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Centro Universitário de Brasília - CEUB

Faculdade de Ciências da Educação e Saúde - FACES


Curso de Psicologia

Julia Canuto Coelho Streletcki

Impacto da Trilha Sonora em Filmes: A Percepção Emocional e Imersão do Público

Brasília

2023
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SUMÁRIO

1 PROBLEMA..........................................................................................................................3

1.1 FATO GERADOR.............................................................................................................. 3

1.2 PERGUNTA DE PESQUISA............................................................................................ 3

2 JUSTIFICATIVA...................................................................................................................3

3 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 4

4 OBJETIVOS.......................................................................................................................... 9

4.1 GERAL................................................................................................................................9

4.2 ESPECÍFICO......................................................................................................................9

5 MÉTODO.............................................................................................................................10

5.1 PARTICIPANTES............................................................................................................ 10

5.2 INSTRUMENTO..............................................................................................................10

5.3 LOCAL..............................................................................................................................10

5.4 MATERIAL...................................................................................................................... 10

5.5 PROCEDIMENTO...........................................................................................................11

6 ANÁLISE DE DADOS........................................................................................................13

7 REFERÊNCIAS.................................................................................................................. 14
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1 PROBLEMA

1.1 Fato gerador

O mundo cinematográfico está cada vez mais competitivo com aumentos


drásticos de projetos em produção a cada ano disputando reconhecimento, desafiando
cineastas a criar algo que deixe uma marca memorável. Nessas produções vemos que
o uso de trilhas sonoras podem parecer apenas um acompanhamento musical, mas elas
desempenham um papel fundamental e classificatório no impacto de um filme. A
música desempenha um grande papel na interpretação e na capacidade de acentuar
uma emoção presente nos retratos audiovisuais.

1.2 Pergunta de Pesquisa

A trilha sonora em uma cena consegue impactar a percepção emocional de um


público assistindo a um filme?

2 JUSTIFICATIVA

Chamar atenção para a importância de composições e estratégias para a experiência


cinematográfica e contribuindo no campo da pesquisa de estados emocionais
relacionados à arte e à psicologia.
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3 INTRODUÇÃO

As manifestações artísticas, desde muito cedo, nos primórdios da humanidade, estão


presentes na nossa cultura. Com início no período rupestre por meio das pinturas e desenhos,
era a forma do ser humano se comunicar, sempre com o intuito de externalizar um sentimento,
ideia ou história. Assim, a expressão artística ganhava vida nas cavernas, e foi se
desenvolvendo junto com o próprio desenvolvimento humano. A arte se transformou, evoluiu
e se potencializou ao longo dos séculos, mas seu impacto em nossas vidas, mudando a forma
como as pessoas interagem com o mundo, e sua intencionalidade, expressar sentimentos e
pensamentos, continuou o mesmo. Vygotski (2009), por exemplo, explora em sua obra que a
linguagem artística é um dos principais meios pelos quais os seres humanos criaram para dar
sentido e significar o mundo e a si próprios. A arte pode tocar, inspirar, provocar reflexões e
até mesmo transformar nossos relacionamentos com o mundo ao nosso redor e com nossos
próprios sentimentos.
As emoções e os sentimentos sempre estiveram presentes na arte de maneira geral,
principalmente no meio musical, que nos acompanha em momentos tanto de diversão,
felicidade, tristeza, prazer, dor, se tornando uma marca muito presente na nossa cultura. Algo
no qual se iniciou por um simples som de pedras, ossos ou outros materiais se chocando,
criando um ritmo se tornou uma forma de expressão e comunicação grandiosa. As emoções
estão firmemente presentes na expressão musical, a música possui uma capacidade única de
transmitir e provocar sentimentos transcendendo barreiras da linguagem convencional,
podendo comunicar uma única emoção ou até mesmo uma junção de diversos sentimentos,
dialogando diretamente com nossos estados internos. “Uma obra musical desperta em quem
escuta todo um complexo universo de sentimentos e emoções. A base psicológica da arte
musical reside precisamente em estender e aprofundar os sentimentos, em reelaborá-los de
modo criador” (Vygotsky, 1990, p.24)
Em uma pesquisa realizada em 2004, Quando a Música entra em Ressonância com as
Emoções: Significados e Sentidos na Narrativa de Jovens Estudantes de Musicoterapia, a
autora, Wazlawick, apresenta como a música está inteiramente ligada ao lado emocional e
afetivo das pessoas, principalmente com os jovens que cresceram e famílias fortemente
ligadas a esse meio artístico. O foco deste trabalho foi estudar o papel da música e que tipo de
sentido e significado ela trás para a história das pessoas.
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"Nos processos de mediação cultural realizada pelos outros significativos, os jovens


encontraram e participaram de relações onde a ligação emocional, afetiva interligava-se
também com a dimensão sonoro-musical, de canto e de dança, de uma dimensão criativa no
fazer musical. O processo de constituir-se enquanto sujeito que se iniciava estava permeado
pela música, a música própria da cultura onde estão inseridos, em momentos específicos de
acordo com o tempo e o espaço localizados. Deste modo, percebemos que o processo de
aprendizagem, de apropriação da cultura configurada e pré-existente ao nascimento destes três
jovens, inseriu a música como parte integral desta cultura e como fruto do trabalho criativo do
homem." (Wazlawick, 2004, p. 136). Wazlawick conclui que a música no fazer
reflexivo-afetivo do homem está presente em contextos coletivos e singulares, assumindo
característica de agente de cultura e um produto da construção da história objetiva do homem
(p. 179). Assim, os jovens da pesquisa são exemplos de como a música tem um impacto
significativo nas nossas emoções, e, pela forma como a música era extremamente presente em
suas vidas, a tornou constituinte do seu pensamento e ação. Todos nós vivemos a realidade
sentindo e a nomeando por meio da nossa própria perspectiva, na qual é inteiramente
relacionada às emoções, e, os jovens da pesquisa, adicionalmente, se utilizavam da música,
que "se fez consciência de sua ação e movimento nestes contextos. Nela e com ela os jovens
podiam ver e ouvir o que sentiam em meio a o que acontecia com eles, construir significados
e compreender sua realidade" (p. 181).
Nesse mundo em que a realidade é moldada por nossa perspectiva pessoal, dialogando
com as emoções, a música funciona como ferramenta influente para essa expressão e
compreensão. A pesquisa citada revela que os jovens com sua estreita relação a música,
podem nesse espaço musical extrair significados profundos e desvendar a complexidade de
suas próprias realidades, confirmando o poder característico da música em expandir além das
fronteiras da linguagem cotidiana e proporcionar uma ligação autêntica entre as emoções e a
narrativa da vida.
Com isso, é importante entender as raízes de como a musicalidade afeta nossa percepção
mental e nossas emoções, a ligação que podemos fazer entre neurologia e música é fascinante
e complexa. Muszkat (2019), médico neurologista, músico e compositor afirma que ao
ouvirmos uma música, nosso cérebro integra percepções múltiplas que desenvolvemos no
caminhar de nossa vida, relacionando e reconhecendo consonâncias e dissonâncias,
armazenando e evocando melodias familiares e ritmos, no qual é inteiramente relacionado à
experiência emocional, que ativamente direciona nossos sentidos, corpo e cognição.
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A neurociência nos mostra que os impulsos nervosos relacionados à emoção e sentimentos


é muito mais rápida e automática que os processamentos cognitivos racionais, em razão das
emoções terem uma raiz evolutiva essencial no sistema humano de alerta e sobrevivência.
Com base em uma teoria sugerida por Darwin (1874), a música surgiu como extensão das
chamadas de acasalamento dos nossos ancestrais, ele defende que há uma série de "chamados
emocionais" como, por exemplo, chorar, rir, gritar, murmurar, possuem sua expressão sonora
característica.“É provável que melodias evoquem fortes emoções porque sua estrutura
assemelha-se a chamadas emocionais de nossa espécie”. Assim, a música ofereceria a
experiência de produzir diversos sentimentos como essas expressões emocionais
semelhantemente traziam, interferindo com os mesmos circuitos neurais, alterando nossas
emoções e, ao mesmo tempo, nossa noção de segurança ou insegurança (V. Rodrigues, 2009,
pg. 2).
Os compositores aproveitam-se dessa característica para criar experiências emocionais
adquirindo à música essa habilidade de eliciar respostas emotivas e sentimentos profundos em
um curto espaço de tempo, alinhando-se com a velocidade dos impulsos nervosos emocionais,
altamente utilizados para produções musicais que participam de realizações artísticas maiores.
A música pode estar presente em diversas áreas e contextos artísticos, sabendo do seu efeito
nas pessoas, e em suas respostas cognitivas, o desenvolvimento de outras artes se utilizou
desse recurso profundamente, principalmente a sétima arte, o cinema.
A musicalidade mais usada nas produções cinematográficas é conhecida como a trilha
sonora, que realiza um papel de extrema importância, tendo um impacto muito significativo
na percepção emocional e na imersão do público."A partir de um certo nível, o público pode
ter uma participação emocional no filme. Quando o som e a imagem atingem a unidade, o
público pode ficar completamente imerso nela, e até esquecer a existência do som. Este é o
nível mais alto de aplicação de som." (Zhang, 2021, pg. 512-513).
Em uma entrevista com Hans Zimmer, realizada pelo entrevistador Andy Price para a
revista Musictech em 2018, o compositor alemão, conhecido por suas trilhas sonoras nos
filmes do diretor Christopher Nolan, afirma: "Acho que a ideia básica permanece a mesma em
todos os projetos, um compositor tem sempre que fazer esta pergunta: 'Por que temos música
aqui?' E eles precisam se perguntar: 'Por que há uma orquestra tocando nesta cena?' Um
compositor tem que descobrir isso antes de começar a fazer música. Quando o público entra
no cinema, ele quer ter uma experiência emocional. Tudo o que estou tentando fazer, muito
seriamente, é abrir as portas que se prestam a isso". A reflexão de Zimmer colabora para a
tese de que o elemento musical potencializa a intensidade emocional das cenas, é uma
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ferramenta que não se reduz simplesmente a um acompanhamento para uma experiência


visual mas é um importante componente narrativo, por sua habilidade no emocional humano e
poder de elevar a qualidade cinematográfica que molda a experiência do público produzindo
um impacto emocional duradouro.
"Os efeitos causados pelo som é o que desenvolve novas possibilidades de compreensão,
no despertar reflexivo oriundo da sensorialidade, assim como atua na subjetividade do
espectador ao se portar como um codificador das emoções e letras ouvidas, juntas em uma
única proposta. O som na cena enuncia um percurso de novas interpretações do sujeito
observador, capturador de ideias despertadas por emoções." (Otávio Neves, 2015, pg 10).
Com isso, podemos compreender que há uma complexidade nas cenas cinematográficas, com
a junção de elementos da escrita sonora e escrita visual, e muitas vezes, o público não percebe
que em uma única cena sua percepção é induzida por ruídos, sons e músicas, os levando a
sentir emoções que podem ser novas ou desconhecidas, assim, mostrando a extensão artística
que o cinema trás.
Em uma pesquisa exploratória, por Amanda Barbosa Borges, sobre a importância da trilha
sonora na composição emocional dos filmes, a pesquisadora conclui por meio de seus
resultados que há um grande diferencial no uso de trilha sonora nos filmes, intensificando as
emoções quanto completando o filme. Trazendo com isso que, sem tal recurso, o filme como
um todo se torna cansativo e incompleto. Na primeira parte da pesquisa, coleta de dados,
passaram um questionário para os participantes a respeito do que eles pensavam envolver
mais a parte emocional nos filmes: trilha sonora ou imagens. E no final da coleta de dados,
após apresentarem na primeira fase apenas a trilha sonora e na segunda fase apenas a cena do
filme sem trilha sonora, houve o mesmo questionário, para analisar se haveria mudança nas
respostas a respeito de qual envolvia mais emocionalmente nos filmes. Houve uma diferença
considerável nas respostas, na qual afirmam que a trilha sonora envolve mais emocionalmente
que a imagem, e no fim, foram questionados qual era o propósito das trilhas sonoras nos
filmes, e a maioria dos participantes afirmaram "ser para intensificar as emoções e criar
clima'' (Borges, 2013, pg 41). Concluindo assim que a música como ferramenta do cinema é
tão importante quanto qualquer outro instrumento, e ao ser combinada com a imagem, traz
emoções e uma identidade única ao filme.
Ao entender que as trilhas sonoras, (música, música clássica, música eletrônica ou a
ausência de música) buscam resgatar e cumprir o papel de causar certa emoção no público
junto com uma reflexão sobre a arte na vida humana e suas evoluções para outros meios de
produção, podemos observar como a escolha de uma música nos filmes realmente induz
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nossos sentidos e consegue extrair das pessoas realmente a emoção intencionada, objetivo no
qual essa pesquisa quantitativa busca promover.
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4 OBJETIVOS

4.1 Geral
O objetivo geral da pesquisa é o de verificar o impacto da trilha sonora de
filmes em relação a intensidade do estado emocional percebido pelo espectador.

4.2 Específico
O objetivo específico é apresentar se a trilha sonora em um filme, desencadeia
e amplifica as emoções inerentes em uma cena que almejam comunicar, como também
se a ausência da trilha sonora em si também traz a emoção que deseja com a mesma
intensidade. Caráter exploratório na qual a intenção não é comprovar fatos mas sim
relatar e servir para futuros estudos
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5 MÉTODO

5.1 Participantes
Serão 60 participantes maiores de 17 anos, sem especificações de gênero nem
idade.
5.2 Instrumento
Ficha do Participante (Figura 1), no qual, o participante deverá preencher após
assistir um trecho de um filme, haverá dois trechos (cena 1 e cena 2). Ele
deverá escolher uma palavra (apresentada na ficha) que mais representa a
emoção transmitida na cena e preencher uma escala de intensidade (grau) que
ele acha que essa emoção traz à cena.

Figura 1: Mostra como cada participante deve preencher a ficha para a coleta de
dados.

5.3 Local
Auditório com ambiente escuro para um foco maior na atividade.

5.4 Material
- computador
- telão
- questionário
- papel e caneta
- caixa de som
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5.5 Procedimento

O objetivo é investigar se o uso da trilha sonora afeta a percepção de intensidade


emocional pelos participantes. Com isso, foram conduzidos testes com grupos
assistindo cenas que despertam emoções de felicidade, tristeza e raiva, avaliando essa
emoção e sua intensidade, como descrito abaixo:

1. Serão 6 grupos, testados separadamente, divididos em 3 categorias emocionais:


felicidade, tristeza e raiva (2 grupos para cada categoria). Como haverá 2 grupos para
cada categoria, eles assistiram as mesmas 2 cenas, porém, 1 grupo será com trilha
sonora e outro sem. Na Figura 2. temos a divisão dos grupos. No total serão
aproximadamente 20 minutos de aplicação.

2. Serão apresentadas 6 cenas de filmes no total, ou seja, 2 cenas de filme para cada
categoria. Cada participante assistirá a 2 cenas, com uma pausa entre as duas para que
complete uma ficha na qual ele deverá escolher uma palavra (apresentada na ficha)
que mais representa a emoção transmitida na cena e preencher uma escala de
intensidade (grau) que ele acha que essa emoção traz à cena (Ficha do Participante,
Figura 1).

3. Temos na Figura 2 uma melhor explicação de como ocorrerá o procedimento. E na


Figura 3 temos os exemplos das divisões das cenas e de quais filmes são as cenas.
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Figura 2: Explicação do procedimento em mapa mental.

FILME Grupo 1 Grupo 2


(com som) (sem som)

Felicidade (Cena 1) Babilônia Babilônia

Felicidade (Cena 2) Um Sonho de Liberdade Um Sonho de Liberdade

Raiva (Cena 1) Revolutionary Road Revolutionary Road

Raiva (Cena 2) Pearl Pearl

Tristeza (Cena 1) O Pianista O Pianista

Tristeza (Cena 2) Interstellar Interstellar

Figura 3: De que filmes serão retiradas as cenas.


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6 ANÁLISE DE DADOS

Foi utilizada uma análise comparativa, ou seja, foram então comparados os resultados
entre os grupos que assistiram as cenas com trilha sonora e sem trilha sonora, dentro
de sua categoria emocional. Utilizando o teste de análise de variância (ANOVA), que
permite que se verifique se existe uma variância significativa entre as médias das
respostas e se a variável independente realmente influenciou nos resultados na variável
dependente, assim, observando se houve diferenças estatisticamente significativas na
percepção da intensidade emocional entre os grupos com trilha sonora e sem trilha
sonora.
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7 REFERÊNCIAS

Alves, Bernardo (2012, Julho 01). Trilha Sonora: o cinema e seus sons. Revista Novos
Olhares, Volume 1.

Vygotsky, L.S. (2009). A Imaginação e a Arte na Infância

Neves, O. (2015). O som na imagem: audiovisualidade e ensino.

Muszkat, M. (2019). Música e Neurodesenvolvimento: em busca de uma poética


musical inclusiva. Literartes, 1(10), 233-243.

Wazlawick, P. (2004). Quando a música entra em ressonância com as emoções:


significados e sentidos na narrativa de jovens estudantes de Musicoterapia.

Borges, A. B. (2013). A importância da trilha sonora na composição emocional dos


filmes.

Margareth, Artur. (2020, Fevereiro 12). Música pode estimular do desenvolvimento do


cérebro à saúde emocional. Jornal da USP. https://jornal.usp.br/?p=295110.

"Hans Zimmer Interview - The Art of Film Scoring" - Andy Price para a revista
Musictech em 2018.

Arriaga, P., & Almeida, G. (2010). Fábrica de emoções: A eficácia de excertos de


filmes na indução de emoções. Fábrica de emoções: a eficácia de excertos de filmes
na indução de emoções, (1), 63-80.

Chavez, R. P. (2015). Pensamentos e práticas sonoras no documentário (Doctoral


dissertation, Universidade Estadual de Campinas).

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