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31 Dezembro de 1952 - 20h06

Faltavam apenas algumas horas para o Ano Novo em Nova Iorque, as ruas gélidas e o clima frio não
impediam as pessoas de se reunirem na Time Square para compras, com uma grande segurança de
policiais por perto com o medo de comunistas e soviéticos infiltrados na cidade, não era nada tão
autoritário. O famoso cinema The Metrograph estava quase vazio, o que era comum na época de Ano
Novo, em cartaz na parede de tijolos de fora era possível ver o filme Amor, Sequestro e Picuinhas, filme
aquele que estava sendo assistido por cerca de 10 pessoas casais ou família, em uma das poltronas
vermelhas era possível ver um senhor rindo que nitidamente estava deixando todos desconfortáveis. Um
jovem casal está sentado na fileira à frente do senhor, claramente incomodado com sua risada.

o rapaz se vira para o velho e diz: "Com licença, senhor, poderia falar baixo? Estamos tentando assistir ao
filme."

O senhor ainda rindo de si mesmo com suas rugas demarcando seu rosto, responde com um tom
sarcástico: "Oh, desculpe. Não sabia que minha diversão com esta obra-prima cinematográfica estava
atrapalhando sua experiência."

a garota, claramente irritada, se vira e diz: "Não é que tenhamos problemas com você gostando do filme, é
só que sua risada é muito alta."

Esse senhor era August Baldwin, um general aposentado e que agora estava visivelmente irritado, ele
mudou seu rosto de uma forma repentina e cruzou os braços se reclinando na poltrona: "Bem, desculpe-
me por ter senso de humor. Acho que algumas pessoas simplesmente não apreciam um filme de comédia
quando veem um."

O garoto tentando suavizar a situação, diz: "Olha, senhor, não queremos ser rudes, é só que este é um
filme sério não há nada de engraçado."

O general Baldwin, agora farto, se levanta e diz: "Filme sério? Um filme onde um policial sequestra a
esposa do chefe de polícia e culpa a máfia para incitar uma guerra é para ser sério? Tudo bem, vou
embora. Não preciso estar cercado por pessoas sem humor. Aproveite seu filme sério." Com isso, ele
junta suas coisas e sai do teatro, deixando o casal o olhando para ele confusos.

Quando o General Baldwin sai do teatro, ele é saudado pela agitada multidão da véspera de Ano Novo
nas ruas de Nova York. As pessoas passam correndo, carregando pacotes e sacolas, ansiosas para voltar
para casa e comemorar o feriado com seus entes queridos. O humor do general contrasta fortemente com
a atmosfera festiva ao seu redor. Ele ainda está furioso com o confronto com o jovem casal no teatro.

Parado em frente ao cinema, ele para por um momento para acender um cigarro e olhar para o céu. A lua
está cheia e brilhante, e as estrelas brilham acima dele. Uma leve neve está caindo, cobrindo as ruas e as
pessoas abaixo. O General respira fundo e exala uma nuvem de fumaça, observando enquanto ela
desaparece na noite.
A fumaça do cigarro contrasta com a queda dos flocos de neve e cria a sensação de um momento
agridoce, onde o General está sozinho, olhando as horas, e cercado pelas comemorações dos outros. A
luz do isqueiro iluminando seu rosto enrugado, mostra a idade e o cansaço do general, e cria a imagem de
uma figura solitária, desligada das alegrias dos demais. Um jovem, Eric Barton, se aproxima dele com
pressa: "General!!!"

Ao ouvir, os olhos do General se arregalam e ele rapidamente larga o cigarro e o isqueiro. Ele puxa um
revólver e aponta para Eric: "SAIA!!! Você está em apuros tentando abordar um general aposentado."

"De jeito nenhum, general! Sou Eric Barton, fiz parte do seu pelotão. Eu tinha 18 anos e era o mais jovem
dos soldados... Lembra? Por favor, general, não atire" o jovem rapaz estava pálido.

O General parece surpreso, ele guarda a arma: "Eric Barton?! O JOVEM ERIC BARTON??! Oh meu Deus,
quanto tempo se passou? Achei que depois da guerra você iria enlouquecer, dar um tiro na própria cabeça
e eu nem saberia disso. "

O rapaz respira fundo aliviado: "Estou feliz que você se lembre de mim, General. Eu estava com medo de
que você fosse puxar o gatilho"

O velho general se aproxima do garoto e diz: "Olhe para você, você ainda tem o mesmo rosto de 18 anos."
Ele dá um tapinha no rosto de Eric. "Onde está sua esposa?"

De uma forma meio misteriosa diz: "Não encontrei uma. Estou melhor sozinho" ele olha em volta e
pergunta: "Mas e Meredith? onde ela está? Adorei biscoitos dela depois que a guerra acabou."

Um silêncio toma conta da conversa enquanto a expressão do General muda de felicidade para tristeza:
"Ah... Meredith já se foi há um ano, jovem Eric. Foi uma grande tragédia para mim na época."

"Sinto muito, senhor. Eu não sabia. Ela estava doente?"

August começa olhar distante por uns segundos e depois volta a realidade: "É complicado..." rapidamente
sua postura muda para felicidade: "Bom, vamos mudar de assunto, onde está frequentando?"

Eric diz: "Que tal tomarmos uma bebida no novo bar clandestino, The Black Cat? Ouvi falar muito bem
dele e ainda não fui."

O General endireitou a postura e disse: "Parece um plano. Estou sedento por uma boa bebida. Vamos
pegar o meu carro." O General tirou um molho de chaves do bolso e abriu caminho até seu lustroso
Cadillac preto.

Eric entrou no lado do passageiro, admirando o luxuoso interior. "Uau, general. Que máquina incrível que
você tem aqui. Nunca vi nada parecido."
O General August Baldwin apenas sorriu e ligou o motor, o ronco do motor fazia um belo contraste com a
neve caindo lá fora. "É meu pedido de desculpas", disse ele enquanto se afastavam do meio-fio e se
dirigiam ao bar clandestino.

O Cadillac preto parou em um bar mal iluminado, um ponto de encontro popular para veteranos de guerra.
Lá dentro, o som do clássico rock 'n' roll enchia o ar enquanto ex-soldados riam e dançavam com suas
esposas ou amigos. O General desceu do carro e foi imediatamente reconhecido pelos frequentadores.

"Puta merda, matamos nazistas e comunistas para ouvir esse tipo de música mais tarde", exclamou o
general enquanto se dirigia à entrada.

Alguns dos clientes trocaram olhares céticos e murmuraram comentários como: "Este general é uma
verdadeira bosta!" e "Ainda bem que não estava sob o comando dele". O General ignorou suas palavras e
caminhou até o bar.

"Olá, August! O de sempre?" O barman, um homem careca na casa dos setenta anos com um bigode
grosso, cumprimentou-o calorosamente.

"Meu amigo, Francis, como você está? E, por favor, uma cerveja para rapazinho aqui também", respondeu
o General, gesticulando para Eric.

Francis serviu as cervejas e as colocou no balcão. "Estou indo bem, considerando todas as coisas. Cuidar
de todos esses ex-soldados bêbados e traumatizados pode ser um verdadeiro desafio." Ele olhou para
Eric. "E quem é esse? Seu filho?"

O general balançou a cabeça. "Não, ele era um soldado sob meu comando no meu antigo pelotão."

Francis serviu as cervejas aos dois homens e se virou para Eric. "Como você tem lidado com a vida pós-
guerra?"

Eric olhou para o copo em sua mão. "Tem sido complicado, mas consegui superar muita coisa. O que
ainda me assombra são as lembranças dos meus camaradas explodindo na minha frente com granadas
ou tiros de metralhadora."

Francis colocou uma mão reconfortante no ombro de Eric. "Não se preocupe, é sempre bom falar sobre
isso. Ajuda a dividir o fardo. Mas, por enquanto, preciso atender outros clientes. Me avise se precisar de
alguma coisa."

August e Eric brindaram com seus copos e conversaram sobre vários assuntos enquanto bebiam. De
repente, o volume da música caiu drasticamente na jukebox quando um soldado bêbado subiu em cima de
uma mesa. "Apenas olhe! Se não é o miserável, ferrado EX General August Baldwin..." ele falou arrastado,
chamando a atenção de todo o bar.
Eric se virou alarmado, mas o General permaneceu imperturbável e continuou a beber sua cerveja. O
soldado bêbado continuou seu discurso, acusando o general de causar a morte de seu pelotão.

Quando a situação estava prestes a piorar, Francis intervém. "Mais respeito pelos mais velhos e
superiores, Lloyd!" ele disse enquanto limpava um copo e mantinha um olhar atento sobre a situação.

Eric, indignado com o desrespeito do soldado bêbado, levantou-se e o empurrou. O soldado retaliou
socando Eric, que o socou de volta. A situação rapidamente evoluiu para uma briga, com outros veteranos
se juntando para escoltar o soldado bêbado para fora do bar.

"Tire esse cara mal-educado do meu bar, meu Deus!" Francis exclamou enquanto ajudava Eric a se
levantar. "Você está bem, garoto? Você defendeu seu superior, você foi leal. Não se preocupe."

A bochecha de Eric estava inchada e machucada pelo soco, mas ele parecia estar bem. Assim que a
situação começou a se acalmar, um homem corpulento em roupas escuras se aproximou deles. "Barton
sempre se metendo em encrenca", disse ele com voz rouca.

O trio reconheceu o homem como Peter "Pow-Pow" Moyle, um ex-membro do pelotão de August
conhecido por sua sede de sangue e tendências suicidas. Pow-Pow era um homem que não pensaria
duas vezes em se jogar na frente de um trem se isso significasse pará-lo. Ele era ferozmente leal a August
e seu pelotão, e sua presença acrescentava mais tensão à situação já acalorada:

"Pow-Pow?! Oh meu Deus, como você está?!" o General exclamou enquanto caminhava em direção a
eles, abraçando Pow-Pow em um abraço apertado.

"O tempo passa, velho. Já se passaram seis anos desde a última vez que nos vimos." Pow-Pow disse com
uma risada. — Mas veja quem eu trouxe comigo, general. Ryan Jones, ainda casado com o amor de sua
vida, Annie.

Os olhos do General brilharam quando ele viu Ryan. "Ryan Jones? AAAAAA! Como você é lindo, meu
jovem!" Ele exclamou com alegria.

Ryan apresentou sua esposa, Annie, uma linda mulher com cabelos escuros e olhos negros. Enquanto ela
apertava a mão do General, uma centelha de química passou entre eles. Foi uma troca discreta, mas que
não foi perdida por aqueles ao seu redor.

"Ryan sempre me contou histórias sobre você", disse Annie com um sorriso.

O General, com seus velhos olhos, retribuiu o olhar e beijou-lhe a mão. "É um prazer, August Baldwin ao
seu serviço", disse ele, sua voz ficou baixa e suave.

Enquanto o grupo se sentava para beber, o General não pôde deixar de sentir uma pontada de nostalgia:
"Eric Barton, Pow-Pow, Ryan Jones, se Hugo estivesse aqui, nosso time estaria completo. Sinto falta dos
nossos momentos."
Naquela noite, enquanto todos brindavam e desfrutavam da companhia uns dos outros, o clima era
animado e festivo. Quando o relógio bateu meia-noite, todos se juntaram, desejando um ano próspero e
pacífico pela frente. A cerveja corria livremente e todos, menos Annie, sentiam os efeitos do álcool. Apesar
disso, ela estava se divertindo muito, rindo e brincando com o grupo.

Ao saírem do bar, a neve caía levemente, criando uma atmosfera serena e harmoniosa. Antes que o
General e Eric entrassem no carro, Ryan interrompeu e perguntou ao General se ele sabia de alguma
instalação militar que pudesse estar contratando secretárias. Era para Annie, explicou ele, pois queria ver
sua esposa trabalhando. Annie tinha um olhar envergonhado em seu rosto enquanto quase se escondia
atrás de Ryan.

O General pensou um pouco antes de responder: "Na área militar está meio parado, mas vamos fazer o
seguinte. Preciso organizar documentos e papelada na minha casa. Vá lá amanhã, Annie, e podemos
fazer uma entrevista."

Ryan ficou animado com a ideia e Annie deu um sorriso tímido. Enquanto isso, Eric e Pow-Pow
conversavam no canto. Todos se despediram e Eric entrou no carro do General que o deixou em casa.

Enquanto o carro do General Baldwin serpenteia pela floresta escura e densa, as árvores imponentes se
agigantam como sentinelas sinistras, lançando sombras sinistras no chão coberto de neve. Os faróis do
carro iluminam o caminho enquanto ele se aproxima de sua grande e imponente mansão, aninhada no
meio da floresta. A casa é um labirinto de corredores escuros e quartos misteriosos, envolto em sombras e
segredos.

Ao abrir a porta e entrar em casa, a primeira coisa que nota é a enorme confusão de papéis e livros
espalhados pela sala, cozinha e todos os outros cômodos. Os pisos estão cheios de pilhas de documentos
e as paredes são adornadas com tapeçarias e pinturas ornamentadas. Apesar do caos, há uma sensação
de beleza e luxo que permeia o espaço.

Baldwin olha para a bagunça com uma mistura de tristeza e determinação. Ele tira o casaco e sobe as
escadas, sua mente já voltada para a tarefa em mãos. Há um senso de propósito em seus passos
enquanto ele sobe a grande escadaria, o ranger da velha madeira ecoando pela casa. Quando ele chega
ao topo da escada, a sensação de mistério e intriga que o cerca aumenta, sugerindo as agendas ocultas e
os segredos sombrios que estão dentro das paredes de sua grande e misteriosa mansão.

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