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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

MAURÍCIO JOSÉ SILVA MATIAS

FABRICAÇÃO DIGITAL:
CONCEPÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE UM EQUIPAMENTO CNC PARA
PRODUZIR ELEMENTOS CONSTRUTIVOS

SÃO PAULO

2021
MAURÍCIO JOSÉ SILVA MATIAS

FABRICAÇÃO DIGITAL:
CONCEPÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE UM EQUIPAMENTO CNC PARA
PRODUZIR ELEMENTOS CONSTRUTIVOS

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo
da Universidade Presbiteriana Mackenzie,
como requisito à obtenção de título de Mestre
em Arquitetura e Urbanismo.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Wilson Florio

SÃO PAULO

2021
MAURÍCIO JOSÉ SILVA MATIAS

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer


meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que
citada a fonte.

e-mail: mauriciomatias@outlook.com.br
MAURÍCIO JOSÉ SILVA MATIAS

FABRICAÇÃO DIGITAL: CONCEPÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE UM


EQUIPAMENTO CNC PARA PRODUZIR ELEMENTOS CONSTRUTIVOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, como
requisito à obtenção de título de Mestre em
Arquitetura e Urbanismo.

Aprovado em 06 de agosto de 2021.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Wilson Florio


Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Charles de Castro Vincent


Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Gonçalo Castro Henriques


Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer primeiramente meu orientador, professor Wilson Florio, pelas


orientações, tanto durante o desenvolvimento do trabalho como pelos conselhos que
me ajudaram no desenvolvimento da pesquisa. Sem dúvida um grande arquiteto com
quem tive o prazer de aprender.

Aos professores Charles de Castro Vincent e Gonçalo Castro Henriques pelo apoio e
comentários colocados para melhorar o desenvolvimento da pesquisa.

Agradeço a minha família, por não me deixar desistir do meu sonho, pela paciência e
apoio sempre, principalmente nestes últimos meses que não foram nada fáceis, e pelo
amor incondicional.

Ao meu avô, que sempre elogiou tudo que lhe mostrava, mesmo sem entender
perfeitamente do que tudo se tratava.

Agradeço aos meus amigos, pela paciência e compreensão nos meus momentos de
ausência, mas que sempre contribuíram e sempre me incentivaram na vida pessoal e
profissional.

Agradeço a todos os profissionais com quem já tive a oportunidade de estudar e


trabalhar, aos técnicos de laboratórios que me auxiliaram com a produção de algumas
peças para o equipamento e a escola SENAI que me deu muito auxílio técnico no
laboratório de mecânica de precisão para revisar peças do equipamento. Todos
acrescentaram muito e com certeza ajudaram direta ou indiretamente neste trabalho.

E a minha companheira de vida Aymée, que me ajudou a revisar e reler todo o


trabalho, doando muito do seu tempo para me acompanhar e me incentivar a produzir
sempre o melhor.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Modelo tridimensional de escultura responsiva inspirada em Gaudí. .................... 23


Figura 2 - Escultura responsiva inspirada em Gaudí instalada no MWC. ................................ 23
Figura 3 - Construindo uma parede curva maciça sobre o piso com barras de aço, através de
robô por meio de fabricação digital. ........................................................................................ 26
Figura 4 - Solda de barras de aço realizadas com robô, por meio de fabricação digital. ........ 27
Figura 5 - Vista superior do processo de solda de barras de aço realizadas com robô, por
meio de fabricação digital. ....................................................................................................... 27
Figura 6 – Usinagem CNC em 5 eixos, file-to-factory. .............................................................. 33
Figura 7 - Impressão 3D com massas cimentícias. ................................................................... 34
Figura 8 - Construção experimental produzida por impressão 3D. ......................................... 34
Figura 9 - Processo CNC formativo demonstrando a construção de um componente com
formas orgânicas. ..................................................................................................................... 35
Figura 10 - Conferência dos painéis. ........................................................................................ 36
Figura 11 - Superfície fabricada e construída........................................................................... 37
Figura 12 - Modelo Casa Dançante - Frank Gehry.................................................................... 39
Figura 13 - Materiais padronizados versus materiais sem padrão. ......................................... 40
Figura 14 - Modelos de torre fabricados por CNC. .................................................................. 42
Figura 15 - Equipamento para modelar superfícies paraboloide hiperbólico CNC. ................ 43
Figura 16 - Processo de produção da superfície até sua fabricação. ....................................... 43
Figura 17 - Equipamento CNC modificado para operar com argila utilizando o método
aditivo. ...................................................................................................................................... 44
Figura 18 - Formas de deposição do material pastoso e seu comportamento. ...................... 44
Figura 19 - Morfologia organizacional das habitações. ........................................................... 45
Figura 20 - Modelo de habitação - Releitura do agrupamento de habitações existentes no
oriente médio. .......................................................................................................................... 46
Figura 21 - Perspectiva e corte do agrupamento habitacional proposto. ............................... 46
Figura 22 - Composição inicial do muro-pixel e configurações................................................ 48
Figura 23 – Casa Revista, WikiCurva, WikiLab e MackHaus. .................................................... 49
Figura 24 - Definições de um novo modelo da Wikihouse e arranjos internos readequados
para aplicação nos trópicos. ..................................................................................................... 50
Figura 25 - Modelo elaborado para atender um usuário da Casa Woka. ................................ 51
Figura 26 - Modelo elaborado para atender um usuário da Casa Woka. ................................ 51
Figura 27 - MackHaus Pórtico e protótipo em escala. ............................................................. 52
Figura 28 – MackHaus estrutura montada em tamanho real. ................................................. 52
Figura 29 – MackHaus 1ª Fase construída em tamanho real, componentes em perspectiva
explodida. ................................................................................................................................. 53
Figura 30 – ICON House, Gaia House e Kamp C House. ........................................................... 54
Figura 31 - Embryological house .............................................................................................. 56
Figura 32 - Micro Compact Home ............................................................................................ 57
Figura 33 - The Instant House .................................................................................................. 58
Figura 34 - Loblolly House ........................................................................................................ 59
Figura 35 - System 3 ................................................................................................................. 60
Figura 36 - Cellophane House .................................................................................................. 61
Figura 37 - Casa Nova Orleães .................................................................................................. 62
Figura 38 - Burst *008 .............................................................................................................. 63
Figura 39 – Contour Crafting .................................................................................................... 64
Figura 40 – CasaG ..................................................................................................................... 65
Figura 41 - Facit Homes ............................................................................................................ 66
Figura 42 - Digital Fabricate Small Scale Cabins ....................................................................... 67
Figura 43 – ECOnnect - Lighthouse .......................................................................................... 68
Figura 44 - Small Scale Student Residence ............................................................................... 69
Figura 45 – WikiHouse .............................................................................................................. 70
Figura 46 - 3D Printed Canal House.......................................................................................... 71
Figura 47 - Casa Revista ............................................................................................................ 72
Figura 48 - WikiCurva ............................................................................................................... 73
Figura 49 - WikiLab ................................................................................................................... 74
Figura 50 - ClipHut .................................................................................................................... 75
Figura 51 - ICON House ............................................................................................................ 76
Figura 52 - MackHaus ............................................................................................................... 77
Figura 53 - Gaia House ............................................................................................................. 78
Figura 54 - Kamp C House ........................................................................................................ 79
Figura 55 - Laboratórios de fabricação digital no Brasil ........................................................... 82
Figura 56 - Mapa mundial das instalações de Fab Labs ........................................................... 83
Figura 57 – Equipamentos CNC estudados no FabLab FAUM e no estúdio de prototipagem
PD Studio. ................................................................................................................................. 86
Figura 58 – Equipamentos CNC estudados em artigos publicados. ......................................... 86
Figura 59 – Diagrama da concepção do equipamento CNC. .................................................... 87
Figura 60 – Diagrama de concepção em blocos da base do equipamento CNC. ..................... 89
Figura 61 – Desenvolvimento da base em alumínio e fixação das guias lineares do
equipamento CNC..................................................................................................................... 90
Figura 62 – Desenvolvimento dos componentes de fixação dos motores do eixo X e sistema
de tração do equipamento CNC. .............................................................................................. 92
Figura 63 – Desenvolvimento dos componentes de fixação do pórtico do eixo Y e suporte do
motor de passo. ........................................................................................................................ 93
Figura 64 – Desenvolvimento dos componentes de fixação do eixo Z e ferramenta
operacional do equipamento CNC. .......................................................................................... 94
Figura 65 – Modelos dos componentes dos eixos X, Y e Z orientados para fabricação. ......... 96
Figura 66 – Simulação do processo de fabricação do componente desenvolvido para fixação
do motor do eixo Y ................................................................................................................... 97
Figura 67 - Fabricação em impressora 3D da placa de fixação dos componentes do eixo Z ... 98
Figura 68 – Fixação das guias lineares e patins eixo X. ............................................................ 99
Figura 69 – Fixação dos suportes dos motores do eixo X sobre os patins. .............................. 99
Figura 70 – Polia, rolamentos e tensionamento da correia no Eixo X e Y. ............................ 100
Figura 71 – Detalhes dos componentes de montagem do Eixo Z. ......................................... 101
Figura 72 - Ilustração 3D em vista isométrica do equipamento CNC montado. .................... 103
Figura 73 - Equipamento montado para execução de testes ................................................ 103
Figura 74 - Verificação da área útil operacional do equipamento 500mm x 450mm ........... 104
Figura 75 - Ilustração 3D em vista isométrica dos 3 eixos utilizados no equipamento
desenvolvido: Router CNC de 3 eixos ..................................................................................... 105
Figura 76 - Ilustração 3D em vista isométrica dos 3 eixos utilizados no equipamento
desenvolvido: Router CNC de 3 eixos ..................................................................................... 106
Figura 77 - Elemento com relevo tridimensional sendo usinado no equipamento CNC ....... 107
Figura 78 - Detalhe dos níveis da superfície usinada ............................................................. 107
Figura 79 – Operações subtrativas com uso de fresadora ..................................................... 109
Figura 80 – Operações subtrativas com uso de laser ............................................................. 109
Figura 81 – Operação de usinagem realizada com o equipamento desenvolvido utilizando
ferramenta de fresagem ......................................................................................................... 110
Figura 82 - Operações aditivas com extrusor ......................................................................... 111
Figura 83 – Operação formativa por pressão incremental - SPIF .......................................... 111
Figura 84 – Modelo digital do extrusor de pastas projetado ................................................. 112
Figura 85 – Protótipo do extrusor de pastas .......................................................................... 113
Figura 86 - Módulo simples de bloco perfurado (à esquerda), módulo proposto possui
necessidade de aplicação de gavetas (à direita). ................................................................... 115
Figura 87 - Modelo conceitual do desmolde simples (à esquerda) e desmolde com a
necessidade de utilização de gavetas (à direita) .................................................................... 115
Figura 88 - Modelo de bloco para injeção em termoplástico, paredes maciças ................... 118
Figura 89 - Modelo de bloco para injeção em termoplástico, paredes nervuradas. ............. 119
Figura 90 - Modelo fragmentado dos componentes do molde. ............................................ 120
Figura 91 – Simulação de corte dos componentes do molde no software RhinoCAM. ........ 121
Figura 92 – Protótipo da base do Molde em acrílico. ............................................................ 122
Figura 93 – Remoção e instalação da nova base do eixo Z usinada em acrílico de 20mm de
espessura (à Esquerda). .......................................................................................................... 123
Figura 94 – Elementos cortados no equipamento para construção do molde. .................... 123
Figura 95 – Molde montado ao lado de modelo realizado com prototipagem rápida FFF. .. 124
Figura 96 - Modelo de bloco com os anéis de encaixe propostos para interligação. ............ 125
Figura 97 - Modelo do modulo nervurado prototipado em escala 1:1. ................................ 125
Figura 98 - Modelos prototipados do bloco e anéis de pressão para encaixe em escala 1:1.
................................................................................................................................................ 126
Figura 99 - Modelos prototipados associados com anéis de pressão em escala 1:1. ........... 126
Figura 100 – Modelo de amarração de uma extremidade de parede montado com os blocos.
................................................................................................................................................ 128
Figura 101 - Modelo de montagem de viga utilizando painéis laterais de reforço sobre os
módulos. ................................................................................................................................. 129
Figura 102 – Modelo experimental de habitação em perspectiva explodida – Simulação de
encaixe entre componentes. .................................................................................................. 130
Figura 103 – Modelo de molde fabricado digitalmente e processo de injeção do bloco de
construção. ............................................................................................................................. 131
Figura 104 – Parede formada por bloco injetados por meio do molde. ................................ 132
Figura 105 – Equipamentos para produção e formação de materiais compósitos. .............. 133
RESUMO

A presente pesquisa busca analisar como o equipamento CNC pode diversificar os


processos construtivos in-loco e file-to-factory, auxiliados por ferramentas secundárias
que permitem outras formas de produção de elementos construtivos em uma
habitação. A fundamentação sobre processos de fabricação, fabricação digital,
elementos construtivos e materiais empregados teve como base pesquisas similares
realizadas nos últimos anos, e abrange pesquisa específica sobre fabricação digital
subtrativa e aditiva. A contribuição original da presente pesquisa é a concepção e
construção de um equipamento de fabricação digital. O equipamento concebido
emprega processos de pré-fabricação por meio de moldes produzidos com auxílio das
ferramentas desenvolvidas, como objetivo de contribuir para a materialização de
elementos construtivos que podem ser aplicados em projetos sociais e
autoconstrução.

Palavras-chave: Habitação, CNC, File-to-factory, Pré-fabricação, Moldes.


ABSTRACT

This research seeks to analyze how CNC equipment can diversify the construction
processes in-place and file-to-factory, aided by secondary tools that allow other forms
of production of construction elements in a home. The rationale for manufacturing
processes, digital fabrication, building elements and materials used was based on
similar research carried out in recent years, and includes specific research on
subtractive and additive digital fabrication. The original contribution of this research is
the design and construction of digital fabrication equipment. The designed equipment
employs pre-fabrication processes through molds produced with the aid of the
developed tools, in order to contribute to the materialization of constructive elements
that can be applied in social projects and self-construction.

Key-words: Housing, CNC, File-to-factory, Prefabrication, Molds.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13
OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS ................................................................... 15
METODOLOGIA ....................................................................................................... 16
JUSTIFICATIVA........................................................................................................ 17
1 O HOMEM E O FABRICAR NA ARQUITETURA .................................................. 18
1.1 A PRÉ-FABRICAÇÃO DE COMPONENTES ..................................................... 19
1.2 A INTERFACE ANÁLOGO | DIGITAL ................................................................ 21
2 FABRICAÇÃO DIGITAL:
NOVO SALTO NA ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA ....................................... 25
2.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE A FABRICAÇÃO DIGITAL.................................. 30
2.2 ANTECEDENTES EM FABRICAÇÃO DIGITAL UTILIZANDO CNC ................. 32
2.2.1 EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE FABRICAÇÃO DIGITAL ............................. 32
2.2.2 FABRICAÇÃO DIGITAL APLICADA À HABITAÇÃO ....................................... 48
2.3 CATÁLOGO DE PROJETOS EXECUTADOS
ATRAVÉS DA FABRICAÇÃO DIGITAL ................................................................... 55
2.4 A FABRICAÇÃO DIGITAL MAPEADA NO BRASIL .......................................... 80
3 EQUIPAMENTO DE FABRICAÇÃO DIGITAL ACESSÍVEL ................................. 84
3.1 CONCEPÇÃO ..................................................................................................... 84
3.2 DESENVOLVIMENTO ........................................................................................ 90
3.3 FABRICAÇÃO .................................................................................................... 95
3.4 MONTAGEM ....................................................................................................... 98
3.5 TESTES INICIAIS ............................................................................................. 105
3.6 UTILIZAÇÃO DO EQUIPAMENTO CNC .......................................................... 108
4 SISTEMAS CONSTRUTIVOS MULTIMATERIAL
ATRAVÉS DA FABRICAÇÃO DIGITAL ................................................................. 113
4.1 EXPERIMENTO ................................................................................................ 117
4.1.1 A CONSTRUÇÃO DE MOLDES .................................................................... 120
4.1.2 A PRODUÇÃO DE COMPONENTES CONSTRUTIVOS ............................... 124
4.2 FERRAMENTAS PARA FLEXIBILIZAR PROCESSOS DE FABRICAÇÃO .... 130
5 DISCUSSÃO SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS ......................................... 134
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 136
PESQUISAS FUTURAS ......................................................................................... 138
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 139
13

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem como tema a fabricação digital aplicada a construção de


habitação. Nas últimas duas décadas, os avanços nas tecnologias de fabricação
digital tornaram viável a concepção e o desenvolvimento de novos sistemas
construtivos, impactando assim, de maneira positiva, a integração destes com os
métodos convencionais de construção.

Particularmente nos países desenvolvidos, o setor da construção civil tem sido


claramente estimulado pelas novas tecnologias, permitindo conceber e construir de
maneira eficaz e ágil, com uso mais racional de recursos. Na atualidade é possível ao
arquiteto definir o projeto por intermédio de regras preestabelecidas, em níveis
crescentes de complexidade ao longo do processo, possibilitando customização de
componentes fabricados digitalmente.

Com o crescimento do número de indústrias em países desenvolvidos torna-se viável


atualmente a fabricação digital de cada um dos componentes da construção em uma
linha de produção totalmente personalizável, solucionando a conexão de milhares de
componentes construtivos complexos entre si, até então impensáveis de se atingir ao
longo do processo de projeto e execução de obras civis.

Apesar do avanço, muito se especula através das técnicas disponíveis, havendo


potencialidades a serem exploradas para atender as novas e urgentes demandas da
construção civil. Por haver uma prática já estabelecida, é visível a dificuldade de se
desvencilhar dos antigos entraves causados pelos sistemas construtivos tradicionais,
e por consequência, a inserção de novos direcionamentos na construção por meio da
tecnologia. Consequentemente percebe-se lacunas em pesquisas voltadas para
fabricação digital de elementos construtivos.

Nesta pesquisa são apresentados materiais que podem ser denominados


“alternativos”, aplicados na produção de componentes para construção e dispositivos
que permitem possibilidades diversificadas em sua transformação, envolvendo
equipamentos que operam com o método de produção subtrativo, aditivo, formativo e
moldes.

Para a revisão da literatura, são apresentadas investigações sobre o uso da


fabricação digital. Foram catalogados projetos realizados entre os anos 2000 e 2020,
mostrando o emprego de materiais e os tipos de tecnologia utilizados. A partir da
14

consideração de projetos previamente executados voltados à habitação individual e


coletiva, cuja construção seja em parte ou plenamente desenvolvida através da
fabricação digital, dessa forma busca-se apresentar repertorio sobre os projetos já
realizados para possibilitar novos entendimentos de aplicação e a replicabilidade no
cenário brasileiro.

Em seguida, é apresentado o processo de concepção de um equipamento, assim


como o desenvolvimento, montagem, testes e utilização baseado em modelos de
projeto aberto, redesenhado para fins experimentais no canteiro de obra, visando
através dele produzir experimentos com elementos construtivos. Dessa forma
procura-se incentivar o desenvolvimento de pesquisas, novas técnicas e sistemas
construtivos.

A verificação dos dispositivos disponíveis na indústria é necessária, pois ela deve


estar preparada para atender essas demandas e estimular as formações de novos
paradigmas, junto com a requalificação da mão de obra.
15

OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS

O objetivo principal é apresentar a concepção e desenvolvimento de um equipamento


CNC e validar a utilização e a proposição de alternativas de produção de elementos
construtivos, que pretende atender demandas de fabricação e a produção de moldes
para diversificar os meios de fabricação.

De um modo mais amplo, o objetivo geral desta pesquisa é promover pesquisas


relacionadas a tecnologia CNC, através da confecção de protótipos de elementos
construtivos e realização de testes de encaixe e possibilidades relacionadas por meio
da fabricação digital, visando uma diversidade de modos de produção destes
elementos.

Como objetivos específicos, busca-se compreender os processos de fabricação


digital, contextualizando por meio de um histórico sintético e percorrendo projetos
realizados anteriormente, analisando os equipamentos e métodos de construção
utilizados, para se formular a base necessária para construção de um equipamento
CNC.

Assim, o ponto principal é a validação das capacidades oferecidas pelo equipamento


CNC concebido, apresentando possíveis aplicações na produção de elementos
construtivos em projetos habitacionais.
16

METODOLOGIA

A presente pesquisa se caracteriza como teórico-prática, pois visa conciliar a teoria


obtida a partir de um estudo sobre os métodos de fabricação e a evolução apresentada
com a fabricação digital, bem como a aplicação prática, com a proposição de um
equipamento que possibilite modificações, implementações e execução de projetos
no canteiro de obras, não imputando o uso no canteiro como o meio principal de
utilização, podendo produzir os elementos dentro de um ambiente mais que permita
maior controle de qualidade e logística. Portanto, a partir desse levantamento, a
experimentação prática proposta é a concepção de um equipamento de fabricação
digital, baseado nas referências existentes em laboratórios e artigos publicados.

O equipamento visa o atendimento de demandas em pesquisas relacionadas a


fabricação de elementos construtivos. Utilizando essa tecnologia de produção, busca-
se examinar a exploração dos moldes, analisar a viabilidade na produção de
componentes e possibilidades de composições de materiais (polímeros, fibras,
madeiras, argamassas, concreto entre outros) para construção de habitação.

Essas e outras máquinas podem ser usadas para fabricar


diretamente objetos ou para criar moldes negativos para processos
indiretos, como fundição e moldagem por injeção (SCHODEK,
2005, p. 4-8).

Os procedimentos adotados para a pesquisa relacionada a fabricação digital em


habitação foram: i ) referências bibliográficas de processos de fabricação, fabricação
digital, elementos construtivos e materiais empregados; ii ) reflexão sobre a literatura
existente; iii ) pesquisa específica sobre projetos realizados com diferentes técnicas
de fabricação e fabricação digital, particularmente a subtrativa e aditiva; iv ) concepção
e construção de um equipamento para demonstração de processos ao longo da
pesquisa; v ) formulação de um modelo de construção com auxílio das ferramentas
desenvolvidas; vi ) análise dos sistemas pesquisados e considerações finais.
17

JUSTIFICATIVA

A demanda por habitação no Brasil é um caso muito abordado no universo de estudo


da arquitetura e construção. A pesquisa se apoia na fabricação digital como meio para
estudo de elementos construtivos e o emprego de materiais que podem aplicados em
um projeto de arquitetura, este voltado principalmente a demandas experimentais de
habitação.

A pesquisa pretende dar continuidade ao trabalho realizado na graduação, que


apresentou métodos alternativos de construção, voltados a habitação social e
reurbanização de favelas, dessa forma visa demonstrar as capacidades da fabricação
digital atualmente, unindo a experiência profissional adquirida nos últimos anos,
pretendendo agora expandir sua utilização.

Observando-se os sistemas construtivos existentes, analisa-se que são possíveis


novos meios de experimentação de materiais por meio de equipamentos de fabricação
digital, além de possibilitar a autoconstrução, amparada pelo uso de elementos
construtivos guiados por encaixes bem definidos, evitando a ocorrência de erros
durante a construção

Por fim, a pesquisa busca poder ser utilizada para promover diversas discussões no
âmbito acadêmico da arquitetura, na construção e materialidade do projeto
arquitetônico com a utilização dos processos de fabricação digital, dessa forma
promover pesquisas futuras relacionadas.
18

1 O HOMEM E O FABRICAR NA ARQUITETURA

Desde tempos remotos, edifícios foram produzidos por meios de construção in-loco.
Da cabana primitiva até as grandes pirâmides, Roma antiga e Grécia, todas as cidades
modernas tiveram em algum momento a origem da sua construção humana no
canteiro, realizando o assentamento elemento sobre elemento construtivo. A partir do
momento que se pode acumular capital humano e financeiro para construção,
artesãos, marceneiros e mestres de obra puderam desenvolver trabalhos mais
complexos, criando técnicas e, posteriormente tecnologias, voltadas para construção.
Melhorar a qualidade construtiva significava testar e investir mais em pesquisa e
desenvolvimento de projeto. A partir da Revolução Industrial grandes avanços e
benefícios foram atingidos. Com o rápido crescimento das cidades, a mão de obra
abundante e não especializada representava desperdícios de tempo e de recursos
financeiros. Mas a partir do século XX, com novos materiais e novas técnicas
construtivas, foi possível diminuir prazos e melhorar a qualidade das construções.

De um modo geral, nos últimos 100 anos, à medida que a economia se tornou mais
sofisticada e global, uma equação dominou o exercício da construção: Q (qualidade)
x T (tempo) = E (escopo) x C (custo). Cada vez mais tornou-se fundamental aumentar
a qualidade da construção e reduzir o custo e o retrabalho. Mas como reduzir o tempo
de execução e o custo e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade? Isso tornou-se
possível a partir do emprego de novas tecnologias digitais, e, sobretudo, de novos
materiais. Um salto qualitativo ocorreu nas últimas décadas do século XX e nas duas
primeiras do século XXI, com o crescente uso da fabricação digital.
19

1.1 A PRÉ-FABRICAÇÃO DE COMPONENTES

Historicamente, a pré-fabricação de elementos construtivos destinados a obras civis


pode ser observada entre as padronizações iniciadas no século XIX e, particularmente
desenvolvidas na arquitetura moderna no século XX. Barry Bergdoll (2008), no livro
Home Delivery: Fabricating the Modern Dwelling, decorrente da exposição do Museu
de Arte Moderna sobre o significado histórico e contemporâneo da arquitetura
produzida em linha de produção fabril, apresenta um quadro importante sobre as
transformações ocorridas. Segundo o autor, a pré-fabricação, na sua forma primária,
era mais explorada pela mercantilização industrial, produção e replicação, do que pela
questão da qualidade e prazo, ou o gerenciamento do escopo e custos, e muito menos
pela aplicação ética e ambiental, do hoje denominado “sustentável”. Além disso era
focada geralmente nas tipologias habitacionais, onde a escala de fabricação
concentrava-se mais em atender um mercado imobiliário em expansão do que uma
adequada integração de sistemas, materiais e personalização em massa.

A falta de uma estratégia da indústria da construção em adotar a pré-fabricação de


componentes retardou os avanços pretendidos com a pré-fabricação. Mas nas últimas
décadas as indústrias alteraram os métodos de trabalho e de fornecimento de
produtos, como observa-se no livro, Refabricating Architecture, de Stephen Kieran e
James Timberlake (2003). As indústrias automobilística, de construção naval e
aeroespacial se transformaram, tornando os métodos de produção mais sucintos e
eficientes, em termos de tempo e consumo de material. A linha de produção se
estende de um produto em massa a um único quase totalmente personalizado. Em
média, esses produtos ultrapassam a complexidade e a escala de quase tudo o que
é produzido na arquitetura.

A principal diferença é que as indústrias aérea, naval e automotiva se integram, tanto


na fonte de inspiração, quanto na de suprimento. Possuem uma sequência produtiva
integrada, redefinindo produtos com maior eficiência, ao longo dos ciclos de repensar
o design e a produção, ambos em constante equilíbrio. Lamentavelmente, do outro
lado, a cadeia de suprimentos para as indústrias AEC - arquitetura, engenharia e
construção possui fabricação de produtos de modo fragmentado. Os arquitetos
normalmente utilizam referências de fornecimento de produtos, como os catálogos
pré-fabricados com informações desconexas.
20

No entanto, os meios de integração dos arquitetos se transformaram a partir do


momento em que os profissionais adotaram ferramentas digitais tridimensionais de
modelagem e de produção de informações de construção (BIM). Agora pode-se
organizar, visualizar e corrigir problemas antes de serem construídos. Os dispositivos
de comunicação mais eficientes, alguns adotados pela indústria da construção, como
o software de gerenciamento de documentos e projetos on-line, permitem o
compartilhamento em tempo real de projetos, informações e resultados. Possibilita-se
enviar um modelo tridimensional completo, ignorando a fase de interpretação do
projeto impresso, com todas as suas verificações, redesenhos e margens para erros
e omissões adicionais, melhorando a qualidade do produto final.

O modelo de integração, intrínseco na fabricação, encontra-se na cadeia de


fornecimento de produtos, auxiliando arquitetos e construtores a gerenciar a qualidade
e a quantidade de materiais necessários A integração de materiais sustentáveis ajuda
na produção de um produto final mais ecológico. Em vez de aplicações incertas de
materiais e sistemas, de uma maneira erroneamente sustentável, a construção e a
fabricação fora do local oferecem a "sustentabilidade total", de maneira econômica,
oferecendo a boa oportunidade para um novo nível de qualidade da construção.
21

1.2 A INTERFACE ANÁLOGO | DIGITAL

Em um momento em que as tecnologias da informação estão sendo incorporadas aos


escritórios de projeto em arquitetura, o arquiteto enfrenta barreiras para explorar de
forma mais ampla os meios de produção digital, de maneira a entender melhor seu
impacto no discurso teórico e nos processos de projeto de arquitetura.

Segundo Antoine Picon (2010), podemos verificar que nos últimos 20 anos, a prática
arquitetônica foi transformada em um ritmo acelerado através do desenvolvimento de
ferramentas digitais, um ritmo que a história e a teoria tiveram problemas para
acompanhar até recentemente. Segundo pesquisadores, (Scheer et. Al., 2013;
Fabrício; Ornstein, 2010; Florio, 2005) tanto a Modelagem da Informação da
Construção (BIM) como projetos paramétricos estabeleceram novos padrões para o
mercado de trabalho de arquitetos e engenheiros. Isso é ainda mais verdadeiro no
caso da fabricação digital, que desafiou antigos procedimentos sobre arquitetura e sua
relação com a construção, sem ser totalmente compreendido do ponto de vista teórico
e histórico, apesar das contribuições pioneiras de estudiosos, como Frédéric Migayrou
(2013) e Mario Carpo (2017).

O uso das tecnologias da informação, por meio do computador, na produção do


desenho para projeto arquitetônico, utilizando-se de softwares específicos estão
sendo acompanhadas e pesquisadas frequentemente no que diz respeito ao meio da
arquitetura e suas disciplinas inter-relacionadas. Isso leva o exercício de projeto a
considerar mudanças no método de concepção arquitetônica, na medida que são
encontradas novas maneiras para elaboração. Por meio da experiência de estágio
docente com a disciplina de projeto arquitetônico pode-se notar que, -de maneira
ampla-, vêm sendo apresentados projetos com desenhos produzidos com o auxílio de
computador no meio acadêmico. Além disso, é possível dizer que essa ferramenta
envolve outras mudanças no meio acadêmico, nos modos de projetar, tal como se
aponta no caso de alguns arquitetos que se destacam no cenário contemporâneo.
Considerando que isso ocorre no âmbito acadêmico sem que se tenha total controle
sobre o fenômeno, o mesmo tipo de estudo formal se dedicou às mudanças em nível
profissional, tomando como objeto de análise a interface entre o análogo e o digital
nos desenhos e nas práticas projetuais das novas gerações.
22

No início era a própria obra. Com a representação gráfica, os


desenhos à mão passaram a mostrar o que o arquiteto projetava.
Igrejas, palácios, grandes edifícios, cidades foram erguidos assim.
Chegou o computador e fez-se o CAD (computer aided design). A
princípio, muita desconfiança: a tecnologia mudaria a arte?
Transformaria a forma de pensar? Os arquitetos não seriam mais
artistas, mas homens mais próximos da tecnologia, súditos de um
computador? Aos temerários, as respostas do tempo. Hoje são
raros os arquitetos que não utilizam o computador para projetar.
(ANTUNES, 2011, p. 6)

Segundo Bianca Antunes (2011), a citação acima resume claramente o impasse sobre
o uso e a disseminação do computador como ferramenta de projeto. Essa
disseminação tem se refletido no ensino de projeto de arquitetura com a tendência
crescente de substituir a tecnologia analógica pela digital nos processos de concepção
atuais, este possibilitaria maior agilidade na produção dos desenhos técnicos e
aceleraria o processo colaborativo interdisciplinar ao longo do desenvolvimento.

Uma questão importante a se colocar é a de não perceber o uso do computador como


uma substituição, mas sim como uma contribuição adicional; uma ideia tem seu
desencadear na mente de maneira análoga, a ferramenta utilizada para apresentá-la
é de livre escolha para cada indivíduo. Dessa forma é possível realizar uma leitura
ampla sobre como o computador possibilita conciliar o meio analógico de projeto ao
digital de modo a permitir organizar e produzir melhor e em menos tempo tudo que se
pretende. Mas de qualquer forma, é preciso levar em conta que a expectativa de
resultado tem seu início construído no pensamento, este está atrelado a experiencia
de cada indivíduo e tem sua origem formada fora do ambiente assistido por
computador.

Hoje existem meios de fazer o computador definir a forma e os espaços de um projeto


de maneira mais automatizada. Como exemplo, pode-se citar o projeto realizado pelo
estúdio SOFTlab com sede em Nova York em colaboração com a IBM. Essa parceria
foi estabelecida para criar uma escultura responsiva inspirada pelo icônico trabalho
realizado pelo arquiteto Antoni Gaudí, sendo desenvolvida com a tecnologia cognitiva
Watson1 da IBM. Esta foi apresentada no Congresso Mundial de Tecnologia Móvel
(Mobile World Congress) em Barcelona, Espanha em 2017.

1
Watson – IBM - É a plataforma de serviços cognitivos da IBM. A cognição consiste no processo que a mente
humana utiliza para adquirir conhecimento a partir de informações recebidas.
23

Segundo entrevista realizada por Jonas Nwuke (2017) ao estúdio SOFTlab, para
auxiliar no projeto da escultura, Watson aprendeu sobre a história e trabalhos de
Gaudí e a arquitetura de Barcelona através de milhares de imagens, obras literárias,
artigos e música. A partir destas referências, constatou formas relacionadas a
caranguejos, aranhas e paletas de cores nas padronagens de Gaudí, que a equipe de
projeto inicialmente não associava com o arquiteto catalão. A escultura resultante
atingiu 4 metros de altura e uma superfície feita de 1200 elementos únicos de
alumínio, e lembra de forma inequívoca o trabalho de Gaudí, tanto na aparência como
na sensação, mas ainda assim completamente distinta (Figuras 1 e 2).

Figura 1 - Modelo tridimensional de escultura responsiva inspirada em Gaudí.

Fonte: IBM – Archdaily. Disponível em:


<https://www.archdaily.com.br/br/868762>. Acesso em: 15 abr. 2020.

Figura 2 - Escultura responsiva inspirada em Gaudí instalada no MWC.

Fonte: IBM – Archdaily. Disponível em:


<https://www.archdaily.com.br/br/868762>. Acesso em: 15 abr. 2020.
24

Após constatar o método utilizado na concepção do projeto acima é possível


compreender um pouco mais sobre as capacidades computacionais existentes para
resolução de problemas em projeto. O contato com esse tipo de projeto provoca
algumas inquietações, as quais não se resumem a uma simples substituição do meio
analógico pelo meio digital de projetar ou mesmo de uma tecnologia por outra, mas
sim a forma como aplicá-los por exemplo em um ambiente acadêmico. Tentar saltar
para o ambiente digital antes mesmo de promover um domínio do uso das tecnologias
analógicas de projeto em arquitetura pode resultar na dificuldade dos alunos em
projetar através do desenho a mão livre.

Observando-se pelo lado do ensino do desenho, pode-se notar as raízes


remanescentes dos arquitetos da velha guarda e de seu modo de projetar. Atualmente
é possível constatar uma menor importância dada ao ensino de desenho em suas
diferentes modalidades, isso corresponde principalmente a geometria, perspectiva e
geometria descritiva. Dessa maneira é possível notar certa redução de disciplinas de
desenho em suas diferentes modalidades ao longo da vida acadêmica. Podemos dizer
que existe um momento de transição onde se busca atender às demandas do
mercado. E o mercado vem se mostrando mais exigente e apresentando requisitos no
domínio de ferramentas CAD, BIM, modelagem 3D e suas variações para seus cargos.

Após as questões apresentadas pode-se observar que o confronto análogo | digital


não deve ser considerado um impasse; significando que o problema não se resume a
uma simples substituição de um processo por outro: as linguagens analógica e digital
não são contraditórias, elas são complementares. Dessa forma é preciso considerar
uma análise relacionada a adaptação da linguagem e ao método de representação,
sendo estes não reduzidos às questões técnicas ou funcionais, podendo ser
considerados cognitivos e culturais dentro da realidade de cada geração que os vem
utilizando e desenvolvendo.

Dessa forma pode-se acrescentar que para pesquisadores como Mitchell e


McCullough (1995); Sergio Scheer et. Al. (2013), Wilson Florio (2005) e Gabriela
Celani (2011), a disseminação das plataformas digitais de projeto - na ocasião focando
a tecnologia BIM - não se resume a uma substituição de tecnologia; ela possibilita uma
mudança cultural do desenho 2D para o 3D, ou mesmo da dimensão fixa para a
chamada paramétrica, com consequências diretas no ensino de desenho e de projeto.
25

Pode-se dizer que os meios apresentados são condições favoráveis para que hoje se
concretize de maneira eficiente um projeto que atenda o mercado contemporâneo. Ao
aplicarmos a sugestão de reunir estes saberes, que diversas vezes são apresentados
de maneira separada, transformamos a concepção de projeto análogo | digital num
falso impasse. Este se conduz como um caminho natural que se cruza ao longo do
desenvolvimento projetual, sendo recorrente a integração entre essas disciplinas
durante o processo de aprendizado. Como bem tem sido apontado por pesquisadores
da área, não é mais necessário optar por uma ou outra, mas sim, adquirir a capacidade
de inter-relacioná-las e deixá-las seguir de forma paralela no desenvolvimento do
projeto. Dessa forma, inicia-se uma transformação promissora, trazendo novas
possibilidades para o ensino de projeto com uso integrado das tecnologias análogo |
digitais.

2 FABRICAÇÃO DIGITAL: NOVO SALTO NA ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA

A fabricação digital pode ser compreendida como um processo em que uma máquina,
controlada por um computador, é usada para fabricar algo a partir de projetos digitais
(SASS; OXMAN, 2006). Esse método de fabricação despertou o interesse de
arquitetos, designers e engenheiros, pois abriu as portas para novas possibilidades
em termos de solução de processos de fabricação complexos e novas abordagens
para a construção em massa personalizada.

O pensar do arquiteto não está apenas ligado a análise do mundo existente, mas
também visa o mundo futuro. A arquitetura demanda projetos públicos, servindo para
qualquer mente curiosa refletir sobre como os edifícios poderão ser produzidos no
futuro (DILLENBURGER, 2019). Consequentemente a fabricação digital hoje pode ser
vista como um passo significativo em direção a um futuro de edifícios fabricados por
ferramentas digitais, explorando a colaboração, a interdisciplinaridade e a riqueza
técnica acumulada (Figura 3). Além disso, carrega uma mudança radical na estética,
o que acaba trazendo como resultado uma arquitetura sem referência, por diversas
vezes inusitada e inédita, se comparado a produzida anteriormente por meios
convencionais.
26

Figura 3 - Construindo uma parede curva maciça sobre o piso com barras de
aço, através de robô por meio de fabricação digital.

Fonte: ETH Zurich. Disponível em: <https://ethz.ch/en/news-and-events/eth-news/news/


2019/02/opening-dfab-house.html>. Acesso em: 18 abr. 2020.

Com novas técnicas para explorar materiais, estamos à beira de uma transformação
da arquitetura sem precedentes, onde não se faz referência às arquiteturas pré-
existentes de maneira direta e sim, torna-se uma entidade própria (TEHRANI, 2019).
No Brasil, as políticas públicas direcionam a construção para os métodos
convencionais, mas o momento se mostra oportuno para produzir inovação
tecnológica e pioneirismo. Como bem afirmou Kolarevic:

The digital age has radically reconfigured the relationship between


conception and production, creating a direct link between what can
be conceived and what can be constructed. Building projects today
are not only born out digitally, but they are also realized digitally […]
through “file-to-factory” processes of computer numerically
controlled (CNC) fabrication technologies. (KOLAREVIC, 2003,
p.46).

Por conseguinte, com as tecnologias digitais pode-se aproximar o que é concebido e


o que é construído, por meio do processo file-to-factory, fazendo com que o futuro da
arquitetura possa ser assistido pela fabricação digital, tanto pelos métodos aditivos e
subtrativos, como por procedimentos mediatos pela robótica (Figura 4). Curiosamente,
não é a tecnologia existente da robótica ou dos materiais que impõem as restrições,
e sim, as ferramentas computacionais que usamos para projetá-la, pois essas são a
27

ponte que permite a comunicação com a produção automatizada (KOHLER, 2019).


Pode-se dizer que é um processo complexo transformar o projeto digital, - que
visualizamos na tela do computador - em comandos e instruções para produção
através de equipamentos específicos (Figuras 4 e 5).

Figura 4 - Solda de barras de aço realizadas com robô, por meio de fabricação
digital.

Fonte: ETH Zurich. Disponível em: <https://ethz.ch/en/news-and-events/eth-news/news/


2019/02/opening-dfab-house.html>. Acesso em: 18 abr 2020.

Na visão de Kolarevic, o processo de projetar por meios digitais mostra novas


possibilidades arquitetônicas, isso sem levar em consideração que tem instigado não
só o modo como os arquitetos estão projetando, mas também a forma de fabricar e
construir o edifício (KOLAREVIC, 2003).

Figura 5 - Vista superior do processo de solda de barras de aço realizadas


com robô, por meio de fabricação digital.

Fonte: ETH Zurich. Disponível em: <https://ethz.ch/en/news-and-events/eth-news/news/


2019/02/opening-dfab-house.html. Acesso em: 18 abr 2020.
28

No momento, como foi colocado anteriormente, podemos perceber na arquitetura que


a viabilização da construção é mais factível que o ato de projetar através das
tecnologias CAD/CAM. É interessante identificar que com todas as inovações que a
fabricação digital traz, ainda não há uma realidade para arquitetura na indústria. Como
projetar de maneira mais sustentável? Como será o futuro da arquitetura no planeta?

A prática digital reveste-se do potencial de estreitar a distância entre


a fase de representação do projeto e a sua construção,
proporcionando uma conexão perfeita entre o “projetar” e o
“produzir” (IWAMOTO, 2009, p. 4).

Por meio desses fatos constata-se que a fabricação digital é um campo emergente.
Está baseada na simples ideia do poder de projetar algo em um computador e produzir
fisicamente. Ferramentas como fresadoras CNC, cortadoras a laser e impressoras 3D
estão se tornando menores, mais avançadas, mais baratas e muito mais fáceis de
usar. Há muitas vantagens. As fábricas poderão fazer parte de nossas casas. Os
projetos podem viajar como arquivos digitais para serem baixados e produzidos em
qualquer lugar, possibilitando a revisão de forma colaborativa e garantindo resultados
confiáveis, de forma repetitiva ou em aplicações únicas e sob demanda. A produção
local se tornaria o novo meio comum da construção.

Não é segredo que a fabricação digital tem trazido diversos benefícios, mas também
desvantagens nessa forma de produção (SEELY, 2004). Vejamos alguns dos prós e
contras levantados:

Prós

● Os computadores calculam precisamente o percurso de fabricação e geram as


coordenadas de movimento, economizando tempo;

● Máquinas podem produzir produtos customizados ou seriados sem incidência


de erros;

● Conduzir a produção de um projeto é tão fácil quanto mudar a programação;

● Os projetos podem ser facilmente personalizados;

● Os projetos personalizados são mais valorizados pelos clientes;

● O processo de fabricação pode se utilizar de materiais regionais, resultando em


baixos custos de transporte;
29

● Os computadores podem diversificar as programações realizadas nas


máquinas para fabricar com o mínimo de material possível, reduzindo o
desperdício;

● Fabricar formas mais complexas não necessariamente custa mais; o controle


numérico permite facilitar a execução da forma projetada.

Contras

● Não há economias de escala; o primeiro produto custa tanto quanto o milésimo


produto;

● Não é benéfico para a produção em massa;

● A impressão 3D leva mais tempo na relação com a produção através de moldes


para replicar objetos em série;

● As máquinas consomem muita energia;

● As máquinas mais comuns e acessíveis só podem produzir com um material


de cada vez;

● Fabricar digitalmente não necessariamente permite uma construção mais


rápida que os meios convencionais.

Certamente, existem outros benefícios e desvantagens da fabricação digital, mas é


claro que a fabricação digital oferece uma vasta gama de benefícios para o mercado.
Como é, em geral, um processo mais rápido e mais barato, os empresários
economizam tempo e dinheiro, e essas economias podem ser repassadas ao cliente.
Além disso, incentiva a criatividade e personalização, pois não há aumento de preço
para a fabricação de um produto único. Os benefícios garantem uma tendência a
utilização experimental para pequenas construções com orçamentos reduzidos.
30

2.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE A FABRICAÇÃO DIGITAL

A fabricação digital pode ser vista hoje como um grande salto nos meios de produção
e concepção de componentes construtivos na área de AEC. Essas tecnologias
envolvem a atual produção arquitetônica amparadas pelo novo meio que auxilia no
desenvolvimento de sistemas construtivos no mercado da construção civil. No
entanto, passou por diversas transformações ao longo dos últimos anos.

Para introdução, devemos começar questionando: como interpretar comandos em


uma máquina e reproduzi-los na forma de movimento? Como fazer uma máquina
operar processos repetitivos ou personalizados mantendo precisão? Como uma
máquina pode interpretar coordenadas e atuar de forma automatizada? Para
responder tais questões, os pesquisadores partiram para esse enfrentamento em
busca de encontrar um método de dialogar com o equipamento, uma linguagem. Essa
linguagem se baseava em uma tecnologia que estava sendo desenvolvida na década
de 1940, o controle numérico, e através deste foi proposto um método de entrada para
o equipamento denominado código G (G-Code).

Em meados da década de 1940, iniciaram-se pesquisas de viabilidade tecnológica


sobre um equipamento de fresagem, sendo este comandado por um sistema
programável, este daria origem ao CNC (controle numérico computadorizado) e suas
possibilidades de aplicação, criando assim o CN (controle numérico) (KALPAKJIAN;
SCHMID 2001). Em 1952, no MIT (Massachusetts Institute of Technology), foi
desenvolvido o primeiro protótipo de equipamento em ambiente acadêmico,
funcionando sobre um sistema CNC. Ele operava sobre uma fresadora vertical
copiadora, que foi adaptada mecanicamente através da adição de servo motores,
permitindo a fresagem de painéis fixados no plano vertical de trabalho. Os dados para
efetuar o corte do material - até o momento - eram recebidos pelo equipamento
através de um leitor de fita perfurada, que permitia a fabricação de componentes de
maneira precisa, possibilitando uma produção respectiva sem intervenção do
operador.

Nesse período podem ser notadas as primeiras implementações comerciais do CN, e,


uma das mais notáveis difusões dessa tecnologia está na diversidade de invenções e
máquinas desenvolvidas por Heinz Joseph Gerber, que possuía uma empresa de
tecnologia que desenvolvia equipamentos para a produção automatizada (MALAIT,
31

1979). Como exemplo temos as máquinas de facas de corte para a indústria gráfica,
a mesa de corte digital nos eixos X e Y e máquinas para confecção de circuitos
impressos originárias das décadas de 1950 e 1960. Em seguida, foram realizadas
pesquisas em busca de meios de portá-la para operar os sistemas de 3 eixos
propostos nos experimentos também realizados sobre a mecânica de fresadoras
existentes. Com a disseminação de aplicações destes equipamentos, a indústria de
máquinas voltadas ao mercado de ferramentas de corte passou a projetar, construir e
vender máquinas CN. Posteriormente, com a redução dos custos de produção, elas
foram equipadas com controle numérico computadorizado (CNC) aumentando a
flexibilidade, precisão e versatilidade por meio da leitura de coordenadas e parâmetros
fornecidos pelo arquivo de Código G.

Um arquivo de Código G pode ser criado a partir de modelos bidimensionais ou


tridimensionais que são inseridos em softwares CAM, analisando o modelo e usando-
se de algoritmos para transladá-lo em coordenadas individuais que serão
interpretadas pela máquina. O termo Código G deriva de “código da geometria”, ou
seja, o código que gera o movimento para criar a geometria sobre o material que será
usado no equipamento, nas três dimensões, x, y e z, podendo também controlar outros
eixos operacionais como a, b, c, d, e, f e demais que forem mecanicamente e
eletronicamente adicionados.

O CNC é um sistema em que um microcomputador é utilizado para controlar o


equipamento, sendo parte integrante do equipamento. O programa pode ser
preparado remotamente em sistemas integrados de projeto (CAD) e fabricação
(CAM), podendo o operador simulá-lo para verificar eventuais problemas durante o
processo real de usinagem. Igualmente é possível preparar o programa no próprio
equipamento que geralmente dispõe de teclado e tela para realizar a operação.

Os equipamentos CNC possuem uma precisão de posicionamento entorno de 3


microns, operando de forma repetitiva por volta de 8 microns e uma resolução média
de 2,5 microns (SCHRADER, 2004). Inicialmente essa tecnologia era utilizada em
ambientes mais restritos de desenvolvimento, em menor escala. Foi aprimorada para
a indústria automobilística e aeroespacial, e no momento vem sendo difundida para o
mercado da construção civil por possuir uma implantação mais acessível, associada
a capacidade de reprodução dos processos em escalas maiores.
32

2.2 ANTECEDENTES EM FABRICAÇÃO DIGITAL UTILIZANDO CNC

Neste capítulo são investigados estudos anteriores que servem de base ao


desenvolvimento desta dissertação. Buscou-se conhecer as pesquisas realizadas
sobre o tema principal, o que envolve a fabricação digital, os equipamentos, os
processos, obstáculos superados e as contribuições obtidas até o momento.
Igualmente foram consultados estudos anteriores sobre os temas complementares
que compõe esta pesquisa, de forma a servirem de base teórica, indispensável à
análise dos projetos apresentada nos próximos capítulos. Objetiva-se compreender o
contexto dos estudos de caso por meio da análise da relação tecnologia, projeto e
construção.

Os estudos iniciam-se com investigações existentes sobre a aplicação das tecnologias


CNC e o emprego disseminado nos principais processos de fabricação digital.
Possibilita-se assim o entendimento da inserção dessas tecnologias na pesquisa em
arquitetura, para reconhecer padrões e permitir a leitura de integração entre
computador e projeto, buscando semelhanças e descobertas que impulsionem a base
da pesquisa.

Nos últimos 20 anos, a fabricação digital foi amplamente estudada (Seely, 2004;
Schodek et. al., 2005; Sass e Oxman, 2006; Volpato, 2007), demonstrando sua
evolução por intermédio de diversas publicações, incluindo anais de congressos,
livros, dissertações, teses, artigos, seminários, reportagens e sites na internet.
Informações que surgiram ao longo da pesquisa - quanto a metodologia aplicada nas
soluções de projetos através da fabricação digital - auxiliam na compreensão do tema
e na visualização das possibilidades construtivas. O estudo dos aspectos construtivos
existentes constados neste igualmente constitui um enfoque significativo, que reforça
a relevância atualmente dada ao pleno conhecimento das tecnologias aplicáveis em
projeto e construção.

2.2.1 EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE FABRICAÇÃO DIGITAL

A arquitetura contemporânea envolve cada vez mais processos “file-to-factory”, por


intermédio da manufatura auxiliada por computador (CAM) e tecnologias CNC. Sobre
o projeto arquitetônico é lançado o desafio da construtibilidade: a produção e
construção de formas mais complexas por meio de novos instrumentos de aplicação
33

prática e oportunidades pelos meios de produção digital (AFIFY; ABD ELGHAFFAR,


2007).

Os sistemas construtivos trazem à tona uma diversidade de meios para a formação


de um projeto arquitetônico. O universo compreendido pela fabricação digital se
colocou de forma a gerar experimentações capazes de diversificar as formas de
materializar o objeto construído. Segundo Kolarevic (2003) e Schodek (2005) há 4
métodos de fabricação digital: fabricação 2D; fabricação subtrativa, aditiva e formativa.

O método subtrativo gera influência sobre a integridade do material que irá sofrer a
transformação, podendo ser realizado por meio de ferramenta de corte (mecânico),
queima por laser (químico) e corte a água (físico) (Figura 6).

Figura 6 – Usinagem CNC em 5 eixos, file-to-factory.

Fonte: Mercado Usinagem. Disponível em:


<https://www.mercadousinagem.com.br>. Acesso em: 07 mar. 2020.

No aditivo temos um plano de construção onde é disposta uma ferramenta que permite
a deposição de matéria prima por meio de um bico que possui um controle sobre o
fluxo do material que vai sendo depositado camada por camada. Estes são gerados
por meio do software que secciona o objeto tridimensional. Por meio de ferramentas
mecânicas desenvolvidas sob demanda de um determinado projeto, igualmente pode
permitir a utilização de objetos pré-fabricados sobrepostos um ao outro (Figura 7 e 8).

A informação de cada camada é transferida para a cabeça de


processamento da máquina de manufatura (KOLAREVIC, 2005,
p.36, 37).
34

Figura 7 - Impressão 3D com massas cimentícias.

Fonte: COBOD. Disponível em: <https://www.cobod.com/>.


Acesso em: 15 abr. 2020.

Figura 8 - Construção experimental produzida por impressão 3D.

Fonte: COBOD. Disponível em: <https://www.cobod.com/>.


Acesso em: 15 abr 2020.

A fabricação formativa está atrelada a deformação de um determinado material para


atingir a forma projetada, através de forças mecânicas, fôrmas restritivas e termo
moldagem. Para fabricação do objeto, existem mecanismos que através de
coordenadas deformam o objeto exercendo pressão sobre o mesmo, ou permitem
uma deformação por meio da própria gravidade sobre um plano irregular que assume
os parâmetros formais do objeto projetado (Figura 9).
35

Figura 9 - Processo CNC formativo demonstrando a construção de um


componente com formas orgânicas.

Fonte: Nathaniel Hudson. Disponível em:


<https://www.nathanielhudson.com/cnc-formative-fabrication-
cartouche/>. Acesso em: 15 abr. 2020.

Observando a fabricação industrial convencional, a lógica da padronização,


pré-fabricação e instalação no local é aplicada na construção. Esse raciocínio pôde
ser alterado no momento que a fabricação digital começou a ser utilizada na produção
de componentes, o que permitiu a otimização da montagem no ambiente de
construção (AFIFY; ABD ELGHAFFAR, 2007). Pelo modelo tridimensional, torna-se
possível através de equipamentos específicos, determinar o posicionamento,
alocação e fixação de cada um deles.

Para permitir o avanço dos processos de projeto e fabricação baseados em CAD /


CAM é necessário possuir um software que permita explorar as fases de
desenvolvimento do projeto, de maneira individual ou que garanta a reprodução
conceitual em outro. Em seguida possibilitar a fragmentação do modelo digital em
seções de fabricação para poder convertê-lo em instruções, que serão enviadas a um
equipamento de fabricação digital que atenda às diretrizes propostas, este podendo
sofrer modificações em sua forma original, agregando novas capacidades de
transformação.

No Brasil existe certo desenvolvimento destas tecnologias, mas não existe uma
difusão globalizada - levando em consideração essencialmente à desinformação -,
que se constitui como o problema principal, sendo está uma tecnologia disponível,
mas muitas vezes ainda aplicada de forma ineficiente (SILVA; BRIDGES et al., 2009).
Pode ser notada a falta de formação e treinamento formal no contexto do ensino de
36

projeto de arquitetura, e pouca sinergia entre universidades e a indústria da


construção civil.

Se as máquinas de fabricação CNC estão mudando a maneira como projetamos e


construímos, como bem afirmou Kieran Timberlake (2003, p.31), pode-se pensar a
importância de conhecer os processos que serão utilizados, assim como conhecer os
materiais que se pretende utilizar, de modo a entender que o projeto digital não
necessariamente terá uma solução perfeita. Grande parte no processo não pode ser
conquistada antes de adquirir experiência, efetuando numerosos testes. Quando há o
envolvimento de materiais naturais – madeira, dentre outros -, deformações e
comportamentos variados são sucessíveis e necessitam de sensibilidade para
contornar as adversidades, tanto otimizando o processo manual quanto a triagem
adequada de todo material utilizado. Nem o processo manual, nem o processo
computacional são necessariamente protagonistas no processo de fabricação, eles
devem ser considerados como ferramentas que permitem materializar o projeto
(Figura 10). Ao avaliar antecedentes, para efeito comparativo, se permite a obtenção
do feedback que auxilia a melhor escolha (BOZA, 2006).

Figura 10 - Conferência dos painéis.

Fonte: BOZA, L. E. (Un) Intended Discoveries Crafting the Design


Process, 2006.

Por meio de todos esses fatores não totalmente identificáveis no processo de projeto,
fabricação e montagem, pode-se considerar que as possibilidades são expandidas,
permitindo ao longo da execução descobertas previstas e questões não imaginadas
(Figura 11).
37

Figura 11 - Superfície fabricada e construída.

Fonte: BOZA, L. E. (Un) Intended Discoveries Crafting the Design


Process, 2006.

A difusão da fabricação digital pode ser demonstrada pelo acesso mais facilitado aos
dispositivos e projetos dos equipamentos CNC, por serem métodos de produção que
no momento estão sobre o domínio público; uma pessoa ou equipe de pesquisa pode
se debruçar sobre essas tecnologias e desenvolver seus próprios equipamentos,
através do material e documentações hoje disponíveis em diversas mídias.

Observa-se assim uma vertente em pesquisas que se baseiam na exploração de


modificações em equipamentos CNC padrão, agregando novas funcionalidades para
atender uma determinada demanda encontrada. Inicialmente, de maneira geral as
demandas eram encontradas sob a forma de estudo das tecnologias CNC existentes
e como aproveitar as funções originais. Após experimentações seguindo as
funcionalidades padrão, as pesquisas se lançaram para um novo salto, gerando o
incentivo para a exploração dada através do desenvolvimento tecnológico, pelo
acesso acelerado a informação, evolução da internet das coisas (IoT), e a experiência
coletada através das pesquisas existentes.

Carson (2010) nos traz como contraposição à produção industrial, os movimentos de


desenvolvimento e compartilhamento online de open hardware, como o Open Source
Ecology, Wikihouse, Thingiverse, Yeggi, Instructables, SketchChair, Open Desk, entre
tantos outros, aliados a espaços de produção compartilhada, como os FabLabs, Tool
Libraries, Free Farms, Comunity Workshops, estão crescendo em todo o mundo e
trazem a promessa de uma nova revolução industrial descentralizada.

A interação de novos desenvolvimentos tecnológicos aplicados ao equipamento CNC


pode diversificar também o processo decorrente de projeto, possibilitando melhoria
conjunta através da capacidade de processamento computacional, para gerar
38

determinada forma ou meio de materialização. Já em um projeto paramétrico, pôde-


se definir níveis de interação entre os componentes desenvolvidos e a determinação
de uma melhor prática de fabricação ou mesmo definição de uma nova prática
experimental.

Para atender a demanda de um projeto singular, o tipo de direcionamento que é


instigante para o emprego da tecnologia de fabricação digital é o de permitir opções
para o desenvolvimento de reformas direcionadas as favelas e comunidades, assim
possibilitando a interação com projetos sociais (BERNARDO; CABRAL, 2014).

Ao avaliar a formação das favelas e comunidades, se tem como fator preponderante


o desenvolvimento sem a utilização de um projeto, que possui a demanda construtiva
atendida pela “autoconstrução”, que não se define pela ausência de um projeto, mas
inúmeras vezes ocorre pela falta de recursos para aquisição um projeto habitacional.
A execução acaba sendo formulada ao decorrer da obra e é criada baseada nas
necessidades que surgem, sendo assim produzida de acordo com a demanda.

A demanda existente nas favelas por reformas e pequenos reparos eventualmente


pode ser suprida com a utilização da fabricação digital, mas a dificuldade se encontra
no projeto e como executá-lo com o material disponível no local, como painéis não
uniformes ou de tamanhos irregulares.

Ao disponibilizar um equipamento CNC desenvolvido por meio de um projeto open-


source de baixo custo a uma determinada comunidade, ele na sua forma padrão não
possui rotinas de trabalho que permitam certa praticidade na utilização pelo auto
construtor local. É necessária uma interface simplificada que permita a soma do
software de modelagem, a disposição de parâmetros e o acompanhamento prévio do
que vai ser fabricado. Dessa forma, um usuário do equipamento que possui pouca
afinidade com o processo de fabricação pode se sentir assistido no processo.

Entre os recursos avaliados como necessários para atender os quesitos relacionados


a variação de materiais e diversidade de demandas estão (BERNARDO; CABRAL,
2014):

● Software simplificado que permita a formulação centralizada do desenho e


geração do código de corte, com comunicação direta ao equipamento CNC;
39

● Sensores que permitam a identificação do material inserido no equipamento;

● Adição de um sistema de projeção que permita visualizar um mapeamento dos


componentes sobre o material que vai ser usinado, servindo como uma
segunda verificação visual para o operador.

Assim por meio da fabricação digital é possibilitado o aumento da variedade de


soluções de projeto, como exemplo pode-se citar a transformação de painéis de
madeira, através da confecção de encaixes complexos que podem ser articulados de
maneira reversível, sem a necessidade de cola e parafusos. Por meio dessa variedade
considera-se também um aumento de liberdade, ainda mais ao combinar o “high tech”
com o “low-tech”.

A promessa dessas tecnologias, no entanto, não é permitir que os arquitetos tornem


os edifícios mais consistentes, constatando-se por exemplo os projetos de Frank
Gehry (Figura 12). Permitem, na verdade, que o arquiteto recupere o controle sobre o
processo de construção, conferindo a possibilidade de verificação no meio virtual, os
relacionamentos entre componentes e a viabilidade de determinado método, que
regularmente é feita no canteiro de obras.

Figura 12 - Modelo Casa Dançante - Frank Gehry.

Fonte: SILVA, N. F; BRIDGES, A. H.; et. Al. Is the construction industry ready
for digital fabrication and mass customization in Brazil, 2009.

No meio acadêmico, ao se apoiar no processo de fabricação digital, é possível levar


os alunos a uma experiência concreta com o envolvimento na construção, permitindo
40

um ambiente inserido em meio ao “faça você mesmo” e levando a resolução de


problemas reais por meio do levantamento de ideias e o pensamento projetual
materializado. O conhecimento gerado pela pesquisa envolve formas especificas de
integrar a educação e a arquitetura, em particular a pesquisa direcionada a projeto,
para apoiar o desenvolvimento de conhecimentos, conceitos, métodos relacionados
e, frequentemente, também a produção de dados empíricos confiáveis, envolvendo
problemas reais de projeto enfrentados no cotidiano e buscando interação com a
prática (HENSEL; NILSSON, 2016).

As tecnologias implementadas por meio da modificação do equipamento CNC


permitiram a transformação do material natural, que possui variações sem um padrão
definido. Por meio de um mecanismo de digitalização é permitida a leitura dos
parâmetros do mesmo e através do software o elemento é conferido e catalogado,
passando assim por um processo de comparação com o modelo digital, para que o
elemento possa ser transformado de acordo com a composição projetada
(MACDONALD; SCHUMANN et al., 2019) (Figura 13).

A onipresença da digitalização dentro desta indústria torna a tecnologia e a indústria


prontamente transferível para métodos de busca da forma: “A única maneira de lidar
com os caprichos inerentes de [...]” dar vida” aos materiais é reagir aos seus caprichos
e mudanças no local e no momento” (CARPO, 2017).

Figura 13 - Materiais padronizados versus materiais sem padrão.

Fonte: MACDONALD, K.; SCHUMANN, K.; et. Al. Digital Fabrication of


Standardless Materials, 2019.
41

A fabricação digital também tornou possível a realização de modelos físicos de


maneira mais precisa, e integrada ao projeto real. A experimentação em escala
promove o desenvolvimento do projeto, auxiliando a compreensão dos
comportamentos da estrutura no modelo e na apresentação de novas propostas
arquitetônicas, permitindo a revisão acelerada de cada uma de suas fases (GLOBA;
MICHAEL et al., 2012).

Para Kolarevic (2003) os arquitetos estão adotando uma ampla variedade de


equipamentos de manufatura CNC no âmbito do desenvolvimento de projeto. A
materialização dos modelos virtuais concentra-se em três tecnologias claramente
distintas: corte a laser, usinagem CNC e impressão 3D.

O ambiente de projeto digital e fabricação digital foi muito utilizado pelo arquiteto Frank
Gehry para desenvolver e testar sistemas de construção complexos. O mesmo foi
seguido por gerações posteriores de arquitetos, como William Massie, Greg Lynn e
Bernard Cache, que começaram a apresentar seus trabalhos em meados da década
de 1990, explorando a estética e funcionalidade de projetos fabricados por dispositivos
de fabricação digital (Figura 14).

Se faz necessário por parte dos arquitetos compreender como as ferramentas de


fabricação funcionam e quais as limitações que cada tecnologia implica dentro dos
limites proporcionados aos projetos contemporâneos. A intenção do projeto deve
"casar" com as capacidades da máquina, portanto, a escolha da tecnologia de
fabricação é muito importante (IWAMOTO, 2009).
42

Figura 14 - Modelos de torre fabricados por CNC.

Fonte: GLOBA, A.; et. Al. Digital To Physical - Comparative Evaluation Of


Three Main CNC Fabrication Technologies Adopted For Physical Modelling In
Architecture, 2012.

A ferramentas computacionais oferecem aos arquitetos a oportunidade de integrar a


fabricação digital com o processo de projeto, permitindo uma exploração mais direta
das relações entre material, forma e desempenho (MENGES, 2012).

Na fabricação digital formativa a experimentação do processo ocorre com menor


incidência. Com o intuito de permitir a criação de superfícies de dupla curvatura, o
desenvolvimento de um equipamento com 4 apoios móveis, conectado por arestas
que possuem espaçamentos que servem como ancoragem de pontos para definição
de uma malha reticulada flexível utilizando cordões, onde essa é controlada via CNC
através da manipulação da altura dos pontos de apoio, gerando uma base de molde
para a construção da superfície (LOH; LEGGETT et al., 2018) (Figura 15).
43

Figura 15 - Equipamento para modelar superfícies paraboloide hiperbólico


CNC.

Fonte: LOH, P.; LEGGETT, D.; et. Al. CNC Adjustable Mould to Eliminate
Waste in Concrete Casting, 2018.

Esse método aplicado, por exemplo, a um projeto disposto por superfícies de dupla
curvatura sequenciais, permite a fabricação dos componentes de construção
reduzindo a geração de resíduos, - que de maneira geral são produzidos pela
utilização de moldes de espuma de poliestireno expandido por meio de fôrmas
convencionais -, resultando assim em economia e agilidade no processo (Figura 16).

Figura 16 - Processo de produção da superfície até sua fabricação.

Fonte: LOH, P.; LEGGETT, D.; et. Al. CNC Adjustable Mould to
Eliminate Waste in Concrete Casting, 2018.
44

Em um modelo experimental de projeto definido como vernacular em sua


materialidade e morfologia, a fabricação digital se colocou de maneira transformadora
para permitir sua materialização, que através de uma modificação realizada em um
equipamento subtrativo, possibilitou convertê-lo para utilização do processo aditivo,
permitindo a experimentação de construção por meio de um material localmente
abundante, a argila.

Os testes realizados com o material formulado com base em argila apresentaram


maior estabilidade na realização de deposição de superfícies onduladas. Ao realizar
a deposição do material através de linhas retas, por conta de sua fluidez e índice de
umidade, foram formadas superfícies que entraram em colapso (MEI-LING; HAN et
al, 2012) (Figuras 17 e 18).

Figura 17 - Equipamento CNC modificado para operar com argila utilizando o


método aditivo.

Fonte: MEI-LING, L.; HAN, L.; et. Al. Digital Vernacular, 2012.

Figura 18 - Formas de deposição do material pastoso e seu comportamento.

Fonte: MEI-LING, L.; HAN, L.; et. Al. Digital Vernacular, 2012.
45

Esse desenvolvimento permitiu como resultado um projeto experimental baseado na


organização de habitações para comunidades, sendo estas monolíticas na
construção. Estas exploram as capacidades relacionadas ao conforto interno da
habitação por meio de formas diferenciadas. As formas foram desenvolvidas por meio
de parâmetros inseridos no software de modelagem que permitiram garantir a
eficiência trazida pelo uso do conhecimento vernacular, promovendo a ventilação e
iluminação natural e a integração com o entorno local (Figura 19).

Em um mundo projetado por computador, o próximo passo lógico é


passar direto dos modelos digitais para os edifícios impressos em
3D (KAPOOR, 2009, p.188).

Figura 19 - Morfologia organizacional das habitações.

Fonte: MEI-LING, L.; HAN, L.; et. Al. Digital Vernacular, 2012.

A arquitetura tomada por vernacular é formada geralmente com o uso recursos


naturais locais e a utilização de técnicas especificas voltadas a promover uma melhor
eficiência da construção para uma determinada região (KAHN; EASTON, 1973). Por
cada localidade possuir singularidades, incluindo entre estas questões relacionadas a
disponibilidade tecnológica, fatores econômicos, históricos e ambientais, elas acabam
direcionando a adoção de um partido arquitetônico e refletindo na forma e quesitos do
projeto como um todo (Figura 20).
46

Figura 20 - Modelo de habitação - Releitura do agrupamento de habitações


existentes no oriente médio.

Fonte: MEI-LING, L.; HAN, L.; et. Al. Digital Vernacular, 2012.

Atualmente é possível conceber arquiteturas prototípicas customizadas, que podem


ser adaptáveis a mudanças com a utilização de parâmetros reguláveis, estas podem
ser distribuídas através da internet de maneira globalizada e construídas em
diferentes partes do mundo. (MALÉ-ALEMANY, 2008).

O projeto apresentado permitiu identificar os quesitos que encaminharam a decisão


pelo sistema construtivo (Figura 21), evidenciando que a máquina e o material não
podem ser separados um do outro e, sendo assim, o design auxiliado por computador
é impulsionado no processo de fabricação, que só foi permitido por meio da
exploração das capacidades existentes no equipamento utilizado (MEI-LING; HAN et
al, 2012).

Figura 21 - Perspectiva e corte do agrupamento habitacional proposto.

Fonte: MEI-LING, L.; HAN, L.; et. Al. Digital Vernacular, 2012.

As revoluções atuais em design e fabricação auxiliados por


computador são independentes umas das outras, com a arquitetura
se concentrando na forma – de maneira sequencial apresenta-se
através da “forma, estrutura e material”. (OXMAN, 2010, p.14).
47

A tecnologia CNC de impressão 3D possui um limite formal abrangente para atender


diversos tipos de projeto, mas para efeito de demandas comerciais e culturais
existentes, acaba sendo utilizada para materialização de construções formalmente
convencionais. O limite é expandido pela utilização de componentes existentes, que
permitem associação por sobreposição peça por peça ou mesmo entre encaixes. A
tecnologia de fabricação digital aditiva tem sofrido modificações e adequações para
operar com diversos tipos de material, cada qual é definida uma nova ferramenta
operacional no equipamento utilizado, que permite a manipulação do material

As tecnologias de fabricação e a programação digital sugerem


novas possibilidades produtivas na arquitetura, ao promover uma
industrialização flexível da construção (KIERAN; TIMBERLAKE,
2004. p.5).

Da mesma forma, esses sistemas e equipamentos demonstraram a


capacidade de executar novas formas complexas com elementos
existentes (GRAMAZIO; KOHLER, 2008, p.10).

Após a formulação do projeto no software por meio de parâmetros, a geometria das


peças e posição no espaço pôde ser identificada, podendo ser transformadas em
coordenadas de movimento e executadas por um equipamento CNC adequado para
construir segundo as restrições existentes. Na figura abaixo, os componentes foram
cortados a laser e montados manualmente pelos idealizadores do projeto (MIOTTO;
GARCIA, 2010), por não terem a disposição um equipamento capaz de realizar o
processo de montagem de maneira automatizada (Figura 22).

Como menciona Ali Rahim (2006) o projeto paramétrico se tornou um campo cada vez
mais importante na arquitetura, levando o uso desta técnica avançada a uma noção
mais controlada de projeto, estabelecendo parâmetros para o desempenho e
metodologia de construção.
48

Figura 22 - Composição inicial do muro-pixel e configurações

Fonte: MIOTTO, B. U.; GARCÍA, A. R. Muro-pixel: exploración digital


de un sistema constructivo de placas entrelazadas, 2010.

A associação de estudos realizados vem gerando estímulo na produção por meio da


fabricação digital, alavancando mais inovação e quebra de paradigmas através do
desenvolvimento tecnológico explorado.

2.2.2 FABRICAÇÃO DIGITAL APLICADA À HABITAÇÃO

A fabricação digital nas duas últimas décadas se mostrou como uma tecnologia
promissora no desenvolvimento de projetos voltados a produção de unidades
habitacionais, particularmente de componentes pré-fabricados, ou mesmo construída
de forma aditiva no local. Geralmente atendem demandas relacionadas a projetos de
interesse social, situações emergenciais ou customização em massa.

Diversas investigações têm sido apresentadas, e os casos desenvolvidos estão se


multiplicando. Isso pode ser notado nos projetos baseados no método friction-fit
connection2, apresentado de maneira bem definida como na Instant House (SASS;
BOTHAS, 2006), tendo sua evolução proeminente apresentada pelo sistema
WikiHouse, que possui também variações regionalizadas no Brasil, notadas nos

2
O método friction-fit connection vem sendo bastante empregado em edifícios residenciais. Trata-se de uma
técnica onde as partes construtivas são subdivididas em partes para serem montadas a posteriori por meio de
encaixes. Neste, as peças são fabricadas através de corte em fresadoras, técnica que vem sendo propagada pelo
sistema WikiHouse.
49

projetos da Casa Revista, WikiCurva, Casa Nordeste, Wikilab e MackHaus (Figura


23).

Figura 23 – Casa Revista, WikiCurva, WikiLab e MackHaus.

Fonte: Recorte realizado pelo autor.

Pesquisa realizada por Wilson Florio (2013) sobre modelagem paramétrica para
conceção de projeto destinado a abrigo de emergência demonstra o interesse em
propor soluções alternativas ao problema de moradia precária no Brasil. A partir da
fabricação 2D, peças de madeira seriam cortadas e montadas por encaixes tipo
macho-fêmea, passível de ser facilmente utilizada diretamente no canteiro, com rápida
montagem por pessoas não especializadas.

Mas com a popularização disseminada pelo sistema WikiHouse - o objetivo de


promover soluções rápidas de construção para habitação tornou-se importante - bem
como o discurso relacionado a adaptação desse sistema a diferentes contextos
ambientais, econômicos e socioculturais não se aplica de maneira direta. Se não
forem consideradas as adaptações necessárias ao contexto do projeto, o
desempenho da construção pode ser afetado.
50

Os projetos desenvolvidos para o contexto ambiental tropical mencionados acima


buscaram identificar estratégias de adaptação para as superfícies expostas
existentes, no projeto piloto da WikiHouse. Um estudo realizado sobre esse tipo de
otimização apontou duas estratégias principais: promover o recuo das laterais e gerar
mais aberturas nas paredes (BRANCO, et. al, 2017) (Figura 24).

Figura 24 - Definições de um novo modelo da Wikihouse e arranjos internos


readequados para aplicação nos trópicos.

Fonte: BRANCO, B; CANUTO, R; CANTALICE, A. Fabricação Digital


Aplicada à Habitação de Caráter Emergencial: Um estudo sobre a
adaptação de WikiHouses ao contexto ambiental brasileiro, 2017.

A Woka, experimentação produzida através do projeto WikiHouse, teve como objetivo


primário a definição de um modelo capaz de interagir com estudos sobre os sistemas
de encaixes a seco e sua organização programática, permitindo a utilização de
diferentes materiais, os tornando complementares a estrutura, focando nos
comumente disponíveis como painéis de compensado, barrotes de madeira, tijolos
cerâmicos entre outros (VAN STALEN; CEZARINO, 2015) (Figura 25).
51

Figura 25 - Modelo elaborado para atender um usuário da Casa Woka.

Fonte: VAN STALEN, M. S.; CEZARINO, C. Woka - Towards a


dialogical design of future cities, 2015.

Em essência deste projeto nasceu com a finalidade de permitir a construção de uma


moradia, podendo ser usado como um anexo de uma casa existente, um escritório ou
mesmo uma casa de jardim. A natureza polivalente do sistema e seu baixo custo
permitem a formulação de diversas soluções que se adequam a necessidade de cada
utilizador (Figura 26).

Figura 26 - Modelo elaborado para atender um usuário da Casa Woka.

Fonte: VAN STALEN, M. S.; CEZARINO, C. Woka - Towards a


dialogical design of future cities, 2015.

Como exemplo mais recente validado e construído no Brasil, temos a pesquisa de


mestrado realizada por Eduardo Campolongo (2019), denominada MackHaus, que se
utilizou também do projeto piloto da WikiHouse, mas inovou na experimentação
empregada nos sistemas de encaixes e na redução da espessura do material utilizado
para 9mm, sem que fosse prejudicado seu funcionamento global, adicionando ainda
52

um subsistema de proteção de toda estrutura externa as intempéries do clima tropical


(Figuras 27, 28 e 29).

Figura 27 - MackHaus Pórtico e protótipo em escala.

Fonte: CAMPOLONGO, E. L. P. S. MackHaus: fabricação digital


subtrativa aplicada à produção de habitações por meio de encaixes
em madeira. São Paulo: PPGAU, 2019.

Figura 28 – MackHaus estrutura montada em tamanho real.

Fonte: Acervo do Autor.


53

Figura 29 – MackHaus 1ª Fase construída em tamanho real, componentes em


perspectiva explodida.

Fonte: Adaptação do Autor - CAMPOLONGO, E. L. P. S. MackHaus:


fabricação digital subtrativa aplicada à produção de habitações por
meio de encaixes em madeira. São Paulo: PPGAU, 2019.

Através do método definido como contour crafting3 (KHOSHNEVIS, 2004) onde, por
meio de um equipamento que realiza a deposição de matéria prima em estado
pastoso, ou seja, uma das variantes do processo aditivo de fabricação, vêm sendo
experimentadas novas tecnologias, que estão permitindo agilidade no processo
construtivo e liberdade formal do objeto construído. Algumas empresas adotaram esse
processo de construção e já possuem exemplos construídos de habitações. Podemos
citar os projetos ICON House, Gaia House e Kamp C House (Figura 30).

3
O método contour crafting é um sistema, idealizado pelo pesquisador Behrokh Khoshnevis em 1996 e
experimentado em 2004. O Funcionamento se dá através da união da tecnologia de impressão 3D com sistemas
mecânicos que permitem a industrialização de componentes, visando automatizar o canteiro e agilizar o
andamento das obras. Na tradução literal significa construção por contornos, com o qual as máquinas executam
o projeto, sem necessidade de trabalho braçal e de diversos outros equipamentos.
54

Figura 30 – ICON House, Gaia House e Kamp C House.

Fonte: Adaptação do autor, imagens retiradas de acervos das


empresas realizadoras.
55

2.3 CATÁLOGO DE PROJETOS EXECUTADOS ATRAVÉS DA FABRICAÇÃO


DIGITAL

No presente catálogo estão listados, através de uma linha cronológica e seu viés de
direcionamento, alguns dos principais projetos que possuem vínculo com as
tecnologias de fabricação digital, considerando um recorte temporal principal entre os
anos 2000 e 2020, em meio a outras menções. A pesquisa foi traçada sobre projetos
que remetem a uma unidade unifamiliar, sendo assim definidos e separados através
de seus vieses.

Viés A - Diretriz Social

Nessa frente de desenvolvimento pode ser notado o forte apelo social com seu
desenvolvimento voltado às comunidades e projetos de interesse social. Esse meio
engloba a construção de protótipos vinculados a planos de contingência, que
envolvem tanto a contribuição para desastres naturais, como o atendimento ao déficit
habitacional existente nos países em desenvolvimento. Essa iniciativa envolve
diretamente o usuário final no processo construtivo, não necessariamente o
envolvendo no processo de projeto. Por meio da fabricação digital, são gerados
componentes, que, utilizando a lógica do faça você mesmo, proporcionam uma
construção simplificada, rápida e acessível.

Viés B - Eficiência tecnológica

Nessa frente de desenvolvimento os projetos pesquisados combinam o fator


econômico e a eficiência construtiva através das tecnologias de fabricação digital,
buscando a concepção de habitações com uma utilização a longo prazo e que mantém
acessibilidade ao público. O fator predominante do desenvolvimento não é a garantia
de uma acessibilidade para todos, mantendo um contraste relacionado a exploração
de potencialidades na racionalização de materiais, tempo de construção e recursos
utilizados.

Viés C - Processo e experimentação

Por meio de um vínculo direto à exploração processual, neste quadro foram


levantados projetos conceituais que promovem a investigação da forma como as
edificações podem ser construídas. A indagação oferecida à equipe de
desenvolvimento dos protótipos está diretamente ligada ao desenvolvimento do
processo executivo e a expansão promovida pelos equipamentos de fabricação digital,
e, dessa forma, podem envolver uma demanda econômica elevada, geralmente o
mantendo apenas na fase de protótipo.
56

Projeto Ano Viés

Embryological House 1997-2002 C - Processo


Graham
Foundation and
Instituição
the Wexner
Center
Arquiteto Greg
Responsável
Lynn
Ohio,
Localização
Estados Unidos
Conceitual:
Fase do projeto protótipo em
escala
Área (m²) Variável
Tempo de desenvolvimento
Projeto Fabricação Construção
- - -
Figura 31 - Embryological house
Fonte: Reading Design. Disponível em:
<https://www.readingdesign.org/architectural- Custo -
curvilinearity>. Acesso em 19 nov. 2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primária Esquadrias
Secundária internos
- - - -

Processo
Por meio do software de animação e modelagem 3D Maya, foram feitos experimentos do
comportamento da forma ao longo do tempo. Após isso, foram gerados componentes
distintos para a fabricação.

Ferramenta de Fabricação
Fresadora CNC

Outras Ferramentas
Maya
57

Projeto Ano Viés

Micro Compact Home 2001-2005 B - Eficiência

m-ch (Micro
Instituição
Compact Home)
Arquiteto Richard
Responsável Horden e equipe
de estudantes
Munique,
Localização
Alemanha
Fase do projeto Construído
Área (m²) 6,75
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- 56-70

Figura 32 - Micro Compact Home


Fonte: Prebabcosm. Disponível em: Custo $43.000-$100.000
<http://prefabcosm.com/blog/2008/01/10/m-ch-micro-
compact-home/>. Acesso em 19 nov. 2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primária Esquadrias
Secundária internos
Pórticos de madeira - Revestimento Variável:
+ isolamento de externo de alumínio unidade inclui
espuma de anodizado ou eletrodomésticos
poliuretano revestido com pó de
poliéster
Processo
Modelagem completa por CAD;

Fabricação automatizada em fábrica;

Montagem prévia;

Entrega de um módulo habitacional montado.

Ferramenta de Fabricação
Fresadora CNC e equipamentos não mencionados

Outras Ferramentas
-
58

Projeto Ano Viés

The Instant House 2006 A - Social

Instituição MIT Research

Responsável Larry Sass


Massachusetts,
Localização
Estados Unidos
Fase do projeto Construído
Área (m²) 7,5
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- - 4

Custo $2.508
Figura 33 - The Instant House
Fonte: MIT. Disponível em:
<https://ddf.mit.edu/milestones/instanthouse>. Acesso
em 19 nov. 2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primária Esquadrias
Secundária internos
Madeira - Madeira Madeira
compensada compensada compensada

Processo
Geração de forma;

Componentes gerados com script;

Abordagem de encaixes tipo quebra-cabeça.

Ferramenta de Fabricação
Fresadora CNC

Outras Ferramentas
Rhinoceros, EZCam
59

Projeto Ano Viés

Loblolly House 2006 C - Processo

Kieran
Instituição
Timberlake
Responsável -
Maryland,
Localização Estados
Unidos
Fase do projeto Construído
Área (m²) 168
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- - 19

Figura 34 - Loblolly House Custo -


Fonte: Passive House Plus. Disponível em:
<https://passivehouseplus.ie/articles/design-
approaches/deconstruct-ireland>. Acesso em 21 nov.
2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primária Esquadrias
Secundária internos
Perfis de alumínio Cartuchos de treliça Madeira de cedro Revestimento de
anodizado de madeira vermelho ocidental; madeira;
equipados Vidros. Alumínio;
Vidros.
Processo
BIM completo desde a concepção à coordenação de fabricação;

Montagens integradas.

Ferramenta de Fabricação
Fresadora CNC e equipamentos convencionais

Outras Ferramentas
Revit
60

Projeto Ano Viés

System 3 2008 B - Eficiência


Oskar Leo
Instituição Kaufmann /
Albert Rüf
Responsável -
Nova Iorque,
Localização Estados
Unidos
Fase do projeto Construído
Área (m²) 53
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
84 147 1

Figura 35 - System 3 Custo -


Fonte: ArchiWeb. Disponível em:
<https://www.archiweb.cz/en/b/system-3-modulova-
obytna-jednotka>. Acesso em 21 nov. 2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primária Esquadrias
Secundária internos
Madeira - Madeira Madeira
compensada compensada compensada;
Louças sanitárias
em aço inoxidável.
Processo
Modelagem CAD;

Fabricação modular por meio do processo subtrativo e pré-montagem dos módulos;

Montagem de elementos com encaixes a seco realizados no local.

Ferramenta de Fabricação
Fresadora CNC de 3 eixos

Outras Ferramentas
Rhinoceros
61

Projeto Ano Viés

Cellophane House 2008 C - Processo

Keiran
Instituição
Timberlake
Responsável -
Nova Iorque,
Localização Estados
Unidos
Fase do projeto Construído
Área (m²) 168
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- 90 7 montagens
+9
acabamentos

Figura 36 - Cellophane House Estimado em


Fonte: Kieran Timberlake. Disponível em:
Custo
$1.000.000
<https://kierantimberlake.com/page/cellophane-house>.
Acesso em 21 nov. 2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primária Esquadrias
Secundária internos
Moldura de alumínio Pisos: grelha de Pele: material Painéis de parede:
Bosch + conectores alumínio + reciclável PET folha de
de aço polietileno de 0,5 transparente com polipropileno de 8
polegadas células PV mm
Processo
BIM completo desde a concepção à coordenação de fabricação;

Montagens integradas por módulos encaixados no local.

Ferramenta de Fabricação
Fresadora CNC e outras não especificadas

Outras Ferramentas
Revit
62

Projeto Ano Viés

Casa Nova Orleães 2008 A - Social

Instituição MIT Research

Responsável Larry Sass


Nova Iorque,
Localização Estados
Unidos
Fase do projeto Construído
Área (m²) 58
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- 21 23

Figura 37 - Casa Nova Orleães


Custo -
Fonte: MIT. Disponível em:
<https://ddf.mit.edu/news/2014/project-summary>.
Acesso em 21 nov. 2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primaria Esquadrias
Secundária internos
Madeira - Madeira Madeira
compensada compensada: compensada
inacabado para
mostrar a estrutura
Processo
Geração de forma;

Componentes gerados com script;

Abordagem de encaixes tipo quebra-cabeça.

Ferramenta de Fabricação
Fresadora CNC

Outras Ferramentas
Rhinoceros, EZCam
63

Projeto Ano Viés

Burst *008 2008 B - Eficiência

Instituição MoMA

Jeremy
Edmiston e
Responsável
Douglas
Gauthier
Nova Iorque,
Localização Estados
Unidos
Fase do projeto Construído
Área (m²) 30
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- 74 1

Figura 38 - Burst *008


Fonte: Gauthier Architects. Disponível em:
Custo -
<https://gauthierarchitects.com/burst008.html>. Acesso
em 22 nov. 2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primária Esquadrias
Secundária internos
Madeira - Pré-fabricadas em -
compensada madeira-

Processo
Fabricação de componentes através do processo subtrativo, com sistema de encaixe
intertravado e dobrável para transporte pré-montado

Ferramenta de Fabricação
Fresadora CNC

Outras Ferramentas
-
64

Projeto Ano Viés

Contour Crafting 2009 C - Processo


USC Viterbi
Instituição School of
Engineering
Professor
Responsável Behrokh
Khoshnevis
Califórnia,
Localização Estados
Unidos
Fase do projeto Protótipos
Área (m²) Variável
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- - -

Figura 39 – Contour Crafting Custo -


Fonte: 3D Natives. Disponível em:
<https://www.3dnatives.com/en/3d-printing-construction-
310120184/>. Acesso em 22 nov. 2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primaria Esquadrias
Secundária internos
Concreto Componentes pré- Pré-fabricadas -
autoadensável fabricados para
vigas e similares

Processo
Processo aditivo por meio de extrusão de concreto autoadensável e manipulação de
componentes pré-fabricados adicionados a construção.

Ferramenta de Fabricação
Impressora 3D de grande porte

Outras Ferramentas
-
65

Projeto Ano Viés

Generative House (CasaG) 2010 A - Social


PvE-Capes
Instituição PROPAR
UFRGS
Rodrigo
Garcia
Responsável Alvarado e
Brnamy
Turkienicz
Rio Grande
Localização
do Sul, Brasil
Fase do projeto Construído
Área (m²) 10
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- - -

Figura 40 – CasaG
Custo -
Fonte: Vitruvius. Disponível em:
<https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/
17.198/6303.-acesso>. Acesso em 21 nov. 2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primaria Esquadrias
Secundária internos
MDP revestido com - - -
laminado

Processo
Geração de componentes através de algoritmo; exportação dos componentes para
fabricação em processo subtrativo.

Ferramenta de Fabricação
Fresadora CNC

Outras Ferramentas
-
66

Projeto Ano Viés

Facit Homes 2012 - Presente C - Processo

Instituição Facit Homes

Responsável Bruce Bell


Londres,
Localização
Inglaterra
Fase do projeto Construído
Área (m²) Variável
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
120 330 330

Custo $2.500 por m²


Figura 41 - Facit Homes
Fonte: Facit-Homes. Disponível em: <https://www.facit-
homes.com/selected-exteriors>. Acesso em 22 nov. 2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primaria Esquadrias
Secundária internos
Painéis nervurados - Pré-fabricados em Acabamentos
de madeira madeira padrão definidos
pelo usuário

Processo
Preparação de componentes para fabricação em software CAD;

Instalação de componentes produzidos no local;

Montagem de painéis nervurados de madeira.

Ferramenta de Fabricação
Fresadora CNC

Outras Ferramentas
Carpintaria manual
67

Projeto Ano Viés

Digital Fabricate Small Scale Cabins 2012 B - Eficiência

Instituição The Bunkie Co

Designer de
Responsável Produto Evan
Bare
Meaford,
Localização
Canadá
Fase do projeto Construído
Área (m²) 9
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- - -

Figura 42 - Digital Fabricate Small Scale Cabins Custo -


Fonte: The Bunkie. Disponível em:
<https://www.thebunkie.com/premier>. Acesso em 22 nov.
2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primaria Esquadrias
Secundária internos
Madeira Sub estrutura de Pré-fabricada em Madeira
compensada alumínio alumínio compensada

Processo
Fabricação de componentes de madeira se encaixam com conexões tipo waffle,
intertravadas.

Ferramenta de Fabricação
Fresadora CNC

Outras Ferramentas
-
68

Projeto Ano Viés

ECOnnect - Lighthouse 2013 A - Social

Delft University of
Instituição
Technology
Pieter Stoutjesdijk,
Responsável
Hugi Nagtzaam
Localização Delft, Holanda
Fase do projeto Construído
Área (m²) 13
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- - -

Custo $10.000$ - $20.000


Figura 43 – ECOnnect - Lighthouse
Fonte: 4TU. Disponível em:
<https://www.4tu.nl/bouw/Lighthouse/PD_Lab/>. Acesso
em 22 nov. 2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primária Esquadrias
Secundária internos
ECOboard – - ECOboard Acabamentos
Resíduo agrícola padrão definidos
pelo usuário

Processo
Geração de forma;

Componentes gerados com script;

Abordagem de encaixes tipo quebra-cabeça.

Ferramenta de Fabricação
Fresadora CNC

Outras Ferramentas
-
69

Projeto Ano Viés

B -
Small Scale Student Residence 2013
Eficiência
Tengbom
Instituição
Architects
Responsável -
Virserum,
Localização
Suécia
Protótipo
Fase do projeto
em escala
Área (m²) 10
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- - -

Custo -
Figura 44 - Small Scale Student Residence
Fonte: Design Boom. Disponível em:
<https://www.designboom.com/architecture/tengbom-
architects-design-a-smart-student-flat/>. Acesso em 22 nov.
2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primaria Esquadrias
Secundária internos
Madeira laminada - Madeira laminada Madeira laminada
colada colada e vidro- colada -

Processo
As paredes e base da casa são maciças e foram produzidas através do processo subtrativo.

Ferramenta de Fabricação
Fresadora CNC

Outras Ferramentas
-
70

Projeto Ano Viés

WikiHouse 2013 - Presente A - Social

Instituição -

Alastair Parvin,
Responsável Nick
Ierodiaconou
Londres,
Localização
Inglaterra
Fase do projeto Construído
Área (m²) Variada
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- - -

Figura 45 – WikiHouse Custo -


Fonte: Web Urbanist. Disponível em:
<https://weburbanist.com/2012/09/20/wikihouse-open-
source-diy-architecture-you-can-build/>. Acesso em 22
nov. 2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primária Esquadrias
Secundária internos
Madeira - - -
compensada

Processo
Sistema construtivo aberto da WikiHouse não requer peças especiais, porque os cortes das
peças de madeira se encaixam com conexões tipo cunha. Os componentes são fabricados
pelo processo subtrativo.

Ferramenta de Fabricação
Fresadora CNC

Outras Ferramentas
SketchUp, Plugin WikiHouse
71

Projeto Ano Viés

3D Printed Canal House 2014 C - Processo

DUS
Instituição
Architects
Responsável -
Amsterdã,
Localização
Holanda
Fase do projeto Protótipo
Área (m²) 8
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- - -

Custo -
Figura 46 - 3D Printed Canal House
Fonte: Design Boom. Disponível em:
<https://www.designboom.com/architecture/dus-architects-
3d-print-urban-cabin-amsterdam-09-09-2016/>. Acesso em
22 nov. 2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primária Esquadrias
Secundária internos
Macromelt Bioplástico Bioplástico Bioplástico
Bioplásticos;
Cola industrial.

Processo
Processo aditivo realizado pela extrusão de material polímero bioplástico, com o processo
file-to-factory.

Ferramenta de Fabricação
Impressora 3D KamerMaker

Outras Ferramentas
-
72

Projeto Ano Viés

Casa Revista 2014 A - Social


Universidade
Federal do Rio
Instituição
de Janeiro
(UFRJ)
Arquiteta
Responsável
Clarice Rohde
Rio de Janeiro,
Localização
Brasil
Fase do projeto Construído
Área (m²) -
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- 60 -

Figura 47 - Casa Revista


Custo -
Fonte: ArchDaily. Disponível em:
<https://www.archdaily.com.br/br/773676/casa-revista-a-
primeira-casa-fabricada-digitalmente-no-brasil>. Acesso em
22 nov. 2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primária Esquadrias
Secundária internos
Madeira - Esquadrias pré- -
compensada fabricadas em
envernizada madeira e alumínio-

Processo
Baseada no sistema construtivo aberto da WikiHouse, com adaptação para um clima quente
e úmido. Componentes fabricados pelo processo subtrativo.

Ferramenta de Fabricação
Fresadora CNC

Outras Ferramentas
Rhinoceros
73

Projeto Ano Viés

WikiCurva 2016 A - Social


Universidade
Federal do Rio
Instituição
de Janeiro
(UFRJ)
Arquiteto David
Responsável
Mendonça
Rio de Janeiro,
Localização
Brasil
Protótipo
Fase do projeto
construído
Área (m²) -
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- 2 -

Figura 48 - WikiCurva Custo -


Fonte: LAMO FAU UFRJ. Disponível em:
<http://www.lamo.fau.ufrj.br/projetos/academicos/
048tfgwikicurva/>. Acesso em 22 nov. 2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primária Esquadrias
Secundária internos
Madeira - - -
compensada

Processo
Modelagem paramétrica da estrutura, gerando o sistema de encaixes, para posteriormente
cortar os componentes através do processo subtrativo.

Ferramenta de Fabricação
Fresadora CNC

Outras Ferramentas
Rhinoceros, Grasshopper
74

Projeto Ano Viés

WikiLab 2017 A - Social

UFABC / ABC
Instituição
Makerspace
Responsável -
São Paulo,
Localização
Brasil
Fase do projeto Construído
Área (m²) 40
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- - 20

Custo -
Figura 49 - WikiLab
Fonte: Revista Forum. Disponível em:
<https://revistaforum.com.br/brasil/ufabc-inaugura-primeiro-
wikilaboratorio-hackermaker-do-brasil/>. Acesso em 22
nov. 2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primária Esquadrias
Secundária internos
Painéis OSB Chapas de acrílico; Pré-fabricada em -
Telha plástica. alumínio

Processo
Baseada no sistema construtivo aberto da WikiHouse, com adaptação para um clima quente
e úmido. Componentes fabricados pelo processo subtrativo.

Ferramenta de Fabricação
Fresadora CNC

Outras Ferramentas
-
75

Projeto Ano Viés

ClipHut 2017 - Presente A - Social


School of
Instituição Architecture in
Detmold
Responsável Thomaz Vieira
Detmold,
Localização
Alemanha
Fase do projeto Protótipo
Área (m²) 13
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- - -

Custo -
Figura 50 - ClipHut
Fonte: ClipHut. Disponível em:
<https://www.cliphut.org/>. Acesso em 22 nov. 2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primaria Esquadrias
Secundária internos
Madeira - -
compensada
laminada -
Metsä Wood’s
Kerto® LVL
Processo
Sistema de encaixe por Clip baseado em pressão e fricção;

Painéis de madeira compensada/OSB usinados e encaixados a partir de um Clip.

Ferramenta de Fabricação
Fresadora CNC

Outras Ferramentas
Grasshopper, Rhinoceros
76

Projeto Ano Viés

ICON House 2018 B - Eficiência

Instituição ICON Build

Responsável ICON Team


Texas,
Localização Estados
Unidos
Fase do projeto Construído
Área (m²) 32
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- - 2

$4,000
Figura 51 - ICON House Custo
(paredes)
Fonte: Design Boom. Disponível em:
<https://www.designboom.com/architecture/icon-bjarke-
ingels-group-big-3d-printed-homes-08-21-2020/>. Acesso
em 22 nov. 2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primaria Esquadrias
Secundária internos
Concreto Madeira e tubos Pré fabricadas em -
metálicos madeira e alumínio

Processo
Sobreposição camada por camada de massa cimentícia, através de equipamento modular
de fabricação aditiva.

Ferramenta de Fabricação
Impressora 3D Vulcan ICON, extrusora de massa cimentícia

Outras Ferramentas
-
77

Projeto Ano Viés

MackHaus 2018 - 2019 A - Social


Universidade
Instituição Presbiteriana
Mackenzie
Eduardo
Responsável
Campolongo
São Paulo,
Localização
Brasil
Fase do projeto Construído
Área (m²) 20
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- - -

Figura 52 - MackHaus Custo R$35.000,00


Fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações -
Mackenzie. Disponível em:
<http://tede.mackenzie.br/jspui/handle/tede/4049>. Acesso
em 22 nov. 2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primaria Esquadrias
Secundária internos
Painéis de OSB - Pré-fabricadas em -
9mm madeira

Processo
Componentes formulados parametricamente por meio de um algoritmo;

Fabricação dos componentes da estrutura através da utilização do processo subtrativo.

Ferramenta de Fabricação
Fresadora CNC

Outras Ferramentas
Rhinoceros e Grasshopper
78

Projeto Ano Viés

Gaia 2019 B - Eficiência

Instituição WASP

Responsável WASP Team


Emília-
Localização Romanha,
Itália
Fase do projeto Construído
Área (m²) 30
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- - 10

€.900
Custo
Figura 53 - Gaia House (paredes)
Fonte: Revista AD. Disponível em:
<https://www.revistaad.es/arquitectura/articulos/gaia-
primera-casa-impresa-hecha-arroz-tierra/22017>. Acesso
em 24 nov. 2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primaria Esquadrias
Secundária internos
Solo cru; Madeira Pré fabricadas em -
Palha; alumínio
Casca de arroz;
Cal.
Processo
Sobreposição camada por camada de massa composta por solo, palha, casca de arroz e
cal, através de equipamento modular de fabricação aditiva.

Ferramenta de Fabricação
Impressora 3D Crane WASP

Outras Ferramentas
-
79

Projeto Ano Viés

Kamp C House 2020 B - Eficiência

Instituição Kamp C

Responsável Marijke Aerts


Antuérpia,
Localização
Bélgica
Fase do projeto Construído
Área (m²) 90
Tempo de desenvolvimento (dias)
Projeto Fabricação Construção
- - 21

Figura 54 - Kamp C House Custo -


Fonte: Business Insider. Disponível em:
<https://www.businessinsider.com/kamp-c-3d-printed-two-
story-house-in-belgium-2020-8>. Acesso em 24 nov.
2020.

Materiais
Estrutura Acabamentos
Estrutura Primaria Esquadrias
Secundária internos
Concreto Barras de aço; Pré fabricadas em -
Radier. alumínio

Processo
Sobreposição camada por camada de massa cimentícia, através de equipamento modular
de fabricação aditiva.

Ferramenta de Fabricação
Impressora 3D COBOD, extrusora de massa cimentícia

Outras Ferramentas
-
80

2.4 A FABRICAÇÃO DIGITAL MAPEADA NO BRASIL

Em termos econômicos, em um primeiro estágio marcado pelo alto custo dos


equipamentos de prototipagem rápida, as principais iniciativas se vincularam à
indústria pesada, às universidades e instituições de pesquisa que possuíam recursos
para investimento.

Em seguida, com a redução dos custos para aquisição de equipamentos e a expiração


de algumas patentes (HERRERA, JUAREZ, 2013), passaram a emergir laboratórios
menores, focados em design de produto, equipados com máquinas de menor porte
destinadas a pequenas indústrias. Nos últimos anos, a expansão ocorre de forma
significativa na escala do usuário doméstico, a partir da maior oferta de máquinas
produzidas localmente, do menor preço e da popularização de equipamentos de
manufatura aditiva - notadamente as impressoras 3D.

Em termos acadêmicos, pode-se delinear um primeiro momento de organização de


laboratórios de fabricação digital na área de arquitetura decorrente de intercâmbios e
pesquisas realizadas no exterior – sendo os Estados Unidos, a Inglaterra e a Espanha
como destinos principais (SPERLING, HERRERA E SCHEEREN, 2015). No mesmo
ritmo, surgiram laboratórios constituídos pela iniciativa institucional ou pessoal de
professores da área, sem a decorrência direta de intercâmbios em fabricação digital
com o exterior, mas a partir de referências regionais e internacionais, seja por contatos
internacionais de pesquisa ou pela participação em eventos como o SIGraDi e as
sociedades correlacionadas.

O momento atual pode ser caracterizado pelo surgimento de pequenos grupos locais,
organizados por pesquisadores, professores e arquitetos que passam a constituir
laboratórios em instituições de ensino e pesquisa, ou mesmo escritórios que aplicam
no processo de projeto, as tecnologias digitais de fabricação. Em termos culturais,
pode-se indicar um primeiro momento composto por iniciativas com o objetivo de
introduzir e difundir o campo da fabricação digital no local, a partir de práticas e
produções que dinamizam e despertam o interesse da população, gerando um
movimento que cria conexão entre o local e o global. Por meio destas, surgem
iniciativas interessadas em ampliar a capacidade de proposições e expandir o meio
81

local de produção, estabelecendo assim a amplificação de interesse pelas


especificidades do local.

Atualmente, com o crescimento do movimento maker, estão ocorrendo a ampliação


exponencial de laboratórios de pequeno, médio e grande porte para fabricação digital,
que equaliza uma rede entre makers e máquinas. Um indicativo importante desta
situação é o número de laboratórios cadastrados no portal fablabs.io: atualmente são
mais de 2000 fablabs regularizados pelo MIT no mundo, – dentre os países da
América Latina com mais cadastros estão o Brasil: 125; Chile: 30; Argentina: 16;
Colômbia: 13.

Podemos nos posicionar no tempo, desde o surgimento das primeiras instalações no


início dos anos 2000, e constatar o atual momento de expansão que os laboratórios
de fabricação digital se encontram, levando em consideração a análise das
instituições de ensino e pesquisa e as iniciativas independentes.

O processo de implementação de laboratórios de fabricação digital no Brasil pode ser


caracterizado primordialmente segundo três aspectos principais: econômicos,
acadêmicos e culturais, sendo estes associados de maneira individual ou conjunta na
implementação (Figuras 55 e 56).

Ao longo da última década, o número de iniciativas de implementação de laboratórios,


contratação de serviços, organização de workshops e proposição de disciplinas
acadêmicas têm aumentado exponencialmente na área de Arquitetura e Urbanismo,
exigindo a necessidade de capacitação para garantir compreensão dos envolvidos no
andamento destes novos processos.

Ao fazer uma leitura do ambiente de desenvolvimento e pesquisa atual, é possível


considerar como significativas as correlações entre cada estágio do processo de
implementação de laboratórios de fabricação digital no Brasil (Tabela 1).
82

Tabela 1 - Estágios de implementação de laboratórios de fabricação digital no


Brasil.

Aspecto Econômico Aspecto Acadêmico Aspecto Cultural


Custo elevado de
equipamentos;
Primeiro Pesquisa e intercâmbios no Conexões do meio
ficam concentrados na indústria
Estágio exterior. local ao global.
e instituições de ensino e
pesquisa.
Referenciais regionais e Ampliação de
Redução de custo de internacionais; interesse pelas
Segundo
equipamentos de médio porte; Contatos interdisciplinares atividades
Estágio
Queda de patentes. de intercâmbio em possibilitadas
pesquisa. localmente.

Redução geral de custo de


Conexões entre
equipamentos; Nucleações;
Terceiro makers e
Equipamentos produzidos Grupos de pesquisa
Estágio equipamentos de
localmente; Movimento Maker.
fabricação digital.
Acesso ao uso doméstico.

Fonte: SPERLING, D.; CELANI, G.; et. Al. Fabricação digital na América do
Sul: um mapeamento de linhas de ação a partir da arquitetura e urbanismo,
2015.

Figura 55 - Laboratórios de fabricação digital no Brasil.

Fonte: Desenvolvido pelo Autor – Adaptação. Disponível em:


<https://fablabs.io>. Acesso em 10 jun. 2020.
83

Figura 56 - Mapa mundial das instalações de Fab Labs.

Legenda:

Laboratórios oficiais registrados

Europa - 844 Laboratórios

América do Norte - 432 Laboratórios

América Latina - 294 Laboratórios

Ásia - 196 Laboratórios

África - 157 Laboratórios

Oceania - 39 Laboratórios

Fonte: FabLabs. Disponível em: <https://fablabs.io>. Acesso em 10


jun. 2020.
84

3 EQUIPAMENTO DE FABRICAÇÃO DIGITAL ACESSÍVEL

Por meio dos resultados de pesquisas anteriores publicadas, como MackHaus (2019),
WikiLab (2017), WikiCurva (2016) e Casa Revista (2014), realizadas nos laboratórios
de fabricação digital de universidades como Mackenzie, USP, UNICAMP, UFRJ e
UFABC, e igualmente através de artigos acadêmicos relacionados, foi possível tomar
conhecimento dos principais equipamentos utilizados, envolvendo técnicas de
fabricação digital destinada a produção de componentes para construção em
arquitetura.

A partir das pesquisas identificadas, notou-se que para a produção de maquetes


físicas usa-se principalmente o corte a laser para estudos em escala reduzida, com a
produção baseada em peças de MDF. Por outro lado, para transpor tais modelos na
produção em escala real 1:1, na maioria dos casos é utilizada a fresadora CNC
(conhecida também como Router CNC), pois se permite mais liberdade no ambiente
de produção e pode-se trabalhar com uma diversidade maior de materiais presentes
em determinado projeto, possibilitando assim a fabricação dos componentes finais, ou
mesmo, a criação de ferramentas para fabricação de determinados componentes ao
longo de processo de construção e acabamento.

A partir desses fatos, conhecimentos e informações obtidos durante a pesquisa, foi


possível pensar na concepção de um equipamento alternativo que pudesse, além de
ser acessível para o atendimento das demandas apresentadas, permitir também o uso
de ferramentas intercambiáveis para realização de mais tarefas.

3.1 CONCEPÇÃO

A concepção do equipamento CNC partiu da necessidade encontrada em


disponibilizar uma máquina modular portátil, que pudesse atender demandas em
pequenas obras, e, deste modo, viabilizar a produção de componentes no canteiro de
obra. Usando como base conceitual os equipamentos CNC utilizados nos laboratórios
de universidades, se mostrou interessante permitir a replicabilidade do mesmo para
realização de testes em projetos acadêmicos ou comerciais.

A proposta inicial levou em consideração também sub demandas de fabricação de


componentes construtivos de edificações, que são necessárias ao longo da execução
da obra. Ao se trabalhar com o aproveitamento de materiais existentes, assim como
85

os processos de transformação por meio de tecnologias CNC, visa-se permitir a


autoconstrução e maior independência no canteiro de obra, diminuindo a contratação
de serviços externos para determinados procedimentos ao longo da execução.

O equipamento CNC foi concebido por meio da avaliação funcional e mecânica de


outros existentes (identificados na fundamentação teórica da presente pesquisa), e
validações feitas através de pesquisas sobre equipamentos de baixo custo, já
desenvolvidos por meio de projetos de hardware aberto4. A consistência encontrada
nos equipamentos existentes no mercado atende a uma proposta comercial,
direcionada a uma demanda que exige desempenho superior, justificando uma
construção mais sólida e robusta, para instalação e uso em local fixo. Constatou-se
que os artefatos desenvolvidos em trabalhos acadêmicos, em sua maioria, se
destinam a experimentação generalizada das tecnologias CNC, geralmente aplicando
o processo de fabricação subtrativo ou aditivo, e, deste modo, explorando
funcionalidades operacionais básicas de 3 eixos (Figura 57 e 58). Sobre estes,
levantaram-se comparações e reinterpretações, visando atender as necessidades
vinculadas à execução de componentes de madeira, moldes e outros itens concebidos
para o projeto de arquitetura. Todos os componentes desenhados foram criados sobre
referencias encontradas nas máquinas utilizadas nos laboratórios da universidade,
sendo uma releitura própria com base nos conhecimentos adquiridos ao longo de
experiencias previamente estabelecidas em montagens de impressoras 3D, kits de
robótica relacionados a tecnologia CNC e outros equipamentos. Nenhuma das peças
concebidas partiu de um modelo tridimensional existente, todas foram redesenhadas
sobre as referências apresentadas para atender a demanda de fabricar digitalmente
cada uma delas através do processo aditivo (FFF). Ficam como exceção apenas os
itens de componentes básicos de mecânica que já são produzidos na indústria, e
destinados a construção de equipamentos com as mais diversas funcionalidades.
Nesse grupo estão incluídos os perfis estruturais, guias lineares, patins, fuso esférico,
mancais, correias e motores.

4
Componentes e projetos para routers CNC - http://www.cncroutersource.com.
86

Figura 57 – Equipamentos CNC estudados no FabLab FAUM e no estúdio de


prototipagem PD Studio.

Fonte: Acervo do autor.

Figura 58 – Equipamentos CNC estudados em artigos publicados.

Fonte: (LEUNG, 2016; ANGHEL, 2016; BATISTA, 2017)


Adaptação do autor.
87

O equipamento proposto na presente pesquisa emprega capacidades e recursos já


conhecidos e explorados por pesquisadores (LEUNG, 2016; ANCHEL, 2016;
BATISTA, 2017), permitindo uma construção modular expansível e interoperabilidade
entre as tecnologias subtrativa, aditiva e formativa por meio da troca da ferramenta
operacional.

São muitas as capacidades exploratórias por meio da concepção de um equipamento


de fabricação digital. Ao se aprofundar nas inovações produzidas e nos testes
realizados em equipamentos utilizados nas pesquisas apresentadas no capítulo
anterior, notou-se demandas, sobretudo a busca por novos métodos de supri-las.
Como será visto a seguir, a presente pesquisa permitiu elucidar sobre as dificuldades,
investimentos e decisões tomadas em meio aos processos apresentados, onde a
definição da forma e materialidade colocados pelo arquiteto está igualmente atrelada
com a necessidade de se articular e definir soluções tecnológicas interdisciplinares.
Assim, no diagrama abaixo, é possível visualizar o escopo do processo de concepção
do equipamento CNC (Figura 59).

Figura 59 – Diagrama da concepção do equipamento CNC.

Fonte: Acervo do autor.

A concepção geral da parte mecânica se baseou numa estrutura de alumínio, por meio
de perfis extrudados, que garantem a precisão de alinhamento e esquadro do
88

conjunto, além de auxiliar na montagem e definir a dimensão da área de trabalho útil.


Na sequência, se estabeleceu a racionalização dos componentes de fixação que
realizam a ancoragem de cada conjunto que compõe os eixos X, Y e Z e a relação
com os motores de passo (Figura 60). Cada eixo é aplicado sobre o sistema de trilhos,
que é definido por elementos que garantem a liberdade de movimento do conjunto e
agem como facilitadores, assegurando a linearidade do deslocamento das cargas
colocadas sobre eles. E, por fim, o sistema de tração se dá através dos componentes
que absorvem a força gerada pelos motores e a transmitem em forma de movimento
linear sobre os trilhos.

Para formação da parte eletrônica foi necessária instalar uma placa controladora, que
recebe os pulsos elétricos enviados pelo software de controle utilizado no computador,
ou mesmo através de um painel operacional independente anexado ao equipamento.
A placa envia apenas o pulso elétrico simples, sendo este positivo ou negativo, que
passa por um segundo componente de controle denominado driver, que por sua vez
converte o pulso em corrente elétrica para o motor de passo, gerando a força de
movimento. Para o estabelecimento de limites dados pela área física de trabalho
definida, é necessária a disposição de sensores que enviam a informação de restrição
de movimento à placa de controle, para que o equipamento não execute comandos
que realizem deslocamentos a distâncias incompatíveis com os limites existentes.
Fechando essa distribuição, está a fonte de alimentação que garante o fornecimento
de energia aos drivers que controlam o fluxo que chega aos motores de passo, aos
sensores e, também, para demais componentes ligados à placa controladora.

A ferramenta se relaciona ao processo que se deseja aplicar, dessa forma, a definição


para acoplamento ao equipamento CNC está atrelada à necessidade demandada pelo
utilizador. Se aplicado o processo subtrativo em um material dimensionalmente
definido, se faz a escolha de uma ferramenta de fresagem ou de corte como o laser,
ou jato d’água. Se a demanda for a fabricação de um componente através do processo
aditivo, a ferramenta utilizada é um extrusor, que deposita o material escolhido
camada sobre camada até a materialização. O processo aditivo também pode incluir
e explorar outras ferramentas associadas, como braços robóticos mecanizados, que
permitem o uso de materiais existentes, manipulando seu agrupamento e disposição
peça por peça. Mas isso se configura para equipamentos em escalas diferentes,
destinados a outras demandas. Se a necessidade se configura apenas para uma
89

modificação formativa num determinado material, pode ser usada como ferramenta
um puncionador, que é definido como uma ferramenta que, por meio de pressão
exercida sobre as duas faces do material o deforma ou mesmo realizada cortes de
acordo com seu formato, ou utilizar um dobrador para transformar o mesmo, estes
implicam em mudanças também na maneira como o material é fixado e manipulado
no processo.

A etapa inicial de pesquisa esteve atrelada ao vínculo de eficiência destinada a


aplicações com os estudos relacionados à arquitetura e construção. Buscou-se assim,
a experimentação de como estariam dispostas a mecânica, eletrônica e ferramentas
existentes no projeto básico levantado. O equipamento visa empregar uma
modularidade que atende à demanda de trabalho em diferentes escalas, e ao mesmo
tempo, pretende garantir a portabilidade para efetuar deslocamento do equipamento
num canteiro de obra ou outra localidade. Promove igualmente a acessibilidade de
implementação e construção de um equipamento semelhante sem a necessidade de
grandes investimentos, além de permitir um design aberto para modificações de
acordo com as necessidades existentes em um projeto.

Figura 60 – Diagrama de concepção em blocos da base do equipamento CNC.

Fonte: Acervo do autor.


90

3.2 DESENVOLVIMENTO

A partir dos dados preliminares, levantados na etapa de concepção do equipamento,


foi possível identificar as diretrizes para dar início ao desenvolvimento dele, estudando
assim cada componente no ambiente virtual.

A base foi definida por perfis de alumínio extrudado, parafusados uns aos outros,
gerando um retângulo, que possui canaletas que permitem a fixação de componentes
e os trilhos que compõem o eixo X.

Para garantir um bom deslocamento linear ao sistema de trilhos e inibir a rotação dos
pontos de apoio, esse foi formado por guias lineares retificadas. Elas possuem os
patins como componente deslizante, munidos de rolamentos esféricos, que permitem
o alívio do atrito gerado pela carga colocada sobre os eixos. A fixação das guias é
feita por porcas especiais inseridas na canaleta do perfil de alumínio, nas quais são
parafusadas (Figura 61).

Figura 61 – Desenvolvimento da base em alumínio e fixação das guias


lineares do equipamento CNC.

Fonte: Acervo do autor.


91

Em seguida foi necessário desenhar o componente de suporte para o motor de passo 5


do eixo X, que é fixado sobre os patins da guia linear. O componente foi revisado de
acordo com a disponibilidade dos itens pesquisados no mercado, para a utilização
conjunta no sistema de tração. Como o movimento mecânico é garantido pelos
motores de passo. Os motores de passo são componentes eletromecânicos que
possuem controle preciso da posição do seu eixo, por meio dele é possível também
obter um controle extremamente preciso da velocidade e torque aplicados pelo motor.
Estes operam através dos componentes de tração, nesse caso optou-se pela correia
de borracha reforçada por cordonéis de aramida6, estes são definidos como as fibras
internas da correia que determinam sua força e resistência a tração. A correia por sua
vez está associada a polia dentada e rolamentos, dessa forma ela flexibiliza a
modularidade do equipamento e permite um ajuste facilitado em ampliações da área
de trabalho.

Para permitir a elevação da base de alumínio, foram desenhados os componentes de


apoio, que são fixados nas interseções dos perfis e servem como terminais de fixação
das correias, sendo um destes ajustável para aliviar ou tencionar mais a mesma.
Essas recebem a tração de rotação gerada no eixo do motor por meio de uma polia
dentada, que as mantém sempre esticadas em dois rolamentos fixos, que estão
alinhados paralelamente ao sistema de trilhos composto pelas guias lineares
(Figura 62).

5
O motor de passo é o componente eletromecânico, sendo um tipo de motor que possui a capacidade de
converter um sinal de entrada em um ângulo de rotação, dessa forma é capaz de manter extrema precisão de
rotação em seu eixo.
6
Os Cordonéis são equivalentes aos “músculos” da correia. São fabricados com poliéster ou aramida (Kevlar®)
dependendo da aplicação, que tem a propriedade de alongar-se, tendo a resistência necessária para suportar o
impacto por choque, estiramento, flexibilidade em torno da polia e promovem uma longa duração da correia.
92

Figura 62 – Desenvolvimento dos componentes de fixação dos motores do


eixo X e sistema de tração do equipamento CNC.

Fonte: Acervo do autor.

Com o intuito de manter uma adaptabilidade dimensional aos componentes estruturais


propostos e uma economia no processo de experimentação, para esta versão
desenvolvida do equipamento, foram definidos elementos de fixação entre os patins
dos trilhos de movimento, por meio de componentes fabricados digitalmente através
do processo aditivo. Eles foram produzidos com os polímeros termoplásticos PETG7
e ASA8 utilizando uma impressora 3D, estes polímeros possuem uma resistência
superior para o uso como componentes mecânicos, suportando abrasão e esforços
mecânicos repetitivos. Posteriormente, podem ser fabricados por meio da usinagem
de chapas de alumínio, que garantem maior rigidez e resistência ao conjunto.

O pórtico do eixo Y foi ancorado sobre os componentes de fixação dos motores do


eixo X (Figura 63). Para tal foram desenhados componentes para encaixar o perfil de
alumínio duplo, foram previstos os terminais da correia e as passagens do
cabeamento elétrico do motor esquerdo do eixo X. No eixo Y, foram previstas duas

7
O PETG (Polietileno Tereftalato Glicol) se caracteriza por uma funcionalidade muito similar ao ABS, boa
resistência à temperatura, duradouro e resistente a esforços, associado também a facilidade de ser impresso
como o PLA.
8
O ASA (Acrilonitrila Estireno Acrilato) é um polímero capaz de resistir ao tempo, resistente aos raios UV. Ele
possui rigidez maior que o ABS e, portanto, é um material adequado para aplicações exigentes. Outra
vantagem é a sua boa estabilidade dimensional sendo ideal para criar impressões industriais duráveis.
93

guias lineares, cada uma possui patins e estes são interligados por um componente
de fixação, que ancora o suporte do motor de passo, onde é adicionada outra polia
dentada que traciona a correia sobre mais dois rolamentos que estão fixos neste local.
O componente que fixa os patins serve para permitir melhor estabilidade ao conjunto
onde fica ancorada a ferramenta operacional escolhida, distribuindo assim melhor as
cargas inerentes aos movimentos que serão executados e evitando rotações
indevidas no sistema.

Figura 63 – Desenvolvimento dos componentes de fixação do pórtico do eixo


Y e suporte do motor de passo.

Fonte: Acervo do autor.

O bloco do eixo Z foi definido por uma placa de fixação que é acoplada ao componente
fixado ao conjunto de patins presentes nas guias lineares do eixo Y, sendo a base
para fixação do sistema de trilhos deste, que é composto por duas guias lineares
paralelas (Figura 64). O sistema de tração presente no eixo Z, é baseado em um fuso
com rolamentos esféricos, fixado por dois mancais em suas extremidades. Para
controlar o movimento, é adicionada uma polia dentada sobre o fuso, que possui uma
correia de ciclo fechado acionada por outra que está ligada a um motor de passo. Ao
fuso é fixado um componente que abraça a castanha do mesmo, sendo este acoplado
a placa de suporte para a ferramenta do equipamento, que é guiada através da fixação
94

aos patins das guias lineares. Por fim, é fixada a ferramenta ao conjunto, tornando-o
mecanicamente operacional

Figura 64 – Desenvolvimento dos componentes de fixação do eixo Z e


ferramenta operacional do equipamento CNC.

Fonte: Acervo do autor.

Para a etapa de desenvolvimento da eletrônica é definida a construção de uma


pequena caixa de controle, onde são plugados os cabos de cada componente que
necessita de energia elétrica para operar, sendo estes os motores de passo, os
sensores e a ferramenta operacional. Dentro são devidamente alocadas as fontes de
alimentação, os drivers dos motores de passo e a placa controladora escolhida. Assim,
são cabeados e interconectados de acordo com as funcionalidades providas pelo
software operacional escolhido.

A organização geral realizada no desenvolvimento foi permitida através da avaliação


feita sobre os sistemas desenvolvidos anteriormente, mantendo o design aberto a
possibilidades de modificações e aprimoramentos para o atendimento de outras
necessidades.
95

3.3 FABRICAÇÃO

Para a fabricação dos componentes de fixação desenvolvidos para o equipamento,


como mencionado anteriormente, utilizou-se a tecnologia de fabricação digital aditiva
FDM (fused deposition modeling), também referida como FFF (fused filament
fabrication), que opera através da deposição de material termoplástico aquecido a
determinada temperatura, permitindo a fusão entre as sucessivas camadas
depositadas para formar o objeto.

Para iniciar o processo de prototipagem é necessário dispor, no ambiente virtual


apresentado pelo software CAD, os modelos digitais tridimensionais dos componentes
desenvolvidos previamente. Na sequência, passam pelo processo de exportação em
arquivo de malha poligonal no formato STL (Figura 65), que representa o processo de
estereolitografia9, sendo geralmente usado para fins de prototipagem rápida,
realizando a produção camada por camada. Inicialmente este era realizado através
processos fotoquímicos pelos quais a luz faz com que monômeros e oligômeros
químicos se cruzem para formar polímeros. Este formato de arquivo STL descreve
apenas a geometria da superfície de um objeto tridimensional, sem qualquer
representação de cor, textura ou outros atributos de modelos CAD. É importante
conferir a qualidade da modelagem digital 3D, pois é necessário que no arquivo esteja
presente um objeto hermeticamente fechado, ou seja uma geometria sólida 10, onde
todas as faces poligonais do objeto estão devidamente conectadas, sem falhas de
união, para que possa ser devidamente compreendido no processo de fatiamento.

9
A estereolitografia é definhada por processos fotoquímicos pelos quais a luz faz com que monômeros e
oligômeros químicos se cruzem para formar polímeros e construir o objeto desejado.

10
Para realização de uma modelagem de sólidos, é possível a utilização de comandos baseados em operações
booleanas como união, subtração e interseção. A modelagem sólida não armazena apenas a geometria do
objeto final, mas também pode armazenar todas as formas primitivas e operações usadas para a sua
construção. Um modelo sólido é representação completa, única e livre de ambiguidades.
96

Figura 65 – Modelos dos componentes dos eixos X, Y e Z orientados para


fabricação.

Fonte: Acervo do autor.

Com os arquivos STL em mãos, pode ser iniciado o processo de geração dos arquivos
G-Code. Como explicado anteriormente estes possuem o código da geometria, dentro
deles estão listadas as coordenadas de movimento e os parâmetros de velocidade de
deslocamento, aquecimento e funcionalidades de demais componentes do
equipamento que está operando. Para gerar o G-Code é necessário posicionar cada
um deles na interface do software de fatiamento, definindo seu alinhamento e
orientação dentro da área útil de produção do equipamento utilizado. É fundamental
avaliar os esforços aos quais cada peça será submetida no conjunto do sistema; com
a correta orientação é possível otimizar a resistência do componente produzido, assim
como influenciar o tempo de produção. Mostrando como exemplo o componente de
fixação do motor do eixo Y (Figura 66), a face perpendicular ao motor deve ser
orientada sobre a plataforma da impressora 3D, dessa forma otimiza-se a resistência
para absorção dos esforços evitando colapso do protótipo, pois existe uma laminação
longitudinal na deposição das camadas, que confere uma performance adequada para
seu formato e posição de instalação.
97

Figura 66 – Simulação do processo de fabricação do componente


desenvolvido para fixação do motor do eixo Y

Fonte: Acervo do autor.

Os componentes fabricados seguiram as mesmas etapas de validação e orientação,


sendo produzidos com o material PETG e ASA, estes possuem boa resistência
mecânica e durabilidade compatível a sua utilização e função nesse tipo de
equipamento. Para fabricação de todos os componentes foram necessárias uma
média de 120 horas de impressão e uma bonina de 1Kg de matéria prima (Figura 67).
98

Figura 67 - Fabricação em impressora 3D da placa de fixação dos


componentes do eixo Z

Fonte: Acervo do autor.

3.4 MONTAGEM

O processo de montagem dos componentes do equipamento CNC teve início ao longo


da fabricação dos componentes de fixação, pois durante a etapa de desenvolvimento
foram adquiridos os componentes primários: as guias lineares, patins do sistema de
trilhos, correias, polias, rolamentos do sistema de tração e todo conjunto da eletrônica
com os motores de passo. Estes serviram para realizar a conferência de cada
componente de fixação proposto, através de medidas aferidas e o atendimento de
tolerâncias de encaixe adequadas.

Para iniciar a montagem, foi realizada a separação dos perfis de alumínio de seção
quadrada de 40mm x 40mm, que possuem 700mm de comprimento cada um,
compondo a base retangular e interligados por parafusos M8 de 40mm de
comprimento em suas extremidades.

Em seguida, a fixação das guias lineares do eixo X, que são alinhadas paralelamente
sobre as canaletas dos perfis da base de alumínio. São adicionadas porcas T nas
canaletas e parafusos M4 de 16mm de comprimento, colocados nas extremidades das
guias lineares, fixando-os com as porcas. Cada guia possui um patim com rolamentos
99

esféricos, para impedir que estes deslizem para as extremidades das guias lineares é
necessário protegê-las com fita adesiva, ou um terminal plástico, podendo ocorrer a
perda de esferas se removido de forma indevida da mesma (Figura 68).

Figura 68 – Fixação das guias lineares e patins eixo X.

Fonte: Acervo do autor.

Após essa etapa, foi feita a fixação dos componentes de suporte dos motores de
passo do eixo X sobre cada um dos patins, com 4 parafusos M5 de 16mm. Nesses os
motores são fixados com 4 parafusos M4 de 12mm, sendo no eixo do motor
adicionada uma polia dentada 5M (Figura 69).

Figura 69 – Fixação dos suportes dos motores do eixo X sobre os patins.

Fonte: Acervo do autor.


100

Abaixo do motor são posicionados e fixados os rolamentos com 2 parafusos M8 e


suas respectivas porcas, para posteriormente servirem como suporte de tensão e
tração por meio da correia dentada que é tracionada em uma das extremidades do
curso de deslocamento do eixo, permitindo que o torque do motor seja transferido do
eixo onde está a polia dentada 5M para a mesma, garantindo o movimento preciso
sem ocorrência de perda de passos em relação ao motor (Figura 70).

Figura 70 – Polia, rolamentos e tensionamento da correia no Eixo X e Y.

Fonte: Acervo do autor.

Logo após, foi feita a fixação dos apoios nas quatro extremidades da base de alumínio,
utilizando a porca T e parafuso M4 de 16mm, juntamente com a cavilha guia no perfil
de alumínio. Nos mesmos são então ancoradas as correias do eixo X, passando pelos
rolamentos e polias fixadas aos motores, sendo uma das extremidades ajustável para
tensioná-la, utilizando um parafuso m4 de 40mm em um terminal de regulagem.

Posteriormente, foi realizada a fixação do componente de base do pórtico do eixo Y,


parafusado sobre o suporte do motor X com 4 parafusos M4 de 20mm, sendo sobre
esse fixado o perfil de alumínio de seção retangular de 40mm x 80mm, que possui
700mm de comprimento. Para realizar o travamento do perfil de alumínio, são
adicionados dois componentes que o abraçam em suas extremidades e servem como
ancora da correia do eixo Y.
101

Depois, foi efetuada a fixação das guias lineares do eixo Y, uma superior e uma
inferior, sendo alinhadas sobre as canaletas do perfil e estabelecidas como no eixo X.
Sobre os patins das mesmas foi adicionado um componente de união, utilizando 8
parafusos m5 de 16mm. Assim, sobre esses se fixou o suporte do motor Y, juntamente
com o motor de passo, a polia dentada m5 e os rolamentos. Em seguida, a correia foi
ancorada nas extremidades do pórtico, sendo tensionada sobre os rolamentos e polia,
possuindo uma regulagem de tensão em um dos terminais.

Em seguida, foi feita a fixação da placa base do eixo Z sobre a ancoragem do suporte
do motor Y (Figura 71), utilizando 4 parafusos m4 de 25mm de comprimento. Sobre a
placa base são fixadas as guias lineares de 12mm, com 3 parafusos m3 de 16mm de
comprimento e os mancais que são suportes do fuso de rolamentos esféricos.

Figura 71 – Detalhes dos componentes de montagem do Eixo Z.

Fonte: Acervo do autor.

Adiante, foi realizada a fixação do suporte do motor do eixo Z na parte superior da


placa base, com 4 parafusos m4 de 40mm. Nesse é fixado o motor de passo com 4
parafusos m4 de 16mm, adicionando a polia dentada de 70mm em seu eixo. Sobre o
mancal superior do fuso foi adicionado um eixo e fixada a polia dentada de 30mm de
diâmetro, para então, a correia de ciclo fechado ser adicionada as duas polias.
102

Logo após, foi efetuada a fixação do suporte da ferramenta sobre os patins das guias
lineares do eixo Z, utilizando 8 parafusos m3 de 30mm de comprimento, sendo fixado
nestes o suporte da castanha do fuso. A seguir foi feita a fixação da ferramenta
operacional com 4 parafusos m7 e porcas compatíveis ao suporte.

Então foi feita a fixação dos sensores de fim de curso aos extremos de cada eixo. O
sensor X fica localizado na extremidade inferior direita da base de alumínio, o Y ao
lado direito do pórtico, próximo a terminação da correia do eixo e o Z fica sobre a placa
base, ao lado da polia dentada do fuso deste eixo.

Posteriormente, se deu a preparação do cabeamento dos componentes e organização


dos mesmos por meio das esteiras porta cabos e canaletas. E após isso, a preparação
da caixa de controle, fixando as fontes de alimentação, os drivers e a placa
controladora CNC. Por fim, efetuou-se a ligação dos fios em cada um dos terminais
dispostos nos drivers e na placa controladora.

O equipamento assim passa a atingir o estágio operacional, podendo ser conectado


ao computador por meio de uma porta USB para o início dos testes funcionais.

Como resumo sobre os obstáculos vencidos na fabricação de componentes


prototipados em 3D para montagem do equipamento CNC, foi possível constatar e
experimentar a eficiência de transmissão dos esforços mecânicos entre cada um
deles, assim assegurou-se que sua utilização pôde garantir um funcionamento
adequado. Existiam dúvidas sobre as tolerâncias necessárias para encaixar cada
componente prototipado sobre os elementos do sistema de tração, motores e demais
estruturas, mas ao longo dos testes e revisões tudo foi assentado e fixado de acordo
com o projeto (Figura 72, 73 e 74).
103

Figura 72 - Ilustração 3D em vista isométrica do equipamento CNC montado.

Fonte: Acervo do autor.

Figura 73 - Equipamento montado para execução de testes

Fonte: Acervo do autor.


104

Figura 74 - Verificação da área útil operacional do equipamento 500mm x


450mm

Fonte: Acervo do autor.


105

3.5 TESTES INICIAIS

Com a montagem do equipamento CNC finalizada foi iniciada a etapa de testes, onde
primeiramente efetuou-se uma conferência no movimento de cada eixo. Na montagem
inicial proposta foi apresentado um plano de trabalho com 3 eixos, X, Y e Z
(Figura 75), sendo possível realizar atualizações operacionais para 4, 5 ou 6 eixos.

Figura 75 - Ilustração 3D em vista isométrica dos 3 eixos utilizados no


equipamento desenvolvido: Router CNC de 3 eixos

Fonte: Acervo do autor.

A placa controladora utilizada opera por meio do movimento dos eixos X-Y-Z através
do software Mach3. Este software permite a ponte de comunicação entre o
computador e a placa controladora escolhida para o equipamento CNC, promovendo
uma interface gráfica que permite acompanhar todo o processo de produção
programado no arquivo G-Code, ele também gerencia as velocidades durante o
processo de fabricação, regula o movimento dos motores de passo, controla a tabela
de coordenadas de trabalho entre ou funções de gestão. Por meio dele é realizada
toda a conversão dos sinais digitais enviados pelo computador para pulsos elétricos
que são recebidos pelos drivers, regulando assim a intensidade dos deslocamentos
realizados pelos motores de passo. Para calibrar o movimento do equipamento foi
necessário fazer um cruzamento comparativo entre o valor de deslocamento exigido
no software e o movimento que ocorre mecanicamente. Dessa forma, foi feita uma
entrada no painel de parâmetros requerendo um movimento de 100mm, e, em
seguida, feita a medição do deslocamento real efetuado. Inserindo este valor no
106

software foi computada e determinada a intensidade necessária para efetuar o


movimento real de 100mm. Após calibrar o movimento de todos os eixos, foi possível
iniciar os testes com geometrias bidimensionais básicas no material MDF.

O teste de corte de geometria foi executado com um círculo de 400mm. Dessa forma
foram feitas aferições em suas medidas e qualidade de corte analisando a existência
de vibrações (Figura 76).

Figura 76 - Ilustração 3D em vista isométrica dos 3 eixos utilizados no


equipamento desenvolvido: Router CNC de 3 eixos

Fonte: Acervo do autor.

Em um primeiro momento foram constatadas vibrações e desvios de alinhamentos,


notando-se pequenas folgas nas correias e incidência de falta de rigidez nas placas
de fixação do eixo Z, prototipadas com a tecnologia FFF. Como sugestão para
melhoria do equipamento, foi levantado que as mesmas podem ser otimizadas através
da fabricação em placas de liga metálica, como o alumínio, ou mesmo outros materiais
com bom comportamento mecânico como o acrílico ou policarbonato.

Para verificação de uma operação de usinagem em 3 eixos, alguns componentes


projetados inicialmente sofreram modificações e atualizações para permitir o
funcionamento desejado no equipamento. Assim foi realizado um teste com uma
seção de uma tora de madeira, experimentando a aplicação de um relevo
tridimensional sobre sua superfície. Foram obtidos bons resultados de limpeza e
desbaste do objeto (Figuras 77 e 78).
107

Figura 77 - Elemento com relevo tridimensional sendo usinado no


equipamento CNC

Fonte: Acervo do autor.

Figura 78 - Detalhe dos níveis da superfície usinada

Fonte: Acervo do autor.

Os testes permitiram avaliar as capacidades e potencialidades, assim como revisões


necessárias no desenvolvimento do equipamento CNC, que se destina ao auxílio em
pesquisas acadêmicas e, também, ao ambiente produtivo efetivo. A possibilidade de
experimentação com outras ferramentas operacionais também permitiu a utilização
ampla de outros materiais e processos.

Como capacidade, o equipamento se mostrou apto a produção e fabricação de


componentes, permitindo a materialização de elementos do projeto, trazendo assim
108

maior compreensão espacial, formal e compositiva ao logo do processo de


desenvolvimento.

As potencialidades encontradas se colocam pelo incentivo em promover o


desenvolvimento de mais processos utilizando a tecnologia CNC, podendo pequenas
equipes de obra empregar sua utilização não somente a projetos totalmente definidos
por fabricação digital, mas também execução de fôrmas para elementos moldados in-
loco. Por meio da utilização de uma ferramenta diferente acoplada ao equipamento se
permiti o uso do processo aditivo, onde por meio de uma massa cimentícia, podem
ser confeccionados módulos de elementos vazados, entre outros elementos
adequados ao projeto.

Como revisões necessárias, a principal questão levantada foi a estabilidade da


estrutura através dos componentes de fixação, que precisam de maior rigidez no
sistema como um todo, sendo assim a utilização de elementos maciços usinados
garantiria o funcionamento otimizado, assim como a adição de redutores planetários11
nos eixos dos motores para obter ganho no torque, facilitando o movimento do
equipamento em tarefas de maior exigência mecânica.

3.6 UTILIZAÇÃO DO EQUIPAMENTO CNC

A utilização do equipamento CNC pode ser definida a partir de diferentes técnicas e


de acordo com os materiais empregados, sendo o processo definido na preparação
da ferramenta operacional e na necessidade colocada em projeto. Dependendo da
demanda apontada, pode-se prosseguir para o uso do processo subtrativo, aditivo ou
formativo.

Ao definir o processo como subtrativo, dispomos da escolha do material geralmente


definida entre tipos de painéis para corte ou mesmo blocos maciços para usinagem
de geometrias tridimensionais ou confecção de moldes. Dentre estes, estão diversos
tipos de madeira, polímeros, metais, minerais e compósitos. Para cada um, uma

11
O Redutor planetário é um componente mecânico utilizado para diminuir a velocidade de rotação de um
sistema. Ao mesmo tempo, serve para aumentar o torque transmitido, o que garante um funcionamento
otimizado de um projeto completo de automação industrial. Entre as diversas aplicações, ele pode ser usado
em um sistema com correia dentada ou cremalheira.
109

ferramenta de corte específica é necessária para a realização da fabricação (Figuras


79, 80 e 81).

Figura 79 – Operações subtrativas com uso de fresadora

Fonte: Acervo do autor.

Figura 80 – Operações subtrativas com uso de laser

Fonte: Acervo do autor.


110

Figura 81 – Operação de usinagem realizada com o equipamento


desenvolvido utilizando ferramenta de fresagem

Fonte: Acervo do autor.

Na definição pelo processo aditivo, é necessário escolher o tipo de manipulação


realizada com o material. No equipamento desenvolvido, são aplicáveis os métodos
que realizam a deposição do material (Figura 82). Para os termo plásticos, a
manipulação acontece através da aplicação de determinada temperatura, para que se
atinja o ponto de fusão. Para materiais pastosos como os cimentícios ou cerâmicos,
existe uma formulação específica no traço da massa para obter uma consistência
adequada de extrusão. Dessa forma, ao realizar a deposição do material se permitirá
a sobreposição de camadas consistentes e com um tempo de cura adequado,
evitando deformações ao longo do processo de fabricação.
111

Figura 82 - Operações aditivas com extrusor

Fonte: Acervo do autor.

Optando-se pelo processo formativo, é necessário a utilização de uma ferramenta


específica para cada tipo de material. Se for aplicada deformação sobre uma chapa
metálica, uma ferramenta com ponta arredonda e lisa é necessária. Utiliza-se por
exemplo o método SPIF (Single Point Incremental Forming). Este método é definido
por uma sequência de movimentos incrementais que pressionam a ferramenta sobre
o material, até que este assuma a deformação definida na geometria projetada
(Figura 83). O material necessita de uma fixação adequada a área de trabalho do
equipamento para evitar variações na geometria.

Figura 83 – Operação formativa por pressão incremental - SPIF

Fonte: Acervo do autor.


112

Na presente pesquisa, o equipamento desenvolvido foi demandado essencialmente


da utilização do processo subtrativo (Figura), que atende a necessidade de produção
dos componentes para a fabricação de moldes, realiza o corte de peças utilizadas
como reforço para estrutura e se destina a produção de elementos de fixação para a
vedação do modelo de construção de habitação formulado.

O processo aditivo também tem seu espaço de utilização para efetuar testes de
compósitos, resinas e materiais pastosos, podendo ser conduzido de maneira paralela
nas experimentações. Foi desenvolvido na fase de testes do equipamento CNC um
bico extrusor experimental que pode ser usado como ferramenta operacional no lugar
do motor spindle que utiliza as fresas no equipamento CNC (Figura 84 e 85). Este
extrusor de materiais pastosos levou em consideração protótipos realizados em
pesquisa que tinha como objetivo o desenvolvimento e teste de um dispositivo de
extrusão de pastas ou argilas, este destinado a uso como um substituto direto para a
extrusora termoplástica convencional de uma impressora 3D que utiliza a tecnologia
FFF (AMZA; POPESCU et al, 2017).

Figura 84 – Modelo digital do extrusor de pastas projetado

Fonte: Acervo do autor.


113

Figura 85 – Protótipo do extrusor de pastas

Fonte: Acervo do autor.

Portanto, após a realização dos processos de criação do equipamento, e testes das


ferramentas operacionais a pesquisa se inclina a apresentação do processo de
confecção de componentes para a produção habitacional e visa apresentar
possibilidades explorativas para esse tipo de demanda.

4 SISTEMAS CONSTRUTIVOS MULTIMATERIAL ATRAVÉS DA FABRICAÇÃO


DIGITAL

Os sistemas construtivos podem ser definidos através da utilização de diversos


materiais disponíveis, para isso leva-se em consideração qual finalidade ele está
sendo destinado e igualmente a necessidade de resistência que sua aplicação
demanda. Para escolher devemos realizar a definição de suas características
construtivas, podendo ser por meio de pequenos módulos associativos, elementos
planos longitudinais, pré-moldados monolíticos modulares dentre outros. Cada um
destes possui um material que permitirá um desempenho adequado a sua função.
114

Na presente pesquisa os materiais explorados são os compósitos, que têm se


apresentado de grande valia para o desenvolvimento de sistemas construtivos que
envolvem a fabricação digital e suas diversas etapas na construção. Por meio deles é
possível formar diversos tipos de multimateriais, desenvolvendo qualidades que
envolvem a mistura de propriedades específicas de materiais conhecidos. Podemos
citar a junção dos materiais concreto e fibras de polímero de alta resistência, que
permitem a formação de um componente que pode suportar cargas elevadas e
garantir ainda o alívio do peso específico do elemento produzido. Em uma outra
vertente é possível analisar as propriedades do grafeno, somado a mistura feita com
certos polímeros, gerando como resultado materiais denominados super polímeros,
que permitem a criação de superfícies mais leves e finas, possuindo altíssima
resistência, como também a possibilidade de propriedades térmicas reflexivas, entre
outras.

Após considerar todos os casos apresentados anteriormente no catálogo, a pesquisa


ficou direcionada a elaboração de elementos construtivos desenvolvidos através da
interação híbrida entre os componentes fabricados digitalmente e os elementos que
são fabricados com a soma de processos; por exemplo, um molde fabricado
digitalmente para uso em um equipamento de injeção automatizado ou mesmo
manual, agregando algumas outras cadeias de produção.

Para avaliar a produção de um molde, deve-se verificar primeiramente se o objeto em


questão permite a produção por meio da injeção de matéria prima e se proporciona
um desmolde eficiente. Objetos simples podem se utilizar de moldes de duas faces
fixas, que promovem um movimento em um único sentido para o desmolde. Em um
objeto mais complexo, se faz necessário a utilização de gavetas, que permitem que
um elemento móvel deslizante gere a adição de perfurações internas no mesmo, para
que mecanicamente possa ser realizado um desmolde rápido (Figuras 86 e 87).
115

Figura 86 - Módulo simples de bloco perfurado (à esquerda), módulo proposto


possui necessidade de aplicação de gavetas (à direita).

Fonte: Acervo do autor.

Figura 87 - Modelo conceitual do desmolde simples (à esquerda) e desmolde


com a necessidade de utilização de gavetas (à direita)

Fonte: Acervo do autor.

Ao observar sistemas construtivos desenvolvidos apenas com a fabricação subtrativa,


como por exemplo o sistema Wikihouse, para a confecção dos elementos são
apresentadas algumas etapas onde existem ineficiências no aproveitamento de
material durante processo de corte. Cada chapa de material não permite um
aproveitamento total e estes resíduos acabam sendo descartados pela falta de meios
de transformação no local, exigindo uma logística de encaminhamento do mesmo para
reciclagem para garantir um reuso. Para evidenciar isso, podem ser conferidas as
perdas remanescentes de matéria prima sobre uma mesa de corte de um
equipamento CNC, onde vários painéis residuais são deixados de lado apenas com
116

as marcas dos componentes deles extraídos, isso acarreta um grande volume de


material que poderia ser triturado e destinado a outras produções.

O intuito do da pesquisa relacionada ao uso da fabricação digital para confecção de


moldes, como auxílio na produção de um componente construtivo ou diversos
componentes individuais, gera uma ramificação do processo produtivo, não
sobrecarregando o equipamento CNC, e sim, utilizando-o essencialmente nas etapas
do processo que envolvem a produção dos componentes personalizados para o
projeto a ser construído. Podemos então avaliar um crescimento da máquina
produtiva, que pode oferecer setores de produção distintos, não ficando somente
afunilados perante a demanda direta que um equipamento CNC pode produzir. Assim
se compõe um setor de produção digital customizado, com equipamento e moldes
sendo utilizados de maneira independente, podendo igualmente existir um setor de
reuso que prepara o resíduo de painéis utilizados no processo CNC para serem
reciclados como algum tipo de agregado para posterior utilização, como fibras na
mistura da massa de injeção dos componentes fabricados nos moldes.

Existem diversos materiais disponíveis para viabilizar a composição da matéria prima


que pode ser usada na fabricação de componentes. Permite-se seu uso através dos
moldes e fôrmas desenvolvidas através da fabricação digital, podendo elencá-los nas
seguintes categorias:

● Polímeros virgens e reciclados;

● Resinas;

● Aglomerantes;

● Fibras naturais ou sintéticas.


117

4.1 EXPERIMENTO

O estudo em desenvolvimento nessa pesquisa, intitulado como PolyHaus - dada a


diversidade de materiais que podem ser empregados na produção dos elementos
construtivos -, possui componentes modulares que seguem a base de um bloco
vazado simples, que pode ser intertravado entre si por meio de conexões de pressão
e encaixes. O experimento realizado concentra-se no desenvolvimento destes blocos,
que por sua vez não necessariamente possuem uma influência direta na qualidade
final da obra, ou mesmo apresentam uma solução diversificada em comparação as
frequentemente utilizadas nos projetos apresentados anteriormente. Estes blocos
devidamente agrupados permitem a montagem da estrutura primaria da construção,
que em seguida é vedada por meio de painéis intertravados lateralmente nos mesmos,
e os caixilhos e portas são anexados nas posições definidas no layout, por meio de
cunhas de pressão ou parafusos. Este projeto permite uma variedade de formulações
nos componentes utilizados na construção, por meio da utilização dos multimateriais,
aplicados nessa fase apenas para verificações de processo produtivo. Para estes,
pode ser levado em consideração tanto a utilização de materiais compósitos, como
igualmente os painéis laminados ou aglomerados, formados por materiais diversos
para uso como estrutura principal, bem como componentes pré-fabricados
secundários, dado exemplo as vedações, esquadrias, forro dentre outros. Ao utilizar
esse tipo de material não necessariamente está sendo apresentado como melhor que
um outro material já disponível, sendo que outros materiais como a madeira, ou
mesmo painéis simples de compensado ou outros podem ter dentro de suas
aplicações resultados tão bons quanto ou mesmo melhores, dependendo de sua
inserção geográfica, climática e outros critérios de regionalidade, e de como é definido
seu uso e aplicação no projeto.

Para definição do compósito utilizado nos moldes desenvolvidos no experimento,


foram elencados os polímeros com boa disponibilidade no mercado, recicláveis, assim
como o custo-benefício para utilização na construção civil. O WPC (Wood Plastic
Composite) foi o tipo de compósito definido, utilizando em média 50% do volume de
composição em fibras de madeira e os outros 50% de polímeros compatíveis. Os
polímeros definidos para composição foram o PP (Polipropileno), PET (Tereftalato de
Polietileno) e LDPE (Polietileno de baixa densidade).
118

O tratamento com 50% de serragem e mistura de todos os


termoplásticos (T5) apresentou tendência de redução de dilatação
em espessura, pois absorve 0,28% de água e mantém o balanço de
absorção de água em 16,2% onde a densidade aparente foi de
1.206 kg / m³. Para as propriedades mecânicas, a compressão
longitudinal e resistência à tração estão em torno de 142,4 e 32,8
MPa, respectivamente. Essas características promovem uma
resposta otimizada ao compósito. Assim, adequasse a utilização em
aplicações estruturais, como paredes internas ou externas, uma vez
que o índice de absorção de água é baixo e as altas propriedades
mecânicas permitem ser mais resistente. (LÓPEZ, Y. M.; PAES, J.
B.; RODRÍGUEZ, E. M.; p. 369, 2018)

Para realizar o experimento, a definição foi de um elemento de construção cúbico, que


é formado por duas partes de secção triangular, encaixadas entre si, formando um
bloco. Foi recuperado da base do trabalho final de graduação produzido em 2016 e
reavaliado e otimizado para o processo de produção aqui definido. O módulo permite
que a construção seja reutilizável e desmontável, sendo que todas as peças são
encaixáveis, por anéis de pressão também feitos em polímero compósito, assim
formando uma malha vasada entre si para garantir a capacidade de manuseio interno
de instalações elétricas e hidráulicas pelas paredes virtuais, possibilitando
posteriormente a vedação por meio de painéis fixados nas faces dos blocos. A
construção através destes foi levantada em consideração apenas a realização de um
molde experimental, não buscando provar eficiência nesse tipo de construção em
comparação aos demais meios de construção existentes (Figura 88).

Figura 88 - Modelo de bloco para injeção em termoplástico, paredes maciças

Fonte: Acervo do autor.


119

A superfície externa sólida do componente foi trocada por uma malha nervurada, para
permitir o consumo reduzido de matéria prima na fabricação do modulo de construção,
assim é possibilitada uma melhora no processo de injeção (Figura 89). Em
comparação com o modulo maciço, desenvolvido anteriormente, cujo volume era de
366 cm³, o novo modelo atingiu um volume de 204 cm³. Assumindo que o peso
específico da matéria prima WPC é de 0.91 g/cm3, na primeira situação cada módulo
triangular tinha uma massa de 333 gramas; a nova versão do bloco chegou a 185
gramas por módulo. Possibilitou-se assim uma economia de 44% para a produção dos
módulos, reduzindo o consumo de matéria prima e mantendo-se a eficiência
mecânica. Esse cálculo visa mostrar a possibilidade de economia na confecção do
mesmo elemento apenas removendo parte da matéria prima utilizada, alterando-o e
adicionando nervuras e vazios sobre sua geometria base.

Figura 89 - Modelo de bloco para injeção em termoplástico, paredes


nervuradas.

Fonte: Acervo do autor.

Por meio do processo de injeção manual, realizado por equipamentos de baixo custo
- cujo projeto é aberto à comunidade -, é possível realizar a montagem de um molde
e criar componentes a um custo acessível. O custo estimado12 em um ambiente de
produção mínimo para 1kg de matéria prima seria de R$4,20, permitindo assim um
custo médio de R$2,10 para formação de um bloco composto por 2 partes, somado
ao custo elétrico médio de R$0,90 por injeção de um conjunto.

12
Estimativa levantada no portal do plástico https://www.plastico.com.br por meio de revendas de matéria
prima afiliadas e tabelas de consumo em 12/09/2020.
120

4.1.1 A CONSTRUÇÃO DE MOLDES

Ao realizar a modelagem digital do molde, é necessário racionalizar os componentes


para possibilitar a geração dos arquivos G-Code por intermédio do software CAD/CAM
escolhido, assim os mesmos podem ser encaminhados para ao equipamento CNC
para prototipagem. Estes componentes são definidos de acordo com o material
disponível para confecção do molde, na indústria costuma ser construído em blocos
macios de material metálico de alta resistência, pois estes são utilizados para injetar
centenas de milhares de peças e necessitam de uma estabilidade dimensional muito
criteriosa para não gerar falhas na produção. Os moldes tratados nessa pesquisa se
baseiam em métodos mais econômicos, dessa forma são usadas chapas de
espessura reduzida, para execução de cortes fragmentados de componentes planos
para uma posterior montagem (Figura 90 e 91).

Figura 90 - Modelo fragmentado dos componentes do molde.

Fonte: Acervo do autor.


121

Figura 91 – Simulação de corte dos componentes do molde no software


RhinoCAM.

Fonte: Acervo do autor.

Durante a usinagem dos componentes foi possível avaliar de maneira mais criteriosa
as capacidades funcionais alcançadas com o equipamento CNC projetado. O
processo de usinagem ocorreu como esperado, mas puderam ser notadas vibrações
e oscilações na ponta da ferramenta de corte utilizada, estas ocasionadas por conta
do atrito e força exercida sobre o material cortado. Sendo assim, foi constatado que a
fixação do motor spindle era afetada por tensões que geravam tais vibrações. Para
solucionar essa questão foram definidos componentes mais resistentes a essas
condicionantes, sendo que durante o processo de fabricação foi reduzida a velocidade
de avanço de corte e a profundidade entre cada passada para permitir um corte
estável (Figura 92).
122

Figura 92 – Protótipo da base do Molde em acrílico.

Fonte: Acervo do autor.

Após realização do corte da base foram estabelecidos critérios para permitir uma
otimização do equipamento CNC. Dessa forma foi feita a usinagem de alguns
componentes para substituição da base de fixação da ferramenta de corte. O material
definido para fabricação deste foi o acrílico em um primeiro momento, para assim não
gerar aumento do custo de produção do componente em comparação com os
impressos através da tecnologia aditiva (Figura 93).
123

Figura 93 – Remoção e instalação da nova base do eixo Z usinada em acrílico


de 20mm de espessura (à Esquerda).

Fonte: Acervo do autor.

Após instalação destes componentes foi possível verificar um melhor funcionamento


do equipamento CNC, assim foi dado prosseguimento na usinagem dos elementos
para finalizar a montagem do molde. Na confecção das paredes deste foi definido
como material o compensado naval de 10mm, garantindo mais economia no processo
de confecção do primeiro molde (Figura 94).

Figura 94 – Elementos cortados no equipamento para construção do molde.

Fonte: Acervo do autor.


124

Após produção de todos os elementos foi iniciada a montagem do molde, para assim
realizar aferição de medidas e tolerâncias. Esse molde foi destinado a experimentação
futuras com massas de secagem rápida, pra conferir o desmolde e propriedades
dimensionais do modulo fabricado (Figura 95).

Figura 95 – Molde montado ao lado de modelo realizado com prototipagem


rápida FFF.

Fonte: Acervo do autor.

4.1.2 A PRODUÇÃO DE COMPONENTES CONSTRUTIVOS

O processo de produção de componentes construtivos teve início através da


prototipagem rápida, utilizando a tecnologia de impressão 3D FFF, dessa forma pôde
ser realizada da conferência física do modelo desenvolvido, assim como a inter-
relação entre os módulos e os encaixes entre eles. Para isso utilizou-se o material
PETG e ASA, estes possuem propriedades que promovem um melhor comportamento
nos encaixes realizados e influenciam positivamente na durabilidade do protótipo ao
longo do uso (Figura 96, 97, 98 e 99)
125

Figura 96 - Modelo de bloco com os anéis de encaixe propostos para


interligação.

Fonte: Acervo do autor.

Figura 97 - Modelo do modulo nervurado prototipado em escala 1:1.

Fonte: Acervo do autor.


126

Figura 98 - Modelos prototipados do bloco e anéis de pressão para encaixe


em escala 1:1.

Fonte: Acervo do autor.

Figura 99 - Modelos prototipados associados com anéis de pressão em escala


1:1.

Fonte: Acervo do autor.


127

A confecção dos elementos construtivos permitiu realização uma avaliação mais


próxima do sistema em desenvolvimento. Com isso pôde ser notada a necessidade
de desenvolvimento tecnicamente mais aprofundado, sendo possível constatar
ineficiência da forma produtiva apresentada. Ao se propor um método construtivo por
meio de blocos é necessário levar em consideração quem vai ter com contato com
esse processo de construção, como também realizar uma leitura sobre a eficiência
logística.

Muitos processos existentes no meio contemporâneo de construção em arquitetura


levam em conta o transporte e a eficiência na montagem dele. Levar os blocos
fabricados até o ambiente de construção, e realizar a construção no local com mão de
obra local pode acarretar diversos problemas relacionados a construção. Alguns
relacionados mesmo a experiencia com o sistema proposto ou mesmo a
armazenagem de todos os elementos no canteiro de obras.

Num ambiente ideal, poderia ser definido um meio de levar até o local da obra
elementos finais semiacabados, como paredes, com portas e janelas já previamente
fixadas, como também o espaço que abrigam áreas molhadas como os módulos
sanitários, que poderiam já ser encaminhados da fábrica totalmente prontos para
anexar a construção.

O modelo de amarração apresentado abaixo visa demostrar apenas uma


possibilidade de montagem, com a qual podem ser definidos o aproveitamento dos
módulos, e alocação de aberturas para acomodação de elementos secundários, como
caixa de distribuição elétrica e outros subsistemas que podem ser incorporados as
paredes construídas (Figura 100).
128

Figura 100 – Modelo de amarração de uma extremidade de parede montado


com os blocos.

Fonte: Acervo do autor.

Para realização de um elemento destinado a vigas ou mesmo pilares, pois, estes são
estruturalmente mais requisitados, foram previstos painéis associados aos módulos
base para ampliar o intertravamento destes, proporcionado uma alma interna de
blocos, dessa forma auxiliando os painéis a resistirem aos esforços pela associação
de resistências a tração e compressão absorvidas por cada tipo de componente. Este
tipo de elemento foi proposto sem a realização de testes físicos, sendo elaborado
apenas para uma conferência virtual dos limitantes físicos que os blocos podem
acabar sendo submetidos. (Figura 101).
129

Figura 101 - Modelo de montagem de viga utilizando painéis laterais de


reforço sobre os módulos.

Fonte: Acervo do autor.

No exemplo construído virtualmente, pode ser notado o relacionamento entre cada


componente. Uma habitação desse tipo poderia ser construída previamente em um
ambiente tecnicamente preparado, podendo este ser uma fábrica que possua suporte
ao processo de industrialização e um maior controle de qualidade. Nesta pesquisa foi
proposta de maneira experimental a construção executada no local, com uma equipe
reduzida, que promova um diálogo entre arquiteto, projeto e comunidade. Dessa forma
possibilitando diversificação da utilização de sistemas convencionais de construção e
trazendo um maior apelo social ao projeto em questão (Figura 102).
130

Figura 102 – Modelo experimental de habitação em perspectiva explodida –


Simulação de encaixe entre componentes.

Fonte: Acervo do autor.

4.2 FERRAMENTAS PARA FLEXIBILIZAR PROCESSOS DE FABRICAÇÃO

Com base no levantamento de diversos processos de fabricação de componentes


utilizados nos projetos apresentados, foi definido como principal processo na pesquisa
o método de injeção por molde fabricado digitalmente, seguido pela fresagem CNC
para fabricação de outros componentes que se associam ao bloco de construção
proposto. Pode-se considerar a injeção de diversas matérias primas em um mesmo
molde e como definido no tópico anterior, optou-se pelo uso do WPC.

Uma vez que um objeto tenha sido projetado, pode ser realizado o processo de
usinagem para criar o molde, geralmente feito em aço ou alumínio. O molde pode ter
uma única cavidade de entrada para a matéria prima ou mesmo múltiplas, que
131

devidamente alocadas, permitem a distribuição uniforme da matéria prima dentro do


molde para que o componente tenha uma saída perfeita e sem deformações (Figura
103).

Figura 103 – Modelo de molde fabricado digitalmente e processo de injeção do


bloco de construção.

Fonte: https://www.preciousplastic.com. Acesso em: 30 nov. 2020.

Os blocos fabricados através do molde podem ser agrupados e consolidar uma


parede. Como são todos idênticos facilita-se o processo de encaixe e intertravamento
para posterior instalação de esquadrias das portas e janelas (Figura 104).
132

Figura 104 – Parede formada por bloco injetados por meio do molde.

Fonte: https://www.preciousplastic.com. Acesso em: 30 nov. 2020.

No ambiente de produção também é possível a geração de outros subprodutos, como


vigas e elementos de fechamento longitudinais. Por meio do bico de extrusão de uma
injetora, podem ser fabricados perfis de formatos variados e uma prensa de pequeno
porte pode ser usada para confecção de painéis uniformes (Figura 105).

Estes equipamentos promovem igualmente a formação de componentes reciclados.


Uma fragmentadora possibilita o aproveitamento de materiais plásticos e fibras
diversas de madeira, bambu entre outras e ao realizar esse processo, podem ser feitas
formulações de materiais compósitos, que após serem transformados na injetora ou
na prensa, possibilita-se a confecção de componentes através do equipamento CNC.
133

Figura 105 – Equipamentos para produção e formação de materiais


compósitos.

Fonte: https://www.preciousplastic.com. Acesso em: 30 nov. 2020.

Os materiais compósitos utilizados podem ser facilmente reciclados e necessitam de


temperaturas e pressões relativamente baixas. Deve-se apenas classificá-los de
acordo com a finalidade e resistência, para que seja empregado na formulação de
elementos construtivos. O conjunto de máquinas apresentadas possibilita a
montagem de uma pequena oficina para transformação de compósitos. Este
maquinário se utiliza de técnicas industriais de transformação e pode ser montado por
meio de acompanhamento de esquemas que estão disponibilizados online e são de
código aberto.
134

5 DISCUSSÃO SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS

Os equipamentos CNC estudados foram construídos através da modificação de


equipamentos existentes, que possuíam restrições dimensionais, funcionalidades
limitadas e mobilidade comprometida por terem uma estrutura de maior porte. O
equipamento desenvolvido buscou avançar em quesitos como a construção modular,
portabilidade para translado, maior acessibilidade para o custo de produção e uso do
design aberto para futuras modificações.

O intuito na concepção de um equipamento de fabricação digital é promover possíveis


utilizações na construção civil, permitindo meios de viabilizar e replicar o processo de
fabricação de maneira mais acessível.

Após analisar os trabalhos anteriormente apresentados, constatou-se a utilização


predominante do processo de fabricação subtrativo para obtenção de componentes
de construção de maneira direta, através de file-to-factory.

O processo de projeto apresentado se propôs, através de um equipamento CNC,


acelerar a fabricação de elementos contrutivos, por meio da confecção de moldes que
auxiliam na replicação de componentes repetitivos, permitindo alívio nas demandas
file-to-factory. O conceito está em aproximar as ferramentas de fabricação, somando
suas capacidades para diversificar os processos de produção processos.

No Brasil, atualmente não temos difundida uma utilização dos materiais compósitos
aplicados na construção de habitação. Portanto, as técnicas apresentadas na
pesquisa visam promover uma diversificação dos meios de fabricação, através da
reciclagem e experimentação de materiais. Os compósitos podem ser definidos por
meio de receitas, que apresentam a proporção de misturas adequadas para utilização
em componentes de construção, podendo destinar cada uma delas a uma categoria
de material, distribuído de acordo com uma aplicação, sendo estas a estrutura,
vedação, pisos, telhas, forro entre outros acabamentos.

O sistema construtivo proposto se coloca como uma exploração de lacunas de


desenvolvimento, sendo neste primeiro momento inserido como uma alternativa que
demanda uma cadeia de processos, atrelados à uma linha de produção que é
constituída por uma máquina injetora manual, para fabricar os componentes por meio
135

de moldes. Para aproveitamento do material residual, se utiliza uma máquina de moer,


gerando matéria prima reciclada que pode ser aplicada novamente nos moldes ou
utilizada para produção de painéis. Os painéis podem ser produzidos em uma prensa
que transforma o material reciclado ou mesmo virgem, sendo estes utilizados na
fabricação de componentes com o processo subtrativo.

Conclui-se que a concepção do equipamento CNC traz benefícios para a produção


elementos construtivos variados e distintos, atendendo principalmente demandas de
pequeno porte, projetando um custo que permita certa acessibilidade. Além disso se
apresenta de forma replicável para diversas frentes de trabalho.
136

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De maneira geral, os processos necessários para execução do projeto cabem ao


arquiteto gerenciar, assim se torna de suma importância adquirir conhecimento mais
profundo sobre o funcionamento e limitações apresentados pelas ferramentas e
tecnologias existentes, tanto para propor novas estratégias como para construir de
forma mais eficiente.

Com a pesquisa foi possível entender mais sobre projetos anteriormente


desenvolvidos com a fabricação digital e apresentar maneiras alternativas na
produção de elementos construtivos. Por meio da concepção do equipamento CNC
foi possível compreender o lado complementar técnico, ampliando a visão apenas
operacional já existente, dessa forma são somadas as capacidades projetuais às
possibilidades alavancadas pelo equipamento.

Em um ambiente rico em tecnologias e transformações dos processos de projeto e


execução abrangidos pela disciplina de arquitetura, pôde-se explorar equipamentos e
técnicas que permitem desenvolvimento da construção demandada por projetos
contemporâneos. Os casos apresentados no catálogo evidenciam a exploração de
novas práticas em desenvolvimento para a construção civil.

Foi definido igualmente um processo de fabricação por meio de moldes produzidos


pelo equipamento, buscando um ideal construtivo para elementos para uma possível
construção experimental da PolyHaus. Na proposta apresentada, foi levantado o
relacionamento com etapas de produção e a apresentação virtual de um sistema
construtivo. A ideia principal foi de experimentação por meio de blocos leves, que
possuem associação por encaixe, visando uma cadeia produtiva diversificada com o
uso de materiais compósitos. Tudo isso se insere de maneira a permitir a realização
de experimentações e workshops com alunos e subsequentemente possibilitar
projetos sociais em comunidades para promover desenvolvimento social e cultural.

O viés dado a aplicação de materiais compósitos e técnicas trazidas pela utilização


dos multimateriais envolve a exploração local de recursos disponíveis, que promovem
a reciclagem do material de descarte advindo de plásticos e madeiras, possibilitando
transformação e adaptabilidade da construção em situações variadas.
137

A pesquisa se apoia na propagação do método de construção apresentado e visa criar


uma continuidade no desenvolvimento futuro de equipamentos para o meio
acadêmico, além de incentivar novas explorações de materiais e desenvolvimento de
ferramentas operacionais para atendimento de novas demandas.

Considerando as tecnologias de fabricação digital com uma posição de vanguarda na


produção de um projeto arquitetônico, pode-se dizer que sua aplicação é afetada pela
dificuldade de interação do arquiteto com este processo, mas por outro lado esse
passo à frente se apresenta como essencial para uma mudança dos modelos de
fabricação existentes e estimulam novos posicionamentos frente ao desenvolvimento
cultural, social e tecnológico. Sendo assim, essa pesquisa visa impulsionar o desejo
de romper com a tradição, pois o avanço tecnológico não necessariamente se coloca
a atender as classes sociais mais altas, mas sua exploração gera caminhos para
permitir a disseminação do conhecimento e sua utilização com o público de maneira
geral.
138

PESQUISAS FUTURAS

Em projetos futuros, será inclinada a realização de mais experimentações nos âmbitos


dos materiais e técnicas de utilização dos equipamentos CNC, sendo estudos voltados
a esses materiais e seus testes funcionais.

É vislumbrada também a confecção e execução de outros elementos construtivos com


a utilização dos moldes e ampliação da vertente de análises mais criteriosas sobre as
propriedades dos materiais e formulações possíveis.

Encontra-se mapeada uma pesquisa sobre um equipamento para trabalhar com o


método contour craft e sua utilização através de braços robóticos e do sistema de
pórticos ampliáveis, juntamente com grupos de pesquisa de arquitetura e engenharia
vinculados.

Portanto, culminando as expectativas de ampliações apresentadas, projeta-se


também uma pesquisa relacionada a um equipamento híbrido CNC integrado e de
baixo custo vindo a abranger a utilização das ferramentas operacionais abordadas ao
longo da pesquisa, que trabalham no plano cartesiano e, em seguida, utilizar-se
também das funções descritas em braços robóticos de 5 ou 6 eixos, cruzando assim
os dados de eficiência entre cada um dos métodos.
139

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