Você está na página 1de 11

C.E.

SESI – 166

Eloisa Silva de Oliveira – nº 09

1º ano B

Auto da Barca do Inferno – Gil Vicente


Avaliação do livro: Análise e reflexão da obra

Santo André

2020
C.E. SESI – 166

Eloisa Silva de Oliveira – nº 09

1º ano B

Auto da Barca do Inferno – Gil Vicente


Avaliação do livro: Análise e reflexão da obra

O seguinte trabalho tem como objetivo fazer uma análise e reflexão

da obra: “Auto da Barca do Inferno – Gil Vicente”. Indicado pela professora

de Lingua Portuguesa, Roseli Pereira dos Santos, como parte da avalição da 1º etapa.

Santo André

2020
Adaptação para a linguagem atual – 1º diálogo

O primeiro interlocutor – pessoa que faz parte de um diálogo – é um Fidalgo – homem com certo grau
de nobreza – que traz consigo um servo que lhe leva um rabo muito comprido e cadeira de encosto. E
começa o comandante do Inferno antes que o Fidalgo chegue:

Diabo – Entrem na barca! Entrem na barca! Andem, rápido

porque calma está a maré!

Podem manobrar de ré!

Companheiro – Já estamos assim!

Diabo – Vá logo, Bicho-ruim

retira aquele obstáculo

deixando o banco livre

para as pessoas que estão vindo

Entre logo! Entre logo! Seu ignorante,

pois queremos partir logo!

Já é hora de partir,

dando louvores à mim!

E puxa logo essa âncora,

coloca esse navio para andar!

Companheiro – Será logo tudo feito!

Diabo – Para encostarmos no cais de ré!

Coloque uma subida apropriada

E afrouxa bem essas cordas da vela.

Companheiro – Baixando a vela, içar bandeira!

Diabo – Ó, que embarcação é esta!

Coloquem as bandeiras de festa.

Mastro, âncora, pique!

Que o nobre Dom Henrique,

venha para o navio que aqui se apronta.


[Vem o Fidalgo e, chegando ao barco infernal, diz:]

Fidalgo – Para onde vai esta embarcação,

toda abastecida desse jeito?

Diabo – Vai para a ilha perdida,

e deve partir agora.

Fidalgo – A senhora também irá pra lá?

Diabo – Senhor, ao seu dispor.

Fidalgo – Este barco parece mais uma abrigação comunitária para os pobres.

Diabo – É porque julgas pela aparência.

Fidalgo – Para que terra estamos indo?

Diabo – Para o inferno, meu caro senhor.

Fidalgo – É uma terra sem alegrias.

Diabo – Eu não ouvi direito, pode repetir? Se vê no direito de zombar?

Fidalgo – Por acaso conseguistes achar passageiros para tal habitação?

Diabo – Pois eu vejo em você uma competência para servir na recepção do nosso cais…

Fidalgo – Acha que sou alguém para servir?

Diabo – Como espera ser acolhido?

Fidalgo – Pois saiba que deixei na vida passada

quem vai rezar sempre por mim.

Diabo – Quem vai rezar sempre por ti?

Essa piada é de rir, hihihi!

Você viveu para teu umbigo! Para o teu prazer!

E ainda acha que vale algo

para rezarem por ti aqui?

Você ou vocês, embarcai logo!

que esta ida é a última.

E manda entrar a cadeira

em que embarcou teu pai.


Fidalgo – Espera um pouco! É assim assim que irei?

Diabo – O que importa? A embarcação é apropriada!

Esse lugar que você escolheu,

com ele agora se contente.

Já que da morte passaste,

agora só falta o rio.

Fidalgo – Mas não existe outro navio?

Diabo – Não, senhor, porque alugaste

este aqui quando morreu,

e por sinal, já até me deu o sinal.

Fidalgo – Como assim? Quando fiz isso?

Diabo – Quando na vida zombaste.

Fidalgo – Irei querer outra barca.

Ô da barca, para onde vai?

Ei, não me ouviu?

Responda quem estiver!

Aonde fui me meter,

esta deve ser pior na que estou prestes a entrar.

Pois os burros ignorantes vão achar

que eu sou um qualquer!

Anjo – O que deseja?

Fidalgo – Saber

o porque parti sem aviso,

e se a barca para o paraíso

é esta que está na minha frente?

Anjo – É, sim. O que queres?

Fidalgo – Que me deixem embarcar,

sou fidalgo de solar,

devem pois me deixar entrar.


Anjo – Não se embarca crueldade ou ingratidão

nesta sagrada embarcação.

Fidalgo – Não vejo por que achem mal

que entre a minha nobreza.

Anjo – Para toda sua fantasia e soberba

é bem pequena esta barca.

Fidalgo – Para um senhor de tal patamar

não se tem mais cortesia?

Coloquem a prancha lisa;

me tirem desta terra alagada!

Anjo – Não vejo maneira

de o senhor entrar nesta barca.

Lá vai outro vazio:

nele tenho certeza que a cadeira vai entrar

e todo rabo vai caber

da autoridade, que é o senhor.

Lá é bem mais espaçoso

para o senhor

contar sobre a tirania

que praticou com tamanha zombaria;

e por não ser benevolente,

você desprezou os pequenos,

e agora é tão menor

quanto quando você foi ganancioso.


Diabo – Embarquem, embarquem, senhores!

Oh, que maré tão serena!

Um ventinho carinhoso

e remadores corajosos.

[Diz cantando:]

Diabo – Vocês vieram até mim

e acabaram em minhas mãos

pois bem agora estão

a mercê do Bicho-ruim

Fidalgo – Ao inferno, por injustiça¹

O que fiz de errado?

Ó, fui triste, enquanto vivi

nunca achei que esse lugar existia.

Pensava ser fantasia,

amava ser adorado,

que acabava me tornando mimado,

e não via que me perdia.

Pois coloquem a prancha e veremos

Essa barca de desgosto.

Diabo – Embarque logo, senhor

pois já iremos nos entender

pegue um par de remos

e começe a remar,

e, quando a gente chegar,

iremos desembarcar.

1.no texto original está “à revelia” que segundo o termo jurídico é quando há falta de contestação por
parte do réu em relação à ação proposta em face dele. Portanto, quis expressar o sentimento de
injustiça por parte do Fidalgo, por ele não poder comparecer ao seu julgamento.
Fidalgo – Mas, vão ter que esperar

pois quero voltar lá na outra vida,

e ver a minha esposa querida,

que quer se matar.

Diabo – Morrer por um ser humano tão ruim?

Fidalgo – Acha que estou mentindo?

Diabo – Oh, namorado idiota,

o maior que eu vi assim!

Fidalgo – Sou tão idiota

que ela até me escreveu por mil dias.

Diabo – Quantas mentiras que você lia

e tu… caindo em tamanha lorota!

Fidalgo – Por que você tem que zombar

não percebe o jeito dela de me amar?

Diabo – Pois então que viva como tolo, amém,

porque é isso que demonstra querer!

Fidalgo – Estou apenas falando o que eu sei, que é a verdade…

Diabo – Pois fique sabendo que enquanto você morria

ela estava aos beijos

com outro na tua frente.

Fidalgo – Me deixe voltar, diabo estrupício

quero ver minha mulher.

Diabo – Mas ela não quer te ver

Vai se jogar de um precipício?

Ao invés dela rezar por ti

soltando gritos e balançando suas fitas

deu graças infinitas

por aquele que à consolou.


Fidalgo – Sei que ela chorou!

Diabo – Claro! E não se chora de alegria?

Fidalgo – Mas e as lágrimas que caía?

Diabo – Foi a mãe dela que ensinou.

Entra na barca, meu caro!

Toma a prancha para atravessar!

Fidalgo – Vou entrar, não tem mais o que fazer…

Diabo – Então agora, descanse,

relaxe e suspire,

pois tem mais gente para embarcar.

Fidalgo – Que barca mais quente!

Maldito de quem aqui entre!

[Diz o Diabo ao moço da cadeira:]

Diabo – Leva daqui, seu moço

não quero mais ver essa cadeira

ou qualquer coisa que esteve na igreja

isso não permito que embarque aqui.

Te prometo outra, de rubi,

cheia de dores

enfeitada com relevos

que te deixarão em êxtase…

Entrem na barca, minha gente,

que já vamos partir!

Venham todos curtir!

Muita gente ignorante!

Que barca mais deslumbrante!


Para onde foram os personagens e o por que

Você também pode gostar