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Auto da barca do inferno

DIABO(TIAGO) – (ao companheiro) Olha a Barca, Olha a Barca! Vamos


lá! Que a maré está muito boa!
Puxa a vela pra cá!
COMPANHEIRO(PEDRO) - Feito! Feito!
DIABO(TIAGO) – Muito bem!
Rápido, vá e estica bem aquela corda e libera aquele banco para a almas
que virão.
Olha a Barca, Olha a Barca! Vamos lá! Depressa! Temos que ir! Está na
hora de partir! Louvores a Belzebu!
DIABELIQUETE(MARIA P.) – É pra já! Está tudo Pronto, está feito!
DIABO(TIAGO) – Abaixa logo esse rabo! Deixa preparado o cabo e ajeita
a corda que vamos partir.
COMPANHEIRO- Vamos lá!
DIABO(TIAGO) – Oh! Que caravela esta! Põe bandeiras, que é festa!
(vendo um Fidalgo que se aproxima)
Vem o FIDALGO acompanhado de um rapaz com uma cadeira. Chegando
a barca do Inferno, diz:
FIDALGO(RAFAEL)- E essa barca? Para onde vai?
DIABO(TIAGO) - Vamos para a ilha danada e já vamos partir.
FIDALGO(RAFAEL)- E a senhora vai para lá também?
DIABO(TIAGO) - (corrigindo irritado) Senhor!... A seu dispor
FIDALGO(RAFAEL)- Isso parece um cortiço.
COMPANHEIRO(PEDRO)- é o que você vê ai, do lado de fora
FIDALGO(RAFAEL)- qual o destino?
DIABELIQUETE - O inferno, senhor.
FIDALGO(RAFAEL)- (irônico) Hum! Essa terra é podre, sem graça,
mereço um lugar melhor!
FIDALGO(RAFAEL)- E por acaso tem algum passageiro para esta
embarcação?
DIABO(TIAGO) - Ora ora, você é a cara dessa embarcação!
FIDALGO(RAFAEL)- Eu deixo na outra vida Quem reza sempre por mim.
DIABO(TIAGO) - Quem reza sempre por ti? Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi. Tu
viveste a teu prazer achando que iria ter perdão porque eles tem que rezar
por ti? Embarca já!
FIDALGO(RAFAEL)– Não há aqui outro navio?
DIABELIQUETE(MARIA P.) – Não, senhor, este foi reservado pra você.
FIDALGO(RAFAEL)– (confuso, sem compreender nada) Vou neste outra
barca
FIDALGO(RAFAEL): (gritando para o Anjo que está na barca Olá! Pra
onde você vai?
(o Anjo não responde) Ei você não está me ouvindo? Este além de surda é
fraca.
ANJO(AMANDA) – (aproximando-se) O que quer?
FIDALGO(RAFAEL)– Esta é mesmo a barca que vai para o paraíso?
ANJO(AMANDA) – É sim.
FIDALGO(RAFAEL)– me deixe embarcar aí.
ANJELIQUETE(STEFANY) -Não se embarca tirania nesta barca divinal.
Aqui não tem espaço para você
DIABO(TIAGO) – Olha a Barca, Olha a Barca! Vamos lá! A brisa está tão
gostosa e temos os melhores remadores!
FIDALGO(RAFAEL)– (tristemente conformado) Ao inferno! Oh, tristeza!
Sempre pensei que não existia essas patifarias. Amava ser admirado,
pensava que ter dinheiro não ia me afetar
(humildemente pede ao diabo)
FIDALGO(RAFAEL)– Posso voltar a terra para ver minha mulher? Ela
está sofrendo, quer se matar por mim.
COMPANHEIRO(PEDRO) – (rindo) você realmente acha isso, achei que
era mais inteligente, ela deve esta festejando por se livrar de um tralha
desses, enquanto lia mentiras, ela se divertia com outro
DIABO(TIAGO) - (impaciente) Deixa de conversa e entre logo na barca
(fala ao secretario) arrume um espaço para ele ficar
Fidalgo entra na barca com maior tristeza no rosto.
Carregando uma bolsa, vem um AGIOTA
AGIOTA(BRAYAN) – Onde vai essa gente toda?
DIABO(TIAGO) – Oh! Agiota, meu querido! Por que demorou todo esse
tempo?
AGIOTA(BRAYAN)– Eu queria ficar mais um tempo, tava ganhando mais
grana mas infelizmente morri antes de aproveitar todo meu dinheiro...
DIABO(TIAGO) – Não trouxe nada para mim? Cadê esse grana toda?
(diabo põe a mão no ombro do agiota)
AGIOTA(BRAYAN) – Não sobrou nada.
DIABO(TIAGO) – Ora, entre, entre.
AGIOTA(BRAYAN)– Mas qual é o destino?
DIABELIQUETE – Pro cafofo do Diabo.
AGIOTA(BRAYAN)– Mas eu não vem a pau nessa barca, vou na outra
(com determinação aponta para a barca do anjo) Essa outra parece
interessante.
ANJELIQUETE(STEFANY)– (faz gesto decisivo para não deixá-lo entrar)
Nem tenta.
AGIOTA(BRAYAN)– Eu estou querendo ir para o paraíso.
ANJELIQUETE(STEFANY)– Não perguntei nada, vai até a outra barca
ali!
AGIOTA(BRAYAN)– Mas por quê?
ANJO(AMANDA) – Essa mala de dinheiro vai tomar muito espaço.
AGIOTA(BRAYAN)– Este aqui? Está vazio!
ANJO(AMANDA) – Mas o seu coração não está vazio. Você é muito
ganancioso.
AGIOTA – (voltando á barca do Inferno) Alô, ainda tá aqui? Eu trago um
pedido.Tenho que voltar ao mundo,E vou cuidar de trazer bastante
dinheiro,Porque de mãos abanando eu nã...
DIABELIQUETE(MARIA P.) – Entra e reme.
DIABO(TIAGO): - Teu sofrimento nem começou. (rindo)
Eis que o parvo se aproxima da barca:
DIABO(TIAGO) – Quem é?
PARVO(FABRICIO) – Sou eu.
DIABO(TIAGO) – Eu quem animal?
PARVO(FABRICIO): Eu, essa barca é sua?
DIABO(TIAGO): sim, venha, vamos embarcar.
COMPANHEIRO(PEDRO): Como você morreu?
PARVO(FABRICIO): De caganeira. (Timidamente)
DIABO(TIAGO): O que?
PARVO(FABRICIO): CA – GA – NE – I – RA (gritando)
DIABO(TIAGO): ha ha ha ha ha ha ha... peraí, você morreu cagando?
PARVO(FABRICIO): Isso mesmo, cagei muito, muito, muito, muito, mais.
DIABELIQUETE(MARIA P.): então vamos, entre na barca e reme a favor
da maré.
PARVO(FABRICIO): e pra onde nós vai?
DIABO(TIAGO): e pra onde você acha que vai? Nós vamos para o porto
de Lúcifer.
PARVO(FABRICIO) – Lúcifer? Ha ha há Ha ha h ... você é o diabo?
DIABO(TIAGO): O próprio!
PARVO(FABRICIO): Esta é a barca dos fracassados,Dos cornos,Dos
bandidos,Dos corruptos,Dos pilantras?!
o parvo se dirige para a barca do anjo.
PARVO(FABRICIO): Oooooooooolllllllllllaaaaaa?
ANJO: desembucha?
PARVO(FABRICIO): posso entrar?
ANJO: Quem é você?
PARVO(FABRICIO): Ninguém.
ANJO(AMANDA)– Se quiser pode porque você falou verdades ,seus erros
são malicias, é virgem ainda,e sua simplicidade é o bastante para
entrar.Vamos esperar,Se alguém ninguém melhor chegar, você vai
PARVO(FABRICIO): não precisa espalhar o que você sabe.
Vem então João Antão, um SAPATEIRO, carregando o avental, as
forminhas e os instrumentos de trabalho. Aproxima-se da barca do Inferno
e diz:
SAPATEIRO(DANILO) – Oou da barca!
DIABO(TIAGO) – Quem é o canalha da vez?
SAPATEIRO(DANILO): O sapateiro mais habilidoso que você vai ver!
DIABO(TIAGO): Por que ta se vestindo que nem mendigo?
SAPATEIRO(DANILO)– Mandaram eu vir assim... Mas para onde é a
viagem?
DIABO(TIAGO) – Para a terra dos danados.
SAPATEIRO(DANILO)– E os que se confessaram antes de morrer? Onde
têm a sua entrada?
DIABO(TIAGO) – Quê?! Sem conversa fiada, esta barca é sua.
SAPATEIRO(DANILO)– Não quero saber da festa, nem da barca, nem do
embarque! Como pode isso ser? Morri como se deve morrer, confessado.
DIABELIQUETE(MARIA P.) – Tu morreu amaldiçoado, passou a perna
no seu povo por trinta anos e ficou de bico calado
COMPANHEIRO(PEDRO) (Impaciente)--Embarca já, infeliz!
SAPATEIRO(DANILO)– E as missas que eu ouvi, elas não vão me
ajudar?
DIABO(TIAGO) – Chega de papo furado, entra logo, entra, entra...
SAPATEIRO(DANILO)– Não vou entrar ai... Quero ir na outra barca. (vai
à barca do Anjo e diz:)
Oh, da santa caravela, posso entrar nessa barca?
ANJO(AMANDA)– (apontando para as coisas que ele carrega) Tua carga
te condena.
SAPATEIRO(DANILO)– Mas não há um favorzinho ou uma ajudinha de
Deus?
ANJELIQUETE – (apontando a barca do Inferno) Aquela barca alí leva
ladrão descarado.... Se você fosse honesto teria passagem livra para o
paraiso.
SAPATEIRO(DANILO)– (angustiado) Essa é sua palavra final? Que eu vá
para o inferno?
ANJELIQUETE – (severo) Teu nome ta no livro do sete pele
SAPATEIRO(DANILO)– Ok... Vou para o inferno (ele vai para a barca do
inferno e entra )
Depois que o SAPATEIRO embarcou, vem BRÍSIDA VAZ, uma Alcoviteira,
isto é, uma mulher que vivia da prostituição de moças. Chegando à barca
do Inferno, diz:
BRÍSIDA(MARIA BAZ) - Olá da barca, olá.
DIABO(TIAGO) – Quem chama?
BRÍSIDA(MARIA BAZ) – Brísida Vaz.
COMPANHEIRO(PEDRO):(sussurra) mocréia
DIABO(TIAGO) - Hum... Pode entrar, pegue um remo e...
BRÍSIDA(MARIA BAZ) – Epa... eu não quero entrar aí... Não é essa barca
que eu quero, eu mereço um lugar a minha altura
DIABO(TIAGO) – (irônico) Ante de entrar, me diga o que tem na bolsa.
BRÍSIDA(MARIA BAZ) – uma mulher não costuma revelar o que leva na
bolsa.
DIABO(TIAGO) – Fala logo
BRÍSIDA(MARIA BAZ) – Muitas falsas virgindades , mentiras,Falsidades
Alguns roubos,E traições.Várias joias e, As tantas moças que vendi.
DIABO(TIAGO) – Aqui é seu lugar então
BRÍSIDA(MARIA BAZ) – Se toca! Eu vou pro céu querido, lá é meu lugar
Brísida vai ate a barca do anjo.
Chegando à barca da Glória, diz ao ANJO:
BRÍSIDA(MARIA BAZ) – Senhor anjo, tem lugar pra mim?
ANJO(AMANDA)– Tem sim... Alias tem não!
BRÍSIDA(MARIA BAZ) Mas como não? Eu que ajudei a tantas pessoas
nessa vida, tantos juízes, deputados, senadores, padres, jogadores de
futebol...
ANJELIQUETE: Não tem espaço, xô xô
A garota retorna à barca do inferno, lamentando muito
BRÍSIDA(MARIA BAZ): Me leva logo
DIABO: (em tom ironia) Pode entrar madame, daqui a pouco vai sentir o
quanto santinha você é.
Assim que Brísida Vaz embarcou, veio um judeu com um bode às costas e
chegando ao batel dos danados diz:
JUDEU(MATHEUS) – de quem é esta barca?
DIABELIQUETE(MARIA P.) – Te interessa?
JUDEU(MATHEUS): Claro!
COMPANHEIRO(PEDRO) – E esse bicho? Vai querer levar é?
JUDEU(MATHEUS): Sem meu bichano eu não vou.
DIABO(TIAGO) – Ele não vai entrar na minha barca.
JUDEU(MATHEUS)– por que não?
DIABO(TIAGO) – Pelo visto você não sabe das minhas regras,... preste
atenção: umas regras diz que é proibido fumar, proibido entrada de
animais.
JUDEU(MATHEUS): Então quer dizer que animal não pode entrar né?...
Tome aqui um trocadinho.
DIABELIQUETE: Hum... querendo subordinar esse safado.
JUDEU(MATHEUS): porque a Brísida pode e eu não?
DIABO(TIAGO): Entra logo então judeu!E pdoe levar essa coisa também
Chega um JUIZA cheio de papéis, com uma vara na mão, e chegando à
barca infernal diz:
JUIZA(SOPHIA) - Ô da barca!
COMPANHEIRO(PEDRO) - O que quer?
JUIZA(SOPHIA)- Sou uma juiza!
DIABELIQUETE(MARIA P.) - quantas coisas você traz!
JUIZ - São muitos casos de Direito, aqui nos papéis.
DIABELIQUETE(MARIA P.) - Então entre, aí eu vejo esses casos.
JUIZA(SOPHIA)- E para onde me levaria?
COMPANHEIRO(PEDRO) - Para o inferno! Entre logo! E pegue um
remo!
JUIZA(SOPHIA)- Isto não é nada justo! Eu protesto! Renego a viagem.
Renego o marinheiro também! Exijo alguém para me levar daqui!
DIABO(TIAGO) - -Você não pode exigir nada aqui!
JUIZA(SOPHIA)- Não posso entender o que acontece aqui! Isso não pode
ser!
DIABO(TIAGO) - Ande logo, juiza! E pare de usar estas palavras
difíceis,não aceitou suborno na vida? Esta é sua barca!
JUIZA(SOPHIA)- Sempre agi com justiça!
DIABO(TIAGO) - Você enriqueceu a custa dos pobres! Com tirania,
roubou dos pequenos, Não os atendeu! Se não temeu a Deus em vida, Aqui
é seu lugar!
Chega uma procuradora carregada de livros
JUIZA(SOPHIA)- Olá senhorita procuradora!
PROCURADORA(MARIA F.) - Senhorita juiza!
DIABELIQUETE(MARIA P.) - Esta será uma boa remadora! Entre na
barca!
PROCURADORA(MARIA F.)- E para onde vai esta barca?
DIABELIQUETE(MARIA P.) - Para as terras infernais.
PROCURADORA(MARIA F.)- Há uma caravela bem melhor ali do outro
lado.
DIABO(TIAGO) - Chega de papo, entrem logo.
JUIZA(SOPHIA)- Você se confessou, procuradora?
PROCURADORA(MARIA F.)- Não... nunca imaginaria que aquela
doença me mataria! E você? Se confessou?
JUIZA(SOPHIA)- Eu bem que confessei, mas não tive coragem de falar de
meus roubos!
DIABO(TIAGO) - Estão vendo? As duas estão condenadas! Por que a
enrolação?
JUIZA(SOPHIA)- Por que esperamos em Deus!
Vão ao barco da glória, enquanto o diabo gritava pra entrar no barco, e
então o corregedor diz ao anjo:
JUIZA(SOPHIA)- Criatura celestial, deixe-nos embarcar!
ANJO(AMANDA)- Oh! Vocês foram odiosos e corruptos com todos!
JUIZA(SOPHIA)- Tenham piedade de nós! Deixe-nos entrar!
ANJELIQUETE(STEFANY) - A justiça divina diz que vocês devem ir à
outra barca!
JUIZA(SOPHIA)- Vamos entrar neste barco negro, não há o que fazer!
PROCURADORA(MARIA F.)- Não há o que fazer!
DIABELIQUETE(MARIA P.) - Entre, entre!
A JUIZA, ao entrar na barca, reconhece Brísida, e diz a ela:
JUIZA(SOPHIA)- Que momento ruim senhora!
BRÍSIDA - É tempo de fazer o que a justiça manda.
Chega um suicida
DIABO(TIAGO) - Venha suicida, entre. Venha e você governará, Até as
portas do inferno!
SUICIDA(VITOR) - Esta não é minha barca!
DIABO(TIAGO) - Como não?! Você foi sentenciado!
SUICIDA(VITOR)- Se meu delegado disse que os que morrem como eu
Estão livre de Satanás, E que Deus me acolheria, esta não é minha barca!
COMPANHEIRO(PEDRO) - Por tudo que você fez, deve ir ao inferno.
SUICIDA(VITOR)- Me disseram que eu iria para o paraíso.
DIABELIQUETE(MARIA P.) - Não te falaram em cumprir penas? No
purgatório?
SUICIDA(VITOR)- Meu sofrimento na prisão já valeu como purgatório.
DIABO(TIAGO) - Pois saiba que não foi o suficiente. Você deve entrar!
SUICIDA(VITOR)- Se é assim, entro...
DIABO - Este sim foi bom embarcar! Preparem-se a viagem começará
logo!
E passando diante da barca dos danados assim cantando, com suas
espadas e escudos, dirige-se a eles o barqueiro da perdição, dizendo:
CAVALEIROS(JOSÉ E CESAR) -Fugir da barca perdida!
Vamos, vamos à barca da vida!
Todos que por Deus trabalharam
Entrem na barca divina!
DIABO(TIAGO) – Cavaleiros, para onde vão? Podem dizer?
CAVALEIRO (JOSÉ) – E vós, Satãm, o que queres? Preste atenção como
você fala.
CAVALEIRO(CESAR) – Pra que perguntas? Você nos conhece muito
bem. Morremos lutando nas Cruzadas.
DIABO(TIAGO) – se aproximem, tudo aqui foi feitos pra vocês
CAVALEIRO (JOSÉ) – Quem morre por Jesus Cristo não entra em barca
como essas.
NARRADOR: Prosseguem os CAVALEIROS cantando, em direção à
barca da Glória. Quando chegam, diz o ANJO:
ANJO – Ó cavaleiros de Deus, morremos em teu nome, pelo senhor dos
céus. Quem morre em nome de Cristo merece paz
eternal.
E assim embarcam os CAVALEIROS.

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