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v.2 n.

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jul. 2014
Editores
Dr. Felipe de Almeida Ribeiro (Embap)
Dr. Fabio Scarduelli (Embap)

Corpo Editorial
Dra. Catarina Domenici (UFRGS)
Dr. Dániel Péter Biró (Canadá, Uvic)
Dr. Fábio Poletto (Embap)
Dr. Flo Menezes (Unesp)
Dr. Rodolfo Coelho de Souza (USP)

Corpo Consultivo Internacional


Dr. Andrew Schloss (Canadá, University of Victoria)
Dra. Annie Yen-Ling Liu (China, SooChow School of Music)
Dra. Beatriz Ilari (Estados-Unidos, USC Thornton School of Music)
Mr. Cort Lippe (Estados-Unidos, State University of New York at Buffalo)
Dr. David Cranmer (Portugal, Universidade Nova de Lisboa)
Dr. Edson Zampronha (Espanha, Music Conservatory of Asturias)
Dr. Gabriel Mãlãncioiu (Romênia, West University of Timişoara)
Dr. Gyula Csapó (Canadá, University of Saskatchewan)
Dra. Iracema de Andrade (México, Escuela Superior de Música del Instituto Nacional de Bellas Artes)
Dr. James Currie (Estados-Unidos, State University of New York at Buffalo)
Dr. Jeffrey Stadelman (Estados-Unidos, State University of New York at Buffalo)
Dr. John Bacon (Estados-Unidos, SUNY Fredonia)
Dr. Jonathan Goldman (Canadá, University of Victoria)
Dra. Luciane Cardassi (Canadá, Banff Center)
Dra. Maria do Amparo Carvas Monteiro (Portugal, Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Coimbra)
Dra. Miriam Escudero (Cuba, Colegio Universitario San Gerónimo de la Habana. Universidad de la Habana)
Mr. Olivier Pasquet (França, IRCAM)
Dra. Sara Carvalho (Portugal, Universidade de Aveiro)
Dr. Victor Rondón (Chile, Facultad de Artes de la Universidad de Chile)
Dr. Yi-Cheng Daniel Wu (China, SooChow School of Music)

Corpo Consultivo Nacional


Dr. André Egg (FAP)
Dra. Anete Weichselbaum (Embap)
Dra. Any Raquel de Carvalho (UFRGS)
Me. Bryan Holmes (Unirio)
Dr. Carlos Yansen (Embap)
Dr. Daniel Quaranta (UFJF)
Dr. Didier Guigue (UFPB)
Dr. Diósnio Machado Neto (USP)
Dra. Elisabeth Seraphim Prosser (Embap)
Dr. Fernando Iazzetta (USP)
Dra. Jusamara Souza (UFRGS)
Dra. Laize Guazina (FAP)
Dr. Luiz Guilherme Goldberg (UFPel)
Dra. Martha Herr (UNESP)
Dr. Maurício Orosco (UFU)
Dr. Orlando Cézar Fraga (Embap)
Dr. Paulo Castagna (UNESP)
Dra. Renate Weiland (Embap)
Dr. Rodolfo Caesar (UFRJ)
Dra. Rosane Cardoso de Araújo (UFPR)
Dr. Sérgio Luiz Ferreira de Figueiredo (UDESC)
Dr. Tadeu Taffarello (UEL)
Dra. Teresinha Prada (UFMT)
Dra. Viviane Beineke (UDESC)

i
Revista Vórtex (ISSN 2317–9937) é um periódico online de acesso livre da Escola de Música e Belas Artes do Paraná –
Universidade Estadual do Paraná (Curitiba, Brasil).

Universidade Estadual do Paraná


Antonio Carlos Aleixo | Reitor
Antonio Rodrigues Varela Neto | Vice-Reitor

Escola de Música e Belas Artes do Paraná


Maria José Justino | Diretora
Anna Maria Lacombe Feijó | Vice-Diretora

Pós-Graduação e Pesquisa da EMBAP


Fabio Poletto | Coordenador

Design das capas v.1 n.1, v.1 n.2, v.2 n.1


Núcleo de Comunicação da Embap | NuCom
Débora Marquesi | Designer

Rua Comendador Macedo 254


Curitiba PR, 80060-030
(41) 3026-0029
www.embap.br

Acesso gratuito na internet


www.revistavortex.com
info@revistavortex.com

Catalogação na publicação elaborada por Mauro Cândido dos Santos – CRB 1416-9ª

REVISTA VÓRTEX: Revista Eletrônica de Música – v.2 n.1, julho 2014 –


Curitiba: Escola de Música e Belas Artes do Paraná, 2014.

168 p. : il. ; 29,7 x 21 cm.


Semestral
ISSN: 2317-9937

1. Música – Periódicos I. Universidade Estadual do Paraná II. Escola de


Música e Belas Artes do Paraná

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Sumário

Editorial ............................................................................................................................................................... iv

DOSSIÊ | Homenagem a Conrado Silva (1940-2014)

Uma memória viva de Conrado Silva .................................................................................................................. 01


Rodolfo Coelho de Souza | Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil

Conrado Silva e Emilio Terraza “Lo arreglamos con alambre” ......................................................................... 04


Damián Keller | Núcleo Amazônico de Pesquisa Musical, Brasil

Conrado Silva em São Paulo ................................................................................................................................ 08


Anna Maria Kieffer | Studio de Recherches et de Structurations Électroniques Auditives, Bélgica

Conrado Silva: do teatro musical à performance art ........................................................................................... 11


Vanderlei Lucentini | Universidade de São Paulo, ECA, Brasil

ARTIGOS

Towards Overcoming the Guitar's Color Research Gap .................................................................................... 16


Rita Torres, Paulo Ferreira-Lopes | Portuguese Catholic University, School of the Arts, Portugal

The Collaborative Role of the Technician in ...sofferte onde serene... ............................................................... 37


Darren Miller | University of Victoria, Canadá

The Role of Proportion in the First-Movement Expositions of Mozart’s String Quintets ................................. 48
Eduardo Solá Chagas Lima | University of Toronto, Canadá

A versão de Dionisio Aguado para Gran Solo op. 14, de Fernando Sor: Uma revisão crítica evidente .............. 62
Maurício Orosco | Universidade Federal de Uberlândia, Brasil

Aplicação pedagógica dos estudos para violão de Leo Brouwer em sua obra de concerto ............................... 74
Claryssa de Pádua Morais, Fabio Scarduelli | Unicamp, Brasil

Três pontos de articulação na flauta: reflexões fonéticas ................................................................................... 88


Helder Teixeira | Universidade Federal da Bahia, Brasil

RESENHA

Resenha crítica do livro Escuela de la Guitarra: Exposición de la teoría instrumental de Abel Carlevaro ........ 102
Aluísio Coelho Barros | Université de Montréal, Canadá

PARTITURAS

Inner radiance ...................................................................................................................................................... 110


Gabriel Mălăncioiu | West University of Timişoara, Romênia

Fireman Dither – Variate Ilona ........................................................................................................................... 121


Ivan Eiji Simurra | Unicamp, Brasil

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Editorial

A revista Vórtex lança neste mês de julho de 2014 o seu terceiro número. Completando o
primeiro ano de existência, o periódico apresenta um crescimento considerável e planos bem definidos
para uma contínua e consistente ampliação, principalmente na qualidade e rigor de seus processos de
avaliação, bem como em diálogos com projetos e eventos acadêmicos desenvolvidos na Escola de
Música e Belas Artes do Paraná. Destacamos neste ponto o projeto de Mestrado em Música que
está sendo elaborado na instituição, o que confere à revista um papel de grande relevância por se
constituir de mais um espaço para o diálogo entre pesquisadores e programas de Pós-graduação no
Brasil. Destacamos ainda as parcerias com o SiMN 2014 – Simpósio Internacional de Música Nova e
Computação Musical – e o Simpósio Acadêmico de Violão da EMBAP, eventos que têm
contribuído de forma significativa, seja com artigos cuja avaliação atingem níveis de excelência, seja
reforçando bases acadêmicas e artísticas na instituição.
É relevante ainda destacarmos as recentes modificações no corpo editorial, cujo intuito é uma
ampliação do debate para um contexto internacional. Passam a compor o corpo os seguintes
professores: Dra. Catarina Domenici (UFRGS), Dr. Dániel Péter Biró (Canadá, Uvic), Dr. Fábio
Poletto (EMBAP), Dr. Flo Menezes (UNESP) e Dr. Rodolfo Coelho de Souza (USP). Além do atual
editor – professor Dr. Felipe de Almeida Ribeiro –, a Revista Vórtex anuncia a entrada de um segundo
editor, o professor Dr. Fabio Scarduelli.
Do ponto de vista da expansão do alcance do periódico, destacamos a recente indexação nas
bases Rilm, ProQuest e EBSCO. A revista trabalha agora com a meta de obter uma boa avaliação no
Qualis periódico CAPES, previsto para o ano de 2015, mas também com vistas à indexação na Scielo,
procurando se adaptar gradativamente e de forma planejada aos seus critérios.
Para o presente número apresentamos seis artigos completos, uma resenha crítica, duas
partituras e inauguramos a modalidade Dossiê, com quatro artigos que prestam homenagem ao
compositor Conrado Silva, escritos por pesquisadores convidados. São eles Rodolfo Coelho de
Souza (USP), com o artigo Uma memória viva de Conrado Silva, Damián Keller (Núcleo Amazônico de
Pesquisa Musical), autor de Conrado Silva e Emilio Terraza, “Lo arreglamos con alambre”, Anna Maria
Kieffer, que escreveu Conrado Silva em São Paulo, e Vanderlei Lucentini, autor de Conrado Silva, do teatro
musical à performance art.
Na categoria artigos, Rita Torres e Paulo Ferreira Lopes (Portuguese Catholic University,
Portugal), no trabalho Towards Overcoming the Guitar’s Color Research Gap, abordam questões relacionadas
às novas possibilidades sonoras no violão, como por exemplo o uso de amplificação para evidenciar
técnicas de projeção frágil. Darren Miller (University of Victoria, Canadá), por sua vez, analisa a obra
...sofferte onde serene..., de Luigi Nono, sob a ótica de como a performance dessa obra pode se beneficiar
do uso da tecnologia musical. Eduardo Sola (University of Toronto, Canadá), em seu artigo The Role of

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Proportion in the First-Movement Expositions of Mozart’s String Quintets, aborda o papel da proporção na
exposição do primeiro movimento da sonata clássica, usando como base os 6 Quintetos de cordas de
Mozart e como referencial a obra Elements of Sonata Theory (2006), de James Hepokoski e Warren Darcy.
Maurício Orosco (UFU), em A versão de Dionisio Aguado para Gran Solo Op.14, de Fernando Sor: uma
revisão crítica evidente, mostra que a revisão da obra Grand Solo para violão de Dionisio Aguado traz, além
do brilho e do virtuosismo, contraste e equilíbrio formal. O referencial para as análises nesse trabalho
se concentra em William Caplin – do ponto de vista da edição crítica – e Arnold Schoenberg – no que
se refere à análise dos materiais musicais. Claryssa de Pádua Morais (UNICAMP) e Fabio
Scarduelli (EMBAP/UNESPAR), no artigo Aplicação pedagógica dos estudos para violão de Leo Brouwer em
sua obra de concerto, verificam como as demandas técnicas e estilísticas presentes nos Estudios Sencillos
de Leo Brouwer podem ser encontradas especialmente em três obras: Danza Caracteristica, La Espiral
Eterna e El Decameron Negro. A partir dessa verificação é feita a sugestão da aplicação dos estudos como
preparação para a performance das obras supracitadas. Fechando a seção de artigos, Helder Teixeira
(UFRJ) em seu trabalho Três pontos de articulação na flauta: reflexões fonéticas desenvolve um estudo
comparativo entre as articulações dos sons da fala com as articulações na flauta. Além disso, demonstra
a aplicação de diferentes pontos de articulação em três diferentes bocais de flauta, verificando assim
seus resultados.
A revista encerra o número com a publicação de uma resenha e duas partituras. Em Resenha
crítica do livro Escuela de la Guitarra: exposición de la teoria instrumental de Abel Carlevaro, Aluísio Coelho
Barros (Université de Montréal, Canadá) apresenta um dos principais trabalhos do violonista e
pedagogo Abel Carlevaro onde estão detalhadas suas ideias acerca da técnica violonística, abordagem
esta que o projetou internacionalmente. Já na seção de partituras temos Inner Radiance, de Gabriel
Malancioiu (West University of Timisoara, Romênia), para violoncelo solo, e Fireman Dither, de Ivan
Eiji Simurra (UNICAMP) para orquestra. A Revista Vórtex inaugura em 2014 a inclusão de arquivos
de áudio enquanto anexos das partituras publicadas.

Desejamos a todos uma boa leitura.

Dr. Felipe de Almeida Ribeiro | Dr. Fabio Scarduelli

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SOUZA, Rodolfo Coelho de. Uma memória viva de Conrado Silva. Revista Vórtex, Curitiba, v.2, n.1, 2014, p.1-3

Uma memória viva de Conrado Silva

Rodolfo Coelho de Souza1


Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil

H
averia uma centena de assuntos para abordar a respeito da contribuição de Conrado Silva
para a cultura brasileira, testemunhados ao longo de mais de 40 anos de convivência com
este extraordinário intelectual, todavia no contexto desta homenagem limitar-me-ei ao
recorte de alguns poucos eventos em que minha perspectiva foi privilegiada.
Não sei ao certo quando fomos apresentados, ainda no início da década de 1970, mas em 1976
eu frequentava a Travessia Oficina de Música, um espaço cultural que Conrado mantinha em São Paulo,
num antigo casarão, hoje já demolido, na ladeira da Rua Doutor Veiga Filho, em Higienópolis. Lá ele
exercitava suas múltiplas competências em pedagogia e pesquisa de música eletroacústica, assim como
em projetos de acústica arquitetônica. No ano seguinte fui aluno regular no curso de música
eletroacústica que ele ministrava naquele estúdio. O curso abordava, além de fundamentos de acústica
musical, princípios da técnica da música concreta e de síntese sonora. As principais ferramentas do
estúdio eram dois gravadores Revox, estéreo, pista inteira, usados para as técnicas clássicas de edição
sonora em fita magnética e um sintetizador analógico modelo VCS3 - Synthi A, da EMS - Electronic
Music Studios que Conrado trouxera da Inglaterra em uma de suas viagens. Este sintetizador portátil
vinha acondicionado numa maletinha executiva e continha três osciladores que se interligavam em
múltiplos esquemas através de um engenhoso sistema de pinos conectados num patchbay matricial.
Naquele ano compus, usando os recursos do estúdio de Conrado, Durações, minha primeira peça para
instrumentos e sons eletrônicos. Assim como eu, diversos outros compositores eletroacústicos
iniciaram sua carreira naquele ambiente fértil e efervescente.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
1 É professor associado de teoria e composição do Departamento de Música da FFCLRP da Universidade de São Paulo.
Doutor em Composição Musical pela University of Texas at Austin pesquisa nas áreas de composição musical auxiliada por
computadores, teorias analíticas da música pós-tonal, análise de música brasileira do romantismo e modernismo. Entre suas
composições musicais destacam-se: O Livro dos Sons (2010) para orquestra e sons eletrônicos, Concerto para Computador
e Orquestra (2000) e Tristes Trópicos (1991). Email: rcoelho@bighost.com.br

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SOUZA, Rodolfo Coelho de. Uma memória viva de Conrado Silva. Revista Vórtex, Curitiba, v.2, n.1, 2014, p.1-3

Uma segunda faceta refere-se à sua atuação como engenheiro consultor em acústica
arquitetônica. Formado em engenharia acústica na Alemanha, Conrado acumulou ao longo dos anos
um currículo invejável nesta área, abrangendo obras projetadas tanto no Brasil como em outros países.
Ele nutria um especial orgulho pelo projeto da sala da Fundação de Educação Artística de Belo
Horizonte. Todos que lá estiveram experimentaram sua acústica impecável... “para música de câmara”,
emendava Conrado, “pois não há espaço perfeito para todos os usos”, ensinava ele. Como eu também
atuava em engenharia consultiva, em outra área, identificávamo-nos no esforço de equilibrar um
quotidiano de múltiplas competências. Fizemos alguns projetos em conjunto, embora nem todos com o
glamour das grandes salas de concerto. Lembro a satisfação de Conrado quando o projeto de redução
de ruídos para a câmara de moinho de bolas de uma grande indústria química, que elaboramos
conjuntamente, foi aprovado no teste de desempenho. A meta de conforto ambiental exigida parecia
inicialmente um desafio impossível, mas Conrado soube atingi-la usando seus profundos
conhecimentos técnicos aliados à sua capacidade de invenção e sensibilidade excepcionais. Minha
última experiência nessa área com Conrado foi ter composto a banca julgadora da sua tese de
doutorado sobre Acústica Arquitetônica que apresentou ao Departamento de Arquitetura da
Universidade de Brasília em 2009. Aliás, a história de Conrado Silva no Brasil está diretamente ligada à
formação da UNB. Gilberto Mendes conta que no Festival Música Nova de 1968, Conrado, que
participava daquele evento, estava hospedado em sua casa quando uma pequena comitiva de
professores, encarregada de formar o primeiro corpo docente da UNB, visitou-o para sondá-lo para um
cargo de professor. Gilberto não se interessou, mas indicou Conrado, que foi entrevistado e contratado
ali. Esse primeiro período na UNB foi curto, pois logo sua cátedra, assim como a de muitos outros
professores, foi caçada por motivos ideológicos. Porém, muitos anos depois, após a lei da anistia,
Conrado foi reintegrado ao corpo docente da UNB. Para se aposentar com os vencimentos da ativa, a
universidade requereu que ele defendesse uma tese de doutorado. Foi assim que tive a honra – e o
constrangimento devido à inversão de papéis – de ter participado da banca de doutoramento daquele
que havia sido um de meus mais caros professores.
Além de professor e engenheiro acústico, Conrado foi, talvez acima de tudo, um pioneiro como
compositor de música eletroacústica. Destacarei um aspecto que raramente se comenta. Sabe-se de seu
profundo compromisso com a causa dos Cursos Latino-Americanos de Música Contemporânea.
Participei como aluno de alguns deles e lá absorvi a tese defendida por Conrado de se valorizar a
unidade da cultura dos países latino-americanos para além das diferenças regionais. Essa valorização
passava pelo reconhecimento de identidades que se baseiam na cultura popular local ao mesmo tempo
em que propunha uma inserção radical nas técnicas de composição modernas. Isso pareceria uma
contradição, principalmente para aqueles que cresceram, como eu, na esteira do debate das vanguardas
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SOUZA, Rodolfo Coelho de. Uma memória viva de Conrado Silva. Revista Vórtex, Curitiba, v.2, n.1, 2014, p.1-3

contra os nacionalistas. Porém, ao lado dos aspectos tecnológicos, a obra de Conrado é pioneira
também na proposição de uma solução de compromisso para essa dicotomia. Nesse sentido considero
especialmente Natal del Rey uma obra emblemática. Vi a obra nascer durante o primeiro Curso Latino-
Americano que se realizou em São João del Rei. Lá Conrado, com um pequeno gravador portátil,
registrou a música e os sons ambientais de uma festa de Folia de Reis que acontecia durante o evento.
Posteriormente ele trabalhou esse material sonoro em seu estúdio e num estágio que fez em Bourges. O
resultado é provavelmente a primeira vez em que um compositor das nossas paragens conseguiu
trabalhar uma sonoridade com fortes conotações folclóricas pelos meios da tecnologia eletroacústica.
Anos depois encomendei a Conrado uma obra ambiental para a Bienal de Artes de São Paulo de 1989 e
o resultado foi A Nau dos Insensatos que por outros meios também incorpora um viés semelhante, assim
como Pericón, uma peça mais singela em que ele trabalhou com recursos Midi o ritmo dessa dança
uruguaia. Essa postura original de Conrado abriu nossos ouvidos e influenciou diversas obras de
diversos compositores, entre os quais me incluo.

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