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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas


Departamento de História

Discente: Gabriela F L
Docente: Prof.º Dr.º Francismar Alex Lopes de Carvalho
Avaliação de América I

Questão 3: Na América espanhola, a inserção dos índios em formas de trabalho dependeu,


em grande medida, da instituição do tributo e da manutenção dos nativos em suas antigas
terras. Caracterize cada umas instituições espanholas que impeliam os índios ao trabalho
(escravidão, encomienda, repartiemento e trabalho livre), discuta sua relação com a
instituição do tributo e aponte as diversas reações dos indígenas:

A conquista realizada pelas grandes monarquias ibéricas no território americano, lhes


concedeu uma série de formas de enriquecimento, seja pela busca por metais preciosos, pelo
fato de seu território possibilitar uma boa rota econômica, atividades agrícolas etc. Essas
atividades logicamente geraram formas de trabalho. Diferentemente das colônias
portuguesas, na América espanhola a população nativa já tinha uma ideia sobre as formas de
trabalho compulsório, para além apenas da sobrevivência. Com organizações políticas
herdadas pelos mayas, incas e astecas, os nativos das colônias tiveram mais "aceitabilidade"
em relação às demandas espanholas.
Como vice-rei da ilha do Caribe, Cristóvão Colombo (1451-1506) instituiu sistemas de
trabalho codependentes, que logo, seriam introduzidos nas outras colônias espanholas. Como
parte da premissa medieval onde os conquistadores deveriam receber dos conquistados uma
quantia pela “perda”, Colombo instaurou o Tributo. Os ameríndios adultos deveriam - ao
menos - quatro vezes por ano pagar esses tributos com ouro em pó, os tributos indígenas e
suas extensões de forma de trabalho, eram maneiras de manter os nativos em suas terras, o
que garantiria uma anulação de interação entre grupos, para que a identificação desses nativos
fosse feita de maneira correta e os impostos assegurados.
A ação do tributo dependia dos chefes indígenas (caciques) de cobrar desses ameríndios o
pagamento do tributo, do qual era isento. Os grupos indígenas eram repartidos entre os
colonos de acordo com mérito e posição social, indígenas que se recusaram a pagar o tributo,
entravam no modelo de trabalho compulsório: a escravidão. Colombo justificava a ação
acusando os nativos de canibalismo e de cometerem idolatrias. Em 1503, após uma série de
evidências de maus-tratos aos nativos e seu declínio populacional, que foi ocasionado
também pelas epidemias europeias, a coroa decide pela proibição da escravidão sem a
justificativa de serem adquiridos através de guerras justas¹ ou por resgate². Assim se
estabelecem os dois pilares principais da colonização: escravidão e tributo.
Com a continuação da morte nativa pelas epidemias, guerras e trabalho intenso, a coroa
estabelece as encomiendas. As encomiendas eram uma espécie de contrato de trabalho
estabelecido pela coroa, onde um colono espanhol fidalgo ficará responsável pelo
recolhimento do tributo pago pelos indígenas, este fidalgo era reconhecido como
encomendero. Para incentivar a permanência dessas aristocracia na colônia, a coroa
determina que esses tributos irão permanecer com os encomenderos e, em troca, estes vão ser
responsáveis pela catequização indígena e por assegurar a proteção da colônia contra
invasores e indígenas hostis. A coroa permaneceu com apenas 20% das encomiendas, que era
a parte da demanda que os funcionários reais conseguiam atender.
As encomiendas duraram até 1542, com a criação das Leyes Nuevas (Leis Novas) onde as
novas concessões de encomiendas foram proibidas e as que já existiam, ao falecimento do
senhor encomendero, deveriam ser pagas diretamente aos cobradores da coroa, já que antes
essas encomiendas eram hereditárias. Apesar da proibição da coroa, algumas regiões
permaneceram sob o regime de encomienda: norte da Nova Espanha, Nova Granada, Chile,
Tucumán e Quito. Ainda praticando uma violência extrema, a coroa não incentivava as
encomiendas e instituiu mais um modelo de trabalho: o repartimiento.
O repartimiento era um trabalho indígena assalariado. De forma geral, os nativos eram
enviados por turnos ao seu local de trabalho, e depois poderiam voltar às suas aldeias. Os
deslocamento poderia ser feito de forma sazonal e esses grupos poderiam trabalhar em obras
públicas, minas e haciendas, que eram grandes áreas agrárias voltados para produção de
alimentos como: cacau, açúcar, tintura, trigo etc. Surgiram quando as demandas por metais
preciosos se tornaram escassas. Seu sistema cresceu tão fortemente que a elite colonizadora
se instituiu nas zonas rurais.
No México, o repartimiento nas minas - por exemplo - era mais ao norte, então a população
local (Chichimecas) não poderia ser introduzida na sociedade de trabalho, pois eram inimigos
dos colonos e são conhecidos por vários roubos na colônia. No Peru, o repartimiento era
conhecido como mita, os salários era muito baixos, então a população indígena recorreu ao
exercício das mingas, que consistiam no trabalho em dias não estipulados pela coroa, já que a
escala era trabalhar uma semana e descansar duas. As mingas funcionavam mais que o
regime de mitas. Em Potosí, foi introduzida em 1572, onde havia 94.000 nativos aptos ao
pagamento do tributo, onde 13.500 deveriam permanecer em Potosí por 1 ano, com um
rodízio de grupos de 7 anos.
Os tributos adquiridos pelo repartimiento eram recebidos pelos alcades mayores no México,
e Corregidores no Peru. Houveram resistências ao regime de mitas, os nativos fugiam, às
vezes até mesmo antes de chegar ao destino do trabalho. Por serem considerados forasteiros,
não eram obrigados a pagar tributo, o mesmo valia para os fugitivos que iam para as cidades
e as haciendas, que viviam como assalariados. Outros nativos com um pouco de poder
econômico, poderiam pagar a outros nativos para irem no seu lugar à mita, ou pagar ao
próprio empresário minerador diretamente.
No século XVII, a maioria dos trabalhadores eram livres, restando apenas alguns do
repartimiento e alguns africanos escravizados que participaram, principalmente, da produção
de vinho e açúcar no Peru. Apesar da presença de africanos escravizados na colônia, a coroa
considerava mais vantajoso assalariar o indígena do que comprar mão de obra compulsória da
África. A mita permaneceu no Peru mas, em 1633, houve a queda repartimiento no México, o
que cedeu lugar ao trabalho livre.

Fonte:
MACLEOD, “Aspectos da economia interna da América espanhola colonial: mão-de-obra;
tributação; distribuição e troca”, In: Bethell, História da América Latina v.2, p. 219-268.
Complementar:
RIBEIRO, Guilherme Leite. “A peonaje na América Espanhola” In. Revista Latino
Americana de História. 2015
MATOS, Fabiano Almeida. “O trabalho indígena na América Latina Colonial: Escravidão e
Servidão Coletiva” In. Revista Ameríndia: História, cultura e outros debates. 2007

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