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A história da estudante Maria Fernanda Pereira com o veganismo começou desde cedo, na

sua época de adolescência, precisamente por volta dos seus 14/15 anos, e que em breve
fará 20. O seu processo em virar vegana não foi da noite para o dia, como a maioria das
pessoas acreditam, mas sim, aos pouquinhos, ela conseguiu dar continuidade na sua
adaptação do estilo de vida, que é o veganismo.Ela relembra que “primeiro, eu parei com a
carne vermelha,depois segui para o frango e o peixe”. Por influência da mãe que já não
comia carne vermelha, ela se interessou cada vez mais por esse modo de vida, que vai
além da alimentação.

Desta forma, o que a motivou foi o tratamento que os animais recebem. Por ser ainda muito
nova na época, acreditava que não tinha uma consciência e um aprofundamento ideal para
a temática em questão. Ela lembra que “Eu sei que começou mais relacionado aos animais
do que ao meio ambiente, acho que na época eu não tinha maturidade para pensar numa
amplitude assim do assunto”.

A mudança no dia a dia da estudante quanto ao veganismo, foi em relação à cozinha. Maria
Fernanda diz “Olha, eu não sou uma pessoa que curte cozinhar sabe, eu não sou dessas
que vai atrás de receita e sou animada na cozinha”. Por não ter muito domínio no preparo
dos alimentos, ela acredita que uma das dificuldades é sim, ter que prepará-los, pois para
ela, não é uma atividade prazerosa. Para além desse desafio, ela ainda possui a síndrome
do intestino irritável,tendo que ter muita força de vontade. Ela afirma “eu não posso comer
qualquer coisa, eu acho que o que mudou foi que cada refeição é uma luta” sendo assim,
ela deseja não só ter mais facilidade para fazê-los mas também gostaria de ter prazer no
que come, ela afirma “algo que não seja só tranquilo de fazer mas que me dê prazer de
comer né, porque o que eu acho que não dá para perder, é o prazer de comer.”

Por ser uma temática que ainda pode ser pouco acessível e popular na vivência de muitas
pessoas, não só na Europa mas também no Brasil e em vários lugares da América Latina,
Maria Fernanda Pereira quando foi questionada acerca desse aspecto, afirma “Eu acho que
não, eu acho que a adesão ao veganismo vem muito dessas fontes que a gente consome
na mídia.”Assim, mesmo que atualmente consigamos obter cada vez mais informações, não
necessariamente a temos com qualidade. Sendo assim, a estudante afirma que “acho que
falta informação e falta uma adesão ao movimento de forma real, de entender o sentido,
não só dos animais, mas também do meio ambiente e, de movimentos que ele não prega e,
o capitalismo não é um deles.”

Para se falar mais sobre este assunto, é necessário pensar para além dos alimentos em
questão, é preciso também se explorar o reino animal e o meio ambiente, porque o
veganismo é muito mais do que cozinhar sem consumir carne, mas sim, um estilo de
vida.Para Maria Fernanda Pereira ela diz“Para mim, na minha opinião, é muito mais,porque
mesmo que a gente olhe só pro mundo animal, a gente não tá olhando muito para essa
questão ambiental, por mais que eles estejam interligados, eu acho que não é a mesma
coisa na hora de pensar no impacto”. Desta forma, mesmo que haja impacto no mundo
animal, as consequências no meio ambiente são mais ferozes, e estas não são tratadas
com a sua devida importância. Para a estudante, ela afirma” esse movimento não pode
estar relacionado ao capitalismo, e ele não pode estar atrelado ao lucro excessivo em cima
dos animais, em cima do meio ambiente”.

Já a estudante Flávia Piason do curso de Ciências da Comunicação, não somente é


vegana, mas como a sua mãe também, já o irmão e o pai são vegetarianos.Flávia iniciou a
sua história com o veganismo há quase 4 anos, completando-o em novembro deste ano.

Sendo questionada sobre as dificuldades do início da sua transição, ela afirma “Eu não
achei difícil pessoalmente, porque as minhas motivações me ajudaram a persistir e a
continuar tentando sempre, mas eu vejo as dificuldades que todo mundo tem, que são por
exemplo, encontrar as opções nos lugares, supermercados e restaurantes. E também
Principalmente com a família, que as pessoas não entendem o porquê, e não entendem
essa mudança tão radical, então essas, são as partes mais difíceis, mas, quando tem a
motivação ali presente, são mais importantes que os desafios. Então, tem as dificuldades
mas não considero que foi difícil.”Eu tenho uma consciência mais da parte ambiental
também, então todos os meus hábitos eu tento sempre adaptar para que eu não tenha tanto
impacto no meio ambiente.O plástico por exemplo, eu tento reduzir o máximo possível e as
roupas também, então eu passei a consumir muito menos de fast fashion, que geralmente
impactam muito mais”.

Para quem deseja adotar esse modo de vida, o ideal é que as mudanças sejam feitas
gradualmente. Assim, foi com a Flávia, e esta afirma “ A minha transição foi bem devagar,
no sentido que parei de comer carne 1 ano e meio e, depois que eu virei vegana. Então foi
devagar no sentido que não foi do dia para noite”. Os hábitos dessas pessoas que vivem
esse estilo de vida, requerem

Quem deseja mudar a sua alimentação, deve então ter apoio de uma nutricionista, assim
como Flávia que teve apoio da sua. Sendo assim, a estudante afirma que “Quando eu parei
de comer carne, eu tava indo numa nutricionista e ela me deu as dicas para ter a parte de
proteína, mas eu ainda comia frango e peixe, então não foi uma mudança super radical,
entretanto depois não tive mais esse apoio, mas eu sempre pesquisei bastante informação
sobre nutrição,que é uma coisa que me interessa “ Para as pessoas que não possuem um
conhecimento a fundo sobre o veganismo e vegetarianismo, generalizam os adeptos de
“nossa vegano é desnutrido, não tem proteína e tal”, afirma Flávia Piason.

Com uma alimentação mais restrita que é baseada no veganismo e no vegetarianismo, é


normal que os adeptos possam sentir que o corpo mude fisicamente, no entanto para Flávia
foi diferente, e ela afirma: “ Não muito, porque como eu falei, a minha alimentação não
mudou drasticamente”. Entretanto, como ela afirma que o corpo a nível físico não obteve
muitas alterações, mas o que mais se modificou em sua vida, foi internamente, Flávia
explica que” acho que se eu senti que mudou foi para melhor,porque me dá mais energia
mesmo, realmente depois que eu mudei eu senti que tenho mais energia, eu fico mais bem
disposta, eu me sinto melhor”.

Na sua grande maioria, os adeptos do veganismo e vegetarianismo tem uma relação de


muito respeito com os animais e com a natureza. Desta forma Flávia Piason afirma “Como
eu disse, eu observei que não era uma relação com um amor muito verdadeiro né, até num
certo ponto. Porque não quero machucá-los”. A consciência que os veganos possuem para
com o meio ambiente e os animais, ultrapassa a relação entre os seres humanos,
possuindo assim um vínculo mais equilibrado com a natureza. Flávia explica que “como eu
vejo como as minhas ações impactam, eu presto muito mais atenção nisso.Se eu tomo uma
atitude de uma determinada forma, como isso impacta nos outros e no mundo essa noção
que eu faço parte de uma coisa maior”.

O veganismo ultrapassa a questão alimentar, indo em direção a questão da


responsabilidade social. Muitas pessoas que não possuem conhecimento desse modo de
vida, acabam não possuindo conhecimento sobre esse aspecto, e a estudante Flávia
explica sobre “Eu acredito que a partir do momento que uma pessoa sabe de todos os
impactos que ocorrem, não estou falando que ela tem que virar vegana, mas sim, de ter
uma consciência, de fazer escolhas mais assertivas para o meio ambiente e para a
natureza, encarando esse impacto que está ocorrendo, de forma mais consciente”.

É de salientar, que por mais que o veganismo defenda o apoio a natureza, não é uma
verdade absoluta, porém pode ser um caminho como afirma Flávia”É muito chato essas
pessoas que só porque eu acredito em uma determinada coisa,acham que todo mundo tem
que acreditar. Só porque eu acredito que é o certo.E não é porque funciona para mim,que
funciona para os outros.”

Você acredita que num mundo ideal, toda gente seria vegana?, se sim, é por motivos
científicos ou por motivos morais? e quais são as fontes que a levaram a pensar dessa
forma, ou seja, acredita que isso é sustentável para a humanidade.
Há alguns adeptos que acreditam num mundo ideal com base no veganismo, há uma parte
que acredita que esse modo de vida é a verdade absoluta. Desta forma, a estudante Flávia
afirma ”Para mim, seria. Eu acredito que sim, pensando muito utopicamente, mas acho que
isso não vai acontecer muito cedo pelo menos. Mas eu acho que quanto mais pessoas
forem, melhor.” Questionada se é por base científica ou por motivos morais, a estudante
explica” eu já assisti a vários documentários, eu já pesquisei bastante sobre os impactos
que a agricultura animal tem no planeta, eu acredito que o veganismo traz o melhor,
comparado com o estilo de vida que as pessoas tem agora, consumindo tudo que
consomem”. O estudo para quem vivencia esse estilo de vida, é o principal meio para se
aprofundar cada vez mais e fazer escolhas com mais assertividade para si que vão refletir
no planeta. De acordo com isso, Flávia diz”as coisas que eu tenho para acreditar nisso, são
esses documentários, esses dados que já li, que tem bastante coisa na internet, que fala
essas partes ambientais.

Andreia Lopes é nutricionista e licenciada em Ciências da nutrição e alimentação pela


Universidade do Porto. Quando questionada sobre as principais dúvidas dos seus
pacientes, acerca do veganismo e vegetarianismo, Andreia afirma” Muitas pessoas
questionam se poderão ter uma dieta vegetariana que seja nutricionalmente adequada para
si, ou se poderão incorrer em défices nutricionais pelo facto de quererem adotar uma
alimentação vegetariana”.

Assim, ter o apoio de uma nutricionista de forma constante, é fulcral para um processo
alimentar saudável, de quem deseja fazer a transição, isto é, tanto para o veganismo quanto
para o vegetarianismo.Efetivamente, Andreia ainda afirma que “algumas receiam não
consumir proteína suficiente, ou ferro, ou mesmo engordar porque uma alimentação
vegetariana tem muitos hidratos”.

Por não se ter um conhecimento muito aprofundado, diversas pessoas desconhecem que o
vegetarianismo é o ideal para todas as fases da vida. Por isso, a nutricionista explica
que”sabemos que uma alimentação vegetariana, desde que bem planeada, é adequada
para todas as fases da vida, e pode até ter benefícios em termos de saúde. Realço a
questão do bem planeada”.

A falta de informações sem um aprofundamento correto, tem como consequência bastante


desinformação, criando assim um debate superficial acerca do tema . Desta forma, a
nutricionista diz “É preciso ter em atenção as especificidades de cada fase do ciclo de vida,
de cada indivíduo em articular, e adequar, e daí a importância do nutricionista no
planejamento de uma dieta vegetariana equilibrada.”

Quando questionada se o veganismo e o vegetarianismo são a solução para uma


alimentação mais saudável para as pessoas. Andreia inicia acerca do veganismo,
explicando que”Podem ser ou não. Em primeiro importa destacar a diferença entre estes
dois termos. Veganismo vai muito para além da forma de alguém comer, é um estilo de vida
que procura excluir, dentro do possível, todas as formas de exploração e crueldade animal
(neste ponto inclui-se por exemplo a roupa que se usa).

Já abordando sobre o vegetarianismo, ela diz” Já no caso de alguém ser vegetariano estrito
falamos de alguém que não consome produtos de origem animal, não havendo referência
ao estilo de vida da pessoa”

Muitas diferenças são explicadas com um maior embasamento, como as que são
mencionadas por Andréia, porque na sua grande parte, os nutricionistas têm uma
autoridade no assunto, diferentemente de um conhecimento adquirido somente na
internet.Assim, Andreia afirma que “Nos alimentos de origem animal que normalmente são
excluídos destaco os mais óbvios, como carne, peixe e ovos, mas também por exemplo o
mel, que sendo produzido pelas abelhas, não é consumido por alguém que segue um
padrão alimentar vegetariano estrito”.

Para que o paciente seja o mais saudável possível na sua alimentação, Andreia sugere”Se
eu comer apenas batatas fritas todos os dias serei saudável? Estarei a contribuir para a
minha saúde? Então tudo tem um contexto”.

Em particular, ela explica também que não é porque funciona para um indivíduo, que vai
funcionar para todos os demais, a nutricionista também diz”É muito importante as pessoas
perceberem que o saudável é algo muito individual e complexo e qualquer que seja o
padrão alimentar que escolham seguir, tem que ser adequado a elas e tem que ser feito
com conhecimento e consciência

Se esses sistemas alimentares são para ficar a longo prazo na vida dos indivíduos, ou se é
somente uma moda, iremos perceber ainda mais à frente. Já no aspecto da nutrição, se
ainda é um tabu ou não nesta área, Andréia nos diz”é um pouco, eu diria, mas tem vindo a
ganhar terreno nos últimos anos. Há muito desconhecimento, não só de nutricionistas mas
de profissionais da área da saúde no geral”.

Indo mais além, o facto de não se aprofundar cada vez mais no assunto, pode acarretar um
comportamento de desconfiança nas pessoas, fazendo assim, com que ainda seja um
tabu.Desta forma, Andreia afirma “ A ciência evolui muito rápido, e no que à nutrição diz
respeito, entendo que às vezes seja difícil separarmo-nos das nossas crenças individuais.
No entanto, enquanto profissionais de saúde temos de procurar atualizar os nossos
conhecimentos, informar de forma adequada e respeitar a escolha da pessoa.”

Questionada acerca dos sistemas alimentares vegetariano e vegano, se estes influenciam


no ambiente em que Andreia vive, ela diz” Segundo a Lancet, documento de Janeiro de
2019, a transformação para uma alimentação saudável em 2050 requererá várias
mudanças alimentares, incluindo uma redução de mais de 20% no consumo global de
alimentos menos saudáveis, como carne vermelha e açúcar”.

É credível que no futuro, muitos indivíduos tenham uma alimentação baseada em alimentos
cada vez mais saudáveis, como afirma Andreia”aumento superior a 100% no consumo de
alimentos saudáveis, como frutos oleaginosos, fruta, legumes e leguminosas.”

Para se ter uma dimensão acerca da problemática dos impactos no meio ambiente, ter
atitudes benéficas e uma consciência das escolhas que podemos ter no nosso dia a dia, é
que fazem a diferença. A nutricionista afirma,”ainda nestes, ter em atenção aqueles que
possam contribuir para um maior aumento da emissão de gases com efeito de estufa, como
café e chocolate, que se encontram quase ao mesmo nível da carne de carneiro e cordeiro.”

Para aqueles que ainda não conseguem ter uma clareza maior do assunto, Andreia salienta
que “Temos mesmo de entender o contexto, e que a sustentabilidade também diz respeito a
consumir alimentos produzidos localmente, da época, etc.

05. Caso a pessoa queira mudar de alimentação para o vegetarianismo ou veganismo,


como você sugere a forma que ela faça essa mudança?
Em síntese, a transição sugerida pelos nutricionistas, é que seja gradual, e não de uma
forma radical. Para quem deseja fazer a transição para o veganismo e vegetarianismo,
Andreia orienta”Começar por perceber que a carne ou peixe deverão ser substituídos por
leguminosas e derivados e não por legumes. Ou seja, num prato representativo de um
padrão alimentar omnívoro teríamos ½ do prato com legumes, ¼ com carne/peixe/ovos, ¼
arroz/massa/batata”.

Sendo assim, é importante reforçar quais os tipos de alimentos mais ideais para se
consumir, e ir cozinhando de acordo com o nosso gosto em particular.Andreia explica”Eu
diria, de uma forma geral, que numa alimentação vegetariana os temperos são mais
importantes do que na omnívora. Isto porque a carne e peixe já têm um sabor que, por si
só, é mais intenso do que o do feijão ou grão, por exemplo”.

Por fim, a nutricionista Andreia sugere que é demasiado importante, “E, sempre que
possível, procurar apoio de um nutricionista de forma a que a alimentação seja adequada
para a situação de cada pessoa e que a informação que recebe seja fidedigna”.

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