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Olá!

Queria por favor que você


se apresentasse e contasse
brevemente a sua história e como
chegou a ser a nutricionista que é
hoje e o que defende hoje.

Sou Gisela Savioli, nutricionista, fitoterapia, jornalista


e escritora. Nutrição é a minha segunda carreira,
comecei a faculdade de nutrição aos 45 anos. E foi
muito interessante porque vim de uma área de business
para a área da saúde, meu marido já era médico há
muitos anos, e aí eu comentei sobre meu interesse em
fazer faculdade de nutrição. E ele me deu o maior
apoio, aliás, é meu grande incentivador de tudo.

Quando você vai estudar com 45 anos, é totalmente


diferente de quando você saiu da adolescência.
Eu digo muito para mim que Deus não escolhe
os capacitados, mas capacita os escolhidos. E,
indiscutivelmente, quando você vive pelos olhos da fé e
reconhece o sobrenatural, você percebe Deus falando
com você. Foi um chamado.

Hoje, está muito mais claro na medicina integrativa


olhar o ser humano como um todo. Mas é o que a
nutrição funcional sempre fez, e isso me encantou.
Quando eu tratava as pacientes, eu tratava como um
todo. E não eram todas que chegavam assim: “doutora,
eu tenho uma notícia tão boa, estou grávida”. Eu dizia:
“parabéns” e elas respondiam que estavam tentando
engravidar há seis anos. Aí, comecei a prestar atenção
nesse lado.

Sabemos que o meio ambiente é responsável por 70%


do aparecimento das patologias. Sempre falo assim:
“a conta sobra para gente, né?”. Porque é nossa
responsabilidade de ligar ou desligar genes de saúde
ou doença durante o nosso período de gestação. E
isso vai perpetuar até a terceira, quarta geração dessa
criança. É aí que entra a epigenética, que eu traduzo
como a misericórdia de Deus.
Depois da pós em nutrição funcional, fiz fitoterapia,
também com a visão funcional, que quando terminei,
comecei a ir para os Estados Unidos, na fonte, porque
eu estudava no Instituto de Medicina Funcional, onde
tirei a minha certificação. Passei a viajar e colher
informações.

A primeira vez que eu fui falar que leite de


vaca era para bezerro, o conselho de ética
de nutrição me chamou. Que eu não podia
estar falando que glúten não era do bem.
Mesmo apresentando pesquisas de ponta,
com pesquisadores internacionais. Corri o
risco de estar tão na frente que as pessoas
não entendem. Mas o mais importante, é
que eu trato o paciente e ele fica bem.

Hipócrates já dizia que precisamos


fazer do nosso alimento o nosso
medicamento. Porém hoje
vivenciamos uma epidemia de
adoecimento e medicalização. Qual
é a nossa situação atual de uso de
remédios e doenças e como isso
pode estar ligado?
Precisou passar mais de 2000 anos para que em
2019 aquela famosa revista Lancet comprovasse
cientificamente que comer inadequadamente mata mais
que tabagismo. Para pra pensar, um artigo falando
que comer errado mata mais que fumar? Esse artigo
bárbaro passou por 195 países.
Cobriu os anos de 1990 até 2017.

Fiquei chocada quando li que, em 2017, 11


milhões de pessoas morreram no planeta em
consequência de deficiências nutricionais
causadas por escolhas alimentares
inadequadas. Por tabagismo, foram 7
milhões de vítimas.

Então, se conclui que comer mal, mata mais que fumar,


esses são os números. Porém, tivemos 255 milhões de
vida útil que foram encurtados pelo mesmo motivo.
Como assim?

Existe uma ferramenta na saúde pública chamada


DALY. Só para vocês entenderem, a expectativa
de vida aqui no Brasil mudou para 73 anos desde
2019. Então, presume-se que quem nasceu em 2019
precisaria viver até essa idade bem. Mas, durante toda
a vida dela, não fez nem os exames de rotina, aqueles
de picadinha no dedo.

E agora? Boa parte das pessoas que têm diabetes


tipo 2 não sabem e vivem como se não tivessem essa
doença, vão descobrir somente quando o médico
chega e diz: “Sinto informar que o rim pifou, você vai
entrar em diálise”.
Inclusive, a indicação maior de hemodiálise no Brasil é
por diabetes tipo 2. Fora isso, a diabetes causa mais
danos. Uma ferida no pé pode evoluir por causa dela.
No mundo, um membro inferior é amputado a cada 30
segundos. Então, uma pessoa que tinha tudo pra viver
até os 73 anos, com essa diabetes, terá qualidade de
vida?

São esses anos que são colocados nessa ferramenta


(DALY) e em 2017, tivemos 255 milhões de vida útil
encurtados.

A alimentação é tudo, é soberana. Nutriente


dá inteligência às nossas emoções.
Medicamento é parceiro, viu? Mas se a
gente junta medicamento, estilo de vida e
nutrição, uau, a gente pode diminuir muito
a dose e consequentemente os efeitos
colaterais que a gente sabe que esses
remédios possuem. Remédios psiquiátricos
engordam muito. O que muitos deles fazem
é tentar deixar a serotonina mais tempo no
cérebro evitando que ela degrade.

Só que aí fica a minha pergunta para o psiquiatra: de


onde vem essa serotonina? Do além? Se a pessoa não
está comendo o precursor dela, o triptofano, magnésio,
b6, um monte de outras coisas, não vai formar
serotonina. Por isso, tanto medicamento não faz efeito,
e isso é algo que está nesse livro, Alimente bem as
suas emoções, em que o Roque escreveu o prefácio e
colocou: enquanto a nutrição for negligenciada, muitos
medicamentos não farão efeito.
Estávamos conversando esses dias com um paciente
que emagreceu muito. Legal. Mas o médico é incapaz
de olhar a medicação. E não é só ele. Tenho muitos
pacientes que tratam câncer e vem para mim dizendo:
“doutora, mas não me falaram nada de comida, mas
sei que tem importância”. Aí eu tomo conta desta
parte.

Em sua avaliação, o que perdemos


quando não olhamos para os
alimentos como nossos melhores
aliados. O que está acontecendo
com as mulheres em especial em
termos de adoecimento, cansaço e
exaustão?

A nutrição é simples, é barata. É de acesso.


Comer bem é barato. Vai lá na feira, vai
na hora da xepa. Quantas vezes a gente
não vai comprar couve flor e eles tiram o
talo e jogam as folhas fora? Gente, aquilo
é comida, nutriente à beça! Simples assim.
As PANCS, gente, tem mato que não é
mato. Um exemplo de PANC é a ora pro
nobis. Ela tem esse nome porque os padres
faziam cercas vivas em volta das igrejas. Ela
é considerada a carne verde. Trato anemia
com ora pro nobis. E eu trato e recebo
testemunhos, ontem mesmo recebi um e-mail
de uma filha relatando que o pai, que eu
trato, curou anemia com ora pro nóbis.
“Ah, mas orgânico é caro”.

A gente não respeita a sazonalidade. Vai


comprar o que é da época! Tudo que é da
época é menos carregado de agrotóxico.
O mamão papaya, por exemplo, tem muito
mais agrotóxico que o formosa. A maçã fuji
tem muito mais que outros tipos de maçã.
Vamos primeiro aprender a comer, porque
mesmo que tenha um restinho de agrotóxico
tem muita coisa boa ali dentro também, que
vai ajudar a detoxificar essa molécula.

Aquilo que é da época é o que você tem que comer.


Assim como você tem o bioma do Brasil, como o
cerrado, você tem o bioma próprio para aquela
população que ele vive. Assim como no restante do
Brasil você tem o maior patrimônio do seu corpo. Você
vai nascer e morrer com ele.
Ah, você gasta a maior fortuna no carro, põe a melhor
gasolina. E que óleo você põe na sua comida? Um
transgênico horroroso? Ou um azeite de oliva, primeira
prensa extra frio? É caro, o remédio também é.

Então, você optando por usar o que está próximo de


você e fazendo boas escolhas, você está melhorando a
sua saúde.

O Brasil hoje é um dos países mais


ansiosos e deprimidos do mundo.
Com a situação de epidemia que
enfrentamos, também tivemos uma
explosão desses transtornos. Quais
são os riscos de continuarmos
pensando e tratando essas doenças
apenas como distúrbios químicos e
não nutricionais?

Um clássico é o omeprazol, pantoprazol, os prazois da


vida, prescritos pelo gastroenterologistas, motivo: azia
no estômago. Quantos miligramas toma, quantas vezes
por dia, desde quando? 20 anos, 15 anos. Aí, eu
pergunto pro paciente: e nesse tempo todo, você não
ficou bom? O médico não te dá outras possibilidades?
“Nada, doutora, eu gostei do resultado e não voltei”.

Existe, portanto, a automedicação, que é um problema,


uma cultura. O omeprazol é excelente quando você
está com uma úlcera, uma ferida no estômago. O
ácido clorídrico vai corroer essa ferida, então, eu
preciso de uma medicação que não me deixe formar
ácido clorídrico, para eu poder cicatrizar.

Mas, gente, isso tem um período, um mês esse assunto


tem que estar resolvido. Mas o povo não volta no
médico para dar sequência a essas coisas, continua
se automedicando. O omeprazol, se você toma cedo,
faz efeito por horas. Então, o que acontece? Cadê a
acidez do estômago?

E o pior, é que para a digestão de várias vitaminas e


minerais, você precisa da acidez do estômago para
modificar aquela molécula, para quando chegar no
intestino ser absorvido. Aí, eu não tenho acidez, chega
no intestino e o intestino não entende nada o que
aquelas substâncias estão fazendo ali, e elimina.
Por isso, temos hoje artigos científicos
mostrando que o uso indiscriminado de
omeprazol pode levar a demência, porque
não tem nutriente para nutrir nada. Aí,
vira aquela história: o omeprazol fez bem
para você e você avisa parente, vizinho,
dá omeprazol para todo mundo, olha só o
mal que a pessoa, sem querer e pensando
que está ajudando, faz. Existe essa falta de
informação. Por isso que eu digo, gente,
temos que avisar e falar.

Graças a Deus que antibiótico agora é com prescrição


médica. Olha aí o que aconteceu, essa resistência
bacteriana. Existe uma indústria que se beneficia muito
dessa falta de informação. Cabe a nós, profissionais
da área da saúde de qualquer área, divulgarmos e
não termos vergonha de ir pra mídia, botar a cara.

Cientificamente, já está
comprovado que o intestino é
o órgão chefe para prevenir,
tratar e até reverter depressão e
ansiedade, déficit de atenção. Já o
chamamos de segundo cérebro (e
eu e você sabemos que ele deveria
mesmo é ser chamado de primeiro
cérebro). Por que ainda ele parece
ser um órgão “oculto” para os
profissionais de saúde que lidam
com ansiosos e deprimidos?
Hoje, nós somos o que damos para as
nossas bactérias intestinais comerem, porque
elas determinam a saúde ou não do nosso
corpo. Por isso, o livro é chamado “Intestino,
onde tudo começa e tudo termina”. É como
se o intestino fosse uma Floresta Tropical.
Tem as árvores mais altas e a graminha no
solo.

No intestino, você tem bactérias que vão pegar


aquelas fibras que você alimentou, vão fermentar,
devolvem para nós coisas espetaculares e estão pré
digerindo a comidinha uma da outra. É uma cadeia.
Se não faz isso, acaba tendo uma monocultura com
a floresta, só um tipo de árvore. Quando não um
deserto, que pode acontecer quando toma antibiótico
atrás de antibiótico, que pode ser ótimo, mas tem que
ter discernimento e prescrito por médicos.

Quando você alimenta suas bactérias com fibras,


elas te devolvem ácidos graxos de cadeia curta, que
são as moléculas energéticas mais importantes das
suas células intestinais. Estou falando de três, acetato,
propionato e butirato.

Olhem só o que o butirato faz: faz a célula ficar


poderosa, faz uma ficar bem grudadinha perto da
outra, sem ‘buraquinhos’, que vazam o que você está
comendo na sua corrente sanguínea e ativam o sistema
imunológico. E as alergias começam principalmente
daí.

O butirato tem a capacidade de ir no núcleo das


nossas células, ali onde tem o DNA, e promover a
expressão de moléculas anti inflamatórias. E nós
sabemos que a gênese de tudo hoje é a inflamação.

A relação intestino e cérebro é de fato espetacular.


Quando você está na barriga da mamãe, tem cérebro
aqui e intestino aqui. Entre eles, uma estrada, o
nervo vago, muito pouco falado.É a estrada que liga
cérebro e intestino. Vamos imaginar que essa estrada é
formada por 10 pistas.

Antigamente, o que pensávamos: um monte


de pistas saindo do intestino, na verdade,
são 9 pistas que saem do intestino para o
cérebro. Então, pensa, quando você não
come adequadamente e não dá alimento
para o seu cérebro, tem depressão,
ansiedade, um monte de processo de saúde
mental, com probiótico.

E aí, o que acontece, um tanto de metabólico que é


produzido por uma microbiota inadequada, isso tudo
cai na corrente sanguínea. Vai parar onde não deve.
Por que eu reclamo tanto do glúten?

Gente, o glúten moderno, a verdade sobre o trigo,


você quebra essa molécula e não há nada na natureza
que tenha glúten. Você lá come a espiga do trigo? Há
quanto tempo a gente come trigo? 5 mil anos? Leite de
camela a gente toma há 8 mil anos. Quantos anos de
evolução até aqui e estamos indo para uma involução
de tudo? Além de não ser natural, hoje em todas as
refeições a gente come algo com farinha de trigo.

Sem contar os transgênicos. O transgênico é eu


pegar o DNA de uma bactéria, botar num alimento,
para ele responder de uma determinada maneira.
Mas melhoramento genético a natureza faz, são
os cruzamentos entre as espécies. Só que, quando
o homem resolve pôr a mão, é complicado. Na
natureza, jamais essas espécies que foram cruzadas
se encontrariam. Nós comemos 20x mais glúten que
antigamente.

Você não tem células grudadinhas na parede do


intestino, mas há filamentos proteicos que fazem
isso por você. Então, quando essa célula que foi
incomodada com esse glúten produz uma determinada
vizinha, como que a vizinha ajuda, na maior boa
intenção? Se separando por no mínimo 15 minutos.

“Mas eu como e não sinto nada”. Não se preocupe, a


conta vai chegar, um dia chega. Então, isso aqui vai
parar na corrente sanguínea. E, como desgraça pouca
é bobagem, sabe o que a fração não quebrada do
glúten se parece? Com nossas endorfinas.

Então, quando ela cai na corrente


sanguínea, tem passagem livre pela barreira
de massa encefálica. Porque endorfina é
isso. Vai, ocupa receptores no cérebro e dá
prazer, por isso existe essa relação de vício
com certos alimentos.
E aí, isso está lá, mas não é de lá. O
que acontece? O sistema imune vê, não
reconhece, resolve mandar embora e nos
protege inflamando. O que é a depressão?
Uma doença inflamatória cerebral.

Mas eu estou falando do glúten assim como a gente


tem problema com a caseína, soja, transgênicos,
corantes, conservantes, aditivos, e é isso, essa é a
relação entre intestino e cérebro. Tem muita coisa para
falar, mas acho que matamos um monte de charadas.

Quando a pessoa entende o mecanismo, ela tira o que


não presta em três semanas. Tirou o que não presta e
coloca o que devia, a resposta começa de uma forma
absurda. Eu tenho pacientes que vão ao psiquiatra há
anos tentando emagrecer, há anos com uma alergia.
E é simples [fazer a mudança] mas não é um caminho
fácil. Porque todo mundo quer a pílula mágica. A
cirurgia bariátrica. Tudo que é rápido o ser humano
está querendo hoje. E nada é rápido.

Pensa bem nas coisas que você conquistou, quando


você vai, planta, planeja, o fruto é muito mais doce.
Hoje, com tecnologia, as pessoas querem tudo muito
rápido. A gente tem que ir no contraponto disso. Ir no
mais simples e não temer. Porque quem tem Deus, não
tem medo. “Não temais” é mencionado 365 vezes na
Bíblia. Uma para cada dia do ano.

Vamos pegar a Bíblia? Gênesis, terceiro dia,


Deus fez legumes e verduras para a gente
comer.
E no quinto dia, fez as proteínas, peixes.
Sempre pergunto: 14 refeições por semana,
em quantas refeições você come peixe?
Antes da pandemia, uma vez, depois acho
que nem isso.Depois dos peixes, vieram
as aves e ovos. E é isso aí, 80% do prato
tem que ser de legumes e verduras. Mas
cuidado com as frutas, não são mais como
no Éden. Podem ser muito doces, enormes.
As melhores são as pequenas e escuras.
Amoras, jabuticabas. Gente, está tudo na
natureza. Pense assim, foi Deus que fez ou a
indústria? Vá sempre por esse lado.

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