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Em meio à chuva uma criança corre, com sua gabardina amarela e galochas cheias de água e terra, o jovem vai atrás de seu
barquinho de papel que percorre pelas águas, ele então se aproxima da entrada do bueiro, por onde nada vê, apenas um buraco
escuro com a água a escorrer para dentro.
Desistindo de encontrar seu barco, pois sabe que já o perdeu, o garoto se afasta, mas uma voz ao fundo ecoa dentro daquele buraco
no meio do campo, molhado e confuso ele ouve:
-George...?
Pequenos olhos brilhantes emergem em meio à escuridão, com duas marcas negras, uma em baixo de cada olho, vão retas em
direção à um sorriso sombrio, mas que vai afeiçoando à medida que o garoto olha.
O porquê de ter uma pessoa na tampa do esgoto ou como ele fora parar ali, nada importa, aqueles olhos deixavam a criança
hipnotizada, quase em transe, nada mais importava, ele só queria seu barco.
-Teu barco flutuou até aqui George... Se quiseres tu podes flutuar também!
Confuso, a criança tenta se afastar, está assustado, já deveria estar em casa com seus pais e seu irmão, mas seu corpo não seguia o
que sua mente dizia, “entre” dizia em sua cabeça, mas seu corpo tentava se segurar ao chão. Nada importava, a mente era mais forte.
Sem pensar duas vezes a criança entra pela tampa do esgoto, escorrega pelas águas e cai num espaço escuro, frio e com um cheiro
estranho, era quase como um túnel, com diversas entradas, devia ser a rede de esgoto, ao menos isso a criança conseguia lembra,
mas não era como um longo corredor espelhado.
Esquerda ou direita, não há tempo para pensar, e sua intuição, ou qualquer que seja o que a controlava o direcionou para uma
direção. George estava preso, não ia conseguir subir, então só bastava seguir em frente. Percorrendo pelo cano a espera de ajuda,
talvez do homem com quem acabara de falar, ou uma possível forma de sair, mas nada poderia fazer, apenas seguir em frente,
sempre em frente.
Após horas, pelo menos era o que ele achava, George já estava cansado, com frio e fome, a dor em seu corpo é horrível, ele treme
pelo fato de estar molhado da chuva e naquele espaço úmido, que parecia nunca acabar. Não há mais nenhum barulho humano ali,
além de sua respiração, o guinchar dos ratos ecoavam pelos canos a dentro, e seus passos pareciam ficam cada vez mais pesados.
Pensando em desistir George começa a gritar, colocando as últimas forças de seus pequenos pulmões para fora. E então surge uma
voz e uma forte luz ao final do túnel:
A criança então corre, como nunca o fez antes, era a voz que ouvira tempos atrás, estava salvo, imaginava encontrar com sua
família, em sua casa quente e comida na mesa, estava salvo, e ele corria, sem parar, já não sabia o quanto estava correndo, parecia
que quanto mais corria mais longe a luz ficava, até que então parou... sua mente não entendia o que estava vendo, o chão já não
parecia mais água, era espesso e gosmento, um líquido vermelho, era sangue, um cheiro forte de ferro subia ao seu nariz, e sua
respiração começou a ficar pesada.
A luz não era do exterior, longe disso, a luz vinha de dentro do palhaço, sim um palhaço, pela primeira vez George percebeu com
quem estivera a falar, um palhaço com quase 2 metros de altura, se não fosse pelo local cheio de lixo e resíduos, restos de folhas se
decompondo e o forte odor de esgoto, podre e degradado, com a terra que escorria pelas paredes e pedaços que pareciam com
corpos, seria como mais um dia no circo.
O palhaço usava uma roupa colorida e segurava um balão, a medida que seu olhar ia subindo a ideia de um palhaço brincalhão ia se
perdendo, seu rosto era diferente, era algo terrível, todas as boas memórias e fantásticas de George sumiram, tudo o que ele sentia
era medo, parecia o fim de sua sanidade, ela estava destruída, nada mais em sua mente fazia sentido. Aquele espaço parecia a casa
de algo ruim, teias saiam do teto e das paredes, como se fosse uma cama, um espaço para repouso. O palhaço segura em seu braço e
o leva para um outro túnel.
Um pé direito alto revelava a pior imagem que George poderia ver, corpos empilhados e espetados à parede, uma enorme prateleira
com os mais diversos corpos, e como se nada de pior pudesse lhe acontecer, o palhaço abre a boca, pronto para mais uma refeição.
A chuva para e começa a sair os raios de sol por entre as nuvens. Por onde antes, corria um jovem atrás de seu barquinho de papel,
agora já não há nada, apenas uma rede de esgoto e os canos ocos com água a passar, parece que tudo foi uma ilusão.
O barco de papel continua flutuando sob as águas, flutuando para sempre, sem nunca afundar.
E tudo que restará ali são apenas partes de sua memória, consumida, pelo palhaço dançante,
Pennywise.