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compreendendo a vida daouelas crianças, poderia

J:rilUIlUf, AfRODfSCENDfNCIA f EDUCACÃO ..ensinar com perfeição e sem coação", Considerava


ele as escolas como discriminatórias e opressivas, o
Que prejudicava o desempenho escolar dos
afrodescendentes. Portanto ambiente pouco adeoua-
do para o aprendizado dos pretos e pardos. O proje-
to do professor Pretextato foi acompanhado de uma
lista de assinatura dos pais dessas crianças solicitan-
do a escola em Questão (Silvia, 2000).
Os temas de interesse da população afrodes-
cendente e as particularidades da específlctdade da
população afrodescendente, na educação, têm sido
olhados com descaso por uma parcela significativa
o artigo discute a necessidade do referencial de de educadores, responsáveis pelos sistemas educacio-
;;:nra trato das temáticas da educação dentro de uma
t:t::J;:J
nais. O mesmo descaso ocorre numa parcela signifi-
~'3 Que contemple as origens africanas do povo
cativa da população em geral, dando-se o mesmo
L:L&"'biv e a história dos afrodescendentes. São explicitadas
nos movimentos sociais, partidos políticos e em al-
. 00- de africanidade, afrodescendência e a rels-
,~,-.Pd.7C com os temas educacionais. guns setores dos movimentos sindicais. Nutridas por
um pensamento de base universalista as alegações

'f:i:av;as-chave: Afrodescendência, Africanidade, contrárias às nossas reivindicações foram sempre


o:l::x:::~o de negros no Brasil problematizadas num campo da igualdade de opor-
tunidades de todos e da negação de existências de
--: Africoness, Mrodescendency ond fducotion sistemas de inclusão controlada e diferenciada. Sis-
tema este onde as regras etnocêntricas brancas não

strect: This paper deals with the theoretícal são denunciadas como tais e nem as sistemáticas de
~1Vrk of ethnici!y in subjects re/ated to educatíon. inferiorização da cultura e da população
us is on the African origins of Brazilians and on afrodescendente avaliadas como importantes. Não fa-
OIy of Afrodescendents. It contemplates the zem parte dos universos de análise os processos his-
cf...·-rdoDment of the concepts of African and tóricos, os resultados das estatísticas Q!.Ieindicam a
'endency and tbe relation oftheses concepts with
existência de problemas de ordem especifica étnica
c:i:r::3Jion in the perspective of citizenshíp and democracy.
LSIL ou então não Questionam os imensos silêncios rea-
: Mrodescendency, Mriconess, Block fducotion lizados no campo da educação sobre os diversos te-
mas relativos à população afrodescendente.
Desconhecem mesmo a existência e a importância
desses temas. Em suma o conjunto nunca admitiu a
o educador negro Pretextato dos Passos Silva existência das diversidades culturais e da incidência
~tou ao Ministério Público uma petição para a de desigualdades no tratamento dado a estas, desta
~ de uma escola polêmica, destinada a rneni- sobre os resultados educacionais e sociais colhidos
[.retos e pardos. No seu reouerirnento o profes- pelas diversas etnias. Nem mesmo a procura da ra-
extato argumenta Que, em sendo ele negro e zão da assimetria dos resultados étnico preocupou
os diversos pesouísadorcs ou formuladores de políti-
em Tecnologia pelo Instituto Politécnico de Lorrain e ;>ro- cas educacionais. Os conformismos e os descasos
~~d-,r da UFC.
processam a idéia vil de Que se trata apenas de um

EDUCAÇÃO EM DEBATE FORTAlEZA. ANO 23 • V.2 • N° 42 • 2001 • 5


problema de pobreza. sem Questionarem a produção presença dos afrodescendentes na educação somen-
diferenciada da pobreza entre as etnias e os proble- te a partir dos meados dos anos 1950. como resul-
mas em si. Além do mais persiste uma recusa do sis- tados dos processos de urbanização da sociedade
tema educacional em admitir a existência de um brasileira e de universalização do ensino público. Evi-
racismo à brasileira. portanto. distinto dos demais dências e resultados vários de pesouísas demonstram
de outras nações na sua formulação e expressão. mas tratar-se de mais um eoufvoco. cujos resultados re-
produzindo um sistema de dominação e opressão percutem nas perspectivas da compreensão do pre-
com resultados similares aos dos outros países racis- sente pela historia do passado [Lidia Cunha
tas; sistema Que reduz absurdamente o acesso aos I 999].[Silvia 2000]. [Ribeiro 200 I].
bens sociais para nós afrodescendentes e limita as Pessoalmente tinha-me dado consciência
possibilidades de expressão cultural e política. empírica deste eouívoco por diversas razões. Uma delas
Duas idéias dificultaram e impediram o avanço vinda da escolarização da minha mãe Eunice de Paula
do trato dos temas de interesse dos afrodescendentes. Cunha e de minha madrinha Zobeida Santos. forma-
nos últimos 50 anos pelo menos. Uma é consolidação das professoras primárias nos anos trinta em São Pau-
do ideário dos grupos dominantes na sociedade e na lo e parte de um grupo de professores negros da mesma
cultura nacional sobre a "democracia racial"; ideário Que geração. Além do mais. meu pai e seus amigos mili-
impediu em diversos setores uma reflexão mais acentu- tantes de movimentos negros dos anos 1920 e 1930
ada e problematizadora sobre as Questões das estrutu- também eram alfabetizados. mesmo as minhas avós o
ras étnicas vigentes na sociedade e sobre os problemas eram. o Que leva a história para o final do século XIX.
daí decorrentes no trato com as culturas e da educação. O problema desta percepção poderia ser levado a Ques-
Assessora e complementar ao ideário da democracia tionarmos onde se educaram diversos afrodescendentes
racial. esteve sempre presente a segunda idéia. a da de renome nacional e internacional e Que viveram no
basenacional miscigenada.como uniformizadora do ideal século XIX e início do XX. O problema da não-per-
de nação. e portanto negadora da particularidade étni- cepção da nossa participação retarda a correlação en-
ca. e muito menos de problemas na relação da particu- tre o registro das demandas educacionais e o enfooue
laridade com o todo. A miscigenação biológica é tratada da especificidade. como também a problematização
com propósitos da política. A idéia da Casa Grande e sobre os grupos étnicos nos confrontos dos cotidia-
da Senzala tornou-se modelo não somente na interpre- nos dos sistemas educacionais.
tação da sociedade como das razões políticas. Foram Entretanto como trato no artigo Pesouisss Edu-
esouecidas propositalmente as relações de produção cacionais em temas de interesse dos Atiodcsccndcntes.
representadas pelo eito. Confunde-se um universo bio- [Cunha Ir. Henrioue 1999]. os movimentos negros da
lógico com o político. mascara-se não somente a base década de 1970 foram fomentadores de uma preocu-
racista e etnocêntrica dessa interpretação. mas as posi- pação particular sobre problemática da educação e das
tiva. Embora apareça na eouação determinante do Bra- relações interétnicas. A partir destes movimentos so-
sil. tanto cultural como da constituição do povo. a idéia ciais. surge uma geração de educadores e pesouísa-
das três raças. estranhamente. somente uma aparece dores trabalhando as temáticas dos afrodescendentes
localizada como possuidora e depositária de processo nos sistemas de produção e transmissão da cultura.
civilizatório. Dentro deste ciclo de enfooue das Q! es ões educaci-
A História da Educação presta um desserviço onais sob o crivo da afrodescendência. anos 1989
ao não registrar e não problematizar sobre a presen- e 1990. introduzi os concei os e Africanidade e
ça dos afrodescendentes nos sistemas educacionais
e nas idéias sobre a educação anterior aos anos 50
Afrodescendência. Ambos os
uma ampliação da avalíaçã
... pretendendo
_ -' ':JaÇãodas popu-
-
do século XX. As idéias falham ao apresentarem a lações de origem africa . nal e nos siste-

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ornen-
mas educacionais. Os conceitos de africanidade e Afrodescendência e Africanidades Brasileiras. num
resul-
afrodescendência serviram de referência para uma de- processo não unicamente meu. presente em di-
iedade
zena de trabalhos de Mestrado e Doutoramento no versos trabalhos sobre a cultura brasileira e negro
o. Evi-
Ceará, Píauí, Pernambuco, São Paulo e Rio de no Brasil.
nstrarn
lanelro '. embora tenha existido apenas a divulgação O uso sistematizado e definitivo de Africani-
los re-
dos originais digitados de um texto de 1996 com o dades Brasileiras ocorreu em I 993. ouando junta-
o pre-
título Afrodesdendência e Africanidade Brasileira: A mente com professores da Universidade Federal de
:unha
condição necessária, porem não satkientc para com- São Carlos, Prof Drª Beatríz e Silva. Prof? Dr. Álva-
preensão da historia sociológica do povo brasileiro e ro Rlsoli, Profº Valter Silverio. apresentamos uma dis-
iência
nunca publicado. Este artigo apresenta uma versão mo- ciplina em educação como curso de extensão e
a delas
dificada do referido texto. A intenção do texto não também com validade de créditos de pós-gradua-
: Paula
está na ênfase conceítual, mas sim em apresentar as ção. Anterior a esta época havia es-crito um texto para
forma-
razões de um percurso na elaboração dos conceitos. um curso de reciclagem de professores da Rede Mu-
o Pau-
Tenho Que registrar Que os conceitos de africanldade nicipal de São Paulo. denominado: Não mais base
nesma
e afrodesdendêncía são dependentes do de Etnia, e zero para o estudo das Africanidades Brasileiras. Isto
IS mili-
Que este último permanece como problema nos deba- em 1991. no Quadro de trabalhos da ABREVIDA.
1930
tes sobre educação. Etnla e Raça. como terminologia entidade educativa do movimento negro de São Paulo.
avós o
e perspectiva teórica. fomentaram embates dentro da São fontes imprescindíveis para a elaboração destes
oXIX.
literatura educacional. Existem trabalhos Que oscilam conceitos os trabalhos de Muniz Sodré. Marco Au-
I oues-
entre um e outro. havendo mesmo o uso etnia / raça. rélio Luz e Clóvis Moura, para a crítica cultural e
dentes
O importante neste artigo a apresentar um enfooue. historiográfica negra brasileira. No campo internaci-
arn no
de caráter especifico. Que recolooue a problemática onal foram estruturais as leituras de Cheike Anta Diop.
o-per-
da cultura na orientação dos temas educacionais para Rene Depestre, Edouard Glissant e dos intelectuais
ão en-
a sociedade brasileira. Termino reafirmando Q!.Jenão da Revolução Haitlana.
ifooue
se trata de um problema novo. comecei relembrando As viagens através do Brasil e do Caribe
ização
o professor Pretextado e omitindo propositalmente a sedimentaram o caráter empírico das reflexões e exer-
otídía-
data da petição à Corte. no Rio de Janeiro. 1853; sen- citaram a observação da existência de etnias
do Que o Professor Pretextado implantou e trabalhou afrodescendentes. Foi marcante e significativo ter es-
s Edu-
sua escola por mais de 20 anos. Não foi o único. ou- tado na Guiana e na [arnaica. Os seminários da Guiana
tentes,
tros fazem parte da história dos movimentos sociais de 1988 constituíram marca fundamental de infor-
ros da
negros na luta pela educação e Que têm sido sistema- mação. onde se pode ver a elaboração cultural dos
'eocu-
icamente esquecidos pela literatura educacional afrodescendentes sob um ângulo de uma cultura uni-
ie das
rasileira. versitária não maciçamente branca, não abusivamente
os so-
eurocêntríca. dentro de um país onde o racismo não
ouisa-
é exercido na mesma forma de dominação e no mes-
íentes
s motivos mo sentido Que é dado na sociedade brasileira.
iltura.
A sociedade da Guiana é Afro-Indo-
ucaci-
Desde pelo menos 1990 Que venho funda- Ameríndia-Européia. com predominância Afro-
1989
entando conceitos e forjando estes dois termos. Indu. onde oitenta por cento da população provêm
ade e
destas duas etnias. Estas expressam fenomenal di-
:lendo iro (1995); Souza (1997); Pimentel (1998); Balestero (1998);
versidade cultural. Dentro de cada uma das etnlas,
popu- (1999); Silva (1999); Gomes (2000); Guia (1999); Matos
9~9!; Cruz (2000); Nascimento (2000); Conceição (2001); Pe- há diversas religiões e culturas. Existe na Guiam
slste-
200 I); Kiussan (2001); Lima (2001); Ribeiro (2001). uma liberdade de expressão étnica não pensável

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EDUCAÇÃO EM DEBATE • FORTALEZA •• ANO 23 ~ V. 2 ~ NQ 42 @; 2001 • 7
na sociedade brasileira. No entanto existe lá a ras universitárias. Certamente os intelectuais lo-
denúncia dos racismos. Não se pensa aoui na li- cais sentem outras restrições relacionadas com o
berdade de expressão das diversas culturas brasi- ex-colonlalisrno e o imperialismo. diferente das mi-
leiras. estas são raramente organizadas pelo nhas inquietações.
pensamento universitário. geralmente seouer apre- As universidades brasileiras não têm eoüldls-
sentadas ou minimamente reconhecidas. As diver- tância sistemática do pensamento europeu. Da for-
sas culturas são reprimidas. não representadas nos ma Que se dá o pensamento europeu recozido.
espaços públicos promotores de transmissão cul- recompilado não fertiliza, reduz, enfaixa. cristaliza e
tural. O Que está em discussão neste texto são as provoca a necrose pensada. No Caribe me vi livre
percepções sombrias Que os intelectuais brasilei- destes fantasmas. Do europeu compulsório em to-
ros conseguem ter destas culturas. Penso Que os dos os espaços e dimensões da cultura acadêmica.
intelectuais nacionais são míopes para estas cultu- Lá não há medo de Que o ritmo africano embale o
ras. Inexíste preocupação em organizá-Ias nos cen- pensamento. A reflexão pode ser dançada e cantada
tros de representação da cultura nacional. A título na voz da minha avó. As avós e avôs africanos exis-
de depoimento. devo dizer Que as duas primeiras tem no cotidiano do pensamento e são reconheci-
vezes Que não me senti sufocado. Que saí deste dos no cotidiano da vida. Lembramos Que no
estado de Quase asfixia, pela br anculdade pensamento africano mesmo o racionalismo mate-
conceitual sistemática e ideológica da cultura na- mático é representado nas formas simbólicas da dança
cional. foi Quando cursava mestrado em História e da arte. Entretanto os racismos. mesmo na Guiana,
em Nancy (França) e depois no Caribe. Sobretudo trabalham nos processos de dominação. Interessante
na Guiana, na Universidade da peouena cidade de e importante é o modelo Guianense de racismo. para
Georgetown, capital da Guiana. Outras experiên- refletirmos sobre a sociedade brasileira. Os racismos
cias posteriores, também significativas. de poder opõem hindus aos negros. Hindus, negros de cabe-
respirar. ocorreram nos Estados Unidos e na Áfri- los lisos. a Afro-negros de cabelos crespos. Tornam-
ca. Os brasileiros não conhecem. nem imaginam a se translúcidas as bases culturais dos racismos
sensação libertária de poder intelectualmente res- apagando as ilusões do espectro das cores brasilei-
pirar. O Europeu é compulsório no Brasil. Quase ro. Os racismos se expõem na sua real função. a de
somente ele (Europeu) pensa culturalmente. Quan- sistema de dominação, produzindo a necessidade da
do não diretamente. fica como fantasmas assom- produção da alienação cultural para facilitar sua
brando os pensamentos. Todos devem pensar naturalização.
através dele. ouer pelo menos pela obrigatoriedade Racismo Que no plano internacional opõem Eu-
bibliográfica. Não são lidos os intelectuais africa- ropeus a Guianeses. O Caribe negro. ex-colônla, a
nos nas universidades brasileiras. Nem mesmo re- Europa branca ex-colonízadora. As idéias de etnia
conhecem a existência destes. Nas Universidades são muito fortes na Guiana e no Caribe de um modo
do Caribe posso dizer Que sou negro. penso ne- amplo. Mostram Que racismos não tem nada a ver
gro. sem vetos de censura. sem precisar provar o com as idéias de raça. são processos de dominação,
terrorismo da afirmação, sem as desconfianças de construções temporais históricas.
estar traindo o espírito nacional. Sem Quererem O QUeestá em discussão nesta parte? ão são
me colocar no banco dos réus de um possível ra- as culturas brasileiras. mas as percepções Que os in-
cismo invertido. Melhor ainda, lá não preciso di- telectuais brasileiros conseguem ter desta. Percep-
zer Que sou negro, todos sabem e respeitam. As ções QUe instauram a produção da cultura nacional
vozes negras podem ter elooüêncía na organiza- aoui no singular. signifca n
o a síntese oficial.
ção do conhecimento e nas expressões das cultu- genitoras dos progra e ino e das práticas

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rís 10- culturais válidas. Progenitora do Que vai ser cursos sobre África e afrodescendência nas univer-
:om o pesouísado e admitido como novo no pensamento sidades e de programas de pós-graduação do País.
as mi- nacional. seja ele conservador ou revolucionário. Muito menos são assuntos temáticos de pesouísa:
Quais são os marcos exteriorizadores desses com estas tendências. alimentadas pela lnexistência
lüidis- pensamentos? Apesar das elooüentes defesas da cons- de literatura sobre o assunto nas bibliotecas nacio-
la for- tituição da nacionalidade brasileira a partir de "três nais. O desaparelharnento do intelectual brasileiro
izido. raças". as pluralidades daí resultantes tornam-se uma é expresso com o brilho do poema de Castro Alves.
aliza e redução constante dos índio e do negro aos precei- em Navio Negreiro. onde os Africanos imigrados
li livre tos da interpretação do branco. Branco como resu- forçada mente para o Brasil são tidos como originá-
m to- mo do pensamento ocidental dominante e reelaborado rios de uma suposta tribo de homens nus. Esta ima-
~mica. no Brasil. Pensamento Q!.Je.no seu centro. não tem gem da tribo dos homens nus perpassa toda a cultura
bale o ultrapassado nem a direita e nem esquerda, pela fon- Que elogíosas ex-
brasileira. Produz racismos. sendo ...
mtada te inspiradora do manual do racismo e machismo Que ceções são encontradas como são os casos de En-
5 exis- é a grande obra de Casa Grande e Senzala. Texto até xada e Lança [Costa e Silva 1992]. ou a produção
hecl- agora não abolido. seouer discutido Quanto a sua de Professores Doutores como Kabenguele
re no validade nos cursos de graduação. Texto lido e relido Munanga e Fábio Leite. na Universidade de São
mate- como fundamento. indicado. reescrito na versão mais Paulo. ou do SECNEB (Sociedade de Estudos da
dança sofisticada do povo brasileiro. visto como fundamen- Cultura Negra no Brasil) e companheiros da Uni-
uíana, to. mas não explicado como fundamento do Que e versidade da Bahla. As exceções são revertidas em
ssante para Quem. mas sempre com este ststus de funda- vulcões Quase extintos. para não haver crescimento
I. para mento. Fundamento do controle étnico-sexual-soci- ou reprodução das ousadias. São elogiosas e exem-
ismos al das massas. contra nós negros e índios. apesar dos plares faltas de interesse e apoio intelectual.
cabe- disfarces democráticos e intelectuais. A imagem de tribos de homens nus é referên-
mam- Ao pensamento nacional tornou-se sistemática cia conceitual do pensamento brasileiro. nos ditando
ismos a idéia do "escravo" como fator de produção. Não uma suposta ausência de cultura elaborada e desen-
asilei- temos os escravizados como fonte do pensamento e volvida dos africanos aoul escravizados.
. a de produção intelectual. isto fica relegado ao branco. o A Europa. Q!.Jeoperacionaliza as produções in-
rde da europeu magnífico. Na cultura brasileira o escraviza- telectuais nacionais. inexlste. é uma ídealízação, não
Ir sua do não pensa. não cria. não tem noção política e es- entretanto. percebida e articulada como tal. Mesmo
pecial. Não têm nem consciência de se ver como ser a percepção pobre e centralista da Europa. concen-
rn Eu- humano. como produtor de idéias. As referências fei- trada num ideal judaico-cristão liberal. não é sufici-
nla. a tas a africanos. descendentes de africanos ficam no entemente criticada para dar subsídios às percepções
etnia patamar das ações reatlvas, aos impulsos do imediato. da pluralidade nacional.
modo Somos produtores de uma cultura "Naive", simplória O paradigma das "três raças" fez o ameríndio
a ver e linda. Percebida como rica em artefatos de simplici- brasileiro igual aos chineses. japoneses. ou os ára-
iação, dade e improviso. Não de elaboração pensada e ali- bes e turcos iguais ao europeu. O triângulo mãe é
cerce centrado pelo uso da razão. Desconhecendo reduzido a uma linha e dois pontos. colocados de-
io são mbém as múltiplas facetas da razão. baixo da linha. trsansformados em pontuais então
os in- A redução branca das culturas negras no Bra- africanos e indígenas. Deixamos de analisar as ex-

=r- é produzida a partir da ignorância de parte dos clusões da produção intelectual como um ato de
cional rossos intelectuais sobre as culturas africanas. violência racista.
Iicial, Somos tidos como ignorantes pela ignorân- Serve como estorvo sistemático a idéia de raça
átícas deles. ignorância produzida. dada a ausência de ainda não suficientemente desconstruída na socieda-

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de brasileira. Sobre a idéia de raça, acentua-se uma agora esboçada ou executada, apesar das tradições
percepção idealista dos racismos, onde ele não tem democráticas em dizer Que o são. As Africanidades
um papel de dominação, mas sim de confronto raci- e Afrodescendências servem de anteparo à sistemá-
al. Confronto tido apenas como manifestação de es- tica da redução das interpretações históricas e cultu-
pancamentos e chacinas. Confronto não visto como rais sobre nós.
violência social nos seus detalhes mínimos e amplos.
Recopiamos da exclusão das análises dos racismos a
produção intelectual excludente das africanidades. A Mrodescendência e Mricanidade Brasileiras
miserabilidade negra brasileira não é tida como ra-
cista. A compreensão sobre o racismo brasileiro ain- Espero ter ficado caracterizada a necessida-
da é muito pobre, fruto de uma negativa sistemática de de conceitos Que rompam com o eurocentrismo,
em adrniti-lo como existente, importante, visto como com o racismo e precariedades de informação QUe
peça-chave das relações sociais-econômicas. Preci- caracterizem as percepções intelectuais sobre nós
samos ser atentos ao fato de racismo como ideologia negros na estrutura brasileira. Em muitos dos cur-
de dominação ter Que ser diferente de lugar para lu- sos sobre africanidade brasileira, tenho sido Ques-
gar. O nosso racismo é diferente dos outros, se cons- tionado se a nova história e os trabalhos do Sr.
trói de forma diferente. mas não é menos cruel. Não Darcy Ribeiro não têm exercido este papel de rup-
é menos nem mais racista. Enouanto na Europa e na tura necessária para a compreensão ampliada da
América do orte o racismo se elabora pela teoria participação do afrodescendente na história social
da supremacia do branco, no Brasil este se estrutura e cultural nacional. A resposta é não. Nem um nem
pela teoria da inferioridade do negro. Resultando a outro produziu os elementos essenciais para a rup-
visão QUea situação da po lação ne ra, nestes pa- tura, ambos continuam conceitualmente na base
íses, é admitida como conse - ê da dos racismos e zero para a história do negro brasileiro, para a his-
aQUifica como da incapacidade nossa. eeros e índi- tória dos afrodescendentes.
os, como atores sociais. retiran o a esponsabí A reanálise do escravismo não tem sido fei-
dos racismos. ta considerando este sistema antes de tudo como
A ausência dos discursos tí icos e • os ra- criminoso. A reanálise continua nos vendo como
cismos, dos discursos da superiorida e n eros e coisas. ão procura captar a nossa di-
tida aQui como sinalizadora da inexís ê 'a e e ão humana. A suposta novidade em matéria
blemas de ordem dos racismos. ea rdagem não imagina Que o meu bisavô inte-
substituídos p-or outros adeouados à rea id ec ai africano pensava do criminoso escravizador.
leira, onde existe uma maioria histórica ne ra. o ão em tomado a compreensão ampla do síste-
inferioridade do negro. As construções a . - a escravista e os ouilombos como produção das
Iam Quase no branco, trabalham entretanto a ar- a e a i 'as políticas. A nova história não tem na
ção da incapacidade social, das inaptidões nossas s a essência o imigrante africano como produtor
a civilização, para o convívio social salutar. e c. O i e1ectual. como um dos formadores de pensa-
negro é banido da cultura nacional. o incul o. entos políticos na ordem escravista. Sobre Sr.
Os conceitos de afrodescendências e Darcy Ribeiro me parece uma insistente reprise de
africanidades Brasileiras estão sendo elaborados Casa Grande e Senzala, cujo eixo central é uma
colocar-nos na história e na cultura brasileira. missão da miscigenação como elemento ponti-
exercermos na amplitude a pluralidade étnica neces- ficador. Eu não acredito nisto, penso QUe a misci-
sária para aprendermos histórica e culturalmen e o genação é um dado à parte dos processos
Brasil. Pluralidade étnica e cultural Que não está a é ideológicos de dominação. A miscigenação pou-

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-
lições ara o pacífico. O conflito existe pela A necessidade do conceito de afrodescendente
dades o sistema, ele se utiliza do racismo, vem da confusão formada em torno do conceito do
temá- '-,.:t':srno. c1assicismo e das ignorância produzi- negro. Torna-se o espectro das cores como
cultu- elementos articuladores das domina- complicador para definição de negro. Não fazem o
alienações. mesmo como dificuldade para uma resposta de defi-
nição de branco. Produzem-se problemas para a pos-
sibilidade de existência de pontos de coesão, teóricos
«endenle e práticos, dos descendentes de escravizados e de
africanos do Brasil. Produzem um obstáculo ideoló-
ssída- - Irodescendêncta é o reconhecimento da exis- gico em Que negros são os escuros, os demais par-
·ismo, "-=rtrn lf'IP uma etnia de descendência africana. Estaetnia dos e outras denominações, e estas restrições
o Q!.1e base comum dos membros do grupo as apresentadas em forma de teortaantropológíca ape-
·e nós etnias e nações de origens africanas e o de- nas para classificação de negros, não das diferenças
s cur- $~Yol\'.mento histórico destas nos limites brancas, impõem dificuldades Quanto às possibilida-
oues- CAJ--::Gicionantesdos sistemas predominantes de des de existência dos elementos de aglutinação e de
Io Sr. escravismo criminoso e capitalismo racista. Esta etnia coesões dos negros, pardos e mulatos, Quanto a etnia
e rup- - é única, é diversa, não se preocupa com graus de sobre tudo em relação a identidade étnica. O con-
da da mescla interétnica no Brasil, mas sim com a história. O ceito de Etnia Afrodescendente, acredito permitir a
social conceito de afrodescendência surge devido as contro- superação das dificuldades criadas. As
n nem vérsias criadas sobre a existência ou não de uma iden- afrodescendências são diversas e não se constroem
a rup- tidade negra no Brasil. Estaidentidade existe, entretanto em termos de fenótípos, ou em conceitos biológicos
I base ela não é única, não tem uma coesão monolítica. Mas, filtrados por elaboração em tomo da idéia de raça.
a his- vejamos, as identidades européias ou brancas no Bra- Temos Que notar Que os africanos e descendentes
sil são admitidas como existentes, no entanto não pas- são milenares na história da humanidade. Que o ne-
ío fei- sam pelos mesmos processos de ouestlonamento Que gro não, este é recente, como denominação. Que a
como as identidades negras. Raras são as vezes em Q!.Ieve- palavra raça existe apenas há 250 anos, antes tinha
como mos a pergunta sobre o Que torna os europeus uma outro significado, o de estrangeiro, aplicável a todos
.sa di- unidade cultural. A idéia de tradição greco-romana os grupos étnicos.
iatérla passa por pouca contestação. O Que assemelha irlan- No entanto, o conceito de afrodescendência
) inte- deses, alemães, suecos, portugueses, húngaros e enfrenta os mesmos problemas do conceito de etnia,
zador. iuguslavos? Quase nada, ou por Que turcos judeus e mas abre perspectiva de novas considerações sobre
siste- árabes são considerados parte da etnia branca no Bra- a participação diversificada dos afrodescendentes na
30 das sil e na europa não? O turco na Alemanha é considera- sociedade nacional.
em na do negro, é motivo de atos de racismo por parte do
idutor branco alemão. No entanto são de um modo geral
oensa- admitidos como europeus. Feita esta reflexão, cumpre As Mriconidodes Brosi lei ros
Ire Sr. dizer Q!.Ieo conceito de etnia é tomado como uma
'lse de ouestão da Antropologia política, tal como nos infor- Os trabalhos de Diop permitem uma interes-
é uma mam Anselle [Anselle, [. / Mbokolo, E. 1985] nos seus sante percepção da diversidade cultural africana,
ponti- estudos sobre tribalismo e nacionalismo na África. A dentro de uma unidade da matriz africana. A diver-
misci- delimitação da fronteira da etnia é fluente, temporal, e sidade é produzida pelos contextos históricos, geo-
essos depende das conseoüêncías políticas em conflito num gráficos e econômicos. Parece-me posssível, devido
I pou- determinado contexto histórico e geográfico. aos importantes contingentes de africanos imigra-

- - ==,..,_=-=~ ,_
EDUCAÇÃO EM DEBATE •
iiiiI

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dos para o Brasil, advogar as mesmas participações à reelaboração da base africana de música e percus-
nesta dinâmica da diversidade e unidade das cultu- são, sob a referência de novo contexto de disponibi-
ras afrodescendentes processados no Brasil, Os ele- lidades materiais. Não é uma construção simples,
mentos de base africana passam no Brasil pelas ingênua, casual. Seria impossível conceber tal instru-
restrições econômicas e políticas do escravismo e mento, sem uma elaboração sistemática, instruída de
do capitalismo racista. É essencial na compreensão bases dos conhecimentos complexos de processos
dos africanos brasileiros o entendimento das restri- racionais.
ções do político-econômico, uma vez Que admiti- A partir da reelaboração pensada sobre o Steel
mos Que a reelaboração destas culturas foi realizada Band se descortinou um novo horizonte para pensar
sob forças de pressões de dominação. É essencial o Candomblé, a Capoeira Angola e os Quilombos.
ao conceito de africanidade brasileira a idéia de São antes de mais nada reelaboração da base africa-
reelaboração. As Africanidades Brasileiras são na. A reelaboração abriu o caminho para pensar a
reprocessamentos pensados, produzidos no coleti- idéia de culturas afrodescendentes e da existência de
vo e nas individualidades, Que deram novo teor às um conjunto amplo, indo do pensamento brasileiro à
culturas de origem. base material da cultura brasileira.
A idéia de reelaboração é importantíssima, ela
tem o conteúdo da produção intelectual dos
Afrodescendentes. Ela introduz a idéia do pensado, o Que Nõo São os Mricanidades Brasileiros
do nacional, do produzido através de bases civiliza-
das importantes preexistentes. Todas as vezes Que exponho o conceito de
A reelaboração é o elemento dinâmico, parte Afrodescendência e de africanidades brasileiras, uma
da compreensão de novas realidades e dos novos série de Questões é levada, sobretudo, uma série de
embates políticos, ela é produção do novo. A proposições comparadas são elaboradas. O texto in-
reelaboração explica construções inexistentes nas troduz os conceitos de africanidades brasileiras, pro-
culturas africanas e presentes nas africanidades bra- posta necessária, no entanto não suficiente para a
sileiras. Entretanto, as bases constituidoras desta nova compreensão da sociedade brasileira. Não utilizam a
construção são dadas na diversidade cultural africa- idéia da suficiência nas críticas ao conceito. Um tra-
na. A idéia de reelaboração e a sua importância foi balho sistemático a partir do conceito de pluralidade
percebida Quando, em 1986, estava em viagem a Trin- permitiria a pretensão de suficiência.
dade e Tobago. Impressionou-me muito a apresen- Pergunta-se se as africanidades são centradas
tação de um grupo de Steel Band. O Steel Band são apenas nos africanos e afrodescendentes. Não, as
barris metálicos cortados e abaulados, através de um africanidades reconhecem as outras culturas, mas
martelo Que produz um processo de afinação. Sai daí vêem como essencial a compreensão das dinâmicas
um instrumento de percussão. São instrumentos pro- culturais nacional. As africanidades são produzidas
duzidos por grupos de afrodescendentes do Caribe, num diálogo com as culturas. de outras etnias pre-
vivendo em regiões portuárias. Dada a revolução in- sentes no Brasil.
dustrial, os portos recebiam grande Quantidade de As africanidades brasileiras não são a versão
barris metálicos. O Steel Band é um instrumento Que nacional do afrocentrismo?
produz os sons de todos os ouatros grupos de ins- Também não. As africanidades brasileiras são
trumentos de uma orouestra sinfônica. Trata-se de elaboradas para pensar o Brasil, não têm a mesma
um Quinto grupo de instrumentos com vários tama- construção do afrocentrismo. ão surgem como uma
nhos e formas, É um instrumento inexistente na Áfri- proposição de estar centrada na base africana. Ter
ca e na Europa, entretanto aparece no Caribe, graças como base não implica estar cen rada, sobretudo por-

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: percus- Quea África historicamente sempre fez trocas culturais da identificados como de menor importância, como
sponibi- e populacionais com outros continentes. Por outro toleráveis ou como existente de eliminação pelo. pas-
simples, lado, o afrocentrismo me assemelha a idéias sar do tempo. A singularidade brasileira do trabalho,
BI instru- funcionalistas e estáticas, preserva a cultura Africana. durante Quase 300 anos, ser sinônimo de escravo e
ruída de As africanidades são sistêmicas e dinâmicas. Esten- escravo assemelhado a negro não sofreu ainda a de-
recessos dem as culturas como em constante transformação. vida elaboração no pensamento nacional. Continua-
Temos também o problema da oposição entre o mos com os vetores dominantes no campo de um
e o Steel enfoque racial do afrocentrismo e étnico das marxismo dogmático e estranho, as particularidades
a pensar africanidades e das afrodescendências. As do processo histórico nacional. Temos por outro lado
ilombos. africanidades têm uma preocupação com o Brasil, sem as dificuldades dos grupos dominantes se reconhe-
se africa- a necessidade de ser uma contra posição ao cerem como tais, como dominadores, face ao discur-
pensar a eurocentrismo. Ela procura compreender a dinâmica . so sorrateiro de um espírito democrático. igualitário.
ência de de base africana no universo do escravismo e do ca- As necessidades ideológicas dos grupos domi-
'asileiro à pitalismo racista brasileiros. A preocupação não é nantes de um credo no universalismo e na modernidade
como uma teoria da África em contraposíção a uma criam visões conflitantes com as do particular, do lo-
teoria da Europa. As africanidades brasileiras pedem calizado, do regional e do étnico. São razões Que pre-
sobretudo um aprofundamento das idéias da Europa cisam ser percebidas e debatidas para construção da
e Ásia, para maior compreensão dos fe~ômenos da pluralidade democrática. Ademais, outro fator não per-
produção humana nos diversos continentes, das con- cebido na cultura brasileira e sobretudo na política
ceito de tribuições mútuas e menor ídeallzação da Europa e universitária é a do peso relativo da representação. A
ras, uma da Ásia e mesmo da África. etnia afrodescendente aparece sempre em desvanta-
I série de Tenho constantemente afirmado Que se tivés- gem numérica, de poder, de acesso a elaboração dos
I texto ln- semos pelo menos uma boa história da Europa nas discursos oficiais. Somos derrotados pela ausência pro~
ras, pro- escolas brasileiras, não seríamos sistematicamente ig- dutora e justificadora da precariedade do embate. Sem
te para a norantes sobre a África. Uma boa história européia oue enfrentem a razão fundamental da ausência. As
utilizam a deve ser rioufssirna em Informação sobre a África, razões são os racismos, as soluções são os programas
. Um tra- Ásia e América, dada a dependência da Europa des- específicos de formação, pesouísa e difusão do co-
uralidade tes continentes no seu passado, na sua constituição nhecimento nesta temática.
e desenvolvimento. Para a utilização e expansão dos conceitos de
[entradas afrodescendência e africanidades brasileiras, não se
ão. as apresentam fortes objeções de fundo teórico da pro-
Iras, mas Conclusões dução de conhecimento, somente objeções de cará-
[lnârnkas ter político. As estruturas do poder, de domínio do
'oduzídas Os racismos produzem justificativas de sua certo e do errado, ficam abaladas com o reconheci-
nias pre- existência, elaboram uma cultura Que prevê a sua pre- mento profundo das africanidades e afrodescendências
servação. As complicações deste sistema de domi- brasileiras. A verdade entra numa competição de do-
a versão nação não passam pela análise acadêmica amplificada. minação, os supostos conhecedores podem se con-
Produzem considerações fortes sobre os pensamen- fortar com as suas ignorâncias, .corn a face no espelho
eiras são tos acadêmicos, Que produzem a sua reprodução. dos racismos. São revelações Que podem emergir do
a mesma Os pensamentos guiados por estruturas racis- aprofundamento no conceito de afrodescendênci~ e
orno uma tas não foram ainda denunciados como tais com sis- de africanidades. São resultados Que abalam o eoul-
cana. Ter temática veemência.· Existe um medo nacional das líbrio político, o poder do conhecimento sai da esfe-
tudo por- consecüêncías desta denúncia. O~ racismos são ain- ra da exclusividade do branco.

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