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UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ESCOLA DE BELAS ARTES


CURSO DE DESIGN INDUSTRIAL – PROJETO DE PRODUTO

Avaliação de História da Arte III


Hayao Miyazaki e o Surrealismo

Erllen da Silva Correia


DRE: 122067388

Rio de Janeiro
2023/1
Surrealismo é um movimento que surgiu no início do século XX, caracterizado pela
exploração dos elementos irracionais e subconscientes da mente humana, buscando romper com
as limitações da racionalidade e do pensamento convencional, apresentando justaposições
inesperadas, imagens estranhas ou fantásticas que enfatizavam os sonhos. O movimento foi
oficialmente lançado em 1924 com a publicação do Manifesto Surrealista pelo escritor francês
André Breton.
O movimento surrealista teve um impacto profundo na arte, literatura, cinema e até
mesmo na política. Sua influência se estendeu para além do mundo das artes, inspirando
gerações subsequentes de artistas e intelectuais, incluindo a temática que será abordada,
relacionando as obras do Studio Ghibli com esse movimento histórico.
Hayao Miyazaki é um renomado cineasta, animador e roteirista japonês, um dos
fundadores do Studio Ghibli juntamente com Isao Takahata, Toshio Suzuki e Yasuyoshi
Tokuma. Seus trabalhos são amplamente reconhecidos por sua mistura única de imaginação e
elementos fantásticos, incorporando muitas ideias do movimento surrealista para criar
experiências oníricas e instigantes para os espectadores. Miyazaki borra os limites entre
realidade e fantasia em suas narrativas, criando uma sensação de incerteza que desafiam a
percepção do espectador sobre o que é real, permitindo explorar temas e emoções complexas
de maneiras não convencionais.
Para atingir esse propósito, Miyazaki cria mundos imaginativos que transportam o
público para além do reino da realidade. Seja nas ilhas flutuantes de Laputa em O Castelo no
Céu (1986) ou no mágico reino espiritual de A Viagem de Chihiro (2003), onde, esses cenários
proporcionam um senso de maravilha e escapismo, como introduzir elementos extravagantes e
bizarros em suas narrativas, como porcos voadores em Porco Rosso: O Último Herói
Romântico (1992) ou espíritos da floresta em Meu Amigo Totoro (1988). Há, também, em suas
obras, questões de metamorfoses e transformações que desafiam as noções convencionais sobre
identidade e aparência, como as criaturas que mudam de forma em A Princesa Mononoke
(1999) ou a bruxa presente em O Castelo Animado (2004).
Os filmes de Miyazaki apresentam elementos simbólicos e narrativas alegóricas,
oferecendo significados mais profundos além de suas histórias superficiais. Em A Viagem de
Chihiro (2003), a protagonista é transportada para um mundo espiritual que se entrelaça com a
realidade cotidiana, e, nas entrelinhas, explora temas de ganância, destruição ambiental e perda
da inocência por meio de sua representação fantástica de um balneário para espíritos. Já em
Princesa Mononoke (1999), os espíritos da floresta simbolizam a conexão entre a natureza e os
seres humanos, enquanto em O Castelo Animado (2004), o castelo em constante transformação
é uma metáfora da complexidade da personalidade humana. Esses elementos simbólicos
adicionam camadas de significado e contribuem para a atmosfera surreal de seus filmes.
Embora Miyazaki não tenha citado diretamente influências específicas do surrealismo
em seus trabalhos, é possível encontrar paralelos entre sua estética e obras surrealistas. Citandos
alguns dos principais artistas do movimento que podem ter influenciado o seu trabalho:
 Salvador Dalí: a estética e os elementos surreais presentes nas pinturas de Salvador Dalí
podem ter inspirado a criação dos mundos fantásticos de Miyazaki.

 René Magritte: a manipulação de elementos cotidianos e a descontextualização presente


nas obras podem ser vistos em alguns momentos dos filmes de Miyazaki, onde objetos
e situações comuns são transformados em algo extraordinário. Em Porco Rosso (1992)
vemos um elemento real sendo atribuído a um elemento irreal, descontextualizando e
quebrando expectativas, quando o piloto e personagem principal é um porco aviador,
que interage normalmente numa sociedade humana.
 Max Ernst: A abordagem experimental e a fusão de elementos díspares encontrada nas
colagens de Max Ernst podem ter influenciado a estética de Miyazaki, onde diferentes
elementos e criaturas se encontram de maneira surpreendente. O fundador do Studio
Ghibli cria formas e estruturas irreais, como o Koneko Basu, um gato misturado a um
ônibus, e o próprio Totoro, que dá nome ao filme, sendo uma mistura de vários animais
folclóricos japoneses (raposa, coruja e gato).

Miyazaki atinge os fundamentos do Manifesto Surrealista escrito por Breton em 1924,


com a rejeição da razão e da moral convencional, se opondo às lógicas pré-estabelecidas pela
sociedade, explorando o irracional e sonhador, valorizando a fantasia, uma vez que os
surrealistas acreditavam que isso poderia ser uma força transformadora na sociedade. Ainda,
segundo o manifesto, as lógicas estabelecidas limitavam a espontaneidade e barravam a criação
de obras autênticas e, as obras criadas por Miyazaki são extremamente autênticas, reflexivas e
inesperadas, quebrando, assim, a lógica do mundo.
Referências

ERNST, Max. Os bárbaros. 1937. Óleo em papel cartão. 24,1 x 33 cm.


MAGRITTE, Réne. O Filho do Homem. 1964. Óleo sobre tela. 89 x 116 cm.
DALÍ, Salvador. A Tentação de Santo Antônio. 1946. Óleo sobre tela. 90 x 119,5 cm.
BRETON, André. Manifesto do Surrealismo. 1924.
STUDIO GHIBLI. O Castelo no Céu. Direção: Hayao Miyazaki. Japão, 1986.
STUDIO GHIBLI. Meu Amigo Totoro. Direção: Hayao Miyazaki. Japão, 1988.
STUDIO GHIBLI. Porco Rosso: O Último Herói Romântico. Direção: Hayao Miyazaki.
Japão, 1992.
STUDIO GHIBLI. Princesa Mononoke. Direção: Hayao Miyazaki. Japão, 1997.
STUDIO GHIBLI. A Viagem de Chihiro. Direção: Hayao Miyazaki. Japão, 2001.

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