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CENTRO DE DESPORTOS
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Florianópolis
2021
Gabriel Silveira Guedes da Maia
Florianópolis
2021
Gabriel Silveira Guedes da Maia
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título de
“Bacharel em Educação Física” e aprovado em sua forma final pelo Centro de Desportos da
Universidade Federal de Santa Catarina, com a nota 10.
Banca Examinadora:
The aim of the present study was to analyze the situational variables that influence the
application of punitive cards during football matches in the Brazilian Serie A Championship.
Microsoft Excel 2016 spreadsheet editor, and statistical treatment was performed using the R
software. As main findings, (i) substitute players had lower RC for receiving cards (however,
for other indexes, such as the ratio between minutes played and cards received, ratio between
games and number of cards, in addition to the number of cards by time played, substitutes
obtained higher values), (ii) Players receive more cards when the game is tied, (iii) the
occurrence of cards increases in all tracks when comparing the first and second half, (iv)
midfielders and strikers are the most selected for entry into the match, (v) among starters,
defenders are the ones who most receive cards, while for substitutes, the highest incidence
occurs for midfielders, (vi) when analyzed simultaneously, the variables that most influence
the receipt of cards are: the initial status, difference in the scoreboard end, positions, season
and time played. The time of exposure to the game of substitute players occurs at a time of the
match when the application of cards happens more frequently, in addition, the recurrence of
fouls by players and the team and the high intensity of what the game proposes can explain
these factors. Thus, it is possible to conclude that the assessment of the set of situational
variables for receiving cards proved to be more adequate than the analysis in isolation. As a
practical application, a better understanding of the influences of each variable can help in
better decision making according to the situation, improving the programming and planning
of the team by the technical committee.
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 11
3 MÉTODOS .......................................................................................................................... 27
4 RESULTADOS ................................................................................................................... 30
5 DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 38
6 CONCLUSÃO..................................................................................................................... 45
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 47
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1 INTRODUÇÃO
O futebol é uma modalidade coletiva em que as partidas são disputadas por duas
equipes compostas por no máximo de 11 jogadores cada, um dos quais jogará como goleiro.
Durante uma partida de futebol, além dos jogadores, existe também uma equipe de
arbitragem, composta por árbitro de campo principal e dois assistentes de arbitragem, que tem
o objetivo de comandar o jogo e incentivar, a partir da aplicação das regras, a ideia do jogo
limpo (o chamado fair play) (FIFA, 2020). As primeiras regras escritas foram publicadas no
documento denominado “The Football Rules” criado no Colégio Harrow, em 1830, no Reino
Unido (FRANCO, 2019) e segundo Saldanha (1971), em 1868 a figura do árbitro apareceu na
modalidade. Ao longo dos anos, as regras do futebol foram se adaptando e sofrendo
alterações, dentre elas, pode-se destacar o surgimento de duas: as substituições (SIGNOR,
2020) e a introdução dos cartões no futebol (BBC NEWS BRASIL, 2018).
Inicialmente, as substituições só eram permitidas em caso de lesão e apenas uma
poderia ser executada. A partir Copa do Mundo de 1970, a equipe técnica poderia realizar
duas substituições, mas neste caso, elas não eram exclusivas para atletas lesionados, os
treinadores poderiam realizar pelo motivo que fosse mais conveniente com a situação
(SIGNOR, 2020). 25 anos depois, em 1995 a terceira troca foi permitida dentro dos jogos, e
na Copa do Mundo de 2018, as seleções poderiam realizar a quarta troca, porém somente nos
casos em que a partida fosse para a prorrogação (FIFA, 2020). A modificação mais recente na
questão das substituições ocorreu no ano de 2020, neste ano a FIFA (2020) permitiu que as
equipes poderiam realizar cinco substituições no tempo normal (durante os 90 minutos) e
mais uma na prorrogação, caso o modelo da competição e o placar da partida permitissem a
ocorrência da mesma. Esta última alteração foi realizada para que os atletas e a equipe técnica
pudessem suportar as grandes quantidades de partidas em um curto período de tempo, já que
houve paralisação das competições provocada pela pandemia do Corona Vírus, encurtando
muito o período de competição (GLOBO ESPORTE, 2020).
As substituições surgem como um de meio minimizar a queda de performance dos
índices fisiológicos, técnicos e táticos dos jogadores, a qual pode ser provocada por possíveis
efeitos de queda de desempenho eminentes da partida de futebol (RUSSELL; BENTON;
KINGSLEY, 2012). Sendo assim, substituições podem ocorrer por diversos motivos, tais
como a mudança de tática da equipe ou substituição de jogadores considerados lesionados ou
com baixo desempenho (BRADLEY; LAGO-PEÑAS; REY, 2014; HILLS et al., 2020). As
trocas geralmente são exercidas no intervalo entre o primeiro e o segundo tempo, ou ao
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decorrer do segundo tempo (HILLS et al., 2018) e a posição mais escolhida, pelos treinadores,
no ingresso da partida são os meio campistas (DEL CORRAL; BARROS; PRIETO-
RODRÍGUEZ, 2008). Estes jogadores apresentam maiores valores de corridas executadas em
alta intensidade (CARLING et al., 2010; BRADLEY; NOAKES, 2013; BRADLEY; LAGO-
PEÑAS; REY, 2014), distância percorrida em sprint e números de sprints (DALEN; LORÅS,
2019) quando comparados titulares, portanto entrando na partida, teoricamente, com mais
energia disponível para jogar e, por vezes, com uma intensidade excessiva ao que o momento
do jogo propõe.
Essa intensidade excessiva pode acabar resultando em uma ação faltosa, visto que as
ações em alta intensidade podem se relacionar com dificuldades nas desacelerações e
mudanças de direções. Assim, o cartão tem o intuito de advertir os jogadores, dando reforço
negativo para que os atletas não “ultrapassem” os limites do jogo limpo e também para
garantir que o jogo seja o mais seguro possível (FIFA, 2020). Sabe-se que o número de
cartões recebidos pelas as equipes está diretamente relacionado a variáveis situacionais
distintas, como o ranking final da liga (SAPP; SPANGENBURG; HAGBERG, 2018);
nacionalidade dos jogadores, importância dentro da equipe, minutos jogados, posições dos
jogadores (BELLISSIMO, 2008; GÓMEZ et al., 2019); densidade do público (GOUMAS,
2014) e por fim, talvez a variável que mais influencie seja o mando de campo, a qual
apresenta maiores índices para equipes visitantes quando comparadas a equipes mandantes
(THOMAS; REEVES; SMITH, 2006; POULTER, 2009; ANDERS; ROTTHOFF, 2011;
LAGO-PEÑAS; LAGO-BALLESTEROS, 2011; GOUMAS, 2014; SAPP;
SPANGENBURG; HAGBERG, 2018).
Desta forma, além dos atletas titulares que iniciam a partida, se evidencia a
importância dos jogadores substitutos que poderão ingressar durante a partida. Apesar dos
estudos apontarem diversas variáveis situacionais relacionadas à aplicação dos cartões, não
foi encontrado na literatura estudos que busquem associar as infrações cometidas por
jogadores substitutos e a aplicação de advertência dos mesmos. Portanto o presente estudo
busca preencher a lacuna encontrada na literatura sobre tal assunto, buscando melhor entender
as variáveis situacionais para aplicação de cartões.
1.1 OBJETIVOS
1.2 HIPÓTESE
substitutos no momento da partida em que a aplicação de cartões ocorre com mais frequência
(CHIMINAZZO; MASCARA; DEL VECCHIO, 2013), sendo assim, mais suscetíveis a
receberem advertências. Então, a hipótese assumida do presente estudo é que para valores
relativos, os substitutos irão receber mais advertências do que os jogadores titulares.
1.3 JUSTIFICATIVA
Diante do que foi exposto na introdução, não foram achados na literatura estudos que
analisem a influência no recebimento de cartões (amarelo e vermelho) entre ser titular e
substituto, portanto, o estudo tem o intuito de dispor mais informações a respeito deste
assunto. A verificação desses dados se torna importante, pois podem afetar diretamente no
momento presente (durante a partida) e também no futuro (próximo jogo), punindo atletas e
fazendo com que não joguem a próxima partida.
Tais resultados podem fornecer mais informações às comissões técnicas das equipes e
ajudar na compreensão do papel que determinados jogadores exercem em sua equipe. Então o
presente estudo apresenta uma grande aplicação prática, visto que em um Campeonato, para o
resultado final, o que acontece em uma partida pode influenciar na próxima, assim busca-se
clarear esses acontecimentos auxiliando no planejamento da comissão técnica para com a
equipe.
Após o ingresso na Universidade Federal de Santa Catarina, entrei do Núcleo de
Pesquisa e Desenvolvimento do Futebol e do Futsal (NUPEDEFF) no meu segundo semestre
de graduação, atuando em iniciação esportiva, escolas de futsal e fazendo parte do projeto de
extensão de futsal universitário. O presente estudo alinha meus interesses acadêmicos e
pessoais sobre a modalidade, buscando contribuir de alguma forma para o planejamento e
organização de equipes.
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2 REVISÃO DE LITERATURA
A copa de 1966 foi um marco histórico, considerada uma das copas mais violentas de
todos os tempos, até o momento (RÁDIO EBC, 2018). Apenas uma substituição era permitida
durante a partida, mas somente em caso de lesão (SIGNOR, 2020). Os cartões (amarelos e
vermelhos) não existiam dentro do futebol na copa de 1966 (RÁDIO EBC, 2018). Segundo o
site da BBC NEWS BRASIL (2018) uma confusão ocorrida no jogo entre Argentina e
Inglaterra na copa de 1966 foi uma das inspirações para que houvesse algum meio de
sinalização de advertência no futebol. Nesta ocasião, o árbitro da partida, o alemão Rudolf
Kreitlein, foi cercado por jogadores argentinos após a vitória da Inglaterra, pois o capitão da
equipe argentina foi contestar a marcação de uma falta, o árbitro expulsou o argentino, porém
como nenhum dos dois falava uma língua em comum, ele precisou da ajuda de um dos
organizadores do torneio para que o argentino se retirasse da partida, pois ele não entendeu
que estava sendo expulso (ou fingiu que não entendeu) (BBC NEWS BRASIL, 2018).
A partir desta confusão, o inglês Kenneth George Aston teve a ideia de sinalizar as
advertências através de cores, e se inspirou nos semáforos de transito, segundo ele a luz
amarela representava um cuidado a ser tomado, enquanto que a vermelha era para parar, ou
seja, uma ação mais vigorosa (BBC NEWS BRASIL, 2018). A copa do mundo de 1970 foi o
evento em que os cartões surgiram para o futebol, de acordo com a FIFA a experiência foi
muito bem sucedida e os cartões amarelos e vermelhos foram adotados permanentemente no
futebol (BBC NEWS BRASIL, 2018). Os cartões punitivos surgiram como uma forma de
sinalizar aos atletas que determinada infração foi cometida, e que por esta razão, estavam
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De acordo com a FIFA (2020), o futebol possui 17 regras principais, são elas: o campo
de jogo, a bola, os jogadores, o equipamento dos jogadores, o árbitro, os outros oficiais de
arbitragem, a duração do jogo, o início e reinício do jogo, a bola em jogo e fora de jogo, a
determinação do resultado do jogo, impedimento, faltas e incorreções, tiros livres, tiro penal,
o arremesso lateral, o tiro de meta e o tiro de canto. O árbitro principal tem a autoridade para
fazer com que as regras do jogo sejam cumpridas podendo utilizar medidas disciplinares a
partir de uma situação em que julgue necessária (FIFA, 2020).
Na revisão do presente estudo, abordaremos as regras que se relacionam diretamente
com o problema de pesquisa, para que estes aspectos sejam abordados de maneira mais eficaz.
São consideradas faltas e incorreções as ações exercidas pelos jogadores que o árbitro julgar
ser imprudente, uso excessivo de força (por exemplo, utilizar o uso de carga excessiva no
adversário), tocar a bola com a mão ou com o braço, jogar de maneira perigosa (colocando o
adversário em risco) e impedir o avanço do adversário sem contato físico (obstruindo o
caminho, impedindo o avanço para que o atleta deva mudar de direção e ser prejudicado por
conta disto) (FIFA, 2020).
Existem diferentes tipos de advertências no futebol, a advertência verbal e advertência
com cartão amarelo, bem como a expulsão com cartão vermelho, sendo que nos dois
primeiros tipos, o atleta é permitido permanecer na partida, porém quando o árbitro expulsa o
jogador ele é obrigado a se retirar, não podendo mais participar da mesma (FIFA, 2020). As
advertências podem ocorrer a partir de ações dentro de campo durante a partida, como ações
em que o árbitro julgue ultrapassar os limites das regras dentre elas, existem advertências por
conduta antidesportiva, como xingamentos e ofensas, ou situações em que o árbitro interpreta
que a integridade física dos atletas foi colocada em perigo, como por exemplo, por uso
excessivo da força (FIFA, 2020). Além disto, há duas maneiras em que um atleta pode ser
expulso da partida, a primeira delas é acumular dois cartões amarelos (ao receber o segundo
cartão o jogador está automaticamente fora da partida), ou a aplicação de um cartão vermelho
direto, seja por jogo brusco grave ou condutas antidesportivas (FIFA, 2020). Caso um jogador
receba três cartões amarelos em três partidas diferentes no Campeonato Brasileiro Série A, ele
deverá cumprir suspensão automática na partida subsequente (FGF, 2018).
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Há alguns anos surgiu a ideia de criação de uma ferramenta que pudesse auxiliar o
árbitro durante as decisões tomadas na partida, esta ferramenta é conhecida como VAR
(Video Assistant Referee) o qual foi utilizado pela primeira vez na Copa do Mundo de 2018. O
VAR surge como uma tentativa em auxiliar o árbitro de campo, através da revisão do lance
em vídeo, caso ele cometa um “erro claro ou óbvio” ou “incidente grave não percebido”,
porém só pode ser utilizado em quatro situações: “Gol ou não gol; Pênalti ou não pênalti;
Cartão vermelho direto (não o segundo cartão amarelo); Erro de Identificação (quando o
árbitro adverte com cartão amarelo ou expulsa o jogador errado da equipe infratora)” (FIFA,
2020).
Em 2019 a CBF, junto com a parceria dos clubes, adotou o VAR no Campeonato
Brasileiro Série A, o qual teve impacto muito influente nas decisões da arbitragem. O VAR
reduziu cerca de 80% dos erros cometidos nas quatro situações em que pode ser utilizado e
aumentou os acertos para 98,4% das decisões obtidas através da ferramenta no Campeonato
Brasileiro Série A de 2019 (FIFA, 2020). Apesar do número robusto de 98,4% de acerto, o
VAR ainda é uma ferramenta que causa muita polêmica, pois ainda não conseguiu acabar por
completo as discussões sobre determinadas marcações, deixando margem para argumentação
(RIZZO, 2019). A subjetividade e a interpretação dos árbitros no futebol podem ser um dos
fatores que explicam o porquê das polêmicas persistirem após o apontamento de determinadas
infrações (RIZEK, 2019). O VAR divide opiniões sobre seu uso dentro do futebol, separando
de um lado os acertos que só foram possíveis por conta da ferramenta, e de outro a demora
exacerbada da decisão (que não tem 100% de precisão) e a “perda da essência”, a qual tira a
emoção momentânea do torcedor, tendo que esperar o árbitro revisar determinadas situações,
como um gol, por exemplo, deixando o seu tempo de uso contestável.
Com relação ao mando de campo, a literatura apresenta que o time visitante tem maior
probabilidade de receber cartões (POULTER, 2009; LAGO-PEÑAS; LAGO-
BALLESTEROS, 2011; SAPP; SPANGENBURG; HAGBERG, 2018; GÓMEZ et al., 2019).
Porém a partir desta variável, surgem outras que também possam estar relacionadas às
advertências. O estudo de Sapp; Spangenburg e Hagberg (2018) apontou que além de
receberem mais cartões, os times visitantes tendem a cometerem mais faltas, o que pode ser
explicada pelo fato de que as equipes visitantes geralmente apresentam uma postura mais
defensiva, ficando menos tempo com a bola, e fazendo mais tentativas de roubada de bola,
podendo gerar mais faltas e consequentemente, mais cartões. Pode-se perceber que o mando
de campo influencia na tendência da aplicação de cartões para o time visitante (SAPP;
SPANGENBURG; HAGBERG, 2018).
Estudos apontam que a vantagem obtida pelo time mandante vem diminuindo com o
tempo, tal fenômeno pode ser explicado por diversos fatores, como o aumento do
profissionalismo, clubes e jogadores estão cada vez mais preparados; o distanciamento dos
torcedores e jogadores; as estratégias de marketing, as quais acabam diminuindo a
identificação da população local com a equipe (POLLARD, 2006); apoio da torcida;
territorialidade; familiaridade e a fadiga provocada pela viagem (PONZO; SCOPPA, 2018).
Apesar da tendência da diminuição da vantagem ao longo do tempo, este fenômeno ainda
ocorre no futebol (PEETERS; VAN OURS, 2020). O estudo de Tilp; Thaller (2020) avaliou
jogos do Campeonato Alemão da temporada 2018/2019 (antes da pandemia do COVID-19) e
a temporada 2019/2020, (temporada afetada pela pandemia) a qual foram analisadas partidas
sem torcida. Nas últimas nove rodadas da competição 2019/2020 foram observadas menos
vitórias e mais derrotas dos times mandantes, o impacto que a pandemia provocou nas equipes
afetou o percentual de vitórias do time da casa que passou de 54,35% para 44,10% (TILP;
THALLER, 2020). Além deste dado, ocorreu distribuição dos cartões mais homogênea sem a
presença do público, nos jogos com audiência a distribuição de cartões era a seguinte: times
mandantes recebiam 44,85% dos cartões, e time visitantes recebiam 55,15%. Porém, os jogos
sem audiência apresentaram distribuição de cartões diferente, sendo 51,1% aplicados ao time
da casa e 48,9% aplicados ao time mandante. Estes resultados sugerem que o público
apresenta grande influência na partida, tanto no viés da arbitragem quando na motivação dos
jogadores (TILP; THALLER, 2020).
Quando comparadas os cartões aplicados entre as ligas, a liga espanhola apresentou
maiores números de cartões amarelos e cartões vermelhos por jogo quando comparada a liga
francesa, alemã, italiana e inglesa (SAPP; SPANGENBURG; HAGBERG, 2018). Estes dados
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podem sugerir que na liga espanhola, os jogadores cometem mais faltas perigosas, ou que a
interpretação dos árbitros possa ser mais vigorosa, ou seja, diferenças culturais podem
influenciar na marcação das faltas, e consequentemente na aplicação de cartões nas partidas
(DAWSON; DOBSON, 2010; SAPP; SPANGENBURG; HAGBERG, 2018).
O estudo de Gómez et al. (2019) buscou comparar as diferenças no desempenho dos
jogadores após assinarem um novo contrato, levando em conta características como
nacionalidade, posições, tempo jogado e classificou os jogadores como importante ou menos
importantes. Dentre as variáveis que se assemelham ao presente estudo, o número de cartões
vermelhos diminuiu para defensores nacionais importantes, enquanto que para defensores
nacionais menos importantes, o tempo de jogo assim como os cartões amarelos recebidos
aumentou de um ano para o outro, já para os jogadores estrangeiros, o número de cartões
vermelhos reduziu de um ano para o outro (GÓMEZ et al., 2019). Este estudo aponta que é
possível que os minutos jogados, importância do jogador dentro da equipe e nacionalidade
dos jogadores possam influenciar na advertência de cartões.
O ranking final da liga, ou seja, a colocação em que a equipe terminou o campeonato
(no caso do Brasileirão que tem 20 times, a colocação varia de 1° até 20°) também é um fator
que pode influenciar na aplicação de cartões (SAPP; SPANGENBURG; HAGBERG, 2018;
ANON; TOREZZAN; SCAGLIA, 2019). O estudo de Sapp; Spangenburg; Hagberg (2018)
aponta que a ocorrência de cartões amarelos está negativamente associada com a posição final
da liga, ou seja, times que apresentam maiores índices de cartões amarelos ao longo do
campeonato tendem a terminar o campeonato em colocações mais baixas em todas as cinco
ligas observadas durante o estudo, sendo a primeira divisão da Itália, Inglaterra, Alemanha,
Espanha e França. Este fator pode ocorrer pelo fato de que os times que ocupam as posições
inferiores da tabela estejam perdendo partidas mais frequentemente, necessitando de maior
imposição de jogo agressivo, o que pode ocasionar em mais divididas fortes, mais faltas e,
consequentemente, mais cartões recebidos (LAGO-BALLESTEROS; LAGO-PEÑAS, 2010).
Goumas (2014) buscou avaliar as interações entre a densidade da multidão (dos
torcedores) e o viés da arbitragem nas duas principais competições européias (UEFA
Champions League e UEFA Europa League). Em ambas as competições, os árbitros
apresentaram maior predisposição a tomarem atitudes a favor do time da casa quando a
densidade da multidão era maior. Dentre os possíveis fatores que podem influenciar na
vantagem obtida pelo time mandante, podemos destacar a pressão da torcida, além disto, a
densidade do público é um fator que pode aumentar esta pressão exercida pela mesma,
quando comparado à quantidade e a densidade do público (GOUMAS, 2014). O mesmo
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passam maior parte do tempo exercendo trotes, dribles e saltos, os meio-campistas tem maior
gasto de energia nas corridas e sprints e os atacantes apresentaram resultados de sprints e
corridas semelhantes aos meio-campistas. O fato de que os meio-campistas e atacantes
realizam mais atividades em alta intensidade do que os defensores pode ser explicado, pois
geralmente os atletas destas posições tem a característica de serem mais rápidos e ágeis(DI
SALVO et al., 2010), e isto pode influenciar os maiores índices de cartões recebidos por
volantes e zagueiros, pois geralmente eles não conseguem ser tão rápidos quanto os meio
campistas e atacantes, chegando atrasados nas disputas de bola e cometendo mais faltas.
Portanto a literatura aponta que o recebimento de cartões punitivos é influenciado por
diversas variáveis, dentre os principais achados podemos destacar que a equipe visitante
possui maiores índices quando comparadas as equipes mandantes, a nacionalidade tanto das
ligas quantos dos jogadores também interferem, além da densidade da multidão, posições dos
jogadores e fator físico. Tais resultados podem auxiliar a comissão técnica na organização da
equipe, identificando quais jogos determinados jogadores são mais propensos a receberem
cartões punitivos, podendo assim, utilizar estes resultados para assessorar o planejamento da
equipe.
Segundo a FIFA, até o ano de 2019, durante uma partida de futebol, cada time poderia
realizar três substituições, ou seja, dos sete jogadores que estão no banco de substitutos, o
treinador tem direito de selecionar três para entrarem no lugar de jogadores que iniciaram a
partida (titulares) (FIFA, 2018). Mas nem sempre foi assim, na Copa de 1958 era permitida
apenas a realização de uma substituição em caso de lesão, porém após os episódios ocorridos
na Copa do Mundo de 1966, a partir da Copa do Mundo de 1970 as equipes contaram com
duas substituições, podendo exercê-las por qualquer motivo (SIGNOR, 2020). Anos mais
tarde em 1995 os técnicos tinham direito de exercer mais uma troca, totalizando três trocas ao
longo da partida por qualquer motivo (SIGNOR, 2020). Já na Copa de 2018 além das três
substituições iniciais, a competição permitiu o uso da quarta troca, porém ela só poderia ser
usada caso a partida fosse para a prorrogação (FIFA, 2020).
A mudança mais recente aconteceu no ano de 2020. Neste ano, a FIFA (2020)
permitiu que as equipes pudessem realizar cinco trocas durante a partida no tempo normal
(cinco trocas durante os 90 minutos de jogo) e uma adicional caso a partida fosse para a
prorrogação. Esta alteração ocorreu por conta do contexto atual de pandemia do Corona
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Vírus, em que houve a paralisação dos campeonatos, e quando estes campeonatos foram
retomados, o intervalo entre um jogo e outro diminuiu bastante, então a quinta substituição
surge como um meio de preservar o bem estar dos jogadores, para que o impacto das partidas
em sequência possa ser melhor administrado pelas comissões técnicas das equipes (GLOBO
ESPORTE, 2020).
AI apresenta período maior de tempo, porém com intensidade mais baixa quando comparado
ao reaquecimento, que ocorre em um menor período de tempo, porém com intensidades mais
altas. No mesmo estudo, o placar momentâneo da partida influenciou apenas a CAI, os
jogadores percorriam maiores distâncias em CAI quando a equipe estava perdendo (HILLS et
al., 2019).
No futebol inglês, a equipe técnica não tem permissão para deixar a área técnica,
portanto, o aquecimento não supervisionado ocorre com bastante frequência, os quais
geralmente não demonstram rotina para o reaquecimento (HILLS et al., 2019). Portanto, esta
diferença apresentada de acordo com o placar da partida pode ser em função na motivação
intrínseca que o contexto da partida exerce sobre o jogador, fazendo com que ele execute mais
CAI, por exemplo (HILLS et al., 2019). Algumas estratégias podem ser tomadas tanto pelas
comissões técnicas das equipes quanto pela própria regulamentação das competições. Os
times podem criar protocolos de treinamentos mais adequados e esclarecidos, para que os
jogadores realizem no reaquecimento sem o acompanhamento da comissão técnica, ou
também indicar que os atletas coloquem roupas que diminuam a perda de calor para o
ambiente (HILLS et al., 2019). Já os regulamentos poderiam permitam que o preparador
físico possa sair da área técnica e realizar aquecimento supervisionado com os atletas, ou
aumentar a área técnica para que sejam facilitados os sprints (HILLS et al., 2019).
Com relação ao papel tático dos jogadores dentro da equipe, o estudo de Hills et al.
(2020) contou com 33 participantes que trabalhavam em times profissionais de futebol, sendo
sete alegaram trabalhar prioritariamente com a parte tática (como treinadores, por exemplo)
enquanto que 26 trabalhavam com a parte física (preparadores físicos, por exemplo). A
pesquisa foi realizada através de questionário, em que os treinadores respondiam 12 perguntas
voltadas ao papel tático que os jogadores apresentavam na equipe. Quando perguntados sobre
as razões e motivações para o uso das substituições, seis dos sete entrevistados assinalaram as
seguintes respostas: “Mudar as táticas da equipe (por exemplo, formação)”, “aumentar o ritmo
de jogo em relação aos outros jogadores”, “substituir jogadores com baixo desempenho /
fadigados” e “substituir jogadores lesionados”. Além disto, seis dos sete entrevistados
alegaram que “os substitutos são um fator importante na determinação do sucesso em partidas
de futebol” e também que a substituição “Influencia substancialmente o resultado de uma
partida”. "O papel dos substitutos é uma consideração importante durante o planejamento pré-
jogo", também foi citado pelos participantes, o que pode indicar que os jogadores exercem
determinados papéis táticos dentro da equipe, e também, a orientação tática que o treinador
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passa para o atleta em questão serve como grande influência motivacional para o jogador
desempenhar seu papel durante a partida.
Portanto, a literatura apresenta que os substitutos desempenham papéis influentes na
partida e o sucesso ou não de determinados jogadores está atrelado a fatores, como o
momento da substituição, placar momentâneo e o reaquecimento para que os jogadores
entrem na partida (HILLS et al., 2020). As substituições apresentam mudanças tanto nos
aspectos físicos do jogo quanto nos aspectos táticos, com o intuito de auxiliar a equipe, para
que tenha o melhor desempenho possível durante a partida (HILLS et al., 2019, 2020).
direto; 5º) menor número de cartões vermelhos recebidos; 6º) menor número de cartões
amarelos recebidos; 7º) sorteio (CBF, 2020).
O Campeonato Brasileiro Série A também serve para a classificação ou rebaixamento
para outras competições (CBF, 2020). As equipes classificadas entre 1° e 6° colocado estarão
classificadas para a taça CONMEBOL Libertadores (sendo os quatro primeiros para a fase de
grupos, o 5° e o 6° para a fase preliminar da competição), já as vagas destinadas
CONMEBOL Sul-America são destinadas às equipes que terminarem a competição entre a 7ª
e a 12ª posição(CBF, 2020). Por fim, os últimos quatro colocados, aqueles que acabaram a
competição na 17ª, 18ª, 19ª e 20ª posição estão rebaixados para o Campeonato Brasileiro
Série B (CBF, 2020).
Para que a equipe dispute o Campeonato Brasileiro Série A, ela deve atender aos
seguintes critérios de inclusão, que são eles: (i) ter permanecido como integrante do
Campeonato Brasileiro Série A no ano anterior, ou seja, terminar a competição entre 1° e 16°
colocado e (ii) ter acesso a partir do Campeonato Brasileiro Série B no ano anterior,
terminando entre a 1ª e 4ª posição do Campeonato Brasileiro Série B (CBF, 2020).
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3 MÉTODOS
3.2 PARTICIPANTES
A amostra foi classificada como não probabilística do tipo intencional, na qual fizeram
parte da amostra informações disponíveis que possam ser representativos a toda a população
de jogadores de futebol brasileiro do Campeonato Brasileiro Séria A (PRODANOV; DE
FREITAS, 2013), onde foram analisadas três temporadas (temporada 2018; 2019 e 2020). O
campeonato ocorre em forma de pontos corridos, em que todos os times se enfrentam duas
vezes e jogam 38 partidas, totalizando 380 partidas por campeonato e 1140 partidas ao todo,
além de 1319 jogadores distintos que participaram das três temporadas avaliadas. Os critérios
de inclusão são: (i) as partidas devem ter acontecido em uma das temporadas citadas acima,
(ii) as partidas devem ter acontecido pelo campeonato em questão, também citado acima. Para
os critérios de exclusão, foram excluídas as partidas em que a base de dados não estiver
completa.
Os dados foram retirados através do site da CBF, onde as súmulas de todas as partidas
dos campeonatos em questão (Campeonato Brasileiro série A 2018, 2019 e 2020) são
disponibilizadas. A partir da coleta dos dados, foi feita a tabulação dos mesmos, utilizando o
editor de planilhas Microsoft Excel 2016, e o tratamento estatístico ocorreu a partir do
software R versão 4.0.5. Todas as variáveis presentes no quadro 1 foram retiradas do site da
CBF, exceto as posições dos jogadores, o ranking final e o ranking momentâneo da liga. As
posições e o ranking final foram obtidos através do site do https://ge.globo.com/ enquanto que
o ranking momentâneo foi verificado no site https://cassiozirpoli.com.br/. Quando havia
alguma divergência quanto às informações presentes nas súmulas de jogo e as informações do
globo esporte, uma terceira fonte foi consultada, https://www.sofascore.com/, a fim de
verificar qual informação estava correta. Além disto, foram agrupados os blocos de aplicação
29
dos cartões de acordo com a minutagem de recebimento. Cada tempo de 45 minutos foi
separado em três blocos de 15 minutos e um bloco separado foi para os acréscimos,
correspondendo a 8 blocos (0 a 15; 15 a 30; 30 a 45; acréscimos 1° tempo; 45 a 60; 60 a 75;
75 a 90; acréscimos 2° tempo), afim de observar qual em quais momentos a aplicação de
cartões ocorre com mais freqüência.
4 RESULTADOS
as posições dos jogadores são variáveis dependentes, possuindo interferências entre si quando
comparados apenas os jogadores que receberam cartões. A figura 2 indica que os defensores
são os que mais recebem cartões entre os jogadores titulares (44,15%), seguidos pelos meio-
campistas (38,62%) e atacantes (17,23%). Para os substitutos a distribuição foi diferente,
46,30% dos cartões aplicados foram para os meio-campistas suplentes, seguidos dos atacantes
(39,86%) e defensores (13,84%).
Figura 2 – Distribuição de frequência para status inicial e posições dos jogadores que
receberam cartões.
diferenças significativas na análise bruta foram as que envolviam o ranking (seja ele final ou
momentâneo). As variáveis que apresentaram diferença significativa foram: o status inicial,
local da partida, diferença no placar final, posições dos jogadores, tempo jogado, resultado
final e a temporada.
Para o status inicial, foi constatado que os jogadores substitutos apresentaram RC
54,01% menor para o recebimento de cartões quando comparado aos jogadores titulares. O
local da partida também teve influência significativa, em que jogadores da equipe visitante
tiveram RC 6,29% maior do que os jogadores da equipe mandante, sendo assim mais
suscetíveis a receberem cartões. A diferença no placar final não obteve diferenças
significativas quando comparadas as partidas com diferença de 0 ou 1 gol, porém quando
verificado placares de 2 gols ou mais, os jogadores apresentaram RC 17,06% menor do que
quando comparado ao jogo empatado, sendo que a RC é um pouco maior quando comparada
com a diferença no placar de 1 gol, ou seja, quanto menor a diferença de gols, mais chance os
atletas têm de receberem cartões. As posições dos jogadores também influenciaram no
recebimento dos cartões, os meio-campistas apresentam RC 6,79% maior de receberem
cartões do que quando comparados aos defensores. Entre atacantes e defensores, a RC é
24,59% menor para o recebimento de cartões pelos atacantes.
Para o tempo jogado, foi achado que a cada minuto jogado, a RC aumenta em 1,03% o
recebimento dos cartões. Atletas que jogaram mais minutos apresentam mais chances de
receberem cartões. O resultado final não teve diferença significativa entre derrota e empate,
apenas entre vitória e derrota, sendo que a RC é 8,27% menor dos jogadores da equipe
vencedora receberem cartões do que a equipe perdedora. Por fim, a última variável que obteve
diferença significativa na análise bruta foi à temporada, pois os atletas que participaram da
temporada de 2019 tiveram RC 11,38% menor de receber cartões do que quando comparado a
temporada 2018. Está diferença foi ainda maior para atletas que participaram da temporada de
2020, a RC, quando comparado a 2018, foi de 21,54% menor.
Passando para a análise ajustada, o local da partida e o resultado final passaram a não
ter diferenças significativas quando as demais variáveis estão controladas. Importante
salientar que para a análise ajustada, quando estivermos avaliando uma variável, sempre se
leva em consideração que as demais variáveis foram controladas. Os resultados se
mantiveram significativos para status inicial, diferença do placar final, posições, tempo
jogado e o ano, havendo variações nos percentuais. Para o status inicial, o resultado continuou
o mesmo, porém a RC caiu de 54,01% para 35,71%, ou seja, controlando as demais variáveis,
a RC é 35,71% menor dos jogadores substitutos receberem cartões do que quando
34
Tabela 3 – Distribuição de frequência da relação status inicial e período de jogo dos jogadores
que receberam cartões.
5 DISCUSSÃO
mais que ele tenha o mesmo tempo de exposição de um titular, geralmente o período em que o
atleta exerce o seu tempo de exposição ao jogo é muito mais suscetível a receber cartões para
os substitutos do que para titulares que jogaram a mesma quantidade de tempo até 50% da
partida. Ou seja, se um titular jogou apenas o primeiro tempo, e o substituto jogou apenas o
segundo, a probabilidade de receber cartões no segundo tempo é maior do que no primeiro,
consequentemente, o substituto teria mais chance em receber cartões.
Além disso, jogadores substitutos apresentam maiores valores de corridas executadas
em alta intensidade (CARLING et al., 2010; BRADLEY; NOAKES, 2013; BRADLEY;
LAGO-PEÑAS; REY, 2014), distância percorrida em sprint e números de sprints (DALEN;
LORÅS, 2019) quando comparados titulares. Esta intensidade elevada ao que o jogo propõe
pode ser um dos motivos dos resultados obtidos nas tabelas 3 e 4. Como também podemos
observar no estudo de Belissimo (2008), os meio campistas são mais propensos a receberem
cartões. Assim, o fato deles serem os mais selecionados para o ingresso na partida (DEL
CORRAL; BARROS; PRIETO-RODRIGUEZ, 2008) pode ter acarretado nestes índices,
indicando que dentre os jogadores substitutos, os meio-campistas recebem mais cartões.
De acordo com o período de jogo, o segundo tempo apresentou maior distribuição de
cartões, principalmente nos últimos 15 minutos de partida, e também maior razão para a
concentração de cartões, quando dividido minutos jogados / número de cartões aplicados.
Além disto, foi verificado que para todas as faixas de tempo, o número de cartões foi maior
quando comparado o segundo e o primeiro período, indo de acordo aos achados encontrados
na literatura (CHIMINAZZO; MASCARA; DEL VECCHIO, 2013). A maior ocorrência de
cartões no segundo tempo pode estar relacionada aos efeitos de possível queda de
desempenho fisiológicos, técnicos e táticos proporcionados pela partida (RUSSELL;
BENTON; KINGSLEY, 2012), acarretando em uma queda de performance. Além disso, a
reincidência, ou o acúmulo de faltas pelo mesmo jogador ou da equipe também pode estar
relacionada à maior aplicação de cartões no decorrer da partida. Com isso, estes efeitos
podem indicar que atletas que possuem características de marcação tendem a chegar mais
atrasados nas jogadas por conta do cansaço acumulado, realizando mais faltas e recebendo,
consequentemente, mais cartões. Com relação à aplicação de cartões pelo resultado
momentâneo, não foram achados na literatura estudos que analisassem tal variável, portanto, é
possível que este resultado tenha ocorrido pelo fato do jogo já iniciar empatado, fazendo com
que o tempo jogado neste placar seja maior do que o tempo jogado em outros placares,
favorecendo assim a maior aplicação de cartões. Além disto, a diferença do placar final
também verificou que a RC é maior para o recebimento de cartões quando a partida está com
40
zero gols de diferença, o que também pode sugerir que neste momento de empate da partida,
ambos os times estão querendo passar a frente do placar. O estudo de Ventura, (2020) apontou
que laterais e atacantes percorreram maiores distâncias em sprints quando a partida estava
empatada, sugerindo maior intensidade destes jogadores, isso pode estar associado com maior
incidência de jogadas temerárias e de jogo brusco, podendo acarretar em maior aplicação de
cartões quando a partida não apresenta diferença de gols.
Diferente dos estudos anteriores (POULTER, 2009; LAGO-PEÑAS; LAGO-
BALLESTEROS, 2011; SAPP; SPANGENBURG; HAGBERG, 2018; GÓMEZ et al., 2019)
o local da partida não apresentou associação quando as demais variáveis estavam controladas.
Este achado pode estar corroborando com o estudo de Pollard (2006), o qual aponta que a
vantagem obtida pelo time mandante vem diminuindo com o tempo, tal fenômeno pode ser
explicado por diversos fatores, como o aumento do profissionalismo; os clubes e jogadores
estão cada vez mais preparados; o distanciamento dos torcedores e jogadores; as estratégias de
marketing, as quais acabam diminuindo a identificação da população local com a equipe.
Além disto, o efeito do local da partida somado ao fato de que a temporada de 2020 ter sido
realizada sem público pode ter contribuído para que o efeito tenha sido dissipado dentre as
outras variáveis, fazendo com que ela deixasse de ser significativa.
Em contraste com a literatura, o ranking final do Campeonato Brasileiro Série A não
teve associação significativa com o número de cartões recebidos. O estudo de Sapp,
Spangenburg e Hagberg (2018) apontou que em cinco grandes ligas da Europa (primeira
divisão da Itália, Inglaterra, Alemanha, Espanha e França) quanto mais cartões recebidos, a
colocação do time ao final do campeonato era pior, porém no Campeonato Brasileiro isto não
foi observado, pois nem o ranking final e nem o ranking momentâneo apresentaram
associação significativa para a aplicação de cartões. As cinco ligas analisadas por Sapp;
Spangenburg; Hagberg (2018), apesar de serem de países diferentes, fazem parte do mesmo
continente, em que as culturas são mais próximas. Quando comparado ao Brasil, não foram
obtidos os mesmos resultados presentes nas ligas européias. Este fator pode ter ocorrido por
conta de diferenças culturais que podem influenciar na marcação de faltas, condutas
antidesportivas e consequentemente na aplicação de cartões (DAWSON; DOBSON, 2010;
SAPP; SPANGENBURG; HAGBERG, 2018).
Apesar de o presente estudo ter feito apenas três categorias para as posições
(defensores, meio-campistas e atacantes), foi obtido que os meio-campistas apresentam RC de
21,64% maior do que os defensores para o recebimento de cartões. Os resultados se
assemelham com o estudo de Belissimo, (2008), sendo que das três posições que mais
41
recebem cartões amarelos em ordem decrescente (volante, zagueiros e meias), duas fazem
parte dos meio-campistas (volantes e meias). Além deste fator, o estudo de Belissimo, (2008)
também encontrou que o mando de campo não influencia nos cartões aplicados quando
comparados jogadores da mesma posição atuando dentro ou fora de casa, indo ao encontro
dos achados deste estudo. De acordo com os resultados apresentados na figura 2, meio-
campistas e defensores apresentaram percentuais semelhantes, sendo de 39,94% e 39,69%
respectivamente, para o recebimento de cartões. Esses resultados sugerem que os atacantes
são menos propensos a receberem cartões quando comparados a defensores e meio-campistas.
Este fato pode ocorrer devido aos resultados apresentados na figura 1, em que, das 33.025
observações, 8.278 jogadores eram atacantes, 11.997 meio-campistas e 12.750 defensores, ou
seja, a posição de atacante aparece com menos frequência do que as outras, podendo explicar
o menor número de cartões aplicados. Além disso, quando analisados jogadores que
realizaram ao menos uma aparição em qualquer campeonato da English Premiership
Football, foi constatado que é provável que os meio-campistas realizem mais faltas do que os
defensores, porém esta diferença não é estatisticamente significativa, enquanto que as
posições que menos cometem estas infrações são os atacantes e os goleiros (REILLY; WITT,
2011). Resultados muito similares também foram achados no estudo de De Luca, Schokkaert
e Swinnen (2015), meio-campistas realizam mais faltas quando comparados a defensores e
atacantes, e ainda, atacantes cometem mais faltas do que os goleiros. Importante destacar que
no presente estudo, os goleiros estão inclusos nos defensores, diferente do estudo de Reilly e
Witt (2011), Belissimo (2008) e De Luca, Schokkaert e Swinnen (2015).
Ainda sobre as posições, pode-se realçar na figura 1 que os meio-campistas foram os
mais escolhidos para entrar na partida (43,16%), seguidos dos atacantes (41,68%) e dos
defensores (15,16%). Estes resultados estão de acordo ao estudo de Del Corral, Barros e
Prieto-Rodriguez (2008), mostrando que a posição mais escolhida para o ingresso no jogo são
os meio-campistas, sendo um dos pilares para a formulação da hipótese deste estudo. Meio-
campistas e atacantes apresentaram resultados semelhantes em ingressar no jogo como
suplentes, enquanto que os defensores foram escolhidos em menos ocasiões. Esta maior
seleção dos meio campistas e atacantes pode se dar ao fato de que atletas destas posições
apresentam maiores índices em corridas de intensidades mais elevadas, enquanto que
zagueiros passam mais tempo realizando trotes e saltos (BLOOMFIELD; POLMAN;
O’DONOGHUE, 2007). De acordo com Di Salvo et al. (2010), atletas destas posições tem
características de serem mais rápidos e ágeis, influenciando nas distâncias percorridas em
faixas de intensidade mais altas, como os sprints. Ainda, apesar do futebol ser caracterizado
42
como um esporte de predominância aeróbia, o jogo geralmente é decidido por ações de alta
intensidade, correspondendo ao sistema anaeróbio (THOMAZ; NAVARRO, 2010). Portanto,
a seleção destas posições vai ao encontro dos dados apresentados com a literatura, os técnicos
provavelmente escolhem tais posições como uma forma de aumentar a intensidade da sua
equipe na partida, retirando os atletas que podem estar apresentando uma possível queda de
desempenho físico (RUSSELL; BENTON; KINGSLEY, 2012) e inserindo atletas que
coloquem intensidade, buscando decidir o jogo a partir destas ações de alta intensidade
(THOMAZ; NAVARRO, 2010), para perseguir o resultado final da partida favorável à sua
equipe.
Quando observado o resultado final da partida, também não foram encontrados na
literatura estudos que analisaram tal variável, desta maneira, foi constatado que quando os
demais fatores estão controlados, o efeito do resultado final se mostrou não significativo. Isso
pode ter ocorrido, pois o efeito pode ter se dissipado em outras variáveis mais influentes, de
modo que deixou de ser significativo. Aquino et al. (2020) sugerem que os jogadores passam
maior parte do jogo buscando o gol, e consequentemente, estar a frente no placar, mas em
muitos casos, a alteração no placar ocorre ao final da partida, classificando o jogo como
vitória para a equipe, mas que a maioria do tempo de jogo ocorreu com o placar de empate.
Assim, é possível que o efeito da variável resultado final da partida sobre o recebimento de
cartões tenha se perdido dentre outras variáveis, visto que o placar final nem sempre
representa como foi o jogo todo, em muitos casos ele representa apenas a parte final da
partida, em que a vantagem foi concedida, porém ignorando a influência do placar no restante
do jogo.
Analisando a influência da temporada sobre o recebimento de cartões, foi possível
perceber que as temporadas de 2019 e 2020 tiveram RC 11,63% e 16,6% menor,
respectivamente, de receberem cartões do que na temporada de 2018. Importante destacar
que a temporada de 2018 não possuía o auxílio da ferramenta VAR, portanto é possível que
para as temporadas seguintes, os jogadores tenham deixado de cometer determinadas faltas e
ações, se tornando mais cautelosos para que evitassem serem analisados pelo VAR (LAGO-
PEÑAS; REY; KALÉN, 2019), podendo acarretar em uma expulsão. Lago-Peñas, Rey e
Kalén (2019) buscaram associar as mudanças provocadas pelo VAR no futebol de elite,
analisando 1024 partidas da primeira divisão da Alemanha e da Itália. Foi verificado que
ocorreu uma queda no número de impedimentos, faltas e cartões amarelos aplicados após a
inserção da ferramenta, corroborando com os achados do presente estudo.
43
6 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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