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Documentário Sarau Internacional IntegrArtes 100 anos Helenita Sá Earp

Kauane Castro Ferreira1 (UFRJ)


André Meyer Alves de Lima2 (UFRJ – Orientador)
Ana Célia de Sá Earp3 (UFRJ – Orientadora)

Resumo: O presente trabalho visa refletir sobre a produção do documentário “Sarau


Internacional IntegrArtes 100 Anos Helenita Sá Earp”, uma obra desenvolvida pelo
Laboratório de Imagem e Criação em Dança – LICRID e que contou com a parceria
da Companhia de Dança Contemporânea da UFRJ. O filme tem como base, estudos
sobre as estéticas do cinema documental e da videoarte. O documentário apresenta
reflexões sobre o pensamento de Helenita Sá Earp onde o desenvolvimento das
linguagens artísticas está diretamente ligado ao conhecimento do potencial criador
da natureza humana, que se expressa na corporeidade em seus aspectos
individuais, grupais e ambientais. Este filme está sendo finalizado com imagens de
arquivos do evento que aconteceu em 2019 na Vila Residencial da UFRJ como parte
das atividades desenvolvidas pelo Projeto de Extensão “Vila em Dança” e busca
explorar novas formas de fazer cinema ao misturar elementos da videoarte com a
narrativa documental. Ao atribuir elementos técnicos cinematográficos às imagens
que foram captadas em tempo real de um sarau artístico-cultural, o filme busca se
caracterizar como uma obra-processo, em que a plasticidade ganha lugar, a fim de
instaurar a possibilidade de transitar por uma experiência fora do sujeito nas
dimensões do virtual.

Palavras-chave: Cinema Documental; Videoarte; Novas construções


cinematográficas.

1 Graduanda do Bacharelado de Comunicação Social - Rádio TV na UFRJ, cursando o penúltimo


período. Bolsista (Bolsa de extensão II. PROFAEX/PR5-UFRJ) do projeto “Dança e Educação
Ambiental no Ensino Básico”
2 Professor do Programa de Pós-Graduação em Dança da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
(PPGDan-UFRJ) Dentre suas linhas de pesquisa destacam-se: Fundamentos da Dança de Helenita
Sá Earp, Composição Coreográfica e Ecoperformatividade.
3 Professora do Programa de Ensino e Graduação em Dança da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Criou e implantou o Curso de Bacharelado em Dança da UFRJ (1993). Tem experiência em
técnica da dança e processos de criação, atuando principalmente em temas relacionados aos
Fundamentos da Dança de Helenita Sá Earp.
Abstract: This work aims to reflect on the production of the documentary "Sarau
Internacional IntegrArtes 100 Anos Helenita Sá Earp". A work made by the
Contemporary Dance Company of UFRJ, based on studies of documentary cinema
and video art, allied to the thought of Helenita Sá Earp, that the development of
artistic languages is linked to the knowledge of the potential creator of human nature,
which is expressed in corporeity in its individual, group and environmental aspects.
Made through archive images of the event that took place in 2019 in the Residential
Village of UFRJ as part of the activities developed by the Extension Project "Vila em
Dança'', the documentary, which is still under construction, seeks to explore new
ways of making cinema by mixing elements of the aesthetics of video art, with the
documentary narrative. By attributing cinematic technical elements to the images that
were captured in real time of an artistic-cultural Soiree, the film seeks to characterize
itself as a work-process, in which plasticity takes place, to establish the possibility of
transiting through an experience outside the subject in the dimensions of the virtual.

Key-words: Documentary Cinema; Video art; New cinematic constructions.

1. Contextualização sobre o evento “Sarau Internacional IntegrArtes 100 Anos


Helenita Sá Earp”

As ações do Projeto “Vila em Dança”, desdobradas em Oficinas, Colônia de


Férias, Saraus e Passeios Culturais procuram promover o exercício e a consciência
do corpo na sua relação com o meio ambiente e o espaço geográfico da cidade,
onde esse corpo é ora acolhido, ora repelido, ora impulsionado ao movimento, ora à
imobilidade, ora é convidado à festa e à troca, ora ao isolamento. Para Helenita Sá
Earp, o corpo:
[...] não se estabelece apenas como a fisicalidade em sua natureza
anatômica-fisiológica visível, mas é concebido como um campo maleável de
expressão do Ser num continuum de interações entre o indivíduo, o grupo e
o ambiente (MEYER, 2012, p. 87-88).

É nessa “encruzilhada” que se encontrou o Sarau comemorativo dos 100 anos


desta pioneira e pesquisadora do movimento, que aconteceu em 16 de novembro de
2019 e reuniu estudantes de graduação de diferentes unidades da UFRJ em
diferentes papéis – proponentes, curadores, artistas, divulgadores, produtores ou
mediadores – em um processo de criação e de trabalho coletivo junto à diferentes
públicos comunitários e institucionais com destaque à comunidade da Vila
Residencial da UFRJ, público preferencial das atividades desenvolvidas.
Neste processo de tradução do espaço-tempo presentes em movimento e em
expressão artística, está também o nosso entendimento de que nossos processos
educativos devem se dar em vias de mão dupla ou em múltiplas e impensáveis vias
estabelecidas entre sujeitos carregados de conhecimento e experiência prévios,
como nos chama atenção Paulo Freire. Assim, alunos das graduações de Dança,
Música, Teatro, Artes Plásticas, Biologia, Engenharia Ambiental, Letras, Pedagogia,
Educação Física, Biblioteconomia, Engenharia Ambiental, entre outros “aprendem e
apreendem” o ofício do educador e do artista, a partir da realidade de outros tantos
corpos e formas de expressão, no trabalho com os jovens e as crianças da
comunidade e vice-versa.
Localizada no extremo sul-sudeste da Ilha do Fundão, a Vila Residencial da
UFRJ fica no final da avenida principal da Cidade Universitária, depois da Reitoria e
de uma curva da única rua que lhe dá acesso. Desse modo, não pertence à
paisagem daqueles que circulam pela cidade universitária, funcionários, estudantes
e visitantes, em geral, que muitas vezes nem sabem da sua existência. Palco de
outros projetos de extensão universitária nas áreas da saúde, informática,
alfabetização de jovens e adultos e educação ambiental, a Vila Residencial da UFRJ
se caracteriza, no entanto, pelo distanciamento da oferta cultural e educacional de
cada unidade ou departamento, apesar da presença dos estudantes que moram em
suas repúblicas estudantis. A grande rotatividade dessas repúblicas colabora
também para a pouca interação dos estudantes com a população local.
No dia 16 de setembro de 2019 das 10 às 21h, realizou-se o evento “Sarau
Internacional IntegrArtes 100 anos de Helenita Sá Earp”, um dos desdobramentos
do Projeto de Extensão “Vila em Dança” que acontece desde 2014 na Vila
Residencial da UFRJ4, iniciativa do Laboratório de Imagem e Criação em Dança e da
Companhia de Dança Contemporânea da UFRJ em parceria com a Associação de
Moradores da Vila Residencial, projetos vinculados ao Programa e uma rede de
articulações com outras associações de moradores, projetos de extensão da UFRJ,
projetos externos à UFRJ, coletivos, movimentos sociais, entre outros parceiros
novos e de longa data.
O evento teve a participação especial de artistas locais, nacionais e
internacionais, integrantes de comunidades da região e atividades de diversas
temáticas, como rodas de conversa, grupos artísticos, música, dança, oficinas e
4 Integrante do Programa de Extensão Vila Residencial & Apreendendo à Cidadania Ativa:
Circularidade em Rede no Saber, Fazer e Compartilhar coordenado pela Profa. Selene Alves do
Instituto de Matemática da UFRJ desde 2021.
informações sobre meio ambiente, religião, saúde, nutrição e educação inclusiva.
Esta edição especial participaram antigos e novos parceiros: Mar de Histórias - Arte
2 da Escola de Belas Artes; Associação de Moradores da Vila Residencial;
Biblioteca Comunitária – Curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de
Informação da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis (FACC); Projeto
de Reforço Escolar do Laboratório de Informática para Educação-LipE - Centro de
Tecnologia da UFRJ; Escola de Música FAETEC de Marechal Hermes; Projeto
“Educação Ambiental para professores da Escola Básica: perspectivas teóricas e
práticas” (EAPEB) da Faculdade de Educação; Projeto Aposentados; Projeto
LIMDA; Clube dos Empregados da Petrobras CEPE FUNDÃO; Projeto Muda da
Engenharia Ambiental da UFRJ; Associações Comunitárias de Acari, Jacaré, Lins e
Manguinhos e dos municípios de Belford Roxo e Duque de Caxias e Sund
Folkechegskale (Noruega). Nesta Edição Especial do Sarau “IntegrArtes”, estiveram
presentes aproximadamente 500 pessoas que participaram de 44 atividades.
O evento aconteceu no Campo de Futebol da Vila Residencial da UFRJ e foi
organizado em um formato circular em sete tendas de circo, sendo uma delas o
palco principal, além das atividades que aconteceram no Galpão “DançArte”, sede
física do Projeto.

2. Cinema Documentário e Videoarte

Desde seu nascimento, os filmes qualificados como documentários


apresentam uma ampla diversidade, seja temática, estilística, técnica ou
metodológica. Essa característica acaba resultando na dificuldade da formulação de
modelos e sua categorização, assim os moldes de como se faz um documentário,
diferente de outras escolas do cinema narrativo, não são rígidos. Dessa forma, o
cineasta documental tem mais liberdade para brincar com as técnicas
cinematográficas, a fim de transmitir a mensagem que o seu filme propõe. Contudo
esses benefícios colocam o documentário num campo extremamente sensível, o da
ética com a realidade, uma vez que o seu conteúdo não é uma simples narração
inventada, mas sim um fato dotado de personagens reais.
Em 1948, uma associação de realizadores, a World Union of Documentary,
definiu o documentário como:
[…] Todo método de registro em celulóide de qualquer aspecto da realidade
interpretada tanto por filmagem factual quanto por reconstituição sincera e
justificável, de modo a apelar seja para a razão ou emoção, com o objetivo
de estimular o desejo e a ampliação do conhecimento e das relações
humanas, como também colocar verdadeiramente problemas e suas
soluções nas esferas das relações econômicas, culturais e humanas 5.

Ao analisar esta definição oficial, é possível afirmar que o documentário se


define mais no plano ético do que no plano fílmico, uma vez que enfoca a emoção
ou razão dos espectadores sobre a realidade de grupos sociais. O enfoque é
colocado nos propósitos do realizador e nos possíveis efeitos do filme sobre a
audiência, ao invés dos parâmetros propriamente cinematográficos. A exemplo
disso, temos o Cinema Verdade 6, uma vertente do cinema documental, no qual as
imagens se consideradas pelos moldes cinematográficos são em sua maioria
apresentadas como “cruas”, por não ter um cuidado no tratamento estético. Alguns
planos nesses documentários são tremidos, outros não possuem um ângulo ou
tratamento de áudio adequado. Mas esses aspectos, embora possam parecer para
grande maioria o resultado de uma formulação descuidada, têm como principal
objetivo criticar os moldes do Cinema Narrativo Clássico 7 e seu efeito de imersão. O
documentarista ao optar pelo uso de imagens não tratadas, busca explorar a
sensação de realidade do seu filme, uma vez que na vida real as imagens e o som
não possuem a qualidade estética e técnica que são apresentadas nos filmes. Essas
particularidades imagéticas são atribuídas ao universo cinematográfico, para
“prender” o espectador à história proposta pela obra, o fazendo imergir no mundo
criado pelo cineasta e nas ideologias presentes no filme. Dessa forma, os sujeitos a
cinema narrativo clássico, não incentiva a consciência social, espacial e corporal dos
sujeitos.
Em concomitância à crítica do Cinema Verdade aos moldes do Cinema
Clássico, a Videoarte também busca ampliar a experiência cinematográfica, dando
espaço a plasticidade das imagens e suas potencialidades artísticas.
O surgimento da videoarte remonta à década de 1960, período marcado por
experimentações e contraposições com as práticas artísticas mais clássicas.

5 (ROSENTHAL, 1988, p 22 apud WINSTON, 1977, p 89).


6 Vertente do estilo documentário que surgiu na França, na década 1960. Tem como precursores os
cineastas Jean Rouch e Edgar Morin.
7 Primeira Escola Cinematográfica, surge na década de 1920 com o cineasta D. W. Griffith.
Através dos trabalhos dos precursores Nam June Paik 8 e Wolf Vostell9, é
possível perceber como as experimentações da videoarte com os meios digitais,
buscam ir além da produção de um simples produto televisivo. Como exemplo disso,
tem se as videoinstalações, que propiciam o deslocamento do espectador de seu
caráter passivo para ativo, assim como a inserção de multinarrativas e de pontos de
vista distintos.
A videoarte tem como sua principal característica a exploração das técnicas
digitais de vídeo e o que isso gera no espectador. Dessa forma, há uma enorme
brincadeira gráfica nos vídeos como a sobreimpressão (sobreposição de imagens
translúcidas), os jogos de janelas (recortes geométricos e fragmentos em um mesmo
quadro). A estética da videoarte é totalmente contrária a forma fixa do cinema
clássico, que busca a criação de imagens objetivas e com verossimilhança, longe
disso ela busca a agilidade do tempo da imagem, a construção da obra como
processo e o potencial de intensa subjetividade.

3. Metodologia usada na criação do documentário

Todas as imagens utilizadas neste documentário foram gravadas no dia 16 de


novembro de 2019, a data em que o evento “Sarau Internacional IntegrArtes 100
Anos Helenita Sá Earp" aconteceu. Toda a filmagem ocorreu em tempo real
conforme o cronograma do evento ocorria, não havendo a incorporação de nenhum
plano a posteriori do término do sarau. As filmagens foram realizadas por uma
equipe composta por estudantes da Escola de Comunicação Social da UFRJ, os
quais eram extensionistas do Projeto “Vila em Dança”.
Embora as gravações do evento tenham se encerrado em 2019, a concepção
da edição do documentário teve seu início apenas no primeiro semestre de 2022, no
qual foi feito um corte inicial de uma hora e três minutos de duração para ser exibido
no formato de curta metragem no I Encontro Internacional de Educação Popular e
Cidadania: Experiências e Desafios, realizado em 2022 através do canal do
YouTube Helenita Sá Earp Site no formato de apresentação única. 10 Evento que
ocorreu de forma online e contou com diversas palestras e mostras artísticas.

8 Artista sul-coreano que trabalhou em diversos meios de arte, mas sendo mais conhecido pelos
seus trabalhos no campo da videoarte.
9 Pintor e escultor alemão, foi um dos pioneiros da Instalação e Videoarte.
10 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=r3hrEEETgAg> Acesso em: 22 jan. 2023 às
12:02.
Posteriormente a esse encontro, também foi realizada uma versão de 10 minutos, a
qual foi exibida na 11ª Semana de Integração Acadêmica Da UFRJ (SIAC). A partir
desses eventos se deu o estudo da realização do Documentário “Sarau Internacional
IntegrArtes 100 Anos Helenita Sá Earp”, uma obra feita pela Companhia de Dança
Contemporânea da UFRJ, a qual ainda está em processo de construção.
O primeiro momento da mesa de edição do documentário foi a realização de
uma busca no banco de imagens do projeto, para reconhecer quais atividades foram
gravadas, assim conhecendo o material bruto que se possuía para a execução do
filme. Com a análise foi possível perceber que muitas atividades do sarau não
conseguiram ser gravadas, ou então foram perdidas na transmissão de arquivos
externos do projeto. Das 44 atividades que a Edição Especial do Sarau “IntegrArtes”
contou, apenas 22 conseguiram ser registradas, sendo que algumas tiveram poucas
imagens. Estas foram: Oficina de Percussão, com Jorge Amorim; Oficina de Música
Africana, com Lwiza Gannibal, Oficina do Passinho, Fabiano Quintanilha; Oficina de
Samba e Forró, com Taciana Moreira e Édipo Sisant; Hip Hop Criativo, com Suellen
Cristino e Thiago Nunes; Cinema no Beco, com Bhega Silva; Apresentações
músicas da Orquestra da Faetec e da banda Sound Folkechegskale, escola de
música da Noruega que tem parceria com o projeto; Cerimônia e Mesa de Diálogos
Inter Religiosos com o Prof. O Dr. Babalawo Ivanir dos Santos, Pastor Ismael e
Ricardo Tupinambá com mediação do Prof. André Meyer; Apresentação de Rap do
GB; Performance Réptil de Thiago Nunes; Apresentação da Bateria da Escola de
Samba da União da Ilha; Oficina de Boneca Abayomi com Pituka Nirobe; Oficina de
Brinquedos de Bambu com Tomé Lima; Roda de Conversa sobre os povos
originários com Ricardo Tupinambá; Bate papo e Recital com as Sarauzeiras
Oníricas, Mery Onírica, Lindacy Fidelis, Menezes e Yolanda Soares; exposição de
desenhos das crianças da Vila; exposição de quadros da Dani Farahildes; Oficina de
grafite; Cortejo de máscaras com Aurélio Antônio; performance Dançar com Édipo
Silsant e por último a performance “Árvore” com Thayná Bertoldo. Além das
gravações dessas atividades, o material também contou com entrevista de alguns
oficineiros e de algumas crianças que participaram do evento.
Em seguida foi realizada uma decupagem mais profunda do material,
analisando quais planos possuíam uma maior potencialidade artística, importância
social e que melhor representassem a magnitude do evento. Após a decupagem foi
feita uma mini edição para cada atividade, para que cada uma fosse
cuidadosamente tratada e pudesse ser adicionada ao documentário. Através deste
mini recorte foi possível perceber que algumas atividades mereciam um
minidocumentário somente delas, devido ao seu vasto material e relevância social. A
Mesa de Diálogos Inter Religiosos, por exemplo, foi uma das atividades que
somente seu recorte tinha mais de uma hora de duração, devido ao seu conteúdo ter
uma grande magnitude de diálogos tão necessário para a realidade brasileira. Já
outras atividades seriam interessantes ter um minidocumentário composto pelo seu
tema, como foi o caso de todos os trabalhos realizados artísticos realizados pelas
crianças da vila, uma vez que o objetivo do Sarau, além de trazer um evento cultural
para o espaço geográfico da Vila Residencial, é incentivar a criação de novos
artísticas locais.
Depois dessas edições por agrupamento, iniciou-se os testes de edição para
o filme de uma hora, que seria exibido no Encontro Internacional de Educação
Popular e Cidadania. Devido a vasta extensão do material, muitos cortes foram
necessários, os quais influenciaram diretamente na mensagem a ser transmitida.
Dessa forma, houve uma priorização das entrevistas com as crianças e com os
oficineiros que participaram do Sarau. Esta escolha se deu para evidenciar como a
participação nas atividades foi significativa para as pessoas envolvidas no evento.
Vale destacar a entrevista do oficineiro de percussão corporal, Jorge Amorim que
contou sobre a importância de ter dado uma oficina, na qual boa parte das crianças
presente eram moradores de comunidade, realidade que ele também fez parte antes
de ser um grande músico que morou fora do brasil. ele também relatou a
importância do trabalho de cidade que é feita através da percussão com esses
jovens uma vez que sua identidade cultural é resgatada. Outra entrevista essencial
para entender o Sarau foi a da participante Beatriz, uma menina negra de 11 anos
de idade. Ao ser perguntada sobre qual atividade mais marcou ela no evento, a
transformou, a garota responde apenas “Dançar”, fala essa que é impossível não
associar com os ensinamentos de Helenita Sá Earp que via na dança um elemento
transformador do ser humano, capaz de fazê-lo perceber sua corporeidade em seus
aspectos individuais, grupais e ambientais.

4. A junção da estética documental com videoarte

O filme “Sarau Internacional IntegrArtes 100 Anos Helenita Sá Earp” não


busca ser um documentário nos moldes clássicos, o qual a câmera é um mosca
imperceptível aos indivíduos gravados, pelo contrário ele convida os convida a
interagir com ela, através de perguntas. Sua câmera também não busca ser estática
como se fosse apenas um elemento técnico sem um guia humano por trás. Dessa
forma ele se inspira muito na estética documental presente no Cinema Verdade.
A proposta do filme também é utilizar alguns elementos do videoarte como a
sobreimpressão, a alteração da velocidade do tempo da ação e a divisão de telas,
uma vez que combina com o caráter artístico do evento, o qual contou com diversas
performances e apresentações artísticas. Contudo no primeiro corte do
documentário essa características não foi tão marcante, com o uso de
sobreimpressão ficando apenas na passagem de uma imagem para outra. A
alteração no tempo da imagem usada nos momentos que as crianças fazem uma
pintura de artistas e brincam de performar os animais, os quais estão pintadas
também ficou pouco perceptível. O planejamento de edição do próximo corte é
brincar mais com os elementos do videoarte ao longo do documentário,
principalmente quando os planos retratam os pontos performáticos que ocorreram.
Neste momento em que as crianças estão brincando uma das ideias é mostrar um
plano de uma menina com o rosto pintado (Figura 1) abrindo a boca enquanto ela
vem em direção a câmera, primeiro em velocidade e direção normal e depois mais
rápido ao contrário, como se ele estivesse voltando.
Figura 1

Legenda: Frame da menina vindo em direção a câmera


Fonte: Laboratório de Imagem e Criação em Dança da UFRJ.
Após esse efeito, a ideia é que a imagem de um menino pintado de tigre
(Figura 2) surja primeiro como uma boca que engole a o plano antigo, dando início a
um novo, que começa com um close de uma boca e se revela como um rosto.
Figura 2

Legenda: Imagem do menino com o rosto pintado de tigre.


Fonte: Laboratório de Imagem e Criação em Dança da UFRJ.

Uma outra alteração planejada é quando aparece a performance “Árvore” com


Thayná Bertoldo. (Figuras 3 e 4) A sugestão é no início exibir o plano apenas de
uma árvore balançando ao vento, o qual ainda precisa ser captado, enquanto a
artista canta a música que ela recita na sua apresentação. Logo em seguida surge
da folha da árvore as mãos da Thayná em movimento, dando espaço a sua imagem
de costas com a cabeça para baixo, ressaltando seu tronco. Após esse plano, surge
a artista se levantando, mexendo os braços como se fosse os galhos de uma árvore
reagindo à brisa, nesses deslocamento irá acontecer a inserção de sobreimpressão
da mesma imagem, contudo em diversas direções, como se o corpo de uma árvore
seguisse diversos caminhos mesmo que o ser humano aponte apenas para um.

Figura 3: Plano da artista de costa representando o tronco de uma árvore.


Legenda: Plano da artista de costa representando o tronco de uma árvore.
Fonte: Laboratório de Imagem e Criação em Dança da UFRJ.

Figura 4

Legenda: Frame do movimento da performance levantando enquanto movimenta os braços.


Fonte: Laboratório de Imagem e Criação em Dança da UFRJ.

Há diversas modificações a serem estudadas e analisadas ao longo do


documentário para aumentar sua particularidade artística, a fim de que os elementos
do videoarte possam se tornar mais presentes. Dessa forma, O filme “Sarau
Internacional IntegrArtes 100 Anos Helenita Sá Earp” poderá ser uma obra que
mescle com perfeição o estilo do cinema verdade com o do videoarte, para que os
espectadores conheçam o sarau ocorrido na Vila Residencial como um ato de
potência artística e cultural do moradores locais.

5. Referências

Da-Rin, Silvio. Espelho partido: tradição e transformação do documentário cinematográfico. Rio de


Janeiro: Azougue Editorial, 2008.

MEYER, André; EARP, Ana Célia de Sá. VIEYRA, Adalberto (Ed.) Helenita Sá Earp: Vida e Obra.
Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 2019.

Mascarello, Fernando. A história do cinema mundial. Campinas: Editora Papirus, 2006.

Machado, Arlindo. Pré-cinemas & pós-cinemas. Campinas: Editora Papirus, 1997.

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