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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

CAIO CESAR DE OLIVEIRA

PLANEJAMENTO E PREVENÇÃO DE ACIDENTES E DOENÇAS OCUPACIONAIS:


EFEITOS POSITIVOS DOS INVESTIMENTOS EM SAÚDE E SEGURANÇA NO
TRABALHO.

CURITIBA
2013
CAIO CESAR DE OLIVEIRA

PLANEJAMENTO E PREVENÇÃO DE ACIDENTES E DOENÇAS OCUPACIONAIS:


EFEITOS POSITIVOS DOS INVESTIMENTOS EM SAÚDE E SEGURANÇA NO
TRABALHO.

Monografia apresentada como requisito


parcial à obtenção do grau de Bacharel em
Direito no curso de graduação em Direito,
Setor de Ciência Jurídicas da Universidade
Federal do Paraná.

Orientadora: Profa. Thereza Cristina Gosdal.

CURITIBA
2013
TERMO DE APROVAÇÃO

CAIO CESAR DE OLIVEIRA

PLANEJAMENTO E PREVENÇÃO DE ACIDENTES E DOENÇAS OCUPACIONAIS:


EFEITOS POSITIVOS DOS INVESTIMENTOS EM SAÚDE E SEGURANÇA NO
TRABALHO.

Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em


Direito no curso de graduação em Direito, pela banca examinadora:

_______________________________
Profa. Doutora Thereza Cristina Gosdal
Orientadora – Setor de Ciências Jurídicas da Faculdade de Direito – UFPR.

_______________________________

_______________________________

Curitiba, dezembro de 2013.


Dedico esta monografia aos meus pais, aos meus irmãos, à minha namorada, pois
de alguma maneira todos contribuíram para que esse momento fosse atingido,
fechando um ciclo de cinco anos na Universidade Federal do Paraná.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela oportunidade de estar realizando este trabalho.

À minha orientadora por estar disposta a ajudar sempre.

Agradeço também aos meus amigos pela colaboração, pelas palavras de


incentivo, pelo auxilio nos trabalhos e principalmente por estarem comigo nesta
caminhada tornando-a mais fácil e agradável.
RESUMO

O ambiente de trabalho mal preparado, sem a devida preocupação com a


segurança e o bem estar do empregado, pode ocasionar prejuízos materiais e
imateriais de difícil reparação ou até mesmo irreparáveis. Um acidente de trabalho
ou uma doença ocupacional não significam apenas um empregado afastado, mas
também outras consequências negativas, como sequelas permanentes para o
trabalhador e sua família, diminuição do rendimento dos demais empregados com
medo de ocorrer novo acidente, destruição dos equipamentos e interrupção da
produção.
Diante desse cenário, percebe-se que um planejamento organizacional
voltado para a saúde e segurança do trabalho, com a participação daqueles que, de
alguma maneira, estão envolvidos na relação empregado/empregador pode
proporcionar benefícios para todos, pois os empregados estarão protegidos, se
sentirão valorizados e respeitados, e passarão a desempenhar melhor sua atividade
profissional. Em contrapartida há um retorno financeiro para o empregador que evita
os custos indesejáveis à empresa.

Palavras-chave: Planejamento. Saúde e Segurança. Vantagens. Benefícios.


ABSTRACT

The unprepared workplace, without the due concern with the employee
safety and welfare, may cause material damages and immaterial hard to repair or
even irreparable. A labor accident or an occupational disease does not only mean an
employee leave, but also other negative consequences, such as permanent sequels
for the worker and his family, performance decrease of rest of the employees fearing
another accident, equipment destruction and production interruption.
Given this scenario, it is clear that an organizational planning geared to
occupational health and safety, with the participation of those who, somehow, are
involved in the employee/employer relationship, may provide benefits for all, since
the employees are protected, feel valued and respected, and will better perform their
professional activity. In counterpart there is the financial return for the employer,
which avoids the undesirable cost to the company.

Keywords: Planning. Health and Safety. Advantages. Benefits.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 9

2. TEORIA GERAL DA SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO, ACIDENTES E


DOENÇAS OCUPACIONAIS.................................................................................... 11

2.1. Acidentes do trabalho ........................................................................................ 19

2.2. Doenças ocupacionais ...................................................................................... 23

3. CONSEQUÊNCIAS PREVIDENCIÁRIAS E NA RELAÇÃO DE EMPREGO DO


ACIDENTE DO TRABALHO E DOENÇA OCUPACIONAL ..................................... 25

3.1. Auxílio-doença acidentário e Auxílio-acidente ................................................... 25

3.2. Aposentadoria por invalidez e reabilitação profissional ..................................... 27

3.3. Pensão por morte .............................................................................................. 29

3.4. Estabilidade acidentária e suspensão da prestação do labor em razão do


acidente ..................................................................................................................... 30

4. RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR ............................................. 33

4.1. Responsabilidade subjetiva ............................................................................... 34

4.2. Responsabilidade objetiva................................................................................. 35

4.3. Jurisprudência sobre responsabilidade do acidente do trabalho ....................... 39

5. OS BENEFICIOS DA SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO ....................... 44

5.1. Prevenção de acidente e doenças ocupacionais .............................................. 46

5.2. Investimentos e gestão em saúde e segurança do trabalho ............................. 49

5.3. Plano de gestão em saúde e segurança do trabalho ........................................ 53

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 63


9

1. INTRODUÇÃO

A presente monografia tem como objeto o estudo do planejamento e a


prevenção em saúde e segurança do trabalho. Objetiva-se expor os benefícios que o
planejamento e a prevenção em saúde e segurança do trabalho podem trazer para o
empregado e o empregador.
Após trabalhar quatro anos como Técnico em Segurança do Trabalho (2006-
2010) – visitando diversas empresas dos mais variados ramos de atividade – e mais
dois anos e meio como estagiário de direito no setor trabalhista de um escritório de
advocacia empresarial (2011-2013), verifiquei como a falta de planejamento e,
principalmente, investimentos em saúde e segurança do trabalho podem trazer
consequências irreparáveis ao ambiente laboral, e como essas consequências
repercutem na vida daqueles que estão envolvidos, direta ou indiretamente e na
relação que há entre o empregado e o empregador.
Para alcançar o objetivo proposto, faz-se necessária uma abordagem
concisa sobre saúde e segurança do trabalho, tratando dos acidentes do trabalho e
doenças ocupacionais, bem como das consequências dos acidentes e das doenças
ocupacionais na relação de emprego e também das consequências previdenciárias.
Neste primeiro momento, é importante, de igual forma, abordar de maneira sucinta a
responsabilidade do empregador nos casos de acidente ou doença ocupacional.
No segundo momento, superada as peculiaridades da saúde e segurança do
trabalho e dos acidentes e doenças ocupacionais, tratadas nos primeiros capítulos, a
pesquisa retoma seu objetivo principal, qual seja, o de apresentar os benefícios que
o planejamento e os investimentos em saúde em segurança do trabalho propiciam
aos que retiram da relação de emprego os meios para a sua sobrevivência e
também para o empregador ao tornar mais atrativa a empresa como local de
trabalho e diminuir débitos trabalhistas a longo prazo.
As despesas e contratempos oriundos dos acidentes e doenças
ocupacionais são incalculáveis para os empregadores, mas também indiretamente,
para toda a sociedade. A falta de planejamento e prevenção do ambiente laboral
resultam em tempo perdido, despesas com primeiros socorros, destruição de
10

equipamentos e materiais, interrupção da produção, salários pagos aos empregados


afastados, despesas administrativas e etc. Além dos custos mais visíveis, há
também o prejuízo para a imagem da empresa no mercado em que atua.
Para os empregados, o resultado da falta de investimentos em saúde e
segurança do trabalho é ainda mais grave, porque os trabalhadores que sofrem
acidentes ou doenças ocupacionais são atingidos por danos que se materializam em
sofrimento físico e mental, cirurgias e remédios, próteses e assistência médica,
fisioterapia e assistência psicológica, dependência de terceiros para
acompanhamento e locomoção, diminuição do poder aquisitivo, desemprego,
marginalização, depressão e traumas.
Diante dessas consequências, é inevitável concluir que investir em
prevenção proporciona diversos benefícios: primeiramente, retorno financeiro para o
empregador; em segundo lugar, reconhecimento dos trabalhadores pelo padrão
ético da empresa; em terceiro, melhoria das contas da Previdência Social e
finalmente ganho emocional dos empregados que se sentem valorizados e
respeitados. Todos esses fatores conjugados geram um efeito positivo resultando
maior produtividade, menor absenteísmo e consequentemente mais lucratividade.
Como se vê, a prevenção adequada dos riscos para preservação da saúde e
integridade dos trabalhadores não se resume simplesmente ao cumprimento de
normas para atender à legislação e fugir das multas trabalhistas, vai muito além,
representa uma moderna visão estratégica dos negócios e requisito imprescindível
para a sobrevivência empresarial no longo prazo.
Como colaboração deste trabalho espero demostrar a importância de se
preservar a saúde do trabalhador, pois este retira do labor a sua principal fonte de
sobrevivência e é fundamental buscar e implementar melhorias no ambiente de
trabalho. E também contribuir para o entendimento do empresário da necessidade
de planejar e investir na prevenção de acidentes e doenças ocupacionais.
11

2. TEORIA GERAL DA SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO, ACIDENTES E


DOENÇAS OCUPACIONAIS

O objetivo deste capitulo não é exaurir a matéria sobre saúde e segurança


do trabalho, acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, por isso, não serão
tratados todos os seus desdobramentos, mas apenas os aspectos relevantes ao
desenvolvimento do trabalho proposto.
A Segurança e Higiene do Trabalho começaram a ser alvo das atenções,
com mais ênfase, a partir da Revolução Industrial, no final do século XVIII, na
Inglaterra. A substituição da energia humana pela energia motriz revolucionou a
indústria com o “desenvolvimento de novos processos industriais, novos
equipamentos, e pela síntese de novos produtos químicos, simultaneamente ao
rearranjo de uma nova divisão internacional do trabalho”1 visando aumentar a
produtividade. Em contrapartida ao avanço tecnológico, aumentou também o índice
de ocorrências de acidentes, tendo-se em vista que, na época, tais máquinas não
possuíam dispositivos de segurança, além do fato de o trabalhador nem sempre
estar devidamente treinado quanto à operação correta e segura de tais máquinas.
As “máquinas, que podiam ter tornado mais leve o trabalho, na realidade o fizeram
pior.”2
Com a chegada da máquina a vapor, a produtividade aumentou “os dias de
trabalho eram longos, de 16 horas”3 e o “trabalhador passou a viver em um ambiente
de trabalho agressivo, ocasionado por diversos fatores, dentre eles, a força motriz, a
divisão de tarefas e a concentração de várias pessoas em um mesmo
estabelecimento.”4 Nesse contexto, o número de acidentes do trabalho e doenças
ocupacionais começou a aumentar com rapidez.

A Revolução Industrial veio alterar o cenário e gerar novos e graves


problemas. O incremento da produção em série deixou à mostra a
fragilidade do homem na competição desleal com a máquina, ao lado dos

1
DIAS, Elizabeth Cota; MENDES, René. Da Medicina do Trabalho a Saúde do Trabalhador. São
Paulo: Ver Saúde Pública, vol.25, p. 341, 1991.
2
CAMPO, José Luiz Dias; CAMPO, Adelina Bitelli Dias. Acidentes Do Trabalho: Prevenção E
Reparação. São Paulo. LTr, p. 18, 1991.
3
CAMPO, José Luiz Dias; CAMPO, Adelina Bitelli Dias. Acidentes Do Trabalho: Prevenção E
Reparação. São Paulo. LTr, p. 19, 1991.
4
SALIBA, Tuffi Messias. Curso Básico de Segurança e Higiene Ocupacional. São Paulo. LTr,
p.20, 2004.
12

lucros crescentes e da expansão capitalista aumentavam paradoxalmente a


miséria, o número de doentes e mutilados, dos órfãos e das viúvas, nos
5
sombrios ambientes do trabalho.

Contando com a sorte ou com o instinto de sobrevivência, cabia ao próprio


trabalhador zelar pela sua defesa diante do ambiente de trabalho agressivo e
perigoso, porque as engrenagens aceleradas e expostas das engenhocas de então
estavam acima da saúde ou da vida “desprezível”6 do operário. Segundo as
concepções da época, “os acidentes, as lesões e as enfermidades eram
subprodutos da atividade empresarial e a prevenção era incumbência do próprio
trabalhador.”7 A busca frenética por mão-de-obra impulsionou o comércio de
crianças que os intermediários adquiriam de pais miseráveis e revendiam aos
empregadores, chegando ao ponto de aceitar “uma criança com deficiência mental
para cada 12 crianças sadias.”8
A intervenção estatal começou em 1802, quando o Parlamento britânico
conseguiu aprovar a Lei de Saúde e Moral dos Aprendizes, que foi a primeira lei de
proteção aos trabalhadores. Esta lei estabelecia o “limite de 12 horas de trabalho por
dia, proibia o trabalho noturno, obrigava os empregadores a lavar as paredes das
fábricas duas vezes por ano, e tornava obrigatória a ventilação destas.”9 No ano de
1830, Robert Dernham, proprietário de uma indústria têxtil, preocupado com as
péssimas condições de saúde dos seus empregados, procurou Robert Baker,
médico inglês, pedindo-lhe orientação, e obteve a seguinte resposta:

Coloque no interior da sua fábrica o seu próprio medico, que servira de


intermediário entre você, e os seus trabalhadores e o público. Deixe-o visitar
a fabrica, sala por sala, sempre que existirem pessoas trabalhando, de
maneira que ele possa sempre verificar o efeito do trabalho sobre elas. E se
ele verificar que qualquer dos trabalhadores está sofrendo a influência de
causas que possam ser prevenidas, a ele competirá fazer tal prevenção.
Dessa forma você poderá dizer “meu medico é a minha defesa, pois a ele
dei toda a minha autoridade no que diz respeito à proteção da saúde e das
condições físicas dos meus operários”, se algum dele vier a sofrer qualquer

5
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo De. Proteção Jurídica À Saúde Do Trabalhador. 3ª ed. São Paulo.
LTr, p.60, 2001.
6
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo De. Proteção Jurídica à Saúde Do Trabalhador. 3ª ed. São Paulo.
LTr, p.60, 2001
7
EL TRABAJO en el mundo. Ginebra: Oficina Internacional del Trabajo, v.2, p.160, 1985.
8
NOGUEIRA, Diogo Pupo. Introdução à Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho. In: Curso de
Medicina do Trabalho, v.1, p.6, 1979.
9
NOGUEIRA, Diogo Pupo. Introdução à Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho. In: Curso de
Medicina do Trabalho, v.1, p.8, 1979.
13

alteração da saúde, o médico unicamente é que dever ser


10
responsabilizado.

Este fato é considerado historicamente o marco da criação do serviço de


Medicina do Trabalho em todo o mundo. O processo de industrialização no Brasil,
como no resto do mundo, não foi acompanhado de medidas de segurança eficazes.
A ausência de um poder público atuante, aliado ao governo militar instaurado na
década de 60, levou o país a um dito “Milagre Econômico”11, uma busca
desenfreada por grandes obras e realizações, inclusive batendo o recorde mundial
de Acidente de Trabalho na década de 70.
No Brasil, uma preocupação insipiente com a higiene e segurança do
trabalho surgiu em 1919, quando Rui Barbosa, em sua campanha eleitoral,
preconizou leis em função do bem estar social. Essa preocupação se tornou maior
quando em 1943 aconteceu a publicação do Decreto Lei nº 5452, que aprovou a
Consolidação das Leis do Trabalho, cujo Capítulo V, refere-se à Segurança e
Medicina do Trabalho. Em 22 de dezembro de 1977 a Lei 6.514 alterou o capítulo V,
Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, sendo posteriormente
regulamentada pelas Normas Regulamentadoras da Portaria nº 3.214, de 8 de junho
de 1978. O Ministério do Trabalho e Emprego, ancorado nas normas jurídicas retro
mencionadas, editou Normas Regulamentadoras (NR`s), hoje são 36 urbanas e 05
rurais, estas últimas com referências na NR 31. As Normas Regulamentadoras
tratam da matéria de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional aplicadas na
relação empregado/empregador, ensejando técnicas, princípios fundamentais e
medidas de proteção para garantir a saúde e a integridade física dos trabalhadores e
estabelecer requisitos mínimos para a prevenção de acidentes e doenças do
trabalho, muitos deles relativamente extensos e complexos que exigem a
participação de equipe técnica para sua interpretação e aplicação no ambiente
laboral, com custos ao empregador, eis que a implementação dessas normas é sua
responsabilidade.

10
DIAS, Elizabeth Cota; MENDES, René. Da Medicina do Trabalho a Saúde do Trabalhador. São
Paulo. Ver Saúde Pública, vol.25, p. 341, 1991.
11
Disponível em: http://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/milagre-economico-
brasileiro.htm. Acesso em 11 de maio de 2013. No governo do presidente Médici foi implantado no
Brasil uma medida de crescimento econômico, o principal idealizador dessa medida foi o ministro da
fazenda, que atuava desde o governo Costa e Silva, Antonio Delfim Netto, esse projeto tinha como
princípio o crescimento rápido. O que ocorreu para provocar esse chamado “milagre” foi o imenso
capital estrangeiro no país.
14

O fato de que as normas existem não inibe o alto índice de acidentes nos
locais de trabalho. Diante disso, apresenta-se uma controvérsia, sobre se as normas
são insuficientes ou os treinamentos são inadequados para a função
desempenhada. Todas as empresas devem conhecer a legislação e adequar-se a
ela. Entretanto, em pleno século XXI, a importância da Segurança, na prevenção
dos acidentes do trabalho e consequentemente com o bem-estar do trabalhador
ainda não foi amplamente reconhecida, quer por trabalhadores, quer por
empregadores. Infelizmente, o espírito de empresa e o espírito prevencionista ainda
não fazem parte de muitas organizações empresariais, não havendo verdadeira
compreensão de que a prevenção de acidentes e o bem estar social dos
trabalhadores concorrem para uma maior produtividade por parte dos mesmos,
ocasionando maior progresso da indústria.
Os riscos ocupacionais são decorrentes das más condições “inerentes ao
ambiente ou do próprio processo operacional das diversas atividades
profissionais”12, ou seja, “as condições ambientes de insegurança do trabalho,
capazes de afetar a saúde, a segurança e o bem-estar do trabalhador. As condições
ambientes relativas ao processo operacional, como por exemplo, máquinas
desprotegidas, ferramentas inadequadas, matérias-primas, etc., são chamadas de
riscos de acidente.”13 Assim, os riscos ocupacionais são os agentes físicos,
químicos, biológicos, ergonômicos e os riscos de acidentes de trabalho. Eles são
capazes de causar danos à saúde e à integridade física do trabalhador em função
de sua natureza, concentração, intensidade, suscetibilidade e tempo de exposição.
Os riscos físicos normalmente são gerados por máquinas, equipamentos e
condições físicas, características do local de trabalho que podem causar prejuízos à
saúde do trabalhador. Os exemplos mais comuns são: ruído; vibrações; frio; calor;
radiações ionizantes; radiações não ionizantes; e umidade.
Os riscos químicos são representados pelas substâncias químicas que se
encontram nas formas líquida, sólida e gasosa. Quando absorvidas pelo organismo,
podem produzir reações tóxicas e danos à saúde. Há três vias de penetração no
organismo: via respiratória: inalação pelas vias aéreas; via cutânea: absorção pela
pele; via digestiva: ingestão. Os exemplos mais comuns são: poeiras minerais (por
exemplo, sílica); poeiras vegetais (por exemplo, algodão); névoas; gases; e vapores.

12
Segurança e Medicina do Trabalho. Manuais de Legislação Atlas. 63ª ed. Atlas. p.799, 2009.
13
Segurança e Medicina do Trabalho. Manuais de Legislação Atlas. 63ª ed. Atlas. p.799, 2009.
15

Os riscos biológicos são aqueles causados por micro-organismos como


bactérias, fungos, vírus, bacilos e outros. São capazes de desencadear doenças
devido à contaminação e pela própria natureza do trabalho. Os exemplos mais
comuns são: vírus; bactérias; protozoários; fungos; bacilos; e parasitas.
Por risco ergonômico, entendem-se os riscos contrários às técnicas de
ergonomia, que propõem que os ambientes de trabalho se adaptem ao homem,
proporcionando bem-estar físico e psicológico. Como exemplo de trabalho não
ergonômico, temos as atividades profissionais que demandam muito esforço físico;
levantamento e transporte manual de pesos; postura incorreta; ritmos excessivos;
monotonia e repetitividade; jornada prolongada; e controle rígido de produtividade.
Os riscos de acidentes são os riscos das condições adversas do ambiente
de trabalho, devido a falhas administrativas e/ou operacionais, e ocorrem em função
da mecânica do trabalho e são capazes de provocar lesões à integridade física do
trabalhador. Os principais exemplos são: acidentes causados por máquina e
equipamentos desprotegidos; ferramentas inadequadas; choques; e quedas de
nível.
O empregador deverá tomar as atitudes necessárias para a eliminação e a
minimização dos riscos ocupacionais, com medidas de caráter administrativo ou de
organização do trabalho, ou então, com a “adoção de medidas de proteção coletiva
(EPC), ou quando estas não forem suficientes ou se encontrarem em fase de
estudo, planejamento ou implantação, deverá ser adotada a utilização de
equipamento de proteção individual (EPI).”14
Muito se fala sobre o ambiente de trabalho, sabe-se que tem uma influência
direta na produtividade do trabalhador, porque trabalhar em ambiente que gera
desconforto induz à inércia e à preguiça. Foi-se o tempo em que a segurança do
trabalho era vista apenas como a instalação de equipamento de proteção coletiva, e
na falta deste, o uso de protetor auditivo, uso de capacetes, botas, cintos de
segurança e uma série de outros equipamentos de proteção individual contra
acidentes, quando havia. A evolução tecnológica veio e passou a exigir ambientes
de trabalho melhores, em razão de riscos profissionais a eles associados. Esses
novos riscos são pouco conhecidos e demandam pesquisas cujos resultados só se

14
Segurança e Medicina do Trabalho. Manuais de Legislação Atlas. 63ª ed. Atlas. p.799, 2009.
16

apresentam após a exposição prolongada dos trabalhadores a ambientes nocivos à


saúde e à vida.
Essa preocupação do enfoque multidisciplinar para a melhora do ambiente
laboral é de suma importância porque o homem passa a maior parte da sua vida no
trabalho, exatamente no período da plenitude de suas forças físicas e mentais, dai
por que o trabalho, frequentemente, determina o seu estilo de vida, influência nas
condições de saúde, interfere na aparência e apresentação pessoal e ate determina,
muitas vezes, a forma da morte. Com o passar do tempo e o acúmulo da
experiência, a legislação vem atuando para garantir o ambiente de trabalho
saudável, de modo a assegurar que o exercício do trabalho não prejudique outro
direito humano fundamental o direito à saúde, “complemento inseparável do direito à
vida.”15
Assegura a Constituição da República que a saúde16 é direito de todos e
dever do Estado (artigo 196). Pode-se concluir que a manutenção do ambiente de
trabalho saudável é direito do trabalhador e dever do empregador. O empresário tem
a prerrogativa da livre iniciativa, da escolha da atividade econômica e dos
equipamentos de trabalho, mas, correlatamente, tem a obrigação de manter o
ambiente do trabalho saudável. Nesse particular é que as empresas devem prestar
atenção e passarem a se preocupar com a antecipação das providências, já que o
risco é sempre iminente.
Ao tratarmos sobre o acidente do trabalho e as doenças ocupacionais,
deparamo-nos com um cenário dos mais aflitivos. As ocorrências nesse campo
geram consequências traumáticas que acarretam, muitas vezes, a invalidez
permanente ou até mesmo a morte, com repercussões danosas para o trabalhador,
sua família, a empresa e a sociedade.

O acidente mais grave corta abruptamente a trajetória profissional,


transforma sonhos em pesadelos e lança um véu de sofrimento sobre
vitimas inocentes, cujos lamentos ecoarão distante dos ouvidos daqueles
empresários displicentes que jogam com a vida e a saúde dos

15
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo De. Proteção Jurídica À Saúde Do Trabalhador. 3ª ed. São Paulo.
LTr, p.128, 2001.
16
Disponível em: http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-
Mundial-da-Sa%C3%BAde/constituicao-da-organizacao-mundial-da-saude-omswho.html Acesso em
11 de novembro de 2013. Direito a saúde, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), no
preâmbulo de sua Constituição (1946), assim o conceitua: "Saúde é o completo bem-estar físico,
mental e social e não apenas a ausência de doença".
17

trabalhadores com a mesma frieza com que cuidam das ferramentas


17
utilizadas na sua atividade.

A dimensão do problema e a necessidade premente de soluções não


permitem mais ignorá-lo. É praticamente impossível anestesiar a consciência,
comemorar os avanços tecnológicos e, com indiferença, desviar o olhar dessa ferida
social aberta, ainda mais com tantos dispositivos constitucionais e princípios
jurídicos preconizando um meio ambiente de trabalho sadio18. “A questão fica ainda
mais incômoda quando já se sabe que a implementação de medidas preventivas,
algumas bastante simples e de baixo custo, alcança reduções estatísticas
significativas, ou seja, economizam vida humanas.”19
Desde que o Brasil ostentou o lamentável titulo de “campeão mundial de
acidentes do trabalho”20 na década de 70, “diversas alterações legislativas e
punições mais severas foram adotadas e muitos esforços estão ocorrendo para
melhorar a segurança e a qualidade de vida nos locais de trabalho.”21 Apesar de
estarmos progredindo, é necessário “registrar que estamos longe da situação
considerada aceitável, especialmente quando comparamos os dados brasileiros com
as estatísticas internacionais”22, pois nos países industrializados os acidentes fatais
“se estabilizaram ou até diminuíram, nos países em desenvolvimento ou emergentes
os índices continuam elevados, o que leva à conclusão de que o progresso está
sendo alcançado ao preço constrangedor de muitas vidas.”23

17
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4 ed. São Paulo. LTr, p.27, 2008.
18
VARGAS, Luiz Alberto de; COLUSSI, Luiz Antônio: Juízes do Trabalho do Tribunal Regional do
Trabalho da 4ª Região, Rio Grande do Sul. O conceito de “meio ambiente laboral sadio” integra um
conceito mais amplo, o do “trabalho digno”, que deve ser assegurado a todo trabalhador em
decorrência do reconhecimento de sua condição humana e de seu direito à dignidade, presente em
todas as constituições e no direito internacional, não sendo diferente em nosso Estado democrático
de direito, que consagra o direito à saúde como um direito social.
19
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo De. Proteção Jurídica à Saúde do Trabalhador. 3ª ed. São Paulo.
LTr, p.338, 2001.
20
GONÇALVES, Edwar Abreu. Manuel de Segurança e Saúde no Trabalho. 3ª ed. São Paulo. LTr,
p.1049, 2006.
21
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4ª ed. São Paulo. LTr, p.27, 2008.
22
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4ª ed. São Paulo. LTr, p.27, 2008.
23
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4ª ed. São Paulo. LTr, p.27, 2008.
18

Os custos dos acidentes e doenças ocupacionais no Brasil são muito


elevados24 para os empregadores e indiretamente para toda a sociedade. Chega-se
a essa conclusão “computando-se os prêmios de seguro, as indenizações, o tempo
perdido, as despesas dos primeiros socorros, a destruição de equipamentos e
materiais, a interrupção da produção, os salários pagos aos empregados afastados,
as despesas judiciais e administrativas e etc.”25 Além desses custos materiais mais
visíveis, “há também o prejuízo para a imagem da empresa no mercado em que
atua, as ações postulando reparações de danos pelos acidentes e doenças
profissionais, os gastos dos familiares dos acidentados, dentre outros.”26 Somando-
se os gastos direitos e indiretos, mais os dispêndios que o Estado suporta para o
atendimento médico dos trabalhadores informais, “os custos dos acidentes do
trabalho no Brasil ultrapassam 20 bilhões de reais por ano.”27 Uma estimativa
realizada pelo Conselho Nacional de Previdência Social, em 200428, indicou que o
gasto do Brasil com acidentes do trabalho e doenças ocupacionais foi de R$ 32,8
bilhões de reais.
É necessário “enfatizar que todos perdem com o acidente do trabalho e
doença ocupacional: o empregado acidentado e sua família, a empresa, o governo e
em última instância toda a sociedade.”29 Sendo assim:

É inevitável concluir que investir em prevenção proporciona diversos


benefícios: primeiramente, retorno financeiro para o empregador; em
segundo lugar, reconhecimento dos trabalhadores pelo padrão ético da
empresa; em terceiro, melhoria das contas da Previdência Social e
finalmente ganho emocional dos empregados que se sentem valorizados e
30
respeitados.

Todos esses fatores conjugados geram um efeito sinérgico positivo,


resultando maior produtividade, menor absenteísmo e consequentemente mais

24
GONÇALVES, Edwar Abreu. Manuel de Segurança e Saúde no Trabalho. 3ª ed. São Paulo. LTr,
p.1071, 2006.
25
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4ª ed. São Paulo. LTr, p.28, 2008.
26
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4ª ed. São Paulo. LTr, p.28, 2008.
27
PASTORE, José; JOBIM, Paulo. Campanha Prevenção é Vida. In Revista CIPA, v. 20, nº 240, p.
62, 1999.
28
Resolução do Conselho Nacional de Previdência Social nº 1236 de 28 de abril de 2004, publicada
no Diário Oficial da União do dia 10 de maio de 2004.
29
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4ª ed. São Paulo. LTr, p.29, 2008.
30
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4ª ed. São Paulo. LTr, p.29, 2008.
19

lucratividade. Assim, “a gestão adequada dos riscos para preservação da saúde e


integridade dos trabalhadores não se resume simplesmente ao cumprimento de
normas para atender à legislação e fugir das multas trabalhistas”31 e mais,
“representa uma moderna visão estratégica dos negócios e requisito imprescindível
para a sobrevivência empresarial no longo prazo.”32
Diante disso, observa-se uma crescente preocupação dos empresários com
a questão da saúde e segurança do trabalhador. A pressão sindical, as
repercussões negativas na mídia, as atuações do Ministério Publico do Trabalho e
da Inspeção do Ministério do Trabalho e, especialmente, as indenizações judiciais
estão promovendo mudanças no gerenciamento desse tema.

2.1. ACIDENTES DO TRABALHO

Os acidentes no trabalho causam grandes preocupações, pois são os


maiores responsáveis por afastamentos de trabalho e perda de produtividade. Uma
vez que os acidentes prejudicam diretamente os trabalhadores e suas famílias, bem
como influem de forma negativa em todo o processo produtivo já que o mesmo “(...)
é responsável por perda de tempo, perda de materiais, diminuição da eficiência do
trabalhador, aumento do absenteísmo, prejuízos financeiros. São fatores que
resultam em sofrimento para o homem, mas que também afetam a qualidade dos
produtos ou serviços prestados.”33
O acidente é uma ocorrência violenta, com consequências imprevisíveis e
graves em que todos saem perdendo. Pode gerar problemas sociais, sofrimento
físico e mental, além de perdas materiais. De acordo com a definição do artigo 19 da
lei 8.213/1991, acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a
serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados especiais,
“provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda

31
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4ª ed. São Paulo. LTr, p.29, 2008.
32
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4ª ed. São Paulo. LTr, p.29, 2008.
33
VIEIRA, Sebastiao Ivone. Manual de Saúde e Segurança do Trabalho. Vol. II. Florianópolis.
Mestra, p.260, 2000.
20

ou redução permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho”. Os


acidentes geram prejuízos, como morte, incapacidade total e permanente,
incapacidade parcial e permanente e incapacidade temporária, variando a
intensidade das consequências. A utilização de novas tecnologias nos processos de
trabalho – “embora possa contribuir para o melhoramento das condições, acabam
introduzindo novos riscos à saúde, quase sempre decorrentes da organização do
trabalho, e, portanto, de difícil medicalização.”34 Assim, acidente do trabalho é o
infortúnio ocorrido em razão do trabalho, gerando incapacidade ou morte.
É da essência do conceito de acidente do trabalho que haja lesão corporal
ou perturbação funcional. Quando ocorre um evento sem que haja lesão ou
perturbação física ou mental do trabalhador, não haverá, tecnicamente, acidente do
trabalho. Tanto que há expressa menção legal que não será considerada doença do
trabalho a que não produza incapacidade laborativa (Lei nº 8.213, artigo 20). No
entanto, nem sempre a perturbação funcional é percebida de imediato, podendo
haver manifestação tardia com real demonstração do nexo etiológico com o acidente
ocorrido. “A lesão pode ser tão profunda que não se apresente aos olhos dos
peritos, imediatamente, mas decorridos alguns dias ou ate meses. Basta lembrar os
vários casos de perturbações nervosas, causadas por acidentes do trabalho.”35
Além da lesão ou perturbação funcional, é necessário, para completar o
conceito de acidente do trabalho, que o evento acarrete a morte, ou perda ou a
redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

A incapacidade temporária não significa necessariamente afastamento do


trabalho, pode ser mesmo apenas o tempo para realizar um pequeno
curativo ou da visita a um hospital, tanto que o INSS determina que a
empresa deverá comunicar o acidente do trabalho, ocorrido com o seu
36
empregado, havendo ou não afastamento do trabalho.

As principais causas dos acidentes são as falhas humanas e as falhas


materiais. Para fins de prevenção dos acidentes, deve-se observar a eliminação da
prática de atos inseguros, assim como a de condições inseguras. Sendo que os
primeiros poderão ser eliminados por meio de seleção de profissionais e exames

34
DIAS, Elizabeth Cota; MENDES, René. Da Medicina do Trabalho a Saúde do Trabalhador. São
Paulo. Ver Saúde Pública, vol.25, p. 341, 1991
35
OPTIZ, Oswaldo; OPTIZ, Silvia. Acidente do Trabalho e Doenças Profissionais, São Paulo. LTr,
p.16, 1988.
36
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4ª ed. São Paulo. LTr, p.44, 2008.
21

médicos pertinentes com a atividade, educando e treinando devidamente seus


empregados, e a segunda, por meio de medidas de engenharia que estabeleçam a
eliminação das condições de insegurança no trabalho.
Sendo constatada a ocorrência do acidente de trabalho ou doença
ocupacional, “passa-se à etapa seguinte para verificar se também ocorreu um ato
ilícito (culpa do empregador) e, ainda, se há uma ligação necessária entre este ato e
o dano, isto é, um nexo de causalidade.”37 O “conceito de nexo causal não é jurídico;
decorre das leis naturais. É o vinculo, a ligação ou relação de causa e efeito entre a
conduta e o resultado”38 ou seja, “é preciso que se verifique a existência de uma
relação de causalidade a ligar a conduta do agente, ou sua atividade, ao dano
injustamente sofrido pela vítima.”39
É possível haver reparação de dano sem a constatação de culpa 40, mas não
é possível condenar, em qualquer hipótese, quando não se vislumbra o nexo causal.
“A exigência de estabelecer o nexo causal funda-se no fato de que ninguém pode
responder por dano que não tenha dado causa.”41 Portanto, “se houve o dano mas
sua causa não está relacionada com o comportamento do lesante, inexiste relação
de causalidade e também a obrigação de indenizar.”42 Para se obter os direito
acidentários cobertos pelo seguro da Previdência Social, “basta que se comprove o
nexo causal do acidente com o trabalho do segurado.”43 Já para se conseguir a
indenização decorrente da responsabilidade civil do empregador é necessário que
se comprove, além do nexo causal, a culpa ou dolo deste, salvo hipóteses de
responsabilidade objetiva.
Entretanto, há acidentes do trabalho que “apesar de ocorrerem durante a
prestação de serviço”44 não podem ser atribuídos ao empregador, “por ausência do
pressuposto do nexo causal ou do nexo de imputação do fato ao empregador.
37
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo De. Proteção Jurídica à Saúde do Trabalhador. 3ª ed. São Paulo.
LTr, p.231, 2001.
38
FILHO, Sergio Cavalieri: Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo. LTr, p.46, 2007.
39
CRUZ, Gisela Sampaio Da. O Problema do Nexo Causal na Responsabilidade Civil. São Paulo.
LTr, p.4, 2005.
40
Como são os casos em que se aplica a responsabilidade objetiva. O tema que será abordado
quando for explicada a responsabilidade do empregador nos casos de acidentes do trabalho e
doenças ocupacionais.
41
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo De. Proteção Jurídica à Saúde do Trabalhador. 3ª ed. São Paulo.
LTr, p.232, 2001.
42
GONÇALVES, Carlos Roberto. Comentários ao Código Civil. v. 11, p.318, 2003.
43
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo De. Proteção Jurídica à Saúde do Trabalhador. 3ª ed. São Paulo.
LTr, p.232, 2001.
44
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4ª ed. São Paulo. LTr, p.144, 2008.
22

Podem ser incluídos nesse grupo especialmente os acidentes causados por culpa
exclusiva da vítima, caso fortuito, força maior ou fato de terceiro.”45 Nessas
hipóteses, o acidente não têm relação direta com o exercício do trabalho e nem
pode ser evitado ou controlado pelo empregador.
Será caracterizada a culpa exclusiva da vítima “quando a causa única do
acidente do trabalho tiver sido a sua conduta, sem qualquer ligação com o
descumprimento das normas legais, contratuais, convencionais, regulamentares,
técnicas ou do dever geral de conduta por parte do empregador,”46 ou seja, quando
o trabalhador de maneira intencional desliga o sensor de segurança da máquina e
logo em seguida sofre um acidente por essa conduta.
O caso fortuito ou força maior podem ser caracterizados como “fenômenos
da natureza, um acontecimento imprevisível, inevitável ou estranho ao
comportamento humano, por exemplo, um raio, uma tempestade, um terremoto”47.
Nesses casos, não há responsabilidade do empregador por falta de nexo causal do
evento com o exercício do trabalho.

Mesmo tendo ocorrido no local e horário de trabalho, não foi a prestação


dos serviços ou o empregador que causou o acidente, porquanto não é
possível fazer a prevenção daquilo que por definição é imprevisível, nem de
48
impedir o que é naturalmente inevitável.

O fato de terceiro também é incluído entre as possibilidades que impedem a


formação do nexo causal em face do empregador e o acidente provocado por
terceiro, ainda que no local e horário de trabalho, porque “não há participação direta
do empregador ou do exercício da atividade laboral para a ocorrência do evento” 49
danoso. Fato de terceiro causador do acidente do trabalho, “é aquele ato ilícito
praticado por alguém devidamente identificado que não seja nem o acidentado, nem
o empregador ou seus prepostos.”50 Sendo assim, “ocorre o dano, identifica-se o
responsável aparente, mas não incorre este em responsabilidade, porque foi a
45
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4ª ed. São Paulo. LTr, p.144, 2008.
46
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4ª ed. São Paulo. LTr, p.145, 2008.
47
MUKAI, Toshio. Direito Administrativo Sistematizado. São Paulo. Saraiva, p.499, 1999.
48
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4ª ed. São Paulo. LTr, p.147, 2008.
49
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4ª ed. São Paulo. LTr, p.150, 2008.
50
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4ª ed. São Paulo. LTr, p.150, 2008.
23

conduta do terceiro que interveio para negar a equação agente-vitima, ou para


afastar do nexo causal o indigitado autor.”51
O acidente do trabalho gera consequências de ordem material para o
trabalhador, e neste sentido deve-se comprovar o nexo de causa e efeito, assim
como a prejudicialidade, que é a demonstração da espécie de dano sofrido pelo
obreiro. A avaliação dos prejuízos sofridos pelo empregado deve ir além da esfera
material, recaindo também sobre as consequências sociais que este passou a sofrer
após a ocorrência do acidente.

2.2. DOENÇAS OCUPACIONAIS

De acordo com o artigo 20 da Lei 8.213/1991, consideram-se acidente do


trabalho: a doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo
exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva
relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; a doença do
Trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições
especiais em que o trabalho é realizado e que com ele se relacione diretamente,
constante da relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social.
Portanto, a legislação equiparou as doenças do trabalho a acidentes do trabalho,
com as diversas consequências daí advindas. São as chamadas doenças
equiparadas a acidente do trabalho. Enquanto as doenças profissionais são
decorrentes de trabalho peculiar exercido, as doenças do trabalho decorrem de
condições especiais de trabalho desempenhado.
Atualmente, a “relação elaborada pelo Ministério da Previdência Social
encontra-se no final do Regulamento da Previdência Social, ou seja, no Anexo II do
Decreto nº 3.048/1999, arrolando as chamadas “tecnopatias” ou “ergonopatias””,52
significa dizer as moléstias laborativas ou doenças profissionais típicas, inerentes a
alguns trabalhos peculiares ou a determinadas atividades laborativas, com nexo
causal presumido, razão pela qual o infortunado fica dispensado de comprovar o

51
PEREIRA, Caio Mário Da Silva. Responsabilidade Civil. São Paulo. LTr, p.301, 2002.
52
MARTINS, Sergio Pinto: Direito da Seguridade Social. 23ª ed. São Paulo. Atlas, p.407, 2006.
24

mesmo. Enquanto que as doenças do trabalho, ““mesopatia”, também denominadas


moléstias profissionais atípicas, normalmente decorrentes das condições de
agressividade existentes no local de trabalho”53, que agiram decididamente, seja
para acelerar, eclodir ou agravar a saúde do trabalhador.
Para a identificação do nexo causal nas doenças ocupacionais exige-se
“maior cuidado e pesquisa, pois nem sempre é fácil comprovar se a enfermidade
apareceu ou não por causa do trabalho.”54 Existem situações que “serão
necessários exames complementares para diagnósticos diferenciais, com recursos
tecnológicos mais apurados, para formar convencimento quanto à origem ou as
razões do adoecimento.”55
Diante dos significados específicos de doença profissional e doença do
trabalho, a denominação “doenças ocupacionais” passou a ser adotada como o
gênero mais próximo que abrange as modalidades das doenças relacionadas com o
trabalho.
A NR-7 da Portaria nº 3.214/1978, que regulamenta o Programa de Controle
Médico de Saúde Ocupacional, faz referencia às doenças ocupacionais ou
patologias ocupacionais, como vocábulo gênero. Para evitar a expressão doença
profissional ou do trabalho, é preferível englobá-las na designação genérica de
doenças ocupacionais.

53
NETO, José Affonso Dallegrave. Responsabilidade Civil no Direito do Trabalho. 2º ed. São
Paulo. LTr, p.218, 2007.
54
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4ª ed. São Paulo. LTr, p.136, 2008.
55
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4ª ed. São Paulo. LTr, p.136, 2008.
25

3. CONSEQUÊNCIAS PREVIDENCIÁRIAS E NA RELAÇÃO DE EMPREGO DO


ACIDENTE DO TRABALHO E DOENÇA OCUPACIONAL

O objetivo deste capitulo não é exaurir a matéria sobre os benefícios


previdenciários oriundos dos acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, mas
apresentar apenas os aspectos relevantes ao desenvolvimento do trabalho proposto.
Tanto o acidente do trabalho como as doenças ocupacionais apresentam
uma série de consequências jurídicas. Efetivamente, a própria Constituição Federal
de 1988, no artigo 7º, inciso XXVIII, prevê o direito do empregado urbano e rural ao
“seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a
indenização a que está obrigado, quando incorre em dolo ou culpa”. Além disso,
mesmo no âmbito do contrato de trabalho, a Lei 8.213/1991, no artigo 118, prevê a
chamada estabilidade56 provisória acidentária, garantindo a manutenção no emprego
por certo tempo. Além do seguro e da indenização mencionados, há também as
consequências previdenciárias decorrentes do acidente do trabalho e da doença
ocupacional, quais sejam: auxílio-doença acidentário; auxílio-acidente;
aposentadoria por invalidez; e reabilitação.

3.1. AUXÍLIO-DOENÇA ACIDENTÁRIO E AUXÍLIO-ACIDENTE

Ocorrido o acidente do trabalho, ficando o empregado sem condições de


exercer suas atividades (incapacidade laborativa) nos primeiros 15 dias de
afastamento, compete à empresa pagar o salário integral devido ao empregado.
(artigos 59 e 60, §3º, da Lei 8.213/1991). Se persistir a incapacidade, a partir do 16º
dia do afastamento da atividade, o empregado passa a gozar de auxílio-doença
acidentário. Efetivamente, o auxílio-doença (no caso, acidentário) é devido ao
segurado que ficar incapacitado para o seu trabalho, ou para a sua atividade
habitual, por mais de 15 dias consecutivos.

56
A estabilidade acidentaria é prevista no artigo 118 da Lei nº 8.213/1991. A estabilidade provisória
será abordada adiante quando forem expostas as consequências previdências dos acidentes do
trabalho e doenças ocupacionais.
26

De acordo com o Decreto 3.048/1999, artigo 75, §3º, se concedido novo


benefício decorrente da mesma doença dentro de sessenta dias contados da
cessação do benefício anterior, o empregador fica desobrigado do pagamento
relativo aos quinze primeiros dias de afastamento, prorrogando-se o benefício
anterior e descontando-se os dias trabalhados, se for o caso. O §4º do mesmo
dispositivo, na redação determinada pelo Decreto nº 5.545/2006, estabelece que se
o segurado empregado, por motivo de doença, afasta-se do trabalho durante quinze
dias, retornando à atividade no décimo sexto dia, e se dela voltar a se afastar dentro
de sessenta dias desse retorno, em decorrência da mesma doença, fará jus ao
auxílio-doença a partir da data do novo afastamento.
A empresa que dispuser de serviço médico, próprio ou convenio, terá a seu
cargo o exame médico e o abono das faltas correspondentes ao período referido,
(15 dias), somente devendo encaminhar o segurado à perícia médica da Previdência
Social quando a incapacidade ultrapassar 15 dias. De acordo com a atual redação
do artigo 61 da Lei 8.213/1991, determinada pela Lei 9.032/1995, o auxílio-doença,
inclusive decorrente de acidente do trabalho, consistirá numa renda mensal
correspondente a 91% do salário-de-benefício. O valor do salário-de-beneficio é a
média das contribuições feitas pelos segurados correspondentes a 80% do período
contributivo57, multiplicada pelo fator previdenciário58. Os critérios para o cálculo do
salário-de-benefício constam a partir do artigo 31 do Decreto 3.048/1999.
O segurando em gozo de auxílio-doença, insusceptível de recuperação para
sua atividade habitual, mas com capacidade de trabalho, deverá submeter-se a
processo de reabilitação profissional para o exercício de outra atividade. Não
cessará o benefício até que seja dado como habilitado para o desempenho de nova
atividade que lhe garanta a subsistência ou, quando considerado não recuperável,
for aposentado por invalidez. O segurado empregado em gozo de auxílio-doença
será considerado pela empresa como licenciado. A empresa que garantir ao
segurado licença remunerada ficará obrigada a pagar-lhe durante o período de
auxílio-doença a eventual diferença entre o valor deste e a importância garantida
pela licença.

57
Período contributivo corresponde ao período em que o segurado verteu contribuições ao Regime
Geral de Previdência Social.
58
Fator previdenciário: Criado com o objetivo de equiparar a contribuição do segurado ao valor do
benefício baseia-se em quatro elementos: alíquota de contribuição, idade do trabalhador, tempo de
contribuição à Previdência Social e expectativa de sobrevida do segurado.
27

O auxilio-acidente é concedido, como indenização, ao segurado quando,


após consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza,
resultarem “sequelas (incapacidade permanente)”59 que impliquem redução da
capacidade para o trabalho que habitualmente exercia (artigo 86 da Lei 8.213/1991,
com redação determinada pela Lei 9.528/1997). Trata-se, portanto, de benefício
previdenciário devido em caso de sequelas, acarretando a redução da capacidade
laboral.
O auxilio-acidente é devido a partir do dia seguinte ao da cessação do
auxílio-doença, independentemente de qualquer remuneração ou rendimento
auferido pelo acidentado, vetada a sua acumulação com qualquer aposentadoria. O
recebimento de salário ou concessão de outro benefício, exceto de aposentadoria,
não prejudicará a continuidade do recebimento do auxílio-acidente. O beneficiário
receberá mensalmente o equivalente a 50% do salário-de-benefício, sendo devido
até a véspera do inicio de qualquer aposentadoria ou até a data do óbito do
segurado.

3.2. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ E REABILITAÇÃO PROFISSIONAL

A aposentadoria por invalidez é devida ao segurado que, estando ou não em


gozo de auxílio-doença, foi considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para
o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto
permanece nessa condição (artigo 42 da Lei 8.213/1991). A concessão de
aposentadoria por invalidez depende da verificação da condição de incapacidade
mediante exame médico-pericial a cargo da Previdência Social, podendo o
segurando, às suas expensas, fazer-se acompanhar de médico de sua confiança.
A aposentadoria por invalidez será devida a partir do dia imediato ao da
cessação do auxílio-doença. No entanto, concluindo a perícia médica inicial pela
existência de incapacidade total e definitiva para o trabalho, a aposentadoria por
invalidez será devida ao segurado empregado, a contar do 16º dia do afastamento

59
GONÇALVES, Edwar Abreu. Manuel de Segurança e Saúde no Trabalho. 3ª ed. São Paulo. LTr,
p.1053, 2006.
28

da atividade, ou a partir da entrada do requerimento, se entre o afastamento e a


entrada do requerimento decorrer mais de 30 (trinta) dias.
O beneficiário da aposentadoria por invalidez, inclusive a decorrente de
acidente do trabalho, consistirá numa renda mensal correspondente a 100% do
salário-de-benefício (artigo 44 da Lei 8.213/1991 com redação determinada pela Lei
9.032/1995). O valor da aposentadoria por invalidez do segurando que necessitar da
assistência permanente de outra pessoa será acrescido de 25%.
O aposentado por invalidez que retorna voluntariamente à atividade tem sua
aposentadoria automaticamente cancelada, a partir da data do retorno (artigo 46).
Na aposentadoria por invalidez, fica suspenso o contrato de trabalho, eis que,
atualmente, o referido benefício previdenciário não é definitivo, como se verifica do
artigo 42 caput, in fine, da Lei 8.213/1991 e artigo 46 do Decreto 3.048/1999. De
acordo com o §1º do artigo 475 da CLT, recuperando o empregado a capacidade de
trabalho, e sendo a aposentadoria cancelada, ser-lhe-á assegurado o direito à
função que ocupava ao tempo da aposentadoria, facultado, porém, ao empregador o
direito de indenizá-lo por rescisão do contrato de trabalho, nos termos dos artigos
477 e 478, salvo na hipótese de ser ele portador de estabilidade, quando a
indenização deverá ser paga na forma do artigo 497 da CLT “extinguindo-se a
empresa, sem a ocorrência de motivo de força maior, ao empregado estável
despedido é garantida a indenização por rescisão do contrato por prazo
indeterminado, paga em dobro.”
A habilitação e a reabilitação profissional e social deverão proporcionar ao
beneficiário incapacitado parcial ou totalmente para o trabalho, e às pessoas com
deficiência60 os meios para a (re)educação e de (re)adaptação profissional e social
indicados para participar do mercado de trabalho e do contexto em que vive (artigo
89 da Lei 8.213/1991). A reabilitação torna a pessoa novamente capaz de
desempenhar atividades profissionais diferentes das que exercia, se estas forem
adequadas e compatíveis com a sua limitação.
Será concedida a Reabilitação Profissional aos trabalhadores que tenham a
sua capacidade laboral comprometida após sofrerem acidente do trabalho ou
doença ocupacional. Verificada por meio de perícia médica a incapacidade do

60
GUGEL, Maria Aparecida: Pessoas com Deficiência e o Direito ao Concurso Público. Goiânia.
UCG, p.31, 2006. Pessoas com deficiência é aquela com uma restrição física, mental ou sensorial, de
natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades
essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social.
29

trabalhador para realizar as atividades que exercia, mas não para outras atividades,
a Previdência Social encaminhará o segurado à Reabilitação Profissional. Poderá
ser concedido, no caso de habilitação e reabilitação profissional, auxilio para
tratamento ou exame fora do domicilio do beneficiário. Concluído o processo de
habilitação ou reabilitação social e profissional, a Previdência Social emitirá
certificado individual, indicando as atividades que poderão ser exercidas pelo
beneficiário, nada impedindo que este exerça outra atividade para a qual se
capacitar (artigo 92 da Lei 8.213/1991).
Após o retorno ao trabalho, “além da garantia de emprego prevista no artigo
118 da Lei nº 8.213/1991, o empregado reabilitado pode ter direito também à
estabilidade de forma mais ampla”61, conforme previsto no artigo 93 da Lei supra. A
dispensa de trabalhador reabilitado ou de pessoa com deficiência habilitada ao final
de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias, e a imotivada, no
contrato por prazo indeterminado, só poderá ocorrer após a contratação de
substituto de condição semelhante (§1º artigo 93 da Lei 8.213/1991).

3.3. PENSÃO POR MORTE

O acidente do trabalho, ou mesmo a doença ocupacional, pode ter


consequência fatal ao empregado, acarretando o óbito, surgindo o direito dos
dependentes62 à pensão por morte. A pensão é devida ao conjunto dos dependentes
do segurado que falecer, aposentado ou não (artigo 74 da Lei 8.213/1991).
O valor mensal da pensão por morte será de 100% do valor da
aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se estivesse
aposentado por invalidez na data de seu falecimento (artigo 75). A concessão da
pensão por morte não será protelada pela falta de habilitação de outro possível
61
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo De. Proteção Jurídica à Saúde do Trabalhador. 3ª ed. São Paulo.
LTr, p.225, 2001.
62
Disponível em: http://www.previdencia.gov.br/arquivos/office/3_100701-165317-251.pdf. Acesso em
29 de outubro de 2013. Os dependentes são divididos em três grupos: 1 – Cônjuge, companheiro ou
companheira, filho não emancipado, até 21 anos de idade, ou filho inválido de qualquer idade; 2 –
Pais; 3 – Irmão não emancipado, de qualquer condição, até 21 anos de idade, ou inválido de qualquer
idade. Havendo dependentes de um grupo, os demais não têm direito ao benefício. Dependentes do
segundo e terceiro grupos devem comprovar que dependiam economicamente do segurado falecido.
O valor da pensão por morte é dividido igualmente entre os dependentes.
30

dependente, e qualquer inscrição ou habilitação posterior que importe em exclusão


ou inclusão de dependente só produzira efeito a contar da data da inscrição ou
habilitação (artigo 76).

3.4. ESTABILIDADE ACIDENTÁRIA E SUSPENSÃO DA PRESTAÇÃO DO LABOR


EM RAZÃO DO ACIDENTE

A estabilidade acidentaria está prevista no artigo 118 da Lei nº 8.213/1991,


que apresenta a seguinte redação: “o segurado que sofreu acidente do trabalho tem
garantida, pelo prazo mínimo de doze meses, a manutenção do seu contrato de
trabalho na empresa, após a cessação do auxílio-doença acidentário,
independentemente de percepção de auxílio-acidente.”63 Como já mencionado, a
doença profissional e a doença do trabalho são consideradas acidente do trabalho
(Lei 8.213/1991, artigo 20), inclusive para os efeitos da estabilidade acidentária.
De acordo com o próprio artigo 118 da Lei nº 8.213/1991, a percepção do
auxílio-doença acidentário pelo trabalhador constitui pressuposto para o direito à
estabilidade provisória. Como o referido benefício previdenciário somente é devido
após 15 dias de afastamento da atividade, em razão de incapacidade para o
trabalho (artigo 59) esta suspensão do pacto laboral, por prazo superior a 15 dias, é
outro requisito para fazer jus à mencionada garantia de emprego.
Se o trabalhador “não recebeu o auxílio-doença acidentário, nem pôde ficar
afastado até a recuperação de suas condições de trabalho, em razão da falta da
empresa, não se admite que seja novamente prejudicado, devendo-se neutralizar as
consequências do ato ilícito.”64 Nesse sentido, o Tribunal Superior do Trabalho
converteu a Orientação Jurisprudencial nº 230 na Súmula nº 378, que no seu inciso
II dispõe que “São pressupostos para a concessão da estabilidade o afastamento
superior a 15 dias e a consequente percepção do auxílio-doença acidentário, salvo

63
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Meio Ambiente do Trabalho: direito, segurança e medicina
do trabalho. São Paulo. Método, p.79, 2006.
64
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Acidente do Trabalho: doenças ocupacionais e nexo técnico
epidemiológico. São Paulo. Método, p.76, 2007.
31

se constatada, após a despedida, doença profissional que guarde relação de


causalidade com a execução do contrato de emprego”.
O período mínimo de dose meses no emprego tem o objetivo de dar uma
garantia no retorno ao mercado de trabalho, pois é comum ocorrerem recaídas
dentro da estabilidade. Com latência tardia, algumas doenças costumam se agravar
logo depois do tratamento. E, se isso ocorrer, o empregado deve ser afastar
novamente do emprego para se tratar e voltar a ter condições de trabalhar; a
estabilidade acidentária é renovada nesse caso. Além disso, o período permite que
se dissipem prevenções que possam ter sido criadas na empresa contra o
empregado e dúvidas acerca de sua capacidade de trabalho.
Discute-se na doutrina se o acidente de trabalho configura hipótese de
suspensão65 ou interrupção66 do contrato de trabalho. Na verdade, sendo os
primeiros 15 dias de afastamento remunerados pela empresa, não resta dúvida
tratar-se de interrupção do contrato de trabalho. A partir do 16º dia de afastamento,
embora o empregado não receba salario, passa a receber o auxílio-doença
acidentário pago pela Previdência Social. No entanto, todo o período de afastamento
por motivo de acidente do trabalho é considerado no contagem do tempo de serviço
(artigo 4º, parágrafo único, da CLT) sendo devidos os respectivos depósitos do
FGTS (Lei 8.036/1990, artigo 15, §5º, acrescentado pela Lei 9.711/1998).
Além disso, não é considerada falta ao serviço, para efeito do direito de
aquisição de férias, a ausência do empregado por motivo de acidente do trabalho
(artigo 131, inciso lll, da CLT). Diante disso, a partir do 16º dia de afastamento,
observa-se certa dificuldade na subsunção do acidente do trabalho como hipótese
de suspensão ou de interrupção do contrato de trabalho, tendo em vista a existência
de elementos pertinentes a ambos os casos. Efetivamente, embora o salario não
seja pago pelo empregador (o que é inerente à suspensão), o tempo de serviço é

65
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 3ª ed. São Paulo. LTr, p.1054,
2004. Na suspensão contratual ficam suspensas as principais obrigações contratuais tanto do
empregado quanto do empregador, razão pela qual o empregado não irá prestar serviços ao
empregador, sua principal obrigação contratual, e o empregador, por sua vez, não pagará salários,
sua principal obrigação. Como regra, não se conta tempo de serviço referente ao tempo em que o
contrato de trabalho está suspenso
66
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 3ª ed. São Paulo. LTr, p.1054,
2004. A interrupção contratual, diferentemente da suspensão contratual, torna sem efeito apenas uma
obrigação do contrato de trabalho, qual seja: a prestação de serviços por parte do empregado. As
obrigações do empregador, nesse caso, se mantêm inalteradas, inclusive a obrigação relativa ao
pagamento de salários. Como regra, o tempo de interrupção será contado para efeitos de tempo de
serviço.
32

computado, tal como ocorre na interrupção do contrato de trabalho. A tendência


majoritária é considerar que, no acidente do trabalho, até o 15º dia de afastamento,
tem-se hipótese de interrupção do contrato de trabalho; a partir do 16º dia, observa-
se uma suspensão sui generis do pacto laboral.
Mesmo assim, procurando centrar-se no elemento predominantemente
verificado, entende-se que o acidente de trabalho é hipótese de interrupção do
contrato de trabalho, embora com certas especificidades, pois o empregado recebe
salário (até o 15º dia) e, eventualmente o respectivo período de afastamento é
computado no tempo de serviço. Assim, seguindo o entendimento de parte da
doutrina67, “todo o período de afastamento em razão de acidente do trabalho pode
ser visto como hipótese (diferenciada) de interrupção do contrato de trabalho, pois é
computado no tempo de serviço”68 (artigos 4º, parágrafo único, e 131, inciso III, da
CLT; artigo 15, § 5º, da Lei 8.06/1990; Súmula 46 do TST). A peculiaridade é que os
primeiros 15 dias de afastamento devem ser remunerados pela empresa
(interrupção propriamente) e, a partir disso, passa a ser concedido o benefício
previdenciário pelo INSS (artigos 59, caput, e 60, § 3º, da Lei 8.213/1991).

67
OLIVEIRA, Francisco Antônio de: Consolidação das Leis do Trabalho Comentada. 2ª ed. São
Paulo. RT, p.43, 2000.
68
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Acidente do Trabalho: doenças ocupacionais e nexo técnico
epidemiológico. São Paulo. Método, p.75, 2007.
33

4. RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR

O objetivo deste capitulo está longe de esgotar os instigantes e profícuos


debates que podem ser desencadeados na apreciação da matéria da
responsabilidade civil do empregador. O que se almeja é apresentar os aspectos
relevantes ao desenvolvimento do trabalho proposto.
A responsabilidade objetiva ainda gera controvérsias e a responsabilidade
civil com apoio na culpa (subjetiva) é “uma realidade indiscutível, que sempre que o
lesado pretender indenização, por ter sofrido acidente do trabalho ou doença
ocupacional, deve-se verificar primeiramente se o empregador incidiu em alguma
conduta culposa ou antijurídica.”69 É dentro deste panorama jurídico que vem
ganhando cada vez mais espaço na doutrina justrabalhista a discussão acerca do
tema atinente à responsabilidade civil do empregador no acidente de trabalho,
notadamente à luz do Código Civil, que inovou a questão ao instituir, no parágrafo
único de seu artigo 927, a responsabilidade civil objetiva com base na teoria do risco
criado70. Sem esquecer, é claro, o preceito contido no inciso XXVIII do artigo 7º da
Constituição Federal, que condiciona a responsabilização do empregador à
configuração de sua culpabilidade.
Diante da controvérsia, podemos extrair que o Código Civil estabelece duas
modalidades genéricas de responsabilidade civil, devendo haver a adequada
compatibilização da norma prevista no caput do artigo 927 com a aquela contida em
seu parágrafo único. Ao lado da responsabilidade civil subjetiva, que possui como
pressuposto a noção da culpabilidade (culpa ou dolo), o Código Civil, adotando um
sistema misto, instituiu a responsabilidade civil objetiva genérica, com fundamento
na ideia do risco criado.
Apresentadas “as duas espécies de responsabilidade civil, surge a seguinte
questão: qual a natureza da responsabilidade civil do empregador pelos danos

69
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4ª ed. São Paulo. LTr, p.157, 2008.
70
GIORDANI, José Acir Lessa. A Responsabilidade Civil Objetiva Genérica. 2ª ed. Rio de Janeiro.
Lumen Juris, p.90, 2007. Na teoria do risco criado, toda atividade desenvolvida que, por sua natureza,
produza um risco para terceiros ensejará o dever de reparar os danos causados sem que haja
necessidade de comprovação de culpa do autor do fato.
34

morais e patrimoniais sofridos pelo empregado em virtude de acidente de


trabalho?”71 Se pode afirmar que:

Em matéria de responsabilização do empregador por danos decorrentes de


acidente de trabalho, aplicar-se-á, conforme o caso, a regra geral da
responsabilidade civil subjetiva, fundamentada na ideia de ato ilícito (que
pressupõe a noção de culpa), ou a teoria da responsabilidade civil objetiva
72
pelo risco criado, em decorrência da natureza da atividade desenvolvida.

Este entendimento encontra-se em perfeita sintonia com os princípios e


normas constitucionais, além daqueles inerentes à própria relação de emprego,
promovendo, sem dúvida alguma, um legítimo movimento de acesso à tutela
jurisdicional.

4.1. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA

A responsabilidade subjetiva está ligada à ideia de culpa, seu principal


pressuposto. O artigo 186 do Código Civil manteve a responsabilização subjetiva
como regra geral, “assim considerando, a teoria da responsabilidade subjetiva erige
em pressuposto da obrigação de indenizar, ou de reparar o dano, o comportamento
culposo do agente, ou simplesmente a culpa, abrangendo no seu contexto a culpa
propriamente dita e o dolo do agente.”73 A Constituição Federal no seu artigo 7º,
inciso XXVIII, prevê o seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador,
sem excluir a indenização a que está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.
Pela concepção clássica da responsabilidade civil subjetiva:

Só haverá obrigação de indenizar o acidentado se restar comprovado que o


empregador teve alguma culpa no evento, mesmo que de natureza leve ou
levíssima. A ocorrência do acidente ou doença proveniente do risco normal
da atividade da empresa não gera automaticamente o dever de indenizar,

71
VILLELA, Fábio Goulart. Responsabilidade Civil do Empregador no Acidente de Trabalho.
Revista LTr. São Paulo, v. 70, n. 7, p.839, jul. 2006.
72
VILLELA, Fábio Goulart. Responsabilidade Civil do Empregador no Acidente de Trabalho.
Revista LTr. São Paulo, v. 70, n. 7, p.446, jul. 2006.
73
PEREIRA, Caio Mário Da Silva. Responsabilidade Civil. São Paulo. LTr, p.35, 2002.
35

restando à vitima nessa hipótese apenas a cobertura do seguro de acidente


74
do trabalho, conforme as normas da Previdência Social.

Com base em “uma interpretação meramente gramatical ou literal do


dispositivo constitucional acima destacado, poder-se-ia concluir que a natureza
desta responsabilidade civil do empregador seria inegavelmente subjetiva, haja vista
o condicionante de culpabilidade contido no referido preceito (“quando incorrer em
dolo ou culpa”).75 E, de fato, a responsabilidade civil do empregador, nestes casos,
deve ser, em regra, subjetiva, ou seja, a obrigação de reparar os danos morais e
patrimoniais sofridos pelo empregado em razão de acidente de trabalho está
condicionada, além da configuração do nexo de causalidade, à comprovação do
dolo ou da culpa do empregador. Portanto, “não há como se negar que, como regra
geral, indubitavelmente a responsabilidade civil do empregador, por danos
decorrentes de acidente de trabalho, é subjetiva, devendo ser provada alguma
conduta culposa de sua parte, em algumas das modalidades possíveis, incidindo de
forma independente do seguro acidentário, pago pelo Estado.”76

4.2. RESPONSABILIDADE OBJETIVA

A constatação de que o empregado “tenha sofrido algum tipo de dano é


pressuposto indispensável para o cabimento da indenização”77, pode ocorrer à
hipótese de indenização sem culpa, como nos casos de responsabilidade objetiva,
mas não há possibilidade de se acolher qualquer pedido de reparação quando não
houver dano caracterizado ao empregado, que tanto pode ser material, moral ou
estético.

74
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 4ª ed. São Paulo. LTr, p.90, 2008.
75
VILLELA, Fábio Goulart. Responsabilidade Civil do Empregador no Acidente de Trabalho.
Revista LTr. São Paulo, v. 70, n. 7, p. 844, jul. 2006.
76
FILHO, Rodolfo Pamplona. Temas Atuais – Direito Civil e Direito do Trabalho. 2ª ed. Editora
Leiditathi, p.117, 2005.
77
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença
Ocupacional. 3ª ed. São Paulo. LTr, p.197, 2007.
36

Além da cobertura previdenciária (Seguro de Acidente do Trabalho78), há a


reparação do dano decorrente daquele que tinha o dever de zelar pela segurança
física de seus empregados. Alias, “observe-se que as reparações infortunísticas –
benefícios previdenciários – são tarifadas, não ressarcindo integralmente o dano
emergente e o lucro cessante advindos do acidente.”79 A indenização previdenciária
busca apenas “uma solução indenizatória com vistas à remuneração do trabalhador
que, devido ao acidente, diminuiu ou desapareceu. Isso faz com que o complemento
da indenização possa, baseado nos princípios da responsabilidade com culpa,
buscar uma reparação mais ampla, complementar, ou seja, a civil.”80
A distinção está no fato do INSS cobrir todos os acidentes e doenças com a
preocupação de não deixar o segurado desprotegido, notadamente nos acidentes e
doenças ocupacionais. Quando há “culpa do empregador ou no caso de acidente
oriundo de atividade em que o risco é previsível da própria atividade normal da
empresa, deverá o agente indenizar a vítima, além do benefício previdenciário, pois,
do contrario, o simples custeio mensal do SAT eximiria o empregador de qualquer
indenização”81, o que poderia fomentar o descumprimento da legislação referente à
segurança do trabalho, o que é inadmissível, mormente num país recordista mundial
de acidente do trabalho.
Assim, “eventual dano imputado ao empregador escapará ao valor
acobertado pelo seguro social, assegurando ao infortunado a ampla reparação por
meio de ação judicial. Diante dessa circunstancia, a responsabilidade civil estará
embasada no ato culposo – dolo ou culpa simples – do empregador, conforme artigo
7º, XXVIII, da Constituição Federal.”82 Ressalve-se o caso em que a atividade
normalmente exercida pelo agente implique riscos à vitima, situação em que a
responsabilidade civil será objetiva, conforme preconiza o parágrafo único do artigo
927 do Código Civil.

78
O Seguro de Acidente do Trabalho – SAT é um direito do trabalhador previsto na Constituição
Federal em seu artigo 7º, inciso XXVIII, sendo de responsabilidade do empregador o seu
recolhimento mediante pagamento de um adicional sobre a folha de salários de seus empregados,
com alíquotas que podem variar entre 1% a 3%, conforme o grau de risco da atividade preponderante
da empresa.
79
NETO, José Affonso Dallegrave. Responsabilidade Civil no Direito do Trabalho. 2º ed. São
Paulo. LTr, p.185, 2007.
80
FERREIRA, Rosni; FERREIRA, Deyse. Guia Pratico de Previdência Social. São Paulo. LTr,
p.408, 1999.
81
NETO, José Affonso Dallegrave. Responsabilidade Civil no Direito do Trabalho. 2º ed. São
Paulo. LTr, p.185, 2007.
82
NETO, José Affonso Dallegrave. Responsabilidade Civil no Direito do Trabalho. 2º ed. São
Paulo. LTr, p.185, 2007.
37

A Constituição Federal assegura a todo trabalhador a redução dos riscos


inerentes ao trabalho. Nesse sentido é a dicção do artigo 7º, XXVIII, “XXVIII - seguro
contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a
que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa”. “Com esteio nesse
dispositivo, o trabalhador tem o direito fundamental de trabalhar em ambiente hígido
e salubre com redução e prevenção dos riscos concernentes à atividade laborativa
de modo a preservar a sua saúde e segurança física. Tal regramento tem como
destinatário o empregador.”83
Observa-se que a “prevenção de infortúnios no trabalho encerra valor
jurídico muito maior que a mera reparação do dano, vez que o respeito à dignidade
do trabalhador pressupõe a preservação de sua saúde física e mental.”84 Quando a
empresa empregadora constitui sua atividade econômica e dela retira o lucro com a
concorrência direta do serviço prestado por seus empregados, passa também a ter o
dever de assegurar a integral integridade física, psíquica, moral e mental dos seus
empregados. Nessa esteira, pertinente invocar os artigos 157, 162 e 166, todos da
Consolidação das Leis do Trabalho, os quais estabelecem a obrigatoriedade da
adoção de medidas que visam à prevenção de acidentes e doenças decorrentes do
trabalho. Em igual sentido dispõe o §1, do artigo 19, da Lei nº 8.213/1991, depois de
definir o acidente do trabalho “a empresa é responsável pela adoção e uso das
medidas coletivas e individuais de proteção da saúde e segurança do trabalhador”.
Não seria diferente, também, frente ao artigo 154 da CLT, que
expressamente declara que a observância das disposições sobre Medicina e
Segurança do Trabalho, prevista na Consolidação, “não desobriga as empresas do
cumprimento de outras disposições” relativas à matéria. Sua abrangência é ampla,
atinge qualquer tipo de norma cujo conteúdo verse sobre segurança e saúde.
Logo, cabe ao empregador obedecer toda e qualquer norma a respeito.

Em conformidade com o regramento exposto, conclui-se que o


ordenamento jurídico não só estabelece inúmeras medidas de prevenção da
saúde do trabalhador, como impõe ao empregador a obrigação de identificar
previamente os fatores de risco, eliminando-os do ambiente laboral, antes

83
MACHADO, Sidnei. O Direito à Proteção ao Meio Ambiente de Trabalho No Brasil: os desafios
para a construção de uma racionalidade normativa. São Paulo. LTr, p.88, 2001.
84
NETO, José Affonso Dallegrave. Responsabilidade Civil no Direito do Trabalho. 2º ed. São
Paulo. LTr, p.202, 2007.
38

que o empregado sofra as consequências danosas advindas daqueles


85
fatores.

Portanto, depreende-se do regramento demostrado, que todo o sistema


jurídico encontra-se calcado na preservação da qualidade do ambiente de trabalho e
na prevenção de acidentes e doenças ocupacionais. “Com outras palavras: o
empregador tem a obrigação de zelar pela conservação da saúde de seus
empregados, sendo que quando maior for a exposição do empregado a riscos
ambientais do trabalho, maior deverá ser o cuidado e a prevenção de acidentes.”86
Portanto, pode-se dizer que quando se trata de acidente do trabalho, com efeitos
meramente individuais, e causado por empresa que não exerce atividade
normalmente de risco, a responsabilidade civil do agente será subjetiva, aplicando-
se a parte final do artigo 7º, XXVIII, da Constituição Federal, que exige a prova de
culpa patronal. “Caso o acidente de trabalho (ou doença ocupacional) decorra de
atividade normalmente de risco (artigo 927, paragrafo único do Código Civil) a
responsabilidade será objetiva.”87
Não se olvide que em qualquer hipótese o empregador deve tomar todas as
medidas necessárias para evitar qualquer tipo de dano à integridade física, moral e
mental de seus empregados a fim de se livrar da condenação por reparação. “Nos
casos em que a atividade lucrativa da empresa apresente sérios riscos pela sua
própria e regular execução, a responsabilidade civil prescindirá da apuração de ato
culposo do agente.”88
Pelos parâmetros do artigo 927 do Código Civil, “para que haja indenização,
será necessário comparar o risco da atividade que gerou o dano com o nível de
exposição ao perigo dos demais membros da coletividade.”89 Qualquer um pode
tropeçar, escorregar e cair em casa ou na rua, ser atropelado na calçada por um
automóvel, independentemente de estar ou não no exercício de qualquer atividade,
podendo mesmo ser um desempregado ou aposentado. No entanto “se o risco a que

85
SWIECH, Maria Angela Szpak. Obrigações Patronais Quanto à Segurança e Saúde
Ocupacional. 2003.
86
NETO, José Affonso Dallegrave. Responsabilidade Civil no Direito do Trabalho. 2º ed. São
Paulo. LTr, p.209, 2007.
87
NETO, José Affonso Dallegrave. Responsabilidade Civil no Direito do Trabalho. 2º ed. São
Paulo. LTr, p.212, 2007.
88
NETO, José Affonso Dallegrave. Responsabilidade Civil no Direito do Trabalho. 2º ed. São
Paulo. LTr, p.213, 2007.
89
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de: Responsabilidade Civil Objetiva por Acidente do Trabalho:
teoria do risco. Revista LTr, vol. 68, p.412, abril de 2004.
39

se expõe o trabalhador estiver acima do risco médio da coletividade em geral,


caberá o deferimento da indenização, tão somente pelo exercício dessa atividade.”90
A omissão do empregador na eliminação do risco a que submete o seu
empregado configurará ato culposo em relação a eventual dano ou doença daí
decorrente. Tal culpa reside na negligência do dever de zelar pela saúde dos
empregados. Na prática, a configuração da atividade normal de risco, aludida do
parágrafo único do artigo 927 do Código Civil se dá pela técnica de comparação
setorial. Com efeito, é possível asseverar que determinado acidente em determinado
ramo de atividade empresarial encontra-se estaticamente, abaixo ou acima da
média.

Assim, por exemplo, a queimadura é um tipo de acidente raro na estatística,


do setor da construção civil; contudo, o traumatismo craniano decorrente de
queda livre é um acidente comum e bem acima da média em relação aos
demais ramos da atividade. Ainda, a contração de doença pulmonar é rara
no setor bancário, contudo a LER (lesão por esforço repetitivo) constitui
91
moléstia amiúde aos bancários.

Logo, é possível concluir que toda espécie de acidente, ocorrido em


determinado setor empresarial, que se encontra dentro de faixa estatística acima da
média da tabela de notificações acidentarias do INSS, será considerada como
decorrente de “atividade normal de risco”92, de que trata o parágrafo único 927 do
Código Civil. Assim, o empregado acidentado deverá demonstrar que o tipo de
acidente de que foi vitima é comum naquele ramo de atividades da empregadora,
carreando aos autos a respectiva tabela comparativa do INSS.

4.3. JURISPRUDÊNCIA SOBRE RESPONSABILIDADE DO ACIDENTE DO


TRABALHO

90
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de: Responsabilidade Civil Objetiva por Acidente do Trabalho:
teoria do risco. Revista LTr, vol. 68, p.412, abril de 2004.
91
NETO, José Affonso Dallegrave. Responsabilidade Civil no Direito do Trabalho. 2º ed. São
Paulo. LTr, p.215, 2007.
92
NETO, José Affonso Dallegrave. Responsabilidade Civil no Direito do Trabalho. 2º ed. São
Paulo. LTr, p.215, 2007.
40

A jurisprudência vem firmando posição no sentido de que a fixação da


indenização oriunda de acidente do trabalho ou doença ocupacional, tem o objetivo
de “compensar a vítima – considerando, para tanto, a sua condição econômica – e
ao mesmo tempo prevenir a reincidência do ato ilícito – levando-se em conta, para
tanto, a condição financeira do agente.”93
Obviamente, a indenização não deve levar ao enriquecimento sem causa,
porém, também não deve subestimar a lesão sofrida, razão pela qual se faz
necessário encontrar um ponto de equilíbrio, considerando todas as circunstâncias
atinentes ao caso concreto.
Nessa perspectiva, trazem-se ao presente trabalho como exemplos, cinco
casos julgados pelos Tribunais Regionais do Trabalho, para demostrar qual é o
entendimento aplicado pela jurisprudência nacional majoritária ao analisar casos de
acidentes no trabalho e doenças ocupacionais.

PROCESSO: 0001094-72.2010.5.01.0262 – Juiz: Ronaldo da Silva Callado


– Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região – Rio de Janeiro. EMENTA:
ACIDENTE DE TRABALHO. DANO MORAL. RESPONSABILIDADE DO
EMPREGADOR. Nos termos dos incisos I e II do art. 157 da CLT, cabe à
empresa cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do
trabalho, bem como instruir os empregados, através de ordens de serviços,
quanto às precauções que deve tomar no sentido de evitar acidentes de
trabalho, sob pena de incorrer em “ilicitude por violação de normas de
proteção” (Luis Manuel Teles de Menezes Leitão. Direito das obrigações.
Volume 1, 6ª ed., Coimbra, Almedina, outubro 2007, p. 296). E, no caso em
tela, mais grave foi a conduta da ré, permitindo que o autor, ocupante da
função de porteiro, transportasse vidro, função diversa da sua, sem o devido
preparo e orientação, desprovido das condições mínimas de segurança.
Diante do risco potencial da natureza da atividade desempenhada pelo
empregado - manuseio com vidros - necessário se faz analisar a
responsabilidade do empregador sob à ótica da responsabilidade objetiva,
pois o inciso XXVIII, do art. 7º, da Constituição da República, não é
impedimento para a aplicação do disposto no parágrafo único do art. 927,
do Código Civil, quando se tratar de atividade de risco (Enunciado 377 do
94
CEJ/CJF).

No caso concreto julgado pelo Tribunal Regional do Trabalho do Rio de


Janeiro, verifica-se claramente a aplicação do disposto no parágrafo único do artigo
927 do Código Civil, responsabilidade objetiva, pois a empresa empregadora é uma
vidraçaria, e o empregado feriu a mão enquanto segurava um vidro, portanto o
acidente sofrido pelo empregado está relacionado à atividade normal de risco da

93
NETO, José Affonso Dallegrave. Responsabilidade Civil no Direito do Trabalho. 2º ed. São
Paulo. LTr, p.215, 2007.
94
TRT da 1ª Região: PROCESSO: 0001094-72.2010.5.01.0262.
41

empregadora. A empresa foi condenada ao pagamento de R$ 8.000,00 (oito mil


reais) a titulo de indenização por danos morais, oriundos do acidente de trabalho,
devido à falta de cautela e pelo não atendimento à NR-6.

PROCESSO: 0001025-05.2011.5.02.0221 – Juiz: PAULO EDUARDO


VIEIRA DE OLIVEIRA – Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região – São
Paulo. EMENTA: ACIDENTE DO TRABALHO. ÓBITO DO TRABALHADOR.
RESPONSABILIDADE CIVIL PATRONAL. CONFIGURAÇÃO. Longe de ter
havido qualquer responsabilidade da vítima pelo acidente do trabalho que
ceifou sua vida, evidencia-se no processado a absoluta insegurança e risco
ambiental no local de trabalho, expondo os trabalhadores a todo tipo de
risco de lesões, tal como ocorreu com o de cujus. É forçoso concluir que a
empresa demandada não cumpriu com o dever que lhe é imposto de efetiva
eliminação dos riscos no ambiente de trabalho, violando os mandamentos
estampados no art. 157, inciso I e II, da CLT e §1º, art. 19, da Lei nº.
8213/91. Em face do exposto, emerge dos autos a irrefragável culpa da
reclamada pelo acidente de trabalho, em razão do total descumprimento
das normas de segurança e saúde no trabalho, pelo que é devida a
reparação civil. Assim sendo, materializada no processado a tríplice
concorrência para a caracterização da responsabilidade civil da recorrente
(dano, nexo causal e culpa), exsurge inconteste o dever de indenizar os
patentes danos materiais e morais sofridos. Mostra-se irrepreensível,
portanto, o decisum de origem, pelo que se nega provimento ao apelo da
95
reclamada.

No caso concreto julgado pelo Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo,


a condenação da empresa empregadora não se deu com base na responsabilidade
objetiva, e sim subjetiva, pois a empregadora não tinha treinou o empregado para
realizar qualquer trabalho de manutenção no interior do quadro de alta tensão.
Restou ainda demonstrado, pela prova oral colhida em audiência, que o empregado
foi designado para fazer a manutenção da máquina e que a operação não impunha
o desligamento do sistema de energia elétrica, evidenciando a responsabilidade da
empresa pelo acidente, já que permitiu que pessoa não autorizada trabalhasse no
local. A empresa foi condenada ao pagamento de R$ 200.000,00 (duzentos mil
reais) a titulo de indenização por danos morais, oriundos do acidente de trabalho.

PROCESSO: 0000165-93.2011.5.03.0150 – Tribunal Regional do Trabalho


da 3º Região – Minas Gerais. EMENTA: INDENIZAÇÃO. DOENÇA
DO TRABALHO. Para que haja o dever de reparação, exige-se a presença
concomitante dos seguintes requisitos: uma conduta ilícita do empregador
(dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva), o dano e, finalmente, o nexo de
causalidade entre este e aquela, nos termos dos artigos 186 e 927, caput,
do Código Civil. Comprovado o nexo causal entre a atividade laboral do
reclamante e o mal de que foi acometido, bem como a culpa do

95
TRT da 2ª Região: PROCESSO: 0001025-05.2011.5.02.0221.
42

empregador, mantém-se a condenação ao pagamento das indenizações por


96
danos morais e materiais.

No caso concreto julgado pelo Tribunal Regional do Trabalho de Minas


Gerais, a condenação da empresa empregadora deu-se com base na
responsabilidade subjetiva, porque por meio do laudo médico pericial contatou-se
que a doença ocupacional (DORT) do empregado teve como causa e origem
contributiva os riscos ergonômicos presentes no ambiente de trabalho. O empregado
teve perda parcial permanente da capacidade laborativa, motivo pelo qual a
empregadora foi condena a pagar pensão mensal no valor de 5% do valor salário
recebido pelo empregado, e ainda, a empresa foi condenada a pagar R$ 7.000,00
(sete mil reais) a titulo de danos morais, oriundos da doença ocupacional adquirida.

PROCESSO: 0001414-75.2011.5.04.0401 – Juiz: Max Carrion Brueckner –


Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região – Rio Grande do Sul. EMENTA:
ACIDENTE DE TRABALHO. RESPONSABILIDADE CIVIL
EXTRACONTRATUAL SUBJETIVA. CULPA NO EVENTO DANOSO.
NEGLIGÊNCIA DO EMPREGADOR. DEVER GERAL DE CAUTELA. Não
comprovada a adoção de medidas que garantam um ambiente de trabalho
saudável e seguro, a culpa do empregador na ocorrência do infortúnio
laboral decorre da ausência de adoção de procedimentos preventivos da
ocorrência do dano, em violação do disposto no artigo 157 da CLT e no
artigo 19 da Lei nº 8.213/91, do que emerge o dever de indenizar.
Responsabilidade civil extracontratual subjetiva do reclamado caracterizada
pela culpa no evento danoso, diante da negligência no dever geral de
97
cautela imposto ao empregador.

No caso concreto julgado pelo Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande


do Sul, verifica-se a aplicação da responsabilidade objetiva com base no artigo 186
do Código Civil, e no parágrafo único do artigo 927 do Código Civil, porque a
empresa empregadora foi negligente por não reduzir os riscos inerentes ao trabalho.
O empregado feriu o joelho durante a atividade de pintura, tarefa determinada pela
empregadora. Após intervenção cirúrgica e sessões de fisioterapia, o empregado
recuperou-se da lesão sofrida. A empresa foi condenada ao pagamento de
R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais) a titulo de indenização por danos morais,
oriundos do acidente de trabalho.

PROCESSO: 26293.2011.002.009.00.0 – Juiza: CÉLIA REGINA MARCON


LEINDORF– Tribunal Regional do Trabalho da 9º Região – Paraná.
EMENTA: ACIDENTE DE TRABALHO- RESPONSABILIDADE DO

96
TRT da 3ª Região: PROCESSO: 0000165-93.2011.5.03.0150.
97
TRT da 4ª Região: PROCESSO: 0001414-75.2011.5.04.0401.
43

EMPREGADOR QUANTO ÀS NORMAS DE SEGURANÇA- A culpa do


Reclamado mostra-se presente na modalidade de omissão quanto ao dever
geral de cautela. Nessa linha, a CLT, em seu artigo 157, determina que as
empresas devem "cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e
medicina do trabalho", sendo tal dever confirmado pela Lei nº 8.213/91, em
seu artigo 19, parágrafo 1º, que dispõe que "a Empresa é responsável pela
adoção e uso das medidas coletivas e individuais de proteção e segurança
da saúde do trabalhador". Registre-se que é responsabilidade do
empregador zelar pela segurança de seus empregados e, no presente caso,
deveria ter impedido que a obreira se aproximasse da máquina, já que tinha
havido um vazamento no local. Assim, a culpa da Reclamada fica
evidenciada pelo descumprimento de normas de segurança, saúde e
higiene, visando à redução dos riscos inerentes ao trabalho (art. 7º, XXII, da
98
CF).

No caso concreto julgado pelo Tribunal Regional do Trabalho do Paraná, a


condenação da empresa empregadora deu-se com base na responsabilidade
subjetiva, na modalidade de omissão quanto ao dever geral de cautela, devido à
falta de manutenção na máquina que originou o vazamento de gás, causando as
queimaduras na empregada. Considerando a conduta da empresa, a gravidade da
lesão, o impacto emocional, foi presumida a existência de abalo de ordem psíquica e
moral. A empresa foi condenada ao pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a
titulo de indenização por danos morais e R$ 10.000,00 (dez mil reais) a titulo de
ressarcimento dos valores pagos com remédios e tratamento psicológico, oriundos
do acidente de trabalho.

98
TRT da 9ª Região: PROCESSO: 26293.2011.002.009.00.
44

5. OS BENEFICIOS DA SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO

Atualmente, o conceito de qualidade de vida no trabalho envolve tanto os


aspectos físicos e ambientais como também os aspectos psicológicos do local de
trabalho. Muitas organizações estão percebendo que, ao melhorar a qualidade de
vida e aumentar a segurança no trabalho para seus empregados e suas famílias,
torna-se a empresa mais saudável, competitiva e produtiva no mercado, que
melhora sua imagem perante os clientes e fornecedores. Essa é umas das principais
funções da Saúde e Segurança no Trabalho, que está baseada em dois aspectos
importantes que são o bem-estar do trabalhador e a eficácia organizacional.
É indiscutível que o capital humano de uma organização tem influência
direta sobre a produtividade, o que leva a área de gestão de pessoas a preocupar-se
cada vez mais com o desgaste sofrido pelos profissionais durante o exercício de
suas funções, fazendo com que busquem formas inovadoras de promover a
qualidade de vida no trabalho. Tais ações vêm para contribuir, para elevar a
satisfação do trabalhador e a produtividade empresarial.

99
O atual ambiente organizacional caracteriza-se por uma turbulência
crescente, com as mudanças sucedendo-se a uma velocidade sem
precedentes. A partir do crescimento da economia, intensificou-se a
necessidade de reorganização das estruturas, da adoção de novas técnicas
de gestão administrativa e de um inovador processo produtivo a fim de
compatibilizar a organização com condições necessárias à sua
100
sobrevivência em um ambiente competitivo.

Quando a empresa torna o seu local de trabalho saudável, elimina


afastamentos e aposentadorias especiais de seus empregados. A empresa que se
preocupa com a qualidade de vida e segurança no trabalho, não só inibe as causas
de acidentes, mas também contribui para o conforto e bem-estar do trabalhador,
resultando num profissional mais disposto, mais receptivo e até mesmo mais criativo
em função de estar motivado. Os acidentes e doenças de trabalho geram gastos,
portanto, oferecer condições de segurança tornou-se requisito obrigatório às

99
GAMA, Cláudio Márcio Araújo da. Estratégia: Conceito de ambiente organizacional: Ambiente
organizacional é o conjunto de forças, tendências e instituições, tanto externas como internas à
empresa, que têm potencial para influenciar o seu desempenho.
100
Tecnologia da Informação nas Organizações - VII SEGeT – Simpósio de Excelência em Gestão e
Tecnologia – 2010.
45

empresas que desejam ser competitivas. Com a segurança, saúde e qualidade de


vida no trabalho, diretamente ligadas à responsabilidade social da empresa, é
preciso aliar os investimentos em prevenção, com a formação e treinamento de
trabalhadores e profissionais da área.
A segurança do trabalho é uma ciência multidisciplinar que se traduz
“basicamente, em confiança”101, no empregador, que se preocupa tanto com as
condições físicas, como mentais e sociais do trabalhador, com o objetivo de tornar o
trabalho prazeroso e saudável, tornando o emprego mais que uma forma de retirar o
seu sustento, para que o trabalhador possa encarar seu trabalho como algo
importante para sua própria satisfação pessoal. Para as organizações o investimento
nas condições de segurança do trabalho propicia reflexos vários aspectos:
pagamento dos adicionais de insalubridade e periculosidade, ações trabalhistas e
cíveis, taxa do seguro de acidente de trabalho, além de benefícios indiretos como
qualidade de vida no ambiente de trabalho, aumento do rendimento e principalmente
satisfação da necessidade básica de segurança.
As empresas “engajadas no preceito da qualidade total102, não podem
colocar de lado a qualidade de vida de seus trabalhadores e, por conseguinte, a
segurança e a saúde destes”103, porque seria impraticável qualidade total sem se
pensar em qualidade de vida no trabalho, que por sua vez, origina-se das condições
do ambiente, inicia-se então a busca do conforto e higiene ambiental, ergonomia e
prevenção contra acidentes.
Tendo como ideia básica o fato que as pessoas são mais produtivas quando
estão mais satisfeitas e envolvidas com o próprio trabalho, entende-se que
qualidade de vida no trabalho é baseada no princípio de que o comprometimento
com a qualidade ocorre de forma mais natural nos ambientes em que os
empregados encontram-se envolvidos nas decisões que influenciam diretamente
suas atuações. Desta forma os benefícios e vantagens das organizações que
investem em segurança do trabalho e na qualidade de vida, parte do princípio de
que a prevenção de acidentes é a forma mais coerente de ganhar tempo, reduzir
101
VIEIRA, Sebastião Ivone. Manual de Saúde e Segurança do Trabalho. Vol. II. Florianópolis.
Mestra, p.459, 2000.
102
CAMPOS, V. F. Gerência da Qualidade Total: estratégia para aumentar a competitividade da
empresa brasileira. Belo Horizonte. Fundação Cristiano Ottoni, p.13, 1989. Qualidade total significa
pensar uma política de qualidade nas empresas, pensar na qualidade de vida de seus trabalhadores,
no efetivo exercício de seus direitos trabalhistas, consolidando cada vez mais as instituições da
sociedade para afirmação do processo democrático na sociedade brasileira.
103
VENDRAME, Antônio Carlos. Gestão do Risco Ocupacional. São Paulo. IOB. 2008.
46

custos diretos e indiretos, além de ser menos traumático para os empregados e para
a sociedade. No entanto, as organizações ganham com o aumento da produtividade,
sem dúvida, melhores desempenhos, ao mesmo tempo em que se evita maiores
desperdícios, reduzindo custos operacionais.
Os trabalhadores se beneficiam tendo mais liberdade e responsabilidade de
tomar decisões, passam a ter mais satisfação com o trabalho executado,
melhorando assim seu desempenho. Passam a ter um ambiente melhor, tanto
psicológico como físico, dentro da organização, melhorando seu relacionamento
dentro do grupo, tornando mais participativo, passando a utilizar suas
potencialidades e talentos.

5.1. PREVENÇÃO DE ACIDENTE E DOENÇAS OCUPACIONAIS

A necessidade de uma ação preventiva, direta ou indireta, contra os


acidentes do trabalho é geralmente direcionada “para a redução dos efeitos da
patologia profissional e fabril.”104 Qualquer sistema de prevenção dos infortúnios do
trabalho há de partir do perfeito conhecimento de suas causas. A prevenção é
atitude antecipatória, porque o risco sempre está presente antes do evento danoso,
por isso a principal etapa do processo de prevenção é a de reconhecimento dos
riscos ocupacionais. Nesse caso, pelo risco já estar presente, será preciso intervir no
ambiente de trabalho. Reconhecer o risco é uma tarefa que exige observação
cuidadosa das condições ambientais, caracterização das atividades, entrevistas e
pesquisas.
Porém, há ocasiões em que o risco é identificado após o comprometimento
da saúde ou da vida do trabalhador, e com a implementação do Controle Médico de
Saúde Ocupacional - PCMSO105 (NR-7) e de Prevenção de Riscos Ambientais –

104
CAMPO, José Luiz Dias; CAMPO, Adelina Bitelli Dias. Acidentes Do Trabalho: Prevenção E
Reparação. São Paulo. LTr, p.35, 1991.
105
GONÇALVES, Edwar Abreu. Manuel de Segurança e Saúde no Trabalho. 3ª ed. São Paulo. LTr,
p.206, 2006: PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional, corresponde a um
programa técnico-preventivo a ser realizado pela empresa como parte integrante do conjunto mais
amplo de iniciativas no campo da proteção à saúde de seus empregados, devendo estar articulado
com o disposto na demais normas preventivas.
47

PPRA106 (NR-9), ambas do Ministério do Trabalho e Emprego, é possível obter um


diagnóstico precoce dos agravos à saúde e à vida do obreiro. Nesses casos,
enquanto a Medicina do Trabalho cumpre o seu papel preventivo, ao rastrear e
detectar o dano à saúde, caberá à Engenharia de Segurança intervir com rapidez no
ambiente para impedir que outros trabalhadores sejam ou continuem sendo
expostos aos riscos. Os dois programas aludidos são obrigatórios, além de
importantíssimos para empresa, a fim de evitar danos de toda ordem.
A adoção das medidas de controle, que representam uma etapa da
prevenção, será antecedida pela avaliação dos riscos, quando eles serão
quantificados para subsidiar seu controle. A referida intervenção se fará, na maioria
das vezes, nas fontes geradoras dos riscos, nas possíveis trajetórias e nos meios de
propagação dos agentes. Sendo assim, caberá à equipe de Saúde e Segurança,
juntamente com o empregador, especificar e propor equipamentos, alterações no
arranjo físico, obras e serviços nas instalações, procedimentos adequados, enfim,
uma série de recomendações técnicas pertinentes a projetos e serviços de
engenharia. O Médico do Trabalho, através dos exames necessários – clínicos e
laboratoriais, se acaso detectar quaisquer alterações no organismo/comportamento
do trabalhador, deve adotar medidas efetivas que resolvam a questão de pronto. A
conscientização do perigo e da necessidade de adaptação ao ambiente de trabalho
é sem dúvida o ponto de partida para melhorar a confiabilidade de todos os sistemas
de segurança e controle.
Há estudos107 que demonstram que existe correlação entre a incidência de
acidentes de trabalho e a prestação de jornada de trabalho extenuante.

As estatísticas demonstram que o índice de acidentes de trabalho em


sobrejornada é três vezes superior ao registrado em jornada normal em
função do cansaço e do desgaste físico que prejudicam o desempenho dos
trabalhadores além de causar uma reação mais lenta às condições de
riscos que porventura estejam presentes nos locais onde as tarefas são
108
desenvolvidas.

106
GONÇALVES, Edwar Abreu. Manuel de Segurança e Saúde no Trabalho. 3ª ed. São Paulo. LTr,
p.254, 2006: PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, estabelece a obrigatoriedade da
elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam
trabalhadores como empregados, visando à preservação da saúde e da integridade física dos
trabalhadores, por meio da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequentemente controle da
ocorrência de risco ambientas existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho.
107
VII Congresso Nacional de Excelência em Gestão.
108
LIMA, José Amaro Barcelos. A Sobrejornada e os Acidentes de Trabalho. Rio de Janeiro.
Senge, p.2, 2011.
48

A sobrejornada é uma das mais comuns causas de acidentes do trabalho,


porque a ampliação sistemática do horário de trabalho acentua, decisivamente, as
chances de ocorrência de acidentes do trabalho e de doenças ocupacionais. “Um
estudo francês mostrou que mais de 40% de uma amostra de acidentes
pesquisados aconteceram com trabalhadores que trabalhavam mais de 50 horas por
semana. Em um estudo brasileiro, 52% dos acidentes que aconteceram com
metalúrgicos foram produzidos quando eles estavam fazendo horas extras.”109
Sendo assim, há necessidade de um bom gerenciamento dos riscos, o que
poderá ser feito observando as etapas que são necessárias à prevenção, porque
gerenciar significa ter presente o que deve ser feito por antecipação do
acontecimento do acidente. Depois de acontecido, embora sejam tomadas todas as
providências para reequilibrar uma situação posta, sempre haverá resultado danoso,
de bens materiais e/ou imateriais. O risco é sempre potencial em qualquer atividade,
movimento, gesticulação, quanto às pessoas, e em qualquer empreendimento, tanto
físico/material, quanto de comunicação. Por isso há que preveni-lo adequadamente
através de um planejamento que exige etapas, como a organização de ideias, a
adequação à realidade, o controle permanente no desenvolvimento e, acima de
tudo, uma boa distribuição de funções sob uma orientação ou coordenação segura
daquilo que está sendo realizado. O risco, por sua vez, é algo que se antecipa ao
acontecimento danoso, e na maioria das vezes plenamente previsível.
Portanto, a prevenção deve começar pelo trabalhador, através de
orientações, palestras, cursos, e todos os meios de comunicação a ele para
conscientizá-lo dos riscos a que está exposto permanentemente, tanto no trabalho,
como fora dele, e que poderão custar-lhe muito. Não menos preocupante é a
situação do empregador, que deve implementar todas as políticas necessárias à
proteção e à preservação da saúde e da integridade física dos trabalhadores e de
todos aqueles que interagem com a empresa, além de proteger, também, o
patrimônio posto no segmento explorado.

109
LIMA, José Amaro Barcelos. A Sobrejornada e os Acidentes de Trabalho. Rio de Janeiro.
Senge, p.3, 2011.
49

5.2. INVESTIMENTOS E GESTÃO EM SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO

Como Técnico em Segurança do Trabalho tive acesso aos planos de gestão


em saúde e segurança do trabalho de empresas dos mais variados ramos. Estes
procedimentos serviram de base para fundamentar este trabalho que a partir deste
tópico versará sobre os benefícios de se implementar um plano de gestão em saúde
e segurança.
Com o objetivo de “conquistar mercados e recrutar profissionais cada vez
mais exigentes”110, as empresa devem demonstrar um comprometimento cada vez
maior com a área de saúde e segurança do trabalho. Os triunfos das empresas que
investem em saúde e segurança do trabalho aparecem fora e dentro das
organizações. Externamente, a relação com atuais e potenciais clientes é
beneficiada pela melhoria da imagem da empresa, que demonstra um compromisso
com o tema da saúde e segurança do trabalho. Internamente, a operação da
empresa é beneficiada por fatores como a redução dos afastamentos, dos acidentes
de trabalho e da vulnerabilidade legal, o que traz uma melhora na produtividade.
Na prática, para alcançar os objetivos citados, as empresas devem implantar
o levantamento de riscos e perigos ocupacionais, com a promoção de controles
necessários para mitigar os que são significativos, e também, o atendimento de
todos os requisitos legais envolvidos com a atividade da empresa, como as Normas
Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego. Portanto, é importante que
sejam atendidos os requisitos legais de saúde e segurança e que o plano estratégico
da empresa seja de melhoria contínua, com a antecipação dos riscos e avaliação de
incidentes.
A participação e o comprometimento dos trabalhadores são fundamentais
para a o bom desempenho da empresa na preservação e gerenciamento de riscos,
pois devem demonstrar que conhecem os riscos de sua atividade e adotar um
comportamento seguro. Já os empresários precisam estar engajados em prover os
recursos financeiros, humanos e físicos necessários para a implantação e
manutenção do sistema de saúde e segurança. “O empresário deve demonstrar
comprometimento, provando que as questões de saúde ocupacional são importantes

110
PROTEÇÃO, Revista. A expansão econômica e a crescente competitividade impulsionam o
avanço da certificação em SST. Anuário Brasileiro de Proteção 2012.
50

e estratégicas para seu negócio. Afinal, o comprometimento deve partir do maior


nível hierárquico da organização e permear até o chão de fábrica.”111
Todos devem participar. Especialmente os profissionais prevencionistas112,
que devem conhecer, gerenciar e manter sob controle a legislação aplicável e os
riscos relacionados ao trabalho. A partir do domínio do cenário de saúde e
segurança em sua empresa, o profissional da área técnica deve se colocar, na
companhia, como um facilitador do processo de implantação das práticas
necessárias para assegurar o bom ambiente de trabalho. Além disso, tal situação
também proporciona um ganho de confiabilidade no mercado, indicando que a
empresa segue padrões de excelência na administração da saúde e segurança de
seus empregados.
Criar uma cultura prevencionista é importante para a manutenção da marca
e para a continuidade dos seus negócios, além da economia financeira por não se
ter o passivo trabalhista, ações judiciais, custo com médicos e exames. A legislação
de saúde e segurança tem uma complexidade muito grande e uma vasta gama de
tarefas. É preciso sistematizar e gerenciar o sistema de gestão, pois assim, será
alcançado melhor nível de controle e melhores resultados. A sociedade quer
comprar de empresas que sejam responsáveis com o meio ambiente e com a saúde
e segurança do trabalho. Trabalhar errado tem um peso social.
Sendo assim, torna-se necessária uma profunda reflexão por parte dos
empresários quanto à importância do sistema de gestão da segurança e saúde no
trabalho, eliminando-se de vez o falso conceito de que prevenção de acidentes é
custo, quando, na verdade, sempre foi e continuará sendo, um grande investimento.
A saúde e segurança no trabalho tem importância fundamental, pois está
associada ao processo produtivo da empresa e, sob as condições adequadas,
permite ao trabalhador direcionar toda a sua potencialidade ao trabalho,
minimizando os riscos e a possibilidade de acidentes. Logo, os investimentos na
área de saúde e segurança do trabalho são compensados pelos ganhos de
produtividade dos empregados, melhores condições de trabalho e segurança para
os empregados, o que é convertido em uma maior competitividade da empresa no
mercado.

111
PROTEÇÃO, Revista. A expansão econômica e a crescente competitividade impulsionam o
avanço da certificação em SST. Anuário Brasileiro de Proteção 2012.
112
Técnicos de Segurança do Trabalho, Técnicos Ambientais, Engenheiros, Enfermeiros, Médicos,
Bombeiros e outros profissionais dedicados a prevenção.
51

Para construir um sistema de gestão, requer-se que a saúde e segurança do


trabalho façam parte da política da empresa, pois o funcionamento de um sistema
de gestão depende da vontade das empresas em estabelecerem dentro do seu
meio, da sua missão, da sua política e de seus valores, a importância da saúde e
segurança do trabalhador. Feito isso, ela deve eleger os modelos não só de boas
práticas, mas de sistemas de gestão que atendam a sua realidade dentro de seus
processos e do mercado. Um sistema eficaz de gestão em saúde e segurança do
trabalho requer, além do convencimento da alta gerência, um trabalho em equipe
realizado pelos profissionais e o envolvimento dos trabalhadores. É uma ação
complexa, que aponta a necessidade de se criar uma cultura de prevenção.
Os profissionais da área técnica precisam se conscientizar da necessidade
imperativa de agregar a gestão de segurança e saúde no trabalho ao negócio da
empresa. Dessa forma, é preciso haver integração, pois saúde e segurança não
podem ser vistas de maneira isolada, devem estar integradas com a unidade jurídica
e também com a unidade de recursos humanos.
A construção de um sistema de gestão deve ser baseada nas ações de
planejar, fazer, verificar e agir. Assim, no planejamento deve-se pensar na
estruturação da política relacionada aos riscos presentes dentro da atividade, pensar
na estruturação de um serviço especializado de saúde e segurança que tenha a
possibilidade de realizar um trabalho efetivo diante daquilo que as Normas
Regulamentadoras estabelecem. A próxima ação deve abranger os requisitos de
implantação. Desenvolve-se uma estrutura para prevenir os riscos e se realizam
treinamentos. É preciso monitorar o que está sendo feito, é necessário criar
indicadores que sejam exequíveis e coerentes com a realidade da empresa. Na
verificação deve-se efetivamente realizar a análise crítica para então agir. Nesse
momento se coloca a administração da empresa diante dos problemas que ela tem e
das novas soluções que precisa tomar para a melhoria contínua, voltando ao
planejamento, à implementação, à verificação e novamente agindo para executar as
melhorias previstas. A equipe de segurança precisa entender do negócio e como
discutir com o empresariado, com o gestor.
O sistema de gestão da saúde e segurança no trabalho deve ser composto
por um conjunto de iniciativas da organização, com políticas bem definidas,
programas estruturados dentro da realidade laboral, procedimentos claros, indo além
das normas regulamentadoras e exigências legais. Cria-se uma cultura envolvente
52

que atinja toda a população da empresa, começando pelo alto escalão e chegando
até a base operacional, incorporada de tal modo que seja uma prática no dia-a-dia
de cada um, dentro e fora da empresa. Deve-se saber se comunicar com o
trabalhador, mostrando como a saúde e segurança deve ser aplicada, a importância
de treinamentos e a realização de simulados, que vão permitir que se verifique que
na prática tudo funcionará como o planejado. Também é importante um contato
direto com a supervisão dos trabalhadores, mostrando importância da prevenção na
indústria e em casa. A ausência de um sistema de gestão de saúde e segurança dos
trabalhadores pode comprometer a produtividade, a qualidade, os custos, os
cronogramas de atividade e o próprio meio ambiente de trabalho. O sistema de
gestão consiste em documentos compostos de informações e indicações relevantes
em matéria de segurança e de saúde necessárias para reduzir o risco de ocorrência
de acidentes e para proteção da saúde dos trabalhadores.
No referido plano, devem-se planejar medidas de prevenção, destinadas a
minimizar o fator risco, e de proteção, destinadas a atenuar os efeitos devidos aos
acidentes, permitindo, assim, que a empresa possa controlar seus riscos de
acidentes e doenças ocupacionais, bem como melhorar seu desempenho. Cabe ao
empresário, preocupado com o meio ambiente de trabalho, estabelecer e manter o
sistema de gestão em saúde e segurança, contemplando os requisitos da Política de
Saúde e Segurança do Trabalho. Essa política deve ser autorizada pela
administração da empresa e ser apropriada à natureza e escala dos riscos da
organização. Deve incluir o comprometimento com a melhoria contínua, bem como o
comprometimento com o atendimento, pelo menos, à legislação vigente de
Segurança e Medicina de Trabalho aplicável, e a outros requisitos subscritos pela
organização. Deve ser documentada, implementada e mantida, ser divulgada junto a
todos os empregados, com o intuito de que os mesmos tenham conhecimento de
suas obrigações individuais em relação ao sistema de gestão, garantindo-se que
esteja sempre disponível para as partes interessadas. Deve ser periodicamente
analisada, criticamente, para assegurar que a mesma permaneça pertinente e
apropriada à organização.
A empresa deve estabelecer e manter procedimentos para a identificação
contínua de perigos, a avaliação de riscos e a implementação das medidas de
controle necessárias. Esses procedimentos devem incluir: atividades de rotina e
não-rotineiras, atividades de todo o pessoal que tem acesso aos locais de trabalho
53

(incluindo subcontratados e visitantes), instalações nos locais de trabalho, tanto as


fornecidas pela organização como por outros; implementação e operação – a
responsabilidade final pelo sistema de gestão é da administração. A organização
deve nomear um membro da administração com responsabilidade específica para
assegurar que o sistema de gestão seja adequadamente implementado e atenda
aos requisitos em todos os locais e esferas de operação dentro da organização.
A administração deve fornecer todos os recursos essenciais para a
implementação, controle e melhoria do sistema de gestão, verificação e ação
corretiva – a empresa deve estabelecer e manter procedimentos para monitorar e
medir, periodicamente, o desempenho da saúde e segurança. Esses procedimentos
devem assegurar: medições qualitativas e quantitativas, apropriadas às
necessidades da organização, monitoramento do grau de atendimento aos objetivos
do sistema de gestão da organização, medidas proativas de desempenho que
monitorem a conformidade com os requisitos dos programas de gestão da saúde e
segurança, com critérios operacionais, e com a legislação e regulamentos
aplicáveis, medidas reativas de desempenho para monitorar acidentes, doenças,
incidentes e outras evidências históricas de deficiências no desempenho da saúde e
segurança, registro de dados e resultados do monitoramento e mensuração,
suficientes para facilitar a subsequente análise da ação corretiva e preventiva.
A administração da empresa, em intervalos predeterminados, deve analisar
criticamente o sistema de gestão, para assegurar sua conveniência, adequação e
eficácia contínuas. Esse processo deve assegurar que as informações necessárias
sejam coletadas, de forma que permita à administração proceder à avaliação, a qual
deverá ser documentada.

5.3. PLANO DE GESTÃO EM SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO

Uma política de saúde e segurança “deve ir além dos aspectos ergonômicos,


físicos, químicos e biológicos. Deve abarcar as questões relativas ao meio ambiente
do trabalho, pois o homem está inserido nesse ambiente de forma integral, bem
54

como o seu local de trabalho”113. Uma política de saúde e segurança que se destine
ao meio ambiente do trabalho, deverá estar associada a questões relativas à
segurança ambiental, social e do trabalho. Tornam-se necessárias as verificações
das condições inseguras e a neutralização dos riscos por meio de processos de
gestão adequados ao meio ambiente como um todo.
Existem normas específicas que implicam no controle de situações
inseguras como: pisos escorregadios, derramamento de líquidos, objetos
contundentes, limpeza e higiene, controle de vendas de bebidas alcoólicas, combate
a incêndio, além do envolvimento com meio ambiente. Elas determinam o estudo
das possíveis condições inseguras, o conhecimento das áreas e as condições de
uso. A elaboração de um plano de gestão de saúde e segurança no trabalho é uma
ferramenta importante nesse processo de prevenção dos acidentes. Um acidente
sempre deverá ser interpretado como sendo um fenômeno multifacetado e
resultante da interação de vários fatores, quer de origem física, biológica,
psicológica, social ou cultural.
Desta forma, um plano de gestão de segurança no trabalho, deverá lançar
mão de duas premissas básicas: a primeira é a preservação das pessoas em
detrimento dos bens materiais e a segunda de que, os responsáveis por qualquer
atividade de trabalho, deverão responder pelos danos decorrentes ao ambiente de
trabalho que propiciam aos seus empregados. Esta argumentação aponta para a
necessidade de criação de programas de conscientização para a segurança,
direcionados à criação de mecanismos de gestão específicos. Tendo-se em conta
que todo acidente é incerto, indesejável e até mesmo remoto, ele poderá acontecer
se houver um deslize. É necessário, então, o estabelecimento de uma política de
segurança, que propicie aos trabalhadores condições, meios e recursos para que as
atividades laborais sejam executadas com segurança ou, pelo menos, em condições
de risco controladas.
Um plano de gestão de segurança no trabalho deverá se iniciar pela
identificação e análise dos perigos existentes no ambiente laboral. Os riscos serão
avaliados e na sequência comparados aos padrões tolerados, a fim de tratá-los e
minimizá-los. O plano de gestão de segurança no trabalho direciona-se para a
implantação de normas adequadas ao bem estar dos usuários, das instalações, e

113
VEZZANI, Marco Antônio. Princípios para Elaboração de um Plano Integrado de Segurança
no Trabalho. São Paulo. UNIBERO, 2002.
55

avaliações econômicas - custos, resultados, atualizações e correções constantes e a


promoção de segurança no trabalho de uma maneira geral.
Em uma unidade de produção a filosofia a ser adotada, deverá estar
atrelada as questões regionais e familiares, tais como: o apelo para a relação
família/filhos/perdas por insegurança. As normas deverão ser: universalmente
aceitas, estarem de acordo com a infraestrutura do trabalho existente, serem
particulares, comparativas e passíveis de verificação, devendo ficar a cargo de todos
os envolvidos com o processo de produção.
Quanto aos níveis de atuação, devem contemplar os diretores, os
colaboradores e a população local. A composição destes três elementos irá gerar a
política geral de segurança do trabalho de uma empresa – muito semelhante aos
sistemas mais modernos, onde existe uma função segurança adaptada à realidade
estrutural de todos os polos do contrato de trabalho, sendo responsabilidade de
todos os envolvidos.
Uma vez implantada a política geral de segurança, poderão ser
implementadas as políticas secundárias, tais como: as políticas de comodidade – a
segurança adquirida impulsiona a comodidade e os desejos de melhorias – políticas
de benefícios - comparação de resultados custo/benefícios a curto, médio e longo
prazo, políticas de recursos humanos - prevenção; formação profissional; aspectos
sociológicos e de higiene e limpeza - e a política ergonômica - os fatores humanos,
materiais e organizacionais.
A adoção de uma política geral de segurança no trabalho irá corroborar para
sistematização da segurança, facilidade de compreensão e execução de tarefas
pertinentes à segurança, direcionando para eficácia do sistema de segurança, ao
fortalecimento dos elos entre as diversas atividades e a segurança, a formação e
conscientização dos colaboradores, dirigentes e população, permitindo o excelente
estado de uso das instalações e equipamentos e a homogeneização dos meios e
procedimentos de segurança.
O plano de gestão de segurança no trabalho deverá conter as técnicas de
identificação dos perigos e análise da segurança. Esta segunda consiste na análise
dos riscos, na identificação dos eventos perigosos, causas, consequências e o
estabelecimento de medidas de controle, tendo por objetivo uma área ou um
sistema, abarcando, num sentido mais amplo, todo o conhecimento, motivação,
consciência e reconhecimento da necessidade de segurança, além da certeza dos
56

resultados. Deverá ter uma abrangência geral, como no caso de uma unidade
trabalho. O plano de gestão será constituído de, no mínimo, oito etapas básicas:
descrição do objeto alvo; seleção dos elementos do objeto alvo; seleção dos eventos
perigosos e indesejáveis; identificação das possíveis causas do evento perigoso;
identificação das consequências; estabelecimento das medidas de controle das
emergências; repetição dos processos para outros eventos perigosos; e a seleção
de outros objetos alvo a fim de que possam ser repetidos os processos.
A implementação de um plano de gestão de segurança no trabalho requer
um item de suma importância, cuja palavra-chave é conscientização. A
conscientização abrange, num sentido mais amplo, todo o conhecimento, motivação,
consciência e reconhecimento da necessidade de segurança, além de uma certeza
nos resultados. Deverá ter uma abrangência geral, como no caso de uma unidade
de trabalho. Ela deverá incluir todos os envolvidos, bem como, outros que venham
usufruir do mesmo ambiente de trabalho. O grau de êxito deste plano irá depender,
exclusivamente, do interesse dos gestores, eles deverão promover a segurança e o
seu grau de aceitação dentre os colaboradores.
Portanto, as ações para a implementação do programa de gestão, deverão
estar atreladas aos processos de conscientização de todos os envolvidos, a fim de
que eles possam ser os difusores do plano. Somente assim, irão promover,
efetivamente, a criação de mecanismos de segurança para o trabalho, em
conformidade com as organizações e de acordo com medidas preventivas
propostas.
O plano de gestão de segurança no trabalho deverá obedecer a
determinadas estratégias e objetivos gerais definidos em função de seu entorno
variável. Por meio desta observação, torna-se possível a visualização das principais
ações a serem realizadas em curto, médio e longo prazo, a fim de que seja possível
a minimização dos riscos e a obtenção dos benefícios do plano proposto. Desta
forma, o plano de gestão terá como planejamento: plano preventivo de segurança;
plano corretivo de segurança; plano de formação e capacitação de recursos
humanos; plano de meios; plano de emergências; plano normativo de segurança;
plano de segurança das instalações; e plano de segurança da imagem.
No plano preventivo de segurança serão visualizados: a segurança e
observadas às ações que visem a eliminação dos riscos existentes ou a manutenção
destes em níveis aceitáveis, também os eventos danosos, as condições inseguras e
57

os comportamentos perigosos, levando-se em consideração os custos de


implantação e implementação.
O plano corretivo, por sua vez, deverá contemplar a aplicação de ações
corretivas às situações de disfunção do sistema de gestão do ambiente laboral alvo,
bem como, os seus custos.
O plano de formação e capacitação de recursos humanos deverá abarcar as
questões relativas aos processos de treinamento e capacitação necessários a
ampliação dos conhecimentos técnicos dos gestores, colaboradores e outros
interessados no sentido de enaltecer e reforçar o processo de cognição para
segurança.
No que concerne ao plano de meios, ele deverá abarcar o conhecimento do
meio físico no qual esteja inserido o ambiente laboral, analisando-se suas
características, possibilidades, limitações, condições latentes de perigo, a fim de que
sejam evitados os procedimentos inseguros.
O plano de emergências será exclusivo e relativo ao conhecimento das
emergências como: incêndios, assaltos, vazamentos e outros. Neste plano poderão
ocorrer parcerias com o corpo de bombeiros, polícia militar, vigilância sanitária e
outros parceiros envolvidos com as práticas de contenção de emergências.
O plano normativo de segurança estará direcionado ao conhecimento das
normas de segurança e a criação de novas aos gestores, colaboradores e outros
interessados, pautando-se nas Normas Regulamentadoras – NR, vigentes e
exigidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego - MTE.
Já o plano de segurança das instalações estará direcionado à viabilização
das ações e medidas voltadas às instalações físicas das unidades de trabalho, com
vistas a resguardá-las contra os elementos externos que possam vir a perturbar ou
desagregar as condições de segurança da unidade laboral.
E, finalmente, o plano de segurança da imagem que deverá estar voltado
para o marketing positivo da segurança, do quanto ele irá proporcionar, tranquilidade
e satisfação aos que dela se utilizam, bem como, os seus custos de implantação e
implementação, estando a cargo do gestor e sua assessoria de comunicação.
Visto desta forma, a proposta do plano de gestão denota a necessidade de
disponibilização de um desembolso financeiro a fim de que sejam atingidos seus
objetivos. Assim, tornam-se necessárias análises criteriosas de cada uma das
etapas dos objetivos e suas reações de causa e efeitos relativas ao conjunto,
58

eventuais correções a serem introduzidas e minimizações dos efeitos negativos,


todos sob a égide do planejamento estratégico de efetivação do plano de gestão de
segurança do trabalho. A passagem de uma etapa para outra irá ocorrer, desde que
haja capacidade orçamentária por parte da empresa e funcional, por parte dos
trabalhadores. Entretanto, caso haja necessidade de passagem a mais de uma
etapa, esta poderá acontecer, desde que mantidos os preceitos dos objetivos.
Portanto, não existem critérios rígidos, quanto à sequência dos objetivos, esta
poderá variar de acordo com o fluxo de caixa, com as necessidades ou os
problemas diagnosticados, ou ainda, de acordo com as alterações nas estratégias
definidas pelo gestor e seu corpo técnico.
No estabelecimento das estratégias que irão reger o plano de gestão de
segurança no trabalho existem inúmeras questões a serem observadas. A mais
importante delas se refere à eliminação e/ou diminuição dos acidentes ou eventos
danosos, bem como, a minimização das condições inseguras existentes no
ambiente laboral da organização alvo, servindo como eixo central da atuação da
gestão de segurança.
Diante disso, as principais estratégias do plano de gestão são: estratégias
preventivas – decisões, orientação e direção da ação principal visando à eliminação
dos riscos e das condições inseguras; estratégias corretivas – decisões e
orientações de ações que possibilitem a rever as ações e a correção das atividades
causadoras de acidentes; estratégias de rentabilidade - decisões e orientações no
sentido das ações principais incrementarem a rentabilidade da unidade de trabalho;
estratégias de conscientização - decisões e orientações no sentido de dirigir as
ações principais para motivação, preparação e conhecimento da importância da
segurança a fim de aumentar o nível de confiabilidade da unidade de trabalho;
estratégias de relações e imagem - decisões e orientações no sentido de dirigir a
ação principal à motivação e reforço da imagem da unidade de trabalho e das
atitudes positivas relativas à gestão de segurança no trabalho aos colaboradores e
outros envolvidos; e estratégias de proteção integral - decisões e orientações no
sentido de dirigir para atuação e motivação do pessoal de projeto, colaboradores e
outros envolvidos, como forma de fomentar a preocupação com a manutenção e a
gestão de segurança das instalações.
A execução do plano de gestão irá requerer a realização de estudos mais
detalhados sobre a segurança de pessoas, do comportamento dos trabalhadores,
59

dos mecanismos de controle de emergências (combate a incêndios e outras


emergências), das normas de segurança vigentes, da higiene e limpeza dos
equipamentos e também das atividades de lazer no ambiente laboral. Estes estudos
irão determinar, de acordo com as circunstâncias, quais serão os procedimentos
inseguros existentes no sistema, quais os planos de prevenção específicos a cada
caso, fomentar a supervisão das atividades relativas à segurança e as que tenham
conexão com ela, além de possibilitar a criação de um sistema permanente de
controle estatístico dos acidentes e das condições anormais.
E mais, esse controle irá corroborar para colocar em prática as normas
relativas à segurança, no que concerne, a higiene e limpeza dos ambientes laborais,
por meio de inspeções periódicas e permanentes. Poderão, ainda, servir como base
de dados aos organismos de fiscalização e controle do trabalho, bem como,
parâmetros para outras organizações. Tais dados irão servir como subsídios à mídia,
informando as reais condições de trabalho nas unidades laborais, facultando o
marketing positivo sobre a segurança.
O acompanhamento e controle se equivalem aos procedimentos de qualquer
planejamento. Iniciando-se com a identificação e correção dos desvios ou bloqueios
e outras etapas de um planejamento. Assim, o controle efetivo, somente irá ocorrer
se forem estabelecidas unidades de medição prévias, bem como, se foram adotados
critérios de mensuração. A título de exemplificação pode ser citado o controle do
número de ocorrências anormais num determinado período de tempo, a fim elaborar
ou melhorias das medidas mitigadoras.
Assim, o acompanhamento, controle, avaliações e conclusões, serão
estabelecidas e alteradas, ao longo do processo de implantação do plano de gestão.
Surge aqui a necessidade da correta utilização dos métodos e instrumentos por
parte da empresa, bem como, a elaboração de relatórios, boletins, estatísticas,
entrevistas, gráficos e vídeos, que irão se constituir no processo de documentação.
A periodicidade será determinada para que se possa garantir a continuidade do
plano de gestão.
Quanto à dinâmica de controle a ser utilizada, esta deverá pautar-se no
estabelecimento de unidades de medida, acompanhamento das ações, coleta de
informações, correção dos procedimentos executados e revisão do plano.
Finalmente, deverá ocorrer a avaliação do processo, processada de forma a criticar
ou orientar o replanejamento de algumas das ações, quando necessárias. Ainda,
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nesta fase, todos os resultados das ações serão examinados e comparados com
critérios determinados, tais como: descrição do plano; explicitação dos parâmetros
pretendidos; descrição dos dados obtidos antes, durante e depois da implantação do
plano de gestão; confronto entre os parâmetros e metas; e, finalmente, a realização
das sugestões visando à realimentação.
As conclusões sobre o plano de gestão são genéricas, mas, basicamente,
deverão se restringir ao plano como sendo o termômetro do bem-estar físico e da
segurança das partes envolvidas, instalações e o empreendimento como um todo.
Isto coloca o plano como sendo um fator de aumento da rentabilidade econômica,
social e humana, capaz de minimizar custos e condições inseguras, suscitando o
estabelecimento de um marketing positivo, favorecendo a melhoria da imagem e das
condições dos ambientes laborais como um todo.
A abordagem sobre as questões relativas à segurança do ambiente laboral
suscitou a visão de que ela deva ser tratada como sendo um sistema organizado
que programe a prática saudável das atividades laborais. Daí surgiu à ideia de que
as unidades laborais devem apresentar uma gestão de riscos, que as auxilie no
controle das falhas humanas, principalmente, e todos os itens relacionados a elas,
inclusive os ambientes interno e externo.
Assim, a elaboração de um plano de gestão de segurança no trabalho,
único, cooperativo e que objetive, em sua amplitude, a criação de um sistema
integrado de mecanismos de segurança, adaptado as unidades laborais, capaz de
fomentar a implementação de medidas mitigadoras relativas: a gestão de riscos;
gestão do ambiente laboral; gestão do entorno; gestão de emergências; gestão de
pessoas; gestão de falhas; gestão da imagem da empresa; e gestão da segurança.
Com o objetivo de diminuir ao máximo uma das maiores causas da infelicidade
humana: os acidentes e doenças ocupacionais.
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho é necessário para a sobrevivência do trabalhador e é na empresa


o lugar onde ele passará boa parte de sua vida. Diante dessa relevância do trabalho,
é importante que a saúde do trabalhador não seja ignorada dentro da empresa. O
empregado, por diversos motivos, pode apresentar uma desatenção e sofrer um
acidente, como também pode ocorrer do equipamento controlado pelo trabalhador
falhar por qualquer motivo, alheio à sua vontade, e com isso causar um acidente.
Os riscos ambientais presentes no dia-a-dia do trabalhador não podem ser
ignorados, e devem ser reduzidos, para que os acidentes sejam minimizados e
eliminados no decorrer do tempo. Embora a legislação seja abrangente e bem
detalhada, deve ser empregada em um conjunto de planejamento e treinamento
prévio e trabalho em equipe de todos os envolvidos na relação
empregado/empregador.
Além do ônus com os acidentes do trabalho e doenças ocupacionais –
afastamentos por tempo indeterminado, treinamentos de substitutos para os
acidentados, burocracia pertinente à comunicação ao INSS para que o afastamento
seja remunerado e proporcione ao acidentando o devido amparo, há o desgaste
psicológico causado pelo trauma – a empresa perde em produtividade, dias de
trabalho com acidentes e investimentos em qualificação dos empregados, que se
encontram afastados.
As leis e normas existem, o que falta para a redução dos acidentes e
doenças ocupacionais é um trabalho de antecipação, com planejamento e
prevenção, onde a empresa e o empregado possam colaborar mutuamente
buscando formas de melhorar as condições de trabalho e diminuir os danos à saúde,
e diretamente, aumentar o lucro do empresário, gerando reflexos também para a
sociedade, reduzindo o ônus do Estado ao arcar com a mão-de-obra afastada no
país.
O ideal é que as empresas observem que o empregado não é um objeto na
sua organização, com a necessidade de emprego e remuneração, mas sim um
indivíduo que faz parte do seu sucesso, do seu negócio. E por isso investir na
qualidade de vida dentro do ambiente de trabalho tem repercussão fora dele e vice
versa. Acompanhar o desempenho físico e psicológico onde exista prazer em
62

realizar a função a que foi escolhido é diretamente proporcional ao alcance das


metas que a empresa estabelece.
Um planejamento estratégico contendo os programas de prevenção de
acidentes e doenças ocupacionais reduzem os contratempos na empresa gerados
por problemas de Medicina e Segurança. As normas de saúde e segurança do
trabalho servem para prevenir situações indesejadas no decorrer do trabalho
executado, alertam e objetivam a obrigatoriedade de cumprir as leis estabelecidas,
embora ainda existam muitas resistências por parte de empresários.
Planejamento e investimentos na prevenção de acidentes e doenças
ocupacionais são meios de reduzir custos. Para isso o planejamento em saúde e
segurança alerta e torna claro o risco existente no trabalho e na empresa, e é
fundamental para buscar as melhorias no ambiente de trabalho.
A legislação é clara, os benefícios da prevenção dos acidentes e doenças
ocupacionais são evidentes, o que falta para a perfeita conexão dos extremos é a
conscientização de todos os envolvidos no processo empregado/empregador para
buscar uma melhoria contínua das condições do ambiente de trabalho.
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