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Desenvolvimento de Um Metodo de Dosagem
Desenvolvimento de Um Metodo de Dosagem
CREMONINI, R.A. (1); DAL MOLIN, D.C.C. (2); CECCATTO, D.M. (3);
MANCIO, M. (4) ; GOULART, J. (5)
1
Desenvolvimento de um Método de Dosagem de Concretos de Alta Resistência com Baixo Consumo de Cimento
1. Introdução
O concreto é provavelmente o material de construção mais utilizado no mundo, com
consumo estimado de 5,5 bilhões de toneladas por ano. Tal fato deve-se
principalmente ao seu relativo baixo custo, disponibilidade dos materiais
constituintes, facilidade de fabricação, versatilidade e adaptabilidade de formas(1, 2).
Apesar destas vantagens técnicas e econômicas, a deterioração prematura das
estruturas de concreto tem se tornado um problema global e existe um amplo
consenso acerca da sua falta de durabilidade. Aliando condições severas do
ambiente com concretos de baixa qualidade, tem-se uma aceleração do processo de
degradação das estruturas(1, 3).
A especificação de resistências à compressão relativamente baixas está diretamente
relacionada com o uso de elevadas relações água/cimento, muito maiores do que as
necessárias para satisfazer os requisitos de durabilidade das estruturas de concreto
armado. Por outro lado, é sabido que a utilização de uma elevada resistência
garante o incremento da durabilidade (4).
de elasticidade (8). Assim, percebe-se que o consumo de cimento não pode ser
aumentado excessivamente, não apenas devido ao custo, mas também porque um
elevado consumo de cimento pode acarretar problemas de durabilidade (9).
Ao mesmo tempo, teores excessivos de cimento não são recomendados devido à
alta demanda de matéria-prima e energia necessárias para sua fabricação(2, 10).
Com o intuito de minimizar a ocorrência de fissuração e aumentar a durabilidade, a
solução mais efetiva técnica e economicamente é a substituição de uma parte do
cimento por um material pozolânico, tornando o concreto menos propenso à
apresentar microfissuras, e ainda com uma zona de transição mais resistente e
durável (8) .
2. Dosagem
O proporcionamento da mistura, ou dosagem, é o processo de determinação da
combinação correta dos materiais componentes que irão produzir um concreto com
as características desejadas e com o menor custo possível (11).
Segundo Aitcin (16), os atuais métodos de dosagem de concretos convencionais não
são adequados para dosar concretos de resistências elevadas, pois não levam em
consideração características importantes dos CAR, tais como:
• Relação água/cimento ou água/aglomerante extremamente reduzida;
• Incorporação de um ou mais adições, o que muda drasticamente as
propriedades do concreto no estado fresco e endurecido;
• Possibilidade de ajustar a consistência através do uso de aditivos
superplastificantes, sem necessidade de aumentar a quantidade de água e
cimento.
Por outro lado, mesmo os métodos específicos para dosagem de CAR apresentam
algumas limitações, tais como:
• Muitos métodos não permitem generalizar sua aplicação, pois apesar de
basearem-se nas experiências de muitos anos e em uma quantidade
considerável de ensaios de laboratório, não levam em conta as condições
próprias de cada local (10) .
• Não são previstos traços auxiliares para o estabelecimento de um modelo
de comportamento da resistência do concreto, sendo necessário refazer a
dosagem no caso de não se obter a resistência desejada no momento da
ruptura dos corpos-de-prova.
Vitervo (10) chega a afirmar que a dosagem de concretos em geral tem sido efetuada
de acordo com a experiência e por estimativa, o que normalmente leva a consumos
mais elevados de cimento.
3. Metodologia
α)
3.2.3. Determinação do Teor de Argamassa (α
O teor ideal de argamassa é determinado experimentalmente, utilizando-se os
materiais disponíveis na região (desde que adequados para produção de CAR),
seguindo-se o procedimento recomendado por Helene e Terzian (17). Através de um
traço piloto 1:m, define-se, por tentativas e observações práticas, o teor de
argamassa que proporciona a mistura mais homogênea. A determinação do teor
mínimo de argamassa no concreto produz uma mistura adequada para lançamento
na fôrma, com menos riscos de fissuração de origem térmica ou retração por
secagem (17).
A ⋅γ A
m A = . m agl. (5)
A ⋅ γ A + B ⋅ γ B + (1 − A − B ) ⋅ γ C
B ⋅γ B
m B = . m agl. (6)
A ⋅ γ A + B ⋅ γ B + (1 − A − B ) ⋅ γ C
Onde:
mA. = massa do material pozolânico “A”, correspondente à porcentagem de
substituição sobre o volume de aglomerante (kg);
A = porcentagem de substituição do material pozolânico “A”, em relação ao
volume de aglomerante;
Níveis de Resist.: A B C
Brita (kg) 20,00 20,00 20,00
M. Cimentante (kg) 8,58 9,91 10,89
Cimento (kg) 7,95 9,18 10,09
Sílica (kg) 0,63 0,73 0,80
Areia (kg) 12,48 11,47 10,53
Água (l) 3,21 2,57 2,06
a/agl 0,37 0,26 0,19
Aditivo (g) 40,6 79,1 245,9
Aditivo (%) 0,5 0,8 2,3
Abatimento (mm) fluido 170 150
C. Cimento (kg/m3) 433,8 517,8 587,8
H (%) 7,81 6,21 4,97
4. Resultados e discussão
110
100
90
fc (MPa)
80
a/agl. = 0,19
70 a/agl. = 0,26
60
a/agl. = 0,37
50
40
3 dias 7 dias 28 dias
Idade
110
100
fc (MPa)
90
80 a/agl. = 0,18
70 a/agl. = 0,26
60
50
a/agl. = 0,32
40
3 dias 7 dias 28 dias
Idade
100%
80%
3 dias
60%
7 dias
40%
28 dias
20%
0%
10 0%
80 %
3 d ia s
60 %
7 d ia s
40 % 2 8 d ia s
20 %
0%
m= 5 m = 3,5 m= 2 M édia
Consumo Cimento(Kg/m3)
800
700
600
500 IPT CAR
400
Mehta
300
200
60 65 70 75 80 85 90 95 100
Resistência (MPa)
3
Gráfico 5 Consumo de cimento (kg/m ) em função da resistência à compressão.
55
Teor de argamassa (%)
54
53
52
51
50 IPT CAR
49
48 Mehta
47
46
45
60 65 70 75 80 85 90 95 100
Resistência (MPa)
40
30
IPT CAR
25 Mehta
20
15
65 70 75 80 85 90 95 100
Resistência (MPa)
600
500
Custo (R$/m3)
400
IPT CAR
300
Mehta
200
100
60 65 70 75 80 85 90 95 100
Resistência (MPa)
3
Gráfico 8 Custo (R$/m ) em função da resistência.
Os custos obtidos para os dois métodos de dosagem foram praticamente iguais até
95MPa, verificando-se o mesmo comportamento para a relação custo/benefício (R$
investidos para cada MPa de resistência), conforme apresentado no Gráfico 9.
Os resultados mostram-se extremamente satisfatórios quando comparados, por
exemplo, a um concreto de 30 MPa que, quando dosado pelo método IPT/EPUSP(17)
com os mesmos materiais, obteve-se um custo de R$ 90,00 /m3. Neste caso chega-
se a uma relação custo/benefício de aproximadamente R$ 3,00 /MPa, semelhante à
relação obtida para os CAR com 80 MPa.
UFRGS / PPGEC - NORIE 12
Desenvolvimento de um Método de Dosagem de Concretos de Alta Resistência com Baixo Consumo de Cimento
6,0
5,5
5,0
4,5
R$ / MPa
Resistência (MPa)
8,0
7,5
kg cimento / MPa
7,0
6,5
6,0
IPT CAR
5,5 Mehta
5,0
4,5
4,0
60 65 70 75 80 85 90 95 100
Resistência (MPa)
5. Considerações finais
A partir da avaliação comparativa entre os concretos de alta resistência dosados
segundo os métodos Mehta-Aitcin e “IPT/EPUSP Modificado”, observa-se que:
• No método Mehta-Aitcin a obtenção do traço é feita de maneira bastante simples,
uma vez que parte de vários valores tabelados, tais como consumo de água, teor
de pasta, volume de pasta, esqueleto granular. Entretanto, para quaisquer
materiais, estes valores tabelados mantém-se constantes;
• Até resistências da ordem de 90 MPa, obteve-se menores consumos de cimento
através do método “IPT/EPUSP Modificado”, o que se traduz em diversos
benefícios técnicos;
• Os teores de argamassa dos concretos dosados por ambos os métodos são
similares;
• Através do método Mehta-Aitcin, obteve-se concretos com teores de pasta mais
elevados, até aproximadamente 90 MPa;
• Os custos foram extremamente influenciados pelo consumo de aditivo
superplastificante;
• O custo dos concretos por metro cúbico (R$/m3) e o custo por MPa de resistência
(R$/MPa) foi semelhante para os dois métodos, entretando observa-se que o
consumo de cimento por MPa (kg cim./MPa) foi consideravelmente inferior para o
concreto dosado segundo o procedimento “IPT/EPUSP Modificado”.
Este estudo ainda encontra-se em andamento no NORIE/UFRGS, buscando-se
aprimorar os procedimentos de dosagem, através da avaliação do desempenho de
diferentes tipos de aditivo superplastificante e do equilíbrio entre o teor ótimo de
pasta e a porcentagem de aditivo utilizado, o que proporcionará uma mistura mais
otimizada, tanto em relação ao custo como ao desempenho técnico do CAR .
6. Referências bibliográficas
1 SWAMY, R.N. Design for durable service life – linchpin for sustainability in
concrete construction. In: INTENATIONAL CONFERENCE ON HIGH-
PERFORMANCE CONCRETE, AND PERFORMANCE AND QUALITY OF
CONCRETE STRUCTURES, 2.,1999, Gramado. Proceedings... Michigan:
CANMET/ACI, 1999. p. 765-788.