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Rio de Janeiro
Outubro de 2022
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Rio de Janeiro
Outubro de 2022
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Examinado por:
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
À minha mãe, Cilene Oliveira, a mulher mais resiliente que já conheci, por todo
amor incondicional, nos bons e nos dias ruins, por sempre ter acreditado em mim.
Ao meu pai, Jurandir da Cunha, o homem mais forte que eu tive o prazer de
conhecer, a pessoa que me mostrou de forma prática o real sentido da palavra amor.
Aos meus sobrinhos, Ester, Filipe e Pietro, por alegrarem a minha vida com as
suas presenças nos últimos anos.
Ao Black e à Belinha, animais de estimação da minha mãe e, que com o tempo,
também se tornaram meus, obrigado por tornarem o meu dia melhor.
Aos amigos que a UFRJ me deu, em especial Jônatas, Laylan e Marcos, por
estarem comigo desde o início, nas alegrias e dificuldades dessa caminhada, e por fazerem
dela menos difícil.
Aos meus professores e professoras, em especial ao corpo docente da
Geotecnia/UFRJ, pela maestria em lecionar e por despertarem em mim a paixão pela área.
Ao meu orientador, Leonardo Becker, pelas oportunidades que tive durante a
graduação, por toda a paciência, pelas aulas incríveis, também pela orientação acadêmica
em si, por sempre estar disposto a ajudar, sou eternamente grato.
À UFRJ, pelo ensino público e de qualidade.
Aos que vieram antes de mim e me permitiram chegar até aqui.
vii
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.
Outubro de 2022
October 2022
Tailings dams are structures commonly used for storing the tailings resulting from the
mining process and may be subject to instability due to various phenomena. In a slope
stability analysis, it is common to use limit equilibrium methods. However, care must be
taken in situations in which complex failure mechanisms or progressive failure may take
place. This work compares finite element stress-strain analysis with limit equilibrium
analysis. A hypothetical upstream tailings dam with a 1V:3H slope and a 150m wide
tailings beach was analyzed. The factor of safety and critical slip surface determined by
limit equilibrium (MORGENSTERN & PRICE, 1965) were compared with the results of
strength reduction in the finite element method (GRIFFITHS & LANE, 1999). The factor
of safety and the shape of the critical slip surface of the limit equilibrium method are in
good agreement with the results of the finite element method. The effective normal and
shear stresses computed by both methods agree well.
Keywords: Tailings Dam, Slope Stability, Limit Equilibrium, Shear Strength Reduction.
ix
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 13
1.1 CONTEXTO E MOTIVAÇÃO............................................................................... 13
1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO .............................................................................. 15
1.3 METODOLOGIA DO TRABALHO ...................................................................... 16
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 17
2.1 REJEITOS DE MINÉRIO E MÉTODO DO ATERRO HIDRÁULICO ............... 17
2.2 MÉTODOS DE ALTEAMENTO DE BARRAGENS DE REJEITO .................... 19
2.3 MÉTODOS DE EQUILÍBRIO LIMITE ................................................................. 21
2.3.1 Método das fatias .......................................................................................... 26
2.3.2 Método de Morgenstern & Price (1965) ..................................................... 30
2.4 MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS .............................................................. 38
2.4.1 Modelagem Numérica e Estudos de Tensão-Deformação......................... 40
2.4.2 Elasticidade ................................................................................................... 41
2.4.3 Plasticidade ................................................................................................... 43
2.4.4 Modelos constitutivos ................................................................................... 43
2.4.5 Fator de Redução dos Parâmetros de Resistência ao Cisalhamento ....... 45
2.5 DEFINIÇÃO DE PARÂMETROS GEOTÉCNICOS ............................................ 47
2.5.1 Dique de partida e alteamentos ................................................................... 48
2.5.2 Rejeito arenoso .............................................................................................. 48
2.5.3 Rejeito plástico .............................................................................................. 49
3 ANÁLISES NUMÉRICAS ...................................................................................... 51
3.1 CASO 1 ................................................................................................................... 53
3.2 CASO 2 ................................................................................................................... 57
4 RESULTADOS ........................................................................................................ 60
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES ........................................................................... 64
5.1 CONCLUSÕES ....................................................................................................... 64
5.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .................................................. 65
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 66
x
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1.1 - PARTICIPAÇÕES POR SUBSTÂNCIAS NAS EXPORTAÇÕES DE MINÉRIO (IBRAM, 2022) ................................. 14
FIGURA 1.2 - MALHA DE ANÁLISE POR ELEMENTOS FINITOS DA ÚLTIMA ETAPA DE ALTEAMENTO...................................... 16
FIGURA 2.1 - SISTEMA DE CANHÕES UNIFORMEMENTE DISPOSTOS (ADAPTADO DE RIBEIRO, 2000) .............................. 18
FIGURA 2.2 - SISTEMA DE CANHÕES DISPOSTOS ISOLADAMENTE (ADAPTADO DE RIBEIRO, 2000).................................. 18
FIGURA 2.3 - MÉTODO DE ALTEAMENTO À MONTANTE (IBRAM, 2016) ................................................................... 19
FIGURA 2.4 - MÉTODO DE ALTEAMENTO À JUSANTE (IBRAM, 2016) ....................................................................... 20
FIGURA 2.5 - MÉTODO DE ALTEAMENTO POR LINHA DE CENTRO (IBRAM, 2016) ....................................................... 21
FIGURA 2.6 - EQUILÍBRIO ENTRE TENSÕES CISALHANTES INSTABILIZANTES E MOBILIZADAS (BECKER, 2016) ..................... 23
FIGURA 2.7 - FATOR DE SEGURANÇA EM FUNÇÃO DO NÍVEL DE SEGURANÇA (ABNT, NBR 11682)................................. 24
FIGURA 2.8 - FATORES DE SEGURANÇA MÍNIMO PARA BARRAGENS DE MINERAÇÃO (ABNT, NBR 13028) ....................... 25
FIGURA 2.9 - COMPORTAMENTO RÍGIDO-PERFEITAMENTE PLÁSTICO (BECKER, 2016) ................................................ 26
FIGURA 2.10 - ESQUEMA REPRESENTATIVO DO MÉTODO DE FATIAS (ADAPTADO DE GEO-RIO, 2014) ............................ 27
FIGURA 2.11 - ANÁLISE DE FORÇAS NUMA FATIA GENÉRICA “I” (BECKER, 2016) ....................................................... 28
FIGURA 2.12 - ANÁLISE DE MASSA DE SOLO POTENCIALMENTE INSTÁVEL (ADAPTADO DE MORGENSTERN & PRICE, 1965)
.......................................................................................................................................................... 31
FIGURA 2.13 - FORÇAS ATUANTES NUMA FATIA DE COMPRIMENTO INFINITESIMAL (ADAPTADO DE MORGENSTERN &
PRICE, 1965) ...................................................................................................................................... 32
FIGURA 2.14 - ELEMENTO INFINITESIMAL NA INTERFACE ENTRE DUAS FATIAS (ADAPTADO DE MORGENSTERN & PRICE,
1965) ................................................................................................................................................. 36
FIGURA 2.15 - TENSÕES NORMAIS E CISALHANTES EFETIVAS AGINDO NO ELEMENTO INFINITESIMAL (MORGENSTERN &
PRICE, 1965) ...................................................................................................................................... 37
FIGURA 2.16 - TRIÂNGULO DE BURLAND (ADAPTADO DE BURLAND, 1987) ............................................................. 41
FIGURA 2.17 - MODELO CONSTITUTIVO LINEAR ELÁSTICO-PERFEITAMENTE PLÁSTICO.................................................... 44
FIGURA 3.1 - LINHA PIEZOMÉTRICA DA ÚLTIMA ETAPA DE ALTEAMENTO PARA MEF ..................................................... 52
FIGURA 3.2 - FASE 1 DE ANÁLISE POR MEF, CONSTRUÇÃO DO DP E DEPOSIÇÃO DE RP (DRENADO) ................................ 53
FIGURA 3.3 - FASE 2 DE ANÁLISE POR MEF, DEPOSIÇÃO DE RA E RP (DRENADOS) ....................................................... 54
FIGURA 3.4 - FASE 3 DE ANÁLISE POR MEF, 1º ALTEAMENTO, DEPOSIÇÃO DE RA E RP (DRENADOS) ............................... 54
FIGURA 3.5 - FASE 4 DE ANÁLISE POR MEF, 2º ALTEAMENTO, DEPOSIÇÃO DE RA E RP (DRENADOS) ............................... 54
FIGURA 3.6 - FASE 5 DE ANÁLISE POR MEF, 3º ALTEAMENTO, DEPOSIÇÃO DE RA E RP (DRENADOS) ............................... 54
FIGURA 3.7 - FASE 6 DE ANÁLISE POR MEF, 4º ALTEAMENTO, DEPOSIÇÃO DE RA E RP (DRENADOS) ............................... 55
FIGURA 3.8 - FASE 7 DE ANÁLISE POR MEF, 5º ALTEAMENTO, DEPOSIÇÃO DE RA E RP (DRENADOS) ............................... 55
FIGURA 3.9 - FASE 8 DE ANÁLISE POR MEF, 6º ALTEAMENTO, DEPOSIÇÃO DE RA E RP (DRENADOS) ............................... 55
FIGURA 3.10 - FASE 9 DE ANÁLISE POR MEF, REDUÇÃO DOS PARÂMETROS, DEPOSIÇÃO DE RA E RP (DRENADOS) ............. 55
FIGURA 3.11 - DETALHE DAS PARTIÇÕES DA CAMADA DE REJEITO PLÁSTICO EM CONDIÇÃO DRENADA NA FASE SSR ............. 56
FIGURA 3.12 - ANÁLISE POR MEL UTILIZANDO A FASE 9 DA ANÁLISE PELO MEF COM RA E RP DRENADOS ....................... 57
xi
FIGURA 3.13 - FASE 9 DE ANÁLISE POR MEF, REDUÇÃO DOS PARÂMETROS, DEPOSIÇÃO DE RA (DRENADO) E RP (NÃO
DRENADO) ............................................................................................................................................ 58
FIGURA 3.14 - DETALHE DAS PARTIÇÕES DA CAMADA DE REJEITO PLÁSTICO EM CONDIÇÃO NÃO DRENADA NA FASE SSR ...... 58
FIGURA 3.15 - ANÁLISE POR MEL UTILIZANDO A FASE 9 DA ANÁLISE PELO MEF COM RA DRENADO E RP NÃO DRENADO.... 59
FIGURA 4.1 - TENSÕES VERTICAIS EFETIVAS AO FINAL DO ÚLTIMO ALTEAMENTO CONSIDERANDO COMPORTAMENTO DRENADO
.......................................................................................................................................................... 60
FIGURA 4.2 - MALHA DEFORMADA EM CONDIÇÃO DRENADA APÓS SSR ..................................................................... 60
FIGURA 4.3 - MALHA DEFORMADA EM NÃO CONDIÇÃO DRENADA (PARA O REJEITO PLÁSTICO) APÓS SSR ......................... 61
FIGURA 4.4 - SUPERFÍCIE CRÍTICA DO MEL SUPERPOSTA AO CAMPO DE DESLOCAMENTOS TOTAIS DA SSR PELO MEF PARA O
CASO DE CARREGAMENTO DRENADO .......................................................................................................... 61
FIGURA 4.5 - SUPERFÍCIE CRÍTICA DO MEL SUPERPOSTA AO CAMPO DE DESLOCAMENTOS TOTAIS DA SSR PELO MEF PARA O
CASO DE CARREGAMENTO NÃO DRENADO (PARA O REJEITO PLÁSTICO) .............................................................. 61
FIGURA 4.6 - TENSÕES NORMAIS EFETIVAS E CISALHANTES QUE ATUAM AO LONGO DA SUPERFÍCIE CRÍTICA DO MEL, PELO
PRÓPRIO MEL E PELO MEF – CARREGAMENTO DRENADO.............................................................................. 62
FIGURA 4.7 - TENSÕES NORMAIS EFETIVAS E CISALHANTES QUE ATUAM AO LONGO DA SUPERFÍCIE CRÍTICA DO MEL, PELO
PRÓPRIO MEL E PELO MEF – CARREGAMENTO NÃO DRENADO NO REJEITO PLÁSTICO .......................................... 63
xii
LISTA DE TABELAS
TABELA 2.1 - DADOS PARA ANÁLISE COM MODELO LINEAR ELÁSTICO-PERFEITAMENTE PLÁSTICO. .................................... 45
TABELA 2.2 - PARÂMETROS GEOTÉCNICOS PARA OS REJEITOS ................................................................................... 50
TABELA 3.1 - RESUMO DAS FASES DE SIMULAÇÃO NO MEF ..................................................................................... 53
TABELA 3.2 - MATERIAIS DE COMPORTAMENTO DRENADO UTILIZADOS NA ANÁLISE POR MEF COM RESPECTIVAS CORES ..... 56
TABELA 3.3 - MATERIAIS DE COMPORTAMENTO DRENADO UTILIZADOS NA ANÁLISE POR MEL COM RESPECTIVAS CORES...... 57
TABELA 3.4 - MATERIAIS DE COMPORTAMENTO NÃO DRENADO UTILIZADOS NA ANÁLISE POR MEF COM RESPECTIVAS CORES
.......................................................................................................................................................... 59
TABELA 3.5 - MATERIAIS DE COMPORTAMENTO DRENADO E NÃO DRENADO UTILIZADOS NA ANÁLISE POR MEL COM
RESPECTIVAS CORES ................................................................................................................................ 59
1 INTRODUÇÃO
A atividade mineradora tem como principal objetivo extrair minérios da natureza tirando
assim proveito do valor econômico agregado a esse recurso natural. A exploração de minério
pode ser realizada a partir de um depósito mineral, sendo esse último, segundo ARAÚJO
(2006), um volume rochoso no qual substâncias minerais estão concentradas de modo anômalo
quando comparadas com sua distribuição média na crosta terrestre.
Na etapa anterior ao beneficiamento do minério, os solos e rochas sem valor econômico
e presença de minério, passam por processo de lavra onde são separados do mineral bruto, esse
último com valor econômico agregado. O mineral bruto, por sua vez, é beneficiado ao ser
purificado ou enriquecido. Esse procedimento divide o mineral bruto em duas partes:
concentrado e rejeito.
É comum que o processo de beneficiamento de muitos minérios gere grandes volumes
de rejeitos em decorrência da pequena quantidade de minério encontrado no mineral bruto. Em
nível nacional, o setor de mineração representa uma importante atividade econômica para o
país. De acordo com o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM, 2022), a Produção Mineral
Brasileira (PMB) ainda no primeiro trimestre de 2022 alcançou o patamar de 200 milhões de
toneladas de minério. No quarto trimestre de 2021 o faturamento no setor mineral correspondeu
a R$ 81,5 bilhões, já no primeiro trimestre desse mesmo ano o lucro em exportações totais foi
de US$ 12,1 bilhões. Diversos foram os tipos de minério exportados pelo Brasil no início do
ano de 2022, o minério de ferro se destaca como sendo o mais exportado até o primeiro trimestre
de 2022, de acordo com a Figura 1.1.
14
Figura 1.1 - Participações por substâncias nas exportações de minério (IBRAM, 2022)
tratamento a partir do método dos elementos finitos e quais não se beneficiariam (GRIFFITHS
& LANE, 1999).
Neste trabalho, foram realizadas análises de tensão-deformação pelo MEF de uma
barragem de rejeito de minério alteada à montante. Os resultados de redução de parâmetros de
resistência (Shear Strength Reduction, ou SSR, GRIFFITHS & LANE, 1999) foram
comparados com fator de segurança e superfície crítica de análises realizadas a partir do MEL
(MORGENSTERN & PRICE, 1965).
Figura 1.2 - Malha de análise por elementos finitos da última etapa de alteamento
Vale ressaltar que o método de alteamento a montante foi proibido em território nacional
no ano de 2019 através da Resolução 4/2019 da Agência Nacional de Mineração (BRASIL,
2019). Todavia, esse sistema de alteamento ainda é utilizado em outros países, e no Brasil ainda
existem estruturas construídas a partir dessa metodologia, de forma que a análise de estabilidade
para esse tipo de barragem se mantém relevante.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O rejeito é um material composto por parte sólida e líquida sendo gerado a partir do
processo de beneficiamento do minério. Esse procedimento, por sua vez, tem como objetivo
retirar do minério elementos de valor econômico agregado. Vale dizer que o rejeito apresenta
características que dependem do minério bruto e do processo industrial utilizado no
beneficiamento. Por conta disso, os rejeitos podem variar de grossos a finos. De acordo com
ARAÚJO (2006), o primeiro é em geral classificado como rejeito arenoso sendo constituído de
partículas de granulometria típica de areias finas a médias, não plásticas, de alta permeabilidade
e resistência ao cisalhamento e de baixa compressibilidade, enquanto o segundo constitui-se de
partículas de granulometria de siltes e argilas, possui difícil sedimentação, alta
compressibilidade e baixa plasticidade (por exemplo, no caso de rejeitos de minério de ferro,
MORGENSTERN et al., 2016 e ROBERTSON et al., 2019 reportaram IP= 5% a 20%).
No Brasil, é comum se adotar o método do aterro hidráulico para a disposição de rejeitos
em barragens. O procedimento consiste no bombeamento do rejeito em forma de polpa a partir
de tubulações responsáveis pela realização do transporte do material. RUSSO (2007) relata que
o método apresenta grande aplicabilidade para a concepção de projetos de barragens de rejeitos
de minério de ferro, já que é econômico e capaz de transportar e depositar diariamente rejeitos
de forma segura em grandes volumes.
Ao sair da planta de beneficiamento, o rejeito bruto pode sofrer separação em duas
parcelas, já que é constituído por parte granular e fina. Para isso, pode-se utilizar do processo
de ciclonagem realizado com o auxílio de hidrociclones.
Os hidrociclones funcionam utilizando o princípio da força centrífuga separando o
rejeito em duas parcelas fazendo com que as partículas de maior massa tenham movimento
descendente enquanto as de menor massa tenham movimento ascendente. A primeira parcela é
denominada de “underflow”, enquanto a segunda de “overflow”. Para RUSSO (2007), na
disposição final após o processo de ciclonagem, a parcela “overflow” deve ser direcionada para
um reservatório convencional já que apresenta elevada concentração de água e características
geotécnicas desfavoráveis do ponto de vista de estabilidade, adensamento e permeabilidade,
enquanto a parcela “underflow” pode ser utilizada como material de construção da barragem,
uma vez que apresenta água em menor quantidade e melhores características geotécnicas em
relação à parcela de granulometria fina.
18
Figura 2.6 - Equilíbrio entre tensões cisalhantes instabilizantes e mobilizadas (BECKER, 2016)
sendo:
τmob = parcela mobilizada da resistência ao cisalhamento
τinst = tensão cisalhante instabilizante que atua na superfície potencial de ruptura, devido ao
peso do solo, sobrecarga, etc.
τff = tensão cisalhante que atua no plano de ruptura, no momento da ruptura (resistência ao
cisalhamento na SPR)
σ′ff = tensão normal efetiva que atua na SPR
c ′ , ϕ′ = parâmetros de resistência do solo em tensões efetivas.
Figura 2.7 - Fator de segurança em função do nível de segurança (ABNT, NBR 11682)
25
Na Figura 2.8 é apresentada a tabela fornecida pela NBR 13028 (ABNT, 2017) na qual
são recomendados fatores de segurança mínimos que devem ser adotados para barragens de
mineração, “independentemente do tipo de análise e condição de carregamento”.
Vale ressaltar que o artigo 6º da Resolução 4/2019 da Agência Nacional de Mineração
(ANM), veda a fixação de um fator de segurança inferior a 1,3 para as análises de estabilidade
e estudos e susceptibilidade à liquefação, considerando parâmetros de resistência não drenada.
Figura 2.8 - Fatores de segurança mínimo para barragens de mineração (ABNT, NBR 13028)
∑ FH = 0 Eq. 2.4
∑ FV = 0 Eq. 2.5
∑ MO = 0 Eq. 2.6
27
Na Figura 2.10 analisa-se uma superfície potencial de ruptura arbitrária definida por um
raio R e centro em O, nesse caso, foi dividida em 9 fatias levando em consideração alguns
pontos:
- Realiza-se a divisão de forma que nenhuma fatia tenha o topo bi linear (interseção da fatia 4
e 5 na Figura 2.10).
- Para situações nas quais têm-se mais de um tipo de solo realiza-se a divisão de fatias de forma
que a base de cada uma esteja em contato com apenas um tipo de solo. O mesmo acontece em
situações em que se têm nível d’água, interseção entre fatia 7 e 8 (Figura 2.10).
Figura 2.11 - Análise de forças numa fatia genérica “i” (BECKER, 2016)
sendo:
Wi = peso da fatia atuando no centro de gravidade
Ei , X i = resultantes das tensões normais efetivas e cisalhantes atuantes na face esquerda
Ei+1 , X i+1 = resultantes das tensões normais efetivas e cisalhantes atuantes na face direita
Ud , Ue = resultantes da poropressão nas faces verticais
Ni′ = resultantes das tensões efetivas à base
Ti = resultantes das tensões cisalhantes mobilizadas na base
Ui = ui ∙ li resultante das poropressões na base, sendo ui a poropressão na base da fatia
xi = largura da fatia
li = comprimento da base da fatia
θi = inclinação da base da fatia em relação a horizontal
ai = braço de alavanca das resultantes das tensões normais à esquerda
ai+1 = braço de alavanca das resultantes das tensões normais à direita
Das grandezas apontadas até o agora, algumas são conhecidas, já outras são
desconhecidas:
6n − 2
Vale analisar com afinco a resistência ao cisalhamento mobilizada na base da fatia “i” dada
pela Eq. 2.7:
sendo
τmi = a resistência ao cisalhamento mobilizada
li = o comprimento da base da fatia
Figura 2.12 - Análise de massa de solo potencialmente instável (adaptado de MORGENSTERN &
PRICE, 1965)
Por outro lado, as forças agindo numa fatia de comprimento infinitesimal dx na massa
de solo potencialmente instável são apresentadas na Figura 2.13 e descritas logo em seguida:
32
A condição para que não haja nenhuma rotação da fatia é satisfeita se a soma dos
momentos em relação ao centro da base da fatia for igual a zero. Fazendo o somatório de
momento em relação ao ponto médio da base da fatia, tem-se:
dy dy
E ′ [(y − yt′ ) − (− )] + Pw [(y − h) − (− )]
2 2
dy dx
− (E ′ + dE ′ ) [y + dy − yt′ − dyt′ + (− )] − X
2 2 Eq. 2.9
dx dy
− (X + dX) − (Pw + dPw ) [(y + dy) − (h + dh) − ] − dPb
2 2
∙g=0
33
onde:
c ′ = intercepto de coesão efetiva
ϕ′ = ângulo de atrito efetivo
F = fator de segurança
1 ′
[c dx sec α + (dN′ ) tan ϕ′] = dE ′ cos α + dPw cos α − dX sin α + dW sin α Eq. 2.14
F
34
Elimina-se dN′ das equações (Eq. 2.11) e (Eq. 2.14), dividindo-as por dx cos α
chegando à equação (Eq. 2.15).
dy
No sistema de coordenadas adotado o valor de tan α = − , de forma que a equação
dx
c′ dy 2 tan ϕ′ dW dX dE ′ dy dPw dy dW dy 2
[1 + ( ) ] + { − + + − ru [1 + ( ) ]}
F dx F dx dx dx dx dx dx dx dx
Eq. 2.16
dE ′ dPw dX dy dW dy
= + + −
dx dx dx dx dx dx
onde:
d ′ ′ dE ′ d dPw
X = (E ∙ yt ) − y + (Pw ∙ h) − y Eq. 2.18
dx dx dx dx
dE ′ tan ϕ′ dy dX tan ϕ′ dy
[1 − ]+ [ + ]=
dx F dx dx F dx
c′ dy 2 dPw tan ϕ′ dy
[1 + ( ) ] + [ − 1] Eq. 2.19
F dx dx F dx
dW tan ϕ′ dy dy 2 tan ϕ′
+ { + − −ru [1 + ( ) ] }
dx F dx dx F
35
dy d
X=E − a [E(y − z)] Eq. 2.21
dx dx
As equações (Eq. 2.21) e (Eq. 2.19) agora definem um problema do tipo estaticamente
determinado, onde as magnitudes de a e F devem ser encontradas satisfazendo as condições de
contorno apropriadas. Tentou-se obter soluções usando as equações (Eq. 2.19) e (Eq. 2.21) mas
funções mal condicionadas, associadas a dificuldades numéricas, surgem na solução das
equações diferenciais não tornando possível a obtenção de um procedimento numérico
satisfatório. Deve-se perceber que a magnitude de a na equação (Eq. 2.21) deve ser determinada
36
como parte da solução. Se for especificado no início como na solução de KENNEY (1956), não
é possível satisfazer todas as condições de equilíbrio e contorno.
y
X = ∫ τxy (y)dy Eq. 2.23
z
Figura 2.14 - Elemento infinitesimal na interface entre duas fatias (adaptado de MORGENSTERN &
PRICE, 1965)
37
E = E ′ + Pw Eq. 2.25
Uma função f(x) geralmente utilizada é a metade positiva da função seno, já que é a que
menos influencia no valor final do fator de segurança (MORGENSTERN & PRICE, 1965).
Outras funções também podem ser utilizadas: constante, trapezoidal, etc.
É sabido que há uma variedade de métodos de equilíbrio limite que são construídos
baseados em diferentes hipóteses simplificadoras. Tal fato pode levar a algumas dúvidas quanto
a razoabilidade dos resultados obtidos a partir dessas metodologias quando aplicadas, por
exemplo, na análise de estabilidade de taludes.
No passado, procurou-se então alternativas de análises que pudessem incorporar as
relações tensão-deformação dos solos, como é o caso dos Métodos de Elementos Finitos (MEF).
Entretanto, foram vários os fatores que impediram o uso do método, a saber: dificuldade de
acesso a computador, custo de processameto, conhecimento escasso a respeito da metodologia
e falta de estudos paramétricos entre MEL e MEF (SILVA, 2011).
Recentemente, o uso do método dos elementos finitos tem se tornado mais comum
devido às suas vantagens (conhecimento do comportamento de tensão-deformação de estruturas
geotécnicas) e à disponibilidade de diversos programas comerciais.
Segundo GRIFFITHS & LANE (1999) existem algumas vantagens na abordagem da
análise de estabilidade de taludes pelo MEF sobre os MEL:
(1) Nenhuma suposição precisa ser feita com antecedência sobre a forma ou localização da
superfície de ruptura. A ruptura ocorre "naturalmente" através das zonas dentro da
massa do solo em que a resistência ao cisalhamento do solo é incapaz de suportar as
tensões de cisalhamento aplicadas.
(2) Uma vez que não há conceito de fatias na abordagem pelo MEF, não há necessidade de
se fazer suposições acerca as forças laterais de fatia. O MEF preserva o equilíbrio global
até que o "ruptura" seja alcançada.
(3) Se parâmetros realistas de compressibilidade do solo estiverem disponíveis, as soluções
pelo MEF retornarão informações sobre deformações nos níveis de tensão de trabalho.
(4) O MEF é capaz de monitorar mecanismos de ruptura progressiva até a ruptura
generalizada por cisalhamento.
39
De uma forma geral, o método de elementos finitos tem como foco discretizar em vários
elementos de menores dimensões a estrutura analisada, fornecendo, por exemplo, dados de
tensão, deformação e deslocamento quando essa é submetida a um sistema de forças. Nesse
contexto, discretizar envolve definir geometria, distância, área e volume. Outros aspectos
importantes do método dizem respeito a definição das propriedades dos materiais utilizados e
das condições de contorno impostas à estrutura analisada (SIGMA W, 2021).
De acordo com ARAÚJO (2006), para a solução de um problema de tensão-deformação,
devem ser satisfeitas as condições de compatibilidade, equilíbrio das forças e tensões, além de
serem obedecidas as relações de tensão-deformação dadas por leis constitutivas.
Segundo POTTS & ZDRAVKOVIĆ (1999), o método de elementos finitos se estrutura
da seguinte forma: discretização dos elementos, definição de uma variável primária para
aproximação, determinação de equações elementares, combinação de equações elementares
para formação de equações globais, formulação de condições de contorno para modificação das
equações globais e, por fim, resolução das equações globais.
As etapas básicas das análises por elementos finitos podem ser organizadas da seguinte
forma (BECKER, 2006): pré-processamento, processamento e pós processamento.
O pré-processamento compreende: a discretização dos elementos, ou seja, a divisão do
contínuo em elementos finitos onde são interpoladas as variáveis de interesse; estabelecer as
matrizes de rigidez dos elementos, em função das propriedades do material, modelo
constitutivo; definir as forças de volume e as condições de contorno (cargas de superfície e
deslocamentos).
Já o processamento diz respeito a solução do sistema de equações, por exemplo:
onde:
[K] = matriz de rigidez global
{u} = vetor de deslocamentos nodais global
{Q} = vetor de cargas global
onde:
{ε} = vetor das deformações
[B] = matriz deformação-deslocamento
{σ} = vetor de tensões
[C] = matriz tensão-deformação
Ainda segundo BURLAND (1987), os três primeiros itens apontados acima formam os
vértices de um triângulo com o termo “empirismo” ocupando o centro do mesmo (Figura 2.16).
Todos os quatro aspectos são importantes para a mecânica dos solos estando interligados em
vários graus, sendo importante sempre fazer a distinção entre eles.
O perfil de solo pode ser obtido a partir de investigações de campo, já o seu
comportamento é definido com o auxílio de ensaios de laboratório e campo, por fim, a
modelagem, que envolve a análise de materiais idealizados.
41
Além de ser utilizado para fins didáticos, o triângulo de Burland também pode ser um
instrumento para melhor compreender os diversos componentes de uma modelagem numérica
a nível de engenharia geotécnica.
Com o avanço tecnológico, atualmente, existe uma série de softwares que permitem, no
âmbito da engenharia geotécnica, a utilização de diferentes modelos constitutivos para
descrever o comportamento de tensão-deformação dos solos.
2.4.2 Elasticidade
Tradicionalmente, a relação proposta por Hooke pode ser utilizada para descrever o
comportamento elástico de tensão-deformação de solos (Eq. 2.31). Materiais elásticos seriam
aqueles que retornam ao seu estado de repouso após submetidos a um ciclo completo de
carregamento e descarregamento, sem apresentar deformações residuais em função desse
processo, desde que não excedam o limite de escoamento (TIMOSHENKO, 1970).
onde:
σ = tensão
Ε = módulo de elasticidade (módulo de Young)
ε = deformação
Na Eq. 2.31, o termo que relaciona a tensão com deformação é chamado de módulo de
elasticidade e corresponde a reta que define a inclinação dessa relação.
Vale ressaltar que a relação elasto-linear proposta por Hooke é construída sobre algumas
hipóteses básicas, as principais dizem respeito à homogeneidade e isotropia do material.
Entende-se por material homogêneo aquele que possui as mesmas propriedades em todos os
pontos, enquanto isotropia diz respeito ao material possuir mesmas propriedades em todas as
direções.
Para o estado plano de deformações, no qual as deformações segundo um dos eixos
cartesianos podem ser consideradas nulas, a Eq. 2.31 pode ser expressa da seguinte forma:
σx 1−ν ν 0 εx
Ε ν 1−ν 0
{ σy } = [ ε
1 − 2ν] { y } Eq. 2.32
τxy (1 + ν)(1 − 2ν) γxy
0 0
2
onde:
ν = coeficiente de poisson
Para uma situação mais geral, na qual o carregamento atua em todas as direções do
espaço, faz-se necessária utilizar a equação de Hooke generalizada (Eq. 2.33):
σx 1−ν ν ν 0 0 0 εx
σy ν 1−ν ν 0 0 0 εy
σz Ε ν ν 1 − ν 0 0 0 εz
τxy = (1 + ν)(1 − 2ν) 0 0 0 1 − 2ν 0 0 γ xy Eq. 2.33
τyz 0 0 0 0 1 − 2ν 0 γyz
{τxz } [ 0 0 0 0 0 1 − 2ν] {γxz }
Vale ressaltar que o estado plano de deformações (Eq. 2.32) é um caso particular da
solução mais geral (Eq. 2.33) onde εz = 0, γyz = 0 e γxz = 0. As constantes elásticas
apresentas nas Eq. 2.32 e Eq. 2.33, Ε e ν, relacionam-se ainda com uma outra constante, o
módulo cisalhante G, de acordo com a Eq. 2.34.
43
Ε
G= Eq. 2.34
2(1 + ν)
2.4.3 Plasticidade
características de todos esses modelos, uma vez que as análises aqui realizadas dizem respeito
apenas ao modelo linear elástico-perfeitamente plástico.
O modelo linear elástico-perfeitamente plástico considera que as tensões e deformações
que ocorrem antes de σy (tensão de escoamento) são proporcionais e de origem elástica. As
deformações que ocorrem após se atingir a tensão de escoamento são de ordem plástica e
irreversíveis. Outra característica desse modelo constitutivo diz respeito ao trecho
perfeitamente plástico que é caracterizado pelo aumento de deformações sem que seja
necessário acréscimo de tensões (Figura 2.17).
Tabela 2.1 - Dados para análise com modelo linear elástico-perfeitamente plástico.
Parâmetros Descrição
E Módulo de elasticidade
ν Coeficiente de Poisson
c Coesão do solo
ϕ Ângulo de atrito do solo
onde:
cr = coesão reduzida
ϕr = ângulo de atrito reduzido
46
τ c′ tan ϕ′
= + Eq. 2.37
𝑆𝑅𝐹 𝑆𝑅𝐹 𝑆𝑅𝐹
τ
= c ∗ + tanϕ∗ Eq. 2.38
𝑆𝑅𝐹
onde:
c′
c ∗ = 𝑆𝑅𝐹
∗
tan ϕ′
ϕ = arctan ( )
𝑆𝑅𝐹
Passo 1: Desenvolver um modelo por elementos finitos para o talude analisado utilizando
parâmetros de deformação e resistência estabelecidas para os materiais analisados. Computar o
modelo e registrar a máxima deformação total do talude.
modelo por elementos finitos para o talude analisado e recalcular registrando a máxima
deformação total do talude.
Passo 3: Repetir o Passo 2, utilizando incrementos sistemáticos do SRF, até que o modelo por
elementos finitos não convirja para uma solução, ou seja, continuar a reduzir a resistência ao
cisalhamento do material até que o talude rompa. O valor de SRF obtido imediatamente antes
da ruptura será o valor de redução da resistência ao cisalhamento crítico.
Ainda segundo GRIFFITHS & LANE (1999), existem diversas definições para ruptura.
Neste trabalho, será adotado o critério de não-convergência da solução (ZIENKIEWICZ &
TAYLOR, 1989).
Quando o algoritmo não pode convergir dentro de um número máximo de iterações
especificado pelo usuário, a implicação é que não se pode encontrar nenhuma distribuição de
tensão que seja simultaneamente capaz de satisfazer tanto o critério de ruptura de Mohr-
Coulomb quanto o equilíbrio global. Se o algoritmo não for capaz de satisfazer esses critérios,
diz-se que ocorreu a ruptura. A ruptura do talude e a não convergência numérica ocorrem
simultaneamente, e são acompanhadas por um aumento dramático nos deslocamentos nodais
da malha.
Para a realização das análises numéricas desse trabalho é necessário definir peso
específico e parâmetros de resistência dos materiais envolvidos quando na utilização de modelo
rígido-perfeitamente plástico (MEL) e, num outro momento, de peso específico, resistência e
deformabilidade quando se realizar análise do tipo linear elástica-perfeitamente plástica (MEF).
Vale lembrar que no capítulo 2.1 os materiais da barragem foram classificados em dois
principais grupos: rejeito arenoso (underflow) e rejeito plástico (overflow). O primeiro estará
submetido unicamente à condição do tipo drenada em todas as análises aqui realizadas,
enquanto o segundo, se comportará ora de maneira drenada ora de maneira não drenada. Para
isso, os parâmetros de resistência e deformabilidade utilizados como valores de entrada nas
análises numéricas foram definidos a partir de dados de ensaios de campo e laboratório dos
tipos drenado e não drenado, encontrados na literatura nacional e internacional para rejeitos de
minério de ferro.
48
- Parâmetros de Resistência
O intercepto de coesão efetiva (c’) adotado para o dique de partida e demais alteamentos
compactados foi de 10kPa.
Adotou-se um valor de ângulo de atrito efetivo (ϕ′ ) de 35°, próximo da média da faixa
de variação indicada por MARQUES (2021).
- Parâmetros de Deformabilidade
- Parâmetros de Resistência
O intercepto de coesão efetiva (c’) de rejeitos arenosos é muito próximo de zero devido
aos processos industriais de britagem e moagem que são submetidos. Esses fazem qualquer
cimentação existente entre os grãos do material ser quebrada. Em função disso, o valor de c’ a
ser adotado nas análises para esse tipo de material será 0 kPa.
Foi adotado um valor de ângulo de atrito efetivo (ϕ′ ) de 35°, próximo da média da faixa
de variação indicada por MARQUES (2021).
- Parâmetros de Deformabilidade
tensões verticais efetivas (σ′v ) com o valor de E50 para diversas tensões. O resultado desse ajuste
pode ser observado na Eq. 2.39.
onde:
E50 = módulo de elasticidade em MPa
σ′v = tensão efetiva de adensamento em kPa
- Parâmetros de Resistência
Para análises do tipo não drenada, na ausência de mais informações sobre o tipo de
rejeito plástico, admitiu-se uma resistência não drenada su = 0,22σ′v . O valor do ângulo de
atrito (ϕu ) foi definido como sendo nulo para as análises não drenadas.
Em condições drenadas, adotou-se um ângulo de atrito efetivo (ϕ′ ) correspondente a
30°, valor um pouco inferior ao estimado para o rejeito arenoso. Adotou-se um intercepto de
coesão efetiva nulo.
- Parâmetros de Deformabilidade
O valor do módulo de elasticidade drenado (E ′ ) para o rejeito plástico foi estimado como
sendo metade do valor do módulo de elasticidade para o rejeito arenoso. Já o módulo de
elasticidade não drenado foi estimado com base na resistência não drenada, adotando-se a
relação Eu = 25su .
O coeficiente de Poisson drenado (ν) adotado corresponde a 0,25 (igual ao rejeito
arenoso). Já o coeficiente de Poisson não drenado (νu ) adotado para o rejeito plástico foi de
0,49.
Um resumo dos parâmetros utilizados nas análises pode ser encontrado na Tabela 2.2.
50
Vale dizer que foi adotado um valor de peso específico natural igual a 22kN/m³ para
todos os materiais envolvidos nas análises, similar aos valores encontrados em rejeitos de
minério de ferro reportados por MORGENSTERN et al 2016 e ROBERTSON et al, 2019. Por
simplificação, inferiu-se ainda que peso específico natural é igual ao peso específico saturado.
Cabe ainda ressaltar que os valores apresentados na Tabela 2.2 se destinam a análises
comparativas de forma que não devem ser entendidos como recomendações de projeto.
51
3 ANÁLISES NUMÉRICAS
No total, a malha foi dividida em sete camadas, na vertical. Na base do reservatório foi
introduzida uma camada de rejeito plástico de 2 m de espessura que foi dividida em seis partes,
para considerar a variação de tensões devido ao talude.
Na análise de estabilidade de taludes pelo MEF utilizando a técnica de redução da
resistência ao cisalhamento (SSR), obtém-se um número equivalente ao FS do MEL, definido
como a razão entre a resistência ao cisalhamento disponível pela resistência ao cisalhamento
mínima para qual ainda se obtém convergência (Strength Reduction Factor, SRF).
As poropressões estacionárias foram estimadas a partir de linhas piezométricas. Para
cada alteamento utilizou-se uma linha piezométrica diferente. Isso foi feito para representar a
variação do nível d’água na barragem conforme se processam os alteamentos. A Figura 3.1,
com medidas em metros (m), apresenta a linha piezométrica correspondente ao último
alteamento.
A simulação dos alteamentos foi dividida em 9 fases. A Tabela 3.1 apresenta as fases
de simulação utilizadas no MEF. Para as análises do MEL foi utilizada a configuração da última
fase do MEF. Os resultados obtidos foram comparados com análises pelo MEL utilizando um
método de fatias (MORGENSTERN & PRICE, 1965).
53
3.1 CASO 1
Figura 3.10 - Fase 9 de análise por MEF, redução dos parâmetros, deposição de RA e RP (drenados)
Figura 3.11 - Detalhe das partições da camada de rejeito plástico em condição drenada na fase SSR
Tabela 3.2 - Materiais de comportamento drenado utilizados na análise por MEF com respectivas
cores
Critério
γ
Material Cor ϕ′ (°) c ′ (kPa) E ′ (kPa) ν′ de Condição
(kN/m³)
ruptura
DP 22 35 10 8.000 0,25
RP 1 22 30 0 457 0,25
RP 2 22 30 0 25.262 0,25
RP 3 22 30 0 36.796 0,25
RP 4 22 30 0 44.393 0,25
RP 5 22 30 0 50.068 0,25
RP 6 22 30 0 54.599 0,25
Mohr-
RP 7 22 30 0 58.371 0,25 Drenado
Coulomb
RA 1 22 35 0 913 0,25
RA 2 22 35 0 50.524 0,25
RA 3 22 35 0 73.592 0,25
RA 4 22 35 0 88.787 0,25
RA 5 22 35 0 100.135 0,25
RA 6 22 35 0 109.197 0,25
RA 7 22 35 0 116.741 0,25
DP: dique de partida; RP: rejeito plástico; RA: rejeito arenoso
57
Na Tabela 3.3 verifica-se um resumo dos parâmetros utilizados nas análises por
equilíbrio limite. As características dos materiais são associadas a cores com o objetivo de
melhor identificar os tipos de materiais apresentados na Figura 3.12.
Tabela 3.3 - Materiais de comportamento drenado utilizados na análise por MEL com respectivas
cores
γ
Material Cor ϕ′ (°) c ′ (kPa) Critério de ruptura Condição
(kN/m³)
DP 22 35 10
RA 22 35 0 Mohr-Coulomb Drenado
RP 22 30 0
DP: dique de partida; RP: rejeito plástico; RA: rejeito arenoso
Figura 3.12 - Análise por MEL utilizando a fase 9 da análise pelo MEF com RA e RP drenados
3.2 CASO 2
Figura 3.13 - Fase 9 de análise por MEF, redução dos parâmetros, deposição de RA (drenado) e RP
(não drenado)
Figura 3.14 - Detalhe das partições da camada de rejeito plástico em condição não drenada na fase SSR
Tabela 3.4 - Materiais de comportamento não drenado utilizados na análise por MEF com respectivas
cores
Critério
γ
Material Cor ϕu (°) su (kPa) Eu (kPa) νu de Condição
(kN/m³)
ruptura
RP 1 22 0,5 122 3.000 0,49
RP 2 22 0,5 131,8 3.250 0,49
RP 3 22 0,5 141,6 3.500 0,49
Mohr-
RP 4 22 0,5 151,4 3.750 0,49 Não drenado
Coulomb
RP 5 22 0,5 161,2 4.000 0,49
RP 6 22 0,5 171 4.250 0,49
RP 7 22 0,5 181 4.500 0,49
RP: rejeito plástico; RA: rejeito arenoso
Tabela 3.5 - Materiais de comportamento drenado e não drenado utilizados na análise por MEL com
respectivas cores
γ Critério de
Material Cor ϕ′ ou ϕu (°) c ′ ou su (kPa) Condição
(kN/m³) ruptura
Dique 22 35 10
Drenado
RA 22 35 0 Mohr-Coulomb
RP 22 0 0,22.σ′v Não drenado
RP: rejeito plástico; RA: rejeito arenoso
Figura 3.15 - Análise por MEL utilizando a fase 9 da análise pelo MEF com RA drenado e RP não
drenado
60
4 RESULTADOS
Figura 4.1 - Tensões verticais efetivas ao final do último alteamento considerando comportamento
drenado
Na Figura 4.3 simula-se uma condição na qual o último carregamento tenha sido
realizado de forma suficientemente rápida a ponto de provocar uma resposta não drenada do
rejeito plástico, mas lento demais para gerar excesso de poropressão no rejeito arenoso, pelo
menos em um primeiro momento, pois posteriormente o material arenoso poderia ser levado
a uma condição não drenada, em caso de liquefação. O exagero na escala apresentada
corresponde a 18 vezes.
61
Figura 4.3 - Malha deformada em não condição drenada (para o rejeito plástico) após SSR
A Figura 4.4 e a Figura 4.5 apresentam uma comparação entre o MEF e o MEL. A
superfície crítica obtida no MEL foi sobreposta ao campo de deslocamentos da fase de SSR do
MEF. Nota-se que há uma boa concordância entre a superfície crítica do MEL e a região de
maiores deslocamentos da análise pelo MEF, tanto para o caso no qual se assume que os dois
tipos de rejeito têm comportamento drenado (Figura 4.4), quanto para o caso no qual se admite
comportamento não drenado para o rejeito plástico (Figura 4.5).
Figura 4.4 - Superfície crítica do MEL superposta ao campo de deslocamentos totais da SSR pelo MEF
para o caso de carregamento drenado
Figura 4.5 - Superfície crítica do MEL superposta ao campo de deslocamentos totais da SSR pelo MEF
para o caso de carregamento não drenado (para o rejeito plástico)
62
A Figura 4.6 apresenta as tensões normais efetivas e cisalhantes que atuam na superfície
crítica do MEL para a situação de carregamento drenado. A linha preta representa a própria
geometria da superfície crítica. Para fins de comparação, um caminho com a mesma
geometria da superfície crítica do MEL foi traçado na malha de elementos finitos. As tensões
normais efetivas e cisalhantes atuantes neste caminho apresentam boa concordância com os
valores obtidos pelo MEL.
Figura 4.6 - Tensões normais efetivas e cisalhantes que atuam ao longo da superfície crítica do MEL,
pelo próprio MEL e pelo MEF – carregamento drenado
63
A Figura 4.7 é análoga à anterior, mas apresenta os valores de tensões para a condição
de carregamento não drenado no rejeito plástico. Ressalta-se que, no trecho em que a
superfície crítica passa pelo rejeito plástico (48 m < x < 212 m), as tensões normais efetivas
apresentadas na Figura 4.7 correspondem à fase imediatamente anterior à redução de
parâmetros, pois a resistência não drenada do rejeito plástico é determinada com base nas
tensões (verticais) efetivas dessa fase. Nos demais trechos, são apresentadas as tensões
normais efetivas da fase SSR.
Nos dois casos, percebe-se boa concordância entre o MEL e o MEF, tanto para as
tensões normais quanto para as tensões cisalhantes
Figura 4.7 - Tensões normais efetivas e cisalhantes que atuam ao longo da superfície crítica do MEL,
pelo próprio MEL e pelo MEF – carregamento não drenado no rejeito plástico
64
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES
5.1 CONCLUSÕES
Foram realizadas análises de uma barragem de rejeitos com geometria hipotética, pelo
MEL e pelo MEF. A comparação indicou que o fator de segurança pelo MEL foi muito similar
ao seu análogo pelo MEF (fator de redução de resistência), tanto no caso drenado quanto no
caso não drenado.
A geometria da superfície crítica do MEL apresentou boa concordância com o campo
de deslocamentos da fase de redução de parâmetros do MEF.
As tensões atuantes na superfície crítica do MEL foram bastante similares às tensões
obtidas pelo MEF, para a mesma região. Com exceção de algumas regiões onde foi possível
visualizar a existência de saltos, esses últimos caracterizados pela concentração de tensões em
algumas transições de camadas em decorrência de mudança abrupta do módulo de elasticidade.
O FS e o SRF sofreram grande redução quando se considerou o rejeito plástico indo de
condição drenada para condição não drenada. FS reduziu em aproximadamente 46%, já SRF
reduziu em 49%.
No caso do rejeito plástico em comportamento não drenado, o FS e o SRF são menores
que o mínimo preconizado pela NBR 13028 (ABNT, 2017), já considerando o artigo 6º da
Resolução 4/2019 da Agência Nacional de Mineração (ANM). N o caso drenado esses valores
foram superiores.
Tanto para a análise drenada quanto para a não drenada pode-se dizer que ambas as
geometrias da superfície crítica obtidas a partir de equilíbrio limite são do tipo multiplanar, em
alguns trechos tende a se aproximar de um arco de circunferência e em outros de uma a reta.
Em ambas as situações a superfície crítica tangencia a camada de rejeito plástico na base
da estrutura, o que era esperado, uma vez que essa região apresenta propriedades de resistência
ao cisalhamento inferiores aos outros materiais que compõem a barragem.
Vale dizer que, para a condição de carregamento não drenada no rejeito plástico, a
superfície crítica por equilíbrio limite desvia do dique de partida.
65
Fazer uma análise de malha para as análises por elementos finitos e verificar a influência
da mudança no tipo e quantidade de elementos de malha na obtenção dos valores de
deslocamentos, deformações, tensões e no próprio SRF.
Utilizar um modelo constitutivo não linear elasto-plástico para os materiais utilizados
nas análises por elementos finitos.
Comparar a análise do tipo SSR com análises por equilíbrio limite que utilizem o estado
de tensões ao longo da superfície para determinar os fatores de segurança.
66
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