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Arno Blass
64 Professor da UFSC 94
Coordenador do Curso de
Pós Grad. em Eng. Mecânica 76 84 86 90
Chefe do EMC 76 79
Presidente da ABCM 79 81
Aconteceu em Floripa
Memórias • Engenharia Mecânica • UFSC
Arno Blass
janeiro de 2022
Dedicatória
Dedico esta coletânea à Sra.
Agradecimento
Agradeço a cooperação valiosa de meu filho
Daniel Blass
responsável pelo trabalho de editoração e,
portanto, da qualidade gráfica desta obra.
In Memoriam
Adalberto Luiz Verani Depizzolatti Hermann Adolf Harry Lücke
Áureo Campos Ferreira Hyppolito do Valle Pereira Filho
Bernd Emil Hirsch Jaroslav Kozel
Carlos Alberto de Campos Selke Joel René Muzart
Carlos Alfredo Clezar José Carlos Ribeiro da Silva
Carlos Calliari Paulo Antônio Corsetti
Caspar Erich Stemmer Paulo César da Silva Jucá
Cláudio Melo Raul Guenther
Domingos Boechat Alves Roberto Germani Mayer
Getúlio Góes Ferretti Walter de Bona Castelan
Hélio de Brito Costa
Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . vi
PARTE 1
Myrcia stemmeriana
O começo difícil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
O criador da Engenharia na UFSC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Aspectos pioneiros da Engenharia na UFSC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Stemmer, um precursor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Um quinquênio produtivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Caspar Erich Stemmer (1930-2012) – Revista ABCM Engenharia . . . . . . . 31
Caspar Erich Stemmer (1930-2012) – Revista História Catarina . . . . . . . 40
PARTE 2
Momentos
PARTE 3
Opinião
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O livro “Departamento de Engenharia Mecânica – História e contribuições –
1962-2008”, publicado na gestão do professor Lourival Boehs na chefia do
EMC, não só preencheu várias lacunas, como trouxe a história de nosso
departamento até um passado mais recente. Senti um prazer imenso em
ter trabalhado com a equipe do professor Carlos Locatelli, organizador da
obra, e da jornalista Débora Horn, responsável pela redação final, e tive
grande satisfação com o resultado desta empreitada.
« vii »
apenas uma quinzena, ao invés dos dois anos e meio regulamentares. Isso
me deu, ao mesmo tempo, um assento na congregação da escola, servindo
para acelerar em mim o conhecimento da dinâmica de funcionamento da
instituição universitária.
Encerro a segunda parte com matéria que escrevi para o projeto Memó-
ria da ABCM, a Associação Brasileira de Engenharia e Ciências Mecânicas,
tendo em vista que a história dessa associação guarda estreita vinculação
com nosso Departamento. Sua concepção começou a ser articulada aqui,
por ocasião do Simpósio Brasileiro de Engenharia Mecânica (1973), o em-
brião dos futuros COBEM (Congresso Brasileiro de Engenharia Mecânica).
Daqui saíram dois de seus ex-presidentes e aqui esteve sua sede, durante
vários anos. Muitos de nossos colegas estiveram de alguma forma ligados
às atividades da ABCM.
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PARTE 1
Myrcia stemmeriana
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O começo difícil
Isso resolvia o problema dos dois primeiros anos letivos, em que estavam
concentradas as disciplinas de formação básica do curso: havia em Floria-
nópolis elementos humanos locais disponíveis para constituir o primeiro
quadro docente autóctone da nova escola. Mas a situação mudava ao se
cogitar das séries subsequentes, que englobavam a parte profissionalizante
do curso.
«3»
PARTE 1 Myrcia stemmeriana
As “casinhas de Tarzan”, na antiga Chácara Molenda, na Rua Bocaiuva, nos primeiros anos da Escola de
Engenharia Industrial.
«4»
O começo difícil
Foi necessária muita compreensão e boa vontade para que esta situação
não gerasse conflito. Mas isso se tinha, naquele tempo…
A Floripa que eu conheci, quando aqui cheguei. Abaixo, à direita, ainda aparece o icônico Miramar,
que logo sucumbiria às obras do aterro.
«5»
PARTE 1 Myrcia stemmeriana
Ei-lo aqui, o Miramar, antes de ser derrubado, aterrado e coberto com asfalto.
«6»
O criador da
Engenharia na UFSC
«7»
PARTE 1 Myrcia stemmeriana
Caspar Erich Stemmer, o segundo diretor da EEI e o primeiro do Centro Tecnológico, por ocasião das
comemorações do cinquentenário do curso de engenharia mecânica, entre os professores José Rober-
to da Costa Diffini e Werner Adelmann, que integraram a assistência técnica que a UFRGS nos prestou
nos anos iniciais, e os professores Honorato Antônio Tomelin (primeiro chefe do EMC) e Raul Valentim
da Silva (primeiro coordenador da pós-graduação em engenharia mecânica).
1 A Reforma Universitária foi baixada através de um amplo corpo legal (lei e decretos subsequentes,
tratando de aspectos específicos) nos anos de 1967 e 1968. As universidades deveriam implantá-la até
o ano de 1971. A UFSC foi a única universidade brasileira que o fez ainda em 1970. Como membro, à
época, do Conselho de Ensino e Pesquisa, tive modesta participação neste processo. Neste contexto,
tive a valiosa colaboração de diversos professores da EEI/CTC, com os quais discuti os assuntos em
pauta e fui por eles auxiliado na busca de informações e na justificativa de nossas posições. Resgato,
aqui, particularmente, os nomes dos professores José João de Espíndola e Raul Valentim da Silva, por
cuja valiosa cooperação sou imensamente grato.
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O criador da Engenharia na UFSC
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PARTE 1 Myrcia stemmeriana
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O criador da Engenharia na UFSC
O professor Caspar Erich Stemmer recebeu diversas homenagens em seus últimos anos. Uma delas
foi da turma de 1974 da graduação em Engenharia Mecânica, que comemorou jubileu de 35 anos de
formatura em 2009. Ao centro, de terno cinza, o guru Stemmer. Além dos graduados, os professores
Arno Blass (primeiro à direita, em pé) e o professor Sérgio Gargioni (primeiro à esquerda, à frente).
Foto: Acervo de Estela Benetti.
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Aspectos pioneiros da
Engenharia na UFSC
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Aspectos pioneiros da Engenharia na UFSC
Três anos depois, já como consequência das novas medidas, a EEI dispu-
nha, em seu quadro, de um contingente de sete Mestres em Ciências, os
primeiros da Universidade, e os sete trabalhavam no projeto de criação de
um curso de pós-graduação, que viria a ser, também, o primeiro da UFSC.
À mesma época, a Congregação de outra faculdade ainda negava o pedido
de afastamento de um professor para realização de Mestrado porque “não
interessava à faculdade”. Na EEI, porém, isso interessava demais, e em 1969,
após árduas batalhas no DAU (predecessor da SESu)2, no CNPq e no BNDE
(hoje BNDES, e que então exercia um papel similar ao que a FINEP exer-
ce hoje), começava a funcionar o Curso de Pós-graduação em Engenharia
Mecânica, com cinco áreas de concentração. Dois anos depois, começava o
de Engenharia Elétrica; no ano seguinte, duas das áreas do CPGEM (Curso
de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica) se desmembravam e consti-
tuíam o Curso de Pós-graduação em Engenharia Industrial (hoje, de Pro-
dução e Sistemas). Só depois disso a pós-graduação viria a cruzar o canal.
A partir de 1967 o Governo Federal baixou volumoso corpo legal que viria
a ser conhecido como a Reforma Universitária, que a UFSC implantou
em 1970, um ano antes das demais universidades brasileiras. Esta Reforma
consagrava a formação pós-graduada e a dedicação exclusiva e, em legis-
lação posterior, a extensão. A interação com o segmento industrial viria
a ganhar foros de obrigatoriedade com os PBDCTs (Planos Brasileiros de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico) da década de 70. Em 1975, com
os novos currículos mínimos de Engenharia, o CFE (Conselho Federal de
Educação, hoje extinto) oficializou o estágio curricular. E somente em fins
da década de 80 a legislação consagrou o regime probatório dos docentes,
e em condições bem mais amenas do que o praticava a EEI.
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PARTE 1 Myrcia stemmeriana
O velho Laboratório de Máquinas Hidráulicas, um dos mais antigos, ainda do tempos da EEI.
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Stemmer, um precursor
Preliminares
A abertura do leque das especializações oferecidas pelas escolas de enge-
nharia do país começou a ocorrer de forma relativamente tímida depois
do fim da Segunda Guerra. De início, as estruturas de cursos pré-existen-
tes (geralmente de engenharia civil) eram aproveitadas ao máximo, sendo
os currículos dos novos cursos estabelecidos mediante reduzidos cortes
e substituições. Esta postura não decorria apenas de meras considerações
econômicas, mas da própria indisponibilidade de profissionais que pu-
dessem assumir o magistério de novas disciplinas de conteúdo demasiado
especializado. Entretanto, em decorrência do acelerado processo de in-
dustrialização do país, desencadeado pela política desenvolvimentista do
governo de Juscelino Kubitschek (1956/61), passaram a ser exigidos profis-
sionais de engenharia com perfis novos, completos e bem caracterizados, e
em números substancialmente maiores do que aqueles que vinham sendo
lançados ao mercado. Foi então incentivada a criação de cursos em novas
modalidades nas escolas existentes, assim como a criação de novas escolas,
priorizando estas novas modalidades.
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PARTE 1 Myrcia stemmeriana
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Stemmer, um precursor
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PARTE 1 Myrcia stemmeriana
« 18 »
Stemmer, um precursor
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PARTE 1 Myrcia stemmeriana
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Stemmer, um precursor
O Centro Tecnológico
Ao ocorrer a criação do Centro Tecnológico, os cursos de engenharia da
UFSC já começavam a ser conhecidos pelo país. Stemmer implementou
as modificações determinadas pela Reforma Universitária, procurando
adequar suas inovações ao novo corpo legal. E para mostrar o que era o
curso de engenharia mecânica da UFSC (e seu mestrado, que começava a
produzir os primeiros titulados), Stemmer organizou, em fins de 1970, o
1o Simpósio Nacional de Engenharia Mecânica. Com apenas uma dúzia de
trabalhos, sem anais nem referees, o evento serviu para promover a congre-
gação da classe e a discussão de problemas comuns. Ele viria a ser oficia-
lizado, rebatizado de Congresso, e logo se tornou conhecido nacional e
internacionalmente como o COBEM.
Conclusão
Stemmer deixou a direção do Centro Tecnológico em 1974, quando foi
chamado para dirigir o PREMESU (Programa de Expansão e Melhora-
mento das Instalações do Ensino Superior, do Governo Federal). Voltou a
Florianópolis em 1976, como reitor da UFSC. Marcou seu mandato por um
extraordinário programa de obras, pela criação de vários novos cursos e
pela conclusão e inauguração do Hospital Universitário, cujas obras esta-
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PARTE 1 Myrcia stemmeriana
vam paradas havia vários anos. Mais tarde integrou o Grupo Especial de
Acompanhamento do PADCT e a Comissão de Avaliação do Programa Nu-
clear Brasileiro. De volta a Brasília, foi o Secretário Executivo do PADCT;
mais tarde chefiou a Diretoria de Coordenação de Programas da Secretaria
de Ciência e Tecnologia. Após breve período em Florianópolis, voltou ao
Brasília ao início do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso,
agora chefiando a Secretaria de Desenvolvimento Científico do MCT, sen-
do, por vezes, ministro interino. Aposentou-se em 1999.
O Centro de Usinagem com que Stemmer e Áureo Campos Ferreira viriam a se divertir.
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Um quinquênio produtivo
Escrito à mesma época do anterior, o presente artigo não teve, até agora,
divulgação. Inclui, numa de suas seções, ações desencadeadas durante
minha passagem pela Chefia do EMC, em 1976-79.
Introdução
Quando se analisa a história dos cursos de engenharia mecânica na UFSC
ou do Departamento de Engenharia Mecânica (EMC), observa-se o grande
salto qualitativo ocorrido no período compreendido entre os anos de 1976
e 1981. Em 1976 o EMC possuía um quadro de 45 docentes, dos quais nove
possuíam doutoramento (e um era professor visitante) e vários eram apenas
graduados. O Curso de Pós-graduação em Engenharia Mecânica (CPGEM),
que iniciara suas atividades em 1969, oferecia apenas o mestrado (o primei-
ro da UFSC), havia recém havia formado seu vigésimo mestre em ciências,
mantendo uma média de pouco mais de três titulações por ano, irrisória
diante do tamanho do alunado e em comparação com os altos índices de
evasão. Por outro lado, seis docentes estavam espalhados pelo mundo, rea-
lizando atividades de doutoramento em instituições as mais variadas. Já em
1981 o departamento possuía 61 professores, dos quais vinte eram doutores,
e apenas dois dos docentes (um deles sendo Stemmer) não possuía titula-
ção. O curso de pós-graduação vinha, agora, formando uma média de dez
mestres por ano, com um pico atípico de 23 mestres no ano de 1980. Neste
ano, ainda, foi iniciado o doutoramento. Nove professores estavam afasta-
dos, realizando doutoramento no Exterior.
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PARTE 1 Myrcia stemmeriana
Uma Pausa
Quando Stemmer, esteve em Aachen, na antiga Alemanha Ocidental, para
participar de atividades de especialização junto à Escola Técnica Superior
do Reno-Vestfália (RWTH-Aachen), em 1957/58, tinha em mente, de início,
apenas complementar aquilo que detectava como lacunas de sua formação
de engenheiro obtida no Brasil, num curso novo, ainda não plenamente
organizado, e do qual, depois de graduado, fora convidado a participar
como docente. Chegara à Alemanha com uma bolsa de estudos da Funda-
ção Rotária, que tinha a duração improrrogável de um ano, e que lhe im-
punha, além de estudar, também atuar como “embaixador da boa vontade
na promoção do entendimento entre os povos”. A duração limitada da bol-
sa obrigava-o a racionalizar o tempo, procurando realizar o máximo que
lhe fosse possível em termos de cursos e estágios, sem levar a uma titula-
ção definida que o tempo não permitia. O que Stemmer pretendia, portan-
to, era adquirir o conhecimento que lhe permitisse visualizar o que deveria
ser um currículo de engenharia mecânica, quais deveriam ser seus conteú-
dos necessários, quais as necessidades laboratoriais e indicações quanto ao
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Um quinquênio produtivo
seu uso, assim como a forma de iniciação dos alunos à vivência profissio-
nal. Entendia ele que precisava de tudo isso para capacitar-se a enfrentar
os compromissos que o esperavam no curso de que iria participar, em seu
retorno a Porto Alegre. Ao mesmo tempo, porém, e coerentemente com
uma das condições da bolsa que lhe fora concedida, assumiu uma posição
de liderança ativa entre os estudantes brasileiros seus contemporâneos em
Aachen, na tarefa de divulgar e promover o Brasil, seu povo, costumes e
folclore no Exterior.
Sua personalidade forte, seu zelo, sua dedicação e seu empenho não deixa-
ram de ser observados por aqueles, mestres e colegas, que com ele con-
viviam na Alemanha. Durante o tempo em que permaneceu em Aachen,
Stemmer conheceu pessoas e com elas estabeleceu um relacionamento
franco que perduraria muito além de seu retorno ao Brasil, do afastamen-
to físico e da passagem do tempo.
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PARTE 1 Myrcia stemmeriana
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Um quinquênio produtivo
O convênio BID-Finep
O convênio com a RWTH-Aachen contemplava aquelas áreas do EMC em
que a instituição alemã se destacava: Processos de Fabricação, Metrologia
e Materiais. Isto certamente tenderia a gerar desbalanceamentos internos
no EMC, em que havia grandes áreas que não seriam contempladas: toda
a área térmica, vibrações, projeto. Providências especiais deveriam ser to-
madas, a fim de prevenir os efeitos destas distorções. Felizmente, à mesma
época viriam a termo as negociações de um empréstimo do governo brasi-
leiro junto ao BID (Empréstimo 327 OC-BR), visando o apoio institucional
a instituições de pesquisa brasileiras. Stemmer, quando ainda diretor do
Centro Tecnológico, já se havia candidatado a seu quinhão, e o EMC foi
finalmente agraciado com um convênio que previa a aplicação de recursos
no montante histórico de 700 mil dólares americanos, a serem aplicados
ao longo de um período de cinco anos. Foi então decidido, no âmbito do
EMC que estes recursos seriam integralmente aplicados nos setores depar-
tamentais não contemplados no convênio de Aachen.
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PARTE 1 Myrcia stemmeriana
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Um quinquênio produtivo
3 Posteriormente, José Pelúcio Ferreira (1928-2002) seria presidente da FINEP e, depois, Secretário de
Ciência e Tecnologia do estado do Rio de Janeiro; durante o governo Collor, fui seu colega no efêmero
Conselho de Coordenação Técnico-científica do CNPq. A UFSC concedeu-lhe, em 1977, o título de
Dr. Honoris causa. Ver, também, “José Pelúcio Ferreira e a pós-graduação no Brasil”, de Amílcar Figueira
Ferrari, Bibl. Anísio Teixeira (CAPES), Ed. Paralelo 15, Brasília, 2001. Amílcar Figueira Ferrari (1936-2014),
diplomata e engenheiro mecânico, era nascido em Florianópolis. Trabalhou intensamente junto de
Pelúcio Ferreira, desde os tempos do Funtec, no BNDE, até a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Rio
de Janeiro; foi, várias vezes, valioso na intermediação de muitas das negociações de Stemmer com
diversas agências de fomento.
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PARTE 1 Myrcia stemmeriana
to veio a ser aprovado pela FINEP, o convênio foi assinado e executado sob
a minha responsabilidade global. Em 1979, pouco antes de deixar a chefia
do departamento, supervisionei a montagem de novo projeto, bem mais
amplo, que, a seu tempo, também foi aprovado e conveniado.
Estas foram, de todas as ações aqui relacionadas, as únicas que não tiveram
a participação direta de Stemmer.
Conclusão
Ao começar a década de 1980 o EMC e seus cursos de graduação e de pós-
-graduação passaram a ser sistematicamente relacionados entre os melho-
res do país pelos indicadores mais respeitáveis, e esta situação se mantém
até nossos dias. Isso se deve, indubitavelmente, ao trabalho de todos que
aqui militam ou militaram. Mas é inegável que, pelas razões apresentadas,
o quinquênio de 1976 a 1981 foi o período de transição para esta nova reali-
dade. Foi um período realmente produtivo para o EMC e para seus cursos
de graduação e de pós-graduação em engenharia mecânica, e, dentre as
muitas razões que justificam esta afirmação, a maioria está relacionada
com as iniciativas de Stemmer, algumas delas implementadas desde mui-
tos anos antes.
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Caspar Erich Stemmer
(1930-2012)
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PARTE 1 Myrcia stemmeriana
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Caspar Erich Stemmer (1930-2012) – Revista ABCM Engenharia
Não é surpresa, pois, que Stemmer viesse a ser considerado para a reito-
ria da UFSC, que exerceu de 1976 a 1980, com igual dinamismo, com um
vigoroso programa que objetivou trazer a universidade, espalhada pela
cidade, para o campus. Paralelamente criou novos cursos, disciplinou o
crescimento da pós-graduação, concluiu as obras do Hospital Universitá-
rio e o pôs em operação. Através de convênio firmado com a Marinha e o
Iphan, trouxe para a universidade a tutela e a guarda da Ilha de Anhatomi-
rim, onde ficavam ruínas de fortificações portuguesas do século 18, num
projeto que previa a instalação de uma base de pesquisas oceanográficas de
ecologia marinha e outros empreendimentos.
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PARTE 1 Myrcia stemmeriana
5 O ano de 2001 foi marcado pela mudança das instalações da FEESC, a Fundação do Ensino da En-
genharia em Santa Catarina, para o Prédio Caspar Erich Stemmer. Construído pela FEESC para a UFSC,
este edifício tem 5 andares, sendo 4 a serem utilizados pela FEESC por um período de 30 anos e um
andar ocupado pela Direção do Centro Tecnológico da UFSC.
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Caspar Erich Stemmer (1930-2012) – Revista ABCM Engenharia
Na iniciativa privada
Em fins de 1960, Stemmer foi procurado por um grupo de cerca de vinte
alunos que pretendiam constituir uma empresa e queriam aconselha-
mento. Cada um deles seguiria com sua vida, mas destinaria, durante um
período de dez anos, o equivalente a 5% de seu salário à constituição de um
fundo para financiar o empreendimento. Falando do processo de indus-
trialização que varria o país, Stemmer lembrou que à época, ainda não
existiam tornos automáticos em Porto Alegre, indispensáveis à produção
de peças em grandes séries. Um rápido levantamento comprovou a exis-
tência de um mercado em potencial para tais produtos.
6 E o ano de 2018 foi marcado por uma importante alteração no estatuto da Fundação do Ensino
da Engenharia em Santa Catarina, ampliando suas áreas de atuação, e alterando o nome fantasia da
FEESC para Fundação Stemmer para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, em homenagem a seu
fundador, Caspar Erich Stemmer.
7 2013.
8 ABCM Engenharia, vol. 18, no. 1, pgs. 18-20 (2013).
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PARTE 1 Myrcia stemmeriana
O Tecnópolis
Em 1991 Stemmer foi convidado a assumir a secretaria executiva do Con-
selho das Entidades Promotoras do Polo Tecnológico da Grande Florianó-
polis, o Tecnópolis. A primeira parte do empreendimento, o ParqTec Alfa,
começava a ser construída e implantada numa área de cerca de 60.000 m2,
próxima a duas universidades, e destinada a abrigar pequenas e médias
empresas das áreas de instrumentação, telecomunicações, mecânica fina e
informática.
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Caspar Erich Stemmer (1930-2012) – Revista ABCM Engenharia
10 O Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas (CELTA), primeira Incubadora do
Brasil, foi idealizada e criada em 1986 pela Fundação CERTI (Centros de Referência em Tecnologias
Inovadoras) em resposta aos anseios de desenvolvimento da capital catarinense e com o objetivo de
viabilizar um promissor setor econômico, aproveitando os talentos e o conhecimento gerados pela
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
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PARTE 1 Myrcia stemmeriana
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Caspar Erich Stemmer (1930-2012) – Revista ABCM Engenharia
Stemmer, em uma de suas últimas aparições públicas, por ocasião da posse da nova reitora da UFSC,
em maio de 2012. E entrou para a História… Fotos: Agecom-UFSC
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Caspar Erich Stemmer
(1930-2012)
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Caspar Erich Stemmer (1930-2012) – Revista História Catarina
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PARTE 1 Myrcia stemmeriana
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Caspar Erich Stemmer (1930-2012) – Revista História Catarina
Sérgio Roberto Arruda, o diretor, discursa durante a solenidade de inauguração das novas instalações
do Centro Tecnológico, em 1980. Á direita do vice-reitor Roldão Consoni, aparece o pró-reitor de
Ensino de Graduação, Rodi Hickel; logo atrás do vice-reitor, o pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação,
Paulino Vandresen.
Sessão solene do Conselho Universitário da UFSC, em 1979, para a outorga do título de Professor
Honoris causa a Alberto Luiz Galvão Coimbra, fundador da Coppe-UFRJ. A partir da esquerda, veem-se:
Paulo Alcântara Gomes, representando a Coppe; Roldão Consoni, vice-reitor da UFSC; Antero Nerco-
lini, Secretário da Educação de Santa Catarina; Stemmer; Coimbra; Hans Dieter Schmidt, Secretário
de Indústria e Comércio de Santa Catarina; Arno Blass; José Israel Vargas, da Secretaria de Tecnologia
Industrial do MIC; Aristides Pacheco Leão, da Academia Brasileira de Ciências; José Pelúcio Ferreira,
presidente da Finep; e Amilcar Figueira Ferrari, do BNDES.
Caspar Erich Stemmer transmite o cargo de reitor a seu sucessor, Prof. Ernani Bayer (1980). Relatou-me
o Prof. Hyppolito do Valle Pereira Filho, chefe do EMC à época: “Na manhã seguinte, às oito horas, ele
estava em meu gabinete, perguntando em que sala poderia ficar e que atribuições lhe estavam desti-
nadas, em sua volta ao departamento”.
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PARTE 2
Momentos
Aí por 1979
Foto: Agecom-UFSC
Uma pequena epopeia
Era 1966.
1 E bem depois, parte do Instituto Federal de Santa Catarina, criado já no século seguinte.
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PARTE 2 Momentos
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Uma pequena epopeia
O antigo Laboratório de Ensaio de Materiais, cuja instalação foi em parte devida ao trabalho ingente
dos participantes desta pequena epopeia.
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Uma aula com
Aníbal Nunes Pires
« 50 »
Uma aula com Aníbal Nunes Pires
-estar dos estudantes, mas não se sentia bem na função de gendarme que a
legislação lhe impunha e dele cobrava. Queria, creio eu, de alguma forma
descaracterizar a razão de sua presença impositiva naquela solenidade.
Quem sabe (penso que lhe deva ter ocorrido) abordando um tema abstrato?
Quanto tempo falou? Não sei bem. Certamente que demais. Entretanto,
mesmo que suando em bicas, interessei-me pela preleção e acompanhei-a
com atenção. Foi a única aula que tive com Aníbal Nunes Pires. De alguma
forma, ela me marcou, embora disso só viesse a dar-me conta mais tarde.
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PARTE 2 Momentos
conta de que naquela tarde de verão Aníbal nos expusera, de forma livre,
a sua maneira, alguns pontos de um dos livros, “Investigações Filosóficas”, de
Ludwig Wittgenstein.
Não sei se Aníbal dominava o inglês, e acredito que não dominasse o ale-
mão. Wittgenstein, um tímido mestre-escola austríaco falecido em 1951,
havia sido, naquela época, reduzido a uma mera nota de rodapé em pou-
cos livros de ou sobre Bertrand Russell. O inglês, mais prolífico, com uma
atuação variegada, transitando com desen-
voltura pela matemática, filosofia, política
e sociologia, muito rempli de soi même e,
principalmente, ainda vivo, havia eclipsado
a figura e a obra de seu antigo colega em
Cambridge. O livro que eu lia (“Denkmaschi-
nen”, de Walter Fuchs) era um dos primeiros
a promover o ressurgimento e o estudo da
obra de Wittgenstein. Ainda não haviam
surgido as traduções dos textos de e sobre
Wittgenstein, que iriam proliferar a partir
de uma década depois.
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10 anos – a história
« 53 »
PARTE 2 Momentos
ção desde logo se fez sentir, justificando com plenitude a confiança que em
seu nome fora depositada. Já em princípios de 1966 a nova escola marcava
sua presença por destacada atuação no 1o Encontro Brasileiro de Professo-
res de Engenharia Mecânica. Sua posição naquele conclave, apesar de mal
compreendida à época, foi vindicada pelo tempo, com a extinção dos cur-
sos de Engenharia Operacional e a reformulação da ideia que os motivou.
Mais uma vez, foi o dinamismo e a iniciativa do diretor que superou todos
os entraves externos, enquanto uma comissão planejava e se preparava
para implantar o curso, mais uma vez com o decisivo apoio da Reitoria.
Assim, ainda em 1968, e graças a parecer favorável dos Profs. Alberto Luiz
Galvão Coimbra2 e Luiz Bevilacqua3, foi obtido o suporte financeiro do
Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico, através do programa
FUNTEC, que permitiu a aquisição de literatura técnica, de equipamen-
tos, inclusive o primeiro computador desta universidade, e a contratação
de professores estrangeiros com título de Doutor, condição sine qua para
nosso reconhecimento, pelo CNPq, como centro de excelência da pós-gra-
duação em engenharia mecânica na Região Sul.
2 Alberto Luiz Galvão Coimbra (1923-2018) tem seu nome estreitamente vinculado à Coppe/UFRJ, que
dirigiu desde sua criação, em 1965, até 1973. A respeito, recomendo a obra “Alberto Coimbra e a Coppe”,
de Giulio Massarani et al, Bibl. Anísio Teixeira (CAPES), Ed. Paralelo 15, Brasília, 2002. Muitos anos de-
pois, Coimbra viria a ser meu colega na Comissão de Especialistas do Ensino da Engenharia, SESu/MEC.
Coimbra recebeu, em 1979, o título de Dr. Honoris causa da UFSC.
3 Luiz Bevilacqua fora o orientador de minha dissertação de mestrado na Coppe, bem como a do Prof.
Nelson Back; posteriormente, viria, também, a orientar a tese de doutoramento do Prof. Sérgio Colle.
Foi, também, presidente da ABCM. É o idealizador da UFABC, tendo presidido o comitê de implantação
desta instituição e sido seu reitor. Foi presidente da Agência Espacial Brasileira.
« 54 »
10 anos – a história
Não se deve olvidar de registrar, aqui, a decisiva cooperação externa nos di-
fíceis anos iniciais. Além do BNDE colaboraram, e colaboram até hoje, em
nível nacional, organismos como a CAPES, o CNPq, a FINEP, o PREMESU,
a SUBIN e, mais recentemente, a CNEN. No âmbito internacional, tivemos
o apoio inicial da Assistência Técnica Francesa e do Conselho Britânico, da
OEA, de Departamento de Intercâmbio Acadêmico Alemão e da KFA.
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PARTE 2 Momentos
O ano de 1976 marca o início de uma nova era para o curso, por três fato-
res fundamentais:
« 56 »
10 anos – a história
Pode-se dizer, assim, que ao final de dez anos, tendo já formado quarenta
mestres, o curso de pós-graduação em engenharia mecânica da UFSC já se
encontra definitivamente consolidado. Conta, neste momento, com mais
de uma dúzia de doutores em seu quadro permanente, e quatro professo-
res visitantes. Cinco elementos encontram-se, neste momento, realizan-
do doutoramento na Inglaterra, Alemanha, França e Canadá. Elementos
de nosso quadro são requisitados como consultores pela CAPES, CNPq,
FINEP, CNEN e PREMESU. A grande indústria catarinense já superou o
ceticismo inicial e busca nossa colaboração na solução de seus problemas,
o que é feito na forma de projetos de consultoria ou de pesquisa, inclusive
propiciando tópicos para dissertações.
4 Logo que assumiu a reitoria da UFSC, em 1976, Stemmer enviou-me a Brasília com uma carta sua,
dando-me plenos poderes para negociar, em nome da UFSC, os questionamentos levantados pelo
Prof. Ruy Vieira, relator dos processos de credenciamento de nossos cursos pós-graduação em enge-
nharia (Mecânica, Elétrica e de Produção), que estavam trancados no CFE havia vários anos. Passei
um dia inteiro discutindo os três processos com ele, numa das salas da SESU, e trouxe uma série de
recomendações, que transmiti a Stemmer (algumas das restrições envolviam dispositivos reguladores
da universidade) e aos demais coordenadores dos cursos envolvidos (nas questões específicas de cada
um). As recomendações foram rapidamente atendidas por Stemmer e pelos coordenadores, e ao fim
de poucos meses, afinal, os três cursos receberiam seu primeiro credenciamento, antes mesmo de
outros cursos mais antigos das mesmas áreas. O Prof. Ruy Carlos de Camargo Vieira viria, anos depois, a
ser meu colega na Comissão de Especialistas do Ensino de Engenharia da SESu/MEC.
« 57 »
PARTE 2 Momentos
Justo é, pois, que nos sintamos preparados para um novo passo, e tencio-
namos estar capacitados a dá-lo já no próximo ano, com a implantação do
doutoramento em engenharia mecânica. As ações burocráticas já foram
desencadeadas e deverão levar-nos, em breve, ao CNPq.
« 58 »
O Ensino da Engenharia
Mecânica em Santa Catarina
– Origem e Evolução
« 59 »
PARTE 2 Momentos
“Quero que vocês façam uma grande escola, e que sua fama corra de tal
forma que, quando um pai no Amazonas disser que seu filho vai estudar
engenharia, os circunstantes aconselhem: mande-o para Florianópolis,
pois lá está a melhor”.
5 Relatado por Ferreira Lima em seu livro “UFSC: Sonho e Realidade”, 2a Ed., pgs. 71-73, Editora da UFSC,
2000.
6 Id., ibid., pgs. 119-120.
7 Não fui aluno do Prof. Eládio Petrucci, já que ele era, em Porto Alegre, professor do curso de enge-
nharia civil. Ele foi, contudo, o paraninfo de minha turma de engenharia, em 1962, na UFRGS. Nos
contatos que com ele vim a ter, já em Florianópolis, desenvolvi por ele grande respeito e admiração.
Faleceu em 1975, aos 55 anos de idade.
« 60 »
O Ensino da Engenharia Mecânica em Santa Catarina – Origem e Evolução
Pelo esquema então estabelecido, cada professor gaúcho viria por um pe-
ríodo de dois anos e meio. No último semestre ele supervisionaria a sele-
ção de um novo auxiliar de ensino e avaliaria o desempenho do elemento
originalmente selecionado como responsável pela cátedra, emitindo pare-
cer sobre sua capacitação para o posto.
A cada ano uma nova leva de professores gaúchos seria selecionada para
implantar as disciplinas das séries subsequentes do curso.
8 Ao contrário da maioria dos professores desta nominata, que foram meus professores em Porto Ale-
gre, no curso de engenharia mecânica da Escola de Engenharia, no curso de matemática da Faculdade
de Filosofia ou no Instituto de Matemática da UFRGS/Cosupi, meu xará Arno Wiehe foi meu colega e se
formou comigo em 1962, em engenharia mecânica. Lamentavelmente teve vida curta, tendo falecido
pouco depois de sua passagem por nossa universidade.
9 José Carlos Ribeiro da Silva era o filho do Professor Álvaro Leão Carvalho da Silva, que também inte-
gra esta lista. Mais tarde, José Carlos retornou à UFSC como aluno do mestrado, e eventualmente con-
seguiu sua transferência para o quadro da UFSC. Nesta condição, foi coordenador do curso graduação
em engenharia mecânica, quando propôs e implantou a disciplina Introdução à Engenharia Mecânica.
« 61 »
PARTE 2 Momentos
10 Escola Técnica Federal de Santa Catarina. Foi posteriormente absorvida quando da criação do IFSC,
Instituto Federal de Santa Catarina.
« 62 »
O Ensino da Engenharia Mecânica em Santa Catarina – Origem e Evolução
« 63 »
PARTE 2 Momentos
11 Implantado e gerido brevemente pelo saudoso Pe. Affonso José Birk.
12 Na estrutura antiga, os estudantes eram alunos da Escola de Engenharia Industrial desde o Vestibu-
lar; após a Reforma, eles só chegavam às disciplinas do Centro Tecnológico (CTC) no quinto semestre.
O CTC não podia impor estágios como pré-requisito de matrícula exceto para disciplinas que ele ofe-
recesse exclusivamente para alunos de seus cursos. A posterior criação das disciplinas de Introdução à
Engenharia, ministradas já no primeiro semestre letivo dos cursos, permitiu criar uma ligação anteci-
pada entre os alunos de cada modalidade de engenharia e a carreira que escolheram ao se inscrever
no Vestibular, estabelecendo, assim, um sentimento de pertinência que não era antes aparente nos
semestres iniciais dos cursos.
« 64 »
O Ensino da Engenharia Mecânica em Santa Catarina – Origem e Evolução
teve destacada atuação e ganhou respeito de seus pares por suas objeções à
pretendida criação dos cursos de Engenharia Operacional, com argumen-
tos que o tempo veio a revelar proféticos.
13 A proposta de departamentalização carreirocêntrica do CTC previa, à época, a criação de cinco de-
partamentos; a proposta alternativa, materiocêntrica, previa catorze, muitos dos quais não atenderiam
à composição de quinze professores, mínimo estabelecido para a criação de um departamento.
« 65 »
PARTE 2 Momentos
« 66 »
O Ensino da Engenharia Mecânica em Santa Catarina – Origem e Evolução
Porém, sem qualquer desfavor, o efeito positivo desses insumos só foi pos-
sível porque aqui já havia algo em que valia a pena investir, algo que fugia
ao lugar comum, e que era prometedor.
Entretanto, esse curto histórico não poderia concluir sem uma referência
à dedicação e à abnegação do corpo de funcionários da antiga Escola de
Engenharia Industrial e do Departamento de Engenharia Mecânica. Eles
foram sublimes nos dias difíceis da mudança para o campus, quando, em
condições precárias, sem talhas nem similares, atuaram na instalação de
equipamentos pesados. Eles nos têm surpreendido por sua resignação nas
enchentes periódicas que assolam nosso prédio. Eles têm sido amigos e
companheiros nos bons e nos maus momentos. Eles são responsáveis em
tudo o que somos, naquilo que atingimos. Eles merecem nossos agradeci-
mentos e nossos cumprimentos.
Caro Professor Ferreira Lima, nosso reitor das primeiras horas: somos-lhe
gratos por ter aceitado esse desafio, por ter-nos dado seu apoio quando ele
se fazia necessário e por ter confiado em nós. Encampamos o desafio, fize-
mo-lo nosso, e sentimo-nos à vontade para prestar contas nesse momento.
A mensagem a Garcia foi entregue… Nossos alunos não vêm apenas do Oia-
poque ou do Chuí. Eles vêm de mais longe também: da Bolívia, do Peru, do
Equador, da Colômbia, do longínquo México, do extremo sul do Chile.
« 67 »
PARTE 2 Momentos
Dear Mrs. Kozel: I could not finish this speech without expressing to you once again
the appreciation we had for your husband, and the recognition that much of what
we are nowadays is due to his effort, to his concern with his undertakings, to his
love to this country. We miss his diligence and his skills, but, most of all, we miss his
friendship, we miss him.
14 Gerhard Jacob (1930-2018) foi meu professor de Física no segundo grau, no antigo curso científico.
Muito mais tarde eu viria a participar, junto com ele, do Conselho de Coordenação Técnico-científica
do CNPq. Gerhard Jacob também veio a ser reitor da UFRGS e presidente do CNPq.
15 José Serafim Gomes Franco (1934-2021) foi meu professor na graduação, em Porto Alegre; poste-
riormente, participou da equipe gaúcha que trabalhou na implantação do curso de engenharia civil
da UFSC. Com ele vim a participar de comitês assessores do CNPq e da Comissão de Especialistas do
Ensino de Engenharia da SESu/MEC.
16 Elyseu Paglioli (1898-1985): renomado neurocirurgião gaúcho, foi reitor da Universidade do Rio
Grande do Sul de 1952 a 1964, e assinou com Ferreira Lima o convênio de cooperação que assegurou
o apoio da universidade gaúcha à implantação da EEI. Foi, também, prefeito de Porto Alegre e Ministro
da Saúde (Em 1962, durante quatro meses, no gabinete de Hermes Lima, no breve interlúdio parla-
mentarista de nossa república).
« 68 »
O Ensino da Engenharia Mecânica em Santa Catarina – Origem e Evolução
Prof. Caspar Erich Stemmer, mestre e amigo: que mais poderia eu dizer?
Diretor criativo, reitor profícuo, o reconhecimento de sua obra já trans-
cende aos limites desta universidade. A recente outorga do Prêmio Anísio
Teixeira17 o comprova. Dizer, aqui, que lhe somos gratos parece tão pouco,
tão banal. As palavras parecem perder o significado. E isso porque, caro
Mestre, nós lhe devemos demais: nós lhe devemos o que somos.
17 Em 1986.
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Sonhos de uma noite de Verão
Assim como suas esposas, estão longe de suas famílias. Por isso comemo-
ram entre si. Tinham, há poucos minutos, participado da formatura da pri-
meira turma de engenheiros mecânicos da UFSC. E compartilham da mes-
ma felicidade que, pouco antes, haviam observado nos 12 recém-formados,
quando os abraçaram após a formatura. Tinham com eles um vínculo, uma
« 70 »
Sonhos de uma noite de Verão
« 71 »
Nostalgia
Não sei precisamente quem improvisou esta quadrinha, nem quem com-
pôs ou arranjou uma melodiazinha plangente para que se pudesse cantá-
-la. Letra, falando em alegria, e música, transmitindo uma certa tristeza,
não eram propriamente feitas uma para a outra, mas quem estava dando
bola para isso? O fato era que, lá pelos fins da década de sessenta do –
acreditem – século passado, esta melô despretensiosa era o grande sucesso
musical da rive droite. Rive droite do canal que passa ao lado da Reitoria,
evidentemente, e onde, à época, só a Engenharia tinha já orgulhosamente
fincado suas bases, com seu primeiro prédio, o hoje ultrapassado Pavilhão
de Mecânica.
« 72 »
Nostalgia
Trinta anos passados, muita água passou pelo canal. Não só por baixo da
ponte. Por vezes ela extravasou e, certa feita, carregou a ponte; por vezes,
inundou o Pavilhão de Mecânica e a própria Reitoria. Entrementes, a pe-
quena Escola de Engenharia Industrial transmudou-se no grande Centro
Tecnológico. Multiplicaram-se os cursos, os departamentos, os prédios, as
instalações, as pessoas. Vieram os lauréis, a fama, o reconhecimento ex-
terno. Mas também se multiplicaram os interesses, os conflitos, as suscep-
tibilidades e as vaidades. Era inevitável. Era previsível. As compensações
foram muitas, e foram válidas.
Mesmo assim, cada vez que estaciono meu carro sobre o local onde estava o
antigo campo de futebol (e o faço cada vez mais espaçadamente), não posso
deixar de olhar ao redor. Onde foram parar as vaquinhas? Onde é que mora
« 73 »
PARTE 2 Momentos
Custou, mas nosso velho Pavilhão de Mecânica recebeu, já nos anos 90, uma entrada mais nobre, e
deixou de ser um mero corredor coberto, para quem ia do CTC à Reitoria.
« 74 »
Prof. Carlos Alberto
de Campos Selke
« 75 »
PARTE 2 Momentos
« 76 »
Prof. Jaroslav Kozel
(1927-1980)
« 77 »
PARTE 2 Momentos
Kozel apaixonou-se logo pelo Brasil, pela Ilha da Magia e seu povo, e já um
ano depois estava, para plena satisfação da UFSC, providenciando a obten-
ção de seu visto permanente e tomando as providências iniciais para sua
naturalização, que obteve, para sua grande alegria, em 1973.
Nos quase doze anos em que labutou no Brasil, incluindo alguns dos mais
críticos à consolidação do CPGEM, Kozel impressionou por seu dinamis-
mo e capacidade, e fez amigos, não só aqui, mas em toda a comunidade
científica nacional.
« 78 »
Prof. Jaroslav Kozel (1927-1980)
Era casado com a Dra. Milada Kozel Bila, que exercia sua profissão nos
Estados Unidos. Construía em Cacupé a casa dos sonhos do casal, supervi-
sionando pessoalmente cada detalhe da obra. Morreu prematura e tragica-
mente num fim de tarde.
« 79 »
Walter de Bona Castelan
Após a formatura, nos separamos, para enfrentar, cada um, sua vida. Nos
reencontramos, porém, apenas um ano depois, já como docentes desta
Universidade, em sua Escola de Engenharia Industrial. E presenciei, a
partir de então, o progressivo desabrochar de uma vocação. Pois que ele
« 80 »
Walter de Bona Castelan
Era cortejado por outras universidades, mas entendia que tinha compro-
missos para com a UFSC. E, quando escolhido para integrar a COPERT18,
e posteriormente eleito seu presidente, aceitou o encargo com, ao mesmo
« 81 »
PARTE 2 Momentos
Não deveria chegar. O reencontro não se daria. Sua vida seria ceifada num
evento fortuito, rápido, trágico, que enlutaria tantas famílias, que magoa-
ria tantas pessoas. Só da UFSC seriam quatro mortos, um servidor e três
professores.
Eu havia falado com ele alguns dias antes dessa última viagem. Era feliz
com seus planos, antecipava com alegria sua atividade futura, no curso de
pós-graduação em Matemática e no doutoramento da Engenharia Mecâ-
nica, cuja implantação estava começando. Combinamos um encontro para
quando de sua volta, para tratar de assuntos de interesse comum aos dois
cursos.
« 82 »
Walter de Bona Castelan
A resposta é necessária, mas uma coisa é certa: ela não nos trará de volta o
amigo, sua família não verá mais o marido, o pai, o filho, o irmão.
E a nós, que ficamos, cabe lembrá-lo sempre. Aprender com sua vida. Imi-
tar seu questionamento contínuo de todas suas atividades e iniciativas, que,
mais do que aparente insegurança, denotava a seriedade com que revestia
suas atividades e sua vida.
« 83 »
Visitantes estrangeiros
na UFSC
« 84 »
Visitantes estrangeiros na UFSC
Nos anos seguintes, a lista seria ampliada, inclusive para atender às necessi-
dades dos novos cursos de pós-graduação que começaram a surgir.
« 85 »
Acordes de uma sinfonia
Os primórdios da pós-graduação em engenharia mecânica na UFSC
« 86 »
Acordes de uma sinfonia
Estas cogitações, com as dúvidas e incertezas que envolviam, não eram por
mim vocalizadas, pois fazê-lo poderia parecer um indicativo de fraqueza e
despreparo. Mas elas estavam presentes, tenho convicção disso, em quase
todos os colegas que comigo aqui se iniciavam no magistério da engenha-
ria mecânica naquele tempo. E em retrospecto, parece-me que a universi-
dade em nós depositava grandes expectativas, mas desconhecia ou não se
dava conta de nossas aflições ocultas.
« 87 »
PARTE 2 Momentos
Scherzo - Ousadia
“Ora, direis, criar uma pós-graduação… Certo perdeste o senso!”
« 88 »
Acordes de uma sinfonia
« 89 »
PARTE 2 Momentos
de outra marca, era lenta na operação, dispendiosa por requerer papel es-
pecial e as cópias escureciam com o passar do tempo, tornando-se rapida-
mente imprestáveis, isso quando não aderiam umas às outras…
Se o quadro que pintei acima já era terrível, ele piorou a partir de setem-
bro de 1970, quando os poucos mestres de nosso quadro permanente saí-
ram em busca do doutoramento, sendo, em alguns casos, substituídos pe-
los mestres novatos que recém havíamos formado aqui mesmo. A situação
era crítica: em virtude da saída dos professores ocorriam sobrecargas na
graduação e na pós-graduação, os problemas já acima relatados persistiam,
mesmo que minorados, e a capacidade de orientação estava sensivelmente
afetada. Foi o momento em que a sobrevivência do programa de pós-gra-
« 90 »
Acordes de uma sinfonia
duação foi garantida, pode-se dizê-lo, por dois professores visitantes que
acabaram se fixando por aqui, passando a integrar nosso quadro perma-
nente. Jaroslav Kozel e Domingos Boechat Alves, com a larga experiência
que traziam assumiram a responsabilidade pela maioria das orientações,
Kozel concentrando-se naquelas que envolviam atividade experimental e
Domingos, nas de cunho computacional. Mesmo assim, o desempenho do
curso foi visivelmente prejudicado: apenas quatro mestres foram forma-
dos nos três anos seguintes (1971-73), ocorrendo um represamento que,
finalmente, desaguou em 1974, com a formação de oito mestres. Neste ano,
ainda, começou o retorno dos primeiros doutores.
O gargalo, agora, era outro: o número de bolsas que Capes e CNPq dispo-
nibilizavam para o curso era quase que simbólico, e de longe insuficiente
para atender à demanda do curso e a plena utilização da capacidade insta-
lada. Por isso, poucos alunos haviam sido admitidos em 1976 e a perspec-
tiva para o ano seguinte não era alentadora. Foi quando a CNEN, respon-
sável pela garantia da formação dos recursos humanos requeridos pelo
Programa Nuclear Brasileiro, nos procurou. Além de suprir apoio financei-
ro para investimento e custeio, ofereceu bolsas para alunos de graduação e
pós-graduação, e estas, particularmente, vieram a fazer a diferença, permi-
tindo a absorção de novos alunos de mestrado em níveis compatíveis com
« 91 »
PARTE 2 Momentos
Natural seria que sonhássemos com voos mais altos. O doutorado foi,
então, planejado com maior rigor do que o fora o mestrado, e a tramitação
pelos órgãos competentes também tomou mais tempo. A autorização do
CFE foi obtida em 1980, sendo alunos admitidos a partir do ano seguinte.
Mas a posição de liderança que havíamos alcançado nos tornara exigen-
tes quanto aos padrões que pretendíamos impor aos que aqui viessem
em busca do título de doutor. Aprendemos na carne a ser mais humildes:
os anos passavam, os candidatos iam e vinham; a rotatividade era gran-
de, muitas as desistências, mas não ocorriam titulações. Afinal, as coisas
se acertaram, e em 1988 ocorreram as duas primeiras defesas, uma delas
« 92 »
Acordes de uma sinfonia
Finale? - Conclusão
E aí estão, num resumo, os primeiros vinte e cinco anos da vida do velho
CPGEM, que depois virou PosMec. São os anos em que participei com
intensidade da vida do curso, que hoje é programa. Foi quando lhe conhe-
ci os meandros, as minúcias, as glórias e as fraquezas; quando carreguei,
por doze anos, a responsabilidade de ser o coordenador. E, é claro, quan-
do convivi e interagi com essa plêiade de colegas cujo trabalho permitiu
a construção do curso e a obtenção dos sucessos alcançados. Deles, todos,
são as glórias do dia, a eles são devidos os cumprimentos.
Deixo aos que hoje militam no PosMec a descrição do que sucedeu depois
que me afastei. Mas adianto, desde já, que tenho acompanhado com inte-
resse seu trabalho, conheço-o bem e sinto que conduzem o curso a níveis
cada vez mais altos de excelência. As glórias e os cumprimentos do dia,
portanto, são deles também.
« 93 »
45 anos
Eram outros tempos, era outra realidade. A cidade era pequena, pacata,
enraizada em hábitos que vinham de gerações passadas. A vida era menos
agitada, em muito reminiscente daquilo que vemos nos primeiros filmes
de Fellini. Quando passeávamos pelo centro da cidade, víamos moças nas
janelas namorando os rapazes nas calçadas, participávamos do footing na
Felipe Schmidt, tomávamos cafezinho no Ponto Chic, chope no Meu Can-
tinho…
« 94 »
45 anos
« 95 »
PARTE 2 Momentos
Quando rememoro esta situação, como o faço agora, fico de certa forma
surpreso e sensibilizado com a compreensão que estes então jovens tive-
ram conosco, então jovens também. Como souberam conviver com nossas
evidentes limitações de então, como souberam absorvê-las, contorná-las,
desculpá-las e superá-las? Como nos toleraram? Será, quiçá, por que joga-
mos limpo e não lhes escondemos nossa situação de virtuais colegas? Ou
porque, de uma maneira tão ao feitio daquela época, não hesitamos em
abrir-lhes nossas portas, em recebê-los em nossos lares, sempre que nossos
conteúdos didáticos os afligiam?
Tenho, hoje, um grande preito de gratidão para com esta turma, mais do
que com qualquer das posteriores. Vocês me convenceram de que eu tinha
uma vocação da qual eu, pessoalmente, duvidava. O sentimento de res-
ponsabilidade que eu tinha para com vocês me colocou na tarefa ingente
de produzir uma apostila, misto de muita tradução e alguma elaboração
que (lembram dela?), se não era excepcional (e não era), pelo menos estava
« 96 »
45 anos
Quando vejo, hoje, a vida profissional exitosa que vocês tiveram, e como,
pouco tempo depois de formados, já constituíam um referencial seguro da
qualidade do curso de engenharia que aqui havíamos implantado, sinto,
como tenho a certeza de que o sente cada um de meus colegas de então,
orgulho pelo trabalho realizado e pelos profissionais que formamos em
condições tão adversas.
« 97 »
ABCM
– Um interregno catarinense
Surgiu daí a ideia que foi posta em prática no biênio seguinte: desvincular a
organização do COBEM das atribuições normais da diretoria da associação,
entregando-a a uma comissão local; os membros da diretoria só interviriam
« 98 »
ABCM – Um interregno catarinense
« 99 »
PARTE 2 Momentos
« 100 »
ABCM – Um interregno catarinense
« 101 »
PARTE 3
Opinião
« 105 »
PARTE 3 Opinião
A Motivação
É preciso que fique claro que a Reforma Universitária de 1968 veio a atender
anseios de um segmento ponderável da comunidade universitária. Isso fica
evidente quando se procura lembrar a batalha épica que se travou durante a
tramitação, votação e aprovação, pelo Congresso Nacional, da Lei de Diretri-
zes e Bases da Educação Nacional, ainda no início da década de 60.
A Semestralidade
Um dos pontos que se questiona hoje é o da periodicidade dos cursos.
O motivo principal da introdução da semestralidade é óbvia: possibilitan-
do a dupla admissão de estudantes por ano, acelerou o fluxo dos alunos
pela universidade, e permitiu racionalizar, em certa medida a questão da
ocupação dos docentes. Há problemas que foram criados, pois as escolas
secundárias não se adequaram a essa periodicidade (e há razões com-
preensíveis para isso).
É preciso que se diga que a dupla admissão anual não foi novidade da
Reforma. Algumas universidades (a UFRGS, por exemplo), já a praticavam,
porém com problemas operacionais em face da anualidade da estrutura
dos cursos.
« 106 »
Universidade: reformar a Reforma?
Por outro lado, alguns problemas que hoje se atribuem a essa periodi-
cidade não lhe são inerentes, ou lhe devem muito pouco. É o caso, por
exemplo, da movimentação dos alunos pelo campus, da complexidade do
sistema de matrícula, do desaparecimento da integração em turmas e da
concentração de carga.
Cursos Seriados
O restabelecimento dos cursos seriados obviamente resolveria muitos
problemas: simplificaria o sistema de matrícula, permitiria a racionaliza-
ção dos horários de aulas e, consequentemente, do espaço físico disponí-
vel, restabeleceria a “turma” como instituição desejável, criando, com isso,
melhores condições para o estudo em grupo. Mas mesmo que se retorne
aos cursos seriados, seria desejável manter a periodicidade semestral!
Por outro lado, é também indubitável que se perde com o curso seriado. A
estrutura curricular fica mais rígida, e se perdem preciosos graus de liber-
dade hoje disponíveis: a possibilidade de compactação do curso pelos alu-
nos mais capazes ou com melhor formação prévia; e a possibilidade de se
usar a atual elasticidade para atender problemas sociais (aluno que precisa
trabalhar, que tem problemas de saúde ou outras contingências).
« 107 »
PARTE 3 Opinião
Crédito
Crédito é um padrão de medida do esforço requerido para a absorção
de um determinado conteúdo didático. Por uma questão de justiça, deve
ser preservado embora mereça reformulação. A fixação simplista de
determinada carga horária para configurar um crédito não leva em conta,
e por isso não estimula, práticas desejáveis como atividade em laboratório,
estudo dirigido ou supervisionado, atividades extraclasse e outras. Por isso,
o padrão deve ser redefinido, e já existem exemplos mais felizes a esse
respeito no próprio país (na Unicamp, por exemplo).
Por outro lado, seria infeliz, por que injusto, abandonar o sistema de crédi-
tos em troca da antiga uniformidade de valoração das disciplinas.
Com efeito, um aluno que obtivesse conceito (ou nota) elevado numa
disciplina pesada e um conceito (ou nota) mais baixo numa disciplina leve
(e essas distinções indubitavelmente existem), teria um índice igual (no
sistema antigo) a outro aluno que obtivesse os mesmos conceitos (ou notas),
mas com o melhor resultado na disciplina leve. O sistema de créditos não
permite essa distorção.
Conceitos
Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que conceitos, como medida do
aproveitamento em uma disciplina, não guarda relação com o sistema de
créditos. Em verdade, a universidade medieval não conhecia o sistema de
créditos, mas já avaliava os alunos através de conceitos (magna cum laude,
laude, etc.).
« 108 »
Universidade: reformar a Reforma?
Então, por que se preconiza a volta ao sistema de notas? Mais uma vez é
por falta de reflexão, e porque a universidade se omitiu de prover o ade-
quado esclarecimento a seus docentes.
Conclusão
O presente trabalho procura motivar a reflexão e discussão das questões
mais polêmicas relativas à Reforma Universitária de 1968. Ele não pretende
ser dogmático nem completo. Em verdade, existem aspectos importantes
que foram intencionalmente deixados de lado: o reflexo de ações paralelas
à Reforma sobre as universidades, a preparação específica de profissionais
liberais para o exercício do magistério superior, a estrutura departamental,
a questão do vestibular, a frequência obrigatória, a integração da pesquisa
com o ensino, a qualidade do ensino, os currículos, entre outros.
« 109 »
Nossa responsabilidade
A crise por que passa a universidade pública brasileira tem componentes va-
riadas, que vão muito além das crônicas limitações e distorções financeiras e
salariais ou das periódicas e sempre crescentes ameaças de privatização.
« 110 »
Nossa responsabilidade
Será surpresa, em tal ambiente, que se ouçam, com tanta frequência, colo-
cações em que se confunde extensão com assistencialismo, pesquisa com
a redescoberta da roda? Ou que se use Marx para justificar o retrocesso
contido em nossa Reforma Acadêmica (se ainda fosse o Groucho…). Que o
movimento docente não consiga enxergar além do meramente corporati-
vo? Universidade é isso?
« 111 »
Universidades em avaliação
« 112 »
Universidades em avaliação
« 113 »
A extensão integrada
com o ensino e a pesquisa:
a teoria e a prática
Introdução
A Sociedade Brasileira apresenta hoje problemas fundamentais graves que
contrastam com nosso desejo de nos tornarmos uma nação tecnológica e
socialmente desenvolvida. Problemas como a falta de habitação, a fome, a
falta de escolas para grande número de crianças, a ausência de saneamento
básico nas cidades, a dificuldade de acesso aos cuidados médicos essenciais
e ao tratamento dentário, a volta de certas epidemias, a verminose nas
crianças de famílias de baixa renda, etc., nos classificam entre os países de
pior nível social. O Brasil, ao mesmo tempo em que apresenta uma reali-
dade cruel como a mostrada, procura, também, avançar seus conhecimen-
« 114 »
A extensão integrada com o ensino e a pesquisa: a teoria e a prática
« 115 »
PARTE 3 Opinião
Isto quer dizer que o verdadeiro extensionismo exclui atividades que com-
petem a organismos específicos, como, também, exclui aquelas atividades
que possam ser bem realizadas pelos profissionais que a própria Universi-
dade lança no mercado de trabalho, com os quais ela estaria entrando em
competição, em condições de franca deslealdade. Daí a necessidade de um
quadro qualificado para exercer a Extensão. Caso esta qualificação não exis-
ta, não existirá diferença entre o profissional de mercado e o professor.
« 116 »
A extensão integrada com o ensino e a pesquisa: a teoria e a prática
Quando a atividade de Extensão for conduzida por essa ótica, ela reali-
menta a atividade de Pesquisa, redirecionando-a para temas que consti-
tuem uma necessidade concreta da comunidade, ou de segmentos desta,
sem perda de sua característica inerente de questionamento do desconhe-
cido. Em face disso se estabelecem canais alternativos de financiamento da
pesquisa não básica na Universidade. A Extensão passa a atuar como agente
motivador e enriquecedor da atividade de Pesquisa, a par de conferir-lhe
relevância social. Ao nível interno, promove o estabelecimento e a conso-
lidação de grupos de pesquisa, envolvendo docentes, técnicos e estudantes,
tanto de pós-graduação como de graduação.
As exceções
Situações relevantes em que a atividade de Extensão pode prescindir de al-
gumas das características aqui enunciadas, existem. Duas delas não podem
ser desconsideradas.
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PARTE 3 Opinião
Isso existe?
As ideias aqui enunciadas têm sido praticadas há vários anos, inicialmen-
te em decorrência de oportunidades fortuitas, e hoje, face aos resultados
verificados, como filosofia de ação sistemática, no Departamento de Enge-
nharia Mecânica da UFSC.
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A extensão integrada com o ensino e a pesquisa: a teoria e a prática
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PARTE 3 Opinião
Com uma das maiores firmas do Estado tem sido mantido um longo traba-
lho de cooperação mútua e simbiótica que, de um lado, permitiu impor-
tantes desenvolvimentos nos produtos que ela produz e, por outro, susci-
tou temas atrativos e relevantes para dissertações de mestrado e benefícios
materiais para três laboratórios do Departamento.
O controle
A experiência do Departamento de Engenharia Mecânica demonstrou
que a concepção aqui apresentada, para a atividade extensionista, é viável,
desde que submetida a controles adequados. A simples exigência do aval
do Colegiado do departamento, estipulada pela Resolução no 44/CEPE/87,
se revelou insuficiente. A experiência demonstrou que, independente das
diretrizes gerais estabelecidas para o julgamento de processos referentes
à atividade de extensão, sua aprovação ou rejeição era fortemente condi-
cionada por fatores aleatórios, estranhos ao mérito: dependia do relator e
da composição dos presentes à reunião. Além disso, múltiplos projetos de
pequeno porte, interesse restrito e relevância questionável entulhavam as
pautas das reuniões, tornando-as tediosas e estimulando a falta de quórum.
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A extensão integrada com o ensino e a pesquisa: a teoria e a prática
Operacionalização
No que concerne ao Departamento de Engenharia Mecânica, entendeu-se
que a comunidade de que fala a Resolução 44 é constituída pelo conjun-
to das empresas, entidades de classe e órgãos governamentais vinculados
com a área. A estrada de mão dupla que os comunica com o departamento
permite, de um lado, o repasse de informações e serviços, englobando o
desenvolvimento de novos produtos, processos ou técnicas, para esses se-
tores, atendendo a consultas específicas. Por outro lado, ela traz ao depar-
tamento empreitadas que desafiam sua competência, bem como recursos
financeiros. Esses desafios devem ser técnica ou cientificamente atrativos,
de forma a motivar a atividade de pesquisa, estimular a criatividade dos
docentes, instigá-los a ampliar seu nível de conhecimentos e enriquecê-los
com experiências válidas que permitam, também, oxigenar a atividade de
ensino, trazendo com isso benefícios também aos alunos.
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PARTE 3 Opinião
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A extensão integrada com o ensino e a pesquisa: a teoria e a prática
Os resultados
Do exposto se conclui que, quando a Extensão é encarada e desenvolvida
tendo o interesse mútuo como referencial, a Universidade pode ser benefi-
ciada pela revitalização da Pesquisa e pela oxigenação do Ensino, caracteri-
zando-se nitidamente a integração entre as três atividades que constituem
sua razão de ser.
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PARTE 3 Opinião
Bibliografia
UFSC – Resolução no 44/CEPE/87.
Blass, A., & Maliska, C. R., “A Extensão integrada com a Pesquisa e o Ensino:
a Universidade otimizando o seu desempenho”. IX Seminário de Extensão
Universitária da Região Sul, Florianópolis, outubro de 1991.
Zinberg, D. S., Ed., “The changing University: how increased demand for scien-
tists and technology is transforming academic institutions internationally”. NATO
ASI Series, Kluwe Academic Publishers, Dordrecht, 1991.
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Tradução de
A escalada da ciência
ganha nova edição
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PARTE 3 Opinião
A Escalada da Ciência: a edição original, da Oxford Univ. Press, e as duas edições da tradução brasileira,
que fiz para a EdUFSC. Foto: Henrique Almeida, Agecom-UFSC
Quem foi Brian L. Silver? Fale um pouco da sua obra e das qualidades
do escritor/cientista?
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Tradução de A escalada da ciência ganha nova edição
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PARTE 3 Opinião
Comente teorias que seguem na linha do “fim da história”, do “fim da Ciência” etc.
Silver, ao apresentar um texto claro e bem humorado, não estaria apontando uma luz à
divulgação científica e ao chamado jornalismo científico?
O texto de Silver por certo se enquadra como uma boa amostra de traba-
lho de divulgação, que se poderia chamar de jornalismo científico. Ele é
leve e acessível na forma de explicar conceitos difíceis, e se socorre, em
momentos estratégicos, de exemplos triviais ou de eventos singelos da vida
dos grandes cientistas para esclarecer ou ilustrar aquilo de que fala. Assim
sendo, o leigo, mesmo sem deter o conhecimento científico envolvido,
consegue acompanhar a linha de argumentação do autor.
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Tradução de A escalada da ciência ganha nova edição
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PARTE 3 Opinião
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Tradução de A escalada da ciência ganha nova edição
Acho que o discurso otimista já não é tão eloquente, justamente por causa
das dificuldades encontradas no caminho. Começa a manifestar-se a lei
dos rendimentos decrescentes: cada nova descoberta revolucionária de-
mandará investimentos cada vez maiores. O laboratório de fundo de quin-
tal já era. E, obviamente, quando se requerem investimentos de grande
porte, considerações de poder, de lucro e de interesses não ficam de fo-
ram… Mas acredito firmemente que a ciência, a seu tempo, sempre achará
solução para os problemas.
Por que publicar A Escalada da Ciência no Brasil? Neste sentido aborde a função de uma
editora universitária.
Por que não? O Brasil faz parte de nosso mundo, quer ser respeitado na
comunidade das nações, quer poder alimentar seu povo, não é mesmo?
Então tem de destacar-se, também, no terreno científico. E a compreensão
de como a ciência evoluiu até nossos dias é parte do processo que conduz
a estes fins. Por outro lado, quem melhor do que uma editora universitária,
respeitada no ambiente universitário, e não apenas de sua própria uni-
versidade, para dar credibilidade a uma empreitada como esta? Acho que
o papel de uma editora universitária reside justamente aí, em publicar o
que é necessário, na esfera de ação da universidade, sem uma preocupação
excessiva com o retorno financeiro.
Comente outras questões relevantes sobre a obra que deveriam ser de conhecimento
dos leitores.
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PARTE 3 Opinião
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Arno Blass
Dados
Biográficos
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PARTE 3 Opinião
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Arno Blass
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PARTE 3 Opinião
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Arno Blass
Foto histórica: os sete primeiros reitores da UFSC. Eles são, também, os reitores dos anos em que exerci
minha vida profissional na UFSC (1964-94). Da esquerda para a direita: Bruno Rodolfo Schlemper
Júnior (1988-92), Caspar Erich Stemmer (1976-80), Rodolfo Joaquim Pinto da Luz (1984-88, 1996-2004),
João David Ferreira Lima (1961-1972), Roberto Mündell de Lacerda (1972-76), Antônio Diomário de
Queiroz (1992-96) e Ernani Bayer (1980-84). Foto: Agecom/UFSC
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