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Fundamentos neurobiológicos da música e suas implicações para a saúde


Neurobiological foundations of music and its implications for health

Article · February 2023

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2 authors:

Paulo Estevao Andrade Elisabete Castelon Konkiewitz


Goldsmiths, University of London UFGD - Universidade Federal da Grande Dourados
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Neurociências • Volume 7 • Nº 3 • julho/setembro de 2011 171

Revisão

Fundamentos neurobiológicos da música


e suas implicações para a saúde
Neurobiological foundations of music and its
implications for health
Paulo Estêvão Andrade*, Elisabete Castelon Konkiewitz**

Resumo
Este artigo apresenta evidências dos fundamentos neurobiológicos e evolucionários da música e suas
implicações terapêuticas. Primeiro, a música é um comportamento universal, presente em toda cultura.
Segundo, apesar de evidências de alguns mecanismos músico-específicos, estudos de lesão e de neu-
roimagem revelam que a música é também altamente supramodal e interage com múltiplos domínios
cerebrais, recrutando ativação bilateral em regiões envolvidas com o processamento linguístico, motor e
espacial. Terceiro, os padrões básicos de organização melódica e temporal da música são compartilhados
entre as culturas, uma propriedade análoga às regras universais da sintaxe compartilhadas por diferentes
línguas. Quarto, as respostas dos ouvintes à música também são universais através das culturas. Quinto,
estudos de neurodesenvolvimento mostram que bebês processam padrões musicais semelhantemente
aos adultos, fornecendo evidências de mecanismos transcendentes à cultura. Sexto, a música evoca
emoções genuínas e fortes, ativando estruturas cerebrais filogeneticamente antigas do sistema límbico.
Finalmente, consideramos uma redefinição da música como uma forma de comunicação baseada no som,
corporificada, não-referencial e polissêmica, cujo conteúdo é essencialmente emocional. Como a música
ativa áreas cerebrais envolvidas no processamento linguístico, espacial, motor e emocional básico, in-
duzindo neuroplasticidade, ela representa uma possibilidade terapêutica de baixo risco e de baixo custo.

Palavras-chave: música, cognição, neurodesenvolvimento, emoção.

*Professor de musicalização no Colégio Criativo de Marília, São Paulo e pesquisador do Grupo de


Pesquisa em Neurociências e Comportamento “Memória, Plasticidade, Envelhecimento e Qualidade
de Vida” da Faculdade de Filosofia e Ciências - UNESP - Campus de Marília, **Médica neurologista e
psiquiatra, professora adjunta da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Grande
Dourados

Correspondência: Paulo Estevão de Andrade, Rua Sperêndio Cabrini, 231, Jardim Maria Izabel II 17516-
300 Marília SP, E-mail: paulo_sustain@yahoo.com, Tel: (14) 3301-7944
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Abstract
This article presents evidence for the neurobiological and evolutionary foundations of music and its
therapeutic implications. First, music is a universal behavior present in every culture. Second, despite
evidence for some music-specific mechanisms, studies by lesioning and neuroimaging reveal that music is
also highly supramodal and interacts with multiple brain domains, recruiting bilateral activation in regions
involved in language, motor and spatial processing. Third, the basic patterns of melodic and temporal
organization of music are shared among cultures, a property that is analogous to the universal rules of
syntax that are shared among different languages. Fourth, the responses of listeners to music are also
universal across cultures. Fifth, neurodevelopmental studies show that infants process musical patterns
in a way similar to that of adults, providing evidence for culture-transcendent mechanisms. Sixth, music
elicits genuine and strong emotions, activating phylogenetically old brain structures of the limbic system.
Finally, we consider a re-definition of music as a sound-based, embodied, non-referential and polysemic
form of communication whose content is essentially emotional. Since music activates brain areas involved
in language, spatial, motor, and basic emotional processing, inducing neuroplasticity, it represents a low
risk and low cost therapeutic possibility.

Key-words: music, cognition, neurodevelopment, emotion.

Introdução humanas, e a similaridade funcional com


que se manifesta, sugere uma profunda
A música sempre esteve presente necessidade humana de criar, ouvir e
em todas as culturas humanas existen- fazer música, e uma natureza humana
tes ou extintas, e sempre associada às profundamente musical.
emoções. Ela deixa as pessoas alegres Entretanto, Geertz [3], propõe uma
ou tristes, calmas ou ansiosas. É inerente abordagem semiótica e interpretativa da
às interações mãe-criança e às tradições cultura na sua famosa frase: “o homem
orais em rituais de música, dança e jogos, é um animal suspenso nas teias de
nas estórias sobre a natureza, sobre rela- significado que ele mesmo teceu” (p.5).
ções interpessoais, sobre heróis e mitos Nesta visão eminentemente culturalista
educativos (incluindo estórias sobre as e antropocêntrica, que negligencia os
origens do grupo), em cerimônias de aspectos neurobiológicos e evolutivos
iniciação para ambos os sexos (à idade do comportamento humano, Abbate [4]
adulta, à caça, etc), em rituais sagrados sustenta que nossa percepção da música
de comunicação com os deuses e os é sempre mediada por fórmulas verbais,
antepassados, em rituais de cura, etc, ideologia e cultura, não havendo nada de
e, finalmente, no dia-a-dia para aliviar as imanente em um trabalho musical a não
tensões [1,2]. ser a realidade material dos sons e dos
Nas sociedades atuais capitalistas escritos. Nessa perspectiva, as emoções
a música é usada de forma semelhante, musicais são dependentes da cultura e,
incluindo em processos educativos e em portanto, não genuínas.
celebrações, mas também como produ- Entretanto, nos últimos 20 anos já
to de consumo, usado no trabalho, em se produziu evidência consistente e sufi-
campanhas políticas e publicitárias. Essa ciente para acreditarmos que a percepção
presença ubíqua da música nas culturas da música, com sua universalidade e seu
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imenso poder emocional, pode ser estu- existência de comportamentos e meca-


dada sob uma perspectiva neurobiológi- nismos cognitivos caracterizados pela
ca. Estes estudos estão revelando que sua universalidade, pela sua presença
a música é um comportamento universal precoce em membros imaturos da espé-
que apresenta uma série de princípios ge- cie e pelo grau de automaticidade com
rais de organização e de processamento que são processados, sugere que os
cognitivo e afetivo, os quais independem mesmos sejam resultado de adaptações
de variações e atribuições culturais. A evolutivamente determinadas [5].
compreensão de que a música é uma A existência de comportamentos dis-
habilidade intrínseca ao homem, ou tintos e universais sugere que sistemas
mais especificamente, intrínseca ao cé- neurais relativamente específicos foram
rebro humano abre possibilidades para selecionados ao longo da evolução.
o estudo do seu processamento, da sua Estudos de lesões cerebrais e de neu-
criação, das suas relações com outras roimagem mostram que uma significativa
habilidades, tais como a linguagem, ou a porção do cérebro humano é devotada
matemática, mas também fornece emba- a comportamentos relevantes para a
samento empírico para a sua utilização, sobrevivência, formando sistemas cogni-
seja na saúde, seja na educação, explo- tivos distintos para o processamento dos
rando tanto seus aspectos cognitivos atributos físicos, biológicos e sociais do
quanto emocionais. meio. Estudos sobre o desenvolvimento
cerebral também respaldam a concep-
Universalidades comportamentais ção de uma estruturação cortical gene-
ticamente determinada e a existência,
Cada vez mais os princípios de sele- desde o nascimento, de áreas cerebrais
ção sexual e natural têm levado em consi- citoarquitetonicamente muito bem defi-
deração as evidências antropoculturais e nidas e distintas, incluindo os circuitos
os estudos psicológicos interculturais que de fibras conectando estas áreas e as
revelam a existência de comportamentos suas respectivas sinapses [6,7], o que
e mecanismos cognitivos universais, sugere que, de fato, certas especializa-
tais como as habilidades matemáticas, ções neuroanatômicas foram moldadas
a música e a linguagem, que, ao que pela evolução biológica. Hoje, a maioria
tudo indica, são adaptações universais dos neurobiólogos concordam em que o
ocorridas durante a evolução. Nesta pers- desenvolvimento pré-natal do neocórtex
pectiva, o processo de seleção natural depende de ambas as influências: das
molda as espécies à sua ecologia não ambientais, através do input talâmico, e
somente nos seus tratos físicos (força, das internas, através das expressões gê-
agilidade, resistência, etc) e fisiológicos nicas específicas de cada região [8-10].
(imunidade, alimentação, etc.), mas tam- A música parece depender cru-
bém nos seus tratos comportamentais, cialmente de circuitos neurais fronto-
como a percepção dos objetos, de sua -temporo-parietais do hemisfério direito,
permanência no tempo e no espaço, de embora envolva extensas áreas dos dois
sua localização e de sua numerosidade, hemisférios compartilhadas com outros
assim como comportamentos sociais domínios como linguagem e cognição
como a linguagem, a música, etc. A espacial [11,12]. A inextricável ligação
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entre biologia e cultura é brilhantemente Cognição musical


discutida por Geary [13,14] que, baseado
em evidências, discute sobre como essas Dois aspectos são fundamentais na
habilidades ‘biologicamente primárias’, estruturação sonora da música: a organi-
como representação e navegação do zação tonal e a organização temporal, as
espaço físico e numerosidade, habili- quais podem ser cognitivamente separa-
dades sócio-cognitivas, dentre outras, das [17]. Assim como a linguagem verbal,
constituem um ‘esqueleto cognitivo’ no a música se organiza em padrões inten-
qual se desenvolvem as habilidades ‘bio- cionalmente estruturados de alturas (va-
logicamente secundárias’ culturalmente riação das frequências fundamentais dos
determinadas, tais como a aprendizagem tons complexos), durações e intensidades
dos símbolos numéricos e algébricos, do (metro e ritmo). Na linguagem, os padrões
uso do sistema decimal, dos cálculos, tonais correspondem à trajetória das fre-
da escrita e da música, respectivamen- qUências fundamentais (fo) das vogais,
te. Embora as habilidades secundárias que originam a entonação da fala [18].
dependam das habilidades biológicas Na música, os padrões tonais são deter-
primárias, o seu desenvolvimento é total- minados pela trajetória das frequências
mente dependente da valoração cultural fundamentais (fo) das notas musicais
e de práticas formais de ensino e treina- que caracterizam as melodias, que, no
mento, as quais, por sua vez, diferem de canto, correspondem à trajetória das fo
uma cultura para outra [13,14]. das vogais nas sílabas [19]. Vale notar
Portanto, é importante frisar que a que todas as línguas do mundo possuem
existência de sistemas neurais relati- uma prosódia (aspectos melódicos e
vamente especializados para o proces- rítmicos da linguagem) tonal e metade
samento de determinadas informações delas, as chamadas línguas tonais, como
relevantes do meio não implica numa o Mandarim, usam a entonação para fazer
visão determinista e estática da cognição distinções léxicas entre as palavras [20].
humana. O contexto ambiental e social in- A dimensão tonal da música, por sua
fluencia sobremaneira tanto a expressão vez, pode ser vista sob três aspectos
genética dos comportamentos evoluídos distintos, embora relacionados: (i) a per-
quanto suas formas de manifestação cepção global da direção geral das notas
[5], através da “plasticidade cerebral”, (do grave para o agudo e vice-versa), que
processo pelo qual regiões neocorticais caracteriza o contorno, (ii) a distância de
e subcorticais exibem mudanças mo- altura exata entre as notas, que define os
leculares e estruturais em resposta a intervalos musicais locais e distinguem
experiências como aprendizado, lesões duas melodias diferentes de contornos
e até terapias comportamentais [15]. A semelhantes, e (iii) a combinação simul-
plasticidade dependente da experiência tânea das notas, que forma os acordes
envolve não somente o fortalecimento [21].
das sinapses, mas também a plastici- Na organização temporal, propõe-se
dade axônica, importante na formação uma divisão conceitual entre métrica glo-
dos circuitos neurais, assim como a bal e ritmo local na música [22]. O metro
plasticidade dendrítica, fundamental na corresponde à percepção global de uma
consolidação da memória [16]. invariância temporal de pulsos/batidas
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recorrentes, as quais fornecem as uni- palavras e uma sequência específica de


dades de duração e funcionam como um palavras determina frases e significados
“relógio cognitivo” que nos permite avaliar específicos, também na música, uma
as durações exatas (em números de bati- sequência específica de notas e suas
das) dos eventos auditivos e estabelecer durações determinam a singularidade de
os ritmos métricos típicos da organização uma melodia. Não é mera coincidência
temporal da música [23]. As batidas do que o ritmo de uma língua se reflete nos
metro se alternam entre fortes e fracas ritmos musicais daquela cultura [19] e
originando a percepção global de marchas que a percepção rítmica é um aspecto
(acento maior na primeira de duas bati- perceptivo essencial na delimitação das
das) ou valsas (acento maior na primeira fronteiras entre as palavras, da segmen-
de três batidas). O ritmo é a percepção tação das palavras em sílabas e da per-
da proximidade temporal, ou grupamento cepção das rimas, e, consequentemente,
temporal de eventos auditivos adjacentes no desenvolvimento das habilidades
que formam unidades maiores, mas cuja fonológicas [25].
percepção independe da avaliação exata Entretanto, há diferenças fundamen-
das durações por meio do metro e, assim, tais entre música e linguagem tanto no
pode ocorrer somente baseando-se na aspecto semântico (significados), quanto
estimativa aproximada da duração das nos aspectos relevantes da percepção
notas [21-23]. auditiva.
É interessante notar que a fala Quanto ao significado, na linguagem,
também possui uma métrica baseada as palavras são referenciais, isto é,
na acentuação silábica, entretanto as representam um significado específico
“batidas” da fala (sílabas fortes) não de algo externo (concreta ou abstrata) e
definem um pulso regular como acontece totalmente diferente delas, além disso,
nas notas fortes da música [24]. De fato, um significado estruturado e embasado
o ritmo da fala é formado pelas “batidas” pela sintaxe: “quem fez o quê a quem”,
ou “ataques” das sílabas, determinados que é a estrutura conceitual de referência
pelo aumento do volume (modulação de e predicação nas sentenças. Em contras-
amplitude) da vogal que a acompanha, te, na música, uma nota ou um conjunto
sendo particularmente forte nas sílabas de notas normalmente não representa
acentuadas [25], cuja sucessão temporal um significado específico e externo a
é bem mais lenta que a dos fonemas e ele, isto é, em grande parte a música
muito semelhante à das notas nas melo- é não-referencial e seu significado é
dias musicais. Por isso, a técnica básica baseado nas características intrínsecas
de se criar uma letra para uma melodia dos padrões tonais, pelas relações de
consiste basicamente no uso de uma tensão e resolução (relaxamento) que as
sílaba para cada nota musical [19]. notas possuem entre si, bem como suas
Por essas semelhanças, as sequên- durações e intensidades [26,27]. São
cias lingüísticas e musicais compartilham estas características intrínsecas tonais
princípios combinatórios que operam em e temporais dos padrões melódicos que
múltiplos níveis [26-29]. Da mesma forma fazem com que percebamos relações
que na linguagem, as sequências especí- hierárquicas e padrões organizados de
ficas de fonemas determinam sílabas e significado [26,29].
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Quanto à percepção auditiva, os pesquisa com bebês ajuda a esclarecer


padrões temporais são muito mais re- as predisposições para o processamento
levantes para a linguagem do que para musical que transcendem a cultura
a música, ao passo que, para esta, os e a descrever como as propriedades
padrões tonais são muito mais relevantes específicas da cultura se desenvolvem,
em comparação à linguagem [30,31]. ao passo que as investigações inter-
Mais especificamente, o aspecto cru- -culturais comparam as respostas de
cial para a discriminação de fonemas ouvintes de contextos histórico-culturais
e, consequentemente, das palavras na diferentes, procurando por fatores trans-
linguagem é a percepção de transições cendentes à cultura e fatores específicos
acústicas rápidas das frequências for- a ela [32,33].
mantes dos tons complexos, que ocorrem Primeiro, com relação à universali-
entre consoantes e vogais (e vice-versa), dade, há evidência de características co-
transições estas que provocam eclosões muns entre todas as músicas do mundo
de ruído num espaço de tempo (ou janela nos princípios subjacentes às melodias
temporal) de apenas dezenas de milisse- tais como: a) a organização das notas
gundos [31]. dentro de escalas musicais com 5 a 7
Mesmo quando a informação espec- tons no intervalo de oitava (escalas dia-
tral (formantes) é grandemente reduzida tônicas consonantes), b) as respostas
em uma fala artificialmente degradada comportamentais diante de consonâncias
(com apenas dois canais espectrais) que, e dissonâncias dos intervalos musicais
porém, preserva as variações temporais, (combinação de duas notas diferentes),
ouvintes adultos e crianças de 10 a 12 e c) a organização temporal com uma
anos são ainda capazes de reconhecer tendência a formação de ritmos métricos
a fala, indicando que a percepção de (durações baseadas numa pulsação re-
mudanças temporais é mais relevante gular) [11,12,30,31]. Há universalidade
para a fala que a percepção das mu- também nas expectativas melódicas dos
danças espectrais [30]. Em contraste, ouvintes, isto é, quais notas são espera-
o aspecto crucial para a discriminação e das, ou melhor se encaixam a uma dada
reconhecimento de melodias é a trajetória sequência de notas antecedentes [34],
das frequências fundamentais (fo) das bem como no julgamento emocional-afe-
notas musicais, que normalmente possui tivo das várias características musicais,
intervalos de tempo muito maiores que como tempo (lento ou rápido), consonân-
100 ms [31]. cia (dissonante ou consonante), comple-
xidade, intensidade, etc [35]. Quanto à
Aspectos universais e inatos da precocidade, hoje sabemos que os bebês
cognição musical processam os padrões musicais de forma
muito semelhante aos adultos, além de
A pesquisa em bebês e as com- possuírem memória de longo prazo para
parações inter-culturais são duas das melodias [30,31].
principais abordagens empíricas para As emoções musicais são diretas e
o estudo da contribuição dos aspectos imediatas, sendo que a maioria das pes-
culturais e universais para vários soas alega ouvir música para evocar emo-
comportamentos, incluindo a música. A ções, ou para aliviar o tédio [36]. Hoje
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também sabemos que a compreensão ou e outros com movimentos de valsa [42].


apreciação emocional de uma música não Após este treinamento os bebês preferi-
depende exclusivamente da apropriação ram ouvir os ritmos correspondentes ao
cultural dos códigos de um determinado balanço a que foram submetidos, olhando
sistema musical, mas que, pelo contrário, por mais tempo a caixa de som quando
a música é capaz de evocar fortes emo- esta tocava os ritmos experimentados
ções de uma forma universal e indepen- corporalmente. Os autores do estudo
dentemente da história sócio-cultural do argumentam que estes resultados ilus-
ouvinte. As fortes emoções musicais são tram as fortes conexões auditivo-motoras
altamente consistentes entre os sujeitos no processamento do ritmo, envolvendo
de várias culturas, tanto em estudos principalmente os sistemas vestibular e
intra, quanto inter-culturais, podendo proprioceptivo, uma vez que não há enga-
ser de valência tanto positiva, quanto jamento de auto-movimento [42].
negativa, na dependência de aspectos De fato, muitos autores defendem a
particulares e universais da estruturação noção de que um dos mais importantes
musical [35,37]. aspectos universais da música é sua
Todas as culturas possuem ritmos capacidade de facilitar a coordenação
com maior ou menor grau de métrica, o e sincronia dos movimentos humanos
que facilita a sincronização dos movimen- envolvidas nas atividades sócio-intera-
tos corporais na dança, no bater de pal- cionistas e coletivas. Cada vez mais se
mas, na marcha, no canto, etc. [29,38]. enfatiza a importância da percepção da
Além disso, diferentemente dos animais, pulsação e sincronização como uma ca-
crianças e adultos humanos apresen- racterística unicamente humana e de alto
tam o comportamento espontâneo de valor adaptativo [24]. Os jogos de imita-
acompanhar a música com movimentos ção com música e dança são universais
corporais, mesmo durante a escuta so- e as próprias danças tribais podem ser
litária. Embora bebês sejam claramente vistas como uma das mais frequentes
atraídos pela música e responsivos formas de jogos de imitação, usadas para
ao seu conteúdo emocional desde as desenvolver o senso de “pertencimento
primeiras semanas de vida [39], suas ao grupo”, ambos os sentimentos de “ser
respostas motoras ao ritmo começam a como o outro” e de o outro “ser como eu”
ocorrer somente por volta de 1 ano com e assim de pertencer a um grupo [1,29].
movimentos de corpo e cabeça. A periodi- Os precursores desenvolvimentais
cidade começa a se desenvolver entre os da música, desde o início da primeira
2 e os 5 anos, estando a sincronização infância, na fase pré-verbal e ao longo de
ainda limitada a uma gama muito restrita toda ela, ocorrem sob a forma de com-
de tempos mais rápidos [40,41]. Bebês portamentos proto-musicais, os quais são
de 7 meses foram balançados no colo exploratórios e cinesteticamente encar-
enquanto ouviam ritmos ambíguos que nados, intimamente ligados a interações
poderiam ser interpretados como marcha controladas no tempo, como brincadeiras
(se acentuados em cada segunda batida) de vocalização e a movimentos corporais
ou como valsa (se acentuados a cada ter- e envolvidos na modulação e regulação de
ceira batida), de modo que alguns foram estados afetivos [43]. Um dos aspectos
balançados com movimentos de marcha mais fascinantes da música é o fenômeno
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interacionista universal do “maternalês”, domínios, principalmente entre a música


a fala dirigia aos bebês, na qual adultos e a linguagem, também sugerem que
de todas as culturas usam uma fala bem pelo menos alguns aspectos da música
mais aguda (1 ou 2 oitavas acima), com correspondem a um sistema neuronal re-
entonações exageradas e de forma muito lativamente autônomo [17]. Em contraste
mais lenta, semelhantes às encontradas à linguagem verbal, que é normalmente
nas cantigas de bebês (acalanto, ninar, prejudicada (afasias de compreensão e
etc.), também universais. Os bebês pre- produção) por lesões envolvendo áreas
ferem a fala musical do maternalês à fala perissilvianas (áreas frontotemporoparie-
normal e o maternalês parece ser essen- tais em volta do sulco de Sylvius que se-
cial na regulação emocional, na formação para o lobo temporal do frontal e parietal)
de vínculos e na orientação da atenção, do hemisfério esquerdo (HE), as amusias
agindo como um sinal social que assiste adquiridas (prejuízos no reconhecimento
ao aprendizado da criança, incluindo a de músicas antes familiares) decorrem
facilitação da percepção dos sons da fala predominantemente de lesões envolven-
e, consequentemente, o desenvolvimento do áreas perissilvianas do hemisfério
fonológico [44]. direito (HD). A amusia congênita, déficit
Devido a essa inextricável ligação genético-neurológico na percepção tonal
entre música e movimento, muitos auto- fina que afeta aproximadamente 5% da
res defendem a noção de que a visão da população, também fornece evidências
música simplesmente como organização para a dissociação entre a música e
dos sons é etnocêntrica, eminentemente outros domínios. Os amúsicos congêni-
ocidental e que o conceito de música tos são musicalmente ineptos, falham
deveria incluir o movimento [1,29]. Há em reconhecer músicas familiares e em
muitas culturas que não fazem a distinção discriminar entre padrões melódicos,
entre música e dança, tais como a tribo têm pouca sensibilidade à consonância/
Igbo da Nigéria onde a palavra Nkwa é dissonância e apresentam atonalia, en-
usada para expressar música-dança [1]. quanto suas outras habilidades parecem
Nesse sentido, há autores que procuram completamente normais, incluindo a
definir a música em termos não somen- linguagem oral e o reconhecimento de
te de som, mas também de movimento todos os outros sons não musicais [45].
[1,29]. De acordo com Ian Cross [1], a Entretanto, estudos mais recentes
música é uma forma de comunicação demonstram que as espetaculares duplas
sonora corporificada, não-referencial, dissociações entre música e linguagem
cujo conteúdo é principalmente, mas não ocorrem, não porque o HD tenha áreas
exclusivamente, emocional, e construída específicas para processar somente es-
a partir da organização dos sons nas di- tímulos musicais e o HE somente para
mensões de altura/tom e tempo. estímulos linguísticos, mas simples-
mente porque o HD é mais eficiente na
Neurocognição musical: percepção tonal fina que é crucial para
modularidade e interatividade a discriminação dos padrões tonais da
música, mas não da linguagem, enquanto
Evidências neuropsicológicas de que o HE é mais eficiente na percepção
dissociação entre a música e outros temporal fina que é crucial na discrimi-
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nação dos sons linguísticos e, conse- envolvendo a audição ativa para a discri-
quentemente, para o desenvolvimento minação de padrões melódicos revelam
das representações morfossintáticas ativação de estruturas cerebrais classica-
da linguagem [11,31]. Análises mais mente tidas como envolvidas na lingua-
detalhadas demonstram que lesões no gem, na motricidade e no processamento
HD também afetam as entonações da lin- visuo-espacial, consistentemente com os
guagem e que os indivíduos com amusia comportamentos musicais universais pre-
congênita também têm dificuldades na viamente descritos. Dentre estas regiões
discriminação tonal fina (capacidade de destacamos a área de Broca e o córtex
discriminar sutis diferenças de frequência parietal inferior esquerdo, conhecidas por
como entre duas teclas adjacentes do seu envolvimento na memória de trabalho
piano) tanto da música, quanto das en- verbal e na sintaxe linguística, os córtices
tonações linguísticas. Entretanto, déficits premotores, e áreas visuo-espaciais como
na percepção tonal fina não prejudicam cúneo e precúneo, dentre outras [11,12].
significativamente a percepção das en- Finalmente, as respostas emocionais
tonações da fala, particularmente a dis- à música são acompanhadas por altera-
tinção entre perguntas e afirmações que ções psicofisiológicas ou autonômicas,
na maioria são variações da ordem de 6 tais como alterações na circulação san-
semitons (a distância entre a primeira e a guínea, na condutividade elétrica da pele,
sexta de seis teclas adjacentes do piano), na temperatura corporal, dentre outras
nem tampouco a percepção fonêmica. [37,46). Essas respostas são geralmente
Se na dimensão tonal a música e lin- descritas pelas pessoas como arrepios,
guagem possuem relativa independência, calafrios, lacrimejamento, etc e estão
na dimensão temporal, particularmente relacionadas a ativações de áreas sub-
no ritmo, há claros indícios de que ambos corticais envolvidas no comportamento
os domínios compartilham mecanismos aversivo (de fuga), tal como o giro pa-
cognitivos e recursos neurais. Déficits rahipocampal e a amígdala, ou de áreas
seletivos no ritmo com preservação da que compõem o circuito de recompensa,
percepção tonal e reconhecimento mu- como o sistema mesolímbico e o córtex
sical, normalmente decorrem de lesões orbitofrontal [47].
ou alterações genético-neurológicas que Argumenta-se que, a despeito de pos-
envolvem áreas parietais e/ou frontais suir alguns aspectos modulares ou domí-
inferiores do HE envolvidas na sintaxe lin- nio-específicos, é a natureza supramodal
guística e na memória verbal de trabalho, e interativa da música, envolvendo muitos
respectivamente, e, além disso, também domínios biologicamente relevantes tais
estão frequentemente associados a sin- como linguagem, motricidade, espaço e
tomas afásicos [11,12]. emoção, que representa sua maior força
Se os estudos de lesão revelam as evolutiva. E não há dúvidas de que são
áreas que parecem ser cruciais para cer- estes os principais aspectos que fizeram
tas tarefas, tais como os córtices perissil- com que a música fosse universalmente
vianos do HD para o processamento tonal, usada pelas diversas culturas como ins-
os estudos de neuroimagem mostram as trumento de cura [1,48], e que atualmente
áreas que estão envolvidas nestas tarefas, suportam uma abordagem musicoterapêu-
não apenas as áreas cruciais. Tarefas tica baseada em evidência [49,50].
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Interface música e saúde ro-frontais do hemisfério direito), a música


é o comportamento que mais envolve áre-
As propriedades universais da músi- as cerebrais distintas, incluindo as áreas
ca também refletem propriedades anatô- linguísticas no hemisfério esquerdo e áre-
micas e fisiológicas de nossos circuitos as visuo-espaciais e motoras em ambos
auditivos, evoluídos para o processamen- os hemisférios [11,12]. Seu amplo espec-
to de eventos acústicos biologicamente tro cognitivo tem efeitos terapêuticos na
relevantes [51]. Segundo Panksepp e melhora da produção verbal em pacientes
Bernatzky [52]: afásicos [54,55], na melhora da qualidade
de vida, da depressão e da ansiedade em
”...nosso amor pela música reflete uma pacientes com demência [56,57], Melho-
habilidade ancestral de nossos cérebros em rias significativas na habilidade de comu-
transmitir e receber sons emocionais básicos nicação em crianças autistas, melhora
biologicamente relevantes e de efetuar ...mo- da função motora após acidente vascular
vimentos rítmicos de nosso aparato motor cerebral [58]. Melhorias significativas na
instintivo/emocional evoluídos para indicar habilidade de comunicação em crianças
certos estados que possam promover ou pre- autistas [59] e habilidades fonológicas e
judicar nosso bem estar” (p.134). de leitura-escrita em crianças disléxicas
também têm sido demonstradas [60]. Os
De fato, os processos neurais sub- seus efeitos motores positivos já estão
jacentes às respostas estéticas à mú- amplamente confirmados em pacientes
sica são muito mais claros e facilmente com a doença de Parkinson [61]. Esses be-
detectáveis cientificamente do que os nefícios provavelmente também se devem
associados às respostas sucitadas pelas ao poder emocional-afetivo da música.
artes visuais [53], provavelmente porque A música desencadeia natural e
a música exerce influências mais diretas automaticamente emoções biologica-
e poderosas nos sistemas emocionais mente primárias, como alegria, tristeza,
subcorticais do que as artes visuais. surpresa, medo, raiva, nojo, etc. Emo-
De fato, há estudos preliminares que ções musicais negativas (principalmente
mostram que drogas como a naloxona e diante de música dissonante) ativam o
a naltrexona, as quais são antagonistas giro parahipocampal e a amígdala e estão
dos receptores opióides, reduzem as associadas à liberação de noradrenalina
emoções e os arrepios evocados pela e a correlatos neurofisiológicos do com-
música [52]. portamento de fuga ou medo. Emoções
Assim, com base nas evidências musicais positivas (principalmente diante
antropoculturais, neurobiológicas, neu- de música consonante) ativam áreas
rodesenvolvimentais e de estudos sobre cerebrais envolvidas no comportamento
o uso da música na saúde, pode-se de- de recompensa/prazer,_ sistema meso-
fender que: límbico e mesocortical com mediação
A música é tanto emocional, quanto dopaminérgica, como a área tegmental
‘corporificada’, envolvendo não somente ventral do mesencéfalo, o nucleus accum-
o som, mas também a ação. bens e o córtex orbitofrontal [46,47,52].
Apesar de possuir substratos neurais Assim, a audição de música relaxante/
relativamente específicos (circuitos tempo- prazerosa (consonante) incrementa a
Neurociências • Volume 7 • Nº 3 • julho/setembro de 2011 181

recuperação das funções respiratórias in the absence of synaptic release.


e cardiovasculares e diminui o nível de Neuroscience 2004;126(1):115-26.
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no processamento semântico, na memó- 10. A n d r a d e P E . O d e s e n v o l v i m e n t o
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[49,50]. A música pode e deve ser usada experimental e a neurociência têm a nos
tanto em casos clínicos de lesões cere- dizer. Neurociências (Atlântica Editora)
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