Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Crônicas Variadas (Preta, Stanislaw Ponte)
Crônicas Variadas (Preta, Stanislaw Ponte)
(Sérgio Porto)
Até que eu não sou de reclamar, puxa! Taí, se há alguém que não é de
reclamar, sou eu. Pago sempre e não bufo. Claro que procuro me defender
da melhor maneira possível, isto é, chateando o patrão, cobrando cada vez
mais, buscando o impossível — como diz Tia Zulmira —, ou seja,
equilíbrio orçamentário. Se o Banco do Brasil não tem equilíbrio
orçamentário, eu é que vou ter, é ou não é?
Mas a gente luta. Eu ganho cada vez mais e nem por isso deixo de terminar
sempre o mês que nem time de Zezé Moreira: 0 x 0. Segundo cálculos da
tia acima citada, que é bárbara para assuntos econômicos, eu sou um dos
homens mais ricos do Brasil, pois consigo chegar ao fim do mês sem dever.
Esta afirmativa não me agrada nada, mas dá uma pequena amostra de como
vai mal a organização administrativa do nosso querido Brasil.
Mas este ano eu aprendi, irmãos! Em 1963 vou comprar diversas folhas de
papel (tamanho ofício) e organizar várias listas para as criancinhas pobres
aqui da casa. Quando o cara vier com a dele, eu neutralizo a jogada com a
minha. O máximo que pode acontecer é ele assinar 500 na minha e eu
assinar 500 na dele… ficando a terceira da melhor de três para disputar
mais tarde.
Vou mandar um que acabo de fazer para ele e para quem mais aparecer por
aqui: “Martelando o teclado, procurando por textos: loucura!, assim nasce
semanalmente o Projeto Releituras. E o ano no fim acaba, para alguns bem,
pra outros mal, e a todos eu desejo Boas Festas e Feliz Natal!”.
Conto de Natal
Stanislaw Ponte Preta
(Sérgio Porto)
A calçada refletia por debaixo das calças dos transeuntes o seu bafo quente,
o que ocorria também por debaixo das saias das passantes, mas esta imagem
é mais refrescante e talvez não dê ao leitor a idéia do calor que fazia. A
turba ignara ia e vinha, carregada de embrulhos, vítima da desonestidade
dos comerciantes, mas, ávida de comprar presentinhos.
Também a roupa era mixa! A blusa não tinha aquela vermelhidão dos
Papais-Noeis de capa de revistas. Nunquinha Madalena. Era cor-de-rosa,
daquele cor-de-rosa das camisas que usam componentes de blocos de sujo,
no Carnaval carioca. Isto, inclusive, talvez fosse verdade: aquele Papai-
Noel era tão vagabundo que era bem possível que tivesse aproveitado o
uniforme do Carnaval anterior, para o Natal.
A velha, num lampejo, percebeu tudo. Viu logo que, naquele Papai-Noel,
tinha truque. E, apenas para confirmar a sua teoria, abriu a bolsa, retirou um
pedaço de papel e escreveu:
— 500 cruzeiros no grupo do gato — 1.675 pelos sete lados… NCr$ 200,00
— centena 463 (invertido) … NCr$ 150,00.
(Sérgio Porto)
Diz que eram dois leões que fugiram do Jardim Zoológico. Na hora da fuga
cada um tomou um rumo, para despistar os perseguidores. Um dos leões foi
para as matas da Tijuca e outro foi para o centro da cidade. Procuraram os
leões de todo jeito mas ninguém encontrou. Tinham sumido, que nem o
leite.
Vai daí, depois de uma semana, para surpresa geral, o leão que voltou foi
justamente o que fugira para as matas da Tijuca. Voltou magro, faminto e
alquebrado. Foi preciso pedir a um deputado do PTB que arranjasse vaga
para ele no Jardim Zoológico outra vez, porque ninguém via vantagem em
reintegrar um leão tão carcomido assim. E, como deputado do PTB arranja
sempre colocação para quem não interessa colocar, o leão foi reconduzido à
sua jaula.
Mal ficaram juntos de novo, o leão que fugira para as florestas da Tijuca
disse pro coleguinha: — Puxa, rapaz, como é que você conseguiu ficar na
cidade esse tempo todo e ainda voltar com essa saúde? Eu, que fugi para as
matas da Tijuca, tive que pedir arreglo, porque quase não encontrava o que
comer, como é então que você… vá, diz como foi.
(Sérgio Porto)
ENTÃO, não sei se você se lembra, nos veio aquela vontade súbita de
comer siris. Havia anos que nós não comíamos siris e a vontade surgiu de
uma conversa sobre os almoços de antigamente. Lembro-me bem — e não
sei se você se lembra — que o primeiro a ter vontade de comer siris fui eu,
mas que você aderiu logo a ela, com aquele entusiasmo que lhe é peculiar,
sempre que se trata de comida ou de mulher.
Então, não sei se você se lembra, telefonamos para o Raimundo, que era o
campeão brasileiro de siris e, noutros tempos, dava famosos festivais do
apetitoso bicho em sua casa. Ele disse que, aos domingos, perto do
Maracanã, havia um botequim que servia siris maravilhosos, ao cair da
tarde. Não sei se você se lembra que ele frisou serem aqueles os melhores
siris do Rio, como também os únicos em disponibilidade, numa época em
que o siri anda vasqueiro e só é vendido naquelas insípidas casquinhas.
Ah… foi uma alegria saber que era domingo e havia siris comíveis e, então,
nos dois — não sei se você se lembra — apesar da fome que o uisquinho
estava nos dando — resolvemos não almoçar para ficar com mais vontade
ainda de comer siris. Passamos incólumes pela refeição, enquanto o resto do
pessoal entrava firme num feijão que cheirava a coisa divina do céu dos
glutões. O pessoal — aliás — achava que era um exagero nosso, guardar
boca para um siri que só comeríamos à tarde, porque podíamos
perfeitamente ter preparo estomacal para eles, após o almoço.
Mas — não sei se você se lembra — fomos de uma fidelidade espartana aos
siris. Saímos para o futebol com uma fome impressionante e passamos o
jogo todo a pensar nos siris que comeríamos ao sair do Maracanã.
Então — não sei se você se lembra — saímos dali como dois monges
tibetanos a caminho da redenção e chegamos no tal botequim. Então — não
sei se você se lembra — que a gente chegou e o homem do botequim disse
que o siri já tinha acabado.
O Grande Mistério
Stanislaw Ponte Preta
(Sérgio Porto)
Mas comeu-se o camarão, que inclusive foi elogiado pelas visitas, jogaram
as sobras na lata do lixo e — coisa estranha — no dia seguinte a sala
cheirava pior.
Talvez alguém não gostasse de camarão e, por cerimônia, embora isso não
se use, jogasse a sua porção debaixo da mesa. Ventilada a hipótese, os
empregados espiaram e encontraram apenas um pedaço de pão e uma
boneca de perna quebrada, que Giselinha esquecera ali. E como ambos os
achados eram inodoros, o mistério persistiu.
Então alguém propôs encerar. Quem sabe uma passada de cera no assoalho
não iria melhorar a situação?
Apenas uma questão de tempo. Com o passar das horas, o cheiro da cera —
como era normal — diminuía, enquanto o outro, o misterioso —
estranhamente, aumentava. Pouco a pouco reinaria novamente, para
desespero geral de empregados e empregadores.
Na hora do jantar a alegria era geral. Nas restavam dúvidas de que o cheiro
enjoativo daquele coquetel de perfumes era impróprio para uma sala de
visitas, mas ninguém poderia deixar de concordar que aquele era preferível
ao outro, finalmente vencido.
Mas eis que o patrão, a horas mortas, acordou com sede. Levantou-se
cauteloso, para não acordar ninguém, e desceu as escadas, rumo à geladeira.
Ia ainda a meio caminho quando sentiu que o exército de perfumistas
franceses fora derrotado. O barulho que fez daria para acordar um
quarteirão,quanto mais os da casa, os pobres moradores daquela casa,
despertados violentamente , e que não precisavam perguntar nada para
perceberem o que se passava. Bastou respirar.
(Sérgio Porto)
Durante uma recepção elegante, a flor dos Ponte Pretas estava a mastigar o
excelente jantar, quando uma senhora que me fora apresentada pouco antes
disse que adorou meus livros e que está ávida de ler o próximo.
Madame deu um sorriso amarelo mas acabou concordando que o nome era
muito engraçado, muito original. Depois — confessando-se sempre leitora
implacável, dessas que sabem até de cor o que a gente escreve —, madame
pediu para que não deixássemos de incluir aquela crônica do afogado.
— Qual? — perguntei.
(Sérgio Porto)
De repente, um alemão forte pra cachorro levantou e gritou que não via
homem pra ele ali dentro. Houve a surpresa inicial, motivada pela
provocação e logo um turco, tão forte como o alemão, levantou-se de lá e
perguntou:
— Isso é comigo?
Aí então o turco avançou para o alemão e levou uma traulitada tão segura
que caiu no chão. Vai daí o alemão repetiu que não havia homem ali dentro
pra ele. Queimou-se então um português que era maior ainda do que o
turco. Queimou-se e não conversou. Partiu para cima do alemão e não teve
outra sorte. Levou um murro debaixo dos queixos e caiu sem sentidos.
O alemão limpou as mãos, deu mais um gole no chope e fez ver aos
presentes que o que dizia era certo. Não havia homem para ele ali naquele
café. Levantou-se então um inglês troncudo pra cachorro e também entrou
bem. E depois do inglês foi a vez de um francês, depois de um norueguês
etc. etc. Até que, lá do canto do café levantou-se um brasileiro magrinho,
cheio de picardia para perguntar, como os outros:
— Isso é comigo?
O alemão voltou a dizer que podia ser. Então o brasileiro deu um sorriso
cheio de bossa e veio vindo gingando assim pro lado do alemão. Parou
perto, balançou o corpo e… pimba! O alemão deu-lhe uma porrada na
cabeça com tanta força que quase desmonta o brasileiro.
Como, minha senhora? Qual é o fim da história? Pois a história termina aí,
madame. Termina aí que é pros brasileiros perderem essa mania de pisar
macio e pensar que são mais malandros do que os outros.
(Sérgio Porto)
Oh os sonhos de amor, querida! Nele eras tão outra, tão Julieta, tão Isolda,
tão Marília. E eu tão o Romeu do segundo ato, tão o Tristão da primeira
ária, tão o Dirceu de antes do desterro!
No sonho, sorríamos, no sonho éramos nós dois para sempre e um dia. Tu,
esquecida de tantas ingratidões, eras o mais puro dos pecados. Eu, vivendo
o momento em que o homem prova a si mesmo ter um pouco de eternidade,
olvidava antigos dissabores, as noites sofridas, as lágrimas caídas, a dor.
Na verdade eu nem sei o que é charneca, mas isto fica bacana pra burro, em
romance inglês.
(Sérgio Porto)
O casarão, aí por volta das 2 horas, estava apinhado. Primos, primas, tios,
tias, tias-avós e netos, pais e filhos, todos na expectativa, aguardando aquela
que seria mais uma obra-mestra da lustrosa negra Eulália. Os homens
beliscavam pinga, as mulheres falando, contando casos, sempre com muito
assunto. Quem as ouvisse não diria que estiveram juntas no domingo
anterior, nem imaginaria que estariam juntas no domingo seguinte. As
moças, geralmente, na varanda da frente, cochichando bobagens. Os
rapazes no jardim, se mostrando. E a meninada, mais afoita, rondando a
cozinha, a roubar pastéis, se fosse o caso de domingo de pastéis.
A tarde descia mais calma sobre nossas cabeças, naqueles longos domingos
de Copacabana. O mormaço da varanda envolvia tudo, entrava pela sala
onde alguns ouviam o futebol pelo rádio, um futebol mais disputado,
porque amador, irradiado por locutores menos frenéticos. Lá, nos fundos os
bem-aventurados dormiam em redes. Era grande a família e poucas as
redes, daí o revezamento tácito de todos os domingos, que ninguém ousava
infringir.
História de um Nome
Stanislaw Ponte Preta
(Sérgio Porto)
No capítulo dos nomes difíceis têm acontecido coisas das mais pitorescas.
Ou é um camarada chamado Mimoso, que tem físico de mastodonte, ou é
um sujeito fraquinho e insignificante chamado Hércules. Os nomes difíceis,
principalmente os nomes tirados de adjetivos condizentes com seus
portadores, são raríssimos, e é por isso que minha avó a paterna - dizia:
— Gente honesta, se for homem deve ser José, se for mulher, deve ser
Maria!
É verdade que Vovó não tinha nada contra os joões, paulos, mários, odetes e
— vá lá — fidélis. A sua implicância era, sobretudo, com nomes
inventados, comemorativos de um acontecimento qualquer, como era o
caso, muito citado por ela, de uma tal Dona Holofotina, batizada no dia em
que inauguraram a luz elétrica na rua em que a família morava.
Mas deixemos de lado as birras de minha avó — velhinha que Deus tenha,
em Sua santa glória — e passemos ao estranho caso da família Veiga, que
morava pertinho de nossa casa, em tempos idos.
“Seu” Veiga, amante de boa leitura e cuja cachaça era colecionar livros,
embora colecionasse também filhos, talvez com a mesma paixão, levou sua
mania ao extremo de batizar os rebentos com nomes que tivessem relação
com livros. Assim, o mais velho chamou-se Prefácio da Veiga; o segundo,
Prólogo; o terceiro, Índice e, sucessivamente, foram nascendo o Tomo, o
Capítulo e, por fim, Epílogo da Veiga, caçula do casal.
— Vai levar a biblioteca para o banho? “Seu” Veiga ficou queimado durante
muito tempo.
(Sérgio Porto)
Cerca de 51 bandeiras dos países que mantêm relação com o Brasil foram
colocadas no Aeroporto de Congonhas. O Secretário de Turismo de São
Paulo — Deputado Orlando Zancaner — quando inaugurou a ala das
bandeiras, disse que “era para incrementar o turismo externo”.
(Sérgio Porto)
- Nos trens suburbanos não livram a cara nem de padre, que dirá mulher de
minissaia.
- O mais perigoso é que já estão confundindo justa causa com calça justa.
- O Reino Unido não é tão unido assim como eles dizem, não.
- Sempre ouviu dizer que o homem totalmente realizado é aquele que tem
um filho, planta uma árvore e escreve um livro. Tinha um filho, plantou
uma árvore, o filho trepou na árvore, caiu e morreu. Só lhe restou escrever
um livro sobre isso.
- Homem que desmunheca e mulher que pisa duro não enganam nem no
escuro.
- Era desses caras que cruzam cabra com periscópio pra ver se conseguem
um bode expiatório.
- Quem desdenha quer comprar, quem disfarça está escondendo, mas quem
desdenha e disfarça, não sabe o que está querendo.
- Nem todo rico tem carro, nem todo ronco é pigarro, nem toda tosse é
catarro, nem toda mulher eu agarro.
- Quem diz que futebol não tem lógica ou não entende de futebol ou não
sabe o que é lógica.
- Nem todo gordo é bom, muitos se fingem de bonzinhos porque sabem que
correm menos.
- Tinha tal pavor de avião que se sentia mal só de ver uma aeromoça.
E para terminar:
Stanislaw Ponte Preta, nosso querido Sérgio Porto (1923/1968), teve sua
vida esmiuçada por Renato Sérgio no livro Dupla Exposição: Stanislaw
Sérgio Ponte Porto Preta, editado pela Ediouro Publicações S.A. - Rio de
Janeiro, 1998. Dali extraímos os frases acima (pág. 266 e seguintes), muitas
das quais refletem o clima em que vivia o autor face à “revolução redentora
de 1964”, como ele costumava dizer.
—
Prova Falsa
Stanislaw Ponte Preta
(Sérgio Porto)
Ainda por cima era puxa-saco. Lembrava certos políticos da oposição, que
espinafram o ministro, mas quando estão com o ministro ficam mais por
baixo que tapete de porão. Quando cruzavam num corredor ou qualquer
outra dependência da casa, o desgraçado rosnava ameaçador, mas quando a
patroa estava perto abanava o rabinho, fingindo-se seu amigo.
Num rápido balanço poderia assinalar: o cachorro comeu oito meias suas,
roeu a manga de um paletó de casimira inglesa, rasgara diversos livros, não
podia ver um pé de sapato que arrastava para locais incríveis. A vida lá em
sua casa estava se tornando insuportável. Estava vendo a hora em que se
desquitava por causa daquele bicho cretino. Tentou mandá-lo embora umas
vinte vezes e era uma choradeira das crianças e uma espinafração da
mulher.
— Você é um desalmado — disse ela, uma vez.
— Ué… mas você não o detestava? Como é que arranjou essa sopa pra ele?
Certas Esperanças
Stanislaw Ponte Preta
(Sérgio Porto)
Que não me falte aquele almoço honesto dos sábados (único almoço
comível na semana), com aquele feijão que só a negra Almira sabe fazer;
que não me falte o arroz e a cerveja — é muito importante a cerveja, meu
Deus! —, como é importante manter em dia o ordenado da Almira.
Nada de coisas impossíveis para que a vida possa ser mais bem vivida.
Apenas uma praia para janeiro, uma fantasia para fevereiro, um conhaque
para junho, um livro para agosto e as mesmas vontades para dezembro.
(Sérgio Porto)
Ficaram comprando isca e lá pelas 9 horas entraram num bar para tomar um
negócio porque estava ameaçando chuva e era preciso precaução. Às 11
horas, saíram do bar e tinha um camarada na porta vendendo siris.
— Vivos? — perguntamos:
Nosso amigo diz que sim e que, por isso mesmo, era preciso preparar.
Ninguém levava comida para a pescaria e, portanto, até que seria bom
cozinharem uns siris para fazer o farnel.
— Saí de lá agora.
— E a pescaria?
Divisão
Você poderá ficar com a poltrona, se quiser. Mande forrar de novo, ajeitar
as molas. É claro que sentirei falta. Não dela, mas das tardes em que aqui
fiquei sentado, olhando as arvores. Estas sim, eu levaria de bom grado : as
árvores, a vista do morro, até a algazarra das crianças lá embaixo, na praça.
0 resto dos moveis — são tão poucos! — podemos dividir de acordo com
nossas futuras necessidades.
A vitrola esta, tão velha que o melhor é deixá-la ai mesmo, entregue aos
cuidados ou ao desespero do futuro inquilino. Tanto você quanto eu
haveremos de ter, mais cedo ou mais tarde, as nossas respectivas vitrolas,
mais modernas, dotadas de todos os requisitos técnicos e mais aquilo que
faltou ao nosso amor: alta-fidelidade.
Quanto aos discos, obedecerão às nossas preferências. Você fica com as
valsas, as canções francesas, um ou outro “chopinzinho”, o Mozart e Bing
Crosby. Deixe para mim o canto pungente do negro Armstrong, os sambas
antigos e estes chorinhos. Aqueles que compartilhavam do nosso gosto
comum serão quebrados e jogados no lixo. É justo e honesto.
Os livros são todos seus, salvo um ou outro com dedicatória. Não, não estou
querendo ser magnânimo. Pelo contrario: Ainda desta vez penso em mim.
Será um prazer voltar a juntá-los, um por um, em tardes de folga, visitando
livrarias. Aos poucos irei refazendo toda esta biblioteca, então com um
caráter mais pessoal. Fique com os livros todos, portanto. E
conseqüentemente com a estante também.
Fique com a poltrona, seus discos, todos os livros, os quadros, esta jarra. Eu
ficarei com estes objetos, um ou outro móvel. Tudo está razoavelmente
dividido. Leve a sua tristeza, eu guardarei a minha.
(Sérgio Porto)
Acontece porém que isso foi dito com outras palavras, ainda num misto de
português e inglês. Assim:
— Ok. You land. But se der bode, I’il take my body out.