO DE ESTUDO

LISE F, 2007 Descrever o processo de instrumentalização Qualitativo/descritivo


DA SILVA LC para auxiliares, técnicos de enfermagem e fami-
liares na prevenção de UP em pacientes de uma
UTI de adulto.

FERNANDES LM, 2008 Avaliar o efeito de intervenções educativas, no Descritivo comparativo


CALIRI MHL, nível de conhecimento dos membros da equipe
HAAS VJ de enfermagem, sobre a prevenção de úlceras
por pressão em um Centro de Terapia Intensiva.

CREMASCO MF, 2009 Verificar a associação entre a ocorrência de úlce- Transversal


WENZEL F, ra por pressão (UP) em pacientes em estado crí-
SARDINHA FM, tico, com escores da escala de Braden, gravidade
ZANEI SSV, do paciente e carga de trabalho de enfermagem
WHITAKER IY e identificar os fatores de risco para UP em pa-
cientes de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

GOMES FSL, 2010 Estimar a ocorrência de úlceras por pressão e Seccional analítico
BASTOS MAR, seus fatores associados em CTIs de adultos, em
MATOZINHOS FP, Belo Horizonte.
TEMPONI HR,
MELENDEZ GV

BERETA RP, 2010 Analisar o indicador de úlcera por pressão em Descritivo/exploratório/


ZBOROWSKI IP, pacientes críticos internados em uma unidade retrospectivo/
SIMAO CMF, de terapia intensiva de um hospital-escola do quantitativo
ANSELMO AM, noroeste paulista, além de propor e aplicar um
RIBEIRO S, protocolo de assistência de enfermagem para
MAGNANI LAFN prevenção desse tipo de lesão nas unidades
estudadas.

COSTA IG, 2011 Avaliar a validade preditiva dos escores da escala Prospectivo/descritivo
CALIRI MHL de Braden em pacientes de um Centro de Tera-
pia Intensiva e descrever as medidas preventivas
implementadas pela equipe de enfermagem.

DE ARAUJO TM, 2011 Classificar o risco para úlcera por pressão (UP) Transversal/quantitativo 
MOREIRA MP, em pacientes admitidos em unidade de terapia
CAETANO JA intensiva e identificar os fatores de risco para UP.

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ALCÂNTARA, C.V. | Úlceras por pressão em terapia intensiva sob o olhar dos Enfermeiros

Quadro 1. Relação dos artigos da revisão de acordo com autores, ano de publicação, objetivo e metodolo-
gia. Salvador, BA, Brasil, 2013. (conclusão)

AUTOR ANO OBJETIVO TIPO DE ESTUDO

DE ARAUJO TM, 2011 Conhecer a acurácia das escalas de risco para Quantitativo/
DE ARAUJO MFM, úlcera por pressão de Braden e Waterlow em pa- longitudinal
CAVALCANTE CS, cientes críticos.
JUNNIOR GMB,
CAETANO JA

STEIN EA, 2012 Identificar as ações de prevenção de úlceras por Exploratório-descritivo/


DOS SANTOS JLG, pressão (UP) utilizadas pelos enfermeiros na qualitativo
PESTANA AL, gerência do cuidado em Unidade de Terapia In-
GUERRA ST, tensiva (UTI).
PROCHNOW AG,
ERDMANN AL

DE ARAUJO TM, 2012 Identificar casos de risco para úlcera por pressão Exploratório/
DE ARAUJO MFM, (UP) em pacientes críticos, a partir da escala de longitudinal
CAETANO JA Braden e de fotografias digitais.

ROGENSKI NMB, 2012 Avaliar a implementação de um protocolo de Prospectivo/descritivo/


KURCGANT P prevenção de úlceras por pressão em pacientes exploratório
de Unidade de Terapia Intensiva.

Fonte: Elaborado pela Autora

Quanto ao estágio das úlceras, em todos os estu- Há um estudo cujo objetivo foi identificar casos
dos foram encontradas úlceras de grau I e grau II, de risco de úlcera por pressão, em pacientes crí-
semelhante a outros estudos nacionais, que mos- ticos, a partir da escala de Braden e de fotografias
traram predomínio de UPs nos estágios I e II e a digitais. Foi realizado em Fortaleza (CE), com uma
ausência de UP nos estágios III e IV (ROGENSKI; amostra de 42 sujeitos, dos quais 25 desenvolve-
SANTOS, 2005).
ram UP. Identificaram-se, no total, 47 lesões, sendo
Araújo, Moreira e Caetano (2011) realizaram es- 23 (48,9%) com estágio I e 24 (51,1%) com está-
tudo em Fortaleza (CE), a fim de classificar o risco gio II. Os locais de lesões mais frequentes foram
para úlcera por pressão em pacientes admitidos as regiões sacral (38,3%) e occipital (38,3%), além
em Unidade de Terapia Intensiva e identificar os dos calcâneos (23,4%). Quanto à escala de Braden,
fatores de risco para UP. A amostra foi composta foi identificado um paciente com baixo risco, 34
por 63 pacientes e encontrou associação signifi- com risco moderado e 7 com alto risco. Aqueles
cativa com os seguintes fatores de risco: pacientes
com risco moderado (19 pacientes) e alto risco (5
do sexo masculino; aqueles que realizaram cirur-
pacientes) desenvolveram algum tipo de UP. Os
gia de grande porte e pacientes com problemas de
autores afirmam que o uso da escala de Braden,
continência e mobilidade. Ressalta-se que o estudo
avaliou o risco para UP através da Escala de Ava- associada ao uso de fotos digitais, garante uma
liação de Risco para UP, de Waterlow e, segundo avaliação da pele e o preenchimento da escala, de
esta, 31,7% dos pacientes apresentaram alto risco forma mais acurada. Porém, nos hospitais brasilei-
para desenvolver UP, 28,6%, altíssimo risco, e 19% ros, não é rotina a adoção desta tecnologia para a
estavam em risco. documentação e evolução das lesões, devido a pro-

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blemas administrativos, econômicos, físicos e cur- decúbito. As demais medidas foram: exame físico
riculares. (ARAÚJO; CAETANO, 2012). diário da pele, hidratação da pele, uso de coxins e
de colchão piramidal, suporte nutricional e reali-
Costa e Caliri (2011) avaliaram a validade predi-
zação de massagens de conforto.
tiva dos escores da escala de Braden em pacientes
de um Centro de Terapia Intensiva e descreveram Sabe-se que a medida mais simples e eficaz para
as medidas preventivas implementadas pela equi- prevenção das úlceras é a mudança de decúbito
pe de enfermagem. Os escores 14, 13 e 12 foram para alívio da pressão. Deve ser realizada a cada
considerados os mais eficientes na predição de duas horas e com auxílio de almofadas, coxins e
risco para UP, na primeira (na admissão), na se- rolos de espuma, que servem para apoiar e distri-
gunda (48 horas depois da admissão) e na terceira buir o peso corporal sobre o leito e promover o alí-
(72 horas após a admissão) avaliações. As medi- vio das áreas ósseas, deixando-as livres da pressão
das preventivas utilizadas pela enfermagem eram (CARVALHO, 2012).
o uso de colchão de ar estático e horários padroni-
Apesar da importância dessa medida, sabe-se que
zados de mudança de decúbito, apesar de esta últi-
a sua operacionalização, muitas vezes, torna-
ma ter sido pouco utilizada. As autoras concluem
se  inviável pela sobrecarga de trabalho dos fun-
que a escala de Braden é eficiente para predizer
cionários, pelo estado crítico do cliente e as fal-
o risco de desenvolvimento de UP em pacientes
tas não previstas. As demais medidas citadas no
críticos, por ter uma adequada especificidade e
estudo também são válidas, mas é interessante
sensibilidade. Além disso, afirmam que o uso de
ressaltar que a literatura contraindica as massa-
colchão não evita o desenvolvimento de UP, mas
gens de conforto em áreas de proeminência óssea,
que a mudança de posição é, sim, uma medida
pois as mesmas podem romper os pequenos capi-
preventiva de UP.
lares que nutrem a pele e, assim, contribuir para
Em um estudo feito em Fortaleza (CE), avaliou-se o desenvolvimento das UPs, em vez de evitá-las
a acurácia das escalas de risco para úlcera por pres- (CARVALHO, 2012).
são, de Braden e Waterlow, em pacientes críticos.
Foram avaliados 42 pacientes, cada um por dois
enfermeiros diferentes, sendo cada um responsável
3. Conclusão
por uma escala. O estudo constatou que a escala de As úlceras por pressão, apesar de serem evitadas
Waterlow apresentou melhores escores e coeficien- com medidas simples e baratas, continuam sendo
tes de validade na avaliação do risco para UP em um problema constante nas instituições de saúde.
relação à de Braden (ARAUJO et al., 2011). Este Persistem com incidências e prevalências elevadas,
estudo difere do de Costa e Coliri (2011) e de ou- aumentando o tempo de internação, o custo com o
tro estudo que evidenciou que a escala de Braden paciente e aumentando os cuidados que a equipe
apresenta melhor equilíbrio entre sensibilidade de enfermagem dispensa ao enfermo.
e especificidade para prevenir e predizer o surgi-
O objetivo do estudo foi alcançado, pois se evi-
mento de lesões (BALZER et al., 2007).
denciou que a enfermagem brasileira produz cien-
Stein e colaboradores (2012) identificaram as ações tificamente sobre úlceras por pressão. A maioria
de prevenção de úlcera por pressão utilizadas pelos dos estudos se dedicou a identificar os fatores de
enfermeiros na gerência do cuidado em Unidade risco para desenvolver UP e verificar a incidência
de Terapia Intensiva, em um hospital universitário das úlceras. Poucos estudos abordaram o impacto
da Região Sul do País. A principal medida de pre- dos pacientes com úlceras para o trabalho da en-
venção citada pelos enfermeiros foi a mudança de fermagem e para o sistema de saúde. Além disso,

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ALCÂNTARA, C.V. | Úlceras por pressão em terapia intensiva sob o olhar dos Enfermeiros

também não foi vista produção suficiente que tra- cientes críticos, além de estudos que definam me-
tasse das medidas preventivas e dos cuidados que lhor os fatores de risco para desenvolvimento de
se deve ter com os portadores de úlceras. UP e também que abordem, com mais precisão,
as medidas de prevenção das úlceras por pressão.
Portanto, conclui-se que a enfermagem deve con- Deste modo, contribuirão para que, cada vez mais,
tinuar a produzir trabalhos científicos acerca do a enfermagem baseie seus cuidados em saberes
tema. Há uma carência de estudos sobre o custo científicos, prestando uma assistência de melhor
do tratamento e da prevenção das úlceras em pa- qualidade para seus clientes.

PRESSURE ULCERS IN INTENSIVE CARE UNDER THE WATCHFUL EYE OF NURSES

Abstract
Pressure ulcers increase the time of internment, increase the morbidity and mortality of these
patients, impacting on the availability of hospital beds, the cost of hospitalization and nursing
workload. The objective of this study was to analyze, through integrative review of literature, the
national scientific production of nurses on pressure ulcers in intensive care. The sample was made
up of 11 articles published between 2007 and 2012. It`s concluded that there is a lack of studies
on the cost of the treatment and prevention of ulcers in critical patients. In addition to studies
that define better the risk factors for development of PU and also, that address more precisely the
measures of prevention of ulcers.

Keywords
Nursing/nursing care. Pressure ulcer. The intensive care unit.

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Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 1, n. 1, jan./jun. 2015 | 16


A CONTRIBUIÇÃO DOS SISTEMAS DE
INFORMAÇÃO EM SAÚDE (SIS) PARA
O PROCESSO DE AUDITORIA DO SUS

Ana Claudia Soares Brandão*


Juliana Rocha de Almeida Silva**

Resumo
O Sistema de Informações em Saúde (SIS) consiste em um importante mecanismo de coleta, pro-
cessamento e organização das principais informações de uma população, servindo de base para
a tomada de decisões no planejamento dos serviços de saúde. Além disso, serve também como
um importante instrumento para avaliar a utilização adequada dos recursos do Sistema Único de
Saúde (SUS) e a qualidade dos serviços em saúde prestados à população, por meio da Auditoria do
SUS. O estudo baseou-se em uma revisão bibliográfica, tendo como objetivo principal descrever a
contribuição dos sistemas de informação em saúde em todo o processo de auditoria do SUS. Foram
utilizados 09 trabalhos dos 384 encontrados nas bases de dados Scielo, Lilacs e BVS, além de 11 tra-
balhos entre cartilhas, portarias, normas e manuais técnicos publicados pelo Ministério da Saúde.
Verificou-se que, para a organização e processamento dos dados coletados na saúde, são utilizados
os Sistemas de Informação em Saúde, tendo como principal finalidade produzir indicadores de saú-
de que permitam o conhecimento da realidade da população estudada e as possíveis modificações
que nela ocorrem. Aqueles SIS voltados para subsidiar as atividades de auditoria, na extração de
informações e na elaboração de relatórios, são fundamentais para o processo de Auditoria do SUS.

Palavras-chave
Sistemas de Informação. Sistema Único de Saúde.

1. Introdução rico. A crise enfrentada nesse setor, ao longo dos


anos, provém das suas raízes e continua presente
Falar de saúde no Brasil envolve vários temas que como um desafio para a sociedade. Frequentemen-
estão inteiramente ligados ao seu processo histó- te, são divulgadas notícias que comprovam essa

* Enfermeira. Especialista em Auditoria em Serviços de Saúde pela Atualiza Cursos. E-mail: anaclaudia.
uneb@gmail.com
** Enfermeira. Especialista em Auditoria em Serviços de Saúde pela Atualiza Cursos. E-mail: silva.juro-
cha@gmail.com

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 1, n. 1, jan./jun. 2015 | 17


BRANDÃO, A.C.S.; SILVA, J.R.A. | A contribuição dos Sistemas de Informação em Saúde (SIS) para o processo de auditoria do SUS

situação, como filas de pacientes nos hospitais e área da saúde” (BRASIL, 1990), sendo implantadas
postos de saúde, essencialmente do serviço públi- de forma gradual.
co, além da falta de leitos e equipamentos para a
Na tentativa de garantir o acesso e a qualidade da
realização das ações do processo de cuidar.
atenção à saúde no Brasil, surgiu a necessidade de
Para entender a história da saúde pública no Brasil se adotar um instrumento de gestão que auxiliasse
é necessário relembrar o contexto político e social nesse processo. Dessa maneira, a auditoria passou
do país nos diferentes períodos históricos, uma vez a ser ferramenta fundamental para aprimorar os
que o setor Saúde sofreu fortes influências, estando controles e procedimentos internos.
diretamente relacionado com a evolução político-
social e econômica da sociedade brasileira. Na literatura, não existem relatos que comprovem
o início da adoção da auditoria no SUS, mas evi-
Um marco importante para a saúde brasileira foi dências mostram que a mesma passou a ser utili-
a realização da 8ª Conferência Nacional de Saúde,
zada a partir do Instituto Nacional de Assistência
em Brasília, no ano de 1986, com abertura para a
Médica da Previdência Social (Inamps), hoje já ex-
população organizada, representando uma vitória
tinto (MELO; VAITSMAN, 2008). Sua finalidade
dos movimentos de saúde. Nessa Conferência, foi
foi reconhecida por via do Decreto 809/93, caben-
reivindicado um sistema único de saúde, público e
do à auditoria controlar e fiscalizar a aplicação dos
de qualidade, disponível para todos com equida-
recursos orçamentários e financeiros destinados à
de e controlado pela sociedade e pelos conselhos
de saúde. A nova constituição foi promulgada, e assistência à saúde e aos pagamentos de serviços
muitas das reivindicações dos movimentos sociais prestados e repassados aos Estados, Distrito Fede-
foram inseridas, representando, assim, o início da ral e municípios, pelo Inamps (BRASIL, 1993).
consolidação do SUS (Sistema Único de Saúde) Hoje, conforme definido na Política Nacional de
(BRASIL, 1986).
Gestão Estratégica e Participativa no SUS (Participa-
O SUS tem como proposta um modelo de saúde SUS), a auditoria “é um instrumento de gestão para
direcionado para atender às necessidades da so- fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS), contri-
ciedade, procurando cumprir o compromisso do buindo para a alocação e utilização adequada dos re-
Estado de oferecer boas condições nos serviços cursos, a garantia do acesso e a qualidade da atenção
de saúde coletiva. Ele tem a função de organizar à saúde oferecida aos cidadãos.” (BRASIL, 2001).
as ações do Ministério da Saúde e dos serviços de
saúde dos Estados e municípios e surgiu como O processo de auditoria no SUS é bastante com-
uma conquista popular (BRASIL, 1999). plexo, sendo necessária uma grande quantidade
de dados, informações que devem ser extraídas,
Com a sua regulamentação, foram garantidos trabalhadas e interpretadas de forma muito cui-
princípios que iriam orientar o novo sistema de dadosa, pois interesses e responsabilidades diver-
saúde, sendo eles a universalidade, a integralidade, sos ficam em evidência quando se audita a saúde
a equidade, a descentralização e a participação so- (BRASIL, 2006).
cial. Assim, o SUS é regulamentado pela Lei 8.080,
que “dispõe sobre as condições para a promoção, Acompanhando o desenvolvimento do SUS e au-
proteção e recuperação da saúde, a organização e xiliando como instrumento para aquisição de da-
o funcionamento dos serviços correspondentes” dos, análise e apoio ao processo de auditoria, fo-
(BRASIL, 1990); e pela lei 8.142, que “dispõe sobre ram desenvolvidos diversos e diferentes sistemas
a participação da comunidade na gestão do Siste- de informações estratégicos, gerenciais e operacio-
ma Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências nais, que facilitam a tomada de melhores decisões
intergovernamentais de recursos financeiros na (BRASIL, 2005).

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 1, n. 1, jan./jun. 2015 | 18


BRANDÃO, A.C.S.; SILVA, J.R.A. | A contribuição dos Sistemas de Informação em Saúde (SIS) para o processo de auditoria do SUS

Frente a essas questões, foi definido como proble- entre os achados e outros fatores, buscando esta-
ma de pesquisa para a produção deste artigo: qual belecer causas, efeitos e outras correlações com
a contribuição dos sistemas de informação em saú- o tema abordado (TRUJILLO, 1974 apud LAKA-
de em todo o processo de auditoria do SUS? TOS; MARCONI, 2002).

Nesse sentido, levando-se em consideração a O levantamento de artigos, dissertações, leis, de-


quantidade expressiva dos dados gerados com o cretos, portarias e outros estudos publicados entre
processo de auditoria, entendendo a necessidade 1993 e 2013 foi realizado via internet. A escolha do
de utilização de alternativas cada vez mais rápidas, ano inicial da pesquisa se deve ao ano de criação
do Sistema Nacional de Auditoria, através da Lei
práticas e acessíveis a esses dados, este estudo foi
nº 8.689/93, objetivando conhecer o processo e a
formulado com o objetivo de descrever a contri-
evolução da auditoria pública no Brasil.
buição dos sistemas de informação em saúde em
todo o processo de auditoria do SUS. As bases de dados utilizadas para o levantamento
dos mesmos foram: Scielo, Lilacs, Biblioteca Vir-
tual em Saúde (BVS) e documentos técnicos do
2. Métodos Ministério da Saúde. Para a seleção dos textos, fo-
Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica. ram utilizados os descritores Sistemas de Informa-
Segundo Lakatos (2002), a pesquisa bibliográfica ção e Sistema Único de Saúde.
tem o intuito de propiciar um exame do tema es-
tudado sob um novo enfoque e chegando a novas Após a seleção dos documentos e artigos, efetua-
conclusões, procurando não repetir o que já foi ram-se a leitura sistemática, o fichamento e nova
dito ou escrito. Assim, este tipo de estudo é de- análise e a compatibilização dos dados fichados
senvolvido com base em material já produzido, para compor a redação. Por fim, a aprovação por
proveniente, principalmente, de livros e artigos um Comitê de Ética em Pesquisa não foi necessária
científicos (GIL, 2002). por se tratar de uma pesquisa bibliográfica.

Ainda de acordo com Gil (2002), a vantagem de


um estudo de revisão bibliográfica é permitir uma 3. Resultados e Discussão
ampla cobertura sobre o assunto pesquisado. Po-
Diante do objetivo exposto, foram selecionados na
rém, vale ressaltar a importância da qualidade das
base de Descritores em Ciências em Saúde (DeCS)
fontes de dados para que a pesquisa seja confiável
os vocábulos Sistemas de Informação e Sistema
e não repita informações equivocadas. Para ele, a
Único de Saúde. Utilizando-se tais descritores na
leitura do material coletado neste tipo de pesquisa
busca realizada nas bases de dados Lilacs, Scielo e
tem como objetivo “identificar as informações e os
BVS, foram encontrados 384 trabalhos publicados,
dados constantes do material impresso; estabelecer
entre artigos e dissertações. Ao se refinar, porém,
relações entre as informações e os dados obtidos
a busca para textos disponíveis na íntegra e em
com o problema proposto; analisar a consistência
português, com publicação entre os anos de 1993
das informações e dados apresentados pelos auto-
e 2013 e, ainda, após leitura dos resumos e a cons-
res” (GIL, 2002, p. 48).
tatação de estarem diretamente ligados ao tema,
Diante disto, a coleta de dados é uma etapa im- somaram-se 09 trabalhos para a base de realização
portante, realizada pelo(s) autor(es) da pesquisa, deste artigo. Entretanto, para maior embasamento,
consistindo na triagem de todo o material coleta- foram utilizados 11 trabalhos, entre cartilhas, por-
do na construção do referencial bibliográfico. Esta tarias, normas e manuais técnicos publicados pelo
etapa procura demonstrar a existência de relações Ministério da Saúde.

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 1, n. 1, jan./jun. 2015 | 19


BRANDÃO, A.C.S.; SILVA, J.R.A. | A contribuição dos Sistemas de Informação em Saúde (SIS) para o processo de auditoria do SUS

3.1. Auditoria do SUS e os complementar aos sistemas de controle e avaliação


Sistemas de Informação em Saúde interna e externa. Tem por missão “realizar audi-
toria no SUS, contribuindo para qualificação da
O termo audit, o qual marcou o início da utilização
gestão, visando à melhoria da atenção e do acesso
da auditoria nos serviços de saúde, foi utilizado,
às ações e aos serviços de saúde” (BRASIL, 2011).
pela primeira vez, por Lambeck, em 1956, tendo
Este Sistema surgiu com a intenção de monitorar
como intuito avaliar a qualidade da assistência em
e averiguar o cumprimento dos princípios do SUS
saúde com base na observação direta, registros e
(universalidade, integralidade, equidade e partici-
história do paciente (CALEMAN; MOREIRA;
pação social), como prevê o artigo 196 da Consti-
SANCHES, 1998).
tuição Federal:
Na saúde pública brasileira, a Constituição Federal
A saúde é direito de todos e dever do Estado,
de 1988 antecipa a necessidade do Estado em fis-
garantida mediante as políticas sociais e econô-
calizar as ações e serviços de saúde, através do seu
micas que visem à redução do risco de doença e
artigo 197:
de outros agravos e ao acesso universal e igua-
São de relevância pública as ações e serviços litário às ações e serviços para sua promoção,
de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, proteção e recuperação (BRASIL, 1988).
nos termos da lei, sobre sua regulamentação,
fiscalização e controle, devendo sua execução
Com a Lei 8.689/93, foi criado o Departamento de
ser feita diretamente ou através de terceiros e, Controle, Avaliação e Auditoria, órgão central do
também, por pessoa física ou jurídica de direi- SNA (BRASIL, 1993), posteriormente substituído
to privado (BRASIL, 1988). pelo Departamento Nacional de Auditoria do SUS
(DENASUS), através do Decreto 3.496/00, que
Após a criação e regulamentação do SUS atra- tem a responsabilidade de exercer procedimentos
vés da Constituição de 1988 e das Leis 8.080/90 de auditoria e fiscalização especializada no âmbito
e 8.142/90, a Lei 8.080/90 (Lei Orgânica da Saú- federal do SUS (BRASIL, 2000).
de), em seu artigo 33, inciso 4º, define que é de
competência do Ministério da Saúde, por meio do Hoje, o DENASUS faz parte da estrutura da Secre-
seu sistema de auditoria, acompanhar se a aplica- taria de Gestão Estratégica e Participativa, órgão
ção dos recursos repassados a Estados e municí- bastante específico do Ministério da Saúde, rece-
pios está de acordo com a programação aprovada. bendo novo formato diante do aumento do grau
Se constatada a má administração, desvio ou não de complexidade da institucionalização do SUS,
aplicação de tais recursos, caberá ao próprio Mi- simultaneamente à gradativa descentralização das
nistério da Saúde aplicar as medidas previstas em responsabilidades pelo cumprimento das ações de
lei (BRASIL, 1990). saúde e pelo uso dos recursos financeiros.

Foi com base na necessidade de criação de um Segundo Relatório do DENASUS:


órgão que adotasse essa responsabilidade, com a
É a auditoria da saúde a instância administra-
devida adaptação aos princípios contidos nas Leis
tiva última a informar tecnicamente às auto-
Orgânicas da Saúde, assim como na Constituição
ridades competentes e municiá-las com as in-
Federal, que surgiu o Sistema Nacional de Audito-
formações sobre os delitos contra o SUS. Por
ria (SNA), criado pela Lei 8.689/93 e regulamenta-
meio da verificação das atividades finalísticas
do pelo Decreto-Lei 1.651/95 (BRASIL, 2011).
de assistência e de provimento de recursos, é o
Por abordar especificamente o setor Saúde, o SNA SNA que deve proteger a expansão estrutural
se estrutura em um sistema atípico, único, distinto, organizada, o desenvolvimento da capacidade

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BRANDÃO, A.C.S.; SILVA, J.R.A. | A contribuição dos Sistemas de Informação em Saúde (SIS) para o processo de auditoria do SUS

operacional e o controle sistemático para do- cia Nacional de Vigilância Sanitária; Agência Na-
tar o SUS das condições de assegurar a melhor cional de Saúde Suplementar; Secretaria de Aten-
assistência para todos (BRASIL, 2003). ção à Saúde; Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, entre outros (BRASIL, 2004).
A auditoria no sistema de saúde pública tem um
papel fundamental no caminho da solidificação do A fim de organizar as informações em saúde, fo-
SUS, pois promove, de forma expressiva, melhor ram desenvolvidos Sistemas de Informações em
cumprimento dos seus princípios e diretrizes, fis- Saúde (SIS), instrumentos de apoio decisório para
calizando o desenvolvimento das ações e serviços o planejamento, gestão, organização e avaliação
dirigidos à população. Assim, tem o intuito de evi- dos níveis que constituem o SUS (BRASIL, 2006).
tar possíveis distorções e corrigir as falhas existen-
Assim, segundo Ferreira (1999):
tes, além de averiguar a qualidade da assistência e o
acesso dos usuários aos serviços de saúde. Um SIS é um conjunto de componentes que
atuam de forma integrada, através de meca-
A alocação, de forma correta, dos recursos finan-
nismos de coleta, processamento, análise e
ceiros apresenta uma satisfação das demandas
transmissão da informação necessária e opor-
e das necessidades da sociedade no âmbito do
tuna para implementar processos de decisões
SUS, onde o auditor age de forma a uniformizar no Sistema de Saúde. Seu propósito é selecio-
os serviços, oferecendo um custo mais reduzido nar dados pertinentes e transformá-los em in-
em contrapartida a um indicador de quantidade formações para aqueles que planejam, finan-
e qualidade mais elevado. Funciona ainda como ciam, proveem e avaliam os serviços de saúde.
uma estrutura de fiscalização interna do Ministé-
rio da Saúde, favorecendo ao aumento da confia- No que se refere ao Planejamento, este se baseia
em uma ferramenta de administração adotada
bilidade e ao avanço na qualidade da assistência à
para orientar as tomadas de decisões e ações que
saúde, o que fortalece a cidadania. Assim, utiliza
levarão ao(s) objetivo(s) almejado(s). Relacionado
como subsídio para o planejamento e desenvolvi-
ao setor Saúde, o Planejamento em Saúde consiste
mento das ações as informações coletadas, cola-
em um instrumento fundamental para organizar
borando com um melhor atendimento ao usuário
e melhorar o desempenho das políticas em saúde,
final (SANTOS et al, 2012).
buscando sempre adotar ações que promovam a
Para a realização de uma auditoria eficaz no SUS, proteção, promoção, recuperação e/ou reabilitação
é importante avaliar minuciosamente as informa- em saúde. Assim, as informações obtidas a partir
ções referentes aos serviços de saúde prestados à dos SIS são fundamentais para identificar e definir
população, levando-se em consideração a realida- as prioridades de intervenções que contribuirão
de socioeconômica, demográfica e epidemiológica para melhorar e/ou mudar as condições atuais de
da mesma. Atualmente, a principal fonte de infor- saúde da população que depende do serviço públi-
mações em saúde é a internet, na qual são encon- co de saúde.
trados instrumentos relevantes para a realização Para a utilização da informática e informação em
da Auditoria do SUS. Através de páginas mantidas saúde, é necessário que os envolvidos no proces-
por importantes órgãos, as informações em saúde so de gestão tenham conhecimento sobre como se
são constantemente atualizadas, sendo encontra- encontram estruturados estes SIS, quais ações são
das, principalmente, em páginas do Ministério da levantadas, suas finalidades e quais setores são res-
Saúde, DATASUS, Fundação Nacional de Saúde, ponsáveis pelos seus respectivos gerenciamentos.
Sistema Nacional de Auditoria/DENASUS; Agên- Os sistemas que apresentam informações a respei-

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BRANDÃO, A.C.S.; SILVA, J.R.A. | A contribuição dos Sistemas de Informação em Saúde (SIS) para o processo de auditoria do SUS

to das necessidades da população buscam identi- l | SI-PNI/API (Sistema de Informação do Pro-


ficar os problemas de saúde através da análise de grama Imunizações/ Avaliação do Progra­ma
dados sobre morbidade e mortalidade; os sistemas de Imunização);
com informações sobre demanda, registrados por
m | SisHiperDia (Sistema de Informação do Plano
meio das produções dos estabelecimentos de saú-
de Reorganização da Atenção à Hipertensão
de, buscam conhecer os atendimentos dispensados
Arterial e ao Diabetes Mellitus);
à população; já os sistemas sobre oferta disponibi-
lizam os dados dos recursos (humanos, materiais n | SIVISA (Sistema de Informação em Vigilância
ou financeiros) disponibilizados para o atendi- Sanitária).
mento populacional (SÃO PAULO, 2011).
E, por sua vez, o SCNES (Sistema de Cadastro Na-
Dentre os sistemas de informações sobre necessi- cional de Estabelecimentos de Saúde) consiste na
dade em saúde, têm-se: principal informação sobre oferta em saúde (SÃO
a | SIM (Sistema de Informações sobre Mortali- PAULO, 2011).
dade); A operacionalização destes SIS deve ser realiza-
b | SINAN (Sistema de Informações de Agravos da nos municípios, através da coleta de dados e
de Notificações); constante atualização dos mesmos. Assim, a esfera
municipal é responsável por consolidar os dados e
c | SINASC (Sistema de Informações sobre Nas- transferi-los para a esfera estadual em uma perio-
cidos Vivos); dicidade predefinida para cada Sistema e pactuada
nos instrumentos de gestão; e a esfera estadual, por
d | SISAWEB (Sistema de Informações das Ativi-
sua vez, consolida os dados obtidos dos municípios e
dades de Vigilância e Controle da Dengue);
transmite para a esfera federal (SEGANTIN, 2012).
e | SIVVA (Sistema de Informação para a Vigilân-
Para completar o rol de SIS, além de muitos outros,
cia de Violências e Acidentes);
foi inaugurado, em 2008, o SISAUD/SUS (Sistema
f | SISVAN (Sistema de Vigilância Alimentar e de Auditoria do SUS), uma ferramenta tecnológica
Nutricional); que permite a associação das informações voltadas
ao processo de auditoria do SUS. Criado para favo-
Já as principais informações sobre demanda aten-
recer o apoio às auditorias, tem como possibilida-
dida em saúde constam nos seguintes sistemas:
des a identificação e o registro da força de trabalho
g | SIAB (Sistema de Informações da Atenção Bá- e demandas existentes no SNA (Sistema Nacional
sica); de Auditoria), bem como das agendas de ativida-
des, instituições auditadas, denúncias e outros tra-
h | SIASUS (Sistema de Informações Ambulato- balhos executados pela equipe multiprofissional de
riais do SUS); auditoria (BRASIL, 2008).
i | SISPRENATAL (Sistema de Informações do O SISAUD/SUS procura aprimorar os dispositivos
Programa de Humanização no Pré-Natal e e mecanismos de auditoria, garantindo racionali-
Nascimento); dade, agilidade e uniformização em seu processo,
além de estar voltado à consolidação das informa-
j | SISMAMA (Sistema de Informação do Câncer
ções relativas a todo o SNA. Esta ferramenta au-
de Mama);
xilia a composição do Sistema Nacional de Audi-
k | SISCOLO (Sistema de Informação do Câncer toria através da formação de seus profissionais e,
do Colo do Útero); ainda, viabiliza o aprendizado e a transferência de

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experiências e práticas entre os auditores das três cada vez mais práticas e acessíveis para garantir o
esferas do governo – municipal, estadual e federal equilíbrio entre a qualidade da assistência em saú-
(TEREZA, VIEIRA, 2013). de e o controle e fiscalização dos recursos destina-
dos aos serviços de saúde.

4. Considerações Finais Porém, apesar da consciência da grande relevância


do uso desses SIS no processo de Auditoria do SUS,
A informação na área da saúde deve ser conside-
verifica-se que existe ainda resistência por parte dos
rada como uma ferramenta de embasamento para gestores em adotarem estes SIS na rotina de traba-
a constatação da realidade socioeconômica, de- lho da saúde pública. Isto se deve, principalmente,
mográfica e epidemiológica, para o planejamento, à escassez de recursos humanos para fazer frente às
gestão, organização e avaliação dos diversos planos necessidades de serviço que lhes compete, ao déficit
que compõem o Sistema Único de Saúde. em tecnologia da informação, à ineficácia da atua-
Para a organização e o processamento dos dados lização constante dos SIS e integração entre eles, e
coletados na saúde são utilizados os Sistemas de também da falta de capacitação dos profissionais
Informação em Saúde, tendo como principal fi- para trabalharem com a informática e com estes SIS.
nalidade produzir indicadores de saúde que per- Diante do exposto, são necessárias conscientização
mitam o conhecimento da realidade da popula- dos gestores de saúde a respeito da importância do
ção estudada e as possíveis modificações que nela uso adequado dos SIS e a constante fiscalização e
ocorrem. Aqueles SIS voltados para subsidiar as controle por parte das esferas municipal, estadual
atividades de auditoria, na extração de informa- e federal sobre esta contínua atualização dos SIS.
ções e na elaboração de relatórios, são fundamen- Assim, depende exclusivamente da seriedade e
tais para o processo de Auditoria do SUS. Eles têm responsabilidade das três esferas de governo com
como objetivo principal a utilização de alternativas quem é feito o trabalho em questão.

THE CONTRIBUTION OF INFORMATION SYSTEMS IN HEALTH FOR AUDIT PROCESS OF SUS

Abstract
The Health Information System (Sistema de Informações em Saúde - SIS) is an important me-
chanism for collecting, processing and organizing of the main information from a population,
serving as a basis for decision making in the planning of health services. Moreover, it also serves
as an important tool to evaluate the appropriate use of the resources of the Unified Health Sys-
tem (Sistema Único de Saúde - SUS) and quality of health services provided to the population,
through the audit of the SUS. The study consisted of a review of literature, with the primary ob-
jective to describe the contribution of information systems in health throughout the audit process
of SUS. Were used 09 studies of 384 found in Scielo, Lilacs and BVS, besides 11 studies between
primers, ordinances, standards and technical manuals published by the Ministry of Health. It was
found that for the organization and processing of the data collected in healthcare are used the
Health Information System, with the main purpose to produce health indicators that allow the
knowledge of the reality of the population studied and the possible changes that occur in it. Those
SIS geared toward to subsidize the activities of audit, in the extraction of information and in the
preparation of reports, are fundamental for the audit process of SUS.

Keywords
Information Systems. Unified Health System.

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BRANDÃO, A.C.S.; SILVA, J.R.A. | A contribuição dos Sistemas de Informação em Saúde (SIS) para o processo de auditoria do SUS

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Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 1, n. 1, jan./jun. 2015 | 24


ENTENDIMENTO DOS ENFERMEIROS INTENSIVISTAS
SOBRE AS FORMAS DE PREVENÇÃO DE PNEUMONIA
ASSOCIADA À VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA:
UMA REVISÃO DA LITERATURA

Veronica Barreto Cardoso*

Resumo
Este estudo versa sobre a Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica Invasiva (PAV), que é
considerada a infecção relacionada à assistência à saúde mais frequente em Unidade de Terapia
Intensiva e representa um número significativo nas taxas de morbimortalidade. Tem como obje-
tivo evidenciar o entendimento, a partir das produções científicas nacionais, dos enfermeiros
intensivistas sobre as formas de prevenção de Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica In-
vasiva.Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, com abordagem qualitativa e caráter exploratório.
Realizou-se uma pesquisa pela internet, sendo selecionados artigos científicos com base de dados
na Scielo, LILACS e Google Acadêmico, do período de 2000 a 2013. Em um universo de 3.972
trabalhos consultados, apenas 07 estavam de acordo com o objetivo da pesquisa. Os resultados
obtidos apontam para o despreparo dos enfermeiros quanto às principais formas de pneumonia
associada à ventilação mecânica recomendas pela literatura, sendo que apenas um artigo obteve
resultados diferenciados dos demais estudos. Conclui-se que a PAV, embora seja uma infecção
grave, pode ser evitada pelo cuidado de enfermagem fundamentado nas melhores evidências
disponíveis no Bundle de prevenção. Porém, a partir deste estudo, pôde-se perceber que poucos
são os enfermeiros que as conhecem e as aplicam na prática.

Palavras-chave

Ventilação Mecânica. Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica. Cuidado de Enfermagem.


Terapia Intensiva.

1. Introdução nada à Assistência à Saúde (IRAS) mais recor-


A Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica rente nas UTIs e representa números expressivos
Invasiva (PAV) é considerada a Infecção Relacio- nas taxas de morbimortalidade, além de aumen-

* Enfermeira. Especialista em Enfermagem em UTI pela Atualiza Cursos. E-mail: veronica.bcardoso@


gmail.com

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 1, n. 1, jan./jun. 2015 | 25


CARDOSO, V.B. | Entendimento dos enfermeiros intensivistas sobre as formas de prevenção de pneumonia associada à ...

tar significativamente o tempo de internação ho- Para Carvalho (2006), o uso do suporte ventilató-
spitalar (SILVA; NASCIMENTO; SALLES, 2012). rio invasivo foi um grande avanço no tratamento
De acordo com Meinberg et al. (2012), o risco de da insuficiência respiratória nos últimos cinquen-
ocorrência corresponde de 1 a 3% para cada dia ta anos. Embora salve muitas vidas, a aplicação
de permanência em ventilação mecânica, quando de pressão positiva nos pulmões pode gerar uma
a incidência pode variar de 7 a 40%, dependendo gama de efeitos adversos. Dentre esses efeitos, a
de fatores como população estudada, tipo de UTI e pneumonia associada à ventilação mecânica en-
critérios diagnósticos. contra-se como o mais temível na UTI.

Os pacientes internados em UTI possuem ris- A VM é uma atividade multi e interdisciplinar, na


co aumentado de desenvolver IRAS devido à sua qual cada membro da equipe tem características e
condição clínica. De acordo com Oliveira et al. funções específicas que interagem e se complemen-
(2012), as IRAS são definidas como toda e qual- tam. Nesse contexto, a equipe de enfermagem man-
quer infecção que acomete o indivíduo, seja em tém o domínio de técnicas relativas à aspiração das
instituições hospitalares, atendimentos ambulato- vias aéreas, à troca da fixação do dispositivo ventila-
riais ou domiciliar e que está associada a algum tório (TOT/TQT), às medidas preventivas de infec-
procedimento assistencial. ção associada à ventilação mecânica e o manejo do
paciente no leito (NEPOMUCENO; SILVA, 2007).
As IRAS nas UTIs estão associadas, principalmen-
te, ao uso de procedimentos invasivos (cateteres De acordo com Pombo, Almeida e Rodrigues
venosos centrais, sondas vesicais de demora, ven- (2010), devido à importância e à complexidade da
tilação mecânica, dentre outros), imunossupresso- PAV para a saúde do paciente, é imprescindível a
res, período de internação prolongado, colonização realização de intervenções que causem impactos em
por microrganismos resistentes, uso indiscrimina- sua prevenção e consequente redução da frequência
do de antimicrobianos e o próprio ambiente da da infecção. Nessa perspectiva, estudos revelam que
unidade, que favorece a seleção natural de micror- existe uma série de recomendações baseadas em
ganismos e, consequentemente, a colonização e/ou evidências que podem maximizar a qualidade da
infecção por microrganismos, inclusive multirre- assistência e minimizar os custos de saúde.
sistentes (OLIVEIRA et al., 2012).
Nesse contexto, o enfermeiro desempenha um pa-
O paciente crítico, geralmente, está dependente pel fundamental no que tange à profilaxia de PAV,
da ventilação mecânica invasiva (VMI), a qual é visto que são esses profissionais que respondem
possível por meio de próteses, como o tubo orotra- por vários mecanismos de prevenção, seja em ati-
queal e a cânula de traqueostomia. De acordo com vidades de supervisão ou de treinamento de pes-
o III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica soal (FREIRE; FARIAS; RAMOS, 2006).
de 2007, a mesma se faz através da utilização de
aparelhos que, intermitentemente, insuflam as vias A minha experiência profissional tem mostrado
respiratórias com volumes de ar. O movimento do que grande parte dos enfermeiros que trabalham
gás para dentro dos pulmões ocorre devido à gera- em UTI desconhecem e, consequentemente, não
ção de um gradiente de pressão entre as vias aéreas implementam as medidas de prevenção de PAV que
superiores e o alvéolo, podendo ser conseguido por são recomendadas pelos centros de controle e pre-
um equipamento que diminua a pressão alveolar venção de infecção. Partindo do princípio de que
(ventilação por pressão negativa) ou que aumen- as infecções pulmonares representam um número
te a pressão da via aérea proximal (ventilação por elevado dentro do contexto de morbimortalida-
pressão positiva), sendo a ventilação com pressão de e de custos em pacientes internados, e que é o
positiva a de maior aplicação na prática clínica. enfermeiro quem assiste o paciente a maior parte

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CARDOSO, V.B. | Entendimento dos enfermeiros intensivistas sobre as formas de prevenção de pneumonia associada à ...

do tempo, é imprescindível que esses profissionais De acordo com Zeitoun et al. (2001), para a pneu-
conheçam as medidas de prevenção da PAV, a fim monia ser considerada nosocomial, deve haver
de reduzir os riscos para a sua ocorrência. evidências de que a doença não estava presente
ou incubada durante a admissão do paciente no
Acredita-se, portanto, que seja importante apreen-
hospital. Nesse contexto, Siva, Nascimento e Salles
der como as produções científicas na área da saúde
(2012) definem PAV com um processo infeccioso
abordam o tema, pensando que uma das atribuições
no parênquima pulmonar que acomete pacientes
do profissional de saúde seja prestar uma assistênc-
submetidos à intubação endotraqueal e à Ventila-
ia de qualidade livre de danos. É importante tam-
ção Mecânica.
bém, no sentido de que, ao identificarmos como
estes pacientes estão sendo cuidados, possamos De acordo com Santos, Nogueira e Maia (2013), a
montar estratégias para melhorar a qualidade da PAV ocorre após 48 horas de intubação endotra-
assistência, contribuindo, dessa forma, tanto com queal e instituição da ventilação mecânica invasi-
a melhora do prognóstico do paciente, quanto com va, ou 48 horas após a extubação, com presença de
a redução de custos hospitalares. Assim, espera-se novo filtrado pulmonar visualizado na radiografia
que os resultados deste estudo possam subsidiar de tórax, persistindo por mais de 24 horas sem
aqueles que trabalham junto a pacientes que neces- causas explicáveis.
sitam utilizar a ventilação mecânica invasiva e, com
isso, adotar as medidas de prevenção da PAV. A PAV pode ser classificada em duas formas: de
início precoce, desenvolve-se até o 4° dia de VM,
Assim, as atividades da equipe que trabalha num e de início tardio, ocorre após o 5° dia de VM.
ambiente em que a ventilação mecânica é usada A pneumonia de início precoce é usualmen-
com frequência devem ser avaliadas continuamen- te causada pela microaspiração de bactérias que
te, visando à melhoria da qualidade da assistência colonizam a orofaringe (cocos  Gram-positivos
prestada. Com base nessas considerações, surge a e Haemophilus influenza) e, geralmente, apresenta
seguinte indagação: qual é o entendimento dos en- melhor prognóstico por serem mais sensíveis aos
fermeiros intensivistas sobre as formas de preven- antibióticos. Já a pneumonia de início tardio é, em
ção de pneumonia associada à ventilação mecâni- geral, causada por microrganismos nosocomiais,
ca invasiva? Portanto, o objetivo deste estudo será como  Pseudomonas aeroginosa,  Stenotrophomo-
evidenciar o entendimento, a partir das produções nas maltophilia, espécies Acinetobacter e Staphylo-
científicas nacionais, dos enfermeiros intensivistas coccus aureus resistentes à meticilina e, portanto,
sobre as formas de prevenção de Pneumonia Asso- estão associadas a uma maior morbimortalidade
ciada à Ventilação Mecânica Invasiva. (SOUZA; SANTANA, 2012).

2. Referencial Teórico 2.2. Fatores de Risco


Conforme Carvalho (2006), os fatores de risco para
2.1. Definição o desenvolvimento de PAV são variados e podem
De acordo com Lopes e López (2009), pneumonia ser classificados como modificáveis e não modifi-
consiste em uma resposta inflamatória decorren- cáveis. Dentre os fatores não modificáveis, estão:
te da penetração e multiplicação descontrolada idade, escore de gravidade do paciente ao entrar na
de microrganismos no trato respiratório inferior. UTI, presença de comorbidades (insuficiência car-
Destacam, também, que a VM é um fator reconhe- díaca, doença pulmonar obstrutiva crônica, diabe-
cido e fortemente associado ao desenvolvimento tes, doenças neurológicas, neoplasias, traumas e
da pneumonia nosocomial. pós-operatório de cirurgias).

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Já os fatores de risco modificáveis, ainda de acordo sente, pelo menos, um dos critérios laboratoriais:
com Carvalho (2006), estão relacionados ao am- hemocultura positiva, sem outro foco de infecção
biente (microbiota) da própria UTI. Assim, o co- aparente, ou cultura positiva do líquido pleural, ou
nhecimento dos germes mais frequentes na unida- cultura do lavado broncoalveolar  >104  UFC/mL
de é fundamental para guiar o tratamento da PAV. ou do aspirado traqueal >106 UFC/mL, ou exame
Nesse contexto, Meinberg et al. (2012) afirmam que histopatológico com evidência de infecção pulmo-
os fatores de risco modificáveis são os possíveis al- nar, ou antígeno urinário ou cultura para  Legio-
vos na prevenção da PAV. nella spp., ou outros testes laboratoriais positivos
para patógenos respiratórios (sorologia, pesquisa
Outros fatores de risco que merecem destaque são: direta e cultura). Na ausência de um dos critérios
coma, nível de consciência, intubação e reintuba- microbiológicos, é feito o diagnóstico de PAV cli-
ção traqueal, condições imunitárias, uso de drogas nicamente definida.
imunodepressoras, choque, tempo prolongado de
VM (maior que sete dias), aspirado do condensado
2.4. Prevenção
contaminado dos circuitos do ventilador, desnutri-
ção, contaminação exógena, antibioticoterapia como A criação de prot ocolos dentro de UTIs constitui
profilaxia, colonização microbiana, cirurgias prolon- uma prática que vem sendo adotada para a pre-
gadas, aspirações de secreções contaminadas, colo- venção de PAV. Entretanto, aplicar os protocolos
nização gástrica e sua aspiração e pH gástrico maior na prática assistencial é um desafio, pois, para que
que 4 (POMBO, ALMEIDA; RODRIGUES, 2010). tenha êxito, é necessário que haja motivação de
toda a equipe envolvida, permitindo a avaliação
contínua da assistência prestada (SILVA; NASCI-
2.3. Diagnóstico
MENTO; SALLES, 2012).
De acordo com Santos, Nogueira e Maia (2013),
existe dificuldade em identificar a PAV, pois não Conforme Silva, Nascimento e Salles (2012), atual-
há um padrão ouro para o diagnóstico desse tipo mente, os Pacotes ou Bundles de Cuidados têm
de infecção, visto que a maior parte dos critérios sido muito utilizados nas UTIs. Esses pacotes
utilizados pode estar associada a outras condições reúnem um grupo pequeno de intervenções que,
clínicas, tornando-os inespecíficos. quando implementado em conjunto, resulta em
grande melhoria na assistência à saúde. Para que
Os critérios clínicos utilizados são: aumento do se tenha sucesso na implementação dos Bundles,
número de leucócitos totais, aumento e mudança a abordagem tem que ocorrer de forma plena, ou
de aspecto de secreção traqueal, piora ventilatória seja, os elementos têm que ser executados comple-
usando, principalmente, como referência a relação tamente em uma estratégia de “tudo ou nada”. Nes-
PaO2/FiO2, febre ou hipotermia e ausculta compa- se sentido, Gomes e Silva (2010) afirmam que as
tível com consolidação, sempre tendo como refe- estratégias contidas nos Bundles são baseadas em
rência o período anterior à suspeita de PAV. Como evidências científicas que podem prevenir ou re-
critério radiológico, há o RX de tórax à beira leito, duzir o risco de determinadas complicações.
mostrando novo infiltrado sugestivo de pneumo-
De acordo com Zeitoun et al. (2001), os alvos prin-
nia, sempre comparando ao período anterior ao da
cipais para a prevenção da PAV são fontes ambien-
suspeita (SOCIEDADE PAULISTA DE INFECTO-
tais de contaminação, infecção cruzada pela equipe
LOGIA, 2006).
que cuida do paciente, medicação e fatores mecâ-
Conforme Dalmora et al. (2013), PAV é conside- nicos, como a sonda nasogástrica, que leva à colo-
rada com confirmação microbiológica se está pre- nização orofaríngea e ao refluxo gástrico. O uso ir-

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restrito de antibióticos resulta em colonização com que a higiene bucal é uma medida significativa
patógenos nosocomiais e aumento da resistência para a redução de PAV (SILVEIRA et al., 2010).
ao antibiótico.
Meinberg et al. (2012) afirmam que a clorexidina
As atuais diretrizes para o controle de infecção res- é utilizada como antisséptico bucal para a redução
piratória do Center for Disease Control and Preven- da placa dental de pacientes internados na UTI.
tion (CDC), de acordo com 5 Million Lives Cam- Essas medidas, provavelmente, diminuem a carga
paign (2008), preconizam quatro componentes de de patógenos da placa e, potencialmente, a taxa de
cuidados para a prevenção de PAV. Esses compo- pneumonia nosocomial.
nentes são:
De acordo com Beraldo e Andrade (2008), a clo-
a | Elevação da cabeceira da cama entre 30 e 45 rexidina é um agente antimicrobiano com amplo
graus: diminui o risco de aspiração do con- espectro de atividade contra gram-positivos, in-
teúdo gastrointestinal ou secreção oro/naso- cluindo o S. aureus, resistente à oxacilina, e o En-
faríngea. Outra razão para esta sugestão foi a terococcus sp., resistente à vancomicina e com me-
melhoria da ventilação dos pacientes. nor eficácia contra gram-negativos. É absorvida
pelos tecidos, ocasionando um efeito residual ao
b | Interrupção diária da sedação e avaliação diá- longo do tempo, apresentando atividade mesmo 5
ria das condições de extubação: a superficia- h após a aplicação.
lização da sedação resulta em diminuição do
tempo em VM, e consequentemente, redução Nesse contexto, Pombo, Almeida e Rodrigues
(2010) destacam que as recomendações princi-
do risco de PAV. Além do mais, o desmame
pais para reduzir a PAV incluem a educação dos
ventilatório é facilitado quando o paciente é
profissionais de saúde, a vigilância epidemiológica
capaz de auxiliar na extubação, seja tossindo
das infecções hospitalares, a interrupção na trans-
ou controlando as secreções.
missão de microrganismos pelo uso apropriado de
c | Profilaxia de Úlcera Péptica: úlceras pépticas equipamento hospitalar, a prevenção da transmis-
por stress são as causas mais comuns de he- são de uma pessoa para outra e a modificação dos
morragia digestiva em pacientes de terapia in- fatores de riscos para o desenvolvimento de infec-
tensiva, o que aumenta o risco de mortalidade. ções bacterianas.
A preocupação com a profilaxia das úlceras de
stress deve-se ao seu potencial como fator de in-
3. Procedimentos Metodológicos
cremento de risco para pneumonia nosocomial.
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, com abor-
d | Profilaxia para Trombose Venosa Profunda dagem qualitativa e caráter exploratório. Consoan-
(TVP): é uma intervenção adequada a todos te Gil (1991), a pesquisa bibliográfica tem como
os pacientes sedentários. principal vantagem o fato de permitir ao investiga-
O CDC recomenda a implantação de um progra- dor a cobertura de uma gama de fenômenos muito
mais ampla do que aquela que poderia pesquisar
ma que inclua a higiene bucal para a prevenção de
diretamente. Isso se torna muito mais importante
infecções hospitalares, porém não a inclui no Bun-
quando o problema de pesquisa requer dados mui-
dle de Prevenção de Pneumonia Associada à Ven-
to dispersos pelo espaço.
tilação Mecânica por não categorizar tal prática
como recomendações baseadas em forte evidênc- A metodologia qualitativa descreve a complexidade
ias. No entanto, vários estudos têm demonstrado do comportamento humano ao permitir uma aná-

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lise profunda sobre hábitos, atitudes e tendência do redigido em português e ter sido publicado no pe-
comportamento (LAKATOS; MARCONI, 2006). ríodo de 2000 a 2013.
Quando exploratória, busca investigar fatos, pro-
Na base de dados do Scielo, foram encontrados 11
cessos e relações ainda pouco conhecidas (MINA-
trabalhos publicados sobre o assunto. Enquanto
YO, 2010). O modelo qualitativo é flexível e elásti-
co, busca uma compreensão do todo, exige intenso que na LILACS, encontraram-se 08 trabalhos. Já
envolvimento do pesquisador e análise contínua no Google Acadêmico, também foram encontra-
dos dados (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004). dos 11 trabalhos. Foram excluídos aqueles que não
faziam menção às frases: pneumonia associada à
Para a construção do trabalho, foi analisado um
ventilação mecânica e formas de prevenção de
conjunto de artigos científicos publicados de
PAV conhecidas pela equipe de enfermagem. Dos
2000 a 2013, que abordam a temática em questão,
trabalhos selecionados, apenas 07 atenderam aos
identificados nas bases de dados da Literatura La-
critérios de inclusão estabelecidos.
tino-Americana e do Caribe de Informação em
Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Após encontrar as obras, foi realizada uma leitura
Library Online (Scielo) e Google Acadêmico. O le- exploratória com o objetivo de visualizar o conjun-
vantamento dos artigos se deu através da internet, to de informações e verificar em que medida essas
com a utilização dos unitermos: ventilação mecâ- obras interessaram à pesquisa. Em seguida, realizou-
nica e pneumonia associada à ventilação mecânica. se uma leitura seletiva para determinar o material
O período de tempo estabelecido foi definido por que, de fato, foi interessante para o trabalho. A partir
ser considerado amplo e atual, podendo conter os disso, os artigos foram selecionados e, na sequência,
últimos estudos acerca do tema.
realizaram-se fichamento e leitura analítica.
Estabeleceram-se como critérios de inclusão: con-
ter, pelo menos, um dos descritores - Ventilação
4. Resultados e Discussão
Mecânica; Pneumonia associada à Ventilação Me-
cânica; ser estudo realizado sobre a prevenção de Os resultados obtidos são visualizados no Quadro
PAV com foco na Enfermagem; estar disponível 1 que se segue, no qual são identificados autores,
on-line, estar disponível em texto completo, estar títulos dos artigos e ano de publicação dos mesmos.

Quadro 1. Relação dos artigos identificados na pesquisa (continua)

AUTORIA TÍTULO ANO

RODRIGUES, YCSJ; STUDART, Ventilação mecânica: evidências para o cuidado de enfermagem 2012
RMB; ANDRADE, IRC; CITÓ,
COM; MELO, EM; BARBOSA, IV

POMBO, CMN; ALMEIDA, PC; Conhecimento dos profissionais de saúde na Unidade de Tera- 2010
RODRIGUES, JLN pia Intensiva sobre pneumonia associada à ventilação mecânica

SILVA, SG; NASCIMENTO, ERP; Bundle de prevenção da pneumonia associada à ventilação me- 2012
SALLES, RK cânica: uma construção coletiva

GONÇALVES, FAF; BRASIL, VV; Ações de enfermagem na profilaxia da pneumonia associada à 2012
CÁSSIA, L; RIBEIRO, M; TRIPLE, ventilação mecânica
AFV

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Quadro 1. Relação dos artigos identificados na pesquisa (conclusão)

AUTORIA TÍTULO ANO

SANTOS, ASE; NOGUEIRA, LAA; Pneumonia associada à ventilação mecânica: protocolo de pre- 2013
MAIA, ABF venção

GOMES, AM; SILVA, RCL Bundle de prevenção da pneumonia associada à ventilação mecâ- 2010
nica: o que sabem os enfermeiros a esse respeito?

MOREIRA, BSG; SILVA, RMO; Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica: medidas preventi- 2011
ESQUIVEL, DN; FERNANDES, JD vas conhecidas pelo enfermeiro

Fonte: Elaborado pela Autora.

Constata-se, no Quadro 1, que os artigos são pu- sionais de saúde atuando nas UTIs com total des-
blicados após o ano de 2010, evidenciando, dessa preparo sobre as formas de prevenção de PAV. No
forma, que os estudos relacionados com a enfer- estudo, foi aplicado um questionário que continha
magem e as formas de pneumonia associada à ven- perguntas sobre a patologia, epidemiologia, fatores
tilação mecânica são recentes. Nota-se também a de risco, tratamento e prevenção de PAV. Os re-
reduzida quantidade de artigos publicados acerca sultados indicaram que médicos, fisioterapeutas e
do tema abordado, pois o maior número de traba- enfermeiros obtiveram os melhores conceitos, en-
lhos disponível sobre a ventilação mecânica está quanto que os auxiliares obtiveram os piores. Isso
relacionado com a Fisioterapia. demonstra que os profissionais que lidam direta-
mente com a higiene dos pacientes com VM nas
Nesse particular, é oportuno destacar a participa- UTIs são os que menos sabem sobre as patologias
ção da enfermagem nas publicações. Cabe mencio- e como preveni-las, demonstrando, dessa forma, a
nar que esses profissionais desempenham a maior necessidade de educação permanente nesse tema.
parcela no cuidado do paciente hospitalizado, es-
pecialmente considerando que atuam initerrupta- Dados da pesquisa bibliográfica desenvolvida por
mente nas 24 h, em esquema de plantão. Em contra- Santos, Andrade e Maia (2013) corroboram os re-
partida, pode-se constatar que a literatura destaca a sultados do estudo de Pombo et al. (2010), no qual
escassa participação dos enfermeiros no que tange depara-se com a dificuldade dos profissionais de
a pesquisas envolvendo ventilação mecânica. saúde em implementar as medidas preventivas de
PAV devido ao desconhecimento por parte deles.
Conforme as publicações científicas analisadas, a Para isso, é importante reforçar que o programa
maior parte dos estudos aponta o despreparo dos educacional dos profissionais de saúde e o treina-
enfermeiros quanto às principais formas de pneu- mento constituem um importante quesito na pre-
monia associada à ventilação mecânica recomen- venção de PAV, já que são esses profissionais que
dadas pela literatura. Somente um artigo obteve lidam diretamente com os pacientes e seus familia-
resultados diferenciados dos demais estudos. As res e estão também diretamente ligados às preven-
informações pertinentes ao objetivo deste estudo ções e controle das infecções hospitalares.
foram analisadas e serão discutidas a seguir.
Espera-se dos profissionais de enfermagem, prin-
Pombo et al. (2010) realizaram um estudo com 338 cipalmente os que atuam nas UTIs, conhecimento
profissionais de saúde nas UTIs de dois hospitais científico apurado, que acompanhem as mudanças
públicos de Fortaleza. Observou-se na pesquisa tecnológicas e que se mantenham constantemente
que é muito expressiva a quantidade de profis- atualizados. Apesar disso, alguns estudos apontam

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que, infelizmente, não é isso que ocorre na prática ração endotraqueal, troca periódica do circuito do
assistencial, podendo-se constatar tal situação ao ventilador e do filtro, higiene oral rigorosa e redu-
analisar a participação dos enfermeiros na defini- ção do tempo de ventilação mecânica. A elevação
ção de parâmetros de ventiladores nas UTIs, em da cabeceira do leito, assim como desligar a dieta
que a mesma é mínima ou até inexistente. enteral, surgiu em apenas uma citação.

Nesse contexto, Rodrigues et al. (2012) desenvol- Constata-se, a partir do estudo acima, que, das
veram um estudo com 43 enfermeiros de um hos- medidas preventivas consideradas fundamentais
pital de Fortaleza, com o objetivo de avaliar o co- pelos enfermeiros, apenas a manutenção da cabe-
nhecimento desses profissionais sobre a ventilação ceira do leito elevada e a diminuição do tempo de
mecânica invasiva nas UTIs. Ao responderem ao ventilação mecânica são recomendadas pelo Cen-
questionário, os enfermeiros deram respostas mui- ter of Desease Control and Prevention e descritas
to superficiais quanto às intervenções de enferma- com excelente nível de evidência. Embora seja um
gem, referindo-se, principalmente, à aspiração de cuidado de fundamental importância, pois reduz
secreções pulmonares; umidificação do gás ina- significativamente a incidência de PAV em relação
lado adequadamente; observação do circuito do ao paciente posicionado em decúbito dorsal ou ho-
ventilador (retirada de água, quando necessário, rizontal, o posicionamento de 45° foi citado apenas
manter e trocar a fixação do ventilador do TOT/ uma vez pelos entrevistados. As demais medidas
TGT e observação dos alarmes do ventilador), não não apresentam as melhores evidências, por isso,
mencionando, em momento algum, as medidas são consideradas de baixa capacidade de resoluti-
preventivas de PAV. vidade e eficiência na prevenção de PAV.
Essa situação torna-se preocupante, pois, apesar de Os resultados obtidos na investigação desenvolvi-
todo o avanço tecnológico e da capacitação profis- da por Gonçalves (2012), mais uma vez, corrobo-
sional para o cuidado ao paciente crítico, o enfer- ram os já encontrados nos demais estudos desta
meiro parece estar dividindo a responsabilidade da pesquisa. Observou-se que a maioria das medidas
assistência e do atendimento das necessidades de recomendadas para reduzir PAV não era seguida
oxigenação com a equipe de fisioterapia e se dis- pela equipe. A partir disso, pode-se suspeitar que,
tanciando, cada vez mais, do ventilador mecânico. por alguma razão, a equipe desconhece a funda-
Gomes e Silva (2010) obtiveram em seu estudo mental importância de implementar as medidas
uma situação semelhante às já encontradas na li- que previnam a PAV, necessitando, assim, de pro-
teratura, em que os enfermeiros desconhecem as postas de educação continuada.
principais evidências científicas para a prevenção
Apenas o estudo desenvolvido por Silva, Nasci-
de PAV. Dentre os 26 cuidados citados pelos en-
mento e Salles (2012) observou que os profissio-
fermeiros, apenas três deles pertencem ao Bundle
nais pesquisados possuíam conhecimento sobre os
de Ventilação: manter a cabeceira elevada, realizar
cuidados de prevenção da PAV, sendo que a maior
intervalos das sedações e o uso de profilaxia me-
parte dos cuidados mencionados possui evidências
dicamentosa para úlcera gástrica. Apesar de não
científicas quanto à sua utilização. Os pesquisado-
pertencer ao Bundle, o cuidado que se destacou
res desenvolveram, juntamente com a equipe, um
foi realizar a higiene oral, e o mais citado foi a ele-
Bundle de prevenção de PAV, a partir das medidas
vação da cabeceira.
citadas pelos sujeitos do estudo. Com isso, foi ob-
No artigo intitulado “Pneumonia Associada à Ven- servado que as sugestões eram compatíveis com
tilação Mecânica: medidas preventivas conhecidas as recomendações da literatura, concluindo que a
pelo enfermeiro”, as formas de prevenção mais ci- equipe está atualizada quanto às medidas preven-
tadas pelos enfermeiros entrevistados foram aspi- tivas de PAV.

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5. Conclusão relacionadas à saúde, mas pouco sabem sobre as es-


pecíficas da PAV. Isso mostra que esses profissionais
Conclui-se que a pneumonia associada à ventila-
encontram-se pouco preparados para o desempe-
ção mecânica, embora seja grave, pode ser evita-
nho de cuidados com base nas melhores evidências
da pelo cuidado de enfermagem fundamentado
nas melhores evidências disponíveis no Bundle de que contribuem para a prevenção da PAV.
prevenção. Porém, a partir deste estudo, pôde-se Diante disso, há necessidade de um aprofunda-
perceber que poucos são os enfermeiros que as co- mento por parte dos enfermeiros de terapia inten-
nhecem e as aplicam na prática. siva sobre as evidências científicas disponíveis para
Este estudo permitiu ratificar que, de maneira geral, prevenção de PAV, a fim de que essas possam ser
os enfermeiros de terapia intensiva têm uma noção implementadas na prática assistencial, possibili-
geral sobre as medidas preventivas de pneumonia tando, assim, uma assistência com mais qualidade.

UNDERSTANDING OF NURSES INTENSIVISTAS ON WAYS OF PREVENTING INVASIVE


MECHANICAL VENTILATION ASSOCIATED PNEUMONIA: A REVIEW OF THE LITERATURE

Abstract
This study discusses about the Invasive mechanical ventilation associated Pneumonia (VAP),
which is considered to be the health care-related infection more common in intensive care Unit
and represents a significant number in the rates of morbidity and mortality. Aims to highlight
the understanding, from the national scientific production of nurses intensivistas on ways of
preventing Invasive mechanical ventilation associated Pneumonia is a bibliographical research
with qualitative approach and exploratory character. A research over the internet, being selected
scientific articles on the basis of data in Scielo, LILACS and Google Scholar, of the period of 2000
to 2013. In a universe of 3972 works consulted, only 07 were according to the purpose of the
research. The results point to the unpreparedness of nurses as the main forms of mechanical ven-
tilation associated pneumonia recommend literature, being that only one article of the outcomes
obtained studies. It is concluded that the PAV although it is a serious infection, can be avoided by
nursing care based on the best available evidence on the prevention Bundle. However, from that
study, it might realize that there are few nurses that know and apply in practice.

Keywords
mechanical ventilation. Mechanical ventilation associated Pneumonia. Nursing care. Intensive care.

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APLICAÇÃO DO TESTE DE MICRONÚCLEO PARA
AVALIAÇÃO DE POTENCIAL GENOTÓXICO EM
EPITÉLIO ORAL DE ESTUDANTES
UNIVERSITÁRIOS

Luis Eduardo Meira Faria*


Jacqueline Ramos Machado Braga**

Resumo
O câncer bucal é uma neoplasia que se instala no epitélio oral e pode ser originada a partir de da-
nos acumulados no DNA celular, onde agentes genotóxicos, como álcool, fumo, má higienização
bucal e lesões teciduais provocadas por aparelhos ortodônticos, contribuem como fatores de risco
para predisposição a alterações genéticas ou morte celular. O presente trabalho busca a interpre-
tação dos efeitos provocados por alguns destes agentes às células do epitélio oral, pela observação
da presença de binucleação e de micronúcleos, pequenos fragmentos globulares de DNA que se
formam durante a divisão celular. Para a realização do trabalho, utilizaram-se 30 estudantes da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, submetidos ao preenchimento de questionários de
caracterização de hábitos e consumo de bebidas. Os selecionados foram classificados em grupos
distintos: abstêmios, alcoolistas e usuários de aparelho ortodôntico. A coleta do material biológi-
co foi feita com escova do tipo cytobrush para a retirada das células epiteliais da mucosa oral. As
células foram fixadas em solução salina a 0,9% e fixador Carnoy, e as lâminas de esfregaço foram
coradas com Schiff/Fast-Green. A análise das lâminas foi realizada em microscopia óptica. A
presença de micronúcleos e binucleação foi identificada em todos os grupos, porém, o número de
achados de ambas foi maior no grupo de alcoolistas do que nos grupos de usuários de aparelho
ortodôntico e no grupo-controle. Podemos concluir que o teste do Micronúcleo é uma importan-
te ferramenta quantitativa para se prever a predisposição ao câncer bucal, evidenciando o consu-
mo de bebidas alcoólicas como um dos maiores agentes de efeito genotóxico. É, pois, necessária a
conscientização dos estudantes e da população sobre as consequências do uso frequente.

* Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) – Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas
(CCAAB). Setor de Biologia – Laboratório de Imunobiologia (IMUNOBIO). E-mail: ledmfaria@gmail.com
** Doutora pelo Programa de Pós-graduação em Imunologia da Universidade Federal da Bahia. Vice- Coor-
denadora Bacharelado em Biologia. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Laboratório de Imuno-
biologia (IMUNOBIO) CCAAB/UFRB. E-mail:jacquebraga@globo.com

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FARIA, L.E.M.; BRAGA, J.R.M. | Aplicação do teste de micronúcleo para avaliação de potencial genotóxico em epitélio oral...

Palavras-chave
Neoplasia. Câncer bucal. Fumo. Álcool. Citogenética.

1. Introdução composto resultante da metabolização do álcool, é


A entrada de jovens adultos no Ensino Superior é o responsável pelo aumento da passagem de carci-
um momento de mudança, inicialmente, marcada nógenos pelas membranas celulares, com atividade
pela realização de estar em uma universidade, pro- solubilizante das mesmas, permitindo a entrada de
movendo novas relações sociais e formas de com- substâncias potencialmente genotóxicas nas célu-
portamento. Esta fase da vida vem acompanhada las (HOMANN et al., 1997).
de mudanças biológicas e característica instabili- Existem diversos agentes físicos que geram irritação
dade psicossocial (WAGNER; ANDRADE, 2008). crônica na mucosa oral, dentre os quais, podemos
Estudos epidemiológicos sobre o uso de bebidas evidenciar os aparelhos ortodônticos, dentaduras,
alcoólicas e outras drogas têm demonstrado que os dentes irregulares, alimentos quentes ou picantes,
estudantes universitários representam o grupo mais
relatados como fatores que contribuem para o de-
susceptível ao abuso de álcool, havendo o crescente
senvolvimento de lesões malignas (ANDRADE et
aumento do consumo e de usuários dependentes
al., 2005). Segundo Mashberg e Samit (1995), ape-
ao longo do tempo, o que representa um problema
nas a irritação física nesse tecido representa pouco
crônico, observado também na população em ge-
ou nenhum efeito sobre o processo natural do carci-
ral, e que se inicia em idades cada vez mais reduzi-
noma oral. Outros fatores associados, como má hi-
das (GALDURÓZ; CAETANO, 2004; ANDRADE;
gienização bucal e exposição ocupacional, também
SILVEIRA, 2013).
têm sido descritos na literatura como contribuintes
De acordo com estimativas do INCA (2014) para os ao desenvolvimento de neoplasias (HOMANN et
anos de 2014 e 2015, são esperados no Brasil cer- al., 1997; FLORES; YAMAGUCHI, 2008; STICH;
ca de 580 mil novos casos de câncer. Para os casos ROSIN, 1983; TOLBERT et al., 1992).
de neoplasias da cavidade oral, no ano de 2014, são
estimados 11.280 em homens e 4.010 em mulheres. A composição do micronúcleo é representada por
De acordo com Ramirez e Saldanha (2002), o consu- frações de cromátides ou cromossomos acêntricos
mo de bebidas alcoólicas e o tabagismo representam ou aberrantes que não migraram para o núcleo
os fatores de maior contribuição para o desenvol- principal após a divisão mitótica (STICH; ROSIN,
vimento de lesões malignas na cavidade oral, pelo 1983; TOLBERT et al., 1992). A formação do mi-
dano causado ao DNA celular, podendo aumentar cronúcleo em tecido epitelial pode ser resultante
em até 38 vezes seu risco quando estão simultanea- de uma lise na molécula de DNA, dias ou semanas
mente presentes (ZYGOGIANNI et al, 2011). En- após a ação de carcinógenos, quando as células da
tretanto, segundo Brener et al. (2007), o consumo camada basal estão em divisão, e quando o reparo
isolado de álcool não está associado à fase inicial é pouco eficiente (FENECH et al., 1999).
da carcinogênese oral, podendo esse ser um agente
De acordo com Carrad (2007), apesar de o aumen-
potencializador dos efeitos carcinógenos do cigarro.
to da frequência de micronúcleos estar relaciona-
O álcool é considerado genotóxico devido à sua do com a interação dos agentes genotóxicos, sua
capacidade de gerar erros durante a divisão celu- presença não pode ser entendida como um evento
lar em células com elevadas taxas mitóticas, mo- necessariamente negativo. Seu aparecimento pode
dificando o seu padrão normal e gerando lesões decorrer do mecanismo de adaptação que o orga-
pré-neoplásicas. (DÍAZ et al., 2013) O acetaldeído, nismo realiza em resposta a um dano, provocado

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FARIA, L.E.M.; BRAGA, J.R.M. | Aplicação do teste de micronúcleo para avaliação de potencial genotóxico em epitélio oral...

por agentes internos ou externos, para que a célula tocolo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pes-
mantenha suas funções. quisa com Seres Humanos da UFRB, sob no CAAE
02768212.0.0000.0056. Como critérios de exclusão,
Stich (1983) enfatiza que o Teste do Micronúcleo foram retirados aqueles indivíduos com lesões visí-
(MN) é uma ferramenta de auxílio ao processo de veis na boca, aqueles que colocaram aparelho or-
indicação de lesão pré-neoplásica, através da men- todôntico nos últimos 12 meses ou com consumo
suração da quantidade dessas alterações encon- menor que 12 doses/semana. Todos os outros par-
tradas nas células com maior exposição a agentes ticipantes da pesquisa que não obedeceram aos cri-
mutagênicos. Esse teste, considerado padrão ouro térios de exclusão foram incluídos. Após o preen-
para avaliação citogenética de lesões que ocorrem chimento do questionário, os estudantes elegíveis
no DNA, pode ser utilizado no monitoramento de foram subdivididos em 3 grupos distintos, com 10
indivíduos frequentemente expostos aos fatores de indivíduos cada: etilistas (consumo de 12 unidades
risco, sendo um indicativo para a mudança de hábi- ou mais nas últimas duas semanas, onde cada uni-
tos para aqueles indivíduos que ainda não apresen- dade equivale a 1 copo de cerveja ou chopp, 1 taça
taram sinais evidentes de danos ou de alterações ce- de vinho ou ½ dose de bebida destilada), usuários
lulares (ANDRADE et al., 2005; CARVALHO et al., de aparelho ortodôntico e abstêmios não usuários
2002). O uso de técnicas de hibridização fluores- de aparelho e não fumantes (grupo- controle).
cente in situ tem permitido encontrar a origem dos
micronúcleos, promovendo a determinação, com Para a análise do efeito genotóxico, foram utiliza-
mais eficácia, do efeito clastogênico e aneugênico das células da mucosa bucal através da técnica de
de agentes genotóxicos (ZALACAIN et al., 2005). Stich e Rosin (1983). No procedimento, utilizou-se
para a coleta das células uma escova tipo cytobrush,
A avaliação do potencial mutagênico de agentes friccionando levemente a região da borda lateral da
químicos, físicos e biológicos permite uma maior língua, assoalho bucal e lábio inferior. O material
compreensão dos fatores de predisposição à ocor- coletado foi armazenado em tubos estéreis conten-
rência de neoplasias. Neste sentido, a elaboração de do 2 ml de solução de cloreto de sódio a 0,9% (so-
estudos controlados por meio da aplicação do Tes- lução fisiológica) e 3 ml de fixador Carnoy, arma-
te do MN permite a avaliação dos fatores de pré- zenado sob refrigeração até o uso no ensaio. Foram
disponibilidade para o desenvolvimento do câncer confeccionadas duas lâminas por indivíduo, cora-
bucal em grupos expostos a agentes genotóxicos. O das pela reação de Feulgen (Schiff /Fast-Green).
presente estudo buscou verificar os efeitos genotó- No total, foram analisadas 1000 células por indi-
xicos provocados por alguns desses agentes às cé- víduo. A análise das lâminas foi realizada por um
lulas do epitélio oral de estudantes universitários. único avaliador, em teste cego e com a utilização
de um microscópio óptico em aumento de 400x.
Para o tratamento estatístico dos dados, foram rea-
2. Metodologia lizados testes não paramétricos de Mann-Whitney
O presente estudo foi desenvolvido com estudantes para a comparação da frequência de alterações entre os
da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia grupos expostos e o controle e Kruskal-Wallis, entre os
(UFRB), na faixa etária entre 18 e 26 anos, sele- três grupos, utilizando o software GraphPad Prism 5®,
cionados a partir de um questionário elaborado e com grau de significância de 5%.
baseado no teste AUDIT (Alcohol Use Disorders
Identification Test), padronizado pela OMS (Or-
ganização Mundial de Saúde) (WHO, 2001), que 3. Resultados e Discussão
buscou caracterizar os hábitos para o consumo de Os resultados sobre a caracterização do consumo
bebidas alcoólicas no grupo estudado. Todo o pro- de bebidas alcoólicas no grupo etilista demons-

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FARIA, L.E.M.; BRAGA, J.R.M. | Aplicação do teste de micronúcleo para avaliação de potencial genotóxico em epitélio oral...

traram que a cerveja/chopp foi o tipo com maior no DNA inicial, mas com eventos que ocorrem ao
consumo de unidades durante o período de expo- final da divisão celular, resultando em uma célu-
sição, com 85,4%, seguido das bebidas destiladas, la 4n. (TORRES-BUGARÍN e RAMOS-IBARRA,
12,7%, e vinho com 1,9%. Os dados do presente 2013). No presente estudo, quando se analisou o
estudo corroboram os achados de Barbosa et al. tipo mais frequente de alteração em cada grupo
(2013) que, em um estudo realizado com 338 es- testado, verificou-se que a presença de binuclea-
tudantes de Medicina na Universidade Federal do ções (Figura 1) foi maior no grupo etilista (55,4%),
Maranhão, verificou que 64,2% deles consumiam quando comparado aos grupos de usuários de
bebidas alcoólicas, sendo o tipo mais consumido aparelho (17,64%) e controle (.23,52%) (Gráfico
a cerveja/chope, com 78,34% de preferência. Em 2), mostrando diferença significativa (Kruskal-
outro estudo realizado com estudantes de Psicolo- Wallis, p=0.0186).
gia da Universidade Federal do Espirito Santo, Dos
Figura 1. Célula binucleada do epitélio oral. Au-
Santos (2013) verificou que, com relação ao uso de
mento 1000X
drogas psicoativas lícitas, a mais utilizada também
foi o álcool (52,49%), seguida do tabaco (13,12%).

Os achados das alterações nucleares demonstra-


ram que em todos os grupos analisados houve pre-
sença de algum tipo de alteração. Os resultados do
Gráfico 1 mostram que, desse total, o grupo que
apresentou maior frequência foi o grupo etilista
(53,26%), seguido do grupo de usuários de apa-
relho (23,91%), quando comparados com o gru-
po-controle (22,83%). A análise estatística mos-
trou significância ao comparar os grupos testados
(Kruskal-Wallis, p=0,0252).

Gráfico 1. Total de alterações nucleares verificadas


nos grupos testados

Gráfico 2. Presença de binucleações (BN) nos gru-


pos testados

As células binucleadas são células que apresentam


dois núcleos principais, dispostos com certa pro-
ximidade, podendo estar unidos, apresentando
tanto morfologia como coloração semelhantes a
um núcleo normal. Tal anormalidade não parece Com relação à detecção de micronúcleos (Figura
estar diretamente relacionada a fatores presentes 2) nos grupos (Gráfico 3), o grupo etilista apresen-

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FARIA, L.E.M.; BRAGA, J.R.M. | Aplicação do teste de micronúcleo para avaliação de potencial genotóxico em epitélio oral...

tou maior frequência (46,34%), seguido do grupo Gráfico 3. Presença de micronúcleos (MN) nos
usuário de aparelho (31,07%), quando comparados grupos testados
ao controle (21,95%). Estes resultados demons-
traram significância estatística (Mann-Whitney,
p=0,1911). Entretanto, em estudos anteriores uti-
lizando a técnica de Feulgen, Fenech et al. (1999)
e Dietz (2000) não encontraram diferença signi-
ficativa entre o grupo-controle e o etilista para a
presença de micronúcleos. Apesar de tais discre-
pâncias, o aumento na frequência de micronúcleos
não necessariamente indica se é possível predizer a
possibilidade de transformação maligna, na medi-
De acordo com Zalacain (2005), existem outros
da em que a técnica não permite avaliar a impor-
fatores, amplamente estudados, que podem inter-
tância dos fragmentos quebrados para a linhagem
ferir no aumento da frequência de micronúcleos,
celular avaliada, tampouco se o DNA presente no
e que não estão associados a agentes genotóxicos,
MN pode ou não ser transcrito. Por outro lado, se
houver exposição sucessiva a agentes genotóxicos, dentre eles, podem-se ressaltar a idade (superior a
a capacidade de reparo do organismo fatalmente 35 anos), gênero (mulheres), como também a pre-
será suplantada, o que pode levar a fenômenos sença de homocisteína no plasma, a carência de
degenerativos capazes de gerar morte celular ou folato e de vitamina B12, fatores não avaliados no
danos cumulativos no sentido da transformação presente estudo.
maligna (HOMANN et al., 1997).
Figura 2. Micronúcleo (MN) em célula do epitélio 4. Conclusão
oral. Aumento 1000X
As alterações citogenéticas avaliadas, principal-
mente a presença de micronúcleo e binucleação,
demonstraram ser importantes indicadores de
predisposição à formação de lesões pré-neoplá-
sicas, com frequência maior em usuários de ál-
cool do que em usuários de aparelhos ortodônti-
cos. O Teste do Micronúcleo, por sua facilidade
de implantação e baixo custo, pode ser utilizado
como ferramenta de investigação epidemiológi-
ca e genotóxica em indivíduos que têm hábitos
nocivos à saúde e pela exposição a fatores am-
bientais diversos.

APPLICATION OF MICRONUCLEUS TEST FOR EVALUATION


OF GENOTOXIC POTENTIAL IN ORAL EPITHELIUM OF UNIVERSITY STUDENTS

Abstract
The oral cancer is a neoplasia that installs in the oral epithelium and may originate from accumu-
lated damage to cellular DNA, where genotoxic agents such as alcohol, cigarette, poor oral hygie-

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FARIA, L.E.M.; BRAGA, J.R.M. | Aplicação do teste de micronúcleo para avaliação de potencial genotóxico em epitélio oral...

ne, and tissue damage caused by orthodontic appliances, are also risk factors for predisposition
of genetic changes or cell death. This study aims the interpretation of the effects of some of these
agents in the cells of the oral epithelium, by observing the presence of micronuclei and binuclea-
tion, small globular DNA fragments formed during cell division. To carry out the work was used
30 students of the Federal University of Renconcavo from Bahia, submitted to fill characterization
habits questionnaires and consumption of alcohol. Those selected were classified into different
groups: abstainers, alcoholics and orthodontic appliance users. The collection of biological mate-
rial was made with cytobrush to exfoliate the epithelial cells of the oral mucosa. Cells were fixed
in 0.9% saline solution and Carnoy fixative and the slides were stained with Schiff / Fast Green.
Slide analysis was performed in optical microscopy. The presence of micronuclei and binuclea-
tion was identified in all groups, but the number of both findings was higher in alcoholics than in
orthodontic appliance user groups and the control group. We can conclude that the micronucleus
test is an important quantitative tool to predict the predisposition to oral cancer, evidencing the
consumption of alcohol as an important agent of genotoxic effects, and then necessary the aware-
ness of students and the general public about consequences of frequent use.

Keywords
Neoplasia. Oral cancer. Tobacco. Alcohol. Cytogenetic.

Referências DÍAZ, A. C.; MORA, E. S.; HERRERA, A. Presencia


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Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 1, n. 1, jan./jun. 2015 | 41


“DO ROSA AO AZUL” NO CÂNCER DE MAMA:
UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA SOBRE
A NEOPLASIA MAMÁRIA NOS
DIFERENTES GÊNEROS

Aline Abdon Lima*

Resumo
Este estudo aborda o variado comportamento do carcinoma mamário nos diferentes gêneros.
Tem como objetivo identificar, a partir da literatura, o que tem sido publicado cientificamente
sobre o câncer de mama nos diferentes gêneros, com rara ocorrência em homens, e algumas de
suas condutas terapêuticas, enfatizando a importância de seu diagnóstico precoce para melhor
tratamento e prognóstico. Trata-se de uma pesquisa do tipo revisão bibliográfica realizada em
sites científicos, livros e manuais do Ministério da Saúde. Os resultados deste estudo nos mostram
que, dos 42 artigos analisados, a maioria é de abordagem qualitativa e publicada na Região Su-
deste, apenas 4 artigos (9,5%) abordavam a neoplasia mamária em homens e apenas 32,5% deste
artigos foram publicados em revistas de enfermagem.

Palavras-chave
Câncer de mama. Câncer de mama no homem. Epidemiologia.

1. Introdução ta, visando a um atendimento integral ao cliente


(BRASIL, 2004; FUNGHETO et al., 2003).
Responsável pelo maior número de óbitos, no
mundo, em mulheres e considerado raro para ca- Como na maioria dos casos de carcinoma, a neo-
sos no gênero masculino, o câncer de mama é plasia maligna das mamas não tem causa definida,
um problema de saúde que acomete os diferen- embora fatores extrínsecos, comportamentais e
tes grupos culturais e sociais e que exige assistên- genéticos associem-se a um risco aumentado para
cia de uma equipe interdisciplinar composta por desenvolvê-la, sendo, assim, muito importante sua
médico, enfermeiro, psicólogo, fisioterapeuta, tera- detecção precoce para que pacientes diagnostica-
peuta ocupacional, assistente social e nutricionis- dos tenham tratamento de qualidade, com me-

* Enfermeira. Especialista em Enfermagem em Oncologia pela Atualiza Cursos. E-mail: alineabdonn@yahoo.


com.br

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LIMA, A.A. | “Do rosa ao azul” no câncer de mama: uma pesquisa bibliográfica sobre a neoplasia mamária nos diferentes gêneros

nores riscos de complicações e mau prognóstico portamento do carcinoma mamário nos diferentes
(BRASIL, 2004, 2011). gêneros e suas condutas terapêuticas, enfatizando
a importância do diagnóstico precoce para melhor
Segundo dados da Agência Internacional para Pes-
tratamento e prognóstico.
quisa em Câncer (IARC)/OMS), em 2008, foram
estimados 12,4 milhões de novos casos de câncer, Este estudo pretende ser relevante, uma vez que
sendo 1,29 milhões destes casos detectados como existe considerável aumento no número de casos
carcinoma mamário. No Brasil, em 2010, eram es- confirmados para uma doença, em que a informa-
perados cerca de 490 casos de carcinoma mamário ção e o diagnóstico precoce são de grande impor-
no sexo masculino e 49.240 novos casos femini- tância para seu prognóstico. Descrever o processo
nos. A Região Sudeste é o local com maior taxa de saúde/doença na mulher é importante, assim como
incidência, com risco estimado de 65 novos casos descrevê-la em homens estimula a curiosidade e a
para cada 100 mil mulheres (BRASIL, 2011; MI- importância da seguinte informação: homens tam-
CHELLI 2010). bém podem desenvolver o câncer de mama.
Diferente das altas taxas de incidência dos casos
femininos, estudos revelam que, para cada 100 no-
2. Referencial Teórico
vos casos de câncer de mama diagnosticados em
mulheres, apenas 1 ou 0,8% acontece em homens
2.1. O Câncer
(BRASIL, 2011; LANDIM et al., 2003; LEME et
al., 2006). Mesmo sendo incomum a ocorrência de O organismo é constituído de milhões de células.
casos nesse gênero, vale ressaltar a importância da Estas células, ao longo da vida, crescem, sofrem
informação sobre tal acontecimento, uma vez que processos de divisões e morrem. O significado
a população, de modo geral, considera o câncer de de câncer nada mais é do que o crescimento, fora
mama exclusivo do sexo feminino. Consequente- de controle, de células do corpo, as quais realiza-
mente, é rara a detecção precoce no sexo masculino. rão os processos de crescimento e divisão sem os
mecanismos de controle natural de morte celular.
A escolha deste tema pela autora desenvolveu-se
(BRASIL, 2004, 2011).
a partir da sensibilização com casos de câncer de
mama em pessoas próximas, junto às quais passa- Dentre os diferentes tipos de tumores malignos
mos a observar e a vivenciar as fases de prevenção, mamários, o carcinoma é o de maior relevância,
detecção precoce, diagnóstico e tratamento não sendo este o mais frequente e uma das principais
apenas como estudantes do curso de graduação causas de morte por câncer. Desenvolvido nascé-
em enfermagem, mas passamos a lidar e compar- lulas epiteliais, o carcinoma pode ter origem em
tilhar todos os sentimentos, emoções e trajetória qualquer tecido e afetar qualquer órgão, origi-
para o tratamento de uma doença muito comum, nando as metástases. (BOGLIOLO; BRASILEIRO
mas de difícil, inclusive, pronúncia para familia- FILHO, 2006).
res e doentes: O Câncer.

Após essa sensibilização, houve grande curiosida- 2.2. Neoplasia Mamária


de a respeito do comportamento de tal doença no
Constituída por lóbulos, ductos e estroma, o teci-
gênero masculino. Afinal, o câncer de mama é ex-
do mamário é comum em ambos os sexos até a
clusivamente feminino? E como é feito o tratamen-
puberdade. Nesta fase, através de hormônios pro-
to dessa patologia para os homens?
duzidos nos ovários, ocorre o desenvolvimento
Para responder a esses questionamentos, o pre- dos ductos, lóbulos e aumento de seu volume nas
sente estudo tem como objetivo identificar o com- meninas. (JARVYS, 2002).

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 1, n. 1, jan./jun. 2015 | 43


LIMA, A.A. | “Do rosa ao azul” no câncer de mama: uma pesquisa bibliográfica sobre a neoplasia mamária nos diferentes gêneros

No sexo masculino, os ductos mamários não so- c | Quanto aos procedimentos


frem desenvolvimento e, em virtude disso, o cân-
Tal pesquisa foi desenvolvida com base em livros
cer de mama em homens torna-se raro, uma vez
de leitura corrente, manuais do Ministério da Saú-
que seu tecido mamário é uma estrutura rudimen-
de e publicações periódicas que apresentaram pro-
tar e não sofre a mesma exposição hormonal pela
ximidade com o tema. Foram pesquisados artigos
qual as mulheres passam da puberdade até a vida
científicos nas bases de dados da BVS (biblioteca
adulta. (LANDIM; NATIONS, 2003, p. 192).
virtual em saúde) e Pub Med.
O subtipo mais comum do câncer de mama é o mes-
A pesquisa abordará o comportamento epidemio-
mo em ambos os sexos, sendo o ductal infiltrativo o
lógico da neoplasia mamária nos diferentes gêne-
mais comum; o tipo lobular é raramente encontra-
ros, com coleta de dados realizada para os descritos
do em virtude de a mama masculina ser rudimentar
sobre este tema no período de agosto de 2011 a ja-
e não possuir lóbulos. (SILVA et al., 2008).
neiro de 2014, que servirão como base teórica para
Sua etiologia ainda é pouco conhecida, porém exis- interpretação e contextualização do problema.
tem fatores frequentemente associados a esse tipo
de neoplasia nos homens: fatores genéticos, fatores O critério de análise dos artigos utilizados foi ba-
ambientais, fatores hormonais e outros fatores, tais seado nas seguintes variáveis: período e local de
como orquite, puberdade tardia, anormalidades publicação dos artigos, área temática abordada,
testiculares, incluindo a ocorrência de parotidite tipo de abordagem, revista de publicação e corre-
antes dos 20 anos, hipercolesterolemia, hérnia in- lação com o tema estabelecido.
guinal congênita e orquiectomia unilateral e bilate- Com base no Código de Ética dos Profissionais de
ral. (SILVA et al., 2008; LEME et al, 2006). Enfermagem, Capítulo III – das responsabilidades
Segundo Araújo et al (2007), o prognóstico e o e deveres – esta pesquisa será realizada com refe-
comportamento desta patologia são os mesmos rências que serão descritas no presente estudo, de
em ambos os sexos quando em estágios iguais, acordo com o Art. 91, respeitando os princípios da
porém, em virtude do desconhecimento do pro- honestidade e fidedignidade das informações apre-
blema pelos pacientes e, muitas vezes, pela própria sentadas, a ética profissional, bem como os direitos
equipe de saúde, os homens geralmente têm diag- autorais no processo de pesquisa, especialmente na
nóstico tardio e apresentam maior disseminação divulgação dos seus resultados.
da doença.

4. Apresentação e
3. Metodologia Discussão dos Resultados
a | Quanto à natureza O INCA teve sua criação em 1957 e, em 1980, foi
criado o Pro-Onco. As primeiras iniciativas contra
Trata-se de uma revisão bibliográfica, com aborda-
o câncer de mama começam a aparecer em 2000
gem quantitativa, que utiliza a abordagem qualita-
e, no final, de 2005 foi lançada a Portaria 2439/
tiva para apresentar os dados. (GIL, 2002).
GM, que culminou na Política Nacional de Aten-
b | Quanto ao objetivo ção Oncológica. Esta, por sua vez, estabelece dire-
trizes para o controle das neoplasias malignas no
Tem caráter exploratório, com a finalidade de ana-
Brasil, desde a promoção de saúde até os cuidados
lisar textos científicos já publicados, permitindo à
paliativos. (PARADA et al., 2008).
autora análise objetiva e criteriosa, de forma que
facilite maior compreensão a respeito do tema pro- Fazendo-se um breve histórico com base nos arti-
posto. (GIL, 2002). gos publicados no Brasil, o controle das neoplasias

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malignas iniciou-se na década de 30, pelos pes- área de medicina e enfermagem abordando, na
quisadores Mário Kroeff, Eduardo Rabello e Sér- sua maioria, as especialidades de Saúde da Mulher
gio Barros de Azevedo. Em 1954, o Brasil foi sede (69,1%) e apenas 4 publicações encontradas fazem
do VI Congresso Internacional de Câncer em São referência à Saúde do Homem (9,5%). Os outros
Paulo, em que se destacou o câncer como proble- 21,4% estão dispostos em epidemiologia, saúde
ma de saúde pública. (PARADA et al., 2008). coletiva/pública e educação em saúde, sendo que
existem artigos que possuem mais de uma área te-
Para a elaboração deste trabalho, foram pesquisa-
dos artigos no período de 2000 a 2014 nas bases mática abordada (Tabela 2). Outra observação de
de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), grande relevância é que, dos 40 artigos estudados,
no SCIELO (Scientific Electronic Library Online), apenas 13 (32,5%) foram publicados em revistas
livros e materiais eletrônicos. A análise dos artigos de enfermagem.
foi feita levando em consideração as seguintes va- Tabela 2. Área Temática
riáveis: ano de publicação, local do vínculo, área
temática, tipo de abordagem, revista de publicação ÁREA TEMÁTICA QUANTIDADE PERCENTUAL
e aproximação com o tema. Saúde da Mulher 29 69,1%
Nos últimos 14 anos, foram publicados 1.044 ar- Saúde do Homem 4 9,5%
tigos científicos em português sobre o câncer de
Epidemiologia 2 4,8%
mama. Dessas publicações, 42 artigos possuem
proximidade com o tema proposto e apenas 4 ar- Saúde Pública 6 14,3%
tigos (9,5%) retratavam o comportamento da neo-
Educação em 1 2,3%
plasia mamária no gênero masculino.
Saúde
Com relação ao local do vínculo, percebe-se que Total 42 100
a maior representatividade das publicações foi na
Região Sudeste (57,1%), seguida da Região Cen- Fonte: Elaborado pela Autora
tro- Oeste com 12%, Nordeste/Nordeste com 12%
das publicações, a Região Sul com 16,6% e houve Em relação ao tipo de abordagem (Tabela 3), nota-
um artigo cujo local do vínculo não foi encontra- se que a maior representação está em torno de 24
do, representando 2,3% da pesquisa (Tabela 1). publicações qualitativas (57,2%), seguida de 16 ar-
tigos quantitativos (38%) e 2 relatos de caso (4,8%).
Tabela 1. Local do Vínculo
Tabela 3. Tipo de Abordagem
REGIÃO QUANTIDADE PERCENTUAL
TIPO
Sudeste 24 57,1% QUANTIDADE PERCENTUAL
DE ABORDAGEM
Sul 7 16,6%
Quantitativo 16 38%
Norte/Nordeste 5 12%
Qualitativo 24 57,2%
Centro 5 12%
Relato de caso 2 4,8%
Não Encontrado 1 2,3%
Total 42 100
Total 42 100
Fonte: Elaborada pela Autora
Fonte: Elaborado pela Autora
Durante a coleta de dados, observou-se a publica-
No que se refere à área temática das publicações, ção, em 2006, de um artigo sobre as dificuldades
nota-se que a maioria dos artigos foi publicada na encontradas no SUS para detecção precoce da neo-

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plasia mamária, fator contribuinte para o aumento não há método de pesquisa melhor ou mais im-
dos números de óbitos da doença. Esta publicação portante, todas as abordagens utilizadas pelos au-
pode estar relacionada com a criação do Pacto pela tores são adequadas ao objeto de estudo.
Saúde, através da Portaria 399/GM, de 22 de feve-
Dos quatro artigos que abordam a neoplasia ma-
reiro do mesmo ano, que tem como suas priori-
mária em homens, dois trazem o comportamento
dades e objetivos o controle do câncer de colo de
epidemiológico da doença, com análise crítica
útero e de mama e contribuir para a redução da
sobre a escassez de artigos relacionados a este
mortalidade por essas neoplasias. (PARADA et al.,
tema, e outras duas publicações fazem relato de
2008; BRASIL, 2006).
caso de homens idosos com câncer de mama.
Para a prevenção primária do carcinoma mamá-
Após a leitura das quatro publicações, nota-se que,
rio, é preciso disponibilizar informações para a
apesar de manter sua incidência estável nos últimos
população sobre a doença, seus fatores de risco,
40 anos, o câncer de mama em homens apre-
o autoexame das mamas e o que fazer quando há
senta aumento exponencial com a idade, sendo
a suspeita da doença. Segundo Parada et al. (2008,
a média para o aparecimento desta patologia em
p. 203), “é neste nível que os métodos de rastrea-
homens em torno dos 60 anos, aproximadamente
mento devem ser disponibilizados e fazer parte da
dez anos mais tarde do que a idade média para as
rotina de atenção à saúde conforme as diretrizes”.
mulheres. No Brasil, os locais de maior incidência
O Ministério da Saúde preconiza que o ECM (exa- do carcinoma mamário masculino são os Estados
me clínico das mamas) deve ser feito, anualmente, do sul do país, principalmente o Rio Grande do
em mulheres acima dos 40 anos e, em mulheres Sul. (ARAÚJO et al., 2007; RIESGO et al., 2009).
com idade entre 50 e 69 anos, é acrescida a ma- Durante a análise das publicações, nota-se que a
mografia bimanual. Já para as mulheres que fazem ginecomastia, apesar de ser comum nos pacientes
parte do grupo considerado de alto risco, com ida- diagnosticados com câncer de mama, ainda não
de superior a 35 anos, o ECM também deve ser fei- está definida como fator de risco para o apareci-
to regularmente a cada ano. (PARADA et al., 2008). mento desta doença em homens.
Por ser pouco estudado no Brasil, ainda não exis- O primeiro sinal clínico da doença, assim como
tem dados seguros sobre o comportamento do nas mulheres, é descoberto, na maioria das vezes,
câncer de mama em homens, embora seu trata- pelo próprio paciente e, durante a realização do
mento demonstre-se eficaz mesmo sendo baseado exame físico, o achado mais comum é nodulação
no tratamento seguido para o carcinoma mamário subaureolar, firme e indolor. Outros achados en-
em mulheres. (LEME et al., 2006). contrados são: retração do mamilo (9%), derrames
(6%) e ulcerações (6%). (LEME et al., 2006; RIES-
Quanto ao método de pesquisa, observa-se a
GO et al., 2009; SILVA et al., 2008).
quantidade de artigos qualitativos em 2006, que se
justifica pelo fato de este tipo de estudo valorizar Para Araújo et al. (2007), o câncer de mama em
a subjetividade, ou seja, por se tratar de um tema homens tende a ser mais invasivo devido à proxi-
que aborda, principalmente, a questão psicológi- midade com a pele e ao plano muscular, levando
ca de mulheres com câncer de mama, questões a metástases em linfonodos e à distância, sendo
de afetividade, imagem corporal, relacionamento as mais comuns metástases ósseas, pulmonares,
com os familiares, sociedade e qualidade de vida, na pleura, no cérebro e no fígado. Outro fator de
este tipo de estudo é o que melhor se aplica para grande relevância para o diagnóstico da neoplasia
essas questões. Para Dias et al. (2004), contudo, mamária em homens é considerar a possibilidade

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de tratar-se de metástase decorrente do câncer de ta, também, um maior comprometimento com o


próstata. (SILVA et al., 2009). rastreamento dessa patologia. (BRITO et al., 2004).

Para diagnosticar essa patologia nos homens, é Sabe-se que o AEM é uma prevenção secundária
necessário colher a história clínica e associá-la a ao câncer de mama e oferece praticidade para o
métodos de imagem e estudo anatomopatológico. indivíduo, uma vez que permite examinar-se e co-
Para os métodos de imagem, incluem-se a ecogra- nhecer seu próprio corpo, possibilitando detecção
fia, que é pouco utilizada na primeira abordagem, precoce de nodulações na mama.
e a mamografia, sendo este último com indicação
limitada devido ao tamanho da mama masculina Neste estudo, as estudantes de enfermagem apre-
que, por ser menor, inviabiliza sua manipulação, sentam faixa etária entre 18 a 22 anos, e é refe-
tornando mais frequente a realização desse proce- rido que a maioria das acadêmicas não realiza o
dimento em homens obesos, com mamas de maior autoexame das mamas periodicamente, configu-
volume. (LEME et al., 2006; ARAÚJO et al., 2007). rando uma prática incorreta. Este é um motivo
de grande relevância, uma vez que essas futuras
Devido à falta de protocolos próprios, o trata- profissionais atuarão arduamente na luta contra
mento do câncer de mama masculino segue os o câncer de mama e, além disso, constitui um
mesmos protocolos utilizados no tratamento fe- grupo de brasileiras que não possuem a prática
minino. Este tratamento baseia-se, primeiramen- do AEM, fato esse preocupante quando se pensa
te, no procedimento cirúrgico, seguido ou não da no rastreamento da patologia em questão. (FER-
radioterapia, quimioterapia e da hormoniotera- NANDES et al., 2007).
pia. Segundo as publicações analisadas, o câncer
de mama masculino apresenta maior relação de Os homens, de modo geral, não se atentam para
positividade para receptores hormonais quando sinais do câncer de mama e acreditam que essa pa-
comparado aos casos femininos. Esta taxa é supe- tologia só se desenvolva em mulheres. Atualmente,
rior a 90 % para os receptores de estrógeno contra devido às pesquisas sobre esse tema, o tempo de
70 % nos casos em mulheres, e taxas masculinas diagnóstico vem caindo de 1 a 8 meses, tempo que
entre 80 a 90% para os receptores de progesterona já chegou a 21 meses. (ARAÚJO et al., 2007).
contra 60% nos casos femininos. (RIESGO et al.,
A pouca quantidade de publicações sobre o câncer
2009; LEME et al., 2006; SILVA et al., 2008).
de mama em homens é justificada pela raridade da
Segundo Silva et al. (2008) e Araújo et al. (2009), doença, provocando surpresa de pacientes e equipe
pacientes em tratamento hormonal para câncer de saúde sem especialização na área ao presenciar
de próstata com estrogênio exógeno e seu uso por seu diagnóstico. (SILVA et al., 2008).
transexuais caracterizam este grupo, com risco au-
Ao se pesquisar o comportamento epidemiológico
mentado para o aparecimento do câncer de mama.
do carcinoma mamário, é de fundamental impor-
Nestes casos, é estabelecida a hormonioterapia com
tância abordar as questões de gênero estabelecidas
a utilização de droga antiestrogênica (tamoxifeno).
através do processo de socialização, em que se ob-
Outra publicação analisada aborda a realização do serva que, diferentemente dos homens, as mulhe-
autoexame das mamas (AEM) por estudantes de res são mais participativas no processo do cuidar
enfermagem. Já que essas futuras profissionais tra- do próprio corpo, não sendo este o padrão de com-
balharão fortemente para o rastreamento precoce, portamento do homem, o qual procura distanciar-
realizando campanhas de prevenção e divulgação se de questões que se relacionam com o feminino.
dos tratamentos disponíveis, acredita- se que exis- (GIANINI, 2004; SCHRAIBER et al., 2005).

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Ao pontuar este assunto, eis que surge outro ques- do gênero. Cabe à equipe multiprofissional definir
tionamento: Como se distanciar de questões rela- condutas para o tratamento da doença, não esque-
cionadas ao feminino quando se tem o diagnóstico cendo as questões sociais e psicológicas enfrentadas
de uma doença comumente conhecida como femi- durante o período patogênico e pós-patogênico.
nina, uma doença na qual é necessário expor uma
parte do corpo que, geralmente, é esquecida pela Apesar de possuir características imunoistoquími-
maioria dos homens? cas e moleculares diferentes das apresentadas em
mulheres (SILVA et al., 2008), é importante res-
Para lidar com essa pergunta, é importante que se- saltar que, isoladamente, o gênero não produz um
jam estabelecidas estratégias sobre as adaptações fator determinante para o câncer de mama, mas é
psicossociais, em que os familiares e os pacientes fundamental abordar tais questões durante o pro-
passam por um processo de mudança e que exigem cesso do cuidar. É preciso que a equipe de saúde
redefinições. (GIANINI, 2004). detenha conhecimento sobre o câncer de mama em
homens e mulheres, principalmente para aqueles
que apresentam fatores associados ao surgimento
5. Considerações Finais
desta doença, a fim de que seja realizado o ras-
É possível afirmar, após este estudo, que a Região treamento precoce, de forma eficaz e efetiva, bem
Sudeste, mais especificamente São Paulo e Rio de como sua detecção precoce e tratamento propor-
Janeiro, possui maior quantidade de artigos pu- cionando melhor prognóstico para os pacientes.
blicados. Esta significativa diferença em relação
às demais regiões apresentadas dá-se em virtude Neste contexto, é importante salientar que, para o
de esses Estados possuírem maior concentração câncer de mama, a detecção precoce é a principal
de recursos e por terem sido pioneiros em pesqui- aliada para um bom prognóstico e que a saúde da
sas na área da Enfermagem, bem como em cursos mulher e, a mais recentemente adicionada, a saú-
de especialização profissional para enfermeiros. de do homem fazem parte do modelo de atenção
(ASSIS et al., 1993). básica do Sistema Único de Saúde (SUS). Já que o
nível de atenção básica é uma das principais por-
Estudos mostram que, quando o diagnóstico do tas de entrada no SUS e a enfermagem é uma ca-
carcinoma mamário em homens é feito nos pri- tegoria profissional que participa na consulta de
meiros 6 meses, a partir dos primeiros sintomas, preventivo, planejamento e puerpério, e atuar na
a taxa de sobrevida de 5 a 10 anos ocorre em 90 a educação em saúde, é de grande importância que
70% dos casos, respectivamente. Já para os casos os profissionais desta categoria realizem pesqui-
cujo diagnóstico ocorre no período superior a seis sas científicas sobre esse tema, principalmente em
meses, esse índice cai para 71% para 5 anos e 56% relação ao comportamento epidemiológico dessa
para 10 anos de sobrevida. (LEME et al., 2006). patologia no gênero masculino que, por ser rara
e pouco conhecida, necessita de mais pesquisas e
A atenção prestada pela equipe de saúde ao pacien-
estudos na área.
te diagnosticado com câncer de mama independe

“FROM PINK TO BLUE” IN BREAST CANCER: A BIBLIOGRAPHICAL


RESEARCH ON MAMMARY NERPLASIA IN DIFFERENT GENRES

Abstract
This study focuses on the different behavior of breast carcinoma in different genres. Aims to
identify, from the literature, which has been scientifically published on breast cancer in different

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genres, with rare occurrence in men and some of their therapeutic approaches, emphasizing the
importance of early diagnosis to better treatment and prognosis. This is a survey of the type of
scientific literature review sites, books and manuals from the health ministry. The results of this
study show that of the 42 articles analyzed, the majority are qualitative approach and published
in the southeast region, only 4 articles (9.5%) addressed breast cancer in men and only 32.5% of
articles were published in nursing journals.

Keywords
Breast Cancer. Breast cancer in man. Epidemiology.

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165-170. Out.-dez. 2008.
SCHRAIBER, Lília Blima, GOMES, Romeu, COUTO,
Márcia Thereza. Homens e Saúde na Pauta da Saúde Co-

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 1, n. 1, jan./jun. 2015 | 50


CAPACITAÇÃO DOS ENFERMEIROS NA
REANIMAÇÃO DE PACIENTES DA UTI

Bárbara Galvão Menezes*


Bárbara Gomes de Souza**

Resumo

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é uma área crítica do ambiente hospitalar. por esse motivo,
é crucial que os profissionais que ali atuam estejam devidamente capacitados para lidar com as
situações mais extremas, como é o caso da Parada Cardiorrespiratória (PCR). Levando em con-
sideração tais fatores, este artigo tem como objetivo evidenciar a importância da capacitação dos
enfermeiros na Reanimação Cardiopulmonar (RCP), relatando seu conhecimento sobre a RCP e
descrevendo as ações que devem ser realizadas para a identificação precoce da RCP e suas causas
mais comuns. Este artigo constitui-se em uma revisão bibliográfica, para a qual foram utilizadas
as bases de dados LILACS, MEDLINE, SCIELO e Biblioteca Cochrane. Ao final deste trabalho, foi
possível constatar que é imprescindível que o enfermeiro esteja suficientemente preparado para
atuar junto ao paciente, pelo fato de que um paciente internado em UTI tem um alto comprome-
timento de sua saúde, estando, em muitas situações, na iminência da morte.

Palavras-chave

Capacitação. Parada cardíaca. Reanimação cardiopulmonar. Enfermeiros. UTI.

1. Introdução se segue à morte clínica, quando não se instituem


as manobras de RCP; morte encefálica (frequen-
A Parada Cardiorrespiratória (PCR) é definida
temente referida como morte cerebral): ocorre
como sendo a interrupção súbita da atividade me-
quando há lesão irreversível do tronco e do córtex
cânica ventricular útil e suficiente e da respiração,
cerebral, por injúria direta ou falta de oxigenação,
desencadeando a situação de morte clínica: falta de
por um tempo, em geral, superior a 5 min em adul-
movimentos respiratórios e batimentos cardíacos
to com normotermia (CAPOVILLA, 2002).
eficientes na ausência de consciência, com viabi-
lidade cerebral e biológica; morte biológica irre- A PCR é uma situação que requer atuação imedia-
versível: deterioração irreversível dos órgãos, que ta, uma vez que a chance de sobrevivência após o

* Enfermeira. Especialista em Enfermagem em UTI pela Atualiza Cursos. E-mail: binha_glv@hotmail.com


** Enfermeira. Especialista em Enfermagem em UTI pela Atualiza Cursos. E-mail: barbara.enfermeira@
hotmail.com

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MENEZES, B.G.; SOUZA, B.G. | Capacitação dos enfermeiros na reanimação de pacientes da UTI

evento varia de 2% a 49%, dependendo do ritmo O enfermeiro é parte fundamental da estrutura


cardíaco inicial e do início precoce da reanimação organizacional de um hospital, assim, precisa es-
(BELLAN; ARAÚJO; ARAÚJO, 2010). tar constantemente adquirindo novas habilidades
e conhecimentos. Na unidade de terapia intensiva,
Um episódio de parada cardiorrespiratória nem a atuação do enfermeiro, devido à sua complexi-
sempre representa a má qualidade da assistência dade, mostra a necessidade de se identificarem as
prestada, entretanto, demonstra o nível de gravida- competências desses profissionais. Isso contribui
de do paciente. Mas, uma vez presente, para evitar para uma análise crítica de suas atividades, bem
lesão cerebral irreversível, é preciso que haja inter- como provoca a reflexão dos gestores sobre a im-
venção imediata, competente e segura através das portância de promover cursos de capacitação, o
técnicas de reanimação, para reestabelecimento da que favoreceria a organização do trabalho e a ex-
atividade orgânica do paciente (CAMELO, 2012). celência dos serviços prestados (CAMELO, 2012).

Levando em conta que, na maioria das vezes, o O preparo do profissional em enfermagem é de-
enfermeiro é o primeiro membro da equipe a se terminante para que, junto à atuação dos outros
deparar com a situação de PCR, ele precisa possuir membros da equipe, possa contribuir para o res-
conhecimento sobre as manobras de reanimação, gate da saúde do paciente. Contudo, os conteúdos
tomadas de decisões rápidas, definindo priorida- teóricos e práticos relacionados à PCR e à RCP
des e realizando ações imediatas, visando ao res- têm sido ministrados de forma superficial, não
tabelecimento da vida, à limitação do sofrimento, suprindo as necessidades do aluno, o que refleti-
à recuperação do paciente e à ocorrência mínima rá na sua prática como enfermeiro (CONSENSO
de sequelas (BELLAN; ARAÚJO; ARAÚJO, 2010). NACIONAL DE RESSUSCITAÇÃO CARDIOR-
RESPIRATÓRIA, 1996).
As doenças cardiovasculares são as principais cau-
sas cardíacas que favorecem a evolução para PCR, É fundamental que o enfermeiro esteja suficiente-
a qual se caracteriza por uma emergência. Dentre mente preparado para atuar junto ao paciente, pois
essas doenças, as mais comuns são a hipertensão um enfermo internado em UTI tem um alto com-
arterial sistêmica, aterosclerose, o acidente vascular prometimento de sua saúde, estando, em muitas
encefálico, a angina pectoris e o infarto agudo do situações, na iminência da morte. Dessa maneira,
miocárdio (IAM). Segundo o Instituto Brasileiro de levanta-se o seguinte problema em relação a essa
Geografia e Estatística (IBGE), as doenças do apa- perspectiva: caso haja uma melhor capacitação dos
relho circulatório se destacam como principal cau- enfermeiros da UTI, isso interferirá no prognósti-
sa de morte no País (28,8% para homens e 36,9% co do paciente?
para mulheres) em todas as regiões e Estados. Os Diante do exposto, os objetivos deste estudo são
indicadores do Ministério da Saúde revelam que, evidenciar a importância da capacitação dos enfer-
em 2004, houve 285.543 óbitos relacionados à meiros na reanimação cardiopulmonar, relatar seu
doença do aparelho circulatório (BRASIL, 2006). conhecimento sobre a parada cardiorrespiratória e
descrever as ações que devem ser realizadas para a
A RCP é um conjunto de procedimentos utilizados
identificação precoce da parada cardiorrespirató-
na vítima de PCR, na tentativa de restabelecer a ven-
ria em adultos e suas causas mais comuns.
tilação pulmonar e a circulação sanguínea. (OLI-
VEIRA; PAROLIN; TEXEIRA, 2004). A padro- Levando em consideração tudo o que foi dito, fica
nização das condutas na RCP ajuda na adoção de notório que a formação dos enfermeiros não deve
linguagem única entre os profissionais de saúde para se resumir apenas à sua graduação. Além do com-
executar as manobras com eficácia (SILVA, 2006). promisso técnico já adquirido, se faz necessária

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MENEZES, B.G.; SOUZA, B.G. | Capacitação dos enfermeiros na reanimação de pacientes da UTI

uma capacitação constante para satisfazer às ne- de treinamento específico, o qual, muitas vezes,
cessidades imediatas dos pacientes. não foi eficiente na formação inicial (CARDOSO;
SANTOS, 2011).
Este estudo constitui-se em uma revisão bibliográ-
fica acerca da importância da capacitação dos pro- A instituição que tem consciência de que um pro-
fissionais de saúde na reanimação cardiopulmonar. fissional capacitado lhe trará maiores retornos e
As bases de dados utilizadas foram: LILACS, ME- também aos seus pacientes investe em treinamen-
DLINE, SCIELO e Biblioteca Cochrane. tos de capacitação específicos para seus profissio-
Efetuou-se a busca nos bancos de dados através nais, pois um empregado qualificado se torna mais
das terminologias cadastradas nos descritores em motivado, o que ocasionará maior sucesso na exe-
Ciências da Saúde (DECS), que permitem o uso da cução de suas tarefas (CAVALCANTE, 2006).
terminologia comum em português, inglês e espa- As instituições hospitalares precisam de pessoas
nhol. As palavras-chave utilizadas foram: Reani- motivadas para que o binômio produtividade-qua-
mação cardiopulmonar, Capacitação de profissio-
lidade ocorra. É necessário que haja a qualificação
nais de saúde.
contínua dos profissionais de enfermagem para que
Os critérios de inclusão para os artigos encontra- a unidade de terapia intensiva seja bem-sucedida.
dos foram os que mencionaram os procedimen- É preciso que sejam feitos treinamentos periódicos
tos adotados na reanimação cardiopulmonar, a com novas atualizações sobre a área. A instituição
importância do treinamento em reanimação dos deve também promover sempre encontros de pro-
profissionais de saúde e a importância da educa- fissionais visando à troca de experiência e estimu-
ção continuada e permanente dos profissionais de lar seus profissionais a fazerem novos cursos, pois
saúde, publicados no período de 1995 a 2011, em tais atitudes levam à melhoria do desenvolvimento
português. Além dos artigos, utilizamos como fon- dos profissionais, preparando-os e aperfeiçoando
te de dados protocolos e dissertações. suas habilidades (CAVALCANTE, 2006).

O enfermeiro intensivista tem que apresentar ca-


2. Desenvolvimento pacidade de liderança, iniciativa, estabilidade
O enfermeiro é, na maioria das vezes, o primeiro emocional e autocontrole, pois são predicativos
profissional no atendimento ao paciente, em espe- importantes para que ele esteja preparado para en-
cial, na unidade de terapia intensiva (UTI), o que frentar as intercorrências, como uma situação de
exige preparação para atuar em situações extre- parada cardiorrespiratória (PCR).
mas, que fazem parte da rotina em pacientes críti- De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardio-
cos (CARDOSO, SANTOS). logia, o número de pacientes que vem a óbito por
A prática na UTI requer dedicação, empenho e parada cardiorrespiratória chega a cerca de 200 mil
competência técnica superior a outros setores do por ano, no Brasil.
ambiente hospitalar por acomodar pacientes em
Deparar-se com uma PCR é um dos maiores me-
estado crítico, ou seja, em risco iminente de morte.
dos, se não o maior, dos novos enfermeiros, devido
Além do vasto conhecimento teórico e prático ao seu alto grau de complexidade, já que o paciente
obrigatório a um enfermeiro, a UTI exige habili- se encontra em risco de morte. Nestas situações, a
dades complexas por se tratar de um setor fechado, equipe tem que dispor de agilidade, eficiência, co-
de monitoramento constante, com a utilização de nhecimento científico, habilidade técnica, além de
equipamentos de alta tecnologia. Diante destes fa- uma infraestrutura adequada para prestar atendi-
tores, é fundamental proporcionar um programa mento efetivo.

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MENEZES, B.G.; SOUZA, B.G. | Capacitação dos enfermeiros na reanimação de pacientes da UTI

A habilidade técnica é fundamental para que um O êxito de uma assistência prestada na UTI, um
enfermeiro realize suas funções de forma adequa- local onde deve ocorrer o mínimo de falhas no
da. É imprescindível que sua capacitação seja con- processo de atendimento ao paciente e prevenção
tínua, o que quer dizer que o enfermeiro precisa de qualquer dano que gere mais malefícios a sua
sempre desenvolver sua capacidade de aprender saúde. A prevenção de episódios iatrogênicos é de
para se capacitar (CARDOSO; SANTOS, 2011). suma importância para que o paciente tenha uma
total recuperação até mesmo em um diagnóstico
Apesar de a grade do curso de enfermagem ofe-
de PCR (SILVA; PADILHA, 2001).
recer conteúdo teórico e prático sobre a parada
cardiorrespiratória, observam-se profissionais Alguns fatores são citados para a ocorrência de ia-
sem habilidade no momento da execução do pro- trogênia no atendimento à PCR, como inexperiên-
cedimento. Por esse motivo, vem-se repensando a cia dos profissionais, falta de conhecimento téc-
possibilidade de aumentar a carga horária do cur- nico-cientifico da equipe, quantidade insuficiente
so, acrescentando mais matérias específicas sobre de profissionais, falta de materias, problemas com
o assunto (GOMES; BRAZ, 2012). E, após a sua equipamentos. Porém, dentre todos estes, o que
formação, os novos profissionais de enfermagem mais preocupa os especialistas é a falta de capacita-
necessitam buscar constantemente atualizações, ção profissional (SILVA; PADILHA, 2001).
pois, com o tempo, o conhecimento teórico e as
Sendo o fator humano o mais preocupante no
habilidades práticas tendem a se defasar (ALMEI-
atendimento à PCR e o fator que mais leva a ia-
DA et al., 2011).
trogênias, é importante ressaltar a importância de
O atendimento a um paciente em PCR ainda é uma capacitação adequada para os profissionais,
um grande desafio para muitos profissionais, pois que deve ter como objetivo reduzir ao mínimo o
o sucesso desse procedimento depende de vários tempo de atendimento na PCR. Então, para que
fatores, como coesão, sicronicidade e agilidade da tais profissionais atuem de forma segura e com-
equipe durante o atendimento. O início das mano- petente, é necessária sólida formação teórico-prá-
bras de reanimação cardiopulmonar (RCP) precisa tica para evitar erros no momento da assistência
ser realizado o mais precocemente possível, por- e, consequentemente, insucesso no atendimento e,
que quanto mais rápido for o restabelecimento dos na pior das hipóteses, o óbito do paciente.
batimentos cardíacos do paciente, menos ocorre-
Em 2000, foram criadas as primeiras diretrizes in-
rão riscos de danos cerebrais.
ternacionais de RCP, que promoveram uma visão
A UTI de um hospital é vista como o ambiente mais ampla, com base em evidências científicas.
para oferecer melhores condições de tratamento Assim, a enfermagem tem o dever de se atuali-
aos pacientes críticos e frequentemente com risco zar através dos cursos de Suporte Básico de Vida
de PCR, devido à sua infraestrutura com materiais (SBV) e Suporte Avançado de Vida (SAV). Este foi
e equipamentos mais avançados, além de pessoal criado pela American Heart Association (AHA)
capacitado que está pronto a prestar uma assistên- em meados dos anos 70, com o objetivo de ensi-
cia especializada (SILVA; PADILHA, 2001). nar técnicas de Suporte Básico de Vida e Suporte
Avançado de Vida em cardiologia, no ambiente
A realização da RCP no ambiente intra-hospitalar
hospitalar, para os profissionais da área de saúde.
é mais complexa, pois, mesmo a UTI dispondo de
(MENEZES et al., 2009).
recursos de suporte avançado de vida, as comorbi-
dades apresentadas pelo paciente podem interferir Com as diretrizes da AHA, ocorreu a padroniza-
para um pior prognóstico (LUZIA; LUCENA, 2009). ção das manobras de RCP, o que facilitou o apren-

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MENEZES, B.G.; SOUZA, B.G. | Capacitação dos enfermeiros na reanimação de pacientes da UTI

dizado e a práticas dos profissionais, favorecendo o O enfermeiro tem que estar apto para identificar
sucesso do procedimento e, consequentemente, a cada um dos sinais e sintomas das patologias descri-
sobrevida do paciente no pós-PCR. tas, a fim de poder prestar uma assistência efetiva no
caso da PCR, pois se trata da mais grave emergência
Segundo as diretrizes da American Heart Associa-
clínica com a qual a enfermagem pode se deparar.
tion (2010), o treinamento em suporte avançado
de vida (SAV) deve incluir a prática do trabalho É fundamental que a equipe esteja devidamen-
em equipe, pois se acredita que as habilidades de te preparada para agir em uma situação de PCR,
ressuscitação são, na maioria das vezes, realizadas porém, estudos revelaram que os enfermeiros e a
simultaneamente, sendo necessário que os profis- equipe de enfermagem apresentam um déficit sig-
sionais de saúde tenham capacidade para trabalhar nificativo de conhecimento em relação aos concei-
de forma colaborativa, a fim de diminuir as inter- tos e à sequência atualizada do suporte básico de
rupções nas compressões torácicas. vida (SBV) e também sobre os fármacos a serem
administrados ao paciente. Esse déficit interfere
Para um diagnóstico precoce da PCR, é primor-
no desempenho de toda a equipe, já que o enfer-
dial que haja uma avaliação sistematizada, sendo
meiro, depois do médico, é o líder da equipe nessa
importante levar em consideração três fatores es-
situação e para ele são atribuídas algumas respon-
senciais no paciente: responsividade, respiração e
sabilidades, como checagem do carrinho de para-
pulso. Portanto, o enfermeiro em seu ambiente de
trabalho, deve ter conhecimento sobre PCR e so- da, busca dos materiais necessários e fármacos a
bre as ações que compõem a RCP, é necessário que serem administrados bem como os cuidados com
sejam tomadas decisões rápidas, seguras, evitando o paciente. A sincronia da equipe multidisciplinar
estresse e pânico para que o atendimento ocorra depende da perfeita comunicação do líder com
com tranquilidade e eficácia (VIEIRA et al., 2011). os demais, no entanto, para que a liderança do
enfermeiro seja efetiva, é fundamental que todos
Os sinais e sintomas que antecipam a ocorrência tenham conhecimento de suas atribuições na pres-
da PCR são: sudorese, palpitações precordiais, tação da assistência (ROCHA et al., 2012).
tontura, dor, escurecimento visual, alterações neu-
rológicas, perda de consciência, sinais de baixo A agilidade nesse processo é de fundamental im-
débito cardíaco e parada de sangramento prévio. portância. A avaliação do paciente não pode durar
Entretanto, existem os sinais clínicos que são in- mais de 10 segundos, uma vez que, nesses casos,
consciência, ausência de movimentos respiratórios tempo é oxigenação cerebral, pois, com a ausência
e ausência de pulso em grandes artérias espontâ- das manobras de reanimação, em, aproximada-
neas (ROCHA et al., 2012). mente, 5 minutos ocorrerão alterações irreversí-
veis nos neurônios do córtex cerebral em adultos.
A doença coronariana é a principal causa da PCR, São chamados “os 5 minutos de ouro”, em que o
porém, os fatores mais importantes predisponen- coração pode até voltar a bater, mais os efeitos ce-
tes são episódios prévios e históricos anteriores de: rebrais podem ser fatais (ZANINI; NASCIMEN-
Taquicardia ventricular (TV); Infarto agudo do TO; BARRA; 2006).
miocárdio (IAM); Miocardiopatia dilatada; Hiper-
tensão arterial sistêmica (HAS); Cardiopatias hi- Uma situação de parada cardiorrespiratória exi-
pertróficas; Síndrome de QT longo; Portadores de ge que os integrantes da equipe de enfermagem
Síndrome de Wolf Parkinson White com episódios tenham dinamismo, sincronia, além de amplo
de fibrilação atrial. O trauma é o segundo causador conhecimento teórico-científico, para que a aten-
da PCR, que atinge, principalmente, adultos jovens ção ao paciente seja isenta de erros. Enquanto um
(ARAÚJO; JACQUET; SANTOS, 2008). enfermeiro está massageando o paciente, outro já

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se encontra preparado para iniciar as ventilações, preconizados conforme orientação médica, regis-
um técnico já se dirigiu ao posto de enfermagem tro dos acontecimentos, notificação ao médico que
em busca do médico plantonista, a caixa de parada estiver de plantão e também informar e apoiar os
já deve estar checada e preparada, os medicamen- familiares do paciente (ZANINI; NASCIMENTO;
tos já separados e, na medida do possível, aspira- BARRA, 2006).
dos. Quando o médico chegar, o laringoscópio e o
Ao enfermeiro cabe executar as manobras de SAV
tubo já devem estar prontos para serem utilizados
e a delegação das ações da equipe de enfermagem,
(GRAÇA; VALADARES, 2008).
a instalação do monitor cardíaco, auxiliar o médi-
O enfermeiro tem como função identificar preco- co nas manobras de RPC, assumindo a ventilação
cemente a PCR, oferecer ventilação e circulação ou as compressões cardíacas. Por esse motivo, o
artificial, monitorização do ritmo cardíaco e dos enfermeiro deve conhecer a sequência do atendi-
demais sinais vitais, administração dos fármacos mento, de acordo com as diretrizes da AHA.

Quadro 1. Etapas e ações a serem seguidas durante as manobras de Ressuscitação Cardiopulmonar (continua)

Sequência de RCP CABD Ações a serem realizadas

C – circulação • monitorizar (identificar ritmo e frequência);


• obter acesso venoso;
• administrar fluidos e medicações.

A – executar intubação • disponibilizar o material de aspiração conectado à rede de vácuo;


(o enfermeiro auxiliará • ter a cânula à mão;
o médico neste
• testar o cuff;
procedimento)
• utilizar equipamento de proteção individual (EPI);
• aspirar as vias aéreas, se necessário;
• insuflar o cuff com ar utilizando a seringa, geralmente de 10 ml;
• conectar o dispositivo de bolsa-válvula com reservatório conectado ao oxigênio
com fluxo de 10 a 12 L/min.;
• ventilar lentamente, quando necessário;
• observar se é bilateral a expansão pulmonar;
• testar a posição da cânula nas vias aéreas, auscultando primeiro o estômago; não
deve haver nenhum som, depois, o lado direito e o lado esquerdo;
• fixar a cânula, observando o número nela indicado em relação à prega lateral do
lábio, a fim de acompanhar o posicionamento da cânula durante o atendimento e a
sua permanência;

B – avaliar ventilação • confirmar a colocação do dispositivo de vias aéreas com exame físico e equipa-
mentos de confirmação;
• fixar o dispositivo de vias aéreas com equipamento feito para este fim;
• confirmar a eficácia da ventilação através da elevação do tórax;
• verificar se o paciente tem sons respiratórios;
• auscultar a região epigástrica para a confirmação da posição do tubo endotraqueal;
• realizar a análise do dióxido de carbono exalado;

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Quadro 1. Etapas e ações a serem seguidas durante as manobras de Ressuscitação Cardiopulmonar (conclusão)

Sequência de RCP CABD Ações a serem realizadas

D – diagnóstico diferencial: • examinar o ritmo através da monitorização;


identificar e tratar causas • levantar dados familiares;
• procurar, achar e tratar as causas que são reversíveis.

Fonte: American Heart Association

Figura 1. Algoritmo de SAV circular

Fonte: American Hearth Association

3. Conclusão tíficas, para poderem efetuar o procedimento sem


falhas humanas, fazendo o possível para a sobrevi-
Após toda essa discussão, foi possível perceber que,
vência do paciente.
para ocorrer o sucesso no processo da RCP, existe
a dependência de vários fatores, desde que o setor Levando em consideração que ser enfermeiro da
esteja plenamente equipado com os equipamentos UTI requer uma atenção maior, uma vez que os pa-
necessários e fármacos utilizados no procedimen- cientes desse setor solicitam maiores cuidados, pois
to, mas, principalmente, que os profissionais, neste sua maioria se encontra em risco iminente de morte,
caso, os enfermeiros e sua equipe, estejam qualifi- compreende-se que uma boa formação do profissio-
cados e atualizados com habilidades técnico-cien- nal de enfermagem implica a eficiência do mesmo.

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Portanto, pode-se constatar que o enfermeiro da importância para que ocorra o sucesso do procedi-
unidade de terapia intensiva capacitado é de suma mento e uma boa qualidade da unidade.

TRAINING OF NURSES IN LIFE SUPPORT FOR PATIENTS OF ICU

Abstract
The intensive care unit is a critical area of the hospital environment, therefore it is crucial that
professionals who work there are properly trained to handle the most extreme situations such as
the case of Cardiopulmonary Resuscitation (CPR). Taking these factors into consideration, this
article aims to highlight the importance of the training of nurses in cardiopulmonary resuscita-
tion (CPR), reporting nurses’ knowledge about CPR and describing the actions that should be
undertaken to identify early CPR and its causes common. This article is in a literature review,
where we used the database: LILACS, MEDLINE, SciELO and cocharane library. At the end of
this article it was established that it is necessary that the nurse is sufficiently prepared to work
together with the patient, the fact that a patient in the ICU has a high commitment to your health
and is, in many situations, on the verge of death.

Keywords
Training. Cardiac arrest. Cardiopulmonary resuscitation. Nurses. ICU.

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A CONTRIBUIÇÃO DA ENFERMAGEM COMO AGENTE
FACILITADOR DA INTERAÇÃO ENTRE PAIS E FILHOS
NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

Camila Alves de Medeiros Neves*


Elisandra Rufino de Carvalho**

Resumo
Este artigo abrange uma pesquisa qualitativa, que teve como objetivo principal estabelecer uma
reflexão sobre a importância da enfermagem como um agente facilitador no processo de inte-
ração entre pais e filhos em um ambiente de UTI neonatal. Para sua maioria, é considerado um
local desconhecido, frio e hostil, causador de uma enorme insegurança nas famílias envolvidas
nesse ambiente. Qual o comportamento experimentado por esses pais e familiares quando se de-
param com seus filhos internados nestas condições? O presente estudo reforça a importância da
enfermagem durante todo esse processo, mostrando que as ações humanizadas devem ser indivi-
dualizadas em cada família englobada por tal cenário, levando em consideração seus respectivos
medos, pois esses distintos problemas fazem toda a diferença. Com isso, conclui-se que, apesar
de toda a infraestrutura associada à alta tecnologia oferecida em uma UTI neonatal, a comunica-
ção é um fator imprescindível. Para isso, se faz necessário que os pais recebam orientações claras
e objetivas sobre as rotinas adotadas na UTI neonatal, como também sobre os equipamentos
utilizados nesse setor, de modo a estimular uma relação afetiva com seus filhos, partilhando dos
cuidados envolvidos nesse ambiente, e principalmente, podendo esclarecer suas dúvidas, contri-
buindo, assim, para a diminuição de suas angústias e ressentimentos.

Palavras-chave:
UTI Neonatal. Humanização. Contribuição da Enfermagem.

1. Introdução a partir dele que se constituem planos e sonhos,


O período gestacional é um momento muito es- que se dissemina o sentimento de ansiedade entre
pecial na vida da mulher e da família, sendo ro- todos da família, sendo comum a espera por um
deado por inúmeras sensações e expectativas. É bebê saudável.

* Enfermeira. Especialista em Enfermagem em UTI Neonatal e Pediátrica pela Atualiza Cursos. E-mail:
elisandraenf@yahoo.com.br
** Enfermeira. Especialista em Enfermagem em UTI Neonatal e Pediátrica pela Atualiza Cursos. E-mail:
enf.camilamedeiros@hotmail.com.br

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 1, n. 1, jan./jun. 2015 | 60


NEVES, C.A.M.; CARVALHO, E.R. | A contribuição da enfermagem como agente facilitador da interação entre pais e filhos...

Para a família, aqui referida como pai e mãe, a in- colabora para a diminuição do contato diário com
ternação de um filho na Unidade de Terapia Inten- o filho.
siva Neonatal (UTIN), que necessita de cuidados
Com a necessidade da hospitalização, vêm a inse-
especiais, é sempre um momento difícil, justamen-
gurança, muitas dúvidas e angústia, já que o am-
te por tratar-se de um ambiente estranho, gerador
biente hospitalar é algo desconhecido para a fa-
de insegurança, sobretudo, quando o neonato exis-
mília, implicando um grande conflito, por isso, a
tente não é aquele idealizado (SANTOS, 2006). necessidade de que o ambiente seja receptivo, aco-
Souza et al. (2009) consideram a hospitalização de lhedor tanto para os pais como para o bebê.
um filho prematuro na UTIN como uma situação Gaiva e Scochi (2005) falam que inúmeros estu-
que pode gerar danos emocionais para a toda fa- dos mostram a importância da presença dos pais
mília, principalmente para a mãe, por tratar-se de na UTI neonatal e da participação deles nos cui-
um ambiente assustador, que inibe o contato es- dados ao filho hospitalizado, não só para o esta-
pontâneo entre mãe e filho. Ao vivenciar a hospi- belecimento do vínculo afetivo mãe-filho, como
talização de um filho na UTIN, as mães adentram também para a redução do estresse causado pela
em uma nova realidade, permeada, quase sempre, hospitalização e no preparo para o cuidado à saúde
por momentos difíceis, que geram tristeza, dor e no domicílio. A assistência ao RN em UTIN so-
desesperança. Com o decorrer e o prolongamen- freu mudanças. O modelo tradicional de assistên-
to da permanência hospitalar desses neonatos, são cia centrado no bebê doente vem cedendo espaço
despertados nos pais sentimentos de ansiedade, in- para um novo modelo, que permite a presença dos
segurança e culpa. pais e a incorporação da família no cuidado. Para
efetivar essa nova prática, as UTINs têm permitido
Tendo em vista todos estes aspectos citados, o au- o livre acesso dos pais para visitar os filhos, além
tor relata que algumas unidades neonatais têm se de liberar a permanência contínua deles junto ao
preocupado em reduzir o impacto causado pelo in- bebê internado, se assim o desejarem, proporcio-
ternamento do filho na UTIN, investindo em um nando, inclusive, condições para sua acomodação
processo de humanização da assistência, que visa nas unidades.
a atender às necessidades emocionais desses pais,
Scochi et al (2003) mencionam que, nesse ambiente,
de modo a tentar oferecer um suporte emocional
a enfermagem deve ser facilitadora da participação
mais direcionado.
familiar, favorecendo o vínculo, o apego entre pais e
Os pais encaram a internação como algo assusta- filhos e as competências práticas humanizadas.
dor. Essa forma de sentir está relacionada ao am-
A presente pesquisa objetivou fortalecer a impor-
biente da UTIN. Os pais, fragilizados no momento tância da enfermagem em ser o agente facilitador
em que saem do seu universo, ficam, portanto, à para promover os primeiros contatos e o convívio
mercê das normas e condutas que passam a diri- entre pais, filhos e familiares no ambiente hostil e,
gir os seus passos nesse lugar desconhecido, as- muitas vezes, assustador da UTI neonatal.
sustador e inóspito que é para eles a UTI neonatal.
(MITTAG; WALL, 2006). Para a realização desta pesquisa, optamos pela
abordagem de natureza qualitativa, uma vez que
Conforme Lemos e Rossi (2002), o ambiente hos- ela permite entrar em profundidade na essência
pitalar tem sido apontado como importante fator do tema proposto. A pesquisa qualitativa permi-
no enfraquecimento do vínculo mãe e recém-nas- te compreender as representações de um deter-
cido, pelo fato de ser temido pela família, porque minado grupo e entender o valor cultural que ele

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atribui a determinados temas. A técnica utilizada em que medida a obra consultada interessa à pes-
para a mesma foi um estudo bibliográfico, pois foi quisa. Nesse momento, obtivemos maior familiari-
desenvolvido com base em material já elaborado, dade com o tema da investigação. A leitura explo-
constituído de artigos científicos publicados (MI- ratória é feita mediante o exame da folha de rosto
NAYO, 2006). ou resumo, dos índices da bibliografia e das notas
de rodapé. Também faz parte deste tipo de leitura
Ao delimitarmos o tema da pesquisa, realizamos
o estudo da introdução, do prefácio, de livros e re-
um estudo exploratório. Assim, a partir das lei-
sumos de artigos. Com esses elementos, é possível
turas do material, surgiram os seguintes temas: o
ter uma visão global do texto, bem como de sua
ambiente da UTIN e a humanização do cuidado; utilidade para a pesquisa. (GIL, 2005).
o vínculo afetivo entre pais/família e filho; a enfer-
magem como agente facilitador no processo de hu- A etapa seguinte foi determinar o material de in-
manização, a presença dos pais ou dos familiares teresse à pesquisa, momento em que realizamos a
na UTI neonatal, a contribuição da enfermagem leitura seletiva, a qual é mais profunda que explo-
para a promoção do contato pais/filhos. Buscamos ratória, que ainda não é definitiva, pois possibilita
trabalhos que abordassem essa temática teórica, a retomada do mesmo material com propósitos di-
que fossem capazes de nos fornecer explicações a ferentes. (GIL, 2005).
respeito do assunto proposto, bem como pesquisas Posteriormente, procedemos à leitura do tipo ana-
que tratavam do assunto. lítica, que é feita com base nos textos selecionados.
Portanto, realizamos um levantamento bibliográ- Essa etapa tem por finalidade ordenar e sumarizar
fico sobre o tema nos bancos de dados informati- as informações contidas nas fontes, de forma que
zados MEDLINE, LILACS, SCIELO. A busca dos possibilitem a obtenção de respostas ao problema
artigos deu-se por meio do uso das palavras-chave, da pesquisa. (GIL, 2005).
a saber, UTIN, Contribuição da enfermagem, Hu-
manização. E foram selecionados artigos científi- 2. Desenvolvimento
cos publicados do ano 2000 a 2013.
Após a execução da metodologia proposta, foram
De posse do material, realizamos uma leitura do encontrados 21 artigos para a discussão deste tra-
tipo exploratória, que tem por objetivo verificar balho, conforme se encontram no quadro 1.

Quadro 1. Artigos pesquisados referentes ao tema proposto: a contribuição da enfermagem para promover
a presença dos pais e familiares na unidade de Terapia Intensiva neonatal, autores, ano da publicação e
título. (continua)

ARTIGOS AUTORES ANO TÍTULO

I Oliveira, Collete; 2006 A humanização na assistência à saúde


Vieira

II Rolim; Cardoso 2006 O discurso e a prática do cuidado ao recém-nascido de risco: refle-


tindo sobre a atenção humanizada

III Lemos, Rossi 2002 O significado cultural atribuído ao centro de terapia intensiva por
clientes e seus familiares: um elo entre a beira do abismo e a realidade

IV Gaíva; Scochi 2005 A participação da família no cuidado ao prematuro em UTI neonatal

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Quadro 1. Artigos pesquisados referentes ao tema proposto a contribuição da enfermagem para promover
a presença dos pais e familiares na unidade de Terapia Intensiva neonatal, autores, ano da publicação e
título. (conclusão)

ARTIGOS AUTORES ANO TÍTULO

V Mittag; Wall 2004 Pais com filhos internados em UTI neonatal: sentimentos e percepções.

VI Santos 2006 A participação da família no ambiente neonatal.

VII Moreira 2005 Estressores em mães de recém-nascidos de alto risco: sistematização


da assistência de enfermagem.
VIII Reichert; Costa 2000 Experiência de ser mãe de recém-nascido prematuro.
IX SCOCHI et al. 2003 Incentivando o vínculo mãe e filho em situação de prematuridade:
as intervenções de enfermagem no Hospital das Clínicas, em Ribei-
rão Preto.
X Silva; Silva; Cris- 2009 Tecnologia e Humanização na Unidade de Terapia Intensiva neona-
toffel tal: reflexões no contexto do processo saúde x doença.
XI Brum; Sherman 2004 Vínculos iniciais e desenvolvimento infantil: abordagem teórica em
situação de nascimento de risco.
XII Rossato-Abéde; 2002 Crenças determinantes da intenção da enfermeira acerca da presença
Angelo dos pais em unidades neonatais de alto-risco.
XIII Schmidt; Sassá; 2012 A primeira visita ao filho internado na Unidade de Terapia Intensiva
Veronez; Higa- neonatal: percepção dos pais.
rash; Marcon
XIV Sousa; Araújo; 2009 Representações das mães sobre a hospitalização do filho prematuro.
Costa; Carvalho;
Silva
XV Frello; Carraro 2012 Enfermagem e a relação com as mães de neonatos em Unidade de
Terapia Intensiva neonatal.

XVI Tronchin; Tsune- 2005 A experiência de tornarem-se pais de prematuro: um enfoque etno-
chiro gráfico.

XVII Molina; Fonse- 2009 A percepção da família sobre sua presença em Unidade de Terapia
ca; Waidman; Intensiva neonatal.
Marcon

XVIII Côa; Petengill 2011 A experiência de vulnerabilidade da família da criança hospitalizada em


Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos.

XIX Pinto; Ribeiro; 2008 Cuidado centrado na família e sua aplicação na enfermagem pediátrica.
Pettengill; Balieiro

XX Pinto; Ribeiro; 2005 Procurando manter o equilíbrio para atender às suas demandas e cuidar
Silva da criança hospitalizada: a experiência da família.

XXI Gomes; Erdmann; 2010 Refletindo sobre a inserção da família no cuidado à criança hospi-
Busanello talizada.

Fonte: Elaborado pela Autora

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2.1. Entendendo o O quanto antes os pais e familiares entrarem em


Ambiente da UTI Neonatal contatos com seus filhos, participando das rotinas
das unidades, mais cedo aceitarão a condição espe-
A UTIN é um ambiente hospitalar onde são utiliza-
cial de seu bebê e desenvolverão, também, a capa-
dos procedimentos e técnicas sofisticadas, que po-
cidade de cuidarem dele após a alta.
dem propiciar condições para a reversão dos distúr-
bios que colocam em risco a vida dos bebês de alto Gaiva e Scochi (2005) dizem que, através de pes-
risco. O local é, em geral, repleto de equipamentos quisas observadas, a participação da família no
e rico em tecnologia (REICHERT; COSTA 2000). cuidado do bebê nas unidades ainda não se tornou
uma rotina institucional, mesmo com a conscien-
As autoras ainda consideram que a primeira visita
tização da importância de inclui-la no processo do
à UTIN pode ser deprimente para os pais, devido
cuidado e na tomada de decisão. Ainda existe mui-
ao RN necessitar, com frequência, de, pelo menos,
ta resistência na implantação desta realidade por
uma infusão venosa, fios ligados para monitoriza-
parte dos profissionais e até mesmo da instituição.
rão, sonda endotraqueal acoplada a um respirador,
além de, na maioria das vezes, permanecer confi- Brun e Scherman (2004) enfatizam a pesquisa rea-
nado em incubadoras. Os pais necessitam de apoio lizada em 1982 por Klaus e Kennell, no Hospital
da equipe multiprofissional e uma orientação rea- da Universidade de Cleveland, onde foi permi-
lista dos prognósticos, a fim de compreender a tido a um grupo de mães que entrasse nas UTIs
doença do neonato e o motivo de toda a aparelha- para pegar e cuidar de seus bebês. Os neonatos
gem para os cuidados recebidos. desse grupo tiveram um escore mais alto no tes-
te de Stanford-Binet (que avalia o QI dos bebês),
O acolhimento do neonato é realizado pela equipe quando comparados com os RNs do grupo-con-
especializada de profissionais, direcionando, nos trole, no qual as mães não tiveram contato precoce
primeiros momentos, o cuidado para a manuten- com seus filhos. Esse estudo contribuiu, de forma
ção da vida. Há muito barulho, uma atmosfera de positiva, tanto para os pais como também para o
urgência e decisões rápidas, pessoas indo e vindo, desenvolvimento intelecto dos bebês, devido ao
enfim, um ambiente que traz em si fontes gerado- contato precoce com as mamães.
ras de estresse aos profissionais e aos pais (TRON-
CHIN; TSUNECHIRO, 2005). 2.2. A Visão dos Pais/Familiares
em relação aos seus bebês internados
De acordo com Carvalho (2001), os pais experi-
mentam a interrupção de suas atividades normais A hospitalização de um filho pode ser considerada
e das responsabilidades parentais. O estresse au- pelos pais como algo fatal na vida da família. Além
menta quando percebem que a informação sobre a do sofrimento causado pela doença, é considerada
situação de saúde do filho está incompleta, confli- fatigante e causadora de alterações na maioria dos
tiva ou de difícil compreensão. aspectos da vida familiar, incluindo a separação
dos pais e de outros membros, principalmente se
Por isso, é fundamental que a enfermagem favore- a família reside em outro município e um dos pais
ça todo o apoio necessário, para que esse elo entre precisa se ausentar por tempo indeterminado para
os pais/familiares e o ambiente da UTIN aconteça, acompanhar o tratamento. Traz consigo uma série
assim, permitindo o acesso que contribuirá para a de sentimentos como medo, insegurança, preocu-
diminuição dos receios e medos que, muitas vezes, pação, solidão. Esses fatores, quando somados, afe-
afastam os pais do convívio hospitalar. tam o equilíbrio emocional, podendo vir a ocasio-

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nar um transtorno na harmonia da família, gerando belecidas no ambiente hospitalar. A sensação dos
consequências graves (MOLINA et al., 2007). familiares de sentirem-se divididos entre cuidar
da criança hospitalizada e dos demais membros é
Conforme Schmidt et al. (2012), é com base na fi-
acentuada quando o hospital não facilita a troca de
losofia do cuidado centrado na família, no suporte acompanhantes, ou mesmo quando a postura da
à família e na participação dos pais nos cuidados equipe não permite a ausência desses por alguns
diretos ao RN, assim como a inclusão deles nas de- períodos, de forma que ter um acompanhante dei-
cisões sobre seu filho, que isso deve ser uma das xa de ser um direito da criança e passa a ser apenas
prioridades nos serviços de neonatologia. A inter- um dever de sua família. (PINTO et al., 2005).
nação prolongada dos bebês e a privação do am-
biente aumentam o estresse dos pais e da família, Para a família, a participação e o apoio por parte
podendo prejudicar o estabelecimento do vínculo e da equipe são fundamentais. Ela sente-se muito
apego. No tocante à equipe de enfermagem, ela as- bem quando, de alguma forma, pode contribuir
sume um leque de atribuições e responsabilidades com algo e participar do tratamento, vai à busca
que, por sua vez, demandam capacidades essen- de conhecimento, se mostra interessada, busca
ciais para avaliar, entender e apoiar, com seguran- pesquisas que tratem do assunto, muitas vezes, na
ça, o RN e a sua família durante esse tempo crítico. tentativa de mobilizar-se em sentido oposto à vul-
nerabilidade. A família realiza ações de enfrenta-
As mesmas autoras abordam os sentimentos vi- mento das dificuldades, de acordo com suas cren-
venciados pelos pais diante do risco de morte do ças e valores. Ela começa a buscar seus direitos e
bebê. Os pais passam por uma experiência com tenta ser reconhecida pela equipe ao desejar parti-
sentimentos contraditórios e confusos. A partir do cipar do tratamento da criança. Para isso, procura
estudo realizado pelas mesmas, em que foram co- estabelecer con­fiança com os membros da equipe,
lhidos depoimentos, ficou claro que, para os pais, mantendo a esperança viva dentro de si. (CÔA;
a noção ou o conceito global de UTIN traz em seu PETTENGILL, 2011).
bojo uma associação quase imediata com a ideia de
finitude, de possibilidade iminente da morte. 2.3. A Contribuição da Enfermagem
Com esta pesquisa, podemos observar que vários
para promover a humanização
artigos tratam sobre a importância dos pais no am- Na UTIN, a enfermagem possui, além das respon-
biente da UTIN. Molina (2007) reforça que, além sabilidades com o neonato, compromisso junto aos
de proporcionar bem-estar à criança, a presença pais, em especial, as mães, e estudos têm demons-
dos mesmos traz um fator de segurança, pois, des- trado muitas atividades que podem ser elencadas
ta forma, eles têm a oportunidade de participar e como fundamentais para serem desenvolvidas jun-
de acompanhar o cuidado que é dispensado ao seu to à família durante a internação do bebê, dentre
filho durante toda a internação. Isso lhes permite elas: acompanhá-los nas primeiras visitas à UTIN,
perceber que tudo o que é possível está sendo feito, informar sobre as condições do bebê, responder às
o melhor está sendo oferecido ao seu filho, dimi- questões e dar suporte emocional na forma de em-
nuindo um pouco o sentimento de impotência e patia e compreensão, encorajar a visita e o toque,
culpa diante do que se passa. envolver nos cuidados, informar acerca dos pro-
cedimentos e tratamentos realizados. (FRELLO;
No cotidiano do hospital, são vivenciadas relações
CARRARO, 2012).
sociais permeadas de conflitos, disputas e negocia-
ções. Determinadas situações de conflito são refor- O preparo dos pais e familiares para a primeira vi-
çadas pelas normas hospitalares e interações esta- sita é função da enfermagem, explicando o aspec-

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to do RN, equipamento que está sendo utilizado e com o outro, sendo que o diálogo e a comunicação
orientações gerais sobre a unidade, para que este são fundamentais. (SILVA; CRISTOFFEL, 2009).
pai/familiar se sinta, de certa forma, mais familia-
Levando em consideração o que as autoras supra-
rizado e menos assustado.
citadas falaram, percebemos que o trabalho de hu-
Moreira (2001) relata em seu artigo “Estressor em manização não é uma tarefa fácil de realizar, pois
mães de recém-nascidos de alto risco” as atribui- envolve várias questões que, muitas vezes, fogem do
ções da enfermagem, que assume um leque de res- ambiente hospitalar. A humanização deve ser execu-
ponsabilidades e capacidades que são essenciais tada individualmente, já que cada indivíduo tem a
para avaliar, entender e apoiar com segurança o sua realidade, envolvendo questões éticas e psíquicas.
RN e a sua família durante este tempo crítico.
Além dos aspectos de compromisso, infraestrutura
De acordo com pesquisa realizada por Rossato e e gestão hospitalar, a humanização envolve o ato de
Abéde (2002), a crença de algumas enfermeiras saúde em si. Nas UTINs, observa-se a preocupação
quanto à importância de permitir o livre acesso dos da equipe de enfermagem com o quadro clínico do
pais à UTIN prejudica o andamento do serviço da RN, porém, identifica-se a dificuldade em vislum-
unidade, mas, por outro lado, também entendem brar o bebê em sua integralidade, que faz parte de
que há a necessidade de interação entre os pais e o uma família, e que essa se encontra desequilibra-
RN internado, trazendo benefícios para o próprio da. Portanto, na UTIN, o cuidado de enfermagem
RN, bem como para os pais que, deste modo, se deve estar voltado às necessidades da criança e sua
sentem mais amparados. Esse seria, segundo a teo- família, desenvolvendo uma proposta do cuidado
ria da ação racionalizada, o fator pessoal ou a atitu- centrado na família, encorajando-a ao envolvi-
de individual da enfermeira em relação a permitir mento afetivo e no cuidado de seu filho. Com isso,
a presença dos pais em UTI neonatal. pretende-se preservar a indissolubilidade do binô-
mio mãe-filho, reduzindo assim o tempo de inter-
Com esta pesquisa, percebemos que a enfermagem nação, aumentando o calor afetivo e a colaboração
tem papel principal e importantíssimo no desen- da equipe de saúde ao criar um vínculo de confian-
volvimento da rotina de uma UTI neonatal. Assim, ça entre família e equipe. (OLIVEIRA, 2013).
o facilitador detém a responsabilidade de exercer o
papel contrário no que diz respeito ao acesso dos Dentre as profissões da saúde, a enfermagem é a
pais/familiares no ambiente hospitalar, levando em que está mais próxima do paciente. A enfermeira,
consideração que cada um traz consigo receios e em tese, deveria zelar pela sua assistência, mas a
sua própria percepção do que acredita ser melhor ausência da assistência direta ao paciente, ou de
para o serviço, dificultando, assim, o acesso da fa- sua sistematização, torna o trabalho da equipe,
mília ou promovendo esse acesso. De acordo com muitas vezes, mecânico e padronizado. A ausência
nossas pesquisas, percebemos que isso tem muito decorre das tarefas administrativas, burocráticas
a ver com a opinião pessoal de cada profissional. e, principalmente, do distanciamento dos ideais de
humanização na assistência ao paciente, aquele que
A qualidade humanizada não faz parte das ações é a sua razão de existir. (ROLIM; CARDOSO, 2006).
somente pelo fato de serem realizadas por huma-
nos, mas sim pelo caráter relacional em saúde, no
2.4. A filosofia do
qual a expressão das subjetividades é exclusiva dos
cuidado centrado na família
seres humanos. A proposta de humanização vem
com o objetivo de instalar e aprimorar a nature- Segundo Pinto et al. (2009), a construção do ter-
za humana para um relacionamento mais afetuoso mo cuidado centrado na família teve início em

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meados de 1969, com o propósito de definir a qua- competências do cuidado: o apoio emocional, so-
lidade do cuidado prestado no hospital, segundo cial e de desenvolvimento e podem ser aplicadas
visão dos pacientes e suas famílias, e de discutir a em diferentes áreas de atuação da enfermagem,
autonomia do paciente frente às suas necessidades inclusive na UTIN, mas com um maior foco na fa-
de saúde. mília, que, para a filosofia, não se restringe só ao
corpo biológico.
Essa filosofia pode servir de instrumento para o
trabalho de enfermagem na UTIN, levando em A enfermagem vem desenvolvendo inúmeros es-
consideração que a enfermagem é uma das pro- tudos e pesquisas que revelam a importância da
fissões da área de saúde com maior contato entre presença da família como fator crucial para a recu-
as famílias. Pensando assim, este estudo nos leva a peração da criança hospitalizada. (GOMES; ERD-
refletir sobre a qualidade do cuidado prestado. MANN; BUSANELLO, 2010).

O termo cuidado centrado no paciente e família Existem muitos estudos que trazem a consagração
surgiu devido à compreensão de que a família é da participação da família no cuidado com o neo-
considerada um elemento fundamental no cuida- nato enfermo, mas, infelizmente, a prática ainda
do de seus membros e o isolamento social é um não descreve os avanços das teorias e pesquisas.
fator de risco, já que a própria internação leva,
muitas vezes, ao isolamento e à desconstrução da
rotina de muitas famílias. 3. Conclusão
A hospitalização do filho na Unidade de Terapia
É recomendado que os profissionais incentivem a
Intensiva Neonatal (UTIN) é uma condição que
continuidade da ligação natural que existe entre a
pode gerar danos emocionais para toda a família,
maioria dos pacientes, suas famílias e suas redes de
especialmente para os pais. Mesmo conscientes da
apoio. Por acreditar que a família exerce influência
possibilidade do nascimento de uma criança que
sobre a saúde do paciente, essa filosofia assistencial
necessite de cuidados intensivos, os pais mantêm a
a inclui como parceira na melhoria das práticas e
esperança de que seu filho será saudável e perma-
do sistema de cuidado (PINTO et al., 2009).
necerá junto à mãe até o momento da alta hospi-
As conjecturas centrais do cuidado centrado na talar. Entretanto, durante a visita à UTIN, os pais
família são assim apresentadas pelo Instituto do são surpreendidos por um estado inicial de choque
Cuidado Centrado na Família (ICCF): dignidade provocado, a princípio, pelo nascimento inesperado
e respeito; os profissionais de saúde ouvem e res- de um bebê em condições adversas e, depois, pelo
peitam as escolhas e perspectivas do paciente e da confronto com uma realidade diferente da ideali-
família; o conhecimento, os valores, as crenças e a zada, traduzida por um recém-nascido de aspecto
cultura do paciente e da família são inseridos no frágil e com necessidade de cuidados especiais.
planejamento e na prestação do cuidado; a equipe
A UTI neonatal é um setor onde a tecnologia cada
multiprofissional comunica-se e divide as infor-
vez mais se supera, tornando o ambiente frio, sem
mações úteis, de maneira completa e imparcial.
afeto para os profissionais. O desafio é vencer bar-
Pacientes e família são incentivados e apoiados a
reiras e permitir a expressão de sentimentos nos re-
participarem do cuidado e da tomada de decisão
lacionamentos entre as famílias, as crianças e, prin-
(PINTO et al., 2009).
cipalmente, entre os profissionais. É imprescindível
O cuidado centrado na família objetiva promover a luta por um atendimento mais humanizado e,
o bem-estar e a saúde de indivíduos e família e res- com isso, buscar cada vez mais intensificar o forta-
taurar seu controle e dignidade. São consideradas lecimento destas relações. (MOLINA et al., 2009).

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No decorrer da leitura dos artigos aqui utilizados, A equipe deve ter em mente que está mais do que
ficaram mais do que evidentes os aspectos de trans- comprovado que a presença da família na UTIN
formação na vida das famílias com filhos internados traz inúmeros benefícios ao neonato, mesmo sa-
na UTIN, como elas reagem a esta nova realidade bendo que em alguns serviços ainda há uma gran-
nas suas vidas, com mudanças bruscas e repentinas de burocracia em aderir a esta modalidade.

causando toda uma desarmonia familiar. São compreensíveis toda a apreensão e o medo
vivenciados pelos pais, visto que essa hospitaliza-
Diante desse pressuposto, vale reforçar a impor-
ção ainda carrega consigo o peso do sinônimo de
tância da equipe de enfermagem que atua nesse
morte, gerando um aspecto de impotência e culpa.
setor para desenvolver um atendimento de forma
Alguns autores reforçam a importância das infor-
humanizada e buscar o método mais individuali- mações de forma clara e direta, de manter os pais
zado, tentando enxergar os medos, a angústia de cientes da situação de seus filhos e, quando possí-
cada família que ali se encontra com um total es- vel, começar a introduzi-los em algumas ativida-
tado de fragilidade e medo por algo novo e total- des, pois, quando as informações são incompletas,
mente desconhecido. aumentam mais sua angustia e tristezas.

THE CONTRIBUTION OF NURSING AS A FACILITATOR OF AGENT INTERACTION BETWEEN PARENTS


AND CHILDREN IN THE NEONATAL INTENSIVE CARE UNIT

Abstract

This article is a qualitative research, which aimed to establish a reflection on the importance of
nursing as a facilitator in the process of interaction between parents and children in an environ-
ment of the Neonatal intensive care unit. For the most part, is considered an unknown location,
cold and hostile, creating huge uncertainty in the families involved in this environment. Which
the behavior of these parents and family suffered when they encounter their children admitted
in these conditions? This study reinforces the importance of nursing throughout in this process,
showing that the humanized actions should be individualized for each family covered by this
scenario, taking into account their fears, because these distinct problems make all the difference.
Thus, it is concluded that despite all infrastructure associated with high technology offered in a
NICU the communication is an essential factor. For this, it is necessary that parents receive clear
guidelines and objective information on the routines adopted in the NICU, as well as the equi-
pment used in this industry in order to stimulate an emotional relationship with their children,
sharing the care involved in this environment, and especially and can answer their questions,
thereby helping in reducing their anxieties and resentments.

Keywords

NICU. Humanization. Contribution of Nursing.

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NEVES, C.A.M.; CARVALHO, E.R. | A contribuição da enfermagem como agente facilitador da interação entre pais e filhos...

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IMPLEMENTAÇÃO DA PUNÇÃO UNIDIRECIONAL
NO CENTRO DE DOENÇAS RENAIS DE JEQUIÉ

Ana Luiza Uzêda Oliveira*

Resumo
O paciente renal crônico, para a realização do tratamento hemodialítico, necessita de uma fístu-
la arteriovenosa (FAV), acesso permanente que consiste numa anastomose de uma artéria com
uma veia, aguardando cerca de 30 a 45 dias, ou até um tempo maior para a maturação da FAV.
O objetivo deste relato de experiência foi a implementação da punção unidirecional no Centro
de Doenças Renais de Jequié, com ênfase nos benefícios para o paciente renal crônico. Foram
selecionados 30 pacientes, homens e mulheres, jovens e idosos, no período que compreendeu de
março de 2012 a julho de 2013, em que estava sendo aplicada a punção unidirecional, utilizando
para a coleta dos dados a observação participante, pois auxilia na interação pesquisador-sujeito,
no seu próprio ambiente. Um grupo, no total de 15 pacientes, foi submetido inicialmente à pun-
ção convencional e, posteriormente, à punção unidirecional, e os outros 15 pacientes submetidos
apenas à punção unidirecional, pacientes com FAV distais e proximais, alguns em membros supe-
riores e outros em membros inferiores. Os resultados da implementação da punção unidirecional
no Centro de Doenças Renais de Jequié apresentaram vantagens para o paciente renal crônico,
como a extinção do edema, do extravasamento e de hematomas na primeira punção, bem como
indicaram a manutenção de um Kt/V adequado, sendo um indicador de qualidade no tratamento
hemodialítico. Isso, provavelmente, influenciará outras pessoas a desenvolverem pesquisas vol-
tadas para o assunto, trazendo maior benefício para o paciente renal crônico, aumentando a so-
brevida da fístula arteriovenosa e despertando os profissionais de enfermagem a reavaliarem as
punções utilizadas.

Palavras-chave
Acesso vascular. Punção unidirecional. Paciente renal crônico.

1. Introdução desse procedimento, se faz necessário um acesso


A hemodiálise é uma das opções de tratamento permanente, a fístula arteriovenosa (FAV). Nesse
para o paciente renal crônico. Para a realização tratamento, ocorre o processo de filtragem e depu-

* Enfermeira. Especialista em Enfermagem Nefrologia pela Atualiza Cursos. E-mail: ana.uzeda_2012@


hotmail.com

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 1, n. 1, jan./jun. 2015 | 70


OLIVEIRA, A.L.U. | Implementação da punção unidirecional no centro de doenças renais de Jequié

ração do sangue, que tem por finalidade substituir a tipologia de construção da FAV para selecionar
as funções renais. os locais de punção mais adequados para cateteri-
zação. (CLEMENTE, 2009).
Daurgidas (2008) relata que existe a necessidade de
um acesso vascular nos pacientes com insuficiên- Existem três técnicas de punção: regional, em esca-
cia renal, que pode ser temporária ou permanente. da e Buttonhole, porém, todas têm suas vantagens
O acesso permanente ideal facilita o fluxo adequa- e desvantagens. A melhor técnica é aquela que vai
do para a diálise prescrita, que leva a um tempo de ser aplicada dependendo do tipo de fístula arterio-
utilidade maior, apresentando, assim, uma baixa venosa confeccionada no paciente, já que esse pro-
taxa de complicação. cesso é individualizado.

A FAV tem como vantagens: maior durabilidade, O objetivo do presente estudo foi relatar a expe-
baixo índice de infecção e trombose, promove li- riência da implementação da punção unidirecional
berdade de movimentos e ação, acesso mais seguro; no Centro de Doenças Renais de Jequié, com ên-
e como desvantagens: isquemia de extremidades, fase nos benefícios para o paciente renal crônico.
baixo fluxo por espasmo, trombose venosa parcial
ou total, surgimento de aneurisma e hematomas. No Centro de Doenças Renais de Jequié, a punção
bastante utilizada, em quase 100% dos pacientes,
Para Fermi (2011), a fístula arteriovenosa é indica- era a retrógrada, quando as agulhas ficam em di-
da apenas para pacientes com insuficiência renal reções opostas, ocorrendo edema, infiltração nas
crônica (IRC), consistindo em uma anastomose primeiras punções, mas, há cerca de um ano, esse
subcutânea de uma artéria com uma veia. quadro mudou consideravelmente. Ao apalpar e
Conforme Daurgidas (2008), a fístula arteriove- analisar o fluxo da FAV, passamos a praticar com
nosa não pode ser utilizada imediatamente, sendo uma frequência maior a punção unidirecional,
necessário aguardar o tempo de maturação dessa quando as agulhas ficam na mesma direção, o que
fístula, o que pode durar de 30 a 45 dias, ou até diminuiu os edemas, o extravasamento percutâ-
um tempo maior. Esse tempo é necessário para que neo, mantendo um bom Kt/v, o que influencia na
ocorra a dilatação da artéria nutriente e da veia, qualidade da diálise.
contribuindo para o aumento do fluxo da fístula e Várias literaturas abordam o cuidado com a FAV,
espessamento da parede da veia. o que é de suma importância para a sobrevida do
O cuidado com o membro onde será confecciona- paciente renal crônico, bem como as técnicas de
da a FAV começa na sua pré-construção. O pacien- punção, mas a escassez de material sobre o tipo
te receberá as instruções de exercícios para evitar de punção unidirecional é o que justifica o inte-
punções desnecessárias no acesso que será usado resse em investigar essa temática. Com os benefí-
posteriormente, na maturação da FAV, avaliando o cios dessa punção em nossa unidade, a divulgação
fluxo, orientado quanto ao cuidado e na punção. sobre o assunto contribuirá para a qualidade do
tratamento hemodialítico para o paciente renal e
A direção do fluxo sanguíneo da FAV deve ser cor- crônico e despertará o desenvolvimento de mais
retamente identificada, no sentido de garantir uma pesquisas sobre o assunto.
punção adequada. Pode ser facilmente reconheci-
da através da localização da anastomose, colocan- Trata-se de um relato de experiência vivenciado
do a mão em cima e palpando a diminuição do fré- como enfermeira assistencial no Centro de Doen-
mito, ao longo do vaso arterializado (BROUWER, ças Renais de Jequié, onde o atendimento em he-
1995). Também, é importante que o enfermeiro de modiálise é conferido a uma população cadastrada
diálise identifique a anatomia vascular e reconheça de, aproximadamente, 240 pacientes, pelo Sistema

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OLIVEIRA, A.L.U. | Implementação da punção unidirecional no centro de doenças renais de Jequié

Único de Saúde (SUS), sendo uma unidade de refe- não sendo encontrados artigos científicos ou algo
rência regional com abrangência de 25 municípios na literatura que respondesse a todos esses questio-
do cone centro-sul da Bahia. namentos, iniciaram-se as punções unidirecionais.

Para a coleta dos dados, foi escolhida a observa- A situação inicial que me despertou foi a história
ção participante, pois auxilia na interação pesqui- de um paciente jovem, cerca de 30 anos, em uso
sador-sujeito, no seu próprio ambiente. Chizzotti de cateter duplo lúmen, que havia confeccionado
(1991) coloca que a observação participante é obti- a FAV radiocefálica. Ele foi orientado para a prá-
da por meio de contato direto do pesquisador com tica do exercício no período de maturação, sendo
o fenômeno observado, para recolher as ações dos puncionada a FAV com 33 dias de vida, rede veno-
autores em seu contexto natural, a partir de sua sa visível e bem arterializada, vaso calibroso, tudo
perspectiva e de seus pontos de vista. Já Minayo cooperando para uma punção sem complicações.
(1994) afirma que a observação participante pode Foi utilizada a punção convencional, que, no ato
ser considerada parte essencial no desenvolvimen- da introdução da agulha, originou edema local
to da pesquisa. imediato. Retirou-se, então, a agulha, efetuando-se
compressa fria no local. O paciente dialisou pelo
cateter duplo lúmen, pois a intenção da equipe era
2. Relato de Experiência simplesmente preservar a FAV.
A observação participante compreendeu o período Na sessão hemodialítica posterior, ficou determi-
a partir de março de 2012 até julho de 2013, sele- nado que seriam introduzidas as agulhas no sen-
cionando 30 sujeitos, do gênero masculino e femi- tido unidirecional, o que não apresentou nenhuma
nino, jovens e idosos, que estão cadastrados em complicação. Esse paciente dialisa usando esse tipo
programa de tratamento hemodialítico, com acesso de punção há quase um ano, com êxito. Essa expe-
vascular à fístula arteriovenosa. O observador par- riência foi o insight que faltava para despertar para
ticipante toma parte no funcionamento do grupo esse tipo de punção, que não é nova, porém é pouco
estudado e esforça-se para observar e registrar in- utilizada e com informações quase escassas sobre
formações dentro dos contextos e experiências re- a sua aplicabilidade e importância (Figuras 1 e 2 ).
levantes para os participantes (POLIT et al., 2011).

Conforme Polit et al. (2011), as formas mais co- Figura 1. Punção Unidirecional em FAV proximal
muns de registro da observação participativa são superficializada, há cerca de 7 meses. Ausência de
os diários e as notas de campo, mas fotografias e edema, extravasamento
câmeras também podem ser usadas. Mediante as
necessidades percebidas, registrei em um diário e
compartilhei com os demais integrantes da equipe
de enfermagem (enfermeiros e técnicos de enfer-
magem) o fato de que algumas FAVs, puncionadas
de forma convencional (agulhas em direções opos-
tas), não davam fluxo suficiente para dialisar, bem
como havia frequência, nas primeiras punções, de
extravasamento, edema, hematoma, o que é co-
mum na primeira punção.

Depois deste tempo de análise e questionamento,


na tentativa de encontrar uma resposta e, ao mesmo
tempo, uma solução para os problemas citados, o Fonte: Arquivo do Centro de Doenças Renais de
que minimizaria o sofrimento do paciente, mesmo Jequié

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Figura 2. Punção Unidirecional em FAV distal. ma, extravasamento na primeira punção conven-
Paciente em tratamento hemodialítico, utilizando cional, sendo aplicada, posteriormente, a punção
esse tipo de punção há quase 1 ano. unidirecional, o que não proporcionou nenhum
tipo de complicação. Os outros 5 pacientes não
apresentaram complicações, mesmo utilizando os
dois tipos de punções. Já o segundo grupo, 15 pa-
cientes, foi submetido, na primeira vez, à punção
unidirecional, não apresentando complicações,
sendo mantida há meses.

Embora Fermi (2011) relate que, independen-


temente da técnica de punção utilizada, é muito
importante ter em mente que as agulhas não po-
dem ser unidirecionais, e sim colocadas em sen-
tido contrário, com a agulha arterial voltada para
a extremidade do membro e a agulha venosa em
direção ao coração, a fim de evitar a recirculação
Fonte: Arquivo do Centro de Doenças Renais de do acesso e a redução da eficiência da terapia. Com
Jequié esse comentário da autora, selecionei 15 pacientes
que já fazem tratamento hemodialítico com esse
Atualmente, temos cerca de 30 pacientes que são
tipo de punção há 6 meses e analisei o resultado do
beneficiados com a punção unidirecional no Cen-
Kt/V nesse período, que foi na faixa de 1,2, o que
tro de Doenças Renais de Jequié, com diversos ti-
demonstrou que não houve interferência na quali-
pos de FAVs.
dade de diálise.
Quanto à localização, os membros superiores são
Para Daurgidas et al. (2010), em pacientes com
os locais de eleição e são divididos em dois gru-
acesso insatisfatório, resultando em limitação do
pos: distais, que incluem as FAVs radiocefálicas no
fluxo sanguíneo e/ou recirculação no acesso, pa-
punho e no antebraço; proximais, que incluem as
cientes muito grandes e pacientes com hipotensão
FAVs braquiocefálica, braquibasílica superficiali-
frequente, angina ou outros efeitos colaterais, o
zada e braquioaxilar ou braquiobraquial em alça
resultado é redução frequente do fluxo sanguíneo
com prótese (NEVES JÚNIOR; MELO; ALMEI-
durante a diálise, o que torna difícil atingir um Kt/v
DA, 2011). de, pelo menos, 1,2. Já Fermi (2011) acrescenta que
Durante esse período de observação no Centro de a inadequação da anticoagulação do sistema, a es-
Doenças Renais de Jequié, contou-se com 30 pa- colha de dialisador inadequado, equipamentos de
cientes de ambos os sexos, jovens e idosos, sendo hemodiálise descalibrados e adesão do paciente
15 pacientes submetidos, inicialmente, à punção ao tratamento (faltas às sessões e transgressões da
convencional e, posteriormente, à punção unidire- dieta) são fatores que também interferem negativa-
mente no resultado do Kt/V.
cional, e os outros 15 pacientes submetidos apenas
à punção unidirecional, com FAVs distais e proxi-
mais, alguns em membros superiores e outros em 3. Conclusão
membros inferiores.
Durante o período de mais ou menos um ano, com
No primeiro grupo onde foram aplicados os dois aplicabilidade da punção unidirecional em um
tipos de punções, 10 pacientes apresentaram ede- grupo de pacientes, com um espaço de 4 a 5 cm de

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distância entre as agulhas, foi observado que essa escolha do dialisador interferem na qualidade da
punção trouxe benefícios para o paciente renal diálise. Então, não é viável afirmar que a punção
crônico, extinguindo edema, extravasamento e he- unidirecional seja a única variável causadora de
matomas na primeira punção, o que não acontece uma diálise inadequada.
na punção convencional.
Apesar da escassez de informações sobre o assun-
Outro benefício observado foi que o Kt/V do pa- to, os resultados foram positivos. Espera-se que,
ciente manteve-se dentro dos parâmetros deseja- com a divulgação deste relato de experiência, ou-
dos, garantindo uma diálise de qualidade. Apesar tros pesquisadores venham a desenvolver estudos
de autores alertarem sobre o risco de recirculação sobre o assunto, despertando, assim, os profissio-
interferindo na qualidade da diálise, deve-se levar nais que trabalham em hemodiálise para rever o
em consideração o paciente como um todo, pois tipo de punção utilizada, o que contribuirá para a
a não adesão ao tratamento hemodialítico, o esta- sobrevida da fístula arteriovenosa e para a qualida-
do nutricional, o calibre da agulha utilizada e até a de de vida do paciente renal crônico.

IMPLEMENTATION OF ONE-WAY PUNCTURE IN THE CENTER OF KIDNEY DISEASES OF JEQUIÉ

Abstract

The chronic renal patient to perform under hemodialysis treatment, requires an arteriovenous
fistula (AVF), which consists of a permanent access anastomosis of an artery with a vein, wai-
ting about 30 to 45 days, or even longer for the maturation of the FAV. The objective of this
report of experience was the implementation of one-way puncture in the Centre of kidney
diseases of Jequié, with emphasis on the benefits to the patient chronic kidney. 30 were selec-
ted patients, men and women, young and old, in the period understood March 2012 to July
2013, where it was being applied to unidirectional, using puncture for collecting the data, the
participant observation, because it assists in interaction researcher-subject, in their own envi-
ronment. A group for a total of 15 patients underwent conventional puncturing initially and
subsequently puncturing unidirectional, and the other 15 patients undergoing only one-way
puncture, these patients with distal and proximal FAV, some in upper limbs and others in lo-
wer limbs. The results of the implementation of the one-way puncture in the center of kidney
diseases of Jequié, presented advantages for the patient chronic kidney, as the extinction of the
extravasation and edema, bruising in the first LP, as well as keeping a Kt/V suitable, being an
indicator of quality in treatment under hemodialysis, which probably will influence others to
develop surveys geared toward the subject, bringing greater benefit for chronic renal patient,
increasing the survival rate of the arteriovenous fistula, arousing the nursing professionals to
re-evaluate the punches used.

Keywords

Vascular Access. Hemodialysis. Chronic Renal Patient.

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OLIVEIRA, A.L.U. | Implementação da punção unidirecional no centro de doenças renais de Jequié

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Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 1, n. 1, jan./jun. 2015 | 75


ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO
DE INFECÇÕES DE SÍTIO CIRÚRGICO:
UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

Camila Araújo Santana*


Célia Gonzaga Estrela Oliveira**

Resumo
Infecções em Sítio Cirúrgico (ISC) podem ser definidas como processo infeccioso que acomete tecido, ór-
gãos e cavidade abordados em procedimentos cirúrgicos. Elas são consideradas uma complicação intrín-
seca ao ato cirúrgico, e é necessário um amplo empenho para mantê-las sob controle, caracterizan-
do-se como um dos parâmetros de controle da qualidade do serviço prestado por uma instituição
hospitalar. Objetivou-se com o presente artigo analisar as evidências disponíveis na literatura sobre
as intervenções prestadas por enfermeiros na prevenção de ISC em paciente cirúrgico no perío-
do pré, trans e pós-operatório, apontando os principais fatores de risco para o desenvolvimento
das infecções de sítio cirúrgico e descrevendo as principais medidas preventivas, a fim de evitar
o aparecimento das infecções. Assim, determinam-se as ações que competem ao enfermeiro na
prevenção das mesmas. A revisão agregou onze artigos selecionados através das leituras explora-
tória, seletiva, analítica e interpretativa, oriundos das bases de dados LILACS e SCIELO. A análise
permitiu congregar o que os autores levantaram como fatores de risco para o desenvolvimento de
Infecção do Sítio Cirúrgico dos mais diversos tipos, bem como as medidas de prevenção a serem
adotadas por toda a equipe envolvida na assistência. Verificou-se a necessidade de implementação
de medidas educativas que alcancem todos os profissionais atuantes nesse contexto, buscando não
somente a conscientização, mas também o reconhecimento e a aplicação do conhecimento cientí-
fico na prática profissional, fazendo disso um artifício fundamental no combate à infecção.

Palavras-chave
Enfermagem. Infecção de ferida operatória. Complicações pós-operatórias.

1. Introdução uma vez ultrapassada, dará início a uma complexa


A pele e a mucosa constituem a primeira linha de série de reações orgânicas que constituem a res-
defesa do organismo, a barreira mecânica, a qual, posta inflamatória. Quando o organismo humano

* Enfermeira. Especialista em Enfermagem em Clinica Médica/Cirúrgica pela Atualiza Cursos. E-mail: enf.
araujoufrb@yahoo.com.br
** Enfermeira. Especialista em Enfermagem em Clinica Médica/Cirúrgica pela Atualiza Cursos. E-mail:
celliaestrela@gmail.com

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 1, n. 1, jan./jun. 2015 | 76


SANTANA, C.A.; OLIVEIRA, C.G.E. | Assistência de enfermagem na prevenção de infecções de sítio cirúrgico: uma revisão integrativa...

encontra-se prejudicado na presença de má perfu- problema não só de retardo da cicatrização da fe-


são e oxigenação teciduais, hipotermia, em doen- rida, como também na demora do internamento
tes politransfundidos, imunodeprimidos, diabéti- do paciente. A segunda infecção é mais frequente
cos, desnutridos e no alcoolismo, o rompimento após cinco a sete dias da cirurgia, podendo ser
da barreira inicial de defesa torna-se mais fácil limitada ao sítio cirúrgico ou afetar o paciente a
(ZILIOTTO, 2007). A partir da avaliação minucio- nível sistêmico.
sa dos profissionais de saúde, a percepção desses
Fatores distintos, com etiologias diversas, contri-
fatores torna-se crucial para o tratamento e a pre-
buem para o aumento da incidência de ISC: tipos
venção das infecções de modo geral.
de cirurgias; paciente queimado; cirurgias reali-
Entre os séculos XV e XIX, o conhecimento cien- zadas em grandes hospitais, pacientes adultos em
tífico começava a se aperfeiçoar e as técnicas ci- comparação com pediátricos; quantidade de inó-
rúrgicas davam os primeiros passos para a moder- culo bacteriano presente no ato cirúrgico; idade;
nização. As técnicas utilizadas na realização das doenças pré-existentes (diabetes mellitus, obesida-
cirurgias, na Antiguidade, ocorriam de maneira de), período longo de hospitalização pré-operató-
diferente daquelas que existem na atualidade. Ín- ria, desnutrição, assistência prestada relacionada
dices elevados de infecção eram constantemente ao procedimento cirúrgico como, por exemplo, a
encontrados tanto pelo ato cirúrgico quanto pelo tricotomia, a presença de drenos e a técnica cirúr-
método de cauterização da incisão (MARGOTTA, gica (SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DE
1998). Somente no século XIX, com o trabalho do SÃO PAULO, 2005).
obstetra Ignaz Semmelweiss, tornou-se possível
As feridas cirúrgicas são classificadas segundo
identificar a importância e os princípios da antis-
seu potencial de contaminação: feridas limpas
sepsia e assepsia, reduzindo o índice de infecções
têm reduzido potencial de infecção, ocorrem
e mortalidade por complicações pós-cirúrgicas
em tecidos estéreis; feridas potencialmente con-
(SANTANA; BRANDÃO, 2011). Atualmente, ape-
taminadas afetam tecidos colonizados por flora
sar do avanço da tecnologia e com a descoberta de
microbiana controlada ou tecidos de difícil des-
métodos para auxiliar na prevenção de infecções,
contaminação, havendo penetração nos tratos
frequentemente há sua ocorrência como uma das
digestivo ou urinário sem contaminação signi-
complicações pós-operatórias, em especial, no sí-
ficativa; feridas contaminadas são aquelas reali-
tio cirúrgico.
zadas em tecidos recentemente traumatizados e
Infecções em Sítio Cirúrgico (ISC) podem ser abertos, colonizados por flora bacteriana abun-
definidas como processo infeccioso que acomete dante; feridas infectadas são todas as interven-
tecido, órgãos e cavidade abordados em procedi- ções cirúrgicas realizadas em qualquer tecido ou
mentos cirúrgicos. São consideradas uma compli- órgão, em presença de processo infeccioso e/ou
cação intrínseca ao ato cirúrgico, sendo necessário tecido necrótico (BRASIL, 1998).
um amplo empenho para mantê-las sob controle,
“Clinicamente, a ferida cirúrgica é considerada in-
caracterizando-se como um dos parâmetros de
fectada quando existe presença de drenagem puru-
controle da qualidade do serviço prestado por uma
lenta pela cicatriz, esta pode estar associada à pre-
instituição hospitalar (BRASIL, 1998).
sença de eritema, edema, calor, rubor, deiscência
Consideradas uma das maiores fontes de mor- e abscesso. Nos casos de infecções superficiais da
bidade e mortalidade entre os pacientes sub- pele, o exame da ferida é a principal fonte de infor-
metidos a cirurgias (BRASIL, 1998), Santana e mação”. (SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO
Brandão (2011) descrevem-nas como um sério DE SÃO PAULO, 2005).

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 1, n. 1, jan./jun. 2015 | 77


SANTANA, C.A.; OLIVEIRA, C.G.E. | Assistência de enfermagem na prevenção de infecções de sítio cirúrgico: uma revisão integrativa...

O  Centro de Prevenção e Controle de Doen- ro adequado do campo operatório; cirurgias car-


ças (CDC) dos EUA recomenda que o termo “in- díacas com glicemia horária abaixo de 200 mg/dl
fecção do sítio cirúrgico” deve ser utilizado em nas primeiras 6 h do pós-operatório; normotermia
substituição a “infecção da ferida cirúrgica”, já que durante toda a cirurgia (BRASIL, 2009).
nem toda infecção relacionada à manipulação ci-
Quando a equipe envolvida no atendimento pri-
rúrgica ocorre na ferida propriamente dita, mas
também em órgãos ou espaços abordados durante mário ao paciente que irá submeter-se ao proce-
a operação, e pode desenvolver-se até 30 dias após dimento e também aquela que irá prestar assis-
a realização do procedimento cirúrgico e até um tência durante e após o ato cirúrgico identificam
ano após, em caso de implante de prótese ou a reti- tais medidas como possíveis fatores preventivos,
rada da mesma (ZILIOTTO, 2007). além da peculiaridade de cada cirurgia e fatores
predisponentes destas, a ocorrência da ISC como
A ISC pode ser dividida em  infecção incisional uma complicação pós-cirúrgica diminui drasti-
superficial,  quando acomete apenas pele, teci- camente. Vale ressaltar que as informações trans-
do subcutâneo do local da incisão; em  infecção mitidas ao paciente sobre os cuidados necessá-
incisional profunda,  ao envolver estruturas pro- rios após a cirurgia contribuirão para a redução
fundas;  e infecção do órgão/espaço manipulado da mesma.
durante o procedimento cirúrgico (POVEDA;
GALVÃO; HAYASHIDA, 2003). Diante do exposto, com o intuito de aprimorar o
conhecimento acerca da temática, buscando evi-
Dentre as infecções hospitalares no Brasil, a infec- dências na literatura que possam instrumentalizar
ção de sítio cirúrgico (ISC) ocupa a terceira posi- o leitor na identificação das ações que competem
ção entre os pacientes hospitalizados, cerca de 14% aos enfermeiros na prevenção das ISC, propôs-se o
a 16%, consumindo uma parcela considerável de presente trabalho. Seu objetivo é analisar as evidên-
recursos designados à assistência à saúde, os quais cias disponíveis na literatura sobre as intervenções
estariam destinados ao atendimento de novos pa- prestadas por enfermeiros na prevenção de ISC em
cientes no serviço hospitalar (BRASIL, 2008). A paciente cirúrgico no período pré, trans e pós-ope-
ISC, especialmente aquela relacionada a órgãos ou ratório. Serão apontados os principais fatores de
cavidades profundas, é importante causa de mor- risco para o desenvolvimento das infecções de sítio
bi-letalidade e da variação do custo do tratamento cirúrgico, com descrição das principais medidas
relacionado à necessidade da terapia antimicrobia- preventivas, a fim de evitar o aparecimento dessas
na, ocasionais reintervenções cirúrgicas com au- infecções, determinando as ações que competem
mento do tempo de permanência e ainda a possibi- ao enfermeiro na prevenção das mesmas. Congre-
lidade de exposição a patógenos multirresistentes gar-se-ão as opiniões e os achados experimentais
(OLIVEIRA; CIOSAK, 2004).
dos autores dos trabalhos selecionados para, en-
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (AN- fim, apresentar um consenso da literatura referente
VISA) elenca algumas medidas preventivas a se- à temática abordada.
rem desenvolvidas na ISC: tempo de internação
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica qualitativa,
pré-operatório menor que 24 horas em cirurgias
descritiva e exploratória, que tem como objeto de
eletivas; cirurgias com antibioticoprofilaxia por
estudo uma pesquisa bibliográfica na forma de re-
tempo menor que 24 horas; tricotomia com o uso
visão da literatura integrativa.
de aparador ou tesoura no intervalo inferior a 2 ho-
ras da cirurgia; antibioticoprofilaxia realizada até 1 Para a realização desta revisão bibliográfica, fo-
hora antes da incisão; cirurgias eletivas com prepa- ram seguidas algumas etapas: estabelecimento do

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problema e objetivos da revisão integrativa; esta- formações contidas, possibilitando a obtenção de


belecimento de critérios de inclusão; definição das respostas para o problema de pesquisa. Por fim, a
informações retiradas dos artigos selecionados; leitura interpretativa permitiu relacionar o que os
análise dos resultados; e, por último, discussão e autores trazem a respeito da temática, suas corro-
apresentação dos resultados encontrados. borações e divergências.

O levantamento bibliográfico foi realizado atra- Para a coleta de dados dos artigos incluídos nes-
vés da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), sendo ta revisão integrativa, foi desenvolvida uma tabe-
selecionados periódicos indexados no banco de la com a síntese dos artigos, segundo os critérios
dados Lilacs (Literatura Latino-Americana em de inclusão, contemplando os seguintes aspectos:
Ciências de Saúde) e Scielo (Scientific Electronic base de dados, título do artigo, delineamento, pe-
Library Online). riódico e o objeto de estudo.

Para a realização desta revisão de literatura, foram A apresentação dos resultados e a discussão dos da-
definidos alguns critérios de inclusão: artigos pu- dos obtidos foram feitas de forma descritiva, pos-
blicados em periódicos nacionais; artigos que abor- sibilitando ao enfermeiro um maior conhecimento
dam procedimentos ou intervenções na prevenção acerca da assistência aos pacientes cirúrgicos e o
da ISC ou ainda fatores de risco da ISC dentro de reconhecimento dos fatores de risco associados ao
todas as áreas de interesse da enfermagem; perió- desenvolvimento de Infecções de Sítio Cirúrgico.
dicos indexados nos bancos de dados LILACS e As informações obtidas foram dispostas em três
SCIELO; artigos publicados entre os anos de 2007 categorias distintas: Fatores de risco para infecção
e 2012, na íntegra e na língua portuguesa. do sítio cirúrgico; Medidas preventivas diante da
infecção do sítio cirúrgico; Contribuições da assis-
Para o levantamento dos artigos, foram utilizados
tência de enfermagem na prevenção de Infecções
os descritores “Enfermagem”, “Infecção de ferida
do Sítio Cirúrgico.
operatória” e “Complicações pós-operatórias”.

Inicialmente, os artigos foram selecionados através


da leitura exploratória (leitura do resumo e exame
2. Desenvolvimento
da folha de rosto). Após a visão global dos traba- Na presente revisão integrativa, analisaram-se
lhos, foi feita a leitura seletiva dos artigos com pro- onze artigos que atenderam aos critérios de inclu-
pósitos diferentes da temática de interesse. A soma são previamente estabelecidos. A seguir, apresen-
dos artigos sobreveio por uma leitura analítica que tar-se-á, no Quadro 01, um panorama geral dos
possibilitou a ordenação e sumarização das in- artigos avaliados.

Quadro 01. Apresentação dos artigos utilizados na análise do estudo “Assistência de enfermagem na pre-
venção de infecções de sítio cirúrgico: uma revisão integrativa da literatura”. Salvador, 2013. Inscrição em
faculdades locais, 2005. (continua)

BASE DE
TÍTULO DO ARTIGO MÉTODO PERIÓDICO ANO OBJETO DE ESTUDO
DADOS

Scielo Fatores de risco para Estudo quanti- Rev. Bras. 2010 Registro do Serviço de
mortalidade de idosos com tativo descriti- Geriatria Ge- Controle de Infecção
infecção do sítio cirúrgico. vo transversal rontologia. Hospitalar e prontuários
do tipo retros- de 114 idosos com infecção
pectivo. do sítio cirúrgico.

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Quadro 01. Apresentação dos artigos utilizados na análise do estudo “Assistência de enfermagem na pre-
venção de infecções de sítio cirúrgico: uma revisão integrativa da literatura”. Salvador, 2013. Inscrição em
faculdades locais, 2005. (continua)

BASE DE
TÍTULO DO ARTIGO MÉTODO PERIÓDICO ANO OBJETO DE ESTUDO
DADOS

Lilacs Hipotermia como fator de Estudo descri- Revista 2011 Análise do conhecimento
risco para infecção de sítio tivo de caráter Mineira de do profissional de enferma-
cirúrgico: conhecimento exploratório. Enfermagem. gem de nível médio sobre
dos profissionais de enfer- a relação do controle da
magem de nível médio. hipotermia para a preven-
ção da infecção de sítio
cirúrgico.

Scielo Infecção de sítio cirúrgico Estudo Rev. Esc. 2007 Pacientes em internação e
em hospital universitário: prospectivo e Enferm.USP após alta.
vigilância pós-alta e fatores descritivo.
de risco.

Lilacs Incidência da infecção do Estudo descri- Cienc Cuid 2007 Prontuários dos pacientes,
sítio cirúrgico em um hos- tivo. Saude. exames microbiológicos
pital universitário. e informações da equipe
assistencial.

Lilacs Predição de risco em Estudo pros- Cienc Cuid 2007 Todos os pacientes
infecção do sítio cirúrgico pectivo. Saude submetidos à cirurgia
em pacientes submetidos digestiva em dois hospitais
à cirurgia do aparelho de ensino de São Paulo, de
digestivo. agosto de 2001 a março de
2002.

Scielo Revisão Sistemática sobre Revisão Siste- Rev. Esc. 2009 Estudos básicos de inter-
aventais cirúrgicos no mática. Enferm. USP venções que investigaram
controle da contaminação/ a contaminação e/ou
infecção do sítio cirúrgico. infecção do sítio cirúrgi-
co com uso de aventais
cirúrgicos.

Lilacs Orientações de enferma- Estudo quanti- Revista 2010 Pacientes maiores de 18


gem aos pacientes sobre tativo descri- Mineira de anos, submetidos à cirur-
o autocuidado e os sinais tivo de caráter Enfermagem. gia cardíaca reconstrutora
e sintomas de infecção de prospectivo. em um hospital filantró-
sítio cirúrgico para a pós pico.
-alta hospitalar de cirurgia
cardíaca reconstrutora.

Scielo Risco para infecção de Coorte Rev. Latino 2011 3.543 pacientes submetidos
sítio cirúrgico em pacien- histórica -Am. Enfer- a cirurgias ortopédicas.
tes submetidos a cirurgias magem
ortopédicas.

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Quadro 01. Apresentação dos artigos utilizados na análise do estudo “Assistência de enfermagem na pre-
venção de infecções de sítio cirúrgico: uma revisão integrativa da literatura”. Salvador, 2013. Inscrição em
faculdades locais, 2005. (conclusão)

BASE DE
TÍTULO DO ARTIGO MÉTODO PERIÓDICO ANO OBJETO DE ESTUDO
DADOS

Scielo Vigilância pós-alta e seu im- Estudo descri- Rev Esc 2007 Grupos de pacientes: o pri-
pacto na incidência da infec- tivo Enferm USP meiro, submetido à cirurgia
ção do sítio cirúrgico. do aparelho digestivo por
obesidade mórbida, e o se-
gundo, submetido à cirurgia
gástrica por outras causas
em dois hospitais de ensi-
no, de cuidados terciários,
localizados na cidade de São
Paulo.

Scielo Assistência de enfermagem Pesquisa bi- 2009 Livros, sites e revistas cien-
na prevenção de infecção do bliográfica. tíficas de ações de enferma-
sítio cirúrgico. gem na prevenção da ISC.

Lilacs Estrutura e processo assis- Estudo des- Online Bra- 2009 Documentos institucionais
tencial de enfermagem para critivo, obser- zilian Journal e por meio da observação
a prevenção de infecção de vacional e de of Nursing. direta da prática de enfer-
sítio cirúrgico: estudo ob- análise docu- magem.
servacional. mental.

Fonte: Elaborado pelo Autor

Todos os artigos analisados tiveram como autores critivo, o qual visa a observar fatos, registrá-los,
enfermeiros (as). O ano em que mais foram encon- analisá-los, classificá-los e interpretá-los, sem in-
tradas publicações voltadas à pesquisa em questão terferência do pesquisador, utilizando técnicas pa-
foi em 2007, com um total de quatro artigos. Poste- dronizadas de coleta de dados, que têm como van-
riormente, em 2008, não foi encontrada nenhuma tagens o baixo custo e o tempo despendido para a
publicação na íntegra, em português, tendo como sua realização.
autor um profissional de enfermagem. Em 2009, Dos artigos avaliados, todos tiveram instituições
obtiveram-se três artigos. Em 2010 e 2011, foram hospitalares (observação clínica ou documental)
encontradas duas publicações em cada ano. Dessa como campo de pesquisa. Apenas um teve como
forma, pode-se perceber a incipiência de arti­gos campo de estudo livros, sites e revistas científicas
científicos publicados sobre a temática em estudo, que abordassem ações de enfermagem na preven-
bem como o declínio da pesquisa científica em en- ção da ISC. Em relação aos tipos de revistas nas
fermagem nos últimos anos com referência à pre- quais foram publicados os artigos incluídos na re-
venção de infecção de sítio cirúrgico. visão, eles foram divulgados em revistas de enfer-
magem (Revista da Escola de Enfermagem da USP,
Em relação ao delineamento ou tipos de estudos Revista Mineira de Enfermagem, Online Brazilian
realizados, observou-se que esses variaram, de Journal of Nursing, Revista Latino-Americana
acordo com o objetivo, prevalecendo o estudo des- de Enfermagem), além de periódicos em revistas

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como Ciência Cuidado e Saúde Revista Brasileira infecção, encontram-se a leucocitose, o aumento
de Geriatria Gerontologia. de proteína C-reativa (PCR) quantitativa e a veloci-
dade de hemossedimentação (VHS). Deste modo,
A prevenção da Infecção do Sítio Cirúrgico consti-
a infecção que acontece na incisão cirúrgica ou em
tui um desafio para toda a equipe de saúde envol-
tecidos e órgãos manipulados durante a cirurgia é
vida na assistência a pacientes. Avaliar os fatores
definida como infecção de sítio cirúrgico (ISC) e
predisponentes e de riscos e adotar medidas pre- pode ser diagnosticada até trinta dias após a data
ventivas e educacionais para todos os sujeitos en- do procedimento cirúrgico (OLIVEIRA; CIOSAK;
volvidos, por meio de um processo de sensibiliza- D’LORENZO, 2007).
ção coletiva, contribuem, de igual maneira, para a
diminuição da ocorrência dessa complicação pós- Corroborando as afirmações acima citadas, Le-
cirúrgica (FERRAZ et al., 2001). nardt et. al. (2010) acrescentam ainda que a infec-
ção do sítio cirúrgico pode ser considerada super-
A partir dos artigos encontrados e da análise reali- ficial, profunda e de órgão ou cavidade, sendo que,
zada, foi possível congregar o que os autores levan- conforme essa caracterização, dois terços das in-
taram como fatores de risco para o desenvolvimen- fecções correspondem às superficiais e profundas,
to de Infecção do Sítio Cirúrgico dos mais diversos e um terço, às de órgão ou cavidade.
tipos, bem como as medidas de prevenção para
diminuir a ocorrência de tal complicação a serem As ISC são consideradas como um grave problema
adotadas por toda a equipe envolvida na assistência. não só de retardo da cicatrização da ferida, como
também na demora do internamento do paciente
A partir da leitura analítica e interpretativa do ma- e elevação do custo hospitalar. Oliveira e Ciosak
terial selecionado através da revisão integrativa, (2007a) apontam-nas como uma complicação re-
que tem como base a evidência, os resultados obti- levante, por contribuir para o aumento da morta-
dos foram categorizados com a finalidade de con- lidade e morbidade dos pacientes pós-cirúrgicos,
gregar as informações que os autores corroboram causando prejuízos físicos e emocionais, como o
ou divergem a respeito do tema. Comparando-se afastamento do trabalho e do convívio social.
os artigos, foi possível categorizá-los quanto à de-
Além disso, eleva consideravelmente os custos com
finição das infecções do sítio cirúrgico, fatores de
o tratamento. Descontando-se honorários médicos
risco intrínsecos e extrínsecos para o desenvolvi-
e de enfermagem, podem chegar a até três vezes
mento das ISC e as principais medidas preventivas
o valor gasto com o paciente que não adquire in-
que competem aos profissionais enfermeiros com
fecção, repercutindo também em uma maior per-
relação aos cuidados adotados durante a interna-
manência hospitalar, com aumento médio de 60%.
ção hospitalar e no período pós-alta.
As repercussões mais importantes nos pacientes
Todos os artigos analisados convergem com refe- referem-se aos impactos emocional e também fi-
rência à definição do termo infecção do sítio cirúr- nanceiro, pois 18 % das ISC invalidam o paciente
gico e seus prejuízos, tanto para o indivíduo aco- para o trabalho por até mais de seis meses (RO-
metido quanto para a instituição hospitalar. MANZINI et al., 2010).

Ribeiro e Longo (2011) apontam que infecção de- Para Oliveira, Ciosak e D’Lorenzo (2007) e Santana
fine-se como o processo em que ocorre a interação e Brandão (2009), constitui o primeiro ou o segun-
de um hospedeiro com microrganismos, caracteri- do sítio de infecção mais frequente o período após
zando-se pela invasão e colonização de tecidos ín- cinco a sete dias da cirurgia, podendo ser limitada
tegros. Dentre os principais achados clínicos para superficialmente (60 a 80%) ou afetar o paciente

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a nível sistêmico, sendo, algumas vezes, superada obesidade, sendo este último o mais apontado e re-
apenas pela infecção do trato urinário. lacionado com o desenvolvimento das ISC.

Em relação à estimativa da ocorrência da infecção O tabagismo é apontado como o principal fator


de sítio cirúrgico, os autores avaliados não apresen- de risco para o aparecimento de infecções de sítio
tam consenso, todavia, unanimemente, apontam- cirúrgico em cirurgias cardíacas, por alterar con-
na como uma das infecções mais incidentes entre dições de fluxo sanguíneo para a área que foi trau-
os indivíduos submetidos a procedimentos cirúr- matizada durante o ato cirúrgico. Novas pesquisas,
gicos no Brasil e no mundo. No Brasil, a ISC ocu- porém, ainda necessitam ser realizadas para averi-
pa a terceira posição entre todas as infecções em guar a sua relação com as demais condições cirúr-
serviços de saúde e compreende de 14 a 16% das gicas (LENARDT et al., 2010).
infecções em pacientes hospitalizados, com taxa de
Pode-se inferir que pessoas que não apresentam
incidência de 11% (OLIVEIRA; CIOSAK, 2007b;
patologias associadas têm risco diminuído de evo-
OLIVEIRA; BRAZ; RIBEIRO, 2007; ERCOLE et
luir para uma ISC quando comparadas àquelas
al., 2011). Comparando-se os dados nacionais em
com algum tipo de patologia. Sabe-se que doen-
relação aos Estados Unidos, temos a diminuição da
ças crônicas debilitantes podem ser fatores de risco
taxa de incidência de ISC. Anualmente, 16 milhões
para infecções de ferida cirúrgica, devido à baixa
de pacientes são submetidos a procedimentos ci-
resistência do hospedeiro (ERCOLE et al., 2011).
rúrgicos, sendo que de 2 a 5% adquirem infecção
O diabetes, a obesidade e as neoplasias são fatores
do sítio cirúrgico.
importantes a serem considerados na infecção do
Quanto aos fatores de risco, têm-se como resulta- sítio cirúrgico. Lenardt et al. (2010) apontam que
dos obtidos e descritos pelos autores riscos intrín- as neoplasias sugerem fator de risco apenas quan-
secos e extrínsecos. Os primeiros se relacionam do acompanhadas de déficit imunológico e os in-
ao indivíduo: extremos de idade, hábitos de vida, divíduos que convivem com diabetes apenas têm
patologia de base, patologias associadas. Os se- o risco conferido quando seus níveis glicêmicos
gundos se referem aos procedimentos assistenciais e metabólicos não estão controlados, sendo este
e técnicas adotadas: técnica cirúrgica e materiais um dos critérios averiguados para decidir sobre a
utilizados, potencial de contaminação, preparo ocorrência ou não do procedimento.
pré-operatório, ambiente cirúrgico, paramentação
A obesidade é um fator de risco reconhecido para
cirúrgica, antibioticoprofilaxia, tempo do procedi-
ISC, pois a espessura do tecido adiposo exerce in-
mento cirúrgico.
fluência direta e proporcional nas taxas de infecção
Em relação aos extremos de idade, apenas Lenardt (OLIVEIRA; BRAZ; RIBEIRO, 2007). Esta forte as-
et al. (2010) trazem como um dos fatores de risco sociação com a ocorrência da ISC, segundo Ercole
associados ao surgimento de ISC, em função da et al. (2011), parece estar relacionada à condição
imaturidade fisiológica e imunológica das crianças de que o tecido adiposo é pouco vascularizado,
bem como as alterações fisiológicas do envelheci- levando a procedimentos cirúrgicos mais delon-
mento, do declínio da resposta imunológica que gados e à maior facilidade de trauma da parede
expõe os idosos e crianças ao risco aumentado de abdominal. Por esses fatores, a exposição tecidual
adquirir infecção. do paciente obeso é bem maior do que o paciente
não obeso.
Ao contrário do fator idade, quando se fala em
hábitos de vida e patologias associadas, a maioria Em seu estudo, Oliveira, Braz e Ribeiro (2007)
dos autores aponta como fatores desencadeantes demonstraram que, em pacientes cuja camada de
de infecções o tabagismo, a diabetes, neoplasias e tecido adiposo foi menor que 3 centímetros (cm),

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a taxa de infecção foi de 6,2%, e naqueles cuja bacteriano presente na ferida operatória. Oliveira
espessura de tecido adiposo foi maior que 3,5 e Ciosak (2007a) demonstraram que o potencial
cm, a taxa encontrada de ISC foi de 20% pela de contaminação em relação à ocorrência da ISC
condição já descrita, com maiores possibilidades apresentou um risco de 2,46 mais chances para a
de formação de espaço morto e necessidades de ocorrência de ISC em pacientes que realizaram
utilização de suturas subcutâneas para fechá-lo procedimentos potencialmente contaminados;
(ERCOLE et al., 2011). 1,58 em procedimentos cirúrgicos contaminados e
7,40 em procedimentos cirúrgicos infectados.
Outros fatores descritos pelos autores são o tem-
po de internação pré-operatório e o uso de anti- Vale ressaltar que não se deve avaliá-lo isolada-
bioticoprofilaxia. É consenso que quanto maior mente, mas em relação direta com outros fatores
o tempo de hospitalização pré-operatória, maior de risco que possam estar associados (presentes no
será o risco do indivíduo em colonizar-se com a risco intrínseco do paciente) e que atuam de forma
microbiota hospitalar, o que contribui para o au- simultânea e complexa, interagindo entre si para
mento de infecção do sítio cirúrgico (SANTANA; determinação da presença ou não da ISC.
BRANDÃO, 2009). Foi demonstrado por Lenardt
et al. (2010) que o internamento pré-operatório Em relação à duração do procedimento, pode-se
acima de três dias dobrou as taxas de infecção da inferir que há uma maior possibilidade de ocor-
ferida cirúrgica. rência da ISC quanto maior for a duração da ci-
rurgia, pela maior exposição tecidual (OLIVEIRA;
Já com referência à utilização profilática de anti-
CIOSAK, 2007a). Para Oliveira e Ciosak (2007b),
bióticos anteriormente ao ato cirúrgico, essa foi
o tempo de duração do procedimento cirúrgico
descrita em alguns estudos, como na pesquisa de
talvez seja a variável mais forte no que diz respei-
Oliveira e Ciosak (2007a) e Lenardt et al. (2010).
to à ocorrência das ISC, afirmando que o risco é
O uso profilático de antibióticos em procedimen-
proporcional à duração do ato cirúrgico em si, ou
tos cirúrgicos tem por objetivo prevenir a infecção
seja, quanto maior a duração da cirurgia, maior a
sistêmica ou da ferida operatória, devendo ser ad-
ministrados, preferencialmente, de 30 minutos até possibilidade da ocorrência.
duas horas antes do início da cirurgia. Dessa ma- Percebe-se que a duração da cirurgia está direta-
neira, o antibiótico atinge níveis teciduais no mo- mente ligada à ocorrência de ISC. O período ci-
mento em que a incisão é realizada. rúrgico superior a duas horas é fator de risco para
Quando avaliado o tipo de cirurgia, não houve re- a ocorrência de infecção, por aumento do tempo
latos aprofundados quanto à associação com o sur- de exposição dos tecidos e fadiga da equipe, pro-
gimento de ISC, apenas a pesquisa de Lenardt et piciando falhas técnicas e diminuição das defesas
al. (2010) aponta que, nas cirurgias emergenciais, sistêmicas do organismo (ERCOLE et al., 2011).
quando comparadas com eletivas, não há tempo
Em relação às medidas preventivas adotadas no
de realizar avaliações clínicas pré-operatórias, a
âmbito hospitalar e no seguimento pós-alta, que
fim de acompanhar as doenças de base, assim, as
são de competência dos enfermeiros, tem-se como
técnicas cirúrgicas e barreiras de antissepsia são
principal medida descrita a correta higienização
anuladas com maior frequência.
das mãos de profissionais antes de iniciar o ato ci-
Têm-se como os principais fatores de riscos extrín- rúrgico, antissepsia adequada do campo cirúrgico
secos encontrados na pesquisa o potencial de con- e seguimento dos pacientes pós-cirúrgicos até 30
taminação e a duração do procedimento. O primei- dias. A assistência de enfermagem, segundo Santa-
ro é uma variável importante por estimar o inóculo na e Brandão (2009), na prevenção de ISC, por me-

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SANTANA, C.A.; OLIVEIRA, C.G.E. | Assistência de enfermagem na prevenção de infecções de sítio cirúrgico: uma revisão integrativa...

nor que seja o procedimento cirúrgico, promove e da necessidade de relatá-los ao médico foi tam-
rápida recuperação, evita infecção hospitalar cru- bém encontrada.
zada, poupa tempo, reduz gastos, preocupações,
Frente ao exposto, Silva et al. (2009) apontam algu-
ameniza a dor e aumenta a sobrevida do paciente.
mas medidas cabíveis ao enfermeiro no controle e
De acordo com Ribeiro e Longo (2011), o indiví- prevenção de ISC e que podem ser adotadas atual-
duo a ser cirurgiado deve ser higienizado alguns mente: recomenda-se revisar e adequar a estrutura
instantes antes de ser conduzido ao centro cirúr- física para a realização adequada da higienização
gico, sendo necessário observar se ele possui fe- das mãos para toda a equipe envolvida no ato ci-
rimentos e proceder aos cuidados indispensáveis rúrgico, considerar a oferta de dispensadores de ál-
para o preparo da pele na área da cirurgia, com cool gel nos consultórios pós-operatórios, lixeiras
antissépticos adequados para a remoção da flora com tampa acionada por pedal; definir local exclu-
microbiana transitória. sivo para degermação das mãos dos componentes
da equipe; fluxos de circulação unidirecional de
O preparo da equipe envolvida no procedimen- instrumentais estéreis e sujos; instituir avaliação
to cirúrgico e anestésico é de extrema importân- sistematizada da ferida cirúrgica, com critérios de-
cia. A antissepsia das mãos deve ser rigorosa, de finidos para a caracterização de ISC; treinar toda a
acordo com as normas, e a paramentação deve ser equipe, estabelecer um espaço físico para consultas
completa (avental cirúrgico, luvas, máscara, gor- de enfermagem pré e pós-operatórias e agenda que
ro, propés). O material deve estar adequadamente permita a avaliação de todos os pacientes.
limpo e estéril, sem erros nas técnicas de empaco-
tamento, o que pode possibilitar a contaminação. Na unidade de internação, recomenda-se ainda
Campos e aventais molhados devem ser conside- a criação de áreas exclusivas para expurgo e de-
rados contaminados bem como deve se dar pre- pósito de material de limpeza; sistematizar a rea-
ferência àqueles fabricados com materiais menos lização dos curativos com, pelo menos, 24 h de
porosos, para facilitar a higienização e evitar con- pós-operatório; revisar os cuidados com o dreno,
taminação durante o ato cirúrgico (BURGATTI; com enfoque na manutenção do sistema fechado
LACERDA, 2009). de drenagem; sistematizar o processo educacio-
nal dos pacientes e familiares, com definição do
Para Romanzini et al. ( 2010), a higienização das conteúdo mínimo, forma e momento em que as
mãos é o meio mais simples e eficaz de prevenir a intervenções educacionais serão realizadas; dis-
transmissão de microrganismos de uma superfície ponibilizar material educacional de apoio sobre
para outra, por contato direto, pele com pele; ou cuidados com a ferida cirúrgica após alta, com
indireto, por meio de objetos. As recomendações informações relevantes e em linguagem adequada
sobre a higienização das mãos estiveram presen- ao grau de compreensão, para ser entregue aos pa-
tes, no estudo desenvolvido pelo autor supracita-
cientes (SILVA et al., 2009).
do e demais colegas, na maioria dos documentos
pesquisados. Silva (2009) ratifica a informação de Implantar impresso de enfermagem que permita o
que, atualmente, a higienização das mãos é consi- registro das informações importantes para o cui-
derada a mais importante medida para prevenir a dado em todas as etapas (pré, trans e pós-operató-
disseminação de patógenos nos serviços de saúde. rio), a fim de facilitar a análise e o seguimento dos
Além disso, a recomendação sobre educar pacien- pacientes; estabelecer foruns de discussão interdis-
te e família sobre os cuidados apropriados com a ciplinar, para discussão dos casos complexos e com
incisão cirúrgica e drenos, sobre sintomas de ISC diagnóstico de ISC e, por fim, instituir a notificação

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dos casos de ISC como evento adverso ao paciente, rem pelo descumprimento de ações de cuidados
seguida de auditoria com coleta de dados para me- recomendadas e validadas.
lhor compreensão dos pontos frágeis do processo e
Evidencia-se a necessidade de realizar novos estu-
monitoração dos casos (SILVA et al., 2009). dos com base em evidências mais fortes, para iden-
tificar fatores de risco relacionados às infecções de
sítio cirúrgico, pois podem trazer implicações di-
3. Considerações Finais
retas para a prática de enfermagem. Faz-se neces-
A infecção do sítio cirúrgico é, hoje, uma das prin- sária a implementação de medidas educativas que
cipais complicações após procedimentos cirúrgi- alcancem todos os profissionais que atuam nesse
cos, resultando em considerável morbidade, mor- contexto, buscando não somente a conscientiza-
talidade e elevados custos hospitalares. Portanto, a ção, mas também o reconhecimento, bem como
aplicação de medidas preventivas para reduzir as a aplicação do conhecimento científico na prática
ISC constitui ações imprescindíveis realizadas pe- profissional, fazendo disso um artifício fundamen-
tal no combate à infecção.
las equipes de saúde.
Quanto à prevenção e ao controle da infecção do
Entende-se que, dentro da equipe de saúde, o en-
sítio cirúrgico, percebe-se que é preciso envolver
fermeiro e sua equipe são os profissionais que
toda a equipe multiprofissional através de educa-
maior tempo permanecem próximos ao paciente e ções permanentes, estudos de casos e discussões
possuem condições técnicas e científicas para ava- que permitam entender os fatores predisponentes
liar e prestar uma assistência adequada, de acordo à infecção, na tentativa de minimizar os riscos ine-
com a real necessidade de cada paciente, visando a rentes ao paciente, evidenciados neste estudo.
prevenir a ocorrência de complicações pós-cirúr-
Além disso, as orientações transmitidas aos pa-
gicas. A maioria dos fatores de risco encontrados
cientes para o seguimento pós-alta através de um
para o desenvolvimento da ISC aponta para a res-
plano de cuidados conciso e objetivo, como o pla-
ponsabilidade da equipe assistencial que acompa- no de alta, demonstram ser uma medida eficaz na
nha o paciente desde o momento pré-cirúrgico até diminuição da ocorrência de ISC, pois, através
a alta hospitalar, nas ações de cuidados prestados desta ação sistematizada, tem-se a garantia da con-
ao mesmo. Grande parte destes fatores é plausível tinuação de condutas que melhor atendam às ne-
de ser evitada, uma vez que, em sua maioria, ocor- cessidades do paciente.

NURSING ASSISTANCE IN THE PREVENTION OF INFECTIONS OF SURGICAL SITE: AN INTE-


GRATING REVIEW OF LITERATURENURSING ASSISTANCE IN THE PREVENTION OF INFEC-
TIONS OF SURGICAL SITE: AN INTEGRATING REVIEW OF LITERATURE

Abstract
Infections in Surgical Site (ISS) can be defined as an infectious process that attack tissue, organs
and the cavity boarded in surgical procedures, are considered as a complication intrinsic to the
surgical act, requiring an ample effort to maintain them under control, characterizing as one
of the parameters for quality control of the service rendered by a hospital. The present article
aims to analyze available evidences in literature about interventions rendered by nurses in the
prevention of (ISS) in surgical patients, during the pre, trans and post-surgery, pointing out the
main risk factors for the development of infections, so as to avoid the appearance of infections

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in the surgical site, determining the actions to be taken by the nurse to prevent them. The revi-
sion aggregated eleven articles selected though exploratory, analytical, and interpretative reading
taken from the LILACS and SCIELO data base. The analysis allowed us to collect what authors
considered as risk factors for the development of Surgical Site Infection, of several types, as well
as prevention measures to be adopted by the whole staff involved in the attendance. The need for
the implementation of educational measures for all professionals who act under this context was
taken into consideration, looking for not only the awareness but also recognition and application
of scientific knowledge in the professional practice, and this should become a fundamental device
to combat infections.

Keywords
Nursing. Infection of the port-surgery wound. Post-surgery complications.

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ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO PROCESSO
DO DESMAME DA VENTILAÇÃO MECÂNICA:
REVISÃO DE LITERATURA

Mirian Mendes dos Santos*

Resumo
O papel da fisioterapia tem se tornado essencial no atendimento multidisciplinar aos pacientes
necessitados da Ventilação Mecânica (VM) nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI). A VM é o
principal suporte ventilatório no tratamento de pacientes portadores de algum tipo de insuficiên-
cia respiratória. É o que irá assisti-los na manutenção da oxigenação e/ou ventilação, objetivan-
do diminuir a atividade da musculatura respiratória e do gasto de oxigênio, consequentemente,
reduzindo o desconforto respiratório dos pacientes. A descontinuidade do suporte ventilatório
denomina-se desmame, definindo-se pelo protocolo de retirada do paciente da ventilação arti-
ficial para a espontânea. Devido a complicações apresentadas pelo prolongado uso da VM, este
estudo tem como objetivo analisar as principais técnicas utilizadas pela fisioterapia na UTI, que
colaboram para a melhoria do paciente, além de ajudá-lo no desmame da VM. Foi realizada pes-
quisa de literatura, abrangendo os últimos treze anos, tendo como base de dados as bibliotecas
virtuais do MedLine, PubMed, SciELO e LILACS. Conclui-se que a fisioterapia tem um papel
importante na equipe multidisciplinar dentro da UTI, com atuação pertinente nas partes motora
e respiratória, e em todo o processo do desmame, principalmente ao estabelecer um protocolo
para tal, com a diminuição efetiva do tempo de VM, menor índice de mortalidade e de custo de
internação dentro da UTI.

Palavras-chave
Fisioterapia. Unidade de terapia Intensiva. Desmame.

1. Introdução Intensivo (UTI). Ela atua desde o processo de pre-


paro do ventilador mecânico – antes da admissão
A fisioterapia possui um papel essencial no atendi- do paciente – nos ajustes necessários do equipa-
mento multidisciplinar aos pacientes que carecem mento – acompanhando o paciente durante todo
da ventilação mecânica na Unidade de Tratamento o processo de internamento – seja durante o uso

* Fisioterapeuta. Especialista em Fisioterapia em UTI pela Atualiza Cursos. E-mail: mirianmendes_1@


hotmail.com

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SANTOS, M.M. | Atuação da fisioterapia no processo do desmame da ventilação mecânica: revisão de literatura

da ventilação mecânica, na sua interrupção, bem pregar terapêuticas apropriadas ao tratamento (PÁ-
como no desmame ventilatório e, posteriormente, DUA, MARTINEZ, 2001; MAZULLO et al., 2012).
na extubação (JERRE et al., 2007).
Usa-se a VM, em sua grande maioria, em pacien-
Nos países de Primeiro Mundo, a fisioterapia tem tes criticamente enfermos, que estão internados
desempenhado papel essencial na recuperação dos na UTI, podendo ser feita através da ventilação
pacientes hospitalizados, principalmente os que se mecânica não invasiva (VMNI) ou pela ventila-
encontram nas unidades de terapia intensiva, a fim ção mecânica invasiva (VMI) (COSTA; RIEDER;
de auxiliar no restabelecimento da condição clíni- VIEIRA, 2005).
ca desses pacientes. Além disso, busca minimizar Apesar dos benefícios da VM, existe um alto índice
os problemas mais comuns pelo uso prolongado da de morbidade e mortalidade devido à associação
ventilação mecânica, como a fraqueza global mus- da ventilação mecânica com a pneumonia, pois
cular, a imobilidade e o descondicionamento físi- há maior propensão dos pacientes em acumula-
co, que são fatores agravantes do quadro clínico e rem mais secreção respiratória pela ineficácia da
contribuem para o aumento do período de perma- tosse, agravando-se pelo não fechamento da glo-
nência hospitalar (BORGES et al., 2009; PINHEI- te. Além disso, nos casos da VMI, o transporte do
RO; CHISTOFOLETTI, 2012). muco pode ser prejudicado pela presença do tubo
traqueal. Outras complicações também podem
A atuação da fisioterapia motora consiste em evitar
ocorrer com o uso da VM, como a lesão traqueal, o
complicações causadas por um longo período de
barotrauma e/ou volutrauma e a toxidade causada
repouso no leito. Principalmente em pacientes crí- pelo uso prolongado do oxigênio (SCHETTINO et
ticos, que necessitam de cuidados intensivos, esse al., 2007; ROSA et al., 2007).
acamamento prolongado pode levar a uma fraque-
za generalizada, muito comum em UTI (SILVA; A descontinuidade do suporte ventilatório deno-
MAYNARD; CRUZ, 2010). mina-se desmame, que é uma palavra utilizada
corriqueiramente na UTI. Define-se pelo protoco-
Já a fisioterapia respiratória disponibiliza técnicas lo de retirada do paciente da ventilação artificial
específicas, que são utilizadas no atendimento dos para a espontânea, constituindo-se um processo
pacientes sob tratamento intensivo, com a finalida- individualizado que pode ocorrer de forma rápida
de de melhorar a permeabilidade das vias aéreas, ou gradual. Esse processo é indicado à medida que
prevenir o acúmulo de secreções brônquicas e me- o quadro clínico do paciente se torna estável e que
lhorar a mecânica respiratória (ROSA et al., 2007). não venha a requerer mais o apoio ventilatório to-
tal (MORAES; SASAKI, 2003; CUNHA; SANTA-
A Ventilação Mecânica (VM) tem como principal NA; FORTES, 2008).
fundamento o suporte ventilatório, principalmen-
te no tratamento de indivíduos portadores de insu- Este estudo se fundamenta no interesse de inves-
ficiência respiratória aguda, assim como nos casos tigar e discorrer, por meio de pesquisa bibliográ-
crônicos agudizados, assistindo-os na manuten- fica, sobre a atuação da fisioterapia no âmbito da
ção da oxigenação e/ou ventilação (CARVALHO; UTI e sua efetividade no desmame de pacientes
TOUFEN JR; FRANCA, 2007). que fazem uso do suporte ventilatório. Objetiva
mostrar o papel da fisioterapia na equipe multi-
A VM tem como objetivo diminuir a atividade da disciplinar dentro de um centro intensivo, evi-
musculatura respiratória e do gasto de oxigênio, denciando, assim, a importância da participação
que, consequentemente, reduzirá o desconforto da fisioterapia no processo de desmame do supor-
respiratório nos pacientes, permitindo também em- te ventilatório mecânico.

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Pacientes que permanecem por longo tempo em no desmame dos pacientes que fizeram a utilização
uso da ventilação mecânica correm o risco de da VM no âmbito da Unidade de Terapia Intensiva.
complicações, pois o uso desse suporte ventilató-
Para análise dos dados encontrados, não foi neces-
rio prolongado pode induzir a uma lesão pulmo-
sário o uso da avaliação estatística, sendo feita ape-
nar, pneumonia e atelectasia, que são complicações
nas a descrição dos achados e correlacionados se-
respiratórias diretamente ligadas à dependência da
gundo as suas conformidades e/ou discordâncias.
ventilação mecânica (ARCÊNCIO et al., 2008).

Devido a tais complicações apresentadas pelo uso


prolongado da VM, esta pesquisa visa a analisar as
2. Desenvolvimento
principais técnicas utilizadas pela fisioterapia na Estudos apontaram que uma das principais cau-
unidade de terapia intensiva, que cooperam para a sas que levam o paciente a permanecer por maior
melhora do quadro clínico dos pacientes, a fim de tempo na unidade de tratamento intensivo, além
ajudá-los no desmame da ventilação mecânica, de da sua causa de base, é a fadiga muscular grave ad-
forma precoce e eficaz. quirida na UTI. Ela é ocasionada pelo uso prolon-
gado da VM, causando desuso muscular devido ao
Foi realizada uma pesquisa de literatura, com mé-
longo período em que o paciente permanece em
todo descritivo, de caráter exploratório, com corte
repouso, o que eleva os riscos para novas compli-
transversal e abordagem qualitativa.
cações, agravando o índice de mortalidade e au-
A busca por artigos limitou-se a pesquisar os arti- mentando os gastos hospitalares (BORGES et al.,
gos publicados em português e inglês nos últimos 2009; SILVA; MAYNARD; CRUZ, 2010).
treze anos (2000 a 2013), utilizando como base de
Outro estudo apontou a utilização da VM prolon-
dados as bibliotecas virtuais do Medical Literatu-
gada como elemento independente de risco para
re Analysis and Retrival Sistem Online (MedLine/
que se desenvolva a fraqueza muscular, agravando
PubMed), Scientific Eletronic Library Online (SciE-
também o desempenho funcional do indivíduo.
LO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Do mesmo modo, foi demonstrado que, em ape-
Ciências da Saúde (LILACS). Os artigos foram ob-
nas uma semana, 25% dos indivíduos em estado
tidos usando-se os descritores “physical therapy”,
crítico que utilizavam o suporte ventilatório apre-
“intensive care unit”, “rehabilitation” e ‘’weaning’’.
sentaram fraqueza muscular severa (PINHEIRO;
A revisão de literatura foi feita através da inclusão CHISTOFOLETTI, 2012).
de artigos que abordaram estudos realizados apenas
Assim, a intervenção fisioterapêutica precoce tem
em pacientes adultos internados em unidades de te-
demonstrado grandes benefícios aos pacientes
rapia intensiva, contendo em seus recursos e méto-
acamados, principalmente devido à rápida per-
dos fisioterapêuticos informações relevantes ao pre-
da de massa muscular, que se reduz pela metade,
sente estudo. Foram excluídos todos os artigos que
em menos de duas semanas, em indivíduos com
não se adequaram aos requisitos de inclusão, além
total imobilidade. Dependendo do quadro clínico
dos resumos de dissertações e/ou teses acadêmicas.
do paciente, o posicionamento adequado e a mo-
O estudo analisou artigos referentes ao uso da fi- bilização articular precoce podem ser os únicos
sioterapia como adjunto no desmame da ventila- contatos possíveis de interação entre o paciente e o
ção mecânica, sendo coletadas informações sobre ambiente em que vive, além de ser um método uti-
a atuação, os métodos e quais os recursos utilizados lizado na prevenção do imobilismo (SILVA; MAY-
pela fisioterapia que colaboraram para o sucesso NARD; CRUZ, 2010).

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SANTOS, M.M. | Atuação da fisioterapia no processo do desmame da ventilação mecânica: revisão de literatura

Do mesmo modo, demonstrou-se que a fisiote- mulação vestibular e facilitação da resposta postu-
rapia motora realizada em indivíduos acamados ral antigravitacional” (JERRE et al., 2007).
tem sido bem tolerada pelos mesmos, além de se
A musculatura respiratória também é acometida
apresentar como uma intervenção segura e viável.
pela fraqueza muscular, caracterizando-se pela
Entretanto, nos pacientes com instabilidade respi-
redução da tosse, da ventilação alveolar, da capa-
ratória e hemodinâmica, devem-se evitar mobili-
cidade vital e capacidade pulmonar total, compe-
zações mais intensas, levando em consideração a
tindo à fisioterapia intervir com medidas cabíveis,
viabilidade de manipular um paciente mais crítico,
além do risco/benefício para cada paciente (PI- a fim de evitar ou diminuir tais complicações, uti-
NHEIRO; CHISTOFOLETTI, 2012). lizando exercícios específicos para condicionar os
músculos respiratórios, de forma eficiente e efetiva
A atuação da fisioterapia na UTI abrange a mobi- (CUNHA; SANTANA; FORTES, 2008).
lização articular precoce para fomentar o aumento
da força muscular; as mudanças de decúbito para Assim, sugere-se a fisioterapia respiratória como
evitar escaras; posicionamento no leito; sedestação; forma preventiva da pneumonia, associada à venti-
transferência do paciente da cama para a poltrona, lação mecânica, que está ligada à alta taxa de mor-
além dos exercícios ativos e/ou ativos-assistidos; bidade e mortalidade, evitando agravamento do
utilização de eletroestimulação; exercícios com o quadro clínico e também aumento dos custos e da
cicloergômetro, ortostatismo, marcha estacionária estadia do paciente na UTI. Além disso, a fisiotera-
e deambulação, o que propicia melhora nas ativida- pia respiratória também é aplicada no tratamento
des diárias, diminuindo o tempo de VM e também da atelectasia pulmonar, na prevenção da hipoxe-
de internamento da UTI e hospitalar (BORGES et mia, em pacientes que apresentam acúmulo de se-
al., 2009; PINHEIRO; CHISTOFOLETTI, 2012). creção nas vias aéreas e/ou que tenham dificuldade
de mobilizar e eliminar as secreções, além de atuar
Apesar da utilização dos exercícios passivos em nos pacientes que apresentam déficit ou ausência
pacientes sob VM ter grau de recomendação D no do reflexo da tosse (COSTA; RIEDER; VIEIRA,
III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica, 2005; JERRE et al., 2007).
o mesmo recomenda-o como forma de preven-
ção das deformidades articulares e encurtamento Algumas técnicas da fisioterapia respiratória são
muscular. Dessa forma, não havendo contraindi- comumente utilizadas na UTI, com a finalidade de
cação, pacientes capazes de executar os exercícios melhorar a permeabilidade das vias aéreas, além
ativos são recomendados a fazê-los, a fim de ate- de evitar o acúmulo de secreções brônquicas, sen-
nuar a sensação de dispneia, aumentar a tolerân- do incluídas as compressões torácicas manuais, a
cia ao exercício, minimizar as dores musculares e hiperinsuflação manual, a drenagem postural e a
a rigidez articular, além de conservar a amplitude aspiração traqueal. Estudos mostraram que a utili-
de movimento das articulações. Além disso, o or- zação da técnica de hiperinsuflação manual, asso-
tostatismo também é uma prática aconselhável aos ciada à aspiração traqueal, obteve aumento signifi-
pacientes em VM, podendo ser feita de forma ati- cativo da quantidade de secreção removida, além
va ou passiva. Embora faltem ensaios clínicos para de aumentar a complacência dinâmica em 30%.
avaliar a ação do ortostatismo sobre o prognóstico Outros achados apresentaram a hiperinsuflação
dos pacientes, tal procedimento vem sendo muito como técnica efetiva para tratamento das atelecta-
recomendado, relatando-se que “seus supostos be- sias e na remoção das secreções respiratórias, além
nefícios incluem melhora no controle autonômico de agir exatamente na melhora da oxigenação, sem
do sistema cardiovascular, facilitação da ventilação causar nenhuma alteração nos parâmetros cardía-
e troca gasosa, facilitação do estado de alerta, esti- co e respiratório (ROSA et al., 2007).

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SANTOS, M.M. | Atuação da fisioterapia no processo do desmame da ventilação mecânica: revisão de literatura

A atuação da fisioterapia no processo do desma- caso contrário, será definida uma nova avaliação,
me ventilatório começa através da realização de periodicamente (GOLDWASSER; DAVID, 2007).
uma triagem diária nos pacientes sob uso da ven-
Os profissionais da fisioterapia levavam em consi-
tilação mecânica invasiva, que estejam submeti-
deração, para o início do desmame, alguns parâ-
dos por período superior a 24 horas, objetivando
metros que eram avaliados habitualmente, sendo
selecionar os candidatos aptos para a realização
os mais verificados: a frequência respiratória, o
do teste de respiração espontânea e, posterior- volume-corrente e a saturação periférica de oxi-
mente, o desmame (GONÇALVES et al., 2007; gênio. Salienta-se que poucos atentaram para a
GOLDWASSER et al., 2007). capacidade vital e a gasometria arterial, que são
Alguns fatores devem ser levados em considera- utilizados corriqueiramente para analisar a manu-
tenção ou descontinuidade do uso da ventilação
ção e avaliados ao se pensar no desmame, porque
mecânica. Também se observou que em somen-
isso pode determinar o sucesso ou o fracasso desse
te 2,4% de todos os processos de desmame da
procedimento. Para tal, é preciso identificar os pa-
VM não houve a participação do fisioterapeuta.
cientes elegíveis, que deverão ter a sedação inter-
(GONÇALVES et al., 2007).
rompida diariamente, utilizando protocolos e me-
tas, para depois haver a interrupção da ventilação A participação do fisioterapeuta durante o desma-
(GOLDWASSER et al., 2007). me da VM é preconizado pelo III Consenso Bra-
sileiro de Ventilação Mecânica, vindo a obter um
Desta forma, um estudo mostrou que é preciso grau A de recomendação, haja vista que foi com-
resolver as causas primárias que levaram o pa- provado através de estudos que o uso do protocolo
ciente a necessitar da ventilação mecânica, se de desmame e a triagem feita diariamente por fi-
houve melhora ou já foi solucionada a causa que sioterapeutas têm refletido em bons resultados no
levou à falência respiratória, se foi suspenso ou desmame (JOSÉ et al., 2013).
teve diminuição do uso dos sedativos e bloquea-
dores musculares, qual é o estado de consciência O uso de protocolos nas unidades de terapia in-
tensiva tem demonstrado bons resultados, tendo
do paciente, verificar se há ausência de sepse e de
em vista que são elaborados e aplicados por fisiote-
hipertermia, se o indivíduo está hemodinamica-
rapeutas. Esses protocolos consistem na avaliação
mente estável, se existem desordens metabólicas/
dos pacientes através dos indicadores fisiológicos e
eletrolíticas e se foram corrigidas, se há alguma
dos princípios clínicos. A partir desses dados, po-
possibilidade para cirurgia de porte e se a gaso-
derá ser tomada a decisão de começar o processo
metria encontra-se em bom estado geral (BOR-
de desmame, abrangendo a fase da descontinui-
GES; ANDRADE JR; LOPES, 2006).
dade do suporte ventilatório e a monitorização do
Outra pesquisa apresentou uma proposta como paciente durante o tempo de autonomia ventilató-
estratégia para identificar os pacientes habilitados ria e, depois, na extubação, quando se retira a pró-
para o desmame, no intuito de facilitar o trabalho tese ventilatória, desde que o paciente permaneça
da equipe multidisciplinar: avaliar a estabilidade estável durante o período superior a duas horas e
utilizando apenas o oxigênio suplementar. Depois
hemodinâmica, o grau de sedação, as trocas gaso-
de 30 minutos de extubação, será feita uma nova
sas, se houve reversibilidade/controle da doença,
gasometria, a fim de reavaliar a condição do pa-
autonomia das vias aéreas, o índice de Tobin, o
ciente (COLOMBO et al., 2007).
equilíbrio hidroeletrolítico e ácido-básico e o esco-
re de Glasgow. Depois, é feita a avaliação para sa- Comprovou-se, através dos resultados de um es-
ber se o paciente está qualificado para o desmame, tudo, que os pacientes que tiveram seu desmame

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seguido por um protocolo obtiveram melhoras tubo T, um fluxo inicial de O² de 5 l/min, que será
significativas em todo o processo, além de ter ha- essencial para a manutenção do equilíbrio da FIO²
vido também a redução do tempo de ventilação (COSTA; RIEDER; VIEIRA, 2005).
mecânica e do tempo de desmame, atenuando as
taxas de insucesso e de mortalidade (OLIVEIRA Demonstrou-se, através de estudo, a eficiência da
et al., 2006). utilização do tubo T na ventilação espontânea, por
um período de duas horas, em pacientes que se en-
Feita, então, a identificação dos pacientes elegí- contravam aptos para a extubação. Os que apresen-
veis, é dado início ao processo do desmame. Este tavam menor tempo sob o uso da ventilação me-
pode ser feito de forma abrupta, realizado em cânica obtiveram maior êxito no teste. Esse teste
pacientes com pouco tempo de uso da ventila- provou ser de fácil execução, devido ao pequeno
ção mecânica e que não mostram nenhum tipo período de aplicação, porém requer monitorização
de complicação pulmonar, além de apresentarem contínua. Esse estudo feito através do teste com
estabilidade clínica e gasométrica, com uma baixa o tubo T demonstrou eficácia em 80% dos casos
dependência do suporte ventilatório (BORGES; (ASSUNÇÃO et al., 2006).
ANDRADE JR; LOPES, 2006).
Entretanto, em outro estudo, observou-se que, em
Já o teste de respiração espontânea se dá a partir
pacientes após duas horas sob uso do tubo T, ocor-
da permanência do paciente em respiração espon-
reram evidências de risco para desenvolvimento
tânea por um período de trinta minutos a duas
de problemas complexos, como a atelectasia, agra-
horas. Essa desconexão da ventilação mecânica é
vamento do trabalho dos músculos respiratórios,
feita efetivamente através da oferta suplementar
retenção de secreções, além do rebaixamento da
de oxigênio, com a finalidade de manter as taxas
saturação de O² (GONÇALVES et al., 2007).
de saturação de oxigênio no sangue arterial supe-
riores a 90%. Esse suplemento de oxigênio deve Segundo Borges, Andrade e Lopes (2006), a des-
ser feito com uma FIO² até 0,4% e não deve ser vantagem da utilização do tubo T é a transição
aumentado durante o procedimento (GOLDWAS- rápida da ajuda da ventilação mecânica para a
SER et al., 2007). respiração espontânea sem nenhum apoio. Isso
acarretará um declínio da capacidade residual fun-
Em outro estudo, observou-se que o teste de venti-
lação espontânea é utilizado por mais de 80% dos cional, devido ao fato do tubo deteriorar a glote
fisioterapeutas, porém, os pacientes foram subme- e, consequentemente, sua proteção, o que causará
tidos, nesse teste, por um período médio de 40,94 o surgimento de microatelectasias, resultando na
minutos. A literatura atual aponta como desne- elevação do trabalho pulmonar.
cessária a permanência do paciente em ventilação Outro método utilizado pela fisioterapia para o
espontânea por duas horas, pois bastam alguns desmame gradual da VM é através do modo PSV
minutos após a interrupção da ventilação para ser
(Ventilação por Pressão de Suporte), podendo ser
possível estabelecer qual a probabilidade de haver
realizado através da diminuição gradativa dos va-
sucesso no desmame (GONÇALVES et al., 2007).
lores da pressão de suporte até atingir parâmetros
No processo gradual do desmame, o fisioterapeuta clínicos satisfatórios, de 5 a 7 cm H²O. Segundo
pode utilizar o tubo T, que é tido como um sistema o estudo, esse processo de desmame utilizando a
simples, ou seja, ele é conectado ao tubo orotra- pressão de suporte obteve melhores resultados,
queal do paciente, onde a oxigenação é feita atra- além de menor risco de insucesso, principalmente
vés do tubo em T; os esforços inspiratórios serão se comparado ao modo SIMV (Ventilação Man-
feitos pelo paciente, sendo adicionado, através do datória Intermitente Sincronizada) e ao desmame

Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde | Salvador, v. 1, n. 1, jan./jun. 2015 | 94


SANTOS, M.M. | Atuação da fisioterapia no processo do desmame da ventilação mecânica: revisão de literatura

gradual em respiração espontânea fazendo uso do Aconselha-se a evitar o modo SIMV no processo
tubo T (GOLDWASSER et al., 2007). de desmame da ventilação mecânica, sem utilizar
a pressão de suporte, haja vista que a aplicação
Outra pesquisa demonstrou que a ventilação por
desse método é a mais inadequada, pois acarreta-
pressão de suporte estava diretamente agregada
rá maior tempo de ventilação mecânica (GOLD-
ao curto período de tempo do desmame, se com-
WASSER et al., 2007).
parada à utilização de outros métodos. Contudo,
outros achados concluíram que a utilização do Em um estudo no Distrito Federal, 77% dos fi-
tubo T para o desmame alcançou melhores resul- sioterapeutas escolheram como melhor estratégia
tados, por sua vez, a utilização do SIMV obteve para o avanço do desmame a utilização associada
resultados expressivamente inferiores (FREITAS; da PSV com a CPAP. No entanto, o método SIMV
DAVID, 2006). foi o menos utilizado, por ser um modo desvan-
tajoso para o desmame, pois foi comprovado que
A PSV proporciona ao paciente, através do tubo, resultou em maior tempo da permanência em uso
uma pressão positiva que é ciclada quando há do suporte ventilatório mecânico (GONÇALVES
queda do fluxo em 25%. As vantagens alcançadas et al., 2007).
pelo seu uso foram o conforto proporcionado du-
rante toda a respiração, principalmente devido ao O sucesso do desmame se dá quando o paciente
auxílio no esforço respiratório, o treinamento da consegue manter-se em respiração espontânea por
musculatura respiratória, com um aspecto mais fi- um período de 48 horas após a descontinuidade do
siológico, além de melhorar o fluxo, a frequência suporte ventilatório mecânico, e fracasso quando
respiratória e o tempo inspiratório livre (BORGES; existe a necessidade de ventilação mecânica duran-
ANDRADE JR; LOPES, 2006). te esse período. Assim, é feito um novo teste de res-
piração espontânea após 24 horas, caso o pacien-
Outro método comum que pode ser usado é o te ainda se encontre elegível e tenha sido revista
CPAP (Pressão Positiva Contínua nas vias aéreas), a falta de tolerância para a respiração espontânea
que visa a melhorar a capacidade residual funcio- (GOLDWASSER et al., 2007).
nal e a Pa O2, além de atenuar o shunt pulmonar.
Esse método é estabelecido através da ventilação Os elementos que podem acarretar o insucesso
não invasiva, sob o uso de máscara facial, com o do desmame são a diminuição da concentração
objetivo de minimizar os efeitos nocivos causados de oxigênio no sangue, fadiga dos músculos res-
piratórios, atrofia muscular, endocrinopatias, alte-
pela retirada do tubo endotraqueal, o que garantirá
rações na gasometria, hiperinsuflação pulmonar,
mais conforto e reduzirá a ansiedade, entretanto,
disfunções neurais e alterações emocionais (MO-
devido ao elevado fluxo e à máscara ser apoiada
RAES; SASAKI, 2003).
sobre a pele, pode causar desconforto e repugnân-
cia pelo paciente (MORAES; SASAKI, 2003).

Segundo um estudo, a utilização associada dos mé- 3. Conclusão


todos PSV e CPAP tem sido a mais adotada nos Verificou-se que a fisioterapia possui papel essen-
hospitais públicos e particulares para o desmame cial na equipe multidisciplinar dentro da unidade
por profissionais fisioterapeutas. Entretanto, afir- de terapia intensiva, atuando, de fato, de forma
ma-se que o método SIMV (Ventilação Manda- pertinente tanto na fisioterapia motora quanto na
tória Intermitente Sincronizada) possui menor respiratória, além de ser atuante em todo o proces-
eficiência para o desmame (MONT’ALVERNE; so do desmame. Foi observado que, ao se estabele-
LINO; BIZERRIL, 2008). cer um protocolo de desmame, houve diminuição

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SANTOS, M.M. | Atuação da fisioterapia no processo do desmame da ventilação mecânica: revisão de literatura

efetiva do tempo de ventilação mecânica, menor rapeuta é efetiva dentro da equipe multidisciplinar,
permanência do paciente no mencionado processo assumindo o compromisso mantenedor da funcio-
e, consequentemente, menor índice de mortalida- nalidade do paciente, além de atuar na prevenção e
de e de custo de internação hospitalar (COLOM- no tratamento das mudanças osteomioarticulares,
BO et al., 2007). nas complicações respiratórias, monitorização da
mecânica ventilatória e das trocas gasosas, coorde-
Observou-se também que, na maioria das unidades nando a ventilação mecânica, o desmame e a extu-
de terapia intensiva do Brasil, a atuação do fisiote- bação (SARA, 2011).

ROLE OF PHYSICAL THERAPY IN CASE OF WEANING FROM MECHANICAL VENTILATION:


LITERATURE REVIEW.

Abstract
The papal Physiotherapy has become essential in the multidisciplinary care of patients in need of
mechanical ventilation (MV) in the Intensive Care Unit (ICU) units, with the VM main ventila-
tory support in the treatment of patients with some type of respiratory failure, which will assist
them in maintaining oxygenation and / or ventilation, aiming to reduce the activity of the respi-
ratory muscles and the expense of oxygen, thus reducing respiratory distress patients. The discon-
tinuation of ventilatory support is called weaning, defining the protocol of removing the patient
from mechanical ventilation to spontaneous. Due to complications presented by the prolonged
use of the VM, this study aims to analyze the main techniques used by physical therapy in the ICU
that support for the improvement of the patient, and help them in weaning from MV. Literature
search was performed, covering the last thirteen years, based on data for research virtual libraries
of MedLine, PubMed, SciELO and LILACS. Concluding that physical therapy plays an important
role in the multidisciplinary team in the ICU, with relevant motor activity, respiratory part, and
the whole process of weaning, mainly by establishing a weaning protocol with effective reduction
in length of VM, minor mortality and cost of hospitalization in the ICU.

Keywords
Physical Therapy. Intensive Care Unit. Weaning.

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A IMPORTÂNCIA DOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM
PRESTADOS EM TERAPIA INTENSIVA A PACIENTES
EM PROCESSOS HEMODIALÍTICOS VENOVENOSOS
CONTÍNUOS: PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

Verônica Jesus de Sousa*

Resumo
O enfermeiro da UTI se confronta diariamente com pacientes de diagnósticos diversos e graves,
susceptíveis de desenvolver Lesão Renal Aguda. Ele está diretamente relacionado a esse processo,
uma vez que o compromisso profissional vincula-se à assistência. A partir daí, foi realizada uma
revisão de literatura sobre a importância dos cuidados de enfermagem prestados a pacientes crí-
ticos em hemodiálise venovenosa contínua (CVVHD). Visando a demonstrar fatores que contri-
buam para a importância da assistência de enfermagem na CVVHD em UTI, bem como destacar
a atuação do enfermeiro nessa assistência, a pesquisa buscou na literatura, como referencial, o
posicionamento assistencial do enfermeiro em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) frente ao pa-
ciente em uso de CVVHD. Foi realizada pesquisa bibliográfica sobre Insuficiência Renal Aguda,
Insuficiência Renal Crônica e Hemodiálise, focalizando a Assistência de Enfermagem em Hemo-
diálise Contínua Venovenosa. Foram selecionados os artigos publicados entre os anos de 2000 e
2012. Para os livros encontrados, não houve limite de ano ou edição. Todo o material pesquisado
estava no idioma português e foi encontrado em bibliotecas públicas, nos acervos da biblioteca
virtual de saúde e biblioteca virtual da UFBA (Universidade Federal da Bahia). De acordo com
os autores analisados, o enfermeiro tem papel relevante em terapia intensiva no que se refere a
procedimentos hemodialíticos venovenosos contínuos. Foram também traçados fatores que con-
tribuem para a importância dessa assistência.

Palavras-chave
Insuficiência Renal Aguda e Crônica. Hemodiálise. Assistência de Enfermagem em Hemodiálise.

1. Introdução do avanço tecnológico nas diversas áreas do co-


A enfermagem, na qualidade de profissão da área nhecimento humano, sobretudo, os avanços que
de saúde que apresenta como essência e foco domi- proporcionam um prolongamento da expectativa
nante o cuidado ao ser humano, sofre a influência de vida da população. Com isso, o aumento dos

* Enfermeira. Especialista em Enfermagem em UTI pela Atualiza Cursos. E-mail: vsousanana@yahoo.com.br

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SOUZA, V.J. | A importância dos cuidados de enfermagem prestados em terapia intensiva a pacientes em processos hemodialíticos...

recursos médicos tecnológicos, como a descoberta literatura sobre a importância dos cuidados de
de novos métodos diagnósticos e terapêuticos, e a enfermagem prestados a pacientes críticos em
melhoria das medidas preventivas e das condições hemodiálise venovenosa contínua (CVVHD). A
de vida impulsionam a exigência de uma enferma- pesquisa buscou na literatura, como referencial,
gem cada vez mais preparada e capacitada no de- o posicionamento assistencial do enfermeiro em
sempenho do cuidado. UTI frente ao paciente em uso de CVVHD. Vi-
sando a demonstrar fatores que contribuam para
Assim, a Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
a importância da assistência de enfermagem na
constitui-se uma unidade complexa, destinada a
CVVHD em UTI, bem como destacar a atua-
pacientes gravemente enfermos, susceptíveis, na
ção do enfermeiro nessa assistência, realizou-se
maioria das vezes, à falência de órgãos essenciais pesquisa bibliográfica sobre Insuficiência Renal
para a manutenção da vida, dentre eles, a perda da Aguda, Insuficiência Renal Crônica e Hemodiá-
função renal. Na UTI, encontramos uma enferma- lise, focalizando a Assistência de Enfermagem em
gem preparada e capacitada para a assistência pres- Hemodiálise Contínua Venovenosa.
tada a esses pacientes. Os rins desempenham um
papel importante na manutenção do volume ade- A pesquisa bibliográfica abrange a leitura, análise
quado de líquido extracelular e de sua composição e interpretação de livros, periódicos, documentos
eletrolítica correta. Infelizmente, com frequência, mimeografados ou fotocopiados, mapas, imagens,
esse sistema apresenta mau funcionamento ao lidar manuscritos, etc. Ela constitui uma excelente téc-
com pacientes críticos. Está claro que a disfunção nica para fornecer ao pesquisador a bagagem teó-
renal, nesses pacientes, leva a um aumento acen- rica, de conhecimento e o treinamento científico
tuado da mortalidade, pois, geralmente, também que habilitam a produção de trabalhos originais e
apresenta comprometimento em múltiplos órgãos. pertinentes (LAKATOS, 1992). Foram seleciona-
dos os artigos publicados entre os anos de 2000 e
Os métodos dialíticos representam importante 2012. Para os livros encontrados, não houve limite
papel no tratamento da disfunção renal. Temos a de ano ou edição, mas todo o material estava no
diálise, que consiste em um processo de depura- idioma português, sendo encontrados em biblio-
ção do sangue, no qual a transferência de solutos tecas públicas, nos acervos da biblioteca virtual de
e líquidos ocorre através de uma membrana semi- saúde e biblioteca virtual da UFBA (Universidade
permeável que separa dois compartimentos. A he- Federal da Bahia). Na busca desses materiais, fo-
modiálise é um processo mecânico de terapia de ram estabelecidos os seguintes descritores: Insufi-
substituição renal, que tem por objetivo remover ciência Renal Aguda e Crônica, Hemodiálise e As-
as substâncias tóxicas e o excesso de líquido que sistência de Enfermagem em Hemodiálise.
se acumulam em virtude da falência renal, como
se fosse um rim artificial. Os métodos podem ser Para a análise dos dados obtidos, todo o material
contínuos ou intermitentes (MORTON; FONTAI- recolhido foi submetido a uma triagem, que le-
NE, 2011). vou a um plano de leitura, atenta e sistemática,
acompanhada de anotações e fichamentos. Foram
Porém, segundo Padilha et al (2010), os contínuos selecionados os que continham subsídios que
ganham destaque em relação aos intermitentes no correspondiam ao tema proposto, formando em-
emprego em pacientes críticos devido à vantagem basamento para compor a pesquisa, direcionando
de maior estabilidade hemodinâmica, requerendo os resultados, que foram analisados com relação
uma enfermagem capacitada no conhecimento aos objetivos propostos e apresentados na conclu-
para instalação e condução desse procedimen- são da pesquisa, em um texto redigido de forma
to. Nesse sentido, foi realizada uma revisão de concisa e clara.

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SOUZA, V.J. | A importância dos cuidados de enfermagem prestados em terapia intensiva a pacientes em processos hemodialíticos...

2. Desenvolvimento rins. Se não estão conseguindo eliminar a creatini-


na produzida diariamente pelos músculos, os rins,
A Insuficiência Renal sobrevém quando os rins
provavelmente, também estarão tendo problemas
não conseguem remover os resíduos metabólicos
para eliminar diversas outras substâncias do nos-
do corpo nem realizar as funções reguladoras.
so metabolismo, incluindo toxinas. Portanto, um
As substâncias normalmente eliminadas na urina
aumento da concentração de creatinina no sangue
acumulam-se nos líquidos corporais em conse-
é um sinal de insuficiência renal (GALLO, 1994;
quência da excreção renal prejudicada, levando a
SMELTZER; BARE, 2008; PADILHA et al, 2010;
uma ruptura das funções metabólicas e endócri-
PONCE et al, 2011).
nas, bem como a distúrbios hídricos, eletrolíticos e
ácido-básico. (SMELTZE; BARE, 2008). Acrescentando outra definição, Sallium (2010)
relata a Insuficiência Renal Aguda como uma sín-
Ainda, delimitando a definição de Insuficiência Re-
drome de perda abrupta, na maioria dos casos re-
nal, pode-se analisá-la sob a ótica de Arone (1994)
versível, da função renal. Isso pode ocorrer dentro
como uma síndrome caracterizada pala redução da
velocidade de filtração glomerular, limitando a ca- de algumas horas ou levar dias, e manter-se por
pacidade renal de manutenção do ambiente inter- períodos variáveis, podendo desencadear um au-
no do organismo. Com isso, os rins são incapazes mento das escórias, entre elas, a ureia, creatinina
de remover água, eletrólitos e escórias metabólicas e outros resíduos de produtos nitrogenados e da
do organismo, consequentemente, essas substân- desregulação do volume extracelular e eletrólitos,
cias se acumulam nos líquidos corporais, preju- acompanhados ou não de diminuição da diurese.
dicando as funções homeostáticas, endócrinas e
metabólicas. A insuficiência renal pode ser aguda 2.1.1. Quadro clínico da IRA
ou crônica (uremia). A aguda tem início súbito e é, A IRA possui três categorias, de acordo com os fa-
com frequência, reversível. A crônica surge grada- tores precipitantes e os sintomas manifestados pela
tivamente, mas também pode ocorrer como resul- doença. Segundo Gallo (1994), podem ser causas
tado de um episódio agudo precedente. pré-renais quando incluem os acontecimentos fi-
siológicos que levam à circulação diminuída (is-
2.1. Insuficiência Renal Aguda (IRA) quemia) para os rins, mais comumente, incluem
A injúria renal aguda é caracterizada por uma rá- hipovolemia e insuficiência cardiovascular. Qual-
pida queda do ritmo de filtração glomerular, po- quer outro acontecimento, entretanto, que leve à
dendo ser acompanhada de retenção de produtos diminuição aguda da oxigenação dos rins pode
nitrogenados e distúrbios hidroeletrolíticos. É uma enquadrar-se nessa categoria. A causa intrarrenal,
síndrome complexa, de etiologias múltiplas e va- que inclui acontecimentos fisiológicos que afetam
riáveis e, como critérios diagnósticos, apresenta diretamente a estrutura e a função do tecido re-
alteração do débito urinário (diminuição inferior nal, abrange, frequentemente, acontecimentos que
a 0,5 ml/kg/min por mais de 6 horas - oligúria) ou causam dano para o interstício e para o tecido do
alterações agudas dos níveis séricos da creatinina nefro, e a causa pós-renal, que inclui qualquer obs-
(aumento absoluto de creatinina superior a 0,3 mg/ trução no fluxo urinário desde os canais coletores
dL ou relativo de 50% em relação ao valor basal). A no rim até o orifício uretral externo ou o fluxo san-
creatina fosfato é uma proteína sintetizada no fíga- guíneo venoso do rim.
do e, posteriormente, armazenada nos músculos.
Para Padilha et al (2010), a categoria pré-renal re-
Após a sua geração, a creatinina é lançada na cor- presenta 60% a 70% dos casos da lesão renal aguda,
rente sanguínea, sendo eliminada do corpo pelos constituindo-se uma resposta fisiológica diante da

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redução de perfusão renal, que pode ser decorren- de eliminarem os produtos residuais e manterem
te de uma diminuição da volemia ou de uma isque- o equilíbrio hidroeletrolítico. Por fim, ela leva à
mia renal. A categoria intrarrenal representa 20% doença renal em estágio terminal e à necessidade
a 40% dos casos da lesão renal aguda e é determi- de terapia de reposição renal ou transplante renal
nada por fatores intrínsecos ao rim. E a categoria para sustentar a vida. As condições que causam a
pós-renal representa 5% a 10% dos casos de lesão lesão terminal renal incluem as doenças sistêmi-
renal aguda, caracterizando-se pela obstrução do cas, como diabetes mellitus, hipertensão, glomé-
fluxo urinário desde os canais coletores do rim até rulo, nefrite crônica, pielonefrite (inflamação da
o orifício uretral externo. pelve renal), obstrução do trato urinário, lesões
hereditárias como na doença do rim policístico,
Sallium (2010) descreve a categoria pré-renal distúrbios vasculares, infecções, medicamentos ou
como a redução do fluxo plasmático renal e do rit- agentes tóxicos (MORTON; FONTAINE, 2011).
mo de filtração glomerular, causado por hipovole-
mia, diminuição do débito cardíaco, vasodilatação 2.2.1. Quadro Clínico da IRC
periférica, vasoconstricção renal. A categoria in-
A insuficiência renal crônica afeta quase todo o sis-
trarrenal decorre de lesões ao parênquima renal,
tema orgânico, com isso, os pacientes exibem inú-
causadas por nefrotóxicos, metais pesados, sol-
meros sinais e sintomas. A gravidade desses sinais
ventes orgânicos, entre outros. E a categoria pós
e sintomas depende, em parte, do grau do compro-
-renal, secundária à obstrução intra ou extrarrenal
metimento renal, de outras condições subjacentes
por cálculos, traumas, coágulos, tumores e fibrose
e da idade do paciente. Podem ocorrer alterações
retro-peritoneal.
cardiovasculares, como hipertensão, devido à re-
tenção de sódio e água; alterações dermatológi-
2. 2. Insuficiência Renal Crônica (IRC) cas, como o depósito de cristais de ureia na pele;
Segundo Fermi (2003) e Smeltzer e Bare (2008), alterações gastrointestinais, como anorexia, náu-
a IRC é uma deterioração progressiva na função seas, vômito, soluços e hálito com odor de urina;
renal, em que os mecanismos homeostáticos do alterações neurológicas, como nível de consciência
organismo – que são o controle das condições es- alterado, contratura muscular, agitação, confusão,
táveis no meio interno, através das quais fatores podendo chegar a convulsões (SMELTZER; BARE,
como a manutenção das concentrações normais 2008; ARONE, 1994).
dos elementos sanguíneos, temperatura, pressão O quadro clínico da IRC também é relatado por
arterial e outras substâncias são, a todo instante, Sallium (2010) como manifestações clínicas inco-
equilibradas no organismo – entram em falência, muns, mas o paciente pode apresentar febre, mal
resultando, fatalmente, em uremia (excesso de -estar, problemas cutâneos e sintomas musculares
ureia e outras escórias nitrogenadas no sangue), a e articulares que podem estar associados a nefrites
menos que seja feita a hemodiálise ou um trans- intersticiais, vasculites ou gromerulonefrites, dor
plante de rim. lombar ou suprapúbica, dificuldade de micção, có-
lica nefrética e hematúria.
Pode ser causada por glomerulonefrite crônica,
pielonefrite, hipertensão não controlada, depleção
de sódio e água, distúrbios vasculares, uropatia 2.3. Tratamento das
obstrutiva, doença renal secundária a drogas ou
disfunções renais IRA e IRC
agentes tóxicos e infecções, podendo levar a uma O tratamento da lesão renal consiste na prevenção
deterioração irreversível, progressiva e lenta da e na limitação de sua extensão, com o intuito de
função renal, que resulta na incapacidade dos rins evitar complicações decorrentes da disfunção or-

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gânica. As terapias de substituição da função re- sante com o sangue do paciente. Esse contato é fei-
nal têm por objetivo manter a homeostase do pa- to através de uma circulação extracorpórea (CEC)
ciente até que os fatores clínicos que propiciam a a um dialisador (rim artificial).
doença sejam eliminados (PADILHA et al., 2010;
Para realizar uma hemodiálise, é necessário o im-
ARONE, 1994).
plante de um acesso venoso através da punção de
As indicações de diálise são absolutas, quando o uma veia, que pode ser jugular, subclávia ou femo-
paciente tem risco de morte iminente, ou relativas, ral, para uso temporário. É introduzido um cateter
quando não há risco de morte. O indivíduo com de luz dupla ou múltipla nessas veias. Poderá ser
insuficiência renal perde sua capacidade de remo- usado durante várias semanas e é removido quan-
ver as escórias metabólicas do corpo, comprome- do não é mais necessário, seja porque outro tipo de
tendo sua excreção e levando ao comprometimen- acesso foi estabelecido ou pela melhora nas condi-
to das funções vitais (SCALA; HILÁRIO, 2000). ções do paciente (GALLO, 1994; PADILHA et al.,
2010; SALLIUM, 2010).
São diversos os métodos dialíticos utilizados no
tratamento da IRA, entre eles, estão incluídas a Para Knobel (1998), a introdução de uma máqui-
hemodiálise, diálise peritoneal intermitente e diá- na moderna, operando de forma ininterrupta, tem
lise peritoneal automatizada. O estudo, entretanto, a vantagem de garantir um fluxo constante usan-
deter-se-á em hemodiálise venovenosa contínua do um fácil acesso venoso. Um dos equipamentos
(CVVHD), pois é a que vem sendo mais frequente- extracorpóreos em hemodiálise, mais comumente
mente utilizada em UTI, devido à hemodinâmica usado em UTI, chama-se Prisma. Segundo Gram-
instável do paciente (PADILHA et al., 2010). bro (2005), consiste em um sistema indicado para
a remoção contínua de solutos e/ou líquidos em
2.3.1. Hemodiálise pacientes com insuficiência renal ou sobrecarga de
líquidos, sendo todo o tratamento administrado
Segundo Smeltzer e Bare (1998), a hemodiálise ba-
por meio desse sistema prescrito por um médico.
seia-se na transferência de solutos e líquidos por
meio de uma membrana semipermeável pelos se- Para pacientes em tratamento prolongado é neces-
guintes processos: difusão (é o transporte de solu- sário um tipo de acesso permanente, que diminui
tos de um compartimento líquido para outro, por o índice de infecção e melhora a qualidade de vida
meio de uma membrana semipermeável, do local do paciente. Denomina-se fístula arteriovenosa
de maior concentração para o de menor concen- (FAV). Geralmente, essa cirurgia é de pequeno
tração), osmose (passagem do solvente de uma so- porte, realizada no braço não dominante do pa-
lução através de uma membrana impermeável ao ciente, onde ocorre uma anastomose da artéria e
soluto) e ultrafiltração (é o processo de remoção de a veia. É fundamental que o vaso evolua com boa
líquido por um gradiente de pressão hidrostática dilatação para permitir a punção de duas agulhas
ou osmótica, por meio de uma membrana semi- bastante calibrosas, isto significa que, após confec-
permeável). As toxinas e os resíduos no sangue são cionada, deve-se aguardar um tempo de matura-
removidos por difusão, isto é, eles são retirados de ção, para posterior uso (SMELTZER; BARE, 1998).
uma área de maior concentração no sangue para
Em UTI, preferencialmente, devido à maioria dos
uma área de menor concentração no dialisado.
casos serem em caráter emergencial, a opção de es-
Outro conceito de hemodiálise é relatado por colha é pelo cateter venoso, com um procedimento
Arone (1994): é um processo empregado para a de hemodiálise contínuo, por causa da hemodinâ-
depuração do sangue, no qual é utilizado um equi- mica instável do paciente (PADILHA et al., 2010).
pamento que possibilita o contato da solução diali- A hemodiálise convencional intermitente é, com

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frequência, difícil de ser realizada como tratamen- Outra descrição para CVVHD também é relata-
to para corrigir os desequilíbrios metabólicos da da por Smeltzer e Bare (2008), quando o sangue
IRA em pacientes críticos, pois, como estão hemo- é bombeado a partir de um cateter venoso com
dinamicamente instáveis, necessitam mais do que luz dupla, através de um hemofiltro, e devolvido
as 3 a 4 horas habituais. Assim, os tratamentos de ao paciente através do mesmo cateter. Utiliza um
reposição renal contínua oferecem uma alternativa gradiente de concentração para facilitar a remoção
para a hemodiálise no ambiente de cuidados inten- das toxinas urêmicas e do líquido. Os efeitos he-
sivos (GALLO, 1994). modinâmicos são brandos, as enfermeiras de cui-
dados intensivos necessitarão de alguma instrução
A CVVHD é um procedimento que utiliza fluxo para operar o equipamento, mas, uma vez apren-
sanguíneo de, aproximadamente, 100 ml/min, por dida, é facilmente manuseável pela equipe de en-
um cateter venoso, e obtido com uma bomba de fermagem. Contudo, a capacidade de observação
sangue no sistema extracorpóreo e com reduzido do enfermeiro, a avaliação de sintomas e as ações
fluxo de solução dialisadora (15 a 30 ml/min de adequadas podem fazer a diferença entre uma he-
solução). O banho circula no sentido contrário ao modiálise suave, com problemas mínimos, e um
sangue e é coletado em um sistema fechado, sen- temível procedimento, com uma série de crises
do este volume medido a cada troca da solução. A para o paciente e o enfermeiro.
diferença entre o volume infundido e o drenado
equivale à ultrafiltração obtida (SALLIUM, 2010). 2. 3.1.1. Cuidados de enfermagem
em hemodiálise (CVVHD)
Segundo Yako (2000), na CVVHD, o sangue flui
através de um dos lumens do cateter, dito lúmen a | Quanto à manipulação
arterial, que se encontra conectado à linha arte- da Máquina Extracorpórea
rial do sistema, sendo “puxado” ou “impulsio- Para Morton e Fntaine (2011), a enfermeira preci-
nado” através de um sistema por uma bomba de sa ter treinamento teórico e prático em ambiente
sangue, própria para hemodiálise, passando pelo clínico antes de manipular a máquina, com refe-
hemofiltro (dialisador) e retornando ao cliente rência aos manuais de instrução do fabricante, que
pela linha venosa, que se encontra conectada ao propiciam diretrizes para uma operação segura do
lúmen venoso do cateter duplo lúmen. A veloci- equipamento.
dade com que o sangue “passa” pelo circuito, ou
Em se tratando da Prisma, ligar a máquina; cali-
seja, o fluxo de sangue, é comandada pela bomba
brar as balanças antes do uso; preparar circuito,
de sangue em ml∕ min, sendo determinada pelo
conforme programação; preparar as soluções de
estado geral do cliente e sua necessidade de remo- dialisante e reposição; preparar seringa com an-
ção de líquido e escórias nitrogenadas e eletróli- ticoagulante quando indicado; se não indicado,
tos. A anticoagulação é quase sempre necessária, preparar seringa com soro fisiológico a 0,9%; mon-
para evitar a coagulação do sistema extracorpó- tar o circuito na máquina, conforme instrução do
reo, e a dose varia de acordo com a membrana e mesmo; programar priming do circuito na máqui-
o fluxo de sangue empregado e o estado clínico na, isto é, escovar o sistema, preenchê-lo com lí-
do paciente, sendo a heparina o mais utilizado. quido, geralmente soro fisiológico a 0,9%; preparar
Também é possível realizar procedimento dialí- um equipo conectado a um frasco de 500 ml de
tico com CEC sem o emprego de anticoagulan- soro fisiológico a 0,9%, que servirá para os flesh,
tes, neste caso, utilizam-se frequentes lavagens do isto é, lavagem do sistema durante o procedimen-
circuito da CEC com solução fisiológica a 0,9%, to, conforme orientação médica; programar pro-
conforme prescrição médica. cedimento, conforme prescrição médica; conectar

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o circuito ao paciente, iniciando o procedimento; te que necessite da terapia renal substitutiva, man-
conhecer os principais alarmes e saber solucionar tendo um fluxo adequado e prevenindo qualquer
o problema ou direcionar a manutenção clínica causa que possa levar à infecção, avaliando o pro-
(GAMBRO, 2005). gresso do paciente e sua resposta ao tratamento,
além de proporcionar suporte físico e emocional
b | Quanto ao acesso vascular para pacientes e familiares (SALLIUM, 2010).
A passagem do acesso é realizada pelo médico,
A equipe de enfermagem deve atentar para que o
mas a enfermeira deve prover um procedimento
cuidado com o paciente, na hemodiálise, não se
asséptico, uso de paramentação completa, más-
torne um ato mecânico de apenas mexer na má-
caras, gorro, luva estéril, aventais estéreis, campos
quina; deve dar importância aos sentimentos do
amplos e estéreis; lavar as mãos com clorexidina
paciente, deve praticar um atendimento humani-
degermante; limpeza da pele com clorexidina al-
zado, tratando-o de forma holística e atendendo
coólica a 0,5%; heparenizar vias conforme indica-
às suas necessidades humanas básicas (SOUZA et
do no cateter; realizar curativo oclusivo com gaze
al, 2010).
seca no dia da passagem (SALLIUM, 2010).
Para Sallium (2010), o enfermeiro deve orientar
Na manutenção do acesso, lavar as mãos sempre
a família e o paciente em relação ao tratamento,
que manipular o cateter, realizar curativo diário ou
quando possível; observar a tolerância do pacien-
sempre que necessário, procedimento asséptico,
te durante a terapia renal substitutiva; prover an-
uso de clorexidina alcoólica a 0,5% para limpeza
ticoagulação do sistema, quando necessário; fazer
da inserção e do cateter, manter extremidades do
reposição correta das soluções; realizar balanço hí-
cateter protegidas, retirar heparina quando iniciar
drico contínuo e rigoroso; atentar para a permea-
o procedimento e, após a hemodiálise, lavar com
bilidade da via de acesso e a presença de sinais e
soro fisiológico a 0,9% as duas vias do cateter e he-
sintomas de infecção; manipular o acesso venoso
parenizar, conforme descrito no mesmo, e uso ex-
somente para procedimentos hemodialíticos; ob-
clusivo para hemodiálise (SALLIUM, 2010).
servar, atuar e anotar possíveis intercorrências e
Deve-se verificar radiograficamente a posição do complicações no procedimento; prover conforto
cateter antes do uso, exceto na região femoral; físico e psíquico em ambiente calmo e acolhedor,
não injetar líquidos nem medicamentos endove- administrar as medicações prescritas e interpretar
nosos dentro do cateter, uso exclusivo para hemo- os exames laboratoriais.
diálise; ambas as luzes do cateter são usualmente
preenchidas com heparina concentrada; manter O enfermeiro é o melhor cuidador e educador do
técnica estéril no manuseio do acesso vascular; doente renal, uma vez que é o profissional que as-
observar o sítio de saída do cateter para os sinais siste mais de perto o paciente nas sessões de he-
de inflamação ou dobra do cateter (MORTON; modiálise, além de reter conhecimento a respeito
FONTAINE, 2011). da situação que vive o indivíduo (BRASILEIRO
et al., 2010).
c | Quanto ao paciente Padilha et al. (2010) informam que, no Brasil, há
Quanto ao procedimento hemodialítico, o enfer- discussões entre a Sociedade Brasileira de Enfer-
meiro tem que ser capaz de instalar, manter e des- magem em Nefrologia e o Ministério da Saúde no
ligar o procedimento de forma segura. Deve reco- sentido de regulamentar a atuação do enfermeiro
nhecer possíveis complicações que possam ocorrer nos métodos dialíticos em UTI, pois faz-se neces-
durante o procedimento, bem como é responsável sário um treinamento teórico e prático para que os
pela manutenção do acesso venoso de todo pacien- enfermeiros atuem com segurança, reconhecendo

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alterações fisiológicas, os sinais e os sintomas apre- através do exame físico do cliente, controle do
sentados pelos pacientes e, assim, implementar peso, verificação da pressão arterial, pulso e do
ações adequadas para um tratamento hemodialíti- acesso vascular, a fim de avaliar a circulação, hi-
co com mínimos riscos. dratação, retenção de líquidos, uremia, estabele-
cendo padrões de procedimento para prevenção,
A equipe de enfermagem tem importância muito
medidas de controle das intercorrências mais co-
grande na observação contínua dos pacientes du-
muns, assim como atentar para o funcionamento
rante a sessão de hemodiálise, podendo ajudar a
do equipamento da hemodiálise seguindo os pa-
salvar muitas vidas e evitar muitas complicações ao
drões de segurança.
fazer o diagnóstico precoce de intercorrências. O
paciente deve ter extrema confiança nos profissio- A equipe de enfermagem precisa estar devida-
nais prestativos, atenciosos e que estão sempre em mente treinada e atenta para a prevenção de in-
alerta para intervir quando necessário. A atuação tercorrências durante a hemodiálise e saber atuar
do enfermeiro diante do procedimento dialítico, corretamente em cada circunstância, visto que
desde a monitorização do paciente, a detecção de essas complicações podem determinar o óbito do
anormalidades e a rápida intervenção, é essencial paciente (ARONE, 1994).
para a garantia de um procedimento seguro e efi-
ciente para o paciente. Como o enfermeiro é o pro-
fissional que assiste mais de perto o paciente nas 3. Conclusão
sessões de hemodiálise, ele deve estar apto a pron- De acordo com os autores analisados, o enfermei-
tamente intervir e, assim, evitar outras potenciais ro tem papel relevante em terapia intensiva no
complicações (MARQUES, 2005). que se refere a procedimentos hemodialíticos ve-
novenosos contínuos (CVVHD). Buscando como
Para Knobel (2006), é papel do enfermeiro de UTI
fundamental importância a qualidade da assistên-
garantir que a dose de diálise prescrita será forne-
cia hospitalar, no sentido de oferecer ao paciente
cida e que o método será realizado com total segu-
um serviço de menor risco e maior eficácia, ocupa
rança, minimizando os riscos inerentes, detectan-
papel importante na assistência aos doentes, de
do, atuando e notificando precocemente possíveis
forma efetiva, no desempenho de suas atividades,
complicações como: febre e calafrios, embolia ga-
para que, de modo diferenciado, a sua função possa
sosa, hemólise, hipotensão, câimbras musculares,
contribuir com benefícios para o cliente, prestan-
entre outras.
do uma assistência sistematizada e humanizada,
Botti e Rodrigues (2009) relatam a ideia de ser tornando suas ações as mais científicas possíveis,
cuidado para os pacientes em tratamento hemo- sem desvincular o apoio emocional aos familiares
dialítico, como estabelecer relacionamento in- e, quando possível, aos pacientes.
terpessoal. Partindo-se do pressuposto de que o
Com isso, foram traçados fatores que contribuem
relacionamento interpessoal faz parte do cuidado
para a importância da assistência de enfermagem
humanizado, entendemos a importância dos pro-
em CVVHD em UTI, como conhecimento científi-
fissionais em propiciar condições favoráveis para a
co e embasamento teórico sobre hemodiálise e pos-
humanização do cuidado.
síveis complicações do procedimento, com preparo
Carpenito (1999) descreve que as intervenções de para atuar quando necessário; treinamento e capa-
enfermagem necessárias ao gerenciamento da he- citação para instalar, manter e desligar a máquina
modiálise possuem importância para a assistência extracorpórea; consciência do seu papel e postura,
adequada, sendo imprescindíveis a observação e como agente transformador e direcionador de uma
o monitoramento durante todo o procedimento, assistência especializada em terapia hemodialítica

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contínua; atuação regulamentada na assistência es- capacitação para o desempenho profissional, bus-
pecializada ao paciente hemodialítico crítico. cando a qualidade da assistência, aprimorando
seus conhecimentos, direcionando suas ações o
A enfermagem, através dos tempos, conquista
seu espaço, com assistência e responsabilidades mais cientificamente possível, para prestar o cui-
no cuidado ao ser humano, influenciando e ad- dado em sua totalidade do modo mais individual
quirindo respeito como profissão direcionada ao possível, respeitando os limites dos pacientes críti-
trabalho especializado. Exige de seus profissionais cos e o direito à vida.

THE IMPORTANCE OF NURSING CARE PROVIDED IN INTENSIVE CARE PATIENTS


IN A CONTINUOUS PROCESS HEMODIALYSIS VENOVENOSOS: LITERATURE SEARCH

Abstract
The ICU nurse is confronted daily with patients of different diagnoses and severe, likely to de-
velop acute kidney injury, and is directly related to this process, since the professional commit-
ment is bound to assist. Thus, we conducted a literature review on the importance of nursing
care provided to critically ill patients in continuous venovenous hemodialysis (CVVHD). The
research sought in the literature as a reference, which the positioning of the attending nurse in
the ICU (Intensive Care Unit) compared to patients using CVVHD. Aiming to demonstrate
factors that contribute to the importance of nursing care in the ICU CVVHD and highlight per-
formance of nurses that care. We performed a literature search on Acute Renal Failure, Chronic
Renal Failure and Hemodialysis, focusing Nursing Care Hemodialysis Continuous venovenous.
We selected articles published between the years 2000-2012, for the books found there was no
year limit or editing, but all material in Portuguese, these were found in public libraries, in the
collections of virtual health library, virtual library UFBA (Federal University of Bahia). Accor-
ding to the authors analyzed the nurse has an important role in intensive care with regard to
hemodyalisis venovenosos continuous, and have been traced factors that contribute to the im-
portance of such assistance.

Keywords
Acute and Chronic Renal Failure. Hemodialysis. Nursing Care Hemodialysis

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A IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE
DO SERVIÇO NA GESTÃO HOSPITALAR

Gildasio Souza Pereira*


Sueli Souza Pereira**

Resumo
Este estudo é baseado em teorias já publicadas e tem como objetivos demonstrar como a quali-
dade do serviço interfere na gestão hospitalar e mostrar a importância da qualidade do serviço
como vantagem na gestão hospitalar. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, de caráter
bibliográfico, que utilizou como base de dados artigos e periódicos do Lilacs, Scielo e da biblio-
teca virtual. No decorrer do trabalho, foi analisado o gerenciamento hospitalar e sua evolução no
mercado atual, buscando-se retratar o processo de qualidade, seu desempenho e sua avaliação no
serviço de saúde como estratégias de acreditação, que visam a garantir a sua atuação no mercado
competitivo de saúde. Concluiu-se que o processo de Qualidade do Serviço na Gestão Hospitalar
se destaca como um instrumento que se enquadra na atual situação do mercado de saúde, em que
o gerenciamento tem que acompanhar as novas tecnologias médicas, não deixando de se preocu-
par com a redução de custos e também de responder às novas mudanças na exigência dos clientes
atendidos por esse mercado.

Palavras-chave
Gestão Hospitalar. Qualidade. Serviços de Saúde.

1. Introdução preocupação maior com os objetos do que com o


ser humano.
A qualidade do serviço sempre foi marcada no
ramo industrial, tendo o conceito de Gestão de Surge algum interesse no ser humano no período
Qualidade Total (GQT) se originado no Japão, da Revolução Industrial, principalmente na Ingla-
espalhando-se depois para os outros continentes. terra, com a atenção à saúde do trabalhador, obje-
Porém, nas últimas décadas, havia, historicamente, tivando manter a produção. No século XX, obser-
nas organizações produtivas de vários países uma vou-se que a ênfase na eficiência da máquina não

* Enfermeiro. Especialista em Enfermagem em Unidade de Tratamento Intensivo-Adulto pela FTC e espe-


cialista em Gestão Hospitalar pela Atualiza Cursos. E-mail: gilpereiraintensiva@gmail.com.
** Enfermeira. Especialista em Enfermagem de Alta Complexidade pela UGF e especialista em Gestão
Hospitalar pela Atualiza Cursos. E-mail: suisp@bol.com.br

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PEREIRA, G.S.; PEREIRA, S.S. | A importância da qualidade do serviço na gestão hospitalar

bastava como método para intensificar a produti- Com referência à questão econômica, o hospital
vidade, concluindo-se que existia a necessidade de responde, hoje, pelos maiores custos nos cuidados
analisar os processos e de se educar o ser humano com a saúde. Por isso, procura diminuir as inter-
com a finalidade de aumentar a eficiência das orga- nações, aumentar os serviços ambulatoriais e a
nizações (CARVALHO, 2005). assistência domiciliar, expandir e formalizar com-
promisso com a qualidade, satisfazendo o usuário
No entanto, a ideia de qualidade surgiu no período e diminuindo custos. (BONATO, 2001).
do pós-guerra, Segunda Guerra Mundial, com o
advento da modernização industrial por intermé- Embora os serviços de saúde tenham sido uma das
dio da administração científica. Segundo Nogueira últimas organizações sociais a adotar os modelos de
(2008), a fase de gestão da qualidade deixou clara qualidade, o fator que vem contribuindo para su-
sua importância, inclusive para as empresas de ser- perar essa situação é a disputa de mercado entre as
viços, e a qualidade deixou, então, de ser exclusivi- instituições hospitalares. Foram observadas, a partir
dade da indústria. Entre essas empresas de serviço, do ano 2000, em alguns hospitais da região central
incluem-se as voltadas à saúde, que foram, talvez, de São Paulo, mudanças no padrão de atendimento
as últimas a se preocuparem com o assunto qua- e na prestação de serviço. Isso alterou o paradigma
lidade. Justifica-se essa preocupação tardia com a anterior, porém ainda de uma maneira que se referia
qualidade pelo fato de que as empresas prestadoras às condições necessárias aos procedimentos médi-
de serviço de saúde acreditavam possuir qualida- cos e ao processo de trabalho, não levando em con-
de em medida suficiente, bem como temiam ser sideração outras necessidades e/ou serviços como: o
complexo o gerenciamento das mudanças que o atendimento da equipe de enfermagem, assistência
processo de gestão, baseado na qualidade, exigia, 24 horas, a avaliação dos resultados com o paciente
e ainda por perceberem que havia superestimação e ainda poucos elementos da estrutura física do hos-
dos conhecimentos médicos e que os profissionais pital. Hoje, cada vez mais, se enfatiza a qualidade na
de medicina eram resistentes ao trabalho em equi- assistência à saúde dentro de um mercado competi-
pe (SOUZA; LACERDA, 2009). tivo. (FELDMAN; GATTO; CUNHA, 2004).

Para Duarte e Silvino (2001), assegurar a qualidade


Dessa forma, observamos que o serviço de quali-
dos serviços de saúde tem sido um desafio, pois, na
dade sempre esteve no ramo do mercado, sendo,
medida em que se sucedem mudanças nas ciências
porém, o setor de saúde uma das áreas a resistirem
da saúde, nos acontecimentos mundiais, nas formas
à implantação desse processo, talvez por conta dos
educativas e nas condições sociais afetadas pelas
paradigmas enfrentados na história da prestação
tendências políticas e econômicas, tornam-se cada
do serviço de saúde.
vez mais competitivas as tendências no mercado.
O conceito “Qualidade” tem destaque nas décadas
Já é dito que a ampliação dos sistemas de saúde e
de 80 e 90, através dos meios de comunicação, fa-
o aumento da complexidade do atendimento têm
zendo as empresas ter vistas ao futuro pela neces-
fortalecido a importância de uma gestão mais efe-
sidade de sustentabilidade. No fim do século XIX e
tiva sobre os recursos do setor e a qualidade do
início do século XX, ocorre uma revolução no pa-
atendimento.
pel e nas funções do hospital, por conta dos avan-
ços tecnológicos e do aparecimento da medicina Segundo Faria (2006), a definição de qualidade
científica. Diante desse fato, Sistemas de Qualida- consegue abranger o que o mercado atual de saúde
des foram adotados na busca de competitividade, vem buscando para suprir as necessidades existen-
de eficiência e eficácia dos processos e dos altos tes, pois a gestão de qualidade caracteriza-se por
índices de desempenho com resultados de sucesso. qualquer atividade coordenada para dirigir e con-

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PEREIRA, G.S.; PEREIRA, S.S. | A importância da qualidade do serviço na gestão hospitalar

trolar uma organização, no sentido de possibilitar a de curso da Escola de Saúde do Exército (Estado
melhoria de produtos/serviços, visando a garantir do Rio de Janeiro) por ter conteúdo de relevância
a completa satisfação das necessidades dos clientes para este estudo.
em relação ao que está sendo oferecido, ou, ainda,
à superação de suas expectativas.
2. Desenvolvimento
Diante do exposto, com base na vivência profis-
sional em assistir pacientes na rede hospitalar pri- 2.1. Gestão de Qualidade em Saúde
vada, observando que hoje eles não só buscam o na Administração Hospitalar
resultado da sua evolução clínica, mas também
Segundo Santos (2011), as organizações de saúde,
as condições proporcionadas para garantir a se-
para funcionarem, precisam de um planejamento
gurança, o conforto e a credibilidade no que lhes
que possa atingir seus objetivos e metas. O admi-
está sendo oferecido, e diante da atual competiti-
nistrador precisa também trabalhar os pontos for-
vidade nas redes gerenciais no que diz respeito à
tes e fracos da organização e, consequentemente, a
qualidade prestada a esse cliente, levantamos um
motivação da equipe de trabalho. Nesse processo,
questionamento entre uma Gestão Hospitalar, que
os clientes não esperam e não toleram falhas, pois
a literatura diria como administração planejada e
qualquer erro incide diretamente sobre sua vida,
organizada, e a Qualidade, que seria uma forma
ou pior, sua perda. Dessa maneira, espera-se que
de gerir de maneira padronizada, com rotinas,
normas e processos, uma oferta de assistência ao a prestação de serviços médico-hospitalares seja
cliente dentro das suas expectativas e, ao mesmo executada da melhor forma e eficácia possíveis.
tempo, com redução de custos. (SOUZA; LACERDA, 2009).

Assim, temos como objetivos: demonstrar como a Podemos dizer que o serviço de saúde e sua ad-
qualidade do serviço interfere na gestão hospitalar ministração no âmbito hospitalar sempre apresen-
e mostrar a importância da qualidade do serviço taram controvérsias nesse mercado, uma vez que
como vantagem na gestão hospitalar. Desta for- sua matéria-prima é o doente em busca de cura ou
ma, esperamos que este trabalho contribua para solução para o seu problema, e o produto final é o
um melhor conhecimento e entendimento sobre a resultado da saúde de seu cliente, o que nos dificul-
Importância da Qualidade e sua Interferência no ta mensurá-los no mercado hospitalar. São coisas
Serviço de Gestão Hospitalar. que independem apenas de um bom material para
conseguirmos chegar a um possível resultado final
O presente estudo se caracteriza por uma pesquisa de excelência. Quando se trata de administração
de natureza científica, com o objetivo descritivo de hospitalar, vivenciamos diferentes situações que
abordagem qualitativa e de caráter bibliográfico, nos levam a questionar o que queremos da nossa
realizada através de artigos e periódicos na base empresa no nível de satisfação do cliente e até que
de dados do Lilacs, Scielo e da biblioteca virtual. ponto se pode custear essa satisfação para obter-
Foram utilizados os descritores: Gestão Hospitalar, mos retorno na nossa receita.
Qualidade e Serviços de Saúde. Foram adotados
como critérios de inclusão artigos e periódicos no Faz-se necessário lembrar que, ao longo da his-
idioma português, com um recorte entre os anos tória da administração hospitalar, destacam-se os
de 2000 a 2012. Foram analisados e selecionados paradigmas encontrados nesse mercado, por ter-
11 artigos por se enquadrarem nos objetivos do es- mos categorias médicas que administram as redes
tudo da pesquisa, acrescentando-se também a essa hospitalares com visões diferenciadas do adminis-
revisão uma dissertação de trabalho de conclusão trador, prevalecendo o regime tecnicista no seu ge-

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PEREIRA, G.S.; PEREIRA, S.S. | A importância da qualidade do serviço na gestão hospitalar

renciamento em busca de resultado do diagnóstico da através de cursos, publicações e organizações


e da cura do cliente. Observa-se a falta de uma vi- não governamentais que se interessaram pelo as-
são mais ampla do contexto situacional que o mer- sunto. O Estado de São Paulo, nesse movimento,
cado experimenta, sem um retorno desse custo e a se destaca por apresentar grande número de hospi-
manutenção desse gerenciamento. Essa dificulda- tais, públicos e privados, que dispunham de cursos,
de no gerenciamento é constantemente encontrada editoras e seminários na área, sem contar que já
na administração hospitalar. havia um conceito, talvez sem um embasamento
maior, de que o Estado de São Paulo teria a maior
Alguns autores afirmam que existe uma carência
parte dos melhores serviços de saúde do Brasil. Em
de cursos de administração para a área de saúde,
contrapartida, a imprensa lança fatos da crise da
o que torna esse gerenciamento, às vezes, ineficaz
saúde, da falta de qualidade do serviço e da sua
na organização hospitalar. Observa-se uma cons-
ineficiência. Ainda assim se observa a constante
tante renovação na área técnica/médica no âmbito
busca desses serviços pelos brasileiros para a so-
das organizações hospitalares, porém, na área ad-
lução de seus males, bem como profissionais atrás
ministrativa, o mesmo não ocorre com tanta fre-
de empregos e melhoria das suas atividades profis-
quência, o que talvez traga uma acomodação do
sionais na área de saúde. (MALIK; TELES, 2001).
administrador no sentido de buscar mudança das
rotinas de trabalho. (SEIXAS; MELO, 2004). Diante dessa nova era de mudança no gerenciamen-
Podemos concluir que a administração hospitalar to da saúde na área hospitalar, cada vez se busca
nada mais é que uma constante busca de convi- mais a tão falada “Qualidade”, que vem a retratar o
vência harmoniosa entre a equipe multidiscipli- padrão assim colocado nos serviços de gestão hos-
nar de saúde, que se preocupa em salvar a vida do pitalar. No entanto, se questiona a importância des-
seu cliente, e o administrador, que precisa ofere- sa qualidade para atender a essa rede de mercado.
cer os recursos materiais e tecnológicos de custos Segundo Duarte e Silvino (2010), para essa mu-
caros, mas buscando manter a saúde financeira dança, a gestão de qualidade deve oferecer uma
da instituição. opção para reorganização gerencial das organiza-
Segundo Malik e Teles (2001), para perceber a mu- ções, pois as tendências em gestão reforçam a ideia
dança, precisamos começar a visualizar os indicado- da qualidade como instrumento-chave na busca
res. Isso vale para os procedimentos de administra- da sobrevivência em um mercado competitivo. A
ção, os de informação médica ou de epidemiologia gestão de qualidade tem como princípio a filosofia
hospitalar, que nos permitam acompanhar, pelo orientada para a satisfação do usuário, na busca de
menos em cada hospital ou nos serviços financia- motivação, no envolvimento dos profissionais e de
dos pelo mesmo caixa, a evolução no tipo de pa- todos os colaboradores e na integração e interrela-
ciente (gravidade), tipo de doença (diagnóstico) e ção nos processos de trabalho.
tipo de cuidado (evolução).
De acordo com Souza e Lacerda (2009), ao buscar
Nas décadas de 80 e 90, houve necessidade de mu- serviço de qualidade para o mercado hospitalar,
danças no gerenciamento administrativo hospita- é preciso estar atento a todas as características do
lar. Os clientes passaram a não mais buscar só a serviço que afetam a percepção final do cliente e
cura nos serviços de saúde, mas também uma as- o seu nível de satisfação. Esta situação valoriza a
sistência qualificada para satisfazer às suas neces- presença de um sistema de qualidade que possa
sidades. Nessa mesma época, por certa forma de contribuir para que os resultados possam atingir
modismo, começou a se falar em qualidade na área o esperado, pois o setor de saúde é uma área em
de saúde/hospitalar, tendo sua divulgação amplia- que a relação entre “cliente” e “fornecedor” possui

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PEREIRA, G.S.; PEREIRA, S.S. | A importância da qualidade do serviço na gestão hospitalar

características singulares, visto que, nessa relação, va a integração de um serviço que venha atender às
está em evidência a saúde, às vezes, a própria vida necessidades dos pacientes que buscam a saúde, ou
do cliente. Partindo desse pressuposto, é preciso seja, sua satisfação através da qualidade do serviço
entender as necessidades e desejos dos clientes e que lhes é prestado, de uma equipe multidiscipli-
fornecer um processo que os satisfaça da melhor nar com condições tecnológicas para garantir uma
maneira possível, podendo esse ser alcançado com boa assistência e um administrador que satisfaça
o planejamento da qualidade. às suas necessidades de maneira segura e lucrativa.

Pode-se destacar, também, que o planejamento da Para Roeder (2008), programas de qualidade re-
qualidade mostra sua importância quando evita presentam, no momento, o que há de mais novo no
problemas no processo produtivo, como falhas de mundo da administração hospitalar, podendo-se
equipamentos, desperdícios, erros recorrentes, fal- dizer que esse tipo de gestão na área da saúde deve
ta de fornecedores, funcionários, e deve ser realiza- ser aplicado de acordo com a nova realidade situa-
do antes e de maneira proativa, ou seja, antecipar cional do mercado. A medicina do futuro não será
as possíveis ocorrências que gerem reclamações, praticada somente agregando novas tecnologias.
perda de clientes e redução da faixa de atuação no Faz-se necessária a compreensão urgente da forma
mercado. Planejar a qualidade significa evitar o adequada e moderna de administrar serviços.
comportamento reativo (SOUZA; LACERDA, 2009).
Considerando-se os tempos atuais e a evolução dessa
O gerenciamento de serviço se caracteriza pela for- prestação de serviço de qualidade, vale ressaltar que
ma organizacional que faz a qualidade do serviço a Qualidade, ou Melhoria Contínua da Qualidade, se
ser percebida pelo cliente como a mais importan- destaca neste contexto como modelo de um proces-
te força impulsionadora da operação do negócio. so que vem suprir as necessidades de assistir a essa
Sua filosofia de administração de serviço sugere competitividade no mercado. Isso se deve por ser um
que todos tenham um papel específico no esforço fenômeno continuado de aprimoramento, que estabe-
de garantir que o atendimento funcione bem para lece progressivamente os padrões, resultados dos estu-
o cliente. Assim, qualquer pessoa que esteja em dos de séries históricas na mesma organização ou de
contato direto com o cliente deveria colocar-se no
comparação com outras organizações semelhantes, em
seu lugar, com o seu ponto de vista e fazer o pos-
busca do defeito zero-situação que, embora não atin-
sível para atender às suas necessidades. A filosofia
gível na prática, orienta e filtra toda ação e gestão da
de administração de qualidade de serviço diz que
qualidade. É tido também como um processo essen-
toda organização deve atuar como um grande ser-
cialmente cultural, de maneira que envolve motivação,
viço de atendimento ao cliente (ROEDER, 2008).
compromisso e educação dos participantes da entida-
Diante do exposto, a qualidade no serviço de ges- de, que são assim estimulados a uma participação de
tão hospitalar entra nesse mercado com base na longo prazo no desenvolvimento progressivo dos pro-
sua importância em assistir o cliente dentro das cessos, padrões e dos produtos da instituição. (FELD-
suas necessidades como um todo, não apenas pro- MAN; GATTO; CUNHA, 2004).
movendo sua saúde, mas lhe oferecendo um ser-
viço de qualidade e, ao mesmo tempo, meios para 2.2. Avaliação do Serviço de
gerenciamento desse serviço sem maiores prejuí- Qualidade na Gestão Hospitalar
zos financeiros.
A avaliação do serviço de qualidade na gestão
Desta forma, a gestão da qualidade de saúde se des- hospitalar tem que estar baseada em um conceito
taca por evidenciar sua importância no gerencia- propriamente dito para ser assegurada. Segundo
mento administrativo hospitalar, no qual se obser- Roeder (2008), o conceito de qualidade em insti-

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PEREIRA, G.S.; PEREIRA, S.S. | A importância da qualidade do serviço na gestão hospitalar

tuições hospitalares se apresenta em quatros visões senvolve o tema Qualidade e Avaliação Hospitalar,
particulares de qualidade: o desejo do paciente de partindo, a princípio, da publicação de Normas e
ser tratado com respeito e interesse; a busca, pelo Portarias, a fim de regulamentar essa atividade.
médico, de tecnologias especializadas mais avança- Atualmente, trabalha na implantação de um siste-
das para o tratamento dos pacientes, aprimorando, ma eficaz e capaz de controlar a assistência de saú-
assim, seus conhecimentos; a busca, pelo conselho de no Brasil. Para a Organização Mundial da Saúde
administrativo, em ter os melhores serviços e pro- (OMS), a partir de 1989, a Acreditação passou a
fissionais da área de saúde para um atendimento ser elemento estratégico para o desenvolvimento
eficaz; e a oferta, pelo administrador, de melhores da qualidade na América Latina. Segundo Novaes
serviços e profissionais da área de saúde, o melhor e Paganini (1994), a acreditação é o procedimento
atendimento médico hospitalar numa avaliação de avaliação dos recursos institucionais, voluntá-
contínua dos serviços prestados para a implemen- rios, periódicos, reservados e sigilosos, que tende
tação de um programa de melhoria continuada a garantir a qualidade da assistência através de
através da educação. padrões previamente aceitos. Os padrões podem
ser mínimos (definindo o piso ou a base) ou mais
Podemos concluir, então, que a qualidade no servi-
elaborados e exigentes, definindo diferentes níveis
ço de saúde hospitalar tem como definição assistir
de satisfação e qualificação como complementos.
o cliente dentro das suas necessidades de saúde e
(FELDMAN; GATTO; CUNHA, 2004).
satisfazê-lo, promovendo condições tecnológicas
aos profissionais da área de saúde e assegurando ao O que reforça a importância da acreditação na ava-
administrador um gerenciamento através dos pro- liação do serviço de qualidade que está sendo pres-
cessos de avaliação contínua do serviço prestado. tado na instituição é o fato de ser realizada através
de solicitação feita pelo próprio diretor da institui-
Porém, a situação atual vem mostrando que a assis-
ção, por decisão voluntária. Durante esse proces-
tência na rede hospitalar, com qualidade de servi-
so, o planejamento da avaliação será baseado nas
ço, tem trazido discussões sobre os custos elevados
características do hospital informadas no impres-
do atendimento médico e sobre o consumidor que,
so da solicitação da avaliação. Nesse momento, os
cada vez mais, se volta para a defesa de seus di-
avaliadores verificarão a conformidade da estru-
reitos aos serviços de saúde, tendo suas reivindica-
tura, dos processos e dos resultados obtidos pela
ções amparadas pelas leis. Alguns estudos já dizem
instituição em comparação com os padrões do ma-
que a satisfação do cliente está mais em ser tratado
nual. No decorrer desse processo, essa avaliação se
como um indivíduo do que o seu restabelecimento
baseará em entrevistas com pacientes e familiares,
propriamente dito, pois, hoje, o consumidor está
entrevistas com funcionários do hospital, reuniões
mais direcionado para os cuidados personalizados,
e observações diretas por meio de visitas aos di-
estabelecendo padrões como conforto e privacida-
versos setores do hospital, incluindo os prontuá-
de, do que a qualidade técnica. (ROEDER, 2008).
rios dos pacientes. Desde 1998, foi constituído o
Com a evolução dos serviços de qualidade na ges- Consórcio Brasileiro de Acreditação de Sistemas
tão hospitalar, com as mudanças nas exigências de e Serviços de Saúde. (CBA), tendo como missão
satisfação do cliente a esse serviço e o crescimento “Contribuir para a melhoria da qualidade do cui-
na competividade no mercado desta área, teve iní- dado aos pacientes nos hospitais e demais serviços
cio a Avaliação da Qualidade na Saúde. de saúde no País por meio de um processo de acre-
ditação”. (BONATO, 2001).
Para garantia e segurança dessa qualidade de assis-
tência que está sendo prestada ao cliente no âmbito Com a aprovação dessa avaliação, o hospital ob-
hospitalar desde 1970, o Ministério da Saúde de- tém o certificado de “Hospital Acreditado”, tendo o

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PEREIRA, G.S.; PEREIRA, S.S. | A importância da qualidade do serviço na gestão hospitalar

mesmo que demonstrar conformidade com o ma- dade como custo, enfatizava a gestão como contro-
nual de padrões dessa metodologia. Segundo a Or- le e identificava a delegação de poder como pro-
ganização Nacional de Acreditação (ONA), acre- blema, uma visão que busca a melhoria contínua,
ditar significa “conceder reputação a; tornar digno possui os seus recursos focados na qualidade, nas
de confiança”. Dessa forma, a importância em es- melhorias entre departamentos, trabalha com con-
tar acreditado adquire o status de instituição que ceito de gestão baseado em evidência, considera o
merece a confiança da sua comunidade. Assim, a gestor como colaborador e os empregados, solu-
“Qualidade” de saúde passa a garantir uma maior cionadores de problemas. (BORBA; KLIEMANN
atuação no mercado competitivo, porém sem estar NETO, 2008).
à mercê dos interesses específicos das instituições.
(BONATO, 2001). Para Bonato (2001), o serviço de qualidade traz
suas vantagens no momento em que os hospitais
Desta forma, podemos dizer que a acreditação, têm o intuito de alcançar os mais elevados padrões
dentro do contexto de avaliação do serviço de qua- assistenciais, através de iniciativas que respondam
lidade que está sendo realizado na administração às necessidades dos clientes. Tornou-se a qualida-
hospitalar, vem não só garantir a qualidade desse de um fator significativo, conduzindo instituições
serviço, como também reforçar a importância da para os mercados nacionais e internacionais, bus-
“Qualidade” no gerenciamento hospitalar. Esse cando êxito organizacional e crescimento.
fato contribui para assegurar a eficácia do atendi-
mento que está sendo prestado ao paciente e traz Pode-se também destacar nesse serviço de qualida-
às instituições condições de manterem-se no mer- de sua intervenção como melhoria para as institui-
cado competitivo atual. ções quando cria uma cultura aberta ao aprendiza-
do, baseada em eventos adversos e preocupações
2.3. A Interferência e suas vantagens na com a segurança; estabelece uma liderança cola-
Qualidade de Serviço na Gestão Hospitalar boradora, que preconiza prioridades com relação
à qualidade e segurança do paciente; permite de-
Segundo Borba e Kliemann Neto (2008), as pes- senvolver estratégias para redução de riscos e tá-
quisas em gestão na área de saúde são limitadas, se ticas para prevenir eventos adversos, tendo como
comparadas às pesquisas em outros setores, visão
objetivo a busca da garantia da satisfação do clien-
reforçada pela constatação de que pouca evidência
te. A eficácia nos processos de gestão e assistência
foi gerada sobre as melhores práticas gerenciais,
hospitalar somente tem sentido se estiver a serviço
que não são amplamente compartilhadas.
de uma atenção melhor e mais humanizada ao pa-
Desse modo, mensurar a interferência bem como ciente. (BONATO, 2001).
as vantagens da gestão de qualidade no serviço
Reforçando a atual situação na gestão hospitalar, é
hospitalar se torna complexo, partindo-se do pres-
destacado que a atenção gerenciada é a estratégia
suposto de que a maior evidência está na evolução
por excelência do capital financeiro para reorgani-
do paciente como cliente e suas necessidades e na
zação do trabalho em saúde, o que pode interferir
competitividade no mercado para satisfazer a essas
no âmbito da gestão hospitalar. Embora tenhamos
necessidades, de maneira eficaz e sem prejuízo fi-
dificuldade em mensurar as vantagens e interfe-
nanceiro para a instituição.
rência da qualidade de serviço na gestão hospita-
A “Qualidade” interfere na gestão hospitalar a par- lar, podemos relatar a necessidade desse serviço no
tir do momento em que ocorre uma mudança no mercado atual, o qual se caracteriza pela mudança
mercado hospitalar, em que uma visão vinculada da concepção de saúde, pelas expectativas em rela-
ao atendimento de padrões, que percebia a quali- ção ao atendimento hospitalar, tanto nas práticas

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PEREIRA, G.S.; PEREIRA, S.S. | A importância da qualidade do serviço na gestão hospitalar

de saúde como no gerenciamento da instituição. 3. Conclusão


(FEUERWERKER; CECÍLIO, 2007).
Com base na atual situação do mercado de saú-
Para Borba e Kliemann Neto (2008), as vantagens de, etendo em vista os argumentos apresentados
e a interferência da qualidade de serviço na gestão ao longo deste artigo, temos um serviço que vem
se ampliando não só pela tecnologia da medici-
hospitalar estão em vários atributos. Destacam-se
na como também pelas mudanças de valores dos
no contexto do serviço, nas formas de interação
clientes assistidos. Chegamos à conclusão de que,
entre o prestador e o paciente, na existência de
apesar das dificuldades em encontrarmos na lite-
sistemas de qualidade que certificam os processos
ratura dados de evidência, podemos dizer que a
de atendimento, sobretudo, numa visão sistêmica Qualidade do Serviço traz uma interferência na
dos serviços, considerando a estrutura existente, os Gestão Hospitalar, partindo do contexto de que o
processos de atendimento e os resultados obtidos. gerenciamento deve estar atento a manter o aten-
dimento, de maneira a garantir o seu espaço no
Embora a literatura não tenha um dimensiona-
mercado competitivo e poder assistir o cliente,
mento em valores para mensurar as vantagens e a
buscando satisfazer às suas necessidades. Con-
intervenção desse processo da qualidade de servi-
cluímos também que a importância da qualidade
ço na gestão hospitalar, é notável a sua importância
do serviço como vantagem na gestão hospitalar
diante da atual situação gerencial de competitivi- se destaca pelo fato de o conceito de “Qualidade”
dade em que se encontra a gestão hospitalar. Po- mostrar que é importante na sua forma de atuação
demos observar a sua interferência para o acom- através dos processos que estão sendo utilizados
panhamento das mudanças do gerenciamento de mundialmente, garantindo seus serviços de saúde
instituições de saúde no mercado. por meio da acreditação.

THE IMPORTANCE OF THE QUALITY OF SERVICE IN HOSPITAL MANAGEMENT

Abstract
This study is based on theories already published and aims to demonstrate how the quality of
service affects hospital management and to show the importance of the quality of service as an
advantage in hospital management. This is a qualitative bibliographical research, which used as
database, articles, journals from Lilac, Scielo and virtual library. During the course of our work,
we analyzed the hospital management and its evolution in the current market to show the process
of quality, its performance and its evaluation in the health service as strategies for accreditation
in order to ensure its performance in the competitive market of health service. It was concluded
that the process of Quality of Service in Hospital Management stands as a process that fits in to-
day’s healthcare market in which the management has to keep up with new medical technologies,
not worrying about the cost savings and also responding to new changes in the requirement of
costumers served by this market.

Keywords
Hospital Management. Quality. Health Service.

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PEREIRA, G.S.; PEREIRA, S.S. | A importância da qualidade do serviço na gestão hospitalar

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Luiz Carlos de Oliveira. O hospital e a formação em
BONATO, Vera Lúcia. Gestão da qualidade em saúde: saúde: desafios atuais. Ciência & Saúde Coletiva, São
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