Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
História Contemporânea
História Contemporânea
CONTEMPORÂNEA
Regimes totalitários
e a Segunda
Guerra Mundial
Krisley Aparecida de Oliveira
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Compreender como um evento tão traumático como a Segunda Guerra Mundial
e o holocausto ganharam força e puderam ocorrer, tal qual inúmeros regimes
totalitários do mesmo período e que tiveram diversas causas, é primordial para
o entendimento da história contemporânea. Ao mesmo tempo, reconhecer as
características e possibilidades de ascensão de regimes como esses, que vitimaram
milhões de pessoas em todo o mundo, é fundamental no processo de construção
da consciência histórica.
Neste capítulo, você vai conhecer as dinâmicas que levaram aos regimes
totalitários na Europa ao longo do século XX e a Segunda Guerra Mundial, que
abrange temas ainda muito polêmicos e que merecem toda atenção, como o
holocausto, considerado por muitos historiadores como um “evento limite”, ou
seja, aquele que foge de todos os padrões normais do que já havia ocorrido até
então na história da humanidade. Além disso, conhecendo o desenvolvimento
2 Regimes totalitários e a Segunda Guerra Mundial
dessa guerra, você vai ver como a Europa se organizou geopoliticamente após
esse evento tão marcante da história.
Nesse clima e contexto após a Primeira Guerra Mundial, que causou grande
instabilidade, com os países ainda em processo de recuperação, os movimen-
tos e regimes totalitários foram tomando forma e oferecendo-se como uma
saída à fragilidade que havia levado à guerra, apresentando-se com a ideia
de que os governantes e governos deveriam ser fortes e duros — com isso, o
corpo do totalitarismo é formado.
Podemos citar inúmeros intelectuais que escreveram sobre o tema dos
totalitarismos além de Arendt (1989) e que possuem uma análise de sua cons-
trução diferentes, como Theodor Adorno, Max Horkheimer, Hebert Marcuse e
Antônio Gramsci. Especificamente Gramsci (2000), no livro 6 de seu Cadernos
do Cárcere, escreveu sobre o totalitarismo enquanto estava preso durante o
período em que o sistema totalitário italiano estava em voga:
Não há como explicar essa fratricida Guerra Civil Espanhola sem levantar grandes
polemicas. Grosso modo, a historiografia mais recente sobre o tema afirma que
os militares rebelados, liderados por Franco, já planejavam um golpe há meses
contra o governo republicano eleito em 1931. Este começou dia 17 de julho de 1936.
Logo, após o golpe dado por Franco, que contava com o apoio da Itália
fascista e do partido nazista alemão, que utilizaram esse momento para
testar suas armas mais potentes, começa a Guerra Civil Espanhola, que durou
até 1939, ano em que teve início a Segunda Guerra Mundial. De outro lado,
as forças que eram democráticas lutavam contra o avanço de Franco e eram
formadas por operários e intelectuais, em sua maioria de outros países.
Como afirma Matthews (1975), o conflito, que durou três anos e teve fim em
1939, resultou em mais de um milhão de pessoas mortas e uma quantidade
incontável de desaparecidos. Nesse período, opositores tiverem que sair
do país para não serem assassinados e imperou o culto ao general Franco,
a censura, o nacionalismo e o anticomunismo. Para muitos autores da his-
toriografia, como durante a Guerra Civil Espanhola houve confrontos para
tentar estabelecer a democracia, com batalhas entres fascistas e socialistas,
essa guerra é considerada uma espécie de ensaio para o que viria a seguir:
a Segunda Guerra Mundial.
Conforme vimos, o expansionismo é um dos principais agentes motiva-
dores da ascensão dos regimes fascistas na Europa, e com a Alemanha não
foi diferente. Juntos aos fatos que mencionamos sobre o imperialismo e a
vergonha pela derrota na Primeira Guerra, a expansão germânica sobre os
demais territórios da Europa — caracterizada pelos ideais de extrema direita
8 Regimes totalitários e a Segunda Guerra Mundial
país efetivamente entra na guerra. De acordo com Lopes (2015), esse foi um
ato que mudou o curso da guerra e gerou consequências que duram até hoje.
No decorrer da guerra, foram travadas batalhas decisivas. No início, utili-
zando táticas de infantaria e artilharia com ataques coordenados, a Alemanha
conquistou diversos países. Conforme aponta Gilbert (2012), conseguiu, nesse
período inicial, muita expansão. Todavia, a famosa Batalha de Stalingrado,
na União Soviética, marca a retomada de poder dos países aliados. Nesse
ponto, a Alemanha nazista já havia conquistado muitos territórios da União
Soviética e tomar Stalingrado seria decisivo, até porque a cidade levava o
nome de Stalin, socialista e, portanto, inimigo ideológico dos países do eixo.
Somente na Batalha de Stalingrado aproximadamente 2 milhões de pessoas
morreram; o embate foi duro, mas acabou vencido pelos aliados.
A partir de 1944, o eixo começa a entrar em decadência, a Itália é invadida
e Mussolini é capturado, julgado e executado. Alemanha e Japão começam a
sofrer grandes baixas e a guerra caminha para seu fim. Em Berlim, capital da
Alemanha, os nazistas organizaram uma última resistência, mas sem sucesso;
o Exército Vermelho da URSS logo ocupou a cidade, Hitler cometeu suicídio
e a Alemanha pediu rendição em maio de 1945.
Todavia, como aponta Gilbert (2012), ainda havia espaço para mais bru-
talidade, e os EUA lançaram sobre o Japão, que se negava a se render, duas
bombas atômicas, causando imensa destruição. Há diversos debates no
campo historiográfico acerca da necessidade real desse ato dos EUA: alguns
apontam que, como Itália e Alemanha já estavam fora da guerra e o Japão
já estava esgotado, não havia necessidade de utilizar uma arma atômica —
assim, os EUA o teriam feito apenas para demonstrar diante do mundo sua
capacidade bélica. Em outra via, há os que apontam que os japoneses tinham
como hábito lutar até a morte, de modo que os EUA teriam que arriscar mais
vidas de soldados sem saber até quando a guerra continuaria. Seguindo,
então, com Gilbert (2012), concluímos que a Segunda Guerra foi a tragédia
dos homens, mulheres e crianças anônimos, dos soldados, guerrilheiros,
marinheiros e resistentes que foram mandados para a morte.
A Alemanha foi o país mais castigado pela Guerra, sofrimento esse ampliado pela
insanidade dos nazistas. Ao final da Guerra, a Alemanha estava completamente des-
truída, o outrora maior parque industrial do continente teria que ser reconstruído
a partir das cinzas deixadas pelas bombas dos aliados que colocaram abaixo as
principais cidades do país. Mas não apenas a Alemanha sofreu com a destruição
provocada pela Guerra. A França também se encontrava arrasada, não apenas
material e economicamente, como também moralmente. (...) Mesmo a Grã-Bretanha,
orgulhosa do seu grande império que ocupava 3/5 das terras do planeta, viu o
seu poder econômico e militar cada vez mais enfraquecido (TANAKA, 2005, p. 157).
Outro ponto que merece destaque nesse contexto foi a corrida arma-
mentista, que não ficou restritaà Europa, mas se estendeu, também, para a
América Central, para o Oriente Médio, para a Ásia e outras regiões. Ou seja,
onde estivessem em jogo estratégias em relação ao plano de dominação
desses países, os EUA e a URSS interferiam, de maneira direta ou indireta.
Conforme aponta Eric Hobsbawm, em seu clássico A era dos extremos:
Os dois lados viram-se assim comprometidos com uma insana corrida armamentista
para a mútua destruição, e com o tipo de generais e intelectuais nucleares cuja
profissão exigiam que não percebessem essa insanidade. Os dois também se viram
comprometidos com o que o presidente em fim de mandato, Eisenhower, militar
moderado da velha escola que se via presidindo essa descida à loucura sem ser
exatamente contaminado por ela, chamou de ‘complexo industrial-militar’, ou seja,
o crescimento cada vez maior de homens e recursos que viviam da preparação da
guerra (HOBSBAWM, 1995, p. 223).
Referências
AFONSO, J. G. O American Way of Life na reconstrução da Europa no pós-guerra. Rela-
ções Internacionais no Mundo Atual, v. 1, n. 18, p. 218-252, 2015. Disponível em: http://
revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RIMA/article/download/1183/371373022. Acesso
em: 30 dez. 2020.
ARENDT, H. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
COELHO, L. A Segunda Guerra Mundial e as conferências dos grandes. Descomplica,
2016. Disponível em: https://descomplica.com.br/artigo/a-segunda-guerra-mundial-
-e-as-conferencias-dos-grandes/43J/. Acesso em: 30 dez. 2020.
FRAGA, G. W. Brancos e vermelhos: a Guerra Civil Espanhola através das páginas do jornal
Correio do Povo (1936-1939). 2004. 132 p. Dissertação (Mestrado em História) - Univer-
sidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004. Disponível em: https://www.
lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/13072/000411862.pdf?sequence=1&isAllowed=y.
Acesso em: 30 dez. 2020.
GASPAR, R. C. A trajetória da economia mundial: da recuperação do pós-guerra aos
desafios contemporâneos. Cadernos Metrópole, v. 17, n. 33, p. 265-296, maio 2015.
Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/cm/v17n33/2236-9996-cm-17-33-0265.pdf.
Acesso em: 30 dez. 2020.
GILBERT, M. A Segunda Guerra Mundial. São Paulo: LeYa, 2012.
GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. v. 3.
HOBSBAWM, E. Era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras,
1995.
LOPES, H. F. S. Rumo ao dia que mudou a guerra. Relações Internacionais, n. 45, p.
137-143, mar. 2015. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/pdf/ri/n45/n45a10.pdf.
Acesso em: 30 dez. 2020.
LOZANO CUTANDA, Á. Mussolini y el fascismo italiano. Madrid: Marcial Pons, 2013.
LUKÁCS, G. Carta sobre o stalinismo. Temas de Ciências Humanas, v. 1, 1978.
14 Regimes totalitários e a Segunda Guerra Mundial
Leitura recomendada
MUSEU DO HOLOCAUSTO. O museu. c2014. Disponível em: https://www.museudoholo-
causto.org.br/. Acesso em: 30 dez. 2020.