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O AUTO DA BARCA DO INFERNO

Gil Vicente.

Narração (Nanda):

Primeiramente, o texto foi pensado para ser breve, por consequência do tempo
disponível. Logo, nesta adaptação contemporânea são mostrados alguns dos personagens
importantes sem privar o observador do caráter cômico e crítico com o qual foi concebido.
Assim, começamos:

Nesse auto é imaginado que ao morrer, chega-se de repente a um rio onde todos
são obrigados a cruzar em uma das duas barcas que estão no cais. Cada barca tem um
barqueiro e um destino: a barca do anjo que levará ao Paraíso e a barca do diabo e seu
companheiro que levará ao Inferno.

Diabo (Mary): Olha a Barca, Olha a Barca! Vamos lá! A maré está muito boa! Puxa a
vela pra cá!

Companheiro (Nadiele): Feito! Feito!

Diabo (Mary): Muito bem!

Rápido, vá e estica bem aquela corda

Libera aquele banco para a almas que virão.

Olha a Barca, Olha a Barca!

Vamos lá! Depressa! Temos que ir!

Companheiro (Nadiele): É pra já! Está tudo pronto! Está feito!

Diabo (Mary): Abaixa logo esse rabo!

Deixa preparado o cabo...ajeita logo essa corda que já vamos partir.


Companheiro (Nadiele): Vamos lá!

Diabo (Mary): Oh! Que caravela esta! Põe bandeiras, que é festa!

Vamos logo...iça as velas, companheiro!

Olha só...quanta gente esperando. Kkkk

Tantas que não entrarão e tantas outras que queremos que embarquem.

Anjo (Fran): Espero que subam mais pessoas que da última vez.

Diabo (Mary): Meu barco é muito encantador e bem mais quente que o teu barco,
parceiro.

Anjo (Fran): Veremos...vou fazer o impossível para trazê-los comigo.

Diabo (Mary): Não te ilude!!! Cada dia, mais e mais pessoas perdem o escrúpulo.
Logo, logo, não terá mais passageiros em tua barca.

Narração (Nanda): O primeiro que aparece é o Fidalgo e seu pajem que segura a
cauda do manto e uma cadeira. Fidalgo - símbolo cadeira - Ele pergunta ao Anjo, o destino
da sua barca e se poderia embarcar, mas é impedido de entrar, devido a sua tirania. O Anjo
diz que aquela barca era muito pequena e não tem espaço para o seu mau caráter.

PERSONAGEM 1: FIDALGO NEI

Diabo (Mary): Ora! Vejam só! Você por aqui? Embarque e sente ali, menino!

Fidalgo Nei (Willian): Não sem saber para onde tua barca vai?

Diabo (Mary): Minha barca vai para “a ilha perdida”.


Fidalgo Nei (Willian): Não subo aí, nem de graça... pelo cheiro que tens…este lugar
não é para mim. Naquele outro barco é que é meu lugar. Ali, parece muito mais requintado e
digno para me receber.

Diabo (Mary): Por que isso? Sempre fui seu fã. Sente logo ali e se contente!

Fidalgo Nei (Willian): Não mesmo! Tenho quem reze por mim.

Diabo (Mary): “Quem reze sempre por ti? …1

Hi-hi-hi-hi-hi-hi-hi!…

E tu viveste a teu prazer,cuidando cá guarecer

(encontrar abrigo, salvação)

porque rezam lá por ti?

Embarca!, ou embarcai!,

que haveis de ir à derradeira,

(final)

mandai meter a cadeira

que assim passou vosso pai”.

Fidalgo Nei (Willian): Tá pensando o que? Sou Fidalgo Nei… distribuo alegria para o mundo
com meus gols! Já vai tirando teu “barquinho” da chuva porque meu autógrafo, tu não vai
ter!

Diabo (Mary): Agora me ofendi! Você me trata como um malcheiroso considero um elogio,
mas, negar autógrafo para fã já é demais? ENTRA LOGO E NÃO RECLAMA!

Fidalgo Nei (Willian): Tu é mesmo uma besta. Vou para o barco que é meu por direito. Lá é
meu lugar! Embarcarei para glória. Tchau horroroso!

Fidalgo Nei (Willian): Oi, anjo cheiroso! Vim te trazer meu autógrafo.

Anjo (Fran): No meu barco, isso não tem nenhum valor.

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Fidalgo Nei (Willian): (pensando alto) Putz! Esse anjo só pode ser amigo da Marquezine! Era
só o que me faltava. Esse anjo de araque dispensar meu autógrafo.

Anjo (Fran): Meu barco, minhas regras. Sai para lá.

Fidalgo Nei (Willian): Vou ter que chamar meus advogados.

Anjo (Fran): Aqui isso não cola, queridinho.

Fidalgo Nei (Willian): Melhor...eu mesmo advogarei a meu favor! Porque cargas d’agua eu
tenho que subir no outro barco?

Anjo (Fran): Você é aquele que cria sempre um obstáculo à sua frente fazendo que os

outros sofram penalidades. Se este não é um bom motivo, não sei mais o que seria.

Fidalgo Nei (Willian): Que babaca você é. Eu dou festas memoráveis e deixo muitas pessoas
felizes.

Anjo (Fran): Você sempre colocando preço no que não tem valor.

Fidalgo Nei (Willian): Está bem, cheiroso, se é para subir na tua embarcação, eu me
arrependo.

Anjo (Fran): Essa barca é muito pequena para você, não tem espaço para o seu mau caráter.
Sobe no barco ao lado.

Diabo (Mary): Esse menino...só um pouco presunçoso...hahaha. Agora vens comigo!

Fidalgo Nei (Willian): Me arrependi tarde demais. Enquanto vivi, não pensei que existia
inferno. Só me resta aceitar, sem reclamar, meu destino.

Narração (Nanda): Onzeneiro – é um agiota que ao chegar à barca do Diabo descobre que
seu rico dinheiro ficara em terra. Utilizando o pretexto de ir buscar o dinheiro, tenta
convencer o Diabo a deixá-lo retornar, demonstrando seu apreço às coisas mundanas. O
Diabo não aceita que o Onzeneiro volte à terra para reaver suas riquezas, condenando-o ao
fogo do Inferno.

PERSONAGEM 2: ONZENEIRO VÉIO


Diabo (Mary): Ora, ora...quem vem lá? Tio Chico ou família Adams, te diz algo?

Onzeneiro (Jordana): Sei de quem fala. Pareço, não é? Mas, não sou. Sou o Lu.

Anjo (Fran): O que você tem a dizer em seu favor, véio?

Onzeneiro (Jordana): Eu proporciono muitos empregos e trato todos como iguais.

Diabo (Mary): E o episódio do Fellipe Netto?

Onzeneiro (Jordana): Aquilo foi uma calúnia. O atestado de vacina da minha véia era
verdadeiro.

Anjo (Fran): Então... você vem comigo, véio.

Onzeneiro (Jordana): Desculpa diabo, mas, não ficarei contigo.

Diabo (Mary): Que aporrinhação...estava te querendo aqui comigo.

Onzeneiro (Jordana): Um momento anjo, só vou pegar minha mala com o dinheiro que
esqueci ali.

Anjo (Fran): Aqui não entra dinheiro, talvez no barco do Bél seja diferente.

Onzeneiro (Jordana): Então eu vou é para lá.

Diabo (Mary): Ué... porque voltou, véio? Não estava bom para você?

Onzeneiro (Jordana): Sabe o que é seu diabo? Eu tenho apreço pelo mundano e pelo calor.
Acho que serei mais feliz com você.

Diabo (Mary): Você acha que me engana? Eu aqui por toda eternidade, conhecedor dos atos
da humanidade e você me julgando um idiota? Não te deixarei rever tuas riquezas e, já que
gosta do calor e do mundano, te condeno ao inferno.

Parvo: um dos poucos a não ser condenado ao Inferno. O Parvo chega desprovido de tudo,
é simples, sem malícia e consegue driblar o Diabo, e até injuriá-lo. É uma alma pura, cujos
valores são legítimos e sinceros. Ao passar pela barca do Anjo, diz ser ninguém. Então, por
sua humildade e por seus verdadeiros valores, é conduzido ao Paraíso. Em várias
passagens da peça, o Parvo ironiza a pretensão de outros personagens, que se querem
passar por "inocentes" diante do Diabo.

PERSONAGEM 3: CARLITO PARVO

Diabo (Mary): Cara...você de novo?

Carlito Parvo (Marciana): Sim e trouxe uma rosa para cada um. Não adianta nem tentar me
esquecer.

Anjo (Fran): Esse é meu.

Diabo (Mary): Capaz.

Carlito Parvo (Marciana): dirige-se ao Diabo da seguinte forma:

“Furta-cebolas! Hiu! Hiu!2

Excomungado das igrejas!

Burrela, cornudo sejas! (diminutivo de burra, zombaria, esparrela)

Toma o pão que te caiu,

A mulher que te fugiu

Pera a Ilha da Madeira!

Ratinho da Giesteira, (trabalhador do campo)

O demo que te pariu!”

Carlito Parvo (Marciana): Pô bicho... vocês nunca chegam num veredito. Essa fila já andou
tantas vezes e sempre me mandam ir para o final. Será que desta vez conseguirei embarcar?

Diabo (Mary): Você mandou seu fã “calar a boca” em um show teu. Tu tens noção do que
isso significa? São eles, teus fãs, os responsáveis por teu sucesso profissional. Por isso, vens
comigo, Carlito Parvo.

Carlito Parvo (Marciana): Bicho... Nunca se esqueça, nem um segundo que eu tenho o amor
maior do mundo, mas o cara não calava a boca, me perturbou durante todo show. Eu fiz foi
pouco.
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Diabo (Mary): Não é desculpa para tamanha desconsideração.

Carlito Parvo (Marciana): Não sei os outros, mas não quero achar desculpas tentando ser
melhor ou pior que alguém. Porém, dizer que eu tenho TOC e que isso é uma patologia fará
alguma diferença para o juízo final?

Anjo (Fran): Viu só, diabo? Eu disse que esse era meu. Parvito tu passarás, se quiseres;
porque em todos teus fazeres per malícia nom erraste. Tua simpleza t'abaste para gozar dos
prazeres. Você vem logo para o meu barco, mas, cuidado com a sua perna ao subir na barca.

Brísida Vaz: agenciadora de meretrizes, misto de alcoviteira e feiticeira. Por sua devassidão
e falta de escrúpulos, é condenada. É conhecida de outros personagens que utilizaram em
vida seus serviços. Inescrupulosa, traiçoeira, cheia de ardis, não consegue fugir à
condenação. Personagem que faz o público leitor conhecer a qualidade moral de outros
personagens que com ela se relacionaram.

PERSONAGEM 4: BRÍSIDA ANINHA VAZ

Anjo (Fran): Que rosto lindo!!! Me parece muito familiar.

Diabo (Mary): Francamente, coleguinha...você lembra desse “rosto”? Pois, a única coisa que
eu não reconheço é, justamente, o rosto.

Anjo (Fran): Qual seu nome e do que você morreu, menina?

Brísida Aninha vaz (Emily): Meu nome é Brísida Vaz. Sou dançarina e rompi uma vertebra
quando “sentei” errado.

Diabo (Mary): KKK. Pode deixar que essa daí é minha.

Anjo (Fran): Calma, colega. Não sem antes ela se defender. Fala minha filha o que traz em
sua bolsa e o que de bom fez em sua vida?

Brísida Aninha vaz (Emily): Não carrego nada de relevante. Trago em minha bolsa, apenas
um pen driver.

Anjo (Fran): Que bom...sabia que havia acertado...queria mesmo você aqui. Sobe.

Brísida Aninha Vaz (Emily):


Peço-vo-lo de giolhos!3

Cuidais que trago piolhos,

anjo de Deos, minha rosa?

Eu sô aquela preciosa

que dava as moças a molhos,

a que criava as meninas

pera os cónegos da Sé…

Passai-me, por vossa fé,

meu amor, minhas boninas, (margaridas)

olhos de perlinhas finas!

E eu som apostolada,

angelada e martelada,

e fiz cousas mui divinas.

Santa Úrsula nom converteu

tantas cachopas como eu (…)” (meninas, raparigas)

Diabo (Mary): Um momento, queridinha. Não vai subindo assim, tão segura... antes diga
para o anjo e a mim, o que tem no pen driver...kkkk

Brísida Aninha vaz (Emily): Nele trago apenas algumas músicas, algumas imagens para
minhas tatuagens e das várias alterações cirúrgicas que já fiz.

Anjo (Fran): Alterações cirúrgicas? Você não estava satisfeita com a escolha divina?

Brísida Aninha vaz (Emily): Achei que podia dar uma melhorada nessa incrível criação e
deixá-la um tantinho melhor.

Anjo (Fran): Ah... E quanto a tatuagens? Você já fez alguma?

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Diabo (Mary): Essa já é minha passageira...como tenho todo tempo do mundo, vou deixar a
conversa rolar e ver até onde vai.

Brísida Aninha vaz (Emily): Sim, já fiz algumas e tem uma que você vai amar quando ver,
anjinho. Tenho certeza disso.

Anjo (Fran): Hum. Certo, então...deixe-me ver então suas tatuagens.

Diabo (Mary): Epaaaaa...nananinanão. Pera ai...essa tua tatoo o anjo não pode ver. Teu lugar
é aqui comigo...já pro meu barco, moleca.

Brísida Aninha vaz (Emily): Não acredito, avermelhadooooo! Vou entrar no teu barco porque
tatuei minha flor? Faz parte do que eu gosto. Segura, se prepara, que eu vou te provocar.
Bora lá deitar e rolar na proa.

Diabo (Mary) e Anjo (Fran): Nós que aqui estamos, por vós esperamos!

FIM.

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