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F I L I P E VI CEN T E T ESTON I

GUIA DE
NUTRIÇÃO
ESPORTIVA
VEGANA

S O C I E D A D E V E G E TA R I A N A B R A S I L E I R A
GUIA DE NUTRIÇÃO
ESPORTIVA VEGANA
Introdução Sumário Vegetarianismo Planejamento Micronutrientes Apêndices 2

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GUIA DE NUTRIÇÃO
ESPORTIVA VEGANA
Introdução Sumário Vegetarianismo Planejamento Micronutrientes Apêndices 3

Autor

FILIPE VICENTE TESTONI

• Nutricionista (CRN10 7968);


• Coordenador do Departamento de Nutrição Esportiva da SVB;
• Fundador da Nutri No Front, mentoria para nutricionistas;
• Pós-graduado em Nutrição Vegetariana, Nutrição Esportiva e
Estética e Nutrição Clínica e Comportamental;
• Professor de cursos de pós-graduação em Nutrição
Vegetariana e Nutrição Esportiva.

Organização

ALESSANDRA LUGLIO

• Nutricionista (CRN3 6893) formada pela Universidade de São


Paulo (1996);
• Diretora do departamento de saúde e nutrição da SVB;
• Extensão em Economia Circular na Berkley University – CA/US;
• Embaixadora e colaboradora da área de nutrição da
SeaShepherd Brasil;
• Co-coordenadora e professora de cursos de pós-graduações em
nutrição vegetariana;
• Palestrante na área de nutrição consciente, esporte, vegeta-
rianismo e sustentabilidade, economia circular e ESG;
• Organizadora de eventos proprietários de imersão em saúde,
cadeias produtivas, sustentabilidade e ESG;
• Fundadora da Ale Luglio Nutrição, empresa que presta
consultoria para empresas da área de alimentos e suplementos.

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Introdução Sumário Vegetarianismo Planejamento Micronutrientes Apêndices 4

EPÍLOGO

Como uma planta, o veganismo se desenvol- Todos os seres. Aqueles que eu amo, mas tam-
veu em etapas dentro de mim. Olhando para trás, bém os meus inimigos. Os meus pets, que chamo
percebo que foi em 2016 que esta semente foi de filhos, mas também cada ave, bovino, suíno e
plantada. Naquele momento o solo não era fér- peixe, cujo sofrimento eu continuava ignorando
til o suficiente e faltaram água e nutrientes para para me alimentar da forma que tinha aprendi-
que pudesse germinar, mas ela resistiu mais um do ser lógica e “natural” (além de conveniente, é
par de anos até que fosse capaz de desabrochar, claro). Foi aí que uma grande questão emergiu
como depois pude perceber que acontece com – como eu poderia ser feliz promovendo o sofri-
muitas pessoas que se dão conta de que comer mento de outros seres?
alimentos de origem animal já não faz mais sen-
Inicialmente, o apego ao meu físico e desempe-
tido, mas que se detêm de tomar uma atitude por
nho atlético, e minha ignorância em relação a tudo
uma ou outra razão.
que envolvesse uma dieta vegetariana (além da
Naquela época eu estava no começo da minha ignorância em relação às verdadeiras causas do
segunda graduação, em Nutrição, e encantado sofrimento, diria Buda), me impediram de ir adian-
com o estudo da biologia celular. Ao mesmo tem- te com a ideia de deixar de comer animais e seus
po, no âmbito pessoal, sentia uma sensação es- derivados, pois acreditava que seria necessário
tranha de que “faltava algo”, apesar de ter todas renunciar àquilo que havia levado anos para cons-
as condições que, se supõe, são necessárias para truir e que tinha um peso grande na construção
a felicidade, no que diz respeito à vida profissio- de como eu me enxergava (ou como gostaria que
nal, familiar, amorosa e todas essas gavetas que fosse enxergado). Nesta época eu já havia sido
gostamos de arrumar muito bem, iludidos com a premiado em meia dúzia de modalidades esporti-
ideia de que uma vez em ordem não precisarão vas, tinha vencido recentemente um campeonato
mais de grande preocupação. de fisiculturismo e era Oficial do Exército – nada
que combinasse com o estereótipo, obviamente
Na busca pelas respostas para as questões
enganoso, de vegano fraco que eu imaginava.
que vinha carregando comigo, me deparei com
um livro escrito pelo monge budista e doutor em Ocorre que nos dois anos seguintes aquela re-
biologia molecular por uma renomada instituição sistente semente foi capaz de germinar e come-
francesa, chamado Matthieu Richard. Aquilo me çar o estabelecimento de suas raízes. É dito que
pareceu muito estranho, pois ciência e budismo uma vez que tomamos consciência de algo, não é
eram coisas que, a meu ver, não poderiam jamais mais possível retroceder, por maiores que sejam
andar juntas. Através dele conheci os preceitos os esforços para ignorar aquilo. Dito e feito. Logo
básicos da filosofia budista, dentre eles o que não fui mais capaz de continuar comendo carnes
mais me marcou e despertou para a ideia do ve- sem considerar a violência intrínseca neste ato.
ganismo: o de que todos os seres desejam ser fe- Independentemente de quais fossem as conse-
lizes e evitar o sofrimento. quências, decidi que pararia por ali mesmo.

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Introdução Sumário Vegetarianismo Planejamento Micronutrientes Apêndices 5

Felizmente, não demorou para que eu percebes- assisti à produção científica acerca do tema cres-
se que somente as melhores consequências pos- cer, embora continuasse escassa, até que, mais
síveis se materializaram e sequer precisei abdicar recentemente, fui provocado a elaborar este guia
do meu físico e desempenho, o que, àquela altu- pela pessoa que mais me incentivou na minha ca-
ra, de qualquer forma, já havia se tornado algo de minhada profissional e a quem sou eternamente
menor importância. grato, a Ale Luglio.

Caminhando, então, para o final da graduação A escrita deste documento foi muito mais desa-
e já tendo me tornado vegano, comecei a devorar fiadora do que eu poderia imaginar e exigiu uma
toda informação que podia sobre o assunto e me grande dedicação de energia, além de ter que li-
surpreendi com a escassez delas. Felizmente, os dar com questões pessoais importantes. A ideia
materiais elaborados pelo Dr. Eric Slywitch e pela de escrever algo que ficaria registrado “para sem-
Sociedade Vegetariana Brasileira me ajudaram a pre”, correndo o risco de errar e estando sujeito
dar os primeiros passos, até que me matriculei na a grandes críticas só não foi paralisante porque
primeira turma de pós-graduação em Nutrição Ve- saber que muitas pessoas terão acesso a tantas
getariana pela Plenitude Educação, onde conheci informações que teriam me ajudado, anos atrás,
pessoas que foram importantíssimas, como a a não temer adotar o vegetarianismo ou, até mes-
minha querida amiga Milena, para o desenvolvi- mo, me incentivado a fazê-lo antes, é algo muito
mento do caule e das folhas que permitiram a re- maior, que não me permitiu ficar parado.
alização da fotossíntese e a nutrição desta nova
Este material que está em suas mãos agora
forma de me relacionar com o mundo que estava
caracteriza o fruto carregado de novas semen-
se tornando realidade – “uma consequência natu-
tes, oriundo daquela, plantada há sete anos. Ele
ral para aqueles que mudam a sua maneira de se
não pretende ser perfeito, tampouco definitivo, o
alimentar”, como diz o próprio Dr. Eric.
que seria impossível, mas sim servir de guia para
Logo depois me tornei professor das matérias aqueles que estão dando os seus primeiros pas-
de vegetarianismo e nutrição esportiva em dife- sos no vegetarianismo, e como base para aqueles
rentes instituições e me empenhei em conectar que, eu torço, darão continuidade a este trabalho
estes dois mundos, divulgando com empenho a de amadurecimento e crescimento reprodutivo,
nutrição vegetariana em todos os lugares onde os últimos estágios da vida de uma planta, que ja-
tive a oportunidade de estar, presencial ou virtu- mais deixaremos atingir a senescência e dormên-
almente. Pode-se dizer que esta foi a fase de flo- cia enquanto todos os seres não forem felizes e
ração e polinização. Durante estes poucos anos, livres do sofrimento.

Boa leitura e um forte abraço,


Filipe Testoni

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SUMÁRIO

13 Parte I - Introdução

14 Introdução ao vegetarianismo no esporte

00 Parte II - Planejando a dieta do atleta

00 Necessidades energéticas
00 Carboidratos
00 Proteínas
00 Gorduras
00 Modificação da composição corporal

00 Parte III - Micronutrientes e suplementação esportiva

00 Micronutrientes
00 Suplementação esportiva

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1. INTRODUÇÃO AO
VEGETARIANISMO
NO ESPORTE

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VEGETARIANISMO
NO ESPORTE
A adoção de uma dieta vegetariana no assunto e, eventualmente, se proporem a
esporte ganhou enorme notoriedade no fazer, ao menos, uma tentativa de mudar
final da década de 2010, sobretudo de- a sua forma de se alimentar.
pois do lançamento do documentário
Este movimento representa uma enor-
The Game Changers (Dieta de Gladiado-
me quebra de paradigma, pois como
res, no Brasil. Netflix, 2018)1, que apre-
será explorado adiante, a ideia de que
senta o relato positivo de atletas de dife-
comer carne é muito importante, ou até
rentes modalidades que adotaram uma
mesmo essencial para a saúde e, sobre-
dieta à base plantas, e no contexto de
tudo, para o desempenho, literalmente
outros acontecimentos no meio espor-
atravessa os milênios. É natural que se
tivo, como a decisão do então campeão
observe, portanto, uma grande resistên-
mundial de Fórmula 1, o britânico Lewis
cia por parte de diferentes grupos da
Hamilton, de se tornar vegano em 2017,
sociedade, como ocorre toda vez que o
após uma redução gradual do consumo
status quo é questionado.
de carnes nos anos anteriores2.
O objetivo deste capítulo é identifi-
Apesar das fortes críticas da comunida-
car os diferentes tipos de vegetarianismo
de científica em relação ao referido do- e as principais motivações que levam à
cumentário, é fato que ele levantou uma sua adoção, bem como orientar uma
enorme discussão acerca dos efeitos de transição segura e bem-sucedida para
uma dieta livre de produtos de origem este padrão alimentar, além de descrever
animal sobre o desempenho e, mais do brevemente a história do vegetarianismo
que isso, ao expor os depoimentos de no esporte e apontar os achados cientí-
atletas de alto nível advogando em prol ficos mais atuais a respeito dos efeitos
do vegetarianismo, encorajou muitas de uma dieta à base de plantas sobre o
pessoas a se informarem melhor sobre o desempenho.

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Tipos de vegetarianismo e primeiros passos


para uma transição bem-sucedida
Definições e motivações para a adoção de uma dieta vegetariana

Os tipos de dietas vegetarianas va- este padrão dietético, tornando ainda


riam em relação aos alimentos excluí- mais dificultoso o entendimento do
dos ou tolerados pelos seus pratican- que cada nomenclatura significa.
tes e não existe uma padronização Para padronizar as terminologias
de suas classificações na literatura neste guia e facilitar o entendimento
científica, o que frequentemente pro- do leitor, a Tabela 1.1 apresenta um
voca confusão. resumo das nomenclaturas utilizadas,
Além disso, diferentes terminologias elaborado com pequenas modifica-
empregadas pela indústria se confun- ções em relação às definições descri-
dem com aquelas utilizadas nos es- tas no Guia de Nutrição Vegana Para
tudos científicos e novas expressões Adultos, da International Vegetarian
têm surgido entre o público que adota Union (IVU)3, de 2022.

Tabela 1.1 – Definição dos tipos de vegetarianismo e das nomenclaturas relacionados ao tema.

Nomenclatura genérica que engloba todos os indivíduos


que não consomem qualquer tipo de carne. Dentro deste
Vegetariano
grande grupo estão os vegetarianos estritos, ovolactovege-
tarianos, lactovegetarianos e ovovegetarianos.

Ovolactovegetariano Vegetariano que consome ovos, leite e laticínios.

Vegetariano que não consome ovos, mas consome leite e


Lactovegetariano
laticínios.

Vegetariano que não consome laticínios, mas consome


Ovovegetariano
ovos.

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Vegetariano que não consome nenhum derivado animal na


Vegetariano estrito ou sua alimentação, inclusive mel. É também conhecido como
indivíduo que segue uma indivíduo que segue uma dieta vegana. O nome vegetariano
dieta vegana “restrito” não é correto, pois a dieta é estritamente vegetal,
e não “restritamente” vegetal.

Indivíduo que adota uma alimentação vegetariana estrita,


mas também tem a prática de não utilizar produtos oriun-
dos do reino animal com outros fins, como vestuário (lã,
Vegano
couro, seda etc.) ou cosméticos testados ou que contêm
ingredientes de origem animal, nem usar animais para en-
tretenimento, esporte e pesquisa.
Indivíduos que, por algum motivo, estejam reduzindo a
Semivegetariano,
ingestão de alimentos de origem animal ou somente con-
pescovegetariano,
sumindo algum tipo de carne específica (peixe ou frango,
flexitariano,
por exemplo) em suas dietas. Esta definição pode variar
reducitariano,
de acordo com os critérios de cada estudo. Pela definição
polovegetariano
correta, este indivíduo não é vegetariano.

Indivíduo que baseia sua alimentação em frutas e vegetais


crus ou cozidos, além de oleaginosas. No contexto das
Frugivorista
frutas, a visão é botânica, e não nutricional. O frugivorista
segue uma dieta vegetariana estrita/vegana.

Uma alimentação baseada em alimentos em sua forma


integral ou minimamente processados, podendo conter mí-
Whole Food Plant Based
nimas quantidades de sal e óleo vegetal adicionado, e que
Diet (WFPB)
exclui o uso de qualquer produto de origem animal (como
carnes, ovos, laticínios e mel).

Apesar de o termo plant-based diet ter sido cunhado como


sinônimo de alimentação vegetariana estrita saudável, a
indústria alimentar já incorpora o termo dentro do contexto
do veganismo, definindo como “alimentos feitos de plantas
Plant-based Diet que não contêm ingredientes de origem animal”. Dentro
desse conceito, há margem para a produção de produtos
destituídos de fibras, fitoquímicos e adicionados de gordu-
ra hidrogenada, açúcar e óleo de adição, assim como co-
rantes e demais aditivos alimentares.

Fonte: elaborado pelo autor com base em Slywitch, 20233.

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Ainda que o veganismo envolva as- com cuidado os conceitos utilizados


pectos não alimentares, nas publica- pelos pesquisadores no momento de
ções científicas das áreas médica e interpretar a literatura científica e que
nutricional, o termo “dieta vegana” é conheça detalhadamente as escolhas
utilizado como sinônimo de “dieta ve- alimentares de seus pacientes.
getariana estrita” e assim também é
Os motivos que levam os indivíduos a
feito neste guia. A alimentação com-
se tornarem vegetarianos são diversos
posta tanto por alimentos de origem
e podem incluir: ética (reconhecimento
animal quanto vegetal é referida como
dos animais como seres sencientes e
“dieta onívora”.
o desejo de não contribuir para o seu
As diferentes nomenclaturas podem sofrimento), saúde, meio ambiente e
auxiliar no rastreamento de possíveis sustentabilidade, religião, influência de
deficiências e excessos em diferentes familiares, diferentes filosofias de vida
grupos populacionais, mas jamais de- e não aceitação por paladar3. O quadro
finem o estado nutricional de um in- informativo “Para além do desempe-
divíduo, uma vez que dentro de cada nho: por que adotar uma dieta à base
grupo diferentes escolhas alimentares de plantas”, explora a importância do
podem ser feitas. Existem onívoros vegetarianismo no contexto da alimen-
que consomem grandes quantidades tação humana no século XXI.
de vegetais e outros que não o fazem,
Não existem, até o momento, dados
bem como ovolactovegetarianos que
confiáveis sobre quais destas razões
apenas raramente consomem ovos e
mais motivam os atletas a fazerem a
laticínios e, até mesmo, veganos que
transição para uma dieta vegetariana,
se alimentam predominantemente de
mas é seguro afirmar que uma parce-
alimentos processados.
la destes o faz com a expectativa de
É evidente que o estado nutricional melhorar o desempenho esportivo, so-
de um indivíduo em cada uma das di- bretudo com a crescente visibilidade
ferentes situações irá variar grande- de atletas vegetarianos de alto nível
mente. Por esta razão, é fundamental que tornam esta decisão mais atraente
que o profissional de saúde verifique à medida que expõem o seu estilo de

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vida e incentivam o vegetarianismo4. mas jamais tolerar consumir derivados


de animais.
É interessante observar que a moti-
vação principal do indivíduo impactará, No contexto do esporte, independen-
muitas vezes, suas escolhas alimen- te da classificação da dieta vegetariana
tares. Uma pessoa que se torna vege- adotada pelo praticante ou atleta e de
tariana exclusivamente por questões sua motivação para tal, é recomenda-
de saúde estará mais propensa a se do que a alimentação seja baseada, o
alimentar de mais vegetais e poderá, máximo possível, em frutas, legumes,
mais facilmente, se permitir consumir verduras e grãos integrais, pois estes
algum derivado de animal quando en- alimentos são fontes de praticamente
tender que este não lhe causará pre- todos os nutrientes necessários para
juízo neste sentido, ao passo que um a manutenção da saúde e otimização
vegano poderá ter uma dieta pobre do desempenho5, com exceção da vi-
em vegetais, mesmo consciente dos tamina B12 que será discutida poste-
impactos negativos sobre sua saúde, riormente.

Primeiros passos para uma transição bem-sucedida

A transição para uma dieta vegeta- voltando a consumi-los por uma série
riana pode se dar de forma abrupta ou de razões, e que, mais tarde, fazem
gradual, conforme o desejo de cada o que chamam de “nova tentativa” de
indivíduo, o que costuma estar rela- se tornarem vegetarianos.
cionado ao motivo primário pelo qual Dado que a alimentação humana
esta decisão foi tomada. É comum está intrinsecamente relacionada
encontrar pessoas que, após um pe- com as mais diversas áreas da vida,
ríodo de exclusão de determinados estes movimentos são naturais e
alimentos de origem animal, acabam compreensíveis. Ao profissional de

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saúde cabe, de maneira sempre aco- guminosas), pode causar desconfor-


lhedora, dar suporte para que cada tos como flatulência, distensão e dor
paciente avance na direção deseja- abdominal7,8.
da da forma mais segura possível. Técnicas simples de preparo pode-
Não existem regras que determinem rão amenizar esses sintomas e serão
como uma transição para a dieta ve- discutidas mais adiante, no capítulo
getariana deva acontecer. 7. É imprescindível que o profissional
Algumas medidas, entretanto, po- de saúde envolvido no atendimento
derão beneficiar a todos os interes- deste público explique a importância
sados em adotar este padrão ali- da realização destas técnicas, ensine
mentar, pois reduzem desconfortos como fazê-las corretamente e enco-
intestinais, proporcionam autonomia raje o atleta a incorporá-las em sua
e favorecem a saúde. No caso dos rotina, sobretudo quando notar algum
atletas e praticantes de exercícios tipo de resistência neste sentido.
físicos, uma transição que minimize Além do exposto, outros desafios
inconvenientes pode ser ainda mais
relatados pelos atletas são ingerir o
importante, visto que qualquer preju-
grande volume de comida que pode
ízo sobre o desempenho é altamente
desencorajador. ser necessário para atingir suas ne-
cessidades calóricas elevadas e en-
As queixas mais comuns entre os
contrar boas alternativas para se
atletas que iniciam a dieta vegetaria-
na e que frequentemente desencora- alimentar nos locais onde as compe-
jam a continuidade desta decisão es- tições podem acontecer.
tão relacionadas ao grande consumo
Ambas as situações se tornam de
de fibras alimentares. Embora a in-
fácil manejo uma vez que os novos
gestão de fibras seja essencial para
alimentos e receitas passam a fazer
a manutenção de uma microbiota in-
testinal saudável6, a ingestão exage- parte da rotina e soluções possíveis
rada delas, sobretudo quando do tipo estão descritas ao longo dos próxi-
fermentável (muito presentes nas le- mos capítulos.

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A maneira mais segura de se reali- se tornarem vegetarianos, mas que


zar a transição para uma dieta vege- não podem contar com este apoio.
tariana de forma a prevenir prejuízos
Nesses casos, a busca por
para a performance, minimizar des-
informações de qualidade, como
confortos e proporcionar condições
as fornecidas neste guia e em suas
para que esta forma de se alimentar
referências, ganha ainda maior
se torne definitiva, é contando com
relevância.
o suporte de um nutricionista, so-
bretudo para que o aporte de energia A seguir é apresentado um conjun-
e nutrientes se mantenha satisfató- to de práticas que podem ser adota-
rio durante o processo. das por todos aqueles que desejam
iniciar a transição para uma dieta ve-
A ausência deste profissional, en- getariana, bem como guiar os profis-
tretanto, não deve ser impeditiva para sionais de saúde no atendimento de
aqueles que tomaram a decisão de pacientes com esta demanda.

Estas práticas não precisam ser implementadas de forma sequencial,


mas sim conforme a necessidade de cada indivíduo.

1 Conhecer os grupos alimentares, reconhecer os seus principais


integrantes e ampliar a variedade de alimentos consumidos na rotina

Este conhecimento representa a base para o desenvolvimento da autonomia sobre


as escolhas alimentares no futuro. O apêndice A apresenta estes grupos reunidos de
acordo com seu teor nutricional. A inclusão de uma maior variedade de alimentos na
rotina facilitará sobremaneira a transição e aplicação das demais práticas.

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2 Aumentar a ingestão de frutas, legumes e verduras na alimentação

Estes alimentos são fundamentais na alimentação humana, sobretudo na dos atletas,


e é importante tornar seu consumo habitual, bem como experimentar novas varieda-
des que vão contribuir para obtenção de todas as vitaminas e minerais que o organis-
mo demanda. Adquirir os vegetais da época, preferencialmente de um produtor local,
é uma excelente maneira de, naturalmente, variar os tipos, cores e sabores.

3 Incluir o consumo de leguminosas na rotina

Este grupo de alimentos tem um papel central na dieta do atleta em virtude do enor-
me número de nutrientes que fornece e representa o principal substituto imediato
das carnes na alimentação. É muito importante prepará-los de maneira adequada
para minimizar desconfortos e prevenir desistências.

4 Reduzir o consumo de carnes

Uma alimentação rica nos alimentos anteriormente mencionados, sobretudo em le-


guminosas, irá minimizar qualquer impacto nutricional decorrente da redução das
carnes na rotina. A inclusão de proteína texturizada de soja, tofu e suplemento pro-
teico em pó no planejamento alimentar ainda contribui para reduzir a insegurança
daqueles que já consomem dietas hiperproteicas. Não é recomendado aumentar o
consumo de ovos e leite com o objetivo de compensar e redução da ingestão de car-
nes, pois isso não oferece vantagens do ponto de vista da saúde, tampouco do ponto
de vista ético e ambiental.

5 Desenvolver habilidades culinárias e fazer substituições gradativas

Preparar os alimentos de formas diferentes reduz a monotonia e permite a substitui-


ção, mesmo de alimentos amplamente utilizados em receitas, como ovos e queijos.
No apêndice B estão disponíveis receitas que podem auxiliar neste processo.

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A adoção destas
práticas tem como
objetivo educar
e incluir uma
maior variedade
de alimentos de
origem vegetal na
alimentação...

...antes mesmo – ou em conjun- trientes poderá e deverá ser realiza-


to – da exclusão dos alimentos de da, de forma tão mais urgente quan-
origem animal, a fim de minimizar to o nível competitivo do indivíduo
possíveis resistências e evitar desis- em questão exigir.
tências por motivos que facilmente
No caso de atletas profissionais,
podem ser evitados.
é imprescindível que o nutricionista
Ao longo do processo de transição, garanta um plano alimentar comple-
e cada vez mais, à medida em que tamente ajustado para suas neces-
isto se tornar possível de acordo sidades desde o início do processo,
com os recursos disponíveis, uma contando inclusive com a prescrição
adequação minuciosa do consumo de suplementos alimentares para
de energia e de macro e micronu- isso, sempre que necessário.

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Uma breve história do vegetarianismo no esporte

A ideia de que o consumo de carnes o final do século XIX e início do século


é importante ou até mesmo essencial XX, período que se têm registros jorna-
para o desempenho esportivo tem ra- lísticos de seus feitos (Figura 1.1). O li-
ízes tão antigas quanto, no mínimo, a vro “Crusaders for Fitness”, de James C.
Grécia Antiga. Conta a lenda que Mílon Whorton (2016)12, retrata as diversas
de Crotona, 6 vezes campeão dos Jo- conquistas dos atletas vegetarianos
gos Olímpicos, capaz de feitos como desde 1896, quando a Sociedade Ve-
segurar o teto de um salão em pleno getariana Londrina fundou o Clube
desabamento até que todos fossem Atlético de Ciclismo com mais de 90
capazes de sair do recinto e carregar membros, capaz de vencer as prin-
um boi nas costas, era um ávido con- cipais competições e quebrar os re-
sumidor de carnes9,10. Curiosamente, o cordes da modalidade na época. Da
famoso atleta era discípulo de Pitágo- mesma forma, nos Estados Unidos
ras, o primeiro filósofo que se tem re- e na Alemanha atletas vegetarianos
gistro de defender e seguir uma dieta passaram a vencer competições do
sem carnes, razão pela qual foi cunha- que hoje chamamos de ultraendu-
do o termo “Phytagorian way of life” (for- rance, percorrendo distâncias de até
ma de viver pitagórica)11, antes de ser 699km (de Berlim à Viena) em provas
criada a palavra vegetarianismo, cujo a famosas na época.
origem é incerta.

A ruptura da crença de que as prote-


ínas de origem animal são fundamen-
tais para o desempenho esportivo, que
perdura no imaginário de muitas pes-
soas até os dias atuais, começou com
os atletas vegetarianos que trilharam
uma história de muito sucesso desde

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Figura 1.1 – Reportagem do jornal “The


Guardian”, de 1909, sobre a vitória do
britânico Emil Robert Voigt na corrida
olímpica de 5 milhas em 1908.

Fonte: The Guardian, 190913

Em 1920, o vegetariano finlandês Hannes Kolehmainen venceu a maratona nos


primeiros Jogos Olímpicos após a I Guerra Mundial, estabelecendo um novo re-
corde mundial depois de já ter recebido diversas medalhas de ouro em Jogos
anteriores. O atleta havia ganhado muito destaque na sua emocionante vitória
na corrida de 5.000m em 1912, nos Jogos Olímpicos da Suécia, contra o francês
Jean Bouinin, quando bateu o recorde mundial da prova (Figura 1.2)14.

Figura 1.2 – O finlândes Hannes Ko-


lehmainen vencendo a prova dos 5.000m
contra o francês Jean Bouinin e batendo
o recorde mundial nos jogos Olímpicos de
1912, na Suécia.

Fonte: Association of International Marathons and Distance Races, 201914.

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Introdução Sumário Vegetarianismo Planejamento Micronutrientes Apêndices 19

A dieta vegetariana voltou a ganhar No presente, cada vez mais compe-


os holofotes quando o norte-ameri- tidores, das mais diferentes modali-
cano Carl Lewis, estrela do atletismo dades, anunciam a decisão de adotar
(nove medalhas olímpicas de ouro, uma dieta à base de plantas, seguindo
sete vezes campeão mundial), resol- os passos de grandes personalidades
veu se tornar vegetariano estrito após do esporte como o piloto de Fórmula 1
uma já bem-sucedida carreira e con- Lewis Hamilton, seguramente um dos
tinuou vencendo competições na dé- maiores porta-vozes do veganismo na
cada de 90. Desde então, o atleta se atualidade.
tornou um grande defensor do vege-
O Brasil também conta com atletas
tarianismo, tendo concedido inúme-
profissionais e amadores que têm,
ras entrevistas nas quais descreve o
cada vez mais, chamado a atenção
quanto se sente melhor desde esta
dos amantes dos esportes (entrevis-
grande mudança no seu estilo de vida
tas com alguns deles podem ser lidas
e incentiva as pessoas a adotarem
ao longo deste guia).
uma dieta baseada em vegetais.
Vale destacar o nome daqueles que
Além de Carl Lewis, uma longa lista participaram dos Jogos Olímpicos
de atletas vencedores excluíram, em de 2020, em Tóquio, como as atletas
maior ou menor grau, os produtos de Nathalia Siqueira Almeida (natação),
origem animal de sua alimentação e Marina Fioriavanti Costa (rugby), Ana
passaram a servir de exemplo para as Carolina da Silva (voleibol) e Macris
novas gerações. Carneiro (voleibol).

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Efeitos de uma dieta à base de plantas sobre o


desempenho esportivo

A adoção de dietas vegetarianas no O avanço do método científico permi-


esporte está sendo cada vez mais tiu avaliar de maneira mais interessan-
discutida entre atletas e treinadores, te o impacto dos padrões alimentares
especialmente após a divulgação de vegetarianos sobre o desempenho,
documentários, livros e conteúdos mi- mas ainda é muito difícil definir os
diáticos que expõem a alimentação efeitos da dieta, de forma isolada, so-
vegetariana como uma alternativa bre a performance esportiva, uma vez
possivelmente capaz de melhorar ren- que ela é afetada por fatores como a
dimento esportivo. genética, treinamento, talento, motiva-
ção e outros.
Entretanto, esta prática não é uma
novidade entre aqueles que buscam Em relação à dieta vegetariana, outros
obter resultados superiores nas mais confundidores ainda precisam ser con-
diversas modalidades, conforme ex- siderados, como o fato de não existir
posto anteriormente, apesar do limita- uma definição única para esse tipo de
do conhecimento científico disponível alimentação, que pode conter propor-
sobre o assunto até o momento. ções bastante distintas entre os gru-
pos alimentares, e outras mudanças
De fato, estudos que comparam os
de estilo de vida que frequentemente
efeitos de uma alimentação vegetaria-
são adotadas por esses indivíduos15.
na versus onívora sobre o desempenho
esportivo datam de mais de 100 anos15, Atualmente, ensaios clínicos e estu-
quando os primeiros atletas vegetaria- dos observacionais se dedicam a in-
nos começaram a protagonizar os pó- vestigar a pergunta que há tantos anos
dios em provas de atletismo e endurance. figura no meio esportivo – “Quais os re-
Naquele tempo, entretanto, as limitações ais efeitos das dietas vegetarianas so-
metodológicas dificultavam muito a in- bre a performance esportiva?” – mas
terpretação dos resultados obtidos. respostas contundentes ainda não es-

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tão disponíveis. Todavia, apesar de os mecanismos fisiológicos e bioquímicos


exatos que relacionam uma dieta vegetariana à melhora ou piora do desempe-
nho esportivo ainda não estarem bem elucidados, algumas hipóteses plausí-
veis são descritas na literatura:

A Facilitação do aumento dos estoques de glicogênio

Ainda que já esteja bem estabeleci- Outro estudo, desta vez com 553
do na literatura que a alta ingestão de atletas holandeses de elite e sub-e-
carboidratos favorece o desempenho lite de esportes de endurance, cole-
esportivo (mais detalhes na parte 2 tivos e força, verificou que a grande
deste guia), muitos atletas, sobretudo maioria deles ingeria quantidades de
amadores, seguem um padrão alimen- carboidratos menores do que as reco-
tar pobre neste nutriente, conforme mendadas atualmente17. Dado que os
demonstra um estudo que avaliou a alimentos de origem vegetal que com-
ingestão alimentar de 116 atletas de põem a base da dieta do atleta, como
endurance de diferentes modalidades os cereais, tubérculos e leguminosas,
(triatlo e pentatlo de inverno, Ironman são ricos em carboidratos, é comum
e meio Ironman) e verificou que menos que adoção de um padrão alimentar
da metade (46%) ingeriam as quanti- vegetariano promova maior ingestão
dades de carboidratos recomendadas desse nutriente e, consequentemente,
para este volume de treinamento16. uma melhora do desempenho.

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B Redução da viscosidade sanguínea e aumento da oxigenação tecidual

O desempenho esportivo ótimo de- no plasma18, levando a uma menor vis-


pende de uma boa circulação para a cosidade sanguínea, bem como que, a
entrega de oxigênio e nutrientes para maior ingestão de gorduras saturadas,
os tecidos, bem como para a remoção tipicamente encontradas nos produtos
de resíduos metabólicos. de origem animal, provoca prejuízos
sobre todos estes elementos19.
O fluxo sanguíneo depende de uma
série de fatores que são afetados pelas É possível que uma dieta à base de
escolhas alimentares, como a viscosi- plantas ofereça benefícios à perfor-
dade sanguínea e o calibre, flexibilida- mance através de uma aumentada
de e complacência das artérias. Está capacidade de entregar oxigênio e nu-
documentado que uma dieta vegeta- trientes aos tecidos.
riana reduz a concentração de lipídios

C Redução da inflamação e do estresse oxidativo

É sabido que o exercício físico regu- pécies reativas do oxigênio (ERO). O


lar reduz a inflamação crônica asso- aumento das ERO pode reduzir a capa-
ciada à obesidade, diabetes mellitus cidade antioxidante corporal, situação
tipo 2 e síndrome metabólica. Entre- conhecida como estresse oxidativo.
tanto, a sua realização de forma inten- Comparado aos onívoros, indivíduos
sa, prolongada ou de forma exaustiva que seguem uma dieta vegetariana
pode promover inflamação crônica, possuem uma maior atividade antio-
overtraining e maior suscetibilidade de xidante devido ao maior consumo de
infecções. Um dos fatores que contri- vitamina C, vitamina E, betacaroteno e
buem para estes efeitos é o aumento outros antioxidantes20 e menores ní-
exacerbado da síntese de compostos veis de marcadores do estresse oxida-
pró-oxidantes, conhecidos como es- tivo21 e de inflamação, como proteína

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C-reativa e ferritina22,23,24. Os efeitos matoide19. É possível que a maior in-


pró ou anti-inflamatórios da alimen- gestão de antioxidantes e os menores
tação também influenciam em sin- níveis de inflamação promovidos pela
tomas relacionados às articulações, adoção de um padrão alimentar vege-
conforme demonstrado em estudos tariano contribuam para uma melhor
com pacientes portadores de osteo- recuperação muscular e prevenção de
artrite, artrite psoriática e artrite reu- lesões.

D Possíveis limitações das dietas vegetarianas em relação ao desempenho

Não somente benefícios, como pos- crítico em condições de estresse e


síveis limitações das dietas vegeta- fadiga, como às que são submetidos
rianas em relação ao desempenho os atletas4. A literatura reforça a ne-
merecem ser discutidas. As reservas cessidade de estar atento ao estado
de creatina intramuscular parecem nutricional desses nutrientes, visto
ser menores em populações vege- que o estado nutricional dos atletas
tarianas em comparação às onívo- está diretamente relacionado com a
ras25 e é sugerido que populações manutenção do desempenho26, o que
vegetarianas (especialmente vega- reforça a importância do bom plane-
nas) devem prestar atenção no pla- jamento dietético, da aplicação de
nejamento dietético para alcançar a técnicas que melhoram a biodisponi-
adequação na ingestão de vitamina bilidade dos nutrientes e, quando per-
B12, ferro, zinco, cálcio, iodo e vita- tinente, da adequada suplementação
mina D5, o que se torna ainda mais nesta população27.

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Ainda que os mecanis- (e não através de marca- dades satisfatórias de


mos mencionados pos- dores bioquímicos, ape- vegetais e seguem um
sam contribuir para a nas) entre atletas oní- plano alimentar balance-
superioridade de um pa- voros e vegetarianos de ado, e que uma série de
drão alimentar vegetaria- diferentes modalidades, outros fatores para além
no para a saúde e sugerir envolvendo endurance e da alimentação afetam o
que provoquem efeitos treinamento com pesos: desempenho, conforme
positivos sobre o desem- “consumir uma dieta ve- já descrito.
penho, isto não está claro getariana não melhorou
Por outro lado, para
na literatura. Uma série ou prejudicou o desem-
além de possíveis bene-
de estudos que compa- penho em atletas”. Os
fícios imediatos sobre o
raram o desempenho en- autores destacam, po-
desempenho, a adoção
tre homens e mulheres rém, que mais pesquisas
de uma dieta vegetaria-
vegetarianos e onívoros, são necessárias, dado o
na por atletas pode ser
seja em exercícios de en- número limitado de estu-
considerada como uma
durance, como corridas dos e a heterogeneidade
forma de prolongar a
de longa distância e ci- de desenhos experimen-
carreira competitiva e
clismo, ou em exercícios tais aplicados31.
promover maior longe-
de força e potência28,29,30,
Possíveis justificativas vidade e qualidade de
concluem que, em verda-
para a falta de compro- vida após o seu térmi-
de, nenhum prejuízo ou
vação da superioridade no, visto que o espor-
benefício pôde ser com-
de uma dieta vegetaria- te de alto nível é reco-
provado.
na para o desempenho, nhecidamente taxativo
Esta é, de fato, a con- especialmente de forma para o organismo como
clusão de uma revisão aguda, são que os bene- um todo. Foi verificado,
sistemática da literatu- fícios associados a este por exemplo, um risco
ra que examinou as evi- padrão alimentar tam- maior do que a média
dências de estudos que bém podem ser obtidos para aterosclerose e
compararam a perfor- pelos atletas onívoros dano ao miocárdio entre
mance de maneira direta que consomem quanti- atletas de endurance19

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e, embora não esteja bem definido apontados em uma revisão do esta-


se isto acontece em decorrência da do da arte publicada pela Sociedade
própria atividade física ou da alimen- Europeia de Cardiologia (2023)32, que
tação adotada por estes indivíduos, a afirma que o padrão alimentar ve-
adoção de uma dieta vegetariana po- getariano está associado a diversos
deria ser considerada como forma de desfechos positivos em saúde, como
reduzir este risco. redução do risco de doenças cardio-
Outros benefícios para a saúde que vasculares, diabetes, hipertensão,
podem contribuir para uma vida mais demências e determinados tipos de
longa e saudável entre os atletas são câncer, entre outras patologias32.

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Rebeldes verdes

É preciso repensarmos
nossa alimentação do
ponto de vista da ética
animal e socioambiental.
A falta de uma com- confirmado pelo enor- tionamento do senso
provação científica con- me sucesso de atletas comum de que o espor-
tundente de que as die- do passado e do pre- te de alto rendimento
tas vegetarianas sejam sente que competem não pode ser saudável,
superiores a uma dieta em condições de igual- permitindo a proposta
onívora para o desem- dade com seus oponen- de um padrão alimentar
penho esportivo não tes onívoros. que ao menos atenue
deve ser, em absoluto, suas potenciais conse-
Ao contrário, a de-
razão para desencora- quências negativas no
monstração clara das
já-las entre os pratican- longo prazo e contribua
evidências de que uma
tes de exercícios físicos para uma carreira mais
dieta à base de plantas
e atletas, visto que tam- longeva.
promove maior saúde
pouco existe compro-
e longevidade sem pre- Além disso, enquan-
vação de que este pa-
judicar o desempenho to sociedade, é preciso
drão alimentar ofereça
é muito encorajadora, repensarmos nossa ali-
qualquer prejuízo para
pois proporciona uma mentação do ponto de
os seus adeptos, fato
oportunidade de ques- vista da ética animal e

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da responsabilidade socioambiental. conscientizam da importância de re-


Os atletas, em especial aqueles que duzir o consumo de produtos de ori-
são figuras públicas, não podem se gem animal, que são disseminadas
eximir desta responsabilidade, so- informações sobre como fazer esta
bretudo pelo papel importante que transição de uma maneira adequada,
exercem enquanto inspiração para a que o mercado de alimentos e su-
população em geral. Neste sentido, plementos alimentares oferece solu-
sendo possível atingir um desempe- ções mais inteligentes e saborosas,
nho atlético tão bom se alimentando e que mais veganos (estes rebeldes!)
exclusivamente de plantas quanto vencem competições e transmitem
consumindo alimentos de origem segurança para seus pares e para os
animal, por que não o fazer, conside- iniciantes que neles se espelham, é
rando seus benefícios para além das realista prever que cada vez mais
quebras de recordes? Esta é uma re- “atletas à base de plantas” se es-
flexão que não poderá deixar de ser palharão por todas as modalida-
feita nos anos vindouros. des esportivas e ocuparão, afinal,
À medida que mais pessoas se os lugares mais altos do pódio.

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