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Autores:
Duarte Cordeiro da Silva Branco, Academia Militar, duartebranco48@gmail.com,
turma GNR Armas, Cadete N.º 48, Telemóvel 962042919
Diogo Filipe Teixeira Pires, Academia Militar, diogo7pires@gmail.com, turma GNR
Armas, Cadete N.º 37, Telemóvel 965856818
Rúben Filipe Nascimento Lopes, Academia Militar, rubenlopes2002@gmail.com,
turma GNR Armas, Cadete N.º 53, Telemóvel 927277217
Gonçalo Silva Berenguel, Academia Militar, goncaloberenguel@hotmail.com, turma
GNR Armas, Cadete N.º 155, Telemóvel 966574400
António Pedro Ciríaco Caeiro, Academia Militar, apcaeiro70@gmail.com, turma GNR
Armas, Cadete N.º 590, Telemóvel 963197017
Autores:
Duarte Cordeiro da Silva Branco, Academia Militar, duartebranco48@gmail.com,
turma GNR Armas, Cadete N.º 48, Telemóvel 962042919
Diogo Filipe Teixeira Pires, Academia Militar, diogo7pires@gmail.com, turma GNR
Armas, Cadete N.º 37, Telemóvel 965856818
Rúben Filipe Nascimento Lopes, Academia Militar, rubenlopes2002@gmail.com,
turma GNR Armas, Cadete N.º 53, Telemóvel 927277217
Gonçalo Silva Berenguel, Academia Militar, goncaloberenguel@hotmail.com,
turma GNR Armas, Cadete N.º 155, Telemóvel 966574400
António Pedro Ciríaco Caeiro, Academia Militar, apcaeiro70@gmail.com, turma
GNR Armas, Cadete N.º 590, Telemóvel 963197017
i
ABSTRACT
This research project aims to deepen the knowledge about the existence about
collaboration between the two forces that have the national coastal and marine coast
responsibility, bringing to detail an occurrence in Algarve and how both forces handled
the situation within their powers and responsibilities. Like drug trafficking is an emerging
issue, the ability to deal with this type of situation by the forces modernizes and
accompanies this progress, so it is extremely important to have a proper articulation and
communication to safeguard greater assets. The present case study was developed through
a documental and empirical process. In a documentary phase, it was possible to address
some essential concepts for understanding the subject, as well as the most important
legislation regarding the main purpose of research. In the empirical phase, two interviews
were carried out, with the 2nd Commander of the Maritime Police of Tavira and Vila Real
de Santo António and the Commander of the Coastal Control Detachment of Olhão, with
the aim of analyzing, in detail, a situation of hashish trafficking, in which both forces
were involved. It was also possible to analyze the report in order to draw conclusions
about the specific case. In summary, the difficulties of articulation between the forces
were notorious, both in sharing information and in articulating actions on the ground.
ii
ÍNDICE GERAL
INTRODUÇÃO 1
CAPÍTULO 3- METODOLOGIA 10
CAPÍTULO 4- RESULTADOS 10
CONCLUSÃO 14
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 15
APÊNDICES 17
iii
APÊNDICE C- TABELA SÍNTESE DAS RESPOSTAS OBTIDAS NAS
ENTREVISTAS EFETUADAS 23
iv
ÍNDICE DE FIGURAS
v
LISTA DE APÊNDICES E ANEXOS
vi
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
PM – Polícia Marítima
vii
INTRODUÇÃO
O presente trabalho de investigação teve como intuito analisar a forma como a Guarda
Nacional Republicana (GNR) e a Polícia Marítima (PM) se organizam de modo a
cooperar na missão do controlo costeiro em Portugal. Desta forma, realizou-se a
investigação com base num estudo de caso em que as duas forças intervieram numa
operação de tráfico de droga, ao largo da costa Algarvia. O interesse da investigação
prende-se com a necessidade de perceber de que forma estas duas forças cooperam, uma
vez que, trabalham para o objetivo comum de proteger a zona costeira de Portugal. Como
é sabido, Portugal é um país “com uma faixa costeira de 1.187km2 e com uma das maiores
Zonas Económicas Exclusivas (ZEE) da Europa, evidenciando também que
aproximadamente 76% da população portuguesa reside nas áreas costeiras” (Loução,
2009, p. 2). Com este mote, surge como objetivo geral da investigação: perceber de que
forma a Polícia Marítima e a Unidade de Controlo Costeiro cooperam no controlo
costeiro. Deste, destaca-se a pergunta de partida “de que forma a Unidade de Controlo
Costeiro e a Polícia Marítima cooperam no controlo costeiro em Portugal?”. Para a
realização do trabalho analisaram-se vários mecanismos que ajudam ambas as forças no
Controlo Costeiro, bem como a legislatura mais importante na matéria.
A Guarda Nacional Republicana viu surgir na sua orgânica uma nova unidade
especializada, após a aprovação da nova Lei orgânica da GNR, que entrou em vigor a 6
de dezembro de 2007. No seu artigo 40º, esta lei define a Unidade de Controlo Costeiro
e de Fronteiras (UCCF), decretando que “A UCCF é a unidade especializada responsável
pelo cumprimento da missão da Guarda relativamente às fronteiras marítimas e terrestres,
nomeadamente:
1
a) A vigilância, patrulhamento e interceção terrestre ou marítima em toda a costa e mar
territorial, bem como nas fronteiras marítimas do continente e das regiões autónomas;
b) A gestão e operação do Sistema Integrado de Vigilância, Comando e Controlo
(SIVICC), distribuído ao longo da orla marítima.”
No que diz respeito à missão da UCCF, para além da missão geral da GNR, integra
também nas suas competências a gestão do sistema SIVICC, assegura o comando,
controlo e coordenação de todo o dispositivo da Unidade de Controlo Costeiro e de
Fronteiras, executa ações de vigilância móveis, e ainda, assegura o patrulhamento e
vigilância marítima e terrestre ao longo de toda a costa, bem como, no mar territorial
português (GNR, 2022). A UCCF serve a comunidade portuguesa segundo os valores
intrínsecos à instituição em que se insere, tendo como guia o facto da GNR ser uma “força
de segurança humana, próxima e de confiança” (GNR, 2022). É de realçar que a UCCF
desenvolve as suas ações na costa e no mar territorial (até 12 milhas náuticas), em
consonância com o artigo 5.º da LOGNR.
3
Decreto-Lei 43/2002 de 2 de março, que define as atribuições do Sistema da Autoridade
Marítima e cria a Autoridade Marítima Nacional. Este Decreto-Lei atribui à GNR e à PM,
conjuntamente com outras forças, o poder de autoridade marítima. Importa realçar que o
artigo 9.º deste diploma legal prevê que a coordenação operacional e a centralização de
informações devem ser realizadas ao nível dos dirigentes máximos de cada força. Em
consonância com este preceito legal, surge o Decreto Regulamentar 86/2007 de 12 de
dezembro, que vem regular a articulação das forças policiais e demais autoridades
competentes no âmbito dos espaços marítimos. Deste decreto, realça-se que cada força
tem matérias que coordena relativamente às restantes forças. Assim, compete à AMN
coordenar: a segurança da navegação dos navios e embarcações de pesca, de comércio e
da náutica de recreio; as ações de vigilância e fiscalização das atividades de pesca e
culturas marinhas exercidas em espaços sob soberania e jurisdição nacional e as ações de
vigilância e fiscalização dos navios e embarcações por forma a prevenir e detetar
quaisquer atividades ilícitas de poluição do meio marinho por produtos poluentes. Por
outro lado, compete à GNR coordenar a atuação dos órgãos e serviços da Marinha/AMN
no âmbito das infrações tributárias, fiscais e aduaneiras fora das instalações portuárias.
Às duas forças competem as ações de fiscalização em matéria de imigração ilegal, tráfico
de seres humanos, tráfico de mercadorias e bens e fiscalização de atividades económicas.
No que releva para este trabalho, o Decreto Regulamentar 86/2007 de 12 de dezembro,
no seu artigo 5.º, relativo ao tráfico de estupefacientes, prevê que “compete à PJ a
coordenação das ações de vigilância e fiscalização em matéria de tráfico de
estupefacientes e substâncias proibidas”.
Por forma a sintetizar toda a informação explanada, importa realçar, de forma clara, quais
as principais diferenças de atuação das duas forças em análise. A figura abaixo representa
a distinção nas áreas de jurisdição das duas Forças. Uma vez que a Guarda Nacional
Republicana é uma Força de Segurança, tem a sua área de atuação limitada, visto que se
considera que a Segurança Interna é exercida em território soberano do Estado Português
(Santos, 2020). Nesta perspetiva, do facto de ser notório que a “soberania de um Estado
se estende até ao limite do mar territorial, podemos depreender que a fronteira marítima
externa é o limite exterior do mar territorial” (Santos, 2022, p. 22), sendo que cessa aí a
área de jurisdição da GNR. Por seu turno, a PM, sob dependência do Ministério da Defesa
Nacional tem uma área de atuação bem mais alargada, como anteriormente explicado.
4
Ilustração 2- Zonas Marítimas Nacionais
5
porção terrestre do DPM”. Para este autor uma solução possível para a resolução desta
redundância legislativa seria a “autonomização da PM, de facto e de direito da
Marinha/AMN, e a criação de uma força única resultante da unificação com a UCC da
GNR” (Martinho, 2017, p. 50). No entendimento de Marinho (2010, p. 43) “quando a lei
prevê que, num mesmo campo de atuação/território, mais do que uma entidade possa
fazer as mesmas coisas ou se consegue ter uma boa cooperação e coordenação, ou as
disputas serão uma constante na atividade das forças no terreno”, evidenciando assim que
a teia legislativa atual não é suficientemente explicita na abordagem à matéria.
Segundo Marinho (2010, p. 12) “o SIVICC, foi a solução encontrada para substituir o
obsoleto Long Arm Operational System (LAOS)”. Este é um sistema que permite
monitorizar toda a Costa Portuguesa através de radares, câmaras de vídeo e sensores, por
forma a garantir proteção contra algumas ameaças que Portugal enfrenta, como é o caso
do narcotráfico e da migração ilegal. Atualmente, o sistema é composto por 20 postos
fixos e 8 postos móveis. A informação capturada por todos os dispositivos ao longo da
costa vai para o “Centro de Comando e Controlo, que será usado para acionar os meios
necessários a fazer face a uma determinada ameaça” (Loução, 2009, p. 10). A informação
poderá ser partilhada com outras entidades.
6
00h45, entrou em contacto uma segunda embarcação mais pequena, que não foi possível
identificar, que fez a transladação de um passageiro para a EAV ficando a mesma com
um total de 4 tripulantes (2). Após a transladação, a embarcação de contacto de menor
dimensão deslocou-se de imediato para território espanhol, em direção a Isla Cristina (3
e 4). As autoridades espanholas foram alertadas, mas não conseguiram intersetar a
embarcação. A EAV seguiu rumo a norte, pelo Rio Guadiana, a baixa velocidade. Pelas
01h30 foi ativada uma equipa do subdestacamento de controlo costeiro de VRSA para
proceder à interceção da EAV (5). A mesma, seguiu em direção à ponte internacional do
Guadiana aumentado progressivamente a sua velocidade (6). Assim que avistaram a EAV
suspeita, a equipa da UCCF avançou em direção à embarcação suspeita para a intercetar.
Esta, ao verificar a presença da GNR, inverteu o seu rumo para sul (7). Seguiu,
posteriormente, em direção à saída da barra de VRSA, iniciando-se assim um seguimento
policial no rio Guadiana que durou 25 min até as equipas da UCCF perderem o contacto
visual com a embarcação (8). Pouco depois o SIVICC perdeu também a localização da
embarcação, que iniciou a fuga rumo a sul às 01h55.
Durante o seguimento da embarcação suspeita, os tripulantes da mesma atiraram para a
água vários volumes não identificados, que mais tarde foram reconhecidos como fardos
de Haxixe. Após a perda de contato, os militares da GNR tentaram identificar e recolher
os volumes que se encontravam ao largo do rio Guadiana, tarefa que não foi concluída
devido à ausência total de luminosidade.
7
Às 07h00, a equipa marítima e várias patrulhas terrestres da UCCF retomaram os
trabalhos, no seguimento das diligências efetuadas, a fim de recolher e identificar os 12
volumes que se encontravam a boiar no rio. Seguidamente, até às 13h00 foram recolhidos
mais 38 fardos que se encontravam na margem do Rio Guadiana e na zona oceânica, na
área compreendida entre o estaleiro da marina guadiana e a praia de Vila Real de Santo
António (1, 2, 3 e 4). Face ao sucedido procedeu-se à apreensão de 50 fardos de haxixe
com peso total aproximado de 1750 kg (pesados húmidos), bem como um volume envolto
em fita cola castanha com cerca de 1kg de Haxixe (pesado húmido). Importa realçar que
no mesmo dia, a Autoridade Marítima Nacional emitiu um comunicado que afirmava que
“na sequência de um alerta recebido cerca das 06h45, através de populares, a informar
que se encontravam pacotes suspeitos no areal da praia de Santo António, foram de
imediato ativadas para o local duas viaturas e uma embarcação do Comando-local da
Polícia Marítima de Vila Real de Santo António. À chegada ao local, os elementos da
Polícia Marítima confirmaram a presença de sete fardos de estupefacientes no areal da
praia, tendo sido posteriormente localizados mais oito fardos à deriva no mar. Foram
apreendidos um total de 15 fardos de droga, com cerca de 35kg cada um” (Autoridade
Marítima Nacional, 2022) (5). Os fardos foram entregues à Polícia Judiciária para
posterior investigação. Todos os factos supracitados constam do Auto de Notícia da
UCCF (Anexo A).
8
No mesmo dia 29 de outubro de 2022, a Marinha informou que empenhou um navio em
auxílio à Autoridade Marítima Nacional na investigação sobre o aparecimento de 15
fardos de estupefacientes, no areal da praia de VRSA. Em comunicado, a Marinha
afirmou que “o navio da Marinha que esteve em vigilância entre Tavira e Vila Real de
Santo António, acabou por encontrar uma embarcação de alta velocidade à deriva, sem
ocupantes” (Algarve Primeiro, 2022). A GNR presume que a embarcação encontrada
possa ser a segunda embarcação, que a Guarda Civil Espanhola não conseguiu intercetar.
9
Ilustração 7: Imagem ilustrativa da embarcação encontrada (casco branco e 4
motores)
Fonte: Autoridade Marítima Nacional, 2022.
CAPÍTULO 3- METODOLOGIA
CAPÍTULO 4- RESULTADOS
Com o intuito de aprofundar a análise do estudo de caso, foram realizadas duas entrevistas
(Apêndices A e B), uma ao 2º Comandante da Polícia Marítima de Tavira e VRSA e outra
ao Comandante do Destacamento de Controlo Costeiro de Olhão, no sentido de perceber
10
o seu entendimento relativamente à cooperação destas duas forças. Em relação à pergunta
“De que forma as Forças se articulam no âmbito da proteção dos espaços marítimos
sob soberania e jurisdição nacional?” o 2º Comandante da Polícia Marítima de Tavira
e VRSA foi perentório ao afirmar que não havia qualquer tipo de cooperação. Por seu
turno, o Comandante do Destacamento de Controlo Costeiro de Olhão referiu que pode
haver cooperação, mas no dia a dia as forças atuam de forma independente. Aquando
perguntados acerca do n. º3 do artigo 2.º do Decreto Regulamentar n.º 86/2007 que
prevê um sistema de partilha de informação, o 2º Comandante da Polícia Marítima de
Tavira e VRSA realçou essa partilha de informação apenas nas investigações de alguns
processos crime e o Comandante do Destacamento de Controlo Costeiro de Olhão refere
que “não existe qualquer Sistema de Informação neste círculo, que seja de acesso
partilhado”, no entanto alerta para a existência do EUROSUR “criado para reforçar o
intercâmbio de informações e a cooperação operacional entre os Estados-membros (EM),
tendo em vista melhorar o conhecimento situacional e aumentar a capacidade de reação
nas fronteiras externas. O CNC, alojado no Comando da UCC, é o único ponto de
contacto a nível nacional, que deve convergir toda a informação relacionada com a
vigilância das fronteiras marítimas, a fim de prevenir, detetar e combater a imigração
ilegal e criminalidade transfronteiriça”. Segundo Araújo (2018, p.14) a criação do CNCM
“[…] teve como base a necessidade de clarificar as competências cometidas aos órgãos e
serviços da Marinha, da AMN e da GNR e a sua articulação com as restantes autoridades”.
A criação do CNCM pelo Decreto-Regulamentar n.º 86/2007, de 12 de dezembro
permitiu agilizar os procedimentos de articulação, nos espaços marítimos sob domínio
jurídico nacional, entre as autoridades de polícia, e demais entidades competentes,
designadamente, os órgãos e serviços do SAM. Estas entidades elegem um representante
que marca presença nas reuniões mensais do CNCM. Importa, no entanto, perceber de
que forma se procedeu à coordenação no estudo de caso em causa. Assim sendo, à questão
“De que forma caracteriza a cooperação entre a UCC e a PM no estudo de caso em
análise?” o 2º Comandante da Polícia Marítima de Tavira e VRSA respondeu que “Não
houve qualquer tipo de cooperação, cada um trabalhou para si. Devíamos ter um protocolo
assinado de cooperação entre o comando Geral da Polícia Marítima e o Comando Geral
da GNR, onde fosse descriminado as situações de cooperação ou situações de não
cooperação, consoante a operação/ocorrência. Há necessidade de articular entre forças no
sentido de organizar. Assim é salve-se quem quiser e salve-se quem apanhar mais”. É de
extrema importância o que revela o responsável pela PM daquela área, uma vez que, vai
11
ao encontro do descrito no auto de notícia que refere que “a Polícia Marítima de Vila Real
de Santo António também foi mobilizada para as imediações, recolhendo fardos de
Haxixe que se encontravam a boiar ou já em terra na Praia de Santo António”,
demonstrando que não houve qualquer troca de informação, e ainda, de forma mais
gravosa, que houve um completo abalroamento de competências e ações. Apresenta-se
em Apêndice C uma tabela que sintetiza as entrevistas obtidas.
12
envolvidos, quer no artigo 5.º quer no artigo 10.º deste diploma legal. Por este motivo
poderá questionar-se porque razão a atuação da Polícia Marítima consistiu na recolha de
fardos de haxixe de forma autónoma da atuação da UCCF, quebrando princípios de
cooperação e partilha de informação supramencionados. Importa referir que os fardos
apreendidos pela Polícia Marítima, ao largo da costa de Vila Real de Santo António,
tinham um aspeto que indiciavam ser do mesmo grupo organizado que a UCCF intercetou
na ação anteriormente descrita. Para corroborar, consta do auto de notícia que a PM após
denuncia de populares, foi ao local onde a UCCF estaria a atuar para também apreender
alguns fardos. Acerca deste facto importa referir que foram criados 2 Números Únicos de
Identificação de Processo Criminal diferentes para incidentes distintos com uma
presumível conexão. O Número Único de Identificação de Processo Crime (NUIPC)
surge com o intuito de identificar os vários processos crime e a entidade de onde é
emitido. De acordo com o artigo 2.º da Portaria n.º 1223-1/91, de 30 de dezembro, “o
sistema estabelecido visa permitir a individualização de cada processo, desde a notícia do
crime ao arquivo, de forma unívoca, quer para quem nele tenha intervenção quer para
terceiros, através da atribuição de um número único identificador de processo crime
(NUIPC)”. Deste modo, o NUIPC é atribuído ao processo após o primeiro registo do
mesmo, e os subsequentes a esse mantêm o mesmo número único de identificação, como
refere o artigo 13º da portaria em causa. Ao analisar o artigo 243º do Código de Processo
Penal (CPP), nomeadamente o seu número 4, percebe-se que o mesmo possibilita o
levantamento de um único auto de notícia em casos de conexão. Os casos de conexão
estão previstos no artigo 24º do CPP, onde se refere que existe conexão, entre outros
casos, quando “o mesmo agente tiver cometido vários crimes, na mesma ocasião ou lugar,
sendo uns a causa ou efeito dos outros, ou destinando-se uns a continuar ou a ocultar os
outros”, número 1, alínea b) do artigo 24º do CPP. Assim, como referido no número 2 do
artigo 29º do CPP, “se tiverem já sido instaurados processos distintos, logo que a conexão
for reconhecida procede-se à apensação de todos àquele que respeitar ao crime
determinante da competência por conexão”. Desta maneira, quando existe a conexão
entre acontecimentos em NUIPC´s distintos, deverá acontecer um aditamento ou uma
apensação ao processo inicial. Todos estes trâmites legais são previstos com o intuito de
impedir investigações paralelas, por parte das autoridades competentes para tal e para que
o processo decorra com maior celeridade no apuramento dos factos. No caso em questão
não houve esta articulação entre as forças, revelando que as duas trabalharam de forma
isolada. É de realçar ainda a falta de partilha de informação entre a UCCF e a PM. Ambos
13
os comandantes entrevistados referiram que os sistemas de partilha de informação eram
deficitários ou inexistentes, sendo que o caso em análise é demonstrativo disso, uma vez
que a Polícia Marítima atuou sem ter conhecimento que a ação estava a ser tratada pela
UCCF. A falta de comunicação é visível, ainda, na apreensão da embarcação no dia 1 de
novembro de 2022, uma vez que a mesma corresponde à descrição feita no auto de notícia
da UCCF, da embarcação seguida pela GNR, 3 dias antes. A Polícia Marítima não
relacionou os casos nem entrou em contacto com a GNR com o intuito de perceber se era
a mesma embarcação, facto para o qual, elementos da UCCF, no decorrer da investigação,
alertaram. Neste sentido, importa fazer referência ao artigo 6.º da Lei de Segurança
Interna uma vez que o mesmo prevê a necessidade de cooperação “designadamente
através da comunicação de informações que, não interessando apenas à prossecução dos
objetivos específicos de cada um deles, sejam necessárias à realização das finalidades de
outros”.
CONCLUSÃO
14
desnecessário de meios e com vista a estipular as atuações de ambas as forças, uma vez
que as suas competências são muitas vezes equiparáveis. De facto, este protocolo foi
selado, no dia 14 de novembro de 2022, entre Marinha, GNR, SEF, Força Aérea e PJ, e
“de acordo com o SSI, a assinatura do "Protocolo de Cooperação Eurosur" revelava-se
‘essencial para a criação do quadro situacional nacional para a gestão integrada das
fronteiras, nos termos do preceituado no regulamento da Agência Europeia da Guarda de
Fronteiras e Costeira (FRONTEX), assim como o reforço da cooperação e coordenação
para o intercâmbio de informações neste âmbito’” (Diário de notícias, 2022). Desta forma,
trata-se de um protocolo para articulação operacional e partilha de informações, sendo
que a sua capacidade resolutiva deverá ser avaliada posteriormente.
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15
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16
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maritima-protocolo-assinado-em-segredo-selou-paz-entre-marinha-e-gnr-
15370958.html
APÊNDICES
APÊNDICE A- GUIÃO DE ENTREVISTA REALIZADA AO COMANDANTE DA
PM DE VRSA
1.1. Nome: José Joaquim Cruz Martins
1.2. Posto/Função: Chefe da Polícia Marítima / 2º Comandante da Polícia Marítima de
Tavira e VRSA
1.3. Local: Entrevista foi realizada via telefónica
1.4. Data: 29/11/2022
1.5- De que forma as Forças se articulam no âmbito da proteção dos espaços
marítimos sob soberania e jurisdição nacional?
“Não há qualquer tipo de articulação entre a UCC e a PM”.
17
informação de acesso partilhado”. Este procedimento é realizado por todas as
autoridades responsáveis pelo controlo marítimo Nacional?
“Deveria de existir realmente uma plataforma onde fosse partilhado todas as informações
das várias matérias abordadas no âmbito das competências marítimas das FSS em
Portugal.
Apenas existe em termos criminais, o PIC ponto de investigação criminal, onde existe
realmente troca/partilha de informação, mas apenas no âmbito de Investigações de
processos Crime no qual se insere a Polícia Judiciaria onde as forças conseguem se
articular entre si, no âmbito de matérias criminais.
Na Ocorrência/Operação que foi realizada (estudo de caso do trabalho) não ocorreu
qualquer tipo de registo/partilha de informação em qualquer tipo de plataforma.
Tenho dúvidas que este procedimento (registo num sistema de informação de acesso
partilhado) seja feito por todas as FSS”.
1.7.1- O que poderia ser feito de modo a realmente existir cooperação entre as
forças?
18
Se existisse cooperação entre a UCC e PM haveria um emprego de meios em maior
quantidade evitando assim o desperdício de recursos para situações em que ambas as
forças estão qualificadas para tal, servindo melhor Portugal”.
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Guarda Costeira, uma vez que as Funções de Guarda Costeira tendem a convergir para
missões de preservação da segurança e da ordem nos espaços marítimos, através de
vigilância, controlo e fiscalização, o que constituem atribuições específicas da UCC -
vigilância, controlo e fiscalização do mar territorial e da fronteira externa marítima -
funções que caracterizam concomitantemente a missão primordial da Agência Europeia
da Guarda Fronteiras e Costeira (Frontex), criada pela União Europeia.
A articulação entre os vários atores que atuam no domínio marítimo depende do âmbito
das diversas ocorrências no contexto da segurança marítima e da fronteira externa
marítima, considerando que, de um modo geral, no que se refere ao patrulhamento e
demais tarefas diárias, as Forças atuam de forma independente no quadro das suas
atribuições. A UCC atua diariamente, por exemplo, na fiscalização de embarcações,
pessoas e bens, visando a deteção de infrações tributarias, fiscais e aduaneiras, na
fiscalização da pesca lúdica e comercial (tarefa coordenada pela DGRM, em que participa
também a PM e AMN), na proteção do ambiente, etc.
Posto isto, conclui-se que neste âmbito Security a articulação entre as Forças devia ocorrer
primordialmente a um nível nacional, através da troca de informações no CNC
EUROSUR – que fornece o quadro de situação das nossas fronteiras marítimas (costa e
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mar territorial), porém, na generalidade, a cooperação e partilha de informação por parte
da PM e Marinha é muito residual. Ao nível regional (Destacamento de Controlo Costeiro
vs. Comando Zona Marítima / Comando Regional da PM) e ao nível local
(Subdestacamento de Controlo Costeiro vs. Capitania / Comando local da PM) a
articulação ocorre em função das ocorrências, através da coordenação entre os respetivos
Comandos, desenvolvendo-se na maioria das vezes de forma eficaz, embora nem sempre
de forma eficiente, com sobreposição de atuações, por parte da PM Marinha em
ocorrências da competência da UCC da GNR e que já se encontram em processo de
resolução.
1.6- Segundo o n.º 3 do artigo 2.º do Decreto Regulamentar n.º 86/2007 “quando os
autos de notícia levantados digam respeito a matérias em que sejam simultaneamente
competentes vários órgãos e serviços, devem os mesmos ser registados num sistema de
informação de acesso partilhado”. Este procedimento é realizado por todas as
autoridades responsáveis pelo controlo marítimo Nacional?
A única entidade responsável pelo Controlo Marítimo Nacional é a Direção-Geral de
Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), através da gestão do
Sistema VTS (Vessel Traffic Service), que monitoriza o tráfego marítimo.
No que concerne às autoridades de polícia e demais entidades que atuam no domínio
marítimo, particularmente os OPC com competência para lavrar autos de notícia nas
matérias da sua competência (GNR, PM, PJ, ASAE, SEF, etc.), embora previsto na letra
da lei, não existe qualquer Sistema de Informação neste círculo, que seja de acesso
partilhado.
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são empenhados os meios da UCC para vigilância e interceção terrestre e marítima e
meios da PM / Marinha para apoio na interceção marítima.
Por outro lado, a partilha de informação é muito residual, o que constitui uma
contrariedade para o conhecimento situacional da área de operações e de alvos suspeitos,
existindo também diversas situações em que a PM procura atuar em operações que já se
encontram em desenvolvimento por parte da UCC, particularmente aquelas que envolvem
um maior impacto mediático, dando uma sensação de descoordenação que em nada
beneficia a atuação do Estado.
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As diferenças de competência ao nível local são condizentes com as dissemelhanças ao
nível regional e nacional. Destarte, apesar de existirem atribuições secundárias que cabem
às duas Forças (fiscalização da pesca lúdica e comercial, fiscalização da náutica de
recreio, etc.), a UCC da GNR é responsável pela vigilância e controlo da fronteira
marítima externa, no sentido de prevenir, detetar e reprimir qualquer ameaça que coloque
em causa a segurança de pessoas e bens (imigração ilegal, criminalidade transfronteiriça,
etc.), razão pela qual opera o Sistema SIVICC e o CNC EUROSUR. A PM, no âmbito da
AMN, atua essencialmente no campo da segurança marítima e segurança da navegação.
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ANEXOS
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ANEXO B- NOTÍCIA CORRESPONDENTE À PRIMEIRA APREENSÃO FEITA
PELA GNR NO DIA 29 DE OUTUBRO DE 2022
25
ANEXO C- NOTÍCIA CORRESPONDENTE À APREENSÃO FEITA PELA PM
AO LARGO DA COSTA DE VRSA
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ANEXO D- NOTÍCIA CORRESPONDENTE À APREENSÃO DE UMA
EMBARCAÇÃO AO LARGO DE OLHÃO
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ANEXO E- NOTÍCIA CORRESPONDENTE AO ACORDO SELADO ENTRE AS
FORÇAS RESPONSÁVEIS PELO CONTROLO MARÍTIMO
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