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ACADEMIA MILITAR

A Cooperação entre a GNR e a Polícia Marítima. Estudo de Caso: Apreensão de


Haxixe em Vila Real de Santo António

Autores:
Duarte Cordeiro da Silva Branco, Academia Militar, duartebranco48@gmail.com,
turma GNR Armas, Cadete N.º 48, Telemóvel 962042919
Diogo Filipe Teixeira Pires, Academia Militar, diogo7pires@gmail.com, turma GNR
Armas, Cadete N.º 37, Telemóvel 965856818
Rúben Filipe Nascimento Lopes, Academia Militar, rubenlopes2002@gmail.com,
turma GNR Armas, Cadete N.º 53, Telemóvel 927277217
Gonçalo Silva Berenguel, Academia Militar, goncaloberenguel@hotmail.com, turma
GNR Armas, Cadete N.º 155, Telemóvel 966574400
António Pedro Ciríaco Caeiro, Academia Militar, apcaeiro70@gmail.com, turma GNR
Armas, Cadete N.º 590, Telemóvel 963197017

Docentes: Major de GNR INF Silva


Capitão de GNR INF Loureiro

Trabalho de Investigação de Grupo


Lisboa, janeiro, 2023
ACADEMIA MILITAR
A Cooperação entre a GNR e a Polícia Marítima. Estudo de Caso: Apreensão de
Haxixe em Vila Real de Santo António

Autores:
Duarte Cordeiro da Silva Branco, Academia Militar, duartebranco48@gmail.com,
turma GNR Armas, Cadete N.º 48, Telemóvel 962042919
Diogo Filipe Teixeira Pires, Academia Militar, diogo7pires@gmail.com, turma GNR
Armas, Cadete N.º 37, Telemóvel 965856818
Rúben Filipe Nascimento Lopes, Academia Militar, rubenlopes2002@gmail.com,
turma GNR Armas, Cadete N.º 53, Telemóvel 927277217
Gonçalo Silva Berenguel, Academia Militar, goncaloberenguel@hotmail.com,
turma GNR Armas, Cadete N.º 155, Telemóvel 966574400
António Pedro Ciríaco Caeiro, Academia Militar, apcaeiro70@gmail.com, turma
GNR Armas, Cadete N.º 590, Telemóvel 963197017

Docente: Major de GNR INF Silva


Capitão de GNR INF Loureiro

Trabalho de Investigação de Grupo


Lisboa, janeiro, 2023
RESUMO

O presente projeto de investigação visou aprofundar o conhecimento sobre a colaboração


entre a Guarda Nacional Republicana e a Polícia Marítima, trazendo ao detalhe uma
ocorrência passada na zona do Algarve, de maneira a retratar a forma como as forças
atuaram, dentro das suas competências. Sendo o tráfico de estupefacientes um tema
emergente, a capacidade de lidar com este tipo de situações por parte das forças deve
acompanhar este progresso, pelo que, é de extrema importância uma correta articulação
e comunicação para que se salvaguardem bens maiores. O presente estudo de caso
desenvolveu-se através de um processo documental e empírico. Numa fase documental,
foi possível abordar alguns conceitos indispensáveis para a compreensão da temática,
bem como a legislação mais importante no que respeita o âmbito da investigação. Na fase
empírica, foram realizadas duas entrevistas, uma ao Segundo Comandante da Polícia
Marítima de Tavira e Vila Real de Santo António e uma ao Comandante do Destacamento
de Controlo Costeiro de Olhão, com o intuito de analisar, de forma pormenorizada, a
situação de tráfico de haxixe, em que ambas as forças estiveram envolvidas. Foi ainda
possível analisar o auto de notícia de forma a retirar ilações sobre o caso específico.
Sumariamente, foram notórias as dificuldades de articulação entre as forças, quer na
partilha de informações, quer na articulação da atuação no terreno.

PALAVRAS-CHAVE: Cooperação, Vigilância Marítima, Criminalidade.

i
ABSTRACT

This research project aims to deepen the knowledge about the existence about
collaboration between the two forces that have the national coastal and marine coast
responsibility, bringing to detail an occurrence in Algarve and how both forces handled
the situation within their powers and responsibilities. Like drug trafficking is an emerging
issue, the ability to deal with this type of situation by the forces modernizes and
accompanies this progress, so it is extremely important to have a proper articulation and
communication to safeguard greater assets. The present case study was developed through
a documental and empirical process. In a documentary phase, it was possible to address
some essential concepts for understanding the subject, as well as the most important
legislation regarding the main purpose of research. In the empirical phase, two interviews
were carried out, with the 2nd Commander of the Maritime Police of Tavira and Vila Real
de Santo António and the Commander of the Coastal Control Detachment of Olhão, with
the aim of analyzing, in detail, a situation of hashish trafficking, in which both forces
were involved. It was also possible to analyze the report in order to draw conclusions
about the specific case. In summary, the difficulties of articulation between the forces
were notorious, both in sharing information and in articulating actions on the ground.

KEYWORDS: Cooperation, Maritime Surveillance, Criminality.

ii
ÍNDICE GERAL

INTRODUÇÃO 1

PARTE I- REVISÃO DA LITERATURA 1

CAPÍTULO 1- ENQUADRAMENTO TEÓRICO 1

1.1 UNIDADE DE CONTROLO COSTEIRO E DE FRONTEIRAS-


ORGÂNICA, NATUREZA, MISSÃO E VALORES 1

1.2 POLÍCIA MARÍTIMA - ORGÂNICA, NATUREZA, MISSÃO E VALORES


2

1.3 FATOR POLÍTICO-LEGAL 3

1.4 ANÁLISE COMPARATIVA DAS COMPETÊNCIAS DE CADA FORÇA 4

1.5 SISTEMA INTEGRADO DE VIGILÂNCIA, COMANDO E CONTROLO 6

PARTE II- TRABALHO DE CAMPO 6

CAPÍTULO 2- ESTUDO DE CASO: TRÁFICO DE HAXIXE NO RIO


GUADIANA 6

CAPÍTULO 3- METODOLOGIA 10

CAPÍTULO 4- RESULTADOS 10

CAPÍTULO 5- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 12

CONCLUSÃO 14

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 15

APÊNDICES 17

APÊNDICE A- GUIÃO DE ENTREVISTA REALIZADA AO COMANDANTE


DA PM DE VRSA 17

APÊNDICE B- GUIÃO DE ENTREVISTA REALIZADA AO COMANDANTE


DA PM DE VRSA 19

iii
APÊNDICE C- TABELA SÍNTESE DAS RESPOSTAS OBTIDAS NAS
ENTREVISTAS EFETUADAS 23

ANEXO A- AUTO DE NOTÍCIA DA PRIMEIRA OCORRÊNCIA RELATADA


POR PARTE DA UCCF DE OLHÃO 24

ANEXO B- NOTÍCIA CORRESPONDENTE À PRIMEIRA APREENSÃO


FEITA PELA GNR NO DIA 29 DE OUTUBRO DE 2022 25

ANEXO C- NOTÍCIA CORRESPONDENTE À APREENSÃO FEITA PELA PM


AO LARGO DA COSTA DE VRSA 26

ANEXO D- NOTÍCIA CORRESPONDENTE À APREENSÃO DE UMA


EMBARCAÇÃO AO LARGO DE OLHÃO 27

ANEXO E- NOTÍCIA CORRESPONDENTE AO ACORDO SELADO ENTRE


AS FORÇAS RESPONSÁVEIS PELO CONTROLO MARÍTIMO 28

iv
ÍNDICE DE FIGURAS

Ilustração 1- Estrutura orgânica da PM........................................................................... 3


Ilustração 2- Zonas Marítimas Nacionais ....................................................................... 5
Ilustração 3- Comparação de competências entre PM e UCCF ...................................... 5
Ilustração 4: Imagem ilustrativa do decorrer dos acontecimentos explanados ............... 7
Ilustração 5: Imagem ilustrativa dos locais onde foram encontrados os fardos ............. 8
Ilustração 6: Imagem da embarcação encontrada pela Marinha ..................................... 9
Ilustração 7: Imagem ilustrativa da embarcação encontrada (casco branco e 4 motores)
........................................................................................................................................ 10
Ilustração 8- Tabela Síntese das respostas obtidas nas entrevistas efetuadas ............... 23
Ilustração 9: Auto de Notícia do caso em estudo.......................................................... 24
Ilustração 10: Notícia relativa à atuação da GNR......................................................... 25
Ilustração 11: Notícia da apreensão dos fardos de haxixe por parte da Polícia Marítima
........................................................................................................................................ 26
Ilustração 12: Notícia publicada acerca do caso em estudo.......................................... 27
Ilustração 13- Notícia do “Protocolo de Cooperação Eurosur” .................................... 28

v
LISTA DE APÊNDICES E ANEXOS

APÊNDICE A- GUIÃO DE ENTREVISTA REALIZADA AO COMANDANTE DA


PM DE VRSA
APÊNDICE B- GUIÃO DE ENTREVISTA REALIZADA AO COMANDANTE DA
PM DE VRSA
APÊNDICE C- TABELA SÍNTESE DAS RESPOSTAS OBTIDAS NAS
ENTREVISTAS EFETUADAS
ANEXO A- AUTO DE NOTÍCIA DA PRIMEIRA OCORRÊNCIA RELATADA
POR PARTE DA UCC DE OLHÃO
ANEXO B- NOTÍCIA CORRESPONDENTE À PRIMEIRA APREENSÃO FEITA
PELA GNR NO DIA 29 DE OUTUBRO DE 2022
ANEXO C- NOTÍCIA CORRESPONDENTE À APREENSÃO FEITA PELA PM
AO LARGO DA COSTA DE VRSA
ANEXO D- NOTÍCIA CORRESPONDENTE À APREENSÃO DE UMA
EMBARCAÇÃO AO LARGO DE OLHÃO
ANEXO E- NOTÍCIA CORRESPONDENTE AO ACORDO SELADO ENTRE AS
FORÇAS RESPONSÁVEIS PELO CONTROLO MARÍTIMO

vi
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AMN – Autoridade Marítima Nacional

CDPM – Comissão de Domínio Público Marítimo

CNCM – Centro Nacional Coordenador Marítimo

CPP – Código de Processo Penal

CRP – Constituição da República Portuguesa

DGAM – Direção-Geral de Autoridade Marítima

DPM – Domínio Público Marítimo

EAV – Embarcação de Alta Velocidade

GNR – Guarda Nacional Republicana

LOGNR – Lei Orgânica da Guarda Nacional Republicana

LOIC – Lei de Organização da Investigação Criminal

NUIPC – Número Único de Identificador de Processo Crime

PM – Polícia Marítima

SAM – Sistema de Autoridade Marítima

SIVIIC – Sistema Integrado de Vigilância Comando e Controlo

UCCF – Unidade de Controlo Costeiro e de Fronteiras

VRSA – Vila Real de Santo António

ZEE – Zona Económica Exclusiva

vii
INTRODUÇÃO

O presente trabalho de investigação teve como intuito analisar a forma como a Guarda
Nacional Republicana (GNR) e a Polícia Marítima (PM) se organizam de modo a
cooperar na missão do controlo costeiro em Portugal. Desta forma, realizou-se a
investigação com base num estudo de caso em que as duas forças intervieram numa
operação de tráfico de droga, ao largo da costa Algarvia. O interesse da investigação
prende-se com a necessidade de perceber de que forma estas duas forças cooperam, uma
vez que, trabalham para o objetivo comum de proteger a zona costeira de Portugal. Como
é sabido, Portugal é um país “com uma faixa costeira de 1.187km2 e com uma das maiores
Zonas Económicas Exclusivas (ZEE) da Europa, evidenciando também que
aproximadamente 76% da população portuguesa reside nas áreas costeiras” (Loução,
2009, p. 2). Com este mote, surge como objetivo geral da investigação: perceber de que
forma a Polícia Marítima e a Unidade de Controlo Costeiro cooperam no controlo
costeiro. Deste, destaca-se a pergunta de partida “de que forma a Unidade de Controlo
Costeiro e a Polícia Marítima cooperam no controlo costeiro em Portugal?”. Para a
realização do trabalho analisaram-se vários mecanismos que ajudam ambas as forças no
Controlo Costeiro, bem como a legislatura mais importante na matéria.

PARTE I- REVISÃO DA LITERATURA

CAPÍTULO 1- ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.1 UNIDADE DE CONTROLO COSTEIRO E DE FRONTEIRAS- ORGÂNICA,


NATUREZA, MISSÃO E VALORES

A Guarda Nacional Republicana viu surgir na sua orgânica uma nova unidade
especializada, após a aprovação da nova Lei orgânica da GNR, que entrou em vigor a 6
de dezembro de 2007. No seu artigo 40º, esta lei define a Unidade de Controlo Costeiro
e de Fronteiras (UCCF), decretando que “A UCCF é a unidade especializada responsável
pelo cumprimento da missão da Guarda relativamente às fronteiras marítimas e terrestres,
nomeadamente:

1
a) A vigilância, patrulhamento e interceção terrestre ou marítima em toda a costa e mar
territorial, bem como nas fronteiras marítimas do continente e das regiões autónomas;
b) A gestão e operação do Sistema Integrado de Vigilância, Comando e Controlo
(SIVICC), distribuído ao longo da orla marítima.”
No que diz respeito à missão da UCCF, para além da missão geral da GNR, integra
também nas suas competências a gestão do sistema SIVICC, assegura o comando,
controlo e coordenação de todo o dispositivo da Unidade de Controlo Costeiro e de
Fronteiras, executa ações de vigilância móveis, e ainda, assegura o patrulhamento e
vigilância marítima e terrestre ao longo de toda a costa, bem como, no mar territorial
português (GNR, 2022). A UCCF serve a comunidade portuguesa segundo os valores
intrínsecos à instituição em que se insere, tendo como guia o facto da GNR ser uma “força
de segurança humana, próxima e de confiança” (GNR, 2022). É de realçar que a UCCF
desenvolve as suas ações na costa e no mar territorial (até 12 milhas náuticas), em
consonância com o artigo 5.º da LOGNR.

1.2 POLÍCIA MARÍTIMA - ORGÂNICA, NATUREZA, MISSÃO E VALORES

A Autoridade Marítima Nacional (AMN) é, segundo o nº2 do art.º 1º da Lei 43/2002,


“uma estrutura superior de administração e coordenação dos órgãos e serviços que,
integrados na Marinha, possuem competências ou desenvolvem ações enquadradas no
âmbito do SAM”. Em suma, é responsável pela coordenação das atividades, de âmbito
nacional, a executar pela Marinha e pela Direção-Geral da Autoridade Marítima
(DGAM), na área de jurisdição e no quadro do Sistema de Autoridade Marítima (SAM),
com observância das orientações definidas pelo Ministro da Defesa Nacional. Assim,
define o artigo 2º da lei 43/2002 que: “por «SAM» entende-se o quadro institucional
formado pelas entidades, órgãos ou serviços de nível central, regional ou local que, com
funções de coordenação, executivas, consultivas ou policiais, exercem poderes de
autoridade marítima”. Faz parte da Estrutura da AMN a Comissão do Domínio Público
Marítimo (CDPM). Entende-se como Domínio Público Marítimo (DPM) todo o conjunto
de águas costeiras e territoriais, águas interiores sujeitas à influência das marés, bem como
os respetivos leitos, fundos marinhos e margens, ao abrigo da Lei nº 54/2005 de 15 de
novembro e da Lei n.º 58/2005, de 29 de dezembro. Seguindo a estrutura hierárquica, “a
Direção-Geral da Autoridade Marítima (DGAM) é um serviço público integrado no
Ministério da Defesa Nacional, dotado de autonomia administrativa, estando-lhe
legalmente cometidas a direção, coordenação e controlo das atividades exercidas pelos
2
seus órgãos e serviços no quadro de atividades definidas no artigo 6º do Decreto-Lei nº
43/2002, de 2 de março, que garantem o cumprimento dos diplomas legais nos espaços
marítimos sob jurisdição nacional” (Autoridade Marítima Nacional, 2022). Esta alberga
vários órgãos dos quais se destaca, para o presente trabalho, o Comando-Geral da Polícia
Marítima. Segundo a Autoridade Marítima Nacional (2022) cabe à PM assegurar “o
cumprimento das leis e regulamentos nos espaços integrantes do Domínio Público
Marítimo, em áreas portuárias e nos espaços balneares, bem como em todas as águas
interiores sob jurisdição da AMN e demais espaços marítimos sob soberania e jurisdição
nacional, devendo preservar a regularidade das atividades marítimas”. Segundo a
Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (2022), “as zonas
marítimas sob soberania e ou jurisdição nacional, de acordo com o definido na Convenção
da Nações Unidas Direito do Mar, compreendem as águas interiores marítimas, o mar
territorial, a zona económica exclusiva, incluindo a zona contígua ao mar territorial, e a
plataforma continental”. Compete-lhe, ainda, nos termos da lei, e em colaboração com as
demais forças policiais e de segurança, garantir a segurança e os direitos dos cidadãos.

Ilustração 1- Estrutura orgânica da PM

Fonte: Autoridade Marítima Nacional, 2022

1.3 FATOR POLÍTICO-LEGAL

Para a presente investigação, importa analisar o contexto político-legal em que as duas


forças atuam com o intuito de proteger a costa Portuguesa. Desta forma, destaca-se o

3
Decreto-Lei 43/2002 de 2 de março, que define as atribuições do Sistema da Autoridade
Marítima e cria a Autoridade Marítima Nacional. Este Decreto-Lei atribui à GNR e à PM,
conjuntamente com outras forças, o poder de autoridade marítima. Importa realçar que o
artigo 9.º deste diploma legal prevê que a coordenação operacional e a centralização de
informações devem ser realizadas ao nível dos dirigentes máximos de cada força. Em
consonância com este preceito legal, surge o Decreto Regulamentar 86/2007 de 12 de
dezembro, que vem regular a articulação das forças policiais e demais autoridades
competentes no âmbito dos espaços marítimos. Deste decreto, realça-se que cada força
tem matérias que coordena relativamente às restantes forças. Assim, compete à AMN
coordenar: a segurança da navegação dos navios e embarcações de pesca, de comércio e
da náutica de recreio; as ações de vigilância e fiscalização das atividades de pesca e
culturas marinhas exercidas em espaços sob soberania e jurisdição nacional e as ações de
vigilância e fiscalização dos navios e embarcações por forma a prevenir e detetar
quaisquer atividades ilícitas de poluição do meio marinho por produtos poluentes. Por
outro lado, compete à GNR coordenar a atuação dos órgãos e serviços da Marinha/AMN
no âmbito das infrações tributárias, fiscais e aduaneiras fora das instalações portuárias.
Às duas forças competem as ações de fiscalização em matéria de imigração ilegal, tráfico
de seres humanos, tráfico de mercadorias e bens e fiscalização de atividades económicas.
No que releva para este trabalho, o Decreto Regulamentar 86/2007 de 12 de dezembro,
no seu artigo 5.º, relativo ao tráfico de estupefacientes, prevê que “compete à PJ a
coordenação das ações de vigilância e fiscalização em matéria de tráfico de
estupefacientes e substâncias proibidas”.

1.4 ANÁLISE COMPARATIVA DAS COMPETÊNCIAS DE CADA FORÇA

Por forma a sintetizar toda a informação explanada, importa realçar, de forma clara, quais
as principais diferenças de atuação das duas forças em análise. A figura abaixo representa
a distinção nas áreas de jurisdição das duas Forças. Uma vez que a Guarda Nacional
Republicana é uma Força de Segurança, tem a sua área de atuação limitada, visto que se
considera que a Segurança Interna é exercida em território soberano do Estado Português
(Santos, 2020). Nesta perspetiva, do facto de ser notório que a “soberania de um Estado
se estende até ao limite do mar territorial, podemos depreender que a fronteira marítima
externa é o limite exterior do mar territorial” (Santos, 2022, p. 22), sendo que cessa aí a
área de jurisdição da GNR. Por seu turno, a PM, sob dependência do Ministério da Defesa
Nacional tem uma área de atuação bem mais alargada, como anteriormente explicado.
4
Ilustração 2- Zonas Marítimas Nacionais

Fonte: Ilustração da autoria de Santos (2020, p. 4)


Para além da área de atuação, importa realçar as competências legais de cada força que,
segundo a tabela explanada, são bastante semelhantes. A letra P representa uma
competência principal e a letra S uma competência principal de outra força.

Ilustração 3- Comparação de competências entre PM e UCCF

Fonte: Ilustração da autoria de Santos (2020, pp 23 e 24)


Para Martinho (2017, p. 49) é “possível identificar um conjunto de sobreposições, que se
prendem sobretudo com as missões de polícia, numa lógica “security”, exercidas na

5
porção terrestre do DPM”. Para este autor uma solução possível para a resolução desta
redundância legislativa seria a “autonomização da PM, de facto e de direito da
Marinha/AMN, e a criação de uma força única resultante da unificação com a UCC da
GNR” (Martinho, 2017, p. 50). No entendimento de Marinho (2010, p. 43) “quando a lei
prevê que, num mesmo campo de atuação/território, mais do que uma entidade possa
fazer as mesmas coisas ou se consegue ter uma boa cooperação e coordenação, ou as
disputas serão uma constante na atividade das forças no terreno”, evidenciando assim que
a teia legislativa atual não é suficientemente explicita na abordagem à matéria.

1.5 SISTEMA INTEGRADO DE VIGILÂNCIA, COMANDO E CONTROLO

Segundo Marinho (2010, p. 12) “o SIVICC, foi a solução encontrada para substituir o
obsoleto Long Arm Operational System (LAOS)”. Este é um sistema que permite
monitorizar toda a Costa Portuguesa através de radares, câmaras de vídeo e sensores, por
forma a garantir proteção contra algumas ameaças que Portugal enfrenta, como é o caso
do narcotráfico e da migração ilegal. Atualmente, o sistema é composto por 20 postos
fixos e 8 postos móveis. A informação capturada por todos os dispositivos ao longo da
costa vai para o “Centro de Comando e Controlo, que será usado para acionar os meios
necessários a fazer face a uma determinada ameaça” (Loução, 2009, p. 10). A informação
poderá ser partilhada com outras entidades.

PARTE II- TRABALHO DE CAMPO

CAPÍTULO 2- ESTUDO DE CASO: TRÁFICO DE HAXIXE NO RIO


GUADIANA

No Dia 29 de Outubro de 2022, pelas 00h30, na sequência de uma monitorização da costa


levada a cabo pelo Sistema Integrado de videovigilância comando e controlo (SIVICC),
operado pela Unidade de Controlo Costeiro e de Fronteiras (UCCF) da GNR, detetou-se
uma embarcação de alta velocidade (EAV) suspeita, com 14 metros de comprimento de
casco branco equipada com 4 motores de marca e potência desconhecida, a navegar, com
total ocultação de iluminação, em direção a Vila Real de Santo António (VRSA). Em
coordenação com o sistema de vigilância operado pela congênere Guarda Civil
confirmou-se a chegada da EAV, que permaneceu estática durante 15 minutos (1). Pelas

6
00h45, entrou em contacto uma segunda embarcação mais pequena, que não foi possível
identificar, que fez a transladação de um passageiro para a EAV ficando a mesma com
um total de 4 tripulantes (2). Após a transladação, a embarcação de contacto de menor
dimensão deslocou-se de imediato para território espanhol, em direção a Isla Cristina (3
e 4). As autoridades espanholas foram alertadas, mas não conseguiram intersetar a
embarcação. A EAV seguiu rumo a norte, pelo Rio Guadiana, a baixa velocidade. Pelas
01h30 foi ativada uma equipa do subdestacamento de controlo costeiro de VRSA para
proceder à interceção da EAV (5). A mesma, seguiu em direção à ponte internacional do
Guadiana aumentado progressivamente a sua velocidade (6). Assim que avistaram a EAV
suspeita, a equipa da UCCF avançou em direção à embarcação suspeita para a intercetar.
Esta, ao verificar a presença da GNR, inverteu o seu rumo para sul (7). Seguiu,
posteriormente, em direção à saída da barra de VRSA, iniciando-se assim um seguimento
policial no rio Guadiana que durou 25 min até as equipas da UCCF perderem o contacto
visual com a embarcação (8). Pouco depois o SIVICC perdeu também a localização da
embarcação, que iniciou a fuga rumo a sul às 01h55.
Durante o seguimento da embarcação suspeita, os tripulantes da mesma atiraram para a
água vários volumes não identificados, que mais tarde foram reconhecidos como fardos
de Haxixe. Após a perda de contato, os militares da GNR tentaram identificar e recolher
os volumes que se encontravam ao largo do rio Guadiana, tarefa que não foi concluída
devido à ausência total de luminosidade.

Ilustração 4: Imagem ilustrativa do decorrer dos acontecimentos explanados


Fonte: Elaboração própria

7
Às 07h00, a equipa marítima e várias patrulhas terrestres da UCCF retomaram os
trabalhos, no seguimento das diligências efetuadas, a fim de recolher e identificar os 12
volumes que se encontravam a boiar no rio. Seguidamente, até às 13h00 foram recolhidos
mais 38 fardos que se encontravam na margem do Rio Guadiana e na zona oceânica, na
área compreendida entre o estaleiro da marina guadiana e a praia de Vila Real de Santo
António (1, 2, 3 e 4). Face ao sucedido procedeu-se à apreensão de 50 fardos de haxixe
com peso total aproximado de 1750 kg (pesados húmidos), bem como um volume envolto
em fita cola castanha com cerca de 1kg de Haxixe (pesado húmido). Importa realçar que
no mesmo dia, a Autoridade Marítima Nacional emitiu um comunicado que afirmava que
“na sequência de um alerta recebido cerca das 06h45, através de populares, a informar
que se encontravam pacotes suspeitos no areal da praia de Santo António, foram de
imediato ativadas para o local duas viaturas e uma embarcação do Comando-local da
Polícia Marítima de Vila Real de Santo António. À chegada ao local, os elementos da
Polícia Marítima confirmaram a presença de sete fardos de estupefacientes no areal da
praia, tendo sido posteriormente localizados mais oito fardos à deriva no mar. Foram
apreendidos um total de 15 fardos de droga, com cerca de 35kg cada um” (Autoridade
Marítima Nacional, 2022) (5). Os fardos foram entregues à Polícia Judiciária para
posterior investigação. Todos os factos supracitados constam do Auto de Notícia da
UCCF (Anexo A).

Ilustração 5: Imagem ilustrativa dos locais onde foram encontrados os fardos


Fonte: Elaboração própria

8
No mesmo dia 29 de outubro de 2022, a Marinha informou que empenhou um navio em
auxílio à Autoridade Marítima Nacional na investigação sobre o aparecimento de 15
fardos de estupefacientes, no areal da praia de VRSA. Em comunicado, a Marinha
afirmou que “o navio da Marinha que esteve em vigilância entre Tavira e Vila Real de
Santo António, acabou por encontrar uma embarcação de alta velocidade à deriva, sem
ocupantes” (Algarve Primeiro, 2022). A GNR presume que a embarcação encontrada
possa ser a segunda embarcação, que a Guarda Civil Espanhola não conseguiu intercetar.

Ilustração 6: Imagem da embarcação encontrada pela Marinha


Fonte: Algarve Primeiro, 2022

A 1 de novembro, a Autoridade Marítima Nacional fez novo comunicado em que referia


que “os elementos do Comando-local da Polícia Marítima de Olhão e de Tavira
apreenderam hoje uma embarcação de alta velocidade com 180 fardos de estupefacientes
a bordo, num total de cerca de 6,3 toneladas de haxixe, que se encontrava à deriva a cerca
de cinco milhas náuticas (aproximadamente nove quilómetros) a sul da ilha da Armona,
em Olhão” (Autoridade Marítima Nacional, 2022). As imagens da embarcação (casco
branco, 14 metros e 4 motores, como descrito no Auto de Notícia) levantam a hipótese
de ser a mesma embarcação que a GNR intercetou, 3 dias antes.

9
Ilustração 7: Imagem ilustrativa da embarcação encontrada (casco branco e 4
motores)
Fonte: Autoridade Marítima Nacional, 2022.

CAPÍTULO 3- METODOLOGIA

A presente investigação representa um estudo de caso não experimental. O método de


investigação utilizado foi o método dedutivo uma vez que foram abordados vários
conceitos teóricos com vista a alcançar uma explicação de um caso concreto. Utilizou-se
um paradigma qualitativo, sendo que foram realizadas duas entrevistas estruturadas de
resposta aberta com o intuito de comparar as respostas dos entrevistados. Em relação às
técnicas não documentais, o estudo consiste numa análise transversal pois a recolha dos
dados foi feita num único momento. Em relação à fase documental recorreram-se a fontes
primárias como é o caso do Auto de Notícia e a fontes secundárias, como trabalhos de
investigação ou notícias publicadas.

CAPÍTULO 4- RESULTADOS

Com o intuito de aprofundar a análise do estudo de caso, foram realizadas duas entrevistas
(Apêndices A e B), uma ao 2º Comandante da Polícia Marítima de Tavira e VRSA e outra
ao Comandante do Destacamento de Controlo Costeiro de Olhão, no sentido de perceber

10
o seu entendimento relativamente à cooperação destas duas forças. Em relação à pergunta
“De que forma as Forças se articulam no âmbito da proteção dos espaços marítimos
sob soberania e jurisdição nacional?” o 2º Comandante da Polícia Marítima de Tavira
e VRSA foi perentório ao afirmar que não havia qualquer tipo de cooperação. Por seu
turno, o Comandante do Destacamento de Controlo Costeiro de Olhão referiu que pode
haver cooperação, mas no dia a dia as forças atuam de forma independente. Aquando
perguntados acerca do n. º3 do artigo 2.º do Decreto Regulamentar n.º 86/2007 que
prevê um sistema de partilha de informação, o 2º Comandante da Polícia Marítima de
Tavira e VRSA realçou essa partilha de informação apenas nas investigações de alguns
processos crime e o Comandante do Destacamento de Controlo Costeiro de Olhão refere
que “não existe qualquer Sistema de Informação neste círculo, que seja de acesso
partilhado”, no entanto alerta para a existência do EUROSUR “criado para reforçar o
intercâmbio de informações e a cooperação operacional entre os Estados-membros (EM),
tendo em vista melhorar o conhecimento situacional e aumentar a capacidade de reação
nas fronteiras externas. O CNC, alojado no Comando da UCC, é o único ponto de
contacto a nível nacional, que deve convergir toda a informação relacionada com a
vigilância das fronteiras marítimas, a fim de prevenir, detetar e combater a imigração
ilegal e criminalidade transfronteiriça”. Segundo Araújo (2018, p.14) a criação do CNCM
“[…] teve como base a necessidade de clarificar as competências cometidas aos órgãos e
serviços da Marinha, da AMN e da GNR e a sua articulação com as restantes autoridades”.
A criação do CNCM pelo Decreto-Regulamentar n.º 86/2007, de 12 de dezembro
permitiu agilizar os procedimentos de articulação, nos espaços marítimos sob domínio
jurídico nacional, entre as autoridades de polícia, e demais entidades competentes,
designadamente, os órgãos e serviços do SAM. Estas entidades elegem um representante
que marca presença nas reuniões mensais do CNCM. Importa, no entanto, perceber de
que forma se procedeu à coordenação no estudo de caso em causa. Assim sendo, à questão
“De que forma caracteriza a cooperação entre a UCC e a PM no estudo de caso em
análise?” o 2º Comandante da Polícia Marítima de Tavira e VRSA respondeu que “Não
houve qualquer tipo de cooperação, cada um trabalhou para si. Devíamos ter um protocolo
assinado de cooperação entre o comando Geral da Polícia Marítima e o Comando Geral
da GNR, onde fosse descriminado as situações de cooperação ou situações de não
cooperação, consoante a operação/ocorrência. Há necessidade de articular entre forças no
sentido de organizar. Assim é salve-se quem quiser e salve-se quem apanhar mais”. É de
extrema importância o que revela o responsável pela PM daquela área, uma vez que, vai

11
ao encontro do descrito no auto de notícia que refere que “a Polícia Marítima de Vila Real
de Santo António também foi mobilizada para as imediações, recolhendo fardos de
Haxixe que se encontravam a boiar ou já em terra na Praia de Santo António”,
demonstrando que não houve qualquer troca de informação, e ainda, de forma mais
gravosa, que houve um completo abalroamento de competências e ações. Apresenta-se
em Apêndice C uma tabela que sintetiza as entrevistas obtidas.

CAPÍTULO 5- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

No estudo de caso em análise, estamos perante um caso de Tráfico de Droga. O Decreto-


Lei 15/93 de 22 de janeiro, vem regularizar a legislação de combate à droga. No artigo
21.º deste diploma legal prevê-se como tráfico ou atividade ilícita o transporte de droga.
Segundo o artigo 51.º do mesmo diploma legal por remissão do artigo 1.º do Código de
Processo Penal, o Tráfico de droga equipara-se a casos de terrorismo e a criminalidade
violenta ou altamente organizada. Importa para a temática realçar que cabe à Polícia
Judiciária a investigação criminal relativa a estupefacientes segundo a alínea i) do número
3 do artigo 7.º da LOIC. O artigo 8.º do mesmo diploma permite o deferimento da
competência a outro órgão de polícia criminal, mediante certos requisitos previstos. Neste
caso, como é visível pelo Auto de Notícia em anexo, a UCCF, após realização do mesmo,
encaminhou o processo para a autoridade competente pela investigação, a Polícia
Judiciária. No mesmo sentido a Lei de Organização da Investigação Criminal (LOIC)
determina, no seu artigo 5.º n.º 2 que se “a investigação em curso vier a revelar conexão
com crimes que não são da competência do órgão de polícia criminal que tiver iniciado a
investigação, este remete, com conhecimento à autoridade judiciária, o processo para o
órgão de polícia criminal competente (...)”. Importa balizar a atuação da GNR, em termos
operacionais, pois é notório, que na abordagem realizada à embarcação suspeita, a UCCF
atuou enquadrada numa intervenção rápida, que segundo o Manual do Serviço Marítimo
da GNR (2022, p. 26) é um “serviço em que a navegação se efetua da forma mais rápida
possível, de acordo com a situação, em direção a um ponto ou área determinados, com a
finalidade de ali se exercerem ações do âmbito policial, fiscal, aduaneiro, administrativo
ou de salvamento”. O busílis da questão surge na cooperação debilitada entre a Polícia
Marítima e a UCCF. Como é sabido, a LOIC prevê que a autoridade competente pela
investigação criminal possa promover cooperação entre os órgãos de polícia criminal

12
envolvidos, quer no artigo 5.º quer no artigo 10.º deste diploma legal. Por este motivo
poderá questionar-se porque razão a atuação da Polícia Marítima consistiu na recolha de
fardos de haxixe de forma autónoma da atuação da UCCF, quebrando princípios de
cooperação e partilha de informação supramencionados. Importa referir que os fardos
apreendidos pela Polícia Marítima, ao largo da costa de Vila Real de Santo António,
tinham um aspeto que indiciavam ser do mesmo grupo organizado que a UCCF intercetou
na ação anteriormente descrita. Para corroborar, consta do auto de notícia que a PM após
denuncia de populares, foi ao local onde a UCCF estaria a atuar para também apreender
alguns fardos. Acerca deste facto importa referir que foram criados 2 Números Únicos de
Identificação de Processo Criminal diferentes para incidentes distintos com uma
presumível conexão. O Número Único de Identificação de Processo Crime (NUIPC)
surge com o intuito de identificar os vários processos crime e a entidade de onde é
emitido. De acordo com o artigo 2.º da Portaria n.º 1223-1/91, de 30 de dezembro, “o
sistema estabelecido visa permitir a individualização de cada processo, desde a notícia do
crime ao arquivo, de forma unívoca, quer para quem nele tenha intervenção quer para
terceiros, através da atribuição de um número único identificador de processo crime
(NUIPC)”. Deste modo, o NUIPC é atribuído ao processo após o primeiro registo do
mesmo, e os subsequentes a esse mantêm o mesmo número único de identificação, como
refere o artigo 13º da portaria em causa. Ao analisar o artigo 243º do Código de Processo
Penal (CPP), nomeadamente o seu número 4, percebe-se que o mesmo possibilita o
levantamento de um único auto de notícia em casos de conexão. Os casos de conexão
estão previstos no artigo 24º do CPP, onde se refere que existe conexão, entre outros
casos, quando “o mesmo agente tiver cometido vários crimes, na mesma ocasião ou lugar,
sendo uns a causa ou efeito dos outros, ou destinando-se uns a continuar ou a ocultar os
outros”, número 1, alínea b) do artigo 24º do CPP. Assim, como referido no número 2 do
artigo 29º do CPP, “se tiverem já sido instaurados processos distintos, logo que a conexão
for reconhecida procede-se à apensação de todos àquele que respeitar ao crime
determinante da competência por conexão”. Desta maneira, quando existe a conexão
entre acontecimentos em NUIPC´s distintos, deverá acontecer um aditamento ou uma
apensação ao processo inicial. Todos estes trâmites legais são previstos com o intuito de
impedir investigações paralelas, por parte das autoridades competentes para tal e para que
o processo decorra com maior celeridade no apuramento dos factos. No caso em questão
não houve esta articulação entre as forças, revelando que as duas trabalharam de forma
isolada. É de realçar ainda a falta de partilha de informação entre a UCCF e a PM. Ambos

13
os comandantes entrevistados referiram que os sistemas de partilha de informação eram
deficitários ou inexistentes, sendo que o caso em análise é demonstrativo disso, uma vez
que a Polícia Marítima atuou sem ter conhecimento que a ação estava a ser tratada pela
UCCF. A falta de comunicação é visível, ainda, na apreensão da embarcação no dia 1 de
novembro de 2022, uma vez que a mesma corresponde à descrição feita no auto de notícia
da UCCF, da embarcação seguida pela GNR, 3 dias antes. A Polícia Marítima não
relacionou os casos nem entrou em contacto com a GNR com o intuito de perceber se era
a mesma embarcação, facto para o qual, elementos da UCCF, no decorrer da investigação,
alertaram. Neste sentido, importa fazer referência ao artigo 6.º da Lei de Segurança
Interna uma vez que o mesmo prevê a necessidade de cooperação “designadamente
através da comunicação de informações que, não interessando apenas à prossecução dos
objetivos específicos de cada um deles, sejam necessárias à realização das finalidades de
outros”.

CONCLUSÃO

No decorrer da investigação realizada, foi possível abordar a temática da cooperação da


GNR com a PM, tendo por base um estudo de caso real. Desde logo, na abordagem
documental, ficou percetível que as competências de ambas as forças no contexto
marítimo se fundem, tornando-se difícil identificar os aspetos diferenciadores das missões
de cada força. Foi possível, ainda, abordar sucintamente a legislação mais importante para
a temática ficando patente que apesar do esforço por parte do legislador para criar uma
teia legislativa completa e suficiente, a mesma não resolve de forma clara o problema da
cooperação entre forças. Com o desenvolvimento do estudo empírico poi possível
perceber que há dificuldades na articulação de ambas as forças, uma vez que, a
comunicação e a transmissão de informações não são feitas de forma eficaz, levando a
atuações paralelas, como foi o caso apresentado. É importante realçar que o objetivo geral
do trabalho foi atingido, ficando patente a necessidade de mais investigações no âmbito.
Para concluir, importa fazer menção à necessidade de agilizar os processos de
comunicação e criação de mecanismos mais eficazes de partilha de informação, uma vez
que ambos os comandantes entrevistados realçaram esta necessidade. Surgiu ainda como
hipótese (por parte do 2º Comandante da Polícia Marítima de Tavira e VRSA) a criação
de um protocolo de cooperação entre forças por forma a minimizar o emprego

14
desnecessário de meios e com vista a estipular as atuações de ambas as forças, uma vez
que as suas competências são muitas vezes equiparáveis. De facto, este protocolo foi
selado, no dia 14 de novembro de 2022, entre Marinha, GNR, SEF, Força Aérea e PJ, e
“de acordo com o SSI, a assinatura do "Protocolo de Cooperação Eurosur" revelava-se
‘essencial para a criação do quadro situacional nacional para a gestão integrada das
fronteiras, nos termos do preceituado no regulamento da Agência Europeia da Guarda de
Fronteiras e Costeira (FRONTEX), assim como o reforço da cooperação e coordenação
para o intercâmbio de informações neste âmbito’” (Diário de notícias, 2022). Desta forma,
trata-se de um protocolo para articulação operacional e partilha de informações, sendo
que a sua capacidade resolutiva deverá ser avaliada posteriormente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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16
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15370958.html

APÊNDICES
APÊNDICE A- GUIÃO DE ENTREVISTA REALIZADA AO COMANDANTE DA
PM DE VRSA
1.1. Nome: José Joaquim Cruz Martins
1.2. Posto/Função: Chefe da Polícia Marítima / 2º Comandante da Polícia Marítima de
Tavira e VRSA
1.3. Local: Entrevista foi realizada via telefónica
1.4. Data: 29/11/2022
1.5- De que forma as Forças se articulam no âmbito da proteção dos espaços
marítimos sob soberania e jurisdição nacional?
“Não há qualquer tipo de articulação entre a UCC e a PM”.

1.6- Segundo o n. º3 do artigo 2.º do Decreto Regulamentar n.º 86/2007 “quando os


autos de notícia levantados digam respeito a matérias em que sejam simultaneamente
competentes vários órgãos e serviços, devem os mesmos ser registados num sistema de

17
informação de acesso partilhado”. Este procedimento é realizado por todas as
autoridades responsáveis pelo controlo marítimo Nacional?
“Deveria de existir realmente uma plataforma onde fosse partilhado todas as informações
das várias matérias abordadas no âmbito das competências marítimas das FSS em
Portugal.
Apenas existe em termos criminais, o PIC ponto de investigação criminal, onde existe
realmente troca/partilha de informação, mas apenas no âmbito de Investigações de
processos Crime no qual se insere a Polícia Judiciaria onde as forças conseguem se
articular entre si, no âmbito de matérias criminais.
Na Ocorrência/Operação que foi realizada (estudo de caso do trabalho) não ocorreu
qualquer tipo de registo/partilha de informação em qualquer tipo de plataforma.
Tenho dúvidas que este procedimento (registo num sistema de informação de acesso
partilhado) seja feito por todas as FSS”.

1.7- De que forma caracteriza a cooperação entre a UCC e a PM no estudo de caso


em análise?
“Não houve qualquer tipo de cooperação, cada um trabalhou para si”.

1.7.1- O que poderia ser feito de modo a realmente existir cooperação entre as
forças?

“Devíamos ter um protocolo assinado de cooperação entre o comando Geral da Polícia


Marítima e o Comando Geral da GNR, onde fosse descriminado as situações de
cooperação ou situações de não cooperação, consoante a operação/ocorrência
Necessidade de articular entre forças no sentido de organizar. Assim é salve-se quem
quiser e salve-se quem apanhar mais”.
1.7.2- A lancha que largou os volumes no rio Guadiana foi a mesma lancha que foi
apreendida com 6 300kg de Haxixe no dia 1 de novembro de 2022, que ficou enleada
nas armações de atum da Tunipex?
Não, são lanchas completamente diferentes, essa lancha ficou completamente danificada.

1.8- Quais são as principais vantagens e desvantagens da cooperação entre a UCC e


a PM?
“No meu ponto de vista só existiriam vantagens na eventualidade de existir uma
cooperação entre a UCC e PM.

18
Se existisse cooperação entre a UCC e PM haveria um emprego de meios em maior
quantidade evitando assim o desperdício de recursos para situações em que ambas as
forças estão qualificadas para tal, servindo melhor Portugal”.

1.8.1- É recorrente existir um aparecimento simultâneo das duas forças na mesma


ocorrência?
“No mesmo local para a mesma ocorrência o primeiro que aparecer é que fica com o caso.
Como não existe cooperação nem protocolo nem diretivas como estamos todos agregados
ao SAM, atuamos com as mesmas competências”.

1.9-Quais são as principais diferenças de competências entre a PM de VRSA e a


UCC de Olhão?
“Existem diferenças de competências nos navios, dentro de água as competências são as
mesmas.
A existência do POC, linha Marítima e linha TPM e são competentes no transito. Em
termos operacionais é quem chegar mais rápido ao local.
A GNR também o é, contudo realiza os autos de notícia e envia para o capitão do porto”.

APÊNDICE B- GUIÃO DE ENTREVISTA REALIZADA AO COMANDANTE DA


PM DE VRSA
1.1. Nome: David de Almeida Toste
1.2. Posto/Função: Capitão / Comandante do Destacamento de Controlo Costeiro de
Olhão
1.3. Local: Olhão
1.4. Data: 01/12/2022
1.5- De que forma as Forças se articulam no âmbito da proteção dos espaços
marítimos sob soberania e jurisdição nacional?
Considerando que não existe em Portugal, aos dias de hoje, uma Guarda Costeira
legalmente definida, pode afirmar-se que no atual modelo existem três principais atores
que podem desenvolver Funções de Guarda Costeira ao longo da costa e mar territorial,
mormente a Unidade de Controlo Costeiro (UCC) da GNR, a Polícia Marítima e a
Marinha, havendo por isso uma necessidade de articulação entre todos. Não obstante, a
UCC da GNR assume inequivocamente um papel de destaque na sua afirmação como

19
Guarda Costeira, uma vez que as Funções de Guarda Costeira tendem a convergir para
missões de preservação da segurança e da ordem nos espaços marítimos, através de
vigilância, controlo e fiscalização, o que constituem atribuições específicas da UCC -
vigilância, controlo e fiscalização do mar territorial e da fronteira externa marítima -
funções que caracterizam concomitantemente a missão primordial da Agência Europeia
da Guarda Fronteiras e Costeira (Frontex), criada pela União Europeia.
A articulação entre os vários atores que atuam no domínio marítimo depende do âmbito
das diversas ocorrências no contexto da segurança marítima e da fronteira externa
marítima, considerando que, de um modo geral, no que se refere ao patrulhamento e
demais tarefas diárias, as Forças atuam de forma independente no quadro das suas
atribuições. A UCC atua diariamente, por exemplo, na fiscalização de embarcações,
pessoas e bens, visando a deteção de infrações tributarias, fiscais e aduaneiras, na
fiscalização da pesca lúdica e comercial (tarefa coordenada pela DGRM, em que participa
também a PM e AMN), na proteção do ambiente, etc.

Como referido supra, a articulação operacional depende da situação. Existem as


ocorrências no domínio Security, ameaças associadas aos ilícitos criminais na fronteira
marítima, realçando-se na conjuntura nacional o tráfico de estupefacientes por via
marítima e a imigração ilegal, cuja articulação e partilha de informação deve ocorrer ao
abrigo do Sistema Europeu de Vigilância de Fronteiras – EUROSUR, cujo Centro
Nacional de Coordenação (CNC) encontra-se albergado na UCC da GNR, assim como o
Sistema Integrado de Vigilância Comando e Controlo (SIVICC). No domínio Safety
enquadram-se essencialmente as ocorrências relacionadas com a segurança da navegação,
tráfego marítimo e SAR (Search and Rescue), cuja coordenação cabe à Autoridade
Marítima Nacional (AMN).

O EUROSUR foi criado para reforçar o intercâmbio de informações e a cooperação


operacional entre os Estados-membros (EM), tendo em vista melhorar o conhecimento
situacional e aumentar a capacidade de reação nas fronteiras externas. O CNC, alojado
no Comando da UCC, é o único ponto de contacto a nível nacional, que deve convergir
toda a informação relacionada com a vigilância das fronteiras marítimas, a fim de
prevenir, detetar e combater a imigração ilegal e criminalidade transfronteiriça.

Posto isto, conclui-se que neste âmbito Security a articulação entre as Forças devia ocorrer
primordialmente a um nível nacional, através da troca de informações no CNC
EUROSUR – que fornece o quadro de situação das nossas fronteiras marítimas (costa e
20
mar territorial), porém, na generalidade, a cooperação e partilha de informação por parte
da PM e Marinha é muito residual. Ao nível regional (Destacamento de Controlo Costeiro
vs. Comando Zona Marítima / Comando Regional da PM) e ao nível local
(Subdestacamento de Controlo Costeiro vs. Capitania / Comando local da PM) a
articulação ocorre em função das ocorrências, através da coordenação entre os respetivos
Comandos, desenvolvendo-se na maioria das vezes de forma eficaz, embora nem sempre
de forma eficiente, com sobreposição de atuações, por parte da PM Marinha em
ocorrências da competência da UCC da GNR e que já se encontram em processo de
resolução.

1.6- Segundo o n.º 3 do artigo 2.º do Decreto Regulamentar n.º 86/2007 “quando os
autos de notícia levantados digam respeito a matérias em que sejam simultaneamente
competentes vários órgãos e serviços, devem os mesmos ser registados num sistema de
informação de acesso partilhado”. Este procedimento é realizado por todas as
autoridades responsáveis pelo controlo marítimo Nacional?
A única entidade responsável pelo Controlo Marítimo Nacional é a Direção-Geral de
Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), através da gestão do
Sistema VTS (Vessel Traffic Service), que monitoriza o tráfego marítimo.
No que concerne às autoridades de polícia e demais entidades que atuam no domínio
marítimo, particularmente os OPC com competência para lavrar autos de notícia nas
matérias da sua competência (GNR, PM, PJ, ASAE, SEF, etc.), embora previsto na letra
da lei, não existe qualquer Sistema de Informação neste círculo, que seja de acesso
partilhado.

1.7- De que forma caracteriza a cooperação entre a UCC e a PM no estudo de caso


em análise?
A UCC e a PM cooperam sempre que necessário no âmbito marítimo, especialmente em
ocorrências que exigem uma reação rápida e um empenhamento com o maior número de
meios humanos e materiais em simultâneo. Sempre que se afigura pertinente, existe um
pedido de cooperação por parte das Forças, para apoio e colaboração em determinada
operação, havendo registo de cooperações de sucesso, como aconteceu em situações de
combate à imigração ilegal. Realçam-se também algumas operações de combate ao
tráfico internacional de estupefacientes, sob a coordenação da Polícia Judiciária, em que

21
são empenhados os meios da UCC para vigilância e interceção terrestre e marítima e
meios da PM / Marinha para apoio na interceção marítima.

Por outro lado, a partilha de informação é muito residual, o que constitui uma
contrariedade para o conhecimento situacional da área de operações e de alvos suspeitos,
existindo também diversas situações em que a PM procura atuar em operações que já se
encontram em desenvolvimento por parte da UCC, particularmente aquelas que envolvem
um maior impacto mediático, dando uma sensação de descoordenação que em nada
beneficia a atuação do Estado.

1.8- Quais são as principais vantagens e desvantagens da cooperação entre a UCC e


a PM?
Como principais vantagens identifica-se o espírito de cooperação em ambiente marítimo,
estando sempre em primeiro lugar a segurança dos militares / agentes de ambas as Forças
nas suas diversas atuações, que devido ao dinamismo que o meio oferece, comportam
sempre um risco considerável.
Ao nível regional e local existe uma relação constante em diversos âmbitos, procurando-
se dirimir as lacunas existentes na coordenação entre as duas Forças, que resultam em
grande parte das divergências constantes em diversos diplomas legais, que identificam as
competências atribuídas a cada um destes atores.

Como desvantagens regista-se a falta de partilha de informação conforme previsto pelo


EUROSUR e a deficitária delimitação de competências, alcançando-se por vezes o
extravasar das mesmas. Por vezes confunde-se a atuação da Marinha com a PM, com
operações em simultâneo, o que, salvo douta opinião, é francamente errado. A Marinha
pode colaborar no âmbito da Segurança Interna, mas somente se tiver capacidade
excedente no cumprimento da sua missão e devidamente enquadrada (uma embarcação
de alta velocidade com militares Fuzileiros a bordo não pode atuar em Operações de
Combate ao Tráfico de Estupefacientes, como já aconteceu).

1.9- Quais são as principais diferenças de competências entre a PM de VRSA e a


UCC de Olhão?
A PM de VRSA é uma entidade de nível local e o DCC Olhão é uma entidade de nível
regional. O nível equivalente à PM VRSA será o SDCC VRSA, que alberga as áreas de
jurisdição da PM VRSA e PM Tavira.

22
As diferenças de competência ao nível local são condizentes com as dissemelhanças ao
nível regional e nacional. Destarte, apesar de existirem atribuições secundárias que cabem
às duas Forças (fiscalização da pesca lúdica e comercial, fiscalização da náutica de
recreio, etc.), a UCC da GNR é responsável pela vigilância e controlo da fronteira
marítima externa, no sentido de prevenir, detetar e reprimir qualquer ameaça que coloque
em causa a segurança de pessoas e bens (imigração ilegal, criminalidade transfronteiriça,
etc.), razão pela qual opera o Sistema SIVICC e o CNC EUROSUR. A PM, no âmbito da
AMN, atua essencialmente no campo da segurança marítima e segurança da navegação.

APÊNDICE C- TABELA SÍNTESE DAS RESPOSTAS OBTIDAS NAS


ENTREVISTAS EFETUADAS

2.º Cmdt da PM de Tavira e VRSA Cmdt DCC de Olhão


Nega qualquer tipo de articulação Afirma que, geralmente, as forças atuam
Q1
entre UCCF e PM. de forma independente.
Defende que deveria haver um
Nega a existência deste tipo de
Q2 sistema de informação de acesso
plataforma no domínio marítimo.
partilhado.
Declara que “não houve qualquer tipo
Diz que a partilha de informação é muito
Q3 de cooperação, cada um trabalhou residual. Acrescenta que prevalece uma
para si.” sensação de descoordenação.
Alega que não existem porque não Define como vantagem o espírito de
existe cooperação entre forças. cooperação. Por outro lado, a falta e
Q4
Contudo, seria uma vantagem para partilha, de informação e a deficitária
evitar o desperdício de recursos.delimitação de competências.
Refere que existem diferenças sendo, a
Afirma que existe diferenças de
principal, o facto da PM de VRSA ser
Q5 competências nos navios, “dentro de
uma entidade local e o DCC Olhão ser
água” é quem chegar primeiro.
uma entidade regional.
Ilustração 8- Tabela Síntese das respostas obtidas nas entrevistas efetuadas

Fonte: Elaboração própria

23
ANEXOS

ANEXO A- AUTO DE NOTÍCIA DA PRIMEIRA OCORRÊNCIA


RELATADA POR PARTE DA UCCF DE OLHÃO

Ilustração 9: Auto de Notícia do caso em estudo

Fonte: Comandante de Destacamento da UCCF de Olhão

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ANEXO B- NOTÍCIA CORRESPONDENTE À PRIMEIRA APREENSÃO FEITA
PELA GNR NO DIA 29 DE OUTUBRO DE 2022

Ilustração 10: Notícia relativa à atuação da GNR


Fonte: Notícias ao Minuto, 2022

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ANEXO C- NOTÍCIA CORRESPONDENTE À APREENSÃO FEITA PELA PM
AO LARGO DA COSTA DE VRSA

Ilustração 11: Notícia da apreensão dos fardos de haxixe por parte da


Polícia Marítima

Fonte: Diário de Notícias, 2022

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ANEXO D- NOTÍCIA CORRESPONDENTE À APREENSÃO DE UMA
EMBARCAÇÃO AO LARGO DE OLHÃO

Ilustração 12: Notícia publicada acerca do caso em estudo


Fonte: Autoridade Marítima Nacional, 2022

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ANEXO E- NOTÍCIA CORRESPONDENTE AO ACORDO SELADO ENTRE AS
FORÇAS RESPONSÁVEIS PELO CONTROLO MARÍTIMO

Ilustração 13- Notícia do “Protocolo de Cooperação Eurosur”


Fonte: Diário de Notícias, 2022

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