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Desenvolvimento de um Método de Dosagem de Concretos de Alta

Resistência com Baixo Consumo de Cimento

CREMONINI, R.A. (1); DAL MOLIN, D.C.C. (2); CECCATTO, D.M. (3);
MANCIO, M. (4) ; GOULART, J. (5)

(1) Professor Doutor, Programa de pós-graduação em Engenharia Civil / NORIE,


Universidade Federal do Rio Grande do Sul
email: rac@ufrgs.br

(2) Professor Doutor, Programa de pós-graduação em Engenharia Civil / NORIE,


Universidade Federal do Rio Grande do Sul
email: dmolin@vortex.ufrgs.br

(3) Engenheira Civil, mestranda Programa de pós-graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e


dos Materiais - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
email: dcecatto@terra.com.br

(4) Engenheiro Civil, mestrando Programa de pós-graduação em Engenharia Civil / NORIE


Universidade Federal do Rio Grande do Sul
email: mancio@ppgec.ufrgs.br

(5) Engenheiro Civil, mestrando Programa de pós-graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e


dos Materiais - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
email: vazgoulart@ig.com.br

NORIE – Núcleo Orientado para a Inovação na Edificação


Av. Osvaldo Aranha, 99 – 3º Andar, CEP: 90035-190
Porto Alegre / RS – Fone/Fax: (51) 316-3321
Resumo
O concreto de alta resistência apresenta diversas vantagens em relação ao concreto
convencional, tanto do ponto de vista técnico quanto econômico. Contudo, o máximo
aproveitamento dessas vantagens depende de um correto proporcionamento dos
materiais, através da adoção de métodos específicos de dosagem de concretos de
alta resistência.
Os atuais métodos de dosagem de concretos convencionais não são adequados
para dosar concretos de alta resistência, pois não levam em consideração o uso de
baixíssimas relações água/cimento, de materiais pozolânicos e aditivos
superplastificantes, ocasionando consumos excessivos de cimento. Porém, mesmo
os métodos específicos para dosagem de concretos de alta resistência apresentam
algumas limitações, uma vez que não consideram as condições próprias de cada
local.
Objetivando-se desenvolver um método experimental de dosagem, específico para
concretos de alta resistência, e que possibilitasse alcançar o menor consumo de
cimento possível, realizou-se uma adaptação do método experimental IPT/EPUSP
(próprio para concretos convencionais). Descreve-se o desenvolvimento do método
e os procedimentos para execução da dosagem. Comparando o desempenho dos
concretos dosados a partir deste método com concretos dosados através da
metodologia proposta por Mehta e Aitcin, observa-se reduções de até 25% no
consumo de cimento por metro cúbico para resistências da ordem de 70 MPa.

1
Desenvolvimento de um Método de Dosagem de Concretos de Alta Resistência com Baixo Consumo de Cimento

1. Introdução
O concreto é provavelmente o material de construção mais utilizado no mundo, com
consumo estimado de 5,5 bilhões de toneladas por ano. Tal fato deve-se
principalmente ao seu relativo baixo custo, disponibilidade dos materiais
constituintes, facilidade de fabricação, versatilidade e adaptabilidade de formas(1, 2).
Apesar destas vantagens técnicas e econômicas, a deterioração prematura das
estruturas de concreto tem se tornado um problema global e existe um amplo
consenso acerca da sua falta de durabilidade. Aliando condições severas do
ambiente com concretos de baixa qualidade, tem-se uma aceleração do processo de
degradação das estruturas(1, 3).
A especificação de resistências à compressão relativamente baixas está diretamente
relacionada com o uso de elevadas relações água/cimento, muito maiores do que as
necessárias para satisfazer os requisitos de durabilidade das estruturas de concreto
armado. Por outro lado, é sabido que a utilização de uma elevada resistência
garante o incremento da durabilidade (4).

1.1. Concreto de Alta Resistência


A utilização de Concreto de Alta Resistência (CAR) apresenta inúmeras vantagens
em relação ao Concreto Convencional (CC), possibilitando redução das dimensões
das peças estruturais (especialmente de pilares), aumento do espaço útil nos
pavimentos inferiores, diminuição da carga nas fundações, maior velocidade de
execução, ganhos de durabilidade (com redução da porosidade e permeabilidade no
concreto), aumento dos vãos livres em pontes, elevada resistência ao desgaste ou
abrasão, diminuição das deformações por retração, deformação imediata ou por
fluência, bem como benefícios ecológicos, energéticos e econômicos, por utilizar
resíduos industriais como sílica ativa, por exemplo(5, 6).
Apesar do custo por m3 do CAR ser maior que o CC, em geral a utilização de CAR é
economicamente vantajosa (14), uma vez que permite redução das seções e
consequentemente do volume de concreto, aço e fôrmas. Para verificar a viabilidade
econômica de CAR em edifícios altos, Dal Molin e Wolf (15) realizaram um estudo
econômico comparativo entre a execução de um edifício de 15 andares com CC
(fck=21 MPa) e com CAR (fck=60 MPa), sendo o cálculo correspondente ao 3º
pavimento. Através da análise dos custos de concreto, armadura, fôrmas e mão-de-
obra, obtiveram um economia de aproximadamente 12 porcento na estrutura de
CAR em relação à estrutura de CC (5).
Contudo o proporcionamento dos materiais para CAR requer especial atenção
quanto ao controle e seleção dos componentes, escolha do tipo de cimento,
qualidade e tamanho máximo dos agregados, utilização de aditivo e adições, bem
como no procedimento de execução da mistura (6).

1.1.1. Elevados consumos de cimento


O alto teor de partículas finas e a alta coesão, características do CAR, pode conferir
um comportamento tixotrópico ao concreto no estado fresco, e uma significativa
perda de abatimento com o tempo, dificultando o transporte, lançamento e
adensamento do concreto(7). Além disso, concretos com altos consumos de cimento
apresentam menor capacidade de absorver deformações e maior tendência à
fissuração, devido ao aumento da retração química, da retração térmica e do módulo

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de elasticidade (8). Assim, percebe-se que o consumo de cimento não pode ser
aumentado excessivamente, não apenas devido ao custo, mas também porque um
elevado consumo de cimento pode acarretar problemas de durabilidade (9).
Ao mesmo tempo, teores excessivos de cimento não são recomendados devido à
alta demanda de matéria-prima e energia necessárias para sua fabricação(2, 10).
Com o intuito de minimizar a ocorrência de fissuração e aumentar a durabilidade, a
solução mais efetiva técnica e economicamente é a substituição de uma parte do
cimento por um material pozolânico, tornando o concreto menos propenso à
apresentar microfissuras, e ainda com uma zona de transição mais resistente e
durável (8) .

1.1.2. Utilização de materiais pozolânicos e aditivo superplastificante em


dosagens de CAR
No estado fresco, a presença de finas partículas de materiais pozolânicos resultam
em consideráveis melhorias nas propriedades reológicas, tais como coesão e
estabilidade, otimizando-se a zona de transição, através da minimização da perda
de água e da segregação, além de reduzir o calor de hidratação e a perda de
abatimento com o tempo (11). A sílica ativa, por exemplo, atua através do efeito fíler e
das reações pozolânicas, aumentando a densidade da matriz e a resistência do
concreto desde as primeiras idades (9).
Mehta e Aitcin (11) chegam a afirmar que a incorporação de adições minerais ao
concreto propicia tantas vantagens técnicas que nenhuma mistura deveria ser feita
sem materiais pozolânicos.
Assim como a utilização de materiais pozolânicos, o uso de aditivos
superplastificantes é uma característica dos CAR. Em CAR, a trabalhabilidade
depende muito mais do uso de aditivos, ao contrário do que acontece em concretos
convencionais, onde a água é essencial para obter-se a trabalhabilidade adequada
para a concretagem, o que pode levar a efeitos negativos tais como redução de
resistência e diminuição da durabilidade. Para otimizar as propriedades do concreto
no estado endurecido é necessário reduzir ao máximo a quantidade de água, sem
perder trabalhabilidade, o que somente é possível através do uso de aditivos
superplastificantes (12).
Os aditivos superplastificantes conferem ao concreto aumento de trabalhabilidade
sem alterar a composição da mistura. Permitem redução da relação água/cimento ou
relação água/material cimentante, possibilitando diminuição da retração térmica
causada pela hidratação do cimento, incremento na resistência e melhoria da
durabilidade. Dependendo do conteúdo de sólidos na mistura do aditivo, dosagens
entre 1 e 2% sobre a massa de cimento são aconselháveis (6).
Dentre os diversos tipos de aditivos superplastificantes (à base de condensados de
formaldeído melamina sulfonados, de formaldeído naftaleno sulfonados,
lignosulfonados modificados, e polímeros acrílicos) os aditivos à base de polímeros
acrílicos são os que apresentam maiores vantagens, tais como: menores relações
água/aglomerante para uma mesma trabalhabilidade; considerável redução na perda
do abatimento com o tempo; e sua eficiência não depende do momento de adição
(junto à água de amassamento ou após a mistura do concreto) (13).

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2. Dosagem
O proporcionamento da mistura, ou dosagem, é o processo de determinação da
combinação correta dos materiais componentes que irão produzir um concreto com
as características desejadas e com o menor custo possível (11).
Segundo Aitcin (16), os atuais métodos de dosagem de concretos convencionais não
são adequados para dosar concretos de resistências elevadas, pois não levam em
consideração características importantes dos CAR, tais como:
• Relação água/cimento ou água/aglomerante extremamente reduzida;
• Incorporação de um ou mais adições, o que muda drasticamente as
propriedades do concreto no estado fresco e endurecido;
• Possibilidade de ajustar a consistência através do uso de aditivos
superplastificantes, sem necessidade de aumentar a quantidade de água e
cimento.
Por outro lado, mesmo os métodos específicos para dosagem de CAR apresentam
algumas limitações, tais como:
• Muitos métodos não permitem generalizar sua aplicação, pois apesar de
basearem-se nas experiências de muitos anos e em uma quantidade
considerável de ensaios de laboratório, não levam em conta as condições
próprias de cada local (10) .
• Não são previstos traços auxiliares para o estabelecimento de um modelo
de comportamento da resistência do concreto, sendo necessário refazer a
dosagem no caso de não se obter a resistência desejada no momento da
ruptura dos corpos-de-prova.
Vitervo (10) chega a afirmar que a dosagem de concretos em geral tem sido efetuada
de acordo com a experiência e por estimativa, o que normalmente leva a consumos
mais elevados de cimento.

3. Metodologia

3.1. Considerações Iniciais


Objetivando-se alcançar elevadas resistências com o menor consumo de cimento
possível, desenvolveu-se um método adaptado para CAR, a partir do método
experimental IPT/EPUSP (17) (utilizado para dosagem de CC).
Este método de dosagem de CAR propõe as seguintes considerações:
• Fixação de uma baixa relação água/materiais secos (H);
• Determinação do teor de argamassa (α);
• Utilização de material pozolânico (sílica ativa, cinza volante e outros) como
substituição de parte do volume de material cimentante.

3.2. Procedimentos para a Realização da Dosagem


Através das considerações propostas anteriormente, segue-se o procedimento
passo-a-passo do método proposto para CAR.

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3.2.1. Fixação da Relação Água/Materiais Secos


A fixação inicial de uma baixa relação água/materiais secos (H) garante a
manutenção de baixas relações água/material aglomerante, característica
imprescindível para produção de CAR. Valores de H superiores a 8,5% são
normalmente utilizados para CC.
A partir de diversas dosagens utilizando diferentes métodos, específicos para CAR,
Alves (18) obteve sempre valores de H inferiores a 6,7%, sendo comuns valores
entre 5% e 6%.
Assim, para dosagem de CAR, propõe-se valores de H menores que 6%.

3.2.2. Cálculo da relação Água/Material Aglomerante


Estabelecido o valor de H, pode-se calcular a relação água/material aglomerante
(a/agl) através da “Lei de Lyse”, conforme as equações 1 e 2. Determinam-se traços
com diferentes relações 1 : m (material aglomerante : agregados secos totais, em
massa), e para cada valor de m calcula-se um valor de a/agl . Os valores de m
devem ser menores ou iguais a 6 e maiores ou iguais a 3.
a
agl
H (%) = (1)
1+ m

a/agl. = H(%) . (1 + m) (2)

α)
3.2.3. Determinação do Teor de Argamassa (α
O teor ideal de argamassa é determinado experimentalmente, utilizando-se os
materiais disponíveis na região (desde que adequados para produção de CAR),
seguindo-se o procedimento recomendado por Helene e Terzian (17). Através de um
traço piloto 1:m, define-se, por tentativas e observações práticas, o teor de
argamassa que proporciona a mistura mais homogênea. A determinação do teor
mínimo de argamassa no concreto produz uma mistura adequada para lançamento
na fôrma, com menos riscos de fissuração de origem térmica ou retração por
secagem (17).

3.2.4. Desdobramento do traço


Conhecendo-se o teor ótimo de argamassa (α) e a proporção de agregados secos
totais (m) definidos previamente, pode-se calcular o traço unitário 1:a:p (material
aglomerante: agregado miúdo: agregado graúdo, em massa), conforme as equações
3 e 4.
a = α . (1 + m) - 1 (3)
p=m-a (4)

3.2.5. Determinação da Massa de Material Pozolânico Correspondente à


Porcentagem de Substituição sobre o Volume do Aglomerante
Sabendo-se que os volumes de cimento mais pozolonas usados na substituição
constituem o volume total de aglomerante, pode-se determinar para uma ou mais
substituições sua massa equivalente ao volume substituído, através das seguintes
equações:

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 A ⋅γ A 
m A =   . m agl. (5)
 A ⋅ γ A + B ⋅ γ B + (1 − A − B ) ⋅ γ C 

 B ⋅γ B 
m B =   . m agl. (6)
 A ⋅ γ A + B ⋅ γ B + (1 − A − B ) ⋅ γ C 
Onde:
mA. = massa do material pozolânico “A”, correspondente à porcentagem de
substituição sobre o volume de aglomerante (kg);
A = porcentagem de substituição do material pozolânico “A”, em relação ao
volume de aglomerante;

γA = massa específica do material pozolânico “A” (kg/dm3);

γC = massa específica do cimento (kg/dm3);


magl. = massa do material aglomerante (kg);
mB. = massa do material pozolânico “B”, correspondente à porcentagem de
substituição sobre o volume de aglomerante (kg);
B = porcentagem de substituição do material pozolânico “B”, em relação ao
volume de aglomerante;

γB = massa específica do material pozolânico “B” (kg/dm3);

3.2.6. Dosagem de Aditivos Redutores de Água


Como CAR utilizam mínimas relações água/material aglomerante, a consistência
desejada é obtida utilizando-se aditivos superplastificantes. A escolha do aditivo fica
limitada pelo custo, eficiência e compatibilidade com os demais materiais. A
dosagem deve ser a mínima possível até atingir a consistência requerida.

3.3. Programa Experimental


Avaliou-se o desempenho do método proposto “IPT/EPUSP Modificado” através de
ensaios de resistência à compressão simples de corpos-de-prova cilíndricos
(10x20cm), aos 3, 7 e 28 dias de idade. Para estabelecer dados comparativos,
optou-se pelo método de dosagem Mehta-Aitcin (11), por ser um método prático, de
fácil execução, e que apresenta excelentes resultados para os materiais da região
de Porto Alegre, RS (18).
Foi estabelecido abatimento superior a 150 mm, para concreto bombeado, desde
que não ocorresse segregação dos materiais. O concreto foi dosado para três níveis
de resistência de 50, 80 e 100 MPa, segundo o Método Mehta-Aitcin. No método
proposto “IPT/EPUSP Modificado” fixou-se uma relação água/materiais secos (H) em
6% para os traços (1:m) 1:5; 1:3,5 e 1:2, sendo que durante a mistura experimental
foi possível reduzir esta relação. O teor de argamassa (α) foi igual a 50%.
Nos dois métodos utilizou-se substituição de 10% de sílica ativa sobre o volume de
material aglomerante, calculando-se o valor correspondente em massa. A Tabela 1 e

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a Tabela 2 apresentam a composição dos traços para cada um dos métodos


empregados.
Tabela 1 Composição dos traços para o método proposto, “IPT/EPUSP Modificado”.

Traços m=5,0 m=3,5 m=2,0


Brita (kg) 20,00 20,00 20,00
M. Cimentante (kg) 6,67 8,89 13,33
Cimento (kg) 6,14 8,18 12,28
Sílica (kg) 0,53 0,71 1,06
Areia (kg) 13,33 11,11 6,67
Água (l) 2,14 2,28 2,46
a/agl 0,32 0,26 0,18
Aditivo (g) 96,0 127,3 276,0
Aditivo (%) 1,4 1,4 2,1
Abatimento (mm) 155 180 195
C. Cimento (kg/m3) 367,3 487,4 728,9
H (%) 5,34 5,70 6,16

Tabela 2 Composição dos traços para o método Mehta-Aitcin.

Níveis de Resist.: A B C
Brita (kg) 20,00 20,00 20,00
M. Cimentante (kg) 8,58 9,91 10,89
Cimento (kg) 7,95 9,18 10,09
Sílica (kg) 0,63 0,73 0,80
Areia (kg) 12,48 11,47 10,53
Água (l) 3,21 2,57 2,06
a/agl 0,37 0,26 0,19
Aditivo (g) 40,6 79,1 245,9
Aditivo (%) 0,5 0,8 2,3
Abatimento (mm) fluido 170 150
C. Cimento (kg/m3) 433,8 517,8 587,8
H (%) 7,81 6,21 4,97

3.3.1. Materiais Utilizados


Para os dois métodos foram usados os materiais disponíveis na região. Utilizou-se
Cimento Portland de Alta Resistência Inicial (CP V-ARI), com massa específica 3,11
3 3
kg/dm ; sílica ativa, de massa específica 2,22 kg/dm ; aditivo superplastificante à
3
base de éter carboxílico, cuja massa específica é 1,09 kg/dm ; areia média com
dimensão máxima característica igual a 4,8mm, módulo de finura 2,74 e massa
3
específica de 2,62 kg/dm ; e agregado graúdo de origem basáltica, com dimensão
máxima característica de 19mm, módulo de finura 6,84 e massa específica de 2,80
3
kg/dm . A distribuição granulométrica (NBR 7217/1987) dos agregados é
apresentada na Tabela 3 e na Tabela 4.

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Tabela 3 Agregado graúdo Tabela 4 Agregado miúdo


Peneira % Média % Média Retida Peneira % Média % Média Retida
(mm) Retida Acumulada (mm) Retida Acumulada
19,00 2 2 4,80 0 0
12,50 53 55 2,40 8 8
9,50 28 83 1,20 15 23
6,30 14 97 0,60 34 57
4,80 2 99 0,30 30 87
<4,80 1 100 0,15 12 99
<0,15 1 100

4. Resultados e discussão

Os resultados obtidos nos ensaios de resistência à compressão axial, realizados


segundo a norma NBR 5739/94, para o método Mehta-Aïtcin (11), estão apresentados
na Tabela 5 e no Gráfico 1.
Tabela 5 Método Mehta-Aïtcin

Níveis de Resistência à Compressão (MPa)


água/aglomerante
Resistência 3 dias 7 dias 28 dias
A (50 MPa) 0,37 45,85 55,02 63,84
B (80 MPa) 0,26 57,42 70,47 77,66
C (100 MPa) 0,19 67,15 83,94 101,29

110
100
90
fc (MPa)

80
a/agl. = 0,19
70 a/agl. = 0,26
60
a/agl. = 0,37
50
40
3 dias 7 dias 28 dias

Idade

Gráfico 1 Resistência à compressão em função da idade, método Mehta-Aïtcin.

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Na Tabela 6 e no Gráfico 2 tem-se os resultados obtidos para o método “IPT/EPUSP


Modificado”.
Tabela 6 Método “IPT/EPUSP Modificado”

Resistência à Compressão (MPa)


Traços água/aglomerante
3 dias 7 dias 28 dias
1:5 0,32 55,23 64,47 72,59
1 : 3,5 0,26 71,60 75,62 87,12
1:2 0,18 77,66 83,24 98,83

110
100
fc (MPa)

90
80 a/agl. = 0,18
70 a/agl. = 0,26
60
50
a/agl. = 0,32
40
3 dias 7 dias 28 dias

Idade

Gráfico 2 Resistência à compressão em função da idade, método “IPT/EPUSP Modificado”.


Como esperado, verifica-se nos gráficos 1 e 2 que a resistência à compressão é
diretamente proporcional ao grau de hidratação (idade) e inversamente proporcional
à relação água/aglomerante.
No Gráfico 3, apresenta-se a evolução da resistência à compressão em função da
idade, para os concretos produzidos através do método Mehta-Aïtcin, considerando
a resistência aos 28 dias igual a 100%. Observa-se que a resistência alcançou aos
três e sete dias, em média, 70% e 86% da resistência final.

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100%

80%
3 dias
60%
7 dias
40%
28 dias
20%

0%

Nível A Nível B Nível C Média

Gráfico 3 Evolução da resistência à compressão em função da idade, método Mehta- Aïtcin.


A evolução da resistência versus idade para o método “IPT/EPUSP Modificado” é
apresentada no Gráfico 4. Aos três dias, a resistência já alcançava em média 79%
da resistência final, enquanto aos sete dias obteve-se 86%.

10 0%

80 %
3 d ia s
60 %
7 d ia s
40 % 2 8 d ia s

20 %

0%
m= 5 m = 3,5 m= 2 M édia

Gráfico 4 Evolução da resistência à compressão em função da idade, método “IPT/EPUSP


Modificado”.
O controle do consumo de cimento por m3, como discutido no item 1.1.1, é de
fundamental importância nas dosagens de CAR, devido aos problemas decorrentes
dos altos consumos. O Gráfico 5 mostra o consumo de cimento em função da
resistência à compressão aos 28 dias, para os dois métodos de dosagem utilizados.

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Consumo Cimento(Kg/m3)
800
700
600
500 IPT CAR
400
Mehta

300
200
60 65 70 75 80 85 90 95 100
Resistência (MPa)

3
Gráfico 5 Consumo de cimento (kg/m ) em função da resistência à compressão.

Conforme o Gráfico 5, observa-se que até a resistência de 90 MPa obtém-se


consumos de cimento inferiores para os concretos dosados segundo o método
“IPT/EPUSP Modificado”, chegando-se, por exemplo, à resistência de 70 MPa com
consumo da ordem de 350 Kg/m3. Através do método Mehta-Aïtcin o consumo
ultrapassou 450 Kg/m3, para esta mesma resistência. Somente para resistências
superiores a 90 MPa o método Mehta-Aïtcin levou a menores consumos.
Enquanto no método proposto foi determinado teor de argamassa de 50%, no
método Mehta-Aïtcin este varia aproximadamente entre 49% e 52%, como pode ser
visto no Gráfico 6.

55
Teor de argamassa (%)

54
53
52
51
50 IPT CAR
49
48 Mehta
47
46
45
60 65 70 75 80 85 90 95 100
Resistência (MPa)

Gráfico 6 Teor de argamassa em função da resistência à compressão.

O Gráfico 7 compara os teores de pasta dos concretos obtidos por ambos os


métodos, para diversos níveis de resistência. Assim como observado para o
consumo de cimento, o teor de pasta pelo método “IPT/EPUSP Modificado” também
mantém-se inferior até a resistência de 90 MPa.

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40

Teor de pasta (%) 35

30
IPT CAR
25 Mehta

20

15
65 70 75 80 85 90 95 100

Resistência (MPa)

Gráfico 7 Teor de pasta em função da resistência à compressão.

Apesar desses teores inferiores de pasta levarem a consumos menores de cimento,


o que é extremamente benéfico tecnicamente, são necessários consumos maiores
de aditivo para que se obtenha uma mesma trabalhabilidade. Tal fato acabou por
igualar os custos dos concretos utilizados, conforme pode ser visualizado no
Gráfico 8.

600

500
Custo (R$/m3)

400
IPT CAR
300
Mehta
200

100
60 65 70 75 80 85 90 95 100

Resistência (MPa)

3
Gráfico 8 Custo (R$/m ) em função da resistência.

Os custos obtidos para os dois métodos de dosagem foram praticamente iguais até
95MPa, verificando-se o mesmo comportamento para a relação custo/benefício (R$
investidos para cada MPa de resistência), conforme apresentado no Gráfico 9.
Os resultados mostram-se extremamente satisfatórios quando comparados, por
exemplo, a um concreto de 30 MPa que, quando dosado pelo método IPT/EPUSP(17)
com os mesmos materiais, obteve-se um custo de R$ 90,00 /m3. Neste caso chega-
se a uma relação custo/benefício de aproximadamente R$ 3,00 /MPa, semelhante à
relação obtida para os CAR com 80 MPa.
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6,0
5,5
5,0
4,5
R$ / MPa

4,0 IPT CAR


3,5 Mehta
3,0
2,5
2,0
1,5
60 65 70 75 80 85 90 95 100

Resistência (MPa)

Gráfico 9 Custo/Benefício (R$/MPa) em função da resistência.

Analisando-se o custo/benefício em termos de consumo de cimento para cada MPa


de resistência (Gráfico 10), fica evidente que para o método “IPT/EPUSP
Modificado” a quantidade de cimento necessária é consideravelmente inferior. Esta
situação muda a partir de 90 MPa onde o método Mehta-Aïtcin requer um consumo
de cimento menor por MPa.
O consumo de cimento para o concreto de 30 MPa citado anteriormente é de
277kg/m3, o que equivale a uma relação custo/benefício de 9,20 kg de cimento por
MPa. Para a resistência de 70 MPa, por exemplo, este valor é 37% superior quando
comparado ao concreto dosado pelo método Mehta-Aïtcin, e 91% superior ao
concreto dosado pelo método “IPT/EPUSP Modificado”.

8,0
7,5
kg cimento / MPa

7,0
6,5
6,0
IPT CAR
5,5 Mehta
5,0
4,5
4,0
60 65 70 75 80 85 90 95 100

Resistência (MPa)

Gráfico 10 Custo/Benefício (kg Cimento / MPa) em função da resistência.

UFRGS / PPGEC - NORIE 13


Desenvolvimento de um Método de Dosagem de Concretos de Alta Resistência com Baixo Consumo de Cimento

5. Considerações finais
A partir da avaliação comparativa entre os concretos de alta resistência dosados
segundo os métodos Mehta-Aitcin e “IPT/EPUSP Modificado”, observa-se que:
• No método Mehta-Aitcin a obtenção do traço é feita de maneira bastante simples,
uma vez que parte de vários valores tabelados, tais como consumo de água, teor
de pasta, volume de pasta, esqueleto granular. Entretanto, para quaisquer
materiais, estes valores tabelados mantém-se constantes;
• Até resistências da ordem de 90 MPa, obteve-se menores consumos de cimento
através do método “IPT/EPUSP Modificado”, o que se traduz em diversos
benefícios técnicos;
• Os teores de argamassa dos concretos dosados por ambos os métodos são
similares;
• Através do método Mehta-Aitcin, obteve-se concretos com teores de pasta mais
elevados, até aproximadamente 90 MPa;
• Os custos foram extremamente influenciados pelo consumo de aditivo
superplastificante;
• O custo dos concretos por metro cúbico (R$/m3) e o custo por MPa de resistência
(R$/MPa) foi semelhante para os dois métodos, entretando observa-se que o
consumo de cimento por MPa (kg cim./MPa) foi consideravelmente inferior para o
concreto dosado segundo o procedimento “IPT/EPUSP Modificado”.
Este estudo ainda encontra-se em andamento no NORIE/UFRGS, buscando-se
aprimorar os procedimentos de dosagem, através da avaliação do desempenho de
diferentes tipos de aditivo superplastificante e do equilíbrio entre o teor ótimo de
pasta e a porcentagem de aditivo utilizado, o que proporcionará uma mistura mais
otimizada, tanto em relação ao custo como ao desempenho técnico do CAR .

6. Referências bibliográficas
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UFRGS / PPGEC - NORIE 16

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