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Genealogia

Possível casa de infância de Leonardo, em Anchiano.

Leonardo nasceu em 15 de abril de 1452, "na terceira hora da noite", [nb 6] de um sábado,[nb
7]
 no vilarejo de Anchiano, na comuna italiana de Vinci, na Toscana, situada no vale do rio
Arno, dentro do território dominado à época por Florença.[17] Era filho ilegítimo
de Messer Piero Fruosino di Antonio da Vinci, um notário florentino[18][19] e Caterina di Meo
Lippi, uma órfã de 15 anos,[20] camponesa[2] que pode ter sido uma escrava oriunda
do Oriente Médio.[nb 8][nb 9] Leonardo não tinha um sobrenome no sentido atual; "da Vinci"
significa simplesmente "de Vinci": seu nome completo de batismo era "Leonardo di ser
Piero da Vinci", que significava "Leonardo, (filho) de (Mes)ser,[nb 10] Piero de Vinci".[17]
Estudos genealógicos recentes afirmam que possuía cerca de vinte e dois meio-irmãos. [23]

Infância, 1452–1468

Leonardo da Vinci
Estátua na Galleria degli Uffizi

Pouco se sabe da infância de Leonardo. Provavelmente passou os seus primeiros quatro


ou cinco anos no vilarejo de Anchiano, e depois do casamento de sua mãe com um
lavrador de nome Accattabriga di Piero del Vaca, arranjado por Piero pouco após o
nascimento do filho,[24] mudou-se para a casa da família de seu pai então casado com uma
jovem de dezesseis anos chamada Albiera di Giovanni Amadori, [13] com a qual Leonardo
tinha uma boa relação, a quem chamava de madrinha, em companhia de seu avô, Antonio,
e tio, Francesco, na paróquia de Santa Croce em Vinci, em um ambiente bucólico
aconchegante, o que é significativo na personalidade de um Leonardo ligado a natureza. [nb
11]
 Albiera morreu muito cedo sem filhos. A morte do seu avô Antonio a quem muito
estimava deu-se logo após em 1468,[3] e Leonardo apesar de ilegítimo continuara filho
único no segundo casamento do seu pai Piero, com Francesca di Giuliano Lanfredini;
testemunharia a mais dois casamentos deste, até que em 1476, quando viviam
em Florença, Piero teve o tão esperado filho legítimo.[25] Em sua vida adulta, Leonardo só
se recordaria de dois incidentes de sua infância, um deles, tinha como presságio:
Parece-me que sempre fui destinado a me interessar muito profundamente por falcões,
pois lembro-me como uma de minhas primeiras recordações que, quando estava no berço,
um falcão desceu sobre mim e abriu-me a boca com a cauda, e me bateu muitas vezes
entre os lábios com ela.[13]
O segundo ocorreu enquanto ele brincava nas montanhas da região, e depois de vagar
por alguma distância entre as rochas projetadas acima, cheguei à boca de uma imensa
caverna, diante da qual me quedei por algum tempo estupefato, pois ignorava a sua
existência (…) e após ficar ali algum tempo, de repente despertaram dentro de mim duas
emoções — medo e desejo — medo da escura e ameaçadora caverna, desejo de ver se
haveria alguma coisa maravilhosa lá dentro. [13]
A infância e a juventude de Leonardo foram tema de diversas conjunturas históricas.
[26]
 Giorgio Vasari, biógrafo do século XVI que escreveu sobre os pintores
do Renascimento, conta como um camponês local teria pedido a Ser Piero que mandasse
seu filho pintar um quadro numa placa redonda ou escudo. Leonardo respondeu com uma
pintura de serpentes soltando fogo — ou mesmo um dragão — tão terrível e mesmo assim
tão surpreendente que Ser Piero decidiu vender a um negociante de arte florentino que,
por sua vez, a vendeu ao Duque de Milão. Enquanto isso, com parte do lucro da
venda, Ser Piero comprou uma placa, decorada com um coração penetrado por
uma flecha, que ele deu ao camponês.[27] Leonardo tornou-se um jovem instruído e sempre
referido pelos estudiosos como dono de uma bela aparência de fartos cabelos louros e
olhos claros, além de uma personalidade afável com o trato das pessoas. [28]

Ateliê de Verrocchio, 1469–1476

O Batismo de Cristo
Verrocchio e Leonardo, 1472–1475, Galleria degli Uffizi

Na sua adolescência, Leonardo foi fortemente influenciado por duas grandes


personalidades da época, Lourenço de Médici e o grande artista Andrea del Verrocchio.
Em 1469, com dezessete anos, Leonardo passou a ser aprendiz de um dos mais bem-
sucedidos artistas de seu tempo, Andrea di Cione, conhecido como Verrocchio (Olho
verdadeiro).[13] O ateliê de Verrocchio estava no centro das correntes intelectuais de
Florença, o que garantiu ao jovem Leonardo uma educação nas ciências humanas. Outros
pintores famosos que passaram por um aprendizado neste mesmo ateliê
foram Ghirlandaio, Perugino, Botticelli e Lorenzo di Credi. Leonardo foi exposto desde
cedo a uma vasta gama de técnicas, e teve a oportunidade de aprender desenho
técnico, química, metalurgia, mecânica, carpintaria, a trabalhar com materiais
como couro e metal, fazer moldes, além das técnicas artísticas de desenho, pintura,
escultura e modelagem.[29][30][31]
Boa parte da produção de pinturas do ateliê de Verrocchio era feita por seus funcionários.
De acordo com Vasari, Leonardo colaborou com Verrocchio em seu O Batismo de Cristo,
pintando o jovem anjo da esquerda, que segura a túnica de Jesus de maneira tão superior
ao seu próprio mestre que Verrocchio teria decidido nunca mais pintar. [27] Isto
provavelmente é um exagero; mas um exame atento da pintura mostra que existem
diversos retoques feitos sobre a têmpera utilizando a nova técnica de pintura a óleo, como
o cenário, as rochas que podem ser vistas ao fundo e boa parte da figura do próprio Jesus,
todas testemunhas da mão de Leonardo. [2]
O próprio Leonardo pode ter sido o modelo para duas obras de Verrocchio, incluindo
a estátua de bronze de David, no Bargello, e o Arcanjo em Tobias e o Anjo. Na altura
apenas se disse que a estátua de David tinha sido inspirada num dos mais belos
aprendizes do atelier de Verrocchio.[2]
Em 1472, com vinte anos de idade, Leonardo se qualificou para o cargo de mestre
na Guilda de São Lucas, uma guilda de artistas e doutores em medicina,[nb 12] porém mesmo
depois de seu pai ter montado seu próprio ateliê, sua ligação com Verrocchio permaneceu
tal que ele continuou a colaborar com ele. Aos poucos, as pessoas da corte passam a
fazer encomendas diretamente a Leonardo. Sua obra mais antiga a ser datada é um
desenho em pena e tinta do vale do Arno, feito em 5 de agosto de 1473. [nb 13]

Vida profissional, 1476–1513

A Adoração dos Magos, (1481–1482) — Uffizi. Em março de 1481, a Leonardo foi encomendada
esta pintura, pelos monges de São Donato Scopeto em Florença. O notário do mosteiro era o pai de
Leonardo, e é muito provável que tenha induzido os monges a contratar seu filho. [32]

Leonardo da Vinci pintando a Mona Lisa

Em 1476, Leonardo da Vinci, juntamente com mais três alunos do ateliê de Verrocchio,
foram acusados de sodomia;[nb 14] segundo a acusação referente a Leonardo, ele teria tido
relações homossexuais com Jacopo Saltarelli, um jovem de 17 anos muito popular à
época em Florença como prostituto.[13] Diante, no entanto, da falta de provas concretas que
confirmassem semelhante acusação contra Leonardo e outros três rapazes, além de um
deles ser membro de uma família com conexão aos Médici, o caso foi arquivado "com a
condição de que não fossem feitas novas acusações". [33][34] Porém, algumas semanas
depois, surgiu uma nova acusação em Latim, que foi retirada por falta de testemunhas
com a mesma condição de antes.[34] A partir desta data até 1478 não existem registros nem
de obras suas nem de seu paradeiro, [35] embora se costuma presumir que Leonardo tenha
estado no ateliê, em Florença, entre 1476 e 1481. [2] Em 1478 foi-lhe encomendada a
pintura de um retábulo para a Capela de São Bernardo, e a Adoração dos Magos, em
1481, para os monges de San Donato a Scopeto. Esta importante encomenda foi
interrompida com a ida de Leonardo para Milão.[36]
Em 1482, Leonardo, que de acordo com Vasari era um músico muito talentoso, [37] criou
uma lira de prata, com a forma da cabeça de um cavalo. Lourenço de Médici, dito "il
Magnifico", grande humanista, enviou Leonardo, a portar a lira como um presente, a Milão,
para selar a paz com Ludovico Sforza (dito il Moro, "o Mouro"), Duque de Milão não oficial.
[38]
 Foi nesta época que Leonardo da Vinci escreveu uma carta a Ludovico, citada
frequentemente, na qual ele descreve as coisas diversas e maravilhosas que conseguia
realizar no campo da engenharia, e informando o seu senhor que ele também podia pintar,
[39]
 apesar de muitas de suas ideias estarem no campo da fantasia e só um sistema de
rodete, idealizado em 1490, chegou a ser usado no campo de batalha. [40]
Leonardo continuou a trabalhar em Milão, entre 1482 e 1499. Recebeu a encomenda de
pintar a Virgem dos Rochedos para a Confraria da Imaculada Conceição, e a Última
Ceia para o mosteiro de Santa Maria delle Grazie. Enquanto vivia em Milão, entre 1493 e
1495, Leonardo listou uma mulher, chamada Caterina, entre seus dependentes, nas suas
declarações de imposto de renda. Quando ela morreu, em 1495, a lista dos gastos com o
funeral sugere que ela pode ter sido sua mãe. [41]
Trabalhou em diversos projetos para Ludovico, incluindo o preparo de carros
alegóricos e desfiles para ocasiões especiais, o projeto de uma cúpula para a Catedral de
Milão, e um modelo de um imenso monumento equestre para Francesco Sforza, o
antecessor de Ludovico. Setenta toneladas de bronze foram separadas para a sua
confecção; o monumento permaneceu inacabado durante anos, o que não foi comum na
carreira de Leonardo. Em 1492 um modelo de argila foi terminado; ele era maior, em
tamanho, que as duas únicas estátuas equestres do Renascimento, a estátua de
Gattemelata, em Pádua, e a de Bartolomeo Colleoni, de Verrocchio, em Veneza, e ficou
conhecido como o "Gran Cavallo".[42][2]
Leonardo começou a fazer os projetos detalhados para a sua fundição; [2] Michelangelo, no
entanto, sugeriu, de maneira indelicada, que Leonardo seria incapaz de fazê-lo. Em
novembro de 1494 Ludovico usou o bronze para fabricar canhões, visando defender a
cidade da invasão de Carlos VIII da França.[2]
No início da Segunda Guerra Italiana, em 1499, as tropas invasoras francesas
de Luís XII sucessor de Carlos VIII, utilizaram-se do modelo de argila do Gran
Cavallo como alvo para praticar tiro. Com a deposição de Ludovico Sforza, Leonardo,
juntamente com seu assistente, Salai, e seu amigo, o matemático Luca Pacioli, abandonou
Milão e fugiu para Veneza, passando por Mântua, sendo que em Veneza foi empregado
como arquiteto e engenheiro militar, planejando métodos de defender a cidade de um
ataque naval.[2]

Estudo de um cavalo, dos diários de Leonardo — Royal Library, Castelo de Windsor


Ao retornar a Florença, em 1500, foi recebido, juntamente com sua família e criadagem,
pelos monges servitas do mosteiro de Santissima Annunziata, onde tinha à sua disposição
um ateliê. Foi ali que, de acordo com Vasari, criou o desenho da Virgem, o Menino,
Sant'Ana e São João Batista — uma obra que conquistou tanta admiração que homens e
mulheres, jovens e velhos vinham vê-la, em massa, como se estivessem frequentando um
grande festival.[27] [nb 15]
Em 1502, Leonardo passou a trabalhar para César Bórgia, filho do papa Alexandre VI,
atuando como arquiteto e engenheiro militar, e viajando por toda a Itália com seu patrão;
[2]
 foi nessa viagem que conheceu Nicolau Maquiavel. Retornou a Florença, onde voltou a
fazer parte da Guilda de São Lucas, em 18 de outubro de 1503; recebeu a encomenda de
um retrato: a Mona Lisa, e passou os dois anos seguintes desenhando e pintando um
grande mural da Batalha de Anghiari para a Signoria,[2] enquanto Michelangelo foi
responsável pela peça que a acompanhava, A Batalha de Cascina.[nb 16] Ainda em Florença,
em 1504, fez parte de um comitê formado para transferir, contra a vontade do próprio
autor, Michelangelo, a célebre estátua do Davi.[45]
Em 1506, retornou a Milão. Muitos dos seus pupilos e seguidores mais importantes, no
campo da pintura, ou o conheceram ou trabalharam com ele naquela cidade,
incluindo Bernardino Luini, Giovanni Antonio Boltraffio e Marco D'Oggione.[nb 17] Seu pai
morreu em 1504, e como resultado, em 1507 Leonardo teve de voltar a Florença para
resolver com seus irmãos os problemas decorrentes da herança e das propriedades
paternas. No ano seguinte, retornou a Milão por solicitação do governador francês Charles
d'Amboise, para resolver problemas de trabalhos inconclusos, onde passou a viver em sua
própria casa, na região da Porta Orientale, na paróquia de São Bábila.
[2]
 Após mercenários suíços expulsarem os franceses em 1512, Massimiliano Sforza filho
de Ludovico, ascendeu ao poder, e Leonardo ficou sem patrono. No ano seguinte foi
convidado por Juliano de Médici, filho de il Magnifico, para viajar para Roma, que estava
sob o controle do papa Leão X, um Médici.[13]

Últimos anos, 1513–1519

Clos Lucé, na França, onde Leonardo viveu seus últimos anos de vida, até morrer em 1519.

De setembro de 1513 a 1516, Leonardo passou a maior parte do seu tempo vivendo no
Belvedere, no Vaticano, em Roma, período durante o qual Rafael e Michelangelo também
estavam em atividade.[2] Em outubro de 1515, Francisco I da França reconquistou Milão;
[46]
 Leonardo estava presente no encontro entre Francisco I e o papa Leão X, em 19 de
dezembro, ocorrido em Bolonha.[47][48]
Foi de Francisco que Leonardo recebeu a encomenda de construir um leão mecânico, que
pudesse caminhar para a frente, e abrir seu peito, revelando um ramalhete de lírios.[27] [nb
18]
 Em 1516, passou a trabalhar diretamente a serviço de Francisco, e foi-lhe concedido
o solar de Clos Lucé,[nb 19] próximo à residência do rei, no Castelo de Amboise. Foi aqui que
ele passou os três últimos anos de sua vida, acompanhado por seu amigo e aprendiz,
o conde Francesco Melzi, e sustentado por uma pensão que totalizava 10 000 escudos.[2]
Leonardo morreu em Clos Lucé, em 2 de maio de 1519. Francisco havia se tornado um
grande amigo; e Vasari relata que o rei segurava a cabeça de Leonardo em seus braços
quando este morreu — embora a história, amada pelos franceses e retratada em
pinturas românticas de artistas como Ingres e Angelica Kauffmann, possa ser mais lenda
do que realidade.[nb 20]

A Morte de Leonardo da Vinci, por Ingres (1818)

Vasari também conta que, em seus últimos dias, Leonardo teria pedido que um padre lhe
fosse trazido, para que se confessasse e recebesse a extrema unção.[27] De acordo com o
que pediu em seu testamento, sessenta mendigos seguiram o seu cortejo. Foi enterrado
na Capela de Saint-Hubert, no Castelo de Amboise.[50] Melzi foi o principal herdeiro e
inventariante, e recebeu, além de todo o dinheiro de Leonardo, todos os seus cadernos,
ferramentas, sua biblioteca e seus objetos pessoais. Leonardo também se lembrou de seu
antigo pupilo e companheiro, Salai, e de seu criado, Battista di Vilussis; cada um recebeu
uma metade das vinhas de Leonardo, sendo que de Salai tornaram-se posses as pinturas
que acompanhavam o mestre desde então. [19] Seus irmãos também receberam terras, e
sua criada recebeu um manto negro de bom material, com as bordas de pele. [51]
Cerca de vinte anos após a morte de Leonardo, o rei Francisco teria falado, segundo
o escultor Benvenuto Cellini: "Nunca nasceu no mundo outro homem que soubesse tanto
quanto Leonardo, nem tanto [por seus conhecimentos] de pintura, escultura e arquitetura,
mas por ele ter sido um grande filósofo". [52]

Relacionamentos e influências
Florença – contexto social e artístico de Leonardo
Ver artigo principal: Renascimento

Pequena Madona e o Menino de Verrocchio,c. 1470
Peça central de O Retábulo de Portinari,por Hugo van der Goes, feito para uma família florentina

Lourenço de Médici entre Antonio Pucci e Francesco Sassetti, afresco de Ghirlandaio

Leonardo começou seu aprendizado com Verrocchio em 1466, no ano em que morreu o


mestre do próprio Verrocchio, o grande escultor Donatello. O pintor Uccello, cujas
experiências com a perspectiva influenciariam o desenvolvimento da pintura de paisagem,
já era um homem de idade muito avançada, e os pintores Piero della Francesca e Fra
Filippo Lippi, o escultor Luca della Robbia, e o arquiteto e escritor Alberti já estavam em
seus sessenta anos de idade. Entre os artistas mais bem sucedidos da geração seguinte
estavam, além do próprio professor de Leonardo, Verrocchio, Antonio Pollaiuolo e o
escultor Mino de Fiesole, cujos bustos realistas são até hoje as evidências mais confiáveis
da aparência real do pai de Lourenço de Médici, Piero, e de seu tio, Giovanni.[53][54][55]
Leonardo passou sua juventude numa Florença decorada pelas obras destes artistas, e
pelos contemporâneos de Donatello, como Masaccio — cujos afrescos figurativos estavam
imbuídos de realismo e emoção, ou de Ghiberti, cujas Portas do Paraíso, folheadas a ouro,
mostravam a arte da combinação de composições figurativas complexas com fundos
arquitetônicos ricamente detalhados. Piero della Francesca fez um estudo detalhado da
perspectiva, e foi o primeiro pintor a fazer um estudo científico da luz. Estes estudos,
juntamente com o Trattato de Leone Battista Alberti, teriam um efeito profundo nos artistas
mais jovens, e especialmente nas próprias observações e obras de Leonardo. [53][54][55]
A Expulsão do Jardim do Éden, de Massaccio, mostrando Adão e Eva nus e
transtornados, abandonando o Jardim do Éden, criou uma imagem tremendamente
expressiva da forma humana, representada em três dimensões através do uso de luz e
sombra — algo que seria desenvolvido nas obras de Leonardo a ponto de influenciar a
história da pintura a partir de então. As influências humanistas do Davi de Donatello
podem ser vistas nas pinturas da velhice de Leonardo, em especial o São João Batista.[55]
Uma tradição recorrente em Florença era a de pequenos retábulos retratando a Virgem e
o Menino. Muitos eram feitos em têmpera ou terracota vitrificada, pelos ateliês de Filippo
Lippi, Verrocchio e da prolífica família della Robbia.[55] Leonardo foi contemporâneo
de Botticelli, Ghirlandaio e Perugino, embora fossem um pouco mais velhos que ele. Teria
conhecido todos no atelier de Verrocchio, com quem eles tinham ligações, e na Academia
dos Médici. Botticelli era especialmente preferido pela família Médici, e seu sucesso como
pintor era praticamente garantido. Ghirlandaio e Perugino eram prolíficos, e também
geriam grandes ateliês; foram responsáveis por comissões realizadas com competência,
para patronos satisfeitos, que apreciavam a habilidade de Ghirlandaio de retratar os
cidadãos ricos de Florença em grandes afrescos religiosos, e a habilidade de Perugino em
criar multidões de santos e anjos de inescapável doçura e inocência.[55]
Em 1476, durante o período em que Leonardo esteve ligado ao atelier de Verrocchio, o
pintor flamengo Hugo van der Goes chegou em Florença, trazendo o Retábulo de
Portinari e as novas técnicas de pintura do Norte da Europa que afetariam profundamente
os pintores florentinos do período. Em 1479 o pintor siciliano Antonello da Messina, que
trabalhava exclusivamente com óleos, viajou para o norte, em direção a Veneza, onde o
principal pintor da cidade, Giovanni Bellini, também adotara a técnica da pintura a óleo,
transformando-a rapidamente na técnica preferida do local. Leonardo também visitaria
Veneza algum tempo depois.[54]
Como dois arquitetos contemporâneos, Bramante e Antonio da Sangallo, o Velho,
Leonardo experimentou com projetos para igrejas planejadas centralmente, diversas das
quais aparecem em seus diários, tanto em plantas quanto vistas — embora nenhum
destes projetos tenha chegado a ser posto em prática. [55]
Os contemporâneos políticos de Leonardo foram Lourenço de Médici (il Magnifico), três
anos mais velhos que ele, e seu popular irmão mais novo, Juliano, morto na Congiura dei
Pazzi de 1478. Ludovico Sforza (il Moro), que governou Milão entre 1479 e 1499, período
durante o qual Leonardo foi enviado como embaixador em nome da corte dos Médici,
também tinha aproximadamente a mesma idade.[53][55]
Juntamente com Alberti, Leonardo passou a frequentar o lar dos Médici, e através deles
conheceu filósofos humanistas como Marsilio Ficino, proponente
do neoplatonismo, Cristoforo Landino, autor de comentários sobre os escritos
da Antiguidade Clássica, e João Argyropoulos, professor de grego e tradutor das obras
de Aristóteles. Outro contemporâneo de Leonardo que também teve seu nome associado
à Academia dos Médici foi o jovem e brilhante poeta e filósofo Pico della Mirandola.[54][56]
Embora costumem ser agrupados como os três gigantes do Alto Renascimento,
Leonardo, Michelangelo e Rafael não pertenceram à mesma geração. Leonardo tinha vinte
e três anos quando Michelangelo nasceu, e trinta e um no nascimento de Rafael, este
último teve uma vida curta, morrendo em 1520, no ano após a morte de Leonardo; já
Michelangelo continuou criando por mais 45 anos.[53][54]

Vida pessoal
Ver artigos principais: Vida pessoal de Leonardo da Vinci e Controvérsia sobre a
sexualidade de Leonardo da Vinci
Retrato de Isabella d'Este

Ao longo da vida de Leonardo, seu extraordinário poder de inventividade, sua "espetacular


beleza física", "graça infinita", "grande força e generosidade", "espírito régio e tremendo
alcance mental", como foram descritos por Vasari,[27] atraíram a curiosidade daqueles que o
cercavam. Diversos autores especularam sobre os vários aspectos da personalidade de
Leonardo; um deles, a sua adoção de éticas e práticas pessoais, que podem ser
ocasionadas de sua crescente admiração pela natureza e suas criaturas, como pode ser
exemplificado por seu vegetarianismo e o hábito, descrito também por Vasari, de
comprar pássaros engaiolados e libertá-los.[27][57][nb 21]
Leonardo teve muitos amigos que se tornaram profissionais renomados em seus campos,
ou que são célebres até hoje por sua importância histórica. Entre eles está
o matemático Luca Pacioli, com quem ele colaborou num livro na década de 1490, assim
como Franchinus Gaffurius e Isabella d'Este, a grande dama do Renascimento.[2] Além de
suas amizades, Leonardo mantinha sua vida privada em segredo. Sua sexualidade foi alvo
frequente de estudos, análises e especulações. Esta tendência já se tinha iniciado no meio
do século XV, e tomou novo ímpeto nos séculos XIX e XX, especialmente a partir
de Sigmund Freud.[58]

Assistentes e pupilos
Ver artigo principal: Leonardeschi

Salai, criado de Leonardo da Vinci, como São João Batista (c. 1514) — Louvre

Os relacionamentos mais íntimos de Leonardo foram com seus dois pupilos, Gian
Giacomo Caprotti da Oreno, apelidado Salai ou il Salaino ("pequeno diabo" na gíria da
época), que entrou para o seu convívio familiar em 1490. Depois de apenas um ano,
Leonardo fez uma lista de suas contravenções, chamando-o de "um ladrão, um mentiroso,
teimoso, e glutão", depois de ele ter roubado dinheiro e objetos de valor em pelo menos
cinco ocasiões, e gastar uma fortuna em roupas.[59] Ainda assim, em seus primeiros anos,
os cadernos de Leonardo contêm diversas pinturas do estudante, que permaneceu como
parte da família de Leonardo pelos trinta anos seguintes. [2] Salai também fez uma série de
pinturas, sob o nome de Andrea Salai; embora Vasari tenha alegado que Leonardo
"ensinou-lhe muito sobre pintura", [27] sua obra é geralmente considerada como tendo um
mérito artístico menor do que outros pupilos de Leonardo, como Marco
d'Oggione e Boltraffio. Em 1515 Salai pintou uma versão nua da Mona Lisa, conhecida
como Mona Vanna.[60] O próprio Salai era proprietário da Mona Lisa na ocasião de sua
morte, em 1525, e em seu testamento ela foi estimada em 505 liras, um valor
excepcionalmente alto para um pequeno retrato. [61]
Em 1506 Leonardo acolheu outro pupilo, o conde Francesco Melzi, filho de
um aristocrata da Lombardia. Melzi, estudante predileto de Leonardo, viajou com o tutor
para a França, onde esteve ao seu lado durante todo o fim de sua vida. Com a morte de
Leonardo, Melzi herdou as coleções, manuscritos e obras artísticas e científicas de
Leonardo, patrimônio que ele administrou fielmente a partir de então. [62]

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