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FACULDADES INTEGRADAS DO CEARÁ

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

SÂMARA SHEYLA AMANCIO DE MESQUITA MENDONÇA

VINCULAÇÃO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE AO SALÁRIO-MÍNIMO E


SEUS REFLEXOS NA SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHADOR

IGUATU – CEARÁ
2022
SÂMARA SHEYLA AMANCIO DE MESQUITA MENDONÇA

VINCULAÇÃO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE AO SALÁRIO-MÍNIMO E


SEUS REFLEXOS NA SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHADOR

Monografia apresentada ao Curso de


Bacharelado em Direito das Faculdades
Integradas do Ceará, como requisito parcial
para aprovação da disciplina Trabalho de
Conclusão de Curso.

Orientador: Prof. Me. José Ivo Ferreira.

IGUATU – CEARÁ
2022
SÂMARA SHEYLA AMANCIO DE MESQUITA MENDONÇA

VINCULAÇÃO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE AO SALÁRIO-MÍNIMO E


SEUS REFLEXOS NA SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHADOR

Monografia apresentada ao Curso de


Bacharelado em Direito das Faculdades
Integradas do Ceará, como requisito parcial
para aprovação da disciplina Trabalho de
Conclusão de Curso II.

Aprovada em: ___/___/_____.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________
Prof. Ms. José Ivo Ferreira (Orientador)
Faculdades Integradas do Ceará (UniFIC)

___________________________________________________
Prof. Esp. Danilson Carvalho Passos
Faculdades Integradas do Ceará (UniFIC)

__________________________________________________
Prof. Ms. Glauber Iure Cardoso de Menezes Silva
Faculdades Integradas do Ceará (UniFIC)
A Deus, minha querida família e meu amoroso marido.
Dedico.
AGRADECIMENTOS

A Deus, que meu deu estímulo, forças e sabedoria para concluir este
trabalho.
Ao meu amado marido Albérico, por sua compreensão, amizade, carinho,
amor, apoio e incentivo durantes esses anos.
À minha querida mãe Noélia, por toda dedicação, ajuda e incentivo que me
guiaram a esse momento.
Ao meu querido pai, Moésio (in memoriam), por toda dedicação, e sacrifícios
para me proporcionar boas condições de estudo e me ajudar a realizar esse sonho
profissional.
Ao meu irmão Samuel e meus sobrinhos Laura e Lucca pela paciência, apoio
e terem entendido minha ausência.
Aos Professores José Ivo Ferreira e Samuel Ilo, pelo incentivo, por suas
orientações, dedicação e paciência.
Ao meu amigo Dr. Alan Bezerra, pelo apoio, atenção e coorientação durante
esse projeto.
À minha querida Dra.Anna Ivanovna, por toda ajuda, incentivo, carinho, apoio
e coorientação durante esse projeto.
Aos professores: Dr. Danilson Passos e Dr. Glauber Iure, por aceitarem
compor a banca examinadora.
Aos meus queridos amigos, Jamille, Rubia, Madalena, Ricardo, Edilânia,
Kelyne e Klévia, por serem sempre companheiros e por me ajudarem nos bons e
maus momentos enfrentados no decorrer nesses anos de amizade.
A todos os professores de Direito da UNIFIC, pelo conhecimento e dedicação
demandados a mim durante os anos de faculdade.
... Não é justo nem humano exigir do homem tanto
trabalho a ponto de fazer pelo excesso de fadiga
embrutecer o espírito e enfraquecer o corpo...
(Papa Leão XIII)
RESUMO

O adicional de insalubridade foi criado não só como compensação à saúde do trabalhador


pelos danos sofridos ao laborar exposto a agentes insalubres como também para estimular
as empresas a melhorarem o ambiente de trabalho, reduzindo e/ou sanando esses agentes.
O patamar de cálculo atualmente é inconstitucional, devendo o legislativo fixar uma nova
base de cálculo. Dessa forma, a presente monografia tem por objetivo verificar a
aplicabilidade do salário-mínimo como indexador do adicional de insalubridade e refletir
criticamente sobre as consequências de uma possível alteração. A metodologia escolhida é
a pesquisa bibliográfica, qualitativa e explicativa, uma vez que analisou a literatura já
publicada em forma de livros, revistas jurídicas on-line, jurisprudências dos Tribunais,
publicações de artigos científicos on-line e imprensa virtual. Os resultados e discussões
estão baseados em obras doutrinárias e decisões dos Tribunais do Trabalho e do Supremo
Tribunal Federal que muito contribuíram para a análise feita sobre a base de cálculo do
adicional de insalubridade, desde a sua origem até a possibilidade de um novo patamar de
pagamento diverso do salário-mínimo, que é inconstitucional, mas se mantem ativo no
ordenamento jurídico por uma omissão legislativa. Por fim, conclui-se que é de extrema
urgência a fixação de uma nova base para o cálculo do adicional de insalubridade, pois, nos
moldes atuais, não se entrega qualquer proteção à saúde do trabalhador, existindo apenas a
monetização da saúde laboral e desrespeito à dignidade humana. Oliveira (2011), Roncaglia
(2008) e Silva (2015), entre outros, dão embasamento ao estudo.

Palavras-chave: compensação; direito trabalhista; insalubridade; monetização;


saúde.
ABSTRACT

The unhealthy work premium was created as compensation for workers' health for damages
suffered when working exposed to unhealthy agents and also to encourage companies to
improve the work environment, reducing and/or remedying these agents. The calculation
threshold is currently unconstitutional, and the legislature must establish a new base. The
purpose of this is to verify the applicability of the minimum wage as an index of unhealthy
work additional and the consequences of a possible change. The methodology was carried
out through bibliographical, qualitative and explanatory research, analyzing literature already
published in the form of books, online legal journals, jurisprudence of the Courts, publications
of scientific articles online and virtual press. The results and discussions are based on
doctrinal works and decisions of the Labor Courts and the Federal Supreme Court that
greatly contributed to the analysis made on the basis for calculating the unhealthy work
premium, from its origin to the possibility of a new payment level. different from the minimum
wage, which is unconstitutional, but remains active in the legal system due to a legislative
omission. Finally, it is concluded that it is extremely urgent to establish a new basis for
calculating the unhealthy work premium, because, in the current form, no protection is given
to workers' health, with only the monetization of occupational health and disrespect human
dignity. Oliveira (2011), Roncaglia (2008) and Silva (2015), among others, support the study.

Keywords: compensation; labor law; unhealthy; monetization; health.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9
2 OBJETIVOS .............................................................................................................. 11
2.1 Geral ....................................................................................................................... 11
2.2 Específicos ............................................................................................................ 11
3 METODOLOGIA ....................................................................................................... 12
4 RESULTADOS .......................................................................................................... 14
4.1 Evolução histórica do adicional de insalubridade e a proteção ao
trabalhador .................................................................................................................. 14
4.1.1 Adicional de insalubridade .................................................................................. 17
4.1.2 Normativas Regulamentares .............................................................................. 20
4.2 Manutenção do salário-mínimo como base de cálculo para o adicional e sua
inconstitucionalidade. ............................................................................................... 23
4.2.1 Proteção constitucional e declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia
de nulidade ................................................................................................................... 24
4.2.2 Posicionamento Doutrinário e Jurisprudencial ................................................... 26
4.3 O salário base como patamar mínimo para o pagamento do adicional de
insalubridade .............................................................................................................. 28
4.3.1 Monetização do Adicional de Insalubridade ....................................................... 28
4.3.2 Cenário Internacional de Prevenção e Manutenção da Saúde do Trabalhador e
dos Ambientes Laborais ............................................................................................... 30
4.3.3 Proposta de uma nova base de cálculo do adicional de insalubridade
vislumbrando o princípio da dignidade da pessoa humana ........................................ 31
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 34
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 35
9

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho possui como perspectiva o estudo da base de cálculo do


adicional de insalubridade, em vista de flagrante omissão legislativa que mantêm
ativo um patamar inconstitucional de compensação pecuniária aos trabalhadores
expostos a riscos no ambiente de trabalho. Além disso, analisa o direito que o
trabalhador possui em receber o referido adicional, tendo como indexador o salário
relacionado à sua condição.
O estudo aprofundou-se nas garantias ao trabalhador em seu ambiente
laboral, no que diz respeito aos diversos instrumentos de proteção, à segurança e à
higiene laboral, à luz da Constituição Federal, da Consolidação das Leis do
Trabalho, em seu art. 192, das decisões jurisprudenciais e da criação de Instruções
Normativas, em especial a NR-15.
Para isso, buscou-se subsídios na doutrina, nos acórdãos dos Tribunais
Regionais do Trabalho, no Tribunal Superior do Trabalho e no Supremo Tribunal
Federal, para o entendimento da súmula vinculante nº 4 do STF, da Constituição da
República Federativa do Brasil. Também foram consideradas as pesquisas em
artigos e nas Instruções Normativas, com a finalidade de elucidar como se
caracterizariam os agentes causadores da insalubridade, ao mesmo tempo refletindo
como seria sua aplicação.
Dito isso, a temática do presente trabalho apresenta relevância social, tendo
em vista que a condição do trabalhador no ambiente do trabalho está condicionada
aos direitos e garantias da pessoa humana. Destarte, a importância dos tópicos
abordados reside no reconhecimento da proteção do trabalho e, por conseguinte, do
direito quanto à percepção do adicional de insalubridade, quantificado de maneira
constitucional, qual seja, sobre o salário-base, como patamar mínimo, de forma que
assegure a proteção da saúde do trabalhador.
Com a finalidade de aprofundar as temáticas acima citadas, dividiu-se o
presente trabalho, após os objetivos e a metodologia, em três seções no campo dos
resultados, da seguinte forma: a primeira apresenta a evolução histórica da proteção
à saúde e segurança do trabalhador e os meios de proteção criados para aqueles
que necessitam laborar em ambientes nocivos à saúde, em especial, o adicional de
insalubridade; a segunda traz uma abordagem do salário-mínimo como indexador,
além da declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade, teoria
10

alemã adotada pelo Ministro Gilmar Ferreira Mendes, a fim de justificar a


manutenção de uma norma inconstitucional ativa no ordenamento jurídico; a terceira
trata da monetização do adicional de insalubridade, as políticas de desestímulo ao
pagamento do adicional em estudo e prática de mudanças no ambiente laboral, com
intuito de sanar e/ou reduzir os riscos à saúde do trabalhador, trazendo, por fim, uma
proposta viável de uma nova base de cálculo.
Partilhada a estrutura da pesquisa, faz-se necessário delimitar o objetivo
geral, a saber, verificar a aplicabilidade do salário-mínimo como indexador do
adicional de insalubridade e as consequências de uma possível alteração. Sendo
mais específico, procurou-se analisar os fatos históricos da criação do adicional de
insalubridade, os instrumentos de proteção à saúde do trabalhador e a possibilidade
de implementar métodos mais eficazes de proteção; considerar os possíveis
conflitos de interesses entre aqueles que defendem a manutenção do salário-mínimo
como base de cálculo para o adicional e dos que apoiam uma substituição e as
decisões referentes ao tema; verificar a possibilidade de substituir o salário-mínimo
como indexador e encontrar outra forma para calcular o adicional, onde possa existir
um equilíbrio entre os pares.
Por fim, mediante revisão bibliográfica, procedeu-se, no último capítulo, à
conclusão do trabalho monográfico, indicando os principais pontos das análises
realizadas, as quais contêm resultados relevantes da pesquisa.
11

2 OBJETIVOS

2.1 Geral

Verificar a aplicabilidade do salário-mínimo como indexador do adicional de


insalubridade e as consequências de uma possível alteração.

2.2 Específicos
• Analisar os fatos históricos da criação do adicional de insalubridade, os
instrumentos de proteção à saúde do trabalhador e a possibilidade de
implementar métodos mais eficazes de proteção;
• Considerar os possíveis conflitos de interesses entre aqueles que defendem a
manutenção do salário-mínimo como base de cálculo para o adicional e os que
apoiam uma substituição e as decisões referentes ao tema;
• Verificar a possibilidade de substituir o salário-mínimo como indexador e
encontrar outra forma para calcular o adicional, onde possa existir um equilíbrio
entre os pares

.
12

3 METODOLOGIA

Quando o pesquisador se propõe a fazer a verificação de alguma temática,


fica condicionado a chegar à verdade dos fatos e verificá-la. Para isso é necessário
submeter sua pesquisa a um método científico que se vai corroborar com a
produção do trabalho.
Quanto ao conceito do método científico, Severiano esclarece que

A ciência utiliza-se de um método que lhe é próprio, o método científico,


elemento fundamental do processo do conhecimento realizado pela
ciência para diferenciá-la não só do senso comum, mas também das
demais modalidades de expressão da subjetividade humana, como a
filosofia, a arte, a religião. Trata-se de um conjunto de procedimentos
lógicos e de técnicas operacionais que permitem o acesso às relações
causais constantes entre os fenômenos. (SEVERIANO, 2013, p. 89).

A grande importância da utilização do método próprio na produção da


pesquisa consiste em diferenciá-la dentro da imensidão de estudos e pesquisas
realizadas nas mais diversas áreas do conhecimento, pois o trabalho científico
possui procedimentos próprios de desenvolvimento para se chegar a um novo
conhecimento ou aprimorar um já existente.
Para se obter a resposta correta, além do método, é necessária a utilização
dos tipos corretos e pesquisa. Gil (2008) classifica a pesquisa três grandes grupos:
exploratória, descritiva e explicativa. Quanto aos tipos de abordagem, o pesquisador
divide em qualitativas ou quantitativas. Por fim, quanto ao procedimento usado para
selecionar e coletar os dados, a título de exemplificação, ele lista: entrevistas,
análise de documentos, pesquisa de campo e revisão bibliográfica.
Para o desenvolvimento deste trabalho monográfico, foi realizada pesquisa
bibliográfica, qualitativa, exploratória e explicativa com o objetivo de elucidar o
problema, através da análise da literatura já publicada em forma de livros, revistas
jurídicas on-line, jurisprudências dos Tribunais, publicações de artigos científicos on-
line e imprensa virtual, que debatem o tema em análise.
Segundo Amaral (2017), a pesquisa bibliográfica é fundamental para qualquer
trabalho científico, sendo composta por levantamento, seleção, fichamento e
arquivamento de informações que embasaram a pesquisa.
Para Severiano (2014), a abordagem qualitativa é um modo que faz mais
referência a seus fundamentos epistemológicos do que propriamente às
especificidades metodológicas.
13

Ainda segundo Severiano (2014), pesquisa exploratória assume um papel


importante na pesquisa, pois consegue delimitar o objeto e suas manifestações.
Por fim, Gil (2008) informa ser a pesquisa explicativa aquela que tem como
preocupação central identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a
ocorrência dos fenômenos.
Esta pesquisa realizou-se entre os meses de agosto e novembro do ano de
2022.
14

4 RESULTADOS

4.1 Evolução histórica do adicional de insalubridade e a proteção ao


trabalhador

Ao se retratar um ambiente de trabalho, especialmente os fabris, é possível


perceber condições adversas dotadas de precariedade, vulnerabilidade e riscos.
Conforme leciona Sérgio Pinto Martins (2010, p. 3-4), desde as sociedades
primitivas, o trabalho rústico, braçal e produtivo, em suas diferentes formas,
normalmente era desempenhado por escravos e com a finalidade de castigo.
Segundo Barros, o trabalho no período da Antiguidade Clássica greco-romana
possuía um sentido material, sendo reduzido à coisa, tornando possível a
escravidão. Nas palavras da doutrinadora, “pelo que se pode constatar, durante
longos anos, e desde a sua origem etimológica, o trabalho encerra valores ora
penosos, ora desprezíveis” (BARROS, 2016, p. 45-46).
Desde as primeiras civilizações, já eram observadas condições hostis de
trabalhos que sujeitavam os trabalhadores a diversas patologias. A respeito disso,
Silva discorre que:

(...) desde o Egito Antigo, onde o papiro Anastacius V faz alusão à


preservação da saúde e da vida de trabalhadores, e às condições de
trabalho de um pedreiro, passando pela Roma Antiga, descrevendo as
condições de trabalho escravo em minas de ouro, até a sistematização, já
em 1700, do primeiro livro sobre doenças laborais, intitulado De Morbis
Artificum Diatriba (Discurso sobre as Doenças dos Artífices), por Bernardino
Ramazzini, verifica-se, historicamente, o reconhecimento das adversidades
à saúde e à segurança de trabalhadores, decorrentes do meio ambiente
laboral. (SILVA, 2015, p. 3)

Percebe-se que a preocupação com à saúde do trabalhador se dá desde os


tempos mais longínquos dos sistemas de trabalho, pois não poderia existir produção
sem a sua forma motriz, o homem. Assim, reconhecer os riscos que o ambiente de
trabalho insalubre demandava à saúde do trabalhador começou a ser uma
preocupação, estimulando o pensamento acerca das suas melhorias.
A Revolução Industrial foi um marco no desenvolvimento do mundo. Nesse
contexto, o que importava era a maximização dos lucros e a máxima exploração da
mão de obra. Mesmo já existindo estudos que demonstrassem os riscos que o
ambiente insalubre podia acarretar ao trabalhador, ainda não havia o enfoque nas
patologias que o trabalhador pudesse desenvolver no ambiente laboral, sendo esse
15

tema, inicialmente tratado nas primeiras associações de trabalhadores, ganhando


destaque no século XIX quando o Estado intervém e estabelece normas mínimas de
condições de trabalho que deveriam ser respeitadas pelos empregadores.
Há, contudo, uma obra que possui um valor singular tanto pela contribuição
histórica quanto pela qualidade do levantamento de dados disponível, demonstrando
um retrato da vida dos trabalhadores, a saber, A situação da classe trabalhadora na
Inglaterra, de Friedrich Engels, que não só aponta os reais problemas e a precária
condição de vida dos estrangeiros que viviam nos porões ingleses, sob as chaminés
das fábricas, como quantifica a perspectiva de vida, as patologias que os acometiam
e abreviavam suas vidas, por fim, denunciando os descasos para com a vida laboral
daqueles que sustentaram com a mão-de-obra a Inglaterra do século XIX.
Com o passar do tempo e a pressão do movimento operário em várias partes
do mundo, a fim de se efetivar a proteção a saúde e segurança do trabalhador,
foram criados meio legais que pudessem garantir esses direitos – cada país em seu
tempo e lógica interna. Em decorrência do Tratado de Versalhes foi criada a OIT –
Organização Internacional do Trabalho que, em 1944, realizou uma Conferência
Geral, iniciando um sistema normativo de convenções internacionais trabalhistas.
Sobre esse grande avanço na proteção dos direitos trabalhistas, Silva citando
Sussekind relata que:

(...) o sistema de convenções internacionais do trabalho constituiu uma


inovação no direito internacional. Ele marcou o início de uma profunda
transformação e de uma expansão considerável desse direito. A partir daí o
direito internacional ia ter por objeto regular não somente as questões de
relações exteriores dos Estados, mas também as que, até então, eram
consideradas como da competência exclusiva – ou do domínio reservado –
do Estado, concernentes ao bem-estar dos indivíduos e à justiça no seio
das sociedades. Ao lado do direito internacional interestático clássico,
nascia o que se chamou de direito comum da humanidade. Esse movimento
foi, em sequência, estendido a outros domínios, como a fome, a doença, a
ignorância, os direitos humanos”. (SILVA apud SUSSEKIND, 2015, p.18).

O alicerce criado pelas convenções internacionais do trabalho quanto ao


direito do trabalhador à proteção, à saúde e à segurança, deixa a esfera Estadual e
transforma-se em preocupação mundial, sendo esse direito expandido para todos os
trabalhadores, gerando uma grande corrente de incentivo às melhorias das
condições de trabalho, entregando aos trabalhadores um importante instrumento de
luta contra a opressão e sujeição às regras abusivas de empresas e empregadores.
16

Foi nesse cenário de mudanças no tocante aos direitos dos trabalhadores que
surgiu o Constitucionalismo Social. Essa foi a fase em que se desenvolveu a
acepção de trabalho humano, respeitando-se os direitos de proteção e dignidade no
ambiente laboral. Os movimentos internacionais que lutavam pelas garantias dos
direitos trabalhistas se instauraram com a Constituição Mexicana de 1917 e com a
Constituição de Weimar, em 1919. Seus textos traziam condições mínimas de
proteção aos trabalhadores emergentes no país. (GIOVANNI e SILVA, 2022, p.04).
Em 1943, foi criada a Consolidação das Leis do Trabalho, com a finalidade de
regulamentar as relações trabalhistas no país. Este diploma passa a existir no
mesmo período em que os direitos humanos começavam a se internacionalizar e se
consolidar em um cenário mundial, como uma legislação inovadora para a época,
defendendo interesses dos trabalhadores, que, até então, não estava disposto em
um regramento legal próprio, mas sim apenas alguns temas tratados no direito civil
ou no direito comercial.
No Brasil, com a promulgação da Constituição Federal, em 1988, os direitos
sociais dos empregados urbanos e rurais possibilitaram que estes começassem a
gozar de proteção adequada e necessária, pois a Carta Maior trouxe, em seu
arcabouço, princípios como a igualdade, a liberdade e a dignidade da pessoa
humana, além do princípio da proteção, garantindo a todos os trabalhadores um
meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado, essencial à saúde e à
qualidade de vida. (BRASIL, 1988).
Neste contexto, podemos interpretar a expressão meio ambiente, em um
sentido lato, de tal forma a abranger o meio ambiente de trabalho – até porque o art.
200, VIII, da CF/88 estabelece que uma das atribuições do Sistema Único de Saúde
consiste em proteger o meio ambiente, nele compreendido o do trabalho, estando,
no art. 225 do mesmo diploma, estabelecido ainda que todos possuem direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida.
Ao exigir um meio ambiente de trabalho equilibrado, o legislador constituinte
teve por objetivo proteger a vida e a saúde do trabalhador, considerados direitos
fundamentais de qualquer ser humano.
Dito de outra forma, promover um meio ambiente de trabalho saudável está
intimamente ligado à preservação e promoção do princípio da dignidade humana.
Silva (2015) esclarece ainda que o reconhecimento de tal princípio, um dos
fundamentos da República, inscrito no art. 1º, III da Constituição Federal, reconhece
17

que o Estado existe em função da pessoa humana, sendo o homem a finalidade do


Estado e não o seu meio de atividade.
4.1.1 Adicional de insalubridade

De origem latina, insalubris significa “aquilo que faz mal à saúde”. Dessa
forma, o trabalho considerado insalubre é aquele que põe em risco a saúde do
trabalhador. Esse, por sua vez, não deve ser confundido com o trabalho perigoso,
pois, nesse caso, o que se coloca em risco é a vida do trabalhador. (CAMISASSA,
2015).
Quanto à conceituação Legal, está disposta no art. 189 da CLT, nos seguintes
termos:

Art.. 189 - Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas


que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os
empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância
fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de
exposição aos seus efeitos. (BRASIL, 1943).

Dentro da concepção de encaminhamento para a consolidação das leis


trabalhistas, o artigo citado mostra-se demasiado importante, uma vez que, visa
conceituar as atividades insalubres, a fim de defender o meio ambiente de trabalho
saudável, demonstrando que sujeitar o trabalhador a esse ambiente acarreta
responsabilizações.
Tanto a CLT quanto a Constituição da República Federativa do Brasil
preveem a existência do adicional de insalubridade, porém, este adicional teve sua
primeira inserção na legislação brasileira em 1936, portanto, anterior à Consolidação
das Leis do Trabalho, quando foi aprovada pelo Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio
de 1943.
Em 1948, o Decreto-lei nº 399/48 determinou que o referido adicional seria
fixado pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio somente após o
enquadramento das indústrias consideradas insalubres, sendo possível ainda uma
revisão periódica. (BRASIL, 1948)
Inicialmente, a “taxa de insalubridade” incidia somente sobre o salário-
mínimo, tendo direito ao adicional de insalubridade o empregado que recebia como
remuneração o salário-mínimo, porém, o adicional passou a ser aplicado também
aos trabalhadores que auferiam renda maior que o salário-mínimo, sendo,
entretanto, a base de cálculo o referido salário.
18

Atualmente, a base de incidência do Adicional de Insalubridade é o salário-


mínimo, salvo se o empregado, por força de lei, convenção coletiva ou sentença
normativa receber salário profissional, devendo, nesse caso, ser esse o patamar do
cálculo.
O Ministério do Trabalho e Emprego, com a finalidade de regimentar a
matéria acerca da Segurança e Medicina de trabalho, regulamentou 28 normas,
sendo a NR15 a responsável por tratar dos agentes causadores da
insalubridade.(BRASIL, 2020).
Dentre os fatores que podem propiciar ao trabalhador o direito de perceber o
adicional de insalubridade, enquadram-se a exposição a ruídos contínuos ou
intermitentes, calor ou frio excessivos, radiações ionizantes ou não ionizantes,
condições hiperbáricas, vibrações, umidade, poeiras minerais e agentes químicos ou
biológicos. (QUEIRÓZ, 2022, p. 2).
Mencionadas acima, as atividades consideradas insalubres encontram-se
estabelecidas em um rol taxativo estabelecido pelo Ministério do Trabalho, sendo
tais atividades, aquelas que expõem o empregado a agentes químicos, biológicos e
físicos, acima do limite de tolerância.
Com a finalidade de minimizar os danos causados à saúde do trabalhador
que presta seus serviços em ambiente salubre, o Ministério do Trabalho orienta o
uso de Equipamentos de Proteção Individual. Quanto a esse tema, o Tribunal
Superior do Trabalho formulou entendimento no sentido de não descaracterização
da insalubridade mediante o fornecimento dos EPI, não eliminando o pagamento do
respectivo adicional:

Súmula nº 289 do TST. INSALUBRIDADE. ADICIONAL. FORNECIMENTO


DO APARELHO DE PROTEÇÃO. EFEITO (mantida) - Res. 121/2003, DJ
19, 20 e 21.11.2003. O simples fornecimento do aparelho de proteção pelo
empregador não o exime do pagamento do adicional de insalubridade.
Cabe-lhe tomar as medidas que conduzam à diminuição ou eliminação da
nocividade, entre as quais as relativas ao uso efetivo do equipamento pelo
empregado (BRASIL, TST, 2003).

O equipamento de proteção mostra-se importante na proteção do trabalhador,


mas o pagamento deve continuar para que o empregador busque formas de reduzir
ou sanar o risco no ambiente.
Para o trabalho intermitente prestado em condições insalubres, o TST adotou
o seguinte posicionamento:
19

TST Enunciado nº 47 - RA 41/1973, DJ 14.06.1973 - Mantida - Res.


121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003. Trabalho Intermitente - Condição
Insalubre – Adicional. O trabalho executado, em caráter intermitente, em
condições insalubres, não afasta, só por essa circunstância, o direito à
percepção do respectivo adicional (BRASIL, TST, 2003).

A decisão acima denota que a exposição intermitente do trabalhador ao


ambiente insalubre também prejudica sua saúde, sendo-lhe devido o pagamento do
adicional. Note-se que, à medida que os cenários mudam, o judiciário o sana as
dúvidas no tocante à possibilidade da percepção e pagamento pela insalubridade.
Portella (2014) assevera que, caso o trabalhador se exponha a mais de um
agente nocivo, esses não podem cumular, segundo entendimento do TST e vedação
expressa na NR-15, item 15-3, da Portaria nº 3.214/78 do Ministério do Trabalho.
As atividades insalubres foram caracterizadas e dividias, conforme esclarece
o artigo 189 da CLT:

Art. 189. Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas


que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os
empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância
fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de
exposição aos seus efeitos (BRASIL, 1943).

O artigo da CLT é claro na caracterização da atividade insalubre e divide-as


em três parâmetros: natureza do agente insalubre, a intensidade do agente e o
tempo de exposição. Assim, é possível perceber que o empregador possui três
maneiras de minimizar, ou até eliminar os riscos ocupacionais, realizando um maior
controle.
Continuando a demonstração da legislação que trata do adicional de
insalubridade, merece destaque ainda o artigo 192 da CLT. Nele estão disciplinadas
as porcentagens referentes ao adicional, de acordo com os níveis mínimos, médio e
máximo que serão realizadas no salário.

Art. 192 - O exercício de trabalho em condições insalubres, acima dos


limites de tolerância estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, assegura a
percepção de adicional respectivamente de 40% (quarenta por cento), 20%
(vinte por cento) e 10% (dez por cento) do salário-mínimo da região,
segundo se classifiquem nos graus máxim0o, médio e mínimo (BRASIL,
1943)

As porcentagens acima estabelecidas para pagamento do adicional de


insalubridade foram ciadas pelo legislador, conforme os limites de tolerância
20

estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, uniformizando os graus e a porcentagens


de casa uma. Essa padronização dos percentuais entrega ao empregado e ao
empregador mais segurança no tocante ao pagamento do adicional.
O artigo 193, II, §2º da CLT, trata do rol de atividades insalubres e perigosas,
regulamentadas pelo Ministério do Trabalho:

Art. 193. São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da


regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, aquelas
que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco acentuado
em virtude de exposição permanente do trabalhador a:
I - inflamáveis, explosivos ou energia elétrica;
II - roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais
de segurança pessoal ou patrimonial.
§ 1º - O trabalho em condições de periculosidade assegura ao empregado
um adicional de 30% (trinta por cento) sobre o salário sem os acréscimos
resultantes de gratificações, prêmios ou participações nos lucros da
empresa.
§ 2º - O empregado poderá optar pelo adicional de insalubridade que
porventura lhe seja devido.
§ 3º Serão descontados ou compensados do adicional outros da mesma
natureza eventualmente já concedidos ao vigilante por meio de acordo
coletivo.
§ 4o São também consideradas perigosas as atividades de trabalhador em
motocicleta (BRASIL, 1943).

Conforme visto anteriormente, o artigo trata das atividades insalubres ou


perigosas a que se submete o trabalhador, explicando também que aqueles que
laboram em atividade perigosa lhe é devido adicional diverso, sendo ainda
possibilitada a escolha entre insalubridade e periculosidade para quem trabalha em
atividades enquadradas nos dois tipos de risco.

4.1.2 Normativas Regulamentares

As Normas Regulamentadoras foram elaboradas com o intuito de


complementar o disposto no Capítulo V da CLT, que versa sobre Segurança e
Medicina do Trabalho (art’s 154 a 223). Essas tratam, especialmente, de obrigações,
deveres, e direitos que empregados e empregadores devem cumprir. Totalizando,
são 37 normas que devem ser observadas para que as empresas atuem na
legalidade e previnam possíveis acidentes e doenças provocadas pelo trabalho.
No Brasil, na época em que as normativas foram criadas, as áreas de
trabalho careciam de um norteamento legal para que pudessem ser balizadas ações
de melhorias nos ambientes de trabalho. De acordo o engenheiro e fiscal do
21

Ministério do Trabalho e Emprego, Antônio Pereira Nascimento, o número de


acidentes e de adoecimentos era alto e, por isso se fez necessário que o governo
inserisse parâmetros legais regulatórios. (CARVALHO, 2021).
Mesmo com os dispositivos da CLT estabelecendo quais as atividades
consideradas insalubre e a padronização da porcentagem, o Estado estabeleceu
parâmetros que regulassem as melhorias do ambiente de trabalho insalubre, sendo
esse o motivo da criação das instruções normativas.
Ainda conforme Carvalho, os principais objetivos das NRs são:

Instruir os empregados e empregadores a respeito das devidas precauções


que devem ser tomadas a fim de evitar acidentes de trabalho ou doenças
ocupacionais; Preservar e promover a integridade física do trabalhadores;
Estabelecer a regulamentação pertinente à segurança e saúde do trabalho;
Promover a política de segurança e saúde do trabalho dentro das
empresas. (CARVALHO, 2021).

Os objetivos acima descritos foram balizadores para que empregados e


empregadores concretizassem ações que promovessem o bem estar do trabalhador
e fornecessem às empresas formas de melhorar os ambientes de trabalho.
Dentro do tema abordado, merecem destaque duas Normas
regulamentadoras: a NR-9 e a NR-15.

• Norma regulamentadora – NR-09


Essa Norma Regulamentadora foi criada pela Portaria nº 3.214/78, do
Ministério do Trabalho, sob o título “Riscos Ambientais”. Em novembro de 2018, por
meio da Portaria nº 787, emitida pela Secretaria de Inspeção do Trabalho, a NR-09
foi caracterizada como Norma Geral, estabelecendo a obrigatoriedade na avaliação
dos riscos ambientais, agentes físicos, químicos e biológicos, entre outros riscos
considerados insalubres e/ou perigosos, com o intuito de promover a eliminação,
redução ou neutralização desses agentes por meio de medidas de prevenção e
proteção individual e coletiva. (BRASIL, 2020).
No decorrer dos anos, a NR-09 passou por 12 modificações e, em março de
2010, foi aprovado seu texto, tendo sido publicado pela Portaria SEPRT nº 6735. A
nova estruturação previu avaliação e controle dos agentes ambientais e, nos seus
anexos, as medidas para cada agente específico, a exemplo das últimas
estabelecidas para vibrações e calor.
22

Conforme já citado, as normas regulamentares foram criadas com a finalidade


de preencher a lacuna normativa existente na normativa trabalhista. Seus anexos
foram adaptações realizadas ao longo dos anos, em vista do surgimento de novos
ambientes de trabalho que se apresentavam à medida que surgiam novas
tecnologias, materiais, maquinários que demandavam melhorias, cuidados e
proteção à saúde do trabalhador.
• Norma Regulamentadora – NR-15
As atividades insalubres foram regulamentadas pela NR-15, através da
Portaria MTB nº 3214 de junho de 1978, sendo a parte geral da norma caracterizada
pela Portaria SIT nº787, de novembro de 2018.
O dispositivo definiu as referidas atividades como aquelas que são
desenvolvidas acima dos limites de tolerância para ruído, exposição ao calor, entre
outros, existindo também um rol taxativo de atividades e outras comprovadas
através de laudo de inspeção no local de trabalho.(BRASIL, 2020).
O tópico 03 do anexo 03 da Portaria NR-15 do Ministério do Trabalho e
Emprego explica que

A caracterização da exposição ocupacional ao calor deve ser objeto de


laudo técnico que contemple, no mínimo, os seguintes itens: a) introdução,
objetivos do trabalho e justificativa; Este texto não substitui o publicado no
DOU b) avaliação dos riscos, descritos no item 2.3 do Anexo n° 3 da NR 09;
c) descrição da metodologia e critério de avaliação, incluindo locais, datas e
horários das medições; d) especificação, identificação dos aparelhos de
medição utilizados e respectivos certificados de calibração conforme a NHO
06 da Fundacentro, quando utilizado o medidor de IBUTG; e) avaliação dos
resultados; f) descrição e avaliação de medidas de controle eventualmente
já adotadas; e g) conclusão com a indicação de caracterização ou não de
insalubridade (BRASIL, 2011, p. 6)

Ressalte-se que, na norma acima citada, quando fala de limites de tolerância,


faz referência à concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada à
natureza e ao tempo de exposição ao agente, assegurando que não causará danos
à saúde do trabalhador durante seu labor.
A NR- 15 sofreu 21 alterações entre 1979 e 2021. Nela, ficaram estabelecidos
também os graus de insalubridade bem como as porcentagens, conforme vista no
artigo 192 da CLT. Seus anexos informam quanto aos ruídos, radiações ionizantes e
não-ionizantes, trabalho em condições hiperbáricas, frio, umidade, agentes químicos
cuja caracterização se dá mediante inspeção, poeiras minerais, agentes químicos,
benzenos e materiais biológicos.
23

As medidas de proteção estabelecidas nessa norma reduzem os riscos do


ambiente de trabalho e preservam a saúde do trabalhador, impondo às empresas
que adotem medidas de conservação do ambiente laboral, conforme limites
previstos.

4.2 Manutenção do salário-mínimo como base de cálculo para o adicional e sua


inconstitucionalidade.

A matéria central discutida no presente trabalho monográfico é o pagamento


do adicional de insalubridade vinculado ao salário-mínimo. Assim, definir os tipos de
salário mostra-se necessário.
Segundo, Macêdo (2020), derivada do latim, salarium significa pagamento
em sal ou pelo sal. Eis o seu sentido original, construído historicamente com base na
forma de pagamento adotado pelos trabalhos prestados por determinado
empregado. Podia ser em troca de abrigo, proteção ou mercadorias. A mercadoria
mais valiosa na Roma Imperial era o sal, especiaria procurada por conservar carnes.
Teles (2018, p.43) explica que o aprimoramento das relações trabalhistas,
bem como a preocupação com os direitos dos trabalhadores fez com que se
chegasse ao conceito de salário tal como conhecemos hoje. Esse, por sua vez,
caracteriza-se como uma forma de contraprestação do serviço prestado ao
empregador pelo empregado, sendo também um direito individual essencial
reconhecido constitucionalmente.
Ainda sobre o conceito, Nascimento explica que:

Salário é a totalidade das percepções econômicas dos trabalhadores,


qualquer que seja a forma ou meio de pagamento, quer retribuam o trabalho
efetivo, os períodos de interrupção do contrato e os descansos computáveis
na jornada de trabalho. (NASCIMENTO, 2009, p. 1038)

Com a modernização dos direitos trabalhistas, a contraprestação paga ao


empregado por seu empregador levou em consideração a legislação, as
convenções, os acordos e dissídios coletivos, as profissões e a categoria
profissional, respeitado também garantias constitucionais, como a saúde e
segurança do trabalhador.
Mesmo tendo o Brasil um arcabouço jurídico que proteja, de maneira ativa, a
Saúde, a Higiene e a Segurança do trabalhador, mediante pagamento de adicionais
24

como o de insalubridade e de periculosidade, os empregadores, com a finalidade de


burlar a legislação, tentam descaracterizar o vínculo empregatício, com a finalidade
de não pagar diversos direitos do trabalhador, dentre eles o adicional de
insalubridade, estabelecendo, para a contratação, que o empregado tenha uma
pessoa jurídica prestadora de serviços, ficando claro o fenômeno da pejotização das
contratações.
Esse processo, na verdade, representa o desrespeito à legislação, às
relações de emprego e, por fim, gera um aglomerado de danos ao trabalhador, sem
deixá-lo com opções, pois, como precisa prover sua vida e de seus entes, sujeita-se
a aceitar tais demandas, sendo o prejuízo ainda maior ao fim, quando não conseguir
provar seu vínculo, consequentemente, sendo postos de lado os seus direitos
trabalhistas.

4.2.1 Proteção constitucional e declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia


de nulidade

O adicional de insalubridade encontra-se previsto no art. 7º da Carta Maior.


Ao se expor a agentes insalubres durante sua atividade laboral, o trabalhador
merece o acréscimo salarial do percentual devido, nos termos do art. 192 da CLT,
quais sejam: 10%, 20% e 40% do salário-mínimo da região.
Contudo, o art. 7º da Constituição Federal de 1988, em seu inciso IV, proíbe a
vinculação do salário-mínimo para qualquer fim, colocando em decisão a
constitucionalidade do art. 192 da CLT, gerando muito debates e questionamentos.
Em vista de tamanhas controvérsias sobre o tema abordado, o STF edita a Súmula
Vinculante 04 que declarou a inconstitucionalidade da adoção do salário mínimo
como indexador.
Sobre a criação da Súmula, Saldanha esclarece:

Ocorre que o texto da súmula, principalmente sua parte final, causou


alvoroço entre os membros da comunidade jurídica nacional, indo de
encontro ao seu principal objetivo, qual seja, de pacificar o entendimento e
vincular as decisões acerca da matéria discutida. Como se pode ver, ao
declarar implicitamente a revogação por não recepção do artigo 192 da CLT
pela Carta Magna, o STF explicitamente com a expressão “nem ser
substituído por decisão judicial”, vedou ao Poder Judiciário definir qual a
base de cálculo aplicável aos casos futuros, sob o argumento que o
judiciário não pode atuar como legislador positivo. (SALDANHA, “s.d”, p.09).
25

Sobre a interpretação da Súmula, essas foram as mais diversas, não logrando


êxito quanto à correta interpretação, nem mesmo do próprio TST.
Como já referido, o TST deu nova redação à sua Súmula n.º 228 e, por
analogia, adotou a base de cálculo do adicional de periculosidade (Súmula n.º 191
do TST) (BRASIL, 2003), tomando ainda outras providências no sentido de adequar
sua orientação ao verbete. Grande parte da doutrina passou a defender o salário
básico do trabalhador como a nova base de cálculo a partir daquele momento.
Ocorre que, apesar de declarar o artigo 192 da CLT como não recepcionado,
o Supremo Tribunal Federal inovou sua forma de decidir, não atribuindo nulidade da
norma e sim, devendo essa ser aplicada até que o Poder Legislativo regularize a
matéria e tome providências.
Essa inovação na tomada de decisões tem fundamento na doutrina alemã,
sobre a qual o STF realizou a declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia de
nulidade. Conforme define Pflug (2005, apud Saldanha, “s.d”, p. 10):

A Corte Constitucional alemã faz uso desse método de interpretação


quando a declaração de nulidade da lei ou ato normativo ocasionar um
vácuo jurídico extremamente gravoso para a ordem constitucional. [...]dos
atos normativos. A declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia de
nulidade apresenta-se como uma técnica de interpretação que tem por
finalidade a manutenção da norma impugnada no ordenamento jurídico até
a elaboração de uma outra lei capaz de substituí-la, quando de sua nulidade
advier um prejuízo maior para o ordenamento jurídico e para a sociedade do
que a sua conservação no sistema normativo. Convém registrar que muitos
doutrinadores a consideram, não como um método de interpretação, mas
sim como uma verdadeira técnica de decisão a ser utilizada pelo Tribunal
Constitucional quando do controle abstrato dos atos normativos.
(SALDANHA, “s.d”, p. 12).

No trecho acima, o autor esclarece que constitui dever do legislador sanar a


inconstitucionalidade por meio da colmatação da lacuna existente. A declaração de
inconstitucionalidade sem declaração de nulidade funciona como um meio de não
existir o vácuo normativo e, dessa forma, causar prejuízo maior aos direitos ali
postos.
A suspensão dos efeitos da Súmula 228 do TST, pelo Ministro Gilmar Ferreira
Mendes, garantiu a utilização do salário-mínimo como base de cálculo para o
pagamento do adicional de insalubridade até que seja editada lei posterior que
regulamente o tema. A técnica alemã usada pela Suprema Corte mostra-se
desproporcional e inadequada, pois tolhe direitos de saúde e segurança do
trabalhador que a Constituição de 1988 já consagrou em seu texto.
26

Ao adotar a técnica em discussão, o posicionamento do STF perpetua a


vigência de uma norma declarada inconstitucional, parecendo ser essa uma
alternativa normativa viável para encobrir uma omissão lesiva ao trabalhador por
parte do poder Legislativo, pois, com porcentagens de 10%, 20% e 40%, o adicional
de insalubridade sequer consegue compensar o dano à saúde do trabalhador.
É impossível não perceber que a declaração de inconstitucionalidade que
abriu a possibilidade da manutenção da norma inconstitucional para pagamento do
adicional de insalubridade com base do salário mínimo foi uma manobra realizada
no sentido de “equilibrar” as demandas das partes, concedendo um valor irrisório ao
trabalhador para compensar o dano à sua saúde e continuar beneficiando as
empresas, empresário e governos que usam os trabalhadores em benefício do seu
grande lucro, achando que estão compensando financeiramente o desfiar de suas
vidas.

4.2.2 Posicionamento Doutrinário e Jurisprudencial

Após a edição da Súmula nº 04 do STF e a suspensão da Súmula 228 do


TST, o que surgiu foi uma lacuna normativa e uma intensa discussão no mundo
jurídico sobre como realmente deveria ser realizado o pagamento do adicional de
insalubridade, havendo divergências até mesmo entre os posicionamentos
doutrinários.
Em sede de Recurso de Revista nº 1371-11.2017.5.20.0005, a 8ª Turma do
Tribunal Superior do Trabalho, em 17/12/2021, decidiu não adotar a utilização do
Salário-Mínimo como base de cálculo para o pagamento de diferenças a título de
adicional de insalubridade, pois, no caso em comento, havia contrato determinando
que o referido adicional deveria ser pago sobre o salário-base e não o salário-
mínimo, nos termos do art. 468 CLT, que vedava a alteração contratual lesiva ao
empregado.
Em outro, no ano de 2022, a 8ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho,
também em julgamento de Recurso de Revista nº 289-64.2019.5.17.0002, decidiu a
favor da adoção do salário-mínimo como base de pagamento do adicional em
estudo, uma vez que não existia norma coletiva ou empresarial estabelecendo base
de cálculo diverso do salário mínimo.
27

O entendimento dos Tribunais Regionais do Trabalho, após a suspensão da


Súmula 228 do TST, também foi diverso. O TRT da 2ª Região de São Paulo aplicou,
em sede de Recurso Ordinário, o salário profissional da região para o cálculo do
Adicional de Insalubridade.
Analisando todo o arcabouço já debatido no presente, é importante observar
que, mesmo tendo a Corte Suprema determinado que o pagamento do adicional de
insalubridade seja pago com base no salário mínimo, existem exceções que são
levas em consideração pelo próprio TST e TRT’s, demonstrando que a regra
aplicada atualmente mostra-se injusta e desproporcional, tendo o mundo jurídico que
refletir até quando os trabalhadores expostos aos agentes insalubres continuarão
recebendo o adicional com base em um patamar inconstitucional e ineficaz no
mundo real. O Poder Legislativo, mesmo observando a existência de tais
questionamento há quase uma década, ainda não se manifestou em momento
algum sobre a regulamentação da matéria.
A demora em criar norma tão importante na defesa dos direitos trabalhistas e
constitucional do trabalhador mostra um verdadeiro desprezo aos direitos elencados
no artigo 5º, XXII da Carta Magna, pois não fora determinado tempo final para
edição de dispositivo legal que estabelecesse uma nova base de pagamento para o
adicional de insalubridade. É importante frisar que ainda mais graves serão os
efeitos que a lei regulamentadora do pagamento do adicional de insalubridade trará,
pois esses serão ex nunc, não tendo o trabalhador direito nenhuma à restituição dos
valores deixados de receber em virtude da manutenção de uma regra
inconstitucional ativa.
É cogente definir que o texto constitucional é um compromisso que não deve
ser passível de desvirtuação, pois abandonar os princípios e garantias
constitucionais, transformando a ideia da Constituição meramente programática
implica em um ativismo judicial, tendo sido isso que a Corte Maior fez quando
adotou o salário mínimo como base do cálculo para o pagamento da insalubridade,
tornando sem efeito súmulas até então garantidoras de direitos protegidos na
constituição, tendo sido evidente o retrocesso na garantia dos direitos dos
trabalhadores.
28

4.3 O salário base como patamar mínimo para o pagamento do adicional de


insalubridade

4.3.1 Monetização do Adicional de Insalubridade

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 garantiu ao


trabalhador a “redução dos riscos inerentes ao trabalho, mediante normas de higiene
e segurança”, conforme disposto no art. 7º, inciso, XXII. As normas referentes a
segurança garantem proteção à integridade física do empregado e as normas
higiene vão garantir a proteção a sua saúde.
Visto que o pagamento do adicional de insalubridade nada mais é que uma
monetização que visa compensar financeiramente o trabalhador pelos danos
causados à sua saúde, em virtude da exposição aos agentes físicos, químicos e
biológicos, ele deixa as empresas em situação confortável, pois necessitam apenas
reduzir os salários daqueles que se interessam pelo cargo, não tendo o empregador
interesse algum em investir nos métodos que tratem das ameaças encontradas nos
locais de trabalho insalubres.
Ressalte-se ainda que os agentes insalubres são elencados na NR-15,
contudo existem ainda alguns que não se encontram na normativa, sendo ainda
mais difícil sua qualificação e quantificação, impossibilitando que seja pago o
adicional, uma vez o agente agressor não possui classificação perante o Ministério
do Trabalho.
A Súmula 248 do TST informa que o empregado não tem direito adquirido
quando o agente insalubre é reclassificado ou descaracterizado:

Súmula 248, TST: A reclassificação ou a descaracterização da


insalubridade, por ato da autoridade competente, repercute na satisfação do
respectivo adicional, sem ofensa a direito adquirido ou ao princípio da
irredutibilidade salarial. (BRASIL, 2003).

Assim, percebe-se que o recebimento do adicional de insalubridade


condiciona-se a exposição do trabalhador a agentes físicos, químicos e biológicos
classificados no Ministério do Trabalho, mais precisamente na NR15, contudo o
pagamento do referido adicional é afastado, quando esse é reclassificado ou
descaracterizado mediante perícia, realizada com o objetivo de comprovar a
mudança, não ferindo o princípio da irredutibilidade salarial.
29

Nota-se que, caso o empregador optasse por realizar melhorias com a


intenção de diminuir ou sanar a insalubridade e essa fosse reclassificada ou
descaracterizada, importaria uma redução significativa nas despesas com
remuneração.
Entretanto, a legislação brasileira erroneamente estimula o empregador a
pagar o adicional de insalubridade e não a implantar melhorias para sanar ou
minimizar os riscos, pois, sendo o valor do adicional irrisório, o empregador
considera mais rentável desenvolver sua atividade em ambiente insalubre e investir
seu lucro em ações diversas daquelas que visam às melhorias ambientais.
Neste sentido,

Uma das formas de combater o agente agressivo à saúde do trabalhador é


promover o agravamento financeiro dos adicionais, com propósito de
estimular o empregador no sentido de eliminar ou neutralizar o agente
nocivo, em vez de continuar pagando os adicionais respectivos. (OLIVEIRA,
2011, p.18).

Conforme citação acima, os percentuais pagos realmente não se mostram


eficazes no tratamento do seu objeto principal que é compensar os danos à saúde
do trabalhador e implementar métodos que possam prevenir, reduzir e/ou sanar os
riscos. Pelo contrário, a considerar o tempo que se arrasta omissão legislativa
confirma-se como é mais rentável para o empresário pagar os adicionais a realizar
melhoramentos no ambiente laboral.
Oliveira (2011) é preciso quando comenta que:

A solução retrógrada de compensar a agressão por adicionais (monetização


do risco) vem sendo banida com energia pelos trabalhadores, sob a
bandeira coerente de que "saúde não se vende". De fato, a crescente
dignificação do trabalho repele a política de remunerar as agressões à
saúde, acelerando o desgaste do trabalhador e, consequentemente,
apressando a sua morte. (OLIVEIRA, 2011, p. 19).

O adicional, na verdade, é uma ferramenta retrograda e ainda mais


degradante para a saúde do trabalhador, pois, como cita o autor acima, está
acontecendo a “venda” da saúde do empregado, prática que deve ser reformulada o
mais urgente possível, pois, somente assim, existirá a efetividade dos direitos
inerentes à saúde, à higiene e à segurança.
30

4.3.2 Cenário Internacional de Prevenção e Manutenção da Saúde do Trabalhador e


dos Ambientes Laborais

No cenário internacional, as políticas públicas já caminham para uma


evolução quanto à saúde e à segurança dos trabalhadores, buscando-se a
prevenção, a redução e a eliminação dos riscos.
De acordo com Guadalupe (2021), a potência industrial da China e o Canadá
são exemplos de grandes países que possuem uma visão prevencionista,
desenvolvendo técnicas de eliminação de riscos na sua origem. Itália e Espanha
também seguem nesse sentido. Na Espanha, o empregador deve acompanhar o
empregado em sua atividade para conseguir verificar in loco os riscos desde a sua
origem.
O que todos os países que buscam a prevenção como medida correta a ser
adotada na proteção da saúde e segurança do trabalhador tem em comum é que
eles não vislumbram o pagamento do adicional de insalubridade, mas priorizam o
bem-estar do trabalhador.
Nos Estados Unidos, fica sediada uma associação privada composta por
membros da indústria de higiene industrial, saúde e segurança ocupacional e
ambiental, a chamada American Conference of Governmental Industrial Hygienists
(ACGIH) – em português, Conferência Americana de Higienistas Industriais
Governamentais. Com 85 anos de história de proteção, ela possui como objetivos
promover a proteção dos trabalhadores que estão expostos a fatores de risco,
estabelecendo, por meio de estudos, os limites a que eles podem se expor quanto
às substâncias químicas, físicas e biológicas, seguindo os índices de exposição
adotados e permitidos internacionalmente. (ACGIH, 2022).
No cenário nacional, encontram-se controvérsias, pois, no exterior, grandes
países buscam a proteção, o bem-estar e a prevenção. No Brasil, busca-se uma
monetização do risco que, sequer, atende às necessidades básicas de saúde,
deixando de estimular investimentos em prevenção e estimulando uma gama alta de
trabalhadores que, em busca de melhoria no salário, almejam trabalhar em
ambientes nocivos sem considerar os danos em longo prazo.
Entretanto, sabe-se que, no Brasil, não se pode desprezar o lado financeiro
dos trabalhadores, já que a omissão legislativa no país é flagrante, quando se fala
em alguns temas, como o adicional em estudo.
31

4.3.3 Proposta de uma nova base de cálculo do adicional de insalubridade


vislumbrando o princípio da dignidade da pessoa humana

Em 1891, O Papa Leão XIII, na Encíclica Rerun Novarum citou:

(...) o trabalho do corpo, pelo testemunho comum da razão e da filosofia


cristã, longe de ser um objecto de vergonha, honra o homem, porque lhe
fornece um nobre meio de sustentar a sua vida. O que é vergonhoso e
desumano é usar dos homens como de vis instrumentos de lucro, e não os
estimar senão na proporção do vigor dos seus braços. (LEÃO XIII, 1891,
P.01)

O trecho citado acima faz referência à proteção e à dignidade que o trabalho


já impunha ao trabalhador, devendo esse ser tratado com honra e humanidade, pois
não é apenas um meio de lucro, mas uma pessoa que têm direitos a serem
respeitados.
Ao logo dos séculos, as mudanças sociais impulsionaram as conquistas no
campo do Direito Trabalhista, até chegarmos ao arcabouço jurídico atual, cujos
princípios constitucionais, dentre eles o da Dignidade de Pessoa Humana, são a
base para as garantias e obrigações elencadas no capítulo II – dos Direitos Sociais,
artigo 7º, bem como própria CLT. Entretanto, a história de conquistas está sendo
manchada pelo retrocesso instituído pelo STF, posto a mudança inconstitucional do
indexador do adicional de insalubridade, qual seja o salário-mínimo.
Por algumas razões claras e lógicas, o entendimento firmado pela Suprema
Corte mostra-se como uma maneira de suprimir os diretos dos trabalhadores, sendo
necessário que a sociedade e os operadores do direito firmem sua união para
pressionar o legislativo a apresentar opções para um novo patamar do adicional de
insalubridade, demonstrando ser esse um meio proporcional, adequado e
constitucional.
A própria Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho
(ANAMATRA) já decidiu pelo pagamento do adicional de insalubridade tendo como
patamar o salário básico:

O trabalho em condições insalubres assegura ao trabalhador a percepção


do adicional de insalubridade correspondente a 40% (quarenta por cento),
20% (vinte por cento) ou 10% (dez por cento) incidentes sobre seu salário
básico, segundo a insalubridade se classifique, respectivamente, nos graus
máximo, médio ou mínimo, sem os acréscimos resultantes de gratificações,
prêmios ou participações nos lucros da empresa. (RONCAGLIA, 2008)
32

No caso da proposta da ANAMATRA, o patamar do pagamento do Adicional


de Insalubridade seria o Salário-Base, mantendo os percentuais e graus já
conhecidos, contudo sem a incidência das gratificações, prêmios ou participações de
lucros, ou seja, muda o patamar, mas limita possíveis direitos do trabalhador.
A Súmula 17 do TST, (BRASIL, 2008) também adotou posicionamento
diverso, possibilitando a adoção do salário profissional como um possível novo
patamar, mas, como nem todos os trabalhadores ganham esse tipo de salário,
acaba não sendo viável existir um parâmetro que não se adeque aos trabalhadores
de modo geral, tendo essa sido cancelada.
A Lei 8.852/94 entende que a base do cálculo do adicional em estudo seria a
remuneração global do trabalhador, contudo não se mostra acertado o pagamento
sobre a remuneração total, uma vez que compromete o lucro do empregador.
(BRASIL, 1994).
Outra maneira de pagamento do adicional de insalubridade se dá mediante a
aplicação, por analogia, da base de cálculo da periculosidade do trabalhador pelo
trabalho no local insalubre. O artigo 193, §1º da CLT, assegura ao trabalhador que
labora em condições perigosas o adicional de 30% sobre o salário base.
O uso desse indexador por analogia não encontra óbice legal, em virtude da
existência de omissão legislativa há mais de 10 anos, conforme previsão do artigo
8º da CLT:

Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de


disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela
jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas
gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo
com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que
nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse
público (BRASIL,1943).

O artigo acima descrito enfatiza bem que, na falta e disposição legal, e de


acordo com o caso, se decidirá, dentre outras formas de colmatação, por analogia,
não sendo possível que determinado caso chegue ao judiciário e fique sem
resolução por falta de legislação.
Como a lei estabelecida para alterar a base cálculo do adicional de
insalubridade ainda é passiva de criação e o próprio STF já reconheceu a
inconstitucionalidade da vinculação do salário mínimo. O uso da analogia, que
consiste na utilização do indexador do adicional de periculosidade, o salário básico
33

ou contratual do trabalhador podem ser opções para um novo patamar do


pagamento do adicional de insalubridade.
34

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A saúde do trabalhador não pode ser abordada de forma generalizada, pois


os riscos devem ser tratados de maneira adequada pelos próprios trabalhadores
expostos, pelas empresas e pelo poder público. O pagamento do adicional de
insalubridade não vislumbrou as mudanças que sua criação traria às empresas, cujo
ponto principal visava melhorar as condições do ambiente de trabalho insalubre. Ao
contrário disso, ao invés de escolher o valor pago a quem necessita, para melhorar a
saúde do empregado, as empregadoras preferem pagar o adicional.
O labor em condições insalubres desenvolve no trabalhador mazelas de
forma lenta, comparando-se aos trabalhos perigosos, perpetuando mudanças
lesivas a ele, já que uma grande maioria ainda se sujeita às práticas abusivas de
empresas que não pagam o adicional de insalubridade, a fim de manter seus
empregos.
Logo percebe-se que é praticamente impossível dar efetividade social e
justiça para o trabalhador cuidar da sua saúde, sendo necessária uma imediata
mudança e reforma da lei, pretendendo-se alcançar suas reais necessidades, já
historicamente tão agravada pelo poder público que justifica suas injustiças com
ações paliativas prejudiciais a uma parte em detrimento do privilégio de uma minoria.
Mostra-se razoável pensar que o melhor indexador para o pagamento do
adicional de insalubridade seria o salário-base, pois mostra-se mais vantajoso para o
trabalhador sem comprometer o aspecto financeiro da empresa. Contudo, o que
deve ser fortalecido, na verdade, são políticas que estimulem o empresariado a
sanar ou reduzir os riscos no ambiente de trabalho da empresa.
O Brasil necessita se equiparar às tendências internacionais em relação à
saúde e à segurança do trabalhador, desenvolvendo medidas de prevenção,
respeitando sempre o sistema jurídico do país e a realidade social vivenciada, pois,
assim, poderá caminhar em busca da prevenção dos riscos no trabalho, haja vista
os malefícios que a monetização traz.
A saúde é um direito fundamental do trabalhador, alicerçado pelo princípio da
dignidade humana, por isso os incentivos devem ser os mais diversos, levando-se
sempre em consideração que, enquanto existir a exposição do trabalhador aos
agentes causadores de malefícios a sua saúde, deve ser compensada a exposição
de maneira justa.
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