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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL – UFMS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA CONTÁBEIS

EDUARDO BORGES SOARES


RODRIGO FARIAS TOGNOLI DA SILVA

O ENSINO REMOTO EMERGENCIAL ANALISADO SOB A ÓTICA DA


EXPERIÊNCIA DE ESTUDANTES DE CONTABILIDADE

Campo Grande – MS
2021
1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL – UFMS


CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA CONTÁBEIS

O ENSINO REMOTO EMERGENCIAL ANALISADO SOB A ÓTICA DA


EXPERIÊNCIA DE ESTUDANTES DE CONTABILIDADE

EDUARDO BORGES SOARES


RODRIGO FARIAS TOGNOLI DA SILVA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como exigência a obtenção do grau de Bacharel
no curso de Ciências Contábeis pela Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Orientadora: Profa. Dra. Elisabeth de Oliveira


Vendramin.

Campo Grande – MS
2021
2

O ENSINO REMOTO EMERGENCIAL ANALISADO SOB A ÓTICA DA


EXPERIÊNCIA DE ESTUDANTES DE CONTABILIDADE

Eduardo Borges Soares


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Rodrigo Farias Tognoli da Silva


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Elisabeth de Oliveira Vendramin


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

RESUMO
O objetivo do presente estudo é o de compreender as experiências vivenciadas por estudantes
de um curso de Ciências Contábeis de uma Instituição Federal de Ensino Superior (IFES) na
adoção do Ensino Remoto Emergencial (ERE) durante a pandemia do Covid-19. Para atingir
tal objetivo, propõe-se uma pesquisa de natureza qualitativa, com a construção dos dados feita
por meio de relatos de experiências escritos por estudantes do referido curso, de forma
voluntária. Para a análise dos relatos, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo (Bardin,
1977). (INSERIR AQUI OS PRINCIPAIS RESULTADOS ENCONTRADOS DE
FORMA RESUMIDA). O presente estudo visa contribuir com o cenário do modelo do ERE,
no que tange as discussões acerca da experiência de estudantes de uma IFES que já ofertou 3
semestres consecutivos nessa modalidade. Os dados construídos das perspectivas dos
respondentes geraram debates que podem aprimorar essa modalidade de ensino, bem como
criar insights para um possível Ensino Híbrido, em um futuro pós crise sanitária.

Palavras-chave: Relato de Experiência; Graduação; Ciências Contábeis; Covid-19;


Pandemia.

1 INTRODUÇÃO

A pandemia de COVID-19 foi declarada oficialmente como tal por Tedros Adhanom,
diretor geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), em uma quarta-feira, 11 de março de
2020. Causou e ainda causa muitas perdas e dificuldades em todos os países, com milhões de
mortes ao redor do planeta, bem como a devastação econômica da maior parte das nações do
globo, algo que não havia acontecido neste século. Essa geração vivencia pela primeira vez
uma doença nessas proporções, sendo a última, a Gripe Espanhola, que se iniciou pela
mutação do vírus influenza, em que os primeiros casos foram nos Estados Unidos. A
pandemia da Gripe Espanhola aconteceu entre 1918 e 1919, deixando, no mínimo, 50
milhões de mortos (Goulart, 2005).
O Brasil, bem como qualquer outro país, não estava preparado para o colossal
problema e antes mesmo do vírus aparecer, o país já enfrentava dificuldades econômicas e
em vários setores há alguns anos, por conta da inflação que se instaurou em 2015, o que
levou a aumentar os gastos das famílias e o aumento da taxa de desemprego (Mendonça,
2018).
Na educação, o ensino público superior em particular, vinha sofrendo com cortes de
verba significativos antes da Pandemia, sobrevivendo com grandes dificuldades. (Oliveira,
2019). A pandemia também piorou a precariedade do ensino, trazendo fraquezas ao ensino
presencial, ao forçar a adoção do Ensino Remoto Emergencial (ERE). O ERE foi uma
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adaptação temporária que serviu como uma alternativa para que fosse possível a realização
de atividades de uma forma remota, que se não fosse pela pandemia, seria ministrada de
forma totalmente presencial ou híbrida (Valente, Moraes, Sanchez, Souza & Pacheco, 2020).
Por se tratar de uma mudança radical, muitos professores que não possuíam
familiaridades com a modalidade remota e ferramentas de ensino digital, sentiram
dificuldades para migrar o ensinamento do modo presencial para o remoto, porém os
docentes relatam que essa experiência de aprendizado de novas técnicas é desafiadora e
enriquecedora (Rondini, Pedro & Duarte, 2020).
Então, como problemática de pesquisa, podemos identificar que não há nenhum
contexto que não tenha sido afetado com o caos da pandemia. As universidades assim como
as demais instituições de ensino, buscam se adaptar em todas as áreas do conhecimento.
Professores precisaram de usar meios tecnológicos, alguns pela primeira vez, para poder
lecionar suas aulas de forma remota, fazendo com que saíssem de sua zona de conforto por
terem que fazer uma rápida transição para o ensino remoto sem o conhecimento de como
lidar com essas tecnologias educacionais.
Por conta dessa mudança drástica de realidade e rotina educacional, como muitos
dizem, “trocar o pneu com o carro em movimento”, buscou-se fazer um estudo dos impactos
dessa pandemia no ambiente de ensino, pela ótica dos estudantes que experienciaram essa
mudança no ensino.
Sabendo que a área de Ciências Sociais Aplicadas está voltada para as diversas
realidades humanas, e objetiva também analisar e interpretar relações sociais. É importante
então, tratar da percepção da maior problemática atual do mundo. Sendo a Ciência Contábil,
uma Ciência Social Aplicada, se debruça na relação de nossa sociedade e a esse respeito faz-
se a seguinte reflexão: Como foi a experiência de estudantes do curso de Ciências
Contábeis de uma IFES, com a adoção do Ensino Remoto Emergencial durante a
Pandemia?
Objetivando compreender as experiências vivenciadas por estudantes de um curso de
Ciências Contábeis de uma IFES na adoção do Ensino Remoto Emergencial. Especificamos
analisar as experiências dos estudantes, recebidas por meio dos relatos; categorizar as
análises, utilizando a técnica de Template (King, 2004) e identificar impactos, positivos e
negativos que, na percepção dos estudantes, foram mais fortes no processo de adoção do
Ensino Remoto Emergencial.
A importância do estudo é justificada, dado que a Ciência Contábil é uma Ciência
Social Aplicada, ela objetiva se envolver com os interesses dos seres humanos (Coliath,
2014). No âmbito educacional, a qualidade do ensino influencia diretamente a sociedade
(Dias & Pinto, 2019). Dito isso, o presente estudo buscará compreender o cenário que envolve
os impactos que a Covid-19 trouxe para o curso de Ciências Contábeis, olhando para as
experiências dos estudantes, no que envolve o Ambiente de Aprendizagem, as Relações com
colegas e professores, Desigualdades sociais, as Ferramentas (TICs) adotadas, entre outros.
É esperado contribuir para que mais alunos dessa e de outras áreas, sintam o interesse
para buscar entender e apontar as dificuldades e impulsionadores coletivos e individuais que a
pandemia causou no ensino superior durante esse período, para que seja possível visualizar os
problemas, soluções e semelhanças nas adversidades enfrentadas. Entender o impacto da
Covid-19 no ensino de Ciências Contábeis ajuda alunos e professores a identificar fraquezas e
obstáculos, gerando mais debates e assim criando soluções mais eficazes que consigam atingir
a todos (Neto et al., 2021).
Esse estudo é relevante por se tratar de um assunto atual dentro do maior foco mundial
que nos deparamos de várias formas todos os dias e que nos vemos com dificuldades de
conciliar todas essas mudanças que aconteceram de uma forma bem rápida. O tema se adere
perfeitamente a perspectiva da formatação do curso por justamente tratar do ensino remoto
4

que tivemos que passar durante 2020 e 2021, as dificuldades e problemas que docentes e
discentes estão enfrentando e as consequências disso no futuro (Hodges, 2020).

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Pandemia

O Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 (SARS-CoV-2), que em


tradução livre significa Síndrome Respiratória Aguda Grave Coronavirus 2, ou conhecido
somente como Covid-19, teve os primeiros casos conhecidos na cidade de Wuhan na China,
em dezembro de 2019, com fonte exata desconhecida (OMS, 2020). Não é a primeira
pandemia que a história da humanidade enfrenta (Fiocruz, 2020), porém a sua complexidade e
o grande poder de contágio assustam e afetam o mundo todo em variados contextos. A
transmissão que ocorre principalmente com o contato com pessoa infectada, por meio de
gotículas respiratórias geradas quando a pessoa tosse, espirra, ou por gotículas de saliva ou
secreção nasal (SBP, 2020), fez com que as atividades econômicas, sociais e educacionais
fossem afetadas e tivessem que se adaptar com as recomendações sobre o distanciamento
social, higiene das mãos e o uso de máscaras (OMS, 2020).
No dia 26 de fevereiro de 2020 o Brasil confirmava o seu já esperado primeiro caso da
nova doença, um cidadão da cidade de São Paulo que havia viajado para a região da
Lombardia na Itália, até então um local bastante dramático nos primeiros meses da pandemia
(G1, 2021). Após um ano dessa data, pode-se descrever a disseminação, bem como as
medidas adotadas pelo país para o combate eminente contra o inimigo invisível: O país foi
duramente atingido pela crise sanitária e em seis meses o país registrava mais de 3,6 milhões
de casos e mais de 116 mil mortes decorrentes da doença, com registros em todos os estados
da federação (G1, 2020). Em um ano, os números terríveis contabilizaram mais de 10,2
milhões de casos e quase 250 mil mortes, nesse momento sendo o segundo país no indesejado
ranking com mais vítimas no mundo, ficando atrás somente dos Estados Unidos. (G1, 2021).
Em meio à essa catástrofe vivida pelo país, o poder público buscou medidas de
proteção, e dentre essas adotadas pelo governo brasileiro, no campo econômico as principais
foram: A implementação do auxílio emergencial que é denominado um suporte financeiro do
governo federal para garantir uma renda mínima aos brasileiros em situação mais vulnerável
durante a pandemia; Saques de até um salário mínimo do FGTS e a prorrogação do
pagamento de impostos por parte das empresas (Gov.br, 2020). Ainda que sem um consenso
dos poderes públicos, os governos federal, estadual e municipal adotaram medidas no âmbito
social, para conter a alta de casos, dentre elas: o Distanciamento social, com implementação
do teletrabalho para servidores federais pertencentes a grupos de risco (Instrução Normativa
19 - Ministério da Economia); Antecipação de férias individuais e coletivas, compensação de
horas e antecipação de feriados; Obrigatoriedade do uso de máscara em locais públicos;
Quarentenas e toques de recolher; Suspensão ao comércio e serviços não essenciais além do
Fechamento parcial das unidades de ensino (Aquino et al., 2020)
Na educação, além do fechamento parcial de escolas e universidades em todo o país, a
principal medida foi tomada no dia 17 de março de 2020 através da portaria nº 343 que
autorizou a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a
situação de pandemia e dispensou a obrigatoriedade do cumprimento do mínimo de dias
letivos no ano, inicialmente válida por 30 dias, posteriormente estendida até dezembro de
2021 através da aprovação do Parecer do Conselho Nacional de Educação CNE/CP nº 15 de 6
de outubro de 2020, devido a disseminação pandêmica e consequentemente a inviabilidade de
aulas presenciais e objetivando manter a rotina de estudo dos alunos durante o estado de
5

calamidade pública. Diante da urgência da situação as instituições de ensino tiveram que se


adaptar quase que instantaneamente a modalidade de ensino remoto emergencial.

2.2 Ensino Remoto Emergencial

O novo Coronavirus, que foi descoberto em dezembro de 2019 em Wuhan, na China,


que acabou causando a pandemia mundial que se espalhou rapidamente, fazendo países
tomarem decisões para conter a disseminação do vírus, uma delas foi o distanciamento social
que forçou instituições de ensino de todos os níveis educacionais, desde a pré-escola até o
ensino superior a adotarem novas modalidades de ensino, fazendo com que o ensino remoto
emergencial ganhasse uma força neste período (Boldrini, 2021).
O Ensino Remoto Emergencial (ERE) foi uma solução temporária para continuar as
atividades que estavam acontecendo dentro da sala de aula, porém, com a principal ferramenta
sendo a Internet. E é por esse motivo que ele se difere do Ensino a Distância (EaD), pois o
EaD ele é preparado por um modelo subjacente de educação que é sustentado por concepções
teóricas e fundamentos metodológicos que vão dar o melhor suporte ao aluno (Valente et al.,
2020)
Por conta da rápida disseminação do vírus e da adoção do Ensino Remoto
Emergencial, professores de vários países tiveram que se reinventar e aprender como adaptar
os métodos usados em aula presencial para uma de forma virtual, evidenciando um
conhecimento nulo ou superficial dos professores do Brasil sobre as ferramentas de
Tecnologias de Informações e Comunicação (TIC), apesar de desafiadora, professores estão
aos poucos aperfeiçoando esses métodos e que uma maioria pretende continuar aplicando as
TICs depois do período de pandemia (Rondini et al., 2020).

2.3 Estudos Anteriores

Para prosseguir com o presente estudo, se faz necessário entender os estudos já feitos
sobre a temática. Assim, destacamos o estudo de Neto et al. (2021) que teve como objetivo
analisar a percepção dos discentes, do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, em
relação a adaptação ao Ensino Remoto Emergencial (ERE), o estudo usou uma abordagem do
tipo quali-quantitativa, do tipo exploratória e descritiva, realizada por meio de um formulário
eletrônico, com perguntas objetivas e discursivas, que foram distribuídos para 42 acadêmicos
do curso. Com base nas respostas do formulário, se teve algumas respostas como, a maioria
dos discentes não assistiram a nenhum tutorial produzido pela instituição, grande parte deles
dizem não ter recebidos algum livro virtual ou periódico, muitos dos discentes se
desconcentram fácil e ocorre oscilação de internet e de que não é sempre que professores
fazem o uso de metodologia ativa.
Outro trabalho analisado foi a pesquisa de Médici, Tatto & Leão, 2020, feita buscando
verificar as percepções de estudantes mato-grossenses do Ensino Médio de diferentes redes de
ensino sobre as dificuldades dos alunos no processo do Ensino Remoto Emergencial. É uma
pesquisa descritiva e exploratória, feita em 2020 que envolveu 118 estudantes de escolas
públicas e privada de Querência, Mato Grosso. Foi utilizado um formulário eletrônico,
contendo 8 questões fechadas. De resultados importantes, podemos notar de que alunos de
escolas particulares se adaptaram mais facilmente ao ERE, enquanto os alunos de escola
pública tiveram mais dificuldades por falta de preparo dos professores.
Valorizamos também o estudo de Girardi (2021), ela avalia a forma que os docentes
do curso de Ciências Contábeis da UTFPR do Brasil e do ISCAP de Portugal, percebem do
uso de TIC no processo de Ensino Remoto Emergencial, a pesquisa usa de abordagem
qualitativa e quantitativa, submetendo um questionário aos docentes dessas universidades. Ao
6

todo foram 29 questionários coletados e os principais resultados foram que houve um


aumento entre 2 a 4 horas da carga horária dos docentes para dedicação às atividades de
docência, a maior dificuldade enfrentada pelos professores foram o manuseio e adaptação ao
uso de ferramentas EaD e muitos professores tem demonstrado preocupações com a saúde
mental dos alunos.
Destacamos ainda um outro estudo importante, o de Santos, Campos, Sallaberry e
Santos (2020), onde foi feita uma pesquisa de natureza quantitativa-qualitativa, que buscou
investigar os efeitos da experiência dos estudantes com o ensino remoto implementado no
curso de Ciências Contábeis em uma IES federal da região centro-oeste, foi feito um
questionário onde obteve uma amostra final de 102 respondentes e que os principais
resultados apontados no estudo foi de que alunos dizem que o Ensino Remoto Emergencial
contribui com a autodisciplina, mostra a capacitação dos professores em se adaptar ao uso
das TICs. Porém alunos relataram também alguns pontos negativos, como, a absorção de
conteúdos mais técnicos e complexos, o excesso de conteúdos e avaliações, do baixo estímulo
e da falta de apoio instrumental.

3 METODOLOGIA

Para atingir o objetivo proposto, qual seja compreender as experiências vivenciadas


por estudantes de um curso de Ciências Contábeis de uma IFES na adoção do Ensino Remoto
Emergencial, a presente pesquisa se posiciona nas premissas da pesquisa de natureza
qualitativa (Flick, 2008). A coleta de dados foi realizada por meio de Relatos de Experiência,
que foram solicitados via google forms a todos os alunos do curso de Ciências Contábeis de
uma IFES, matriculados no semestre 1/2021, de forma que a participação foi voluntária. Ao
enviar o pedido, foi explicado que o estudante deveria escrever um texto, contando sua
experiência com o ERE. Para facilitar a escrita, foram enviadas perguntas direcionadoras, e
reforçado que o texto é livre e as perguntas servem apenas como pontapé inicial para a
reflexão. O Quadro 1 apresenta as perguntas direcionadoras.

Quadro 1
Perguntas direcionadoras do Relato de Experiência
QUESTÃO
Como foi, para você, receber a notícia de que em 17/março/2020 todas as aulas presenciais estavam
suspensas e seriam migradas para um formato remoto? Fale dos seus sentimentos naquele momento.
1
Se você é ingressante 2021, conte sobre seus sentimentos ao realizar a matrícula e saber que as aulas
seriam remotas.
Relate como tem sido seus estudos na modalidade remota. Como são as aulas, quais metodologias você
2 se adaptou melhor, como você organiza seu tempo de estudo. Pode listar alguns benefícios das aulas
remotas? E malefícios (dificuldades)?
E como são as relações no formato remoto? Com professores, com colegas, com grupos de
3
trabalho/estudo? Pode fazer um comparativo dessas relações no formato presencial e no remoto?
Como você avalia, na sua percepção, o impacto do ensino remoto na sua formação profissional
4
contábil? Tem algum impacto positivo, negativo, é indiferente?
Analisando o cenário hoje em dia, após 3 semestres na modalidade remota, qual a sua opinião sobre a
5 adoção do ensino remoto emergencial? Foi a melhor escolha, talvez fosse melhor paralisar as aulas? E
sobre a forma como foi a adoção, você sentiu falta de alguma política/ação da UFMS ou do curso?
Como você imagina os impactos do ensino remoto no que tange ao seu processo de formação
6
profissional em um futuro próximo?
Fonte: elaboração própria

Para contextualizar a fala e a percepção de cada estudante, foi necessário que o


autor(a) do relato, informa-se qual o ano de ingresso no curso e qual semestre estava cursando
em março/2020. Para enviar aos estudantes o pedido de escrita de cada relato individual, foi
7

solicitado à coordenação do curso que o faça via e-mail institucional e grupo de whatsapp.
Para análise dos dados, foi utilizado a técnica de análise de conteúdo (Bardin, 1977).

4 ANÁLISE DE DADOS

Conforme descrito na metodologia, os dados obtidos por meio da pesquisa qualitativa


de relatos de experiência, apresentaram 38 respondentes sendo 22 (57,9%) do sexo masculino
e 16 (42,1%) do sexo feminino, ingressantes na UFMS entre 2017 e 2021, sendo a maior parte
dos respondentes, ingressantes em 2018, ou seja, alocados no sétimo semestre no momento da
pesquisa, conforme Quadro 2.
Quadro 2
Composição demográfica dos Respondentes
Sexo
Ano de Ingresso na UFMS Total Geral
Feminino % Masculino % %
2017 1 2,6 2 5,3 3 7,9
2018 2 5,3 12 31,6 14 36,8
2019 6 15,8 2 5,3 8 21,1
2020 2 5,3 3 7,9 5 13,2
2021 5 13,2 3 7,9 8 21,1
Total Geral 16 42,1 22 57,9 38 100
Fonte: dados da pesquisa (2021)

A maioria dos respondentes 28 (73,68%), está na primeira graduação, 7 (18,42%) já


tinha uma graduação completa e 3 (7,89%) já haviam iniciado outro curso superior, mas não
haviam concluídos, conforme dados representados graficamente na Figura 1:

Figura 2
Gráfico: “Pergunta objetiva do Relato de Experiência: Essa é a sua primeira graduação?”
7.89%

Nã o, já fiz outro curso,


18.42% poré m nã o me formei
Nã o, já tenho ensino
superior completo
Sim
73.68%

.
Fonte: dados da pesquisa (2021)

Em relação a faixa etária dos respondentes, 26 (68%) tem até 30 anos, 8 (21%) estão
entre 30 e 40 anos e 4 (11%) encontram-se acima dos 40 anos, sequenciados graficamente na
Figura 2.

Figura 2
Gráfico: “Faixa etária dos respondentes”
8

30
26
25

20

15

10 8

5 4

0
Até 30 Anos Entre 30 e 40 anos A partir de 40 anos
.
Fonte: dados da pesquisa (2021)

Considerando o ambiente de estudo dos respondentes, questionados sobre ter um


ambiente tranquilo, 15 (39%) responderam “Sim, mas ele não é tão tranquilo assim” enquanto
23 (61%) disseram “Sim, tenho um espaço bastante tranquilo”. Nenhum deles relatou como
resposta: “Não, definitivamente minhas condições de estudo são precárias” evidenciados
graficamente na Figura 3. Um ambiente propício para os estudos é fator primordial para o
ERE e as percepções que o aluno possa ter sobre tal momento.
Figura 3
Gráfico: “Você possui um ambiente tranquilo para estudar, com pouca interferência? (em casa ou no trabalho)”

15; 39%
Sim, mas ele nã o é tã o
tranquilo assim
23; 61%
Sim, tenho um espaço
bastante tranquilo

.
Fonte: dados da pesquisa (2021)

A aplicação das questões direcionadas destacadas no quadro 1, trouxeram vários


aspectos interessantes da percepção dos docentes a respeito do ERE.
A primeira questão analisa a recepção da notícia sobre a suspensão das aulas
presencias e a adoção do formato remoto, evidenciou a preocupação e o medo da mudança
brusca de rotina dos discentes, que em sua maioria expuseram temor e aflição. O respondente
8 destacou “Foi de bastante insegurança e medo de não conseguir prosseguir com o curso.”
Por outro lado, nota-se um sentimento positivo em relação a comodidade e sensação
de segurança, como disse o respondente 2: “Uma sensação de facilidade, evitar deslocações
de trabalho até a faculdade, com ônibus lotado e etc. Fora que estar no conforto de casa não
tem coisa melhor”
Seguindo esse caminho, no segundo ponto foi perguntado sobre a metodologia do
ERE, rotina de estudo e solicitado destacar os benefícios e malefícios da nova forma de
ensino. O que fica claro nos depoimentos é que a modalidade traz como principais benefícios:
o conforto, a economia e a flexibilidade. Entretanto, a dificuldade de concentração, a
socialização e qualidade de ensino são os principais percalços para uma qualidade de
9

aprendizado satisfatória. O respondente 23 pondera essas duas faces da seguinte forma:


“Achei satisfatório, tendo em vista o cenário condicionante e a falta de preparo prévio para o
ensino à distância. Os benefícios foram a flexibilidade, o não deslocamento (economia de
tempo e dinheiro). Por outro lado, a falta de interação direta com os colegas, dificultaram a
resolução de problemas que seria mais facilmente resolvida com uma dinâmica de grupos.”
A terceira questão aborda a relação dos alunos e professores no ensino e remoto e
pedia para ser feito uma comparação com o ensino presencial, o que mostrou que grande parte
dos estudantes sentiram uma falta de entrosamento entre alunos e também com os professores,
o que pode ser evidenciado pelo respondente 20: “Nem sempre há um contato professor/aluno
como deveria ser, ou na minha ótica no caso, o que dificulta até mesmo para similar o
conteúdo. Então posso dizer que as relações no modo remoto acabam distanciando não só a
forma de aprender, mas também a relação de amizade entre professores e alunos.” Um outro
ponto apontado pelo respondente 31 é que a dificuldade é maior em ter uma relação com os
colegas pois ingressou na universidade durante a pandemia: “No que se refere aos colegas, é
complicado ter interação com pessoas que conhecemos apenas online.” Contudo, ainda
surgiram alguns pontos positivos, que seriam a facilidade de comunicação com os
professores, por existirem mais de um meio, como E-mail, AVA e WhatsApp.
A questão 4 avalia o impacto do ensino remoto na formação profissional contábil,
sendo positiva, negativa ou indiferente. Os que acharam positivo apontam que se tornaram
mais flexíveis, as aulas no ensino remoto são de fácil acesso e que conseguem ter mais tempo
de estudar por não ter que se deslocar para a universidade, como foi colocado pelo
respondente 29: "você tem mais tempo pra estudar, já que não perde tempo de locomoção e
tem os materiais no AVA." Já os que consideram negativos alegam que não conseguem se
dedicar como no presencial, como é dito pelo respondente 11: "algumas matérias eu sinto que
estou somente tentando passar e não aprender, já que no EAD eu não consigo aprender
direito", também são levantados outros pontos como a dificuldade de absorção do conteúdo e
pouco tempo para exercer as atividades. Já quem disse que é indiferente ao impacto do ensino
remoto, dizem que a dedicação é a mesma nas duas modalidades, como aponta o respondente
13: "O ensino remoto cobra mais uma atitude autodidata por parte do aluno que o presencial.
Creio que, em 1/4 de curso o impacto não é significativo.".
A questão 5 questiona se a adoção do ensino remoto foi a melhor escolha, ou se as
aulas deveriam ser paralisadas. Com base nos respondentes, a grande maioria foi a favor do
ensino remoto emergencial pelo fato de considerarem ser inviável uma possível paralização
das aulas por conta do atraso da formação dos estudantes, como é apontado pelo respondente
18: "Acredito que foi a melhor escolha, pois paralisar seria muito mais difícil na retomada,
além do tempo que seria perdido". Outros pontos interessantes a favor do Ensino Remoto
Emergencial foram que ela se fez necessária para a evolução do ensino pois mostrou certas
metodologias de ensino que já estavam atrasadas e que o curso de Ciências Contábeis não
possuí muitas aulas práticas, então não teria muitas limitações a adoção do ERE. No que se
refere a política e ação da UFMS na adoção do Ensino, a maioria dos respondentes disseram
não sentir falta de nenhuma, mas alguns disseram que sentiram falta de mais ações para quem
não tem acesso fácil à internet e computador. O respondente 23 apontou a necessidade de um
acompanhamento melhor do ERE: "e acompanhado a satisfação do coletivo (docentes e
discentes) com avaliações periódicas para mudança ou manutenção da decisão tomada à
priori."
No último tópico é feito um questionamento sobre o que tange ao processo de
formação profissional em um futuro próximo onde foi apontado um impacto negativo pelo
respondente 38: "Acredito que o ensino remoto trará impactos principalmente na realização de
atividades sem consultas (p. ex., realização de concursos públicos, exames do CFC etc.)" por
conta do uso excessivo de consultas que usamos durante o ERE. O respondente 9 disse o
10

seguinte: "O impacto é uma possível piora no profissional futuro da área, acredito eu que
dependerá muito de cada um de nós em se esforçar para melhorar nossos conhecimentos, hoje
a nossa formação é equiparada como a de medicina, onde para se manter no mercado você
necessita diariamente estar em busca do conhecimento" ele aponta ainda que os estudantes de
Ciências Contábeis precisam estar sempre se atualizando pois acontecem muitas mudanças na
área e que se intensificou nessa pandemia. A última questão também abordou se o ERE ou o
ensino híbrido deveria ser implementado definitivamente no curso de Ciências Contábeis.
Muitos respondentes alegaram que o ensino híbrido deveria ser implementado, porém, em
matérias mais teóricas, além de flexibilizar os horários, ajudando de alguma forma quem
trabalha ou faz estágio, como aponta o respondente 12: "Acho q o ensino híbrido seria muito
bom, matérias mais fáceis de se entender poderiam ser dadas on-line, e ainda tem o bônus de
ter mais controle do nosso tempo, de quando iremos assistir a aula gravada, ótimo para quem
está estagiando ou trabalhando enquanto estuda"

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dado que o objetivo do presente estudo foi o de compreender as experiências


vivenciadas por estudantes de um curso de Ciências Contábeis de uma IFES na adoção do
Ensino Remoto Emergencial...

REFERÊNCIAS

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