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Antonio Carlos Fontes dos Santos

Apoena Calil

Física I

Antonio Carlos Fontes dos Santos


Apoena Calil
Física I
Física I

Antonio Carlos Fontes dos Santos


Apoena Calil

Curitiba
2016
Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501

S237f Santos, Antonio Carlos Fontes dos


Física I / Antonio Carlos Fontes dos Santos, Apoena Calil. –
Curitiba: Fael, 2016.
166 p.: il.
ISBN 978-85-60531-37-0

1. Física I. Calil, Apoena II. Título


CDD 530

Direitos desta edição reservados à Fael.


É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.

FAEL

Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo


Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão FabriCO
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Imagem da Capa Shutterstock/Georgejmclittle
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Sumário

Carta ao Aluno | 5

1. Movimento unidimensional  |  7

2. Vetores   |  25

3. Movimento no plano e no espaço  |  37

4. As leis de Newton  |  53

5. Trabalho e energia | 71

6. Conservação do momento linear  |  87

7. Fluidos | 99

8. Termodinâmica | 111

9. Primeira Lei da Termodinâmica  |  127

10. Segunda Lei da Termodinâmica  |  143

Conclusão | 161

Referências | 163
Carta ao Aluno

Prezado Aluno,
Os semestres iniciais de um curso da área de exatas como
a engenharia de produção, civil ou mecânica, são os mais difíceis.
Nesta disciplina, são desenvolvidas várias das ideias, conceitos e
métodos fundamentais para um engenheiro. O estudante que tenha
compreendido de forma clara os conceitos básicos desenvolvidos
nesta disciplina terá transposto a maior parte das dificuldades de
aprendizagem da física.
Um jogo não será divertido a menos que conheçamos as
suas regras. Analogamente, não poderemos apreciar ao máximo o
mundo ao nosso redor a menos que tenhamos entendido as leis da
física. Ela nos mostra como tudo na natureza está surpreendente-
mente integrado. Há várias razões para estudar física: como cida-
dãos atuantes, a estudamos para aprimorar o modo como enxerga-
Física I

mos o nosso mundo e para o nosso crescimento pessoal. Como estudante


e futuro engenheiro, você deve desenvolver as técnicas e a arte de conjugar
os conhecimentos da física com a sua viabilidade técnico-econômica para
o  aprimoramento, concepção, e implementação de bens e utilidades, tais
como estruturas, sistemas ou  processos, que desempenhem funções e/ou
objetivos preestabelecidos.
Por exemplo, nesta disciplina você estudará várias forças e interações,
entre elas a força de atrito. O atrito é um fator importante em muitas discipli-
nas de engenharia. Os freios dos automóveis dependem do atrito, diminuindo
a velocidade de um veículo por meio da conversão de sua energia cinética em
calor. A dispersão desta grande quantidade de calor de modo seguro é um
desafio técnico para os engenheiros na concepção de sistemas de freio.
Ao final dos estudos, você terá subsídios para desenvolver as competên-
cias a seguir:
22 Compreender a mecânica newtoniana, a termodinâmica e as tec-
nologias a elas associadas, como construções humanas, percebendo
seus papéis nos processos de produção e no desenvolvimento eco-
nômico e social da humanidade;
22 Identificar a presença e aplicar as tecnologias associadas à mecânica
newtoniana e à termodinâmica em diferentes contextos relevantes
para sua vida pessoal;
22 Entender métodos e procedimentos próprios da física clássica e
aplicá- los a diferentes contextos.

– 6 –
1
Movimento
unidimensional

A física é um assunto interessante para estudar. Há novas des-


cobertas ocorrendo o tempo todo e no mundo inteiro. Compreen-
der alguns conceitos básicos da física, como velocidade e aceleração,
irá ajudá-lo. Neste capítulo, estaremos interessados na cinemática.
Cinemática é o estudo do movimento de objetos usando palavras,
equações, gráficos e diagramas e números. As equações da cinemá-
tica podem nos ajudar a entender e prever o movimento de um
objeto. Os conceitos básicos aprendidos serão elementos fundamen-
tais para a compreensão da física como um todo.
A cinemática é o ramo da mecânica newtoniana que descreve
o movimento dos objetos, sem considerar as causas do movimento.
Para isso, em cinemática estudamos as trajetórias de objetos, e suas
propriedades como velocidade e aceleração. A cinemática é usada
em astrofísica para descrever o movimento dos corpos e sistemas
celestes, e em engenharia mecânica, robótica, e biomecânica para
determinar o movimento de sistemas compostos, como motores, ou
Física I

um braço robótico. A análise cinemática é o processo de medir as quantidades


cinemáticas utilizadas para descrever o movimento.

Objetivos de aprendizagem:
22 caracterizar o movimento;
22 compreender os conceitos de espaço, tempo, velocidade e aceleração.

1.1 O referencial
Em física, quase tudo é relativo! O conceito de relatividade é bem sim-
ples e está relacionado com o fato de que a posição e o movimento de um
objeto podem somente ser percebidos com respeito (ou seja, em relação a
outros objetos). Quando você diz: “Jorge está sentado no lado direito de Eli-
zabete”, você descreve a posição de Jorge em relação à de Elizabete. Neste
caso, dizemos que o referencial é a posição de Elisabete.
Todos sabemos que movimento se difere do repouso. No entanto,
Galileu mostrou que não há uma diferença intrínseca entre movimento e
repouso. Movimento e repouso dependem do observador, ou seja, o movi-
mento é relativo.
A neurociência nos ensina que nossas ações, geralmente inconscientes,
são muitas vezes reflexos do tempo em que vivíamos na floresta. Imagine,
por exemplo, um hominídeo calmo e tranquilamente sentado sobre a grama
numa floresta aberta. De repente, algo se move entre as folhagens. Imediata-
mente, a atenção de nosso ancestral se foca no barulho. As células nervosas
que detectam o movimento foram as primeiras a serem desenvolvidas em
nosso cérebro. Ao notar o movimento no nosso campo de visão, percebemos
duas entidades: o fundo, ou ambiente fixo e o animal que se mexe sobre este
fundo. Se o animal é inofensivo, podemos relaxar, mas se é um predador
devemos correr. Como distinguimos o animal do meio em que ele está? A
nossa percepção envolve vários processos nos olhos e no cérebro, mas o que
interessa neste momento é que nós experimentamos o movimento como um
processo relativo. Ele é percebido em relação e em oposição a um objeto ou
ao ambiente que nos cerca.

– 8 –
Movimento unidimensional

Referencial é um sistema de coordenadas espaciais e um


relógio, em relação ao qual se determina a posição de um
sistema e em que se descreve o movimento deste sistema.

Você já viu uma série de figuras Where’s Wally? (Onde Está Wally? no
Brasil) É uma série de livros de caráter infanto-juvenil criada pelo ilustrador
britânico Martin Handford, baseada em imagens e pequenos textos. Observe
a figura a seguir.

Figura 1 – Reprodução do livro Onde está Wally?

Fonte: Blog Onde Está Wally?, 2015.

Como você descreveria a posição do Wally? Você poderia simplesmente


apontar para o local na figura onde ele se encontra. Mas, nesse caso, você
descreve a posição do Wally em relação ao seu dedo indicador. Se você tivesse
que falar sobre a posição do Wally utilizando palavras, você poderia dizer: “ele
está na parte superior da mesa, que está ligeiramente à esquerda do centro
da figura”. Esta frase indica a posição de Wally em relação à mesa. Ou seja,
é impossível descrever a posição do Wally (ou de qualquer personagem na
figura) sem se referir a um ou mais objetos.

– 9 –
Física I

1.2 Movimento unidimensional


Vamos inicialmente nos restringir ao movimento que se dá ao longo de
uma linha reta. Para descrevê-lo, precisamos inicialmente de um referencial,
que no caso do movimento em uma dimensão consiste de uma régua (reta
orientada) onde escolhemos a origem. A posição de uma partícula em função
do tempo é descrita por x(t). O sentido positivo do eixo é aquele no qual as
coordenadas (números que indicam a posição) são crescentes, que na figura a
seguir é para a direita. Do mesmo modo, o sentido negativo é aquele no qual
as coordenadas são decrescentes (esquerda da figura a seguir).

Figura 2 - Eixo (reta Real)

Fonte: elaborado pelo autor, 2015.


Por exemplo, se uma partícula estiver localizada na posição x = 100 m,
ou seja, está 100 m à direita da origem. Se a partícula estivesse na posição
x= -100 m, isto significaria que ela estava 100 m à esquerda da origem.
A variação do espaço ou deslocamento indica a diferença entre a posição
no instante t2 e a posição inicial de um objeto no instante t1 < t2.

Equação 1: Deslocamento unidimensional: Dx = x(t2) – x(t1)


Onde a letra grega D (delta maiúsculo) indica a variação de uma grandeza,


no caso, a posição em dois instantes de tempo diferentes. Em um deslocamento
no sentido positivo (valores de x(t) crescentes), x(t2) > x(t1) para t2 > t1, por exem-
plo: suponha que a partícula esteja na posição 10 m no instante 2 s, ou seja, x(t =

– 10 –
Movimento unidimensional

2s) = 10 m e no instante t = 5 s a partícula se encontre na posição 15 m, ou seja,


x(t=5 s) = 15. Assim, o deslocamento será Dx=15 m – 10 m = + 5 m. No caso de
um deslocamento no sentido negativo, temos x(t2) < x(t1) para t2 > t1.
Por exemplo: suponha agora que a partícula esteja na posição 10 m
no instante 2 s, ou seja, x(t = 2s) = 10 m e no instante t = 5 s a partícula se
encontre na posição 5 m, ou seja, x(t=5 s) = 5. Assim, o deslocamento será
Dx = 5 m – 10 m = - 5 m. É importante notar que para fins de cálculo do deslo-
camento, apenas as posições inicial e final importam, não sendo relevante a dis-
tância total percorrida. Por exemplo, se no instante inicial, que vamos considerar
como t= 0 s, a partícula se encontre na posição x = 10 m.
Então suponha que a partícula vá até a posição x = 20 m e, logo após, para
a origem (x= 0 m) no instante final. O seu deslocamento entre os instantes inicial
e final será Dx = 0 – 10 = - 10 m.
Os antigos classificavam o movimento de forma vaga como lento ou
rápido. Acredita-se que Galileu foi o primeiro a descrevê-lo por meio do con-
ceito de velocidade, definido como a distância percorrida por unidade de
tempo. Assim, a velocidade escalar média;

Equação 2
Velocidade escalar média: vescalar= distância
tempo

Um carro que percorre 60 quilômetros (km) em duas horas tem uma
velocidade de 30 quilômetros por hora (km/h). No SI a velocidade se mede
em m/s. A velocidade média, representa pelos símbolos v ou v ,entre os
instantes t1 e t2, é definida por

Equação 3
x(t2) – x(t1) Dx
Velocidade média: = = =
t2 – t1 Dt

– 11 –
Física I

Você sabia
Apesar da definição de velocidade média, não precisamos de inter-
valos de tempo e de espaço para determinar uma velocidade, basta
compará-la com uma grandeza fundamental na natureza, a velocidade da
luz. Medir é comparar com um padrão. O metro é definido em termos
da velocidade da luz.

Diz-se que um movimento é uniforme quando a velocidade não muda


com o tempo, ou seja, é constante. Os gráficos a seguir ilustram situações de
movimento uniforme.
Figura 3 – O movimento uniforme. De cima para baixo, velocidade positiva (Dx > 0),
velocidade negativa (Dx < 0) e velocidade nula (Dx = 0).

x(t)
v>0

∆x
x0 ∆t

tempo

x(t)
v<0
x0

tempo

x(t) – 12 –
v=0
Movimento unidimensional
tempo

x(t)
v=0

x0

tempo

Fonte: elaborado pelo autor, 2015.


Mas qual é a velocidade em um dado instante de tempo t ?
Os dados acerca da velocidade média têm inequívoca importância. Por
exemplo, se sabemos que um automóvel vai da cidade A até a cidade B a uma
velocidade média de 100 km/h, deduziremos que levará 2 horas de viagem, se
a distância entre as duas cidades for 200 km.
Mas e se precisamos de informações a respeito do que acontece na
proximidade imediata de um determinado instante de tempo ou determi-
nado lugar?
Queremos agora saber como varia a posição da partícula em função
do tempo t, ou seja, desejamos conhecer o valor x(to), na vizinhança do
instante to, conforme ilustrado na Figura 4. No instante to a posição do
objeto é xo, ponto P no gráfico posição versus tempo. Entre os pontos P
e Q, ou seja, entre os instantes to e to + Dt a posição muda de xo para xo +
Dx. Como vimos, definimos a velocidade escalar média, nesse intervalo
de tempo, como:

Equação 4
x(t0 + Dt) – x(t0) Dx
= =
Dt Dt

– 13 –
Física I

Figura 4 – Obtenção da velocidade instantânea a partir da velocidade média entre


os pontos t e t + Dt.

t t+h
Fonte: elaborado pelo autor, 2015.
Se desejarmos conhecer como se comporta a velocidade da partícula nas
vizinhanças do instante to, devemos tomar Dt tendendo para zero, ou seja,
devemos fazer com que o ponto Q se aproxime do ponto Q. A Figura 4,
mostrou o que acontece.
O intervalo Dt diminui, e a corda PQ se aproxima da tangente ao
ponto P. Assim, no limite que Dt tende à zero, a velocidade média tende à
velocidade instantânea:

Equação 5
Dx = dx
Velocidade instantânea: v(t) = Dtlim0
Dt dt

Importante
A velocidade é a derivada da posição em função do tempo. Para uma
melhor compreensão e resolução dos problemas, você precisará se lem-
brar das suas aulas de cálculo diferencial! Caso tenha dificuldades, faça
uma revisão!

– 14 –
Movimento unidimensional

Os movimentos que são observados no dia a dia, as velocidades geral-


mente variam em função do tempo. Este tipo de movimento é chamado de
variado. Define-se a aceleração escalar média, a ou a , entre os instantes
to e e to + Dt, como:

Equação 6
v(t0 + Dt) – v(t0) Dv
Aceleração média: a = =
Dt Dt

Do mesmo modo, a aceleração instantânea é definida como:

Equação 7
Dv = dv = d2x
Aceleração instantânea: a(t) = Dtlim0
Dt dt dt2

Ou seja, a aceleração é a derivada da velocidade. Como a velocidade é a


derivada da posição, a aceleração é a segunda derivada da posição em função
do tempo.

Exemplo:
A posição de uma partícula que se move ao longo do eixo x é dada por
x(t) = 2t2 -2t + 10, onde x está em metros e t em segundos.
Determine:
a. velocidade média entre os instantes t = 0 e t =1 s?
b. a velocidade instantânea em t = 1s
c. a aceleração média entre os instantes t= 0 e t = 1 s?
d. a aceleração instantânea em t = 1s?
(tente você mesmo resolver antes de verificar a solução a seguir)

– 15 –
Física I

Solução:
a. Temos que x(0) = 10 m e x(1) = 10 m. Então Dt =1 s e Dx = 10-10 = 0 m.
A velocidade média é então, pela equação 4 v= 0/1 m/s = 0 m/s.
Note que entre os instantes t = 0 s e t=1s, a partícula se moveu. No
entanto, o valor médio de sua velocidade foi nulo.
b. A função velocidade é dada pela equação 5 v(t) = 4t -2 (lembre-se
de suas aulas de Cálculo). No instante t = 1s, a velocidade fica
v(t=1s) = 4(1)-2 = 2 m/s
c. A partir do item anterior, temos que v(t) = 4t -2 e que v(0) = -1 m/s
e v(1) = 2 m/s. Assim, Dv = 2 – (-1) = 3 m/s e a aceleração média
a = Dv/Dt = 3/1 = 3 m/s2
d. A aceleração instantânea é facilmente obtida derivando (equação 7
a equação horária da velocidade: a(t) = 4 m/s2.

1.3 O movimento retilíneo


uniformemente variado
Se a velocidade variar de maneira uniforme em função do tempo,
ou seja, se Dv forem sempre iguais para Dt iguais, o movimento é
conhecido como retilíneo uniformemente variado (MRUV). Assim, a
aceleração deve ser constante:

Equação 8
Dv = constante
a=
Dt
Dv = v – v0 = a (t – t0)

Mas quais são as equações que descrevem o MRUV?
Estas equações são conhecidas como funções horárias do MRU, isto é,
equações nas quais a variável livre é o tempo. A partir da equação 8, obtemos
a equação horária para a velocidade (verifique!):

– 16 –
Movimento unidimensional

Equação 9: v = v0 + at

A Figura 5 apresenta a equação 9 para os casos nos quais a aceleração é
positiva (a > 0, movimento acelerado), negativa (a < 0, movimento retardado)
e nula (a = 0, movimento uniforme).
Figura 5 – Gráficos para o movimento acelerado (aceleração positiva), retardado
(aceleração negativa) e uniforme (aceleração).
v(t)
Aceleração positiva

∆x
v0 ∆t

tempo

v(t)
Aceleração negativa
v0

tempo

v(t)
Aceleração nula

v0

tempo

Fonte: elaborado pelo autor, 2015.

– 17 –
Física I

Se um automóvel descreve um movimento uniformemente variado, as


áreas sob as curvas da figura fornecem o espaço percorrido Dx = x - xo no
intervalo de tempo Dt = t - to. Fica como exercício mostrar que a função horá-
ria da posição para o MRUV é:

Equação 10
a (t – t0)2
x = x0 + v0 (t – t0) +
2

Note que a equação 10 representa uma função do segundo grau em
relação ao tempo.

1.4 Queda livre e lançamento vertical


Você já notou o que acontece com os artefatos quando são lançados
verticalmente para cima? Eles alcançam uma dada altura que depende da sua
velocidade inicial, param instantaneamente, e começam a cair verticalmente
em direção ao ponto do qual foram lançados.
E como varia a velocidade do objeto? É constante? É variável? Um objeto
situado nas proximidades da superfície terrestre está sujeito a uma aceleração
constante, de módulo g = 10 m/s2, devido ao campo gravitacional da Terra,
apontando para o centro da terra. Assim, durante a subida, o objeto des-
creve um movimento retardado (a < 0) e tem sua velocidade diminuída, em
módulo. Durante a descida, o objeto adquire um movimento acelerado (a >
0), aumentando o módulo de sua velocidade.
O termo queda livre, muito utilizado em Física, está relacionado ao
movimento acelerado de queda, onde os efeitos da resistência do ar são des-
prezados. Então, a queda livre é um tipo de movimento uniformemente
variado, com aceleração constante devido à gravitação terrestre. Para resolver-
mos os problemas de queda livre, utilizamos as mesmas equações dos lança-
mentos verticais. No entanto, devemos tomar bastante cuidado na descrição
da velocidade inicial do objeto.
Note que as equações horárias estudadas até este momento, não
levam em conta as massas dos corpos. Isto porque, como Galileu desco-

– 18 –
Movimento unidimensional

briu, todos os objetos em queda livre, ou seja, na ausência da resistência


do ar, têm a mesma aceleração constante g, independentemente da sua
massa, tamanho ou formato.
O valor local de g varia de acordo com a latitude e a altitude do local.
Porém, para fins práticos e durante a ocorrência de um fenômeno de curta
duração, como nos casos tratados ao longo desta disciplina, o valor da acelera-
ção gravitacional é assumido como uma constante, cujo valor aproximado é 9,8
m/s2. Para facilitar os cálculos, utilizamos um valor arredondado para 10 m/s2.
No lançamento vertical de um objeto, desprezando-se os efeitos do ar,
a sua trajetória é retilínea e o movimento é uniformemente variado. Quando
um objeto é lançado verticalmente, pode-se constatar que: o movimento é
retardado na subida, para instantaneamente no ponto mais alto da trajetória,
muda o sentido de movimento e passa a ser acelerado na descida.

Importante
Há várias possibilidades para a orientação da trajetória no movimento de
queda livre e lançamento vertical. Estas possibilidades devem estar de
acordo com as nossas conveniências. Apresentamos, a seguir, as equações
nas quais: o espaço ou deslocamento vertical é representado pela variável
y; a aceleração escalar é representada pela constante g. O maior cuidado
que se deve tomar está na determinação do sinal que antecede o termo
contendo a velocidade e a aceleração gravitacional g, de acordo com a
orientação positiva da trajetória, que pode ser para cima ou para baixo, na
queda livre e no lançamento vertical. Como sugestão aos que não estão
muito familiarizados com estes problemas, sugerimos escolher uma orienta-
ção positiva para cima (y cresce com a altura). Assim, o sinal de vo será posi-
tivo se a velocidade inicial estiver orientada para cima, e negativo se estiver
orientada para baixo. Nesta convenção, o sinal de g será sempre negativo.

2
Equação 11 y = y0 ± v0t – gt
2
Queda livre e lançamento vertical: v = v0 – gt
a = –g

– 19 –
Física I

Exemplo:
E quando a resistência do ar ou do meio em questão, que pode ser um
fluido viscoso, não pode ser desprezada? Este problema está intimamente
ligado ao consumo de um automóvel a altas velocidades. Veja o problema
resolvido a seguir (nível de dificuldade: alto. O problema exige bons conheci-
mentos de cálculo diferencial e integral).
Quando um objeto esférico de metal cai em um líquido viscoso (mel,
óleo, ou mesmo água, ou mesmo ar), sua aceleração é uma função da velo-

cidade na forma: a = g 1– vv em que vo é a velocidade limite da esfera.


o
Mostre que as expressões analíticas da velocidade e da posição em fun-

ção do tempo são dadas, respectivamente por v = vo 1 – exp – gt e


2
vo
v
y = vot – go 1 – exp – vgt .
o

Solução:

a = dv = g 1 – vv
dt o

dv = gdt
1– vv
o

v t
dv̍ = gdt̍
1– vv
o o

z = 1– vv
o

dz = –vdv
o

– 20 –
Movimento unidimensional

– vodz – v dz – v lnz – v ln
= o z = o = o 1– vv
z o

– voln 1– vv = gt
o

ln 1– vv = – gt
o vo

1– vv = exp – gt
o vo

v = vo 1 – exp – gt
vo

Expressão analítica para a posição:


v = dy = v = vo 1 – exp – gt
dt vo

– gt
dy = vo 1 – exp v dt
o

– gt
dy = vo 1 – exp v dt
o

v2 – gt
y = vot – go 1 – exp v
o

Importante
O que acontece quando alguém salta de um avião e abre um paraque-
das? Vamos olhar mais de perto a física do paraquedismo. A Figura 6
mostra uma pessoa em queda livre sem um paraquedas. Inicialmente,
a força gravitacional (a força com que a Terra nos puxa em sua direção)
é maior que a resistência do ar sobre o paraquedista. Assim, ele está
acelerando em direção ao solo.

– 21 –
Física I

À medida que a velocidade do paraquedista aumenta, a resistência


do ar também aumenta, pois quanto mais rápido um corpo se desloca
na presença de um fluido como o ar, maior é força de resistência do
fluido sobre o corpo, até o momento no qual a resistência do ar será
igual à gravidade em módulo. A partir deste momento, o corpo não
estará mais acelerando, mas em movimento uniforme com a velocidade
terminal que pode alcançar 200 km/h.Chocar-se com o solo nessa
velocidade seria fatal. Assim, o paraquedista abre seu paraquedas,
aumentando a resistência do ar e diminuindo a sua velocidade.
Figura 6 – Representação esquemática de uma pessoa num
salto livre, sujeito à resistência do ar.
Resitência do ar

Gravidade

Resitência do ar

Gravidade

Fonte: elaborado pelo autor, 2015.

Resumindo
Neste capítulo, você estudou os diversos tipos de movimentos unidimen-
sionais e conheceu os conceitos de velocidade média, velocidade instantânea,
aceleração média e aceleração instantânea. Essas definições serão importantes
para você em várias situações. Elas estão intimamente ligadas, por exemplo,

– 22 –
Movimento unidimensional

ao desempenho de um automóvel. Para comparar o desempenho de dois car-


ros, você precisa comparar as suas acelerações médias máximas, além, é claro,
de outros fatores, como a aerodinâmica.
Definimos o conceito de:

distância
Velocidade escalar média: vescalar= ;
tempo

x(t2) – x(t1) Dx
Velocidade média: = = = ;
t2 – t1 Dt

Dx = dx
Velocidade instantânea: v(t) = Dtlim0 ;
Dt dt

v(t0 + Dt) – v(t0) Dv


Aceleração média: a = = ;
Dt Dt
Dv = dv = d2x .
Aceleração instantânea: a(t) = Dtlim0
Dt2
dt dt

A equação horária do movimento uniformemente variado (MUV) é


dada por:
a (t – t0)2
x = x0 + v0 (t – t0) +
2
Enquanto, que a equação horária para a velocidade no MUV é: v = v0 + at .
Aplicações importantes para o MUV são a queda livre e o lança-
mento vertical:
gt2
y = y0 ± v0t –
2
v = v0 – gt
a = –g

– 23 –
2
Vetores

Os vetores são usados em física e engenharia para descrever


qualquer coisa que tenha uma direção, um sentido, e uma inten-
sidade (magnitude). São geralmente representados por flechas ou
setas, cujo comprimento representa o tamanho (ou módulo) do
vetor. A representação de um chute numa bola de futebol é um bom
exemplo de grandeza vetorial, porque tem uma direção, sentido e
uma intensidade.
Em física ou engenharia, os vetores são utilizados para repre-
sentar qualquer grandeza física. A velocidade de um corpo é uma
grandeza vetorial, porque tem uma direção (paralela a um trecho
da Rodovia Presidente Dutra, por exemplo), um sentido (indo para
São Paulo) e uma magnitude (90 km/h).
Uma compreensão de vetores é fundamental para o enge-
nheiro na execução de seu projeto.
Física I

Objetivo de aprendizagem:
22 Expressar corretamente grandezas escalares e elementos de sua
representação simbólica.

2.1 O que são vetores?


Várias grandezas físicas, tais como massa, densidade, comprimento e
tempo, exigem para a sua completa especificação um único número real e
a unidade na qual é medida. Tais quantidades são chamadas de escalares e,
o número real, de magnitude desta quantidade. Um escalar é representado
por uma letra, como t para tempo, T para temperatura, m para massa, etc...
Assim, quando queremos dizer que a temperatura de uma pessoa é 37 graus
Celsius , escrevemos T = 37oC, onde 37 é a magnitude e oC (Celsius) é a uni-
dade na qual a temperatura foi medida.
Outras grandezas da física exigem, para a sua completa especificação, uma
direção, um sentido e uma magnitude. Elas são chamadas de vetores. Um vetor
é representado por uma letra com uma seta, L , ou em negrito L. Geometrica-
mente é representado por uma seta, conforme ilustrado na Figura 1.
Fig. 1 – a) Grandezas escalares são definidas apenas como um número e uma unidade.
b) Representação geométrica de vetores. O vetor MN possui magnitude l
-20 -10 0 10 20 30 40 50
(a)

(b) ℓ

α
ref
M

Fonte: MSPC, 2015.


Módulo de F |F | = F

– 26 –
Vetores

Descrita por um único


Grandeza escalar Exemplo: massa, tempo
número e uma unidade
Descrita por um módulo (e uma Exemplo: velocidade,
Grandeza vetorial
unidade), direção e sentido aceleração, força

2.2 Álgebra de vetores


As operações de adição, subtração e multiplicação que nos são familiares
na álgebra de números reais, também são, com as devidas definições, capazes
de serem estendidas para a álgebra de vetores. As seguintes definições são
fundamentais:
i. Dois vetores A e B são iguais se eles possuem a mesma magnitude
(módulo), direção e sentido, a despeito de suas origens, conforme
ilustrado na Figura 2. Assim, escrevemos A = B .
ii. Um vetor possuindo o mesmo módulo (magnitude), a mesma dire-
ção, porém sentido oposto ao vetor A , é escrito como –A , conforme
ilustrado na Figura 2.
Fig. 2 – Dois vetores iguais (mesmo módulo, mesma direção e mesmo sentido) a e
b. Os vetores c e d são tais que c = – d.

a b

Fonte: MSPC, 2015.


iii. A soma ou resultante de A e B é o vetor C formado pelo vetor que
parte do mesmo ponto de um dos vetores e se estende ao ponto

– 27 –
Física I

final do segundo vetor: escrevemos C = A + B . Esta definição é


equivalente à regra do paralelogramo para a adição de vetores, con-
forme ilustrado na Figura 3.
Figura 3 – A soma de dois vetores (a+b).
C

b β
a+
c= D b

α ф

O a A B

Fonte: MSPC, 2015.


Para determinar a magnitude da soma de dois vetores, podemos utilizar
a lei dos cossenos. Considere a soma C = A + B . A magnitude do vetor soma
é dada por:
C2 = A2 + B2 + 2A.B.cosf
Onde f é o ângulo entre os vetores A e B (vide Figura 3).
Extensões para a soma de mais do que dois vetores é imediata. Por exem-
plo, a Figura 4 mostra como obter a soma ou resultante dos vetores w, v , m,
O, g e i .
Figura 4 – A soma de vários vetores.
i
Resultado
da soma
g

m
v
Fonte: Aprendendo física, 2015.

– 28 –
Vetores

iv. A diferença entre os vetores v1 e v2 , representada por v1 – v2 é o vetor v ,


que quando somado ao vetor v2 , resulta no vetor v1 , conforme ilus-
trado na Figura 5. Do mesmo modo, v = v1 – v2 pode ser escrito
como v = v1 + ( – v2 ). Se v1 = v2 , então v é o vetor nulo, representado
por o . O vetor nulo possui módulo (magnitude) nulo, mas sua
direção e sentido não são definidos.

Figura 5 - A diferença entre dois vetores.

V
V1

V = V1 - V2
-V2

Fonte: e-física, 2015.

v) O produto de um vetor A por um escalar l (lê-se lambda), é o vetor l A


com magnitude |l| vezes a magnitude de A , com a mesma direção e o sentido
sendo o mesmo ou contrário ao de A , dependendo se l é positivo ou negativo,
conforme ilustrado na Figura 6. Se l=0, então l A = 0 é o vetor nulo.

Figura 6 - O produto de um vetor por um escalar.

a
−2 a

3a

−a

Fonte: MSPC, 2015.

– 29 –
Física I

Leis da álgebra de vetores:


Se A , B e C são vetores e a (lê-se alfa) b (lê-se beta) são escalares, então:

A + B = B + A (propriedade comutativa para a adição)


A + (B + C ) = (A + B ) + C (propriedade associativa para a adição)
a(bA ) = (ab)A = b(aA ) (propriedade associativa para a multiplicação
por escalar)
(a+b)A = aA + bA (propriedade distributiva)
a(A + B ) = aA + aB (propriedade distributiva)

Você Sabia
Os vetores foram criados no início do século XIX como represen-
tações geométricas dos números complexos. Entre os responsáveis
pela criação, podemos citar os matemáticos C. Wessel (1745-1818),
J. R. Argand (1768-1822), C. F. Gauss (1777-1855). Eles conce-
beram os números complexos como pontos no plano bidimensional,
ou seja, como vetores no plano.
Fonte:http://www.ebah.com.br/content/ABAAABhs0AL/historia-
dos-vetores

2.3 Componentes de um vetor


Os componentes de um vetor v são números reais (escalares), Fx, Fy e
Fz a relação aos eixos de um sistema de coordenadas tridimensional xyz. No
caso particular de um sistema de coordenadas bidimensional, os componen-
tes de um vetor são obtidos pelo traçado de retas perpendiculares aos eixos,
conforme ilustrado na Figura 7.

– 30 –
Vetores

Figura 7 – As componentes de um vetor.


y
V

Vy

Vx X

Fonte: e-física, 2015.


Pela Figura 7, podemos verificar que os componentes horizontal e verti-
cal são dados por (lembre-se do Teorema de Pitágoras):
Fy
senθ =
F
Fx
cosθ =
F
senθ F
tgθ = = y (1)
cosθ Fx

Onde q é o ângulo entre o vetor F e o semi-eixo positivo x. O ângulo q


fornece a orientação do vetor. Dados os componentes de um vetor, podemos
calcular o módulo do vetor como:
O módulo de F : | F | = F = F²x + F²y (2)

2.4 Vetores unitários


Os vetores unitários î, ĵ e possuem módulo unitário, | î | , | ĵ | e | | = 1,
e sentido igual ao sentido positivo dos eixos x, y e z, respectivamente.

– 31 –
Física I

Figura 8 – Os vetores unitários î, ĵ e .


z

j y
O

Fonte: e-física, 2015.

Figura 9 – O espaço cartesiano em três dimensões com um vetor A , suas


componentes Ax, Ay e Az.

Ay

Az
Ax

Fonte: MSPC, 2015.

– 32 –
Vetores

Módulo dos vetores unitários: | î | = | ĵ | = | | = 1 (3)


Os vetores unitários | î | , | ĵ | , | | são mutuamente perpendiculares, ou
seja, o ângulo entre eles é 90o. Em um sistema de coordenadas tridimensional
cartesiano, podemos expressar um vetor F em termos de suas componentes e
dos vetores unitários:
F = Fx î + Fy ĵ + Fz (4)
O módulo de um vetor tridimensional pode ser calculado como:
| F | = F²x + F²y + F²z (5)
Soma de dois vetores. Sejam os vetores A = Axî + Ay ĵ+ Az e
B = Bxî + Byĵ+ Bz . O vetor soma (ou diferença) A ± B é escrito em termos de
os componentes de A e de B como:
A ± B = (Ax ± Bx)î + (Ay ± By) ĵ + (Az ± Bz) (6)

2.5 Produto escalar entre vetores


O produto escalar AB (lê-se A escalar B) entre dois vetores A e B é uma
grandeza escalar dada por:
A .B = | A || B | cosθ (7)
Onde q é o ângulo entre o vetor A e o vetor B . O produto escalar é
comutativo, ou seja,
A .B = B .A (8)
É fácil verificar a partir da equação (7) que o produto escalar de um vetor
unitário por ele mesmo é igual a 1.
î.î = ĵ.ĵ = . = 1 (9)

Do mesmo modo, o produto escalar de um vetor unitário por um outro


vetor unitário da base é nulo, pois o ângulo entre eles é 90o e cos900 = 0.
î.ĵ = ĵ. = .î = 0 (10)

Em termos das componentes de um vetor, o produto escalar pode ser


escrito como:
A .B = Ax Bx + Ay By + Az Bz (11)

– 33 –
Física I

2.6 Produto vetorial entre vetores


O produto vetorial entre dois vetores A e B , representado por A × B é
uma grandeza vetorial dada por:
C=A×B
|C | = |A ||B | senθ (12)

Importante
Note que podemos multiplicar vetores de formas diferentes. O pro-
duto escalar entre dois vetores resulta num escalar, enquanto o pro-
duto vetorial entre dois vetores resulta num vetor. Para diferenciarmos
entre estes dois tipos distintos de multiplicação, utilizamos a notação
A .B para o produto escalar e A ×B para o produto vetorial.

Onde q, como anteriormente, é o ângulo entre o vetor a e o vetor b . A


orientação do vetor a ×b é perpendicular ao plano definido pelos vetores a e
b . Para encontrar a direção do vetor a ×b , utilizamos a regra da mão direita,
conforme ilustrado na Figura 10.
Figura 10 – A regra da mão direita para o produto vetorial.
a xb

a indicador polegar

médio

Fonte: Universidade Federal do Ceará, 2015.

– 34 –
Vetores

O produto vetorial é anticomutativo


A × B = –B × A (13)

Em termos dos vetores unitários, o produto vetorial pode ser expandido


de acordo com a lei distributiva:

A × B = (Axî + Ay ĵ+ Az ) × (Bxî + By ĵ+ Bz )
= (Ay Bz – Bz Ay)î + (AzBx – Bx Az)ĵ + (Ax By – Bx Ay) (14)

Grandeza vetorial: um parâmetro físico no qual tanto a magni-


tude quanto a direção e o sentido devem ser especificados.
Grandeza escalar: um parâmetro físico que possui um valor
numérico e uma unidade, na qual a direção é aplicável.

Saiba mais
Quer aprofundar seus conhecimentos em vetores? Leia Academia
Khan, Introdução à vetores e escalares: https://pt.khanacademy.
org/science/physics/one-dimensional-motion/displacement-velocity-
time/v/introduction-to-vectors-and-scalars

Resumindo
As grandezas em Física e Engenharia podem ser classificadas em
grandezas escalares e grandezas vetoriais. As grandezas escalares são espe-
cificadas por um número e uma unidade, obedecendo às leis da aritmética
ordinária. Por outro lado, as grandezas vetoriais possuem uma magnitude
ou módulo, uma direção e um sentido, além de obedecerem às leis da
álgebra de vetores:
A + B = B + A (propriedade comutativa para a adição)

– 35 –
Física I

A + (B + C ) = (A + B ) + C (propriedade associativa para a adição)


a(bA ) = (ab)A = b(aA ) (propriedade associativa para a multiplicação
por escalar)
(a+b)A = aA + bA (propriedade distributiva)
a(A + B ) = aA + aB (propriedade distributiva)

– 36 –
3
Movimento no plano
e no espaço

Vivemos em um mundo de mudanças. O movimento é sem-


pre presente em nossa vida, sendo fundamental para a existência
humana. Os ponteiros dos relógios estão sempre se movendo, mar-
cando a passagem do tempo. Precisamos de movimento para cres-
cer, para aprender, para pensar e para aproveitar a vida.
O movimento é a observação mais fundamental sobre a natu-
reza. Tudo o que acontece no mundo é algum tipo de movimento,
não há exceção. A cinemática, por exemplo, é a parte da mecânica
que estuda o movimento sem se preocupar com as suas causas. Nesta
aula, você irá aprender sobre os diversos tipos de movimento e os
seus componentes, como velocidade média, velocidade instantânea,
aceleração média e aceleração instantânea.
Física I

Galileu Galilei foi o primeiro estudioso da natureza a observar e descre-


ver cuidadosamente o movimento dos objetos. O conceito central na des-
crição quantitativa deste fenômeno é o de velocidade. Galileu determinava
experimentalmente as velocidades e as suas mudanças que ocorriam quando
os corpos se moviam. O físico também percebeu que não só a magnitude,
mas também a direção e o sentido do movimento eram de grande importân-
cia para seu estudo.

Objetivos de aprendizagem:
22 Varacterizar o movimento;
22 Compreender o caráter vetorial do deslocamento, da velocidade e
da aceleração.

3.1 O vetor posição


A posição de um corpo (idealizado aqui como uma partícula) em função
do tempo pode ser determinada, de forma generalizada, pelo vetor posição
r (t). Este vetor liga a partícula à origem de um sistema de coordenadas. Na
notação dos vetores unitários î, ĵ, , o vetor posição é escrito como (SEARS;
ZEMMANSKY: YOUNG, 2008): r (t) = x(t)î + y(t) ĵ + z(t) (1)
Onde x(t)î, y(t) ĵ e z(t) são as componentes vetoriais do vetor posição
e x, y, e z, são as suas componentes escalares.

3.2 O vetor velocidade


Suponha que uma partícula se mova ao longo do caminho C, conforme
mostrado abaixo. Seja o vetor posição do ponto P no tempo t for r = r (t)
enquanto o vetor posição do ponto Q no tempo t+Dt for r + ∆r = r (t + ∆t).
Então a velocidade instantânea, ou simplesmente velocidade da partícula em
P é dada por:
(t)
Velocidade instantânea: v (t) = d r = ∆tlim ∆r = ∆tlim ∆r (t + ∆t) – r (t) (2)
dt →0
∆t →0
∆t

– 38 –
Movimento no plano e no espaço

Figura 1 – Trajetória de uma partícula ao longo do caminho C.

Caminho C

P v

Origem
Fonte: elaborado pelo autor, com base em HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2006.

O vetor velocidade instantânea é sempre tangente à trajetória da partí-


cula na posição da partícula.
Se r (t) = x(t)î + y(t) ĵ + z(t) , podemos escrever:

v = dr = dx + dy + dz
dt dt dt dt
v = vxî + vy ĵ + vz (3)

A magnitude, ou módulo do vetor velocidade, é chamada de velocidade


escalar e é dada por:

Módulo da velocidade: v = | v | = dr = ds = dx ² + dy ² + dz ² (4)


dt dt dt dt dt
Onde s é comprimento do arco ao longo do caminho C, medido a partir
de algum ponto inicial.

– 39 –
Física I

3.3 O vetor aceleração


Se v = r é o vetor velocidade da partícula, podemos definir o vetor ace-
leração instantânea da partícula no ponto P como:
a (t) = d v (t) = lim ∆v = lim v (t + ∆t) – v (t) (5)
dt ∆t
∆t → 0 ∆t → 0
∆t
Em termos do vetor r (t) = x(t) î + y(t) ĵ + z(t) , a aceleração é represen-
tada por:
a (t) = d²r = d²x + d²y + d²z
dt² dt² dt² dt² (6)
a (t) = axî + ay ĵ + az
E a sua magnitude ou módulo é:
a = | a | = dv = d²x ² + d²y ² + d²z ² (7)
dt dt² dt² dt²
Exemplo: A posição de uma partícula que se move no espaço é dada por
r (t) = t²î – 2t ĵ + 3 , onde a posição é dada em metros e o tempo em segundos.
Calcule posição, a velocidade e a aceleração no instante t = 1 s.
Solução: para t=1s a posição da partícula é r(1) = 1î – 2 ĵ + 3 .

A velocidade da partícula é dada por v = dr = dx + dy + dz ,


dt² dt dt dt
ou seja, v = 2tî – 2ĵ. No instante t =1s, a velocidade da partícula é: v = 2î – 2ĵ .
A aceleração da partícula é dada por a (t) = d²r = d²x + d²y + d²z . Ou
dt² dt² dt² dt²
seja, o vetor aceleração é dado por a (t) = 2î. Vemos que a aceleração é constante.

3.4 Movimento relativo


Todos nós sabemos que movimento se difere do repouso. No entanto,
Galileu mostrou que não há uma diferença intrínseca entre movimento e
repouso. Movimento e repouso dependem do observador, ou seja, é relativo.

Movimento relativo refere-se ao movimento ou velocidade de


qualquer objeto em relação a um determinado ponto ou referên-
cial. Por exemplo, uma bola é jogada verticalmente para cima

– 40 –
Movimento no plano e no espaço

dentro de um ônibus, enquanto ele se move com velocidade


constante. Para um observador dentro do ônibus a bola cairá
na mesma posição na qual foi arremessada. No entanto, para
um observador fora do ônibus a bola cairá num ponto dife-
rente, pois o ônibus se moveu enquanto a bola estava no ar.

Se duas partículas P1 e P2 estão se movendo com velocidades v1 e v2 ,
respectivamente, e acelerações a1 e a2 , os vetores:

v21 = v2 – v1 e a21 = a2 – a1 (8)


São respectivamente a velocidade relativa e a aceleração relativa da partí-
cula P2 em relação à partícula P1.

3.5 Movimento com aceleração constante


As definições básicas de velocidade e aceleração sugerem um procedi-
mento apropriado para determinar a posição de uma partícula em função
do tempo. A variação da velocidade de uma partícula, ∆v , num período de
tempo infinitesimal (suficientemente pequeno) Dt, é dado pela equação:
∆v = a Dt (9)
Quando o intervalo de tempo deixa de ser infinitesimal e passa a ser
finito, mais precisamente entre os instantes to e t, quando as velocidades
da partícula são v0 e v , respectivamente, podemos reescrever a equação
acima como:
t


v – v0 = a (t)dt (10)
t0
Onde escrevemos a (t) para mostrar que a aceleração da partícula é con-
siderada uma função do tempo. Na maioria dos casos, a integral é calculada
até um instante definido de tempo t, a partir de um instante inicial de tempo,
definido como to. Note que, a integral acima, partindo do conhecimento da
aceleração da partícula em função do tempo, nos fornece somente a varia-
ção do vetor velocidade durante os instantes to e t. A informação a respeito

– 41 –
Física I

da velocidade no instante to (ou qualquer outro instante) deve ser fornecida


adicionalmente. A velocidade v0 é um exemplo típico de uma constante de
integração que exige o conhecimento das condições iniciais. Em termos das
componentes ax, ay e az do vetor aceleração, as componentes do vetor veloci-
dade podem ser calculadas como:
t


vx – vx0 = ax(t)dt
t0
t


vy – vy0 = ay(t)dt
t0
t


vz – vz0 = az(t)dt
t0
(11)

Onde v =vxî + vy ĵ + vz , v0 =vx0î + vy0 ĵ + vz0 , e a(t) =axî + ay ĵ + az .


De maneira análoga, a partir de uma dada função v(t) que descreve
o vetor velocidade em função do tempo, podemos determinar a distância
percorrida pela partícula entre os instantes to e t. A variação da posição (ou
deslocamento) de uma partícula, ∆r , num intervalo de tempo infinitesimal
(suficientemente pequeno) Dt, é dado pela equação:
∆r = v Dt (12)
Quando o intervalo de tempo deixa de ser infinitesimal e passa a ser
finito, mais precisamente entre os instantes to e t, quando as posições da par-
tícula são r0 e r , respectivamente, podemos reescrever a equação 12 como:
t


v – v0 = v (t)dt (13)
t0
Onde, como anteriormente, escrevemos v(t) para mostrar que a veloci-
dade da partícula é considerada uma função do tempo. Como visto antes, na
maioria dos casos, a integral é calculada até um instante definido de tempo
t, a partir de um instante inicial de tempo, definido como to. Note nova-
mente que, a integral acima, partindo do conhecimento da velocidade da

– 42 –
Movimento no plano e no espaço

partícula em função do tempo, nos fornece somente a variação do vetor posi-


ção durante os instantes to e t. A informação a respeito da posição no instante
to (ou qualquer outro instante) deve ser fornecida adicionalmente. O vetor
posição inicial, r0 , é outro exemplo típico de uma constante de integração que
exige o conhecimento das condições iniciais. Em termos das componentes
vx, vy e vz do vetor velocidade, as componentes do vetor posição podem ser
calculadas como:
t


x – x0 = vx (t)dt
t0

t
y – y0 = ∫ v (t)dt
t0
y


z – z0 = vz (t)dt
t0
(14)

A aplicação mais simples destas equações cinemáticas, para v = O, são


familiares a você, e é conhecido como movimento uniforme:
t


v – v0 = a (t)dt = 0
t0
v = v0 (15)
e
r – r 0 = v 0t (16)

Em termos das componentes:

x – x0 = vx t

y – y0 = vy t

z – z0 = vz t (17)

– 43 –
Física I

No caso de uma aceleração constante (movimento retilíneo uniforme-


mente variado ou MRUV), temos:
v – v0 = at (18)
2
e r – r 0 = v 0t + a t (19)
2
Em termos das componentes:
ax t2
x – x0 = vx t +
2
ay t2
y – y0 = vy t +
2
az t2
z – v0 = vz t + (20)
2
Importante
A direção do vetor velocidade instantânea de uma partícula é sempre
tangente à trajetória da partícula.

3.6 Movimento circular


A Terra descreve um movimento aproximadamente circular ao redor do
Sol. Este tipo é conhecido como movimento uniforme com trajetória cur-
vilínea, onde a direção do vetor velocidade é variável, porém o seu módulo
é constante. Há, no entanto, situações nas quais tanto a direção quanto o
módulo do vetor velocidade são variáveis. Assim, há duas componentes da
aceleração vetorial, uma responsável pela variação do módulo do vetor veloci-
dade - a aceleração tangencial -, e outra responsável pela mudança de sua dire-
ção - a aceleração centrípeta. Nesta seção, vamos estudar esses movimentos.
A aceleração tangencial (tangente à trajetória), at, está relacionada com
a taxa de variação do módulo do vetor velocidade. A direção da componente
tangencial da aceleração é a mesma do vetor velocidade. O sentido pode ser
o mesmo de v (movimento acelerado) ou oposto a v (movimento retardado).
Se a aceleração tangencial é nula, então o módulo da velocidade é constante.

– 44 –
Movimento no plano e no espaço

Módulo da aceleração tangencial: at = dv (21)


dt
Suponha que uma partícula P se mova sobre um círculo C de raio R. Se
s é o comprimento do arco medido ao longo de C, a partir do ponto A até
o ponto P, e q é o ângulo correspondente expresso em radianos, então s=Rθ .
Assim, as magnitudes da velocidade tangencial e da aceleração tangencial são
dadas, respectivamente por:

v = dv = R dθ = Rω
dt dt
at = dv = d²s = R d² θ
dt² = Rα
dt dt² (22)

Onde ω=
dθ e dω d²θ
dt α= dt = dt² são respectivamente a velocidade angular
e a aceleração angular. No sistema internacional, a velocidade angular é dada
em rad/s e a aceleração angular em rad/s2.

A aceleração normal ou centrípeta, é dada por ac=


v² = ω²R (23).
R
A aceleração centrípeta, ac, é responsável pela mudança da direção de v .
A direção da aceleração centrípeta é perpendicular ao vetor velocidade v , e o
sentido está orientado para o centro da curvatura da trajetória no ponto da loca-
lização do objeto. Se a aceleração centrípeta for nula, o movimento será retilíneo.

Figura 2 – Os elementos essenciais para o movimento curvilíneo.


Aceleração tangencial

Velocidade

Aceleração centrípeta

Aceleração resultante

Fonte: elaborado pelo autor, com base em HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2006.

– 45 –
Física I

Na Figura 2, acp representa a aceleração centrípeta que aponta para o


centro da circunferência. A aceleração at, representa a aceleração tangencial,
que, assim como a velocidade, é tangente à trajetória.

Você sabia
O sentido dos ponteiros do relógio, ou sentido horário, é o movi-
mento circular de rotação num plano, que se desenvolve a partir
do topo do círculo para a direita, retornando ao ponto original. O
movimento contrário, ou sentido anti-horário, é o movimento circular
de rotação num plano, que se desenvolve a partir do topo do círculo
para a esquerda. Por definição, o sentido anti-horário é definido, em
matemática e em física, como sendo o sentido positivo. Estas expres-
sões tiveram origem na direção do movimento que o Sol descreve no
céu do hemisfério norte.

Saiba mais
Antigamente, utilizavam-se relógios de Sol, cujo ponteiro era a som-
bra do gnómon projetado no mostrador. Enquanto que o Sol des-
creve a sua trajetória no céu de leste para oeste, a sombra do ponteiro
do relógio solar movimenta-se no mesmo sentido de rotação.

3.7 Lançamento de projéteis


nas vizinhanças da Terra
A questão que Galileu queria responder era: qual é a curva descrita
por um projétil nas vizinhanças da superfície da Terra? Todos os projéteis
têm trajetórias similares. Ao lançar um objeto, testemunha-se que a traje-
tória é uma curva com concavidade para baixo. Este fato fica ainda mais
evidente se o lançamento for realizado horizontalmente, a trajetória do
objeto é defletida para baixo, logo após o projétil perder o contato com o
causador do movimento.

– 46 –
Movimento no plano e no espaço

Um objeto lançado nas vizinhanças da superfície da Terra, desprezando


a resistência do ar e a rotação da Terra, descreve uma trajetória em forma de
parábola (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 1996). As resistências ao des-
locamento, bem como efeitos da rotação da Terra, são desprezadas para que
a sua análise torne-se mais simples. O lançamento de projéteis é observado
como uma composição de dois movimentos independentes: na componente
horizontal (eixo Ox), por não haver aceleração nessa direção, ou seja, ax =
0, temos um movimento retilíneo uniforme (MRU); na componente verti-
cal (eixo Oy), verificamos um movimento retilíneo uniformemente variado
(MRUV) devido à aceleração da gravidade, g, cujo valor é constante (não
varia no tempo) e aproximadamente uniforme (não varia no espaço), dirigida
verticalmente para baixo, ou seja, se adotarmos uma orientação positiva no
eixo y para cima, teremos ay = -g.
Considerando–se os aspectos importantes da trajetória do projétil,
temos as seguintes informações fundamentais: a magnitude da velocidade
inicial vo; o ângulo de lançamento do projétil q; a altura máxima H alcançada
pelo projétil; o alcance A do projétil, conforme ilustrado abaixo. Na Figura 3,
a posição inicial é escolhida como a origem.

Figura 3 – Os elementos essenciais para o lançamento de projéteis.


y

Altura
máxima (H)

Alcance (A)

Fonte: elaborado pelo autor, com base em HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2006.

– 47 –
Física I

Na Figura 3, H representa a altura máxima alcançada pelo projétil e A o


seu alcance horizontal.
Em cada instante da trajetória, o vetor v , que é tangente à trajetória
parabólica, aponta numa direção, que varia de acordo com as suas compo-
nentes: uma componente horizontal, vx constante, e outra vertical, vy variável.
Para facilitar nosso estudo sobre o movimento parabólico de um pro-
jétil, vamos analisar as componentes horizontal e vertical, obtendo assim as
respectivas equações horárias e a equação da parábola descrita. Lembre-se que
como a trajetória é parabólica, a análise é realizada em duas dimensões, sobre
o plano cartesiano xy.
Movimento uniforme no eixo Ox. Considere a situação ilustrada na
Figura 3, onde a componente da aceleração é nula.
ax = 0
vx = vx0 =v0cosθ

x = vxt = v0(cosθ)t
Movimento uniformemente variado no eixo Oy.
ay = – g
vy = v y – gt =v0senθ – gt
0

y = v0yt – gt² = v0 senθe – gt²


2 2
Com estas informações, podemos obter a altura máxima, H, e alcance
horizontal, A, do projétil? A partir das equações do movimento de projéteis,
é possível encontrar H e A. No ponto mais alto de sua trajetória, há mudança
de sentido no eixo vertical, e, consequentemente, a componente vertical da
velocidade é nula, vy = 0. Pode-se determinar o tempo de subida, ou seja, o
tempo no qual o projétil leva desde o instante em que é lançado até alcançar
a altura máxima, H, igualando a velocidade vertical a zero, ou seja,
vy = v0 senθ – gts = 0
v0 senθ
ts =
g
– 48 –
Movimento no plano e no espaço

v0 senθ g v0 senθ
2
v0 2 sen2 θ
H = ymax = y(t=ts) = v0 senθ – =
g 2 g 2g
v0 sen θ
2 2
H=
2g
v0 2 sen2 θ
Altura máxima de um projétil: H = (24)
2g
De modo a determinar o alcance, A, basta verificar que, por simetria, o
tempo de subida é igual ao tempo de descida. Assim, o tempo total de voo é
o dobro do tempo de subida.
2v0 senθ 2v02 senθcosθ
A = xmax = x(t=2ts) = v0 (cosθ) =
g g
v0 sen2θ
2
Alcance de um projétil: A = (25)
g
Onde utilizamos a igualdade 2senθcosθ = sen2θ.
Da equação 25, verificamos que o alcance horizontal é o maior possível
quando o ângulo de lançamento é q=45o, pois sen2q=sen90o =1.

Figura 4 – O vetor velocidade do projétil é tangente à trajetória em cada ponto


da trajetória.
Retas tangentes

Fonte: elaborado pelo autor, com base em HALLIDAY; RESNICK;


WALKER, 2006.

Cada instante da trajetória parabólica é tangenciado pela velocidade


vetorial, que muda de direção e de módulo a cada instante, e cujo módulo é
dado por:

– 49 –
Física I

| v | = v²x + v²y (26)

Como visto, quando y=H, a componente vertical da velocidade é nula


(vy = 0) e vx = constante ≠ 0. Consequentemente, o projétil não para no ponto
mais alto de sua trajetória.

3.8 Trajetória de um projétil


nas vizinhanças da Terra
Podemos isolar o tempo na equação horária da componente horizontal
do movimento do projétil:
x = v0 cosθt
temos
x
x=
v0 cosθ

Substituindo o tempo na equação horária para a componente verti-


cal, temos,
gt²
y = v0 (senθ)t –
2
obtemos
gx²
y – (tgθ)x –
2v0²cosθ
Que é a equação da parábola que passa pela origem e cuja concavidade
é dirigida para baixo.
Exemplo: Um projétil é disparado horizontalmente de uma arma que
está a yo = 50,0 m acima de um terreno plano,com uma velocidade de 20 m/s.
Por quanto tempo o projétil permanece no ar?

Solução:
As equações do movimento para o projétil são (escolhendo o eixo y
orientado para cima):

– 50 –
Movimento no plano e no espaço

v = 20t
y – 50 – 5t²
vx = 20
vy = – gt
O projétil toca o solo quando y=0. Ou seja: 50=5t2
t = √10s
A que distância horizontal do ponto de disparo, o projétil se choca com
o chão?
Solução:
Substituindo o tempo de voo na equação para o deslocamento horizon-
tal: x = 20√10 metros.

Cinemática: é o ramo da física que se ocupa da descrição dos


movimentos dos corpos, sem se preocupar com as suas causas.
Trajetória: É o nome dado ao percurso realizado por um dado
corpo no espaço, com base em um sistema de coordenadas.

Resumindo
Nesta aula, estudamos os diversos tipos de movimento. Defini-
mos os conceitos de posição, deslocamento, velocidade e aceleração
como vetores. O vetor velocidade instantânea é sempre tangente à tra-
jetória da partícula na posição da partícula. Se o vetor posição de uma
partícula é dado por r (t) = x(t)î + y(t) ĵ + z(t) ,então podemos escrever
a sua velocidade como: v = dr = dx + dy + dz e sua aceleração como
dt dt dt dt
d² d² d²
a (t) = d²r = x + y + z . Em termos do vetor r (t) = x(t)î + y(t) ĵ + z(t),
dt² dt² dt² dt²
a aceleração fica a (t) = d²r = d²x + d²y + d²z .
dt² dt² dt² dt²
– 51 –
4
As leis de Newton

Isaac Newton nasceu em 25 de dezembro de 1642, em


Woolsthorpe, na Inglaterra. Em 1665, Newton obteve o grau de
Bachelor of Arts, mas devido à peste, teve que voltar para a sua terra
Natal naquele mesmo ano. Mas esses dois anos passados em Wols-
thorpe foram os mais produtivos de sua vida.
A dinâmica, parte essencial da mecânica, está fundamentada
em três princípios, ou leis, também conhecidas como as três leis
de Newton.

Objetivo de aprendizagem:
22 Caracterizar causas ou efeitos dos movimentos de
partículas, substâncias, objetos ou corpos celestes.
Física I

4.1 Definições
Em seu livro Principia, Isaac Newton faz a seguinte distinção:
O tempo absoluto, verdadeiro e matemático, por si mesmo e da sua
própria natureza, flui uniformemente sem relação com qualquer coisa
externa e é também chamado de duração; o tempo relativo, aparente
e comum é alguma medida da duração perceptível e externa que é
obtida através do movimento e que é normalmente usado no lugar
do tempo verdadeiro, tal como uma hora, um dia, um mês, um ano.
(Assis, 1998, p.50)

4.1.1 Tempo
É aquilo que medimos com um relógio.

4.1.2 Espaço
Newton separou os movimentos de uma partícula em absolutos, ou ver-
dadeiros e relativos, ou fictícios. Os movimentos verdadeiros seriam os relati-
vos ao espaço absoluto. Por outro lado, os relativos seriam com respeito a um
referencial em movimento, em relação ao espaço absoluto.
Mas será que o espaço e o tempo são mesmos absolutos? A visão atual
é de que o espaço e o tempo são na verdade ferramentas que possibilitam a
descrição do movimento de objetos materiais. Assim, eles não têm qualquer
significado quando separados da matéria. O espaço e o tempo são relativos,
eles resultam das interações entre a matéria.

4.1.3 Referencial e referencial inercial


Um sistema de referência, ou referencial, consiste de uma origem, três
vetores unitários e um relógio. Um referencial pode estar em movimento. De
fato, não existe o absolutamente em repouso, ou velocidade absoluta nula.
Para que possamos afirmar que algo está parado ou em movimento, precisa-
mos descrever o movimento (ou o repouso) em relação a outros objetos.
Mas e se o objeto também estiver em movimento? Não existe a imobili-
dade absoluta e nenhum referencial é mais absoluto ou imóvel do que outro.
Será então que todos os referenciais são iguais? A resposta é não! Existem sim

– 54 –
As leis de Newton

alguns referenciais nos quais podemos aplicar com sucesso as leis da dinâmica.
Eles são chamados de referenciais galileanos, ou inerciais. Se conhecemos um
destes referenciais galileanos, é possível encontrar todos os outros inerciais:
todos eles se movem com velocidade constante em relação aos outros. Uma
boa aproximação para um referencial inercial são as estrelas fixas.

Importante
Um sistema de referência inercial é aquele que não possui acelera-
ção (está em repouso ou com velocidade constante) em relação às
“estrelas fixas” do universo, ou seja, aquelas estrelas distantes, a vários
bilhões de anos-luz de distância da Terra.

4.1.4 Força
No nosso dia-a-dia, utilizamos a palavra “força” com vários sentidos dis-
tintos, por exemplo: “estou tão cansado que não tenho forças para dar mais
um passo”, ou “a Força Aérea Brasileira é uma instituição de heróis nacio-
nais”. Como a palavra “força” pode ser empregada de várias formas diferentes
no nosso cotidiano, precisamos de uma definição rigorosa, muitas vezes dis-
tinta do seu significado usual.

Importante
Força é o agente de mudança. Força atuante sobre um corpo é qual-
quer agente capaz de modificar o seu estado de repouso ou de movi-
mento retilíneo e uniforme. É a interação entre dois corpos ou entre
o corpo e seu ambiente. Força é um vetor.

Você sabia
Atualmente, são conhecidas quatro interações ou forças fundamen-
tais em física: a gravitacional, a eletromagnética, a forte e a fraca.

– 55 –
Física I

4.1.5 Massa
Há três definições comumente utilizadas para massa:
i. quantidade de matéria;
ii. uma medida da habilidade de um objeto a resistir a mudança de seu
movimento (inércia);
iii. aquilo que dá origem a interação gravitacional.
No entanto, todas estas definições apresentam problemas práticos
ou conceituais.
Quantidade de máteria. Esta é uma definição conceitual. Embora haja uma
relação entre massa e quantidade de matéria, elas não significam a mesma coisa.
Aquilo que dá origem a interação gravitacional. Este modo de definir
massa é menos popular. Está baseada na lei de gravitação universal de Newton,
Mm , onde G = 6,67 X 10-11 N.m2.kg-2 é a constante de gravitacão
F=G
R2
universal, M = 5,97 X 1024 kg é a massa da Terra, m é a massa do corpo e R =
6,37 X 106 m é o raio da Terra.
Para Newton, a inércia de um corpo seria uma interação entre o corpo
e o espaço absoluto. No entanto, para Mach (Assis, 1998) (e a visão atual
corrobora esta ideia) a inércia de um corpo é uma interação entre ele e toda
a matéria do Universo.

4.2 Princípio da superposição


No caso geral, um sistema pode estar sujeito à ação de várias forças que
atuam simultaneamente. Cada uma dessas forças produz um efeito parcial.
O efeito resultante, então, pode ser analisado como sendo uma única força,
conhecida como força resultante. A soma de todas as forças atuantes no corpo
é equivalente a uma única força, ou seja,
Força resultante (principio da superposição): F = F1 + F2 + ... + FN (1)
É o que acontece, por exemplo, quando várias pessoas empurram um
automóvel enguiçado, exercendo sobre ele várias forças de forma simultânea.

– 56 –
As leis de Newton

Um sistema é dito isolado quando a resultante de todas as forças atuantes


sobre ele é nula.
Exemplo: Uma partícula está sujeita a ação de duas forças: F1 = 2i^ + 3j^ N
e F2 = −2i^ + 5k^ . Calcule a força resultante que atua sobre a partícula.
Solução:
Pelo princípio de superposição, a força resultante é a soma vetorial das
duas forças que atuam sobre a partícula. Assim, somando componente a com-
ponente, obtemos:
^ + (−2i^ + 5k)
F = F1 + F2 = (2i^ + 3j) ^ = 0i^ + 3j^ + 5k^ N

4.3 Leis de Newton


As leis do movimento clássico são enunciadas como válidas somente com
respeito a referenciais inerciais, que definimos como um sistema de coordenadas
que possui as seguintes propriedades: sempre que o movimento de uma par-
tícula não for influenciado por nenhum agente externo, ou seja, se a partícula
estiver infinitamente distante de todos os demais corpos do universo, a partí-
cula se moverá com velocidade (vetor) constante em relação ao dito referencial.

4.3.1 Primeira lei de Newton


Lei da inércia: toda partícula permanece em seu estado de repouso, ou
em movimento retilíneo e uniforme, a não ser que seja compelida a alterá-lo
por forças que atuem sobre ela.
A primeira lei descreve o caráter do movimento de todas as partículas na
ausência de forças. A Terra, por exemplo, serve como um referencial inercial
para os movimentos na sua superfície, desde que limitados espacial e tempo-
ralmente; para outros tipos de movimento, a Terra não serve como referencial
inercial. E mesmo as “estrelas fixas”, quando consideramos os movimentos
relativos das estrelas com respeito uma as outras, perdem o status de âncora
como referencial inercial.
Uma consequência imediata da definição de referencial inercial é
que qualquer sistema de coordenadas que se mova com o vetor velocidade

– 57 –
Física I

constante, em relação a um referencial inercial, será também um referen-


cial inercial.
Uma aplicação da primeira lei de Newton é quando nos encontramos
dentro de um automóvel em alta velocidade. Ao frear bruscamente, somos
“forçados para frente”. Na verdade, é a inércia que nos faz tender a manter o
movimento que tínhamos antes da freada.
Exemplo: Um ônibus se move numa estrada retilínea horizontal com
velocidade uniforme, ou seja, com movimento retilíneo e uniforme (MRU).
Ao desligar o motor, o ônibus irá reduzir a sua velocidade e eventualmente irá
parar. Por quê o ônibus pára?
Solução: Pela primeira lei de Newton, o ônibus continuaria com velo-
cidade constante se não ouvessem forças atuantes. O ônibus pára devido à
resistência do ar e aos atritos entre as suas partes móveis.

4.3.2 Segunda lei de Newton


Newton também definiu a segunda lei de “quantidade de movimento” e
Galileu chamava de “momento”. De acordo com Newton: “a quantidade de
momento é a medida do mesmo, que se origina conjuntamente da velocidade
e da massa”. Em termos atuais, o momento linear de uma partícula é um
vetor formado pelo produto de sua massa por sua velocidade, ou seja:
Momento linear: p = mv (2)

Newton enunciou a sua segunda lei: Segunda lei: a variação do movimento


é proporcional à força motora e se produz na direção em que age essa força.

Em termos atuais: F = dp (3)


dt
No caso de velocidades não relativísticas e sistemas de massa constante,
a segunda lei assume a forma:

F = dp = d(mv ) = m dv = ma , ou seja
dt dt dt
F = ma (4)

– 58 –
As leis de Newton

O vetor força exercida por agente externo sobre a partícula em um


dado instante é definido como a massa da partícula multiplicada pelo vetor
aceleração, que ela experimenta naquele instante de tempo se todos os
outros agentes externos fossem instantaneamente removidos no instante de
tempo considerado.
Exemplo: Um móvel se desloca sob a ação de uma força resultante
F   = 3î + 4ĵN. e sofre uma aceleração de módulo 5 m/s2. Determine a
sua massa.
Solução:
O módulo da força resultante é | F | = 3² + 4² = 5N. Pela segunda lei

de Newton, a sua massa é igual a: m = |F| = 1kg


|a|

4.3.3 Terceira lei de Newton


Terceira lei: a cada ação sempre se opõe uma reação igual, ou seja, as
ações mútuas de dois corpos são sempre iguais e de sentidos opostos.
Isto é, considere duas partículas designadas por 1 e 2. Seja F12 a força
exercida pela partícula 1 sobre a partícula 2 e F21 a força exercida pela partí-
cula 2 sobre a partícula 1. A terceira lei de Newton afirma:
Terceira lei de Newton: F12 = – F21 (5)
Como consequência, sempre que duas partículas interagirem na ausên-
cia de um terceiro corpo, a razão das magnitudes de suas acelerações possui
a cada instante o mesmo valor finito, não nulo e constante, que depende
somente do par de partículas específico.
A partir da terceira lei, pode-se concluir que duas partículas interagem
na ausência de influências de um terceiro corpo, a razão das magnitudes das
respectivas acelerações que as partículas experimentam é, a cada instante de
tempo, igual a recíproca da razão de suas respectivas massas; os vetores acele-
ração são a cada instante direcionados na mesma direção e sentidos opostos.
Ou seja, m1a1 = – m2a2 .

– 59 –
Física I

4.4 Aplicações das leis de Newton

4.4.1 O campo gravitacional terrestre,


o conceito de campo
Se um corpo for abandonado no vácuo, ou se a resistência do ar puder
ser considerada desprezível, o objeto estará unicamente sob a ação de seu peso,
Figura 1 – O campo gravitacional devido à atração gravitacional com a Terra. É
da Terra. fato conhecido desde Galileu que um corpo,
independentemente de sua massa, possui
uma aceleração constante.
Como vimos nas aulas anteriores, essa
aceleração é vertical, aponta para a Terra e seu
módulo é igual a 9,8 m/s2, às vezes, é apro-
ximada por 10 m/s2. Ela é conhecida como
aceleração da gravidade e é simbolizada pelo
vetor g .
Nos limites da vizinhança da superfí-
cie da Terra, e sempre que a resistência do
ar possa ser preterida, todos os objetos em
Fonte: elaborada pelo autor, com
queda livre possuem uma aceleração igual
base em HALLIDAY; RESNICK;
a g . Assim, pela segunda lei de Newton: a
WALKER, 2006.
força gravitacional que age sobre o corpo é
igual a P = mg . Como g aproximadamente não varia no espaço e é cons-
tante no tempo, o campo terrestre é chamado uniforme, conforme ilustrado
na Figura 1.

4.4.2 Forças de atrito


Todo o movimento voluntário é baseado em atrito. O atrito não é observado
em sistema de poucas partículas (nível microscópico). O atrito aparece somente
A Figura 2 mostra uma situação hipotética, onde um bloco está inicial-
mente em repouso sobre uma superfície na presença de atrito e sob a ação de
uma força externa aplicada.

– 60 –
As leis de Newton

Figura 2 – Bloco sob a ação de uma força externa F , de uma força peso P , de uma
força normal de contato N e de uma força de atrito entre as duas superfícies de
contato Fat .

Fat

Fonte: elaborada pelo autor, com base em HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2006.

Na Figura 2 estão representadas apenas as forças que atuam no bloco.


Podemos notar pela ilustração que a área de contato real é muito menor do
que a estimada macroscopicamente. A área real de contato, em oposição à área
aparente, é proporcional ao módulo N da força normal. (RAYMOND, 2012).
Existe atrito ocorre quando duas superfícies estão em contato entre si.
A força de atrito é contrária ao movimento relativo entre as duas superfícies
em questão. O atrito entre as duas superfícies é descrito por duas forças, cada
uma atuando em uma superfície. Estas forças constituem um par de ação e
reação, obedecendo à terceira lei de Newton. As direções de ambas as forças
de atrito são tais que tendem a empurrar cada uma das superfícies, de modo
a reduzir o movimento relativo entre elas.
Dizemos que há atrito estático entre duas superfícies quando não houver um
movimento relativo entre elas, ou seja, uma superfície está em repouso em relação
à outra. Dizemos que há atrito cinético entre duas superfícies quando ocorre uma
velocidade relativa entre as superfícies e uma desliza em relação à outra.
A Figura 3 apresenta, de forma esquemática, os resultados experimentais
relacionados com a força de atrito, para a situação hipotética apresentada na
Figura 2.

– 61 –
Física I

Figura 3 – Módulo da força de atrito, Fat, em função da força externa aplicada de módulo
F. Para pequenos valores de F, o corpo permanece em repouso e o módulo da força de atrito
estático é igual à F. Quando F aumenta Fat também aumenta, até atingir um valor máximo
igual a meN, onde me é o coeficiente de atrito estático e N é o módulo da força normal de
contato. Se a força F for aumentada, o corpo se desprende, acelerando de forma súbita.
Neste caso, a força de atrito passa a ser cinética, sendo constante e igual a mcN, onde mc é o
coeficiente de atrito cinético.

Iminência de movimento (atrito estático máximo)


Força de atrito (N)

Movimento (atrito cinético)

Força aplicada (N)


Repouso
(atrito estático)

Fonte: elaborada pelo autor, com base em HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2006.

No caso do atrito estático, conforme ilustrado na Figura 3, o módulo da


força de atrito varia de acordo com a força aplicada F, variando desde zero até
um valor máximo mem, ou seja:
0 ≤ Fat ≤ meN (5)
Do ponto de vista qualitativo, as forças de atrito estático opor-se-ão
sempre à possível ou eventual velocidade relativa de escorregamento no
contato, que cada superfície teria, na ausência do de atrito. (HALLIDAY;
RESNICK;WALKER, 1996).
Entretanto, estas forças de atrito, ainda que opostas ao movimento rela-
tivo, podem ter o mesmo sentido do movimento do sólido e tornarem-se
força “motriz” do movimento, conforme ilustrado na Figura 4. Ao andarmos,
a tendência é de “empurrarmos” o chão para trás. Na ausência de atrito, have-

– 62 –
As leis de Newton

ria movimento relativo entre a superfície do pé e o chão. Assim, como vimos,


a força de atrito aponta na direção de se opor ao movimento relativo. No
caso da próxima ilustração, a força de atrito sobre o pé da mulher aponta na
direção de seu movimento.

Figura 4 - A força de atrito pode sim apontar na direção do movimento.

Fat
Fonte: elaborada pelo autor, com base em HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2006.

No atrito cinético, ocorre um movimento relativo entre as superfícies. O


sentido das forças de atrito cinético que cada uma das superfícies em contato
exerce sobre a outra será sempre oposto ao sentido das velocidades relativas de
escorregamento. (SERWAY, 1996).

Força de atrito cinético: |Fcin| = mcN (6)

A Tabela 1 apresenta estimativas para alguns coeficientes de atrito. Estes


valores são aproximados e dependem das condições de limpeza e polimento
das superfícies, além da temperatura e umidade.

– 63 –
Física I

Tabela 1 – Valores aproximados para alguns coeficientes de atrito.

Superfícies Coeficiente de Coeficiente de


atrito estático atrito cinético
Madeira com madeira 0,25 ≤ me ≤ 0,50 0,2
Vidro com vidro 0,9 ≤ me ≤ 1,0 0,4
Aço com aço 0,6 0,6
Teflon com teflon 0,04 0,04
Fonte: Nussenzveig, 1987.
Exemplo: Na Figura 5, um bloco de massa M é mantido em repouso
contra uma parede vertical por uma força horizontal de módulo F2. O coefi-
ciente de atrito estático entre a parede e o bloco é me e o coeficiente de atrito
cinético é mc. Uma segunda força F2 é aplicada ao corpo, paralelamente à
parede. Qual é o módulo da força de atrito que age sobre o corpo se: a) a força
F2 é aplicada para cima; b) a força F2 é aplicada para baixo?

Figura 5 – Ilustração da situação descrita no enunciado. Note que a força de atrito


representada em ambos os casos é hipotética e depende dos módulos de F1 e F2 e da direção
da força vertical.

Fat

N
F

Fonte: elaborada pelo autor, com base em HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2006.

– 64 –
As leis de Newton

Solução: este é um problema complexo. Para resolvê-lo, temos que ana-


lisar várias situações.
a) Considerando que a força F2 é aplicada para cima e que o módulo do
peso P do corpo é menor do que a força de atrito estático máxima,
Fatmax = meN = meF1. Assim, o corpo permanecerá em repouso, ou
seja, a sua aceleração vertical, ay, é nula.

Pela segunda lei de Newton: F1 + F2 + P + Fat + N = Ma .

Direção horizontal (não há movimento, assim, a aceleração horizontal é


nula, ou seja, ax = 0 ): F1 = N.
Direção vertical: note que o módulo e a direção da força de atrito depen-
derá de F2 e de F1. Supondo que o módulo de F2 é menor do que o módulo P
do peso do corpo, a força de atrito apontará para cima, opondo-se à tendência
ao movimento. Assim,
–F2 + P –Fat = 0 , ou seja, Fat = P + F2 se P – F2 < meN – meF1.
Se F1 for diminuída de modo que a desigualdade P – F2 < meN não seja
mais válida, então, o corpo tenderá a deslizar para baixo e a força de atrito
passa a ser cinética, ou seja, Fat = mcN = mcF1 e apontará para cima.
Por outro lado, se o módulo de F2 for aumentada, de modo que F2 > P,
então a força de atrito estático apontará para baixo. No caso estático, temos
que Fat = F2 – P. Se F2 – P > meN = meF1, o corpo tenderá a deslizar para
cima e força de atrito será cinética, apontando para baixo com módulo
Fat = mcN = mcF1.
Agora, consideramos os casos nos quais a força F2 é aplicada para baixo.
Como F2 aponta para baixo, na mesma direção da força peso, a força de atrito
apontará necessariamente para cima. Devemos considerar dois casos: quando
o corpo está em repouso e quando começa a deslizar para baixo. Se o corpo
está em repouso, isto significa que a força de atrito máxima é maior ou igual
à soma P + F2, ou seja, P + F2 < meN = meF1. Neste caso, a força de atrito será
estática, apontando para cima e com módulo igual a Fat = P + F2. Se dimi-
nuirmos F1 ou aumentarmos F2, teremos que P + F2 > Fatmax = meN e o corpo
tenderá a deslizar para baixo. A força de atrito neste caso será Fat = mcN = mcF1.

– 65 –
Física I

4.5 Resistência de um fluído


Figura 6 – A força de arrasto. Além da força de atrito entre duas super-
fícies, outras forças podem atuar em um corpo
F arrasto = -kv de modo a se opor ao seu movimento. Tais for-
ças geralmente surgem quando o objeto esta
se movendo em um fluido viscoso, como o ar,
água, óleo, etc... Estas forças são também conhe-
cidas como dissipativas.
É um fato experimental que, para corpos
que se movem em velocidade baixas num meio
viscoso, a força resistiva, ou de arrasto, Farrasto, é
proporcional à velocidade do corpo neste meio,
ou seja, Farrasto = – kv .

P = mg
4.6 Força centrípeta
Fonte: elaborado pelo autor, com Se um objeto descreve uma circunferên-
base em HALLIDAY; RESNICK; cia ou arco de circunferência de raio R, com
WALKER, 2006.
uma velocidade de módulo constante igual a v,
diz-se que o objeto descreve um movi-
mento circular uniforme. Nesse caso, ela
Figura 7 - O movimento circular
de um objeto. possui uma aceleração centrípeta, ac, e esta
V1 sob a ação de uma força centrípeta, Fc .
Tanto a aceleração centrípeta, ac, quanto
F a força centrípeta, Fc , são grandezas veto-
Fonte: Instituto de Física,

F
V
riais e apontam para o centro de curvatura
2

da trajetória do objeto, conforme ilustrado


na Figura 7.
UFRGS, 2015.

dv = |dv | = vdθ, análogo à ds = sdθ

Mas, v = r dθ ,ou seja, dr = r dθ .


dt v
– 66 –
As leis de Newton

Então, ac = |ac| = dv = vdθ = v .


2

dt rdθ r
v
Como Fc = mac, temos que módulo da força centrípeta fica:
2
Fc = mv (7)
r
Exemplo: o projeto de uma curva numa estrada.
Se um automóvel entra com uma velocidade muito alta em uma curva,
a tendência será derrapar. No caso de uma curva construída com a devida
compensação (inclinação), a força de atrito age sobre um carro em alta velo-
cidade no sentido de se opor à tendência de derrapagem para fora da pista.
Considere uma curva circular de raio R e um ângulo de compensão q, na qual
o coeficiente de atrito estático entre os pneus e a estrada é me. Um automóvel
sem sustentação negativa (carros de corridas possuem sustentação negativa
para que realizem curvas a altas velocidades), começa a fazer a curva, como
mostra a Figura 8. Escreva uma expressão para a velocidade máxima na qual
o automóvel pode realizar a curva sem derrapar.
Figura 8 – O vetor velocidade aponta para dentro da página. O ângulo de inclinação
está exagerado para maior clareza. A Figura mostra também um diagrama de corpo livre
do automóvel na situação de velocidade máxima, situação na qual a tendência do carro
é de escorregar para fora da pista, assim, a força de atrito estático aponta para dentro.

Fat
Fonte: elaborada pelo autor, com base em HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2006.

– 67 –
Física I

Resolução:
F Fi a
Aplicando a segunda Lei de Newton: i
P N Fat a
A componente na direção vertical:

onde

N= mg

A componente na direção horizontal:
2
m v
R
Substituindo o valor da normal calculado a partir da componente vertical:
mg senθ + me mg v²max
R
Ou seja,

v²max = Rg

Na ausência de atrito (me = 0) a velocidade máxima fica:

v²max = Rg

A física pode, de fato, nos dizer muito sobre como os carros reagem às for-
ças. Ela também mostra que potência, energia, torque e momento são relações
importantes para carros. Estes conceitos serão aprofundados nas próximas aulas.
– 68 –
As leis de Newton

Saiba mais
Se você desejar saber um pouco mais sobre Newton, há alguns arti-
gos disponíveis gratuitamente para baixar.
John Maynard Keynes, Newton, Revista Brasileira de Ensino de
Física, Dezembro de 1983, página 43.
Silvio Seno Chibeni, A Fundamentação Empírica das Leis Dinâmicas de
Newton, Revista Brasileira de Ensino de Física, página 1, Maio de (1999).

Lei (Física): Em física, lei é uma regra com base em fenô-


menos que ocorrem com regularidade. É uma generalização
que vai além das observações, e é exaustivamente confron-
tada, testada e validada frente a um amplo e diverso conjunto
de fatos.(SEARS, F.; ZEMMANSKY, M. W.; YOUNG, H.
D.. Física I: mecânica v. I, São Paulo: Pearson, 2008.Dispo-
nível em: https://fael.bv3.digitalpages.com.br/reader#0.)

Resumindo
Isaac Newton formulou a teoria dos corpos que se movem. Esta teoria
se aplica a todos os corpos que se movem com velocidades muito menores do
que a velocidade da luz e constitui um dos fundamentos da física.
As leis do movimento podem ser resumidas como:
Primeira lei: toda partícula permanece em seu estado de repouso, ou em
movimento retilíneo e uniforme, a não ser que seja compelida a alterá-lo por
forças que atuem sobre ela.
Segunda lei: a variação do movimento é proporcional à força motora e
se produz na direção em que age essa força.
Terceira lei: a cada ação sempre se opõe uma reação igual, ou seja, as
ações mútuas de dois corpos são sempre iguais e de sentidos opostos.

– 69 –
5
Trabalho e energia

Na linguagem do cotidiano, uma criança empurrando um


carrinho está “brincando”, enquanto um professor na escola, um
motorista ou um garçom estão trabalhando. No entanto, em física,
a palavra “trabalho” possui uma definição totalmente diferente,
envolvendo conceitos físicos de força e deslocamento.
Energia é um conceito crítico na análise dos fenômenos físi-
cos, em engenharia, nos processos em biologia, química, astrono-
mia e geologia. Também é uma fonte de confusão para o estudante
se a apresentação não é cuidadosamente realizada. Energia é uma
palavra com origem grega; originalmente era utilizada para des-
crever caráter com o significado de vigor intelectual ou moral. Foi
introduzida na física por Thomas Young (1773-1829), em 1807,
devido ao seu significado literal de força interior. O conceito geral
de energia é difícil de definir. Mas, certas formas particulares de
energia são mais fáceis.
Física I

A lei da conservação da energia nos diz que há uma grandeza, que cha-
mamos energia, que não altera apesar das várias mudanças que podem ocorrer
na natureza. Não se trata da descrição de algo concreto, mas sim de um con-
ceito abstrato, principalmente porque é um principio matemático.

Objetivo de aprendizagem:
22 Avaliar possibilidades de geração, uso ou transformação de ener-
gia em ambientes específicos, considerando implicações éticas,
ambientais, sociais e/ou econômicas.

5.1 Definição de trabalho


Importante
Em qualquer discussão sobre trabalho, é importante deixar clara a
linguagem. Trabalho é realizado sobre um sistema por uma força. Dois
pontos são importantes: i) identificar a força que está realizando tra-
balho; e ii) detectar o recipiente do trabalho, o sistema.

O sistema pode ser: uma partícula, um objeto, dois objetos que interagem
entre si, um conjunto de várias partículas que interagem entre si, um objeto
deformável como uma bola de borracha, um objeto girante como uma roda, etc.

5.1.1 Trabalho de uma força constante


Inicialmente, consideramos o nosso sistema como um único objeto
indeformável ou partícula, conforme ilustrado na Figura 1. O trabalho rea-
lizado por um agente externo sobre um objeto é definido pelo deslocamento
do objeto ao longo da direção da força.
Trabalho de uma força constante: W ≡ F. r = F∆rcos q (1)
Onde q é o ângulo entre o vetor força e o vetor deslocamento. r é o
deslocamento do ponto de aplicação da força. A unidade de trabalho no
Sistema Internacional é N. m = J (joule). Assim, o trabalho é o produto

– 72 –
Trabalho e energia

apenas da componente da força, ao longo da direção do movimento, pela


distância percorrida.
Figura 1 – O trabalho realizado por uma força sobre um bloco ao longo de uma superfície.

F
θ
F cos θ

Fonte: elaborada pelo autor, com base em HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2006.

Importante
A palavra trabalho, em linguagem do nosso cotidiano, significa
esforço físico ou mental. Não confunda a definição da física para
trabalho com a noção cotidiana que temos dessa palavra.

5.1.2 Trabalho de uma força variável


Inicialmente, vamos tratar do caso unidimensional. Considere uma par-
tícula descrevendo uma trajetória unidimensional ao longo do eixo x. Sejam x
a sua posição, e F(x) uma força atuando sobre ela naquele instante, conforme
ilustrado na Figura 2. Podemos considerar um intervalo espacial infinitesimal
compreendido entre xi e xi + dx, no qual a F(x) é praticamente constante.

– 73 –
Física I

Figura 2 – Uma força dependente da posição F(x) atuando sobre uma partícula. O trabalho
infinitesimal dW entre as posições xi e xi+dx é aproximadamente a área sob a curva.

F(x)

dx x

Fonte: elaborada pelo autor, com base em HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2006.
Durante o deslocamento dx a força F(x) realizará um trabalho
dW, onde:
dW = F(x) dx (2)
Note que o trabalho infinitesimal dW entre as posições xi e xi+dx é apro-
ximadamente o valor numérico da área sob a curva. Este valor tenderá do
valor exato no limite de dx infinitesimal. O trabalho total da força F(x) para
deslocar a partícula desde a posição xi até a posição xf é dado por:
xf
O trabalho de uma força variável unidimensional: W = F(x) dx (3)
xi
Exemplo: Força exercida por uma mola.
Uma mola é dita linear se a força por ela exercida sobre um objeto é
proporcional à deformação da mola. Como você deve ter experimentado, essa
força é de sentido contrário ao da deformação. A Figura 3 mostra uma mola
linear no seu estado normal (relaxado) e no seu estado deformado. A mola foi
alongada de um tamanho x. Na figura, vemos que a força exercida é dirigida
em sentido contrário do alongamento, sendo em módulo proporcional a x
(para x pequeno). Portanto, temos a lei de Hooke:
(Lei de Hooke) F = – kx(4)

– 74 –
Trabalho e energia

A constante de proporcionalidade k é uma característica da mola, depen-


dendo do material, da forma e do diâmetro da mola. A constante k é chamada de
coeficiente ou constante da mola, sendo expressa em Newton por metro (N/m).

Figura 3 – Uma mola linear exercendo uma força sobre um bloco. O trabalho da força
exercida pela mola pode ser medido pela área sob a curva do gráfico F(x) versus x.

F(x)

∆F

∆x

Fonte: elaborada pelo autor, com base em HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2006.

Você sabia
A lei de Hooke é amplamente utilizada em todos os ramos da
ciência e da engenharia, e é a base de muitas disciplinas como a
sismologia, mecânica molecular e acústica. Ela também é o princípio
fundamental por trás da balança de mola, o manômetro e a roda de
balanço do relógio mecânico.

O problema que desejamos responder é: qual o trabalho da força exer-


cida pela mola sobre uma partícula ou objeto indeformável? Assim, temos:
dW = F.dr (5)
No caso tridimensional, sendo Fx, Fy e Fz as componentes da força F,
relativas a um sistema de coordenadas de eixos cartesianos Oxyz, e x, y e z as
coordenadas da partícula, isto é F = Fxi^ + Fy j^ + Fzk^ e r =xi^ +yj^ +zk^ , podemos
escrever que:

– 75 –
Física I

dW = Fxdx + Fydy + Fzdz(6)

Expressão esta que nos diz que o trabalho elementar dW de uma força
variável é uma forma diferencial nas variáveis Fx, Fy e Fz da própria força. O
trabalho total da força F para deslocar a partícula desde a posição ri até a
posição r∫ é dado por:
rf
O trabalho de uma força variável: W = F. dr (7)
ri
5.1.3 Trabalho total
Geralmente, ocorre que várias forças atuem sobre um sistema. Neste
caso, é possível calcular o trabalho total realizado pelas múltiplas forças atu-
antes no sistema, que é a soma dos trabalhos realizados sobre o sistema por
cada uma das forças.
N N
Trabalho total: Wtotal= W1 + W2 +...= W1 = Ft = dri 8)
i=1 i=1

O trabalho realizado por cada força individual deve ser calculado em ter-
mos do deslocamento do ponto de aplicação das forças individuais. No caso
particular de sistemas rígidos e não deformáveis, o trabalho total realizado
por várias forças atuantes sobre o sistema é igual ao produto da força total
resultante pelo deslocamento do objeto.

5.2 O teorema da energia cinética


Seja m a massa de uma partícula e v(t) a sua velocidade em um instante de
N

tempo t e F = Ft a resultante das forças que atuam sobre ela no instante t.


i=1

Teorema da energia cinética:


Wtotal= F.dr = m dv .dr = mv.dv =
mv² = mv²f – mv²o =K – K = K (9)
f o
dt² 2 2 2

A função K= 1 2 mv² definida acima é uma das mais importantes na mecâ-


nica. Lord Kelvin (William Thomson, 1824-1907) a batizou de energia cinética.

– 76 –
Trabalho e energia

Teorema da energia cinética: A soma dos trabalhos realizados por todas


as forças atuantes sobre uma partícula é igual à variação da energia cinética da
partícula entre os instantes inicial e final.

5.2.1 A situação com atrito


Um tópico da mecânica no qual aparecem dificuldades é quando o sis-
tema está sujeito a ações de forças de atrito. Seja, Fatrito a força de atrito cinética
atuando sobre a partícula e o deslocamento através da qual a partícula se
move em relação a superfície. O trabalho da força de atrito é, então:
Watrito = Fatrito . r = –Fatrito r (10)
O sinal negativo indica que a força de atrito aponta na direção oposta ao
movimento da partícula em relação à superfície. No entanto, a situação fica
mais complicada quando o sistema é composto por várias partículas, como
por exemplo, um bloco, onde o deslocamento não é o mesmo dos vários
pontos de aplicação da força de atrito. Os deslocamentos dos vários pontos
de contato entre o sistema e a superfície são muito complicados e envolvem
deformações da superfície inferior do sistema.

5.3 Potência
Definimos potência como a grandeza que descreve quão rápido o traba-
lho é realizado. A Equação 11 descreve a potência média:

Potência média: ≡ W (11)

A unidade de potência no SI é o Joule por segundo (J/s), que é conhe-


cido como Watt (W), ou seja, 1 W = 1 J/s. O Watt foi assim denominado em
homenagem a James Watt (1736-1819). O engenheiro contribuiu de forma
significativa para os avanços dos motores a vapor. Nas unidades inglesas, a
unidade de potência é ft.lb/s.
Além da potência média, muitas vezes é necessário conhecermos a
potência desenvolvida por uma máquina num determinado instante de
tempo. Assim, definimos a potência instantânea, que é dada por:. A potência
instantânea é dada por:

– 77 –
Física I

Potência instantânea: P= ∆tlim W = dW (12)


→0
∆t dt
Lembrando que a diferencial do trabalho é dada por dW =F.dr, a potên-
cia instantânea fica:
Potência instantânea: P= dW = F.dr =F.v (13)
dt dt

5.4 Forças conservativas e não conservativas


Figura 4 – Um corpo de massa m é levado do Na natureza, há um tipo particu-
ponto A ao ponto B por dois caminhos distintos: lar de força, como a força peso e a força
o caminho A→C→B, passando pelo ponto C e o elástica de uma mola, que possuem
caminho A→B, que vai diretamente do ponto A uma propriedade que é dita conserva-
ao ponto C ao longo do plano inclinado de altura tiva (nada a ver com ideias conserva-
h e inclinação q.
tivas, mais uma vez, o significado de
A
algumas palavras em física é totalmente
diferente do seu significado popular).
Uma força é dita conservativa se o tra-
balho que ela realiza sobre uma partí-
cula é nulo ao longo de um caminho
fechado. Ocorre também se o trabalho
que realiza sobre uma partícula que se
θ move entre dois pontos não depende da
C B trajetória seguida pela partícula.
Fonte: elaborada pelo autor, com base em Por exemplo, vamos calcular o
HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2006. trabalho da força peso ao levarmos um
bloco de massa m do ponto A ao ponto B por dois caminhos distintos: o cami-
nho A→C→B, passando pelo ponto C e o caminho A→B, que vai diretamente
do ponto A ao ponto C ao longo do plano inclinado de altura h e inclinação q.
A Figura 4 mostra com detalhes o caminho que o corpo percorre.
Inicialmente, vamos calcular o trabalho da força peso ao longo do cami-
nho A→C→B. É fácil verificar que o trabalho da força peso, ao movermos
o bloco do ponto C para o ponto B, é nulo (WC→B = 0), uma vez que a força
peso é perpendicular ao deslocamento. Do ponto B ao ponto C, o trabalho
WA→C da força peso é WA→C = - mgh, porque a força peso faz um ângulo de
180o com o deslocamento. Logo, o trabalho WA→B→C = WA→B + WB→C = -mgh.

– 78 –
Trabalho e energia

Agora vamos calcular o trabalho da força peso ao longo do plano incli-


nado. Neste caso, o trabalho da força peso é WA→B = -mgsenqx = -mgh, uma
vez que senq=h/x. Assim, ambos os trabalhos são iguais e não dependem do
caminho escolhido.
Agora, é fácil verificar que o trabalho que a força peso realiza sobre o
bloco é nulo ao longo de um caminho fechado, por exemplo, ao longo do
caminho A→B→C→A. Este trabalho pode ser escrito como a soma dos tra-
balhos individuais ao longo de cada trecho, ou seja, WA→B→C→A = WA→B +
WB→C + WC→A, onde WB→C = 0, WC→A =-mgh e WC→A = -WA→C = - mgh.
Assim, WA→B→C→A = 0, confirmando que o trabalho de uma força conservativa
ao longo de um caminho fechado é nulo.
Como o trabalho de uma força conservativa entre dois pontos não
depende do caminho, mas somente dos pontos inicial r1 e final r2, dizemos
que o trabalho realizado é uma função que deriva apenas destes pontos. Cha-
mamos esta função de U(r ) de energia potencial. O trabalho total realizado
por uma força conservativa sobre uma partícula ao longo de um caminho C
do ponto r1 ao ponto r2 é,
r2
W= F.dr = – [U(r2) – U(r1)] = –∆U (14)
r1
Neste caso, o trabalho é independente do caminho C que une o ponto r1
ao ponto r2. Se o trabalho realizado pela força, ao mover a partícula de um ponto
a outro, é independente do caminho, então a força é dita conservativa. Como
consequência, uma força será conservativa se, e somente se, o trabalho realizado
sobre uma partícula ao longo de qualquer curva fechada é nulo, ou seja,

W= F.dr = 0 (15)
C

A força gravitacional e a força elástica são forças conservativas; a força de


atrito cinético é uma força dissipativa (não conservativa).

5.5 Energia potencial


Um sistema pode conter energia em virtude de sua disposição ou
arranjo (uma mola esticada ou comprimida), ou de sua posição com relação

– 79 –
Física I

a outro objeto (um objeto a uma altura acima da superfície da Terra). Esta
energia armazenada está disponível para ser utilizada, transformando-se em
outras formas, e é denominada de energia potencial. A justificativa para
esse nome é que nesta forma ela tem o potencial ou possibilidade de realizar
trabalho. Por exemplo, uma mola comprimida ou esticada pode realizar
trabalho. A energia química armazenada numa pilha igualmente é energia
na forma potencial.
A energia mecânica de um sistema, E, é a soma da energia potencial U
do sistema com a energia potencial K total do sistema, ou seja,
E = K+U (16)
Considera-se um sistema isolado quando nenhuma força externa atua
no sistema e na ausência de forças dissipativas como o atrito. Neste sistema
isolado, nenhuma energia entra ou sai, ou seja, a variação da energia mecânica
é nula, DE =0. Se uma força conservativa realiza trabalho, ela será responsá-
vel por uma transformação de energia potencial em cinética ou vice-versa.
Assim, pela Eq. 16
(Sistema conservativo isolado ) DE = DK + DU = 0 (17)
Então,
(Sistema conservativo isolado) DK = - DU(18)
Se a energia potencial U(x) de um sistema no qual uma força unidi-
mensional F(x) atua sobre uma partícula é conhecida, podemos obter a força
derivando ambos os lados da Eq. 14 e utilizando o teorema fundamental do
cálculo (se uma  função contínua  é inicialmente integrada e depois diferen-
ciada ou vice-versa, obtém-se a função original):
F(x)=– dU(x) (19)
dx
Se a energia potencial é fornecida na forma de um gráfico, como mos-
trado na Figura 5, pela Eq. 19, para qualquer valor de x, a força F(x) é o
negativo da inclinação (derivada) da curva no ponto considerado, e a energia
cinética da partícula é dada por :
K(x) = E - U(x)(20)
Onde E, como antes, é a energia mecânica total do sistema.

– 80 –
Trabalho e energia

Figura 5 – A energia potencial é dada na forma de um gráfico.


U(x)

Equilíbrio

E
F(x1)=
Equilíbrio
E
F(x4)> F(x)=

F(x5)<
E

x x x x x x
X

F(x4)=
Equilíbrio

Fonte: elaborada pelo autor, com base em HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2006.

5.5.1 Pontos de equilíbrio estável, instável,


indiferente e pontos de retorno
Os pontos de retorno são os pontos nos quais o movimento de uma par-
tícula muda de sentido (nesses pontos a energia cinética se anula, no entanto,
K=0 é uma condição necessária, porém não suficiente). Os pontos de retorno
dependem da energia mecânica total do sistema. Por exemplo, na Figura 5 se
a energia total do sistema for igual a E1, x3 e x5 serão pontos de retorno, pois
a energia cinética nestes pontos será nula. Assim, o movimento será limitado
na região x3 ≤ x ≤ x5, pois esta é a região energeticamente acessível ao sistema.
Neste caso, as regiões x < x3 e x > x5 serão energeticamente proibidas,
pois o sistema não possui energia suficiente para penetrar nelas. Por outro
lado, se a energia total do sistema for igual a E2, o ponto x2 será o único ponto
de retorno. Desta forma, a região x ≥ x2 será acessível, enquanto a região x <
x2 será proibida. Finalmente, se a energia do sistema for igual a E3 não haverá
pontos de retorno e o movimento será ilimitado.
É dito que a partícula se encontra em equilíbrio nos pontos nos quais
a inclinação da curva U(x) é nula (nesses pontos, F(x) =0). Por exemplo, na

– 81 –
Física I

Figura 5, os pontos x1, x4 e x6 são de equilíbrio. O equilíbrio será estável quando


a energia potencial assume um valor mínimo. Já o ponto x4 é um ponto de equi-
líbrio estável. O ponto de equilíbrio será instável quando a energia potencial
assume um valor máximo local. E o ponto x1 é um ponto de equilíbrio instável.
Finalmente, o ponto de equilíbrio é dito indiferente quando tanto a primeira
dU d²U
derivada, dx quanto a segunda derivada do potencial, dx² , com respeito a x
são nulas. O ponto x6 é um ponto de equilíbrio indiferente.

5.5.2 Energia potencial gravitacional


A energia potencial associada a um sistema formado pela Terra e a uma
partícula próxima à sua superfície é conhecida como energia potencial gra-
vitacional. Como vimos anteriormente, o trabalho da força peso para mover
uma partícula de uma altura h, é W = -DU= -mgh. Se uma partícula é des-
locada de uma altura hi para uma altura hf, a variação da energia potencial
gravitacional do sistema partícula-Terra é dada por:
∆U = U(hf) – U (hi) = mg(hf – hi) = mg∆h (21)
Se o ponto de referência de uma partícula é tomado como sendo hi = 0
e a energia potencial gravitacional correspondente do sistema é tomada como
sendo Ui = 0, a energia potencial gravitacional U de uma partícula a uma
altura h é dada por:
U = mg (22)

5.5.3 Energia potencial elástica


Chamamos de energia potencial elástica a energia agregada à situação de
compressão ou distensão de um corpo elástico, por exemplo, uma mola ou
um arco. No caso de uma mola que exerce uma força elástica F= -kx quando
é comprimida ou alongada de um deslocamento x, o trabalho da força e,
consequentemente, a energia potencial elástica são calculados como
r2
-kx² kx ² kx ²
W= F.dr = –kxdx = = – 2 – 1 = – [U(r2) – U(r1) = –∆U
r1 2 2 2

– 82 –
Trabalho e energia

Figura 6 - O sistema massa-mola (parte A) e


Assim, a a energia potencial elástica associada ao sistema
U(x)= kx² (23) (parte B).
2 F(x)
F(x)

Fonte: elaborada pelo autor, com base em HALLIDAY;


No estado de referência, ou
seja, quando a mola está no estado
relaxado x= 0 e U = 0. A Figura 6
mostra o gráfico da energia poten-
x x
cial elástica de uma mola que obe-
dece à Lei de Hooke em função da

RESNICK; WALKER, 2006.


deformação x.

5.6 A lei da Energia cinética

Energia
Energia cinética

Energia
conservação Energia mecânica
Energia mecânica

da energia Energia potencial

Energia potencial
A  lei  da conservação de
energia estabelece que a quan-
tidade total de  energia  em um sistema isolado permanece constante. Uma
outra maneira de enunciar essa lei é afirmar que energia não pode ser criada
nem destruída, ela pode apenas transformar-se.(SEARS; ZEMMANSKY;
YOUNG, 2008).
Assim, há de fato, uma lei que governa todos os fenômenos naturais. A
lei de conservação da energia. Não conhecemos nenhuma exceção a esta lei.
Ela afirma que há uma certa quantidade, a qual chamamos de energia, que
não muda a despeito das várias mudanças que ocorrem na natureza. Esta é
uma ideia abstrata devido ao fato que expressa um princípio matemático. A
lei da conservação da energia afirma que há uma quantidade numérica que
não muda quando alguma coisa acontece, não é uma descrição de um meca-
nismo, ou algo concreto; é somente um fato interessante que nos permite
calcular um número, e quando olhamos para a natureza muito tempo depois,
após várias mudanças, o valor calculado anteriormente continua o mesmo.
Por ser uma lei, não é derivável da dinâmica. Ela é uma afirmação indepen-
dente sobre a ordem do mundo macroscópico.

– 83 –
Física I

Assim, essa lei afirma que a energia total do universo é constante. No


entanto, partes do universo podem interagir e trocar energia entre si.
Na sua forma geral, a lei da conservação da energia, incluindo a transferên-
cia de calor, é uma nova afirmação, que em muitos casos, tem pouco a ver com
o teorema da energia cinética, estudado acima. Há duas formas de transferir
energia de/ou para um sistema. Como vimos acima, a dissipação da energia
através do trabalho, W, das forças não conservativas, como o atrito, podem
produzir aquecimento. Podemos também extrair ou adicionar energia por meio
de calor, representado pelo símbolo Q. Calor é um processo de transferência de
energia via limites de um sistema. Calor é energia em trânsito. Assim, podemos
traduzir numa equação o que acabamos de discutir. A variação da energia de
um sistema, DE, depende da quantidade de calor adicionada ou retirada do
sistema, Q, e do trabalho realizado sobre o sistema, ou seja

DE= Q + W (24)
Na equação acima, conhecida como a primeira lei da termodinâmica, a
energia do sistema aumenta (DE >0) quando recebe calor (Q>0) ou quando
o trabalho é realizado sobre o sistema (W) por um agente externo. Por outro
lado, a energia interna de um sistema diminui (DE<0) quando perde calor
(Q<0) ou quando o sistema realiza trabalho (W<0).
A energia interna do sistema pode assumir diversas formas: energia tér-
mica (Etérmica), energia potencial (U), energia cinética (K), energia química
(Equimica), etc.. A forma geral da primeira lei pode ser então escrita como:

DE= DEtérmica + U+ K+ DEquimica + .... =Q + W (25)

No caso de um sistema isolado, tanto a quantidade de calor que entra ou


sai do sistema, ou o trabalho realizado sobre o sistema são igualmente nulos,
ou sej, Q =0 e W= 0, de modo que
DE = 0 e E = constante (26)

Saiba mais
Para aprender um pouco mais sobre trabalho da força de atrito,
Osman Rosso Nelson e Ranilson Carneiro Filho publicaram um

– 84 –
Trabalho e energia

artigo na Revista Brasileira de Física (http://www.sbfisica.org.br/rbef/


pdf/332308.pdf). Com uma abordagem didética, os autores dis-
cutem um erro no cálculo do trabalho realizado pela força de atrito
cinético. Esse assunto, frequentemente, apresenta-se de forma equi-
vocada em diversos livros de física no nível universitário.

Sistema isolado: é um sistema que não troca matéria e/ou energia com


a sua vizinhaça. Ele deve ser delimitado por uma fronteira comple-
tamente restritiva para tanto. Rigorosamente, não existe nenhum
sistema prático conhecido que satisfaça com absoluta precisão
estas condições. No entanto, consegue-se muito boas aproximações
para os mesmos. Por hipótese, o Universo é um sistema isolado.

Resumindo
A palavra trabalho, em linguagem do nosso cotidiano, significa esforço
físico ou mental. Por outro lado, a definição da física difere totalmente da
noção cotidiana que temos dessa palavra. Em física, o trabalho de uma força
é definido de forma geral como
xf

W= F.(x) dx .
xi

Trabalho é um processo. É a transferência de energia mecânica de um


sistema para outro pela ação de uma força aplicada ao longo de um deslo-
camento. A ideia fundamental por detrás do conceito de trabalho é que ele
representa a quantidade de energia transferida para um sistema e/ou trans-
formada de uma forma a outra. Um conceito intimamente relacionado com
trabalho é potência.
Potência é uma taxa na qual o trabalho é realizado, ou seja, é uma
medida de quanto trabalho é realizado em um determinado instante ou
intervalo de tempo.

– 85 –
Física I

A energia cinética :
K= mv²
2
é a energia de movimento.
A  lei  da conservação de energia  estabelece que a quantidade total
de energia em um sistema isolado permanece constante, ou seja

Uma outra maneira de enunciar essa lei é afirmar que energia não pode
ser criada nem destruída, ela pode apenas transformar-se. (HALLIDAY; RES-
NICK; WALKER, 1996).

– 86 –
6
Conservação do
momento linear

O objetivo deste capítulo é introduzir o conceito de conser-


vação do momento linear. Para tal, primeiro deve ser entendido o
que é centro de massa de um sistema, que se move como se toda a
massa estivesse centrada nele, e como as forças externas ao sistema
só agissem unicamente nele.
Um exemplo que podemos citar é o ato de arremessar uma
bola sem forçar uma rotação, se imaginarmos esse fato, a bola terá
uma trajetória parabólica, porém se tacarmos um bastão, conforme
a figura 1, já estudaremos um movimento mais complicado, isso
porque não podemos tratar o bastão como uma partícula. Entre-
tanto o bastão tem um ponto espacial que é o centro de massa, que
descreve um movimento parabólico, e outros pontos que se movi-
mentam em torno do centro de massa.
Física I

Figura 1: Movimento do centro de massa de um bastão

Fonte: elaborado pelo autor, com base em HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2006.

Objetivos de aprendizagem:
22 Calcular o centro de massa;
22 Reconhecer o movimento de um sistema de partículas;
22 Descrever o movimento do centro de massa;
22 Relacionar as propriedades físicas de sistemas a suas finalidades.

6.1 Centro de massa


Podemos definir centro de massa (CM) de um sistema de partículas
sendo o ponto que se move como se toda massa do sistema estivesse centrada
nesse ponto, e que todas as forças externas estivessem voltadas para ele.

6.2 Sistema de partículas


Conforme a figura 2, onde temos duas partículas de massas m1 e m2
separadas por uma distância d. Fazendo uma escolha arbitrária, como a ori-

– 88 –
Conservação do momento linear

gem do eixo x e a posição da partícula de massa m1, a definição do CM para


esse sistema é:
m2
xCM= d
m1 + m2 (1)

Se m2 for igual à zero, o centro de massa do sistema estará relacionado


somente a uma partícula, porém se m1 = m2 o centro de massa desse sistema
estará na metade da trajetória entre as duas partículas.

Figura 2: Sistema de duas partículas com massa distinta e seu centro de massa.

xcm x2
X
c.m. m2
m1

Fonte: elaborado pela autora, com base em PAULA; ALMEIDA, 2014.

De forma geral, podemos reescreve a equação do sistema de centro de


massa, com M igual à massa total do sistema, obtemos:

n
m1x1 + m2x2 + m3x3 + mnxn 1
xCM=
M
=
M ∑ m1x1
i=1
(2)

Porém, se o sistema de partículas estiver distribuído tridimensional-


mente, então existirão três centros de massa distintos que são eles:

n n n
1 1 1
xCM=
M ∑ m1x1 yCM=
M ∑ m1y1 zCM=
M ∑ m1z1
i=1 i=1 i=1
(3)

– 89 –
x
Física I

Outra forma na qual podemos definir o centro de massa é usando a


linguagem vetorial, sendo assim, temos:


r i = xi iˆ + yi ˆj + zi kˆ

Onde i, j, k são os vetores unitários, que apontam respectivamente os


eixos x, y e z. Podemos representar as três equações escalares por uma única
equação vetorial sendo:

n
1
rCM=
M ∑ m1r1 (5)
i=1

Onde M é a massa total do sistema.

Exemplo 1:
Achar o centro de massa de um sistema constituído por três partículas
de massa respectivamente: m1 = 1 kg, localizado [0,0], m2 = 2 kg, localizado
[0,3] e m3 = 4 kg, localizado [4,0], as distâncias estão em metros.
Utilizando a equação 5, para resolução temos:
n
1
rCM=
M ∑ m1r1
i=1

Onde M = m1 + m2 + m3 = 1 + 2 + 4 = 7kg. Então,


n
1 1 16
xCM=
M ∑ m1x1=
7kg
[1kg)(0)+(4kg)(4m)]=
7
=2m
i=1

Analogamente para a posição y temos:


n
1 1 6
yCM=
M ∑ m1y1=
7kg
[1kg)(0)+(2kg)(3m)+(4kg)(0)]= =0.75m
7
i=1

– 90 –
Conservação do momento linear

6.3 Sistema de partículas em corpos maciços


O bastão, por exemplo, é um corpo maciço composto por n partículas,
que pode ser aproximada por uma distribuição contínua de massa, para tal
situação, as partículas tornam o elemento de massas infinitesimais em dm.
Para resolvermos esse tipo de problema, recorremos à forma matemática de
integração da equação geral do centro de massa, que ficará:

1 1 1
xCM= x dm yCM= y dm zCM= z dm (6)
M M M

Onde nesse caso M é a massa do objeto.

Importante
O centro de massa de um objeto não precisa estar no interior do
objeto, por exemplo, não existe massa no centro de uma rosquinha.

Exemplo 2:
Achar o centro de massa de um bastão uniforme de massa M e compri-
mento L.
Este exemplo se torna simples, pois o resultado não nos é desconhe-
cido, isso ocorre porque o bastão é simétrico. Para resolvermos, inicialmente
fixamos o sistema de coordenadas, com o um eixo x na origem do bastão e
o outro no eixo central do bastão. Seja y a massa do bastão por unidade de
comprimento. Sendo o bastão uniforme, temos que y=M/L, sendo dm um
elemento de massa e dx um elemento de comprimento.
Calculando o elemento de massa obtemos:
dx
dm= M =y dx
L

Agora utilizando a equação 6, obtemos:

– 91 –
Física I

L
1 1 yL2
xCM= x dm= xy dx=
M M 0 2M

Substituindo o valor de y=M/L na equação acima encontramos o centro


de massa do bastão.
yL2 M L2 L
xCM= = =
2M L 2M 2

6.4 Aplicação da segunda Lei de Newton


em um sistema de partículas
Para resolvermos esse tipo de problema, imaginemos uma mesa de
sinuca onde a bola branca que está em repouso é acertada por um taco e
vai em direção à outra bola. Ao ocorrer à colisão, ambas as bolas estarão em
movimento, isso quer dizer que, o sistema dessas bolas estão em movimento,
com isso, para determinarmos a aceleração usaremos a do sistema, ou seja, a
aceleração do centro de massa dessas partículas, com isso podemos rescrever a
segunda Lei de Newton para um sistema de partículas, como:

Fres = MaCM (7)

F
Onde a res é a força resultante de todas as forças externas que atuam
sobre o sistema, M é a massa total do sistema.

6.5 Momento linear


O momento linear é uma grandeza vetorial definida por:

p = mv (8)

Onde m é a massa da partícula, e v a velocidade com que a partícula se


movimenta.

– 92 –
Conservação do momento linear

Exemplo 3:
Um homem de 95 kg patina no gelo com a velocidade de 0,6 m/s, e
seu neto que pesa 35 kg patina a uma velocidade de 0,2 m/s, desprezando o
atrito, qual o momento linear de cada um.
Utilizando a equação 8, obtemos:
m
O momento do homem: p=(95kg) 0.6 =57kgm/s
s
m
O momento do neto: p=(35kg) 0.2 s =7kgm/s

Você sabia
Que a taxa de variação com o tempo do momento linear de uma
partícula é igual a força resultante que atua sobre a partícula e tem a
mesma orientação que essa força.

Saiba mais
Quer aprofundar mais seus conhecimentos? Leia o capítulo 9do
livro Fundamentos da Física, volume 1, mecânica, de David Halliday,
Robert Resnick, Jearl Walker, oitava edição.

6.5.1 Impulso
É uma grandeza física que relaciona a força que atua sobre um corpo
durante um intervalo de tempo. Temos a seguinte relação, que vem da
segunda Lei de Newton.
pf tf
dP
Fres = →dP= Fres dt→ dp= Fres = dt
dt
pi ti (9)

Onde P é o vetor momento linear do sistema.

– 93 –
Física I

Pf – Pi = Fres(tf-ti)
(10)
P – I = Fres(tf-ti)
(11)
Com isso podemos afirmar que:
O impulso gerado por um força durante certo tempo é igual à variação
do vetor momento linear do sistema.

6.6 Momento linear de um


sistema de partículas
Considere um sistema de partículas com n partículas, sendo que cada
partícula tem sua própria massa, velocidade e momento linear, podendo
as partículas de uma interagirem com a outra. O momento linear total é
P , que é a soma vetorial de todos os momentos lineares das n-partículas,
assim sendo:

P = p1+p2+p3+...+pn
P = m1v1+m2v2+m3v3+...+mnvn (12)

Generalizando as equações X e Y obtemos:


P = MvCM (13)

que é o momento linear de um sistema de partículas.

Importante
O momento linear de um sistema de partículas é igual a multiplicação
da massa total do sistema pela velocidade do centro de massa.

Outra forma de se calcular o momento linear de um sistema de partícu-


las é derivando o momento em relação ao tempo e obtemos:

– 94 –
Conservação do momento linear

dP dv
= m CM = MaCM
dt dt (14)

6.7 Conservação do momento linear


Sendo a força externa atuante em um sistema de partículas Fres = 0, ou
seja, um sistema isolado e fechado que é aquele em que nenhuma partícula
vai entrar ou sair do sistema, logo tem-se:

dP
Fres = 0, = 0, com isso obtemos, P = constante
dt (16)

Importante
Se o sistema de partículas não tem ação de nenhuma força externa
sobre ele, então o momento linear total P não varia.

Este enunciado acima é conhecido como a Lei de Conservação do


Momento Linear, que pode ser escrito de outra forma:
Pi = Pf (17)

A equação 17 foi definida que o momento inicial é igual ao momento


final, fisicamente representa um sistema de partículas fechado e isolado.

Importante
Momento não deve ser confundido com energia.

A aplicação da conservação do momento linear é especialmente útil nas


análises de colisões.
Exemplo 4:
Um carrinho de massa m, sobre um trilho de ar, que comprime de x uma
mola de constante elástica. O carrinho está inicialmente preso ao suporte do

– 95 –
Física I

trilho por um fio. O fio é cortado, e a mola expande-se empurrando o carri-


nho, Ao passar pela posição de equilíbrio da mola, o carinho perde contato
com a mola. No trajeto até perder esse contato, de quanto foi o impulso?
Sendo I = P, é necessário encontrar a variação do momento linear do
sistema:
P = m(vf – vi)
Como o movimento partiu do repouso vi = 0, com isso temos:
P = mvf (I)
Pela conservação da energia mecânica, temos:
1 1 1 1
k xi2+ m vi2= k xf2+ m vf2
2 2 2 2

1 1
k xi2= m vf2
2 2

v=x k
m (II)

Aplicando (II) em (I), obtemos:

P = mvf = mx k = x √km
m

Resumindo
Neste capítulo estudamos os seguintes assuntos:
1. Centro de massa de um sistema de n-partículas é definido como
pontos relacionados a cada coordenada de forma generalizada:
1 n
M ∑
rCM= m1r1
i=1

2. O sistema de partículas para corpos maciços:

– 96 –
Conservação do momento linear

1
rCM= r1dm
M

3. Segunda Lei de Newton para sistemas de partículas é expressa pela


equação:

Fres = MaCM

4. Momento Linear e a segunda Lei de Newton:

p = mv

Com isso podemos escrever a segunda lei de Newton na forma:

dP
Fres =
dt

5. Movimento do centro de massa de um sistema isolado e fechado de


dois corpos que colidem não é afetado pela colisão, com isso a velo-
cidade do centro de massa antes da colisão é igual a velocidade do
centro de massa depois da colisão;
Conservação do momento linear
é quando o momento linear total é constante, ou seja, o momento
antes da colisão é igual ao momento depois da colisão.

Colisão: batida entre duas ou mais partículas


Sistema conservado: é o mesmo antes e depois da colisão.
Sistema fechado: significa que a massa do sistema é constante.
Sistema Isolado: é quando a força externa resultante é nula.

– 97 –
7
Fluidos

Neste capítulo você será apresentado às leis que regem o


comportamento dos fluidos. Tais leis estão diretamente relacionadas
com situações diversas do nosso cotidiano, além de terem aplicações
importantes em muitos dispositivos mecânicos como as direções,
os freios e os macacos hidráulicos. Para entender bem isso, iremos
estudar primeiro o fluido sem movimento, ou seja, estático ou em
equilíbrio. Mas antes disso: você sabe dizer o que é fluido?
Então, fluido é caracterizado por ser facilmente deformável
de forma que se molda ao formato do recipiente que o contém. Um
exemplo seria os líquidos nas garrafas pets, os quais se mondam de
Física I

acordo com o formato, o volume e a espessura da garrafa. Aliás, nos fluidos


existem dois tipos de forças que devem ser consideradas: as forças normais e
as forças tangenciais à superfície do fluido.
Preparado para conhecer as propriedades e características dos fluidos
mais profundamente? Inclusive, como calcular pressão e densidade das forças
de cada fluido? Então continue em frente e bom estudo!

Objetivos de aprendizagem:
22 Reconhecer as propriedades e características dos fluidos;
22 Reconhecer os movimentos dos fluidos;
22 Calcular pressão e densidade das forças nos fluidos;
22 Diferenciar o princípio de Pascal do de Arquimedes.

7.1 Pressão e densidade


Como é definida a pressão em termos de força por unidade de área? De
forma mais generalizada, podemos considerar que a pressão são forças que
atuam em um ponto de um corpo. Porém, para fluidos, as forças atuantes
(nesse caso, a pressão) não se concentram em um único ponto, mas se “espa-
lham” ao longo da superfície do corpo.
Por exemplo, suponha uma superfície de área A sobre a qual está apli-
cada forças perpendiculares, em que F é a resultante das forças. Então, a pres-
são média exercida por essa força é:

Pmed = F
A

No sistema internacional de unidades, a pressão é expressa pela unidade


denominada Pascal (Pa) definida como:

1 Pascal = 1 Newtom\m² = 1N m²

– 100 –
Fluidos

Vale ressaltar que a pressão exercida por um fluido nas paredes de um


recipiente é transmitida a todos os pontos dos fluidos, ou seja, a pressão exer-
cida também dependerá da altura e da profundidade. Devido a essa situação,
frequentemente expressamos os valores de pressão para os fluidos em uma
unidade de medida denominada atmosfera, sendo:
1 atm = 1,01x 105Pa
Além do atm e Pa, existem outras unidades de pressão. Um exemplo é
o barômetro. Por causa da alta densidade e do uso de mercúrio (Hg), ele é
medido em outra unidade de pressão que é o milímetro de mercúrio, o qual
pode ser expresso da seguinte forma:
1 atm = 700mmHg
Outra grandeza escalar de grande importância na hidroestática é a densi-
dade, que nada mais é do que a distribuição espacial da massa do fluido. Com
isso podemos dizer que a densidade é uma característica particular de cada subs-
tância. Em outras palavras, a densidade é definida como massa por unidade de
volume do fluido e pelo sistema internacional de medidas da seguinte forma:

p= Kg

Sendo:
Kg: massa;
m3: volume

Exemplo 1:
Uma força de intensidade 30N é aplicada perpendicularmente à superfí-
cie de um bloco de área 0,3m², qual a pressão exercida por esta força?
Resposta:

p= F
A
p= 30 = 100Pa
0,3

– 101 –
Física I

7.2 Princípio de Pascal


Você sabia que o princípio aplicado por Pascal é semelhante ao de uma
prensa hidráulica? Um exemplo disso seria o macaco hidráulico, que com o
auxílio de uma pessoa ergue um carro de massas bem elevadas. Conforme a
Figura 1, observe como funciona uma prensa, a qual consiste em um reci-
piente com fluido, com duas aberturas de forma cilíndrica, por exemplo,
diâmetros diferentes.
Figura 1 – Esquema da prensa hidráulica.

FA

A B

FB

Fonte: Universidade Estadual do Matogrosso do Sul, 2010.


Perceba que nas aberturas são colocados êmbolos para que nenhum
fluido não ultrapasse da prensa. Por isso, as áreas A e B estão destacadas da
seguinte forma: B > A.
Veja ainda que os êmbolos estão no mesmo nível e que sobre o pistão A
foi aplicada uma força FA, já no pistão B há objetos de massa M. Com isso,
para compreendermos o funcionamento da prensa hidráulica, devemos nos
preguntar: qual a força que deve ser o valor de FA, para que o objeto do pistão
B permaneça em equilíbrio?
A resposta dessa pergunta só será dada depois de analisar as forças que
agem sobre o objeto de massa M. Note que as forças são o peso, definido
como: P = M g, e a força normal N do êmbolo em relação ao objeto.

– 102 –
Fluidos

Como a massa está em equilíbrio, se obtém: N = Mg. A partir desses resul-


tados, podemos extrair a pressão exercida sobre o fluido da seguinte forma:
N = Mg , com isso temos que: FA = FB
A A A B
Pelo Princípio de Pascal, a pressão será passada à superfície do fluido de
contato do menor êmbolo, isto é:

FB= B FA
A

Lembre-se: FB é a força que queremos saber para manter o objeto em


equilíbrio.
Em geral, o Princípio de Pascal garante que qualquer alteração de pres-
são produzida em um fluido em equilíbrio transmite-se integralmente a todos
os pontos do líquido e às paredes do recipiente.

7.3 Princípio dos Vasos Comunicantes


Para entender o princípio dos vasos comunicantes, observe a Figura 2,
que mostra um recipiente constituído por ramificações de formatos diferen-
tes, porém com o fundo nivelado.

Figura 2 – Esquema de recipientes comunicantes.

h h

Fonte: Universidade Estadual do Matogrosso do Sul, 2010.

– 103 –
Física I

Vamos analisar: se todos os pontos do fundo do vaso estão com a mesma


pressão, a pressão na superfície de cada uma das ramificações serão as mes-
mas. Isto é, as pressões são iguais à pressão atmosférica, já que as ramificações
estão abertas e em contato com o ar.
Outro aspecto que podemos observar é que a altura do fundo do reci-
piente até a superfície de cada ramificação serão as mesmas. Então, é possível
expressar a pressão no fundo Pf do recipiente em relação à altura de cada
ramificação, da seguinte forma:
Pf = P0 + ρgh1,
Pf = P0 + ρgh2,
Pf = P0 + ρgh3.

Porém, já definimos que h1 = h2 = h3 = h. Ou seja, podemos concluir que


nesse exemplo a pressão no fundo dos recipientes comunicantes para os h1, h2
e h3 são iguais, pois as alturas são as mesmas, certo?

7.4 Princípio de Arquimedes


Para explicar o princípio de Arquimedes, vamos pegar como base que
toda pessoa já observou algum objeto sendo largado em um fluido, e esta ação
pode ter três tipos de comportamento de equilíbrio: flutuar na superfície,
ficar submerso a uma determinada profundidade ou alocar-se no fundo do
recipiente que contém o fluido.
Para analisar tal situação fisicamente, é necessário usar o cálculo de varia-
ção de pressão de um fluido com a sua determinada profundidade. Supo-
nhamos um objeto sólido, cuja sua densidade será ρs, e suas dimensões serão
A, B e C. Agora imagine que esse sólido foi mergulhado em um fluido com
densidade ρ, estando a face superior AB submersa a uma profundidade z.
Analisando as forças do fluido exercidas sobre o sólido, concluímos: as forças
laterais se anulam, restando somente as forças verticais provenientes das pres-
sões exercidas sobre a face superior do sólido e sobre sua base, atuando tais
forças em sentidos opostos. A resultante dessas duas forças verticais definirá o
empuxo (Figura 3) e terá seu módulo expresso por :

– 104 –
Fluidos

F = [p(z) – p (z + C)] A B.

Sendo:
p(z) – p0 + ρgz
e
p(z+C) = p0 + ρg (z+C)

Substituindo a força resultante, obtemos:


F = – ρg A B C = – ρg Vs.

Esta força F, de módulo F, recebe usualmente o nome de empuxo e pode


ser denotada por E.
Lembre-se: Vs é o volume do sólido, e o sinal negativo indica que a força
aponta para cima. Quando o módulo da força peso é maior que o empuxo,
o sólido afunda; quando for menor, o sólido flutua, ficando apenas parcial-
mente submerso; finalmente, quando o módulo da força peso é igual ao
empuxo, o corpo fica em equilíbrio, independente da posição em que seja
colocado sobre o líquido.
Figura 3 – Princípio de Arquimedes.

Empuxo

Força peso Força peso

Fonte: elaborada pela autora, com base em HALLIDAY; RESNICK; WALKER,


1996.

– 105 –
Física I

Importante
De acordo com o princípio de Arquimedes, a força é denominada
empuxo pois depende apenas das propriedades do fluido que o
sólido está submerso e do volume do sólido.
Perceba que podemos expressar tal força da seguinte maneira:
E=dfgVFD
Sendo: VFD o volume do fluido deslocado e dF a densidade do fluido .

Saiba mais
O valor do empuxo não depende da densidade do corpo que é
imerso no fluido, mas podemos usá-la para saber se o corpo flutua,
afunda ou permanece em equilíbrio com o fluido. Por exemplo, se:
22 densidade do corpo > densidade do fluido: o corpo afunda;
22 densidade do corpo = densidade do fluido: o corpo fica em equilí-
brio com o fluido;
22 densidade do corpo < densidade do fluido: o corpo flutua na
superfície do fluido.

Mas, afinal, o que o Princípio de Arquimedes realmente se trata? Esse


princípio diz que, quando um objeto mergulhado em um fluido sofre uma
força para cima, o seu valor absoluto é o mesmo que o peso do volume do
fluido que foi deslocado pelo objeto.
Quando um corpo está totalmente imerso num líquido, podemos ter as
seguintes condições:
22 se o corpo permanecer parado no ponto em que foi colocado, a
intensidade da força de empuxo é igual à intensidade da força peso;
22 se o corpo afundar, a intensidade da força de empuxo é menor que
a intensidade da força peso;
22 se o corpo flutuar, a intensidade da força de empuxo é maior do que
a intensidade da força peso.

– 106 –
Fluidos

Você sabia
Que o radiador de um carro é um trocador de calor, onde o radiador
é a fonte de calor, a água, é um fluido refrigerante quente, ou seja, é
um fluido de refrigeração do motor, transfere calor para o ar fluindo
através do radiador.
A água não é o único fluido refrigerante, em outros casos temos
como fluidos mais comuns o óleo. O fluido refrigerante é aquele que
circula ao redor da área do tubo, isolado por outro sistema tubular,
que neste caso é conhecido como serpentina, que possui uma área
geométrica grande o que favorece a troca de calor.
O material utilizado para se fabricar um trocador tem de ser de alta
condução térmica, como cobre, alumínio e ligas metálicas.
Na engenharia como um todo, usa-se uma técnica denominada
volume de controle, onde as propriedades do fluido não se alteram
com o tempo, por eles estarem em regime permanente.
Um dos grandes motivos de um trocador de calor ser altamente efi-
ciente ocorre principalmente:
22 Do material utilizado para construção;
22 Da característica geométrica e
22 Do fluxo, temperatura e coeficiente de condutibilidade térmica dos
fluidos em evidência.
Genericamente, para melhorar a troca de calor, são colocados aletas
em toda a área da tubulação. As aletas consistem em células interliga-
das entre si, onde circula fluido. A maioria dos trocadores de calor
utilizam tubos com geometrias que favorecem a troca de calor, onde
internamente, há em sua área aletas.
Texto extraído de: https://naoseimeu.wordpress.com/category/
refrigeracao/

– 107 –
Física I

Exemplo 2:
Em um recipiente, há um líquido de densidade 2,56 g/cm³. Dentro do
líquido, encontra-se um corpo de volume 1000 cm³, que está totalmente
imerso. Qual o empuxo sofrido por este corpo, dado g=10 m/s²?
Resposta:
VF = 1000 cm³ = 0,001m³ = 10-3m³
-3
dF= 2,56 g 10 kg cm³
-6 3 2,56 x 10³
kg
cm³ 1g 10 m m³
E = dF VFg
E = 2,56 X 103 X 10-3 X 10 = 25,6 N

Barômetro: indica a pressão atmosférica, a alti-


tude e as prováveis mudanças do tempo.
Fluido Ideal: é um fluido que nenhum com-
ponente externo o influencia.
Prensa hidráulica: consiste em um dispositivo no qual uma
força aplicada a um êmbolo pequeno cria uma pressão.
Regime Permanente: é quando o fluxo de calor
dos corpos atinge o equilíbrio térmico.
Volume de Controle em Mecânica dos fluidos: é um volume
arbitrário no espaço através do qual o fluido escoa.

Resumindo
Neste capítulo, você foi capaz de compreender que a pressão e a den-
sidade são grandezas físicas importantes para o comportamento dos fluidos
em equilíbrio, também conhecidos como ideais. Assim, aprendeu a calcular a
pressão a partir da área de contato entre duas superfícies.
Além disso, conheceu os dois princípios fundamentais da hidroestática:

– 108 –
Fluidos

22 o Princípio de Pascal: que, de forma generalizada, pode ser expresso


da seguinte forma :

F = A1 Mg
A2
22 o Princípio de Arquimedes: que é responsável pelo cálculo de cor-
pos submersos a um fluido sobre uma ação de uma força vertical
para cima, o qual pode ser expresso da seguinte maneira:
F = - ρg Vs

– 109 –
8
Termodinâmica

Neste capítulo iremos introduzir o conceito da termodinâ-


mica e como se aplicam neste campo a temperatura e o calor. Ana-
lisaremos os fluidos (líquidos e gases) e, ainda, os efeitos da tempe-
ratura nos sólidos.
Os conceitos anteriores são importantes para entender o
processo físico na preservação do frio ou do calor. Os termos tem-
peratura e calor são muito usados no dia a dia, porém em física, os
significados são bem diferentes. Ao longo deste capítulo, a tempera-
tura será definida em termos de sua medição, e observaremos como
a variação da temperatura afeta os objetos. Já o calor está relacionado
à transferência de energia provocada pelas diferenças de temperatura.
Física I

Esses dois conceitos são ferramentas básicas para a termodinâmica, que


atua em vários ramos da física, química, engenharia e biologia. E sua aplica-
ção é encontrada em refrigeradores, motores, processos bioquímicos e estru-
turas de estrelas.

Objetivos de aprendizagem:
22 Entender o significado de equilíbrio térmico;
22 Verificar a medição utilizando os termômetros;
22 Diferenciar temperatura e calor;
22 Fazer os cálculos envolvendo transferência de calor, variações de
temperatura e mudanças de fase.

8.1 Temperatura e equilíbrio térmico


O conceito de temperatura se origina nas ideias qualitativas de quente
e frio, que se baseiam em nosso tato, paladar. Um corpo ser dito quente nada
mais é do que estar com uma temperatura mais elevada do que a do corpo
análogo. Sendo essa definição vaga, e podendo ser enganosa, a forma certa
de fazer a análise da temperatura é usando um instrumento de medição para
aferi-la. A temperatura também está relacionada à energia cinética das molé-
culas de um material.
Porém, antes de usarmos a temperatura como uma forma de medida
para determinar se o corpo está quente ou frio, é necessário construir uma
escala de temperatura. Para isso, usaremos o termo quente e frio. A Figura
1-a mostra o termômetro, que é um instrumento bem conhecido para
aferição da temperatura. Quanto mais quente for o corpo ou sistema que
está sendo aferido, o líquido que se encontra no interior do termômetro
(geralmente mercúrio ou etanol) se expande, e o valor da temperatura
aumenta. Outro sistema é o de um gás no interior de um recipiente man-
tido a um volume constante, conforme a Figura 1-b. A pressão, medida
pelo manômetro, pode aumentar ou diminuir a medida que o gás é aque-
cido ou resfriado.

– 112 –
Termodinâmica

Figura 1 - Dois instrumentos de medição de temperatura.

(a) (a) (b) (b)


(a) (b)
Fonte: elaborada pelo autor, 2015.

Para se medir a temperatura de um corpo, usa-se o termômetro em con-


tato com o corpo. Por exemplo, se desejamos saber a temperatura de um
brigadeiro dentro da panela, coloca-se o bulbo do termômetro em contato
com o brigadeiro, quando o termômetro interage com o sólido, ele se aquece
e o brigadeiro esfria. Quando o estado de equilíbrio é alcançado, a tempera-
tura pode ser lida no termômetro. Isso ocorre quando o sistema atingiu seu
equilíbrio térmico, ou seja, não tem mais variação de temperatura nem do
termômetro nem do brigadeiro.
Quando os dois sistemas são separados por um material isolante, como
a madeira, plástico, isopor, fibra de vidro, entre outros, um sistema influen-
cia o outro muito lentamente. Um isolante ideal é um material que impede
qualquer tipo de troca de calor ou interação entre os sistemas. Isso quer dizer
que se eles não estiverem em equilíbrio térmico, não conseguirão atingir este
equilíbrio, devido ao material isolante ideal.
Um isolante ideal, como o próprio nome indica, é uma idealização, um
isolante real como as garrafas térmicas não são ideais, de modo que o líquido
no interior das garrafas, como o café, acaba esfriando.

– 113 –
Física I

8.2 A lei zero da termodinâmica


Segundo enunciado de Tripler (2006), se dois sistemas estão em equi-
líbrio térmico com um terceiro, então estão em equilíbrio térmico entre si.
Definimos o equilíbrio térmico de dois sistemas quando as temperaturas
entre ambos são iguais, ou seja, constante, TA = TB.
Podemos demonstrar, a partir de dois sistemas com temperaturas dife-
rentes, como chegar ao equilíbrio térmico de várias maneiras. Inicialmente,
supomos que TA > TB.
1. Pode-se dar energia térmica para o sistema B, aumentando a agita-
ção das moléculas, consequentemente aumenta TB.
2. Pode-se retirar energia térmica do sistema A, diminuindo a agita-
ção das moléculas, consequentemente diminui TA.
3. Pode-se colocar o sistema em contato, separados por uma parede
diatérmica, o sistema A e B, alcançando assim o equilíbrio térmico,
TA = TB.
Figura 2 - Representação da opção 3.

Sistema adiabático

A B

Parede diatérmica

Fonte: elaborado pelo autor, com base em Halliday; Resnick; Walker, 1996.
Quando se colocam dois sistemas com temperaturas diferentes sepa-
rados por uma parede diatérmica, percebe-se que ocorre a transferência de

– 114 –
Termodinâmica

energia térmica do sistema de maior temperatura para o sistema de me-


nor temperatura.

Importante
É necessário que o sistema seja fechado por paredes adiabáticas, para
que a temperatura externa, a do ambiente, não interfira.

Figura 3 - Esquema da lei zero da termodinâmica.

A B

(1)

A B

(2)
Fonte: elaborada pelo autor, com base em Tipler, 2009.
A Figura 3 (1) representa uma experiência em que colocaram em con-
tato, separados apenas por paredes diatérmicas, três sistemas, e esperou-se
para chegar ao equilíbrio térmico TA = TC e TB = TC.
– 115 –
Física I

Depois, eles foram separados, conforme Figura 3 (2), e colocaram os


sistemas A e B em contato, almejando que entrassem em um novo equilíbrio
térmico, entretanto, observou-se que não era necessário esperar, isso porque
os sistemas A e B já estavam em equilíbrio térmico.
Essa experiência confirmou o enunciado da Lei Zero da Termodinâmica.

8.3 Escalas termométricas


Um objeto, bastante utilizado no dia a dia, que usa o conceito de dilata-
ção térmica é o termômetro. Mas como ele funciona?
O termômetro é constituído por um tubo fino de vidro, conectado a um
bulbo contendo um fluido, geralmente é mercúrio. Nesse tubo são feitas inú-
meras marcas horizontais em diferentes alturas, e é por essa escala que medimos
o tamanho da coluna de mercúrio que sobe ao aquecer o bulbo de mercúrio.

Importante
O termômetro não mede exatamente quanto o volume de mercúrio
variou, mas a variação de volume do mercúrio juntamente com a varia-
ção do volume do vidro que circunda o fluido. Entretanto a variação
de mercúrio é mais elevada do que a do vidro.

As escalas mais conhecidas de temperatura, Celsius e Fahrenheit, são


utilizadas nos termômetros de uso cotidiano.
A escala Celsius é internacionalmente empregado para todos os tipos de
medidas, inclusive as científicas. Essa escala foi baseada em dois pontos de
calibração, são eles:
22 0oC (zero graus Celsius) – corresponde ao ponto de congelamento
da água em Condições Normais de Temperatura e Pressão (CNTP).
22 1000C (cem graus Celsius) – corresponde ao ponto de ebulição da
água em CNTP.
A escala Fahrenheit é uma escala mais operada nos Estados Unidos. Os
pontos de calibração dessa escala são:
22 0oF (zero graus Fahrenheit) – corresponde ao ponto de congela-
mento de uma mistura de água e sal.

– 116 –
Termodinâmica

22 1000F (cem graus Fahrenheit) – refere-se à temperatura normal do


corpo humano.
Na escala Fahrenheit, os pontos normais de congelamento e ebulição da
água são, respectivamente, 32o F e 212o F. A Figura 4 mostra a relação entre
as duas escalas de temperatura Celsius e Fahrenheit:
TF= 9 TC + 32
5
Em que:
TC é temperatura em Celsius.
TF é temperatura em Fahrenheit.
Figura 4 - Comparação entre as escalas Celsius, Fahrenheit e Kelvin.

Fonte: Shutterstock.com/Fouad A. Saad, 2015.

– 117 –
Física I

Há também a escala Kelvin, que adota o valor da propriedade termo-


métrica como ponto zero da sua calibração. Para entender a definição dessa
propriedade, analisaremos primeiro o instrumento utilizado para defini-la.
O termômetro a gás de volume constante, que coloca um bulbo cheio de gás
em contato com o sistema que é desejado saber a temperatura, mede a pres-
são do gás, que posteriormente é relacionado com a temperatura do sistema,
conforme a Figura 5.

Figura 5 - Termômetro a gás de volume constante.

Escala

Capilar

h
R

Sistema

Bulbo
com gás Tubo
flexível

Fonte: Simões et al, 2008.

A pressão do gás é calculada como na hidrostática, pelo desnível do


líquido termométrico, ou seja:
P = P0 + pgh
Em que:
P – pressão total
p0 - pressão inicial
ρ – densidade específica do fluido

– 118 –
Termodinâmica

g - gravidade
h- altura do fluido termométrico.
O gás é medido em dois pontos do sistema: (i) quando o sistema está
na temperatura de fusão do gelo; (ii) quando ele se encontra na temperatura
de vaporização da água. Ao ser feito isso, a massa M do gás dentro do bulbo
varia, encontrando uma gama de pares ordenados entre as temperaturas.
Com isso, concluíram que:
lim PE TE
PF 0 P = ≈ 1,3661
F
TF
Em que:
PF – pressão de fusão;
PE – pressão de ebulição;
TF – Temperatura de fusão;
TE – Temperatura de ebulição;

Para se construir a escala Kelvin, foi escolhida a diferença entre o valor


do ponto de ebulição da água e o ponto de fusão do gelo. Relacionado a escala
Kelvin com a Celsius temos:

TC = TK – 273,15 (4)
Em que:
TC – Temperatura em Celsius;
TK – Temperatura em Kelvin;

Exemplo1:
Considere as escalas de temperatura Celsius, Fahrenheit e Kelvin e deter-
mine em que temperatura a indicação destas escalas é igual para cada par
formado por elas.

– 119 –
Física I

Solução:
a) Escalas Kelvin e Celsius TK = TC + 273,15, igualando-se as tempe-
raturas, encontra-se:
T = T + 273,15 0 = 273,15
Ou seja, não há solução para este par de escalas.
b) Escalas Fahrenheit e Celsius: TF= 9 TC + 32 , o que se igualando as
5
temperaturas, encontram-se:
T = 9 T + 32 – 4 T = 32 T = – 5 × 32 = −40
5 5 4
Ou seja, T = -40oC ou -40oF
9 (T − 273,15) + 32
c) Escalas Fahrenheit e Kelvin: TF= 9 TC + 32 ,
5 5 K
igualando as temperaturas obtemos:
T= 9 (T − 273,15) + 32 T= 5 459,7 ≈ 574,6
5 4
Ou seja, T = 574,6 F ou 574,6 K.
o

Importante
Nunca diga graus kelvin, na nomenclatura do Sistema Internacional
não se usa o termo grau na escala Kelvin, e deve-se usar sempre letra
maiúscula quando se refere a ela.

8.4 Expansão térmica


A maior parte dos materiais sofre expansão ou dilatação térmica quando
aquecidos.
Dilatação Linear
Suponha que uma barra possua um comprimento L0 e está a uma certa
temperatura T0. Quando a temperatura ΔT varia e o comprimento ΔL tam-
bém varia, temos que: ΔL é diretamente proporcional a ΔT, se a temperatura

– 120 –
Termodinâmica

variar pouco, o comprimento da barra dilatará pouco, introduzindo uma


constante de proporcionalidade (que não é a mesma para todos os materiais),
expressamos a dilatação linear da seguinte forma:
ΔL = α L0ΔT (5)
Se o comprimento de um corpo a uma temperatura T0 é L0 então seu
comprimento L a uma temperatura T = To + ΔT é:
L = L0(1 + α ΔT) (6)
A constante α, que descreve as propriedades de expansão térmica de
um dado material, denomina-se coeficiente de dilatação linear, sua unidade
é expressa pelo Sistema Internacional por K-1 ou 0C-1, em alguns materiais, a
expansão linear sofre variação de acordo com as equações 5 e 6. A Figura 8.5
mostra a dilatação linear de uma barra.
Figura 6 - Dilatação Linear.
Lo ∆L

L
Fonte: Grupo de Ensino de Física da UFRS, 2015.

Com a figura acima, podemos observar que a dilatação linear ocorre de


forma proporcional a variação de temperatura e ao comprimento inicial.

Dilatação Volumétrica
O aumento da temperatura geralmente produz aumento de volume, tanto
nos líquidos, quanto em sólidos. O aumento de volume ΔV é aproximada-
mente proporcional à variação de temperatura ΔT e ao volume inicial V0:
ΔV = β V0 ΔT (7)
A constante β caracteriza as propriedades de dilatação volumétrica de
um dado material, denomina-se coeficiente de dilatação volumétrica, sua
unidade é K-1 ou oC-1.
β = 3a

– 121 –
Física I

Você sabia
Dilatação térmica no cotidiano
Em nosso cotidiano existem inúmeras situações que envolvem a dila-
tação térmica dos materiais. Quando colocamos uma quantidade de
chá muito quente em um copo de vidro comum, pode ocorrer de ele
trincar. Isso ocorre porque a parte interna do copo se dilata ao ser
aquecido, no entanto, o vidro é um mal condutor de calor, de forma
que a parte externa demora para ser aquecida. Dessa forma, ocorre
diferença de dilatação entre as partes interna e externa do copo, o
que acaba por fazê-lo trincar.
As calçadas, quadras poliesportivas e até mesmo as lajes sofrem dilata-
ção quando a temperatura aumenta, e contração quando a temperatura
diminui. Nesse processo de dilatação e contração podem acontecer
fissuras que, no caso das lajes, acabam deixando a água passar quando
chove. Para evitar essas fissuras e rachaduras, os pedreiros colocam jun-
tas, no caso das quadras, e divisórias, no caso das calçadas, quando
estão construindo. Durante a construção de pontes e viadutos deixam-
-se pequenas fendas para que essas estruturas possam dilatar quando a
temperatura aumentar, sem que aconteçam as rachaduras. Nas ferrovias
existem pequenos espaços que separam um trilho de outro, possibili-
tando que eles se dilatem sem provocar danos à estrutura. 
Saiba mais em : http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/fisica/a-dilata-
cao-termica-no-cotidiano.htm

8.5 Tipos de calor


Calor sensível é o que altera a temperatura dos corpos, ou seja, se apro-
ximarmos dois corpos com temperaturas diferentes ocorre um fluxo de calor
sensível entre eles, que faz com que a temperatura do mais frio aumente e que
a do mais quente diminua. Até que, por fim, suma essa diferença.
Calor latente é o que causa mudança de fase, ou seja, é a energia neces-
sária para que um corpo passe de um estado físico para outro. Sólido para

– 122 –
Termodinâmica

líquido; líquido para gasoso; entre outros. É bem fácil de perceber que o calor
latente não provoca aumento de temperatura, e sim mudanças de fase.
Uma forma de observar, que pode ser feito em casa, é:
Coloque água para ferver e insira dentro dela um termômetro (cuidado
para não se queimar). Inicialmente, verá que a temperatura da água irá subir,
até atingir o ponto de 100°C, depois, não importa quanto tempo você deixe
a água esquentando, sua temperatura não passará 100°C.
Quando a água aumenta de temperatura, significa que o fogo está trans-
ferindo energia para a água, sob forma de calor sensível, quando a tempera-
tura da água para de subir e ela começa a vaporizar, o fogo transfere energia
sob forma de calor latente.
As unidades de medidas usadas para a caloria é o joule, a relação entre
eles é por:
1 Cal = 4,186 J (8)
Calor Específico (c): observe a energia necessária ΔQ para elevar m gra-
mas de uma substância em uma temperatura ΔT, esse cálculo é expresso da
seguinte forma:

O coeficiente c é denominado calor específico da substância, sua uni-


dade de medida é expressa por cal/(g oC).
Capacidade Térmica (C): é o produto do calor específico com a massa.
Então C = c*m, substituindo na equação 9 obtemos:
10)
Em algumas situações é interessante escrever a capacidade térmica sob
a forma de capacidade térmica molar, para calcular a quantidade de energia
necessária para mudar a temperatura de 1 mol de substância, chegamos a
seguinte relação :
Cmolar = mmolar c (11)
Calor Latente (L): de forma similar ao calor específico, tem-se que a quanti-
dade de energia necessária para mudar m gramas de uma substância é dado por:

– 123 –
Física I

Onde a constante L é denominada calor latente e depende exclusiva-


mente do material e dos estados que irão mudar.

Reservatório Térmico: são os sistemas que permi-


tem a troca de energia, entretanto não mudam sua tem-
peratura consideravelmente. Isso acontece por dois
motivos: o sistema possui uma massa muito grande
ou, o sistema possui um enorme calor específico.

Um exemplo prático seria se jogarmos um cubo de gelo no mar e espe-


rarmos. Podem observar que o gelo se transformará em água e subirá de tem-
peratura até entrar em equilíbrio térmico com o oceano. Entretanto, o oce-
ano não mudou em nada sua temperatura, já que sua massa é absurdamente
grande, portanto podemos chamar o oceano de reservatório térmico.

Exemplo 2:
A dilatação térmica dos sólidos é um fenômeno importante em diversas
aplicações de engenharia, como construções de pontes, prédios e estradas de
ferro. Considere o caso dos trilhos de trem serem de aço, cujo coeficiente
de dilatação é α = 11x 10-6 °C-1. Se a 10°C o comprimento de um trilho é de
30m, em quanto aumentaria o seu comprimento se a temperatura aumen-
tasse para 40°C?
O cálculo da dilatação linear ΔL, do trilho é:

ΔL = 30 . (11 .x10-6) . (40 – 10) = 99x 10-4 m


Exemplo 3:
O que acontece com o diâmetro do orifício de uma coroa de alumínio
quando esta é aquecida?

– 124 –
Termodinâmica

Onde:
A experiência mostra que o diâme-
2
tro desse orifício aumenta. Para enten- 1
der melhor o fenômeno, imagine a situ-
ação equivalente de uma placa circular,
de tamanho igual ao do orifício da coroa
antes de ser aquecida. Aumentando a tem-
peratura, o diâmetro da placa aumenta.

Calor
Resumindo
Neste capítulo, foi introduzido o
conceito de equilíbrio térmico que é uti- Fonte: elaborada pelo autor, com base
lizado para enunciar a lei zero da termo- em Tipler, 2009.
dinâmica, e a partir dela, podemos definir
as temperaturas.
Foram estudados, também, os fenômenos de dilatação térmica e dilata-
ção volumétrica e as equações de quantidade de calor.
A seguir, serão descritos o funcionamento dos termômetros e as escalas
termométricas mais conhecidas.

Tabela 1: Equações utilizadas ao longo do capítulo.


Celsius para 5 F – 160 = temperatura em graus Celsius
=
Fahrenheit C
9 = temperatura em graus Fahrenheit
Fahrenheit 9 F + 160 = temperatura em graus Celsius
=
para Celsius F
5 = temperatura em graus Fahrenheit

Celsius para T = temperatura absoluta (em kelvin)


T= C
+ 273
Kelvin = temperatura em graus Celsius

Kelvin para T = temperatura absoluta (em kelvin)


C
=T − 273
Celsius = temperatura em graus Celsius

– 125 –
Física I

Q = quantidade de calor
Q=m.c. m = massa
Calor sensível
c = calor específico
= variação de temperatura
Q = quantidade de calor
Calor latente Q=m.L m = massa
L = calor de troca de estado
C = capacidade térmica
Q Q = quantidade de calor
Capacidade
C= =m.c = variação de temperatura
térmica
m = massa
c = calor especifico
Fonte: Tipler, 2009.

Diatérmica: permite a passagem de calor


entre os corpos que ela separa.
Energia: é a capacidade que um corpo, substân-
cia ou sistema físico têm de realizar trabalho.
Isolante: não deixa ter troca de energia entre os sistemas.

Ideal: são considerações assumidas no problema para


criação de uma situação que não existe na vida real.
Repouso: quando o corpo apresenta velo-
cidade nula, ou seja, parado.
Sistema: idealização onde um ou mais cor-
pos são considerados um único corpo.

– 126 –
9
Primeira Lei da
Termodinâmica

Todas as vezes em que um carro é dirigido, liga-se o ar con-


dicionado ou usa-se um eletro doméstico, estamos aplicando os
conhecimentos termodinâmicos.
Termodinâmica é a ciência que estuda as transformações
de energia nas quais as variações de temperatura são importantes.
A maioria das transformações químicas resulta em alterações nas
temperaturas e, portanto, os químicos sempre estiveram envolvidos
no desenvolvimento da Termodinâmica como ciência. Neste capí-
tulo, veremos como foram desenvolvidos os conceitos e princípios
desta área, ao longo dos séculos, por grandes cientistas, como Otto
Von Guericke, que foi o pai da termodinâmica, criando a primeira
Física I

Figura 1 - Exemplo de um sistema bomba de vácuo. Anos mais tarde,


termodinâmico. Robert Boyle e Robert Hooke
construíram a bomba de ar e, em
1850, Rudolf Clausius declarou

Fonte: Schutterstock, 2015.


a 1ªLei da Termodinâmica, que
não apenas percebeu a natureza,
mas procurou atender a diversas
necessidades da humanidade. A
Termodinâmica é essencialmente
uma ciência experimental, que só
recebeu um formalismo teórico
muito tempo depois. O foco deste
capítulo é a Primeira Lei da Termodinâmica, fundamental para entender os
processos termodinâmicos, pois trata-se de uma extensão da conservação de
energia, que é ampliadora nesse princípio para inserir trocas de energia por
transferência de calor, e na forma da realização do trabalho.
Uma aplicação dos sistemas termodinâmicos, no nosso dia a dia, é a
pipoca estourando na panela. Este exemplo mostra que o calor é fornecido ao
sistema e a tampa da panela realiza trabalho ao ser deslocada.

Objetivos de aprendizagem:
22 Entender o significado físico da Primeira Lei da Termodinâmica;
22 Compreender os processos de transformações gasosas;
22 Saber interpretar e avaliar o processo decorrente da Primeira Lei
da Termodinâmica.

9.1 A absorção de calor


Calor (Q) é a quantidade de energia que flui de um corpo para outro
quando existe uma diferença de temperatura entre eles. Calor não é uma pro-
priedade dos sistemas termodinâmicos, logo não é correto afirmar que um
corpo possui calor. Ele só pode ser verificado na fronteira de um sistema termo-
dinâmico quando não existe o equilíbrio térmico entre dois corpos. O conceito
de calor utilizado no cotidiano está ligado diretamente a ideia do calórico.

– 128 –
Primeira Lei da Termodinâmica

Antigamente, acreditava-se que existia uma substância que “fluía“ de


um corpo para outro e ela recebeu o nome de calórico. Percebemos que isso
é errado, uma vez que o termo ”calor” é a transição de energia de um corpo
de maior temperatura para um corpo de menor temperatura, e esse fluxo se
encerra quando o equilíbrio térmico é atingido. Outro fator que dificulta
o entendimento do calor e da temperatura é apresentada pela capacidade
dos materiais de transferir calor. Alguns exibem boa capacidade em transferir
calor enquanto outros são péssimos condutores, ou seja, mesmo materiais
com a mesma temperatura podem transferir quantidades diferentes de calor.
Podemos transferir energia entre um sistema e o seu ambiente na forma de
trabalho W, por meio de uma força atuando sobre um sistema.
Calor e trabalho, diferentemente da temperatura, da pressão e do
volume, não são propriedades intrínsecas de um sistema. Eles possuem signi-
ficado apenas quando descrevem a transferência do ambiente para o sistema.
O calor é positivo quando a energia se transfere do seu ambiente para uma
energia térmica do sistema (dizemos que o calor é absorvido). E é negativo
quando se transfere de uma energia térmica do sistema para o seu ambiente
(dizemos que o calor é liberado ou perdido). Antes de os cientistas se darem
conta de que o calor é a energia transferida, ele era medido em termos da sua
capacidade de aumentar a temperatura da água.
Assim, convencionou-se a caloria (cal) como a quantidade de calor que
elevaria a temperatura de 1 g de água de 14,5 0C para 15,5 0C. Em 1948, a
comunidade científica decidiu que já que o calor é energia transferida, a uni-
dade SI para o calor deveria ser a que usamos para energia, ou seja, o joule (J).

9.1.1 Trabalho
Neste tópico, estudaremos com mais detalhe como a energia pode ser
transferida na forma de calor (Q) e trabalho (W) entre um sistema e o seu
ambiente. As grandezas Q e W são características dos processos termodinâ-
micos pelos quais o sistema passa de um estado de equilíbrio para outro e são
verificados apenas na fronteira deste sistema. Dessa forma, se o sistema passa
por um processo saindo de um estado inicial i para outro estado final f, por
dois caminhos diferentes, para cada caminho os valores de (Q) e (W) serão,
em geral, diferentes. Definimos dessa forma (Q) e (W) como sendo:

– 129 –
Física I

Q = calor transferido entre o sistema e o meio durante o processo.


W = trabalho realizado durante o processo verificado na fronteira
do sistema.
Por exemplo, considere um sólido ou um fluido em um cilindro. Supo-
nha que a secção reta do cilindro possua área A e que a pressão exercida pelo
sistema sobre a face do pistão seja igual a P. A força total F exercida pelo
sistema sobre o pistão é dada por F = P A. Quando o pistão se move, a uma
distância infinitesimal dx, o trabalho dW realizado por essa força é:

dW = F dx = P A dx, porém (9.1)


A dx = dV (9.2)
Onde dVé uma variação infinitesimal do volume, com isso temos que a
variação finita de volume entre o estado inicial e final do trabalho é dada por:
Vf
W=
∫Vi PdV (9.3)

Figura 2 - Trabalho de compressão e expansão de um fluido dentro de um cilindro.

Pistão

Pistão

Compressão

Fluido Expansão
Fluido

Cilindro
Fonte: Mota, 2010. Cilindro

– 130 –
Primeira Lei da Termodinâmica

9.1.2 Trabalho realizado a temperatura constante


Suponha que um gás ideal em um arranjo pistão-cilindro se expanda de
um volume inicial Vi até um volume final Vf, enquanto mantemos a tempera-
tura T do gás constante. Um processo como este, em temperatura constante,
é chamado de expansão isotérmica, e o inverso (quando o V se reduz pela
compressão) é chamado de compressão isotérmica. Neste caso, o trabalho é:

Vf
W = N K T ln (9.4)
Vi
Trabalho realizado a pressão constante
W = p (Vf – Vi) (9.5)

Trabalho realizado a volume constante


W=0 (9.6)

9.1.3 Primeira Lei da Termodinâmica


A soma de todas as energias em um sistema é definido como energia
interna. O sistema é formado por átomos e moléculas que estão em constante
movimento, que podem ser de translação,rotação e vibração. Cada movimento
apresentado depende do grau de liberdade que as partículas atômicas possuem,
ou seja, quanto mais forte a ligação entre as partículas, menor é o grau de liber-
dade apresentada por elas no sistema. Logo, a energia interna de um sistema
depende da energia cinética, que pode ser proveniente de um ou mais tipos
de movimento e da energia de interação interatômica das partículas que for-
mam o sistema e, como tal, é uma propriedade dele. Quando um sistema passa
por variação ∆U na energia interna durante um processo, ela só dependerá do
estado inicial e do estado final do sistema, não dependendo do processo.

Importante
Além disso, se um sistema troca energia com a vizinhança por traba-
lho e por calor, então a variação da sua energia interna é dada por:

– 131 –
Física I

∆U = Q – W (9.7)
A equação 9.7 é a relação que representa o princípio de conservação
da energia do sistema quando ele passa por um processo trocando energia
em forma de calor (Q) ou trabalho (W), e é conhecida como a 1º Lei da
Termodinâmica, que pode ser verificada de maneira direta ou indireta para
todos os processos encontrados na natureza. Nesta equação, W representa a
quantidade de energia trocada pelo sistema com sua vizinhança em forma de
trabalho, por isso:
22 W>0 quando o sistema executa trabalho sobre o meio e se expande.
22 W<0 quando o sistema recebe trabalho do meio e sofre contração.
Além disso, Q representa a quantidade de energia trocada pelo sistema e
sua vizinhança em forma de calor, por isso:
22 Q > 0 quando o sentido do calor é da vizinhança para o sistema.
22 Q < 0 quando o sentido do calor é do sistema para a vizinhança.
Como foi relatado anteriormente, a energia interna é uma propriedade
do sistema , ou seja, a variação da energia interna (∆u) só depende do seu
estado inicial e final, mas as quantidades de energia em forma de trabalho
(W) e calor (Q) dependem de forma direta do caminho ( processo) que leva
do estado inicial até o final. Uma maneira de representar este processo está na
Figura 3, que será explicada.
Figura 3 - A variação da energia interna de um gás por três processos diferentes
P

1 A
P1

P2
B 2

V1 V2 V

Fonte: elaborada pelo autor, 2015.

– 132 –
Primeira Lei da Termodinâmica

A quantidade de energia em forma de trabalho realizado pelo sistema


sobre a vizinhança, no processo 1-A-2, é dada pela área abaixo da curva do
processo. A pressão constante 1-A, no processo 1-B-2, é dada pela área abaixo
da curva do processo. Já na pressão constante B-2 e no processo 1-2, o trabalho
é determinado pela área abaixo da curva correspondente. Dessa forma, verifi-
camos que a quantidade de energia associada ao trabalho depende do processo.
Por outro lado, se uma quantidade de energia em forma de calor entra
no sistema durante um processo com pressão constante, parte da energia fica
no sistema como energia interna, fazendo com que a temperatura suba, e
outra parte da energia sai do sistema em forma de trabalho, quando o sistema
expande aumentando seu volume. Se considerarmos que essa energia entre no
sistema e que o volume mantenha-se constante, o sistema não realiza trabalho
(ΔV=0) sobre a vizinhança e toda energia permanece no sistema como ener-
gia interna. Consequentemente, haverá um aumento na temperatura. Dessa
forma, a quantidade de calor depende do processo.
De acordo com a 1ª Lei, verificamos que a quantidade de energia tro-
cada em forma de trabalho e em forma de calor, entre o sistema e sua vizi-
nhança, dependem de forma direta do caminho, ou seja, do processo pelo
qual o sistema passa de um estado para o outro, e que a diferença entre elas
não depende.

Saiba mais
Quer aprofundar seus conhecimentos sobre a 1ª Lei da Termodinâ-
mica? Acesse o link: http://www.portaleducacao.com.br/pedago-
gia/artigos/67284/primeira-lei-da-termodinamica

Vamos colocar na prática o que vimos até agora? Acompanhe o exem-


plo retirado do site do curso de Física da Universidade Estadual do Mato
Grosso do Sul.
Exemplo 1
Calcule a variação da energia interna de uma amostra de um grama de
água na transição de fase em que ela passa de líquido para vapor, a uma tem-
peratura constante de 100 0C e com pressão constante de 1 atm.

– 133 –
Física I

Para resolvermos a questão acima, consideraremos o vapor d’água como


um gás ideal, de modo que o seu volume pode ser calculado pela equação de
estado de Clapeyron. O número de mols da amostra é:

n= 1g = 0,06mol
18 g/mol
O volume da amostra na fase de vapor é:

V2 = nRT = 1,84 × 10–3 m³


P
O volume da amostra na fase líquida, V1 = 10-3 m3 é muito menor do
que o volume da amostra na fase de vapor, V2 = 1,84 x 10-3 m3. Desse modo,
para calcular a quantidade de energia associada ao trabalho realizado pela
amostra de água sobre a vizinhança no processo de expansão de V1 para V2,
podemos desprezar V1. Com isso, podemos calcular o trabalho:

W = P ∆V = PV2 = 185, 84 JeO calor latente de vaporização da água tem


o valor L = 2,25 x 106 J / kg. Desse modo, a quantidade de energia associada
ao calor fica:

Q = Lm = 2250,00J
A variação da energia interna de uma amostra de um grama de água, na
transição de fase em que ela passa de líquido para vapor,com a temperatura
constante de 100 0C e a pressão constante de 1 atm é:
∆U = Q − W = 2064,16 J

9.1.4 Energia Interna de um gás ideal


A energia interna é um dos conceitos mais importantes da termodinâ-
mica. Para iniciarmos tal explicação, façamos a seguinte pergunta: o que é
energia interna? Uma das definições utilizadas é bem simples podemos dizer
que energia interna é a soma de todas as energias cinéticas de todas as par-
tículas, mais a soma de todas as energias potenciais que formam o sistema a
ser analisado.

– 134 –
Primeira Lei da Termodinâmica

O símbolo de energia interna é o U. Durante a mudança de estado de


um sistema o valor inicial é U1 e valor final U2. A variação da energia interna
é simbolizada por ΔU.
Para entendermos melhor a energia interna, estudemos o experimento
a seguir:
Dois recipientes, A e B, estão conectados, e existe uma válvula fechada
que mantém os recipientes isolados. No A existe certa quantidade de gás real
com pressão P e, no recipiente B, vácuo. Ambos estão em um banho térmico,
ou seja, mergulhados numa grande quantidade de água isolada do resto do
universo, a temperatura T e em equilíbrio com ela, conforme a Figura 4:
Figura 4 - Experiência sobre a energia interna de um gás ideal.

TERMÔMETRO

PAREDE ADIABÁTICA

A B

VÁCUO

ÁGUA

Ao abrir a válvula A, o gás deste recipiente passa para o recipiente B,


onde tem uma pressão externa de zero, por isso o nome dado a esse tipo de
expansão é Expansão Livre.
Sendo a pressão ao redor da vizinhança nula, temos que o trabalho do
gás W em relação à vizinhança será zero. Por outro ponto de vista, ao medir a
temperatura da amostra de gás quando é expandida para ambos os recipientes
após entrar em equilíbrio térmico, é verificado que a variação de temperatura
é diferente de zero.
Ao ser refeito o experimento, porém com uma quantidade diminuta de
gás, diminuindo a pressão, pode ser observado que a diferença de tempera-
tura citada acima decai, fazendo com que a temperatura inicial fique próxima
da temperatura final. Dessa forma, temos um processo onde podemos despre-
zar a diferença de temperatura, obtendo um processo isotérmico.

– 135 –
Física I

Podemos notar que não há fluxo de calor entre o sistema e a vizinhança.


Como o trabalho (W) na expansão livre é nulo, e não há transferência de
calor (Q), verifica-se, pela primeira lei, que a variação da energia interna é
nula (ΔU=0).

Você sabia
Ao falarmos de energia interna não incluímos a energia potencial que
ocorre entre as interações do sistema e suas vizinhanças. Exemplo: se
o sistema a ser estudado for um cópo de água, quando for colocado
no alto de uma prateleira, sua energia potencial relacionada à inte-
ração com a Terra será aumentada. Porém esse fato não mudará em
nada na energia de potencial,que ocorre entre as moléculas de água,
ou seja, a energia interna da água não mudará.

22 Entalpia
Entalpia é uma propriedade termodinâmica. Ela pode ser introduzida
nos estudos desta área de diversas maneiras. Um modo rápido, e relativa-
mente simples, é a que parte da primeira lei em sua forma diferencial:
dU = dw + dq (9.8)
Onde:
U = energia interna;
w = trabalho;
q = calor.
Supondo que a única forma de trabalho que o sistema apresenta é a de
expansão / compressão, a equação 9.8 pode ser reescrita da seguinte forma:
dU = -PdV + dq ⇒dq = dU +PdV (9.9)
Onde:
U = energia interna;

– 136 –
Primeira Lei da Termodinâmica

V = volume;
P = Pressão;
q = calor.
Porém, se a pressão for constante, podemos reescrever o segundo mem-
bro da equação 9.9:

d(U + PV): ⇒dq = d(U +PV) (9.10)

Onde :
U= energia interna;
P = pressão
V= Volume
q = Calor
Ao observarmos a relação U + PV, notamos que é uma relação de pro-
priedades termodinâmicas do sistema. Ou seja, é uma relação formada
por funções que têm diferenciais exatas. Assim, a variação de relação
depende exclusivamente do estado final e inicial. Esta relação foi cha-
mada de Entalpia e identificada pela letra H, onde podemos expressá-la
da seguinte forma:
H = U + PV (9.11)
Onde:
H = Entalpia
U = Energia Interna
P = Pressão
V = Volume
Um ponto importante é que mesmo que a Entalpia tenha sido desen-
volvida a partir de um processo isobárico, ela não serve apenas para
identificar quantidades de energia quando o processo ocorre em pressão
constante. Ela é utilizada em condições onde a relação U+PV aparece
nos processos termodinâmicos.

– 137 –
Física I

9.2 Transformações Gasosas


22 Transformação Isotérmica
22 É aquela onde ocorre a troca de calor;
22 O calor trocado pelo gás com o meio externo é igual ao traba-
lho realizado no mesmo processo;
22 Temperatura constante – variação de energia interna é nula.

22 Transformação Isobárica
22 A quantidade de calor recebida é maior que o trabalho realizado;
22 Pressão constante.

22 Transformação Isocórica
22 A variação de energia interna do gás é igual à quantidade de
calor trocada com o meio exterior;
22 Volume constante – trabalho realizado é nulo.

22 Transformação Adiabática
22 Um gás sofre transformação adiabática quando não há troca
de calor com o meio exterior (Q = 0);
22 Quando um gás está contido em um recipiente termicamente
isolado do ambiente;
22 Quando um gás sofre expansões ou contrações suficiente-
mente rápidas para que as trocas de calor com o ambiente
possam ser consideradas desprezíveis;

– 138 –
Primeira Lei da Termodinâmica

22 A variação de energia interna é igual em módulo e de sinal


contrário ao trabalho realizado na transformação;
22 O gás pode trocar energia com o ambiente, sob forma
de trabalho.

Expansão Adiabática:
22 O trabalho é realizado pelo gás – equivale a perda de energia
por parte do gás;
22 A temperatura, pressão e energia interna diminuem;
22 O trabalho aumenta.

Compressão Adiabática:
22 O trabalho é realizado sobre o gás – o gás está recebendo
energia do exterior;
22 A temperatura, pressão e energia interna aumentam;
22 O trabalho diminui.

22 Transformação Cíclica
22 Conversão de calor em trabalho e vice-versa;
22 No final do ciclo, o gás apresenta a mesma pressão, volume e
temperatura inicial;
22 Há transformação de calor em trabalho pelo gás ao se com-
pletar o ciclo;
22 Inversão do ciclo: conversão de trabalho em calor (máquinas
frigoríficas);
22 No ciclo, o calor total trocado “Q” e o trabalho realizado “W”
são iguais. O Trabalho também é igual à área do gráfico, vide
Figura 5.

– 139 –
Física I

Q =W (9.16)

Figura 5 - Representação gráfica da transformação cíclica.

V1 V2 V

Fonte: NUSSENZVEIG, 2002.

Exemplo 2:
Um sistema termodinâmico recebe calor Q = 100J, porém um gás rea-
liza trabalho W = 35 J sobre o sistema, sabendo que a energia interna do
sistema é de U = 150 J, qual é a energia interna após o recebimento?
Q = W + ΔU
100 = 35 + (U – 150)
U = 215J

Resumindo
Neste capítulo, observamos que calor e trabalho são processos termodi-
nâmicos que podem trocar energia com suas vizinhanças através de transfe-
rência de calor ou pelo trabalho realizado. Quando um sistema com pressão
P se expande de um volume V1 para um volume V2, dizemos que este sistema
realiza trabalho W, porém se a pressão P for constante, então o trabalho rea-

– 140 –
Primeira Lei da Termodinâmica

lizado pelo sistema é igual a pressão do próprio sistema, multiplicado pela


variação de volume do sistema ΔV.
Com isso temos que trabalho é : W = P ΔV
A Primeira Lei da Termodinâmica nos diz que: quando é fornecido um
calor Q ao sistema enquanto é realizado o trabalho W, da energia interna
varia de forma que: U = Q- W.
Essa lei também pode ser escrita no formato infinitesimal, usando as
derivadas parciais do sistema,:⇒ dQ = d(U +V).
Processos termodinâmicos são:
1. Processo adiabático: não há troca de calor nem para dentro do sis-
tema, nem para fora, ou seja Q = 0.
2. Processo Isocórico: o volume é constante, ou seja W =0.
3. Processo isobárico: a pressão é constante, ou seja, W = PΔV.
4. Processo isotérmico: temperatura constante.

Caloria: é uma unidade de medida de energia original-


mente definida como a quantidade de calor necessá-
ria para elevar a temperatura de um grama de água.
Energia: é a capacidade que um corpo, substân-
cia ou sistema físico tem de realizar trabalho.
Processo adiabático: consiste na descida de tempe-
ratura por mudança de pressão de um sistema.
Processo isotérmico: é aquele em que a tempera-
tura permanece constante durante o processo.
Processo isocórico: é aquele em que o volume está constante.
Sistema: Idealização onde um ou mais cor-
pos são considerados um único corpo.

– 141 –
10
Segunda Lei da
Termodinâmica

Desde a 1ª Lei da Termodinâmica, o calor é reconhecido como


uma forma de energia, e este princípio representa a relação da con-
servação, ou seja, em todos os processos a energia total é conservada.
Mas não encontramos na 1ª Lei nenhuma relação com o sentido em
que o fenômeno ocorre, dessa forma, todos os processos poderiam
ser invertidos, sem que violassem o princípio de conservação.
Contudo, isso não é verificado realmente. Observamos que
muitos processos tendem a ocorrer em apenas um sentido. Podemos
citar como exemplo o resfriamento de um corpo aquecido que, com
o passar do tempo, vai perdendo calor para o ambiente e sua tem-
peratura diminui até atingir o equilíbrio com o meio, e o oposto,
quando um corpo em equilíbrio com o ambiente, que recebe calor
e começa a se aquecer, mesmo não violando a 1ª Lei da Termodinâ-
mica. O que impede que processos como o apresentado acima não
ocorram no sentido contrário?
Física I

A resposta para esse questionamento está relacionada com a 2ª Lei da


Termodinâmica.

Objetivos de aprendizagem:
22 Entender a 2a Lei da Termodinâmica e saber aplicá-la nas máqui-
nas térmicas;
22 Entender o Ciclo de Carnot.

10.1 Processos reversíveis e irreversíveis


Considere que um sistema ideal, por exemplo, um gás com massa M
está contido dentro de um cilindro com pressão P, temperatura T e volume
V0. Se o sistema estiver em equilíbrio com o ambiente, essas características
termodinâmicas serão constantes com o tempo, dizemos que o sistema está
em equilíbrio termodinâmico.
Vamos imaginar que as paredes desse cilindro sejam isoladas e que só é
possível trocar calor por meio da base do cilindro. Colocando o cilindro em
contato com um reservatório térmico de temperatura T (mesma do gás) e o
volume do gás for reduzido para Vf (Vf < V0) em processo de compressão, esse
processo pode ocorrer de duas maneiras: lenta ou brusca.
Considerando que o processo ocorra devagar, podemos imaginar o pis-
tão do cilindro (sem atrito), inicialmente posicionado no esbarro superior
e, que a partir de um determinado momento, sejam depositados grãos de
areia sobre este pistão, fazendo com que o volume do gás se reduza de forma
gradual. Desta forma, a temperatura do gás aumentará de forma rápida, afas-
tando-o muito pouco do estado de equilíbrio. Por causa desse desequilíbrio,
uma pequena quantidade calor é transferida para o reservatório térmico e,
após um tempo, o sistema entrará em um novo equilíbrio, restabelecendo
sua temperatura inicial T. Se continuar o processo de jogar areia sobre pistão,
ocorrerá uma nova redução do volume do gás e um novo desequilíbrio infini-
tesimal, logo um novo estado de equilíbrio será encontrado e esse processo é
continuado até o volume Vf ser atingido.

– 144 –
Segunda Lei da Termodinâmica

Imaginando que o processo ocorra com variações menores de pressão


(menor quantidade de grãos), atingimos um processo ideal em que o sistema
passa por uma sucessão de estado de equilíbrio, que pode ser representado
por uma curva e, se esse processo for invertido por meio da diminuição da
quantidade de areia sobre o pistão, encontramos os mesmos estados de equi-
líbrio, ou seja, descreve a mesma curva e a este processo ideal chamamos de
processo reversível.
Para o processo que ocorre de maneira brusca, existe um desvio abrupto
do estado de equilíbrio, até que este equilíbrio seja restabelecido em um novo
estado termodinâmico. As propriedades termodinâmicas de pressão e tempe-
ratura ficam indeterminadas para todo o sistema, dessa forma, não podemos
representar o processo em uma curva, ou seja, o sistema passa por um pro-
cesso em que os estados intermediários são de não equilíbrio. Denominam-se
essas transformações como processo irreversível.

10.2 Ciclo de Carnot


Considerando um sistema contido em um cilindro, podemos alterar sua
vizinhança e submetê-lo a uma grande faixa de transformações. O sistema
pode expandir ou comprimir, colocando calor ou retirando calor, e esses pro-
cessos podem ocorrer de maneira reversível ou irreversível.
Um sistema pode passar por uma série de processos e retornar ao estado
original, a esta sequência chamamos de ciclo, se todos os processos forem
reversíveis, o ciclo será reversível.
A Figura 1 representa um ciclo reversível, em que o processo B (curva
superior) representa a expansão do sistema e a área abaixo dessa curva demons-
tra o trabalho pelo sistema para sair do estado 1 até o estado 2. O processo A
(curva inferior) representa a compressão do sistema e a área que esta abaixo
dessa curva indica o trabalho necessário para trazer o sistema ao estado inicial
(estado 1).
A diferença entre as áreas dos processos B e A representa o trabalho
líquido Wliq, realizado pelo sistema no ciclo, como mostrado a Figura 1, que
nesse caso é positivo. Isso é verificado pelo fato de que o trabalho executado
pelo sistema é maior que o trabalho para trazer o sistema para a situação ini-

– 145 –
Física I

cial. Como o ciclo é reversível, podemos invertê-lo, e o trabalho líquido dele


terá o mesmo módulo, mas com o sinal trocado.

Figura 1 - Diagrama P-V de um sistema que percorre um ciclo reversível com


trabalho líquido positivo

1 B

Wliq

2
A

V
Fonte: elaborado pelo autor, com base em Halliday; Resnick; Walker, 1996.

Importante
Um ciclo reversível é o de Carnot, que é usado para determinar a
capacidade máxima de converter calor em trabalho.

O ciclo é composto por dois processos isotérmicos e dois processos


adiabáticos, todos reversíveis. O sistema está contido em um cilindro com
paredes isoladas e com uma base condutora. Na vizinhança, dispomos de
dois reservatórios térmicos 1 e 2 com temperaturas T1 e T2 respectivamente,
sendo T1>T2 e o ciclo é executado em 4 estágios, conforme no diagrama P-V
Figura 2:u.

– 146 –
Segunda Lei da Termodinâmica

Figura 2 - O Ciclo de Carnot no diagrama P-V reversível.


P
P1 1

Q1

P2 2

P4
4
P3 3
Q2
V1 V4 V2 V3 V

Fonte: elaborada pelo autor, com base em Halliday; Resnick; Walker, 1996.
Estágio 1: o sistema é colocado em contato térmico com reservatório 1 (T1),
após o equilíbrio, o sistema apresenta o estado P1, T1, V1 e, então, é permitido
que o sistema expanda lentamente em um processo isotérmico reversível até que
atinja o estado P2, T1 e V2. Nesse processo, o sistema recebe uma quantidade de
calor Q1 do reservatório e executa trabalho ao deslocar o embolo.
Estágio 2: o cilindro é isolado do ambiente e é permitido que o sistema
expanda lentamente até atingir o estado P3, V3 e T2. No processo de expan-
são ocorre uma diminuição da temperatura, e o sistema executa trabalho.
Estágio 3: o sistema é colocado em contato térmico com reservatório
2 (T2) e comprimimos lentamente em processo isotérmico até que o estado
P4, V4 e T2 seja atingido. Nessa etapa, uma determinada quantidade de calor
deixa o sistema para o reservatório e o meio executa trabalho sobre o sistema.
Estágio 4: o cilindro é isolado da vizinhança e comprimimos lentamente
o sistema até que o estágio P1, V1 e T1 seja alcançado, ou seja, retorna a con-
dição inicial. O processo é adiabático e é realizado trabalho sobre o sistema,
tendo um aumento de temperatura.
O trabalho líquido realizado no ciclo é representado numericamente
pela área delimitada pelas curvas (1-2, 2-3, 3-4 e 4-1) mostrada na Figura

– 147 –
Física I

2. Pela 1ª Lei da Termodinâmica, a quantidade total de trabalho do ciclo


será igual a quantidade total de calor trocado entre o sistema e a vizinhança,
devido que a variação de energia interna ser nula.
O calor só é trocado nos processos isotérmicos, assim o sistema recebe
calor Q1 do reservatório 1, no estágio 1, e rejeita o calor Q2 para o reservató-
rio 2, no estágio 3, e o calor total do ciclo é então representado por Q1-Q2.
Logo, o trabalho líquido executado em cada ciclo é igual:
W = Q1 – Q2 (1)
O resultado final do ciclo é a conversão de calor em trabalho, ou seja,
o sistema se comporta como uma máquina térmica (Figura 3a) e qualquer
quantidade de calor pode ser obtida reexecutando o ciclo.

Máquinas térmicas são dispositivos concebidos para converter


calor em trabalho útil, ou seja, parte da energia que fluI pelo fluído
é convertido em energia mecânica, a relação entre essas duas
formas de energias é conhecida como rendimento ou eficiência.

O rendimento ou eficiência de uma máquina térmica é definido como
a razão entre o trabalho útil executado pela máquina durante um ciclo e a
quantidade de energia em forma calor fornecida ao sistema no ciclo. Logo:
Q1 – Q2 Q2
η= W = =1–
Q1 Q1 Q1 (2)
A equação do rendimento mostra que uma máquina térmica não
consegue converter toda a energia em trabalho, não atingindo 100% de
rendimento.
O Ciclo de Carnot é tipicamente o de uma máquina térmica. No caso
de se inverter o ciclo, a quantidade de calor que será fornecida a ele advêm
do reservatório de T2, ou seja, Q2. Para que seja possível que o ciclo ignore
calor para o reservatório 1, será necessário que um agente externo execute o
trabalho sobre o fluído, aumentando sua temperatura de T2 para T1 e, dessa
forma, permitindo a troca de calor no reservatório 1. Portanto, o ciclo se

– 148 –
Segunda Lei da Termodinâmica

comporta como um refrigerador (Figura 4a), retirando calor de um reserva-


tório de baixa temperatura (Fonte Fria) para um reservatório de alta tempe-
ratura (Fonte Quente) por meio do trabalho externo fornecido ao sistema.
Exemplo 1: demonstre que o rendimento da máquina de Carnot, que
utilize o gás ideal como fluído de trabalho, é dado por:

η = T1 – T2
T1
A troca de calor no Cde Carnot ocorre sempre nos processos isotérmi-
cos, logo a energia interna do gás nesses processos é constante. Pela primeira
Lei da Termodinâmica Q = W .
V
O trabalho do processo isotérmico é dado por W = nRTln f , para o
Ciclo de Carnot (Fig.2) temos: V 0

V2 V
Q1 = W = nRT1ln e Q2 = W = nRT2ln 4
V1 V3 V2
T1 * ln
Q V1
Fazendo a razão entre as trocas de calor temos: 1 = .
Q2 V4
T2 * ln
V3
No processo isotérmico, podemos usar a equação dos gases e determinar
a relação entre o estado inicial e final nos caminhos 1-2 e 3-4 :
T1 * V1 = P2 * V2 e P3 * V3 = P4 * V4

Nos caminhos 1-4 e 2-3 não há troca de calor e podemos usar a equação
de estado no processo adiabático para determinar a relação entre os instantes
inicial e final, logo temos:
P2 * V2 γ = P3 * V3 γ e P2 * V4 γ = P1 * V1 γ
Combinando as equações e simplificando resulta em:

(V2 * V4) γ–1 = (V1 * V3) γ–1


E, finalmente V2 / V4 = V3 / V4. Utilizando essa informação na expressão
Q
da razão 1 obtemos:
Q2

– 149 –
Física I

Q 1 T1
=
Q2 T2
Q1 T
Substituindo na equação do rendimento: η = 1 – =1– 2
Q2 T1
T 1 – T2
E, finalmente: η =
T1

10.3 Segunda Lei da Termodinâmica


No começo, as máquinas térmicas eram dispositivos ineficazes, em que ape-
nas uma pequena parcela de calor era convertida em trabalho útil. Independente
dos avanços técnicos alcançados nos projetos, ainda uma porcentagem considerá-
vel de calor cedido ao sistema era descartado no reservatório de baixa temperatura.
O desejo de construir uma máquina que convertesse todo o calor em trabalho útil
permanecia. A máquina “perfeita” seria um dispositivo que não necessitaria de
um reservatório com temperatura superior que sua vizinhança e simplesmente
converteria toda energia em forma de calor em trabalho útil (Figura 3b).

Figura 3 – (a) máquina térmica real parte do calor absorvido na fonte quente e é convertido
em trabalho e (b) máquina perfeita todo calor absorvido é convertido em trabalho.

Fonte quente Fonte quente

Q1 Q

W= Q1 - Q2
W=Q
Q2

Fonte fria

Máquina térmica real Máquina térmica perfeita

Fonte: elaborada pelo autor, com base em Halliday; Resnick; Walker, 1996.

– 150 –
Segunda Lei da Termodinâmica

Podemos, de modo semelhante, projetar um refrigerador “perfeito” que


transfira calor de um reservatório de baixa temperatura para um de alta tem-
peratura, sem a necessidade do trabalho externo sobre o sistema (Figura4b).
As considerações levantadas acima não violam a 1ª Lei da Termodinâmica,
ou seja, todos os processos conservam a energia total. Mas essas idealizações
jamais serão alcançadas.
Figura 4- (a) - em um refrigerador real é necessário uma quantidade de trabalho para
transferir calor da fonte fria para a fonte quente. (b) em um refrigerador perfeito deveria
haver um fluxo de calor espontâneo da fonte fria para fonte.

Fonte quente Fonte quente

Q 1 = Q2 + W Q

Q2 Q

Fonte fria Fonte fria

Refrigerador real Refrigerador perfeito

Fonte: elaborada pelo autor, com base em Nussenzveig, 2001.

A segunda Lei da Termodinâmica é uma generalização experimental que


afirma que os dispositivos perfeitos não podem existir. Existem duas maneiras
na qual a segunda lei é anunciada, mas elas são equivalentes.

Importante
O físico Clausius enunciou a segunda lei para os refrigeradores: é
impossível uma máquina cíclica produzir como único efeito a transmis-
são de calor de um corpo para outro que esteja a maior temperatura.
Essa enunciação descarta a possibilidade de construir um refrigerador
perfeito (Fig. 4b ). Experimentalmente, é constatado que quando

– 151 –
Física I

dois corpos estão em contato térmico, o calor é transferido do corpo de


maior temperatura para o de menor temperatura e, a segunda lei mostra
que o contrário não ocorrerá sem que haja um fornecimento de trabalho
para o sistema.
Kelvin e Planck enunciaram a segunda lei para as máquinas térmicas:
uma transformação cujo único resultado final seja transformar em tra-
balho o calor extraído de uma fonte, que esteja em todos os pontos
à mesma temperatura, é impossível. Logo, a máquina térmica perfeita
(Fig. 3b) fica excluída, pelo fato de que é impossível produzir trabalho
útil extraindo calor de uma única fonte sem descartar parte dessa energia
com uma fonte de menor temperatura.

10.4 A equivalência entre os dois enunciados


A equivalência dos enunciados é verificada por meio da impossibilidade. A
impossibilidade de um enunciado acarreta na impossibilidade do outro e vice-versa.
Consideramos inicialmente que um refrigerador perfeito existe (violação da
hipótese de Clausius) e que podemos acoplar um motor real. Esse refrigerador
transfere para a fonte quente a quantidade de calor Q2 transferida pelo motor para
fonte fria. O resultado líquido seria remover um calor Q1-Q2 da fonte quente pelo
motor e convertê-lo inteiramente em trabalho W, ou seja, seria a equivalência de
um motor perfeito, violando a hipótese de Kelvin (Fig. 5).

Figura 5 - Violação de Clausius implica na violação de Kelvin

Fonte quente
Máquina térmica
Q2 Q1

W= Q1 - Q2
Q2 Q2
Refrigerador perfeito
Fonte fria

Fonte: elaborada pelo autor, com base em Nussenzveig, 2001.

– 152 –
Segunda Lei da Termodinâmica

Consideramos agora um motor térmico perfeito (violação da hipótese de


Kelvin) e que podemos acoplar um refrigerador real. Esse motor converteria a
quantidade de calor Q1-Q2 integralmente em trabalho, onde Q1-Q2 é dife-
rença entre a fonte quente e fria. Esse trabalho será usado para alimentar o
refrigerador real. O resultado líquido do ciclo seria a transferência integral da
quantidade Q2 da fonte fria para quente sem nenhum outro efeito, transfor-
mando o refrigerador real em perfeito, violando a hipótese de Clausius (Fig. 6).

Figura 6 - Violação de Kelvin implica na violação de Clausius

Fonte quente
Máquina perfeitta

Refrigerador real
Fonte fria

Fonte: elaborada pelo autor, com base em Nussenzveig, 2001.

Conforme apresentado acima, iniciamos com um caso impossível e


verificamos que a máquina resultante também é um caso impossível. Dessa
forma, concluímos que as duas hipóteses são equivalentes.

10.5 Rendimento das Máquinas


Carnot foi pioneiro no estudo científico das máquinas térmicas, publicando
sua obra Reflexões sobre a Potência Motriz do Fogo em 1924. Nessa obra, ele
formulou um teorema de grande importância prática.

Importante
Vamos entender o teorema de Carnot:
1) Nenhuma máquina térmica apresenta um rendimento maior que

– 153 –
Física I

uma máquina de Carnot operando nos mesmos reservatórios (fontes)


térmicos.
2) Todas as máquinas de Carnot que operam entre os mesmos reser-
vatórios térmicos apresentam o mesmo rendimento.

Consideramos o motor de Carnot como P, e que Q seja um motor tér-


mico qualquer, operando entre as mesmas fontes.
Podemos fazer alterações nos ciclos das máquinas para que ambas execu-
tem a mesma quantidade de trabalho, ou seja, considerar sempre um número
de ciclos diferente para cada máquina para que os trabalhos sejam Wp = Wq.
(NUSSENZVEIG ,2001).

Figura 7 - (a) máquina real (b) máquina de Carnot

Fonte quente Fonte quente

Q"1 Q1

W W
Wp= Q"1 - Q"2 Wq= Q1 - Q2

Q"2 Q2

Fonte fria Fonte fria

(a) (b)

Fonte: elaborada pelo autor, com base em Nussenzveig, 2001.

Considerando que as máquinas na Figura 7 já tenham sido ajustadas,


verificamos que o trabalho é o mesmo para ambos, e definimos as quantida-
des de calor com as duas fontes Q1 e Q2 para P e Q1’ e Q2’ para Q. Pela
equação de rendimento, podemos definir o correspondente de cada máquina:
Q2 W
ηp = 1 – =
Q1 Q1

– 154 –
Segunda Lei da Termodinâmica

Q2’ W’
ηq = 1 – =
Q1’ Q1’
Suponhamos que:
ηp > ηq, Logo Q1’ < Q1 e Q2’ < Q2
Como a máquina de Carnot é reversível podemos inverter seu funciona-
mento e transformá-la em um refrigerador e usar o trabalho máquina térmica
Q para acioná-la.
W = Q’1 – Q’2 = Q1 – Q2

Figura 8: Máquina de Carnot

Fonte quente

Q1 Q"1

Máquina
real
Refrigerador
carnot Q2 Q"2

Fonte fria

Fonte: elaborada pelo autor, com base em Nussenzveig, 2001.

O acoplamento de Q em P seria equivalente transferir em cada ciclo


um quantidade liquida de calor Q2-Q2’=Q1-Q1’>0 da fonte fria para fonte
quente, sem nenhum outro efeito violando a 2ª Lei da Termodinâmica, logo
concluímos que:
Demonstrando dessa forma a validade da primeira parte do teorema
de Carnot.
Podemos usar o mesmo pensamento e considerar que a máquina térmica
Q é substituída por uma máquina de Carnot p’ e realizar as mesmas consi-
derações. Como as máquinas de Carnot só dependem das temperaturas das
fontes as quantidades de calor trocadas são as mesmas, logo:

– 155 –
Física I

Dessa forma, todas as máquinas de Carnot que operam entre as mesmas


fontes apresentam igual rendimento e pela (8), o rendimento independe da
natureza do sistema ou do fluído de trabalho.
Exemplo 2: Uma máquina real opera entre reservatórios térmicos a 500
K e a 300 K . A máquina remove 500kJ de calor do reservatório quente e
efetua 150kJ de trabalho durante cada ciclo. Determine:
a. Rendimento da máquina.
b. Rendimento máximo termodinâmica
O trabalho executado pela máquina a cada ciclo W = 150kJ.
O calor removido pela fonte quente Q1 = 500kJ .
Usando a equação de rendimento (relação (2)) temos:
W 150
η= = = 0.3
Q1 500
η = 30%
O rendimento máximo é determinado por uma máquina de Car-
not, usando a relação desenvolvida no exemplo 1, obtemos:
T1 = 500 K é a temperatura da fonte quente.
T2 = 300 K é a temperatura da fonte fria .
T –T 500 – 300
η= 1 2 = = 0.4
T1 500
η = 40%
Com isso verificamos que a máquina de Carnot apresenta um rendimento
maior que uma máquina real trabalhando entre os mesmos reservatórios.

Saiba mais
A eficiência de um refrigerador é expressa em termos do Coeficiente
de desempenho (COP), que é designado pelo símbolo ß. No caso
do refrigerador, o objetivo (ou seja, a energia pretendida) é Q2, o calor
transferido do reservatório de baixa temperatura, e a energia gasta é o

– 156 –
Segunda Lei da Termodinâmica

trabalho, W. Assim o coeficiente de desempenho é dado por:


Q2 Q1
COP = =
W Q 1 – Q2

Você sabia
A primeira máquina térmica que se tem noticia foi inventada por Heron
da Alexandria. Em seu trabalho, Heron descreveu o seu conceito de
uma máquina a vapor, que era um dispositivo ineficiente. Chamou-o
de uma aeolipile, ou “bola de vento”. Seu projeto era um caldeirão de
água selado que foi colocado sobre uma fonte de calor. Como era água
fervida, o vapor subia nos tubos e na esfera oca. O vapor escapava de
dois tubos dobrados tomados sobre a bola, resultando em rotação da
bola.  Heron não considerou esta invenção útil para aplicações coti-
dianas, mas sim como uma novidade, um brinquedo extraordinário. O
motor a vapor teve novo surgimento em 1698, quando Thomas Savery
inventou uma bomba a vapor. A primeira máquina a vapor prática foi
a atmosférica de Thomas Newcomen, em 1701. Foi usado para operar
bombas em minas de carvão. Em 1804, o inventor Inglês Richard Trevi-
thick introduziu a locomotiva a vapor no País de Gales. Em 1815, George
Stephenson construiu a primeira a locomotiva a vapor viável do mundo.
James Watt, quando trabalhava na Universidade de Glasgow, realizou
modificações na máquina de Newcomen e melhorou sua eficiência,
semelhante ao do motor ainda hoje em uso, com condensador, caixa
de distribuição e sistema biela-manivela, para obter o movimento rota-
tivo a partir do alternado.
Fonte: https://gptsunami2m2.wordpress.com/principais-cientistas-
envolvidos-com-a-invencao-da-maquina-termica/

Resumindo
Processos reversíveis e irreversíveis: reversível é um processo que ocorre
com mudanças infinitesimais nas condições dos processo, em que o sistema
está sempre em equilíbrio térmico. Todos os demais processos são irreversíveis.

– 157 –
Física I

Máquinas térmicas: é um dispositivo construído para converter calor de


uma fonte de alta temperatura em trabalho útil, rejeitando calor para uma
fonte de baixa temperatura, em que o trabalho é dado por:
W = Q1 – Q2
O rendimento de uma máquina é um fator que determina a quantidade
de trabalho que ela converte ao receber calor de uma fonte.
Q1 – Q2 Q2
η= W = =1–
Q1 Q1 Q1
Refrigerador: é um dispositivo que retira calor de uma fonte com baixa
temperatura e transfere calor para uma fonte de alta temperatura mediante
um trabalho fornecido ao sistema.
Segunda Lei da Termodinâmica: a segunda lei indica o sentido da reali-
zação de um processo termodinâmico. Sendo descrita por vários enunciados,
mas todos equivalentes. O enunciado da máquina térmica diz que nenhuma
máquina pode converter totalmente calor em trabalho. O enunciado do refri-
gerador diz que não é possível transferir calor de uma fonte fria para uma
fonte quente de maneira espontânea, ou seja, sem trabalho.
Ciclo de Carnot: opera entre dois reservatórios de calor com tempera-
turas T1 e T2 e só usa processos reversíveis, é o ciclo que apresenta a maior
eficiência e nenhuma outra máquina apresenta um rendimento maior que a
máquina de Carnot. A máquina de Carnot pode ser invertida e se transforma
em um refrigerador de Carnot e o rendimento independe do fluído de traba-
lho, só dependendo das temperaturas dos reservatórios. E o rendimento da
máquina térmica é dada por:
T
η=1– 2
T1

Equilíbrio termodinâmico: é quando o sistema está livre de


perturbação e as propriedades medidas valem para todo o sistema.
Reservatório térmico: é uma fonte que troca calor com o sis-
tema sem que haja alteração em sua temperatura, sendo uma
característica do sistema de grande massa como o oceano.

– 158 –
Segunda Lei da Termodinâmica

Rendimento ou Eficiência: é uma grandeza que mede a capa-


cidade de uma máquina converter calor em trabalho útil.
Máquina de Carnot: é uma máquina tér-
mica que opera no ciclo de Carnot.
Processo: é a mudança nas características termodinâmicas.
Processo cíclico: é a sucessão de processo sofrida
pelo sistema até ele voltar ao estado inicial.

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Conclusão
Física I

Nesta disciplina, procuramos direcionar os textos aos alunos que estu-


dam cálculos, com o objetivo central de estruturar uma base sólida com os
princípios da física clássica e, dessa forma, capacitar os estudantes a solucio-
nar os problemas apresentados. Mostramos também uma aplicação prática do
conceito da física referente ao estudo.
Dividimos esta disciplina em dez capítulos, sendo eles: Movimento Uni-
dimensional, Vetores, Movimento no plano e no espaço, Leis de Newton,
Trabalho e Energia, Conservação do Momento Linear, Fluidos, Termodinâ-
mica, Primeira Lei da Termodinâmica e a Segunda Lei de Termodinâmica.
O conteúdo de cada capítulo objetivou :
1. Proporcionar uma introdução equilibrada dos conceitos físicos
e fenômenos mais importantes da física clássica e moderna, de
forma a mostrar a beleza e o encantamento da física e também ter
uma fundamentação sólida para estudos mais aprimorados sobre
o assunto;
2. Apresentar a física de forma lógica, clara e coerente, tornando o
assunto interessante e acessível ao estudante;
3. Ajudar o aluno a desenvolver uma autoconfiança na compreensão
do estudo da física e na resolução de problemas;
4. Estimular o estudante na exposição de algumas aplicações da física e
em desenvolvimentos da física no dia a dia e na tecnologia utilizada.
Ao longo desta disciplina, levamos o aluno ao conhecimento da ciência
física de forma clara e coesa, unindo o ensino tradicional e o novo, estimu-
lando-o a usar os conhecimentos apresentados aqui em seu cotidiano e reco-
nhecer as aplicações da física no mundo moderno em que vivemos hoje.

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Referências
Física I

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Os semestres iniciais de um curso da área de exatas como a engenha-
ria de produção, civil ou mecânica, são os mais difíceis. Nesta disciplina, são
desenvolvidas várias das ideias, conceitos e métodos fundamentais para um
engenheiro. O estudante que tenha compreendido de forma clara os concei-
tos básicos desenvolvidos nesta disciplina terá transposto a maior parte das
dificuldades de aprendizagem da física.
Um jogo não será divertido a menos que conheçamos as suas regras.
Analogamente, não poderemos apreciar ao máximo o mundo ao nosso redor
a menos que tenhamos entendido as leis da física. Ela nos mostra como tudo
na natureza está surpreendentemente integrado. Há várias razões para estudar
física: como cidadãos atuantes, a estudamos para aprimorar o modo como
enxergamos o nosso mundo e para o nosso crescimento pessoal. Como estu-
dante e futuro engenheiro, você deve desenvolver as técnicas e a arte de con-
jugar os conhecimentos da física com a sua viabilidade técnico-econômica
para o  aprimoramento, concepção, e implementação de bens e utilidades,
tais como estruturas, sistemas ou processos, que desempenhem funções e/ou
objetivos preestabelecidos.
Por exemplo, nesta disciplina você estudará várias forças e interações,
entre elas a força de atrito. O atrito é um fator importante em muitas disci-
plinas de engenharia. Os freios dos automóveis dependem do atrito, dimi-
nuindo a velocidade de um veículo por meio da conversão de sua energia
cinética em calor. A dispersão desta grande quantidade de calor de modo
seguro é um desafio técnico para os engenheiros na concepção de sistemas
de freio.

ISBN 978-85-60531-37-0

9 788560 531370

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