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INTRODUÇÃO
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CAPÍTULO 01
Homens e mulheres traem. As estatísticas atuais mostram
que os homens traem mais que as mulheres, mas os valores
não sofrem muita discrepância. Tem ocorrido um vertiginoso
aumento no número de traições femininas. Em geral, as
mulheres são mais espertas quanto à traição, sendo mais
difíceis de serem pegas. Geralmente elas percebem a
possibilidade de perderem a família, entre outras coisas, e
acabam terminando com maior facilidade essas relações.
Já os homens não. Geralmente costumam ser mais
inconsequentes.
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O primeiro passo para superar uma
traição é entendermos os motivos pelos
quais ela aconteceu.
Denominarei de forma bem explícita quais as principais
razões para a traição. Não que seja algo que concorde,
ou que homens e mulheres tenham direito; não é isso.
Contudo, de fato, apenas elencar os motivos sob uma
perspectiva do ponto de vista psicológico, antropológico,
espiritual e fisiológico. Vamos colocar estas quatros
vertentes para entendermos o que leva a homens e
mulheres, de fato, a traírem.
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Qual seria o principal motivo de traição do ponto de vista
fisiológico? “Como assim? Fisiologia interfere na traição?”.
Sim, interfere. Dentro dos relatos de traição feminina que
tenho acompanhado, uma porcentagem muito grande,
cerca de 60% a 70%, de mulheres que acabam incorrendo
em traição, fazem uso de anabolizantes – testosterona. O
uso de testosterona faz com que a libido da mulher fique
extremamente aflorada, e isso acaba proporcionando uma
abertura à traição.
Por que?
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Vou explicar como funciona o mecanismo da pornografia na
cabeça da pessoa, para entenderem o motivo que acaba
sendo a principal causa, do ponto de vista fisiológico, para
as traições. Tanto de homens quanto de mulheres, mas
especialmente de homens. Quando digo pornografia
refiro-me à pornografia e à masturbação.
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Por exemplo, quando estou com desejo de comer um
chocolate, eu como o chocolate e pronto, essa sensação
de prazer que me é causada, é exatamente o estímulo
dopaminérgico. No entanto, a dopamina possui um pequeno
problema: todas as vezes que ela causa o efeito de prazer,
ela produz uma sensibilidade nos receptores. O que isso
quer dizer? Significa que, na próxima vez que você for
experimentar aquele mesmo estímulo, ele terá que ser mais
intenso, para que gere a mesma quantidade de prazer.
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Assim como acontece no viciado com drogas, cocaína,
crack, o estímulo é o mesmo. Vai crescendo e evoluindo até
chegar a um ponto em que só o estímulo virtual não é o
suficiente, porque cada vez mais, fica difícil causar aquele
último estímulo. E o que fazem?
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No fundo, no fundo, na maioria das traições o que falta
acontecer são as oportunidades – que faria os casos
dispararem. Hoje, por conta das redes sociais, é muito
diferente. Antigamente, o homem poderia sair de casa e ficar
dias longe, e depois voltava. Hoje não acontece isso mais, o
que acaba dificultando o processo.
Saibam que boa parte das traições não acontece por falta
de oportunidade, porque os homens que são devidamente
viciados em pornografia são homens que estão com o
gatilho pronto para em algum momento acabarem caindo
nisso. O que precisa ser feito é tratar a pornografia antes;
antes que se chegue a esse estágio. “Ai, então quer dizer
que o meu marido que assiste pornografia me trai?”. Não,
eu disse que é um processo, é uma evolução. Nem todos os
homens farão este processo rapidamente, e geralmente, as
evoluções e os gatilhos são liberados quando eles sofrem
algum tipo de frustração na vida. Obviamente que nem
todo mundo irá se comportar do mesmo jeito, mas sim,
simplesmente para entenderem o mecanismo.
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Quando falamos sobre traição, é engraçado parar para
pensar que sempre temos uma visão muito elaborada do
nosso marido ou da esposa sobre a traição. Do tipo “nossa,
ele sabia que eu estava passando por um momento
delicado”. “Ele era um homem que ia à missa, era religioso e
fez isso comigo”. Como se de fato quem trai tenha feito uma
negação moral muito grande.
Entendem?
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Por qual motivo falei de todo esse mecanismo? Porque é
importante vigiarmos essas coisas. “Será que o meu marido
tem vício em pornografia?”. “Será que a minha esposa tem
vício em pornografia?”. É preciso saber lidar com certa
docilidade com os homens e mulheres que estão caindo
nesse vício. Saber lidar com certa atenção, com amor
mesmo. Essas pessoas estão enfrentando um vício. É como
um usuário de drogas. Se você chegar brigando, não vai
adiantar nada. Essa pessoa precisa ser, sobretudo, amada,
acolhida; precisa ser trazida para perto. E só então você a
oferece ajuda. É necessário, substancialmente, enfrentarmos
essa problemática da pornografia. Urgentemente.
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Do ponto de vista antropológico, qual a principal causa da
traição? Aqui usarei um argumento chamado “VSM”: Valor
Sexual de Mercado. A teoria do Valor Sexual de Mercado foi
recentemente cunhada por antropólogos, e essa teoria – na
minha honesta opinião – é meio falha; não serve para muita
coisa. Serve para explicar o fenômeno da traição muito bem
e da imaturidade masculina e feminina. Do deslocamento
do eixo masculino e feminino, é possível entender muito
bem, a partir da teoria do Valor Sexual de Mercado.
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sensualidade, poder aquisitivo e de mando – de mandar
–, habilidade e inteligência, e, por último, a personalidade
e a atitude. Ou seja, a grandiosidade da personalidade e a
firmeza diante da realidade. Essas quatro questões são os
quatro fatores que fazem avaliarmos uma pessoa e o valor
dela no “mercado” – entre muitas aspas.
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“Ah, mas eu sou desapegada a isso, não quero um homem
que tenha dinheiro”. Mentira sua. Honestamente falando, não
faz o menor sentido você querer se envolver com um homem
que não tenha ambições, que não trabalhe direito, que é
um encostado; você não quer isso. Não faz o menor sentido.
No mínimo você está falseando a verdade. É uma histeria.
Voltando, um homem que seja inteligente e habilidoso, e
que tenha personalidade e atitude. Isso é o que uma mulher
procura em um homem.
E o homem?
O homem irá procurar estes mesmos quatro fatores? E que
quanto mais, melhor? Não. Um homem irá procurar uma
mulher que seja bela e sensual, que tenha personalidade e
atitude – desde que essa personalidade não suprima a dele
–, não irá procurar uma mulher que tenha mais dinheiro que
ele. Não e ponto. “Ah, mas o meu namorado..”. Ou ele está te
enganando, ou faz parte do 0,001% da estatística, o que pode
ser, mas, via de regra, ele está te enganando.
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Um homem não está procurando uma mulher que
tenha status e dinheiro. E um homem também não está
procurando uma mulher que seja mais habilidosa e
inteligente que ele. É aqui que se entende por que você tem
dois MBAs, fala francês, japonês, ganha R$15 mil por mês
e está solteira, no auge dos seus 30 anos de idade. “Por
que estou vivendo isso?”. Porque as mulheres colocaram
na cabeça que o homem precisa querer aquilo que elas
querem. Porém, do ponto de vista antropológico, não é assim
que acontece. “Ah, isso é preconceito seu”. Honestamente
falando, não é. Eu não gostaria que fosse assim, eu
realmente discordo da natureza nesse ponto, mas é o que é.
A natureza é assim, é formada desse jeito, e o que podemos
fazer é nos adequarmos a ela.
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A mulher então escolhe quatro fatores, e o homem só dois.
Quer dizer que, na balança do Valor Sexual de Mercado, o
homem sempre precisa se sentir ligeiramente acima. Não
excessivamente, senão ele desprezará a mulher que ali está.
E também não pode se sentir menor que a mulher. Por quê?
Porque a partir do momento em que ele começa a se sentir
menor que a mulher, ele começa a se sentir inseguro.
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O que é a violência masculina?
São artifícios que ele irá usar para tiranizar a mulher e
reverter essa balança. Começa a falar alto, nas discussões
ele levanta, ele começa a agir de forma impulsiva para
cima dela, ele a insulta, diminui e a menospreza. Vocês já
viram uma cena dessas? É aquele homem que começa a
diminuir a mulher em todos os fatores: “porque você não
presta; a sua família não presta, isso e aquilo”. Ele começa
a diminuí-la de todas as formas possíveis que consegue,
violentamente. Se isso se intensifica, alguns homens podem
chegar, por exemplo, às vias de fato, o que é um absurdo,
que é onde homens se tornam agressivos mesmo.
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E uma das formas de violência masculina é quando o
homem trai a mulher. É por isso que a traição masculina
geralmente é com uma mulher que tem um “Valor Sexual de
Mercado” menor que o da esposa. “Como assim menor? Meu
marido me trocou por uma novinha!”. É, mas ela só tinha
beleza; não tinha inteligência, não era habilidosa, não tinha
dinheiro, não tinha personalidade, não tinha nada. Ela só era
bonitinha. Era só isso que tinha, não tinha mais nada. Era
uma mulher fraca, menor. E o homem vai sempre escolher
essa mulher mais frágil. Por quê? Porque quando ele escolhe
essa mulher mais frágil, é como se ele dissesse para você,
inconscientemente – é uma percepção antropológica –
“você não vale isso tudo que diz ser”, é como se ele tentasse
baixar a sua dignidade, à força. Ele arrasta a esposa para
baixo, traindo-a.
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“O que eu faço?”, as mulheres podem estar se perguntando.
“Eu tenho que parar de ganhar dinheiro, ser menos forte na
vida, ter menos personalidade, o que eu tenho que fazer?. “O
meu marido é fraco, preguiçoso, o que eu faço?”. Você não
precisa desnivelar a balança, você só precisa convencê-lo
de que ele pode ser melhor do que está sendo.
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Eu sei que algumas terão um olhar preconceituoso quanto
a isso, e dizer que não querem fazer. Tudo bem. Mas o que
estou ensinando é um conceito antropológico que funciona.
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Não, não é próprio do homem. Uma minoria, os 0,01% irá
fazer, mas é uma raridade. O que a maioria dos homens que
está abaixo irá fazer? Rebaixar a mulher. Se, ao invés disso,
a mulher o valoriza, quando ele parar de se sentir inseguro
ele começará a crescer novamente sozinho. Às vezes, é
simples a atitude da mulher. A mulher precisa ser a primeira
que vê algo que ele não viu. Ela precisa alimentar nele esse
sentimento de que ele pode mais.
“E a traição feminina?”
Ainda olhando do ponto de vista antropológico, com base
no conceito de Valor Sexual de Mercado, como é a questão
feminina? Diferentemente do homem, que é inseguro e
violento, a mulher tem outras duas características, que é ser
inconstante – e com o ciclo hormonal fica fácil de entender
isso. Tem hora que está fértil, tem hora que não está; tem
hora que está feliz, tem hora que está triste.
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Enfim, essa inconstância feminina é normal e natural. E o
segundo fator da mulher é que ela é hipergâmica. O que
é a hipergamia feminina? É a disposição antropológica da
mulher de estar sempre buscando algo melhor. “Como
assim?”.
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Ela volta os olhos para ele. E se ela não tiver um peso moral
sobre ela, se for imatura, se não tiver o peso da verdade, e
não tiver um casamento sólido, o que ela vai fazer? Ela vai
procurar esse homem melhor.
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Preste atenção.
Por que o argumento antropológico é válido? Porque nós
vivemos numa sociedade absolutamente imatura. Se
nós vivêssemos numa sociedade madura, que sabe que
a grama é verde, tudo bem. Não precisaríamos utilizar o
argumento antropológico, e essa questão de Valor Sexual
de Mercado não iria existir; e falaria que isso é coisa de
bicho. O problema é que vivemos em uma sociedade tão
lixo, tão imatura, que o argumento antropológico funciona.
Conseguem entender?
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Quando falamos de antropologia e Valor Sexual de Mercado
estamos falando do homem se comportando como bicho.
A teoria do Valor Sexual de Mercado foi cunhada olhando
para animais na savana. E estou usando ela porque
funciona, diante de uma sociedade absolutamente imatura.
O principal fator para a traição masculina ou feminina, do
ponto de vista antropológico, é esse que acabo de explicar:
as quatro variáveis do Valor Sexual de Mercado.
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Abordarei agora o argumento psicológico. Qual a principal
causa, dentro da psicologia, da psique, que leva à traição?
O egoísmo. O egoísmo é o excesso do ego. O ego é a visão
de mim mesmo. O ego é a minha tomada de vontade, é a
minha vontade. Isso é o meu ego. O egoísmo é o excesso
da minha vontade. É quando eu faço aquilo que eu quero;
voltando a minha vontade para mim mesmo. É um olhar
autocentrado. É um autoamor, automimo, autorreferrência.
Um amor próprio. É preciso tomar muito cuidado com isso,
porque hoje escutamos a mídia, professores cunhados
sobre uma doutrina absolutamente progressista e socialista
na faculdade de psicologia de que nós precisamos “nos
amar mais”. “Eu preciso me amar mais”, “eu preciso ter mais
amor-próprio”.
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O que é o amor?
O amor é o Verbo encarnado. “Et verbum caro factum
est”, e o verbo se fez carne. O amor é isso, é uma pessoa, o
Cristo encarnado. E essa pessoa foi dada da parte de Deus,
gratuitamente para nós, humanidade. Deus nos dá o seu
filho único para que todo aquele que nele crê não pereça,
mas tenha vida eterna. Deus dá o amor para nós, e nos pede
uma coisa, amai-vos uns aos outros como eu vos amei.
Então preste atenção, isso é muito sério, o amor nunca pode
ser dado para mim mesmo. O amor não pode ser uma seta
que aponta para o lado de dentro. Se o amor aponta para
o lado de dentro não é amor; tem outro nome, se chama
egoísmo.
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O ato de egoísmo é o ato de amar a mim mesmo. Amor-
próprio, narcisismo e egoísmo são tudo a mesma coisa. “Isso
significa que não é possível ir à academia para se cuidar?
Ou se vestir bem?”. Honestamente falando, você deve fazer
isso. Só que a questão é por quem você está fazendo.
Conseguem entender a
diferença? Entendem o quão
forte é isso? A primeira tem
o destino dos egoístas, e
a segunda tem o destino
daqueles que amaram.
Percebam a diferença da
vaidade ruim e de uma
vaidade boa. O amor é uma
seta que aponta para o lado
de fora; e será sempre assim.
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Logo, a principal causa da traição matrimonial, no ponto de
vista psicológico, é essa vontade exagerada de amarmos a
nós mesmos. Uma pessoa que ama em demasia a si mesmo
é uma pessoa narcisista.
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O egoísmo é o principal fator psicológico que destrói os
casamentos. Essa vontade maluca de que o outro faça por
mim, que o outro olhe para mim, que seja feita a minha
vontade, que seja do meu jeito, que seja na minha hora.
O egoísmo é como se o nosso corpo fosse preenchido por
amor e egoísmo, e a cada porcentagem de egoísmo a
menos que eu tenho, é uma porcentagem a mais de amor.
Como se fosse água e óleo. Muito ama aquele que se doa.
Ou seja, se eu não me doo pelo outro, eu me dou por mim
mesmo; e sou cada vez mais egoísta.
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A culpa da traição é de quem trai, sim, mas o que alimentou
essa traição – o egoísmo – faz a culpa ser dos dois. Sempre.
Não adianta negar. A traição nunca irá partir de um só. “Eu
fiz tudo pelo meu casamento, e ele não fez nada”. Isso não
existe, não é verdade. O egoísmo foi alimentado da parte
dos dois.
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Por exemplo, como você convence um ateu de que a
pornografia é errada? Bom, você não poderá usar o
argumento moral de que é um pecado, que ofende a Deus.
Você terá que partir de um argumento fisiológico, e se você
não o convencer, pronto, ele não tem um substrato moral
para concordar com você de que pornografia faz mal.
Entendem? Eu não quero criar inimigos, é uma atestação.
Não quero dizer que todo ateu ou todo espírita irá trair, mas
sim que é mais fácil.
Agora, muito mais recorrente que o ateísmo ou espiritismo é
a hipocrisia vivida.
O que é a hipocrisia?
A hipocrisia é quando você sabe a verdade, e a nega
substancialmente. Aqui entram os católicos e evangélicos.
E aqui é muito pior que a traição do ateu. Por quê? Porque
sabem que está errado.
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O que é o hipócrita?
É a pessoa que finge ser algo que não é, que defende
argumentos que não vive. E não estou falando apenas
de argumentos sexuais, estou falando de todos. É aquela
pessoa que diz rezar, mas não reza. Que diz ser fiel, mas não
é verdade. Que diz não cair nos pecados da pureza, mas não
é verdade. As pessoas que possuem essa fragilidade moral
– que sabem o que é o certo, fingem fazer o certo, mas
no fundo fazem o que é errado – têm uma predisposição
gigantesca à traição. Essa é a pessoa que mais tem
tendência a trair. Porque o hipócrita já se acostumou a
mentir para a verdade. Ele acostumou-se a mentir diante da
verdade. Esse é o hipócrita.
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CAPÍTULO 02
Quando uma traição acontece, algumas coisas acabam
acontecendo junto. O professor Olavo de Carvalho dizia
o seguinte, que quando precisamos negar uma grande
verdade, ou seja, uma grande verdade moral – o conceito
moral aqui é forte, patente –, como por exemplo, negar
um mandamento “não matarás”, e decide falar “não,
eu vou matar sim, e vou tentar sustentar que isso seja
o certo”. Quando precisamos negá-la arbitrariamente,
somos obrigados a criar uma espécie de personalidade
acessória para suportar aquele peso moral; uma segunda
personalidade.
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E essa segunda persona que é criada diante dessa verdade
moral rompida, terá gostos diferentes, vontades diferentes,
comportamentos diferentes. E não é incomum ver pessoas
com amantes fixos, ou até uma vida de promiscuidade,
que vivem outra vida; não é difícil de enxergarmos nessas
pessoas comportamentos muito diferentes de quem elas
são dentro do círculo familiar. O gosto musical muda, as
comidas mudam, a fala muda, a forma de lidar com certas
situações mudam, tudo muda. É impressionante. É realmente
interessante esse movimento.
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Tem uma história que eu gosto de contar, porque ela faz
muito sentido. Padre Pio dizia “nós somos como crianças
sentadas num banquinho baixo, vendo a mãe fazendo um
grande bordado”.
O que é a fé?
A fé é quando aquela criança sentada no banquinho baixo
está olhando de baixo e vendo a mãe fazendo o bordado,
ela olha para aquele borrão, porque afinal de contas, o
bordado está do avesso e ela não consegue ver o que está
desenhado ali. Você não entende bem o que está desenhado
ali, fica meio distorcido. Fé é saber que existe o outro lado do
bordado, isso é a fé. Crer que existe outro lado.
O que é a esperança?
Esperança é você ter a certeza de que deve esperar para que
o bordado seja concluído para que você veja o lado certo.
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“Por que depois de dois filhos e uma gravidez, Deus permitiu
que meu marido me traísse?”. “Por que depois de um
casamento tão lindo Deus permitiu a traição?”. “Por quê?”.
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Às vezes, é necessário que alguém diga isso para nós. É
como se vivêssemos numa espécie de lusco-fusco, um claro
escuro. Estamos numa penumbra, palpando as coisas e não
enxergamos a saída. É necessário que alguém nos diga: “a
saída está adiante”. Você fala “eu não a vejo”. E a pessoa
diz “eu sei, ainda assim vai, eu sei que está adiante”. Isso é
a esperança. A esperança não brota só de mim, brota de
alguém que se coloca diante de mim e diz “vai”.
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No começo, temos uma raiva tremenda, mas por conta da
esperança, pouco a pouco a raiva começa a ganhar outra
forma, essa forma chamamos de pena. E a pena convoca
algo interessante, por aquele que nós sentimos pena, é
como se nós começássemos a nos comprometer com atos
de serviço. A pena nivela a balança da dignidade. Não se
sente pena de quem é igual. E não se sente pena de quem
está acima. Nós só somos capazes de sentir pena de quem
está abaixo. De uma criança, de alguém doente, de alguém
que foi traído, de alguém que foi diminuído, tiranizado. Não
sentimos pena de quem está em cima. Sempre sentimos
pena de quem está abaixo. E esse sentimento de quem está
abaixo faz que queiramos cuidar dessa pessoa.
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No fundo, a traição – por mais estranha que pareça – ,aquele
que trai se coloca nas mãos do traído. Deliberadamente.
Como se ele entregasse o futuro dele mesmo, a essência de
tudo aquilo que tem na biografia dele, nas mãos de quem
ele traiu. E isso acaba gerando neurose, medo, insegurança
e inconstância. A verdade é que a única pessoa capaz de
salvar a alma daquele que traiu, é exatamente a pessoa que
foi traída. “Você quer dizer que alguém que foi traído deve
servir e se doar mais ainda pela pessoa que a traiu?”. É, eu
sei, é exatamente isso que estou sugerindo.
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Outra coisa incrível, que é interessante pensarmos, é que
se o seu casamento foi muito bem até hoje e vocês nunca
tiveram dificuldades, muito provavelmente vocês não
sabem amar. Porque o amor só é amor quando é provado
no fogo. Ou seja, quando você tem a oportunidade de
amar? É quando acontece, por exemplo, uma traição. É
nesse momento que você aprende a amar. Primeiro vem
a esperança, e a esperança gera a pena. A pena gera a
necessidade de servir, e o servir gera a percepção do amor.
Só então que vem o perdão, o amor gera o perdão. O perdão
é o último elemento. Alguns acham que é só perdoar, está
errado. Na maioria das vezes não perdoamos de verdade, o
perdão precisa nascer de um processo.
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Quantas e quantas vezes homens e
mulheres são traídos?
“Fui traída pelo meu marido e não consigo perdoar”.
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Aqui entramos naquela parábola que serve para o
exemplo do marido que saiu de casa, ou que está traindo,
e vice-versa; que é a história de Marta e Maria. É uma
história simbólica, os três irmãos Marta, Maria e Lázaro
carregam dentro deles um símbolo, o símbolo da fortaleza
do casamento. Lázaro é o símbolo da defesa, aquilo que
protege o matrimônio. Lázaro fica muito doente e suas
irmãs avisam a Jesus. Porém nesse meio tempo Lázaro
acaba morrendo. Jesus quando chega a casa e vê aquele
monte de gente chorando, já entende tudo. Marta vem
correndo até Jesus – Marta carrega o símbolo do servir e se
doar pelo outro –, e diz: “Senhor, se você estivesse aqui, ele
não estaria morto”.
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Simbolicamente falando é igual ao seu marido que saiu de
casa e você está servindo, cuidando de tudo, porém, ele
ainda não voltou. No fundo é isso, Cristo se afasta daquele
casamento, e aquilo que protegia o casamento morre, que
é o símbolo do Lázaro. E aquela casa é invadida e a traição
acontece.
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Dentro da reestruturação de um casamento é necessário
igualar 50% o servir e 50% o orar. Fazer pelo outro é trazê-
lo para dentro de casa, e é a sua oração que pede ao
Nosso Senhor que transforme o coração dele. Você pode
estar fazendo de tudo, mas sem o 50% de oração não irá
funcionar. E quando Maria faz o pedido para Jesus, acontece
um fato único nas escrituras, Jesus começa a chorar.
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Existe outra analogia que gostaria de trazer para vocês. As
escrituras dizem que Jesus não pode invadir alguém. Jesus
bate e espera que você abra. “Agora eu entendi nada, então
como é que Jesus irá entrar no coração do meu marido,
que me traiu, se ele não quer ser ajudado?”.
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Saibam que o processo de restauração é, sobretudo, um
processo que precisa começar em mim, em quem foi traído.
“Quem é o responsável pela restauração no casamento?”.
Os dois. Cada um de forma absolutamente individual. “Ah,
eu estou fazendo, mas meu marido não está fazendo nada”.
Não tem problema, faça a sua parte. Talvez você tenha que
remar por um tempo sozinha, sim, talvez. Mas você precisa
ter em mente o servir sem esperar nada em troca. “Mas
até quando?”. Essa pergunta é engraçada, porque é como
se estivéssemos tentando uma medida no amor. E o amor
não se mede. O amor não tem métrica. O amor não pode
ser acorrentado. O amor verdadeiro foi até a cruz, até ser
crucificado. Até quando? Até o verdadeiro sacrifício.
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Quem ama trai? Sim.
Pedro era muito mais que eu e você, e traiu a própria
Verdade. Ele olha nos olhos da Verdade e a nega. Quem
ama infelizmente trai, porque ainda não aprendeu a amar
verdadeiramente. O amor é um processo. E se vocês
entenderem isso, vocês param de ficar se questionando o
tempo todo “por que será que ele me traiu? Por que ele fez
isso?”. Vocês não vão achar os “porquês”, o porquê nunca
está no amante “ah, porque ele encontrou alguém melhor
que eu”, não, não. No fundo, o motivo será sempre um só:
o egoísmo de vocês. Que fez que olhassem demais para si
mesmo e pouco um para o outro.
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