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A VIAGEM DE

CHIHIRO:

um passeio
arquitetônico sobre
emblemático filme
de Miyazaki
A Viagem de Chihiro: um passeio arquitetônico
sobre emblemático filme de Miyazaki

Trabalho de conclusão de curso apresentado


como requisito parcial para obtenção do título
de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo
da Faculdade de Artes Visuais (FAV) da
Universidade Federal de Goiás (UFG).

ANA FLAVIA MOREIRA ROCHA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS


FACULDADE DE ARTES VISUAIS
ARQUITETURA E URBANISMO
GOIÂNIA, 2021
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do
Programa de Geração Automática do Sistema de Bibliotecas da UFG.

Rocha, Ana Flavia Moreira


A Viagem De Chihiro: Um Passeio Arquitetônico Sobre
Emblemático Filme De Miyazaki [manuscrito] / Ana Flavia Moreira
Rocha. - 2021.
CLXIX, 169 f.: il.

Orientador: Profa. Marcelina Gorni.


Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade
Federal de Goiás, Faculdade de Artes Visuais (FAV), Arquitetura e
Urbanismo, Goiânia, 2021.
Bibliografia. Anexos.
Inclui fotografias, tabelas, lista de figuras, lista de tabelas.

1. animação japonesa. 2. arquitetura. 3. análise gráfica. 4.


análise arquitetônica. 5. aspecto cênico. 6. Estúdio Ghibli. 7. Hayao
Miyazaki. 8. Ma. 9. A Viagem de Chihiro. I. Gorni, Marcelina, orient. II.
Título.

CDU 72
RESUMO ABSTRACT
Esta monografia irá abordar o estudo da This monograph addresses the study of
arquitetura a partir da análise da produção architecture from the analysis of the production
do filme “A Viagem de Chihiro” (2001), of the film “Spirited Away” (2001), written,
escrito, dirigido e desenhado pelo mestre directed and designed by master Hayao
Hayao Miyazaki. Este trabalho teve por Miyazaki. This work aims to interpret the
objetivo aprofundar o entendimento dos scenic aspects and architectural environmental
aspectos cênicos e de contextualização contextualization present in the filme. The
ambiental arquitetônicos presentes na obra. methodology used was based on bibliographic
A metodologia utilizada baseou-se em surveys, film analysis, architectural analysis,
levantamentos bibliográficos, análise gráfica, schematic drawings of plans and perspective of
análise arquitetônica, elaboração de plantas de the bathhouse. For this, the streaming platform
cortes e desenhos de perspectiva. Ressalta-se “Netflix” was used to capture the frames for
que foi utilizado a plataforma de streaming analysis, in addition to the softwares Adobe
“Netflix” para a captura das imagens que Illustrator, InDesign and Photoshop for the
foram analisadas, além dos softwares Adobe character removal edition. Thus, a graphic and
Illustrator, InDesign e Photoshop para a written analysis of the scenography and the
produção de imagens e demais edições. Dessa architectural elements present in the film were
forma obteve-se uma análise gráfica e escrita obtained, which culminated into the production
da cenografia e dos elementos arquitetônicos of plans, sections and drawings of the main
presentes no filme o que culminou na produção environments present in the Bath House.
de plantas, cortes e desenhos dos principais
ambientes presentes no cenário do Balneário. Keywords: Japanese animation; architecture;
graphic analysis, architectural analysis, scenic
Palavras-chave: animação japonesa; aspect; Ghibli Studio; Hayao Miyazaki; Ma;
arquitetura; análise gráfica, análise Chihiro’s trip
arquitetônica, aspecto cênico; Estúdio Ghibli;
Hayao Miyazaki; Ma; A Viagem de Chihiro
Dedico ao grande Hayao Miyazaki, que graças a ele e sua genialidade, Agradeço à minha mãe, Flávia por ser uma mulher única ao iluminar
todo esse estudo foi possível. meu caminho com sua sabedoria como intuito nesse exato momento.
Debaixo de sua asa seu amor me regou para que eu crescesse,
enquanto sua força me motivou a sempre esperar o melhor e seu
apoio me acolheu nos momentos mais difíceis.
Agradeço à minha irmã, que poderia mais ser uma segunda mãe em
minha vida, com toda sua atenção e carinho, me educou desde ler e
escrever à ser uma mulher com força e independência. Minha maior
inspiração é ela, em ser uma pessoa melhor a cada dia.
Agradeço à minha incrível amiga Jordanna por me segurar de
mindinho e compartilhar qualquer que seja o momento que eu esteja
passando. Nos momentos felizes me fez rir mais alto enquanto nos
frustrantes me ajudou a enxergar as soluções que para mim não
existiam. Alguém inestimável, pelas suas morais, gentileza e coração
maior que o mundo.
Agradeço ao amável Matheus, que entrou no meu caminho com
sutileza e despertou novamente em mim os bons sentimentos que
estavam enfraquecidos. Suscitou em mim a paixão pela arquitetura,
o amor próprio e o hábito da resiliência. Agradeço ainda, sua parceria
e principalmente sua paciência para me compreender quando as
palavras se extrapolam.
Agradeço ao querido Guilherme, por termos partilhado várias
paixões, sendo uma delas pelas produções Ghibli e portanto
despertado em mim o interesse por esse tema.
Agradeço todos meus amigos que mantiveram-se ao meu lado
apesar dos pesares e me permitiram dividir tantos momentos felizes
com eles. Agradeço aos que me ouviram e reergueram nos momentos
complicados. Vocês me fazem sorrir todos os dias!
Agradeço à minha querida orientadora Marcelina, a qual atuou não
só como mestre mas como amiga na produção desse trabalho e
“Sempre acredite em você mesmo. Faça isso e não importa momento difícil de pandemia. Compartilhou comigo o ânimo por esse
onde você esteja, você não terá nada a temer.” tema e soube usar as palavras exatas que me tranquilizaram nos
momentos de dúvida, facilitando todo o processo de forma a torná-lo
- Hayao Miyazaki extremamente prazeroso.
LISTA DE FIGURAS Figura 36: Jiufen, em Taiwan...............................................................................................73
Figura 37: Rua de Yuya.........................................................................................................74
Figura 38: Rua Yuhara Hot Springa da cidade de Maniwa.....................................................74
Figura 39: Kamaji cobre Chihiro que dorme no chão da sala de caldeira..............................75
Figura 1: Suzuki com equipe de Tokuma Shoten. ................................................................ 22 Figura 40: Takei Sanshodo no Museu ao ar livre de Edo-Tokyo. ...........................................75
Figura 2: Storyboards de Hayao Miyazaki da animação “A Viagem de Chihiro” (2001)......... 25 Figura 41: Hyakudan Kaidan no Hotel Gajoen Tokyo............................................................76
Figura 3: Takahata e Miyazaki trabalhando juntos em Toei Animation Studio.......................27 Figura 42: Vista da laje do andar térreo permitida pelo pé-direito elevado...........................76
Figura 4: Audi A4 Quattro 1996........................................................................................... 28 Figura 43: Ferrovia adentrando o mar. ................................................................................79
Figura 5: Atalho pela estrada rural...................................................................................... 29 Figura 43: Hotel Gajoen Tokyo............................................................................................. 77
Figura 6: Dōsojin de Yomidoni-Sayarimassu-Ookami assusta Chihiro................................. 30 Figura 44: Janela do escritório de Yubaba............................................................................ 77
Figura 6: Telhado do templo com aspectos xintoístas. ...................................................... 30 Figura 44: Vista da passagem do trem que leva Chihiro à sexta estação. .............................79
Figura 6: Uma torre com um “油 (óleo óleo)” escrito em frente às fontes termais.............. 32 Figura 45: (1)2.................................................................................................................... 82
Figura 7: Máscaras Kasuga materializam os espiritos..........................................................33 Figura 46: (1)4.................................................................................................................... 83
Figura 8: Pai de Chihiro em forma de porco. ........................................................................33 Figura 47: (1)2..................................................................................................................... 84
Figura 9: Haku dá comida do outro mundo a Chihiro.......................................................... 34 Figura 48: (2)12.................................................................................................................. 86
Figura 10: Kamaji utilizando cinco dos seus seis braços no trabalho na caldeira. .................35 Figura 49: (2)13....................................................................................................................87
Figura 11: Yubaba rouba parte do nome de Chihiro. ........................................................... 36 Figura 50: (2)11................................................................................................................... 88
Figura 12: Todos auxiliam no banho do espírito....................................................................37 Figura 51: (3)1..................................................................................................................... 90
Figura 13: Kamaji presenteia Chihiro com tickets de trem................................................... 38 Figura 52: (6)2.................................................................................................................... 91
Figura 14: Porcos falsos atras de cordas nawa.................................................................... 41 Figura 53: (3)2..................................................................................................................... 92
Figura 14: Sem Face oferece ouro a Chihiro. ....................................................................... 39 Figura 54: (4)4.................................................................................................................... 94
Figura 15: Vagão em que se encontra Chihiro assim que adentra o trem. ............................ 49 Figura 55: (4)7..................................................................................................................... 95
Figura 16: Chihiro e seus acompanhantes próximos à Sexta Parada. .................................. 50 Figura 56: (4)3.....................................................................................................................97
Figura 17: Boh e pássaro transformados, que acompanham Chihiro, dormem no seu colo Figura 57: (6)3..................................................................................................................... 98
depois de horas de viagem. ................................................................................................51 Figura 58: (6)4.................................................................................................................... 99
Figura 18: Chihiro olha através da janela do trem, pensativa................................................51 Figura 59: (4)3...................................................................................................................101
Figura 19: O Balneário no momento em que Espirito do Rio parte..................................... 56 Figura 60: (7)3....................................................................................................................103
Figura 20: Cidade de Espiritos, Yuya. ..................................................................................57 Figura 61: (7)4....................................................................................................................104
Figura 21: Escadaria de madeira, que leva à Sala de Caldeira pelo exterior do Balneário, mos- Figura 62: (14)1..................................................................................................................105
trando-se sem equipamentos de proteção. ........................................................................ 58 Figura 63: (7)1................................................................................................................... 106
Figura 22: A sombra de Chihiro se mostra contrária à luz do fogo e reflexos nos potes de Figura 64: (28)2.................................................................................................................108
vidro à favor....................................................................................................................... 59 Figura 65: (30)1................................................................................................................. 109
Figura 23: Dormitório designado para as funcionárias mulheres do Balneário..................... 60 Figura 66: (9)7...................................................................................................................110
Figura 24: Chihiro e Lin são seguidas pelo Espírito do Rabanete até o elevador social. ....... 61 Figura 67: (9)8................................................................................................................... 111
Figura 25: Dormitório designado para as funcionárias mulheres do Balneário..................... 62 Figura 68: (9)3................................................................................................................... 113
Figura 26: Chihiro apreensiva ao encarar as portas de entrada para o escritório de Yubaba. .63 Figura 69: (15)2.................................................................................................................114
Figura 27: Chihiro sendo puxada, pela magia de Yubaba, pelos corredores do seu lar. ......... 64 Figura 70: (42)1.................................................................................................................. 115
Figura 28: Quarto de Boh, cheio de presentes. ................................................................... 65 Figura 71: (16)8.................................................................................................................. 117
Figura 29: Haku e Chihiro caem pelo tunel secreto de Yubaba............................................. 66 Figura 72: (17)2..................................................................................................................118
Figura 29: Momento em que Chihiro e Sem Face são convidados a adentrar a casa de Zeni- Figura 73: (45)5..................................................................................................................119
ba........................................................................................................................................67 Figura 74: (17)3..................................................................................................................120
Figura 30: Ponte vermelha em frente ao balneario do filme............................................... 69 Figura 75: (24)2..................................................................................................................122
Figura 31: "Ponte Kingun" de Shiman Hot Spring, Prefeitura de Gunma. ........................... 69 Figura 76: (41)3.................................................................................................................. 123
Figura 32: Dogo-Onsen em Matsuyama, Província de Ehime..............................................71 Figura 77: (23)3..................................................................................................................125
Figura 32: O Balneário de Yuya.............................................................................................70 Figura 78: (19)2..................................................................................................................126
Figura 33: Kanaguya, Shibu Onsen......................................................................................71 Figura 79: (36)1.................................................................................................................. 127
Figura 34: Lanternas vermelhas são acesas à noite, .................................................................... 73 Figura 80: (33)1..................................................................................................................128
Figura 35: Escadas no interior da casa de chá.......................................................................73 Figura 81: (20)6................................................................................................................. 130
Figura 82: (21)6................................................................................................................. 131
Figura 83: (26)3.................................................................................................................. 133
LISTA DE TABELAS
Figura 84: (34)1.................................................................................................................. 134
Figura 85: (44)3................................................................................................................. 135
TABELA 01...............................................................................................................................................................................................................82
Figura 86: (26)3................................................................................................................. 137 TABELA 02..............................................................................................................................................................................................................83
Figura 87: (43)4.................................................................................................................. 138 TABELA 03............................................................................................................................................................................................................. 86
Figura 88: (43)1..................................................................................................................139 TABELA 04..............................................................................................................................................................................................................87
Figura 89: (42)5.................................................................................................................140 TABELA 06............................................................................................................................................................................................................. 90
TABELA 07............................................................................................................................................................................................................... 91
Figura 90: (50)6.................................................................................................................142 TABELA 08..............................................................................................................................................................................................................94
Figura 91: (50)7..................................................................................................................143 TABELA 09..............................................................................................................................................................................................................95
Figura 92: (51)1..................................................................................................................145 TABELA 08............................................................................................................................................................................................................. 98
Figura 93: Coqui do Balneário........................................................................................... 146 TABELA 09..............................................................................................................................................................................................................99
TABELA 10............................................................................................................................................................................................................ 102
Figura 94: Corte esquemático com setorização. Balneário.................................................148 TABELA 11............................................................................................................................................................................................................. 103
Figura 94: Planta esquemática Pavimento 01....................................................................150 TABELA 12............................................................................................................................................................................................................ 104
Figura 95: Planta esquemática Pavimento 02....................................................................150 TABELA 13............................................................................................................................................................................................................ 105
Figura 96: Planta esquemática Pavimento 03.................................................................... 151 TABELA 12............................................................................................................................................................................................................108
TABELA 13............................................................................................................................................................................................................ 109
Figura 97: Planta esquemática Pavimento 04.................................................................... 151 TABELA 14.............................................................................................................................................................................................................110
Figura 98: Planta esquemática Pavimento 05....................................................................152 TABELA 15..............................................................................................................................................................................................................111
Figura 99: Planta esquemática Pavimento 06....................................................................152 TABELA 16............................................................................................................................................................................................................. 114
Figura 100: Vista aerea da cidade....................................................................................... 153 TABELA 17.............................................................................................................................................................................................................. 115
TABELA 18.............................................................................................................................................................................................................118
TABELA 19.............................................................................................................................................................................................................119
TABELA 22.............................................................................................................................................................................................................122
TABELA 23.............................................................................................................................................................................................................123
TABELA 24.............................................................................................................................................................................................................126
TABELA 25.............................................................................................................................................................................................................127
TABELA 26............................................................................................................................................................................................................ 130
TABELA 27............................................................................................................................................................................................................. 131
TABELA 28.............................................................................................................................................................................................................134
TABELA 29.............................................................................................................................................................................................................135
TABELA 30........................................................................................................................................................................................................... 138
TABELA 29.............................................................................................................................................................................................................139
TABELA 33.............................................................................................................................................................................................................142
TABELA 34.............................................................................................................................................................................................................143
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................... 14
OBJETIVOS E ORGANIZAÇÃO............................................................................................15
METODOLOGIA................................................................................................................. 16
Análise Gráfica................................................................................................................ 16
Análise Arquitetônica..................................................................................................... 18
MÉTODOS......................................................................................................................... 20
HAYAO MIYAZAKI.............................................................................................................. 22
Estúdio Ghibli, O Reino de Sonhos e Loucura.................................................................. 22
Recapitulação da história e contexto.............................................................................. 28
Ma.................................................................................................................................. 42
Ambiência...................................................................................................................... 52
Referências arquitetônicas............................................................................................. 68
CENÁRIO E ARQUITETURA............................................................................................... 80
INTERPRETAÇÃO DO ESPAÇO.........................................................................................147
ASPECTOS CONCLUSIVOS...............................................................................................155
REFERÊNCIAS................................................................................................................... 157
INTRODUÇÃO OBJETIVOS E
ORGANIZAÇÃO
por esse sentimento e por observar que Nesse sentido, realizou-se uma ampla
o material de estudo em questão, o revisão bibliográfica sobre sua biografia
filme “A Viagem de Chihiro”, é rico em e constituição de seu repertório para
referências arquitetônicas. construir uma análise arquitetônica
descritiva a partir de cenas (frames
É previsto dessa maneira na presente capturados) de “A Viagem de Chihiro”,
monografia de graduação concentrar o levando em conta o discurso do filme,
foco no estudo da arquitetura através como Miyazaki e sua equipe concebe o
da análise da produção “A Viagem de espaço visto e suas intenções a fim do Logo, inicialmente buscou-se trazer um
Chihiro” (2001). O principal objetivo uso do espaço pelos personagens do levantamento sobre o repertório, ideias
deste trabalho é portanto uma pesquisa filme. Utilizou-se ainda, como fonte de e considerações de Hayao Miyazaki de
documental exploratória sobre o pesquisa, o levantamento de críticas e maneira que, nos capítulos subsequentes,
filme “A Viagem de Chihiro”, visando reportagens sobre o cineasta que permite possa reconhecer e identificar as
aprofundar o entendimento dos aspectos um melhor entendimento sobre sua obra. referências por ele utilizadas para a
cênicos e de contextualização ambiental produção do filme “A Viagem de Chihiro”.
arquitetônica do mesmo, buscando ainda A bibliografia e os anexos completam a Foram abordadas informações acerca do
tomar maior familiaridade com a obra em monografia de forma a fundamentar o filme, contextualização histórica e cultural
questão, descritiva e explicativa. Para que está sendo explicitado na descrição utilizada para representar o tempo e
tanto, busca-se aproximar das decisões do filme e da cultura retratada, sensações espaço cenográfico do filme, além de
do autor, diretor e desenhista Hayao provocadas pelo uso de cores e elementos ressaltar juntamente a isso, as questões
Miyazaki, de sua vida pessoal e de seu arquitetônicos no cenário, comparação ideológicas e culturais, escolhidas por ele,
repertório para caracterizar os elementos do espaços observados com os espaços utilizadas para auxiliar na elaboração do
assimilados das cenas, quanto às utilizados como referências. A captura enredo.
influências históricas e contextualização da documentação e representação do
Como criança, fui uma grande admiradora dos costumes japoneses. Além disso, cenário e arquitetura a qual se trata Ao longo do texto, buscou-se depreender
das produções do Estúdio Ghibli pela procura-se conceituar e pontuar no filme como objetivo do trabalho, foi realizada os elementos arquitetônicos observados
sua presença de personagens principais a presença de Ma advinda dessa mesma através da seleção de frames do filme nas ambientações e nos espaços
femininos fortes que amadureciam cultura. Por fim, abordar a psicologia das que passaram por um filtro de modo a identificados no filme. Primeiramente
ao se tornarem o que sonhavam; cores na percepção do espaço retratado e possibilitar a melhor análise possível dos levantando pontos para a compreensão
pela ambientação, para mim até hoje as referências arquitetônicas e de cenário. elementos arquitetônicos identificados. dos conceitos de ambiência, para depois
impecável. Atualmente, como graduanda trazer à tona as referências arquitetônicas,
de arquitetura e urbanismo, continuo uma Determinou-se através dessa A análise de imagens não é uma tarefa reconhecidas por Miyazaki, para a criação
grande admiradora senão mais, tendo metodologia do trabalho, abordar simples, pois para alcançar um nível do cenário da animação. Por fim, adentrar
melhor interpretação das mensagens entrevistas concedidas pelo diretor intrínseco de interpretação de imagens na análise técnica e prática dos ambientes,
a serem passadas e suas intenções. As em jornais, revistas e sites, além da é necessário o aprofundamento nos utilizando excertos para auxílio do texto,
histórias e uso de cores fortes ainda retratação das produções “A Viagem de referenciais teóricos que auxiliem a retirados da produção, com edições
me provocam intensas emoções; e Chihiro” e “Reino de Sonhos e Loucura” leitura para além do que ela informa em autoral de “costura de imagens” - o
minha maior compreensão sobre a e suas decomposições. Também foi de um primeiro olhar. Por isso, foi utilizado que consiste em sobrepor duas ou mais
arquitetura e ambientação faz com que extrema importância preparar um prévio principalmente o capítulo “Análise imagens a fim de, além da montagem
os espaços ambientados tomem ainda levantamento bibliográfico para abordar semiótica de imagens paradas” do livro de panoramas, quando possivel, extrair
mais meu fôlego, devido ao cuidado e a influência da vida pessoal do produtor “Pesquisa qualitativa com texto imagem pessoas, deuses e fantasmas da captura.
detalhamento em seu espetáculo de Hayao Miyazaki e as referências que e som um manual prático” por Martin W. Isso só foi possível devido à câmera adotar
representação. Assim, fui influenciada podem ser observadas em suas criações. Bauer e George Gaskell. um ângulo fixo na produção do filme.

20 21
METODOLOGIA Assim, foi feita uma reflexão sobre do sentido visual/sonoro. Trata-se então realização, como sejam o seu contexto
Análise Gráfica esse conteúdo. A aplicação deste tipo de fazer uma análise ao filme nos seus social, cultural, político, econômico,
de análise implica, em primeiro lugar, aspectos visuais e sonoros recorrendo ou estético e tecnológico.
identificar o tema a ser observado no criando terminologia relativa à imagem
filme. Em seu “Ensaio sobre a Análise e ao som. Por isso, aqui optou-se por iniciar a
Fílmica”, 2008:1994, Francis Vanoye e monografia através de capítulos que
Anne Goliot-Lété reforçam: Analisar um filme ou um fragmento primeiramente interpretam pontos
é antes de mais nada, no sentido - assumidos relevantes à análise em
Analisar um filme não é mais vê-lo, científico do termo, assim como se questão - do repertório de Miyazaki, que
é revê-lo e, mais ainda, examiná-lo analisa, por exemplo, a composição por sua vez poderiam ter influenciado
tecnicamente. Trata-se de uma química da água, decompô-la em a obra. Após fazer isso, foi feito um
outra atitude com relação ao seus elementos constitutivos. É procedimento de análise muito comum
objeto-filme, que, aliás, pode trazer despedaçar, descosturar, desunir, que consiste em retirar fotogramas do
prazeres específicos: desmontar extrair, separar, destacar e filme. Esses fotogramas são um suporte
um filme é de fato, estender seu denominar materiais que não se fundamental para a reflexão já que
registro perceptivo e, com isso, se percebem isoladamente a olho nu permitem fixar algo movente, no caso as
o filme for realmente rico, usufruí-lo , uma vez que ofilme é tomado pela imagens de um filme.
melhor. (VANOYE e GOLIOT-LÉTÉ, totalidade. Parte-se, portanto, do
A partir deles, foram elaboradas
1994, p. 12) texto fílmico para desconstruí-lo e
Analisar um filme é sinónimo de imagens que pegam o ambiente inteiro
obter um conjunto de elementos
decompô-lo. Para o VI Congresso Em questão desse trabalho, no filme de contexto das ações cênicas, com as
distintos do próprio filme. Através
SOPCOM de 2009, Manuela Penafria, “A Viagem de Chihiro”, diz respeito à personagens retirados de cena, para
dessa etapa, o analista adquire um
doutorada em Ciências da Comunicação/ arquitetura criada por Hayao Miyazaki se concentrar na análise arquitetônica
certo distanciamento do filme.
especialidade Cinema, pela Universidade na cenografia. Em seguida, faz-se um no item de análises e inventário. Pois
(VANOYE e GOLIOT-LÉTÉ, 1994,
da Beira Interior, em seu texto “Análise resumo da história e a desmontagem algumas das imagens analisadas no item
p. 13)
de Filmes - conceitos e metodologia” do filme, tendo em conta o que ele diz a do penúltimo capítulo não se referem
ressaltou a fala de Francis Vanoye de que respeito do tema. apenas a fotogramas do filme tal como
Por fim, dentre a análise como um todo, se apresentam na obra de Miyazaki, mas
analisar implica duas etapas importantes,
Durante esse reconhecimento, foi pré- de acordo com Penafria, ainda podem ser foram construções que realizadas ao
primeiramente a decomposição na qual
estabelecida a dinâmica da narrativa feitas sub análises internas ou externas juntar mais de um fotograma e montar o
consiste em descrever e, em seguida,
e ponto de vista abordado na análise. ao filme, optando-se neste trabalho pelas contexto da ambiência arquitetônica a ser
estabelecer e compreender as relações
Fazendo a desmontagem do filme por duas. A primeira é centrada no filme em analisada. Dessa forma, se transformam
entre esses elementos decompostos, ou
partes, tendo como critério que decompor si enquanto obra individual e possuidora num instrumento de trabalho, pois
seja, interpretar .
um filme onde o espaço é importante, de singularidades que apenas a si dizem conseguirão ser apontadas os elementos
Segundo Penafria, o filme emprega implica fazer a seleção das partes desse respeito. Ainda segundo Penafria, se plausíveis a partir dos recortes, e ainda
em sua concepção visual elementos de filme levando em conta os espaços a análise refere-se a um único filme, é auxiliar na criação de esquema de plantas
composição das artes visuais: a linha, exteriores e interiores. Assim, visto que sempre possível analisá-lo tendo em e cortes para a interpretação dos espaços
as formas, massa, volume e texturas. o objetivo do trabalho reside em observar conta a filmografia do seu realizador dimensionais do filme.
Manipula o espaço tridimensional e objetos e ambiências que a “câmera’” de modo a identificar procedimentos
recria, nesses termos, objetos similares, captura, ao invés do sentido narrativo - presentes nos filmes, ou seja, identificar
como na escultura; explora as relações por quem e como a história é contada - e o estilo do autor Miyazaki. Na segunda
entre luz, sombra e cor como a pintura e ideológico - mensagem retratada pelo o analista considera o filme como o
a fotografia. Todos esses elementos são filme - o ponto de vista a ser abordado resultado de um conjunto de relações
agregados na imagem que se move. pela análise se intitula por si só: através nos quais decorreu a sua produção e

22 23
METODOLOGIA Por fim, Unwin acabou por preferir Dessa maneira, Unwin conclui
Análise Arquitetônica defini-la em sua escrita como uma sua definição de trabalho de
organização conceitual. Entretanto, arquitetura como organização
embora essa seja a melhor definição conceitual e seu propósito
para caracterizar a arquitetura como uma fundamental como identificação de
atividade, ela não aborda a questão do lugar. Ele define a partir daí, uma
seu propósito - o porquê da arquitetura. analogia sobre os seus elementos,
Por isso, ainda ressalta que foi só a partir igualmente importantes para sua
da compreensão da evolução da ideia compreensão. Isso se dá pois, em
de lar, que conseguiu-se compreender nossa tradução, “Esses (elementos)
a motivação de organizar o espaço não são os materiais físicos da
em determinados lugares, com suas construção - tijolos e argamassa,
respectivas variedades de propósitos, e vidro, madeira etc. - mas sim, os
induzir a prática de arquitetura. elementos conceituais. E devem
ser considerados não como objetos
A ideia de arquitetura como em si, mas nas formas como
identificação de lugar afirma o contribuem para a identificação - ou
papel indispensável desempenhado construção - de lugares.” (UNWIN,
na arquitetura tanto pelo usuário 1997, p. 25)
quanto pelo designer; e para o
designer que vai ouvir, afirma Na arquitetura, conhecer os elementos
que os locais propostos devem básicos é apenas o primeiro passo, mas
ser condizentes com os locais conhecê-los permite definir a identidade
utilizados, mesmo que demore dos espaços de maneiras adequadas.
para que isso aconteça. (UNWIN, Uma grande parte de sua prática reside
1997 , p. 14) em como eles são colocados juntos e,
é justamente identificar as inúmeras
manifestações realistas da ciência
Ao tentar compreender a atribuição da
arquitetônica no filme “A Viagem de
arquitetura, deve-se também levar em
É compreensível dizer que as questões Chihiro”, onde reside o maior objetivo
conta as circunstâncias às quais ela está
sobre a definição e o propósito da deste trabalho.
empregada. A forma como as pessoas
arquitetura nunca foram totalmente organizam e interpretam seus espaços Em sua realização física e em
resolvidas, Simon Unwin deixa isso claro está diretamente relacionada às suas nossa experiência real deles, os
em seu livro “Analyzing Architecture”, crenças e aspirações. À medida que essas elementos básicos e os lugares que
1997. A discussão inicia-se quando o autor visões de mundo variam - tanto no nível eles identificam são modificados:
levanta o questionamento “O que alguém pessoal, no nível social e cultural, e entre pela luz, pela cor, pelos sons, pela
está fazendo quando está fazendo diferentes subculturas dentro de uma temperatura, pelos movimentos do
arquitetura?” e elabora diversas reflexões sociedade - o mesmo, pressupõem-se, a ar, pelos cheiros (e possivelmente
para tentar respondê-lo e trazer um acontecer na arquitetura por mais que o até pelos gostos) , pelas qualidades
entendimento mínimo e acessível para a uso que prevalece é geralmente definida e texturas dos materiais usados,
compreensão da natureza da arquitetura por uma questão de poder - político, pelo uso, pela escala, pelos efeitos
de forma que permita àqueles que se financeiro ou de afirmação, argumento, e experiência do tempo…. (UNWIN,
dedicam a ela saber como prosseguir. persuasão. 1997 , p. 25)

24 25
MÉTODOS qualitativa com texto: imagem e som estabelecer uma compreensão sobre a constituição de uma ficha técnica da
: um manual prático” (2000) de forma qual momento do filme que as imagens casa de banhos como um todo.
a sistematizar e trazer maior clareza à foram retirados, usando dois conjuntos
pesquisa. A semiologia provê o analista de números. Os momentos do filme Na ficha técnica de interpretação de
com um conjunto de instrumentos que os frames foram retirados são espaço serão acrescentadas estudo
conceptuais para uma abordagem identificados pela cena, uma passagem das plantas e cortes, da casa de banhos
sistemática dos sistemas de signos, a que localiza certa situação ou ação, além de desenhos de sua perspectiva
fim de descobrir como eles produzem Assim, os fotogramas seguindo o modelo e da cidade de Yuya. Para isso será
Entendendo que o material de sentido. (PENN, in BAUER e GASKELL, (x)y, tem o x referente à cena da qual foi usado como referência a criação do
pesquisa se trata de um mundo 2000, p. 319). Em outras palavras, a retirada e o y à posição da cena enquanto “mundo” - tipo de servidor - do universo
fantástico é necessário, primeiramente, semiologia afina e torna explícito aquilo à montagem fílmica, considerando os “A viagem de chihiro” feita por Alan
comprender que neste estão presentes que está implícito na imagem. casos de cena na qual pode ser útil retirar Becker e sua equipe, dentro do jogo
duas realidades, a racional/realista e mais que um fotograma - logo, quanto Minecraft, de forma a obter uma melhor
a sobrenatural. Enquanto o mundo Para isso, leva-se em conta as visualização espacial da obra e exatidão
especificações do capítulo de “Análise mais alto o número, mais tarde no filme
realista, aquele em que vivemos, é o em dimensionamento nos esquemas das
Semiótica de Imagens Paradas”, escrito o frame se refere.
mundo primário, o mundo que o autor plantas e cortes.
cria, trata-se do mundo secundário, em por Gemma Penn, no qual enumera quatro
A segunda etapa se refere à identificar
que o leitor penetra ao fruir do enredo. etapas para que se possa apresentar os Becker trabalhou de 2011 à 2015 nesse
os elementos no material. Para isso,
É nesse que tudo é possível, desde que resultados de uma análise semiótica. A projeto, baseado em todo o percurso
opta-se por fazer anotações no traçado
respeitadas às leis particulares daquele primeira etapa condiz com escolher as de Chihiro no filme. A reconstituição
do material e pesquisa online nos
universo. imagens a serem analisadas, enfrentando foi possível com auxílio de 416 imagens
dicionários “JAANUS Dictionary of
os desafios de disponibilidade e natureza retiradas do filme além de reassistir as
Japanese Architectural and Art Historical
De acordo com Cláudia Jussan em do material. Como o material de estudo cenas com enfoque no cenário repetidas
Designer Cinematográfico (2005), o Terminology” (2001) e a “Encyclopedia of
dessa pesquisa se condiz à um filme, vezes. O “mundo” foi construído em
traçado de um cenário pode ser obtido por procurou-se entrar numa plataforma de Shinto” (2006) para conseguir identificar
e organizá-los em um inventário. Em escala 1:1 usando de referência o
alguns elementos como, objeto de cena - streaming Netflix para obter acesso às personagem de Minecraft e com um
incluindo mobília e decoração - atmosfera imagens, tendo sido necessárias 24h e seguida ocorre a análise desses em níveis
de significação mais altos, caracterizando pacote de texturas própria, permitiu que
sugerindo um determinado clima e 18 minutos - 1458 min - para a coleta de alterasse blocos para que se parecessem
elementos que caracterizam ambientes 396 figuras. Além disso, preferiu-se retirar a terceira etapa, em qual serão levantadas
os seguintes questionamentos: o que e de com elementos utilizados no filme,
externos ou internos, naturais ou todos os personagens vistos em cena de trazendo mais realismo à sua recriação.
construídos. A atmosfera é determinada forma a possibilitar uma maior ênfase quando se trata, a qual cultura se refere e
visualmente através da luz, texturas e ao espaço captado, por isso, também qual impressão transmite. Meu objetivo é chegar o mais
cores que sugerem sensações, o que foi foram gastas 7h e 57 minutos - 477 min Ao finalizar, Penn (2000) ainda deixa claro perto possível de sentir que está
reforçado no subcapítulo “Ambiência”, - na edição de costura dos frames com como fazer um relatório de forma mais no filme. Para fazer isso, tudo é
atribuindo assim aos ambientes o frio auxílio do programa Adobe Illustrator e completa possível em uma quarta etapa, recriado em escala de 1 a 1 por
ou calor, também determinando se está por fim, passaram por uma processo de referência cruzada de 416 imagens
deixando claro a necessidade de fazer
chuvoso, ensolarado ou tudo que está filtragem para a escolha daquelas mais de filmes, bem como assistir o filme
referência a cada nível de significação
relacionado às condições atmosféricas. relevantes. repetidamente. Também criei um
identificado na imagem, identificar o
Agora o que dará a sensação de limpo, pacote de textura personalizado,
Fazendo um adendo a isso, como conhecimento cultural exigido a fim de
novo, envelhecido, viscoso será a textura. usando minhas habilidades
visto anteriormente no capítulo de produzir a leitura e procurar relacionar
Além de atentar-se por essa perspectiva metodologia, seguindo técnicas de análise os elementos entre si. Cumprindo essa artísticas para alterar cada bloco
para fazer as análises dos frames em gráfica, Manuela Penafria em “Análise última, são reunidos as especificações para desempenhar um papel
questão, levou-se em conta, os métodos de Filmes - conceitos e metodologias” de arquitetura de cada ambiente específico na emulação dos planos
de semiótica previstos no livro “Pesquisa sugere criar uma numeração que possa característico e por fim relacionadas para de fundo do filme. (BECKER in

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HAYAO MIYAZAKI curiosidades que permeiam o seu dia a por ser o porta-voz do estúdio, visto a trancafiar todas as janelas, mesmo
Estúdio Ghibli, O Reino dia entre uma atividade e outra, dando lidando com contracapas de livros, as altas, e a fechar todas suas cortinas
de Sonhos e Loucura assim aparição para suas angústias,
hábitos e detalhes para o processo
produtos merchandising, orçamentos
e variadas reuniões. Como produtor é
antes de levar Sunada para seu escritório
pessoal. Ali, observa-se seu interesse
de criação diante os desafios de uma visto como bastante estrategista, levando pela política do país pela presença de
O cineasta japonês Hayao Miyazaki, produção animada toda por desenhos à sempre em conta para quem, quando um quadro acompanhando os tributos
mestre cinematográfico e da animação, mão. e onde transmitir o filme terminado, e dívidas públicas atualizados, e de
resolveu retornar aos trabalhos preocupando-se ainda com as refeições fragmentos de jornais em sua mesa, ao
O documentário começa dando um
após a aposentadoria anunciada em do momento e como será servida, a fim lado de um retrato de crianças que ele
enfoque em algumas figuras importantes
2013. “Miyazaki decidiu abrir mão de promover o produto da melhor forma. mesmo fotografou antes do acidente
do Estúdio Ghibli, introduzindo com a
da aposentadoria e fazer um longa- nuclear de Fukushima, em que aponta
chegada de Miyazaki às 11h da manhã Ambos se conheceram quando Suzuki
metragem de animação”, afirmou o site seus rostos despreocupados sem saber
e sua séria e agitada recepção à câmera trabalhava na editora Tokuma Shoten, foi
de sua produtora em caráter oficial. Tal da crise que estaria por vir.
e à cineasta Mami Sunada. Em seguida é designado a tarefa de lançar uma revista
decreto foi apenas uma das diversas visto seu colega produtor, o descontraído Devido a essa tragédia e também pela
revelações sobre a vida do aclamado de animação no prazo de três semanas
Toshio Suzuki em uma reunião a qual o mesmo sem saber nada sobre o assunto, aproximação do fim, até então, de sua
diretor no documentário “Estúdio Ghibli, condiciona a ir deliberar com Miyazaki, carreira e pelo tom nostálgico de “Vidas
Reino de Sonhos e Loucura”, dirigido logo sua pesquisa aprofundada o levou
visto que prefere sempre deixá-lo a par à Miyazaki. Depois que Miyazaki ter ao Vento”, respectiva animação em
por Mami Sunada, com lançamento em das decisões da produção. Enquanto realizado o seu primeiro filme, “O Castelo produção no momento do documentário,
novembro de 2013. parece que seu colega é a cabeça das de Cagliostro”, Suzuki encomendou-lhe as divagações de Miyazaki são sempre
Tal produção é bastante relevante para obras lidando com o roteiro, qualidade um mangá em fascículos, que acabaria em direção a questões como o que é a
conhecer a fundo Miyazaki, pois mostra de ilustrações, manter a produção por se tornar “Nausicaä do Vale do Vento”. felicidade e o que buscamos na vida.
em terceira pessoa não apenas o seu dentro do prazo. O produtor também Nascido próximo ao período da Segunda
cotidiano de trabalho, como também as exerce importante papel no estúdio Em outro momento surge um comentário Guerra, em janeiro de 1941, entende-se
de Miyazaki o qual chama atenção. que Miyazaki sempre esteve próximo dos
Fala sobre Sankichi, a ilustradora vista acontecimentos históricos de seu país.
o acompanhando como braço direito Em entrevista para o jornal The Telegraph,
durante a produção do storyboard, que em 2014, ele conta que uma de suas
ele cita como a pessoa mais notória do primeiras memórias é um bombardeio
estúdio por ser quem mais se envolve aliado, quando ele tinha quatro anos e
com as produções. Tamanha é sua meio de idade, e acordou no meio da
consideração que o próprio diretor, noite para ver Utsunomiya em chamas.
conhecido por ser sistemático e exigente, Mais tarde, ele se lembrou de fugir da
revela que enquanto trabalham “pode cidade, correndo e segurando a mão de
meter medo na equipe mas não perto seu pai, mas sem sentir medo porque a
dela, afinal de contas conduziu ela até luz dos prédios em chamas o lembrava o
o altar”. Nesse momento já começa-se céu da manhã.
a perceber o quanto as vozes de seus
colegas e sua equipe são expressivas para Seu pai, Katsuji, era diretor na empresa do
Miyazaki e suas criações. irmão, Miyazaki Airplanes, e trabalhava
com a fabricação de peças que eram
Como de costume, às 21h o produtor utilizadas em aviões militares durante a
Figura 1: Suzuki com equipe de Tokuma Shoten. encerra seu expediente e regressa ao Guerra (PINTO apud LENBURG, 2019). Foi
Fonte: “Estúdio Ghibli, o Reino de Sonhos e Loucura” (2013). seu ateliê privado, no qual ele se dispõe no período pós-guerra e a reconstrução e

28 29
a mudança cultural do país, que Miyazaki vento, ou as crianças indo para a escola.
cresceu e portanto o aproximou da Silêncios são estendidos enquanto
temática da guerra, constantemente admiramos as nuvens multicores do pôr
revisitada em suas obras. do sol. Momentos como esses na vida de
O relacionamento direto da família com a Miyazaki, juntamente com seu passado,
fábrica, tem influência também na paixão são referências pessoais para os roteiros
do cineasta pelo vôo, tanto por aeronave, de seus filmes.
quanto por uma visão mágica do ato de
voar, repetida em filmes como “A Viagem Apesar de Miyazaki deixar claro durante
de Chihiro”, “Serviço de Entregas de o documentário que não segue linhas
Kiki” e com forte menção em “Vidas ao definidas. Sua equipe quase nunca
Vento”. Assim como o protagonista deste sabe onde o filme vai chegar, porque
último, Miyazaki se vê fascinado por ele altera a todo o tempo detalhes da
aeronaves militares e teve que viver com a história de acordo com suas intuições,
contradição de amar aquilo que o devasta, o que está vivendo ou ainda sentido.
desenhar aviões de guerra, mesmo sendo Conjuntamente, ao invés do ilustrador
contra a guerra. escrever guiões, ele desenha a próprio
punho os ekonte, storyboards, de começo
É visto também Miyazaki, dando bastante a fim sem ajuda de computadores,
valor a momentos de descanso corporal. somente para então passar o trabalho
Figura 2: Storyboards de Hayao Miyazaki da animação “A Viagem de Chihiro” (2001).
Parte de sua rotina diária é dizer adeus adiante para a equipe de animadores Fonte: Halcyon Realms (2012).
às crianças do infantário interno, fazer que seguem seu traço sob sua batuta
detalhista e sempre em movimento. “A Viagem de Chihiro’’faz muitas alusões sistemático para com o prazo de entrega
pausas para alongamento no escritório à vida de seu produtor, Hayao Miyazaki.
Chegou a comentar que, devido a isso, da longa metragem, “ao contrário do
e é claro, o que vem antes de suas 11h, Em “Reino de Sonhos e Loucura” há um
em “A Viagem de Chihiro’’ nem ele cara (Takahata) que estamos prestes a
“uso uma escova de massagens, faço recorte em que ele revela que tal filme foi
mesmo sabia o que estava a fazer do mostrar” (SUZUKI in SUNADA, 2013).
exercícios, tomo uma ducha, apanho o inspirado por uma proposta da sua parte,
filme. Antes da coletiva de anúncio dos
lixo, tomo café, depois volto pra casa e em chamar amigos para se hospedar na próximos projetos do Estúdio Ghibli,
como” (MIYAZAKI in SUNADA, 2013) . Reafirmando sua preferência por sua cabana nas montanhas. Observando a Suzuki demonstra-se preocupado
Este último é referido por ele como pilar produção a partir de frames desenhados filha do casal, pensou em Chihiro, revelou com o andamento da produção “O
da sua vida pois são dentre esses limites à mão, o cineasta em entrevista à Roger em entrevista à Tom Mes em 2002. Conto da Princesa Kaguya” dirigido
que ele lê o mundo. É bastante conhecido Ebert: por Isao Takahata , pois mesmo com o
também, sua prática em agrupar a equipe O que me fez decidir fazer este esforço concentrado acredita que não
no terraço do prédio do estúdio, ao final Pegamos a animação de células filme foi a constatação de que não conseguirão concluí-lo. Em suas palavras,
do dia, para contemplar as cores, as [feitas à mão] e digitalizámos para há filmes feitos para essa faixa Takahata nunca fez um filme dentro do
nuvens e a sensação de encontrar (mesmo enriquecer a aparência visual, etária de meninas de dez anos. Foi tempo ou do orçamento, apesar de sua
que no frenético ritmo de trabalho) tempo mas tudo começa com o desenho observando a filha de um amigo genialidade.
para apreciar o mundo. à mão humana. E o padrão de que percebi que não havia filmes
cor é determinado pelo plano para ela, nenhum filme que falasse Quando Miyazaki formou-se na
Sensação de amplidão, de tempo de fundo. Não inventamos uma diretamente com ela. (MES, 2002) Universidade de Gakushuin e entrou na
dilatado, de vastidão são algumas das cor no computador. Sem criar indústria de animações, foi Takahata
impressões sobre o que o documentário esses padrões rígidos, seremos Além desse lado muito despretensioso quem o descobriu. Ambos trabalharam
procura transmitir ao espectador. O andar apanhados no turbilhão da ao criar, pode-se dizer que Miyazaki juntos na maior empresa de animação
de uma gata, ou as flores vergando ao informatização. (EBERT, 2002) é ágil com suas decisões e bastante do Japão nos anos 1960 e 1970, a Toei

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Animation e foi onde Miyazaki passou Nesse momento algumas pessoas da
a ter suas primeiras experiências na equipe aparecem falando sobre como
indústria cinematográfica, desenvolvendo é trabalhar com ele e como muitos já
desenhos, mais precisamente, em desistiram por não conseguirem chegar
episódios de séries animadas (PINTO às suas expectativas. Entretanto, o
apud LENBURG, 2019). Continuaram a próprio Miyazaki reafirma que isso não
trabalhar juntos em muitos projetos até seria possível pois como idealista, se
que na produção de “Ana dos Cabelos ele imagina algo ninguém conseguiria
Ruivos”, Miyazaki afastou-se decidido representar exatamente como ele
que era momento de seguir seu próprio pensou.
caminho para que pudesse começar a
criar. Entretanto, logo após sua estreia Dessa maneira, foi chegando ao
de “O Castelo de Cagliostro”, para seu fim, dentro do prazo, a produção do
próximo filme “Nausicaä do Vale do filme “Vidas ao Vento” e portanto o
Vento”, convidou Takahata a participar documentário que retrata a passagem
como produtor e cofundador do estúdio. de Miyazaki como seu produtor. Como
foi o último filme anunciado até aquela
Foi brevemente após a inauguração do data, também entra em discussão
Estúdio Ghibli que Suzuki encontrou-se sobre o futuro do estúdio ghibli, mas
com Miyazaki e deixou Tokuma Shoten Miyazaki demonstra-se despreocupado
para oficialmente trabalhar na equipe, pois, assim como sua aposentadoria,
para então começar a produzir filmes de acredita ser um processo inevitável. O
ambos, Miyazaki e Takahata. Atualmente, sentimento de nostalgia e despedida
estes últimos são conhecidos como toma conta das cenas, agora por
competidores amigos, enquanto Suzuki completo, principalmente no encontro de
Figura 3: Takahata e Miyazaki trabalhando juntos em Toei Animation Studio.
atua como amigo intermediador, e Fonte: “Estúdio Ghibli, o Reino de Sonhos e Loucura” (2013). Takahata à espera de Miyazaki no telhado
durante o documentário pode-se observar do estúdio. Apesar da competitividade e
diversos comentários piadistas entre eles tão inteligente que pouparia o fôlego. nos desenhos subsequentes na rivalidade entre produtores, comemoram
que demonstram seus laços. Com isso, a equipe responsável foi capaz produção. De estruturas gráficas
a finalização do filme e sua amizade.
em meio à reunião de levantar a voz de conceituais, gráficas, esquemáticas,
Além desse importante relacionamento Hideaki Anno (Produtor, animador e convencionais, espaciais, de navegação, O documentário “Reino de Sonhos e
com seus colegas produtores, o cineasta consagrado), a qual a princípio sequenciais e de movimento corporal, Loucura” toma fim deixando em aberto
documentário mostra o quanto é foi contestada por sua estranheza até à estrutura narrativa, tratamento de uma provocação de Suzuki ao Miyazaki na
importante para Miyasaki, sua equipe que sentiram-se empolgados com a comportamentos e emoções, ritmo, produção de outra animação. Dedicado a
e uma força-tarefa. Por exemplo, em possibilidade. Neste recorte já é possível tempo e até mesmo som e co-fala, produzir animes destinados às crianças, o
determinado momento da produção notar a diferença de comportamento Miyazaki participa em todas as fases diretor desiste de se aposentar em 2016,
de “Vidas ao Vento”, o diretor e Suzuki mostrada por Miyazaki, ainda brincalhão da produção. Como o tempo é curto, pois, como afirma em uma entrevista
encontram-se desamparados quanto porém se mostrando mais à vontade com ele enfatiza em detalhes específicos os audiovisual no especial de televisão
à quem deveria ser o dublador para a câmera. No lugar de sua postura séria quais faz questão de aparecer no filme, japonesa NHK realizada em 2005, seu
o personagem protagonista, pois se e ereta do início do documentário, agora como por exemplo, a forma como o público é a verdadeira motivação para
preocupam com como a voz refletiria esbanjam-se sorrisos. personagem principal deveria curvar-se fazer suas obras. A obra em questão se
sua personalidade. Dessa maneira, ele nas ilustrações, referindo à etiqueta intitula “How Do You Live?”.
deveria ter boa dicção e voz mais aguda, Em outro episódio pode-se observá-lo, japonesa as quais figuras daquele
como os intelectuais da época; ele seria após terminar o storyboard, auxiliar patamar possuíam na época.

32 33
A PRODUÇÃO DE
“A VIAGEM DE CHIHIRO”
Tendo isso em vista, serão dirigidos essas tratando-se de um Audi A4 Quattro vias de entrada e fronteiras para proteger
narrativas históricas de um Japão milenar 1996. Já caracteriza-se contraste forte os viajantes e os residentes locais. É a
para caracterizar símbolos culturais aos elementos folclóricos japoneses que representação, de acordo com os contos
Recapitulação da japoneses identificados ao longo do filme, logo surgirão. de Nihonshoshi (PRÍNCIPE TONERI e
história e contexto enquanto, com o auxílio do ensaio, “Um
pesadelo do Japão capitalista: Spirited A caminho da nova casa, o pai decide
Ō-NO-YASSUMARO, 720, p. 59), da
divindade Funato-no-Kami, que protege
Away” por Ayumi Suzuki (2009), serão pegar um atalho e perdidos e acabam contra a invasão de pessoas más e sinaliza
As duas narrações históricas - o Kojiki
relacionados visões e costumes orientais por adentrar uma estrada rural. Esse a encruzilhada para a entrada na vila.
e o Nihonshoki - são os mais antigos
documentos históricos produzidos e ocidentais. momento faz alusão à primeira analogia
apresentada pelo filme - com o passar Em seguida, encontram uma construção,
no Japão, que devido a isso teve
A produção conta a história de Chihiro, da cena reconhecemos a viagem com torre de relógio, “construção
grande atenção da corte japonesa na
uma garota de dez anos de idade que está turbulenta a qual a família percorre que aparentemente antiga, que lembra os
constituição de um grande projeto
de mudança para uma cidade do interior promove uma reflexão sobre a realidade antigos templos xintoístas ou budistas
historiográfico para ser compartilhado
com o público. São textos, em sua no Japão e se encontra relutante com as exteriorizada, a qual acabam de sair, e a japoneses, com seus grandes telhados
essência, interpretações, determinadas transformações que isso implicará em sua realidade interiorizada/espiritual, a qual curvos.” (PESSEL, 2009, p. 38). Curiosos,
e ordenadas segundo contos populares vida. Nesse momento é fácil perceber o os pais entram na construção e a filha,
acabam de entrar pela floresta. Durante
e assim possui, a ideologia deste tempo desgosto de Chihiro por ter deixado com medo de ficar só, os segue. Esse
o caminho, Chihiro já consegue reparar
expressa em termos simbólicos. Ambos todas as suas lembranças e amizades é um dos primeiros momentos que
resquícios dessa passagem, percebendo
são de um valor inestimável para se para trás, assim como ficaria qualquer podemos observar com calma a riqueza
por exemplo uma estátua de pedra.
compreender a visão de mundo que criança da sua idade, principalmente dos cenários da obra e perceber como o
os nipônicos antepassados possuíam e como ela, supondo-se, mimada com os Segundo a comunidade oficial do autor se atém aos detalhes e como isso
entender qual sua noção de historicidade, vários presentes no banco de traz e filha Estúdio Ghibli, Ghibli Wiki (2015), faz toda a diferença nas cenas.
entretanto, o Nihonshoki, tem seus dois única. A escolha de Miyazaki sobre o carro são denominadas Dōsojin e ao
volumes iniciais dedicados à era dos da família também levanta observações contrário do que Chihiro possa pensar,
deuses, o que para esse trabalho será de sobre suas condições financeiras, retratam divindades tutelares - e são
maior proveito. considerando o contexto do filme e tradicionalmente colocadas próximas às

Figura 4: Audi A4 Quattro 1996. Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001). Figura 5: Atalho pela estrada rural. Fonte: Edição autoral de imagens do filme (2001).

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Ainda movidos pela curiosidade, pai japonês. Pela maldição da bruxa, os
e mãe decidem atravessar o córrego pais de Chihiro são transformados
pulando por algumas pedras sobre a água, em porcos, e Chihiro deve servir
avançam sobre alguns degraus de escada como operário no Yuya para
e adentram na pequena cidade a qual resgatá-los ... Por ter Chihiro
demonstra-se vazia. Logo percebe-se vivendo na era de um Japão em
vários comércios, fachadas cenográficas, modernização, Miyazaki convida
construções antigas - representativos o público a experimentar o que
ao Período Meiji marcado pela forte realmente iremos perder como
ocidentalização da cultura nipônica nas nação e pessoalmente durante esse
construções, que mostram ser um misto período.
de arquitetura ocidental com arquitetura
Os pais de Chihiro não pensam duas vezes
japonesa típica do período entre 1867 a
e começam a devorar o bufê - que mais
1912 - e um incrível bufê. Dessa forma,
tarde descobre-se que foi deixado como
Miyazaki começa a introduzir suas
oferendas para kami, os espíritos. Roubar
fortes críticas ao capitalismo de origem
Figura 6: Telhado do templo com aspectos xintoístas. essas ofertas é um pecado, tornando-se
ocidental presentes em toda a obra. O
Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001). desta forma um o fator decisivo para o
ensaio, Um pesadelo do Japão capitalista:
Logo após atravessarem o templo com TONERI e Ō-NO-YASSUMARO, 720, p. que está para acontecer com os pais da
Spirited Away, por Ayumi Suzuki (2009,
torre de relógio, são presenteados com 37), representa o Yomidoni-Sayarimassu- garota, que mesmo sem ninguém para
p.1) reafirma isso:
uma deslumbrante paisagem que inclui Ookami ou Tigaeshi-no-Ookami, que atendê-los consomem e usam a premissa
campos, um pequeno rio, pequenas marca a fronteira entre este mundo Esta cidade mística se assemelha que irão pagar quando os proprietários
casas aparentemente abandonadas e e o mundo dos espíritos e serve, ao Japão Meiji em termos de aparecerem. Eles oferecem a comida para
novamente um Dōsojin. Este por sua supostamente, como barreira para arquitetura, durante a qual o estilo Chihiro que por sua vez recusa além de
vez, conforme o Nihonshoshi (PRÍNCIPE impedir a passagem de pessoas. era uma mistura de ocidental e tentar fazer os pais pararem, em vão, uma

Figura 6: Dōsojin de Yomidoni-Sayarimassu-Ookami assusta Chihiro. Figura : Comércios da rua principal da com arquitetura que remetem ao Japão Meiji.
Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001). Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001).

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vez que já estão muito focados em comer passam a ideia de irregularidade causada
tudo que está em sua frente, esquecendo pelo tempo e a grande exploração de
até mesmo da presença de sua própria materialidade com a utilização de pedras,
filha. madeiras, tecidos e metais, remetendo
desta forma a industrialização por toda
Aborrecida, Chihiro decide explorar cidade.
a pequena cidade sozinha. Enquanto
ela caminha, percebe-se a afluência de A criança então acaba por se encontrar
elementos utilizados na montagem do em uma espécie de praça central, que
cenário da animação. A diferença de possui um grande torre e uma árvore
texturas e cores em uma mesma parede, tradicional japonesa.

Figura 7: Máscaras Kasuga materializam os espiritos. Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001).

Ao encontrar seus pais, percebe que Chihiro nega o que está vendo e acredita
foram transformados em porcos. Trata-se estar sonhando, negando a nova
de outra forte crítica ao capitalismo realidade. Percebendo que a atitude é
ocidental introduzida por Miyazaki, inútil, ela corre para o córrego que agora
entendendo a intenção da indústria tornou-se um vasto rio com embarcações
de que a população consuma de forma e um porto, onde espíritos visitantes
desenfreada, independentemente do da cidade desembarcam, o local agora
produto, da mesma forma que os pais se mostra como um centro de lazer
da menina, como porcos devorando a espiritual.
lavagem produzida (SUZUKI, 2009).

Figura 6: Uma torre com um “油 (óleo óleo)” escrito em frente às fontes termais.
Fonte: Edição autoral de imagem do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

É a partir dali que consegue-se ver pela tokoyo - e o dia - mundo presente,
primeira vez a casa de banhos - um utsushiyo - dos humanos, após uma
espaço tradicional na cultura nipônica. grande discussão e separação de seus
Chihiro inicia a travessia da ponte que dá respectivos deuses Tsukiyomi - deus da
acesso ao Balneário, mas é surpreendida lua - e Amaterasu - deusa do sol.
pelo menino Haku, que a alerta para que Ao correr em busca de seus pais, ela se
vá embora imediatamente e cruze o rio depara com várias sombras com formas
antes que o sol se ponha. As crônicas humanóides no caminho. Segundo Dani
de Nihonshoki (720, p.27 - 46) relata no Cavallaro (2006), em The Anime Art of
capítulo 5 de seu primeiro volume - Tomo Hayao Miyazaki, eles são espíritos com
I - como a noite se tornou o mundo máscaras Kasuga inspiradas em rituais
dos deuses e espíritos - mundo eterno, realizados em santuários japoneses. Figura 8: Pai de Chihiro em forma de porco. Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001).

38 39
Haku volta a encontrar Chihiro logo Izanami, a criadora do Japão, morre reduz a quantidade de funcionários pagos então grita com eles dizendo que se
quando ela percebe que seu corpo está enquanto dá a luz a uma divindade. necessários para aquela operação, tal eles não funcionassem, a magia de
desaparecendo, e por isso ele lhe oferece Izanagi, seu irmão/marido, sente qual as máquinas desenvolvidas durante Yubaba não funcionaria mais neles
comida daquele mundo para que ela se tanto a falta dela que vai para a o período de industrialização mais intenso e eles se transformariam em mera
torne parte dele e evite que desapareça. terra inferior para recuperá-la. Mas na era mecânica de produção. É visto fuligem. (SUZUKI, 2009, p. 01).
A seguir, Haku alerta que ela precisa Izanami diz que já comeu a comida também que ele não deixa seu local de
Nem mesmo as fuligens encantadas -
entrar na casa de banhos e pedir emprego desse reino, o que implica que é trabalho nem para comer ou para dormir.
ajudantes de Kamaji que colocam carvão
para permanecer ali. O ato de ter que parte dele. A comida produzida no
O próprio Kamaji se apresenta, ao nas caldeiras - tem o direito de parar de
comer comida do outro mundo para não outro mundo tem o poder de fazer
conhecer Chihiro, como escravo das produzir, caso parem perdem a sua magia
desaparecer, faz referência ao conto ficar naquele mundo. (SUZUKI,
caldeiras que aquecem os banhos do e voltam a ser simplesmente fuligem, uma
mitológico japonês de Izanagi e Izanami, 2009, p. 01).
centro de lazer dos espíritos. Ao ter analogia de Miyazaki à burguesia e aos
a criadora do Japão.
toda sua força voltada para o trabalho trabalhadores de classe mais baixa que
no Yuya, Yubaba também o retém como não têm escolha a não ser dar toda a sua
propriedade, assim como todos os outros força de trabalho ou serem substituídos.
que estão ali, com exceção dos clientes. (SUZUKI, 2009)

Além disso, assim como os Tendo seu pedido negado, pois Kamaji,
trabalhadores precisam ter um com seus seis braços e fuligens encantas,
emprego para sobreviver, Yubaba não precisa de mais ajuda nas caldeiras,
precisa do trabalho deles para Chihiro é instruída por ele e por Lin - outra
sobreviver. Enquanto Kamaji proletária que leva o almoço do foguista
conversa com Chihiro, seus durante a conversa - e sobe até o último
ajudantes, chamados Susuwatari andar da casa de banhos, para pedir
(fuligem), que trazem carvão para emprego diretamente à Yubaba, a dona
a caldeira, se distraem. Kamaji do Yuya.

Figura 9: Haku dá comida do outro mundo a Chihiro. Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001).
A hesitação de Chihiro não dura muito se produz como um trabalhador ou como
tempo após esses acontecimentos, um animal, não há lugar para aqueles que
pois ela passa a compreender que cabe não geram lucros.
à ela resgatar os seus pais e encontrar
uma forma de sair daquela dimensão. Levando em conta o que foi passado
Ela toma sua primeira atitude rumo por Haku, Chihiro chega até as caldeiras
ao amadurecimento e decide seguir onde encontra quem aquece os banhos,
as instruções de Haku, adentrando o Kamaji, a quem pede um emprego. Nesse
Balneário para conseguir um emprego. momento as críticas ao capitalismo
Segundo ele, caso não conseguisse uma presentes na obra são fortemente
ocupação ela também acabaria sendo introduzidas e começamos a perceber
transformada em animal, pois no reino como a casa de banhos pode representar
de Yubaba - dona da casa de banhos e de certa forma a sociedade. Kamaji possui Figura 10: Kamaji utilizando cinco dos seus seis braços no trabalho na caldeira.
encarnação do capitalismo no longa - ou seis braços para operar as caldeiras, o que Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001).

40 41
As antessalas e a sala de Yubaba são nossa identidade e como essa perda de um trabalho incomum, o qual ninguém quando retirou uma bicicleta de dentro
diferentes de todo o resto do Yuya identidade pode implicar em vários males gostaria de realizar, auxiliando Lin no do rio.
pois, apresentam forte apelo da cultura diferentes (TSUKADA, 2019). banho de um espírito fedorento. Esse
ocidental e são todas bastante luxuosas. espírito é na verdade um Deus do Rio Não, não vem da mitologia, mas da
No filme, o maior mal compreendido
A bruxa também é a única ali que não deformado pela poluição humana, minha própria experiência. Há um
pelos personagens que ali servem
utiliza roupas típicas para serviço. Ao que após ser limpo pela iniciativa da rio perto de onde moro no campo.
no balneário, é se tornar um serviçal
invés disso, usa um longo e até mesmo menina, mostrou sua verdadeira forma Quando limparam o rio, pudemos
permanente de Yubaba, sem nenhuma
‘chique’ vestido ocidental, além de ter a agradeceu com um bolinho de ervas ver o que havia no fundo, que
vários acessórios que aparentam ser perspectiva de libertação no futuro. O mágico. estava realmente pútrido. No rio
muito valiosos. Isso acontece pois Yubaba tradutor do Nihonshoshi, Lica Hashimoto havia uma bicicleta, com a roda
é a representação do capitalismo, da (2020), interpretando o nome de alguém O Deus do Rio, um ser puro em forma projetando-se acima da superfície
burguesia e da dominação da cultura como parte de seu corpo, também de espírito fedorento, caracteriza uma da água. Então eles pensaram
ocidental sobre a cultura japonesa ressalta isso: crítica direta à poluição humana e como que seria fácil retirá-lo, mas era
presente no Período Meiji. consegue-se transformar os rios, mares terrivelmente difícil porque havia
Quando alguém perdia as unhas,
e florestas em ambientes tóxicos e ficado muito pesado com toda a
Yubaba contrata Chihiro para sua casa de as pessoas caíam em desgraça,
sujeira que havia acumulado ao
banhos, porém rouba parte do seu nome, pois deixavam de ter sorte e de desagradáveis. Inevitavelmente também
é uma crítica ao capitalismo e às grandes longo dos anos. (MES, 2002)
uma forma de prender os trabalhadores, afugentar o mal. E o agravante
chamando-a agora Sen. Mais tarde, Haku de ter a própria saúde e a vida indústrias, que poluem o meio ambiente
- entrega-lhe suas roupas e um papel em poder de outrem. (PRÍNCIPE em larga escala, (SUZUKI, 2009). As Uma bicicleta é o objeto que Chihiro tem
com o nome original de Sen para que TONERI e Ō-NO-YASSUMARO, referências para essa cena remetem à maior dificuldade de remover do espírito
ela não se esqueça dele e possa voltar 720, p.65) própria vida de Hayao Miyazaki, que aos fedorento. Após grande esforço e sucesso
para casa, explicando sobre o feitiço de domingos sempre participa de forma em retirá-la, o espírito torna-se limpo
Yubaba. Miyazaki ressalta a importância Chihiro realiza vários trabalhos de voluntária na despoluição de um rio local. e puro novamente. O presente que a
de termos um nome para alertar limpeza designados pela velha, até que Ele conta em entrevista com Mes, que um menina recebe é como uma recompensa
contra a possibilidade de perdermos em um determinado dia ela é instruída a dos momentos que mais o emocionou foi por preservar a natureza.

Figura 11: Yubaba rouba parte do nome de Chihiro. Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001). Figura 12: Todos auxiliam no banho do espírito. Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001).

42 43
Mais tarde ela utiliza metade desse Kamaji, que lhe explica que o menino está como cabelos e membros superiores. o rodeia. Como Chihiro é gentil, ele a trata
bolinho de ervas para salvar Haku, que amaldiçoado e à beira da morte. Kamaji Somente após vomitar o que consumiu, com gentileza. Como os trabalhadores
foi encontrado em sua forma de dragão então a instrui a pegar o trem de Yuya devido a Chihiro ter lhe dado a outra da casa de banho se aproximam dele
lutando contra pássaros de papel mágico. até a sexta estação e buscar Zeniba, que metade do bolinho de ervas mágico, por pura ganância, apenas pela sua
Como resultado dessa batalha, Haku fica controlava os pássaros de papel e a única e segui-la para longe do Balneário, capacidade de produzir ouro ou as outras
muito ferido e Chihiro recebe a ajuda de que poderia salvar Haku naquela situação. distante desses sentimentos e exemplos coisas que desejam, Sem Face também
conflituosos ali representados por se torna ganancioso e arrogante. Nesse
todos os seus funcionários, é que ele se consumo desenfreado causado pelo
tranquiliza e se acalma novamente. seu comportamento absortivo, fica
A principal característica de Sem Face é escancarada a falta de identidade desse
se comportar de acordo com a maneira espírito, no sentido mais absoluto, como
como é tratado e absorver as emoções uma criança que ainda não tem seus
à sua volta. Na verdade, sua principal valores e ideais estabelecidos, refletindo
característica é ele ser tremendamente os exemplos dados pelas pessoas em sua
empático, influenciável e flexível ao que volta (SUZUKI, 2009).

Figura 13: Kamaji presenteia Chihiro com tickets de trem.


Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001).

Antes de partir, Chihiro ainda tem que O Sem Face abre um leque de
enfrentar o Sem Face, espírito que ela interpretações, no site Valkirias por
anteriormente ajudou a sair da chuva ao Tsukada (2019), ele é retratado sendo
convidá-lo a entrar no Balneário. Esse ser um dos conflitos secundários da obra,
que no início apresentou-se inofensivo, que contribuem para a evolução pessoal
tendo a habilidade de oferecer tudo de Chihiro. Ele pode representar a
o que alguém almeja, transformando personificação da ganância ou a infância,
inclusive areia em ouro, mostra-se a período da vida em que absorve-se Figura 14: Sem Face oferece ouro a Chihiro. Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001).
seguir extremamente nocivo, passando integralmente, sem críticas ou critérios
claros, o que quer que as outras pessoas Em seguida, Chihiro, Sem Face, o bebê ação ininterruptos. Miyazaki e a cultura
a consumir todas as pessoas que de Yubaba e seu pássaro - anteriormente japonesa, diferente da cultura ocidental,
apresentem enquanto o caráter é
anteriormente aceitaram suas oferendas. transformados pela magia da Zeniba valoriza o silêncio, os momentos de
construído.
A medida que esse espírito incorpora no momento de confronto com Haku contemplação e quietude de seus
outros personagens, ele acaba por agregar Apenas ao engolir um trabalhador é - partem em busca da casa da bruxa. A personagens, à espera do que pode vir
também as características negativas que ele consegue ter voz e por sua vez, viagem de trem até lá, é uma travessia a ser, que pode conter tanto conteúdo e
de cada uma de suas personalidades falar. Depois, quando engole mais dois de calmaria, o que demonstra a significado tanto quanto uma cena mais
e torna-se um monstro gigantesco e funcionários da casa de banhos, ele característica de Miyazaki de promover agitada, abrindo espaço e tempo para
grotesco. adquire características mais humanas não somente sequência de planos de reflexões e emoções subjacentes.

44 45
Depois de percorrer esse imperturbável Face fica na casa de Zeniba, onde não
caminho, Chihiro chega à estação, onde será contaminado com más influências.
se encontra a casa de Zeniba e descobre Zeniba dá sua bênção a Chihiro antes de
que Haku ficará bem. Ela é aconselhada partir, presenteando-a com um elástico
pela bruxa, que apesar de ter os mesmos mágico para prender os cabelos.
poderes de Yubaba, além de ser sua irmã
gêmea, é seu extremo oposto em termos No caminho de volta é quando Chihiro
de valores e personalidade. Zeniba leva recupera suas memórias sobre Haku,
uma vida simples, gosta de costurar, e recorda que o conheceu há bastante
não possui bens materiais luxuosos e tempo, muito antes de seu reencontro
nem utiliza sua magia para tudo, só para em frente ao Balneário no início do
o extremo necessário. Assim, renega filme, quando estava prestes a se afogar
os hábitos capitalistas de Yubaba e em um rio, quando ainda era um bebê.
também contrapõe-se ideologicamente Haku recupera suas memórias, ele é na
a ela, de forma que chegou a incitar uma verdade outro Deus do Rio e ao lembrar
maldição sob seu capanga, Haku, a fim de seu nome quebra o controle que Yubaba
atrapalhar seus negócios. exercia sobre ele. Figura 14: Porcos falsos atras de cordas nawa. Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001).

Através dessa dualidade, Miyazaki Ao chegarem ao Balneário, o confronto respeitam-na como uma igual, mostrando bastante - tempo tivesse passado,
exemplifica a dialética entre interioridade com Yubaba poderá ser rápido, porém a evolução pessoal e o amadurecimento com as paredes dos templo afetadas
e exterioridade, contrastando complicado. A bruxa pede para que da garota durante a sua “viagem”. por intempéries e o carro encontra-se
principalmente o design de interiores Chihiro identifique seus pais entre No dicionário de Símbolos de Jean empoeirado e coberto de galhos e
de seus lares, o qual se torna um dos diversos outros porcos em sua frente Chevalier e de Alain Gheerbrant (1994), folhas, indicando a passagem de tempo.
maiores parâmetros para diferenciação - nessa cena, consegue-se ver uma o verbete Viagem aponta a algumas Além disso, Chihiro está carregando um
e comparação das duas bruxas. Segundo corda que antecede os porcos e ideias elucidativas à nossa discussão. elástico diferente preso aos cabelos.
Fabrizio D’Onofrio em “The importance consequentemente a porta de entrada (...) Os autores afirmam que a viagem Eles entram no carro e Chihiro, após
of design in Studio Ghibli’s Filmography da casa de banhos, trata-se de um seria esse rito de iniciação, uma busca toda a transformação que a cidade Yuya
(Vol. 2, 1992–2001)” (2020) existe um Shirikume-Nawa. De origem xintoísta, pela descoberta do novo, talvez até e o mundo espiritual lhe proporcionam,
paralelismo histórico notável a se fazer, são cordas - nawa - feitas de palha de mesmo dentro de si, uma nova versão segue para a nova casa, dando fim a
à medida que o pomposo mobiliário arroz ou cânhamo, traçadas, com tiras de si mesmo. Assim, tendo em mente trama.
europeu, do movimento moderno, que de papel branco - shide - penduradas, uma perspectiva mais ampla das obras de A aclamação da crítica levou o
antes influenciava cada vez mais os consideradas sagradas. Segundo as Miyazaki, a viagem, seja ela espontânea filme a receber o Urso de Ouro no
interiores mínimos das casas japonesas, crenças previstas no Nihon Shoki (720, ou forçada, acaba se tornando tema Festival Internacional de Cinema

começava a ser visto superestimado com p. 59), ela não permitirá que nenhuma dominante de muitas histórias retratadas de Berlim, em 2002, e o Oscar de
forma de corrupção passe seus limites. na tela. (PINTO, 2019, p. 72) Melhor Animação da Academia de
a chegada do design contemporâneo -
Levando isso em conta, devido a Artes e Ciências Cinematográficas,
sec. XXI - que procura menos informação. De volta à suas realidades, os pais de
inocência e sua sagacidade, a jovem em 2003, permanecendo, até os
Após uma noite agradável cumprindo Chihiro não se lembram nem suspeitam dias atuais, como o único filme não-
consegue reconhecer que os seus pais de nada, mesmo com algumas indicações
tarefas domiciliares na casa de Zeniba, não estão presentes e assim, sua família estadunidense a ganhar o Oscar
Chihiro é surpreendida pela chegada de de que os acontecimentos não foram nessa categoria. (...) a visibilização
é liberada para voltar ao mundo humano. um simples devaneio ou sonho por
Haku que foi buscar o bebê de Yubaba, que um filme recebe a partir dessas
Boh, e ela própria para que possa Na despedida, os bakemonos e os parte da menina. Observa-se que o túnel honrarias pode ser essencial para a
enfrentar a chefe e retornar junto ao espíritos, que antes lhe causavam medo, de ida e volta do templo encontra-se largando-a mais vista em muitos
seus pais ao mundo humano. O Sem não assustam mais a menina, e agora magicamente diferente, como se - países. (PINTO, 2019, p.78)

46 47
A PRODUÇÃO DE
“A VIAGEM DE CHIHIRO”
Ma

48 49
Em “A Viagem de Chihiro”, Miyazaki com o divino” (OKANO apud PINTO e
faz um sublime trabalho retratando as REINALDO, 2019, p. 03).
tradições japonesas no filme. Como
visto anteriormente, são numerosas as A pesquisadora o caracteriza como um
referências aos costumes nipônicos e suas conceito estético cultural intrínseco à
crenças populares. Há ainda a grande sociedade, afirma ainda que, esse vir a ser
reverência que ele faz à aparição de ‘ma’ é algo que os japoneses sequer costumam
na animação, por isso neste capítulo, será verbalizar, uma vez que o aprendem
abordada a sua conceituação. como regra a ser seguida desde que são
inseridos no convívio social.
O termo estético ‘ma’ é amplamente
utilizado nas artes cênicas como O uso de ‘ma’ existe também em outras
uma pausa significativa, um espaço áreas. No desenho industrial e na
ou um intervalo. Dentro do espaço arquitetura é a ausência de material,
bidimensional e unidimensional, ‘ma’ mas que faz parte da composição, além
sugere medição. De acordo com Richard de, nas casas japonesas tradicionais,
Pilgrim (1986), pesquisador e autor de ‘ma’ é representado como espaços
livros na área de religiões orientais e artes internos amplos, com a possibilidade
japonesas: de transitação livre entre os cômodos
- como retratado no cenário de “A
A palavra ‘ma’ significa, Viagem de Chihiro”- assim como para
basicamente, um ‘intervalo’ entre o exterior, uma vez abertas as portas
duas (ou mais) coisas ou eventos corrediças fusuma (opacas) ou shôji
espaciais ou temporais. Assim, ela (translúcidas). Entende-se portanto a
não é usada apenas para sugerir falta de preocupação em ocupar todo o
medições, mas possui significados espaço com móveis e por isso faz-se mais
como gap, abertura, espaço uso do centro dos ambientes ao contrário
entre, tempo entre, e assim por dos cantos, preferíveis no ocidente.
diante.” (PILGRIM apud PINTO e
Em diálogo com essa perspectiva
REINALDO, 2019, p.02)
japonesa sobre ‘ma’, ressalta-se o modo
Em resumo, ‘ma’ apresenta-se como como o ocidente compreende o silêncio,
um vir a ser, uma possibilidade, uma o vazio, a pausa, enquanto significação,
aproximação, algo que ainda não e não simplesmente ausência de
é, e que portanto, tudo pode ser. informação. Se tratando dessa diferença
É a potencialidade do inexistente entre pensamentos, a brasileira Orlandi,
transforma-se, mas estando na iminência estudiosa dos processos de significação
do existir. No Brasil, Michiko Okano, no Ocidente, defende que o ser humano
professora de História da Arte da Ásia contemporâneo e ocidental busca evitar
na Universidade Federal de São Paulo, o silêncio:
é referência nas pesquisas sobre esse
tema. Segundo ela, “‘ma’ está presente Para o nosso contexto histórico-
em todos os aspectos da cultura japonesa social, um homem em silêncio é
e remonta a um espaço vazio de conexão um homem sem sentido. Então,

50 51
o homem abre mão do risco da Lasseter afirma que os filmes de Miyazaki
significação, da sua ameaça e se possuem espaços-tempo de pacing,
preenche: fala. Atulha o espaço nos quais o público é convidado a parar
de sons e cria a ideia de silêncio e a refletir. Esses instantes seriam
como vazio, como falta. Ao importantes para a narrativa, tornando
negar sua relação fundamental possível um equilíbrio entre momentos
com o silêncio, ele apaga uma rápidos e lentos na evolução da história
das mediações que lhe são contada. Segundo ele, há filmes nos quais
básicas. (ORLANDI apud PINTO e você não pode correr, sendo importante
REINALDO, 2019, p. 07) que a plateia reflita sobre o que está
acontecendo na tela, pois isso agregará
A compreensão oriental de ‘ma’ é
à história futuramente.
exatamente contrária à de vazio sem
significado. No Ocidente, cineastas O estranhamento causado por esse
e pesquisadores já reconheceram a momento de aparente vazio narrativo
existência de algo de certa peculiaridade para o público ocidental pode acontecer
espaço-temporal nas produções de também pelo fato daquele momento do
Miyazaki. John Lasseter, ex-diretor da filme se tratar do clímax da história, no
Pixar e da Walt Disney Animation Studios, qual, costumeiramente, o espectador
quem fez as dublagens das animações segura o fôlego esperando o que
de Miyazaki para serem transmitidas no acontecerá em seguida. Em vez disso,
ocidente, teve que consensualizar com um momento revelador ou decisivo
os momentos de ‘ma’ visto, uma vez de vida ou morte da protagonista é
que é acostumado com o bombardeio de apresentado com calmaria, pausa,
informações a todo instante presente em respiração e repouso. Esses fatores
suas produções. Por meio de contratos, refletem diretamente as características
foi proibido efetuar qualquer corte de da cultura japonesa, a valorização da
suas produções originais. Miyazaki em pausa e da contemplação.
entrevista à Ebert, ressalta:
É na pausa, no espaço e no tempo
As pessoas que fazem filmes que o momento se torna gestante de
têm medo do silêncio, então criatividade e o espectador torna-se mais
querem papel e gesso. Eles estão conectado com a produção. O seu foco
preocupados que o público fique rendido à quietude e ao silêncio da “não
entediado. Eles podem subir e ação”, desencadeia a sensação de uma
pegar pipoca. Mas só porque é 80% energia invisível, mas palpável. É como se
intenso o tempo todo, não significa cada movimento e som fossem quadros
que as crianças vão abençoar você separados que revelam uma figura de
com sua concentração. O que energia invisível, porém sentida.
realmente importa são as emoções
Cenas calmas de inação, em que um
subjacentes - que você nunca as
personagem pode divagar ou até
deixe ir. (EBERT, 2002)
permanecer imóvel, são uma ocorrência
comum nos filmes de Miyazaki. Em

52 53
entrevista para Robert Ebert em 2002, Lembro-me da primeira vez que
Miyazaki ressaltou: “O tempo entre peguei o trem sozinho e como
minhas palmas é ma. Se você tem me senti na época. Para trazer
apenas ação ininterrupta, sem espaço esses sentimentos para a cena,
para respirar, é apenas ocupação. Mas se era importante não ter uma visão
você aproveitar por um momento, então através da janela do trem, como
a tensão crescente no filme pode crescer montanhas ou floresta. A maioria
para uma dimensão mais ampla. Se você das pessoas que se lembram da
tiver uma tensão constante a 80 graus o primeira vez que pegaram o trem
tempo todo, você fica entorpecido.” sozinhas não se lembram de
absolutamente nada das paisagens
Assim, como refletido por Ebert, os fora do trem porque estão muito
filmes de Miyazaki são repletos de ação e focadas no próprio passeio.
movimento, mas as histórias não deixam Portanto, para expressar isso, não
de ter um senso de equilíbrio, significando deveria haver nenhuma vista do
que há cenas que apenas fazem uma trem. Mas eu criei as condições para
pausa para momentos de contemplação. isso nas cenas anteriores, quando
Esses momentos em que “nada acontece” chove e a paisagem fica coberta de
podem não avançar a história mas o água como resultado. (MES, 2002)
autor acha importante ter um tempo
para absorver os mundos e personagens
que ele apresenta. Em “A Viagem de
Chihiro” a cena que melhor demonstra a
personificação de ‘ma’, acontece durante
uma transitoriedade espacial promovida
por uma viagem de trem a qual Chihiro
e outros personagens fazem à casa de
Zeniba.
Com duração de mais de dois minutos,
não há diálogos, interações entre os
personagens e nem ações significantes.
Miyazaki atentou-se na representação
para a percepção da quantidade de tempo
passado dentro do trem, visto que o
número de passageiros torna-se escasso e
o template de cores utilizado escurece ao
passar das cenas. Em entrevista com Mes
em 2002, ele diz ainda ter se esforçado
para sintonizar o sentimento do público
com a personagem, referindo-se à
nostalgia e empatia.
Figura 15: Vagão em que se encontra Chihiro assim que adentra o trem.
Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001).

54 55
Observa-se ainda a mudança de postura
dos personagens, a qual reflete o passar
do tempo e o que sentem. Chihiro,
entretanto, mantém-se com expressão
pensativa e destemida (figura 16) até
chegar ao seu destino, preparando-se
para enfrentar o que lhe aguarda. Trata-se
de um momento de apreensão, sendo
que deverá enfrentar a segunda bruxa
Zeniba que anteriormente feriu Haku.
Essa postura é muito diferente daquela
do início do filme (figura 17), mudando-se
para uma nova cidade. Tudo o que Chihiro
sofre ao longo da animação, testa e mede
sua capacidade de crescimento diante
dessa situação destoante. Trata-se de
uma jornada de amadurecimento no qual Figura 17: Boh e pássaro transformados, que acompanham Chihiro, dormem no seu colo
depois de horas de viagem. Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001).
o espectador presencia a mudança de
personalidade da protagonista de forma
orgânica e não forçada em uma pessoa
motivada, interessada e compreensiva.

Figura 16: Chihiro e seus acompanhantes próximos à Sexta Parada.


Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001).

Figura 18: Chihiro olha através da janela do trem, pensativa.


Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001).

56 57
A PRODUÇÃO DE
“A VIAGEM DE CHIHIRO”
natural quanto artificial, pode
Apesar da vastidão de detalhes
ser manipulada por projeto para
ilustrativos que possam ser analisados no
identificar espaços particulares e
Ambiência filme, neste capítulo será dado enfoque à
ambiência vistas nos espaços principais dar a eles um caráter particular.
(UNWIN, 1997, p. 26)
do filme, devido à sua capacidade
de afetar a mente, as emoções e a
interpretação do espaço de diversas Além da luz, a cor também é um elemento
maneiras. Segundo Unwin em seu livro indiscutivelmente alterador do espaço
“Analysing Architecture” ressalta: visível, inclusive, as questões de cor
são inseparáveis ​​das de luz. A própria
iluminação pode ser de qualquer cor, o
Em sua realização física e em
vidro colorido muda a coloração da luz
nossa experiência real deles, os
que o atravessa e as cores aparentes dos
Hayao Miyazaki, é um ilustrador e elementos básicos e os lugares que
objetos materiais são afetadas pela cor
roteirista muito estimado devido sua eles identificam são modificados:
da luz que incide sobre eles. Ela também
grande capacidade de tornar suas pela luz, pela cor, pelos sons, pela
desempenha o papel do reconhecimento
animações em mundos que parecem ser temperatura, pelos movimentos do
do espaço, assim como a luz, por isso não
reais. “A Viagem de Chihiro” em questão, ar, pelos cheiros, pelas qualidades
pode-se dizer que faz apenas referência
trata-se de uma das suas melhores e texturas dos materiais usados,
à decoração e design de espaços com
produções, não apenas visualmente mas pelo uso, pela escala, pelos efeitos
temperamentos particulares. Segundo
também pela sutileza com que trabalha e experiência do tempo… (UNWIN,
Unwin : “a importância da cor no
tantas camadas. Miyazaki atenta-se 1997, p. 25)
reconhecimento do local é sublinhada
em deixá-lo o mais realista e palpável
pela camuflagem, que oculta, destruindo
possível, por isso cada elemento foi Essas forças modificadoras fazem parte ou obscurecendo as diferenças de cores”.
incluído na animação de forma pensada. das condições da arquitetura, podendo
Asher Isbrucker ressalta uma citação também ser elementos na identificação Na sociedade oriental existem tradições
do ilustrador em seu vídeo ensaio, The do lugar - refere-se aos seus elementos milenares que moldaram sua sociedade
Immersive Realism of Studio Ghibli: conceituais. O primeiro entre esses mesmo atualmente. Especificamente,
elementos modificadores da arquitetura as cores têm associações simbólicas que
O anime pode difundir mundos
é a luz, a qual atua tanto como condição aparecem na arte, e mantiveram esses
ficcionais, mas, apesar disso,
como também como um elemento. Além significados, tratando-se do Feng Shui.
acredito que em seu núcleo deve
disso, a luz está relacionada à atividade Segundo José Arthur Fell em “Ensaio
ter um certo realismo. Mesmo que
exercida em um espaço, diferentes sobre as cores na arquitetura” (2019), é
o mundo representado seja uma
tipos de luz podem ser apropriados uma prática pseudocientífica originária
mentira, o truque é fazer com que
para diferentes tipos de atividade, da China antiga a qual alega usar forças
pareça o mais real possível. Dito
contribuindo assim para a identificação energéticas para harmonizar os indivíduos
de outra forma, o animador deve
do lugar. com o ambiente ao seu redor.
fabricar uma mentira que parece
tão real que os espectadores A luz do céu é o meio difuso por Entretanto, somadas com as intenções
pensarão que o mundo retratado meio do qual as pessoas com humanas e, desde as múltiplas reações
pode existir. (ISBRUCKER, Asher visão experimentam os produtos que cada uma das cores elementares
2016, 1”40’) da arquitetura; mas a luz, tanto podem provocar, busca-se verificar as

58 59
possibilidades de suas combinações, pois, e ao sentido da visão, vista. Levando coisas devem ser enquadradas, tanto
um ambiente pode sempre participar de isso em conta, com auxílio da memória teórica quanto fisicamente, sendo que na
novos estilos de vida e receber novas tátil, é possível olhar pelas imagens e ao maioria das vezes, ela enquadra o comum
destinações. Por isso, neste capítulo será menos imaginar as texturas dos materiais e o cotidiano.
abordado tal reflexo cultural de Feng Shui, observados. Por isso, contribui para a
Pensando assim, percebe-se que o
enfatizando a influência das cores como identificação do lugar, mesmo que não
ser humano se rodeia de molduras,
ativadores de sensações psicodinâmicas esteja presente.
pelas quais organiza o mundo
em paralelo às insinuações das intenções
Do mesmo modo pode ser interpretado arquitetonicamente. Certamente, está
dos espaços observados.
o tempo, que pode ser notado, mesmo dentro da capacidade da arquitetura
Ressalta-se uma passagem por Gibbs que não pessoalmente, como elemento emoldurar quadros - como o retângulo
vista no estudo Mariana Pedrotti e Camila modificador da arquitetura. Isso é de uma janela emoldura uma vista, ou a
Pezzini sobre a influência de cores na devido ao costume de percepção do passagem de uma porta a figura de uma
arquitetura: passar do tempo, através de sinais de pessoa. Também é possível compor os
envelhecimento dos materiais que dão produtos da arquitetura, na cidade ou na
A cor é, sem dúvida alguma, a mais sinal de pátina ou deterioração. paisagem, como se eles próprios fossem
importante ferramenta da qual objetos em uma imagem, talvez para
o designer de interiores dispõe. Às vezes, os efeitos do tempo serem vistos de um determinado ponto
Possui a capacidade de transmitir são positivos, às vezes negativos. de vista.
instantaneamente a atmosfera e Geralmente são considerados Os produtos da arquitetura
o estilo e de criar efeitos visuais. “naturais”, pois não estão sujeitos são molduras: as salas em que
Também é um dos primeiros ao controle por decisão humana; trabalhamos, os campos onde se
aspectos percebidos em um mas isso não significa que não jogam, as ruas por onde passamos,
ambiente. As pessoas podem não possam ser antecipados e usados​​ a mesa onde uma família come,
mencionar o esquema cromático positivamente. É possível escolher os jardins em que nos sentamos,
de um projeto, mas certamente, materiais, ou projetar em geral, os pisos em que nos sentamos
comentarão que um determinado com a maturidade em vez do ... são todos ‘frames’; e, juntos,
ambiente é muito acolhedor, cálido, uso inicial em mente. O tempo eles constituem uma estrutura
convidativo, limpo, espaçoso, é um elemento modificador da complexa e extensa dentro da qual
elegante ou intimista - impressões arquitetura em outro sentido; um vivemos (que embora a estrutura
diretamente provocadas pelas que está mais sob o controle do também ‘ajuda’ ao definir o espaço:
tonalidades de cor utilizadas (GIBBS designer, embora não totalmente. criando demarcação e uma relação
apud PEDROTTI e PEZZINI, 2018, (UNWIN, 1997, p. 35) ordenada entre ‘dentro’ e ‘fora’.
p.03) (UNWIN, 1997, p. 76)
Por fim, a experiência de um lugar é
Já a textura, que pode ser obtida por radicalmente afetada por sua escala,
aplicação de superfície de tinta, polimento através da leitura de Unwin, descobre-se Assim, os espaços vistos por através
ou tecido, ou ainda, relacionadas às que diz respeito aos tamanhos relativos, do filme “A Viagem de Chihiro” serão
qualidade inatas dos materiais e aos sendo que na arquitetura refere-se ao previstos subsequentemente, através
modos como podem ser tratados e tamanho de algo em relação a si mesmo. de frames a partir dessa perspetiva de
usados, é uma característica que se Por isso deve ser levado em conta que a emolduramento, a fim de facilitar a
pode sentir além de, relacionada à luz arquitetura envolve considerar como as analogia.

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Figura 19: O Balneário no momento em que Espirito do Rio parte. Figura 20: Cidade de Espiritos, Yuya. Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001).
Fonte: Edição autoral de imagens do filme .(2021).

Portanto, construída em um estilo Por ser uma cor estimulante que dá equilibradas, isto é, enfocadas da mesma e poderia ser interpretada como uma
tradicional de balneário japonês, a casa sensação de volume, atua juntamente forma, calmas, sem ficarem sonolentas representação de uma cidade mais
de banhos do filme tem seu esquema com o marrom que permite a sensação ou dispersas, justamente a intenção de “intangível” e por isso compreendida
de cores abrangendo tons de vermelho- de vigor e tradicionalismo para dar maior uma casa de banhos. Assim, em meio a como a cidade dos espíritos.
alaranjado, verde e tons semi-escuros impressão à construção. um pântano meio seco, o Balneário é visto Ela é composta por muitas cores, advindas
de marrom. Segundo Amélie Geeraert como uma estrutura muito grandiosa das fachadas de luz das lojas locais,
para Kokoro Media em “Significados Já o verde atua em questão da e opulenta na ilha Yūya no Reino dos mas as que sobressaltam e chamam a
tradicionais das cores na cultura complementaridade, de forma a amenizar Espíritos e com suas cores cálidas de atenção no conjunto da composição
japonesa” (2020), esse vermelho - akani o constante foco que se tem no vermelho vermelho-alaranjado produzem um calor é o amarelo vindo da iluminação e o
- é comum no Japão, visto nos portões do que agita os estados emocionais, assim suave e convidativo nos ambientes. vermelho da torre de relôgio refletida
santuário xintoísta - torii - e acredita-se promovendo o equilíbrio emocional por ela. O vermelho que já é uma cor
que protege contra o mal e o desastre e induzindo o relaxamento. A paz e o Desse modo, procura-se observar a de excitação, juntamente com essa
além de aumentar o poder dos kami (os desejo de realização estão presentes no cidade Yuya sobre o rio. Com sua imagem iluminação, promovem uma imagem de
espíritos adorados na religião xintoísta). verde, é uma cor que mantém as pessoas espelhada na água remete ao imaterial, movimentação e vida noturna.

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Figura 21: Escadaria de madeira, que leva à Sala de Caldeira pelo exterior do Balneário, Figura 22: A sombra de Chihiro se mostra contrária à luz do fogo e reflexos nos potes de vidro
mostrando-se sem equipamentos de proteção. Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001). à favor. Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001).

Para além da ponte, cascata, entrada e altura da estrutura a qual Chihiro desce, subsolo onde a Sala da Caldeira está É fácil perceber que se trata de um lugar
escadas laterais, o Balneário tem várias sua instabilidade e ausência de um localizada. A maior parte da sala é insalubre visto que não contém janelas,
entradas laterais e portas traseiras que guarda-corpo. Além da noite já tomar-se ocupada por uma imponente fornalha e tornando o ambiente bastante escuro a
podem ser utilizadas para despejar conta do cenário, o que normalmente já suas paredes são forradas com gavetas não ser pela única fonte de luz - o que
água no exterior sem serem vistas cria uma sensação de atenção, as cores contendo ervas que Kamajī memoriza pode ser observado pela direção das
pelos clientes. É por uma dessas rotas escuras diminuem o ambiente, insinuam para enviar água de ervas para os banhos. sombras projetadas e luz refletida nos
o estreitamento da escada e isso induz O resto do espaço está praticamente vidros - vinda da queima de carvões. O
de quintal que Haku leva Chihiro e a
o espectador a questionar a segurança vazio, exceto por uma grande estrutura tamanho exuberante da caldeira na sala
instrui a entrar pela Sala da Caldeira de madeira que funciona como cama e
descendo as escadas laterais antigas e da jovem, aumentando assim a tensão pequena e o reflexo próximo de luz nos
compartilhada entre ele e a personagem. local de trabalho de Kamajī, bem como
instáveis para encontrar Kamaji. Nesse objetos passa a impressão de muito calor.
pelos vários orifícios na parede que
momento, Miyazaki permite que haja Mesmo descendo a escada de forma funcionam como espaço de vida para os
maior atenção na ação, observa-se a desenfreada, Chihiro chega a salvo ao Susuwatari (fuligens encantadas).

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Figura 23: Dormitório designado para as funcionárias mulheres do Balneário. Figura 24: Chihiro e Lin são seguidas pelo Espírito do Rabanete até o elevador social.
Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001). Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001).

O Balneário é uma estrutura com vários e limitado, tendo os funcionários que É importante entender que esse uso das cores que a formam - mistura do
andares, sendo que é possível subir e dormir uns ao lado dos outros, não de cores não foi utilizado à outrance. vermelho com o ciano - simbolizando
descer os níveis por um elevador vertical ficando claro se os trabalhadores O vermelho é uma cor poderosa assim a falta de diferenciação interior,
tendo apenas que puxar uma alavanca. em posições mais altas na escala de na sociedade tradicional oriental, propicia a meditação (FELL, 2019).
Para os outros trabalhadores também são empregos têm quartos privados. representando fortes emoções em vez
designados dormitórios - separados por de ideias e através do “Ensaio sobre as Algumas das banheiras desse nível são
O andar térreo é visto sendo dedicado a
divisões masculina e feminina - embora cores na arquitetura” (2019) entende-se notórias por serem extremamente sujas,
cozinhas e banheiras de uso dos clientes.
não se saiba em que andar eles dormem. Observa-se um ambiente colorido, onde que, o ambiente sobretudo avermelhado por isso interpretando-se sua utilização
Em uma cena em que Chihiro senta na destaca-se principalmente o uso de é ideal para incitar, e em combinação popular e constante, não é a toa que a luz
varanda do dormitório, faz aparentar amarelo utilizado nas paredes - com com o amarelo vivo, será acrescentado solar conhecida como raios ultravioletas
que seja em um nível alto, porém como detalhes pretos - e amuletos desenhados um senso de energia, fazendo com que o têm poder higienizador. Durante a estada
aos fundos, percebe-se que se encontra na laje, um cortinado e estofados roxos ambiente seja descontraído e esportivo. de Chihiro como trabalhadora, ela é
no subsolo quando referido pela fachada que chamam atenção e por último, todo Já o roxo purifica e energiza os níveis designada - com Lin - a limpar a banheira
frontal. É acentuado, que esse espaço o detalhamento em vermelho aberto, o físicos e espirituais, uma vez que é maior e mais suja daquele andar, que,
de descanso é extremamente apertado que lembra a fachada da construção. composta dos significados antagônicos segundo Lin, não era limpa há meses.

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Figura 25: Dormitório designado para as funcionárias mulheres do Balneário. Figura 26: Chihiro apreensiva ao encarar as portas de entrada para o escritório de Yubaba.
Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001). Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001).

O segundo andar é dedicado às O último andar é apresentado escuro complexa. Nesse momento, descobre-se com perfil exorbitante e pouco acessível
tradicionais salas de jantar japonesas com devido ao baixo fluxo de pessoas daquele as cores verde no piso de porcelanato, enquanto representa um status de
tatame para os clientes. Ele é mostrado cômodo, tendo apenas duas portas no tom bastante tradicional na cultura opulência, soberba, e muita ostentação
pela primeira vez durante o passeio de grandiosas vermelhas, diretamente japonesa, chamado matcha iro, a cor do de dinheiro. Verde é a cor da fertilidade
elevador de Chihiro pelo complexo de iluminadas, os elementos que mais chá verde matcha (GEERAERT, 2020), e e do crescimento na cultura tradicional
edifícios com o Espírito do Rabanete. Um chamam atenção. A porta esquerda parede em composição com a cor creme oriental (FELL, 2019), portanto,
longo corredor com quartos separados nunca aparece aberta, enquanto a porta marfim. O azul turquesa, vermelho escuro demonstra-se coerente na sua utilização
por portas de madeira e papel de arroz direita, quando aberta, revela o escritório e dourado se encarregam dos detalhes. para retratar a ostentação de dinheiro de
alinha-se, mantendo-se com iluminação de Yubaba e o quarto de Boh. Em um Yubaba.
baixa e sóbria. Eles também parecem segundo reconhecimento mais analítico, Nessa composição de cores e elementos
bastante populares entre os clientes, percebe-se o hall como um espaço de valiosos, piso reluzente devido seu
visto que todos os quartos estão ocupados construção suntuoso, alinhado com vasos caráter de pedra polida, transmitem
quando Chihiro chega ao nível. caros acentuados por uma arquitetura uma sensação mais fria ao ambiente,

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Figura 27: Chihiro sendo puxada, pela magia de Yubaba, pelos corredores do seu lar. Figura 28: Quarto de Boh, cheio de presentes.
Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001). Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001).

Várias grandes portas de madeira, que se mostra diferente, cheio de tapetes neurônios com suavidade, ajuda no (Verde) É uma cor fria que permite o alívio
fecham pelo menos quatro outras salas, decorados em vermelho, paginação em equilíbrio deles e além de ser uma cor e o relaxamento, tanto físico quanto
bloqueiam o caminho para o escritório de pedras caras e riqueza de detalhes. jovem e esportiva, tratando-se assim mental. Aliado ao cálcio, o verde é a cor
Yubaba, seguido por muitos corredores em um composição de cores pálidas mais sedante de todo o espectro, atuando
O quarto de seu filho, Boh, por sua vez é
tortuosos abundantes em ornamentos e que evocam um sentimento juvenil, de como barbitúrico, sendo, portanto,
detalhes construtivos , principalmente, como se fosse o quarto de uma criança
inocência e pureza (FELL 2019). indicado para as pessoas excitadas,
em vermelho e dourado que abarrotam o de família de alto padrão qualquer,
agitadas, insones e ansiosas. Por ser
olhar. O amarelo, amplamente utilizado na desde que ela seja gigante. Tem um De acordo com uma citação de Ana
relaxante nervoso e muscular, é benéfico
decoração oriental devido sua semelhança pé direito altíssimo, de forma que Maria Rambauske fornecida no ensaio
na terapia de processos traumáticos
com a cor de ouro e, proporciona por isso, consiga comportá-lo, possui desenhos de Pedrotti e Pezzini, podemos supor
(RAMBAUSKE apud PEDROTTI E
sentimentos de riqueza e prosperidade, paisagísticos e acolchoados verdes que a escolha da cor por Yubaba pode
PEZZINI, 2018, p.10).
junto com vermelhos dá um ar de realeza vibrantes para sua proteção e muitos ter sido intencional para controlar o
(FELL, 2019). O escritório em si não detalhes em azul claro, que atua nos temperamento de seu filho.

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Figura 29: Haku e Chihiro caem pelo tunel secreto de Yubaba. Figura 29: Momento em que Chihiro e Sem Face são convidados a adentrar a casa de Zeniba.
Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001). Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2001).

Como mostrado por Haku, o último andar Ao chegar ao seu destino, descobre que aparenta ser o único cômodo além individualista, não estereotipada (FELL,
também pode ser acessado por um longo que Zeniba é uma persona contrária a de, em suposição, seu quarto e banheiro, 2019). Tais cores sugerem a sensação
conjunto de escadas de pedra em espiral, de sua irmã Yubaba. Não se preocupa é tomada por cores neutras, como o de um ambiente acolhedor e seguro,
sendo dele inclusive onde em forma de com exuberâncias e com uma vida em marrom visto em uma parede de tijolos enquanto, a única cor que se destaca, o
dragão cai ferido, com Chihiro, até a Sala alto padrão, característica que pode ser e mesa de madeira volta a se remeter verde, visto em uma porta e armários de
do Caldeirão. É nesse momento em que vista em seu lar, que abraça uma cultura ao tradicionalismo e o cinza das paredes cozinha, ainda assim é relacionado ao
Chihiro percebe o que deve fazer e é interiorana, com poucos elementos de concreto o qual representa a fusão e equilíbrio emocional.
persuadida por Kamaji a seguir até a casa decorativos mas que demonstram a simplificação de todos os estímulos e
da bruxa que provocou aquilo em Haku. apreço pessoal. A cozinha de sua casa, exprime introversão e participação social

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A PRODUÇÃO DE
“A VIAGEM DE CHIHIRO”
Ao comentar a criação de A viagem
de Chihiro (2001), o autor afirma que,
para construir o cenário, utilizou traços
Referências característicos de lendas do folclore
arquitetônicas nipônico:

Eu sei que alguns podem interpretar


Viagem de Chihiro como apenas
Miyazaki faz um constante mergulho mais uma variante de filmes comuns
em suas obras em um Japão do passado, que retratam outros mundos, mas,
em vez disso, gosto de pensar nele
recuperando e ressignificando seus
como o descendente direto do
valores, através da memória coletiva,
folclore japonês como Suzume no
histórica e até pessoal, para que Oyado (Casa do Pardal) ou Nezumi
coexistem com aspectos modernos. no Goten (Palácio do Rato). Não
Existem opiniões diferentes sobre a temos que chamá-lo de “mundo
localização das referências à animação paralelo” ou algo assim, mas gozo
“A Viagem de Chihiro”, entretanto, os dos nossos ancestrais em Casa do
Figura 30: Ponte vermelha em frente ao balneario do filme.
lugares oficialmente certificados são em Pardal e a diversão em Palácio do Fonte; Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).
sua maioria retirados de Tóquio, Japão. Rato. (MIYAZAKI apud HORTA e
Eles são inspirações e descobertas que NUNES, 2018, p. 68).
Miyazaki encontrou perto de onde mora. Figura 31: "Ponte Kingun" de Shiman Hot Spring, Prefeitura de Gunma.
Em entrevista para Tom Mes, ele ressalta Inspirado em contos populares japoneses, Fonte: Baidu Baike (2021).
que seu repertório de referências advém o filme traz em seu enredo elementos
do momento de vida em qual ele se típicos do passado nipônico, como a
encontra. casa de banhos e o trem, além de buscar
referências nas próprias arquiteturas e
Tenho um extenso estoque de paisagens do país. A “Ponte Kingun” de
imagens e pinturas de paisagens que Shiman Hot Spring é reconhecida como
compilei para usar em meus filmes. uma das referências confirmadas de
Qual eu escolho depende totalmente Miyazaki, localizando-se em Agatsuma-
do momento em que começamos a gun, Prefeitura de Gunma, perto de
trabalhar no filme. Normalmente
Tóquio, Japão.
faço a escolha em conjunto com o
meu produtor e depende muito desse Segundo Emma Steen (2020), através do
momento. Porque mesmo a partir do guia de cidade, Time Out Tokyo, o local
momento que quero fazer um filme, é conhecido como a fonte termal mais
continuo juntando documentação. antiga do Japão, tendo sido construída
Viajo com muita bagagem ao meu
no ano de 1691 fazendo parte do Período
redor, tenho muitas imagens do
Genroku. Trata-se de um balneário em
cotidiano do mundo que quero
retratar. Fazer um filme ambientado
madeira, característica a qual perdura
em uma casa de banhos, como A desde sua construção e pode inclusive ser
Viagem de Chihiro, é algo em que vista em reflexo na animação. Entretanto,
venho pensando desde a infância, a característica que mais chama atenção
quando eu mesmo ia a banhos pela sua similaridade com o filme é a
públicos. (MES, 2002) ponte vermelha que antecede o edifício.

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O contraste dado entre o Japão A protagonista adquire assim uma visão
contemporâneo abordado através da diferente e aprende uma nova maneira de
personagem principal, e esse mundo cheio viver, proporcionada justamente por esse
de referências culturais da antiguidade, é hibridismo de estilos e épocas que foram
o que torna a trama tão especial. Nesse utilizados para construir a narrativa.
contexto, Miyazaki comenta que fez um
O protótipo do Balneário, foi retirado
cenário tradicional e ao mesmo tempo
de muitos museus de fontes termais no
esotérico, pois acredita que assim como
Japão como a Sekizenka Ryokan, porém,
Chihiro, uma garota contemporânea
outra que foi reconhecida oficialmente
de dez anos e protagonista do filme, as
pelo diretor, é o museu de fontes termais
próprias crianças do Japão moderno têm
de Dogo Onsen. Ainda segundo Steen
esquecido seus fortes traços culturais:
(2002), este permaneceu a mesma desde
Ao mesmo tempo eu fiz isso porque sua construção no ano de 1893, sendo
o design tradicional japonês é uma também considerada uma das casas mais
cornucópia de imagens diferentes e antigas ainda ativa no Japão. Sua maior
porque o meu povo simplesmente contribuição estética para a animação
têm esquecido sobre a riqueza e a do Balneário são os gabletes no telhado,
singularidade do espaço – histórias, tradicionalmente utilizado na arquitetura
conhecimento local, festivais, japonesa.
designs, e tudo desde divindades Figura 32: Dogo-Onsen em Matsuyama, Província de Ehime. Fonte; Baidu Baike (2021).
até magia e feitiçaria. (MIYAZAKI Figura 33: Kanaguya, Shibu Onsen. Fonte: Japanesque (2021).
apud HORTA e NUNES, 2018, p. 68)

Figura 32: O Balneário de Yuya. Fonte; Baidu Baike (2021).

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Entretanto, a tea maker Asister da famosa
casa de chá “Ashi”, em entrevista à um
crítico de viagens do site Taipei Navi
(2009), afirma que, além de referências de
casa de banho do Japão, Miyazaki chegou
a buscar inspiração em Taiwan, seguindo
viagem do sul ao norte. Ela diz que, quando
a viagem em Taiwan estava chegando ao
fim, ele entrou em sua loja localizada na
cidade de Kyushu e permaneceu durante
duas horas. Voltado para a direção de ver o
interior da loja, não à direção de olhar para
a paisagem, passou a maior parte do tempo
desenhando.
A loja fica de frente para a rua principal, a
qual tem longas escadas que se agarram às
encostas das montanhas. Tais degraus, com
lanternas vermelhas, parecem ter servido
de modelos à escada em frente à ponte pela
qual Chihiro passa ao entrar no balneário
em “A Viagem de Chihiro”.

Além disso, no interior da loja “Ashi” existem


escadas que levam a outros níveis da Figura 34: Lanternas vermelhas são acesas à noite, Figura 35: Escadas no interior da casa de chá.
e as escadas contribuem para a atmosfera. Fonte: Japanesque (2021).
construção assim como no interior da casa Fonte: Taipei Navi (2004).
de banho, e também, pode se comparar
a montanha onde o carro da família de
Figura 36: Jiufen, em Taiwan. Fonte: Befreetour (2021).
Chihiro se perde, com a montanha onde o
túmulo de Kyushu está localizado.
Não há dúvidas que dessa viagem ele
retirou a própria cidade dourada de Jiufen,
em Taiwan, para ser uma dessas inspirações
para a animação em questão. Segundo
o artigo de Kyo Han (2019), para Baidu
Baike, o local tem um forte senso de peso
histórico, pois se tratava de uma cidade
de mineração de ouro, onde atualmente
tornou-se um bairro comercial, que chama
a atenção por sua arquitetura antiga e
por suas ruas estreitas de pedras, com
lanternas vermelhas, arquitetura asiática
deslumbrante, degraus sinuosos e muitas
barracas de comida.

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Já para a rua em “A Viagem de Chihiro”, muitos hotéis de marcas antigas e lojas épocas espalhados por todo o jardim, do museu (STEEN, 2020). Dentre os
Miyazaki utilizou-se do estilo da rua de souvenirs ao longo da rua (HAN, 2019). localizados dentro e ao redor da cidade edifícios presentes no parque, destaca-se
Yuhara Hot Spring de águas termais, de Tóquio. Ao produzir “Spirited Away”, uma antiga papelaria denominada
incluindo o lugar onde os pais de Chihiro Outra grande inspiração foi o Museu de o autor Miyazaki visitou o local em Takei Sanshodo, devido a sua enorme
comem. Ela está localizada na cidade de Arquitetura Edo-Tokyo, onde há cerca busca de inspirações e capturas de semelhança com a sala da caldeira que
Maniwa, província de Okayama, e nela há de 30 edifícios japoneses de diferentes sensações nostálgicas dos edifícios fica sobre os cuidados de Kamaji.

Figura 37: Rua de Yuya. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021). Figura 39: Kamaji cobre Chihiro que dorme no chão da sala de caldeira. Fonte: Filme (2001).

Figura 38: Rua Yuhara Hot Springa da cidade de Maniwa. Fonte: Baidu Baike (2021). Figura 40: Takei Sanshodo no Museu ao ar livre de Edo-Tokyo. Fonte: Baidu Baike (2021).

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Figura 41: Hyakudan Kaidan no Hotel Gajoen Tokyo. Fonte: Baidu Baike (2021). Figura 43: Hotel Gajoen Tokyo. Fonte: Tripadvisor (2020).
Figura 42: Vista da laje do andar térreo permitida pelo pé-direito elevado. Fonte: Filme (2001). Figura 44: Janela do escritório de Yubaba. Fonte: Edição autoral de imagens do filme (2021).

O hotel Gajoen Tokyo é outro edifício grandiosa coleção correspondente a arte exclusiva ala do prédio original. Essa Ao correlacionar esse edifício com “A
que se destaca em sua semelhança com da Era Showa, além da vastidão de suas ala denomina-se Hyakudan Kaidan (100 Viagem de Chihiro”, observamos como
o Balneário visto no longa. Segundo o instalações. degraus), sendo acessada por um lance Miyazaki utilizou como referência o forro
próprio site do local, Hotel Gajoen Tokyo de 99 degraus de madeira resultando em de madeira com medalhões decorados,
(2020), foi construído no ano de 1931 O edifício conta com um valor histórico e diversos ambientes com piso de tatame e visto em cenas que mostram a laje do
na cidade de Tóquio. É popularmente cultural imensurável pelos seus aspectos decorados com obras de arte dos artistas Balneário, e inspirações para criação de
conhecido como “Palácio do Rei Dragão arquitetônicos, pela elegância de seus japoneses mais ilustres da década de 1920 obras de artes que são principalmente
da Era Showa” devido apresentar uma ambientes e o seu museu instalado na (HOTEL GAJOEN TOKYO, 2020). vistas no escritório de Yubaba.

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Figura 43: Ferrovia adentrando o mar. Fonte: The Gate (2020).

Figura 44: Vista da passagem do trem que leva Chihiro à sexta estação. Fonte: Filme (2021).

Por fim, a Estação Shimonada localizada


na linha JR Yosan, na prefeitura de Ehime,
apresenta trilhos cénicos que seguem ao
longo da costa tendo uma vista para o
mar de Iyo (THE GATE, 2020). As águas
do mar, que são bastante claras, fazem
sincera menção ao rio cheio visto no
longa. Tal “ferrovia”, na realidade, se
trata de um porto para içar navios até a
terra e por isso continua para dentro do
mar, assim como os trilhos do trem que
leva Chihiro até a casa de Zeniba.

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CENÁRIO E
ARQUITETURA Neste capítulo foi discutido algumas
das diversas transições históricas que
a arquitetura nipônica passou ao longo
do tempo. Deve-se levar em conta que
a arquitetura no Japão foi influenciada
primeiramente pela arquitetura chinesa
e depois pela cultura europeia.
Técnicas arquitetônicas modernas
foram introduzidas no Japão a partir do
começo da Restauração Meiji em 1868.
As primeiras construções resultantes
desse esforço combinavam métodos
tradicionais japoneses de construção com
madeira, métodos e design ocidentais.
Os japoneses têm a sua maneira de ver
o interior e exterior de suas casas, o
que proporciona um aspecto central do
design tradicional. Eles compreendem
que o interior e o exterior são elementos
contínuos, ao invés de serem ambientes
distintos.
Além disso, é importante ressaltar como
os xintoístas acreditam nas divindades
Kami e os santuários são locais onde
eles são reverenciadas e adoradas pelas
pessoas. Pode-se pensar que a casa de
banho é um lugar onde isso ocorre, mas
sobre tudo, alí, os espíritos atuam como
clientes de banhos em águas termais.
Para a pesquisa das terminologias
em japonês e seus significados foram
utilizados os dicionários “JAANUS is
the on-line Dictionary of Japanese
Architectural and Art Historical
Terminology” compilado por Dr. Mary
Neighbour Parent que estudou na Sophia
University em Tóquio e em 1979, ela
recebeu seu doutorado em História da
Arquitetura Japonesa e na “Encyclopedia
of Shinto” direcionado pela Universidade
Kokugakuin.

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INVENTÁRIO CIDADE HUMANA
Figura 45: (1)2. Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2021). Figura 46: (1)4. Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

ESTRUTURA DE MADEIRA PILARES RESSALTADOS HABITAÇÕES SOCIAIS


TELHADO IRIMOYA-ZUKURI GUARDA CORPO SIMPLES
(入母屋造) JANELÕES
CORES NEUTRAS
ESTILOS DE EDIFÍCIO
MODERNISTAS EUROPEUS
ESTILO SUKIYA

TABELA 01. Análise da figura 45 - (1)2. TABELA 02. Análise da figura 46 - (1)4.

DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS


CONJUNTO HABITACIONAL
ESTILO SUKIYA PERÍODO EDO ORIENTAL VILA KATSURA CONJUNTO HABITACIONAL PERÍODOEDO ORIENTAL TAKASHIMADAIRA, TÓQUIO,
JAPÃO
ESCOLA INTERNACIONAL
ESTILOS DE EDIFÍCIO PRIMÁRIA DE LILLE,
MODERNISMO OCIDENTAL
MODERNISTAS EUROPEUS
FRANÇA, 1996.

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RELATÓRIO Consegue-se ver também resquícios de
um Japão mas tradicional quando surgem
elementos que se assemelham com
aqueles das casas tradicionais japonesas,
o uso abundante de madeira chama a
atenção. Antigamente, eram comumente
construídas em madeira devido à grande
abundância desse recurso e permitir
uma melhor ventilação e penetração da
luz, em conciliação com o clima do país
(KARPOUZAS, 2003, p. 61). A partir do
século passado, o número de casas de
cimento aumentou, mas um toque de
madeira é algo que os japoneses não
abdicam.
A característica das tradicionais

Figura 47: (1)2. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).
construções japonesas que mais chama
atenção é, sem dúvida, o telhado, ou os
múltiplos telhados. Vemos isso ao notar o
uso do telhado irimoya-zukuri, cobertura
tipo empena apresenta cumeeira e
frontões de empena na parte superior
e cobertura de quatro águas nos quatro
lados da parte inferior.
O início do filme é indispensável para
dar um vislumbre sobre qual realidade Entretanto, em conjunto a esse estilo
se enquadra o filme, mesmo levando em construtivo, também observa-se, durante
conta que a maior parte do enredo se o passeio de carro, a presença de uma
passa em uma alternativa. No passeio habitação social, as quais não deixam
de carro com seus pais, Chihiro observa de ser comum no Japão desde o término
pela janela do veículo as casas de sua da Segunda Guerra Mundial, quando
vizinhança e pelo reflexo do vidro foi necessário reconstruir a produção
são mostradas para o espectador as industrial do país, e os japoneses
construções em estilo contemporâneo. começaram a migrar para as cidades.

O bairro japonês reflete a globalização Como os terrenos planos são escassos


sofrida pelo país, a qual Miyazaki no Japão, que é um arquipélago
atenta-se tanto em criticar. Além de montanhoso, foram erguidos prédios
todos os ressaltos que foram feitos de apartamentos. Dessa forma, o povo
anteriormente nessa pesquisa, observa-se japonês começou a viver em novas
sua preocupação em caracterizar as ruas formas padronizadas de habitação
com diversos estilos de comércios e a criadas a partir de análises da vida
presença de muitos outdoors. moderna. (JAPAN HOUSE, 2021)

90 91
INVENTÁRIO PORTAL PARA MUNDO DOS ESPÍRITOS
Figura 48: (2)12. Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2021). Figura 49: (2)13. Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

CASAS ESTILO RENASCIMENTO 1 2


TORII (鳥居) HOKORA (祠)
COLONIAL AMAERICANO 3
SHINBOKU (正真木)
TABELA 03. Análise da figura 48 - (2)12. TABELA 04. Análise da figura 49 - (2)13.

DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS


THE LITTLE WHITE HOUSE,
1. ESTILO REVIVAL SÉCULO XX OCIDENTAL
GEORGIA , EUA, 1932.
SANTUÁRIO XINTOÍSTA SANTUÁRIO HOKORA EM FRENTE
COLONIAL EM MINIATURA SÉCULO VI ORIENTAL A UMA ÁRVORE AFANANTA NO
TERRENO DE SAIGŪ JINJA.
2. PORTAL TRADICIONAL ORIENTAL TORII DE OMIYA
MODERNISMO
JINIYA, JAPÃO.
3. ÁRVORE MESTRE EM 710 - 794 OCIDENTAL -
UM JARDIM

Literalmente, “árvore divina”, Shinboku é um arco de portal O termo hokora é usado para nenhum santuário específico.
uma árvore considerada sagrada, formalizado que significa a entrada se referir a pequenos santuários Pequenos santuários dedicados às
como o símbolo de um território em uma área sagrada. Um torii auxiliares localizados dentro do divindades da fronteira chamadas
sagrado ou um lugar onde os é geralmente formado por dois dōsojin se enquadrariam nesta
recinto ( keidaichi ) de um santuário
kami habitam. Quando visto postes verticais encimados por um última categoria. (MIZUE, in
maior, mas construído em uma
kasagi horizontal (viga superior)
desta forma, o corte ou a poluição escala menor e dedicado a cultos ENCYCLOPEDIA OF SHINT, 2005)
que se estende além dos postes em
dessas árvores são evitados. (...) Na religiosos folclóricos locais, ou
ambos os lados; abaixo do kasagi
maioria dos casos, essas árvores então encontrados ao longo das
uma viga de amarração horizontal
representam espécimes muito ( nuki) é encaixado nas colunas e as estradas fora dos recintos dos
antigos ou grandes. (HARUO, in une. (MIZUE, in ENCYCLOPEDIA santuários e dedicado a kami
ENCYCLOPEDIA OF SHINTO, 2005) OF SHINT, 2005) que não está sob a jurisdição de

92 93
RELATÓRIO palavras, casas tipo de subúrbios que têm
a simplicidade e o requinte das antigas
casas georgianas e federais da história
americana, mas incorporam detalhes
modernos.

Porém, a cidade não deixa de ter seu


contato com a natureza, visto que a
cidade a qual sempre esteve presente
na cultura japonesa, mesmo sendo
uma característica enfraquecida com
a chegada da globalização. Isso reflete
Os encadeamentos advindos da inclusive no pouco contato que os
industrialização abrangem muito mais do residentes têm com ela.
que a simples migração dos camponeses
para as cidades, no filme ficou explícito a A cidade por si só já se encontra em

Figura 50: (2)11.. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).
influência da arquitetura ocidental, tanto uma montanha na qual as estradas a
na realidade contemporânea quanto na contornam e as residências se posicionam
moderna, observada posteriormente. em seu topo. Já no momento em que
a família se perde e pegam um atalho
As técnicas arquitetônicas modernas
em uma estrada de terra percebemos
foram introduzidas no Japão a partir do
a presença de uma grandiosa
começo da Restauração Meiji em 1868.
shimboku, árvore sagrada usada como
As primeiras construções resultantes
local de adoração, com presença de
desse esforço combinavam métodos
santuários xintoístas em miniaturas
tradicionais japoneses de construção com
chamados hokora, visivelmente
madeira e métodos e design ocidentais.
abandonados por estarem posicionados
No ano de 1880, opiniões tradicionalistas desorganizadamente e cheios de galhos
se viraram contra a ocidentalização até em cima.
mesmo na arquitetura, sendo assim os
Além disso, a percepção de um portal torii
modelos asiáticos defendidos. Após a I
sem manutenção é indispensável. Além
Guerra Mundial, a arquitetura japonesa
daqueles encontrados como elementos
tradicional passou por uma reavaliação
arquitetônicos independentes, os
quando arquitetos como Frank Lloyd
torii podem ser encontrados como
Wright (1869-1959), dos Estados Unidos,
partes integrantes de cercas sagradas,
e Bruno Taut (1880-1938), da Alemanha,
tamagaki, e incorporados às entradas
vieram trabalhar no Japão.
de arcadas que circundam algumas
A partir disso, na nova cidade residencial estruturas de santuários. Eles podem ser
em que Chihiro e sua família, é possível considerados uma expressão da divisão
observar casas estilo revivals coloniais entre os reinos profano e sagrado (MIZUE
e neocoloniais americano. Em outras in ENCYCLOPEDIA OF SHITO, 2005)

94 95
INVENTÁRIO FACHADA DA TORRE DE RELÓGIO
Figura 51: (3)1. Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2021). Figura 52: (6)2. Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

1 3 1 4
ABÓBADA DE BERÇO JANELAS ESCULPIDAS NOKIJABARA (軒蛇腹) TÉCNICA SHOU SUGI BAN
2 2 5
DŌSOJIN (道祖神) MOYA (母屋) MÍSULA
3 6
RELÓGIO INGLÊS TERIYANE (照り屋根)
TABELA 06. Análise da figura 51 - (3)1. TABELA 07. Análise da figura 52 - (6)2.

DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS


PERÍODO MEDIEVAL
1. ABÓBADA DE BERÇO
(SÉCULO V e XV) OCIDENTAL ARQUITETURA ROMÂNICA 1. BEIRAL DE LAJE - ORIENTAL -
EM TRÊS CAMADAS
ENCONTRADO NO TEMPLO
2. ESTÁTUA DE DIVINDADE SÉCULO VI ORIENTAL BUDISTA HASE-DERA EM 2. ÁREA CENTRAL DA - ORIENTAL TORII DE OMIYA
ESTRUTURA JINIYA, JAPÃO.
KAMAKURA, JAPÃO, 736 d.C.
3. RELÓGIO INGLÊS BIG BEN, LONGRES,
IGREJA NOTRE-DAME LA SÉCULO XVIII OCIDENTAL
PERÍODO MEDIEVAL INGLATERRA, 1858.
3. JANELAS
FECHADAS
ARQUEADAS
(SÉCULO V e XV) OCIDENTAL GRANDE DE POITIERS,
FRANÇA, 1140. 4. PLACA DE MADEIRA SÉCULO XVIII ORIENTAL -
CARBONIZADA

5. ORNATO QUE RESSAI - OCIDENTAL -


DE UMA SUPERFÍCIE

6. UM TELHADO COM SÉCULO VI ORIENTAL


TOUDAIJI NENBUTSUDOU
BEIRAL CURVADO NARA, JAPÃO, SÉCULO XIV.

Diz-se que jabara deriva do beiral de uma cerca de lama e gesso.


costume de prender telhas (JAPANESE ARCHITECTURAL AND
côncavas largas - hiragawara ( ART HISTORICAL TERMINOLOGY,
平 瓦), em uma inclinação sob o 2001)

96 97
RELATÓRIO

Ao atravessarem um caminho bastante


turbulento e de aparente pouco contato
humano, a família encontra uma
construção antiga com torre de relógio.
A primeira vista aparenta ter sido
concebida usando técnicas tradicionais

Figura 53: (3)2. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).
de arquitetura japonesa, levando em
conta o contato direto com a naturezam
a varanda circundante - engawa e o
telhado teriyane - de beiral curvo.
Percebe-se também a cornija e as
mísulas, que costumam ser recorretentes
na tradicional arquitetura japonesa, além
da marcante presença da estátua dōsojin.
Entretanto, com um olhar mais atento,
às influências advindas da arquitetura
ocidental europeia são percebidas. A
abóboda de berço e janelas arqueadas
esculpidas- comuns na arquitetura
românica - tomam conta da fachada e o
grandioso relógio ressaltado possui estilo
inglês .
É importante ressaltar a transição de
temporalidade entre os estilos das
construções observadas durante o
passeio da família. Por mais que nessa
construção com torre de relógio seja visto
influência ocidental na sua arquitetura, é
evidente que se trata de uma composição
referente a um período anterior daquelas
vistas antes no meio urbano.

98 99
INVENTÁRIO INTERIOR DA TORRE DE RELÓGIO
Figura 54: (4)4 Fonte: Filme “A Viagem de Chihiro” (2021). Figura 55: (4)7. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

1 VITRAL
1
ABÓBODA DE BERÇO
2 2
PEQUENA JANELA ARQUEADA LAMPIÃO EM FORMATO DE FLOR
3
PAREDE ESPESSA DE 3
ALVENARIA REBOCADA CAPITEL DORICO
4
ABÓBODA DE CRUZARIA
CATEDRAIS DE ESTILO 5
ROMÂNICO BASE JÔNICO

TABELA 08. Análise da figura 54 - (4)4. TABELA 09. Análise da figura 55 - (4)7.

DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS


1. CATEDRAIS DE ESTILO IGREJA NOTRE-DAME LA PERÍODO MEDIEVAL
PERÍODO MEDIEVAL
OCIDENTAL GRANDE DE POITIERS,
1. ABÓBADA DE BERÇO (SÉCULO V e XV) OCIDENTAL ARQUITETURA ROMÂNICA
ROMÂNICO (SÉCULO V e XV)
FRANÇA, 1140.
2. LAMPIÃO EM 1807 OCIDENTAL -
FORMATO DE FLOR

3. PARTE SUPERIOR DA SÉCULO VII a.C OCIDENTAL


PARTENON, ATENAS,
COLUNA ORDEM DÓRICA GRÉCIA, SÉCULO V a.C

4. ABÓBODA DE CRUZARIA PERÍODO MEDIEVAL OCIDENTAL MOSTEIRO DE ALCOBAÇA,


COM 4 ARESTAS (SÉCULO V e XV) ALCOBAÇA, PORTUGAL, 1187.

5. BASE COLUNA 450 a.C OCIDENTAL


TEMPLO ERECTEION,
ORDEM JÔNICO ATENAS, GRÉCIA, 406 A.C.

100 101
RELATÓRIO Em seu interior, de imediato percebe-se
que o espaço se trata de uma antiga
estação de trem - as folhas secas no chão
entregam a falta de uso do ambiente -
devido aos bancos de madeira antigos
dispostos de forma ordenada. Possuem
forma tradicional e lembram os acentos
de estações europeias.
A construção da torre de relógio em si,
é caracterizada principalmente com
elementos da arquitetura românica, sem
sinais de cultura oriental. Miyazaki procura
seguir referência dos antigos castelos
medievais, trazendo em sua ilustração,
um ambiente com pouca luminosidade
como acontece em catedrais românicas
- graças às poucas aberturas, geralmente
apenas a de entrada- advinda somente
com alguns feixes de luz advindas de
pequenos vitrais.
Existem também lampiões em formato
de flor que provavelmente auxiliam na
iluminação quando o espaço está em uso,
trazendo ainda, um ornamento clássico
às colunas.
Além disso, a estrutura possui cobertura
de abóbada de cruzaria com 4 arestas,
nervuras diagonais estruturais que lhe
suportam o peso e o descarregam sobre
colunas.As colunas por sua vez, têm
influência da arquitetura grega, e são de
ordem mista, pois possuem capitéis da
ordem dórica - simples - e base da ordem
jônica, já que colunas da ordem dórica não
possuem base.
Figura 56: (4)3. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

102 103
INVENTÁRIO PARQUE TEMÁTICO
Figura 57: (6)3. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021). Figura 58: (6)4. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

1 2 1
TŌRŌ (灯籠) ESCADA DE PEDRASTRADICIONAIS KIRIZUMA-ZUKURI (切妻造)
2
MUSHIKOMADO (虫籠窓)
3
FIAÇÃO ELÉTRICA
4
ESTÁTUA DE KAERU
TABELA 08. Análise da figura 57 - (6)3. TABELA 09. Análise da figura 57 - (6)4.

DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS


SANTUARIO SUMIYOSHI
1. LANTERNA DE PEDRA 794- 1185 ORIENTAL TŌRŌ DO CASTELO HIMEJI. ESTILO DE CONSTRUÇÃO
1. JAP. COM DUAS FOLHAS - ORIENTAL TAISHA, SUMIYOSHI-KU,
OSAKA, JAPÃO, 211.
MASSHA KUMANO SHINTO SHRINE,
2. ESCADA DE PEDRAS
TRADICIONAIS
- ORIENTAL TOWADA, AOMORI PREFECTURE, 2. JANELA COM TRELIÇA
SÉCULO XIX ORIENTAL
-
NORTH HONSHU, JAPAN NA PARTE SUPERIOR

3. FIAÇÃOELÉTRICA PARTENON, ATENAS,


- ORIENTAL
GRÉCIA, SÉCULO V a.C

4. ESTÁTUA DE KAERU MOSTEIRO DE ALCOBAÇA,


- OCIDENTAL
ALCOBAÇA, PORTUGAL, 1187.

A estátua gorda de nevoeiro é a entrada na terra de kami é marcada


última coisa que ela (Chihiro) vê pelo torii, um lembrete para as
antes de passar por baixo do torii. A pessoas perdidas nos detalhes da
palavra japonesa para sapo é kaeru, vida cotidiana e desconectadas do
um homônimo para uma palavra espiritual de que o caminho de casa
que significa “voltar para casa”. Sua é aqui. (STEIFF e TAMPLIN, 2010)

104 105
Ao atravessar o grande túnel de abóbada pequenas casas japonesas e os seus No campo existe ainda uma barreira
RELATÓRIO de berço, a cenografia provê a mesma materiais devem sugerir simplicidade, de pedras, provavelmente dispostas
sensação, supondo-se, que a família embora refinada. anteriormente para evitar enchentes
sentiu nos espectadores. Ao sair de um nas casas, levando em conta que o filme
ambiente bem escuro e fechado, mesmo O espaço japonês é concebido mostra a elevação do rio após uma grande
antes, ao visualizar a torre de relógio pela como um espaço experimental,
chuva.
fachada da frente dentre a mata fechada, onde o corpo, o espírito e a mente
e partir para um amplo campo aberto, interagem com ele. Ele só pode A pedra, devido aos frequentes tremores
vem o impacto como qual um sopro de ser compreendido com um olhar de terra, não é utilizada como material
ar fresco. metafísico, ou seja, olhar para de construção, mas surge com frequência
as coisas que se situam além da como degraus ligando o edifício e o
A partir daí consegue-se notar várias verificação experimental dos jardim. No filme, os caminhos de pedra
residências antigas evidenciando estar
fenômenos físicos aparentes. Em seguem até as casas e também à uma
abandonadas pela falta de manutenção
síntese, a espacialização de todos escada que leva à cidade.
de suas materialidades em madeira.
estes conceitos, resultou em casas
Essa composição remete novamente Ao seu lado dispõe-se um tōrō - lanterna
elevadas do solo, construídas
a percepção histórica da migração de pedra - o qual, costuma ser encontrado
a partir de um sistema onde a
camponesa, visto que a cidade que como parte integrante de cercas sagradas
armação de madeira que sustenta
aparece logo a seguir é ativa, ainda que - tamagaki - e incorporados às entradas
o telhado é feita antes das paredes,
noturna.
permitindo assim uma liberdade na que circundam algumas estruturas de
As casas se chamam machiya - casas colocação das aberturas, podendo santuários. Esse fato cultural talvez possa
simples, tradicionais e de madeira - que abrí-las totalmente para o exterior; explicar o porquê Miyazaki escolheu
fazem referência ao estilo sukiya - casa interiores sem repartições ; e um posicionar o portal dessa maneira,
de chá - que possui linhas exteriores retas grande beiral que cobre o espaço deixando claro que a cidade se comporta
e contínuas enquanto as aberturas são intermediário, que surgiu em por divindades e espíritos.
espaçosas, de modo a unificar o espaço função do clima, e permitiu uma
interior e o mundo exterior da natureza relação de troca e continuidade
É importante pontuar a presença de
em redor. Como proteção contra o sol de entre espaço interno e o espaço
fiação elétrica como escolha para
verão, geralmente penduram-se nessas externo: o jardim japonês. Esta distribuição de energia. Vale ressaltar que
aberturas estores de tabuinhas de bambu estrutura, que proporcionou uma o Japão possui uma significativa carência
fendidas ou de junco, também podendo planta livre, totalmente relacionada de fontes de combustível fóssil, exceto
pender dos beirais do telhado, típicos com o espaço externo, gerou um carvão, e, por isso, precisou importar por
da arquitetura japonesa. Os telhados produto que, acredita-se, estabiliza muito tempo de outros países, até urânio,
de kirizuma-zukuri são particularidades, as emoções, promove harmonia o qual atualmente se enquadra como
assim como a varanda engawa sempre de dualidade, de interações e de maior fonte de energia do país. Em suas
presente. transições, garantindo um abrigo entrevistas, Miyazaki enfatiza seu repúdio
A sukiya não deve impressionar de forma impermanente para os japoneses. pela energia nuclear, principalmente após
óbvia, sendo menor do que as mais (KARPOUZAS, 2003, p.98) o acidente nuclear de Fukushima.
Figura 59: (4)3. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

106 107
INVENTÁRIO CIDADE DE YUYA
Figura 60: (7)3. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

1 1
NOREN (暖簾) VITRÔ ARCO PLENO
2 4
CHOUCHIN (提灯) USO DE VIDRO
3 ESTILO IZAKAYA 2
ICHIBA (市場) GYOUGIBUKI GAWARA (行基葺瓦)
5
ITABUKI(板 葺)

TABELA 10. Análise da figura 60 - (7)3. TABELA 11. Análise da figura 60 - (7)3.

DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS


PERÍODO YAYOI
1. CORTINAS
DE TECIDO
CURTAS
(300 a.C. a 300)
ORIENTAL - 1. VITRÔ ARCO PLENO SÉCULO XVII OCIDENTAL BRISTRÔS FRANCESES

2. LANTERNA DE PAPEL SÉCULO VI ORIENTAL - 2. TELHA DE COBERTURA SÉCULO VII ORIENTAL


TEMPLO GANGOUJI, CHŪIN-
LISA, SEM LÁBIOS E 5
CHŌ, NARA, JAPÃO, 593.
SEMICILÍNDRICA
3. “MERCADO” - - ESTILO KANBAN (絵看板)

4. BAR JAPONÊS PERÍODO EDO ORIENTAL ROBATA MUSASHI SHINBASHI,


(SÉC. VII - XIX) MINATO CITY, TOKYO, JAPÃO.

5. TELHAS DE MADEIRA ATÉ PERÍODO EDO ORIENTAL OLD TANAKA HOUSE GIFU,
(SÉC. VII - XIX) TAKAYAMA, JAPAO.

108 109
INVENTÁRIO CIDADE DE YUYA
Figura 61: (7)4. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021). Figura 62: (14)1. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

1 1 2
ESTILO KANBAN KENCHIKU (看板建築) MOINHO DE AGUA MACHIYA (町家)
DASHIGETA-ZUKURI
2
3
CHOUCHIN (提灯)
4
SOBAN (礎盤)

TABELA 12. Análise da figura 61 - (7)4. TABELA 13. Análise da figura 62 - (14)1.

DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS


REFORMA DE FACHADA LOJA DE UTENSÍLIOS PERTO DA ENTRADA DE
1. POR ANEXO 1923 ORIENTAL DE COZINHA MARUNI 1. MOINHO DE ÁGUA SÉCULO II a.C ORIENTAL MAGOME-JUKU.
SHOTEN, 1930 .
FORMER KOMETANI FAMILY’S RESIDENCIAL NAKAMURA,
2. CASAS TRADICIONAIS SÉCULO X ORIENTAL HOUSE, KASHIHARA CITY, NARA, 2.
CASAS TRADICIONAIS
SÉCULO X ORIENTAL NARAI, VALE DE KISO, JAPÃO,
DE COMERCIANTES DE MADEIRA
JAPÃO, SECULO XVIII. INÍCIO SÉCULO XIX
3. LANTERNAS DE PAPEL SÉCULO VI ORIENTAL -

4. PEDRA NA PARTE
INFERIOR DO PILAR
SÉCULO XIII ORIENTAL TEMPLO KENCHŌ-JI,
KANAGAWA, JAPÃO, 1253.

110 111
RELATÓRIO gawara, constituidas por telhas de
cerâmica lisa, sem lábios e semicilíndrica
que se estreita de sua extremidade
frontal mais ampla para uma extremidade
posterior mais estreita.
O uso de vidro também chama
atenção, levando em conta que as casas
observadas até então utilizavam shojis -
paineis com papel translúcido - para as
aberturas ao invés de janelas com vidros.
Além disso, percebeu-se a inovação de
forma das janelas, destacando-se os
vitrôs arco-pleno que por sua vez tem
como referência os bistrôs da França em
seu período moderno.
Novamente as casa machiya aparecem,

Figura 63: (7)1. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).
mas representando os espaços que
se encontram em desuso na cidade,
dando lugar às casas de comerciantes
tradicionais - dashigeta-zukuri - que
tomam conta da rua principal. Essas
utilizam-se de empenas tradicionais
kanban para sinalizar os nomes dos
Adentrando a cidade já percebe-se comércios ou produtos vendidos. Vale
sua composição por comércios locais observar que, segundo o Walking Biking
direcionados mais à alimentação. Lembra Japan (2020), o uso da técnica kanban
bastante as cidades monzenmachi kenchiku - “arquitetura de outdoor” -
(門前町), as quais se desenvolveram em no qual uma fachada é anexada à parte
torno de um templo ou santuário influente da frente da construção original, o que
depois que comerciantes e fabricantes se por muitas vezes resultou em fachadas
reuniram ali para fazer negócios, visando com formas diferenciadas. Essa técnica
os trabalhadores e visitantes do santuário originou-se após o Grande Terremoto de
ou templo. Kanto, em 1923, destruir grande parte de
Tóquio, os nipônicos precisavam de uma
A madeira continua sendo o principal reconstrução rápida.
materia utilizado nessas construções mas
a maioria fazem referência à arquitetura Já as lanternas de papel chouchin fazem
de um período posterior às casas de o ornamento dessa área comercial, sendo
campo. Os telhados de madeira - itabuki penduradas sobre a passagem e em
- ainda aparecem porém já é possivel frente às fachadas dos comercios, assim
reconhecer tecnologias mais avançadas como são as cortinas noren, ambos muito
como as coberturas de gyougibuki conhecidos na cultura.

112 113
INVENTÁRIO PRAÇA CENTRAL
Figura 64: (28)2. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021). Figura 65: (30)1. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

1 1
NOREN (暖簾) TŌRŌ (灯籠) DE PEDRA
2 2
KANBAN (看板) NIWAKI (庭木)
3 3
TŌRŌ (灯籠) DE MADEIRA KAWARA (瓦)
4
ZENSHUUYOU KOURAN (禅宗様高欄) 4
TAKEGAKI (竹垣)
5
SHIHANBARI (四半貼り)

TABELA 12. Análise da figura 64 - (28)2. -


TABELA 13. Análise da figura 65 - (30)1.

DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS


KOBOYU SENTO NAGOYA, TÍPICA LANTERNA PERÍODO HEIAN
1. CORTINA COMERCIAL SÉCULO XI ORIENTAL HIGASHI-KU, NAGOYA, JAPAO. 1. JAPONESA ORIENTAL -
(794-1185)
2. LETREIRO TÍPICO - ORIENTAL - ÁRVORE “ESCULPIDA” ESTILO BONSAI
2. PARA JARDIM 700 a.C ORIENTAL

3. TÍPICA LANTERNA PERÍODO HEIAN


ORIENTAL - 3. TELHA DE ARGILA SÉCULO VI ORIENTAL -
JAPONESA (794-1185)

4. BALAUSTRE
ESTILO ZEN
DE PERÍODO KAMAKURA
ORIENTAL TEMPLO KENCHŌ-JI,
4. CERCA DE BAMBU - ORIENTAL
TEMPLO KEN’NIN-JI EM
(1185 - 1333) KANAGAWA, JAPÃO, 1253. KYOTO, JAPÃO, 1955.
ACABAMENTO PARA MUSEU ARQUEOLÓGICO
5. PAREDES COM AZULEJOS SÉCULO XIX ORIENTAL DE KURASHIKI, KURASHIKI,
EM DIAGONAL OKAYAMA, JAPÃO,1950.

114 115
INVENTÁRIO FACHADA DO BALNEÁRIO
Figura 66: (9)7. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021). Figura 67: (9)8. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

1 1
SASHIHIJIKI (挿 肘 木) NAGA-ITABUKI (長板葺)
2 2
SEIFUN (正吻) 3 KATŌMADO (火灯窓)
3
CHIGOMUNE (稚児棟) NIWAKI (庭木)
4
5 ONIGAWARA (鬼 瓦)
MITSUBANA GEGYO (三花懸魚)
TABELA 14. Análise da figura 66 - (9)7. TABELA 15. Análise da figura 67 - (9)8.

DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS


TEMPLO TŌDAI-JI, TEMPLOHORYU-JI,SANNAI,
PERÍODONARA
1. UM OU MAIS BRAÇOS DE
SUPORTE
- ORIENTAL ZŌSHI-CHŌ, NARA, TÁBUAS COMPRIDAS
1. USADAS EM TELHADOS ORIENTAL IKARUGA-CHŌ,IKOMA-GUN,
JAPÃO, 740. (710 -794d.C.) NARA,JAPÃO,607.
DECORAÇÃO EM FORMA JANELA EM FORMATO
DE ANIMAL FICTÍCIO NAS YUSHIMA SEIDO , BUNKYŌ, 2. DE LOTUS COM PERÍODO ORIENTAL -
2. EXTREMIDADE DA CUMEEIRA
1960 ORIENTAL TÓQUIO, JAPÃO, 1690. MUROMACHI
GRADES DISPOSTAS
PRINCIPAL (1336-1573)
ASSIMETRICAMENTE.
COMPLEXO DE TEMPLOS ÁRVORE “ESCULPIDA”
3. UMA CRISTA DE PROLE SÉCULO VIII OCIDENTAL HOURYUUJI, IKOMA, NARA, 3. 700 a.C ORIENTAL ESTILO BONSAI
PARA JARDIM
JAPÃO, 607 D.C.
TELHAS DECORATIVAS NAS
4. EXTREMIDADES DA CRISTA SÉCULO VIII OCIDENTAL TEMPLO ZENKOU-JI,
NAGANO, JAPÃO, SÉCULO VII
PRINCIAPL
PENDENTE DE TABULEIRO
5. DE BARGEBOARD DE TRÊS KAMAKURA PERIOD OCIDENTAL CASTELO NIJO, QUIOTO,
FLORES (1185 – 1333) JAPÃO, 1603.

116 117
RELATÓRIO de bargeboard - com referência ao tipo
mitsubana, em forma de três flores, e
ainda o chigomune - uma crista de prole
Ao encontrar o balneário, vimos Chihiro muitas vezes feita de cerâmica vitrificada,
antecipar a reação que os espectadores advinda da arquitetura chinesa.
teriam caso o visse pessoalmente. Com No período Heian nipônico, o estilo
tantos detalhes realmente é necessário arquitetônico dos templos budistas
tirar um momento para assimilar e começou a influenciar o dos santuários
apreciar tudo. Shintō, levando-os a pintar as madeiras
Imagina-se que se perceba as peças normalmente inacabadas com a cor
douradas primeiro, por fazerem alusão vermelha de cinabre característica,
ao ouro, entretanto deve-se lembrar também notado na fachada, assim como
que é escolha de Miyazaki trazer uma na baulustre de estilo zen que antecede
decoração exuberante à casa de banhos, o balneário.
já que, como visto anteriormente, a O noren escrito “casa de banhos” e a placa
cultura japonesa valoriza a materialidade kanban nos convida a entrar, enquanto

Figura 68: (9)3. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).
original aparente. as luzes do tōrō de madeira a ambiência
desejada, principalmente a noite,
Independentemente, percebe-se a
quando as luzes amarelas da queima de
arquitetura japonesa em seu maior
óleo refletem na estrutura vermelha e
requinte, como os templos budistas, por
promovem uma imagem sofisticada.
usufruir de várias técnicas construtivas,
como os beirais ligeiramente curvos que Nota-se ainda uma pequena estrutura ao
estendem-se muito além das paredes, lado com janelas katōmado - em formato
cobrindo as varandas, no qual seu peso de “cabeça de flor”, é um elemento da
é suportado por sistemas complexos arquitetura de estilo Zen - para compor
de suporte chamados tokyō, formado um espaço de banho particular, possuindo
pelos sashihijiki - braços de suporte uma banheira com água corrente natural
extrapolantes, além das telhas de tábua das águas termais.
comprida naga-itabuki na parte inferior
além dos, ambas desenvolvidas no país. A composição finaliza-se pela niwaki,
Mesmo em casos como o do templo Nikkō árvore “esculpida” de jardim, as quais
Tōshō-gū , onde cada espaço disponível são podadas para parecerem obras de
é fortemente decorado, a ornamentação arte e não apenas parte da natureza. São
tende a enfatizar, em vez de ocultar, as frequentemente cultivados para obter
estruturas básicas. alguns efeitos de parecer mais velhas do
que realmente são, com troncos largos
Para isso há a presença do onigawara e galhos retorcidos ou imitar árvores
- telhas decorativas no final da crista varridas pelo vento ou atingidas por raios
principal originalmente feitas para impedir na natureza. Vale lembrar que as árvores
vazamento nos telhados e normalmente desempenham um papel fundamental
são ladrilhos, mas ocasionalmente feitos nos jardins e paisagens do Japão, além
de pedra ou madeira. Também destaca-se de serem de importante significado
a peça gegyo - pendente de tabuleiro espiritual e cultural para seu povo.

118 119
INVENTÁRIO FUNDOS DO BALNEÁRIO
Figura 69: (15)2. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021). Figura 70: (42)1. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

1 3 1
MARUMADO (円窓) ROJI ( 露地) ITABUKI (板 葺)
2 2
ÁRVORE CEREJEIRA CONSTRUÇÃO ELEVADA ESTENSÕES TIPO MACHIYA (町家)
4 3
SHOJI (襖障子) MÍSSULA

TABELA 16. Análise da figura 69 - (15)2. TABELA 17. Análise da figura 70 - (42)1.

DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS


KODAIJI JUGYUAN, TELHADOS DE
1. JANELA REDONDA PERÍODO EDO ORIENTAL 1. MADEIRA PARA PERÍODO EDO ORIENTAL OLD TANAKA HOUSE GIFU,
KYOTO, JAPÃO, 1908. TAKAYAMA, JAPAO.
MORADIA POPULAR
2. ARVORE CEREJEIRA - ORIENTAL - RESIDENCIAL NAKAMURA,
2. CASAS DE MADEIRA SÉCULO X ORIENTAL NARAI, VALE DE KISO, JAPÃO,
TRADICIONAL CASA DE CHÁ TAI-AN, MYŌKI-AN, INÍCIO SÉCULO XIX
3. 1640 ORIENTAL
CAMINHO DE PEDRAS KYOTO, JAPÃO, 1582. ORNATO QUE RESSAI
3. - OCIDENTAL -
PAINÉIS OU PORTAS DE DE UMA SUPERFÍCIE
PERIODO
CORRER DE MADEIRA CONTOS DE HEIKE DE
4. E PREENCHIDOS COM
MUROMACHI ORIENTAL
NAGANOBU KANO, 1592.
(1336-1573)
PAPEL TRANSLÚCIDO

As janelas (mado), para além da sua a determinadas divisões ou propósitos.


dimensão propriamente utilitária para Seja na sala de recepção ou na entrada,
ventilação, luminosidade, vigilância a marumado, é sobretudo visível no
do jardim exterior e têm uma enorme mais belo exemplo da arquitectura
importância estética. Existem vários tradicional japonesa. (OKAKURA in
tipos de janelas, cada qual adequado DAMA DA NOITE, 2011).

120 121
Figura 71: (16)8. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).
RELATÓRIO há nele, ao contrário do vidro. Uma em harmonia só é possível perceber claro o descuido com as estruturas,
janela redonda - marumado - árvore de com os sentidos, ou nos jardins evidenciando os sinais dos fenômenos
cerejeira orna o espaço externo, criando japoneses, onde todos os elementos patológicos, efeitos ligados às
a ambiência tal qual os jardim nakamiwa são colocados de maneira a criar intempéries e à falta de manutenção dos
Pela entrada das portas laterais se chega
fazem, levando em conta que não se ritmos e movimentos através das materiais.
ao jardim frontal da casa de banhos.
podem plantar neles árvores de grande formas percebidas e sentidas pelo
Neste, pela primeira vez, má se manifesta Esses por sua vez, se tratam de tecnologia
porte ou em grande número. observador. (KARPOUZAS, 2003,
na disposição do espaço. Através de um mais barata, visto o uso de itabuki -
Para eles, o espaço não é p.32)
caminho de pedras - roji - que delimita telhados de madeira para moradia - e
o percurso com um rito de passagem considerado conscientemente, Já a parte dos fundos, inferior, que as extensões em estilo machiya. O que
importante, com intervalos até a entrada cotidianamente, separado do antecede o jardim, se dá aos aposentos entra em contrapartida com a alvenaria
de shoji, que insinua o ambiente interno tempo. Isto é bem ilustrado na casa dos funcionários e a área de serviço da utilizada para erguer o núcleo da
sem que se mostre o que realmente de chá onde a sensação do espaço casa de banhos. Miyazaki procura deixar construção.

122 123
INVENTÁRIO SALA DE QUEIMA
Figura 72: (17)2. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021). Figura 73: (45)5. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

1
PIA SIMPLES GABINETE EM SHIKKI (漆器)
1 GARRAFA DE SAQUÊ
GENKAN (玄関) sec 14 2
2 KAGOJI (籠地)
CHABUDAI (茶ぶ台, ちゃぶだい)
3 GAVETEIRO ORGANIZADOR
MANÔMETRO DE MADEIRA
4
TUBULAÇÃO DE COBRE

TABELA 18. Análise da figura 72 - (17)2. TABELA 19. Análise da figura 73 - (45)5.

DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS


GABINETE COM LACA VERMELHA,
1. ESPAÇO PARA
RETIRAR SAPATOS
- ORIENTAL - 1. GABINETE EM LACA SÉCULO VI a.C. ORIENTAL INCRUSTAÇÃO EM MADREPÉROLA,
ILHAS RYUKYU, JAPÃO, SÉCULO XIX.
2. MESA DE PERNAS CURTAS SÉCULO XIX ORIENTAL - CESTA DE BAMBU PERÍODO JŌMON
2. DESCASCADA (1500–1000 a.C.) ORIENTAL
MEDIDOR DE PRESSÃO MANOMETRO DE
3. DE FLÚIDOS
1705 OCIDENTAL
VARIGON,1705.

4. TUBULAÇÃO DE COBRE FIM DO OCIDENTAL REVOLUÇÃO INDUSTRIAL


SÉCULO XVIII

124 125
RELATÓRIO

A sala do Kamaji é a única sala de


toda a construção que não segue
referência arquitetônica ocidental,
devido à necessidade do personagem na
tecnologia disponibilizada pela Revolução
Industrial na Europa.
Na entrada do ambiente pelo meio
externo, são visíveis tubulações em cobre
e manômetro, os quais supõem seu uso,

Figura 74: (17)3. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).
para o aquecimento da água para os
banhos que ocorrem no balneário.
Como “escravo” de suas atividades,
Miyazaki deixou claro o pouco tempo
gastado por Kamaji em suas necessidades
pessoais. O personagem possui apenas
uma pia simples para se lavar e não possui
cama, dormindo na própria cadeira na
qual trabalha, em frente à caldeira.
Na estrutura do piso, observa-se a
presença do genkan - espaço para tirar os
sapatos - onde Chihiro deixa seus sapatos
para adentrar na casa de banhos pela área
dos funcionários.
Além disso, a sala possui uma mesa
chabudai - de pernas curtas - tradicional
na cultura japonesa para as cerimônias de
chá. As ervas para infusão são guardadas
dentro de um grande gaveteiro
organizador de madeira simples e seus
pertences pessoais parece se guardados
dentro de uma cômoda, velha e
remendada, shikki - em laca - enquanto
seu chá na caixa de shikki com o laca
desgastado.

126 127
INVENTÁRIO DORMITÓRIO DOS FUNCIONÁRIOS
Figura 75: (24)2. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021). Figura 76: (41)3. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

1 NAICHINGĒRU 4 1 3
(ないちんげーる ) ZABUTON (座布団) NAGA-ITABUKI (長板葺) ENGAWA (縁側)
2 5 2 4
IRIKAWA(入側) CHABUDAI (茶ぶ台, ちゃぶだい) MONOOKI (物置) KOURAN (高欄)
3 6 5
MAJIKIRI (間仕切) FUTON (布団) SASHIHIJIKI (挿 肘 木)
7
BURACOS EM JANELAS SHOJI
TABELA 22. Análise da figura 75 - (24)2. TABELA 23. Análise da figura 76 - (41)3.

DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS


1. PISO-ROUXINOL SÉCULO XVI ORIENTAL CORREDOR UGUISUBARI DO TEMPLO HORYU-JI, SANNAI,
TÁBUAS COMPRIDAS PERÍODO NARA
CASTELO NIJŌ, 1603. 1. USADAS EM TELHADOS ORIENTAL IKARUGA-CHŌ, IKOMA-GUN,
(710 - 794 d.C.) NARA, JAPÃO, 607.
CASA DE CHÁ NO JARDIM
CORREDOR ENTRE A
2. RESIDÊNCIA E A VARANDA - ORIENTAL MOMIJIYAMA, PARQUE SUNPU,
ESTRUTURA SIMPLES CASA DE CHÁ NO JARDIM
SHIZUOKA, JAPÃO. 2. ONDE PARA DEPÓSITO SÉCULO VXIII ORIENTAL MOMIJIYAMA, PARQUE SUNPU,
3. PARTIÇÃO NÃO PERÍODO HEIAN SHIZUOKA, JAPÃO.
ORIENTAL -
PERMANENTE (794-1185)
3. VARANDA TRADICIONAL - ORIENTAL -
ALMOFADA FINA
4. PARA SENTAR - ORIENTAL -
GRADES QUE CIRCUNDAM
4. UMA VARANDA SÉCULO VII ORIENTAL -
MESA DE PERNAS
5. CURTAS
SÉCULO XIX ORIENTAL -
TEMPLO TŌDAI-JI,
5. UM OU MAIS BRAÇOS DE - ORIENTAL ZŌSHI-CHŌ, NARA,
6. TÍPICA ACOLCHOADO - ORIENTAL - SUPORTE JAPÃO, 740.
PARA DORMIR
ABERTURAS TEMPLO KEN’NIN-JI EM
7. DECORATIVAS - ORIENTAL KYOTO, JAPÃO, 1955.

128 129
RELATÓRIO pelo kouran e cobertas com telhado
naga-itabuki, composta por longas
varanda, com piso-rouxinol - naichingēru.
Tal piso é tradicional na arquitetura
ser dobrado e guardado durante o dia
e utilizado à noite, com o objetivo de se
tábuas de madeira. japonesa, sendo usado desde o período poupar espaço. Assim, as meninas várias
Os dormitórios que se encontram nos
Nanban do Japão, pois produz um som, que ficam no quarto poderiam utilizá-lo
andares baixos, dos fundos, da casa de A estrutura simples presente na
como o canto dos pássaros, muito usado também para tomar chá nas mesas
banho, seguem o mesmo raciocínio das extremidade do engawa, chamada
no Castelo Nijo para denunciar visitantes de perna curta chabudai e descansar
outras áreas de funcionários. O material monooki, tem como utilidade o depósito
inoportunos que caminhavam pelos olhando a vista pelas aberturas no shoji,
utilizado são os mesmos vistos em casas de utensílios e materiais de limpeza,
corredores. muito parecido com aqueles vistas
machiyas, assim como a disposição do provavelmente utilizado para manter a
no salão de chá do Templo Ken’nin-ji,
espaço. ordem dos quartos.
As camas não são prioridade na cultura estrategicamente colocadas para que se
Têm varandas engawas que são erguidas Em seu interior, existe um corredor japonesa, por isso utilizam-se futons, possa admirar o jardim por de dentro da
pelo complexo sashihijiki, circundadas irikawa, que divide o dormitório e a acolchoado flexível o suficiente para sala.

Figura 77: (23)3. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

130 131
INVENTÁRIO TÉRREO
Figura 78: (19)2.Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021). Figura 79: (36)1. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

1 4 1 NAICHINGĒRU 3
RANMA (欄間) GOUTENJOU (格天井) ZABUTON (座布団) (ないちんげーる)
2 5 2 4
SUDARE (簾 / すだれ) SORIBASHI (反橋) CHABUDAI (茶ぶ台, ちゃぶだい) UCHIWA(団扇)
3 6
GIBOSHI (擬宝珠) SHOHEKIGA (障壁画)

TABELA 24. Análise da figura 78 - (19)2. TABELA 25. Análise da figura 79 - (36)1.

DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS


ABERTURA HORIZONTAL ALMOFADA FINA
1. RETANGULAR ENTRE A SÉCULO XII ORIENTAL TEMPLO BYŌDŌ-IN,UJI,QUIOTO, 1. PARA SENTAR - ORIENTAL -
JAPÃO , 1053.
PORTA E O TETO
2. MESA DE PERNAS SÉCULO XIX ORIENTAL -
PERSIANAS DE RIPAS DE PEÍODO HEIAN ISHITANI RESIDENCE, CHIZU, CURTAS
2. MADEIRA DECORATIVA (794-1185) ORIENTAL TOTTORI PREFECTURE,
CORREDOR UGUISUBARI DO
AMARRADAS JAPÃO, 1929. 3. PISO-ROUXINOL SÉCULO XVI ORIENTAL
CASTELO NIJŌ, 1603.
DECORAÇÃONOFORMATODO
3. BULBODACEBOLA PERÍODOEDO ORIENTAL -
4.
LEQUE REDONDO FEITO DE
PAPEL COLADO SOBRE UMA SÉCULO VII ORIENTAL -
PINTURAS EM FINAL DO CAMARA DE AUDIÊNCIA ESTRUTURA DE BAMBU.
4. FUSUMA OU SHOJI SÉCULO VI
ORIENTAL
INTERNA DO CASTELO NIJŌ
PONTE CURVA PEÍODO HEIAN -
5. ORIENTAL
TRADICIONAL (794-1185)
NISHI-HONGANJI TEMPLE,
6. XILOGRAVURA TRADICIONAL PERÍODO NARA ORIENTAL
DE MOKU HANGA NO TETO (710 a 794 d.C.) KYOTO , JAPÃO, 1591.

132 133
RELATÓRIO

Enquanto isso no andar térreo o qual


abrange um pé-direito elevado. Ele é
constituído por elementos arquitetônicos
característicos, visto muitas vezes em
templo no Japão.
As pinturas de parede - goutenjou - é
um deles e tomam conta do ambiente,
na constituição de vários medalhões
tradicionais e árvores niwaki. Há

Figura 80: (33)1. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).
também uma segunda ponte soribashi,
ornamentada por um tipo de remate
giboshi dourado, aparece na obra. Serve
de atalho entre as duas laterais da casa de
banho, posicionada assim provavelmente
para facilitar o acesso aos elevadores,
sendo usado por Chihiro e Lin em um
trecho do filme.
Nos corredores, suas esquadrias das
aberturas levam o detalhe ranma entre a
porta e o teto, enquanto possuem ainda,
xilogravura tradicional de moku hanga
na laje.
A área que comporta as banheiras
populares, por sua vez, tem seu espaço
dividido tanto por persianas sudare,
quanto por, divisórias fixas emolduradas
com bambu, com o objetivo de manter a
privacidade dos banhos.
Por fim, mesas chabudai são dispostas
por todo o andar, carregadas de vários
zabuton - almofadas finas para sentar
- e leques uchiwa, supondo-se, para
satisfação da clientela.

134 135
INVENTÁRIO ENTRADA RESIDENCIAL DE YUBABA
Figura 81: (20)6. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021). Figura 82: (21)6. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

ARCO SEMICICULAR COM 5 1


1 VASO ISLÂMICO
PASSADEIRA PERSA
PEDRA ANGULAR 2
2 6 DETALHES EM BOISERIE
LANTERNA DE CATALUNHA INAMI CHOKOKU 3
3 7
OPUS SECTILE ESTAMPAS VITORIANAS
BOISERIE
4
COLUNA DE CAPITEL JÔNICO
COM BASE CORÍNTIO
TABELA 26. Análise da figura 81 - (20)6. TABELA 27. Análise da figura 82 - (21)6.

DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS


ARCO COM PEDRA
1. ANGULAR SÉCULO IX OCIDIENTAL ARQUITETURA ROMANA 1. PASSADEIRA PERSA SÉCULO V a.C OCIDENTAL TAPETE PAZYRYK

PERÍODO MEDIEVAL HOTEL DE VARENGEVILLE,


2. LANTERNA DE IDADE MÉDIA
ORIENTAL
RUAS DE CALLE 2. MOLDURA DE PAREDE (476 e 1453) OCIDENTAL
CATALUNHA (SÉCULOS V e XV) GIRONA, ESPANHA PARIS, FRANÇA , 1704
TÉCNICA DE COMPOSIÇÃO O RAPTO DE HYLAS PELAS
3. DE PEDRAS EM PANÉIS SÉCULO IV ORIENTAL NINFAS, BASÍLICA DE JÚNIO 3. ESTAMPAS VITORIANAS INÍCIO DO SÉCULO XX OCIDENTAL CORREDOR UGUISUBARI DO
CASTELO NIJŌ, 1603.
BASSO, ROMA,331
COLUNA DE CAPITEL JÔNICO
4. COM BASE CORÍNTIO SÉCULO IX ORIENTAL ARQUITETURA GREGA

5. VASO ISLÂMICO DE UM DOS GRANDES FEITOS EM


CERÂMICA MOURISCA SÉCULO XIV ORIENTAL ALHAMBRA, EM GRANADA

6. TÉCNICA JAPONESA EM
ESCULTURA EM MADEIRA
- ORIENTAL
CORREDOR UGUISUBARI DO
CASTELO NIJŌ, 1603.
CORREDOR UGUISUBARI DO
7. MOLDURA DE PAREDE SÉCULO XVI ORIENTAL
CASTELO NIJŌ, 1603.

136 137
Figura 83: (26)3. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).
RELATÓRIO construtiva conhecida pela arquitetura países como a Itália, a Espanha, a pela técnica tradicional japonesa inami
romana do período clássico ocidental. As França, a Finlândia e a Suíça, que chokoku, que são projetadas nas paredes
Ao seguir até o escritório de Yubaba, o colunas com capitel jônico e base coríntio usavam o mármore mediante como obras de arte. Ainda assim, são
percurso que Chihiro faz nos permite um previstas no ambiente, têm raízes na ao grande comércio de rochas emolduradas por boiseries de parede que
olhar mais detalhado sobre os aposentos Grécia antiga, assim como o piso de (ROMANO e VITIELLO, 2019). fazem alusão à cultura arquitetônica de
da chefe da casa de banhos. Além de seu mármore polido em opus sectile. interiores francesa.
Yubaba não deixa de valorizar a arte
escritório existem várias salas inundadas
Com a queda do império romano, de sua cultura, nipônica, na decoração Os corredores têm os caminhos guiados
de decorações com referências europeias.
iniciou a idade média, onde utilizou escolhida, refletido no uso novamente por passadeiras persa e paredes revestidas
Logo de início, no hall de entrada para a rocha em palácios, castelos, da técnica de xilogravura tradicional com papel de parede em estampas
esse andar, existem duas portas em arco igrejas, monumentos, esculturas, de moku hanga na laje e também na inglesas vitorianas, juntamente com
semicircular com pedra angular, técnica praças, entre outros. Entre diversos escultura de flores em madeira, feita vasos islâmicos de cerâmica mourisca.

138 139
INVENTÁRIO ESCRITÓRIO DE YUBABA
Figura 84: (34)1. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021). Figura 85: (44)3. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

1 1
BYÔBU CAPITEL CORÍNTIO
2 2
CREAMWARE ARCO FIJO SOBRE VENTANAS
3 3
CADEIRA LOUIS XV DETALHE BOISERIE
4 4
COMODA BOMBE FRONTÃO DECORATIVO
5
RODATETO TRABALHADO

TABELA 28. Análise da figura 84 - (34)1. TABELA 29. Análise da figura 85 - (44)3.

DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS


1. BIOMBO TRADICIONAL SÉCULO VIII - PANTHEON CENTRAL NCIHE,
ORIENTAL 1. CAPITEL CORÍNTIO SÉCULO V a.C ORIENTAL ROMA, ITÁLIA 125 a.C
2. PORCELANA DE CHÁ JOSIAH WEDGWOOD: TEA
1750 OCIDENTAL AND COFFEE SERVICE, 1775
2. ARCO FIJO SOBRE 1750 OCIDENTAL ARQUITETURA ROMANA
INGLÊS VENTANAS
CADEIRA LOUIS XV HOTEL DE VARENGEVILLE,
3. MÓVEL INGLÊS 1774 e 1792 OCIDENTAL
1774 E 1792 3. MOLDURA DE TETO 1774 e 1792 OCIDENTAL
PARIS, FRANÇA , 1704
ESTILO PEÇAS
4. COMODA BOMBE SÉCULO XVII OCIDENTAL ESTILO CLÁSSICO FRANCÊS 4. FRONTÃO DE MADEIRA SÉCULO XVI OCIDENTAL
INGLESAS GIBBON
PANTHEON CENTRAL NCIHE,
5. RODATETO TRABALHADO SÉCULO XVII OCIDENTAL
ROMA, ITÁLIA 125 a.C

140 141
Figura 86: (26)3.Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

RELATÓRIO
No escritório faz-se preferência frente ao arco de pleno-cintro e as poltrona se trata da famosa cadeira Luis
por colunas com capitel coríntio, molduras boiserie aparecem novamente, XV, inglesa.
evidentemente mais decoradas do que mas dessa vez destacando-se na laje.
A chaleira é indispensável para o
aquelas vistas anteriormente. Fazem
A biblioteca particular é disposta como ambiente, supondo-se que Yubaba tenha
conjunto com um rodateto trabalhado,
uma grande parede decorativa, tendo os cerimônias de chá típicos da cultura
e o arco fijo sobre ventanas que compõe
livros dispostos em várias prateleiras de japonesa. Entretanto, suas peças de
a moldura da grandiosa porta de entrada,
mesma madeira que a laje. chá retratam as porcelanas creamware,
todas peças referenciadas da arquitetura
também de origem inglesa, deixando
romana.
São escolhidos modelos europeus para com única composição tipicamente
Frontões decorativos, estilo as peças os mobiliários. A cômoda bombe vista japonesa o biombo tradicional, pintado
inglesas Gibbon, foram colocados em é advinda do estilo clássico francês e a com a técnica goutenjou.

142 143
INVENTÁRIO RESIDENCIAL YUBABA
Figura 87: (43)4. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021). Figura 88: (43)1. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

1 RODA-PÉ ALTO EM 3
VITRÔ ARCO PLENO FAUX MARBLE 1
COLCHETE DECORADO 2
2 4
BANHEIRA BATEAU PISO DE VIGA DECORADA
MARMORE 3
VASO ISLÂMICO
4
DETALHE NEMAKI (根 巻)
5
PISO DE MARMORE
XADREZ

TABELA 30. Análise da figura 87 - (43)4. TABELA 29. Análise da figura 88 - (43)1.

DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS


SALÃO PRINCIPAL DE TAKIYAMA
1. VITRÔ ARCO PLENO SÉCULO XVII OCIDENTAL BRISTRÔS FRANCESES 1. COLCHETE DECORADO
EM ESTILO JAPONÊS
SÉCULO XVI ORIENTAL
TOSHOGU, NIKKO, JAPÃO, 1953.
MEÁDOS DO SALÃO PRINCIPAL DE TAKIYAMA
2. BANHEIRA BATEAU SÉCULO XIX
OCIDENTAL ESTILO FRANCES CLÁSSICO 2. VIGA DECORADA EM SÉCULO XVI ORIENTAL
ESTILO JAPONÊS TOSHOGU, NIKKO, JAPÃO, 1953.
ACABAMENTO COM IMITAÇÃO PALÁCIO DE VERSALHES, VASO ISLÂMICO DE UM DOS GRANDES FEITOS EM
3. DE MÁRMORE POLIDO SÉCULO XVI OCIDENTAL
VERSAILLES, FRANÇA, 1661. 3. CERÂMICA MOURISCA SÉCULO XIV OCIDENTAL
ALHAMBRA, EM GRANADA
MUCHACHA CON COPA DE FOLHAS DE METAL SALÃO PRINCIPAL DE TAKIYAMA
4. PISO DE MARMORE SÉCULO XV OCIDENTAL
VINO, VERMEER ,1658–1659. 4. NA BASE DO PILAR SÉCULO XIX ORIENTAL
TOSHOGU, NIKKO, JAPÃO, 1953.
PISO DE MARMORE MUCHACHA CON COPA DE
5. XADREZ SÉCULO XV OCIDENTAL
VINO, VERMEER ,1658–1659.

144 145
RELATÓRIO frequentemente repousavam sobre uma
laje de mármore assim como ilustrado
no filme “A Viagem de Chihiro”. (EVENS,
2021)
Já o rodapé faux-marble é a técnica de
preparação e o acabamento de uma
superfície para imitar a aparência do
mármore polido, amplamente usado
no período clássico em Pompéia. É
normalmente usado em edifícios onde o
custo ou peso do mármore genuíno seria
proibitivo. (DAVIES e STACEY, 2019)
Nas suas varandas particulares, Yubaba
se volta à arquitetura ocidental, que

Figura 89: (42)5. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).
acompanhou o restante dos andares
em termos construtivos. Destacam-se
os pilares com detalhes nemaki - folhas
de metal envolvidas na base do pilar
Na área residencial do andar, não de madeira e s vigas e colchetes são
acontece diferente. No único banheiro decoradas utilizando a técnica japonesa
visto, as principais características também de inami chokoku - escultura em madeira.
são europeias, seguindo com uso de arcos
e colunas de referência romana. Possuem como itens de layout apenas
mais vasos islâmicos de cerâmica
Além disso, a escolha de Yubaba por mourisca, que seguem a linha de decor
mobiliário e equipamentos prioriza o do restante da residência. O piso finaliza o
estilo francês. A banheira bateau vista, ambiente, com o uso de mármore polido
com suas conhecidas pernas em garra, xadrez o qual existe desde a época do
é tipicamente francesa - creditada a um império romano, se popularizando na
designer e fabricante francês, Joseph Europa no século XV.
Delafon - e popular no período moderno
ao qual se refere o filme. Com a queda do império romano,
iniciou a idade média, onde utilizou
Eram essencialmente uma declaração de a rocha em palácios, castelos,
status, já que as classes mais baixas não igrejas, monumentos, esculturas,
tinham acesso a banheiros domésticos. praças, entre outros. Entre diversos
Os designs originais do Bateau eram países como a Itália, a Espanha, a
simples e funcionais, geralmente feitos França, a Finlândia e a Suíça, que
de ferro fundido, embora estanho e zinco usavam o mármore mediante
também fossem usados ​​como materiais ao grande comércio de rochas.
para tubos e devido à seu peso excessivo, (ROMANO e VITIELLO, 2019)

146 147
INVENTÁRIO CASA ZENIBA
Figura 90: (50)6.Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021). Figura 91: (50)7. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

1 PORCELANA IMARI 4
TELHADO ESTILO
(伊万 里 焼) MÁQUINA DE TEAR
5 1 KIRIZUMA YANE (切妻屋根)
2
NEMA (寝間) KAKEMONO 2
3 (掛け物) YANEURA (屋根裏)
KESHOU YANEURA 3
(化粧 屋 根 裏) ICHIBOKU KAIDAN (一木階段)

TABELA 33. Análise da figura 90 - (50)6. TABELA 34. Análise da figura 91 - (50)7.

DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS DESCRIÇÃO DATA INFLUÊNCIA REFERÊNCIAS

1. PORCELANA JAPONESA SÉCULO XVI ORIENTAL


- 1. TELHADO
ÁGUAS
DE DUAS SÉCULO XVII ORIENTAL CASA ESTILO MINKA

2. QUARTO DE DORMIR PERÍODO EDO ORIENTAL - 2. SÓTÃO PARA DEPÓSITO E MEÁDOS DO


ORIENTAL -
EM CASAS MINKA CRIAÇÃO DE BICHOS-DE-SEDA SÉCULO XII
PARTE INFERIOR DO TEMPLO SHOFUKUJI JIZODO,
3. TELHADO VISÍVEL SÉCULO VIII ORIENTAL TOKYO, JAPÃO, 1278. 3. ESCADA CORTADA DE
UM ÚNICO TRONCO
PERÍODO YAYOI
(1000 a.C. - 300 d.C) ORIENTAL -

4. MÁQUINA DE TEAR SÉCULO XVIII OCIDENTAL -

5. OBRA DE CALIGRAFIA OU PERÍODO HEIAN


PINTURA PENDURADA (794 - 1192)
WOMAN IN KIMONO PAINTING ,
ORIENTAL A HANGING SCROLL, WILSON ,1890.

148 149
Figura 92: (51)1. Fonte: Edição autoral de imagens do filme “A Viagem de Chihiro” (2021).

RELATÓRIO Se tratam de casa populares em meio - e também da escada chiboku kaidan feita sobre papel de seda ou tecido em
rural partir do período Kamakura – do final - escada cortada de um único tronco, formato vertical, e presa em um apoio
Finalizando, de imediato percebe-se a comum desde o período yayoi.
do século 12 ao século 14 – disseminou-se flexível, possibilitando ser enrolada para
diferença culturais regidas entre as duas
e desenvolveu-se a arquitetura que utiliza o armazenamento - e as porcelanas imari
irmãs bruxas ao Chihiro chegar na casa Seu interior é composto por poucos
o padrão horitatebashira, no qual o piso dispostas- e porcelanas imari - porcelana
da Zeniba a qual se retrata às casas estilo cômodos, possuindo além da cozinha
minka tipo nouka (農家) de fazendas. elevado se apoiava em pilares fincados apenas o nema - quartos de dormir das japonesa.
em cavidades no solo. (PARENT,2001) casas minka e tem a estrutura do seu
Os telhados costumavam ser kirizuma As únicas referências ocidentais no
telhado visível estilo keshou yaneura. espaço são a máquina de tear originada
yane - de duas águas - de palha e de caules É visível ser uma casa de campo devido
de planta até à Idade Média, quando à presença de um porta para o yaneura As decorações se enquadram em a partir da Revolução Industrial no século
começaram a ser também utilizados o - tradicional sótão que era utilizado referência orientais, como o kakemono XVIII, e a mesa em altura convencional
cipreste e o cedro. para depósito e criação de bichos seda - um pintura ou caligrafia japonesa ocidental

150 151

INTERPRETAÇÃO
BALNEÁRIO, CIDADE DE YUYA, JAPÃO.
DO ESPAÇO A casa de banhos, localizada na cidade
espírita de Yuya, Japão, foi originalmente
ilustrada no ano de 2001, Hayao Miyazaki
Ilustradores: Hayao Miyazaki e equipe Ghibli e sua equipe do Estúdio Ghibli. A
Cinematografia: Atsushi Okui edificação de - a partir do estu 33 mil m²
Direção de arte: Yoji Takeshige de área projetada está implantada em um
Proprietário: Yubaba terreno retangular com 65m de frente e
Área: Estima-se 33 mil m² 85m de profundidade, compondo uma
Ano: 2001
área de 5524m². Em relação ao entorno,
Cidade: Cidade de Yuya
encontra-se sobre uma escarpa - declive
País: Japão
muito íngreme no terreno - ao lado de
uma pequena cidade, a qual possui uma
relação hierarquicamente superior, sendo
a maior e mais luxuosa construção da ilha.
Seu desenho original apresenta
características da arquitetura japonesa da
era Meiji assim como influências, na parte
residencial presente no último andar, da
arquitetura ocidental.
A composição é feita a partir de dois
volumes sobrepostos e divididos por
telhados com grandes beirais. As
aberturas predominam-se por shoujis,
As análises que levaram ao entendimento além da entrada e varanda centralizada
da circulação, funcionalidade, setorização na fachada principal da edificação.
e materialidade foram realizados a mão,
Em termos de materialidade o balneário
com croquis descritivos e interpretativos
teve suas paredes externas e algumas
a lápis transformados em plantas e
das paredes principais levantadas em
cortes esquemáticos feitos com canetas
alvenaria, já as divisões dos ambientes
nanquim e aquarela. Essas análises
internos foi realizada com fusumas
foram possíveis através da observação
e shojis estruturados por pilares de
repetitiva dos caminhos e seus entornos
madeira, uma técnica de construção
percorridos pelos personagens durante o
tradicional japonesa, exceto a residencia
filme, das 396 imagens coletadas da obra,
de Yubaba, que é feita toda em alvenaria
da edição autoral de imagens do filme “A
e utiliza grandes portas de abrir entre
viagem de Chihiro” (2021) assim como o
um ambiente e outro, reforçando as
auxílio da recriação do universo da obra
referências ocidentais utilizadas nessa
feita na escala 1:1 no jogo Minecraft por
parte do edifício.
Alan Becker, “Spirited Away - the ENTIRE
Figura 93: Coqui do Balneário. Fonte: Desenho autoral. (2021). WORLD” (2015).

152 153
A construção conta com vários andares,
sendo 6 visiveis pela fachada principal.
O primeiro pavimento conta com um
tipo de hall em seu acesso que utiliza
fusumas para criar um eixo de circulação
principal horizontal e deixar o ambiente
de banhos um pouco mais privativo.
Esse eixo de circulação se une a outros
dois eixos secundários que circundam
os banhos públicos por fora, dando
acesso a salas de entretenimento
aberto com churrasqueiras, espaços
para descanso, espaço privado aos
funcionários e as escadas e elevadores
que levam aos pavimentos superiores.

O espaço privado aos funcionários leva a


cozinha e a uma caixa de escadas que se
estende verticalmente pela maior parte
da casa de banhos, dando acesso aos
pavimentos principais da construção,
aos dormitórios dos funcionários, a
sala de queima e vários outros lugares
que não foram apresentados na obra.

Nos demais pavimentos abertos aos


clientes, a circulação se mantém
circundante ao banho público - que
possui pé direito duplo - e cria vários
mezaninos, que dão acesso a mais
salas de entretenimento e repouso que
encontram-se nas laterais do edifício. O
quarto pavimento, sendo o penúltimo
pavimento com acesso de clientes, conta
com algumas diferenças em relação aos
demais, como uma ponte que atravessa
a casa de banhos por cima dos ofurôs,
duas escadas ao fundo que levam a salas
privadas e um elevador que dá acesso ao
escritório e a residência de Yubaba.
Figura 94: Corte esquemático com setorização. Fonte: Desenho autoral. (2021).

154 155
5m 10m 5m 10m

Figura 94: Planta esquemática Pavimento 01. Fonte: Desenho autoral. (2021). Figura 96: Planta esquemática Pavimento 03. Fonte: Desenho autoral. (2021).

10m 5m 10m
5m

Figura 95: Planta esquemática Pavimento 02. Fonte: Desenho autoral. (2021). Figura 97: Planta esquemática Pavimento 04. Fonte: Desenho autoral. (2021).

156 157
5m 10m

Figura 98: Planta esquemática Pavimento 05. Fonte: Desenho autoral. (2021).

5m 10m

Figura 99: Planta esquemática Pavimento 06. Fonte: Desenho autoral. (2021). Figura 100: Vista aerea da cidade. Fonte: Desenho autoral. (2021).

158 159
ASPECTOS
CONCLUSIVOS
japonesa, no período Meiji, o qual
personifica o tempo do enredo que
ocorre no mundo espiritual. Além disso,
promoveu uma maior capacidade de
percepção desses elementos ao observar
a arquitetura, ou aspectos da cultura
japonesa contemporânea.
As análises ainda nos permitiram
entender como funcionam as casas de
banho tradicionais japonesas, explicando
sua materialidade, fluxograma e os
usos dos seus espaços que por sua
vez auxiliou na elaboração de plantas
e cortes esquemáticos e desenhos
de perspectiva para o estudo da
circulação, funcionalidade, setorização e
materialidade do Balneário.
A compreensão da arquitetura do edifício,
a hierarquia apresentada pela disposição
doso espaços e seu funcionamento,
Esta monografia abordou o estudo expressa uma crítica ao sistema
da arquitetura a partir da análise da capitalista regente, uma vez que os
produção do filme “A Viagem de Chihiro” funcionários têm seus espaços deslocados
(2001). Este trabalho teve por objetivo para as periferias da construção, em
aprofundar o entendimento dos aspectos ambiente pouco salubres ou insalubres.
cênicos e de contextualização dos Os clientes, por sua vez, utilizam uma
ambientes arquitetônicos presentes na parte do edifício que esbanja luxo e
obra. A metodologia utilizada baseou-se sofisticação, e Yubaba, ocupando o último
em levantamentos bibliográficos, análise pavimento sempre com os olhos sobre
gráfica, análise arquitetônica, elaboração seus funcionários e o bom funcionamento
de plantas e cortes esquemáticos e de seu estabelecimento.
desenhos de perspectiva.
A percepção desses elementos
Conclui-se que essa análise gráfica e arquitetônicos como apresentados,
escrita da cenografia dos elementos reafirmaram a intenção de Miyazaki
arquitetônicos trás como resultado um em demonstrar a imposição de cultura
maior entendimento e conhecimento sofrida pelo país a partir do capitalismo
da cultura e da arquitetura oriental, ao e processo de globalização. Assim,
mesmo tempo que nos mostra como percebeu-se como a construção espacial
e quando elementos tradicionalmente e cênica adquiriram centralidade no
ocidentais foram infundidos na cultura desenvolvimento narrativo do filme.

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