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Auto da Barca do Inferno

O Frade-Cena VI

Afonso Vitória 9º1 nº1, Escola Secundária José Falcão


Análise textual
"Vem um Frade com uma Moça pela mão, e um broquel e uma espada na
outra, e um casco debaixo do capelo; e, ele mesmo fazendo a baixa, começou de dançar, dizendo:

Frade — Tai-rai-rai-ra-rã; ta-ri-ri-rã; - O Frade entra em cena a


ta-rai-rai-rai-rã; tai-ri-ri-rã: dançar e a cantar junto com os
tã-tã; ta-ri-rim-rim-rã. Huhá! seus símbolos cénicos.
Diabo — Que é isso, padre?! Que vai lá?
Frade — Deo gratias! Som cortesão. - O Diabo fica até espantado com
Diabo — Sabês também o tordião? dança típica da corte
a entrada do Frade.
Frade — Porque não? Como ora sei!
Diabo — Pois entrai! Eu tangerei e faremos um serão.
convida o Frade a entrar
Análise da entrada do frade
• O frade aparece em cena a dançar e cantar junto com uma “Moça”
(mulher). Ele aparece em cena com objetos usados em esgrima.
• Mostrando ter um comportamento nada adequado para um membro
do Clero, um comportamento mundano.
Análise textual
amante
Essa dama é ela vossa?
Frade — Por minha la tenho eu, e sempre a tive de meu, - Existe o desrespeito pelo voto
Diabo — Fizestes bem, que é formosa! Ironia
da castidade convento
E não vos punham lá grosa no vosso convento santo?
“E eles fazem outro tanto!”
Frade — E eles fazem outro tanto!
Diabo — Que cousa tão preciosa... Ironia
Entrai, padre reverendo! - O Frade achava por ser parte
Frade — Para onde levais gente? do Clero tinha o direito de
Diabo — Para aquele fogo ardente que nom temestes vivendo. ir para o Paraíso
Frade — Juro a Deus que nom t'entendo! Eufemismo “E este hábito não me vai?”
E este hábito não me vai?
Diabo — Gentil padre mundanal, a Berzebu vos encomendo!

Acusa o frade de ter vivido uma


vida de mundana. Não
respeitando a vontade de Deus.
Análise textual
Frade — Corpo de Deus consagrado! Uso de linguagem da igreja
Pela fé de Jesus Cristo, que eu nom posso entender isto!
Eu hei de ser condenado?!...
Um padre tão namorado e tanto dado à virtude? Fica surpreendido com a sua
Assim Deus me dê saúde, que eu estou maravilhado! condenação. Não tendo noção dos
Diabo — Não curês de mais detença. seus pecados.
Embarcai e partiremos: tomareis um par de ramos.
Frade — Nom ficou isso n'avença. No “contrato” com Deus
Diabo — Pois dada está já a sentença!
Frade — Pardeus! Essa seria ela!
Não vai em tal caravela minha senhora Florença.
Análise textual
Como? Por ser namorado e folgar com uma mulher se há um frade de
perder, com tanto salmo rezado?!... Argumento de defesa- diz por ter
Diabo — Ora estás bem aviado! rezado muito enquanto vivo tem o
seu lugar no Paraíso
Frade — Mais estás bem corrigido!
Diabo — Devoto padre marido, haveis de ser cá pingado... torturado
Descobriu o Frade a cabeça, tirando o capelo; e apareceu o casco, e diz o
Frade: “Devoto padre marido”
- Um frade não pode ser
Frade — Mantenha Deus esta c'oroa! marido
Diabo — ó padre Frei Capacete!
Cuidei que tínheis barrete...
Fui uma pessoa importante
Frade — Sabê que fui da pessoa!
Esta espada é roloa e este broquel, rolão. - Convida o Frade a dar uma
Diabo — Dê Vossa Reverenda lição d'esgrima, que é cousa boa! lição de esgrima
Análise textual
Frade — Deo gratias! Demos caçada!
Para sempre contra sus!
Um fendente! Ora sus!
Esta é a primeira levada.
Alto! Levantai a espada!
Talho largo, e um revés!
E logo colher os pés,
que todo o al no é nada! O Frade dá uma lição de esgrima
Quando o recolher se tarda mostrando ser habilidoso e
o ferir nom é prudente. muito conhecedor. Interessando-
Ora, sus! Mui largamente,
cortai na segunda guarda! se em coisas mundanas.
—Guarde-me Deus d'espingarda
mais de homem denodado.
Aqui estou tão bem guardado
como a palha n'albarda.
Saio com meia espada...
Hou lá! Guardai as queixadas!

Análise textual
Diabo — Oh que valentes levadas!
Frade — Ainda isto nom é nada... - O Frado continua sem noção
Demos outra vez caçada! dos seus pecados.
Contra sus e um fendente, Seguindo com a sua lição
e, cortando largamente, de esgrima.
eis aqui sexta feitada.
Daqui saio com uma guia
e um revés da primeira:
esta é a quinta verdadeira.
— Oh! quantos daqui feria!...
Padre que tal aprendia
no Inferno há de haver pingos?!...
Ah! Nom praza a São Domingos
com tanta descortesia!
Análise textual
Frade — Vamos à barca da Glória!
- O Farde decide ir à Barca do
Anjo. No percurso até lá
Começou o Frade a fazer o tordião e foram dançando até o batel do Anjo continua mostrar
desta maneira: comportamentos na adequados
para um membro do Clero.
Frade — Ta-ra-ra-rai-rã; ta-ri-ri-ri-rã;
rai-rai-rã; ta-ri-ri-rã; ta-ri-ri-rã.
Huhá!
Deo gratias! Há lugar cá
para minha reverenda?
E a senhora Florença
polo meu entrará lá!

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