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HISTÓRIA

CONTEMPORÂNEA
Regimes totalitários
e a Segunda
Guerra Mundial
Krisley Aparecida de Oliveira

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Identificar as características dos regimes totalitários na Europa e a perse-


guição aos judeus e demais minorias.
>> Analisar o processo de desenvolvimento da Segunda Guerra Mundial.
>> Explicar a reorganização geopolítica da Europa no pós-guerra.

Introdução
Compreender como um evento tão traumático como a Segunda Guerra Mundial
e o holocausto ganharam força e puderam ocorrer, tal qual inúmeros regimes
totalitários do mesmo período e que tiveram diversas causas, é primordial para
o entendimento da história contemporânea. Ao mesmo tempo, reconhecer as
características e possibilidades de ascensão de regimes como esses, que vitimaram
milhões de pessoas em todo o mundo, é fundamental no processo de construção
da consciência histórica.
Neste capítulo, você vai conhecer as dinâmicas que levaram aos regimes
totalitários na Europa ao longo do século XX e a Segunda Guerra Mundial, que
abrange temas ainda muito polêmicos e que merecem toda atenção, como o
holocausto, considerado por muitos historiadores como um “evento limite”, ou
seja, aquele que foge de todos os padrões normais do que já havia ocorrido até
então na história da humanidade. Além disso, conhecendo o desenvolvimento
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dessa guerra, você vai ver como a Europa se organizou geopoliticamente após
esse evento tão marcante da história.

Regimes totalitários e perseguição a


minorias
Para compreendermos como ocorreu e, principalmente, como se permitiu a
ascensão de tantos regimes totalitários na Europa a partir da primeira metade
do século XX, é necessário que façamos, como Hannah Arendt em As origens
do totalitarismo e A Condição Humana (1989), uma análise histórica e social
de como estava a Europa nesse período.
Conforme aponta Arendt (1989), as movimentações de expansão territo-
rial que ocorreram dentro do continente europeu, que a autora chama de
Imperialismo Continental, foram geradas em decorrência dos movimentos
de unificação da Itália e da Prússia — e consolidadas com o fim do Império
Austro-Húngaro e da Rússia czarista. Assim, esse é um problema que abarca
a ciência política, o direito e a história.
O chamado Imperialismo Continental, porquanto, tornou-se um impor-
tante arquétipo de comparação com o Imperialismo de Ultramar, que, ainda
de acordo com a autora, é um problema que tem maiores apontamentos em
relação ao direito internacional do que à situação política, exatamente por
ocorrer longe da Europa:

O imperialismo continental é mais importante quando comparado com o imperia-


lismo de ultramar, porque o seu conceito de expansão é amalgamador, eliminando
qualquer distância geográfica entre os métodos e instituições do colonizador e
do colonizado, de modo que não foi preciso haver efeito de bumerangue para que
as suas consequências fossem sentidas em toda a Europa (ARENDT, 1989, p. 254).

Com Arendt (1989), podemos perceber que os regimes totalitários, espe-


cialmente o stalinista, na União Soviética (URSS), e o nazismo, na Alemanha,
não teriam existido se não fosse o passado agitado da expansão continental.
Em oposição ao imperialismo continental, o imperialismo ultramarino não
tinha como objetivo ambicionar a expansão territorial, mas, sim, a expan-
são do poder aliada à expansão econômica. Dessa forma, ocorreu somente
a exportação de uma estrutura de controle social, sem a necessidade do
estabelecimento de um controle político.
Regimes totalitários e a Segunda Guerra Mundial 3

Nesse clima e contexto após a Primeira Guerra Mundial, que causou grande
instabilidade, com os países ainda em processo de recuperação, os movimen-
tos e regimes totalitários foram tomando forma e oferecendo-se como uma
saída à fragilidade que havia levado à guerra, apresentando-se com a ideia
de que os governantes e governos deveriam ser fortes e duros — com isso, o
corpo do totalitarismo é formado.
Podemos citar inúmeros intelectuais que escreveram sobre o tema dos
totalitarismos além de Arendt (1989) e que possuem uma análise de sua cons-
trução diferentes, como Theodor Adorno, Max Horkheimer, Hebert Marcuse e
Antônio Gramsci. Especificamente Gramsci (2000), no livro 6 de seu Cadernos
do Cárcere, escreveu sobre o totalitarismo enquanto estava preso durante o
período em que o sistema totalitário italiano estava em voga:

(...) Uma política totalitária tende precisamente:


a fazer com que os membros de um determinado partido encontrem neste único
partido todas as satisfações que antes encontravam numa multiplicidade de or-
ganizações, isto é, a romper todos os fios que ligam estes membros a organismos
culturais estranhos;
a destruir todas as outras organizações ou a incorporá-las num sistema cujo único
regulador seja o partido.
Isto ocorre:
quando um determinado partido é portador de uma nova cultura e se verifica
uma fase progressista;
quando um determinado partido quer impedir que uma outra força, portadora
de uma nova cultura, torne-se “totalitária”; verifica-se então uma fase objetiva-
mente regressiva e reacionária, mesmo que a reação não se confesse como tal
(como sempre sucede) e procure aparecer como portadora de uma nova cultura
[…] (GRAMSCI, 2000, p. 254).

Veja, na Figura 1, a seguir, as principais características do totalitarismo. É


importante ressaltar, nesse sentido, que existem particularidades entre um
país e outro no qual esse sistema vigorou.
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Figura 1. Características gerais dos estados totalitários.

Os países totalitários e as perseguições


Conforme apontamos, diversos países da Europa colocaram em prática esse
regime totalitário que apresentamos. Vejamos, a seguir, agora quais são as
principais características de cada um desses países.

„„ Portugal (926–1974): de acordo com Pinto (1990), durante muitos anos,


aqueles que se dedicavam a estudar o tema dos fascismos e totalita-
rismos europeus ignoravam o que havia ocorrido em Portugal, alguns
alegando que faltava na figura central que comandava o país, Antonio
Salazar, o mesmo carisma que figuras como Hitler e Mussolini. No en-
tanto, essas perspectivas historiográficas mudaram a partir da década
de 1980. O regime de Salazar, apesar de ter sido instável, conforme
aponta Secco (2004), é considerado como uma ditadura cujas carac-
terísticas totalitárias de corporativismo, nacionalismo, colonialismo,
anticomunismo, autoritarismo, controle das mídias, dentre outras, são
claras. O regime não terminou com o afastamento de Salazar, que foi
substituído por Marcello Caetano, mas os militares do Movimento de
Forças Armadas deram um golpe, conhecido como a “Revolução dos
Cravos”, e colocaram fim ao período ditatorial.
„„ Itália (1919–1943): conforme Pinto (1990), o fascismo italiano foi o que
se pode chamar de um dos melhores modelos para os regimes totali-
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tários, tendo como precursor de tudo o ditador Benito Mussolini. De


acordo com Lozano Cutanda (2013), ao lado de Hitler e Stalin, Mussolini
deve ser considerado um dos totalitários mais temíveis e sem escrú-
pulos. Ainda para o autor, Mussolini conseguiu utilizar a propaganda
de maneira muito elaborada na Itália, colocando-se diante da pátria
como o arquétipo perfeito que a população italiana merecia ter. Car-
regava as características clássicas do fascismo, do anticomunismo,
do antiliberalismo, do militarismo, do nacionalismo extremo, dentre
outros. O fascismo italiano de Mussolini influenciou Hitler e, assim,
a Itália entrou na Segunda Guerra Mundial; já ao término do conflito,
quando os Estados Unidos entraram em Roma, os Partigiani, movi-
mento italiano armado de oposição ao fascismo capturou Mussolini,
julgou-o, executou-o e expôs seu corpo publicamente, levando ao fim
do fascismo na Itália.
„„ União Soviética (URSS) (1927–1953): diferentemente dos outros países
que possuem como uma das principais características o anticomu-
nismo, a URSS é um caso em que houve um governo totalitário com
características socialistas, liderado pela figura de Stalin, que, como
aponta Lozano Cutanda (2013), também utilizou a grande maquinaria
da mídia para forjar a sua imagem. No entanto, há também aqueles,
como Lukács (1978), que defendem que o stalinismo tinha problemas
muito mais sérios e não estaria restrito ao “culto à personalidade”.
Durante os período do regime stalinista, era comum a perseguição
aos opositores políticos e seu envio a campos de trabalho forçado,
chamados de gulags. O stalinismo tem seu fim com a morte de Stalin,
cujos crimes são denunciados por Nikita Kruschev, seu sucessor.
„„ Alemanha (1933–1945): conforme já mencionamos anteriormente com
Pinto (1990), o regime da Alemanha nazista, sob tutela de Adolf Hitler,
foi considerado como um dos modelos perfeitos de estados totalitários
e teve forte influência do fascismo italiano. Contudo, no caso alemão,
existem particularidades que vão além das características clássicas,
como culto ao líder e utilização dos meios de comunicação e censura,
anticomunismo e Estado centrado. Uma dessas características é o
antissemitismo, que, de maneira clara e objetiva, caracteriza, como
aponta Milman (2004, p. 107): “[...] qualquer indivíduo que cultiva senti-
mentos preconceituosos quanto aos judeus”. No entanto, como aponta
Arendt (1989), esse é um tema delicado e que exige atenção: para a
autora, é necessário que se faça uma distinção entre o antissemitismo
enquanto ódio religioso, que remonta a tempos da Idade Média, e o
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antissemitismo enquanto um tipo de ideologia leiga, que apareceu ao


fim do século XIX. Esse antissemitismo cresce dentro de um regime
que consegue ascensão e apoio de grande parte da população sob
tutela de Hitler e do partido nazista, com pensamentos em um suposto
plano de dominação mundial dos judeus, que seriam uma raça impura,
não digna e que jamais poderiam ser cidadãos alemães. No entanto,
essas perseguições não ficaram reclusas apenas a esse grupo: os
nazistas também perseguiram e assassinaram negros, homossexuais,
comunistas, ciganos.

Dessa maneira, conclui-se que os regimes totalitários que ascenderam a


partir da primeira metade do século XX possuem inúmeras características que
são norteadoras desse modelo de regime, mas há também particularidades
que variam de acordo com cada país. Nesse contexto, uma coisa que se pode
afirmar é que, quando uma nação vai por esses caminhos de centralização
de poder, cultuação a uma figura como um mito, manipulação das mídias e
demais características que vimos, o resultado não poderá ser bom.

A Segunda Guerra Mundial


A historiografia caracteriza a situação do mundo na década de 1930 como um
momento especialmente agitado, com complicações que podem ser explicadas
pela grande sequência de embates que englobaram as grandes estruturas
ideológicas de então. Conforme aponta Fraga (2004), de um lado, ocorrendo
em 1917 a Revolução Russa, que trouxe consigo um ideário de transformações
socioeconômicas partindo do marxismo e que questionaram a função do
Estado burguês e a estrutura hierarquia da sociedade de classes, deixando
marcas profundas que se estenderam por todo o século XX, influenciando
outros movimentos revolucionários e dando fôlego para tentar frear o for-
talecimento de ideias conservadoras. Do outro lado, Itália e Alemanha, com
também já vimos, com regimes de força (o fascismo e o nazismo) agindo não
somente como uma camuflagem para suas graves crises sociais internas,
mas também como uma maneira eficaz de mobilização popular. No caso
especificamente da Alemanha, um dos principais da Segunda Guerra Mundial,
apresentava um aspecto especial, uma vez que o país tinha o intuito de se
recuperar dos danos provocados pela derrota na Primeira Guerra Mundial e
das retaliações decorrentes do Tratado de Versailles.
Já a Espanha, ainda de acordo com Fraga (2004), chega a esse momento da
história em uma situação de polarização socioeconômica — em alguns locais
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do país, sobrevivendo de maneira miserável por meio de trabalhos sazonais,


um proletariado camponês, que coexistia com a grande concentração de
terras nas mãos de poucos latifundiários. Já em outras regiões do país, uma
fragmentação muito grande das terras impedia que os minifúndios pudes-
sem garantir o sustento das famílias. No caso das cidades, poucas grandes,
naquele período, os trabalhadores eram explorados com baixos salários,
mas eram organizados em sindicatos. O clero era grande e profundamente
marcado por convicções conservadoras, e o exército tinha um grande número
de oficiais, mas ainda não era uma vanguarda bélica em relação ao contexto
europeu — tinha grande apelo e prestígio social dentro do Estado, o que fazia
com que ideários de transformação fossem bem recebidos junto à população
espanhola. Conforme afirma Fraga (2004), os anos que se seguiram na Espanha
foram marcados por disputas e resistências de ambas as frentes, de esquerda
e direita, até que Francisco Franco dá um golpe. Como aponta Silva (2010, p. 9):

Não há como explicar essa fratricida Guerra Civil Espanhola sem levantar grandes
polemicas. Grosso modo, a historiografia mais recente sobre o tema afirma que
os militares rebelados, liderados por Franco, já planejavam um golpe há meses
contra o governo republicano eleito em 1931. Este começou dia 17 de julho de 1936.

Logo, após o golpe dado por Franco, que contava com o apoio da Itália
fascista e do partido nazista alemão, que utilizaram esse momento para
testar suas armas mais potentes, começa a Guerra Civil Espanhola, que durou
até 1939, ano em que teve início a Segunda Guerra Mundial. De outro lado,
as forças que eram democráticas lutavam contra o avanço de Franco e eram
formadas por operários e intelectuais, em sua maioria de outros países.
Como afirma Matthews (1975), o conflito, que durou três anos e teve fim em
1939, resultou em mais de um milhão de pessoas mortas e uma quantidade
incontável de desaparecidos. Nesse período, opositores tiverem que sair
do país para não serem assassinados e imperou o culto ao general Franco,
a censura, o nacionalismo e o anticomunismo. Para muitos autores da his-
toriografia, como durante a Guerra Civil Espanhola houve confrontos para
tentar estabelecer a democracia, com batalhas entres fascistas e socialistas,
essa guerra é considerada uma espécie de ensaio para o que viria a seguir:
a Segunda Guerra Mundial.
Conforme vimos, o expansionismo é um dos principais agentes motiva-
dores da ascensão dos regimes fascistas na Europa, e com a Alemanha não
foi diferente. Juntos aos fatos que mencionamos sobre o imperialismo e a
vergonha pela derrota na Primeira Guerra, a expansão germânica sobre os
demais territórios da Europa — caracterizada pelos ideais de extrema direita
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— vê-se completa com o nazismo e, em setembro de 1939, a Alemanha invade


a Polônia e inicia o maior conflito da história da humanidade.
De acordo com Gilbert (2012), a Segunda Guerra Mundial é, sem sombra de
dúvidas, um dos conflitos mais devastadores da história. Mais de 46 milhões
de civis e militares morreram, e muitos em circunstâncias de terríveis cruel-
dades. Para o autor, nos 2174 dias de guerra que ocorreram entre a invasão
da Polônia e o pedido de rendição do Japão, em agosto de 1945, a maioria
das pessoas que foram assassinadas tinham rostos obscuros, exceto para
aqueles que os amavam.
A partir do momento da invasão a Polônia e do início da guerra, teve
início a dinâmica das disputas e foram formadas alianças entre países, que
foram chamados de países do “Eixo” e “Aliados”. O Eixo era composto por
Alemanha, Itália e Japão, países que representavam os regimes totalitários,
anticomunistas e antidemocráticos. Em resposta a esse avanço totalitário,
uniram-se Reino Unido, França, Estados Unidos e URSS (Figura 2).

Figura 2. Formação das alianças: eixo versus aliados.


Fonte: Adaptada de Coelho (2016, documento on-line).

Na parte que concerne à guerra na região da Ásia, igualmente o Japão


tinha ideais expansionistas, por isso estava aliado aos países do eixo. É nesse
contexto que ocorre o ataque do Japão à Base Naval dos EUA Pearl Harbor,
que dá início à Guerra do Pacífico e faz com que os EUA declarem guerra ao
Japão e, consequentemente, aos países do eixo — é nesse momento que o
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país efetivamente entra na guerra. De acordo com Lopes (2015), esse foi um
ato que mudou o curso da guerra e gerou consequências que duram até hoje.
No decorrer da guerra, foram travadas batalhas decisivas. No início, utili-
zando táticas de infantaria e artilharia com ataques coordenados, a Alemanha
conquistou diversos países. Conforme aponta Gilbert (2012), conseguiu, nesse
período inicial, muita expansão. Todavia, a famosa Batalha de Stalingrado,
na União Soviética, marca a retomada de poder dos países aliados. Nesse
ponto, a Alemanha nazista já havia conquistado muitos territórios da União
Soviética e tomar Stalingrado seria decisivo, até porque a cidade levava o
nome de Stalin, socialista e, portanto, inimigo ideológico dos países do eixo.
Somente na Batalha de Stalingrado aproximadamente 2 milhões de pessoas
morreram; o embate foi duro, mas acabou vencido pelos aliados.
A partir de 1944, o eixo começa a entrar em decadência, a Itália é invadida
e Mussolini é capturado, julgado e executado. Alemanha e Japão começam a
sofrer grandes baixas e a guerra caminha para seu fim. Em Berlim, capital da
Alemanha, os nazistas organizaram uma última resistência, mas sem sucesso;
o Exército Vermelho da URSS logo ocupou a cidade, Hitler cometeu suicídio
e a Alemanha pediu rendição em maio de 1945.
Todavia, como aponta Gilbert (2012), ainda havia espaço para mais bru-
talidade, e os EUA lançaram sobre o Japão, que se negava a se render, duas
bombas atômicas, causando imensa destruição. Há diversos debates no
campo historiográfico acerca da necessidade real desse ato dos EUA: alguns
apontam que, como Itália e Alemanha já estavam fora da guerra e o Japão
já estava esgotado, não havia necessidade de utilizar uma arma atômica —
assim, os EUA o teriam feito apenas para demonstrar diante do mundo sua
capacidade bélica. Em outra via, há os que apontam que os japoneses tinham
como hábito lutar até a morte, de modo que os EUA teriam que arriscar mais
vidas de soldados sem saber até quando a guerra continuaria. Seguindo,
então, com Gilbert (2012), concluímos que a Segunda Guerra foi a tragédia
dos homens, mulheres e crianças anônimos, dos soldados, guerrilheiros,
marinheiros e resistentes que foram mandados para a morte.

Acesse o site do Museu do Holocausto no Brasil, o primeiro museu


dedicado às vítimas do holocausto no Brasil, e conheça mais da
história dessa tragédia. No site você encontrará informações, imagens, vídeos,
exposições e eventos sobre o tema. O espaço físico do museu fica em Curitiba
e reúne memória educação e pesquisa sobre o genocídio nazista (MUSEU DO
HOLOCAUSTO, c2014).
10 Regimes totalitários e a Segunda Guerra Mundial

O pós-guerra: resultados e consequências


Após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o mundo passa por uma
restruturação geopolítica, social e econômica. Esse é um período que dura
até a Queda do Muro de Berlim em 1991 e é marcado por tensões ideológicas
entre os EUA e a URSS, que antes eram aliados para destruir o nazismo.
Conforme aponta Tanaka (2005), um dos principais pontos a se notar após
o término da guerra é o enfraquecimento das grandes potências europeias,
principalmente pelo fato de que a maioria dos países envolvidos nas duas
guerras mundias estavam esgotados e destruídos:

A Alemanha foi o país mais castigado pela Guerra, sofrimento esse ampliado pela
insanidade dos nazistas. Ao final da Guerra, a Alemanha estava completamente des-
truída, o outrora maior parque industrial do continente teria que ser reconstruído
a partir das cinzas deixadas pelas bombas dos aliados que colocaram abaixo as
principais cidades do país. Mas não apenas a Alemanha sofreu com a destruição
provocada pela Guerra. A França também se encontrava arrasada, não apenas
material e economicamente, como também moralmente. (...) Mesmo a Grã-Bretanha,
orgulhosa do seu grande império que ocupava 3/5 das terras do planeta, viu o
seu poder econômico e militar cada vez mais enfraquecido (TANAKA, 2005, p. 157).

Assim, a posição de destaque de outrora dos países europeus se consoli-


daria na figura dos EUA. No primeiro momento, o país tratou de se aproximar
e estabelecer influência e espaço entre os países da Europa Ocidental que
estavam destruídos pela guerra e não eram capazes de garantir suas próprias
fronteiras. Como aponta Tanaka (2005), em um momento posterior, os EUA
estenderam suas ações no extremo oriente e travaram uma guerra particular
e sangrenta contra o Japão, que estava destruído pela guerra e as bombas
atômicas. Então, os EUA invadiram e reorganizaram a economia japonesa,
garantindo o seu sistema de defesa, e, a partir desse momento, seriam con-
siderados aliados estratégicos dos EUA nas novas dinâmicas mundiais — com
isso, os EUA se consolidam como uma potência mundial.
De outro lado, como confirma Tanaka (2005), encontrava-se a URSS, que
também emerge em meio a esse novo cenário mundial como um país vence-
dor da guerra, e, assim, também deveria interferir de maneira mais incisiva
e direta nas decisões do pós-guerra e despontando também, como uma
potencial mundial — se ainda não no cenário mundial, ao menos no europeu
e no asiático.
Logo, inicia-se, então, a Guerra Fria, trazendo diversos desdobramentos,
que incluíam, principalmente, uma dualidade ideológica: de um lado, o ca-
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pitalismo, representado pelos EUA, e, do outro, o socialismo, representado


pela URSS:

Habituou-se chamar de Guerra Fria todos os movimentos empreendidos pelas duas


potências fortalecidas militarmente no pós-guerra. Tanto os EUA quanto a URSS,
se viram no direito de querer moldar a nova ordem internacional de acordo com os
seus interesses econômicos, políticos e estratégicos. Como pano de fundo, havia
a histórica disputa ideológica entre capitalismo e comunismo, que servia para
acirrar ainda mais os ânimos dos governantes e tecnocratas que enxergavam um
mundo, a partir de agora, irremediavelmente bipolarizado (TANAKA, 2005, p. 158).

É importante definirmos, como bem aponta Gaspar (2015), que, na pers-


pectiva político-militar, esses dois blocos estavam constituídos por, de um
lado, a partir do Pacto de Varsóvia, países socialistas e a URSS em união, e,
do outro, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que unia os
países capitalistas da Europa Ocidental e os EUA para prevenir e proteger os
países membros da possibilidade de ataques de países socialistas — assim,
houve tensão ao longo de toda a Guerra Fria.
No ano de 1947, os EUA, com o intuito de amenizar a crise econômica nos
países que faziam parte de seu bloco, elaboram o Plano Marshal, cuja função
era a recuperação econômica do Japão e da Europa. O Plano consistia em
conceder empréstimos para que os países conseguissem se consolidar, uma
vez que a recuperação estava muito lenta, mas, na realidade, a verdadeira
intenção do então presidente Truman era conter o avanço comunistas den-
tro dos movimentos operários que cresciam muito na Europa Ocidental: “A
Doutrina Truman, como veio a ser denominada, generalizou essa luta contra o
comunismo para todo o mundo e determinou, em grande medida, a aceleração
da Guerra Fria” (TANAKA, 2005, p. 159). Isso porque os EUA eram o único país
com armas nucleares e com recursos econômicos, de modo que a intenção
era pressionar a URSS a não avançar com sua influência socialista e também
fazer o mundo perceber que o capitalismo era o sistema mais adequado para
tirá-lo da situação que a guerra havia causado.
De acordo com o que aponta Afonso (2015), essa tentativa dos EUA de
buscar aliados na implantação desses planos fez com que o estilo de vida
americano fosse também introduzido em muitos países da Europa:

Ao trazer para a prática a implantação do Plano Marshall, o governo estaduni-


dense facilitou que empresas e organizações implementassem filiais de seu país
em solo europeu, trazendo vagas de empregos e, consigo, a cultura da produção
típicas dos Estados Unidos, além de divulgar tais empresas através de uma mídia
seguindo o estilo de vida americano (american way of life) para a divulgação de
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novos produtos, através de novos estilos desenvolvidos em uma outra sociedade


e que agora estava sendo exportada além-mar (AFONSO, 2015, p. 221).

Outro ponto que merece destaque nesse contexto foi a corrida arma-
mentista, que não ficou restritaà Europa, mas se estendeu, também, para a
América Central, para o Oriente Médio, para a Ásia e outras regiões. Ou seja,
onde estivessem em jogo estratégias em relação ao plano de dominação
desses países, os EUA e a URSS interferiam, de maneira direta ou indireta.
Conforme aponta Eric Hobsbawm, em seu clássico A era dos extremos:

Os dois lados viram-se assim comprometidos com uma insana corrida armamentista
para a mútua destruição, e com o tipo de generais e intelectuais nucleares cuja
profissão exigiam que não percebessem essa insanidade. Os dois também se viram
comprometidos com o que o presidente em fim de mandato, Eisenhower, militar
moderado da velha escola que se via presidindo essa descida à loucura sem ser
exatamente contaminado por ela, chamou de ‘complexo industrial-militar’, ou seja,
o crescimento cada vez maior de homens e recursos que viviam da preparação da
guerra (HOBSBAWM, 1995, p. 223).

Em meio a esse clima paranoico de dominação travado entre ambos os


países, ainda foram redobrados seus esforços em uma corrida espacial, que
culminou em grandes avanços no que diz respeito ao desbravamento do
espaço. Nessa corrida, a URSS saiu em primeiro lugar e, em 1961, colocou
o primeiro satélite artificial no espaço, o Sputink. No entanto, os EUA não
perderam tempo e se recuperaram e, então, em 1969, enviaram o homem à
lua. Conforme aponta Tanaka (2005), isso fez com que parte do orgulho dos
EUA por não ter dado o primeiro passo nessa corrida fosse recuperado.
Apesar do clima de instabilidade gerado pelos desdobramentos da guerra
e da bipolaridade que se criou entre a URSS e os EUA, foram feitos diversos
esforços para que se mantivesse a paz entre as nações de todo o mundo,
conforme aponta Gaspar (2015, p. 4): “No esforço de promover a cooperação
internacional sobre uma base consensual e estável, deve ser citada, também, a
criação, em 1945, da Organização das Nações Unidas – ONU”. A ONU, portanto,
foi criada com o objetivo de tentar mediar os possíveis conflitos vindouros e
manter a paz, como podemos observar:

Artigo 1. Os propósitos das Nações unidas são:


1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, coletivamente,
medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou
outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade
com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das
controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da paz;
Regimes totalitários e a Segunda Guerra Mundial 13

2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao prin-


cípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras
medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal;
3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas interna-
cionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover
e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para
todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; e
4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução
desses objetivos comuns (ONU, 1945, documento on-line).

Concluímos, portanto, que, ao longo de toda a história da humanidade,


o que se viu surgir a partir da primeira metade do século XX na Europa, que
culminou em uma guerra que vitimou mais de quarenta milhões de pessoas
e um evento como o holocausto, que dizimou seis milhões de judeus, deve
sempre ser lembrado para que nunca se repita.

Referências
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Leitura recomendada
MUSEU DO HOLOCAUSTO. O museu. c2014. Disponível em: https://www.museudoholo-
causto.org.br/. Acesso em: 30 dez. 2020.

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