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ESCOLA POLITÉCNICA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA
Rio de Janeiro
2023
O TRANSPORTE MARÍTIMO DE GRANÉIS LÍQUIDOS E OS
EFEITOS DE MUDANÇAS REGULATÓRIAS NA CABOTAGEM
Rio de Janeiro
2023
O TRANSPORTE MARÍTIMO DE GRANÉIS LÍQUIDOS E OS EFEITOS DE MUDANÇAS
REGULATÓRIAS NA CABOTAGEM
Examinada por:
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JANEIRO DE 2023
Silva, Guilherme Henrique Sant’Ana Silva
O Transporte Marítimo de Granéis Líquidos e os
Efeitos de Mudanças Regulatórias na Cabotagem
/ Guilherme Henrique Sant’Ana Silva - Rio de
Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2023.
xiii, 203 p.:il. ; 29,7 cm
Orientador: Floriano Carlos Martins Pires Junior
Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola
Politécnica/ Curso de Engenharia Naval e
Oceânica, 2023.
Referência Bibliográficas: p. 196-203
1. Indústria de Óleo e Gás 2. Transporte
Marítimo de Granéis Líquidos 3. Custos da
Embarcação 4. Mudanças Regulatórias I. Pires
Júnior, Floriano Carlos Martins. II. Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica,
Curso de Engenharia Naval e Oceânica. III. O
Transporte Marítimo de Granéis Líquidos e os
Efeitos de Mudanças Regulatórias na Cabotagem.
ii
AGRADECIMENTOS
Primeiramente gostaria de agradecer a Deus por ter me orientado, protegido e abençoado até
esse momento. Sair do interior de Minas Gerais para morar no Rio de Janeiro, onde não
conhecia nada nem ninguém, só foi possível pela Sua presença em todos esses anos,
principalmente nos momentos em que ficava mais tempo sem voltar para casa ou de dificuldade
nas disciplinas.
Aos meus pais, que sempre incentivaram meus estudos, apoiaram as minhas escolhas e nunca
deixaram eu me sentir sozinho e desamparado apesar de toda a distância. Ao meu irmão e amigo
Gabriel, que tem todo o meu respeito, orgulho, admiração e gratidão, e que me apoia de forma
incondicional em tudo. A minha namorada Gleyciane, que esteve comigo em praticamente toda
essa jornada e acreditou mais em mim do que eu mesmo em diversas vezes. Agradeço vocês
por terem sido e serem meu conforto nos momentos de ansiedade, pela compreensão nas minhas
ausências, pelo suporte e companheirismo. Vocês são a minha base!
Meus anos no Rio de Janeiro não teriam sido os mesmos sem meus amigos e colegas, em
especial Pedro Vidal, Felipe Jorge, Matheus Franco e Daniel Mafra. Vocês foram a melhor
companhia que eu poderia ter tido e tornaram o meu dia a dia muito melhor.
iii
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Naval e Oceânico.
Janeiro/2023
iv
Abstract of the Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Engineer.
January/2023
The regulation of maritime transport in Brazil was the subject of many discussions
between mid-2020 and the end of 2021, especially in the cabotage sector, which resulted in
regulatory changes that are still being implemented. Although the debates and proposals were
mainly aimed at container transport, liquid and gas bulk would also be affected by the changes.
And this oil and gas sector is the largest responsible for cargo movement in cabotage and holds
an important share in the country's Gross Domestic Product (GDP). Because of this, the present
work aims to analyze the consequences of possible regulatory changes in the capital and
operational cost of an oil tanker operating in cabotage and how this may influence shipbuilding.
For this purpose, a base scenario was elaborated and, from this, different quantitative scenarios
were formulated under the main parameters, thus being able to visualize which variables have
the greatest impact on these costs. Before this, a general description and an initial analysis of
the maritime transportation and the oil and gas industry was carried out.
Keywords: oil & gas, maritime transport, cabotage, costs, regulatory changes
v
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 1
2 ORGANIZAÇÃO DA INDÚSTRIA DE ÓLEO E GÁS E DO TRANSPORTE MARÍTIMO ................................. 4
2.1 ORGANIZAÇÃO DA INDÚSTRIA DE ÓLEO E GÁS ............................................................................ 4
2.1.1 Reservas de Óleo e Gás Mundial ............................................................................................ 4
2.1.2 Produção de Óleo e Gás Mundial ........................................................................................... 5
2.1.3 Consumo de Óleo e Gás Mundial ........................................................................................... 7
2.1.4 Produção e Exploração Offshore............................................................................................ 9
2.1.5 Comércio do Óleo Cru e Derivados ...................................................................................... 11
2.2 ORGANIZAÇÃO DO TRANSPORTE MARÍTIMO ............................................................................. 18
2.2.1 Tipos de Afretamento .......................................................................................................... 19
2.2.2 Comportamento do Mercado de Transporte Marítimo................................................ 20
3 TRANSPORTE MARÍTIMO NA CADEIA DE ÓLEO E GÁS ....................................................................... 24
3.1 APOIO MARÍTIMO ....................................................................................................................... 24
3.1.1 Tipos de Embarcação ........................................................................................................... 24
3.1.2 Frota Mundial ....................................................................................................................... 27
3.1.3 Carteira de Encomendas ...................................................................................................... 29
3.1.4 Armadores ............................................................................................................................ 29
3.2 Escoamento da Produção............................................................................................................ 30
3.2.1 Tipo de Navios Aliviadores ................................................................................................... 30
3.2.2 Frota Mundial ....................................................................................................................... 32
3.2.3 Armadores ............................................................................................................................ 37
3.3 Transporte de Graneis Líquidos .................................................................................................. 38
3.3.1 Tipos de Embarcação ........................................................................................................... 38
3.3.2 Frota Mundial ....................................................................................................................... 45
3.3.3 Armadores ............................................................................................................................ 53
3.4 Comércio Marítimo Internacional ............................................................................................... 56
3.5 Regulamentação do Transporte Marítimo .................................................................................. 60
3.5.1 Políticas de Cabotagem ........................................................................................................ 62
3.6 Regulamentação da Indústria de Óleo e Gás .............................................................................. 68
4 TRANSPORTE DE GRANEIS LÍQUIDOS NO BRASIL ............................................................................... 76
4.1 Regulamentação do Setor de Óleo e Gás .................................................................................... 76
4.2 Organização do Setor de Óleo e Gás ........................................................................................... 78
4.2.1 Rodadas de Licitações .......................................................................................................... 78
4.2.2 Conteúdo Local..................................................................................................................... 79
vi
4.2.3 Companhias Petrolíferas no Brasil ....................................................................................... 81
4.3 Regulamentação do Transporte Marítimo .................................................................................. 84
4.4 APOIO MARÍTIMO ....................................................................................................................... 89
4.4.1 Frota ..................................................................................................................................... 89
4.4.2 Armadores ............................................................................................................................ 93
4.5 Escoamento da Produção............................................................................................................ 94
4.5.1 Frota de Aliviadores com Sistema de Posicionamento Dinâmico ........................................ 94
4.5.2 Frota e Armadores de Aliviadores Convencionais ............................................................... 96
4.5.3 Armadores dos Aliviadores com Sistema de Posicionamento Dinâmico ............................. 97
4.6 Transporte de Granéis Líquidos .................................................................................................. 98
4.6.1 Frota ..................................................................................................................................... 98
4.6.2 Armadores .......................................................................................................................... 102
4.7 Afretamento .............................................................................................................................. 103
4.8 Demanda ................................................................................................................................... 103
5 FUNDO DA MARINHA MERCANTE.................................................................................................... 105
5.1 Legislação do Fundo da Marinha Mercante .............................................................................. 105
5.2 Administração do Fundo da Marinha Mercante ....................................................................... 106
5.3 Financiamento ........................................................................................................................... 107
5.3.1 Condições de Financiamento ............................................................................................. 107
5.3.2 Processo de Financiamento ............................................................................................... 109
5.4 Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante.................................................... 110
5.4.1 Estatísticas do AFRMM ....................................................................................................... 114
5.5 Carteira de Crédito do FMM ..................................................................................................... 120
5.6 Desembolsos e Retornos dos Mutuários .................................................................................. 121
5.7 Conta Vinculada ........................................................................................................................ 123
5.8 Embarcações Financiadas pelo FMM ........................................................................................ 127
5.8.1 Programa de Modernização e Expansão da Frota (PROMEF) ............................................ 128
5.8.2 Programa de Renovação da Frota de Embarcações de Apoio Marítimo (Prorefam) ......... 130
5.9 Políticas de Construção Naval no Brasil .................................................................................... 133
6 INDICADORES DE CUSTO DO NAVIO BRASILEIRO E COMPONENTES CRÍTICOS ............................... 134
6.1. Custo de Capital ....................................................................................................................... 135
6.1.1. Preço de Aquisição Internacional ...................................................................................... 136
6.1.2. Preço de Aquisição Nacional ............................................................................................. 137
6.2. Custo Operacional .................................................................................................................... 140
6.2.1 Estatísticas de Custos Internacionais ................................................................................. 143
vii
6.2.2 Custo Nacional.................................................................................................................... 144
6.3. Custos de Viagem ..................................................................................................................... 146
6.3.1 Perfil Operacional ............................................................................................................... 147
7 IMPACTOS DAS MUDANÇAS REGULATÓRIAS................................................................................... 156
7.1 Cenários Regulatórios ............................................................................................................... 156
7.2 Custo de Capital ........................................................................................................................ 159
7.2.1 Navio Estrangeiro Afretado a Casco Nu ............................................................................. 160
7.2.2 Navio Estrangeiro Importado com Imposto de Importação (II = 14%) .............................. 161
7.2.3 Navio Estrangeiro Importado sem Imposto de Importação .............................................. 163
7.2.4 Navio Construído no Brasil ................................................................................................. 164
7.2.5 Exclusividade da Conta Vinculada de AFRMM para Embarcações Construídas no Brasil . 166
7.2.6 Comparativo dos Custos Efetivos de Capital ...................................................................... 170
7.3 Custo Operacional ..................................................................................................................... 172
7.3.1 Tripulação 100% Brasileira ................................................................................................. 173
7.3.2 Dois Terços da Tripulação Brasileira .................................................................................. 174
7.3.3 Comandante e o Chefe de Máquinas Brasileiros ............................................................... 176
7.3.4 Comparativo dos Cenários da Tripulação .......................................................................... 176
7.4 Análise de Sensibilidade ............................................................................................................ 178
7.4.1 Navio Estrangeiro Afretado a Casco Nu ............................................................................. 178
7.4.2 Navio Estrangeiro Importado com Imposto de Importação .............................................. 181
7.4.3 Navio Estrangeiro Importado sem Imposto de Importação .............................................. 183
7.4.4 Navio Construído no Brasil ................................................................................................. 186
7.4.5 Exclusividade do AFRMM para Embarcações Construídas no Brasil.................................. 188
8 Conclusão ......................................................................................................................................... 193
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 196
viii
Lista de Figuras
Figura 1 – Países com Maiores Reservas de Petróleo em 2020 – Em Bilhões de Barris ........................ 4
Figura 2 – Países com as Maiores Reservas de Gás em 2020 – Em Trilhões de m³ ............................... 5
Figura 3 – Maiores Produtores de Petróleo em 2020 – Em Milhares de Barris por Dia ......................... 6
Figura 4 – Maiores Produtores de Gás Natural em 2020 – Em Bilhões de m³........................................ 7
Figura 5 – Maiores Consumidores de Petróleo em 2020 – Em Milhares de Barris por Dia ................... 8
Figura 6 – Maiores Consumidores de Gás Natural em 2020 – Em Bilhões de m³ .................................. 9
Figura 7 – Principais Movimentações do Petróleo em 2020 – Em Milhões de Toneladas ................... 15
Figura 8 – Principais Movimentações de Gás em 2020 – Em Bilhões de m³ ....................................... 18
Figura 9 – Curva de Demanda do Mercado de Afretamento ................................................................ 21
Figura 10 – Curvas de Oferta para Um Navio....................................................................................... 22
Figura 11 – Frota Mundial de Apoio Marítimo – Número de Embarcações......................................... 27
Figura 12 - Frota Mundial de Apoio Marítimo – GT ............................................................................ 27
Figura 13 – Bandeiras dos Navios Aliviadores ..................................................................................... 33
Figura 14 – Quantidade de Navios Aliviadores Construídos por Ano .................................................. 34
Figura 15 - Navios Aliviadores por Classe ........................................................................................... 35
Figura 16 – Quantidade de Navios Aliviadores Construídos por Estaleiro........................................... 36
Figura 17 - Movimentação dos Navios Aliviadores em 2018 ............................................................... 37
Figura 18 – Frota de Aliviadores por Armadores.................................................................................. 38
Figura 19 – Preços e Taxas de Frete de um VLGC ............................................................................... 43
Figura 20 – Preços e Taxas de um Navio LPG de Médio Porte ............................................................ 43
Figura 21 – Preços e Taxas de um Navio LNG ..................................................................................... 44
Figura 22 – Preços e Taxas de um Aframax ......................................................................................... 44
Figura 23 – Perfil de Idade dos Petroleiros em Números de Embarcações........................................... 48
Figura 24 – Perfil de Idade dos Petroleiros em Termos de Arqueação Bruta ....................................... 48
Figura 25 – Carteira de Encomendas de Petroleiros em Maio de 2020 ................................................ 49
Figura 26 – Evolução da Frota de Navios Gaseiros .............................................................................. 50
Figura 27 – Evolução da Frota de Navios GNL .................................................................................... 50
Figura 28 – Evolução da Frota de Gaseiros em GT .............................................................................. 51
Figura 29 – Perfil de Idade dos Gaseiros em Número de Embarcaçõs ................................................. 52
Figura 30 – Perfil de Idade dos Gaseiros em GT .................................................................................. 53
Figura 31 – Frota de Petroleiros das Maiores Empresas ....................................................................... 54
Figura 32 – Frota de Navios LNG dos Principais Armadores .............................................................. 55
Figura 33 – Frota de Navios LPG dos Principais Armador .................................................................. 56
Figura 34 – Distribuição do Comércio Marítimo Internacional ............................................................ 57
Figura 35 – Comércio Marítimo Internacional em Toneladas-Milhas de Carga................................... 58
Figura 36 – Comércio mundial de petroleiros ultragrandes por região exportadora em tonelada e
toneladas-milhas (porcentagem em participação) ................................................................................. 59
Figura 37 – Ganho Médio Diário dos Petroleiros em Dólares .............................................................. 59
Figura 38 – Países com Leis de Cabotagem .......................................................................................... 63
Figura 39 – Relação entre Embarcações de Apoio e Número de Sondas ............................................. 90
Figura 40 – Evolução da Frota de Apoio Marítimo Nacional e Estrangeira ......................................... 91
Figura 41 – Quantidade de Afretamentos por Tipo de Embarcação em Junho de 2022 ....................... 92
Figura 42 – Frota de Apoio Marítimo por Armadores no Brasil ........................................................... 93
Figura 43 – Frota de Aliviadores no Brasil por Classe ......................................................................... 94
Figura 44 – Quantidade de Aliviadores Construídos por Ano .............................................................. 95
ix
Figura 45 – Frota de Aliviadores no Brasil por Bandeira ..................................................................... 95
Figura 46 – Frota de Aliviadores no Brasil por Construtor ................................................................... 96
Figura 47 – Frota de Aliviadores no Brasil por Proprietário ................................................................. 98
Figura 48 – Distribuição das Bandeiras dos Petroleiros no Brasil ........................................................ 99
Figura 49 – Divisão por Classe e por Bandeira dos Petroleiros no Brasil .......................................... 100
Figura 50 – Quantidade de Petroleiros Construídos por Ano ............................................................. 100
Figura 51 – Distribuição dos Gaseiros por Bandeira no Brasil ........................................................... 101
Figura 52 – Divisão dos Gaseiros no Brasil por Ano de Construção .................................................. 102
Figura 53 – Evolução da Carteira de Crédito do FMM no BNDES .................................................... 120
Figura 54 – Evolução da Carteira de Crédito do FMM no BNDES .................................................... 121
Figura 55 – Distribuição dos Projetos por Estados ............................................................................. 121
Figura 56 – Desembolsos para Mutuários de 2013 a 2021 ................................................................. 122
Figura 57 – Retorno dos Mutuários de 2016 a 2021 ........................................................................... 123
Figura 58 – Liberação com Recursos das Contas de AFRMM ........................................................... 124
Figura 59 – Liberação com Recursos das Contas de AFRMM ........................................................... 124
Figura 60 – Uso de Recursos da Conta Vinculada .............................................................................. 125
Figura 61 – Valores Devolvidos ao FMM de 2017 a 2021 ................................................................. 125
Figura 62 – Saldo das Contas Vinculadas no Decorrer de 2021 ......................................................... 126
Figura 63 – Série Histórica dos Preços dos Navios Suezmax ............................................................. 137
Figura 64 – Preço de Contratação da Série de Dez Petroleiros Suezmax do Promef.......................... 138
Figura 65 – Curva de Consumo do Suezmax Carregado .................................................................... 150
Figura 66 – Curva de Consumo do Suezmax em Lastro ..................................................................... 151
Figura 67 – Variação de Preço do VLSFO no Porto de Santos........................................................... 152
Figura 68 – Variação de Preço do MGO no Porto de Santos .............................................................. 152
Figura 69 – Resultados da Análise de Sensibilidade do Cenário de um Navio Estrangeiro Afretado a
Casco Nu – Milhões de Dólares .......................................................................................................... 180
Figura 70 – Resultado da Análise de Sensibilidade do Cenário do Navio Estrangeiro Importado com
Imposto de Importação de 14% ........................................................................................................... 182
Figura 71 – Resultado da Análise de Sensibilidade do Cenário do Navio Estrangeiro Importado sem
Imposto de Importação ........................................................................................................................ 185
Figura 72 – Resultado da Análise de Sensibilidade do Cenário de Navios Construídos em Estaleiro
Brasileiro ............................................................................................................................................. 187
Figura 73 – Resultado da Análise de Sensibilidade do Cenário de Exclusividade da Conta Vinculada
para Navios Construídos no Brasil ...................................................................................................... 190
x
Lista de Tabelas
Tabela 1 – Importação e Exportação de Óleo Cru e de Produtos por Países em 2019 e em 2020
(Milhões de Toneladas) ......................................................................................................................... 13
Tabela 2 – Movimentação do Óleo Cru em 2020 em Milhões de Toneladas ....................................... 14
Tabela 3 – Movimentação dos Derivados de Petróleo em 2020 em Milhões de Toneladas ................. 15
Tabela 4 - Movimentação Comercial do GNL em 2020 ....................................................................... 17
Tabela 5 – Número de Embarcações do Tipo AHTS e PSV no Mundo de 2016 a Maio de 2020 ........ 28
Tabela 6 – Frota Mundial de Embarcações do Tipo AHTS e PSV no Mundo de 2016 a Maio 2020 -
kGT ....................................................................................................................................................... 28
Tabela 7 – Distribuição das Embarcações do Tipo AHTS e PSV pelo Mundo em 2019 ..................... 28
Tabela 8 – Quantidade de Aliviadores em Operação por País Construtor ............................................ 36
Tabela 9 – Divisão dos Navios Petroleiros por Classe e seu Respectivo Porte .................................... 40
Tabela 10 - Coeficientes para Cálculo do CGT .................................................................................... 42
Tabela 11 – Frota Mundial de Petroleiros de Acordo com a Classe ..................................................... 45
Tabela 12 – Evolução do Número de Navios Petroleiros no Mundo de 2016 a Maio de 2020 ............ 46
Tabela 13 – Evolução da Capacidade (DWT) da Frota Mundial de Petroleiros de 2016 a Maio de 2020
............................................................................................................................................................... 47
Tabela 14 – Evolução da Capacidade (GT) da Frota Mundial de Petroleiros de 2016 a Maio de 2020 47
Tabela 15 – Distribuição do Comércio Marítimo Internacional – Em Milhões de Toneladas .............. 57
Tabela 16 – Ranking da Produção de Petróleo e Gás por Consorciado de Junho de 2022 ................... 84
Tabela 17 – Evolução da Frota de Apoio Marítimo Nacional e Estrangeira......................................... 89
Tabela 18 – Divisão das Embarcações entre Brasileiras e Estrangeiras ............................................... 92
Tabela 19 – Dados dos Aliviadores Convencionais em Operação no Brasil em 2021 ......................... 97
Tabela 20 – Condições de Financiamento do FMM Estabelecidas pela Resolução CMN Nº 5.031/2022
............................................................................................................................................................. 108
Tabela 21 – Exemplos do Custo Financeiro do Financiamento .......................................................... 109
Tabela 22 – Etapas para Obtenção de Financiamento ......................................................................... 109
Tabela 23 – Fonte de Recursos do FMM de 2019 a 2021 ................................................................... 115
Tabela 24 – Arrecadação Bruta de AFRMM de 2019 a 2021 – Milhões de Reais ............................. 116
Tabela 25 – Arrecadação Líquida de AFRMM de 2019 a 2021 – Milhões de Reais.......................... 116
Tabela 26 – Arrecadação do AFRMM por Tipo de Navegação de 2013 a 2021 ................................ 117
Tabela 27 – Arrecadação do AFRMM por Setor em 2014 e 2015 – Milhões de Reais ...................... 118
Tabela 28 – Montantes Repassados ao FMM de 2019 a 2021 – Milhões de Reais ............................ 119
Tabela 29 - Distribuição do AFRMM entre o FMM, a Conta Vinculada e a Conta Especial de 2005 a
2014 – Milhões de Reais ..................................................................................................................... 119
Tabela 30 – Navios Encomendados Durante o Promef ....................................................................... 129
Tabela 31 – Navios Construídos no EISA/Mauá (RJ) ........................................................................ 129
Tabela 32 – Navios Petroleiros Construídos no EAS - Estaleiro Atlântico Sul (PE) .......................... 130
Tabela 33 – Navios Gaseiros Construídos no VARD Promar (PE) .................................................... 130
Tabela 34 – Detalhamento das Contratações do Prorefam III ............................................................. 131
Tabela 35 – Divisão dos Afretamentos por Empresa .......................................................................... 132
Tabela 36 – Estrutura do Custo de Produção do Último Navio Suezmax Construído no Brasil .......... 139
Tabela 37 – Índices da Indústria de Construção Naval Brasileira do Último Suezmax Construído ... 139
Tabela 38 – Composição Antiga e Estimada do Preço do Navio Suezmax Brasileiro ....................... 140
Tabela 39 – Índices de Esforço Produtivo e Produtividade dos Países Asiáticos na Década de 2000 140
Tabela 40 – TCE e a Estrutura dos Custos Operacionais de Navios Suezmax ................................... 143
xi
Tabela 41 – Adicional para Compensação para Emprego de Tripulante Brasileiro – Edital Petrobras
(2017) .................................................................................................................................................. 144
Tabela 42 – Tripulação de Segurança do Navio Suezmax .................................................................. 145
Tabela 43 – Divisão da Tripulação com 100% de Brasileiros ............................................................ 145
Tabela 44 – Aplicação do Pagamento de Compensação Para a Tripulação 100% Brasileira ............. 146
Tabela 45 – Tempo Médio das Operações de Porto em São Sebastião e em Madre de Deus de um
Suezmax .............................................................................................................................................. 149
Tabela 46 - Tempos da Viagem Tebar – Madre de Deus – Tebar ...................................................... 149
Tabela 47 – Preço de uma Tonelada de VLSFO e de MGO com a Incidência do ICMS ................... 153
Tabela 48 – Custo de Combustível sem ICMS de uma Viagem Tipo do Suezmax de Estudo ........... 153
Tabela 49 – Custo de Combustível com ICMS de uma Viagem Tipo do Suezmax de Estudo ........... 153
Tabela 50 – Tarifas Portuárias do Navio Suezmax nos Terminais de São Sebastião e de Madre de Deus
............................................................................................................................................................. 154
Tabela 51 – Custo de uma Viagem Redonda (São Sebastião – Madre de Deus – São Sebastião) de um
Suezmax .............................................................................................................................................. 155
Tabela 52 – Custos de Capital do Navio Suezmax Afretado a Casco Nu ........................................... 161
Tabela 53 – Carga Tributária Incidente na Importação de Navios – Cenário com II = 14% .............. 162
Tabela 54 – Aplicação da Carga Tributária Sobre um Suezmax Importado com II = 14% ................ 162
Tabela 55 – Custos Relacionados a Importação de um Petroleiro Suezmax com II = 14% ............... 163
Tabela 56 – Carga Tributária de Importação no Cenário de Isenção do II ......................................... 163
Tabela 57 – Aplicação da Carga Tributária Sobre o Navio Importado com II = 0% .......................... 164
Tabela 58 - Custos Relacionados a Importação de um Petroleiro Suezmax com II = 0% .................. 164
Tabela 59 – Condições de Financiamento para Navios de Carga por Meio do FMM ........................ 165
Tabela 60 – Custos Relacionados a Construção de um Petroleiro Suezmax em Estaleiro Brasileiro . 166
Tabela 61 – Receita Diária Estimada de uma Viagem Redonda (São Sebastião – Madre de Deus) de
Suezmax na Cabotagem Brasileira ...................................................................................................... 169
Tabela 62 – Custos Relacionados a Construção de um Petroleiro Suezmax em Estaleiro Brasileiro com
Exclusividade da Conta Vinculada ..................................................................................................... 170
Tabela 63 – Resultado das Mudanças Regulatórias na Aquisição de um Petroleiro Suezmax ........... 171
Tabela 64 – Custo de Tripulação e OPEX de uma Tripulação 100% Brasileira e de uma 100%
Estrangeira........................................................................................................................................... 174
Tabela 65 – Divisão dos Tripulantes com Dois Terços da Tripulação Brasileira ............................... 175
Tabela 66 – Valor do Adicional de Remuneração para Tripulação com ao Menos Dois Terços de
Brasileiros ........................................................................................................................................... 175
Tabela 67 – Custo de Tripulação e OPEX de uma Tripulação com Dois Terços de Brasileiros e de uma
100% Estrangeira ................................................................................................................................ 176
Tabela 68 – Custo de Tripulação e OPEX de uma Tripulação com Comandante e Chefe de Máquinas
Brasileiros e de uma 100% Estrangeira............................................................................................... 176
Tabela 69 – Resumo dos Custos com Tripulação, OPEX e Total na Cabotagem Brasileira nos Cenários
Analisados ........................................................................................................................................... 177
Tabela 70 – Comparativo dos Custos com Tripulação, OPEX e Total na Cabotagem Brasileira com
Embarcação 100% Estrangeira nos Três Cenários Analisados ........................................................... 177
Tabela 71 – Valores das Variáveis da Análise de Sensibilidade do Cenário de um Navio Estrangeiro
Afretado a Casco Nu ........................................................................................................................... 179
Tabela 72 – Resultados da Análise de Sensibilidade do Cenário de um Navio Estrangeiro Afretado a
Casco Nu – Milhões de Dólares .......................................................................................................... 179
Tabela 73 – Valores das Variáveis da Análise de Sensibilidade do Cenário do Navio Estrangeiro
Importado com Imposto de Importação de 14% ................................................................................. 182
xii
Tabela 74 - Resultado da Análise de Sensibilidade do Cenário do Navio Estrangeiro Importado com
Imposto de Importação de 14% - Em Milhões de Dólares.................................................................. 182
Tabela 75 – Valores das Variáveis da Análise de Sensibilidade do Cenário do Navio Estrangeiro
Importado sem Imposto de Importação ............................................................................................... 184
Tabela 76 – Resultado da Análise de Sensibilidade do Cenário do Navio Estrangeiro Importado sem
Imposto de Importação – Em Milhões de Dólares .............................................................................. 184
Tabela 77 – Valores das Variáveis da Análise de Sensibilidade do Cenário de Navios Construídos no
Brasil ................................................................................................................................................... 187
Tabela 78 – Resultado da Análise de Sensibilidade do Cenário de Navios Construídos em Estaleiro
Brasileiro ............................................................................................................................................. 187
Tabela 79 – Valores das Variáveis da Análise de Sensibilidade do Cenário de Exclusividade da Conta
Vinculada para Navios Construídos no Brasil .................................................................................... 190
Tabela 80 – Resultado da Análise de Sensibilidade do Cenário de Exclusividade da Conta Vinculada
para Navios Construídos no Brasil – Milhões de Dólares................................................................... 190
xiii
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho está dividido em duas partes: a primeira apresenta uma descrição
geral e uma análise inicial do transporte marítimo de granéis líquidos no Brasil e no mundo e
da indústria de óleo e gás; a segunda e mais importante busca analisar inicialmente quais as
consequências que mudanças regulatórias provocam no setor, em especial no custo de capital e
operacional de um petroleiro operando na navegação de cabotagem brasileira, e como isso pode
refletir na indústria de construção naval.
1
Inclui petróleo bruto, derivados de petróleo, gás e produtos químicos
2
Inclui minério de ferro, grãos e carvão
3
Inclui mercadorias a granel menores (bauxita/alumina e fosfato inclusos), comércio de contêineres e carga
geral residual
1
encomendas, de acordo com a Dalaney (2022), foram encomendados 93 navios transportadores
de LNG, 93 navios transportadores de LPG e 181 petroleiros. O mercado de embarcações de
apoio continua fortemente abastecido devido ao alto número de unidades construídas no período
de pico.
Com isso, dentro das hipóteses e parâmetros apresentados, foi possível ver que existe
um potencial de retomada da indústria naval no âmbito da construção de petroleiros,
principalmente com a combinação de reserva de bandeira, imposto de importação e alteração
na legislação do AFRMM, restringindo as contas vinculadas para navios construídos no Brasil.
3
2 ORGANIZAÇÃO DA INDÚSTRIA DE ÓLEO E GÁS E DO
TRANSPORTE MARÍTIMO
2.1 ORGANIZAÇÃO DA INDÚSTRIA DE ÓLEO E GÁS
Nessa seção será abordada a indústria de exploração e produção de óleo e gás, com
ênfase no offshore. Serão apresentados os países com as maiores reservas, com as maiores
produções e com os maiores consumos. Além disso, trata-se do comércio do óleo cru e
derivados, que auxilia no entendimento dos fluxos de transporte marítimo de granéis líquidos.
Os dados apresentados foram apresentados em BP Statistical Review of World Energy 2021
(BP, 2021).
235,9
303,8
Venezuela
Arábia Saudita
48,4
Canadá
68,8
Irã
Iraque
97,8
Rússia
297,5
Kuwait
101,5
Emirados Árabes
EUA
107,8
Líbia
168,1 Resto do Mundo
145
157,8
5,5 Turquemenistão
EUA
5,9
China
6
Venezuela
32,1
6,3 Arábia Saudita
Emirados Árabes
8,4
Nigéria
12,6 Resto do Mundo
24,7
13,6
5
participação de 18,6%. O segundo lugar pertence a Arábia Saudita com 11,039 milhões de
barris diários, o que corresponde a 12,5% do total mundial. Em terceiro lugar tem-se a Rússia
com 10,667 milhões de barris por dia, o equivalente a 12,1% da produção mundial. Ou seja,
esses três países são responsáveis por 43,2% da produção mundial. O Brasil ocupa a 9ª posição
com 3,026 milhões de barris por dia. A Figura 3 apresenta os dez maiores produtores juntamente
com a respectiva quantidade.
16.476 EUA
24.606 Arábia Saudita
Rússia
Canadá
Iraque
11.039 China
Emirados Árabes
2.686
Irã
3.026 Brasil
3.084 Kuwait
10.667
3.657 Resto do Mundo
3.901 5.135
4.114
Assim como o petróleo, a produção de gás natural em 2020 teve uma diminuição em
relação a 2019. Os 3,854 trilhões de m³ produzidos representam um decréscimo de 3,3%
comparado ao ano anterior. Em relação aos maiores países produtores, destacam-se os Estados
Unidos e a Rússia. Assim como no petróleo, o primeiro lugar pertence aos Estados Unidos que
teve uma produção de 914,6 bilhões de m³ em 2020, quantidade que representa 23,7% do total
mundial. Em segundo lugar tem-se a Rússia com 638,5 bilhões de m³, o que equivale a uma
participação de 16,6%. Ou seja, 40,3% de todo o gás natural produzido no mundo é proveniente
de apenas dois países. O terceiro lugar, com 6,5% da produção mundial, é ocupado pelo Irã
com 250,8 bilhões de m³, já com uma considerável diferença para os dois primeiros. O Brasil
foi o 30º colocado com 23,9 bilhões de m³ produzidos. A Figura 4 apresenta os dez maiores
produtores juntamente com a respectiva quantidade.
6
EUA
914,6
1071,7 Rússia
Irã
Canadá
Catar
China
Austrália
81,5
Arábia Saudita
111,5 638,5
Noruega
112,1
Argélia
142,5
Resto do Mundo
194 250,8
171,3 165,2
O consumo de petróleo vinha se mantendo estável ano após ano mesmo com a
popularização de diversas energias renováveis. Contudo, de 2019 para 2020 houve uma grande
queda em função da pandemia do novo coronavírus. Foram consumidos cerca de 88,477
milhões de barris por dia em 2020, uma diminuição de 9,3% em relação ao ano anterior. Isso
indica que foram consumidos 86 mil barris a mais que os que foram produzidos.
O posto de maior consumidor de petróleo é dos Estados Unidos com 17,178 milhões de
barris por dia. Tal valor corresponde a 19,4% de todo o consumo mundial e é 4,26% maior que
a sua produção diária. O segundo lugar é da China com 14,225 milhões de barris por dia, que
equivale a uma participação de 16,1% e é 364,09% maior que a respectiva produção. Na
sequência com uma considerável distância tem-se a Índia com 4,669 milhões de barris
consumidos diariamente, que representa 5,3% do consumo do mundo e é 605,58% maior que a
7
sua produção. Em termos absolutos, a diferença entre o consumido e o produzido por esses três
países são 0,702, 10,354 e 3,898 milhões de barris respectivamente. O Brasil ocupa a 8ª posição
com 2,323 milhões de barris por dia. A Figura 5 apresenta os dez maiores consumidores
juntamente com a respectiva quantidade.
17.178 EUA
China
Índia
33.145
Arábia Saudita
Japão
Rússia
14.225 Coréia do Sul
Brasil
Canadá
Alemanha
2.045 4.669
Resto do Mundo
2.282
2.323 3.544
2.560 3.238 3.268
Assim como no petróleo, o maior consumidor de gás natural do planeta são os Estados
Unidos, com um volume de 832,0 bilhões de m³ que equivalem a um share de 21,8%. Na
sequência tem-se a Rússia com 411,4 bilhões de m³ que correspondem a uma participação de
10,8%. O terceiro lugar é ocupado pela China com um volume de 330,6 bilhões de m³ que
representam 8,6% de todo o consumo mundial. Com isso, infere-se que apenas três países são
responsáveis por 41,2% de todo o uso de gás natural em 2020. Desses apenas a China não tem
uma produção maior que o consumo, com um déficit de 136,6 bilhões de m³. O Brasil foi o 29º
colocado com 32,1 bilhões de m³ consumidos. A Figura 6 apresenta os dez maiores
consumidores juntamente com a respectiva quantidade.
8
EUA
Rússia
832
China
Irã
1441,3
Canadá
Arábia Saudita
411,4
Japão
Alemanha
330,6 México
O transporte de óleo cru e seus produtos é realizado principalmente por meio de navios-
tanques e movimenta bilhões de toneladas todos os anos. A Tabela 1 fornece informações a
respeito da importação e exportação de diversos países e algumas regiões nos anos de 2019 e
de 2020.
12
Tabela 1 – Importação e Exportação de Óleo Cru e de Produtos por Países em 2019 e em 2020 (Milhões de
Toneladas)
13
enquanto as exportações alcançaram o maior valor da série histórica: 500,4 milhões de barris
(cerca de 79,6 milhões de m³). Além disso, o volume de derivados de petróleo importado pelo
Brasil diminuiu 17,3% em relação a 2019, totalizando 28,3 milhões de m³ ao mesmo tempo que
a exportação de derivados de petróleo somou 17,8 milhões de m³, um aumento de 29,9% em
relação a 2019.
15
Ainda de acordo com a ANP (2021a), o Oriente Médio (22,3 milhões de barris), a
América do Norte (15,2 milhões de barris) e a África (10,3 milhões de barris) foram as regiões
que mais exportaram petróleo para o Brasil, sendo a Arábia Saudita (20,3 milhões de barris) e
os Estados Unidos (15,2 milhões de barris) os dois países que o Brasil mais importou petróleo.
Quanto as exportações, o principal destino em 2020 foi novamente a região ÁsiaPacífico, com
367,8 milhões de barris (a China foi responsável por 292 milhões de barris). Na sequência
aparece a Europa, com 66,8 milhões de barris. A América do Norte fica em terceiro com 36
milhões de barris.
16
Tabela 4 - Movimentação Comercial do GNL em 2020
Trinidad Emirados
Estados Outros das Outros da Outros da Malási Papua Nova Outros da Ásia Total de
Origem\Destino Peru e Noruega Rússia Omã Catar Árabes Argélia Angola Egito Nigéria Austrália Brunei Indonésia
Unidos Américas Europa África a Guiné Pacífico Importação
Tobago Unidos
Canadá - - 0,8 - - - - - - - - - - - - - - - - - - 0,8
México 0,9 0,1 0,6 - - 0,1 - - - - - - - 0,2 - 0,1 - 0,3 - - - 2,5
Estados Unidos - - 1,0 * 0,1 - - - - - - - - 0,2 - - - - - - - 1,3
América do Norte 0,9 0,1 2,5 * 0,1 0,1 - - - - - - - 0,4 0,1 0,1 - 0,3 - - - 4,6
Argentina 0,5 - 0,3 - - - 0,1 - 0,9 - - - - - - - - - - - - 1,8
Brasil 2,8 - 0,4 0,1 - - - - - - - 0,1 - * - - - - - - - 3,3
Chile 2,1 - 0,7 - - - - - - - - - - - - 0,1 - - - - - 3,7
Outros da América
1,8 - 2,8 0,3 0,1 * - - - - 0,1 - - - - - - - - - - 5,1
do Sul e Central
América do Sul e
7,1 - 4,2 0,4 0,1 * 0,1 - 0,9 - 0,1 0,1 - * 0,7 0,1 - - - - - 13,9
Central
Bélgica 1,3 - - - * - 0,9 - 2,8 - - 0,1 - - - - - - - - - 5,1
França 2,6 0,1 0,5 - 0,8 - 5,0 - 1,9 - 4,3 0,2 - 4,2 - - - - - - - 19,6
Itália 2,1 - 0,1 - - * - - 6,8 - 2,8 - - 0,2 - - - - - - - 12,1
Espanha 5,4 0,2 2,2 0,2 0,5 0,1 3,4 - 3,1 - 0,5 0,4 0,1 4,0 - - - - - - - 20,9
Turquia 2,8 - 0,6 - 0,1 - 0,2 - 3,1 - 5,7 0,1 0,1 1,8 - - - - - - - 14,8
Reino Unido 4,7 - 1,0 - 0,4 - 2,9 - 9,0 - * - 0,2 0,3 - - - - - - - 18,6
Outros da EU 6,7 0,1 0,9 - 2,3 0,2 4,7 - 3,5 - 0,7 0,4 0,1 4,0 - - - - - - - 23,7
Resto da Europa - - - - - - 0,1 - - - - - - - - - - - - - - 0,1
Europa 25,6 0,4 5,2 0,2 4,1 0,3 17,2 - 30,2 - 13,9 1,1 0,4 14,6 1,6 - - - - - - 114,8
Egito - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Kuwait 0,5 - - - - 0,2 - 0,2 3,1 - 0,1 0,4 0,1 1,0 0,2 - - - - - - 5,7
Emirados Árabes
0,3 - 0,2 - - - 0,3 0,3 - - - 0,2 - 0,3 - - - - - - - 1,6
Unidos
Outros do Oriente
0,6 - 0,7 - - - 0,3 - 0,1 - - - - 0,2 - - - - - - - 1,9
Médio e África
Oriente Médio e
1,3 - 0,9 - - 0,2 0,6 0,5 3,2 - 0,1 0,5 0,1 1,5 0,2 - - - - - - 9,2
África
China 4,4 1,5 0,3 * - 0,6 6,9 1,4 11,2 0,4 0,2 0,5 0,2 3,3 0,7 40,6 1,0 7,4 8,3 4,1 1,1 94,0
Índia 3,3 - 0,7 - - 0,2 0,7 1,8 14,1 4,8 0,3 3,1 0,2 4,0 1,3 1,4 0,1 - - - - 35,8
Japão 6,4 0,9 - - - - 8,4 3,3 11,9 1,4 - - 0,1 1,9 - 39,7 5,4 3,0 14,8 4,7 0,2 102,0
Malásia - - - - - - - - - - - - - 0,1 - 2,6 1,0 - - - - 3,6
Paquistão 1,0 - - - - - 0,2 0,2 7,1 0,5 0,4 0,1 0,4 0,6 - - - 0,1 0,1 - - 10,6
Singapura 0,8 - 0,1 - - - 0,1 0,2 0,5 - - 0,3 0,1 - 0,1 3,2 0,1 0,4 - - - 5,7
Coréia do Sul 8,0 2,2 0,1 - - - 2,8 5,4 13,0 0,3 - 0,5 0,1 0,5 0,3 10,9 0,4 3,7 6,7 0,4 0,1 55,3
Taiwan 1,5 - 0,2 - - - 3,3 0,1 6,9 0,3 - - 0,2 0,5 - 6,7 0,3 1,6 1,0 2,2 - 24,7
Tailândia 0,7 - 0,2 - - - - 0,2 3,00 - - - 0,1 0,3 0,1 1,1 0,2 0,3 1,3 0,1 - 7,5
Outros da Ásia
0,4 - - - - - 0,1 - 4,1 - 0,1 - - 0,8 0,1 - - - 0,6 - 0,1 6,1
Pacífico
Ásia Pacífico 26,4 4,6 1,5 * - 0,7 22,5 12,7 71,8 7,6 0,9 4,4 1,3 11,9 2,5 106,0 8,4 16,4 32,8 11,5 1,4 345,4
Total de Exportação 61,4 5,0 14,3 0,5 4,3 1,3 40,4 13,2 106,1 7,6 15 6,1 1,8 28,4 5,1 106,2 8,4 16,8 32,8 11,5 1,4 487,9
18
afretados. Já contêineres e cargas soltas, denominados de carga geral, são transportados por
meio das linhas regulares e com o frete discriminado por tipo de produto.
Os principais tipos de contratos de afretamentos são: casco nu, por tempo (ou por
período) e por viagem. No afretamento a casco nu (ou Bareboat), o afretador tem a posse, o uso
e o controle da embarcação, por tempo determinado, incluindo o direito de designar o
comandante e a tripulação. No afretamento por tempo, denominado também como Time
Charter Party (TCP), o afretador recebe a embarcação armada e tripulada, ou parte dela, para
operá-la por tempo determinado. No afretamento por viagem, conhecido também como Voyage
Charter Party (VCP), o fretador coloca o todo ou parte de uma embarcação, com tripulação, à
disposição do afretador para realizar transporte em uma ou mais viagens.
19
2.2.2 COMPORTAMENTO DO MERCADO DE TRANSPORTE MARÍTIMO
Segundo Stopford (2003), das diversas influências no mercado de transporte marítimo,
pode-se destacar cinco que afetam a demanda do transporte marítimo e cinco que afetam a
oferta. No que diz respeito à demanda por transporte marítimo, as cinco variáveis são: a
economia mundial; comércio marítimo de commodities; o volume de transporte, que leva em
consideração tanto o volume de mercadoria a ser transportada quanto as distancias a serem
percorridas; eventos políticos e custos de transporte. Quanto a oferta de serviços de transporte
marítimo tem-se: a frota mundial, a produtividade da frota, as entregas de construção naval, as
demolições e as taxas de frete são as variáveis que a afetam.
A demanda por navios tem forte ligação com a economia mundial. Existe uma estreita
relação entre a produção industrial, de alimentos, graneis líquidos, dentre outros e o comércio
marítimo, de modo que a análise de tendências e indicadores de liderança para a economia
mundial fornecem alguns indícios sobre mudanças na demanda por navios. A segunda variável
de demanda importante corresponde ao negócio de commodities. Por exemplo, uma mudança
no preço do petróleo pode provocar um grande impacto no comércio do produto. A distância
(percurso médio) é a terceira variável de demanda. Uma tonelada de petróleo transportada do
Oriente Médio para a Europa Ocidental via Cabo da Boa Esperança gera duas ou três vezes
mais demanda por transporte marítimo do que a mesma tonelada de petróleo enviada da Líbia
para Marselha (Stopford, 2003). Acontecimentos políticos foram a quarta variável, já que
guerras e distúrbios muitas vezes repercutem no comércio. Por fim, os custos de transporte
desempenham um papel importante na determinação da demanda de longo prazo.
A demanda por transporte marítimo de granéis pode ser considerada quase que
perfeitamente inelástica e exógena ao mercado de afretamento no curto prazo, pois o valor baixo
dos custos de frete não aumenta a demanda por navios (Carmo, 2018). A curva de demanda no
mercado de afretamento é quase vertical, muito por causa da falta de qualquer modo de
transporte concorrente, conforme ilustrado na Figura 9. Ou seja, os donos das cargas necessitam
do transporte das mesmas em determinadas condições, deste modo, devem enviá-la
independentemente do custo, até que tenham tempo de fazer arranjos alternativos para satisfazer
as suas necessidades. Por outro lado, quando os fretes estiverem muito baixos, os embarcadores
não tentarão realizar um embarque extra, pois não existirá demanda para tal.
20
Figura 9 – Curva de Demanda do Mercado de Afretamento
Fonte: Stopford (2003)
21
Por tudo isso, os navios com maior preço de frete entram no mercado à medida que o
valor do frete de mercado aumenta. Assim, o navio de maior custo de operação, e
consequentemente maior preço de frete, precisa de uma economia mais aquecida para que a sua
entrada no mercado seja viável. Caso o mercado não pague o preço mínimo de frete para a
operação, os mesmos podem ser colocados em lay-up ou desmobilizados de modo a minimizar
as perdas.
Assim, as taxas de frete ligam a oferta e a demanda. Quando a oferta está baixa, as taxas
de frete aumentam, estimulando os armadores a fornecer mais transporte. Quando eles caem,
tem o efeito oposto. Assim, a escala de tempo é importante para alcançar um preço de equilíbrio.
O equilíbrio momentâneo descreve a posição do dia-a-dia quando os navios “prontos” em uma
determinada área de carregamento competem pelas cargas disponíveis. O equilíbrio de curto
prazo descreve o que acontece quando os navios têm tempo para se mover ao redor do mundo,
ajustar sua velocidade de operação ou lay-up. No transporte marítimo, o longo prazo é definido
pelo tempo necessário para entregar novos navios – digamos, dois ou três anos. Essa
característica certamente influencia a duração de 7 a 8 anos dos ciclos de frete.
Com tudo isso, a modificação da oferta no curto prazo, para o equilíbrio com a demanda,
acontece com a alteração da velocidade de operação dos navios, de modo a diminuir os custos
operacionais no momento em que os preços de frete do mercado estejam baixos e na retirada
de operação dos navios marginais. Já no longo prazo o equilíbrio da oferta é realizado com
22
ajustes na frota por meio de dois mecanismos: a construção de novas embarcações e o
sucateamento.
23
3 TRANSPORTE MARÍTIMO NA CADEIA DE ÓLEO E GÁS
Nesse capítulo será abordado o transporte marítimo na cadeia de óleo e gás. Para tal,
buscando uma melhor visualização, faz-se uma divisão em três setores: apoio marítimo
offshore, escoamento da produção offshore e transporte de petróleo, gás e derivados. Serão
apresentados os armadores, as frotas, os fluxos dessas embarcações e as principais questões
regulatórias.
- Anchor Handling Tug Supply (AHTS) – Combina uma série de funções em um único casco.
Isso inclui o manuseio de âncoras e correntes de amarração para sondas de perfuração, reboque
de sondas e plataformas, juntamente com o subsequente posicionamento no local e tarefas de
fornecimento de plataforma. A viga e a forma do casco devem dar boa estabilidade,
particularmente quando amarrações pesadas e âncoras são suspensas na popa. O manuseio da
âncora requer alta potência, capacidade do guincho, espaço no convés à popa, caixas de
armazenamento para correntes da plataforma e equipamentos auxiliares de manuseio. Um
cilindro de popa é usado para facilitar a passagem de cabos e âncoras sobre a popa do navio
durante o lançamento ou pesagem da âncora.
- Platform Supply Vessel (PSV) – Sua principal função é transportar suprimentos para as
unidades de perfuração, produção e outras unidades marítimas. Uma importante característica
desse tipo de navio é a grande variedade de cargas que pode abrigar (cimento, barita, bentonita,
lama líquida à base de óleo ou água, metanol e produtos químicos), o que o torna bastante
24
versátil. Necessitam de alta capacidade de manobra próximo às unidades marítimas.
Normalmente são dotados de sistemas de posicionamento dinâmico devido às possíveis
condições climáticas adversas nas operações de carga e descarga. Formam a maior parte da
frota mundial e brasileira de apoio offshore.
- Multi-Purpose Support Vessel (MPSV) – São polivalentes, capazes de oferecer uma ampla
diversidade de serviços, como por exemplo, suporte de construção, instalação e manutenção de
campos de petróleo, inspeção e reparos de dutos subaquáticos, tarefas normais de abastecimento
e de entrega, além de outras operações sofisticadas realizadas em águas profundas em alto mar.
- ROV Support Vessel (RSV) – Projetadas para lançamento e operação de ROV (Remote
Operate Vehicle), um veículo operado remotamente que atua no fundo do mar através de braços
mecânicos, luzes e lentes utilizado para realizar e supervisionar a montagem de equipamentos
de exploração e produção em grandes profundidades. São equipados com sistema de
posicionamento dinâmico, com recursos de redundância adicionais, como vários computadores,
propulsores e sistemas de referência. Além disso, tais embarcações têm cabines adicionais,
refeitórios e escritórios do cliente, para acomodar confortavelmente as equipes de suporte de
ROV do cliente.
- Well Stimulation Vessel (WSV) – Utilizadas para a estimulação de poços de petróleo, com a
injeção de agentes químicos nos poços e linhas em operação, dotadas de equipamentos para
monitorar e melhorar a produtividade dos poços em operação. A estimulação de poços é uma
25
intervenção feita para aumentar a produção, melhorando o fluxo de hidrocarbonetos a partir da
área de drenagem no poço.
- Cargo Transfer Vessel (CTV) – Permite a transferência direta da produção de uma FPSO para
um navio tanque ou para um VLCC. A embarcação conecta o FPSO ao navio aliviador
convencional em segurança.
- Diving Support Vessel (DSV) – Especializadas em conferir o suporte e apoio aos profissionais
de mergulho oceânico que atuam na construção, reparação e manutenção de estruturas
submarinas. Tais navios são equipados com o Sistema de Posicionamento Dinâmico para ajudar
a embarcação usada para suporte de mergulho a permanecer estável na água e com um
moonpool, por onde mergulhadores, veículos operados remotamente e outros equipamentos
passam de e para o local de trabalho
- Flotel – Presta serviços de apoio às atividades das plataformas marítimas (“Offshore”) como
geração de energia elétrica, hotelaria e facilidades de manutenção.
- Fast Suplly Vessel (FSV) – São embarcações rápidas especializadas no transporte de pessoal
de apoio offshore, carga de convés e carga abaixo do convés, como combustível e água potável
de e para instalações offshore, como plataformas de petróleo, sondas de perfuração, navios de
perfuração e mergulho.
- Line Handling (LH) – Tem como atividade principal o manuseio de linhas e amarrações de
navios tanque em monobóias, fazendo a transferência das linhas até as boias de amarração.
Auxiliam os navios tanque enquanto eles são carregados em sistemas de atracação e participam
de trabalhos de manutenção de mangotes flexíveis flutuantes.
- Well Intervention Vessel (WIV) – São embarcações de intervenção bem planejadas, capazes
de completar uma ampla gama de projetos submarinos. Através do moonpool, tem acesso à
água o que lhe permite realizar diversas operações com equipamentos submersos. É capaz de
realizar intervenção em poços, trabalhos de instalação submarina, operações com guindaste e
ROV e construção offshore, além de possuir capacidade de resposta a emergências.
26
3.1.2 FROTA MUNDIAL
As informações da frota mundial de apoio marítimo discutidos nessa seção
correspondem a maio de 2020, de acordo com o Clarkson (2020a). É possível notar que a frota
desde 2016 não teve alteração significativa, tanto em números absolutos de embarcações quanto
em gross tonnage (GT)4, conforme indicado na Figura 11 e na Figura 12.
9080
9061
9041
9040
Número de Embarcações
8997
9000 8993
8960
8920
2017 2018 2019 mai/20
60
59,6
59,4
59
58,5
58,2
58
m.GT
57
57
56
55
2016 2017 2018 2019 mai/20
4
A arqueação bruta (AB ou GT, do inglês: gross tonnage) é um valor adimensional relacionado com o volume
interno total de um navio.
27
Os navios do tipo AHTS e PSV são os principais representantes das embarcações de
apoio marítimo, tanto em números absolutos de embarcações quanto em gross tonnage. A
Tabela 5 mostra a evolução da frota em números absolutos de AHTSs e PSVs de 2016 até maio
de 2020 enquanto a Tabela 6 apresenta em função de milhares de gross tonnage.
Tabela 5 – Número de Embarcações do Tipo AHTS e PSV no Mundo de 2016 a Maio de 2020
Tabela 6 – Frota Mundial de Embarcações do Tipo AHTS e PSV no Mundo de 2016 a Maio 2020 - kGT
Tabela 7 – Distribuição das Embarcações do Tipo AHTS e PSV pelo Mundo em 2019
28
3.1.3 CARTEIRA DE ENCOMENDAS
De acordo com Clarkson (2020a), a carteira de encomendas de navios de apoio marítimo
offshore era composta por 363 navios ao final de maio de 2020. Em termos de arqueação bruta,
tais navios representam 4,7 m.GT, equivalente a 8% da frota. Nessa época, estava previsto a
entrega de 1,9 m.GT até o final de 2020, de 1,2 m.GT em 2021, de 0,7 m.GT em 2022 e os 0,9
m.GT restantes a partir de 2023.
3.1.4 ARMADORES
Snyder (2020) indicava que a Edison Chouest Offshore (ECO) possuía a maior frota de
apoio marítimo do mundo com 210 embarcações. Em segundo lugar estava a Bourbon com 194
unidades, seguida pela Tidewater Marine com 187 navios. O ranking de cinco primeiros era
completado pela COSL e pela Solstad Offshore, com 103 e 96 embarcações respectivamente.
As companhias também podem ser ordenadas pelo valor de suas embarcações, visto que
os valores das frotas podem apresentar diferenças significativas a depender da sua composição.
De acordo com a Snyder (2020), a ECO também é a companhia mais valiosa do mundo, com a
frota estimada em US$ 1,117 bilhões. O segundo lugar já é ocupado pela Tidewater Marine,
com as embarcações avaliadas em US$ 953 milhões. A Solstad Offshore aparece em terceiro
lugar, com os navios avaliados em US$ 590 milhões. A Bourbon, apesar das 194 embarcações,
aparece em quarto lugar com a frota estimada em US$ 508 milhões. A Hornbeck Offshore
Services tem uma frota de 62 navios avaliados em US$ 452 milhões, a quinta frota mais valiosa.
29
3.2 ESCOAMENTO DA PRODUÇÃO
O escoamento da produção offshore pode ser realizado por meio de oleodutos ou por
meio de navios aliviadores. O oleoduto consiste em uma tubulação fechada que é utilizada para
transportar petróleo e seus derivados. Já os navios aliviadores são navios-tanques de transporte
de óleo cru, dedicadas especialmente para coletar o petróleo de uma unidade de armazenamento
offshore e transportá-lo para outros navios ou terminais, onde o óleo possa ser processado ou
distribuído.
Além dos navios serem mais vantajosos nesses quesitos que geram atrasos, e
consequentemente perda econômica, os aliviadores possuem a capacidade de separar a carga
proveniente de diferentes plataformas enquanto oleodutos comumente misturam o petróleo
bruto recebido das diversas unidades em suas redes. Outra vantagem é a flexibilidade dos navios
na distribuição da carga em diversos terminais, ao passo que os dutos apenas entregam o óleo
a um determinado terminal. Cabe acrescentar que os aliviadores podem levar o óleo para outro
navio para a exportação dessa carga.
O escoamento do gás natural não será abordado nesse tópico por ser realizado
exclusivamente por gasodutos, os quais não fazem parte do escopo de análise desse trabalho.
30
colisão, aproximação rápida das embarcações, desconexão de mangueiras e sobrecarga da
amarração.
32
especialmente as que ocorrem em águas profundas e ultra profundas, contabilizaram-se 86
navios em serviço e 17 encomendados no primeiro semestre de 2019 (DNV, 2019).
30
25
25 23
20
15
12
10 8
7
5
5 4
3 3 3 3
2 2
1 1 1
0
Dos navios aliviadores em operação, o Serenity (Fides Ship) de 1996, é o mais velho. É
seguido pelo Orion de 1997 da Knutsen Group. Do lado oposto, tem-se três navios que foram
lançados em 2021: Altera Wave (Teekay), Bei Hai Xin Xi Wang (China COSCO) e Eagle Pilar
33
(AET Tankers) e três lançados em 2022: Eagle Campos, Eagle Canoas e Eagle Colatina, todos
da AET Tankers. A frota mundial de aliviadores pode ser considerada nova, visto que a idade
média é de 9,53 anos e menos de 10% dos navios tem mais de 20 anos. A quantidade de
aliviadores construídos a partir de 1996 pode ser vista no gráfico da Figura 14.
16
14
14 13
12 11
10
8
8 7 7
6 5 5
4 4
4 3 3 3
2 2 2 2
2 1 1 1 1 1 1 1 1
0 0
0
2000
2019
1996
1997
1998
1999
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2020
2021
2022
Figura 14 – Quantidade de Navios Aliviadores Construídos por Ano
34
60
52
50
40
30 28
20
14
9
10
0
MR Panamax Aframax Suezmax
Desses 13 estaleiros, dois estão localizados na China (Cosco Shypyard e GSI Nansha),
cinco na Coréia do Sul (DSME, Hyundai HI, Samsung HI, STX SB e Sungdong SB), dois na
Espanha (La Naval e Naval Gijon), um nos Estados Unidos (Aker Philadelphia), um na Irlanda
do Norte (Harland & Wolff), um no Japão (Tsuneishi SB) e um na Rússia (Admiralty Shipyard).
35
60 53
50
40
30
20
20
9
10 2 3 2 2 2 3 2 3
1 1
0
Visto que a presença desse tipo de navio está associada com a exploração offshore de
petróleo, é natural que se concentrem na costa leste da América do Sul, no Golfo do México e
no Mar do Norte, essas que são as três principais regiões produtoras offshore e em grandes
36
profundidades, conforme descrito anteriormente. A Figura 17 mostra a movimentação dos
aliviadores em 2018 e a concentração nessas áreas.
3.2.3 ARMADORES
De acordo com Carmo (2018), existiam 96 aliviadores DP em 2018 que eram
pertencentes a 18 diferentes empresas, das quais a Teekay Offshore e a Knutsen Group, com
28 navios cada, possuíam a maior fatia do mercado. Em 2021, ao comparar com o ano de 2018,
alguns navios foram descomissionados enquanto outros foram entregues e entraram em
operação. Apesar das mudanças no mercado de empresas atuantes no setor, as duas empresas
permanecem líderes do setor, com a Knutsen dispondo de 27 embarcações e a Teekay de 24. A
SCF Group (Safety Comes First) aumentou sua participação com 17 navios enquanto a AET
Tankers também apresenta uma frota significativa com 14 aliviadores. Maiores detalhas a
respeito da quantidade de embarcações por empresas pode ser vista no gráfico da Figura 18.
37
30 27
24
25
20 17
14
15
10
5
5 3 2 3 3 3
1 1
0
Assim, pode-se ver que o mercado de shuttle tankers é muito concentrado. As duas
principais empresas do setor, Knutsen e Teekay, são proprietárias de quase 50% dos aliviadores.
Considerando os navios da SCF e da AET, essa participação atinge quase 80% da frota mundial.
Ou seja, poucas empresas dominam o mercado, situação semelhante ao que acontece no
transporte de contêineres.
Em muitos casos o navio pode ser de uma empresa e ser operada por outra. Como não
se tem acesso ao contrato de afretamento dessas embarcações, optou-se apenas por dividi-las
de acordo com os proprietários, tendo como fonte principalmente o site das empresas e sites de
notícias do ramo. Contudo, por se tratar de um mercado relativamente diversificado, pode-se
ser que existam empresas que possuem aliviadores e não foram listadas aqui por falta de acesso
a materiais mais detalhados e atualizados como os da Clarksons Research.
Nos dias atuais ainda existem petroleiros de casco simples. Nesse casco, o óleo está
separado da água do mar apenas pelo chapeamento de fundo e de costado. Assim, em caso de
avaria devido a colisão, encalhe ou qualquer outra forma de dano, o petróleo contido dos
tanques de carga pode vazar no mar e gerar uma poluição significativa. Contudo, esses navios
estão em constante processo de eliminação desde o século passado com o estabelecimento de
algumas legislações após acidentes com sérias consequências ambientais.
O derramamento de óleo causado pelo Exxon Valdez, em 1989, motivou o Oil Pollution
Act - OPA, de 1990 dos EUA, que continha a exigência de casco duplo para os petroleiros
construídos a partir de então e um cronograma de retirada de serviço dos navios de casco
simples construídos antes de 1990, de acordo com a capacidade do navio e sua idade. De acordo
essa lei, os navios petroleiros de casco simples sem duplo fundo ou costado duplo não seriam
autorizados a operar em águas norte-americanas a partir de 1º de janeiro de 2010, a menos que
o requisito antes apontado fosse cumprido. Além disso, nos cinco anos que antecederam essa
data limite, ou seja, a partir de 2005, os referidos petroleiros não puderam operar em águas
norte-americanas logo que atingiram 25 anos de idade, ou 23 em alguns casos.
39
Em comparação a outros navios, os petroleiros são mais largos e menos fundos, dessa
forma, carregam volumes maiores e conseguem navegar em águas mais rasas. O interior da
embarcação geralmente é formado por 8 a 12 tanques, separados por placas vazadas, cuja
função é evitar o efeito de slamming, pois dependendo da quantidade de líquido nos tanques, a
estabilidade da embarcação fica prejudicada. Além disso, cada tanque é dividido em dois ou
três compartimentos independentes por anteparas dianteiras e traseiras.
De acordo com a SOLAS 74, cap.II – 2 e com a Regra 62 da SOLAS 74 de 1983 para
navios-tanques construídos após 1º de julho de 1986, todos os petroleiros são obrigados a terem
um sistema de gás inerte instalado. Apesar de o óleo combustível em si ser muito difícil de
inflamar, os seus vapores de hidrocarbonetos são explosivos quando misturados com o ar em
determinadas concentrações. Assim, o objetivo do sistema é criar uma atmosfera dentro de
tanques em que os vapores de óleo de hidrocarboneto não possam queimar. Outra importante
característica é em relação ao convés, que possui tubulações que se interligam entre os tanques
de carga e distribuem o óleo de forma a garantir a estabilidade do navio. O maquinário de
propulsão, a superestrutura e as bombas de carga do petroleiro estão localizados na popa. O
espaço de carga ocupa quase todo o restante do comprimento do navio, junto com o lastro ou
tanques de combustível.
Os petroleiros são divididos em várias classes de acordo com o seu porte bruto, embora
as especificações exatas para cada classe variem entre as fontes. Em ordem crescente, são
classificados como Handy, Medium Range (MR), Panamax/Long Range 1 (LR1),
Aframax/Long Range 2 (LR2), Suezmax, Very Large Crude Carries (VLCCs) e Ultra Large
Crude Carries (ULCCs). Maiores informações sobre cada uma das classes a respeito do porte
e da capacidade podem ser vistas na Tabela 9.
Tabela 9 – Divisão dos Navios Petroleiros por Classe e seu Respectivo Porte
40
O que determina o uso dos navios é principalmente a escala dos lotes de transporte. De
forma simplificada, pode dizer que os Handys e Panamax podem ser transportadores de petróleo
bruto (“escuros”) ou transportadores de produtos (“claros”). O tamanho dos Aframax permite
o acesso a maioria das instalações portuárias, o que faz com que transportem grandes
quantidades de petróleo bruto de muitas regiões produtoras. Os demais são sempre
transportadores de petróleo bruto, usualmente operando rotas entre grandes áreas de produção,
como o Golfo Pérsico, e os principais mercados da Ásia, Europa ou América do Norte. Contudo,
devido às limitações de tamanho, os Suezmax podem alcançar seus destinos no Atlântico por
meio do Canal de Suez, enquanto os demais contornam o Cabo da Boa Esperança.
• Gaseiros
O Código IGC define três tipos de tanques independentes usados para transportar gás.
Os três tipos incluem os tipos A, B e C. Os navios-tanque de GNL se enquadram na categoria
do tipo B, enquanto o GLP é transportado com tanques independentes Tipo A e C.
O GNL exige alto isolamento e baixas temperaturas para ser transportado na forma
líquida. O gás é transportado em seu ponto de ebulição, que é -162℃. Os transportadores de
GNL têm tanques de membrana com isolamento multicamadas de alto vácuo. As camadas de
tanques de membrana incluem a barreira primária ou camada de metal, a camada de isolamento,
uma camada à prova de líquidos e uma segunda camada de isolamento. Os transportadores de
GLP têm uma barreira primária, como os transportadores de GNL. No entanto, os tanques de
GLP não apresentam resistência à propagação de trincas. Os tanques requerem uma barreira
secundária, que também é conhecida como sistema de contenção secundária.
Os tanques de GLP possuem um sistema de contenção que pode suportar pressões muito
altas. Isso ocorre porque o GLP requer alta pressão para permanecer líquido. Os navios-tanque
de GNL, por outro lado, possuem sistema de contenção que pode suportar temperaturas muito
baixas, necessário para manter o GNL na forma líquida.
41
A necessidade de ampliação da matriz energética no Brasil tem gerado expectativa no
setor naval, sobretudo para o mercado de gás, o que pode provocar um novo momento de
construção de navios gaseiros no país. De acordo com a Virgulino (2020), estaleiros foram
consultados sobre a construção de navios e comboios gaseiros, e armadores já planejam atender
a demanda para o transporte de GNL, em especial na região Norte do país. Contudo, a projeção
é de que apenas em 2024 o mercado de gás comece demandar negócios mais consistentes para
o setor. Cabe destacar que o Brasil já construiu e importou LPG, mas nunca LNG.
𝐶𝐺𝑇 = 𝐴 × 𝑔𝑡 𝐵
42
apresentam um preço de aquisição e uma taxa de afretamento muito mais elevada, conforme
ilustrado na Figura 19, na Figura 20 e na Figura 21.
43
Figura 21 – Preços e Taxas de um Navio LNG
Fonte: Clarkson (2020c)
44
Fonte: Clarkson (2020c)
• Petroleiros
Os dados da frota mundial de petroleiros são datados do final de maio de 2020, oriundos
dos relatórios World Fleet Monitor e Ship Type Orderbook Monitor da Clarkson Research
(2020). Nessa data, a frota global era de 11.280 embarcações com uma idade média de 19,2
anos e avaliada em 163,4 bilhões de dólares. A Tabela 11 detalha a frota de petroleiros em duas
maneiras, com a primeira os dividindo em UL/VLCC, Suezmax, Aframax/LR2, Panamax/LR1,
Handy e Menores de 10.000 DWT; enquanto a segunda os divide em UL/VLCC, Suezmax,
Aframax/LR2, Panamax/LR1, MR, Handy e Menores de 25.000 DWT.
45
Nota-se que não existe uma distribuição uniforme de navios pelas classes e sim uma
grande concentração de navios de menor porte. Contudo, ao analisar a idade média e a carteira
de encomendas, percebe-se também que a renovação da frota está sendo direcionada para navios
maiores. Para exemplificar, tem-se os navios com menos de 10.000 DWT com uma idade média
de 26,5 anos e uma carteira que representa apenas 1,17% da frota atual enquanto as embarcações
suezmax têm uma idade média bem inferior (10,1 anos) e uma carteira que equivale a 10,96%
da frota atual.
Na Tabela 12, é possível visualizar o número de navios de acordo com a sua respectiva
classe e a evolução da frota a partir de 2016, com exceção dos navios handy e menores que
25.000 DWT que possuem dados a partir de 2018. Considerando novamente Aframax e LR2
como apenas uma classe, assim como Panamax e LR1, nota-se o crescimento da frota em todas
as categorias, com destaque para os UL/VLCC que tiveram uma variação de 17,5% ao comparar
os números do final de maio de 2020 com o final de 2016. Tal número é resultado direto do
aumento do consumo de petróleo e consequentemente da necessidade de transportar
quantidades maiores de carga de uma única vez para efeitos de economia de escala. As menores
variações são dos navios de menores portes, com taxas de crescimento menores que 1% ao ano.
Uma consequência direta desses números é a idade média dos navios, o que faz com que os
UL/VLCC tenham a menor idade média enquanto os navios de menor porte têm a maior,
conforme escrito anteriormente.
Tabela 13 – Evolução da Capacidade (DWT) da Frota Mundial de Petroleiros de 2016 a Maio de 2020
Tabela 14 – Evolução da Capacidade (GT) da Frota Mundial de Petroleiros de 2016 a Maio de 2020
47
atingiu o ápice em 2009 com 538 navios entregues e 24,4 m.GT construídos. A partir de então
ocorreu uma queda na produção devido à Crise Econômica de 2008, principalmente em termos
de arqueação bruta. A quantidade de navios construídos e GTs adicionados ao mercado
apresentam pouca variação nos últimos anos.
600
500
Número de Embarcações
400
300
200
100
30
25
20
m.GT
15
10
Na mesma época, Clarkson (2020c) indicava uma carteira de encomendas de 465 navios
petroleiros, dos quais cerca de um terço seriam de Handymax. Na sequência, os Aframax com
48
97 encomendas enquanto de pequeno porte (70), Suezmaxs (65) e VLCCs (63) apresentavam
números parecidos. A Figura 25 ilustra a quantidade de navios encomendados de cada classe.
160 156
140
120
97
100
80 70
63 65
60
40
20 14
0
VLCC Suezmax Aframax Panamax Handy Small <10k
• Gaseiros
Os dados da frota mundial de navios gaseiros são datados do final de maio de 2020,
oriundos do relatório World Fleet Monitor da Clarkson Research. Nessa data, a frota global de
LNG consistia em 603 embarcações com uma idade média de 10,4 anos e estimada em US$
65,6 bilhões. Já a frota mundial de LPG era de 1.484 embarcações com uma idade média de
15,3 anos e estimada em US$ 30,9 bilhões. Assim sendo, tem-se um total de 2.087 gaseiros,
um aumento de 7,6% em relação a 2017, mantendo a tendência de aumento como nos últimos
anos, conforme indicado no gráfico da Figura 26.
49
2100 2.087
2.053
2050
Número de Embaecações
2000 1.992
1950 1.940
1900
1850
2017 2018 2019 mai/20
700
642
601
600 563
511
Número de Embarcações
500 478
421
378 393
400 360 359
300
200
100
0
2010 2011 2012 2013 2014 2016 2017 2018 2019 2020
50
Outra forma de representar a frota mundial é em função do gross tonnage (GT), que é a
medida do volume interno da embarcação. Com base nesse parâmetro, percebe-se que os navios
que transportam LNG são embarcações muito maiores do que aquelas que operam com LPG.
Para ilustrar, tem-se como exemplo o dado mais recente, de maio de 2020, no qual o GT dos
navios LNG é 2,69 vezes maior apesar de ter uma frota 2,46 vezes menor.
Além disso, conforme ilustrado no gráfico da Figura 28, a frota de gaseiros apresenta
um crescimento constante em termos de arqueação bruta maior que o aumento absoluto de
navios. De 2016 até maio de 2020, foram acrescidos 14,5 m.GT na frota de transportadores de
LNG, o que corresponde a um aumento de 30%. Já na frota de carregadores de LPG foram
acrescidos 3,7 m.GT, o que equivale a uma adição de quase 19%.
70
61,4 62,5
60 56,9
51
48
50
40
m.GT
30
21,5 22,5 23,2
19,5 21,2
20
10
0
2016 2017 2018 2019 mai/20
LNG LPG
51
Dados de outubro de 2021 da Clarksons mostram que as entregas de transportadores de
LNG nos primeiros nove meses deste ano atingiram um novo máximo de 8 milhões de metros
cúbicos, elevando a capacidade da frota para mais de 100 milhões de metros cúbicos pela
primeira vez, totalizando 665 navios. A quantidades recorde de entrega de gaseiros em 2021 e
uma carteira de pedidos crescente posiciona o LNG como um dos segmentos de crescimento
mais rápido da frota mercante global na década de 2020.
Conforme mencionado no início desse tópico, a idade média ao final de 2020 do navio
LNG é de 10,4 anos enquanto do navio LPG é de 15,3 anos. Embora não esteja dividido entre
transportadores de LNG e LPG, os gráficos da Figura 29 e da Figura 30 ajudam a identificar o
comportamento do mercado da construção de gaseiros desde o ano de 1991. Até o ano de 2005,
o número de navios entregues por ano não apresentava variações significativas, com o ano de
2006 marcando início de um novo ciclo que apresentou dois picos: em 2008 com 137
embarcações e em 2016 com 126 gaseiros entregues. Com base no GT, o primeiro pico também
aconteceu em 2008, com 7.829.000 GT, enquanto o segundo aconteceu em 2018 com 7.302.000
GT. É válido destacar ainda que o período de baixa entre os dois ciclos é resultado direto da
crise econômica de 2008.
150
100
50
52
9.000
8.000
7.000
6.000
5.000
k.GT
4.000
3.000
2.000
1.000
3.3.3 ARMADORES
O mercado das empresas que operam petroleiros é muito mais amplo e diversificado
que dos aliviadores. Após buscas em sites especializados, elaborou-se uma lista com as maiores
companhias transportadoras de petróleo do mundo. Tanto a quantidade de navios quanto a
capacidade da frota foram utilizadas como critério.
120
100
80
60
40
20
Embora a frota de gaseiros ativos seja muito menor que a de petroleiros, existem
diversas companhias que operam com o transporte do LNG e do LPG. Tais empresas foram
identificadas por meio consultas realizadas no World LNG Report da International Gas Union,
no Ship Type Orderbook Monitor da Clarksons Research e em alguns sites do setor. Pela
quantidade de companhias, serão apresentadas somente aquelas que possuem pelo menos oito
embarcações LNG ou LPG em sua frota, independentemente da capacidade. Contudo, vale
ressaltar que algum armador pode não estar presente na listagem mesmo seguindo os critérios
pelo grau de refinamento da pesquisa.
Como transportadoras de LNG foram identificadas 14 empresas que operam com pelo
menos 8 embarcações: “K” Line, BW, Capital Gas, Evergas, Flex LNG, GasLog, Golar LNG,
Maran Gas, MISC, Nakilat, NYK, SCF, Teekay e TMS Cardiff Gas. Dentre essas, podemos
destacar algumas empresas com 40 ou mais navios na frota: a Nakilat (69), NYK (50), Teekay
54
(47), “K” Line (47) e Maran Gas (40). A frota das demais empresas podem ser vista no gráfico
da Figura 32.
70 69
60
50
50 47 47
40
40
29
30 25
21
20 16 16
13 12
9 8
10
55
50
39
40
30 29
30 27 28
21 22 21
20 17
13
10 8
56
Tabela 15 – Distribuição do Comércio Marítimo Internacional – Em Milhões de Toneladas
Na Tabela 15 observa-se que o comércio de graneis líquidos teve uma queda de mais de
7,7% de 2019 para 2020, pouco mais que o dobro da queda total que foi de 3,8%. Das 2.918
milhões de toneladas, 1.716 correspondem ao óleo cru e 480 correspondem aos gases, de acordo
com o (UNCTAD, 2021).
57
Quando ajustado para a distância percorrida, no entanto, o declínio no comércio
marítimo em 2020 foi menor – caindo apenas 1,7%, para uma estimativa de 58,865 bilhões de
toneladas de carga por milhas, como ilustra a Figura 35. Mas houve resultados diferentes para
diferentes tipos de carga: o petróleo diminuiu 7,0% e o comércio em contêineres 1,5%,
enquanto houve um aumento de 1,3% no comércio de granéis sólidos (minério de ferro, carvão
e grãos) e de 6,7%. por cento em remessas de gás, incluindo gás liquefeito de petróleo (GLP) e
gás natural liquefeito (GNL), de acordo com dados do UNCTAD (2021). É importante ressaltar
que os dados de 2020 são estimados e os de 2021 são uma previsão.
58
Figura 36 – Comércio mundial de petroleiros ultragrandes por região exportadora em tonelada e toneladas-
milhas (porcentagem em participação)
Fonte: (UNCTAD, 2021)
Em relação ao frete, no primeiro semestre de 2020, houve um aumento nas taxas de frete
de navios-tanque, proporcionando um aumento nos lucros das empresas de transporte. No
segundo semestre do ano, os reflexos mais fortes do COVID-19 enfraqueceram a demanda e as
taxas começaram a cair em um mercado com excesso de oferta. Em janeiro de 2021, os ganhos
spot dos petroleiros eram de US$ 5.237/dia e, em julho, caíram para US$ 2.753/dia, os níveis
mais baixos de todos os tempos, conforme apresentado na Figura 37. Dada a atual baixa
demanda global e as incertezas futuras, as taxas de frete dos petroleiros de curto prazo
provavelmente permanecerão baixas.
59
3.5 REGULAMENTAÇÃO DO TRANSPORTE MARÍTIMO
A navegação mercante é uma das indústrias mais regulamentadas e uma das primeiras
a ter padrões de segurança internacionais amplamente implementados. Os regulamentos
relativos ao transporte são desenvolvidos em nível global, visto que o transporte marítimo é
verdadeiramente internacional e só pode operar de forma eficaz se os próprios regulamentos e
padrões forem acordados, adotados e implementados em uma base internacional. Assim, é
fundamental que ele esteja sujeito a regulamentações uniformes em questões como padrões de
construção, regras de navegação e padrões de competência da tripulação. A existência de uma
série de regulamentações nacionais poderia torna-las conflitantes, comprometendo a eficiência
do comércio mundial.
Quanto a OIT, tem-se a Convenção sobre o Trabalho Marítimo, conhecida como MLC
2006, firmada em Genebra, em 7 de fevereiro de 2006. A MLC 2006 consolidou, em um só
documento, o conteúdo de 68 convenções e recomendações da Organização Internacional do
Trabalho para o setor marítimo. Visa estabelecer os requisitos mínimos para o trabalho a bordo
de embarcações, condições justas de emprego, bem como regras de saúde e segurança a serem
aplicáveis à gente do mar, a fim de assegurar a proteção à saúde e bem-estar social.
Dentre os inúmeros tópicos descritos, pode-se destacar alguns pontos: idade mínima,
atestado médico, acordos de trabalho, salário, cálculo e remuneração, jornada de trabalho,
férias, repatriação, garantia financeira e assistência médica. A responsabilidade de fiscalização
61
e monitoramento da efetiva implementação desses pontos e de todas as outras normas listadas
no documento são dos membros que aderirem a MLC.
62
Figura 38 – Países com Leis de Cabotagem
Fonte (SRI, 2018)
• União Europeia
Após o Tratado de Roma, as leis nacionais governaram os vários mercados de
cabotagem dos Estados-Membros da União Europeia por muitos anos. A primeira iniciativa
para mudar esta situação ocorreu quando a Comissão Europeia publicou o Livro Branco de
1985, “Completando o Mercado Interno”, listando 300 medidas destinadas a eliminar os
controles físicos/fronteiriços, regras e regulamentos existentes e taxas de impostos divergentes
que impediram a realização do Mercado Único Europeu. Desde então, a liberalização do
mercado de cabotagem foi vista como um passo importante para concretizar esta realização e,
por conseguinte, precisava de ser regulamentada de acordo com os princípios da UE.
No entanto, o caminho percorrido para alcançar este propósito não foi simples. O pacote
marítimo de 1986 excluía a cabotagem. Os países participantes da Rodada Uruguai do Acordo
Geral sobre Comércio e Serviços também adotaram uma abordagem semelhante ao eliminar a
cabotagem das negociações em matéria de navegação. Reino Unido, Irlanda, Dinamarca,
Holanda e Bélgica liberaram seus mercados de cabotagem de acordo com o Regulamento do
Conselho nº 4055/86. Nenhum outro progresso foi feito até 1989, quando a Comissão
63
apresentou duas comunicações sobre diferentes questões marítimas, que incluíam a eliminação
das restrições à cabotagem.
Contudo, a liberdade pode ser limitada pela: imposição de regras de tripulação que são
da responsabilidade dos Estados de bandeira e cujas regras variam de um registo para outro;
pela imposição de obrigações de serviço público para garantir a qualidade e regularidade dos
serviços de transporte marítimo; ou pela suspensão temporária das disposições do regulamento
devido a graves perturbações no mercado interno dos transportes.
• Rússia
A cabotagem russa é reservada aos navios de bandeira da Federação Russa (Federation
Council of Russia, 1999); de acordo com seu Código de Navegação Mercante, embarcações
estrangeiras só podem entrar no mercado de cabotagem se tiverem sido autorizadas por um
tratado internacional com a Rússia ou se o governo tiver concedido isenções em casos
específicos.
• Estados Unidos
64
A regulamentação do comércio marítimo nas águas dos Estados Unidos e entre seus
portos é dada pela Lei da Marinha Mercante (Merchant Marine Act) de 1920. Consiste em uma
lei federal que prevê a promoção e manutenção da marinha mercante americana. Contudo,
apesar um dos representantes do liberalismo econômico, que defende a não-intervenção do
Estado na economia e a livre-concorrência, representa a política marítima mais restritiva do
mundo segundo Hodgson e Brooks (2007), principalmente por conta do Jones Act (Seção 27
da Lei da Marinha Mercante).
O Jones Act exige que as mercadorias enviadas entre portos dos EUA sejam
transportadas em navios construídos, pertencentes e operados por cidadãos dos Estados Unidos
ou residentes permanentes. Abrange também uma variedade de outras questões marítimas,
incluindo dragagem de porto, compensação para marinheiros e garantias de empréstimos
governamentais para construtores de navios. Nem mesmo o Acordo de Livre Comércio da
América do Norte (NAFTA) entre o país, Canadá e México, em vigor desde 1994, flexibilizou
a regulamentação, visto que o transporte pela via marítima foi excluído da negociação
A lei foi promulgada com o objetivo de ajudar a recuperação da indústria naval dos
Estados Unidos após a Primeira Guerra Mundial. Com isso, protege os navios de carga do país
da competição de navios estrangeiros de baixo custo ou subsidiados, permite a aplicação da Lei
de Responsabilidade dos Empregadores Federais aos marinheiros e promove a manutenção da
base industrial marítima dos EUA. De acordo com o Safety4sea (2019), um estudo da
PricewaterhouseCoopers (PWC) para a Transportation Institute, a indústria hoje emprega perto
de 650 mil americanos, contribui com US$ 154 bilhões para o crescimento econômico anual do
país e gera US$ 41 bilhões em renda para os trabalhadores americanos a cada ano. O relatório
destaca ainda que cada vaga de trabalho em um estaleiro cria quatro empregos em outras áreas
da economia norte-americana.
Entretanto, são apontados alguns pontos negativos. A Lei Jones aumenta o custo do frete
para o Havaí, Alasca, Porto Rico e outras terras não continentais dos EUA que dependem de
importações, restringindo assim o número de navios que podem entregar mercadorias
legalmente. A oferta de navios construídos, de propriedade e operados por americanos é
relativamente pequena em comparação com a oferta global de navios, enquanto a demanda por
bens básicos tende a permanecer estável ou crescer. Isso cria um cenário em que as empresas
de navegação podem cobrar tarifas mais caras por causa da falta de concorrência, com o
aumento dos custos sendo repassado aos consumidores.
65
• Canadá
O Canadá faz parte dos países que adotam políticas que protegem o setor de cabotagem
marítima, mas que permitem a entrada de proprietários estrangeiros sob condições controladas
através da concessão de autorizações ou licenças. Tal política é representada pela Coasting
Trade Act (CTA) de 1992, que apoia os interesses marítimos canadenses reservando o comércio
costeiro do Canadá para embarcações canadenses registradas com impostos pagos, com
isenções limitadas. Nenhum navio estrangeiro ou navio não pago deverá, exceto de acordo com
uma licença, se envolver no comércio de cabotagem.
• Japão
Apesar de apresentar uma geografia favorável ao desenvolvimento da cabotagem, o
Japão juntamente com os Estados Unidos e o Peru, apresenta políticas que protegem
integralmente o setor de cabotagem marítima e que não permitem armadores estrangeiros.
Quando o fazem, aplicam-se condições muito estritas por períodos muito curtos. De acordo
com a Lei de Navios Japoneses, o comércio de cabotagem só pode ser realizado em navios de
bandeira japonesa, construídos no Japão e tripulados por uma tripulação japonesa, o que resulta
em um custo de mão de obra elevado quando comparado com outras nacionalidades.
66
Contudo, existem casos em que as embarcações estrangeiras são permitidas: para evitar
captura ou acidente marítimo; existência disposições estabelecidas na lei ou em tratados;
possuir licença concedida pelo Ministério das Terras, Instrução, Transportes e Turismo; e se
houver medidas de amizade, de comércio e de navegação com o Japão, desde que a participação
de embarcações estrangeiras não afete a indústria de cabotagem japonesa, e se se aplica o
princípio da reciprocidade. Assim, tal permissão concedida a embarcações estrangeiras é válida
para uma determinada viagem, porto e período.
• China
O Código Marítimo de 1992 regulamenta a cabotagem chinesa e determina que os
serviços de cabotagem sejam realizados por navios registrados na China (Ministério do
Comércio da República Popular da China, 1992). Os navios estrangeiros só podiam entrar no
mercado da cabotagem se fossem concedidas autorizações das autoridades competentes. Além
disso, as autoridades chinesas tiveram que conceder permissão para que empresas estrangeiras
investissem em joint ventures de capital estrangeiro-chinês ou joint ventures contratuais e que
a proporção de investimento a ser feita seria limitada a 49%. A partir de setembro de 2013, o
governo chinês decidiu relaxar lentamente seu regime de cabotagem, permitindo que navios de
contêineres estrangeiros transportassem contêineres nas rotas comerciais entre a Zona Franca
de Xangai e outros portos costeiros da China, embora o relaxamento real tenha ocorrido apenas
em dezembro de 2014. A partir de abril de 2015, ocorreram mudanças adicionais na cabotagem,
a qual encontra-se em um período de transição, e a extensão do relaxamento da cabotagem
chinesa é desconhecida.
• Índia
As regras de cabotagem foram estabelecidas sob a premissa do Merchant Shipping Act
(MSA) de 1958. De acordo com as regras, era obrigatório utilizar serviços de feeder oferecidos
por empresas de navegação indianas para transportar cargas de centros de transbordo no Sri
Lanka e, em seguida, transportá-las entre diferentes portos da Índia, mesmo que isso restringisse
a entrada de navios porta-contêineres de bandeira estrangeira. As regras também diziam que os
navios estrangeiros só podiam operar nos terminais indianos quando os navios indianos
permaneciam indisponíveis e após obter uma licença do regulador marítimo da Índia.
• Austrália
O atual regime de licenciamento autoriza os navios a transportar cargas e passageiros
entre os portos australianos, desde que possuam a licença correta. Todos os movimentos
domésticos de carga ou passageiros devem ser autorizados por um dos três tipos de licenças
fornecidas pelo regime do Coastal Trading (Revitalising Australian Shipping) Act 2012 (CTA):
licenças gerais (para embarcações registradas na Austrália); licenças temporárias (para
embarcações de bandeira estrangeira); e licenças de emergência (para situações de emergência
- válidas por 30 dias).
Uma licença geral está disponível para navios de bandeira australiana registrados no
Australian General Shipping Register e navios estrangeiros registrados que pretendam fazer a
transição para o registro australiano dentro de 5 anos. Uma licença temporária está disponível
para navios de bandeira estrangeira e para navios inscritos no Australian International Shipping
Register. Os candidatos a uma licença temporária podem fazer apenas uma aplicação em
qualquer período de 12 meses e estão sujeitos a uma série de outros requisitos muito onerosos.
Por fim, uma licença de emergência permite que o titular da licença se envolva no comércio
costeiro por não mais de 30 dias e tem como objetivo responder a emergências nacionais, como
ciclones, terremotos e incêndios florestais.
68
Unidos, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Rússia, Irã, Iraque, Angola, Nigéria,
Venezuela, Argentina, Bolívia e México. O Brasil será tratado a partir em um outro capítulo.
• Estados Unidos
O sistema de acessão, também conhecido como fundiário, rege os direitos de
propriedade na extração de hidrocarbonetos em extensões terrestres. Nesse modelo, caso não
exista contrato ou escritura prévia, o solo e o subsolo são considerados um todo indivisível, o
que faz com que os direitos dos recursos minerais do subsolo são propriedade do dono da
superfície, independentemente de quem seja (governos locais, estaduais, federais ou
proprietários privados). Dessa forma, os proprietários de terras têm o direito de produzir
petróleo e gás natural das terras que são donos. Quanto aos direitos de produção das terras
submersas que estão além das terras controladas pelo Estado (inclusive na plataforma
continental externa), são pertencentes ao governo federal. É usual os governos federal e estadual
concederem seus direitos de produção a entidades privadas.
No que diz respeito a regulação da produção de petróleo e gás natural em terra, as que
ocorrem áreas federais são reguladas pelo Departamento do Interior e pelo Bureau of Land
Management. As demais produções são reguladas pelo estado onde a atividade acontece por
meio da sua própria agência reguladora ou agências que administram questões como a
tributação, aspectos de saúde e segurança, prevenção de resíduos e proteção dos direitos dos
proprietários de terras adjacentes.
• Arábia Saudita
Ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, todos os recursos naturais na
superfície, no subsolo, em águas territoriais, ou em domínios terrestres e marítimos sob a
autoridade do Estado, juntamente com as receitas provenientes desses recursos, são propriedade
69
do Estado. Tal situação é determinada pelo artigo 14 da Lei Básica do Reino da Arábia Saudita,
estabelecida pelo Decreto Real nº 90/A.
Contudo, não existe qualquer legislação específica que aborda a exploração de petróleo
em Abu Dhabi, apesar de a Constituição discorrer a respeito da propriedade dos recursos
naturais e da responsabilidade estatal sobre a exploração e desenvolvimento. Assim, a
regulamentação acontece por meio dos termos e condições de cada Contrato de Concessão
individualmente negociado entre o Governo e as companhias petrolíferas.
• Rússia
Os minerais do subsolo não pertencem ao proprietário da superfície da terra, mas à
localidade onde se encontra, estando sob jurisdição estadual ou federal, de acordo com a Lei
Federal de Subsolo, de 21 de fevereiro de 1992. Para a exploração, adota-se o regime de
licenciamento ou de partilha de produção. O processo licitatório está previsto no artigo 11 da
Lei Federal de Subsolo enquanto o modelo de partilha de produção está previsto na Lei Federal
sobre os Acordos de Partilha de Produção. O regime de licenciamento dos recursos é de
competência do Ministério de Recursos Naturais e Ecologia da Federação Russa e, em especial,
da Agência Federal de Uso do Solo (Rosnedra), responsável pela regulamentação da extração
de petróleo e gás natural.
• Irã
A constituição do Irã proíbe a propriedade privada e estrangeira desses recursos (Art.
81/1979), o que torna os recursos naturais de propriedade do Estado. A definição de políticas e
70
estratégias do setor energético iraniano é de responsabilidade do Conselho Supremo de Energia,
sendo liderado pelo presidente do país e composto por diversos ministros de governo. Além
disso, o Ministério do Petróleo é responsável por gerenciar e desenvolver a indústria de óleo e
gás no país. Sob a sua supervisão, empresas estatais atuam em toda a cadeia produtiva e de
exploração petrolífera do Irã.
Vale destacar o Iranian Petroleum Contract (IPC) de 2016, um novo modelo fiscal do
upstream que permitiu a participação de empresas internacionais no país. O regime é uma
combinação de contratos de buyback e de partilha de produção, abarcando as fases de
exploração, desenvolvimento e produção, além da possibilidade de se estender para a fase de
recuperação avançada. No regime de contrato de serviço de buyback, as empresas estrangeiras
executam os investimentos com capital próprio em projetos de óleo e gás. Depois da sua
conclusão, estas empresas entregam a propriedade dos ativos à estatal iraniana mediante
compensação financeira previamente definida.
• Iraque
O petróleo e o gás natural pertencem ao povo iraquiano, de acordo com o artigo 111 da
constituição de 2005. Além disso, segundo o artigo 112, o Governo Federal é responsável pela
formulação de políticas para o desenvolvimento do setor de óleo e gás, com o uso de técnicas
avançadas dos princípios de mercado e incentivo ao investimento. Como consequência, dois
tipos de contratos são celebrados no Iraque: o contrato de serviço técnico (TSC), para a
reconstrução de campos produtores, e o contrato de serviço de desenvolvimento e produção
(DPSC), para desenvolver novos campos. Nesses contratos a remuneração ocorre com base na
recuperação de custos e em uma taxa de remuneração por barril.
• Angola
O artigo 16 da constituição de Angola de 2010 define que todo recurso mineral presente
em seu território é de propriedade do Estado. As atividades de exploração e produção de óleo e
gás por empresas privadas são permitidas em conjunto com à estatal Sonangol, por meio de
instrumentos como serviços com riscos, partilha de produção e associação (societária ou
contratual).
• Nigéria
A Constituição da Nigéria de 1990 em conjunto com a “Lei do Petróleo” (The Petroleum
Act) definem que a propriedade do óleo encontrado em território nigeriano é do Estado, sendo
71
a estatal Nigerian National Petroleum Corporation (NNPC) responsável pelo desenvolvimento
e pela produção realizados. Destaca-se que na Nigéria são praticados diversos tipos de modelos
contratuais para o desenvolvimento de recursos de petróleo e gás, como contratos de concessão,
acordos de joint ventures tradicionais, contratos de serviços, contratos de compartilhamento de
produção e contratos de risco único.
• Venezuela
A regulação é baseada na Constituição, na Lei Orgânica de Hidrocarburos (LOH) e na
Lei Orgânica de Hidrocarbonetos Gasosos (LOHG). O direito e a administração dos
reservatórios de óleo e gás na Venezuela são de responsabilidade do Governo Federal, conforme
descrito nos artigos 12 e 146 da Constituição.
Contudo, a partir do final dos anos 1990, a participação pública na indústria do petróleo
cresceu sucessivamente. As alíquotas de impostos e royalties sobre projetos novos e existentes
foram aumentadas, assim como determinada a participação majoritária do Estado em parceria
empresarial, por intermédio da PDVSA, em todos os projetos de petróleo. Assim, o sistema
regulatório adotado (LOH) permite a atuação de empresas estrangeiras além dos contratos de
total exclusividade da estatal. Já as atividades relacionadas a exploração de gás natural não
associado podem ser exercidas por empresas privadas por meio de concessão, de acordo com a
LOHG.
• Argentina
Conforme apresentado a seguir, a existência de várias leis e decretos mostram que a
indústria de hidrocarbonetos argentina tem sido controlada e regulada pelo Estado, com
períodos em que as atividades de petróleo e gás foram desreguladas e as empresas estatais
privatizadas
72
Segundo a Lei nº 17.319/1967 (Lei de Hidrocarbonetos), dado que as atividades de
hidrocarbonetos são vistas de interesse nacional, os proprietários de superfície não podem se
opor ao uso de suas terras, se necessário. Contudo devem ser compensados pelas empresas
operadoras pelas avarias causadas às propriedades afetadas pela atividade. Já os Decretos nº
1.055/1989, nº 1.212/1989 e nº 1.515/1989 iniciaram a desregulamentação da indústria de
petróleo e gás natural, com os contratos de serviço e take-or-pay sendo transformados em
concessões de livre disposição.
Depois de 2001, o Estado tornou-se cada vez mais ativo na regulação e participação no
setor de petróleo e gás, com leis e regulamentos de intervenção mais pesados nos níveis federal
e provincial. As leis nº 26.197/2006 e nº 27.007/2014, em conjunto com a de nº 17.319/1967
são as principais normas legais que regulamentam o setor argentino de petróleo e gás natural.
• Bolívia
O setor de óleo e gás boliviano é caracterizado por momentos distintos de
nacionalização e a permissão de empresas privadas. Em 1937 concluiu-se o primeiro processo
de nacionalização de hidrocarbonetos na América do Sul. David Toro (então presidente da
Bolívia) decidiu a extinção das concessões dadas em 1921 à americana Standard Oil, com
expropriação e confisco dos bens com posterior indenização de US$ 1,7 milhão (FUSER, 2011).
Quatro meses antes, em 21 de dezembro de 1936, Toro, através de decreto, fundou a estatal
Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) para realizar as atividades de exploração
e produção no país. Desde a sua fundação, a empresa detinha o direito legal de monopólio, em
nome do Estado.
73
hidrocarbonetos. Contudo, em 1969 ocorreu a segunda nacionalização realizado pelo governo
do militar Alfredo Ovando Candia, com a expropriação dos bens da Gulf Oil e posterior
indenização de US$ 78 milhões pagas durante nove anos. No final de 2006, o presidente Evo
Morales ordenou a nacionalização das ações necessárias para que o Estado controle três
empresas mistas e duas privadas em operação no país, compostas pela Repsol, British
Petroleum, Petrobras e Shell.
• México
A produção comercial de petróleo mexicano teve início a partir de empresas privadas
que mais tarde foram nacionalizadas, em um processo que persistiu da década de 1920 ao fim
da década de 1930. A nacionalização da indústria petrolífera mexicana representou a maneira
encontrada para encarar as empresas privadas estrangeiras e garantir ao Estado os benefícios da
produção de petróleo. Na prática, significou uma ruptura com o modelo de investimento privado
no setor e o início de um monopólio da Pemex.
74
exploratórios. Os Contratos agora podem ser firmados com empresas públicas ou privadas, sob
a modalidade de Contratos de Serviço, Partilha de Produção, Partilha de Lucro ou Licença, um
avanço frente as Alocações.
75
4 TRANSPORTE DE GRANEIS LÍQUIDOS NO BRASIL
4.1 REGULAMENTAÇÃO DO SETOR DE ÓLEO E GÁS
Antes de tratar especificamente da regulamentação do setor de óleo e gás brasileiro, é
preciso apresentar o Pré-sal, descoberta que motivou todo o marco regulatório atual do país.
Com uma área de aproximadamente 149 mil km² no mar territorial entre os estados de Santa
Catarina e Espírito Santo, o Polígono do Pré-Sal é a mais importante reserva de petróleo e gás
natural brasileira e uma das mais relevantes descobertas dos últimos anos.
Apresentado o Pré-sal, faz-se uma retrospectiva do setor de óleo e gás brasileiro, com
foco em sua regulação. A indústria de petróleo no Brasil estruturou-se a partir de meados do
século passado, no âmbito de um projeto de desenvolvimento industrial com foco na
substituição de importações. O Decreto-Lei nº 395, de 29 de abril 1938, declarou de utilidade
pública e regulou a importação, exportação, transporte, distribuição e comércio de petróleo
bruto e seus derivados, no território nacional, além da indústria de refino de petróleo. Esse
decreto, que nacionalizou as riquezas do subsolo brasileiro pelo governo e criou o Conselho
Nacional do Petróleo (CNP), consistiu na primeira ação efetiva do Estado na regulação do setor
petroleiro.
A Lei nº 2.004, de 3 de outubro de 1953, sancionada por Getúlio Vargas, foi a iniciativa
seguinte. A lei criou a Petrobras como sociedade de economia mista com controle do Governo
Federal, definiu as atribuições do CNP e dispôs sobre a política nacional do petróleo,
estabelecendo assim o monopólio estatal sobre todas as atividades da cadeia petrolífera, com
exceção da distribuição. A lei vigorou até 6 de agosto de 1997, quando foi revogada por
Fernando Henrique Cardoso, devido a sanção da Lei º 9.478, conhecida como Lei do Petróleo.
A nova lei flexibilizou o monopólio estatal do petróleo. O artigo 4º, nos termos do art.
177 da Constituição Federal, estabelecia que: a pesquisa e lavra das jazidas de hidrocarbonetos,
o refino do petróleo, as atividades de importação e exportação dos hidrocarbonetos e o
transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados básicos de petróleo
produzidos no país seriam regulados e fiscalizados pela União. Contudo, de acordo com o art.
76
5º, empresas constituídas sob as leis brasileiras, com sede e administração no Brasil, mediante
concessão, autorização ou contratação sob o regime de partilha de produção, poderiam exercer
as atividades presente no art. 4º. Ou seja, a Petrobras deixava de ser a única empresa com a
possibilidade de operar com o petróleo e derivados no Brasil.
77
Pela lei, estabeleceu-se o regime de contratos de partilha de produção para os campos
situados na área do Polígono do Pré-sal. Consiste em um regime de exploração e produção de
petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos fluidos no qual o contratado exerce, por
sua conta e risco, as atividades de exploração, avaliação, desenvolvimento e produção e, em
caso de descoberta comercial, adquire o direito à apropriação do custo em óleo, do volume da
produção correspondente aos royalties devidos, bem como de parcela do excedente em óleo, na
proporção, condições e prazos estabelecidos em contrato.
Além disso, foi autorizada a Cessão Onerosa para a Petrobras, autorizando a empresa
explorar até 5 bilhões de barris equivalentes de petróleo em áreas não concedidas do Pré-sal, e
criada a estatal Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA), empresa responsável pelo exercício dos direitos
de propriedade da União no regime de partilha e organização da comercialização dos óleos da
União (Lei nº 12.304/2010).
As rodadas são preparadas pela ANP com base nas diretrizes do CNPE. A partir dessas
orientações que a ANP faz os estudos e recomenda as áreas com as características determinadas
78
pelo CNPE, que, após aprová-las, autoriza a Agência a realizar as rodadas. A autorização da
rodada é dada pela publicação da Resolução do CNPE. Após isso, a ANP publica o pré-edital
e a minuta do contrato, os quais são objeto de consulta e audiência pública. Dentre os conteúdos
do pré-edital, destacam-se o cronograma de eventos e publicações obrigatórios, que inclui
seminários técnicos, jurídicos, fiscais e ambientais; e a divulgação das áreas dos blocos. Nessa
fase, é aberto o prazo para as empresas manifestarem o interesse em participar da rodada e para
a análise das solicitações por parte da Comissão Especial de Licitação, que aprova ou não a
inscrição das empresas (ANP, 2021b).
A proposta deve ser composta de uma oferta de bônus de assinatura e PEM (Programa
Exploratório Mínimo), no caso das rodadas sob o regime de concessão, ou a parcela do
excedente em óleo ofertada à União, no caso das rodadas sob o regime de partilha. Tais
propostas são apresentadas em sessões públicas aberta a população e com a presença de
autoridades, sociedades empresárias e imprensa. O julgamento das ofertas é feito
imediatamente, com base nos critérios do edital, e o nome da vencedora é divulgado em seguida.
80
drasticamente o seu funcionamento, provocando um forte desemprego e desarticulou as cadeias
produtivas intensivas em tecnologias.
Em resumo, pode-se dizer que índices excessivos de conteúdo local resultam em perda
de atratividade em projetos no pré-sal brasileiro. Em segundo lugar, verifica-se que maiores
comprometimentos de conteúdo local incentivam a economia doméstica por meio da ampliação
de emprego e renda, além de impulsar a indústria de construção naval. Assim, ocorre um trade-
off dos benefícios locais entre a atração de investimentos em projetos de E&P e o nível de
conteúdo local, no qual maior volume de investimentos pode mais que compensar maiores
níveis de conteúdo local.
81
A operação da Equinor no Brasil teve início no campo de Peregrino, onde já foram
produzidos 210 milhões de barris, e com a previsão de mais 300 milhões com a fase 2 do
projeto. Além disso, tem participação de 25% no campo de Roncador e é operadora do B-MC-
33 (reservatórios Pão de Açúcar, Gávea e Seat). Na Bacia de Santos, a empresa é operadora do
campo de Bacalhau, no qual serão investidos US$ 8 bilhões em conjunto com a ExxonMobil, a
Petrogal Brasil e a Pré-sal Petróleo SA. Além disso, a Equinor possui várias licenças de
exploração de alto impacto (Equinor, 2021).
Embora tenha se destacado as seis empresas anteriores pelo seu tamanho mundial, outras
duas companhias merecem destaque pela sua participação na produção brasileira: a Petrogal e
a Repsol Sinopec que ocupam, respectivamente, o quarto e o quinto lugar no ranking da
produção interna de óleo e gás, de acordo com a ANP (2022a). Em junho de 2022, a Petrogal
teve uma produção total de 114.590 barris equivalentes por dia e a Repsol Sinopec de 84.772
barris equivalentes por dia.
82
2021). A Tabela 16 apresenta a produção de petróleo e gás natural por consorciado em junho
de 2022 dos 33 maiores concessionários, visto que representam aquelas com produção diária
maior que mil barris equivalentes.
Dos concessionários listados, 16 são estrangeiras e 17 são nacionais. Vale ressaltar que,
embora sejam concessionárias diferentes, algumas das petroleiras listadas representam a mesma
empresa. Um exemplo é o grupo composto por Petro Rio O&G, Petro Rio Jaguar e Prio Bravo
e o grupo é composto pela 3R MACAU S.A., 3R Candeias S.A. e 3R Rio Ventura S.A.
83
Tabela 16 – Ranking da Produção de Petróleo e Gás por Consorciado de Junho de 2022
84
condicionada a instrumentos complementares, tais como decretos do executivo e resoluções da
ANTAQ.
O afretamento de navios é tratado pelos arts.9º e 10. Segundo o Art. 9º, o afretamento
de embarcação estrangeira por viagem ou por tempo, para operar na navegação interior de
percurso nacional ou no transporte de mercadorias na navegação de cabotagem ou nas
navegações de apoio portuário e marítimo, bem como a casco nu na navegação de apoio
portuário, depende de autorização do órgão competente. Contudo, deve ser verificada
inexistência ou indisponibilidade de embarcação de bandeira brasileira do tipo e porte
adequados para o transporte ou apoio pretendido.
85
Já o artigo 10º determina que independe de autorização o afretamento de embarcação de
bandeira brasileira para a navegação de longo curso, interior, interior de percurso internacional,
cabotagem, de apoio portuário e de apoio marítimo; de embarcação estrangeira para a
navegação de longo curso ou interior de percurso internacional; e de embarcação estrangeira a
casco nu, com suspensão de bandeira, para navegação interior de percurso nacional, cabotagem,
e apoio marítimo, sendo este afretamento limitado ao dobro da tonelagem de porte bruto das
embarcações, de tipo semelhante, encomendadas pelo afretador a estaleiro brasileiro instalado
no País, com contrato de construção em eficácia, adicionado de metade da tonelagem de porte
bruto das embarcações brasileiras de propriedade do afretador, sendo ressalvado o direito ao
afretamento de pelo menos uma embarcação de porte equivalente.
86
cálculo das contribuições para PIS (Programa de Integração Social) e para CONFINS
(Contribuição para Fins Sociais).
87
7.122, de 20 de agosto 2019), pela Resolução nº 7858, de 06 de julho de 2020) e pela Resolução
nº 44 de 19 de abrir de 2021, todas da ANTAQ.
Por fim, tem-se a Lei 10.893/2004 que estabelece normas sobre o Adicional ao Frete
para a Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) e o Fundo da Marinha Mercante (FMM).
Resumidamente, o FMM é um fundo de natureza contábil, destinado a prover recursos para o
desenvolvimento da Marinha Mercante e da indústria de construção e reparação naval
brasileiras. Já o AFRMM destina-se a atender aos encargos da intervenção da União no apoio
ao desenvolvimento da marinha mercante e da indústria de construção e reparação naval
brasileiras. Ele constitui fonte básica de receita do FMM. Devido a sua relevância, o assunto
será abordado em um capítulo especifico.
88
4.4 APOIO MARÍTIMO
Conforme introduzido no capítulo anterior, o apoio marítimo é definido como o apoio
logístico para embarcações e instalações em águas territoriais nacionais e na Zona Econômica,
que atuem nas atividades de pesquisa e lavra de minerais e hidrocarbonetos. As embarcações
de Apoio Marítimo fazem suprimentos às unidades de exploração e produção dos insumos
necessários às suas operações e auxiliam em tarefas de diversas naturezas.
4.4.1 FROTA
• Divisão da Frota por Bandeira
De acordo com (ABEAM, 2022), a frota total de apoio marítimo ao final de junho de
2022 era composta por um total de 411 embarcações, das quais 374 são de bandeira brasileira
e 37 de bandeira estrangeira. Tal número representa um leve aumento em relação a mesma data
do ano anterior, quando a frota de apoio marítimo totalizava 377 embarcações (340 de bandeira
brasileira e 37 de bandeira estrangeira). Comparando com os últimos anos, conforme
apresentado na Tabela 17 e na Figura 39, pode-se concluir que o número de embarcações
afretadas está crescendo, mas ainda está num número muito inferior a aquele atingido no pico
de 2014 quando existiam 500 navios contratados. É importante destacar que não foram
consideradas embarcações dos tipos lanchas, pesquisa, nem embarcações com porte inferior a
100 TPB ou BHP inferior a 1000.
89
Figura 39 – Relação entre Embarcações de Apoio e Número de Sondas
Fonte: (MENDES, et al, 2020)
A forte redução nos preços do petróleo combinada com a suspensão das rodadas de
licitação de blocos exploratórios foram fundamentais para essa contração. Outro fator relevante
é a maior racionalização na contratação de serviços de afretamento com a intenção de reduzir
os custos, visto que um navio de apoio começou a oferecer diversos serviços e a atender mais
plataformas.
Assim, pode-se dizer essa mudança no número de embarcações com bandeira nacional
e estrangeira é devida ao mecanismo de preferência, que garante aos brasileiros a prioridade na
contratação perante aos navios de bandeira estrangeira. Tal evolução é apresentada de maneira
mais detalhada na Figura 40.
90
Figura 40 – Evolução da Frota de Apoio Marítimo Nacional e Estrangeira
Fonte: (MENDES, et al, 2020)
• Detalhamento da Frota
Uma das consequências dessa mudança no perfil da frota em relação as bandeiras é a
constante diminuição da idade média das embarcações ao longo dos anos. Em 2011 a idade
média dos navios ultrapassava os 20 anos enquanto em 2019 esse número chegou a 13 anos,
possuindo a menor idade média entre todas as modalidades de navegação no Brasil. O Programa
de Renovação da Frota de Apoio Marítimo da Petrobras (Prorefam) teve forte influência nesse
processo.
Conforme foi citado anteriormente, o último estudo divulgado pela ABEAM (não foram
consideradas embarcações dos tipos lanchas, pesquisa, nem embarcações com porte inferior a
100 TPB ou BHP inferior a 1000) mostrou que a frota de apoio marítimo era composta por 411
navios. Quase metade dessa frota é composta por PSV’s/OSRV’s, com 185 exemplares. O
segundo e o terceiro lugar são ocupados pelos LH’s/SV’s e AHTS’s, com 77 e 53 embarcações
respectivamente. Esses três grupos representam 76,64% de toda a frota de apoio marítimo.
Outros navios como Crew/FSV, PLSV e RSV também apresentam uma quantidade
considerável conforme indicado no gráfico da Figura 41.
91
8 15
14
17
18
24
185
53
77
92
4.4.2 ARMADORES
O mercado brasileiro de navegação de apoio marítimo é muito fragmentado. Em
(ABEAM, 2022) estão presentes 46 empresas. Dentre essas, a BRAM/Alfanave possui a maior
fatia de mercado com 14,60% (60 navios), seguida pela CBO com 10,71% (44 navios) e pela
Starnav com 9,98% (41 navios). Ou seja, as três principais empresas do setor detêm 35,28% do
mercado. O gráfico da Figura 42 apresenta a frota de várias empresas do setor.
60
106
44
10
41
12
12
16 28
13 21
23 25
5
O grupo controlador da CBO era proprietário do Estaleiro Aliança e, posteriormente, construiu o Estaleiro Oceana
em Itajaí. Na sequência, desativou a construção no Rio e concentrou em Itajaí. Mais recentemente o Oceana foi
vendido para o grupo alemão thyssenkrupp, que construirá as fragatas da Marinha do Brasil.
93
característica do segmento e ajuda a explicar a manutenção da demanda de embarcações de
apoio e consequentemente a operação de alguns estaleiros no Brasil no decorrer dos anos.
2
9
Aframax
Suezmax
Panamax
28
12
10
0
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
2 3
7 Malásia
7 Cingapura
Malta
Dinamarca
Bahamas
5 Noruega
Grécia
12
3
8 Samsung HI
18 STX SB
Cosco Shipyard
Hyundai HI
Sungdong SB
96
Com exceção da Portinari, que é um aframax, todas os petroleiros não dotados de DP
que realizaram alívio de plataformas são suezmax. Tal situação resulta em um porte bruto médio
de 153.433 toneladas.
97
5
10
3 AET Tankers
European Navigation
Knutsen Group
4 Teekay
2
Tsakos Group
Viken Shipping
15
Com isso, pode-se ver que essas empresas não são EBN e os navios não são arvoram
bandeira brasileira nem foram construídos no país. A operação no Brasil nessas condições é
possível por não haver navios REB disponíveis para o afretamento. Assim, são afretados pela
Petrobras ou por EBN, que por sua vez prestam serviços as petrolíferas. Em decorrência do uso
da bandeira estrangeira, é comum que os aliviadores saiam do Brasil após determinado período
para fugir das regras de tripulação, que tornaria o custo operacional muito mais alto. Inclusive,
o custo de arvorar a bandeira brasileira e a ausência de embarcações que arvoram, faz com que
o mecanismo de preferência não seja um atrativo para o caso dos aliviadores.
• Petroleiros
Após o levantamento realizado em ambas as referências da ANTAQ, foram
identificados um total de 86 petroleiros em operação no Brasil. Desses, tem-se 27 registrados
com bandeira brasileira e 59 com bandeiras de outros países. Isso faz com que o Brasil seja o
país com o maior número de navios registrados, seguido pelas Ilhas Marshall com 18 e pela
98
Libéria com 17. No gráfico da Figura 48 é possível visualizar a distribuição de embarcações
por país.
20 18 17
15
10 8
4 3
5 2 2 2
1 1 1
0
99
30
26
25
20
15 14
10 9
7 7
6 6
5
5 4
2
0
Suezmax Aframax Panamax MR SR
Brasileiros Estrangeiros
Brasileira Estrangeira
• Gaseiros
Após o levantamento realizado em ambas as referências da ANTAQ, foram
identificados um total de 21 gaseiros (mais dois FSRU) em operação no Brasil. Desses, tem-se
100
nove registrados com bandeira brasileira e doze com bandeiras de outros sete países. Isso faz
com que o Brasil seja o país com o maior número de registrados, seguido por Singapura com
três. Mais detalhes podem ser vistos no gráfico da Figura 51.
10 9
9
8
7
6
5
4 3
3 2 2 2
2 1 1 1
1
0
Brasil Itália Noruega Bahamas Singapura Ilhas Malta Dinamarca
Marshall
A idade média dos gaseiros supera os 10 anos. A frota de navios brasileiros tem
aproximadamente 11,1 anos de idade e está caracterizada por ter navios do início dos anos 2000
e da segunda metade da década de 2010. Já a frota de bandeira estrangeira é ligeiramente mais
antiga, tendo uma média de 12,2 anos e com grande parte dos navios da segunda metade da
década de 2000. Maiores informações podem ser vistas no gráfico da Figura 52.
101
3
Brasil Estrangeira
4.6.2 ARMADORES
• Petroleiros
A frota de registro brasileiro é completamente dominada pela Transpetro. Dos 30 navios
de bandeira brasileira, 20 são de propriedade da empresa. Os demais estão divididos entre seis
empresas: Delima Comércio e Navegação com três embarcações; Brasbunker Participações e
Naviera Elcano com dois navios; e Agemar Transportes e Empreendimentos, Norfra Shipping
e Navemazônia Navegação com um petroleiro. Com exceção da Transpetro e Elcano, são
empresas pequenas com operação limitada. Quanto as embarcações estrangeiras, que são todas
afretadas, não foi possível saber o proprietário das mesmas, contudo os registros da ANTAQ
indicaram que o afretamento foi feito pela Petrobras.
• Gaseiros
102
Pelo menor número de navios, o mercado de gaseiros é ainda mais concentrado que o
de petroleiros. Das nove embarcações brasileiras, seis estão em nome da Transpetro e três em
nome da Elcano. Quanto aos 14 gaseiros com bandeira estrangeira, dois estão em nome da
Flumar Transporte de Químicos e Gases enquanto os 12 restante foram afretados pela Petrobras.
Novamente não foi possível encontrar o proprietário de todos os navios afretados, relatando,
portanto, apenas o seu afretador.
4.7 AFRETAMENTO
A ANTAQ disponibiliza em seu site a listagem da frota cadastrada pra a realização da
circularização, na qual os dados estão organizados por registros, autorizações e relação de
empresas. Ao realizar a consulta, visualiza-se a dominância da Petrobras como empresa
operadora e que a maioria dos afretamentos ocorrem por tempo, com uma pequena parcela
afretada a casco nu, sendo que quase todas as embarcações afretadas a casco nu são
posteriormente afretadas por tempo para a Petrobras (é provável que são afretados a casco nu
pela Transpetro e time charter para a Petrobras.).
4.8 DEMANDA
103
A demanda de embarcações de apoio marítimo e alívio de plataformas está diretamente
relacionada com a produção de petróleo. De acordo com os últimos indicadores divulgados pela
ANP e pela expectativa do setor, a tendência é o crescimento da produção nos próximos anos,
o que consequentemente irá exigir mais embarcações para suportar a sua exploração, produção
e escoamento.
104
5 FUNDO DA MARINHA MERCANTE
Criado pela Lei nº 3.381 de 1958, com o objetivo de incentivar e viabilizar o
investimento na indústria marítima, o Fundo da Marinha Mercante (FMM) é um fundo de
natureza contábil destinado a prover recursos para o desenvolvimento da Marinha Mercante e
da indústria de construção e reparação naval brasileiras. Ele é administrado pelo Ministério da
Infraestrutura, por intermédio do Conselho Diretor do Fundo da Marinha Mercante (CDFMM).
Possui como agentes financeiros o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) e os demais bancos oficiais federais, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica
Federal.
O FMM tem como principal fonte de receita a sua parcela da arrecadação do Adicional
ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante (AFRMM). As demais fontes de receita do
FMM são as dotações orçamentárias atribuídas no Orçamento Geral da União (OGU), o produto
do retorno das operações de financiamento concedido e demais receitas resultantes de
aplicações financeiras, as receitas provenientes de multas aplicadas por infrações de leis,
normas, regulamentos e resoluções referentes à arrecadação do AFRMM.
6
A Lei 14.301/2022, que instituiu o Programa de Estímulo ao Transporte por Cabotagem (BR do Mar),
provocou alterações no AFRMM.
105
10.893/04, de 13 de julho de 2004; o Decreto 5.269/04, de 10 de novembro de 2004; o Decreto
5.543/05, de 20 de setembro de 2005; a Portaria 253/09 do antigo Ministério dos Transporte
(MT), de 12 de março de 2009, alterada posteriormente pelas seguintes Portarias: MT 273, de
01 de novembro de 2010, MT 82, de 11 de março de 2011, MT 66, de 28 de março de 2012 e
MTPAC 184, de 06 de março de 2018; a Resolução Conselho Monetário Nacional (CMN)
4.919/21, de 24 de junho de 2021, que consolidou as Resoluções 3.828/09, 3.829/09 e 4.329/13;
e a Lei 14.301/21, de 7 de janeiro de 2022. As Portarias citadas foram substituídas pela Portaria
MINFRA 1460 de 25 de outubro de 2022.
O Decreto Lei 2.404/87 tem no seu art. 1º, o único dispositivo não revogado, a base
legal do AFRMM. Diz que o Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante destina-
se a atender aos encargos da intervenção da União nas atividades de navegação mercante nos
termos deste Decreto-Lei. A intervenção de que trata este artigo consiste no apoio ao
desenvolvimento da marinha mercante e da indústria de construção e reparação naval brasileira.
A Lei 10.893/04, alterada pela BR do Mar, é a legislação que dispõe sobre o AFRMM
e o FMM, e dá outras providências. Ela trata dos seguintes temas: finalidade do AFRMM, fato
gerador do AFRMM e não incidência, alíquotas, isenções e destinação do AFRMM, rateio conta
especial, aplicações dos recursos da conta vinculada, fonte de recursos e aplicações do FMM,
garantias dos empréstimos do FMM, financiamento e os agentes financeiros, além da Taxa de
Utilização do Mercante. Maiores detalhes serão abordados posteriormente.
106
competência e composição do CDFMM estão estabelecidas em ato do Poder Executivo
(Decreto 5.269/04). Dentre as competências, destacam-se:
5.3 FINANCIAMENTO
5.3.1 CONDIÇÕES DE FINANCIAMENTO
As condições de financiamento atuais foram estabelecidas pela Resolução CMN Nº
5.031, de 21 de julho de 2022, a qual dispõe sobre a consolidação das normas que regulamentam
a aplicação dos recursos do Fundo da Marinha Mercante. A resolução determina a porcentagem
de conteúdo nacional, a participação máxima e a taxa de juros dos itens nacionais e dos itens
importados, o prazo de carência e o prazo de amortização. Dentre as operações regulamentadas
estão a aquisição e instalação de equipamentos por estaleiros nacionais; a aquisição ou produção
de embarcações de apoio marítimo, de rebocadores, de empurradores, de carga e de transporte
de passageiros; construção, modernização e expansão das unidades industriais; jumborização,
conversão ou modernização de embarcação em estaleiro brasileiro em empresa brasileira
especializada; produção de embarcação destinada à exportação; e reparo ou manutenção de
embarcações em estaleiro brasileiro ou em empresa brasileira especializada. A Tabela 20 traz
o compilado das condições de financiamento definidas pelo CMN.
107
Tabela 20 – Condições de Financiamento do FMM Estabelecidas pela Resolução CMN Nº 5.031/2022
109
O FMM realiza a liberação dos recursos para o agente financeiro da operação de forma
parcelada e de acordo com a evolução física e financeira da obra. Os agentes financeiros
realizam as liberações, e acompanham as obras por meio de relatórios e vistorias. Pode
acontecer de alguns agentes financeiros terceirizarem as atividades de vistoria.
Dentre esses as fontes de recursos do FMM, o AFRMM, que incide sobre a remuneração
do transporte aquaviário da carga descarregada em porto brasileiro, é a principal. Para tanto,
serão aplicadas as seguintes alíquotas no frete, definidas pela Lei 14.301/22:
c) 40% na navegação fluvial e lacustre, por ocasião do transporte de granéis líquidos nas
Regiões Norte e Nordeste.
110
Naval e do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e de 20%
dos recursos da conta vinculada das EBN de cabotagem.
f) para utilização por empresa coligada, controlada ou controladora nos casos previstos acima;
111
g) para manutenção, em todas as suas categorias, realizada por estaleiro brasileiro, por empresa
especializada ou pela empresa proprietária ou afretadora, em embarcação própria ou afretada;
i) para reembolso anual dos valores pagos a título de prêmio e encargos de seguro e resseguro
contratados para cobertura de cascos e máquinas de embarcações próprias ou afretadas;
O objetivo inicial na criação dessa conta era incentivar investimentos, sobretudo para a
construção de embarcações nos estaleiros nacionais. Contudo, com a flexibilização do uso da
conta vinculada, acessível agora para navios estrangeiros afretados a time charter, o subsídio
está cada vez mais voltado para a operação. A BR do Mar vai subsidiar as subsidiárias de
empresas estrangeiras, operando navios estrangeiros, com tripulação estrangeira. Com isso, o
armador consegue ter acesso ao dinheiro sem possuir uma embarcação construída no país e
também não tem a obrigatoriedade de utilizar um mínimo para investir na construção de navios.
Essa situação não acontece em nenhum outro país. A ineficácia do sistema como indutor do
investimento, que tem sido muito falado na discussão da Lei nº 14.301, deve-se a isso. Ou seja,
com a redução da diferença de juros do FMM e do mercado internacional observado nos últimos
anos e sem o mecanismo da conta vinculada, o sistema não tem mecanismos de estímulo ao
investimento.
A análise parece apontar para que, se não for revisto o sistema de modo a voltar a ser
um incentivo ao investimento, a relação macroeconômica de custo benefício tende a não ser
favorável, e a própria manutenção do sistema fica desafiada. Dito isso, uma limitação de direito
a conta vinculada apenas para navios construídos no Brasil poderia estimular o investimento na
indústria naval, que corresponde ao principal objetivo do FMM.
112
O presente trabalho apenas tem o objetivo de analisar o impacto de mudanças
regulatórias no custo dos navios. Uma análise que permita a avaliação e o eventual redesenho
do sistema FMM/AFRMM necessariamente deverá incluir as questões levantadas acima.
São previstos três tipos de benefícios ligados à arrecadação: não incidência, isenção e
suspensão do AFRMM. A não incidência ocorre na navegação fluvial e lacustre, exceto sobre
as cargas de granéis líquidos, transportadas no âmbito das regiões Norte e Nordeste conforme
citado acima e no transporte de mercadoria submetida à pena de perdimento. A não incidência
foi estabelecida no art. 17 da Lei n.º 9.432/1997 para desonerar as cargas com origem ou destino
às regiões norte e nordeste. A não incidência foi prorrogada pela Lei nº 13.401/2022 até a data
de 8 de janeiro de 2027.
7
Navios brasileiros não inscritos no REB, se existissem, teriam valores diferentes.
113
II) A empresa brasileira de navegação, operando embarcação própria, afretada com registro
brasileiro, ou afretada por tempo, de subsidiária integral da empresa brasileira de navegação,
por meio da conta vinculada:
a) 50% do AFRMM que tenha gerado na navegação de longo curso, quando a embarcação não
estiver inscrita no REB;
b) 83% do AFRMM que tenha gerado na navegação de longo curso, quando a embarcação
estiver inscrita no REB; e
c) 100% do AFRMM que tenha gerado nas navegações de cabotagem, fluvial e lacustre;
III) A uma conta especial, 9% do AFRMM gerado na navegação de longo curso, por empresa
brasileira de navegação, operando embarcação, própria ou afretada, de registro brasileiro,
inscrita ou não no REB.
114
Tabela 23 – Fonte de Recursos do FMM de 2019 a 2021
115
Tabela 24 – Arrecadação Bruta de AFRMM de 2019 a 2021 – Milhões de Reais
Quanto aos setores econômicos onerados com a incidência do AFRMM, segundo dados
divulgados pelo TC 025.568/2015-9 do Tribunal de Contas da União (TCU, 2016) e
apresentados na Tabela 27, o setor de cargas diversas transportadas por contêineres (17,00%
em 2014 e 17,03% em 2015) é o que mais contribuiu para o recolhimento no biênio, seguido
pelo setor de combustíveis (14,38% em 2014 e 17,96% em 2015) e adubos e fertilizantes
(14,36% em 2014 e 13,71% em 2015). A classificação foi realizada por NCM, dos anos de 2014
e 2015, e excluiu os fretes de exportação, uma vez que não sofrem incidência do AFRMM.
117
Tabela 27 – Arrecadação do AFRMM por Setor em 2014 e 2015 – Milhões de Reais
Como pode ser observado na Tabela 27, o setor agrícola é um dos mais afetados pela
incidência do AFRMM. A redução da alíquota foi um dos pontos mais debatidos na BR do Mar
e amplamente defendido pelas entidades do setor, visto que os fertilizantes e defensivos
representam de 30% a 50% do custo de produção segundo a Confederação Nacional da
Agricultura (CNA).
118
A Tabela 28 ilustra os montantes efetivamente repassados ao FMM, os recursos
descontados de DRU (Desvinculação de Receitas da União) e os recursos repassados aos três
fundos beneficiados durante os anos de 2019, 2020 e 2021. Cada item teve variação positiva
aproximada de 150,1% na comparação de 2020 para 2021 e 61,2% na comparação de 2019 para
2020. As proporções fixas da arrecadação total explicam a mesma variação dos itens em relação
a outro ano.
Tabela 29 - Distribuição do AFRMM entre o FMM, a Conta Vinculada e a Conta Especial de 2005 a 2014 –
Milhões de Reais
120
Figura 54 – Evolução da Carteira de Crédito do FMM no BNDES
Em 31/12/2021 cerca de 98% desta carteira era formada por projetos cuja finalidade era
construção/aquisição de embarcações e aproximadamente 2% destinava-se a
reforma/construção de estaleiros. Para efeito de comparação, em 31/03/2020 as embarcações
representavam 93% enquanto os estaleiros correspondiam a 7%. Além disso, os projetos
apoiados são concentrados em poucos estados devido as suas características, conforme pode ser
visto no gráfico da Figura 55.
1%
15%
44% 15%
25%
121
R$ 1,974 bilhões em 2019 foi de apenas R$ 326 milhões em 2020 e R$ 214 milhões. A Figura
56 mostra comparativo dos desembolsos totais anuais com recursos do FMM desde 2013 e
indica o fraco momento que a indústria de construção naval brasileira está atravessando.
3,00 Bi 2,81 Bi
2,50 Bi
2,13 Bi
1,97 Bi
2,00 Bi 1,82 Bi
1,65 Bi 1,68 Bi
Em Reais
1,57 Bi
1,50 Bi
1,00 Bi
0,50 Bi 0,33 Bi
0,21 Bi
0,00 Bi
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
É importante destacar que o Conselho Diretor do FMM, por meio das Reuniões
Ordinárias, aprova recursos a serem financiados em projetos do setor naval com recursos do
Fundo da Marinha Mercante. As empresas postulantes dos projetos priorizados estão aptas a
apresentá-los junto aos agentes financeiros do FMM (BNDES, Banco do Brasil, CAIXA, Banco
do Nordeste ou Banco da Amazônia) para análise.
122
4,51 Bi
4,50 Bi
4,00 Bi
3,45 Bi 3,38 Bi
3,50 Bi
3,08 Bi
2,89 Bi
3,00 Bi
2,47 Bi
Em Reais
2,50 Bi
2,00 Bi
1,50 Bi
1,00 Bi
0,50 Bi
0,00 Bi
2016 2017 2018 2019 2020 2021
Cabe destacar que os recursos da conta vinculada podem ser aplicados pela EBN em
qualquer embarcação e não necessariamente no navio que gerou este recurso.
123
Figura 58 – Liberação com Recursos das Contas de AFRMM
124
Construção; 1039,52 Prestação e
Financiamento;
1141,2
Jumborização; 39,18
Reparo; 368,92
Um ponto importante é quanto a disponibilidade para a EBN fazer uso desse dinheiro.
A empresa brasileira de navegação decai do direito ao produto do AFRMM no caso de não-
utilização dos valores no prazo de três anos, contados do seu depósito, transferindo-se esses
valores para o FMM. A Figura 61 mostra os valores devolvidos ao fundo de 2017 a 2021.
500
400
300
200
100
0
jan/21 fev/21 mar/21 abr/21 mai/21 jun/21 jul/21 ago/21 set/21 out/21 nov/21 dez/21
Para ter uma noção da relevância, se tratando dos armadores da navegação interior nas
Regiões Norte e Nordeste, corresponde a 40% do faturamento bruto (com frete) gerado por
essas empresas. Enquanto que no caso das empresas que realizam cabotagem, equivale a 10%
de seu faturamento (com frete).
Por fim, de acordo com o mecanismo da conta vinculada, a única diferença para o caso
da embarcação construída no exterior é que, para esta, o benefício começa a valer só a partir do
momento que a embarcação for registrada. Já na construção naval brasileira, enquanto ocorre a
construção, é possível o afretamento por tempo e essa embarcação afretada em substituição
pode gerar recurso de conta vinculada neste período. Ou seja, como este recurso é um subsídio
126
operacional, se fosse restrito aos navios construídos no Brasil, este seria um incentivo à
indústria brasileira de construção naval.
Em 2003 surge uma nova política visando a retomada do setor de construção naval
brasileiro. A Transpetro lançou o Programa de Modernização e Expansão da Frota (PROMEF),
que realizou a licitação de gaseiros e petroleiros de diversos porte em estaleiros brasileiros,
além de revitalizá-los. Isto porque o governo determinou a prioridade para estaleiros locais de
navios e equipamentos de exploração e produção de petróleo pela Petrobras. Devido a sua
importância, o PROMEF será abordado mais detalhadamente posteriormente num tópico
específico.
Outro importante marco para a indústria de construção naval no Brasil foi o Programa
de Renovação da Frota de Embarcações de Apoio Marítimo (PROREFAM). As boas
perspectivas da exploração offshore aliadas com esses programas proporcionaram o surgimento
127
de diversos estaleiros pelo país. Contudo, por diversos motivos que não serão discutidos no
presente trabalho, a carteira de encomendas de grandes embarcações não foi além do PROMEF.
Assim, a manutenção dos grandes estaleiros ficou inviável e a construção naval do Brasil
encontra-se praticamente restrita a embarcações de pequeno porte e de apoio marítimo.
O Promef foi dividido em duas fases. Na primeira, seriam entregues dez navios
Suezmax, cinco Aframax, quatro Panamax, quatro de produtos e três gaseiros, totalizando 26
navios. A segunda fase correspondia a quatro navios Suezmax e três Aframax com
posicionamento dinâmico, oito de produtos, cinco gaseiros e três de bunker, totalizando 23
navios.
O Estaleiro Atlântico Sul (EAS) foi contratado para a construção dos dez navios
Suezmax (160.000 TPB) e cinco navios Aframax (110.000 TPB), quatro navios aliviadores
Suezmax DP e três navios aliviadores Aframax DP. O Estaleiro Ilha S.A. (EISA) foi
responsável por quatro navios Panamax (73.000 TPB) e pelos oito navios de produtos do
Promef II. O Estaleiro Mauá foi contratado para a construção de quatro navios de produtos
claros (48.000 TPB). O Estaleiro VARD Promar foi contratado para a construção dos oito
gaseiros (quatro de 7.000 m³, dois de 12.000 m³ e dois de 4.000 m³).
Os oito navios de produtos do Promef II, cuja licitação foi vencida pelo EISA, foram
divididos em dois lotes. O primeiro tem três navios para transporte de produtos claros, com
48.000 TPB e 185 metros de comprimento. O segundo lote tem três embarcações para transporte
de produtos claros e duas para transporte de produtos escuros; todas com 32.000 TPB e 175
metros de comprimento.
Contudo, nem todos os navios contratados foram entregues a Transpetro. Três navios
de produtos encomendados ao EISA encontram-se inacabados e são alvo de disputa judicial.
Em outubro de 2016, a empresa cancelou a contratação de 17 navios previstos no programa:
quatro aliviadores Suezmax DP, três aliviadores Aframax DP, dois gaseiros e oito de produtos.
Na época do cancelamento, os navios ainda não tinham começado a ser construídos. A respeito
128
dos navios de bunker, o Estaleiro Superpesa foi o ganhador do contrato, mas o rescindiu no
final de 2012 e não chegou a ocorrer uma nova licitação. Na Tabela 30, detalha-se a encomenda
dos navios do Promef.
129
Tabela 32 – Navios Petroleiros Construídos no EAS - Estaleiro Atlântico Sul (PE)
A receita estável e de longo prazo oferecida pelos contratos fez com que os armadores
adotassem a estratégia de investir em estaleiros de médio porte, especializados na construção
de embarcações de apoio, estabelecendo uma estrutura verticalizada para esse segmento. Além
130
das contratações diretas, o programa motivou a modernização e jumborização de diversas
embarcações no período (DORES; LAGE; PROCESSI, 2012).
De acordo com Costa, Pires, Lima (2008), seriam contratadas 18 embarcações do tipo
ORSV, 64 AHTSs e 64 PSVs. Dos AHTSs, oito seriam de grande potência (21.000 HP), 46
embarcações de 18.000 HP e 10 embarcações de 15.000 HP. Das embarcações do tipo PSV, 49
seriam de 4.500 toneladas, e as 15 unidades restantes, de 3.000 toneladas. Contudo, em função
das mudanças no plano de negócios da Petrobras no decorrer dos anos do programa, apenas 121
navios foram contratados nas sete rodadas. Conforme apresentado na Tabela 34, foram
afretados 17 AHTSs, 76 PSVs e 28 ORSVs.
131
Esses afretamentos foram divididos entre 14 companhias: Asgaard, Astromarítima,
Bram, Brasil Supply, Bravante, CBO, Galáxia Marítima, Geonavegação, Norskan, Oceanpact,
Safe Supply, Siem Consub, Starnav e WSUT. A Tabela 35 detalha quantas embarcações por
tipo que cada companhia foi contratada.
Com isso, além dos AHTSs, ORSVs e PSVs contemplados diretamente com o
PROREFAM, diversos outros tipos de embarcação de apoio offshore como RSVs, PLSVs, LHs
e SVs também foram demandados e construídos. Em alguns casos, os armadores realizaram
encomendas de navios sem ainda ter um contrato fechado devido as boas perspectivas do
mercado. Assim, foi possível manter a indústria de construção das embarcações de apoio
marítimo em operação por um longo período de tempo.
132
5.9 POLÍTICAS DE CONSTRUÇÃO NAVAL NO BRASIL
Os incentivos governamentais iniciados no governo de Juscelino Kubitschek, somados
ao crescimento da economia mundial fizeram o setor naval prosperar da década de 1960 até
meados da década de 1980. Foram criados diversos estaleiros controlados por nacionais e
estrangeiras, tais como o Ishibras (Japão) e Verolme (Holanda), além do EMAQ, Mauá e
Caneco, que levaram o Brasil ao posto de segundo maior construtor de embarcações do mundo,
sendo os petroleiros uma parcela significativa desses navios. Ou seja, com recursos
provenientes do FMM, a marinha mercante cresceu e os estaleiros e a engenharia brasileira
conheceram um período de significativo desenvolvimento.
O trabalho não pretende discutir as causas e mecanismos da crise. Porém, pode-se dizer
que o Fundo da Marinha Mercante, se reestruturado em bases mais racionais, com foco na
construção naval, será um mecanismo de importância central num eventual processo de
recuperação competitiva da indústria.
O AFRMM, assim como todo tributo, representa uma despesa adicional para o
importador. Entretanto, encontra-se absorvido pela economia nacional, e com a alíquota
implementada pela Lei nº 14.301/2022 não seria complicado de mantê-lo tendo em vista os
possíveis benefícios gerados pela sua incidência.
Por tudo isso, a racionalidade do sistema depende de sua eficácia como indutor de
investimento no setor. Ou seja, a revisão do atual modelo que está funcionando como subsidio
operacional para um modelo que seja um subsídio apenas para a construção naval no país.
133
6 INDICADORES DE CUSTO DO NAVIO BRASILEIRO E
COMPONENTES CRÍTICOS
Os impactos das mudanças regulatórias são complexos e o custo é apenas uma dessas
consequências. Entretanto, as demais consequências dependem criticamente do efeito sobre o
custo. Em decorrência disso, o trabalho tem a intenção apenas de analisar o impacto sobre os
custos de uma embarcação. Além disso, compreender o custo do navio brasileiro é fundamental
para entender o momento da construção naval nacional e também a participação de navios de
bandeira brasileira no mercado. Portanto, abordaremos neste capítulo os componentes dos
custos de capital e operacional das embarcações além de uma estimativa e comparação desses
valores para identificar os componentes críticos.
Para isso, escolheu-se desenvolver um estudo de caso relacionado ao setor de óleo e gás,
um dos mais importantes para o transporte marítimo e para a economia do Brasil. Assim, o
navio-tipo será um Suezmax operando em cabotagem, mais especificamente na rota Terminal
de São Sebastião – Terminal de Madre de Deus – Terminal de São Sebastião, que além de serem
dois dos principais terminais operados pela Petrobras, recebem constantemente esse tipo de
petroleiro. Dentre os motivos para escolha dessa embarcação tem-se o fato de ser um navio com
grande quantidade de exemplares na frota brasileira e mundial, e por ser a maior série já
construída no Brasil.
Pela ausência de dados para estimação estatística, foi necessária a adoção de hipóteses e
a postulação de parâmetros para o cálculo do custo de capital, operacional e de viagem desse
navio-tipo. Dentre as adotadas para o custo de capital, considerou-se que o preço base do navio
brasileiro seria aquele num cenário de aumento de produtividade e diminuição do overhead
provocado pela continuidade de produção nos estaleiros brasileiros, um custo de oportunidade
de 10% e financiamento pelo FMM com taxas de juros intermediárias. Para o navio estrangeiro,
considerou-se o preço médio do final década de 2020 que apresentou relativa estabilidade, um
custo de oportunidade de 10% e o financiamento nos termos do Acordo para Créditos à
Exportação Oficialmente Suportados da OCDE.
Em relação ao custo operacional, um navio do mesmo tipo pode ter uma estrutura de
custo com valores muito diferentes. Com o objetivo de evitar minimizar ou maximizar esse
custo, será adotado o OPEX médio calculado por Constantinou e Maggiorou (2021) para o
navio estrangeiro. Para o navio nacional, também será adotado esse valor com a adição do
pagamento de compensação para tripulantes brasileiros, como previsto em Petrobras (2017).
134
O custo de viagem depende principalmente do consumo de combustível e este está
relacionado com a velocidade de cruzeiro da embarcação. Para esse cálculo, adotou-se uma
velocidade para o navio carregado e outra para o navio em lastro, conforme dados da ANTAQ
(2021a). Já para o custo do combustível foi selecionado o preço médio do bunker do Porto de
Santos no biênio 2020-2021 para minimizar os efeitos de variação de mercado, conforme
valores do Ship and Bunker. Nesse trabalho, o custo de viagem é a base para a estimativa do
AFRMM gerado pela embarcação, visto que adotou-se a hipótese que a receita para o armador
é soma do Time Charter Equivalent (TCE) estimada para o mercado nacional com a custo de
viagem da embarcação.
A seguir é mostrado de forma mais detalhada o procedimento de cálculo juntamente com
as respectivas hipóteses e parâmetros de cada um desses custos, tanto para o navio estrangeiro
quanto para o navio nacional. O resultado obtido será base para a análise de diferentes cenários
relacionados a alterações regulatórias provocadas pela BR do Mar e por outras consideradas
relevantes para o setor. Esses cenários abordaram a questão da incidência da carga tributária, a
exclusividade da conta vinculada para embarcações nacional e a quantidade de tripulantes sob
a legislação brasileira.
135
Além da diferença natural de preço em relação a embarcações de tipos diferentes e dos
fatores já mencionados acima, é importante ressaltar que o valor a ser pago por um navio
depende do seu porte, da velocidade de serviço, dos equipamentos, dentre outros.
O principal objetivo do presente trabalho é discutir alterações regulatórias no setor do
transporte marítimo brasileiro e analisar quais impactos serão provocados nos custos da
embarcação a fim de verificar o potencial da indústria naval brasileira frente ao mercado externo
por meio da comparação desses custos. Um dos efeitos das mudanças de regulação pode ser a
modificação do custo de capital. Assim, nas próximas duas seções serão discutidos os preços
de aquisição de um navio no exterior e no Brasil, que são a base para o conhecimento do custo
de capital. A estimativa do custo efetivo de capital, do custo anual, mensal e diário de capital
será feita no próximo capítulo onde serão abordados diferentes cenários regulatórios para o seu
cálculo.
Será mostrado que o preço de aquisição do navio brasileiro é consideravelmente superior
ao navio internacional. Isso se deve, dentre diversos motivos, a questões tributárias, pela falta
de continuidade da produção, pela ausência de uma cadeia de suprimentos estruturada e mão
de obra experiente, além da falta de tecnologia de processo pelo não investimento dos estaleiros
em engenharia e em pesquisa e desenvolvimento.
136
Figura 63 – Série Histórica dos Preços dos Navios Suezmax
Fonte: Clarkson (2020c)
137
130
127,59
128
Em Milhões de Dólares 126 125,17
114
112
110
1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º
Contudo, tais valores não podem ser considerados como estimativas razoáveis do custo
atual de construção, em primeiro lugar porque o próprio valor realmente pago sofreu alterações,
tendo sido necessária a suplementação de recursos durante as construções. Por outro lado, pelos
anos que se passaram desde a aprovação dos valores indicados na Figura 64, é difícil quantificar
o efeito da variação cambial e da inflação. Além disso, a indústria de construção naval encontra-
se paralisada atualmente, o que acarretaria um custo considerável de recuperação, num cenário
de retomada do desenvolvimento do setor. Finalmente, porque um cenário de retomada da
construção naval no Brasil certamente estará associado a um processo de desenvolvimento do
sistema produtivo que viabilize ganhos de eficiência compatíveis com o potencial da indústria
nacional.
Por tudo isso, o preço de contrato do último da série, no valor de US$ 116,29 milhões
será adotado como base para uma estimativa da ordem de grandeza do custo de produção
nacional de um Suezmax em um cenário de retomada, considerando algumas hipóteses
adicionais, tais como o aumento da produtividade do estaleiro e redução do overhead.
138
Tabela 36 – Estrutura do Custo de Produção do Último Navio Suezmax Construído no Brasil
Com base nos dados da Tabela 36 e das especificações técnicas desse navio, a Tabela
37 mostra os últimos índices da indústria de construção naval brasileira relacionados a um navio
Suezmax.
139
Com isso, teríamos um preço base para o navio nacional, de 96,033 milhões de dólares,
conforme indicado na Tabela 38.
Tabela 39 – Índices de Esforço Produtivo e Produtividade dos Países Asiáticos na Década de 2000
140
O custo operacional corresponde ao conjunto de despesas contínuas relacionadas com o
funcionamento do dia-a-dia do navio, seja na operação do navio ou para mantê‐lo em condições
de operar, incluindo provisão para despesas periódicas ou eventuais. São componentes de custo
fixo, na medida em que não dependem de viagens particulares ou carregamentos. Podem ser
agrupados nas seguintes categorias: tripulação, manutenção e reparos, materiais e lubrificantes,
seguro e administração. Não tem relação com a localidade de construção da embarcação e sim
com a bandeira de registro e o padrão de operação.
Os custos com tripulação incluem todos os encargos diretos e indiretos com a tripulação
da embarcação, incluindo salário base e demais remunerações (horas extras e gratificações, por
exemplo), seguro social e de saúde, treinamentos, suprimentos e despesas de repatriação. O
nível de custo de tripulação é determinado por dois fatores: o tamanho da tripulação e as
políticas de emprego adotadas pelo proprietário e pelo estado da bandeira do navio, além de
eventuais dispositivos do país em que opera. No Brasil, resoluções da Marinha, definem a
lotação enquanto a legislação trabalhista define os encargos. Além disso, a legislação específica
(Lei 9.432/1997 e Lei 14.301/2022) regula a nacionalidade da tripulação. Acordos sindicais
estabelecendo remuneração mínima e, condições adicionais, como o regime de férias, podem
impactar fortemente o custo total.
No caso específico do Brasil, eventualmente, armadores reclamam de um Cartão de
Tripulação de Segurança (CTS) excessivo, mas não há dados públicos que indiquem
objetivamente que as tripulações brasileiras sejam maiores que as estrangeiras. Outro aspecto
importante é a imposição de custos adicionais, tais como a previdência social e o 13º salário,
devidos à CLT, que contribuem para tornar o custo dos marítimos brasileiros mais elevado.
Além disso, acordos sindicais recentes estabeleceram direitos que também contribuem
com o aumento de custo. O período de boom do offshore provocou a diminuição da oferta de
mão de obra para cabotagem. Para garantir os marítimos, foi necessário o aumento de salários
e, principalmente, a equalização dos regimes de trabalho, adotando-se a escala 1 x 1 (que já era
praticado no offshore) nos acordos sindicais, aumentando o número de tripulantes contratados.
Os custos com manutenção e reparos são relativos aos procedimentos para manter o
navio em condições técnicas adequadas de operação nos padrões exigidos pela política da
empresa, pela Sociedade Classificadora, pelos afretadores da embarcação que optam por
inspecioná-la e pelo estado do porto (Port State Control – PSC). Em termos gerais, esse custo
pode ser subdividido em duas categorias: manutenção de rotina ou incidentais. Ou seja, inclui
141
despesas com atividades de manutenção de rotina ou incidental, sistemas de manutenção
planejada, provisões para docagens periódicas, inspeções e classificação.
A manutenção de rotina inclui a vistoria do motor principal e dos equipamentos
auxiliares, a pintura da superestrutura e a renovação do aço do casco, porões e tanques de carga.
Como acontece com qualquer bem de capital, os custos de manutenção dos navios mercantes
tendem a aumentar com a idade. Além disso, a falha mecânica pode resultar em custos
adicionais além daqueles cobertos pela manutenção de rotina. Trabalhos deste tipo são
realizados em estaleiros de reparo de navios.
O custo com materiais e lubrificantes abrange todos os custos com suprimento de
materiais consumíveis, exceto víveres que podem ser incluídos no item tripulação. São peças
de reposição, equipamentos de convés e praça de máquinas e óleos lubrificantes. O custo de
sobressalentes inclui aquisição e manutenção do estoque e outras despesas diretas como
transporte e armazenamento especial. O custo com estoque de sobressalentes depende do
sistema de manutenção e provavelmente aumentam com o tempo.
O seguro consiste nos prêmios de seguro básico de casco e máquinas (H&M) que protege
o proprietário da embarcação contra perdas ou danos físicos, e seguro de proteção e indenização
(P&I), que garante cobertura para os riscos de responsabilidade civil dos armadores causados
pelo navio, seja por colisão ou abalroamento, danos às cargas transportadas, poluição ambiental,
avarias ao cais e a docas, lesão corporal de tripulantes ou passageiros, entre outros. Outras
formas de seguro podem ser estabelecidas para riscos de guerra, greves e lucros cessantes, a
critério do armador. O custo é influenciado por: tipo do navio, porte, idade, instalação
propulsora, bandeira, sociedade classificadora, histórico do armador, área de operação, dentre
outros.
O custo de administração inclui o conjunto de despesas relacionadas com a estrutura de
administração e gerenciamento das operações da empresa de navegação. Engloba atividades de
planejamento e engenharia relacionados à aquisição de navios, gerência de operações e
comercial, atividades de apoio jurídico, contábil, financeiro, dentre outras. Deve-se destacar
que, o custo de administração é um custo indireto, alocado aos navios de uma empresa por
rateio entre os navios da frota.
Por tudo isso, tem-se alguns aspectos relevantes para o armador referentes ao custo
operacional. Dentre eles, pode-se destacar a escolha da bandeira de registro, composição da
nacionalidade da tripulação, seguro e sua abrangência, sociedade classificadora e política de
gerenciamento da manutenção e dos sobressalentes.
142
6.2.1 ESTATÍSTICAS DE CUSTOS INTERNACIONAIS
Existem diversas organizações que reúnem e divulgam estatísticas a respeito de custos
de navios. No presente trabalho será utilizado Moore Maritime Index 2021
(CONSTANTINOU; MAGGIOROU, 2021), que é uma ferramenta estatística e analítica sobre
custos operacionais e receitas com mais de 1.500 navios. Os dados são extraídos das
demonstrações financeiras de empresas proprietárias de navios auditadas pelas firmas-membro
da Moore Global, bem como de submissões independentes verificáveis de todo o mundo. São
dados a respeito da receita líquida diária Time Charter Equivalent (TCE), remuneração da
tripulação (crew wages), provisões (provisions), outros gastos com tripulação (crew other),
lubrificantes (lubrificants), suprimentos (stores), manutenção e reparos (R & M), sobressalentes
(spares), custos de seguro (insurance costs), administração (admin) e opex total.
O TCE é uma medida usada no setor de transporte marítimo para calcular o valor médio
da receita líquida diária de uma embarcação. Ele é calculado tomando as receitas de viagem,
subtraindo as despesas de viagem, incluindo custos de canais, combustíveis e portos, e depois
dividindo o total pela duração da viagem de ida e volta em dias. Ou seja, é uma receita que
corresponde ao custo de oportunidade (capital mais operacional).
A Tabela 40 mostra os dados publicados por Constantinou e Maggiorou (2021), para
petroleiros Suezmax. Nela estão presentes os limites superiores (o valor acima do qual caem
15% das observações), limites inferiores (o valor abaixo do qual caem 15% das observações) e
a média de cada componente do custo operacional e do TCE. A média do custo operacional
diário encontrada foi de U$S 7.396, que corresponde a U$S 221.880,00 mensais e U$S
2.625.580,00 anuais.
Tabela 41 – Adicional para Compensação para Emprego de Tripulante Brasileiro – Edital Petrobras (2017)
144
Para exemplificar, tem-se que "Oficial" compreende Imediato, Oficial de Náutica, Chefe
de Máquinas, Subchefe de Máquinas e Oficial de Máquinas. "Graduado" compreende
Contramestre, Eletricista, Enfermeiro e Marinheiro de Convés. "Não Graduado" compreende
todas as outras classes de marinheiros.
Com base em Carmo (2018), adotou-se o CTS da Tabela 42 para o navio Suezmax. Vale
ressaltar que esse CTS é de um aliviador e possíveis diferenças para um navio de carga de
cabotagem serão desconsideradas.
Com isso, tem-se um total de sete oficiais, oito graduados e quatro não graduados para
receberem o “Pagamento de Compensação”. Ao aplicar o correspondente adicional para cada
145
membro da tripulação, conforme mostrado na Tabela 44, vê-se que uma tripulação 100%
brasileira seria mensalmente U$S 84.116,54 (diariamente U$S 2.803,88) mais cara que uma
totalmente estrangeira, ou 79,7%. Assim, o custo operacional mensal com uma tripulação
totalmente brasileira encontrado foi de U$S 305.996,54 enquanto o anual foi de U$S
3.671.958,48.
146
Algumas alternativas foram apresentadas para aqueles que optem por não aderir ao
combustível de baixa emissão de enxofre. Entre elas estão o uso de diesel marítimo, metanol, o
uso de gás natural liquefeito e a instalação de sistemas de limpeza de gases de exaustão
(scrubbers). No Brasil, a ANP aplica a regra da IMO 2020 desde maio de 2019, regulamentando
através da a Resolução nº 789/2019.
A quantidade de combustível utilizada é diretamente relacionada com as características
do navio (idade, condições do casco e do propulsor), estado de mar e vento, velocidade e rota
percorrida. Além disso, o preço do petróleo tem enorme influência no valor do IFO e do MDO,
o que impacta diretamente no custo com o combustível.
Os encargos portuários representam um componente importante nos custos da viagem e
incluem várias taxas cobradas do navio e/ou da carga pelo uso das instalações e serviços
prestados no porto. As práticas de cobrança variam consideravelmente de uma área para outra,
mas, de modo geral, se enquadram em duas componentes - taxas portuárias e taxas de serviço.
As taxas portuárias são cobradas do navio pelo uso geral das instalações portuárias, incluindo
taxas de atracação e cais, e pelo fornecimento da infraestrutura portuária básica. As taxas reais
podem ser calculadas de quatro maneiras diferentes, com base em: volume de carga; o peso da
carga, a tonelagem bruta de registro do navio; ou a tonelagem líquida de registro do navio. A
taxa de serviço cobre os diversos serviços que a embarcação utiliza no porto, incluindo
praticagem, lanchas, reboque e manuseio de carga.
O nível real dos custos portuários depende da política de preços da autoridade portuária
e do operador do terminal, do porte da embarcação, do tempo de permanência no porto e do
tipo de carga embarcada / descarregada. Além disso, por convenção, a alocação das taxas
portuárias difere para os diferentes tipos de afretamento. No afretamento por viagem, todas as
taxas portuárias e encargos relativos à embarcação são pagos pelo armador, enquanto todos os
encargos sobre a carga são geralmente pagos pelos afretadores, exceto os encargos de embarque
e desembarque de carga, que são acordados nos termos do afretamento.
147
efeito do AFRMM será necessário estimar a receita bruta, e isso será feito através de um modelo
que vai requerer a estimativa do custo total.
Para estimar esse custo, será preciso determinar um perfil operacional da embarcação
que seja considerado típico da cabotagem brasileira. Dentre as características importantes a
serem definidas estão a velocidade de navegação e os portos de operação. Com esses dados,
tem-se parâmetros para calcular o consumo de combustível por dia, a duração da viagem e as
taxas portuárias. Portanto, será determinada uma viagem-tipo de maneira que tais estimativas
possam ser realizadas de forma consistente e assim ter uma boa aproximação do custo de
viagem.
O objetivo do presente trabalho é analisar o impacto de mudanças regulatórias no
transporte marítimo e a diferença entre navios estrangeiros e brasileiros operando na
cabotagem. De acordo com a ANTAQ (2021a), os terminais com maiores números de
atracações de graneis líquidos e gasosos em cabotagem são o Terminal Aquaviário de São
Sebastião (Tebar), o Terminal Aquaviário de Angra dos Reis e o Terminal Aquaviário de Madre
de Deus. Os dois primeiros são os principais terminais a receberam o óleo das bacias
sedimentares enquanto o último recebe o petróleo para Refinaria de Mataripe.
Embora não esteja entre as operações mais importantes em termos de volume de carga
liquida na cabotagem, existe um fluxo significativo de óleo cru entre São Sebastião e Madre de
Deus, empregando navios Suezmax. Assim, será adotada como viagem-tipo uma rota com
origem no Tebar, com destino em Madre de Deus e retorno a São Sebastião.
O terminal aquaviário de Madre de Deus é o principal ponto de escoamento da produção
da Refinaria de Mataripe, cujos derivados abastecem as regiões Norte e Nordeste. O terminal
de São Sebastião é o maior terminal operado pela Transpetro. Recebe petróleo por petroleiros
e abastece quatro refinarias do estado de São Paulo através dos oleodutos São Sebastião-
Guararema e Santos-São Sebastião. Os derivados entram e saem do terminal pelo oleoduto
Guararema-Paulínia. Outra forma de vazão é o envio dos derivados por navios para outros
portos nacionais ou para exportação.
Determinado o percurso, é preciso verificar a velocidade de serviço. Segundo ANTAQ
(2021a), a velocidade média de uma embarcação Suezmax na cabotagem brasileira é de
aproximadamente 12,94 nós quando carregada e de 12,66 nós quando realiza a viagem em
lastro. Tais resultados são compatíveis com o descrito em Adland, Carioub, Wolff (2020), que
mostrou que, no transporte marítimo mundial, a velocidade média é de 13 nós para petroleiros
Suezmax.
148
A ferramenta Voyage Planner (Marine Traffic, 2022) fornece a distância percorrida na
ida e na volta dessa viagem tipo. A rota São Sebastião – Madre de Deus tem 918,3 MN enquanto
o percurso Madre de Deus – São Sebastião é de 929,4 MN. De posse da velocidade e da
distância de cada pernada, obteve-se o tempo de 70,97 horas para a ida e 73,41 horas para a
volta.
A estadia nos portos também deve ser contabilizada para calcular a duração total da
viagem. O tempo de estadia é obtido pela soma do tempo de atracação, para início da operação,
de operação e para desatracação. No sentido de estimar tempos de operação representativos do
conjunto das operações de cabotagem, optou-se por fazer a média de todos os tempos das
embarcações Suezmax envolvidas no transporte de granel líquido na navegação de cabotagem
nos respectivos terminais no ano de 2021, de acordo com os dados obtidos na ANTAQ (2021a).
Os resultados obtidos são mostrados na Tabela 45.
Tabela 45 – Tempo Médio das Operações de Porto em São Sebastião e em Madre de Deus de um Suezmax
O consumo dos motores principais (MCP) do Suezmax são obtidos também por meio
de Adland, Carioub, Wolff (2020), que indica curvas de consumo de combustível da velocidade
de navegação obtidas a partir de modelos de regressão usando mínimos quadrados não lineares.
149
Para a viagem carregada (São Sebastião – Madre de Deus), o consumo diário de combustível é
de 48,5 toneladas, conforme ilustrado na Figura 65. Já para a viagem em lastro (Madre de Deus
– São Sebastião), o consumo de combustível é de 40 toneladas por dia, conforme mostrado na
Figura 66.
150
Figura 66 – Curva de Consumo do Suezmax em Lastro
Fonte: Adland, Carioub, Wolff (2020)
O consumo de Marine Gas Oil (MGO) ou diesel leve para geração de energia deve ser
considerado para os dias navegando e no porto (energia auxiliar). Além disso, por se tratar de
um petroleiro, deve-se considerar também a energia para acionamento de bombas de descarga.
Como não estão disponíveis dados específicos, iremos adotar que são consumidas 2 t por dia
de MGO durante toda a viagem nesse caso.
Para aliviar a influência dos valores extremos e os efeitos da alta volatilidade,
consideraremos como preço do VLSFO e do MGO o valor médio entre 1º de janeiro de 2020
(quando começou a obrigatoriedade do VLSFO) e 31 de janeiro de 2022 no Porto de Santos.
Conforme ilustrado na Figura 67, retirada do Ship and Bunker (2022), o preço do VLSFO teve
grande variação no período, no qual a mínima foi de 193,50 dólares por toneladas, a máxima
de 607,50 dólares por tonelada e a média de 454,50 dólares por tonelada.
151
Figura 67 – Variação de Preço do VLSFO no Porto de Santos
No mesmo período para o MGO, o preço metro cúbico teve a mínima de 329 dólares, a
máxima de 863,50 dólares e a média de 593 dólares, segundo o Ship and Bunker. A Figura 68
ilustra a variação de preço no período.
Contudo, o Ship and Bunker fornece os preços sem a incidência do ICMS, que é pago
pelos armadores na navegação de cabotagem. Assim, será aplicado o imposto sobre os valores
152
do VLSFO e MGO para o porto de Santos, apresentados anteriormente. O valor da alíquota a
ser considerado será a tabelada no estado de São Paulo, de 18%. O estado foi escolhido por ser
responsável por mais de 70% de abastecimento de combustíveis (EPE, 2019) e termos os preços
do Porto de Santos. A Tabela 47 mostra os valores corrigidos com a incidência do ICMS.
Tabela 48 – Custo de Combustível sem ICMS de uma Viagem Tipo do Suezmax de Estudo
Tabela 49 – Custo de Combustível com ICMS de uma Viagem Tipo do Suezmax de Estudo
Tabela 50 – Tarifas Portuárias do Navio Suezmax nos Terminais de São Sebastião e de Madre de Deus
Vale destacar que existem outras tarifas, como aquelas que incidem sobre a
movimentação de mercadoria, mas por ser um custo que será arcado pelo dono da carga, não
foram inclusos no cálculo. Contudo, mesmo não sendo um custo do navio, entra na composição
do custo econômico total do transporte. Além disso, consideraremos que a movimentação de
carga ficará fora do conhecimento de embarque e não entrará na base de cálculo do AFRMM.
Como não foram encontrados dados referentes aos valores correspondentes a
praticagem desses dois portos, será tomado como referência o Porto de Pecém. Para navios de
80.001 a 90.000 AB, é cobrado R$ 59.672,00 para cada manobra realizada, de acordo com
(Pecém, 2017). Como são efetuadas quatro manobras durante cada viagem, o custo total com
praticagem é de R$ 238.688,00 ou U$S 44.866,16 com base no dólar médio de 2021 que foi de
R$ 5,3197.
154
Considerando que o custo de combustível é dado pelo valor médio do período com a
incidência do ICMS, a Tabela 51 apresenta um resumo com o custo de viagem do petroleiro
Suezmax.
Tabela 51 – Custo de uma Viagem Redonda (São Sebastião – Madre de Deus – São Sebastião) de um Suezmax
155
7 IMPACTOS DAS MUDANÇAS REGULATÓRIAS
A regulamentação dos transportes marítimos no Brasil passa por um período de debate
e alterações. Nesse contexto é importante analisar os impactos das principais linhas de evolução
que vêm sendo consideradas. Este trabalho objetiva analisar os impactos de alterações
regulatórias nos componentes do custo do transporte marítimo. Os cenários de analise
correspondem às principais alternativas que têm sido propostas para um novo modelo de
regulação, como as do chamado Programa de Estímulo a Cabotagem (BR do Mar), e também
de sugestões que podem vim a incentivar o setor da indústria de construção naval brasileira.
Com isso, será avaliado em quais situações a construção de embarcações no Brasil
consegue ser minimamente competitiva com os principais construtores mundiais. Isto é, se
algum dos cenários apresenta um estímulo para o desenvolvimento de uma indústria de
construção naval brasileira. Os cenários foram determinados com base nos melhores e mais
representativos cenários e parâmetros disponíveis, mesmo que alguns dos parâmetros estejam
sujeitos a maiores variações e incertezas
Foi escolhido um navio-tipo Suezmax pelo fato de corresponder a classe de petroleiros
que teve o maior número de construções recentemente em função do Programa de
Modernização e Expansão da Frota da Transpetro. A operação será em cabotagem, mais
especificamente na rota Terminal de São Sebastião – Terminal de Madre de Deus – Terminal
de São Sebastião, que além de serem dois dos principais terminais operados pela Petrobras,
recebem constantemente esse tipo de petroleiro. Os resultados foram comparados com o
cenário-base, que corresponde a um Suezmax construído no Brasil, num contexto de
continuidade de produção naval e operando em cabotagem, definido de acordo com a
legislação.
7.1 CENÁRIOS REGULATÓRIOS
Mudanças na regulação podem influenciar diretamente no custo de capital e no custo
operacional das embarcações. Casaca e Lyridis (2018) dividem os motivos para adoção de
políticas protecionistas de cabotagem em seis categorias: estratégica, jurídica, econômica,
social, cultural e ambiental.
156
desenvolvimento da indústria naval nacional e a garantia da viabilidade de empresas nacionais
de cabotagem. Pela área social, visam disponibilizar serviços de cabotagem para áreas remotas
do território de um país, que de outra forma não seriam comercialmente viáveis e, proteger o
emprego da tripulação nacional. No aspecto cultural tem-se o know-how marítimo e de
construção naval seguro. Por fim, a questão ambiental, que preza pelo desenvolvimento de uma
indústria de cabotagem amigável ao ambiente.
Casaca e Lyridis (2018), por outro lado, também apresentam motivos para adoção de
políticas de cabotagem liberalizadas, que também são divididas em seis categorias. São elas
estratégica, econômica, operacional, marketing, educacional e ambiental. Pelo lado estratégico,
visam superar as ineficiências de um mercado de cabotagem protegido e contribuir para o
desenvolvimento de uma estratégia logística nacional robusta. Pelo aspecto econômico, querem
apoiar a internacionalização e a globalização das atividades econômicas, promover o
investimento direto estrangeiro na indústria nacional de cabotagem e promover o comércio
intra-regional. Quanto ao aspecto operacional, objetivam promover o desenvolvimento da
logística marítima e reduzir os custos gerais das operações de cabotagem, principalmente
aqueles relacionados à tripulação. No aspecto do marketing, querem promover a concorrência
entre as diferentes empresas de cabotagem, ampliar o leque de serviços oferecidos pelos navios
de cabotagem, promover a concorrência entre os diferentes modos de transporte e eliminar as
distorções do mercado de cabotagem. Pelo lado educacional, tem-se a intenção de contribuir
para o desenvolvimento da educação e formação náutica/marítima e a promover a pesquisa e
desenvolvimento a diferentes níveis marítimos. Por fim, o aspecto ambiental devido à promoção
do desenvolvimento de uma política de transportes integrada e amigável ao ambiente.
Os cinco primeiros cenários estão relacionados com o custo de capital enquanto os três
últimos estão associados com o custo operacional. Assim, será calculado o custo efetivo de
capital para os cinco primeiros cenários, enquanto nos outros três será estimada a variação no
custo de tripulação provocada pela alteração da quantidade de tripulantes regidos pela
legislação brasileira.
Além disso, foi analisado um cenário em que a conta vinculada de AFRMM é exclusiva
para navios construídos no Brasil, o que faria do AFRMM um incentivo a construção e não
meramente um subsídio operacional. Essas duas análises correspondem a uma das partes mais
importantes do estudo, visto que objetivam estimar a competitividade da ICN brasileira frente
ao mercado internacional.
158
O primeiro cenário que trata sobre o custo operacional é aquele que considera que 100%
da tripulação está submetida à regulamentação brasileira do trabalho marítimo. É o caso dos
navios de cabotagem e apoio marítimo sob o regime da Lei 9.432/1997, onde há a exigência do
comandante, do chefe de máquinas e de dois terços da tripulação serem brasileiros. Entretanto,
toda a tripulação, mesmo que haja estrangeiros, está submetida às regras do Brasil.
Vale destacar que existe uma certa polêmica em relação à subordinação dos contratos
de trabalho de brasileiros em navios estrangeiros operando no Brasil à legislação brasileira ou
à legislação da bandeira. O presente trabalho não irá entrar nessa discussão, apenas vai estimar
a diferença de custo entre uma tripulação contratada de acordo com a legislação e acordos
brasileiros, e tripulações contratadas nos padrões de bandeiras de conveniência. Esses cenários
de estudo na composição da tripulação são decorrentes da possibilidade de navios estrangeiros
afretados em TC e pertencentes a subsidiarias integrais de empresas nacionais operaram na
cabotagem conforme estabelecido na Lei 14.301/2022 (BR do Mar).
159
O Acordo para Créditos à Exportação Oficialmente Suportados da OCDE estipula as
condições de financiamentos mais favoráveis que podem ser aplicados ao apoio oficial para
créditos à exportação para outros países da OCDE. Atualmente as condições limite do Acordo
são definidas no Anexo I, que é direcionado a navios, no qual está determinado que podem ser
fornecidos créditos de exportação oficiais para até 80% do valor do contrato de construção
naval, bem como suporte para juros durante a construção e as tarifas, e prazo de reembolso de
tal instalação pode prolongar-se até 12 anos a partir da data de entrega do navio e é amortizado
em parcelas iguais ao longo do prazo do empréstimo (TAD/PG, 2022).
Nas estimativas que serão realizadas a seguir, o valor residual da embarcação ao final
da sua vida útil é desconsiderado, visto que esse valor não tem relação com o local de construção
da embarcação e depende de fatores tais como o estado de conservação e do mercado de sucata.
Além disso, não será considerado o financiamento à produção. Os juros e o custo de
imobilização do capital próprio durante a obra não alteram a análise de modo significativo, e
sua consideração exigiria hipóteses adicionais sobre o cronograma de construção.
160
Em relação aos financiamentos, seguindo os requisitos da OCDE, o percentual
financiado foi de 80% para ser pago ao longo de 8 anos com taxa de juros anual de 9,19%.
Além disso, considerou-se que o pagamento seria em prestações trimestrais de acordo com o
Sistema de Amortização Constante (SAC).
Assim, será considerada a alíquota de 14%, taxa vigente para todos os navios antes da
redução, para representar a situação antes da redução tarifária de 2020 e um eventual cenário
161
de revogação da redução. Com isso, pretende-se uma avaliação da ordem de grandeza do
impacto do imposto de importação sobe o custo total do navio importado.
162
Tabela 55 – Custos Relacionados a Importação de um Petroleiro Suezmax com II = 14%
163
Tabela 57 – Aplicação da Carga Tributária Sobre o Navio Importado com II = 0%
164
Tabela 59 – Condições de Financiamento para Navios de Carga por Meio do FMM
O pagamento das prestações, tanto para a parte nacional quanto para a parte
internacional, seria em prestações trimestrais em Sistema de Amortização Constante (SAC),
como normalmente ocorre nos financiamentos com o uso do FMM. O prazo de amortização de
20 anos e um período de carência de um semestre após a entrega são compatíveis com a pratica
adotada em contratos de navios pelos agentes financeiros e serão aplicadas neste trabalho.
Como exposto anteriormente, para o custo efetivo de capital será considerada uma taxa
de desconto de 10% ao ano.
165
O padrão de operação considerado consiste em uma vida útil de 15 anos e um offhire de
10 dias.
166
Atualmente, com a grande participação de navios importados na frota nacional, e com a
manutenção do acesso às contas vinculadas de AFRMM nas mesmas condições de navios
produzidos no país, o mecanismo de conta vinculada tornou-se apenas um subsidio operacional,
perdendo efetividade como incentivo à indústria de construção naval. As contas vinculadas
geradas por navios oceânicos têm sido aplicadas em manutenção e reparos ou na construção de
embarcações de natureza diferente (caso de AFRMM gerado na cabotagem de contêineres
aplicado na construção de rebocadores)8.
8
A nova legislação – BR do Mar, impede essa prática, porém amplia e flexibiliza as possíveis utilizações das contas
vinculadas, acentuando o caráter de subsidio operacional.
9
A Lei 14.301/2022 (BR do Mar) introduziu o subsidio para navios estrangeiros, com tripulação estrangeira, algo
sem precedente conhecido no mundo
167
A incidência do AFRMM na navegação de cabotagem é de 8% do valor do frete10 e este
valor é destinado integralmente a conta vinculada da empresa, sem nenhum repasse para o
Fundo da Marinha Mercante ou para a conta especial.
Não existem dados oficiais sobre fretes marítimos ou sobre o faturamento das empresas
de cabotagem que permitam estimar a geração média de AFRMM de um navio petroleiro de
cabotagem típico. Assim, é necessário a adoção de algumas hipóteses para a estimativa do valor
arrecadado por um navio para a conta vinculada do armador.
Os dados da ANTAQ (2022a) indicam que a rota São Sebastião-Madre de Deus pode
ser considerada típica para um navio Suezmax, conforme apresentado no Capítulo 6. Os dados
10
Antes de aprovação da BR do Mar, a alíquota do AFRMM para a cabotagem era de 10%.
168
indicam que o tempo de operação no transporte de carga liquida entre terminais portuários tem
sido em torno de 230 dias por ano para a frota nacional de petroleiros Suezmax. No restante do
ano, os navios encontram-se fora de serviço, operando em longo curso, ou em operações de
alivio de plataformas.
Assim como uma viagem redonda leva cerca de 18,38 dias, pode-se estimar que,
mantidos os padrões de operação atuais, o navio faria cerca de 12,5 viagens por ano, que
corresponderiam ao conjunto das operações anuais exclusivamente em cabotagem entre portos.
As operações de alivio, embora sejam consideradas como navegação de cabotagem, atualmente
não geram conta vinculada, e por isso não são consideradas para o cálculo da estimativa do
AFRMM recebido. Outra hipótese é de que esse padrão de variáveis de mercado (custo, frete e
padrão de operação) se mantém por toda a vida útil.
De acordo com a Tabela 40, o TCE médio de um navio suezmax com bandeira
estrangeira é de U$S 29.202,00 diários. Para estimar o TCE médio da embarcação brasileira,
inclui-se o pagamento de compensação da tripulação brasileira, que é de U$S 2.803,88,
resultando em um TCE de U$S 32.005,88. Com isso, conforme ilustrado na Tabela 61, tem-se
o custo diário da viagem de U$S 45.019,13.
Tabela 61 – Receita Diária Estimada de uma Viagem Redonda (São Sebastião – Madre de Deus) de Suezmax na
Cabotagem Brasileira
As 12,5 viagens a serem realizadas totalizam um total de 229,8 dias, totalizando uma
receita de US$ 10,34 milhões. Apenas esses dias geram AFRMM e consequentemente trazem
retorno por meio da conta vinculada. Na operação de cabotagem, a taxa do AFRMM
corresponde a 8% do frete e é destinada inteiramente a conta vinculada da empresa. Assim,
como foi adotado que o frete é igual a esse custo, o retorno anual para a conta vinculada é de
US$ 0,83 milhões.
170
Tabela 63 – Resultado das Mudanças Regulatórias na Aquisição de um Petroleiro Suezmax
Com base nas condições de financiamento para o uso do Funda da Marinha Mercante
(determinadas pela Resolução CMN Nº 5.031/2022) e para o uso financiamento internacional
(determinados pela OCDE) foi possível estimar o custo efetivo de capital de um navio Suezmax
em diversos cenários regulatórios. Os valores utilizados estão de acordo com os adotados pelo
mercado e dentre as hipóteses adotadas está o custo de imobilização de 10%.
Assim, de acordo com os valores obtidos mostrados na Tabela 63, é possível observar
os efeitos significativos no custo efetivo de capital provocados pela melhoria da produtividade
e pela diminuição do overhead nos estaleiros brasileiros. O valor de US$ 68,67 milhões
encontrado mostra que construir no Brasil pode ser mais vantajoso que construir fora e importar,
independentemente da alíquota do imposto de importação, cujo custo é de US$ 86,30 milhões
para quando o II é igual a 14% e de US$ 76,44 milhões para quando o II é zerado.
Apesar dessas estimativas iniciais indicarem uma possibilidade de ter uma construção
naval competitiva no país, a incidência da carga tributária para importação de navios ainda é
importante para que a indústria de construção naval brasileira consiga concorrer com os demais
países. Além de que, os valores encontrados em cada cenário podem ter variação para cima e
para baixo devido as hipóteses adotadas e também pelas oscilações do mercado. Assim, a carga
tributária de US$ 25,50 milhões para quando o II é 14% é uma quantia que pode ter um peso
significativo na hora da escolha do armador do local de construção de sua embarcação, visto
que apesar de não ser o único fator de decisão, o preço de contrato costuma ser o mais decisivo.
172
na presente análise será considerada a hipótese de dois terços de custos no padrão nacional e
um terço no padrão internacional.
Para embarcações de bandeira brasileira, a Lei 9.432/97 no seu Art. 4º estabelece que
sejam necessariamente brasileiros o comandante, o chefe de máquinas e dois terços da
tripulação. Contudo, por mais que o restante da tripulação não tenha origem brasileira, todos
estariam submetidos a leis trabalhista do Brasil. Nesse caso todo o custo da tripulação é formado
no padrão brasileiro
Contudo isso não será discutido. Apenas será estimada a diferença de custo entre uma
tripulação contratada de acordo com a legislação e acordos brasileiros, e tripulações contratadas
nos padrões de bandeiras de conveniência. Isso é decorrência da possibilidade criada pela BR
do Mar de navios estrangeiros afretados TC operarem na cabotagem. Esses três casos permitem
analisar o impacto de variações da exigência de brasileiros e serve para verificar a sensibilidade
do custo final em relação a essa variável.
Com isso, conforme apresentado na Tabela 64, a tripulação que representa cerca de
47,54% dos custos operacionais em navios estrangeiros, consiste em 61,96% em navios
inteiramente tripulados por brasileiros. Outra forma de analisar o efeito da proporção de
brasileiros consiste em mostrar o impacto do custo de tripulação no custo total no cenário-base
(Suezmax construído no Brasil, mas sem a exclusividade da conta vinculada). O valor adicional
diário de U$S 2.803,88 faz com o custo total aumente 4,95% e que a tripulação 100% brasileira
corresponda a aproximadamente 10,62% de todo o custo, frente a 6,20% de uma tripulação
100% estrangeira. Comparado com outras variáveis, como as taxas portuárias que chegam a
21,07% e o custo de combustível máximo e mínimo no período analisado, cuja parcela variou
de 8,08% a 22,92% do custo total da embarcação integralmente estrangeira, a tripulação é uma
variável cuja alteração não resulta em um impacto significativo no custo.
Tabela 64 – Custo de Tripulação e OPEX de uma Tripulação 100% Brasileira e de uma 100% Estrangeira
174
Entretanto, essa alternativa está mantida como um dos cenários de análise. Nesse
cenário tem-se que a tripulação deve ser composta de, no mínimo, dois terços de brasileiros em
cada nível técnico do oficialato, incluídos os graduados ou subalternos, e em cada ramo de
atividade, incluídos o convés e as máquinas. Assim, separando os tripulantes de acordo com
sua classe e o ramo de atividade, tem-se um total de 14 tripulantes brasileiros, sendo cinco
oficiais, seis graduados e três não graduados, conforme indicado na Tabela 65.
Tabela 66 – Valor do Adicional de Remuneração para Tripulação com ao Menos Dois Terços de Brasileiros
Com isso, conforme apresentado na Tabela 67, a tripulação que representa cerca de
47,54% dos custos operacionais em navios estrangeiros, consiste em 58,91% em navios
tripulados por dois terços de brasileiros. O valor adicional diário de U$S 2.046,99 faz com o
custo total aumente 3,61% e que a tripulação com dois terços de brasileiros corresponda a
aproximadamente 9,47% de todo o custo, frente a 6,20% de uma tripulação 100% estrangeira.
Comparado com outras variáveis, como as taxas portuárias que chegam a 21,07% e o custo de
175
combustível máximo e mínimo no período analisado, cuja parcela variou de 8,08% a 22,92%
do custo total da embarcação integralmente estrangeira, a tripulação é uma variável cuja
alteração não resulta em um impacto significativo no custo.
Tabela 67 – Custo de Tripulação e OPEX de uma Tripulação com Dois Terços de Brasileiros e de uma 100%
Estrangeira
Com isso, conforme apresentado na Tabela 68, a tripulação que representa cerca de
47,54% dos custos operacionais em navios estrangeiros, consiste em 50,53% em navios nos
quais apenas o comandante e o chefe da praça de máquinas são brasileiros. O valor adicional
diário de U$S 447,37 faz com o custo total aumente 0,79% e que a tripulação com apenas o
comandante e o chefe da praça de máquinas brasileiros corresponda a aproximadamente 6,94%
de todo o custo, frente a 6,20% de uma tripulação 100% estrangeira. Comparado com outras
variáveis, como as taxas portuárias que chegam a 21,07% e o custo de combustível máximo e
mínimo no período analisado, cuja parcela variou de 8,08% a 22,92% do custo total da
embarcação integralmente estrangeira, a tripulação é uma variável cuja alteração não resulta
em um impacto significativo no custo.
Tabela 68 – Custo de Tripulação e OPEX de uma Tripulação com Comandante e Chefe de Máquinas Brasileiros
e de uma 100% Estrangeira
Tabela 69 – Resumo dos Custos com Tripulação, OPEX e Total na Cabotagem Brasileira nos Cenários
Analisados
Para dimensionar o impacto que o requisito dos tripulantes serem brasileiros provoca
nos custos de tripulação, de OPEX e total, foi calculado quanto um armador gasta a mais em
relação a uma embarcação tripulada inteiramente por estrangeiros. Uma tripulação 100%
brasileira é quase 80% mais cara, enquanto uma que só necessita do comandante e do chefe de
máquinas brasileiros tem um aumento de 12,72%. O mesmo cálculo foi realizado para o OPEX.
A Tabela 70 traz um resumo dessa comparação.
Tabela 70 – Comparativo dos Custos com Tripulação, OPEX e Total na Cabotagem Brasileira com Embarcação
100% Estrangeira nos Três Cenários Analisados
Por último tem-se a taxa de desconto, usada para a análise de retorno de investimentos.
Com ela, estuda-se se um valor projetado para daqui um tempo será viável no momento atual,
178
de acordo com a expectativa de ganho requerido pelo investidor. Ou seja, é um valor subjetivo
no contexto estudado, variando de acordo com o armador e com o momento da economia, por
exemplo. No presente trabalho, a taxa de desconto arbitrada foi de 10% e nesta análise de
sensibilidade os cálculos usou-se os valores de 8% e 12% para verificar a sua influência no
custo efetivo de capital. Como resultado, obteve-se o custo de US$ 58,05 milhões para a taxa
de 12% e US$ 63,86 milhões para a taxa de 8%.
Tabela 71 – Valores das Variáveis da Análise de Sensibilidade do Cenário de um Navio Estrangeiro Afretado a
Casco Nu
179
60,80
Preço de Contrato
44,28 93,16
Dentre as possíveis fontes de variação do custo efetivo de capital nesse cenário tem-se
a conjuntura do mercado e o fato de ter sido um cenário/parâmetro postulado. Quando há dados
e metodologia adequada, porém o parâmetro tem variações aleatórias, pode-se categorizar como
variações de mercado. Já quando foram feitas escolhas para o caso de estudo que não se repetem
para qualquer caso, as oscilações são devido a um cenário/parâmetro postulado.
A taxa de juros e a taxa de desconto são variáveis com influência semelhante. O histórico
da taxa de juros faria o custo efetivo de capital varia de US$ 56,42 milhões a US$ 65,94 milhões,
enquanto a variação entre as taxas de oportunidades de oportunidade comuns no mercado gera
uma variação de US$ 58,05 a US$ 63,86 milhões. A oscilação provocada pela taxa de juros é
devido a ela ser um parâmetro postulado, definido mensalmente pela OCDE. A alteração gerada
180
pelo custo de oportunidade também é em função dele ser um parâmetro postulado, que varia de
acordo com a conjuntura do mercado.
Por último tem-se a taxa de desconto, usada para a análise de retorno de investimentos.
No presente trabalho, a taxa de desconto arbitrada foi de 10% e nesta análise de sensibilidade
os cálculos usou-se os valores de 8% e 12% para verificar a sua influência no custo efetivo de
capital. Como resultado, obteve-se o custo de US$ 83,56 milhões para a taxa de 12% e US$
89,36 milhões para a taxa de 8%.
Tabela 74 - Resultado da Análise de Sensibilidade do Cenário do Navio Estrangeiro Importado com Imposto de
Importação de 14% - Em Milhões de Dólares
86,30
Preço de Contrato
62,85 132,23
Figura 70 – Resultado da Análise de Sensibilidade do Cenário do Navio Estrangeiro Importado com Imposto de
Importação de 14%
A taxa de juros e a taxa de desconto são variáveis com influência semelhante. O histórico
da taxa de juros faria o custo efetivo de capital varia de US$ 81,92 milhões a US$ 91,44 milhões,
enquanto a variação entre as taxas de oportunidades de oportunidade comuns no mercado gera
uma variação de US$ 83,55 a US$ 89,36 milhões. A oscilação provocada pela taxa de juros é
devido a ela ser um parâmetro postulado, definido mensalmente pela OCDE. A alteração gerada
pelo custo de oportunidade também é em função dele ser um parâmetro postulado, que varia de
acordo com a conjuntura do mercado.
183
apresentados, considerando os valores de 6,27% e 12,69% de juros anual devido aos 5% do
“risco Brasil”. Como resultado, obteve-se um custo efetivo de capital mínimo de US$ 73,68
milhões para a taxa de 6,27% e um máximo de US$ 79,50 milhões para a taxa de 12,69%.
Por fim, tem-se a taxa de desconto. No presente trabalho, a taxa de desconto arbitrada
foi de 10% e nesta análise de sensibilidade os cálculos usou-se os valores de 8% e 12% para
verificar a sua influência no custo efetivo de capital. Como resultado, obteve-se o custo de US$
73,68 milhões para a taxa de 12% e US$ 79,50 milhões para a taxa de 8%.
Tabela 75 – Valores das Variáveis da Análise de Sensibilidade do Cenário do Navio Estrangeiro Importado sem
Imposto de Importação
Tabela 76 – Resultado da Análise de Sensibilidade do Cenário do Navio Estrangeiro Importado sem Imposto de
Importação – Em Milhões de Dólares
184
76,44
Preço de Contrato
55,66 117,12
Figura 71 – Resultado da Análise de Sensibilidade do Cenário do Navio Estrangeiro Importado sem Imposto de
Importação
A taxa de juros e a taxa de desconto são variáveis com influência semelhante. O histórico
da taxa de juros faria o custo efetivo de capital varia de US$ 72,05 milhões a US$ 81,58 milhões,
enquanto a variação entre as taxas de oportunidades de oportunidade comuns no mercado gera
uma variação de US$ 73,68 a US$ 70,50 milhões. A oscilação provocada pela taxa de juros é
devido a ela ser um parâmetro postulado, definido mensalmente pela OCDE. A alteração gerada
pelo custo de oportunidade também é em função dele ser um parâmetro postulado, que varia de
acordo com a conjuntura do mercado.
185
7.4.4 NAVIO CONSTRUÍDO NO BRASIL
No cenário correspondente a construção de uma embarcação em estaleiro brasileiro, as
variáveis envolvidas e que tiveram valores arbitrados são o conteúdo local, o preço de contrato,
a taxa de juros e a taxa de desconto.
Em relação a taxa de juros, conforme apresentado pela Tabela 59, pode ser de 2% a
4,5% ao ano para itens nacionais e de 4% a 7% para itens importados, tendo sido adotada taxas
de juros intermediárias no cálculo inicial. Para analisar a influência da taxa no custo efetivo de
capital, a análise de sensibilidade estabelece uma situação com as taxas mínimas (2% e 4%) e
outra com as taxas máximas (4,5% e 7%). Como resultado, obteve-se US$ 62,51 milhões para
as melhores taxas e US$ 74,92 milhões nas taxas mais altas.
68,67
Dentre as possíveis fontes de variação do custo efetivo de capital nesse cenário tem-se
o erro de estimativa, a conjuntura do mercado e o fato de ter sido um cenário/parâmetro
postulado. O erro de estimativa acontece quando não há dados para estimação estatística; o
método usado não é totalmente confiável; ou por erros estatísticos ou de medida. Quando há
dados e metodologia adequada, porém o parâmetro tem variações aleatórias, pode-se
187
categorizar como variações de mercado. Já quando foram feitas escolhas para o caso de estudo
que não se repetem para qualquer caso, as oscilações são devido a um cenário/parâmetro
postulado.
A opção por uma construção com um conteúdo local maior ou igual a 65% faz com que
o custo efetivo de capital possa cair até a US$ 66,65 milhões, sendo uma variável de pouca
influência. Essa variação ocorre por ser um parâmetro postulado, ao contrário de licitações em
que a porcentagem de conteúdo local já é definida.
Em relação a taxa de juros, conforme apresentado pela Tabela 59, pode ser de 2% a
4,5% ao ano para itens nacionais e de 4% a 7% para itens importados, tendo sido adotada taxas
de juros intermediárias no cálculo inicial. Para analisar a influência da taxa no custo efetivo de
capital, a análise de sensibilidade estabelece uma situação com as taxas mínimas (2% e 4%) e
outra com as taxas máximas (4,5% e 7%). Como resultado, obteve-se US$ 56,21 milhões para
as melhores taxas e US$ 68,62 milhões nas taxas mais altas.
Quanto a taxa de desconto, a taxa arbitrada na situação inicial foi de 10% e nesta análise
de sensibilidade usou-se os valores de 8% e 12% para verificar a sua influência no custo efetivo
de capital. Como resultado, obteve-se o custo de US$ 56,45 milhões para a taxa de 12% e US$
69,69 milhões para a taxa de 8%.
189
Tabela 79 – Valores das Variáveis da Análise de Sensibilidade do Cenário de Exclusividade da Conta Vinculada
para Navios Construídos no Brasil
Tabela 80 – Resultado da Análise de Sensibilidade do Cenário de Exclusividade da Conta Vinculada para Navios
Construídos no Brasil – Milhões de Dólares
62,37
Figura 73 – Resultado da Análise de Sensibilidade do Cenário de Exclusividade da Conta Vinculada para Navios
Construídos no Brasil
190
nesse cenário. O erro de estimativa acontece quando não há dados para estimação estatística; o
método usado não é totalmente confiável; ou por erros estatísticos ou de medida. Quando há
dados e metodologia adequada, porém o parâmetro tem variações aleatórias, pode-se
categorizar como variações de mercado. Já quando foram feitas escolhas para o caso de estudo
que não se repetem para qualquer caso, as oscilações são devido a um cenário/parâmetro
postulado.
O conteúdo local e a receita obtida pelo direito da conta vinculada apresentam influência
semelhante e menores que as três anteriores. A opção por uma construção com um conteúdo
local maior ou igual a 65% faz com que o custo efetivo de capital possa cair a até US$ 60,36
milhões. Essa variação ocorre por ser um parâmetro postulado, ao contrário de licitações em
que a porcentagem de conteúdo local já é definida.
A oscilação provocada pelo AFRMM da conta vinculada faz com que o custo possa ir
de US$ 61,43 milhões a US$ 63,32 milhões. Por não ter acesso a dados referentes ao AFRMM
191
recebido por petroleiros, arbitrou-se que essa receita seria equivalente ao frete. Assim, essa
variação é decorrência principalmente de um erro de estimativa, que por sua vez é consequência
de parâmetros postulados (velocidade, número de viagens), erros de estimativa (consumo de
combustível, custo operacional) e variações de mercado (preço de combustível) utilizados para
calcular o frete/receita.
192
8 CONCLUSÃO
O presente trabalho procurou analisar quais os efeitos que possíveis mudanças
regulatórias no custo efetivo de capital e no custo operacional de um petroleiro operando em
cabotagem no Brasil. Com isso, buscava-se também analisar a viabilidade de investimento para
construção dessas embarcações em estaleiros nacionais.
Antes da realização da análise, foram estabelecidos padrões de operação típicos da
cabotagem brasileira e cenários operacionais e econômicos que permitissem realizar um estudo
de caso com resultados relevantes para o entendimento dos impactos no sistema.
Posteriormente, foi necessário a adoção de alguns parâmetros e hipóteses para a obtenção do
custo de capital e do custo operacional do cenário-base. Dentre os parâmetros postulados tem-
se a taxa de juros do financiamento nacional, o custo de oportunidade e o número anual de
viagens da embarcação. Já entre as hipóteses adotadas estão o aumento da produtividade e
diminuição do overhead dos estaleiros brasileiros provocados por um cenário de continuidade
de produção, as despesas com a tripulação e a receita obtida pelo armador por meio do
AFRMM.
A partir do cenário-base e de discussões sobre os aspectos regulatórios envolvidos,
foram estruturados mais quatro cenários para o cálculo do custo efetivo de capital e mais dois
cenários para o cálculo do custo operacional do navio-tipo. São eles: afretamento de navio
estrangeiro a casco nu, importação de navio estrangeiro com imposto de importação de 14%,
importação de navio estrangeiro com imposto de importação zerado, exclusividade da conta
vinculada gerada pelo AFRMM para embarcações construídas em estaleiros brasileiros; dois
terços da tripulação submetidas à legislação brasileira e apenas a obrigatoriedade do
comandante e chefe de máquinas serem brasileiros (e consequentemente submetidos as leis
nacionais).
Os principais parâmetros envolvidos nessa primeira análise são o preço de aquisição
(nacional e internacional), a taxa de juros dos financiamentos, o custo de oportunidade, o
AFRMM gerado pela embarcação, o conteúdo local da construção e a quantidade de tripulantes
sob à legislação brasileira. Embora os resultados e os cenários alternativos tenham construídos
com base nos melhores e mais representativos cenários e parâmetros disponíveis, alguns
parâmetros estão sujeitos a maiores variações e incertezas. Dentre as causas, destacam-se três:
cenários ou parâmetros postulados, que correspondem a escolhas feitas para o caso de estudo e
que não se repetem para qualquer caso, como o número de viagens realizadas pela embarcação;
erro de estimativa, que acontece quando não há dados para estimação estatística e o método
193
usado não é totalmente confiável, ou por erros estatísticos ou de medida, como o valor
arrecadado anualmente por meio da conta vinculada; e as variações de mercado, quando há
dados e metodologia adequada, porém o parâmetro tem variações aleatórias, como o preço
internacional do navio. Assim, tornou-se conveniente realizar uma análise de sensibilidade para
cada cenário do custo de capital.
Primeiramente os resultados mostraram a relevância da carga tributária na importação
de um navio estrangeiro e também da exclusividade da conta vinculada para embarcações
construídas no Brasil. Esse cenário regulatório, que faria com que o subsídio tivesse o destino
para que foi concebido, permitiria que os estaleiros nacionais fossem competitivos até mesmo
com o afretamento a casco nu de uma embarcação estrangeira. Já a incidência da carga tributária
traz a competitividade para a situação em que não existe privilégio para as embarcações
nacionais. Com isso, pode-se dizer que com base nesse contexto, a indústria de construção naval
brasileira tem potencial relevante para competir com demais mercados na construção de
petroleiros.
A análise de sensibilidade, além de permitir visualizar o intervalo de valores que o custo
efetivo de capital pode atingir devido a alguma alteração no valor dos parâmetros envolvidos,
indicou que o parâmetro de maior influência é o preço de contrato, com relativa distância para
os demais. Posteriormente tem-se o custo de oportunidade e a taxa de juros com importância
semelhantes. Depois, com influências parecidas e pequenas perto das demais, está a alteração
da porcentagem de conteúdo local e a variação do valor arrecadado com o AFRMM.
Conforme esperado em relação ao custo operacional, quanto menos tripulantes
estiverem submetidos à legislação trabalhista brasileira, menor será a despesa com tripulação e
consequentemente menor o custo operacional. Contudo, vale relembrar que apesar do art. 12 da
BR do Mar citar que contratos de trabalho dos tripulantes que operem em embarcação
estrangeira afretada na forma prevista pela lei estarem submetidos as regras internacionais
estabelecidas por organismos internacionais devidamente reconhecidos, referentes à proteção
das condições de trabalho, à segurança e ao meio ambiente a bordo de embarcações, e a
Constituição Federal, não há consenso entre os membros do Direito do Trabalho sobre a
viabilidade dessa questão.
É preciso considerar que o trabalho faz um estudo para um caso padrão, considerando
uma dada embarcação sob determinadas condições em uma rota específica. Além disso, a falta
de alguns dados faz com que os resultados não tenham a precisão desejada. Portanto, os cálculos
realizados consistem em apenas uma parte da análise necessária para avaliar as diversas
194
consequências em relação ao cenário de mudanças regulatórias do transporte de graneis
líquidos, em especial na navegação de cabotagem.
Dessa maneira, trabalhos futuros podem considerar outras possíveis mudanças e ajustes
na regulação do transporte marítimo e também econômicas que afetam a indústria de construção
naval brasileira. Além disso, para decisões bem fundamentadas seria necessário a elaboração
de uma análise de custo benefício, para avaliar de forma ampla os efeitos econômicos globais
da cabotagem brasileira e dos melhores modelos de política setorial. Os estudos que foram
divulgados até agora e que serviram de base para as decisões de governo não apresentam a
necessária profundidade, do ponto de vista teórico e do ponto de vista da compreensão dos
mecanismos da economia marítima.
195
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