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Educação FÍSICA II Cleverson Alessandro Thoaldo

Cleverson Alessandro Thoaldo


FÍSICA II
Física II

Cleverson Alessandro Thoaldo

Curitiba
2016
Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501

T449f Thoaldo, Cleverson Alessandro


Física II / Cleverson Alessandro Thoaldo. – Curitiba: Fael, 2016.
232 p.: il.
ISBN 978-85-60531-62-2

1. Física I. Título

CDD 530

Direitos desta edição reservados à Fael.


É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.

FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão e Diagramação Editora Coletânea
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Capa Vitor Bernardo Backes Lopes
Imagem da Capa Shutterstock.com/Feng Yo/Jesus Cervantes
Revisão de diagramação Evelyn Caroline dos Santos Betim
Sumário

Carta ao Aluno  |  5

Introdução | 7

1. Campo elétrico  |  9

2. Lei de Gauss | 33

3. Potencial Elétrico  |  53

4. Capacitores | 73

5. Circuito Elétrico  |  95

6. Campo Magnético e Forças Magnéticas  |  123

7. Indução | 143

8. Corrente alternada  |  161

9. Equações de Maxwell e ondas eletromagnéticas  |  181

10. Luz e suas propriedades  |  201

Conclusão | 229

Referências | 231
Carta ao Aluno

Prezado(a) aluno(a),
Este material foi elaborado pensando em deixar de forma
clara e de fácil entendimento os conceitos físicos abordados, com
textos leves e descontraídos, sem deixar o rigor cientifico que é exi-
gido pela física.
Os capítulos apresentam um breve histórico da evolução e aplicação da
teoria que será abordada, mostrando ao aluno a evolução e aplicação da física.
Após a abordagem dos conteúdos é realizada a fixação da teoria, com exem-
plos resolvidos e aplicações do cotidiano. Ao final de cada capitulo, encontra-
-se um quadro resumo, no qual estão as principais ideias e equações que
foram apresentadas.
O objetivo desse trabalho é colaborar no processo de ensino-aprendiza-
gem, e mostrar que a física não é uma ciência fria, e representa a própria evo-
lução do homem. Espero cumprir esse papel fornecendo ao aluno o conheci-
mento e, quem sabe, o gosto por estudar e entender a física.
Introdução

As crianças, em geral, apresentam certa curiosidade sobre os


acontecimentos que as cercam e fazem muitas perguntas às pessoas
mais velhas. Essa curiosidade não tem limite, e a imaginação toma
asas. Muitas vezes, responder perguntas para essas mentes curiosas
não é uma tarefa simples e, dependendo da pergunta, a resposta é
muito complexa.
Física II

Por que as coisas caem? Por que a luz acende? Por que as estrelas apare-
cem de noite? Por quê...?
A curiosidade que move essas crianças é mesma curiosidade que levou
os homens a responder a questões sobre a natureza, buscando explicações
para fenômenos intrigantes. E nessa corrida para saciar a sede de curiosidade
dos homens a Física foi se desenvolvendo, tomando forma a cada ano, a cada
década, a cada século, e se tornando uma ciência importantíssima para o
desenvolvimento da humanidade.
As teorias evoluíram, determinado conhecimento foi superado por outro
e ideias antigas deram lugar para novas. Essa construção é crescente e nos leva
a um nível inimaginável.
Entender Física é entender o mundo que nos cerca, avaliar a direção em
que estamos caminhando e o quão longe podemos chegar no mundo das ideias.

–  8  –
1
Campo elétrico

Diz o ditado popular: “Um raio não cai duas vezes no mesmo
lugar”. Parte desse conhecimento é construído com base em obser-
vação, mas não é verdade que raios não caem nunca duas vezes
no mesmo lugar. Aliás, eles podem cair até mais de duas vezes no
mesmo lugar.
Física II

O estudo sobre os conceitos de campo elétrico e força elétrica permite


entender a natureza dos raios, da eletricidade e das outras forças envolvidas.
Neste capítulo, apresenta-se o estudo da eletricidade com a eletrostática, as
cargas elétricas em repouso, os condutores e os isolantes, a lei de Coulomb, o
campo elétrico e as linhas de campo.
Nos dias atuais, há uma dependência extrema da eletricidade e, conse-
quentemente, dos aparelhos eletrônicos. É impossível imaginar nossa vida
sem eles e considerar o tempo em que as casas não tinham luz elétrica nem
televisão ou chuveiro elétrico para tomar um banho bem quentinho.
Dentro da cronologia histórica, esse conforto existe há menos de um
século. As ideias de eletricidade, com o surgimento das primeiras lâmpadas,
começaram a se desenvolver e ser aplicadas há pouco mais de um século.

1.1 Carga elétrica


A matéria é formada, em sua estrutura, por átomos. O átomo é consti-
tuído por um núcleo, formado por prótons e nêutrons, e, orbitando em volta
desse núcleo estão os elétrons. Os átomos presentes na natureza são consi-
derados eletricamente neutros, ou seja, têm a mesma quantidade de prótons
e elétrons. Pode-se imaginar que existe um equilíbrio entre essas partículas.
Na figura 1.1, mostra-se a ideia de um átomo que contém quatro prótons e
quatro elétrons em um modelo atômico simples.
Figura 1.1 – Representação de um átomo em equilíbrio elétrico

–  10  –
Campo elétrico

Quando um átomo, por algum motivo, perde ou ganha um elétron,


o sistema fica em desequilíbrio. Se isso acontece, diz-se que o átomo ficou
carregado eletricamente. Nessa situação, o que define a carga elétrica de um
átomo são os elétrons perdidos ou ganhos nos processos.
A carga elétrica de um elétron ou de um próton são iguais em módulo.
A carga elétrica do próton é e, já a carga elétrica do elétron é ‒e. O ele-
mento e é chamado de unidade fundamental de carga, medida em cou-
lombs, e seu valor é:
e = 1,602177 ⋅ 10−19 ≈ 1,6 ⋅ 10−19C (1)

e = −1,6 ⋅ 10−19C

P =+1,6 ⋅ 10−19C

Então, para saber a carga elétrica de um corpo deve-se saber quantos


elétrons esse corpo perdeu ou ganhou e multiplicar por e.
Matematicamente, a equação para a determinação da carga elétrica é
definida por:
Q=± N ⋅ e (2)
onde Q é a carga elétrica e N é o número de elétrons perdidos e ganhos.
A unidade de carga elétrica é, portanto, o coulomb (C). A determinação do
sinal positivo ou negativo para a carga elétrica depende se o corpo apresenta
mais ou menos elétrons do que prótons ao final do processo de eletrização. Se
tiver mais elétrons do que prótons, a carga será negativa; se tiver mais prótons
do que elétrons, a carga será positiva.

Exemplo 1.1
Um corpo eletricamente neutro perde elétrons em um processo. Deter-
mine a carga elétrica desse corpo.

Solução
Aplicando a equação (2) e considerando a carga elementar e, tem-se:
Q =±N ⋅ e

–  11  –
Física II

Q =±3 ⋅ 1012 ⋅ 1,6 ⋅ 10−19 C

Q =±4,8 ⋅ 10−7 C

Como o corpo estava neutro e perdeu elétrons, prevalece a carga positiva dos
prótons. Logo, a carga desse corpo é:
Q = 4,8 ⋅ 10−7 C

Exemplo 1.2
Um pente de plástico é friccionado em um pedaço de lã e fica carregado
com uma carga elétrica igual a -10 µC. Quantos elétrons foram transfe-
ridos nesse processo?
Solução
Pode-se omitir o sinal negativo da carga elétrica na expressão e usar o valor da
carga elétrica em módulo na equação (2), pois o sinal negativo representa somente
a falta de elétrons ou o excesso de elétrons. Aplicando a equação (2) tem-se:
Q =±N ⋅ e

10 ⋅ 10−6 = N ⋅ 1,6 ⋅ 10−19

10 ⋅ 10−6
N=
1,6 ⋅ 10−19

N = 6,25 ⋅ 1013 elétrons


A carga elétrica de 1 C é considerada uma carga elétrica alta. Então
costuma-se utilizar submúltiplos de coulomb, como milicoulomb (mC=10-3)
e microcoulomb (µC=10-6).

1.2 Condutores e isolantes


Os fios elétricos são normalmente feitos de um tipo de metal. Quando
estão desencapados, podem dar choques em quem tocá-los, pelo fato de
serem condutores de eletricidade.

–  12  –
Campo elétrico

Outros materiais de substâncias diferentes possuem estrutura atômica


diversa, variando também as forças atômicas de interação dessas partículas.
Nos metais, por exemplo, que são ótimos condutores, os elétrons que estão
nas órbitas mais externas do átomo possuem uma força de atração com o
núcleo que é fraca o suficiente para que se tornem livres.
Esses elétrons podem movimentar-se no interior de um corpo, passando
de um átomo para outro, por isso são chamados de elétrons livres. Eles têm
grande facilidade de movimento, que os torna bons condutores. Os corpos
condutores, então, são aqueles em que os elétrons livres têm facilidade de
movimento no interior, permitindo a formação de corrente elétrica.
De maneira contrária, os corpos que são considerados isolantes são
aqueles em que os elétrons estão mais fortemente ligados ao núcleo e não
podem movimentar-se facilmente no interior do corpo. Os isolantes são
corpos que não possuem elétrons livres em quantidade suficiente para con-
duzir eletricidade.

Condutores são materiais em que os elétrons


livres se movem com facilidade, e isolantes
são aqueles em que os elétrons não podem
movimentar-se facilmente no interior do corpo.

São exemplos de materiais condutores: metais (ferro, cobre, alumínio),


grafite, soluções aquosas (ácidos, sulfato de cobre), água (da torneira, salgada,
ionizada) e ar úmido. São exemplos de materiais não condutores: borracha,
madeira, cortiça, vidro, plástico, água não ionizada, ar seco.

1.3 Processos de eletrização


Esses processos de eletrização são maneiras de se deixar um corpo carre-
gado positiva ou negativamente. No dia a dia, realizamos vários desses pro-
cessos sem nem percebermos: ao retirar uma blusa de lã, ao andar de carro ou
pentear os cabelos.

–  13  –
Física II

Os processos de eletrização são:


22 Eletrização por atrito
Quando dois corpos de materiais diferentes sofrem atrito entre si,
pode ocorrer a passagem de elétrons de um corpo para outro. Por
exemplo, se esfregarmos um bastão de plástico em um pedaço de
lã, ambos inicialmente neutros, observaremos que passam a mani-
festar propriedades elétricas. Nesse caso, os elétrons são transferidos
da lã para o bastão de plástico.
É importante observar que, nesse processo, os dois corpos ficam
carregados com cargas iguais em módulo, mas com sinal contrário,
como mostrado na Figura 1.2.
Figura 1.2 – Processo de eletrização por atrito

22 Eletrização por contato


Colocam-se dois corpos condutores em contato. Considerando que
um deles está eletrizado e o outro está neutro, pode ocorrer a passa-
gem de elétrons de um corpo para outro, tornando assim eletrizado
o corpo que estava inicialmente neutro.
Nesse processo, os corpos ficam carregados com cargas de mesmo
sinal. Fazendo a soma das cargas elétricas dos corpos antes e depois
do processo de eletrização por contato, o resultado algébrico para a
carga total tem de ser o mesmo, se o sistema for isolado.
22 Eletrização por indução
Na eletrização por indução, não há atrito nem contato entre os cor-
pos. O processo ocorre pela aproximação entre um corpo eletrizado
e um corpo neutro. Considere-se, por exemplo, um condutor neu-

–  14  –
Campo elétrico

tro e um corpo carregado negativamente. Ao aproximar os corpos,


os elétrons livres do corpo neutro tendem a se afastar do corpo que
está carregado negativamente, como mostra a Figura 1.3, como se
houvesse uma separação interna das cargas nesse corpo.

Figura 1.3 – Eletrização por indução

Nesse processo, ocorre apenas uma separação entre algumas cargas


positivas e negativas do corpo. Fazendo uma ligação do corpo em
que houve a separação de cargas à terra, os elétrons livres passam
para a terra, a fim de reestabelecer o equilíbrio eletrostático do sis-
tema.

Figura 1.4 – Corpo eletrizado por aterramento

Após desfazer o aterramento, o corpo fica carregado positivamente.

Exemplo 1.3
Considere três corpos metálicos idênticos e isolados um do outro. Os
corpos A e B estão neutros e o corpo C contém uma carga elétrica Q=-8
µC. Realizando o processo de eletrização por contato, faz-se o corpo C
tocar o corpo A e depois o corpo B. Ao final do procedimento, qual será
a carga elétrica dos corpos A, B e C, respectivamente?

–  15  –
Física II

Solução
As cargas dos corpos são:
QA=0 C, QB=0 C e QC=-8 µC
Como os corpos são idênticos em forma e dimensão, após o contato dos corpos
A e C, os corpos ficam eletrizados com novas cargas QA e QC, tal que sejam
iguais e tenham soma algébrica igual à carga total inicial do processo:
Q A +QC 0 + ( −8µ )
Q A1 = Q 1 = = = −4 µC
C
2 2
Então, o corpo A e o corpo C ficam com a mesma carga elétrica de -4 µC.
Seguindo o mesmo raciocínio, para o contato do corpo A com o corpo B,
tem-se:
Q B + QC1 0 + ( −4 µ )
Q B1 = QC11 = = = −2 µC
2 2
Assim, o corpo C perde elétrons duas vezes nos dois processos e, ao final deles,
os corpos ficam carregados:
Q A1 − 4 µC Q B1 − 2 µC QC11 = −2 µC
, e
Exemplo 1.4
Uma esfera A, de carga elétrica Q=8 µC, é colocada em contato com
uma esfera idêntica B, inicialmente neutra. Após serem afastadas, a carga
elétrica da esfera B passa a ser igual a Q=5 µC. Determine a nova carga
da esfera A.
Solução
Fazendo o balanço antes e depois do contato, a soma das cargas tem de ter o
mesmo resultado. Assim, determina-se que, antes do contato:
QA + QB = 8 μC + 0 C = 8 μC
E, após o contato, o resultado continua o mesmo, logo:
Q A1 +Q B1 = 8 µC

–  16  –
Campo elétrico

QAt + 5 μC = 8 μC
QAt = 8 μC – 5 μC = 3 μC
A carga elétrica da esfera A após o contato é de 3 μC.

1.4 Lei de Coulomb


Entre os corpos que estão eletrizados, e até mesmo entre as partículas
menores, elétrons e prótons, existe a presença de uma força de atração ou de
repulsão. A lei de Coulomb diz respeito a essa força.
Charles Augustin de Coulomb (1736-1806), utilizando uma balança
de torção, percebeu que, em certas distâncias fixas, a força de interação entre
corpos carregados eletricamente dependia da intensidade das cargas elétricas.
Quanto maior fosse a carga elétrica, maior seria a força de interação entre os
corpos. E, à medida que aumentava a distância entre esses corpos carregados,
a força de interação entre eles diminuía. Então, após observações, Coulomb
enunciou a seguinte conclusão:

A intensidade das forças elétricas entre dois corpos


carregados eletricamente é diretamente proporcional
ao produto dessas cargas e inversamente proporcional
ao quadrado da distância que as separa.

Matematicamente, a expressão para o módulo dessa força é:


Q1 ⋅ Q2
F =k⋅ (3)
d2

onde k é a constante de Coulomb, determinada experimentalmente, cujo


valor aproximado é:
k = 8,99 ⋅ 109 N ⋅ m 2 / C 2 (4)
Deve-se levar em consideração que essas forças elétricas podem ser escri-
tas na forma vetorial. Assim, quando as partículas carregadas estiverem no

–  17  –
Física II

espaço, deve-se usar as teorias da geometria analítica e do cálculo diferencial


e do integral para realizar as operações.

Exemplo 1.5
Um átomo de hidrogênio possui em sua composição atômica apenas um
próton e um elétron. Qual é a força elétrica exercida entre eles, supondo
que a distância que os separa seja de 5,3 ⋅ 10−11 m ?

Solução
Aplicando na equação (3) os dados fornecidos, considerando que a carga do
próton e do elétron tem o mesmo valor em módulo, tem-se:
Q1 ⋅ Q2
F =k⋅
d2

1,6 ⋅ 10−19 ⋅ 1,6 ⋅ 10−19


F = 8,99 ⋅ 109 N ≈ 8,19 ⋅ 10−8 N
(5,3 ⋅10 )−11 2

Exemplo 1.6
Determine a distância entre as cargas pontuais, | Q1 |=| Q2 |= 1,6 ⋅ 10−19C ,
 

sendo fixas, para que a força elétrica entre elas seja igual a 1 N.

Solução
Aplicando a equação (3) em função da distância d:
Q1 ⋅ Q2
F =k⋅
d2

1,6 ⋅ 10−19 ⋅ 1,6 ⋅ 10−19


1 N = 8,99 ⋅ 109 2
Nm 2
d

1,6 ⋅ 10−19 ⋅ 1,6 ⋅ 10−19 2


d 2 = 8,99 ⋅ 109 m
1

d 2 = 23 , 0144 ⋅ 10−29 m 2

–  18  –
Campo elétrico

d = 23 , 0144 ⋅ 10−29 m

d = 1,517 ⋅ 10−14 m

Quando se tem mais de duas partículas carregadas, cada partícula exerce


sobre as demais cargas uma força que pode ser calculada usando a equação
(3), e a força resultante que é aplicada sobre uma partícula é a soma vetorial
das forças exercidas em cada uma delas por todas as outras, como mostrado
na figura 1.5.
Figura 1.5 – Forças elétricas aplicadas em uma partícula carregada

  
Esse caso é chamado de sistema de cargas, no qual as forças F 1 , F 2 , F 3

e F 4 , na figura 1.5, estão sendo aplicadas na partícula de carga Q. A força
     
resultante nessa partícula é determinada por FR = F1 + F2 + F3 + F4 =∑F .
Também deve-se levar em consideração que cargas carregadas podem ser
positivas ou negativas. A força entre elas pode ser uma força de atração ou de
repulsão, dependendo dos sinais dessas cargas. Na figura 1.6 estão representa-
dos os modos de interação entre as cargas elétricas.
Figura 1.6 – Forças de atrações entre cargas elétricas

–  19  –
Física II

Esses pares de forças são iguais, porém com sentidos contrários. Se as


cargas têm o mesmo sinal, a força entre elas é uma força contrária de repul-
são; se as cargas têm sinais diferentes, a força entre elas é uma força contrária
de atração.

Cargas de mesmo sinal se repelem e cargas


de sinais contrários se atraem.

Exemplo 1.7
Duas cargas, Q1=4 µC e Q2=-2 µC, estão fixas e separadas por uma dis-
tância de 2 m, sendo que a carga Q2 está à direita da carga Q1. Uma ter-
ceira carga, Q3=2 µC, é colocada no ponto médio entre Q1 e Q2. Deter-
mine a força resultante sobre a carga Q3. Adote k = 9 ⋅ 109 N ⋅ m 2 / C 2 .

Solução
A força resultante sobre a carga Q3 é a soma das forças F13, que é a força
elétrica que a carga Q1 faz em Q3, e F23, que é a força elétrica que a carga
Q2 faz em Q3. Sendo a carga Q1 positiva e a carga Q3 positiva, a força entre
elas é de repulsão. Logo, a força F13 em Q3 está para a direita, sendo assim
uma força positiva. A carga Q2 é negativa, então a força F23 entre Q3 e Q2
é uma força de atração. Logo, a força em Q3 está para a direita também.
Determinando as forças individuais separadamente:

Considerando que a partícula de carga Q1 está na origem das posições em


 
um eixo x, então os vetores F13 e F23 são:

–  20  –
Campo elétrico

 Q ⋅ Q   4 ⋅ 10−6 ⋅ 2 ⋅ 10−6  


F13 = k ⋅ 1 2 3 ⋅ i → F13 = 9 ⋅ 109 ⋅ ⋅ i → F13 =
d 12

=72 ⋅ 10−3 ⋅ i N

 Q ⋅ Q   2 ⋅ 10−6 ⋅ 2 ⋅ 10−6  


F23 = k ⋅ 2 2 3 ⋅ i → F23 = 9 ⋅ 109 ⋅ ⋅ i → F23 =
d 12

=36 ⋅ 10−3 ⋅ i N

Assim, a somatória das forças sobre a carga Q3 é:


      
FRQ 3 =∑ F =F 13 + F 23 =72 ⋅ 10−3 ⋅ i + 36 ⋅ 10−3 ⋅ i =108 ⋅ 10−3 ⋅ i =


= 0,108 ⋅ i N

Exemplo 1.8
Considere três cargas fixas, Q1=-5 nC, Q2=6 nC e Q3=-2 nC, conforme
a figura. Determine a intensidade da força resultante sobre a carga Q2.
Adote k = 9 ⋅ 109 N ⋅ m 2 / C 2 .

Solução
A força F21 entre as cargas Q1 e Q2 é uma força de atração, e a força F23 entre
as cargas Q2 e Q3 também é uma força de atração.
Então o diagrama de forças sobre a carga Q2 fica:

–  21  –
Física II

Calculando as forças F21 e F23, tem-se:


 Q ⋅ Q   6 ⋅ 10−9 ⋅ 5 ⋅ 10−9  
F21 = k ⋅ 2 2 1 ⋅ j → F21 = 9 ⋅ 109 ⋅ ⋅ j → F21 =
d (0,04)2


= 1,68750 ⋅ 10−4 ⋅ j N

 Q ⋅ Q   6 ⋅ 10−9 ⋅ 2 ⋅ 10−9  


F23 = k ⋅ 2 2 3 ⋅ i → F23 = 9 ⋅ 109 ⋅ ⋅ i → F23 =
d (0,03)2


=1,2 ⋅ 10−4 ⋅ i N

A força resultante é um vetor no espaço definido por duas coordenadas:


     
FRQ 2 = ∑ F = F21 + F=23 1,68750 ⋅ 10−4 ⋅ jN + 1,2 ⋅ 10−4 ⋅ i N
  
FRQ 3 = 1,2 ⋅ 10−4 ⋅ i N + 1,68750 ⋅ 10−4 ⋅ jN

A intensidade da força resultante é determinada aplicando-se o conceito de


módulo de um vetor, logo:

| F ||= Fx 2 + Fy2


FR = (1,2 ⋅ 10−4 ) + (1,68750 ⋅ 10−4 ) =2,07 ⋅ 10−4 N
2 2

–  22  –
Campo elétrico

1.5 Campo elétrico


O conceito de campo elétrico pode ser imaginando por meio de uma
carga carregada eletricamente perturbando uma região no espaço e afetando
outras cargas que estejam nessa região. Como analogia, pode-se citar a ação
gravitacional, que é um exemplo de campo, embora de natureza diferente do
elétrico, sendo os corpos afetados pela força gravitacional em determinada
região nas proximidades da Terra.
O campo elétrico em uma região do espaço existe quando uma carga
elétrica é colocada em qualquer ponto dessa região e fica sujeita a uma força
elétrica. Faz todo o sentido pensar que se colocarmos uma carga elétrica em
um ponto no espaço e uma força aparecer atuando nessa carga é porque nesse
ponto a carga “sentiu” a presença de outra carga.
A carga que sofre o efeito de outra é chamada de carga de prova q0, e
com ela verifica-se a existência ou não do campo elétrico. A carga geradora
do campo elétrico é uma carga Q. Dessa forma, é possível relacionar três
grandezas físicas: a carga Q geradora do campo elétrico, a carga q0, que sofre a
ação do campo, e a força que atua entre essas duas cargas. Então, quando uma

carga de prova é colocada no espaço e sofre a ação de uma força F , a razão
entre a força e a carga de prova é igual ao módulo do campo elétrico, ficando:

 F
E=
q0 (5)

No Sistema Internacional de Unidades (SI), a unidade de força é Newton


(N); e a unidade de carga, Coulomb (C). Assim, a unidade do campo elétrico
é N/C.

Figura 1.7 – Vetor campo elétrico em um ponto no espaço

–  23  –
Física II

Como qualquer outro vetor, o campo elétrico exige que se conheça o


módulo, a direção e o sentido. O campo elétrico em um ponto tem a direção
da força que atua nesse ponto e o mesmo sentido da força que atua sobre a
carga de prova, se esta for positiva. Se a carga de prova for negativa, o sentido
é contrário ao da força elétrica.

Figura 1.8 – Direção e sentido do campo elétrico

Exemplo 1.9
Considere uma carga pontual q=3 µC, que está sujeita, quando colo-
cada em um ponto A, a uma força de intensidade F=6 µN, de direção
horizontal e sentido da direita para a esquerda. Determine o módulo, a
direção e o sentido do campo elétrico no ponto A.

Solução
A força está no sentido da direita para a esquerda e a carga de prova é posi-
tiva:

Então a direção do campo elétrico é horizontal e o sentido é também da


direita para a esquerda.
O módulo do campo elétrico é dado pela equação (5):

 F F 6 ⋅ 10−6 N
E= →E = →E = → E = 2N /C
q0 q0 3 ⋅ 10−6 C

–  24  –
Campo elétrico

Exemplo 1.10
Em determinado ponto P, há um campo elétrico de intensidade
E= 6 ⋅ 105 N / C , de direção horizontal e sentido da esquerda para a
direita. Determine o módulo, a direção e o sentido da força elétrica que
atua em uma carga q=-3 µC.

Solução
O campo elétrico está no sentido da esquerda para a direita e a carga de
prova é negativa:

Então, a direção da força elétrica é horizontal, que é a mesma direção do


campo elétrico, e o sentido é da direita para a esquerda, pois, como a carga
de prova é negativa, será atraída por uma carga positiva, que é a carga
geradora do campo elétrico, e, de acordo com o enunciado, está à direita
do ponto P.
O módulo da força elétrica é dado pela equação (5):

 F F F
E= →E = → 6 ⋅ 105 = →F =
q0 q0 3 ⋅ 10−6

= 6 ⋅ 105 ⋅ 3 ⋅ 10−6 → F = 1,8 N

Nesses exemplos, o sentido do campo elétrico foi determinado pela regra


apresentada na figura 1.8. Mas pode-se analisar de uma forma mais simples.
É definido que o vetor campo elétrico sempre sai de uma carga positiva
para entrar em uma carga negativa, ou seja, o sentido do vetor é da carga
positiva para a carga negativa. Lembrando que o campo elétrico resultante e
a força atuante sobre a carga de prova terão a mesma direção, mas o sentido
desse campo elétrico será o mesmo que a força atuante sobre a carga de prova,
se ela for positiva, ou terá sentido contrário à força atuante sobre a carga de
prova, se ela for negativa.

–  25  –
Física II

Figura 1.9 – Sentido do vetor campo elétrico

O vetor campo elétrico sempre sai de uma carga


positiva para entrar em uma carga negativa

Também deve-se levar em conta que o campo elétrico é um vetor, e


assim aplicar as operações vetoriais, quando necessário. Se um sistema de car-
gas puntiformes está nas proximidades de um ponto P, então todas essas car-
gas influenciarão uma carga de prova que passe pelo ponto P, determinando-
-se um campo elétrico resultante.
O campo elétrico resultante em um ponto P, criado por um sis-
tema de carga, é a soma de todos os vetores campos elétricos, tal que,
     
ER =E1 + E 2 + E3 + E 4 ... =
ΣE .
Figura 1.10 – Campo elétrico devido a um sistema de cargas puntiformes

Calculam-se separadamente os campos elétricos gerados pelas cargas elé-


tricas no ponto P e somam-se os vetores.
O campo elétrico, existente no ponto P, devido a uma única carga, pode
ser calculado pela lei de Coulomb. Considerando uma carga de prova q0 em
um ponto P no espaço a uma distância d da carga Q geradora do campo elé-
trico, pela lei de Coulomb, a força atuante sobre ela é dada pela equação (3):
q0 ⋅ Q
F =k⋅
d2

–  26  –
Campo elétrico

Sendo a definição de campo elétrico dada pela equação (5):


F
E=
q0

Segue que, substituindo (3) em (5), obtém-se o campo elétrico no ponto


P devido à carga Q:
Q
E =k⋅ (6)
d2

A equação (6) é uma maneira de se determinar o campo elétrico sem a


presença da carga de prova, conhecendo-se apenas a carga geradora do campo
e a distância até o ponto P. O campo elétrico existe no ponto P independen-
temente de a carga de prova estar lá ou não.

Exemplo 1.11
Considerando um eixo x com duas cargas elétricas, Q1=+4 µC e Q2=+6
µC, nas coordenadas x=0 e x=4 m, respectivamente, determine o campo
elétrico resultante no ponto P sobre o eixo x em x=6 m.

Solução

Considerando o eixo x e as duas cargas positivas, os campos elétricos E1 e

E 2 estão no sentido da esquerda para a direita no ponto P:

 
Determinando o módulo do campo elétrico E1 e E 2 , tem-se:
Q1 9 N ⋅m
2
4 ⋅ 10−6
E1 =k ⋅ → E1 =9 ⋅ 10 ⋅ → E1 = 1000 N / C
d12 C2 62 m2

Q2 9 N ⋅m
2
6 ⋅ 10−6 C
E 2 =k ⋅ 2 → E 2 =9 ⋅ 10 ⋅ 2 2 → E2 =13500 N / C
d2 C2 2 m

–  27  –
Física II

A somatória dos vetores campos elétricos será a soma algébrica dos campos
elétricos E1 e E2, pois têm a mesma direção e o mesmo sentido. Logo, o campo
elétrico resultante é:
ER=E1+E2
ER =1000+13500 N/C
ER =14500 N/C

1.6 Linhas de campo


No século XIX, Michael Faraday (1791-1867) imaginou o espaço em
volta de um corpo carregado eletricamente sendo preenchido por linhas de
força. Atualmente, essas linhas são chamadas de linhas de campo elétrico e
ajudam na visualização dos campos elétricos. Como mencionado anterior-
mente, os vetores campos elétricos, em todos os pontos próximos de uma
carga carregada negativamente, estão orientados para dentro da carga elétrica,
como mostrado na figura 1.11.
Figura 1.11 – Campo elétrico em torno de uma carga negativa

Se a carga elétrica da partícula carregada for positiva, os vetores campos


elétricos, em todos os pontos próximos desse corpo carregado, estarão orien-
tados para fora da carga elétrica, como mostrado na figura 1.12.
Figura 1.12 – Campo elétrico em torno de uma carga positiva

–  28  –
Campo elétrico

As linhas de campo para duas cargas iguais em módulo, mas de sinais


contrários, são mostradas na figura 1.13. Já na figura 1.14, as duas cargas são
de mesmo sinal. Em ambos os casos, verifica-se uma simetria em torno de um
eixo que passa pelas duas cargas.
Figura 1.13 – Campo elétrico em torno de duas cargas de sinais contrários

Figura 1.14 – Campo elétrico em torno de duas cargas de mesmo sinal

Na figura 1.14, observa-se o comportamento das linhas de campo para


duas cargas iguais. Como o campo elétrico sai de uma carga positiva e entra
em uma carga negativa, nesse caso elas não se cruzam, pois as cargas se repe-
lem e esses campos elétricos devem terminar em alguma carga negativa.

–  29  –
Física II

Síntese

Unidade fundamental de carga, medida


e ≈ 1,6 ⋅ 10−19 C em coulombs.
Carga
elétrica Q =±N ⋅ e Quantização da carga elétrica de um
corpo.

Condutores são os materiais em que os


elétrons livres se movem com facilidade;
Condutores
isolantes são aqueles em que os elétrons
e isolantes
não se movem com facilidade no interior
do corpo.

Os dois corpos ficam carregados com


cargas iguais em módulo, mas com sinal
contrário.
Por atrito Os corpos ficam carregados com cargas
Processos
de mesmo sinal. A soma das cargas elétri-
de Por contato
cas dos corpos antes e depois do processo
eletrização
Por indução de eletrização por contato têm o mesmo
resultado algébrico para a carga total.
Os corpos ficam carregados com cargas
de sinal contrário.

A intensidade das forças elétricas entre


dois corpos carregados eletricamente tem
dependência do produto das cargas e da
Q1 ⋅ Q2
F =k⋅ distância que as separa.
Lei de d2
Coulomb Constante de Coulomb
k = 8,99 ⋅ 109 N ⋅ m 2 / C 2
Cargas elétricas que possuem o mesmo
sinal se repelem e cargas elétricas que
possuem sinais contrários se atraem.

–  30  –
Campo elétrico

O campo elétrico em uma região do


espaço existe quando uma carga elétrica
 é colocada em qualquer ponto dessa
 F região e fica sujeita a uma força elétrica.
E=
Campo q0 O vetor campo elétrico sempre sai de uma
elétrico carga positiva para entrar em uma carga
Q
E =k⋅ negativa.
d2
A intensidade do campo elétrico no ponto
P devido à carga geradora Q sem a pre-
sença da carga de prova.

São linhas imaginárias que preenchem o


Linhas de espaço em volta de um corpo carregado
campo eletricamente e que auxiliam na visuali-
zação dos campos elétricos.

–  31  –
2
Lei de Gauss

Neste capítulo, será apresentada outra alternativa para o


cálculo do campo eletrostático: a chamada de lei de Gauss. A lei de
Coulomb é a lei básica da eletrostática, mas, no que diz respeito a
problemas que envolvem simetria, ela não está expressa no sentido
de facilitar ou simplificar algumas situações.
Física II

Conceitualmente, a lei de Gauss provém da lei de Coulomb, sendo uma


reelaboração desta a partir da ideia de fluxo de campo elétrico. Dá-se prefe-
rência à lei de Gauss para problemas que tratam de simetria, pois, além da
facilidade com que é apresentada, pode, devido a sua simplicidade, evidenciar
mais claramente certos fenômenos.
A lei de Gauss também é conhecida como uma das equações de Maxwell,
que são as equações fundamentais do eletromagnetismo.
Numa chapa metálica carregada eletricamente, por exemplo, os campos
elétricos podem ser determinados pela lei de Coulomb, por meio de integra-
ção, o que muitas vezes, não é algo tão simples. Já com a utilização da Lei de
Gauss, podem ser facilmente calculados.

2.1 Superfície gaussiana


Imagine uma superfície na forma de lençol ou um pedaço de pano. Essa
superfície pode ser aberta ou fechada. Se cobrirmos por inteiro um objeto
com o lençol, sem deixar espaços para ver no interior, teremos determinado
uma superfície fechada em torno do objeto, na qual teremos uma região
interna e uma região externa. A figura 2.1 mostra um objeto revestido por
uma superfície fechada, contido na parte interna dessa superfície.
Figura 2.1 – Um objeto envolvido por uma superfície fechada

A superfície que envolve o objeto tem forma arbitrária. A superfície


gaussiana também tem uma forma arbitrária, porém, é conveniente escolher
uma superfície adequada à simetria do problema. Então a superfície gaussiana
é uma superfície imaginária, que envolve um objeto carregado eletricamente
ou uma partícula carregada, e não tem uma forma definida.

–  34  –
Lei de Gauss

A superfície gaussiana é uma superfície


imaginária, que envolve um elemento carregado
eletricamente e não tem forma definida.

Com o auxílio da superfície gaussiana, observa-se o comportamento


dos campos elétricos que atravessam a superfície, entrando ou saindo do
interior dela.
Figura 2.2 – Superfície gaussiana envolvendo duas partículas carregadas
eletricamente

Na figura 2.2 é mostrado um sistema chamado de dipolo elétrico, cons-


tituído de duas cargas elétricas, sendo uma positiva e outra negativa. Pode-se
observar que a quantidade de linhas atravessando a superfície de dentro para
fora é igual à quantidade de linhas que atravessam a superfície de fora para
dentro, ou seja, a quantidade de linhas que saem da superfície é a mesma
quantidade das que entram na superfície.
Usando a lei de Coulomb, equação (6), pode-se escrever o campo elé-
trico criado por uma carga elétrica puntiforme:
Q
E =k⋅
d2

onde tem-se a constante k = 8,99 ⋅ 10 N ⋅ m / C . Também pode-se escrever


9 2 2

a constante de Coulomb utilizando outra notação, que para o conceito da lei


de Gauss se torna mais apropriada, definida como:

–  35  –
Física II

1
k=
4πε 0
(7)
A grandeza ε 0 é chamada de constante de permissividade. Seu valor é:

ε 0 ≈ 8,85 ⋅ 10−12C 2 / N ⋅ m 2 (8)


A lei de Gauss fornece outra maneira para a determinação do campo
elétrico, na qual o número resultante de linhas que atravessam uma superfí-
cie gaussiana fechada, que está envolvendo cargas elétricas, é proporcional à
carga resultante envolvida pela superfície.

2.2 Fluxo
O conceito de fluxo elétrico é muito parecido com o conceito de vazão
volumétrica que está relacionado com o escoamento de fluidos. Diz-se que
existe um fluxo de água ou de ar quando há uma corrente de ar ou água em
movimento atravessando uma malha ou uma superfície. Essa taxa de escoa-
mento depende do ângulo que a velocidade da partícula faz com o plano da
superfície, como representado na figura 2.3.

Figura 2.3 – Linhas de fluxo de ar atravessando uma superfície de área A

A determinação da taxa de vazão volumétrica é dada por:


φ = v ⋅ A ⋅ cosθ (9)
onde v é a velocidade da partícula no escoamento, A é a área que o escoa-
mento está atravessando e θ é o ângulo entre o vetor velocidade da partícula
e o vetor área da superfície.

–  36  –
Lei de Gauss

Uma análise dessa equação (9) mostra que, se o vetor velocidade tem a
mesma direção e o mesmo sentido do vetor área, então o ângulo será igual a
0º; logo, o valor do cosseno será máximo, ou seja, o fluxo é máximo (figura
2.4a). À medida que o vetor velocidade muda de direção em relação ao vetor
área, o ângulo também se altera, e o resultado do valor do cosseno diminui
(figura 2.4b). E se o vetor velocidade estiver passando paralelamente à super-
fície, então o ângulo entre os vetores velocidade e área será zero e o valor do
cosseno será zero, logo, o fluxo será zero (figura 2.4c).
Figura 2.4 – Linhas de fluxo atravessando uma superfície de área A

A equação (9) da vazão volumétrica pode ser tratada na forma vetorial


como o produto escalar do vetor velocidade com o vetor área, assim, tem-se:
 
φ =v ⋅ A ⋅ cos θ =v ⋅ A (10)
O conceito de fluxo tem o significado de fluir, o que faz todo o sentido
quando refere-se a fluidos, gases ou líquidos, nos quais várias partículas estão
passando por uma área e cada partícula tem um vetor velocidade. Esse con-
junto de vetores velocidades atravessando uma malha de área A é um campo
de velocidade.
Assim, a equação (10) pode ser interpretada como o fluxo do campo
de velocidade através de uma malha de área A. O fluxo não mais precisa ser
um escoamento real de alguma coisa, mas sim a quantidade de um campo de
velocidade que intercepta uma área.

Campo de velocidade é um conjunto de vetores


velocidade que atravessa uma área.

–  37  –
Física II

Para o caso do campo elétrico, o fato de essa ideia do fluxo não ser
um escoamento real se faz essencial, pois o campo elétrico não tem matéria,
não escoa, não é um fluido, mas tem o mesmo comportamento do fluxo do
campo de velocidade.

2.3 Fluxo do campo elétrico


Seja uma superfície gaussiana arbitrária em uma região onde há um
campo elétrico não uniforme. Cria-se uma malha na superfície com pequenos
quadrados de área ΔA, tão pequenos que é possível desconsiderar qualquer
curva e considerá-los planos. Cada um desses quadrados tem um vetor área
associado que é perpendicular ao plano e orientado para fora da superfície,
conforme a figura 2.5.

Figura 2.5 – Superfície gaussiana imersa em campo elétrico E

Como adotamos os quadrados suficientemente pequenos, o campo elé-


trico que atravessa um quadrado pode ser considerado constante em todos os
pontos desse quadrado. Esse conjunto de linhas de campo elétrico que atra-
vessa toda a superfície gaussiana é chamado de fluxo elétrico ϕ, determinado
somando-se todos os pequenos fluxos de cada quadrado, dado pela expressão:
 
φ =Σ E ⋅ A (11)
No limite, onde o número de elementos se torna infinito e a área de cada
quadrado se aproxima de zero, o somatório tende a integral, ficando:
 
φ = ∫ E ⋅ d A (12)

–  38  –
Lei de Gauss

O círculo na integral indica que a integração deve ser feita sob toda a
superfície fechada. O resultado da integral é o fluxo do campo elétrico que é
um escalar, tendo como unidade N ⋅ m 2 / C . O fluxo resultante sobre uma
superfície fechada pode ser positivo, negativo ou nulo, dependendo da pre-
dominância do vetor campo elétrico orientado para fora ou para dentro da
superfície gaussiana.

O fluxo campo elétrico é um escalar e é o


conjunto de linhas de campo elétrico que
atravessa toda uma superfície gaussiana.

Exemplo 2.1
 
Um campo elétrico uniforme, igual a E = 100i N / C , atravessa uma
superfície gaussiana na forma de um cilindro de raio da base r=20 cm e
que tem seu eixo paralelo ao eixo x, conforme a figura. Qual é o fluxo ϕ
na superfície da base a, da lateral b e da base c? Qual é o fluxo resultante
em toda a superfície gaussiana fechada?

Solução
O vetor campo elétrico é paralelo ao eixo x, os vetores A da base a e c também
são paralelos ao eixo x e o vetor A da lateral b é ortogonal a x.

–  39  –
Física II

Aplicando a equação (12) para a determinação do fluxo do campo elétrico,


tem-se:
 
φ = ∫ E ⋅ d A
     
φ = ∫ E ⋅ d A+∫ E ⋅ d A+ ∫ E ⋅ d A
a b c

Calcula-se cada integral separadamente, relacionada a cada superfície a, b e c:


 
∫ E ⋅ d A =∫ E ⋅ dA ⋅ cosθ =E ⋅ cosθ ∫ d A =E ⋅ cosθ ⋅ A
a a a
  N ⋅ m2
∫a E ⋅ d A =
=100 ( N / C ) ⋅ cos180º ⋅π ⋅ 0,2 2
( m 2
) =−12,56
C
 
∫ E ⋅ d A =∫ E ⋅ dA ⋅ cosθ = E ⋅ cosθ ∫ d A = E ⋅ cosθ ⋅ A
b b b
  N ⋅ m2
∫b E ⋅ d A == 100 ( N / C ) ⋅ cos90º ⋅ A ( )
m 2
= 0
C

 
∫ E ⋅ d A =∫ E ⋅ dA ⋅ cosθ =E ⋅ cosθ ∫ d A =E ⋅ cosθ ⋅ A
c c c
  N ⋅ m2
∫c
= E ⋅ d A 100 ( N / C ) ⋅ cos0º ⋅π ⋅ =
0,2 2
( m 2
) 12,56
C

Na superfície a, os vetores têm sentidos contrários, logo, o valor numérico do


cosseno é –1. Para a superfície b, os vetores são ortogonais, logo, o valor do
cosseno é 0. Para a superfície c, os vetores têm o mesmo sentido, então o valor
do cosseno é +1.
O fluxo resultante fica:
     
φ = ∫ E ⋅ d A+∫ E ⋅ d A+ ∫ E ⋅ d A
a b c

φ = −12 ,56 + 0 + 12 ,56


φ=0

–  40  –
Lei de Gauss

Esse resultado mostra que a quantidade de vetores campo elétrico que entra
na superfície gaussiana é a mesma que sai da superfície gaussiana fechada,
portanto, o fluxo total através da superfície é zero.
Exemplo 2.2
 
Seja um campo elétrico dado por E1 = 50i N / C para o eixo positivo
 
de x e um campo elétrico E 2 = −100i N / C para o eixo negativo de x.
Uma superfície gaussiana, na forma de um cubo, com aresta igual a 10
cm, está posicionada no plano e tem seu centro geométrico na origem
dos eixos, e suas faces são paralelas aos planos xy, xz e yz. Determine o
fluxo elétrico que atravessa essa superfície fechada.
Solução
Como o cubo é formado por seis faces, duas a duas paralelas entre si, serão
analisadas apenas quatro faces (valendo, entretanto, a mesma ideia para as
seis faces). Os vetores campos elétricos são opostos no eixo x e estão saindo da
 
superfície gaussiana nos pontos 1 e 2, logo, o ângulo entre os vetores E e A
é 0º. Nos pontos 3 e 4, os vetores campos elétricos são paralelos às superfícies,
 
assim, o ângulo entre os vetores E e A é 90º.

Aplicando a equação (12) sobre a superfície fechada, obtém-se o fluxo elé-


trico resultante:
 
φ = ∫ E ⋅ d A
           
φ = ∫ E ⋅ d A+∫ E ⋅ d A+ ∫ E ⋅ d A+ ∫ E ⋅ d A+ ∫ E ⋅ d A+ ∫ E ⋅ d A
1 2 3 4 5 6

–  41  –
Física II

 
Nas faces 3,4,5 e 6, o campo elétrico é o E1 se x>0 e E 2 se x<0. Escrevendo
na forma do produto escalar de vetores:

φ = ∫ E1 ⋅ cosθ1 ⋅ dA+∫ E 2 ⋅ cosθ 2 ⋅ dA+∫ E ⋅ cosθ3 ⋅ dA+∫ E ⋅ cosθ 4 ⋅ dA+


1 2 3 4

∫ E ⋅ cosθ
5
5 ⋅ dA+∫ E ⋅ cosθ 6 ⋅ dA
6

E ⋅ cosθ5 ⋅ A+ E ⋅ cosθ 6 ⋅ A

E ⋅ cos90º ⋅ A+ E ⋅ cos90º ⋅ A
φ = 0,5 + 1+ 0 + 0 + 0 + 0

N ⋅ m2
φ = 1,5
C

O fluxo resultante é a soma dos fluxos através de todas as superfícies. Como


os vetores campos elétricos saem das superfícies 1 e 2, eles são positivos. Nas
demais superfícies, o fluxo é nulo, pois os vetores campos elétricos são parale-
los às superfícies.

2.4 Lei de Gauss


Seja uma superfície gaussiana fechada, envolvendo cargas elétricas posi-
tivas e negativas. Fazendo um balanço, determina-se uma carga elétrica resul-
tante dentro da superfície, ou seja, uma carga elétrica líquida qliq.

A lei de Gauss relaciona o fluxo do campo elétrico com a


carga liquida existente dentro da superfície gaussiana.

Matematicamente, essa relação é:


ε 0 ⋅ φ = qliq (13)

–  42  –
Lei de Gauss

onde ε 0 é a constante de permissividade apresentada na equação (8). Assim,


a equação (13) determina que o resultado da multiplicação do fluxo elétrico
pela constante de permissividade deve ser igual à carga elétrica resultante den-
tro da superfície gaussiana. Ainda pode-se escrever a lei de Gauss como:
 
ε 0 ⋅ ∫ E ⋅ d A= qliq (14)
Deve-se usar o sinal da carga elétrica resultante, pois o sinal informa se
o fluxo resultante está saindo ou entrando na superfície gaussiana. Se a carga
elétrica líquida for positiva, então o fluxo será para fora da superfície, e se a
carga elétrica líquida for negativa, então o fluxo será para dentro da superfície.
Cargas elétricas que estão nas proximidades da superfície gaussiana
não são incluídas na lei de Gauss, não importando o quão carregadas este-
jam. E a distribuição das cargas no interior da superfície também não é
levada em consideração.

Exemplo 2.3
Duas cargas elétricas, q1=6 µC e q2=-2 µC, estão no espaço, separadas
por uma distância d. Determine o fluxo do campo elétrico se uma super-
fície gaussiana envolve:
a) somente a carga q1.
b) somente a carga q2.
c) as duas cargas q1 e q2.

Solução
a) Imaginando uma superfície gaussiana qualquer envolvendo a carga q1,
aplica-se a equação (13) com ε 0 = 8,85 ⋅ 10−12C 2 / N ⋅ m 2 e tem-se:
ε 0 ⋅ φ = qliq

6 ⋅ 10−6 N ⋅ m2
8,85 ⋅ 10−12 ⋅ φ = 6 ⋅ 10−6 → φ = = 677966
8,85 ⋅ 10−12 C

Sendo a carga positiva o fluxo do campo elétrico que está saindo da


superfície gaussiana, o fluxo positivo também está.

–  43  –
Física II

b) Imaginando uma superfície gaussiana qualquer envolvendo a carga q2.


Aplicando-se a equação (13), tem-se:
ε 0 ⋅ φ = qliq

−2 ⋅ 10−6 N ⋅ m2
8,85 ⋅ 10−12 ⋅ φ =−2 ⋅ 10−6 → φ = =−225988
8,85 ⋅ 10−12 C

Sendo a carga negativa, o fluxo do campo elétrico está entrando na


superfície gaussiana, sendo o fluxo negativo.
c) Imaginando uma superfície gaussiana qualquer envolvendo a carga q1
e q2, aplicando a equação (13), tem-se:
ε 0 ⋅ φ = qliq

4 ⋅ 10−6
8,85 ⋅ 10−12 ⋅ φ = 6 ⋅ 10−6 − 2 ⋅ 10−6 → φ = =
8,85 ⋅ 10−12

N ⋅ m2
= 451977
C

A carga líquida é positiva, então o fluxo do campo elétrico resultante


sai da superfície gaussiana.
Pode-se notar então, a partir desse exemplo, que se a carga que está con-
tida na superfície gaussiana for positiva, então o fluxo do campo elétrico será
positivo; e se a carga for negativa, então o fluxo também será negativo. Assim,
se o fluxo tivesse sinal positivo, a carga resultante seria positiva; e se o fluxo
fosse negativo, então a carga elétrica seria negativa.

Exemplo 2.4
Duas cargas conhecidas, q1=-25 nC e q2=-13,2 nC, e uma carga desco-
nhecida q3 estão contidas em uma superfície gaussiana na qual o fluxo
N ⋅ m2
do campo elétrico resultante é igual a φ = 23 ⋅ 104 . Determine o
valor da carga q . C
3

–  44  –
Lei de Gauss

Solução
Aplicando a equação (13), com ε 0 = 8,85 ⋅ 10−12C 2 / N ⋅ m 2 , obtém-se:
ε 0 ⋅ φ = qliq

8,85 ⋅ 10−12 ⋅ 23 ⋅ 104 = −25 ⋅ 10−9 − 13,2 ⋅ 10−9 + q 3

q3 = 2035,5 ⋅ 10−9 + 25 ⋅ 10−9 + 13,2 ⋅ 10−9

( 2035,5 ⋅10−9 + 25 ⋅10−9 + 13,2 ⋅10−9 )C


q3 =

q3 = 203,932 ⋅ 10−8 C

q3 = 2,03932 μC

2.5 Cálculo do campo elétrico a partir da lei de Gauss


Os campos elétricos podem ser uniformes, mas também podem variar,
como vimos no Capítulo 1. Os condutores elétricos podem ter formas uni-
formes ou não. A distribuição de cargas em um corpo pode ser uniforme, mas
na maioria das vezes não é. Tudo isso torna muito difícil o cálculo do campo
elétrico criado por cargas elétricas na superfície de um corpo.
Mas o campo elétrico nas proximidades da superfície de um condutor é
fácil de se calcular pela lei de Gauss. Aplica-se a lei de Gauss para várias for-
mas de condutores carregados e com distribuições de cargas diversas, pela sua
simplicidade e facilidade de resolução.
22 Uma carga puntiforme carregada
Considerando uma superfície gaussiana esférica de raio r com uma
carga elétrica puntiforme q em seu centro. O vetor campo elétrico
será normal à superfície em qualquer posição dessa superfície e terá
a mesma intensidade, pois a distância r será a mesma. Assim, o
 
ângulo entre o vetor E e o vetor A é 0º se a carga for positiva, ou
180º se a carga for negativa. Considerando uma carga positiva, o
ângulo será 0º.

–  45  –
Física II

Figura 2.6 – Campo elétrico criado por uma carga puntiforme

Usando a equação (14):


 
ε 0 ⋅∫ E ⋅ d A = qliq

ε 0 ⋅ ∫ E ⋅ cos0º ⋅dA = q

ε 0 ⋅ E ⋅ ∫ dA = q

ε0 ⋅ E ⋅ A = q

Onde a área em questão é a área da esfera, ficando então:


ε 0 ⋅ E ⋅ 4π ⋅ r 2 =
q

Isolando o campo elétrico:


q
E=
ε 0 ⋅ 4π ⋅ r 2

Substituindo o termo 1 por k, obtém-se:


ε 0 ⋅ 4π
q
E =k
r2

que é a mesma expressão obtida, pela lei de Coulomb, para o campo


elétrico criado por uma carga puntiforme q.

–  46  –
Lei de Gauss

22 Uma barra carregada


Considerando uma barra infinita carregada uniformemente,
q
admite-se que a barra tem uma densidade linear de carga λ = ,
L
 

que é certa quantidade de carga q por comprimento L. O módulo


do vetor campo elétrico a uma distância r do eixo da barra pode ser
determinado através da lei de Gauss usando uma superfície gaus-
siana na forma de um cilindro de raio r.
Figura 2.7 – Barra carregada uniformemente

Novamente o ângulo entre os vetores campo elétrico e área é igual a


zero, com o fator cosseno igual a 1. Usando a equação (14), tem-se:
 
ε 0 ⋅∫ E ⋅ d A = qliq

ε 0 ⋅ E ⋅ A = qliq

A área da superfície gaussiana é a área do cilindro, que é


A = 2 ⋅ π ⋅ r ⋅ h , e a carga contida nessa região depende da densidade
linear de carga λ pelo comprimento da barra h, ficando qliq = λ ⋅ h .  

Substituindo, obtém-se:
ε0 ⋅ E ⋅ 2 ⋅π ⋅ r ⋅ h = λ ⋅ h

que se reduz a:
λ
E= (15)
2 ⋅ ð ε0 ⋅ r

–  47  –
Física II

A equação (15) representa o campo elétrico em um ponto P que


está a uma distância r de uma barra ou de uma linha de carga car-
regada eletricamente. A direção do campo elétrico no ponto P
depende do sinal da carga elétrica da barra. Se positiva, o vetor
estará orientado para fora da barra, e, se negativa, o vetor campo
elétrico estará orientado para dentro da barra.
22 Uma placa carregada
Considera-se uma placa fina, não condutora, infinita, carregada
uniformemente. Admite-se que a placa tenha uma densidade
q
superficial de carga σ = , que é certa quantidade de carga q por
A
área A. Se a placa é de plástico, por exemplo, e está carregada em
um de seus lados, o módulo do vetor campo elétrico a uma distân-
cia r da placa pode ser determinado através da lei de Gauss usando
uma superfície gaussiana na forma de um cilindro de raio r que
atravessará perpendicularmente a chapa.

Figura 2.8 – Placa não condutora carregada uniformemente

Novamente o ângulo entre os vetores campo elétrico e área do cilin-


dro é igual a zero, sendo o fator cosseno igual a 1. Usando a equa-
ção (14), tem-se:
 
ε 0 ⋅ ∫ E ⋅ d A= qliq

–  48  –
Lei de Gauss

Uma vez que as linhas de campo atravessam as duas bases do cilin-


dro, obtém-se:
ε 0 ⋅ ( E ⋅ A+ E ⋅ A ) = qliq

A carga contida nessa região depende da densidade superficial de


carga σ pela área da placa A, ficando qliq = σ ⋅ A . Substituindo,
obtém-se:
ε 0 ⋅ 2E ⋅ A = σ ⋅ A

que se reduz a:
σ
E= (16)
2 ⋅ ε0

A equação (15) representa o campo elétrico em um ponto P que está


a uma distância r de uma placa não condutora carregada eletricamente. A
direção do campo elétrico no ponto P depende do sinal da carga elétrica da
barra. Se positiva, o vetor estará orientado para fora da barra; se negativa, o
vetor campo elétrico estará orientado para dentro da barra.
Se a placa for condutora, então as cargas em excesso estarão distribuídas
por toda a superfície, nas duas faces da placa. Com essa distribuição, a densi-
dade superficial de carga também aparecerá nas duas faces. O campo elétrico
em uma região próxima à placa fica:
σ
E= (17)
ε0
O campo elétrico entrará na placa se a carga em excesso for negativa e
sairá da placa se a carga em excesso for positiva.
Exemplo 2.5
Um raio é uma descarga de elétrons que se estende das nuvens até a terra
ou vice-versa. Esses elétrons que estão ionizados vêm de dentro de uma
coluna. A densidade linear dessa coluna de elétrons é de aproximadamente
λ = −1 ⋅ 10−3 C / m . Durante o processo de descarga elétrica, as colisões
entre os elétrons e o ar resultam em um clarão brilhante. Se as moléculas

–  49  –
Física II

de ar sofrem uma ruptura quando o campo elétrico é E = 3 ⋅ 106 N / C ,


qual é o valor do raio da coluna que contém os elétrons?

Solução
Fazendo uma aproximação dessa coluna de elétrons por uma linha de carga
e considerando que a carga liquida é negativa, então o campo elétrico aponta
para dentro. Assim, usando o valor absoluto de λ, pela equação (15), fica:
λ
E=
2 ⋅ ð ε0 ⋅ r

λ 1 ⋅ 10−3 (C / m )
r= = ≈ 6m
2 ⋅ ð ε 0 ⋅ E 2 ⋅ ð ⋅ 8,85 ⋅ 10−12 (C 2 / N ⋅ m 2 ) ⋅ 3 ⋅ 106 ( N / C )

O raio da coluna de elétrons é igual a 6 m.

Exemplo 2.6
Uma chapa não condutora está carregada com cargas elétricas negativas
distribuídas uniformemente em um dos lados dessa chapa. A densidade
superficial vale σ = −5,6 µC / m 2 . Determine o módulo do campo elé-
trico em um ponto P próximo à placa.

Solução
Como as cargas são fixas no caso da placa não condutora, pela equação (16),
e usando o valor absoluto de σ, determina-se o módulo do campo elétrico em
algum ponto próximo à placa por:
σ
E =
2ε 0

5,6 ⋅ 10−6
E = = 0,316384 ⋅ 106 = 3,16384 ⋅ 105 N / C
2 ⋅ 8,85 ⋅ 10−12

5,6 ⋅ 10−6
E = −12
= 0,316384 ⋅ 106 = 3,16384 ⋅ 105 N / C
2 ⋅ 8,85 ⋅ 10

–  50  –
Lei de Gauss

Síntese
Uma superfície gaussiana é uma superfície
imaginária com forma arbitrária que envolve
Superfície
um elemento carregado eletricamente. A
gaussiana
forma dessa superfície deve ser a mais conve-
niente à simetria do problema.
Fluxo é uma taxa que depende do ângulo que
a velocidade da partícula faz com o plano da
superfície.
φ = v ⋅ A ⋅ cosθ A vazão volumétrica é o produto escalar do
Fluxo   vetor velocidade com o vetor área.
φ =v ⋅ A ⋅ cos θ =v ⋅ A Campo de velocidade é um conjunto de veto-
res velocidade que atravessa uma área.
O campo elétrico tem o mesmo comporta-
mento do fluxo do campo de velocidade.
O resultado do fluxo campo elétrico é um
escalar e é considerado como o conjunto de
linhas de campo elétrico que atravessa toda
Fluxo do   uma superfície gaussiana.
campo φ = ∫ E ⋅ d A O fluxo resultante sobre uma superfície
elétrico fechada pode ser positivo, negativo ou nulo,
dependendo da predominância do vetor
campo elétrico sendo orientado para fora ou
para dentro da superfície gaussiana.
A lei de Gauss é uma relação entre o fluxo do
campo elétrico com a carga liquida existente
dentro da superfície gaussiana.
Lei de ε 0 ⋅ φ = qliq
Gauss Sendo a carga elétrica liquida positiva, o
fluxo será para fora da superfície. Sendo a
carga elétrica liquida negativa, o fluxo será
para dentro da superfície.

–  51  –
Física II

Para uma carga puntiforme carregada, o


campo elétrico determinado a partir da lei de
q Gauss é exatamente igual ao campo elétrico
E =k
r2 determinado pela lei de Coulomb.
Cálculo λ Para uma barra carregada, considera-se que
do campo E= a barra é infinita carregada uniformemente.
2 ⋅ ð ε0 ⋅ r
elétrico Admite-se que a barra tem uma densidade
a partir σ q
E= linear de carga λ = .
da lei de 2 ⋅ ε0 L
Gauss Para o caso de uma placa carregada, consi-
σ dera-se que a placa é fina, não condutora,
E= infinit, carregada uniformemente. Admite-se
ε0
que a placa tem uma densidade superficial de
q
carga σ = para uma placa condutora.
A

–  52  –
3
Potencial Elétrico

O movimento de queda livre de um corpo pode ser anali-


sado sob o ponto de vista da energia, determinando-se a velocidade
desse corpo ao cair ou sua altura. Enquanto um corpo cai, a energia
potencial é transformada em energia cinética.
Pode ser feita uma analogia entre o movimento de queda
livre de um corpo, sob ação do campo gravitacional, e o movi-
mento de uma carga elétrica, sob ação do campo elétrico: o movi-
mento pode ser analisado por meio das variações de energia; há
similaridade entre as leis básicas aplicadas aos dois casos, pois as
Física II

forças elétrica e gravitacional dependem do quadrado da distância e são


conservativas (isto é, o trabalho executado pela força para levar uma par-
tícula de um ponto inicial a outro final não depende da trajetória usada).
Neste capítulo, será feita uma relação entre campo elétrico e potencial
elétrico, podendo ser utilizado o potencial para determinar o campo elétrico
devido a regiões de distribuição contínua de cargas elétricas.
O potencial elétrico varia em função da posição de partículas carregadas
eletricamente no espaço. Já vimos, para o cálculo direto do campo elétrico,
relações envolvendo a posição das cargas elétricas no espaço. Mas, em muitas
situações, a manipulação da expressão do potencial elétrico torna a obtenção
do campo elétrico muito mais simples.

3.1 Diferença de energia potencial


Consideremos uma partícula elétrica qo que se move no espaço, sob ação
de um campo elétrico, de um ponto inicial i a um ponto final f. Faz sentido
assumir que, no ponto i, essa partícula tem uma energia potencial Ui e, ao
chegar ao ponto f, encontra-se com outra energia potencial Uf. Assim, existe
uma diferença de potencial entre os pontos i e f.
Ao se abandonar a carga elétrica em um campo elétrico, ela ficará sujeita
 
à ação de uma força elétrica. Essa força realiza um trabalho W = F ⋅ ∆r
sobre a partícula, deslocando-a para outro ponto, podendo ser um trabalho
positivo ou negativo, quando deslocamos a partícula no sentido natural de
seu movimento (no mesmo sentido da força elétrica) ou quando forçamos a
partícula a se movimentar no sentido contrário, respectivamente.
Figura 3.1 – Partícula movendo-se de um ponto A para um ponto B em
um campo elétrico

–  54  –
Potencial Elétrico

Assim, a diferença de energia potencial elétrica para uma carga se


movendo de um ponto i para um ponto f é dada pela equação:
∆U =U f − U i = −Wif (18)

A diferença de energia potencial elétrica entre dois pontos é indepen-


dente da trajetória que essa partícula realizou, dependendo somente das posi-
ções inicial e final.
O trabalho realizado por uma força elétrica sobre uma carga q0, que
se move de Pi a Pf, pontos inicial e final, na presença de um campo elétrico
devido a uma carga Q, sendo r a distância entre as cargas, é dado por
Pf rf
  qQ qQ qQ
Wif = ∫ F ⋅ dl = ∫ k 0 2 dr = k 0 − k 0 =U ( ri ) − U ( r f ) = − ∆U (19)
r ri rf
Pi ri

em que o elemento dl tem a orientação do caminho que leva q0 de Pi a Pf.
Como a força elétrica é uma força central, apenas a direção radial permanece

não nula após o produto interno com F . Então, é possível definir a energia
potencial elétrica associada às cargas q0 e Q, quando separadas por uma dis-
tância r, por
q0Q
U (r ) = k (20)
r
Nota-se nessa expressão que, quando as duas cargas têm o mesmo sinal,
a energia potencial fica positiva, sendo negativa para cargas de sinais contrá-
rios. Também observa-se que U(r) → 0 quando r → ∞. Assim, das equações
(19) e (20) pode-se concluir que a expressão U(r) representa o negativo do
trabalho realizado por uma força elétrica para trazer a carga q0 até uma posi-
ção em que esteja a uma distância r de Q. Ou seja, U(r) = – W∞r.

Exemplo 3.1
Para deslocar uma carga elétrica de 4C do infinito até o ponto A, realiza-
-se um trabalho de 100 J. Determine a energia potencial elétrica da carga
q0 no ponto A.

–  55  –
Física II

Solução
Como o trabalho realizado para mover a carga do infinito até o ponto A tem
o sinal contrário da energia potencial no ponto A, tem-se U=-100 J

Exemplo 3.2
Qual é a variação da energia potencial elétrica necessária para mover
uma carga q0=4 µC, inicialmente a uma distância de 0,1 m de uma carga
Q=0,8 µC, até o infinito?

Solução
Considere as cargas dispostas no espaço, separadas pela distância de 0,1m,
e a disposição do campo elétrico e da força elétrica atuando na carga de
prova, conforme a figura:

Pela definição de trabalho entre dois pontos A e B, denotando por x o eixo


horizontal no qual se dão as distâncias, temos
B
 
W AB = ∫ F ⋅ dx
A

e sabemos que ΔUAB=-WAB.


A força F é força elétrica, dada pela lei de Coulomb, e atua na carga q0
devido à ação das cargas Q e q0. A partir da equação (19), segue que o tra-
balho para mover a partícula de A para B é dado por
 1 1 
W AB = k ⋅ Q ⋅ q0 ⋅  − 
 d A dB 

–  56  –
Potencial Elétrico

1
Fazendo o ponto B tendendo ao infinito, → 0 , a variação da energia
potencial elétrica é dada por dB

 1 
U = −W A∞ = −k ⋅ Q ⋅ q0  
 dA 

 1 
U = −W A∞ = −8,99 ⋅ 109 ⋅ 0,8 ⋅ 10−6 4 ⋅ 10−6  
 0,1 

U = −W A∞ = −0,28768 J

3.2 Potencial elétrico


Quando define-se a razão entre a energia potencial elétrica pela carga q0,
determina-se a energia por unidade de carga, chamada de potencial elétrico V
ou, simplesmente, de potencial V.
U
V= (21)
q0

O potencial é uma grandeza escalar, portanto, pode ser positivo ou nega-


tivo, dependendo do sinal da carga criadora do campo elétrico. Além disso,
o potencial elétrico é independente do módulo de q0, ou seja, é uma carac-
terística do campo elétrico no qual a carga de prova está. Ao colocar uma
carga q0 = 1,6 ⋅ 10−19C em um campo elétrico com energia potencial igual a
−17
2,4 ⋅ 10−17 J
U = 2,4 ⋅ 10 J , seu potencial será V = = 150 J / C . Dobrando-
1,6 ⋅ 10−19 C
-se o valor da carga elétrica, o valor da energia também dobrará, porém, o
potencial continuará sendo 150 J/C.
A diferença de potencial entre os pontos inicial i e final f em um campo
elétrico é definida por:
Uf U i ∆U
∆V =V f − Vi = − = (22)
q0 q0 q0

–  57  –
Física II

A diferença de potencial entre dois pontos é, então, a diferença de ener-


gia potencial por unidade de carga entre esses pontos. Em termos do trabalho
realizado pela partícula, a equação (22) fica:
∆U Wif
∆V = =− (23)
q0 q0
De acordo com a equação (23), conhecendo a diferença de potencial
entre dois pontos, pode-se calcular o trabalho realizado com ∆V ⋅ q0 .
Admitindo-se que no infinito a energia potencial elétrica é zero e o
potencial elétrico é zero, o potencial elétrico em um ponto a uma distância r
da carga Q geradora do campo elétrico é dado por
U Q
V= =k (24)
q0 r

de onde também se depreende que V=-W∞a/q0, onde W∞a é o trabalho reali-


zado pelo campo elétrico para deslocar a partícula q0 do infinito até um ponto
qualquer em um campo elétrico.
A equação (24) mostra que o potencial no ponto será positivo se a carga
geradora do campo elétrico for positiva, e o campo elétrico realizará um tra-
balho negativo para deslocar a carga de prova do infinito até um ponto qual-
quer (ver também as equações (19) e (20)). Por outro lado, o potencial em
um ponto será negativo nas proximidades de uma carga negativa.
Assim, como nota-se na equação (24), o potencial em um ponto A
depende apenas da carga geradora e de sua distância até o ponto. Fica claro
que se a carga elétrica é positiva então o potencial também é positivo e
vice-versa.
A unidade no Sistema Internacional de Unidades ‒ SI para o poten-
J
cial elétrico é o volt: =V . A diferença de potencial entre dois pontos é
C
chamada de tensão. Muito utilizada no dia a dia, a diferença de potencial é
indicada nas baterias de carros (12 V), nas pilhas (1,5 V) e nas tomadas de
residências e comércios (110 V).

–  58  –
Potencial Elétrico

Exemplo 3.3
Considere dois pontos A e B, onde os potenciais são VA=60 V e VB=40
V. Qual é o trabalho da força elétrica necessário para transportar uma
carga qo=6 µC de A até B?

Solução
Como o potencial em A é positivo e tem maior valor, ele está mais próximo
da carga geradora positiva, como representado na figura.

Aplicando a equação (23) tem-se:


Wi f Wi f
∆V =
− → V f − Vi =
− → 40 − 60 =
q0 q0

Wi f
=− −6
→ −120 ⋅ 10−6 = −Wi f
6 ⋅ 10

Wi = 1,2 ⋅ 10−4 J
f

Exemplo 3.4
Aplica-se um trabalho sobre uma única carga elétrica elementar
e = 1,6 ⋅ 10−19 C por meio de uma diferença de potencial de 1 V. Qual é
a quantidade de trabalho, em módulo, que se realiza?

Solução
Aplicando a equação (23) tem-se
Wi f
∆V =
− → Wif = 1 ⋅ 1,6 ⋅ 10−19 → Wif =
∆V ⋅ q0 = 1,6 ⋅ 10−19 J
q0

–  59  –
Física II

O trabalho de W = 1,6 ⋅ 10−19 J é conhecido como 1eV, que se refere à quan-


tidade de energia necessária para mover um próton ou um elétron através de
uma diferença de potencial de 1 V. Múltiplos dessas unidades, como keV ou
MeV, são muito utilizados.

3.3 Superfícies equipotenciais


Como visto na equação (23), o potencial elétrico assume determinado
valor que depende exclusivamente da carga geradora do campo elétrico e de
sua distância até esta. Então, se dois pontos estão a uma mesma distância de
uma carga elétrica geradora do campo elétrico, eles terão o mesmo potencial
elétrico, como mostrado na figura 3.2.
Figura 3.2 – Dois pontos no espaço com mesma distância da carga Q

Na figura 3.2, as distâncias dAQ e dBQ são iguais, então VA=VB. Assim,
pode-se imaginar uma infinidade de pontos que possam ter essa mesma dis-
tância da carga geradora. Se a carga geradora for uma carga pontual, haverá
uma circunferência de raio r, onde, em qualquer ponto sobre essa circunfe-
rência, o potencial elétrico será o mesmo, como representado na figura 3.3.
Figura 3.3 – Região em torno de uma carga pontual com mesmo potencial

–  60  –
Potencial Elétrico

Dessa forma, determina-se uma superfície em torno da carga geradora


em que o potencial assume o mesmo valor. Chama-se superfície equipoten-
cial aquela na qual o potencial é constante em todos os pontos.
Várias superfícies equipotenciais, com valores diferentes de potenciais
elétricos, podem ser utilizadas para representar o campo elétrico em determi-
nada região. Nessas superfícies equipotenciais, as linhas de força são sempre
perpendiculares às superfícies, como representado na figura 3.4.

Figura 3.4 – Linhas de força nas superfícies equipotenciais

Para uma carga elétrica se movimentar de um ponto A, localizado em uma


superfície equipotencial, para um ponto B, localizado em outra superfície, deve
ser realizado um trabalho pelo campo elétrico. Porém, para movimentar uma
carga elétrica de um ponto A, em uma superfície equipotencial, para um ponto
C, na mesma superfície, o campo elétrico não realiza trabalho, pois os dois
pontos estão na mesma superfície equipotencial, como na figura 3.5.

Figura 3.5 – Movimento de uma carga elétrica sobre superfícies


equipotenciais

–  61  –
Física II

Em um campo elétrico uniforme, as superfícies equipotenciais são para-


lelas entre si.
Figura 3.6 – Superfícies equipotenciais em um campo elétrico uniforme

Exemplo 3.5
Sejam dois pontos A e B situados a 0,2 m e 0,3 m de uma carga Q=40
µC. Qual é o trabalho realizado pela força elétrica para movimentar uma
carga q=3 µC de A até B e de B até A?
Solução
Determinando o potencial nos pontos A e B pela equação (24)
k ⋅Q 9 ⋅ 109 ⋅ 40 ⋅ 10−6
V= → VA = → V A = 1,8 ⋅ 106V
dA 0,2

k ⋅Q 9 ⋅ 109 ⋅ 40 ⋅ 10−6
V= → VB = → VB = 1,2 ⋅ 106V
dA 0,3

O trabalho realizado de A até B pela equação (23) é


Wi f Wi f Wi f
∆V =
− → V f − Vi =
− → 1,2 ⋅ 106 − 1,8 ⋅ 106 =
− →
q0 q0 3 ⋅ 10−6

−Wi f =−0,6 ⋅ 106 ⋅ 3 ⋅ 10−6 → Wi f =1,8 J

O trabalho realizado de B até A pela equação (23) é


Wi f Wi f Wi f
∆V =
− → V f − Vi =
− → 1,8 ⋅ 106 − 1,2 ⋅ 106 =
− →
q0 q0 3 ⋅ 10−6

–  62  –
Potencial Elétrico

−Wi f =0,6 ⋅ 106 ⋅ 3 ⋅ 10−6 → Wi f =−1,8 J

Exemplo 3.6
Sejam dois pontos A e B. O ponto A está situado sobre um eixo x na
posição 0,2 m e o ponto B, na posição –0,2 m do mesmo eixo x, com
uma carga Q=60 µC na origem. Nessas condições, qual é o trabalho
realizado por uma força elétrica externa para transportar a carga q=-2
µC de A até B?

Solução
Determinando o potencial nos pontos A e B pela equação (24):
k ⋅Q 9 ⋅ 109 ⋅ 60 ⋅ 10−6
V= → VA = → V A = 2,7 ⋅ 106 V
dA 0,2

k ⋅Q 9 ⋅ 109 ⋅ 60 ⋅ 10−6
V= → VB = → VB = 2,7 ⋅ 106 V
dA 0,2

O trabalho realizado de A até B pela equação (23) é:


Wi f Wi f Wi f
∆V =
− → V f − Vi =
− → 2,7 ⋅ 106 − 2,7 ⋅ 106 =
− →
q0 q0 −2 ⋅ 10−6

Wi f = 0

Esse trabalho igual a zero já era esperado visto que os pontos A e B estão a
uma mesma distância da carga geradora, ou seja, estão na mesma superfície
equipotencial.

3.4 Potencial a partir do campo elétrico


Conhecendo o vetor campo elétrico em todos os pontos ao longo de
uma trajetória, consegue-se determinar a diferença de potencial entre esses
dois pontos.

–  63  –
Física II

Imaginemos um campo elétrico arbitrário, representado pelas linhas de


campo, como na figura 3.7, e uma carga de prova nesse campo elétrico, rea-
lizando um movimento de um ponto i até um ponto f. Em qualquer ponto
dessa trajetória, a carga q0 sofre a influência de uma força elétrica.

Figura 3.7 – Carga q0 movimentando-se em uma trajetória em um


campo elétrico


A força elétrica atuante na partícula, equação (5), é E ⋅ q0 . Quando

a partícula sofre um deslocamento d s , o campo elétrico realiza um traba-

lho dW. O deslocamento dado pelo diferencial d s refere-se a um desloca-
mento muito pequeno, então o trabalho dW também se refere a um trabalho
pequeno. Assim, pela definição de trabalho, obtém-se:
  
dW = F ⋅ ds → dW = q0 ⋅ E ⋅ d s (25)
Então, para cada deslocamento infinitesimal, encontra-se um trabalho
infinitesimal; e ao longo de toda a trajetória serão infinitos trabalhos realiza-
dos que, quando somados, resultarão no trabalho total realizado pelo campo
elétrico. Nessas condições, o trabalho realizado quando a carga se move de
um ponto i a ponto f é a soma de todos os diferenciais dW, que é determinado
por integração de i a f. Logo:
f f
 
Wif = ∫ dW =
i
∫ E ⋅ d s (26)
i
q 0 ⋅

–  64  –
Potencial Elétrico

Como a carga q0 é uma constante, ela pode ficar fora da integral. Divi-
dindo-se os dois membros por q0, o primeiro membro da equação (26) fica
Wi f
, que é igual a -ΔV pela equação (23). Logo:
q0
f
 
V f − Vi = − ∫ E ⋅ d s (27)
i

Então a diferença de potencial entre dois pontos é igual ao negativo


da integral do produto do vetor campo elétrico pelo elemento de desloca-
mento, e é independente da carga de prova q0 , que foi utilizada no início da
demonstração apenas para seu desenvolvimento. Se for adotado o ponto i no
infinito, com um potencial zero, a equação (27) se reduz a
f
 
− ∫ E ⋅ d s (28)
V =

que pode ser interpretada como o potencial em qualquer ponto em um


campo elétrico, desde que o potencial inicial seja zero em uma distância infi-
nita. Note-se que, na equação (29), o subscrito f não foi adicionado à notação
V, mas tem o mesmo significado do potencial no ponto final f.
Exemplo 3.7
Sejam um campo elétrico uniforme de intensidade igual a 20 N/C e três
pontos A, B e C, conforme a figura. Determine a diferença de potencial
quando uma carga de prova q0 é deslocada:

a) de A até B.
b) de B até C.
c) de A até C.

–  65  –
Física II

Solução
Usando a equação (28), resolvendo o produto escalar na integral, uma vez
que o campo elétrico é constante em todos os pontos, ele pode ser retirado da
integral, obtendo-se:
f
  f f

V f − Vi = − ∫ E ⋅ d s = − ∫ E ⋅ ds ⋅ cosθ = − E ⋅ cosθ ∫ ds = − E ⋅ cosθ ⋅ d


i i i

 
a) No movimento de A para B, os vetores E e d s formam um ângulo de
90º. Assim, obtém-se
V f − Vi = − E ⋅ cosθ ⋅ d

V f − Vi = −20 ⋅ cos90 ⋅ 0,15

V f − Vi = −20 ⋅ 0 ⋅ 0,15

V f − Vi = 0
 
b) No movimento de B para C, os vetores E e d s formam um ângulo
θ, que é determinado por meio da trigonometria, usando a definição
de tangente de α e observando-se que α+θ = 90°. Para encontrar a
distância d, pode-se aplicar o teorema de Pitágoras:

CA
tangα =
BA
0,2
tangα =
0,15

–  66  –
Potencial Elétrico

tangα = 1,3333...

α = 53,12º
 
Assim, o ângulo entre os vetores E e d s é:
θ = 90º −α = 90º −53,12º= 36,88º

Pelo teorema de Pitágoras, a distância d fica:

d = 0,2 2 + 0,152 = 0,25 m

Calculando a diferença de potencial obtém-se:


V f − Vi = − E ⋅ cosθ ⋅ d

V f − Vi =−20 ⋅ cos36,88º ⋅0,25 =−3,99V


 
c) No movimento de A para C, os vetores E e d s formam um ângulo
180º. Então, aplicando a equação tem-se:
V f − Vi = − E ⋅ cosθ ⋅ d

V f − Vi = −20 ⋅ cos180º ⋅0,2 = −20 ⋅ ( −1) ⋅ 0,2 = 4V

No exercício (a) o potencial encontrado foi zero, pois o deslocamento


aconteceu na mesma superfície equipotencial. Já no exemplo (b),
o resultado negativo mostra que o potencial está diminuindo, pois o
potencial no ponto C é menor que no ponto B. No exemplo (c), obteve-
-se um aumento do potencial, ou seja, o potencial no ponto A é maior
que no ponto C.

Exemplo 3.8
  
Uma carga elétrica atravessa um campo elétrico =E 5i + 8 j  N / C de
 
um ponto A até um ponto B, realizando um deslocamento d = 10i  m .  

Nessas condições, qual é a diferença de potencial entre os pontos A e B?

–  67  –
Física II

Solução
 
O ângulo entre os vetores E e d é
 
E ⋅d 5 ⋅ 10 + 8 ⋅ 0 50
cos θ=  = = = 0,53 → θ ≈ 58º
E ⋅d 52 + 82 ⋅ 102 + 02 94,33

Como o campo elétrico é constante, pois não sofre variação nem com o tempo
nem com a distância, aplica-se a equação (28), obtendo-se:
f f f

V f − Vi = − ∫ =− ∫ E ⋅ ds ⋅ cosθ = − E ⋅ cosθ ∫ ds = − E ⋅ cosθ ⋅ d


i i i

V f − Vi = − E ⋅ cosθ ⋅ d = − 52 + 82 ⋅ 102 + 02 ⋅ cos58º ≈ −49 , 98V

3.5 Potencial de um condutor elétrico


Suponha-se um corpo condutor no formato de uma esfera de raio r ele-
trizado com uma carga Q. É possível analisar três situações quanto ao poten-
cial elétrico produzido pela esfera condutora: um potencial em um ponto
externo; em um ponto na superfície da esfera; e em um ponto interno à esfera.

Figura 3.8 – Esfera condutora carregada eletricamente

–  68  –
Potencial Elétrico

O excesso de carga elétrica se distribuirá de maneira uniforme sobre


todos os pontos da superfície da esfera até que todos os pontos na superfície
e na parte interna atinjam o mesmo potencial.
Na figura (a), a esfera pode ser imaginada como uma carga puntiforme loca-
lizada em seu centro, e o potencial no ponto P externo é dado pela equação (24):
k ⋅Q
V=
dP

Na figura (b), o ponto P está na superfície, então a distância d é o pró-


prio raio r da esfera. Assim,
k ⋅Q
V= (29)
r
Na figura (c), o ponto P está no interior da esfera, então o potencial é
igual ao potencial na superfície. De fato, o campo elétrico é nulo no interior
da esfera (e perpendicular à superfície em um ponto que lhe é infinitesimal-
mente próximo), de onde segue que o potencial é constante em toda a esfera,
seja em seu interior, seja na superfície.

Exemplo 3.9
Uma esfera condutora tem raio de 20 cm. Considerando que está carre-
gada com uma carga de 10 µC, determine o potencial elétrico na super-
fície e em um ponto distante 5 cm da superfície da esfera.

Solução
O potencial na superfície é calculado usando a equação (29), que fica:
k ⋅ Q 9 ⋅ 109 ⋅ 10 ⋅ 10−3
Vs = = = 450 ⋅ 106 = 450000000V
r 0,20

Supondo que a carga seja puntiforme e esteja localizada no centro da esfera,


pela equação (24) tem-se:
k ⋅ Q 9 ⋅ 109 ⋅ 10 ⋅ 10−3
VP = = = 360 ⋅ 106 = 360000000V
dP 0,20 + 0,05

–  69  –
Física II

Exemplo 3.10
Se uma esfera condutora, neutra, tem raio igual a 2 cm, qual é a quan-
tidade de elétrons que se deve retirar para adquirir um potencial de 1 V
na superfície? (carga do elétron = –1,6.10-19C)

Solução
Pela equação (29):
k ⋅Q 9 ⋅ 109 ⋅ Q 1 ⋅ 0,02
Vs = →1 = → = Q → Q = 2,22 ⋅ 10−12 C
r 0,02 9 ⋅ 109

Da definição de carga elétrica:


2,22 ⋅ 10−12
n= −19
= 1,38 ⋅ 107 elétrons
1,6 ⋅ 10

Síntese
Uma carga se movendo de um ponto
i para um ponto f tem uma diferença
∆U =U f − U i = −Wif de energia que é igual ao negativo do
Diferença
de energia trabalho realizado.
q0Q
potencial U (r ) = k Energia potencial elétrica associada às
r
cargas q0 e Q, quando separadas por
uma distância r.
U
V=
q0 É a razão entre a energia potencial elé-
trica pela carga q0 em termos do traba-
Potencial ∆U Wi lho realizado pela partícula.
∆V = =− f
elétrico q0 q0 Potencial elétrico em um ponto a uma
distância r da carga Q geradora do
U Q campo elétrico.
V= =k
q0 r

–  70  –
Potencial Elétrico

Chama-se superfície equipotencial


aquela na qual o potencial é constante
Superfícies em todos os pontos.
equipotenciais Em um campo elétrico uniforme, as
superfícies equipotenciais são parale-
las entre si.
Trabalho realizado pelo campo elé-
   trico.
dW = F ⋅ ds → dW = q0 ⋅ E ⋅ d s
A diferença de potencial entre dois
 
f
pontos é igual ao negativo da integral
Potencial V f − Vi = − ∫ E ⋅ d s do produto do vetor campo elétrico
a partir do i
pelo elemento de deslocamento.
campo elétrico
 f
Potencial em qualquer ponto em um
−∫ E ⋅ d s
V =

campo elétrico, desde que o potencial
inicial seja zero em uma distância infi-
nita.
Potencial no ponto externo de um
k ⋅Q corpo condutor, no formato de uma
V= esfera de raio r, eletrizado com uma
Potencial de dP
um condutor carga Q.
elétrico k ⋅Q Potencial na superfície de um corpo
V=
r condutor, no formato de uma esfera de
raio r, eletrizado com uma carga Q.

–  71  –
4
Capacitores

Quando alguém está brincando com um estilingue ou com


uma cetra, ao puxar o elástico, a energia fica armazenada na forma
de energia potencial, pronta para ser usada e dar movimento à pedra
quando o elástico for solto, transformando a energia potencial em
energia cinética. Outros exemplos de armazenamento de energia
na forma de energia potencial podem ser a compressão de um gás
ou simplesmente a elevação de um objeto até uma altura qualquer.
Assim, pode-se armazenar energia para utilizá-la em um momento
posterior adequado.
Física II

Os capacitores são dispositivos que servem para armazenar energia. Um


flash de uma máquina fotográfica, por exemplo, pode ser disparado porque
há um capacitor para armazenar energia. De modo semelhante a um capaci-
tor, mas armazenando energia por meio de reações químicas, funcionam as
baterias, como as de carros.
Com os avanços tecnológicos, além de armazenar energia potencial, os
capacitores têm outras aplicações: por exemplo, há capacitores microscópicos
que formam bancos de memórias de computadores.
Neste capítulo, serão abordadas as teorias e as aplicações dos capacitores
utilizando-se os conceitos estudados nos capítulos anteriores, como campo
elétrico e energia potencial elétrica.

4.1 Capacitância
Os capacitores são basicamente constituídos de condutores metálicos
separados por um isolante, como representado na figura 4.1. Esses conduto-
res metálicos são chamados de placas condutoras e podem assumir qualquer
tamanho e forma geométrica. A maneira convencional de se apresentar os
capacitores é na forma de placas paralelas, como na figura 4.1, chamado de
capacitor de placas paralelas, que se constitui de duas placas paralelas de área
A separadas por uma distância d.
Figura 4.1 – Capacitor de placas condutoras paralelas

Ao carregar um capacitor, as placas ficam com a mesma quantidade de


carga, mas com sinal contrário. Cada placa desse capacitor estará carregada
eletricamente, uma com carga +q e outra com carga -q, de modo que a carga
absoluta do capacitor será q.

–  74  –
Capacitores

Capacitores são constituídos de condutores


metálicos separados por um isolante e que
servem para armazenamento de energia

Sendo as placas condutoras, as cargas elétricas em excesso ficam na


superfície livre da placa, constituindo uma superfície equipotencial e,
assim, todos os pontos na superfície da placa têm o mesmo potencial elé-
trico. Na figura 4.2 estão representadas duas placas paralelas A e B; na
placa A tem-se um potencial VA e na placa B, um potencial VB. Então,
entre as placas A e B cria-se uma diferença de potencial ΔV. Historica-
mente, essa diferença de potencial entre as placas paralelas pode ser repre-
sentada simplesmente por V.

Figura 4.2 – Diferença de potencial entre duas placas paralelas A e B

A capacitância é uma constante de proporcionalidade de um capacitor


que depende apenas do tamanho, da forma e da posição dos condutores.
Sabemos que o potencial é proporcional à carga q (como vimos no capítulo
3), de modo que uma variação no valor da carga elétrica gera uma mudança
do valor do potencial elétrico na mesma proporção e, consequentemente, na
diferença de potencial. Em suma, a capacitância pode ser definida como a
constante de proporcionalidade entre q e V, de modo que:
q = C ⋅V (30)
onde C é a capacitância cujo valor depende da geometria das placas.

–  75  –
Física II

No Sistema Internacional de Unidades (SI), a unidade de capacitância é o


coulomb por volt, chamada de farad. Isolando o elemento C da equação (30),
q 1C
obtém-se C = → = 1 F . Tal magnitude é muito elevada, de modo que
V 1V
é usual usar submúltiplos do farad, como microfarad (µF) ou picofarad (pF).

4.2 Carregando um capacitor


Pode-se carregar um capacitor pelo processo de indução em um circuito
elétrico com uma bateria. Um circuito elétrico é um caminho pelo qual os
elétrons, ou a corrente elétrica, podem seguir, e a bateria é um dispositivo
que mantém uma diferença de potencial entre seus terminais, por onde os
elétrons podem entrar e sair.
Em princípio, imaginemos uma placa metálica condutora A, eletrica-
mente neutra. Então retiram-se elétrons da placa, ligando-a a uma bateria
e atinge-se um potencial VA máximo que essa placa pode suportar, devido
à retirada de elétrons. Assim, a placa atinge uma carga QA, que é sua capa-
cidade máxima.
Figura 4.3 – Retirada de elétrons de uma placa condutora

Quando aproximamos uma segunda placa B e ligamos à terra, elétrons


da terra começam a vir para a placa, devido à indução.

–  76  –
Capacitores

Figura 4.4 – Placa carregada por indução

Outra maneira de representar essa situação é por meio de um diagrama.


O símbolo é utilizado para representar o gerador ou a bateria, e o sím-
bolo é utilizado para o capacitor. A bateria mantém uma diferença de
potencial V entre os terminais, e o terminal de potencial mais alto é repre-
sentado por +, sendo o terminal de potencial mais baixo representado por –,
como mostra a Figura 4.5.

Figura 4.5 – Circuito elétrico com um gerador e um capacitor

Assim, quando ligamos a chave S, o circuito elétrico fica completo, per-


mitindo que os elétrons se movam da placa n do capacitor para o terminal
positivo e do terminal negativo para a outra placa m do capacitor. Logo, a
placa n fica carregada com uma carga + q e a placa m, com uma carga – q,
gerando uma diferença de potencial V entre as placas, que será igual à dife-
rença de potencial que há entre os terminais da bateria. Quando as placas
tiverem seu potencial V igual ao potencial da bateria, o movimento dos elé-
trons cessará e o capacitor ficará completamente carregado.

–  77  –
Física II

O potencial V de um capacitor completamente carregado é


igual ao potencial V da bateria utilizada para carregá-lo.

4.3 Capacitor de placas paralelas


Em um capacitor de placas paralelas, considera-se que os vetores campos
elétricos entre as placas são paralelos e uniformes. De fato, há uma distorção
nas bordas, onde o campo elétrico assume outros valores e direções. Mas, para
uma distância muito pequena entre as placas (em relação a suas dimensões),
os efeitos de borda podem ser desprezados. Aplicando a lei de Gauss, da equa-
ção (14), tem-se:
 
ε o ⋅ ∫ E ⋅ d A= qliq

Como o vetor campo elétrico e o vetor área são uniformes e paralelos


entre as placas do capacitor, fica:
q = ε 0 ⋅ E ⋅ A (31)
onde q é carga contida na superfície gaussiana e A é a área da superfície gaus-
siana. Por conveniência, a superfície gaussiana estará englobando a carga da
placa positiva, como mostra a figura 4.6.
Figura 4.6 – Superfície gaussiana em um capacitor de placas paralelas

A diferença de potencial entre as placas é dada pela equação (27):


f
 
V f − Vi = − ∫ E ⋅ d s
i

–  78  –
Capacitores

onde a integral é calculada sobre qualquer trajetória de uma placa até a outra.
Escolhendo a trajetória da placa positiva para a placa negativa, trajetória que
 
acompanha a linha do campo elétrico, os vetores E e d s estarão na mesma
direção e no mesmo sentido.
 
O produto de E ⋅ d s terá um resultado positivo, e como a equação (27)
nos diz que o potencial terá um resultado negativo, podemos optar por tomar
apenas o valor absoluto do potencial, ficando:

V = ∫ E ⋅ ds (32)
+

O sinal + e – na integral representa a trajetória da integração que começa


na placa positiva e termina na placa negativa. Considerando que a distância d
entre as placas é constante, a equação (32) fica:
V= E ⋅ d (33)
A partir da definição de capacitância dada pela equação (30) obtém-se:
q = C ⋅E ⋅d

Isolando C:
q
C= (34)
E ⋅d
A equação (34) representa a capacidade do capacitor em função do
campo elétrico. Substituindo a expressão (31) para q em q = C.E.d obtém-se:
ε0 ⋅ E ⋅ A = C ⋅ E ⋅ d

Isolando C:
ε0 ⋅ A
C= (35)
d

Nessa equação, a capacidade do capacitor é uma função da área útil das


placas condutoras e da distância d entre as placas, ou seja, depende apenas da
geometria das placas e da distância que as separa.

–  79  –
Física II

A capacitância é diretamente proporcional


à área e inversamente proporcional à
distância das placas do capacitor.

Exemplo 4.1
Um capacitor possui uma carga elétrica de 8 µC quando está sob um
potencial de 1000 V. Determine a capacidade desse capacitor

Solução
Aplicando a definição de capacitância, dada pela equação (30), obtém-se:
8 ⋅ 10−6 C
q = C ⋅V → 8 ⋅ 10−6 C = C ⋅ 1000V → C = = 8 ⋅ 10−9 F
1000V

Exemplo 4.2
Considere um capacitor formado por placas condutoras paralelas e pla-
nas com área A = 0,08 m², distantes 0,1 cm uma da outra. Se o meio
que separa as placas condutoras é o vácuo, então qual será o valor da
capacitância?

Solução
Substituindo as informações fornecidas na equação (35) obtém-se:
ε0 ⋅ A 8,85 ⋅ 10−12 C 2 / N ⋅ m 2 ⋅ 0,08 m 2
C= →C = = 708 ⋅ 10−12 F =
d 0,001m

= 708 pF

Exemplo 4.3
Um capacitor é projetado para ter uma capacidade de 60 nF. Se está
completamente carregado a um potencial de 9V, quantos elétrons há
sobre a placa negativa?

–  80  –
Capacitores

Solução
O número de elétrons em excesso é determinado por q = n ⋅ e , então, usando
a equação (30), tem-se:
C ⋅V 60 ⋅ 10−9 F ⋅ 9V
n= = = 3,375 ⋅ 1012 elétrons
e 1,6 ⋅ 10−19C

4.4 Capacitor esférico


Um capacitor esférico consiste em duas cascas condutoras esféricas con-
cêntricas de raio a e b. A superfície gaussiana também é uma esfera de raio r
concêntrica às duas placas esféricas. Na figura 4.7 está representado um capa-
citor esférico no qual a casca esférica interna tem carga + q e a casca esférica
externa tem carga – q.

Figura 4.7 – Capacitor esférico

Os vetores campos elétricos são radiais, apontados para fora da casca


e têm a mesma direção do vetor área. Considerando que os vetores campo
elétrico e o vetor área são uniformes, a equação (31) fornece:
q = ε 0 ⋅ E ⋅ A = ε 0 ⋅ E ⋅ 4π ⋅ r 2 (36)
onde o termo 4π ⋅ r 2 é a área da superfície gaussiana esférica. Isolando o
termo campo elétrico E obtém-se:
q
E= (37)
4πε 0 ⋅ r 2

–  81  –
Física II

que é a expressão do campo elétrico criado por um esfera carregada uniforme-


mente. Substituindo a equação (37) na equação (32) obtém-se:
− b b
q q dr
V = ∫ E ⋅ ds =
+
∫ 4πε
a 0 ⋅r 2
⋅ dr =
4πε 0 ∫r
a
2

de onde segue que:


q 1 1
V= ⋅  −  (38)
4πε 0 a b

e, substituindo esse resultado na equação (30), determina-se a capacitância


desse capacitor esférico:
q 1 1
q =C ⋅ ⋅  −  (39)
4πε 0  a b 

ab
C 4πε 0 ⋅
= (40)
b−a

Pela equação (40), observa-se que a capacidade de um capacitor esfé-


rico depende dos raios das cascas esféricas. Se imaginarmos que a casca
esférica externa está muito afastada, tendendo ao infinito, ou seja, b → ∞
, então na equação (39) o termo 1/b tende a zero. Nesse caso, a capaci-
tância se refere a uma esfera isolada, para a qual pode-se denotar a = r e
tem-se:
C 4πε 0 ⋅ r (41)
=
onde r é o raio da esfera.

Exemplo 4.4
Determine a capacitância de um capacitor esférico cujos raios das esferas
são 2 cm e 3 cm, carregadas com uma carga de 20 µF.

Solução
Aplicando a equação (40):

–  82  –
Capacitores

ab
C 4πε 0 ⋅
=
b−a
0,02 ⋅ 0,03
C = 4 ⋅ π ⋅ 8,85 ⋅ 10−12 ⋅ F
0,03 − 0,02
C 6,67 ⋅ 10−12 F
=
C = 6,67 pF

Exemplo 4.5
Sabendo que a Terra tem um raio de 6.370 km, qual seria o valor de sua
capacitância se fosse considerada uma esfera condutora isolada?

Solução
Aplicando a equação (41):
C 4πε 0 ⋅ r
=
C =4π ⋅ 8,85 ⋅ 10−12 ⋅ 6370000 F
=C 708422860,199 ⋅ 10−12 F
C 7,08 ⋅ 10−4 F
=

4.5 Associação de capacitores


Muitas vezes, pode-se utilizar mais de um capacitor em um circuito.
Nesse caso, os capacitores podem ser substituídos por um único capacitor
equivalente que tenha a mesma capacitância que o conjunto dos outros
capacitores no circuito. Com essa substituição, simplifica-se o circuito e
facilitam-se os cálculos dos elementos que se quer obter. Há três maneiras de
associar capacitores.

4.5.1 Associação em série


Em uma associação em série, o polo negativo de um capacitor está ligado
a um polo positivo do capacitor seguinte.

–  83  –
Física II

Figura 4.8 – Capacitores em série

A diferença de potencial V através dos terminais A e B do lado esquerdo


e do lado direito da combinação dos capacitores produz potenciais V1, V2 e
V3 através dos capacitores. Nesse caso, tem-se:
V=V1+V2+V3 (42)

O potencial V é a soma dos


potencias V=V1+V2+V3.
V=V1+V2+V3

Quando os pontos A e B são conectados aos terminais de uma bateria, os


elétrons são transferidos entre as placas e essa transferência de elétrons deixa
a placa do lado esquerdo, de C1, com uma carga +Q; e do lado direito, –Q.
O campo elétrico produzido por essa carga +Q induz uma carga negativa
idêntica, –Q, e assim haverá uma carga igual +Q na placa do lado esquerdo
do segundo capacitor. Logo, as cargas em cada placa terão o mesmo valor:
Q=Q1=Q2=Q3 (43)

A carga Q é igual em todos os capacitores.


Q=Q1=Q2=Q3

–  84  –
Capacitores

Q Q Q  1 1 1 
E, como V =V1 +V2 +V3 = + + = Q  + +  , temos
C1 C 2 C 3  C1 C 2 C 3 
uma capacitância equivalente dada por:

1 1 1 1
= + + (44)
C C1 C 2 C 3

Tal capacitância equivalente do capacitor é


inferior à menor capacitância da série.

Os resultados podem ser generalizados para qualquer número de capa-


citores ligados em série.

4.5.2 Associação em paralelo


Em uma associação em paralelo, todos os polos negativos de um capaci-
tor estão ligados a um ponto de mesmo potencial, e todos os polos positivos
do capacitor estão ligados a outro ponto de mesmo potencial.
Figura 4.9 – Capacitores em paralelo

A diferença de potencial V através dos terminais A e B do lado esquerdo


e do lado direito da combinação dos capacitores produz o mesmo potencial V
através dos capacitores. Nesse caso, tem-se:

–  85  –
Física II

V=V1=V2=V3 (45)
O potencial V é igual aos demais potenciais V=V1=V2=V3
e
Q=Q1+Q2+Q3 (46)
A carga Q é igual à soma das cargas dos demais capacitores.
De modo que Q = Q1 + Q2 + Q3 = C1V + C2V + C3V = (C1 + C2 + C3)
V. Ou seja:
C=C1+C2+C3 (47)
A capacitância equivalente do capacitor é a soma das capaci-
tâncias.
C=C1+C2+C3
Os resultados podem ser generalizados para qualquer número de capa-
citores ligados em paralelo.

4.5.3 Associação mista


Na associação mista encontram-se capacitores em série e em paralelo ao
mesmo tempo.
Figura 4.10 – Associação mista de capacitores

–  86  –
Capacitores

O cálculo da capacitância equivalente é feito analisando-se as associações


separadamente, determinando os equivalentes em cada associação e respei-
tando se estão em série ou em paralelo.

Exemplo 4.6

Sendo a associação dada pela figura, determine:


a) a capacitância equivalente da associação
b) a carga de cada capacitor
c) a carga total armazenada

Solução
a) Sendo essa a associação do tipo paralela, a capacitância equivalente
fica:
C = C1 +C 2 = 10 nF + 2 nF = 12 nF

b) A carga de cada capacitor é:


Q1 =C1 ⋅V =2 ⋅ 10−9 ⋅ 80C =160 nC

Q2 = C 2 ⋅V = 10 ⋅ 10−9 ⋅ 80 C = 800 nC

c) A carga total vale:


Q = Q1 +Q 2 = 160 nC + 800 nC = 960 nC

–  87  –
Física II

Exemplo 4.7
Determine a capacidade equivalente na seguinte associação:

Solução
Sendo essa a associação do tipo paralela, a capacitância equivalente fica:
C = C1 +C 2 +C 3 = 5 pF + 6 pF + 12 pF = 23 pF

Exemplo 4.8
Determine a capacidade equivalente e a carga total na seguinte associação:

Solução
Neste caso, a associação é em série, então a capacidade equivalente é dada
por:

1 1 1 1 1 1 1 1 1 3+ 6+ 2
= + + → = + + → = →
C C1 C 2 C 3 C 4 µ F 2 µ F 6η F C 12 µ F

1 11
= → C = 12 µ F
C 12 µ F 11

–  88  –
Capacitores

C = 1,0909 µ F

A carga total na associação tem o mesmo valor em todos os capacitores, assim,


usando a capacidade equivalente para o potencial de 12 V, tem-se:
Q = C ⋅V

Q = 1,0909 ⋅ µ F ⋅ 12 V

Q = 13 , 09 µC

Exemplo 4.9
Seja a associação dada pela figura. Determine a carga total desse
capacitor.

Solução
Determinando a capacidade equivalente na associação, resolve-se a associa-
ção que está em paralelo. Denotando por C3 o capacitor equivalente a essa
associação em paralelo tem-se:
C 3 = C1 +C 2 → C 3 = 6 F + 10F → C 3 = 16 µ F

Reescrevendo o arranjo com o capacitor encontrado C3 tem-se:

–  89  –
Física II

Calculando a capacitância equivalente na nova associação, que está em


série, obtém-se:
1 1 1 1 1 1
= + → = + → C = 2,52 µ F
C C1 C 3 C 3 µ F 16 µ F

A nova associação fica

Aplicando a equação (30):


q 2,52 µ F ⋅ 12V
= = 30,24 µC

4.6 Energia de um capacitor


Em um circuito elétrico, os elétrons são transferidos de um terminal par
chegar a uma das placas de um capacitor. Como se sabe, ao dar movimento
aos elétrons, realiza-se trabalho. Enquanto a carga elétrica se acumula nas pla-
cas de um capacitor, um agente externo realiza mais trabalho para transferir
elétrons para as placas. O agente externo pode ser uma bateria ou uma pilha.
Esse trabalho realizado pelo agente externo fica armazenado sob a forma
de energia potencial elétrica U. Essa energia acumulada pode ser utilizada
quando se desejar, permitindo a descarga de elétrons ao circuito.
q
.
A diferença de potencial entre as placas é dada pela equação (30) V =
C
Contudo, se aumentarmos uma pequena quantidade de carga q’, o diferencial
de trabalho, que está sendo adicionado, de acordo com a equação (23), será:
Wi f
V =
− → dW =
V ⋅ dq ' →
q0

–  90  –
Capacitores

q'
dW = ⋅ dq' (48)
C
Então o trabalho total para carregar esse capacitor com uma carga total
q será a soma de todos os pequenos trabalhos realizados, ou seja:
q
q'
W = ∫ dW = ∫ ⋅ dq' (49)
0
C
E, resolvendo a integral, chega-se a:
q2
W= (50)
2 ⋅C
Esse trabalho fica armazenado na forma de energia potencial no capaci-
tor, logo:
q2
U= (51)
2 ⋅C
Substituindo a equação (30) em (51), pode-se escrever a energia poten-
cial em função do potencial:
C ⋅V 2
U=
2 (52)

A energia armazenada em um capacitor é diretamente


proporcional do quadrado do potencial V desse capacitor.

As equações para o cálculo de energia potencial são independentes da


geometria das placas.

Exemplo 4.10
Seja um capacitor de placas paralelas com 0,2 m2 de área cada, separadas
por uma distância de 2 cm. Se a diferença de potencial entre as placas é
igual a 120 V, qual é a energia potencial do capacitor?

–  91  –
Física II

Solução
Para determinar a energia potencial do capacitor pela equação (52), há a
necessidade de primeiramente encontrar a capacitância. Pela equação (35)
tem-se:
8,85 ⋅ 10−12 ⋅ 0,2
C= = 88,5 ⋅ 10−12 F
0,02

e
88,5 ⋅ 10−12 ⋅ 1202
=
U = 6,372 ⋅ 10−7 J
2

Exemplo 4.11
Se no Exemplo 4.10 a distância entre as placas fosse reduzida para 1 cm,
qual seria a energia potencial do capacitor?

Solução
8,85 ⋅ 10−12 ⋅ 0,2
C= = 177 ⋅ 10−12 F
0,01

177 ⋅ 10−12 ⋅ 1202


U= = 1,2744 ⋅ 10−6 J
2

Síntese

q = C ⋅V Condutores metálicos separados por um iso-


Capacitância
lante e que servem para armazenar energia.
q A capacidade do capacitor em função do
C= campo elétrico.
Capacitor de E ⋅d
placas paralelas A capacidade do capacitor depende da área
ε0 ⋅ A
C= útil das placas condutoras e da distância d
d entre as placas.

–  92  –
Capacitores

São duas cascas condutoras esféricas con-


ab cêntricas de raios a e b. O capacitor tem
C 4πε 0 ⋅
= dependência da distância entre as cascas
Capacitor b−a
esférico esféricas.
C 4πε 0 ⋅ r
= Capacitor de uma esfera isolada em que a
esfera externa tende ao infinito.
V =V1 +V2 +V 3
O potencial V é a soma dos potenciais.
Associação de Q = Q1 = Q 2 = Q 3 A carga Q é igual em todos os capacitores.
capacitores
em série 1 1 1 1 A capacitância equivalente do capacitor é
= + +
C C1 C 2 C 3 inferior à menor capacitância da série.

O potencial V é igual aos demais potenciais.


V =V1 =V2 =V3
Associação de A carga Q é igual à soma das cargas dos
capacitores Q = Q1 +Q 2 +Q 3 demais capacitores.
em paralelo
C = C1 +C 2 +C 3 A capacitância equivalente do capacitor é a
soma das capacitâncias.

A energia potencial elétrica de um capacitor


Energia de um C ⋅V 2
U= é diretamente proporcional do quadrado do
capacitor 2 potencial V desse capacitor.

–  93  –
5
Circuito Elétrico

Quando associamos alguns elementos, como resistores,


capacitores, interruptores, formando um caminho fechado para a
corrente elétrica, estamos formando um circuito elétrico.
Os aparelhos eletrônicos são constituídos de circuitos que
utilizam um conjunto de elementos, entre eles, um gerador elétrico,
um condutor em circuito fechado e um elemento capaz de utilizar a
energia produzida pelo gerador. Um circuito elétrico simples, como
um carrinho de controle remoto, alimentado por pilhas, baterias ou
Física II

tomadas, apresenta uma fonte de energia elétrica, um aparelho elétrico, fios


ou placas de ligação e um interruptor para ligar e desligar o aparelho. Quando
está ligado, diz-se que o circuito elétrico está fechado e uma corrente elétrica
passa por ele.
Uma corrente elétrica pode produzir vários efeitos: óticos, cinéticos,
térmicos, acústicos. Neste capítulo, serão discutidos os fenômenos que um
circuito elétrico apresenta e os efeitos que causa.

5.1 Elementos de um circuito elétrico


Para se estabelecer uma corrente elétrica, são necessários alguns elemen-
tos básicos para compor o circuito:
22 Gerador elétrico
O gerador elétrico é um dispositivo capaz de transformar outra
forma de energia em energia elétrica. Pode-se dizer que sua função
é fornecer energia às cargas elétricas. Os mais comuns são geradores
químicos, que transformam energia química em energia elétrica,
como pilhas e baterias, e geradores mecânicos, que transformam
energia mecânica em elétrica, como um dínamo de motor de carro.
A representação de um gerador é dada na figura 5.1.
Figura 5.1 – Representação de um gerador

22 Receptor elétrico
Um receptor elétrico é um dispositivo que transforma energia
elétrica em outra forma de energia, não exclusivamente térmica.
O motor elétrico é o principal tipo de receptor, transformando a
energia elétrica em energia mecânica. Sua representação é como na
figura 5.2.

–  96  –
Circuito Elétrico

Figura 5.2 – Representação de um receptor elétrico

22 Resistor elétrico
O resistor elétrico transforma toda a energia elétrica consumida em
calor. Os principais tipos de resistores são aquecedores elétricos,
ferros elétricos, chuveiro elétrico, lâmpadas comuns. Sua represen-
tação é dada na figura 5.3.

Figura 5.3 – Representação de um resistor elétrico

22 Dispositivos de manobra
São dispositivos que servem para ligar ou desligar um circuito elé-
trico, por exemplo, as chaves e os interruptores. Sua representação
é mostrada na figura 5.4.

Figura 5.4 – Representação de um dispositivo de manobra

22 Dispositivos de segurança
Dispositivos de segurança são utilizados para interromper a passa-
gem de corrente elétrica quando, no circuito, esta for maior que a
prevista, preservando assim os demais dispositivos no circuito. Os
exemplos mais comuns são os fusíveis e os disjuntores. Sua repre-
sentação é dada na figura 5.5.

–  97  –
Física II

Figura 5.5 – Representação de um dispositivo de segurança

22 Dispositivos de controle
Esses dispositivos são utilizados nos circuitos para medir a inten-
sidade da corrente elétrica e a diferença de potencial. Os mais
comuns são o amperímetro, que mede a intensidade de corrente
elétrica, e o voltímetro, que mede a diferença de potencial entre
dois pontos. Suas representações são mostradas na figura 5.6.

Figura 5.6 – Representação de um amperímetro e de um voltímetro

5.2 Corrente elétrica


O estudo de corrente elétrica é a análise das cargas elétricas quando estão
em movimento. Diferentemente da eletrostática, que aborda as cargas elétri-
cas em repouso, na eletrodinâmica os portadores de carga elétrica locomo-
vem-se de um ponto para outro.
Há vários exemplos de correntes elétricas aplicadas em nosso dia a dia:
os relâmpagos, que são descargas muito grandes de elétrons, e até corren-
tes muito pequenas, como as correntes nervosas que regulam nosso sistema
muscular. Vale ressaltar que nem todas as cargas elétricas, quando estão em
movimento, geram uma corrente elétrica.
O estudo a seguir será sobre um fluxo constante de elétrons que se
movem através de fios condutores metálicos.
Considere um fio metálico, como mostrado na figura 5.7. Nos metais, há
grande quantidade de elétrons livres, que se movimentam de maneira caótica.

–  98  –
Circuito Elétrico

Figura 5.7 – Movimento de elétrons livres em um condutor metálico

Apesar de os elétrons estarem se movendo dentro do condutor, não


está caracterizada uma corrente elétrica, pois o movimento é desordenado.
Criando-se um campo elétrico no interior desse condutor metálico, os elé-
trons livres passam a ter um movimento ordenado, seguindo no mesmo sen-
tido devido a forças que aparecem sobre os elétrons, estabelecendo uma cor-
rente elétrica.

Figura 5.8 – Movimento ordenado de elétrons livres

O campo elétrico que age no interior do condutor metálico é conse-


guido ligando-se o condutor aos terminais de um gerador; como exemplo,
pode-se citar uma pilha, que estabelece no condutor uma diferença de
potencial. Os elétrons livres no condutor ficam sujeitos à ação de uma
força elétrica.

O movimento ordenado dos elétrons livres em um


condutor, devido à ação de um campo elétrico,
é o que se chama de corrente elétrica.

O sentido da corrente elétrica é o sentido do movimento dos elétrons


que se deslocam do potencial menor (polo negativo) para o potencial maior
(polo positivo). Esse sentido de movimento é o sentido real da corrente elé-
trica. Entretanto, por motivos históricos, adota-se o sentido chamado de con-
vencional, que corresponde ao mesmo sentido do campo elétrico no interior

–  99  –
Física II

do condutor, ou seja, é o deslocamento imaginário das cargas positivas do


potencial maior para o menor. Então, quando se tratar do sentido de corrente
elétrica, será adotado o sentido convencional.
Figura 5.9 – Sentido da corrente elétrica

Suponha-se uma secção transversal em um condutor metálico que está


sendo percorrido por uma corrente elétrica. É de se esperar que essa secção
hipotética, de área A, seja atravessada por uma quantidade enorme de cargas
elétricas em um intervalo de tempo. Define-se a corrente elétrica como a
razão da quantidade de carga dq que atravessa a secção transversal no inter-
valo de tempo dt:
dq
i= (53)
dt

Corrente elétrica é a razão entre a quantidade de


carga elétrica e o intervalo de tempo que os elétrons
levam para atravessar uma secção transversal.

A quantidade de carga total que passa pela área A, em um intervalo de


tempo de 0 até t, é determinada por integração da equação (53), ficando:
t

q = ∫ i ⋅ dt (54)
0

–  100  –
Circuito Elétrico

A corrente elétrica i pode ser uma constante ao longo do condutor ou


pode sofrer variação em função do tempo. Se i é uma função do tempo,
deve-se resolver a integral dessa função. Caso contrário, se i for constante, é
retirado do integrando, obtendo-se:
q = i ⋅ ∆t (55)
A unidade de corrente elétrica para o Sistema Internacional de Unidades
1C
(SI) é chamada de ampère: 1 ampère = 1 A = . O ampère é uma unidade
1s
básica no SI, e é um escalar, pois tanto carga elétrica quanto tempo são esca-
lares. Muitas vezes, representamos a corrente elétrica i por setas, indicando o
sentido em que está fluindo, porém, isso não significa que são vetores. Sim-
plesmente usa-se a seta para indicar o movimento das cargas elétricas.

Exemplo 5.1
Uma corrente elétrica de intensidade igual a 4A percorre um condutor.
Qual foi a quantidade de elétrons que atravessaram uma secção transver-
sal reta em um intervalo de tempo de 5 segundos?

Solução
q = 4A ⋅ 5 s = 20 C

20
n= −19
= 1,25 ⋅ 1020elétrons
1,6 ⋅ 10

Exemplo 5.2
Determine a corrente elétrica i que atravessa um condutor, se uma quan-
tidade de carga elétrica igual a 2 µC atravessa uma secção transversal em
10 segundos.

Solução
2 µC
=i = 0,2 µ A
10 s

–  101  –
Física II

Exemplo 5.3
A corrente elétrica que atravessa um condutor é dada pela função
i = 0,2 + 0,3 ⋅ t . Determine a carga total que atravessa uma secção trans-
versal em 10 segundos.

Solução
Como a corrente é uma função do tempo, deve-se aplicar a equação (54) e
resolver integral no intervalo de tempo fornecido, ficando:
t
q = ∫ i ⋅ dt
0

10
q = ∫ [0,2 + 0,3t ] ⋅ dt
0

10 10
q = ∫ 0,2 ⋅ dt + ∫ 0,3t ⋅ dt
0 0

 0,3t 2 10 
q =  0,2 ⋅ t |  + 
10
|
 0   2 0

 0,3 ⋅ 102 0,3 ⋅ 02 


q = ( 0,2 ⋅ 10 − 0,2 ⋅ 0 ) C +  − C
 2 2 

q = 2 C + 15 C

q = 17 C

Por vezes, pode acontecer, em um circuito elétrico, que a carga elétrica


mude a direção de movimento, ou seja, o campo elétrico aplicado no con-
dutor tem seu sentido alterado, mudando também o sentido da corrente
elétrica. Ou pode ocorrer que a intensidade da corrente elétrica varie com
o passar do tempo. Dessa forma, pode-se classificar a corrente elétrica em
dois tipos:

–  102  –
Circuito Elétrico

22 Corrente contínua
A corrente elétrica contínua, representada por CC, é a corrente
em que o sentido e a intensidade se mantêm constantes. Podem-se
tomar como exemplos as correntes elétricas estabelecidas por pilhas
e baterias.
22 Corrente alternada
A corrente elétrica alternada, representada por CA, é a corrente em
que o sentido e a intensidade variam periodicamente. Podem-se
tomar como exemplos as correntes elétricas utilizadas em residên-
cias, que são fornecidas por usinas hidrelétricas.

5.3 Resistência elétrica


Os resistores são dispositivos que tornam mais difícil o movimento dos
elétrons na passagem da corrente elétrica.
Fica fácil visualizar essa situação se imaginarmos, como exemplo, um
grupo de pessoas caminhando em um corredor largo, no qual todos podem
caminhar tranquilos na mesma direção e no mesmo sentido. Se, em determi-
nado momento, o corredor se afunilar e alguns obstáculos forem colocados,
as pessoas terão certa dificuldade de se mover e começarão a esbarrar umas nas
outras, de modo que o movimento ficará mais difícil à medida que o corredor
se fechar e mais obstáculos forem acrescentados. No caso do movimento das
cargas elétricas, essa dificuldade de movimento é chamada de resistência elé-
trica R e é caracterizada por uma grandeza física chamada ohm.

Os resistores são dispositivos que dificultam o movimento


das cargas elétricas em uma corrente elétrica.

A resistência elétrica R de um resistor tem dependência tanto da natu-


reza do condutor quanto de suas dimensões e da temperatura. Então, em
geral, a resistência de um resistor é uma grandeza variável. A representação de
um resistor é mostrada na figura 5.10.

–  103  –
Física II

Figura 5.10 – Representação de um resistor R

Quando se aplica uma diferença de potencial V entre os extremos de


uma barra metálica, verifica-se a presença de uma corrente elétrica i. Porém,
se a barra metálica for trocada por uma barra de vidro com a mesma geome-
tria, por exemplo, e a mesma diferença de potencial continuar sendo aplicada,
a corrente mudará drasticamente.
Define-se a resistência elétrica R do resistor como a razão entre a dife-
rença de potencial aplicada entre seus terminais pela corrente elétrica obtida:
V
R= (56)
i
A unidade de resistência elétrica no SI é o ohm, cujo símbolo é Ω , ou
1V
seja, 1Ω = .
1A
Pela equação (56), observa-se que quando se aplica certo potencial
em um condutor e a corrente elétrica observada tiver um valor muito alto,
implica que o valor da resistência é baixo, ou seja, uma corrente alta implica
em uma resistência baixa. Se, para o mesmo potencial, o resultado da corrente
elétrica observada for muito baixo, significa que o valor da resistência será
alto, ou seja, uma corrente baixa implica em uma resistência alta. Isso faz todo
o sentido, pois a resistência R de um resistor tem a finalidade de diminuir o
movimento dos elétrons.
Os próprios fios metálicos que constituem um circuito elétrico também
funcionam como resistores. Porém, apesar de oferecerem resistência ao movi-
mento dos elétrons, essa resistência é muito pequena.
Exemplo 5.4
Uma serpentina de um aquecedor elétrico é atravessada por uma cor-
rente elétrica de 3 A quando submetida a uma diferença de potencial de
110 V. Nessas condições, qual é o valor da resistência dessa serpentina?

–  104  –
Circuito Elétrico

Solução
Resolvendo pela equação (56), tem-se:
V 110V
R= = ≈ 36,6Ω
i 3A

Exemplo 5.5
Seja a corrente elétrica uma função do tempo dada pela função
i 5µ ⋅ t A / s , atravessando um circuito elétrico que está ligado a uma
=
linha com uma diferença de potencial de 110 V, durante 20 segundos.
Determine o valor da resistência elétrica:
a) no tempo t = 10s
b) no tempo t = 20s
Solução
Para o cálculo da resistência elétrica, deve-se determinar a corrente elétrica
para os respectivos tempos, assim:
a) 5µ ⋅ t A / s =
i= 5µ ⋅ 10 sA / s =
50µ A

V 110V
R= = = 2,2 ⋅ 106 Ω
i 50 µ A

b) i = 5µ ⋅ t = 5µ ⋅ 20= 100 µ A

V 110V
R= = =1,1 ⋅ 106 Ω
i 100 µ A

Pode-se notar que o valor da resistência elétrica está diminuindo à medida


que o tempo aumenta, ou seja, a corrente elétrica aumenta com o tempo e a
resistência diminui com ele.

5.4 Lei de Ohm


Existem certos materiais cuja resistência permanece constante, inde-
pendentemente da variação do potencial ou da corrente. Esses materiais são

–  105  –
Física II

chamados de ôhmicos e funcionam como resistores quando conectados em


um circuito. Georg Simon Ohm (1789-1854) realizou diversas experiências
analisando o efeito da corrente elétrica ao percorrer um resistor, concluindo
que a resistência R é constante para determinados tipos de resistores.
Na experiência, Ohm aplicou sucessivas diferenças de potenciais entre
os terminais de um mesmo resistor, obtendo diferentes correntes elétricas.
Observou que esses valores tinham entre si uma relação constante, tal que
V1 V2 V3 V
= = = ... = n = R , ou seja, a razão entre a diferença de potencial V e
i1 i2 i3 in
a corrente elétrica i é uma constante. Assim, tem-se:
V = R ⋅ i (57)
que é a chamada lei de Ohm. A relação entre V e i pode ser observada empi-
ricamente para qualquer tipo de condutor. Acontece que, quando o condutor
for ôhmico, ele obedecerá à equação (57). Nesse caso, a relação entre V e i
é linear, de modo que a resistência R não depende de V, como ilustrado na
figura 5.11.
Figura 5.11 – Representação gráfica de um resistor ôhmico

A relação expressa pela equação (57) é válida quando se mantém a tem-


peratura constante e as demais condições do resistor (comprimento e área da
seção transversal). De fato, o valor da resistência muda com a temperatura.

Condutores obedecem à lei de Ohm se sua


resistência for independente da diferença de
potencial aplicada e da variação de corrente.

–  106  –
Circuito Elétrico

Também se utilizando de experiência, Ohm verificou que a resistência


elétrica de um fio condutor depende do comprimento, do diâmetro e do
material desse fio.
Figura 5.12 – Resistência de um fio condutor

Essa resistência é diretamente proporcional ao comprimento do fio e


inversamente proporcional à área de sua secção transversal, sendo dada por:
L
R= ρ ⋅ (58)
A
onde ρ é a constante de proporcionalidade chamada de resistividade elétrica
do material, que tem dependência de sua natureza e da temperatura. No SI,
a unidade de resistividade elétrica é Ω ⋅ m .

A resistência elétrica em um fio condutor é diretamente


proporcional a seu comprimento L e inversamente
proporcional à área A de sua secção transversal.

Exemplo 5.6
Seja um resistor ôhmico, sob uma diferença de potencial de 60 V, per-
corrido por uma corrente elétrica de 5 A. Determine a resistência elétrica
desse resistor.
Solução
Aplicando a equação (57) obtém-se:
60 (V )
R= = 12Ω
5( A)

–  107  –
Física II

Exemplo 5.7
Considere uma barra de ferro na forma de um cilindro de 5 cm de
comprimento e 1,2 cm de raio. Qual é a resistência elétrica se a barra
de ferro possui uma resistividade igual 9,68 ⋅ 10−8 Ω ⋅ m em temperatura
ambiente de 20 ºC?

Solução
Sendo a barra na forma cilíndrica, então a área da secção transversal é dada
pela fórmula A = π ⋅ r 2 , logo:
L 0, 05 ( m )
R =⋅ = 9, 68 ⋅ 10−8 ( Ω ⋅ m ) ⋅ ≈ 1069 ⋅ 10−8 Ω ≈ 10, 69 µΩ
A π ⋅ 0, 012 (m )
2 2

Exemplo 5.8
Comparando dois condutores metálicos, feitos do mesmo material,
observa-se que têm comprimentos L e 2L e área de secção transversal S e
4S, conforme mostra a figura. Determine a razão entre R1 e R2 .

Solução
Para cada um dos resistores tem-se:
L 2L
R1 = ⋅ e R2 = ⋅
A 4A

A razão entre R1 e R2 fica:

–  108  –
Circuito Elétrico

L

R1 ⋅L 4A
= A = ⋅ =2
R2 ⋅ 2 L A 2L
4A

5.5 Energia e potência de um resistor


Em um circuito elétrico, a bateria ou pilha mantém uma diferença de
potencial de módulo V através de seus terminais. Assim, um terminal a do
dispositivo terá um potencial maior do que um terminal b. Considerando
que a diferença de potencial estabelecida pela bateria será mantida, uma cor-
rente elétrica i percorre o condutor do terminal a para o terminal b.
Uma quantidade de carga elétrica dq se move de a para b no intervalo
de tempo dt, sendo expressa por i.dt. A variação da energia potencial elétrica
associada a esse movimento é dada pela equação (21), ou seja, dU = dq.V .
O decréscimo dessa energia potencial elétrica no sistema se dá pela
transferência dessa energia em outra forma. Assim, associa-se uma potência P
à transferência de energia, dividindo a equação (21) pelo intervalo de tempo
dt, ficando:
P = i ⋅V (59)

A potência dissipada P em um trecho AB de um


condutor qualquer é dada pelo produto da diferença de
potencial V, entre os pontos A e B, pela intensidade
da corrente elétrica i entre esses pontos.

O termo dissipar é usado no sentido de consumir.


A potência P é uma taxa de transferência de energia da bateria para
outros dispositivos. Se o dispositivo em questão for um resistor elétrico, a
energia será transferida sob a forma de energia térmica, aumentando a tem-
peratura do resistor.

–  109  –
Física II

Figura 5.13 – Circuito elétrico constituído por um resistor R sob uma


diferença de potencial V

Se considerarmos um resistor de resistência elétrica R, ligado a uma


bateria com uma diferença de potencial de módulo V e percorrido por uma
corrente elétrica de intensidade i, como mostra a figura 5.13, a fim de se
calcular a potência elétrica consumida por esse resistor, substitui-se a dife-
rença de potencial V, na equação (59), por seu valor R ⋅ i para resistores
ôhmicos, obtendo:
P = i2 ⋅ R (60)

A unidade de potência no SI é watt (W).


Uma unidade de energia bastante utilizada pelas companhias de energia
elétrica para medir o consumo de energia é o quilowatt-hora. As contas de
energia de nossa casa são registradas pela quantidade de kWh, que representa o
consumo de energia em um mês. O termo kWh corresponde à energia consu-
mida por um aparelho de potência de 1 kW, ligado durante uma hora. A rela-
ção de 1kWh com o joule é dada por 1kWh = 1000W ⋅ 3600s = 3,6 ⋅ 106 J ,  

ou seja:
1 kWh=3,6 ⋅ 106 J (61)

Exemplo 5.9
Um circuito elétrico é constituído por um resistor de 20Ω e está ligado
a uma fonte de 400V . Qual é a potência consumida? Qual é a energia
consumida em 1 hora?

–  110  –
Circuito Elétrico

Solução
Da equação (59), substituindo a corrente elétrica i por V/R, tem-se:
V 400V ⋅ 400V
P= ⋅V = = 8000W = 8kW
R 20Ω

Pela definição de potência tem-se:


U = 8kWh

U = 8kWh = 8 ⋅ 3,6 ⋅ 106 J = 28,8 ⋅ 106 J

Exemplo 5.10
Se um chuveiro elétrico residencial de 220V dissipa uma potência de
2kW , então qual é o custo de um banho com 10 minutos de duração
se a tarifa paga é de R$ 1,20 por kWh ?

Solução
Transformando 10 minutos em hora e usando a definição de potência tem-
-se:
U ≈ 2 ⋅ 103W ⋅ 0,16h ≈ 0,33... kWh

A tarifa que se paga é de R$ 1,20/kWh x 0,33... kWh = R$ 0,40.

5.6 Associação de resistores


Nos circuitos elétricos, pode-se ter mais de um resistor, associados de
maneiras diferentes. Nessas combinações, pode-se fazer a substituição por um
único resistor equivalente.

5.6.1 Associação em série


Em uma associação em série, os resistores são ligados um em seguida do
outro, de forma que a corrente elétrica tem um único trajeto para percorrer.

–  111  –
Física II

Figura 5.14 – Resistores em série

A diferença de potencial V através dos terminais A e D do lado esquerdo


e do lado direito da combinação dos resistores produz potencial V1, V2 e V3
através dos resistores. Nesse caso tem-se:
V =V1 +V2 +V3 (62)

O potencial V é a soma das potências V1 ,V2 eV3 :

i = i1 = i2 = i3
(63)

A corrente elétrica i é igual em todos os resistores i = i1 = i2 = i3


Assim, como a queda total de potencial V entre A e D é a soma das
quedas de potenciais individuais para cada resistor, tem-se que V = V1 + V2
+ V3 = iR1 + iR2 + iR3 = i (R1 + R2 + R3), de modo que é possível definir uma
resistência equivalente dada por:
R = R1 + R2 + R3 (64)
com V = i.R.
A resistência R equivalente do circuito é a soma das resistências da série
R = R1 + R2 + R3

Os resultados podem ser generalizados para associações em séries de


qualquer número de resistores.

–  112  –
Circuito Elétrico

5.6.2 Associação em paralelo


Em uma associação em paralelo, os resistores são ligados através de dois
pontos em comum no circuito. Assim, a corrente elétrica tem trajetos dife-
rentes a percorrer.

Figura 5.15 – Resistores em paralelo

A diferença de potencial V através dos terminais A e B do lado esquerdo


e do lado direito da combinação dos resistores produz o mesmo potencial V
através dos resistores. Nesse caso tem-se:
V =V1 =V2 =V3 (65)
O potencial V é igual aos demais potenciais V1 ,V2 eV3 : V =V1 =V2 =V3

E, como a corrente total entre A e B deve se conservar, tem-se que:


i = i1 + i2 + i3 (66)
A corrente elétrica i é igual à soma das correntes elétricas dos demais
resistores i = i1 + i2 + i3
Assim, i = i1 + i2 + i3 = V/R1 + V/R2 + V/R3 = V (1/R1 + 1/R2 + 1/R3). Ou
seja, pode-se definir uma resistência equivalente R dada por:
1 1 1 1
= + + (67)
R R1 R2 R3
com i = V/R .

–  113  –
Física II

A resistência do resistor equivalente de uma combinação de resistores em


1 1 1 1
paralelo é inferior à menor resistência da série: = + +
R R1 R2 R3

De fato, 1/R > 1/Rk para qualquer resistor k em particular, de modo que
R < Rk.

Exemplo 5.11
Determine a resistência equivalente nas associações representadas nas
figuras.

Solução
A associação está em série, logo:
R = R1 + R2 + R3

R= 12Ω + 8Ω + 6Ω= 26Ω

A associação está em paralelo, logo:


1 1 1 1
= + +
R R1 R2 R3

1 1 1 1
= + +
R 12Ω 8Ω 6Ω

–  114  –
Circuito Elétrico

1 8Ω ⋅ 6Ω + 12Ω ⋅ 6Ω + 12Ω ⋅ 8Ω
=
R 12Ω ⋅ 8Ω ⋅ 6Ω
12Ω ⋅ 8Ω ⋅ 6Ω 576
=
R = Ω ≈ 2,6 Ω
8Ω ⋅ 6Ω + 12Ω ⋅ 6Ω + 12Ω ⋅ 8Ω 216

5.7 Geradores
Os dispositivos de um circuito elétrico que são destinados a manter uma
diferença de potencial entre dois pontos e aumentar a energia potencial das
cargas elétricas para que haja movimentos são os geradores. Também são cha-
mados de fontes de força eletromotriz.
Pilhas e baterias são exemplos de geradores, nos quais a energia das
reações químicas que acontecem em seu interior é utilizada no circuito elé-
trico para a realização de trabalho, sobre as cargas elétricas, fazendo que elas
tenham potencial maior e capacidade de fornecer energia elétrica.

Em um gerador, a energia química, mecânica ou de


outra natureza é transformada em energia elétrica.

É comum chamar esses dispositivos de dispositivo de fem. O termo fem


significa força eletromotriz. Pode-se representar a fem por ξ e, no circuito,
por uma seta que aponta do terminal negativo para o terminal positivo.
Figura 5.16 – Representação da fem em um circuito elétrico simples

–  115  –
Física II

Suponham-se cargas elétricas em movimento em um circuito, como


representado pela figura 5.16. Considerando determinado intervalo de tempo
dt, uma carga elétrica dq passa por uma secção transversal qualquer desse cir-
cuito. Durante o tempo dt, o gerador precisa fornecer energia ao circuito para
manter o movimento. No sentido convencional da corrente, como na figura
5.16, a mesma quantidade de carga elétrica deve entrar no dispositivo de fem
com baixo potencial. Internamente, o gerador realiza um trabalho para levar
cargas de um de seus polos a outro.
Por definição, a força eletromotriz de um gerador é o trabalho realizado
para transportar uma carga elétrica de um polo a outro do gerador por uni-
dade de carga, ou seja:
dW
ξ= (68)
dq
A unidade da fem no SI é o joule por coulomb, que foi definida como
J
sendo o volt: =V . Considerando o intervalo de tempo dt tem-se:
C
P
ξ= (69)
i
em que a fem está definida em termos de potência e corrente elétrica.
Então, se uma bateria ideal tem uma força eletromotriz de 12 V, por
exemplo, terá uma diferença de potencial de 12 V. Mas acontece que as bate-
rias reais oferecem certa resistência interna ao movimento das cargas elétricas.
Quando o sistema está ligado e há corrente elétrica através do dispositivo, a
diferença de potencial difere da força eletromotriz. Nos circuitos em que a
resistência interna do gerador é levada em conta, faz-se um balanço energé-
tico na unidade de tempo e, em termos de suas potências, tem-se:
Pt = Pu + Pd (70)
em que a potência total fornecida pelo gerador ( Pt = ξ ⋅ i ) é igual à potência
útil fornecida ao circuito externo ( Pu =V ⋅ i ) mais a potência dissipada pelo
gerador ( Pd = r ⋅ i 2 ). Substituindo as potências por seus valores na equação
(69), obtém-se:
ξ ⋅i = V ⋅i + r ⋅i2 (71)

–  116  –
Circuito Elétrico

Simplificando o termo i e isolando o termo V, obtém-se:


V= ξ − ri (72)

onde r é a resistência interna do gerador. Essa equação é a equação caracte-


rística do gerador. Quando não há movimento de cargas elétricas, ou seja,
i = 0 , tem-se V = ξ .
 

Exemplo 5.12
Um circuito elétrico é constituído de um gerador de fem igual a 12 V,
com uma resistência interna de 1Ω e um resistor de 3Ω e é atravessado
por uma corrente elétrica de 2 A. Determine a diferença de potencial
entre os terminais do gerador.
Solução
Aplicando a equação (72), obtém-se:
V= ξ − ri

V 12 (V ) − 1( Ω ) ⋅ 2=
= ( A ) 10V
onde se nota que isso não depende do resistir externo ao gerador.
Um circuito elétrico pode apresentar mais de um dispositivo entre seus
terminais, e assim pode-se dizer que o circuito tem uma única malha, se for
um circuito simples, ou tem várias malhas, se não for um circuito simples.
Algumas regras são aplicadas nesses tipos de circuitos e são conhecidas como:
22 Regra das malhas
Também mencionada como regra das malhas de Kirchhoff, signi-
fica que, ao se partir de um ponto e voltar a ele, a soma algébrica
das variações dos potenciais deve ser nula:
Σξ − ΣRi = 0 (73)

Em um circuito elétrico, a soma algébrica das


variações de potenciais deve ser nula.

–  117  –
Física II

22 Regra da resistência
Percorrendo um resistor no sentido da corrente elétrica, a variação
do potencial é − Ri , e no sentido oposto é +Ri .
22 Regra da fem
Percorrendo um dispositivo ideal de fem, no sentido da seta interna
da fem, a variação do potencial é +ξ , e no sentido oposto é −ξ .
22 Regra dos nós
Também conhecida como a regra dos nós de Kirchhoff, é um enun-
ciado da conservação da carga elétrica.

A soma algébrica das correntes elétricas que


chegam a qualquer nó deve ser igual à soma
algébrica das correntes que saem daquele nó.

Exemplo 5.13

Determine a corrente elétrica i no circuito descrito a seguir, conside-


rando a resistência externa R = 6Ω , sendo ξ1 = 2V a fem da bateria
r1 1,5Ω , e sendo ξ 2 = 4,5V a fem
1, com uma resistência interna de =
r2 2,5Ω .
da bateria 2, com uma resistência interna de =

–  118  –
Circuito Elétrico

Solução
Pode-se observar que as duas baterias estão dispostas de tal modo que uma
se opõe à outra, e como a fem da bateria 2 é maior que a fem da bateria
1, a fem ξ 2 controla o sentido da corrente elétrica. Pela regra das malhas,
percorrendo o circuito no sentido horário, a partir do ponto a, nos dá:
Σξ −ΣRi = 0

−ξ1 − r1 ⋅ i − Ri − r2 ⋅ i + ξ 2 =0

−2 (V ) − 1,5 ( Ω ) ⋅ i − 6 ( Ω ) ⋅ i − 2,5 ( Ω ) ⋅ i + 4,5 (V ) =0

−10 ( Ω ) ⋅ i + 2,5(V ) =0

−2,5(V)
i=
−10 ( Ù )

i = 0,25A

Síntese

Transformam em energia elétrica outra forma de


Gerador elétrico energia.
Receptor elétrico Transformam energia elétrica em outra forma de
energia, não exclusivamente térmica.
Resistor elétrico
Elementos Transformam toda a energia elétrica consumida
de um Dispositivos
integralmente em calor.
circuito de manobra
elétrico Servem para ligar ou desligar um circuito elétrico.
Dispositivos de
segurança Interrompem a passagem de corrente elétrica
quando está no circuito for maior que a prevista.
Dispositivos
de controle São utilizados para medir a intensidade da cor-
rente elétrica e a diferença de potência.

–  119  –
Física II

É o movimento ordenado dos elétrons livres em um


condutor, devido à ação de um campo elétrico.
O sentido convencional da corrente elétrica é o
deslocamento imaginário das cargas positivas do
dq potencial maior para o menor.
i=
dt Corrente elétrica é a razão entre a quantidade de
Corrente carga elétrica que atravessa uma secção transver-
q = i ⋅ ∆t sal, pelo tempo.
elétrica
Corrente contínua Se a corrente elétrica é constante ao longo do
tempo.
Corrente alternada
É a corrente em que o sentido e a intensidade se
mantêm constantes.
É a corrente em que o sentido e a intensidade
variam periodicamente.
Os resistores são dispositivos que dificultam o
movimento das cargas elétricas em uma corrente
Resistência V elétrica.
R=
elétrica i A resistência elétrica R do resistor é a razão entre
a diferença de potencial aplicada entre seus termi-
nais pela corrente elétrica.
Em um condutor ôhmico, a razão entre a diferença
V = R ⋅i de potencial V pela corrente elétrica i é uma cons-
Lei de Ohm L tante.
R= ρ ⋅
A A resistência depende do comprimento do fio e da
área de sua secção transversal.
A potência dissipada P em um trecho AB de um
P = i ⋅V condutor qualquer é dada pelo produto da dife-
Energia e rença de potencial V, entre os pontos A e B, pela
potência de P = i ⋅ R
2
intensidade da corrente elétrica i entre esses pon-
um resistor
1 kWh=3,6 ⋅ 106 J tos.
Relação de 1kWh com o joule;

–  120  –
Circuito Elétrico

V =V1 +V2 +V3 Na associação em série total, é a soma dos poten-


Associação ciais.
de i = i1 = i2 = i3 A corrente elétrica i é igual em todos os resistores.
resistores
em série R = R1 + R2 + R3 A resistência equivalente do resistor é a soma das
resistências da série.
V =V1 =V2 =V3 O potencial é igual aos demais potenciais.
Associação
i = i1 + i2 + i3 A corrente elétrica i é igual à soma das correntes
de
elétricas que passam pelos resistores.
resistores
em paralelo 1 = 1 + 1 + 1 O resistor equivalente é inferior ao menor resistor
R R1 R2 R3 da série.
Um gerador é um dispositivo que usa a energia
dW química, mecânica ou de outra natureza para
ξ=
dq transformá-la em energia elétrica.
Geradores P A força eletromotriz é o trabalho por unidade de
ξ= carga que o dispositivo realiza.
i
Fem em termos de potência e corrente elétrica.
V= ξ − Ri
Equação característica do gerador.

–  121  –
6
Campo Magnético e
Forças Magnéticas

Vários conceitos físicos são apresentados de maneira prá-


tica para crianças ou adolescentes antes mesmos que conheçam as
teorias que os cercam. Um exemplo é o campo magnético.
Física II

Uma criança que faz parte de um grupo de escoteiro aprende a fabri-


car uma bússola com imã, agulha e cortiça. Friccionando o imã na agulha
e arrumando em uma cortiça com um pouco de água, o escoteiro aprende
que a agulha vai apontar para o norte e pode ajudá-lo a se localizar em qual-
quer região. Ficam determinados, por meio dessa prática, alguns conceitos de
campo magnético como os polos do imã: norte e sul.
Nos conceitos que se seguem sobre o campo magnético, veremos algumas
analogias entre este e os conceitos de campo elétrico e campo gravitacional.

6.1 Fenômenos magnéticos


Há uma lenda que diz que a propriedade magnética foi descoberta
por um pastor chamado Magnes, quando este notou casualmente que certo
mineral, conhecido como magnetita, exercia uma força em sua bengala e nos
pregos de seu sapato, dificultando sua caminhada. Esse mineral é denomi-
nado imã natural. Atualmente, os imãs mais usados são artificiais, produzidos
pela imantação de algumas substâncias.
Quando um pedaço de imã é colocado em contato com limalhas de
ferro, observa-se que elas se acumulam na extremidade do imã. Essas extre-
midades são chamadas de polos.
Os ímãs são considerados dipolos, ou seja, têm dois polos: quando um
ímã é suspenso por um barbante, verifica-se que ele sempre tem uma orienta-
ção, aproximada, norte-sul terrestre.

Figura 6.1 – Direção norte-sul apontada pelo imã

–  124  –
Campo Magnético e Forças Magnéticas

As extremidades de um imã são chamadas de polo norte e polo sul. O


polo norte do ímã se alinha em direção ao polo norte geográfico, e o polo sul
do ímã se alinha ao polo sul geográfico. A Terra atua sobre uma agulha mag-
nética como se fosse um grande imã. Nesse caso, uma vez que o polo norte
geográfico da Terra atrai o polo norte do imã, este norte geográfico comporta-
-se como um polo sul magnético.
Outro fenômeno pode ser facilmente observado: colocando-se dois imãs
próximos um ao outro, surgem forças de atração ou de repulsão. Aproxi-
mando-se dois polos iguais, nota-se uma dificuldade para encostar um imã no
outro e, aproximando dois polos diferentes, há uma atração natural.

Figura 6.2 – Forças de atração e de repulsão entre imãs

Polos magnéticos iguais se repelem e polos


magnéticos contrários se atraem.

Uma característica importante e que pode ser verificada experimental-


mente é que um imã não pode ter um único polo isoladamente. Imaginando-
-se um pedaço de um imã no formato de uma barra, constata-se a existência
de dois polos: norte e sul. Quando esse pedaço de imã é dividido ao meio,
surgem dois novos imãs, e cada um dos pedaços é constituído por um polo
norte e um polo sul. Continuando a dividir cada pedaço ao meio até que
atinjam dimensões elementares, chega-se ao elemento chamado imã elemen-
tar. Assim, cada partícula que constitui o corpo do imã é um imã elementar.

–  125  –
Física II

6.2 Campo magnético


O campo magnético, assim como o campo elétrico, influencia certos
elementos e certas cargas elétricas. Pode-se comprovar sua existência pelo sim-
ples ato de prender um imã em uma geladeira ou apagar um disco de com-
putador ao aproximá-lo de um imã. De forma simples, o campo magnético é
uma região no espaço que envolve um imã.
Experimentalmente, o físico Hans Christian Orsted (1777-1851) verifi-
cou que a passagem de uma corrente elétrica por um fio condutor criava um
campo magnético. Se uma bússola for colocada em uma região próxima a um
fio condutor por onde circula uma corrente elétrica, a agulha sofrerá ação de
forças magnéticas. Por outro lado, uma partícula carregada, ao atravessar um
campo magnético, sofre a ação de forças magnéticas.
Para detectar o campo magnético, lança-se uma carga de teste através
dos pontos nos quais será verificada a existência do campo magnético. Nesse

caso, uma força magnética FB atuando sobre a carga de teste q com veloci-
→ → →
dade v pode ser escrita como o produto vetorial de v e B , ficando:
→ → →
FB =q ⋅ v × B (74)
onde a carga q pode ser positiva ou negativa. A equação (74), sendo um pro-
duto vetorial, tem como resultado um vetor perpendicular, simultaneamente,
→ →
aos vetores v e B , ou seja, a força magnética é perpendicular ao vetor velo-
cidade e ao vetor campo magnético.

Figura 6.3 – Força magnética perpendicular ao vetor velocidade e ao vetor


campo magnético

–  126  –
Campo Magnético e Forças Magnéticas

Da definição de produto vetorial, a equação (74) pode ser reescrita como:


FB = q ⋅ v ⋅ B ⋅ senθ (75)
onde θ é o ângulo entre o vetor velocidade e o vetor campo magnético.
Dependendo de como a partícula está sendo lançada no campo magnético, o
ângulo θ pode assumir alguns valores de interesse:
22 Se θ = 0º
Se o vetor velocidade formar com o vetor campo magnético um
ângulo de 0º, isto é, tiver a mesma direção e o mesmo sentido
do campo magnético, o valor numérico do seno de 0º será 0,
sen 0º = 0 , e então, pela equação (75), não haverá força magnética
 

atuando sobre a partícula.


22 Se θ = 180º
Se o vetor velocidade formar com o vetor campo magnético um
ângulo de 180º, isto é, tiver a mesma direção e o sentido contrário
do campo magnético, o valor numérico do seno de 180º será 0,
sen180º = 0 , e então, pela equação (75), também não haverá força
magnética atuando sobre a partícula.
22 Se θ = 90º
Se o vetor velocidade formar com o vetor campo magnético um
ângulo de 90º, isto é, for perpendicular ao campo magnético, o
valor numérico do seno de 90º será 1, sen 90º = 1 , e então, pela
equação (75), a força magnética atuando sobre a partícula será a
máxima possível.
Então, quando uma carga elétrica é lançada em um campo magnético,
uma força magnética pode atuar nessa partícula, mudando a direção do
movimento. Se a carga elétrica estiver em um campo magnético, porém em
repouso, não haverá força magnética atuando sobre a partícula.

Cargas elétricas em repouso ou lançadas na mesma direção


do campo magnético não sofrem a ação da força magnética.

–  127  –
Física II

A unidade do campo magnético no Sistema Internacional de Unidades


– SI é denominada Tesla, ou seja:
1N
1Tesla = 1T =
1C ⋅ (m / s )

Exemplo 6.1
Na figura a seguir está descrito o movimento de um elétron quando este

entra perpendicularmente em um campo magnético B uniforme, des-
crevendo uma trajetória circular com a força magnética atuando como
força centrípeta, perpendicular à velocidade v da partícula. Determine o
módulo da força que atua sobre o elétron.

V = 3 ⋅106 m / s

B = 8 ⋅10−5 T

Solução
Aplicando a equação (75) tem-se:
FB = q ⋅ v ⋅ B ⋅ senθ

FB = 1,6 ⋅10−19 ⋅ 3 ⋅106 ⋅ 8 ⋅10−5 ⋅ sen 90º

FB = 38,4 ⋅10−18N

Exemplo 6.2
Seja um campo magnético de intensidade 4 ⋅102T . Uma carga elé-
trica de 2 ⋅ µC atravessa esse campo com uma velocidade de 200 m/s,
entrando em um ângulo de 30º com a direção do campo magnético.
Qual é a intensidade da força magnética que atua sobre a carga?

–  128  –
Campo Magnético e Forças Magnéticas

Solução
FB = q ⋅ v ⋅ B ⋅ senθ

FB = 2 ⋅10−6 ⋅ 200 ⋅ 4 ⋅102 ⋅ sen 30

FB = 800 ⋅10−4N

FB = 0,08N

Nos exemplos apresentados, considerou-se que o campo magnético


tinha intensidade constante. Se a força magnética também tem intensidade
constante e é perpendicular ao vetor velocidade, a carga elétrica realiza um
movimento circular uniforme, assim, a força magnética faz o papel da força
centrípeta agindo sobre a carga.
Por ser um tanto difícil a visualização do campo magnético no espaço
e da partícula movimentando-se nesse campo descrevendo uma trajetória,
adota-se uma representação para um dos vetores:
22 ⊗ ⇒ quando o vetor está entrando em um plano;
22  ⇒ quando o vetor está saindo de um plano.
Suponha-se uma mesa plana e nela um campo magnético uniforme que
está saindo da mesa e subindo até o teto. Se uma pessoa observa, olhando a
mesa de cima, uma bola rolando sobre ela, pode representar o movimento
como ilustrado na Figura 6.4.

Figura 6.4 – Movimento de uma partícula em um campo magnético

–  129  –
Física II

Assim, podemos observar a influência do campo magnético sobre a par-


tícula. A curvatura vai depender do sentido do campo, ou seja, se o vetor
campo magnético está saindo ou entrando no plano.

6.3 Linhas de campo


Em uma região do espaço na qual um ímã manifesta sua ação, há um
campo magnético. O campo magnético, em um ponto do espaço, é repre-
sentado por um vetor chamado vetor indução magnética ou vetor campo
magnético. Então, pela lógica, deduz-se que esse vetor partiu de algum ponto
e aponta para outro ponto.
Como mencionado, um imã é constituído de dois polos: norte e sul.
Quando se espalham limalhas de ferro em uma folha de papel sob a qual se
encontra um imã, formam-se linhas curvas que ligam os polos norte e sul.
Essas linhas são chamadas linhas de campo ou linhas de força.
É considerado, por convenção, que as linhas de campo saem pelo polo
norte e entram pelo polo sul do ímã na região exterior de um ímã, e, no
interior do imã, as linhas de campo magnético vão do polo sul ao polo norte.

Figura 6.5 – Linhas de campo magnético

Quando o campo magnético é constante em todos os pontos, ele é


dito uniforme e as linhas de indução magnética são retas paralelas e igual-
mente espaçadas.

–  130  –
Campo Magnético e Forças Magnéticas

Figura 6.6 – Linhas uniformes de campo magnético

Linhas de campo são linhas imaginárias fechadas


que saem do polo norte e entram no polo sul.

6.4 Força magnética e campo


magnético sobre um fio condutor
Quando um fio condutor é atravessado por uma corrente elétrica, cria-se
um campo magnético ao seu redor. Pode-se verificar a veracidade da afirma-
ção aproximando-se uma bússola de um fio condutor pelo qual passa uma
corrente, observando-se que a agulha, que aponta para o norte, mudará de
direção para uma posição perpendicular ao fio.
Um fio condutor pelo qual passa uma corrente elétrica, imerso em um
campo magnético, também sofre a influência de uma força magnética.

6.4.1 Campo magnético sobre um


fio condutor retilíneo
Considere-se um fio condutor de comprimento L imerso em um campo

magnético B . Os elétrons se movem através do fio condutor em determi-
L
nado intervalo de tempo t = . A carga elétrica transportada fica:
v
L
q = i ⋅ (76)
v

–  131  –
Física II

Substituindo q da equação (76), na expressão da força magnética, equa-


ção (75), a intensidade da força magnética é dada por:

FB = q ⋅ v ⋅ B ⋅ senθ

L
FB = i ⋅ ⋅ v ⋅ B ⋅ senθ
v

FB =i ⋅ L ⋅ B ⋅ senθ (77)
Se o ângulo entre o vetor velocidade e o vetor campo magnético for 90º,
a força magnética assume a forma:
FB = i ⋅ L ⋅ B (78)
Se o ângulo entre o vetor velocidade e o vetor campo magnético for 0º,
a força magnética será zero, FB = 0 , pois o valor numérico de seno de zero
é zero.

Exemplo 6.3
Considere um fio metálico, com 40 cm de comprimento, colocado
perpendicularmente próximo a um campo magnético uniforme de
6 ⋅ 10−3T . Qual é a força magnética que o campo exerce sobre o fio con-
dutor quando é atravessado por uma corrente elétrica de 2A?

Solução
FB = i ⋅ L ⋅ B

FB = 2A ⋅ 0,4m ⋅ 6 ⋅ 10−3T = 4,8 ⋅ 10−3 N

Exemplo 6.4
Um condutor de 0,5 m de comprimento está imerso em um campo
magnético de 2 ⋅ 10−3T , formando um ângulo de 60º com o vetor
campo magnético. Determine a intensidade da corrente elétrica que
atravessa o condutor quando uma força magnética de intensidade 0,01
N atua sobre o fio.

–  132  –
Campo Magnético e Forças Magnéticas

Solução
FB =i ⋅ L ⋅ B ⋅ senθ

0,01N = i ⋅ 0,5m ⋅ 2 ⋅ 10−3T ⋅ sen 60º

0,01N
i= ≈ 11,5A
0,5m ⋅ 2 ⋅ 10−3T ⋅ sen60º

Exemplo 6.5
Um fio condutor está sobre o eixo x e suas extremidades têm coordena-
das x1 = 4cm e x 2 = −4cm . Uma corrente elétrica i = 1,2 A percorre o
condutor no sentido positivo de x. Se o campo magnético que atravessa
 
o fio condutor é dado pelo vetor B =−3 ⋅ µT j , determine o módulo, a
direção e o sentido da força magnética que atua sobre o condutor.

Solução
Esquematizando graficamente o vetor campo magnético e a corrente elétrica
em um plano tridimensional tem-se:

Pela regra da mão esquerda, a força magnética é um vetor que estará na


direção do eixo z e o sentido será o positivo de z.
Como cada vetor está sobre um eixo, então o ângulo entre eles é 90º. Assim,
a intensidade será igual a:
FB =i ⋅ L ⋅ B ⋅ senθ

–  133  –
Física II

FB = 1,2A ⋅ 0,08m ⋅ 3 ⋅ 10−6T

FB = 0,288µ N

6.4.2 Corrente elétrica gerando um campo magnético


Na figura 6.7 estão representadas as linhas de campo magnético geradas
por uma corrente elétrica ao atravessar um fio condutor. Nota-se que as linhas
são circulares e concêntricas ao fio pelo qual passa a corrente elétrica e estão
em um plano perpendicular ao fio condutor. A direção do vetor campo mag-
nético é tangente às linhas de campo em cada ponto.
Figura 6.7 – Linhas de campo magnético geradas por uma corrente elétrica

O sentido do campo magnético pode ser analisado pela regra conhecida


como regra da mão direita.

Segurando o fio condutor com a mão direita e


mantendo o polegar apontando no mesmo sentido
da corrente, o sentido indicado pelos demais
dedos será o sentido do campo magnético.

A intensidade do vetor campo magnético, em qualquer ponto, é defi-


nida pela equação:
µ0 i
=
B ⋅ (79)
2π r

–  134  –
Campo Magnético e Forças Magnéticas

T ⋅m
onde µ=
0 4π ⋅ 10−7 é a constante de permeabilidade magnética no
A
vácuo e r é a distância do ponto P até fio condutor.

Exemplo 6.6
Um fio condutor retilíneo é percorrido por uma corrente elétrica de 0,2
A. Determine a intensidade do campo magnético gerado em um ponto
P que está a:
a) 5 cm
b) 10 cm

Solução
Pela equação (79) tem-se:
µ0 i 4π .10−7 0,2
=B =. . = T 8.10−7 T
2π r 2π 0,05

µ0 i 4π .10−7 0,2
=B =. . = T 4.10−7 T
2π r 2π 0,1

Exemplo 6.7
Dois fios condutores paralelos são percorridos por correntes elétricas de
i1 = 2A e i2 = 5A . Determine a intensidade do vetor campo magnético
em um ponto P, conforme mostra a figura.

–  135  –
Física II

Solução
A intensidade do campo magnético no ponto P, devido a cada corrente elé-
trica, é:

B1 = 8 ⋅ 10−7T

B2 ≈ 33 , 33 ⋅ 10−7T

Como são dois campos magnéticos atuando no mesmo ponto, determina-se


o campo resultante analisando-se os vetores campos magnéticos no ponto P
pela regra da mão direita:

Como os vetores estão na mesma direção e no mesmo sentido, obtém-se:

B = B1 + B2 = 8 ⋅ 10−7 + 33 , 33... ⋅ 10−7 = 4 ,133... ⋅ 10−6 T

6.4.3 Campo magnético gerado por uma espira


No caso de uma espira circular, como mostrado na figura 6.8, as linhas
de campo magnético geradas também são determinadas pela regra da mão
direita para uma corrente elétrica que atravessa a espira. Nota-se que as linhas
entram por um lado da espira e saem por outro lado. No plano da espira,
os vetores campos magnéticos são perpendiculares a esse plano e o sentido
depende do sentido da corrente elétrica.

–  136  –
Campo Magnético e Forças Magnéticas

Figura 6.8 – Campo magnético gerado por uma espira

A intensidade do vetor magnético no centro da espira circular de raio r


é dada por:
µ0 i
=
B ⋅ (80)
2 r
Se um fio condutor for enrolado várias vezes em torno de um objeto
cilíndrico até ficar uniforme, serão formadas várias espiras circulares de raio r
ou uma bobina chata. Para o caso de várias espiras circulares, a equação (79) é
multiplicada por um fator N que representa a quantidade de espiras:
µ0 i
B =N ⋅ ⋅ (81)
2 r

Exemplo 6.8
Uma bobina de 300 espiras é percorrida por uma corrente elétrica de 0,2
A. Determine a intensidade do campo magnético no plano em uma das
extremidades da bobina se o raio for:
a) 10 cm
b) 20 cm

Solução
µ0 i 4π ⋅ 10−7 ⋅ 0,2
a) B=N. . =300 ⋅ T ≈ 3,769 ⋅ 10−4T
2 r 2 ⋅ 0,1

–  137  –
Física II

µ0 i 4π ⋅ 10−7 ⋅ 0,2
b) B =N . . =300 ⋅ T ≈ 1,885 ⋅ 10−4T
2 r 2 ⋅ 0,2

Exemplo 6.9
Determine a intensidade, a direção e o sentido do vetor campo magné-
tico no centro da espira, considerando que está no plano xz e é atraves-
sada por uma corrente elétrica igual a 1 A, como mostra a figura.

Solução
A intensidade é calculada pela equação (80):
4π ⋅ 10−7 ⋅ 1
=B ≈ 3,14 ⋅ 10−5T
2 ⋅ 0,02

Como o vetor campo magnético no centro da espira é perpendicular ao plano


da espira, a direção do vetor é a mesma do eixo y.
Aplicando-se a regra da mão direita, conclui-se que o sentido do vetor é o
sentido negativo do eixo y.

–  138  –
Campo Magnético e Forças Magnéticas

6.4.4 Campo magnético criado por um solenoide


O solenoide é parecido com uma bobina, mas as espiras não são justa-
postas. Podem ser chamadas também de bobinas longas. As linhas de campo
magnético geradas são determinadas pela regra da mão direita quando uma
corrente elétrica percorre as espiras. Nota-se que as linhas entram por um
lado do solenoide e saem por outro lado, como mostrado na figura 6.9.

Figura 6.9 – Campo magnético gerado por um solenoide

A intensidade do vetor magnético no interior do solenoide é dada por:


µ0 ⋅ N ⋅ i
B= (82)
L
onde N é o número de espiras e L é o comprimento do solenoide. A equação
(82) é válida para qualquer ponto no interior do solenoide, pois o campo
magnético no interior é uniforme.

Exemplo 6.10
Um solenoide é formado por 10 espiras e tem comprimento de 20 cm.
Determine a intensidade do campo magnético no interior do solenoide
quando é atravessado por uma corrente elétrica igual 0,5 A.

Solução
Aplicando a equação (82) tem-se:

–  139  –
Física II

µ0 ⋅ N ⋅ i
B=
L

4 ⋅ π ⋅ 10−7 ⋅ 10 ⋅ 0,5
B=
0,2

B ≈ 3,14 ⋅ 10−5T

Exemplo 6.11
Um solenoide de 30 cm de comprimento tem um campo magnético de
intensidade de 12 ⋅ π ⋅ 10−5T quando é percorrido por uma corrente elé-
trica de 2 A. Determine por quantas espiras é constituído esse solenoide.
Solução
µ0 ⋅ N ⋅ i
B=
L

4π ⋅ 10−7 ⋅ N ⋅ 2
12π ⋅ 10−5 =
0,30

12π ⋅ 10−5 ⋅ 0,30


N=
4π ⋅ 10−7 ⋅ 2

N = 0,45 ⋅ 102

N = 45espiras

Síntese
Os ímãs são considerados dipolos, ou seja, têm dois
polos: norte e sul.
Fenômenos
Polos magnéticos iguais se repelem e polos magné-
magnéticos
ticos contrários se atraem.
Um imã não pode ter um único polo isoladamente.

–  140  –
Campo Magnético e Forças Magnéticas

O campo magnético é uma região no espaço que


envolve um imã, onde certos elementos sofrem influ-
ências magnéticas.
A força magnética atuando sobre uma carga de
teste pode ser escrita como o produto vetorial entre
Campo → → → o vetor velocidade da carga e o vetor campo mag-
magnético FB =q ⋅ v × B nético.
A força magnética é um vetor perpendicular ao
vetor velocidade e ao vetor campo magnético.
Cargas elétricas em repouso ou lançadas na mesma
direção do campo magnético não sofrem a ação da
força magnética.
Linhas de campo são linhas imaginárias fechadas
que saem do polo norte e entram no polo sul.
No interior do imã, as linhas de campo magnético
Linhas de vão do polo sul para o polo norte.
campo
O campo magnético será uniforme quando for
constante em todos os pontos e as linhas de indu-
ção magnética forem retas paralelas e igualmente
espaçadas.
FB =i ⋅ L ⋅ B ⋅ senθ
Campo magnético sobre um fio condutor retilíneo.
µ0 i Corrente elétrica gerando um campo magnético.
=
B ⋅
2π r
Regra da mão direita: segurando o fio condutor com
Força µ0 i a mão direita e mantendo o polegar apontando no
magnética =
B ⋅ mesmo sentido da corrente, o sentido indicado pelos
2 r
sobre um fio demais dedos será o sentido do campo magnético.
condutor µ0 i
B =N ⋅ ⋅ Campo magnético gerado por uma espira.
2 r
Campo magnético gerado por várias espiras.
µ0 ⋅ N ⋅ i
B= Campo magnético criado por um solenoide.
L

–  141  –
7
Indução

Quando um imã é movimentado próximo a uma espira, nota-


-se a presença de uma corrente elétrica. A produção de corrente
elétrica por campos magnéticos recebe o nome de indução eletro-
magnética, que é a base sobre a qual funcionam geradores, motores
elétricos e outras máquinas elétricas.
Física II

Neste capítulo, analisaremos métodos de indução magnética, geradores


de correntes elétricas e armazenagem de campo magnético de um indutor.

7.1 Fluxo magnético


O fluxo de um campo vetorial através de uma superfície é determinado
de maneira análoga ao fluxo do campo elétrico. Considere-se uma superfície
S contendo um elemento de área dA e um vetor campo magnético atraves-
sando tal superfície S, como mostra figura 7.1.

Figura 7.1 – Vetores campos magnéticos atravessando uma superfície S

O fluxo magnético Φ através de S é:


→ →
Φ= ∫ B⋅ d A (83)
S

O sinal do fluxo magnético depende do sentido dos vetores (se estão no


mesmo sentido ou em sentidos contrários). A unidade de fluxo magnético é
chamada de Weber (Wb):
1weber = 1Wb = 1T ⋅ m 2

A equação (83) é uma integral de um produto escalar. Sendo assim, pode


ser calculada pela definição de multiplicação escalar entre os vetores, ficando:
Φ = ∫ B ⋅ dA ⋅ cosθ (84)
S

–  144  –
Indução

Se considerarmos o campo magnético uniforme e a superfície plana, o


fluxo magnético através da superfície é:
Φ = B ⋅ A ⋅ cosθ (85)
No entanto, muitas vezes se está interessado no fluxo através de uma
superfície limitada por uma espira com várias voltas. Assim, multiplica-se o
fluxo por N voltas que a espira contenha, ficando:
Φ = N ⋅ B ⋅ A ⋅ cosθ (86)

O fluxo magnético através de uma superfície


limitada por uma espira é diretamente proporcional
ao número de voltas que a espira contém.

Exemplo 7.1
Um solenoide tem um comprimento de 20 cm e um raio de 2,5 cm,
com 300 voltas. Determine o fluxo magnético através do solenoide quando
este é atravessado por uma corrente de 3A.

Solução
O campo magnético através do solenoide é dado pela equação (82), assim:
µ0 ⋅ N ⋅ i 4ð ⋅ 10−7 (T ⋅ m / A ) ⋅ 300 ( voltas ) ⋅ 3 ( A )
B= = ≈ 5,654 ⋅ 10−3T
L 0,2 ( m )

Os vetores campos magnéticos no interior do solenoide têm a mesma direção


do vetor área, então o ângulo entre os vetores é 0º ou 180º. Escolhendo o ângulo
igual a 0º tem-se:
Φ = N ⋅ B ⋅ A ⋅ cosθ

=Φ 300 ( voltas ) ⋅ 5,654 ⋅ 10−3 (T ) ⋅ π ⋅ 0,0252 ( m 2 ) ⋅ cos0º

Φ ≈ 3,33 ⋅ 10−3Wb

–  145  –
Física II

7.2 Lei de Faraday


Em 1831, Michael Faraday (1791-1867) mostrou ser possível um campo
magnético gerar uma corrente elétrica. Até então, Hans Christian Oersted
(1777-1851) havia descoberto que a corrente elétrica em um fio condutor
criava um campo magnético, ou seja, eletricidade e magnetismo estavam
associados entre si.
Acreditava-se que a corrente elétrica era um tipo de fluido, então Fara-
day partiu do princípio de que, ao variar o campo magnético, poderia provo-
car o movimento desse fluido. A partir dessa hipótese, descobriu a indução
eletromagnética, que é o fenômeno no qual um campo magnético variável
produz em um circuito elétrico uma corrente elétrica chamada de corrente
elétrica induzida. Assim, uma força eletromotriz é induzida no circuito.

Variando-se o fluxo magnético através de uma superfície,


produz-se uma força eletromotriz no circuito.

Pode-se variar o fluxo magnético através de uma superfície de várias


maneiras: a corrente elétrica produtora do campo magnético pode ser aumen-
tada ou diminuída; imãs podem ser movidos para dentro e para fora de uma
superfície; a área da superfície pode ser aumentada ou diminuída etc. Logo, a
fem ξ é induzida no circuito dependendo da taxa de variação do fluxo mag-
nético através da superfície, ou seja:

ξ =− (87)
dt
A equação (87) é chamada de lei de Faraday e o sinal negativo relaciona
a direção da fem. Se a variação do fluxo magnético estiver ocorrendo em um
solenoide com N espiras, a força eletromotriz aparecerá em cada espira, que
devem então ser somadas. Nesse caso, a equação (87) fica:

ξ = −N ⋅ (88)
dt

–  146  –
Indução

Exemplo 7.2
Seja um solenoide com 300 espiras e um raio de 2 cm. O módulo do
campo magnético aumenta a uma taxa de 20 T/s e sua direção, perpen-
dicular ao plano do solenoide, permanece constante. Determine a força
eletromotriz em módulo.

Solução
Aplicando a equação (88) e substituindo o fluxo magnético tem-se:

ξ = −N ⋅
dt

d ( B ⋅ A ⋅ cosθ )
ξ = −N ⋅
dt

dB
ξ =− N ⋅ π ⋅ r 2 ⋅ cos0º ⋅
dt

ξ =−300 ⋅ π ⋅ ( 0,02m ) ⋅ cos0º ⋅20T / s


2

| ξ | ≈ 7,54V

Exemplo 7.3
 12rad 
Uma corrente elétrica com intensidade i = 0,2 A ⋅ sen  ⋅ t  per-
 s 
corre um solenoide de 25 cm de comprimento com 25 espiras. Uma
espira circular de raio 2 cm é posicionada no interior do solenoide de
maneira que seu eixo coincida com o eixo do solenoide. Nessas condi-
ções, qual é o valor do módulo da força eletromotriz induzida na espira
nos instantes t = 0 e t = 2s?

Solução
Aplicando a equação (82) para o campo magnético do solenoide e substi-
tuindo a corrente elétrica i obtém-se:

–  147  –
Física II

4π ⋅ 10−7 ⋅ 25 ⋅ 0,2 ⋅ sen (12 ⋅ t )


B=
0,25

80π ⋅ 10−7 sen (12 ⋅ t )


B=

Determinando o fluxo elétrico:


Φ 80π ⋅ 10−7 sen (12 ⋅ t ) ⋅ π ⋅ 0,02 2
=

Φ 3,2π 2 ⋅ 10−9 sen (12 ⋅ t )


=

Logo, o fluxo do campo magnético é uma função do tempo. Aplicando a


equação (87), na qual deve-se utilizar o fluxo magnético obtido, tem-se:

ξ =
dt

d ( 3,2π 2 ⋅ 10−9 sen (12 ⋅ t ) )


ξ =
dt

d ( sen (12 ⋅ t ) )
ξ = 3,2π 2 ⋅ 10−9 ⋅
dt

ξ 3,2π 2 ⋅ 10−9 ⋅ cos (12 ⋅ t ) ⋅ 12


=

Substituindo t = 0
ξ 3,2π 2 ⋅ 10−9 ⋅ cos (12 ⋅ 0 ) ⋅ 12 ≈ 3,79 ⋅ 10−7V
=

Substituindo t = 2 s
=ξ 0,032π 2 ⋅ 10−7 ⋅ cos (12 ⋅ 2 ) ⋅ 12 ≈ 1,6 ⋅ 10−7V

A direção da força eletromotriz induzida pode ser determinada pela


regra da mão direita. No entanto, abordaremos esse aspecto a partir da lei
de Lenz.

–  148  –
Indução

7.3 Lei de Lenz


A lei de Lenz permite a determinação do sentido da corrente induzida
em uma espira condutora fechada.

A fem induzida está em uma direção que


se opõe à variação que a produz.

Não estando especificado qual é o tipo de variação que causa a fem e a


corrente induzida, há uma variedade de situações que podem ser abordadas.
Em termos do fluxo magnético, a lei de Lenz afirma que:

Variando-se o fluxo magnético através de uma


superfície, o fluxo do campo magnético gerado pela
corrente induzida se dá através da mesma superfície
e com sentido oposto à variação inicial do fluxo.

Quando um imã se aproxima de uma espira, são induzidas uma força


eletromotriz e uma corrente na espira, como mostra a figura 7.2. Essa cor-
rente induzida produz um campo magnético em sentido oposto ao movi-
mento do imã. Se o imã se aproxima da espira, o momento magnético desta
repele o imã.
Figura 7.2 – Campo magnético oposto causado pela corrente induzida

–  149  –
Física II

Quando a espira está se movendo para longe do imã estacionário, ou o


imã está se afastando da espira estacionária, o momento magnético da espira
tem sentido oposto ao movimento de modo que o imã, nesse caso, seja atraído.
Exemplo 7.4
Um campo magnético tem módulo B = 2T e uma espira retangular
com 40 voltas atravessa o campo com uma velocidade igual a 3 m/s,
conforme a figura. Considerando que a espira tenha uma resistência de
20Ω , determine o módulo, a direção e o sentido da corrente induzida.

Solução
ξ
A corrente induzida está relacionada pela força eletromotriz por i = . Para
R
calcular a força eletromotriz, é preciso determinar a variação do fluxo. Tem-se:
Φ = N ⋅B ⋅a ⋅ x
E o módulo da fem é dado por:
d Φ d (N ⋅ B ⋅ a ⋅ x ) dx
ξ= = = N ⋅B ⋅a = N ⋅B ⋅a ⋅v
dt dt dt
Logo:
ξ N ⋅ B ⋅ a ⋅ v 40 ⋅ 2T ⋅ 0,1m ⋅ 3m / s
i= →i= = = 1,2A
R R 20Ω
Conforme a espira se move, o fluxo do campo magnético através da superfície
aumenta. Esse campo magnético induzido é direcionado no sentido contrá-
rio ao campo magnético, ou seja, saindo do plano, e então a corrente elétrica
induzida deve ter sentido anti-horário.

–  150  –
Indução

7.4 Campo elétrico induzido


Considera-se um anel condutor de raio r em um campo magnético uni-
forme. Aumentando-se a intensidade do campo magnético de maneira uni-
forme, o fluxo magnético variará. Se existe uma corrente elétrica no anel de
cobre, então deve haver um campo elétrico em todos os pontos no interior do
anel, produzido pela variação do fluxo magnético.

Um campo magnético variável produz um campo elétrico.

Esse campo elétrico exercerá uma força elétrica sobre uma carga de prova
que se move em uma trajetória circular, conforme figura 7.3. O trabalho rea-
lizado pelo campo elétrico sobre a carga de prova, conforme a equação (86),
é W = ξ ⋅ q 0 , mas também pode ser determinado pela equação (26), sendo
f → →
W = ∫ F⋅d s = q 0 ⋅ E ⋅ 2π ⋅ r , onde 2π ⋅ r é a distância ao longo da qual a
i

força atua. Igualando-se as duas expressões, fica:


ξ =E ⋅ 2π ⋅ r (89)

De um modo mais geral, pode-se escrever a equação (88) por meio de


uma integral de linha, ao longo de um caminho fechado, ficando:
→ →
ξ
= ∫ E ⋅ d s (90)
Figura 7.3 – Campo elétrico exercendo uma força elétrica sobre uma carga
de prova que se move em uma trajetória circular

–  151  –
Física II

Assim, o conceito de força eletromotriz se expande, em uma soma das


 
grandezas E ⋅ d s , sendo E o campo elétrico induzido e ds um diferencial de
comprimento ao longo de um caminho fechado. Logo, a lei de Faraday pode
ser reescrita por meio das equações (87) e (90), determinada por:
→ → dΦ
∫ E⋅ d s =

dt
(91)

A equação (91) também é chamada de lei de Faraday e percebe-se que a


variação do campo magnético produz um campo elétrico.
Exemplo 7.5
Uma espira circular, contendo N voltas e raio igual a 25 cm, tem uma
variação de fluxo igual a 12 T/s. Determine o módulo do campo elétrico
induzido.
Solução
Da lei de Faraday, a equação (91), tem-se:

E ⋅ 2π ⋅ r =−
dt

E o fluxo é:
Φ= B ⋅ π ⋅ r 2

Substituindo-se o fluxo na lei de Faraday:


dB
E ⋅ 2π ⋅ r =−π ⋅ r 2
dt

Substituindo-se as informações do exercício, o módulo do campo elétrico fica:


E ≈ 1,5V / m

7.5 Indutância magnética


Quando se estabelece uma corrente elétrica i em um indutor como um
solenoide longo, por exemplo, aparece em cada uma de suas espiras um fluxo
–  152  –
Indução

magnético Φ . O fluxo magnético, como o fluxo elétrico, é um produto esca-


lar entre o vetor campo magnético e o vetor área. A indutância, ou autoindu-
tância, de um indutor é definida por:
Φ
L=N ⋅
i (92)
onde N é o número de espiras. No Sistema Internacional de Unidades (SI), a
unidade de indutância é T ⋅ m 2 / A , chamada de henry (H):
T ⋅ m2
1 henry=1H =
A
Substituindo-se a expressão do fluxo magnético, equação (85), e do
campo magnético, equação (82), na equação (92) obtém-se:
Φ
L=N ⋅
i
B⋅A
L=N ⋅
i
µ0 ⋅ N ⋅ i ⋅ A
L=N ⋅
l ⋅i
µ ⋅N ⋅ A2
L= 0
l
E fazendo N/l = n número de voltas por unidade de comprimento,
chega-se a:
L = µ0 ⋅ n 2 ⋅ A ⋅ l (93)
A equação (93) mostra que a indutância de um solenoide é proporcional
ao quadrado do número de voltas por unidade de comprimento e ao volume
do solenoide V = A ⋅ l , ou seja, tem dependência apenas da geometria do
solenoide em questão.
A corrente elétrica dita induzida só existe enquanto há variação do fluxo,
chamado fluxo indutor. Então, quando a corrente elétrica em um circuito
está variando, o fluxo magnético devido à corrente também está variando,
e a força eletromotriz é induzida no circuito. Como a indutância é cons-

–  153  –
Física II

tante, pois depende apenas da geometria, a variação do fluxo magnético está


relacionada à variação na corrente elétrica. Usando a equação (92) para um
elemento diferencial:
dΦ di
= L ⋅ (94)
dt dt

E, de acordo com a lei de Faraday, tem-se:


dΦ di
ξ =− = −L ⋅ (95)
dt dt
Assim, a fem é diretamente proporcional à indutância e à variação da
corrente.

Exemplo 7.6
Considerando um solenoide com comprimento de 15 cm, área de 4 cm2
e 50 voltas, qual é a autoindutância desse solenoide?

Solução
Conhecendo a geometria do solenoide, aplica-se a equação (93), ficando:
L = µ0 ⋅ n 2 ⋅ A ⋅ l
2
 50 
L = ( 4π ⋅ 10 H / m ) ⋅ 
−7
voltas / m  ⋅ ( 4 ⋅ 10−4 m 2 ) ⋅ ( 0,15m )
 0,15 

L ≈ 8,377 ⋅ 10−6 H

Exemplo 7.7
Se um solenoide tem 10 cm de comprimento, 5 cm² de área, 80 voltas
=
e é atravessado por uma corrente elétrica i 2 sen ( 2π ⋅ t ) , determine a
força eletromotriz em função do tempo.

Solução
Aplicando a equação (95) fica:

–  154  –
Indução

di
ξ =− L ⋅
dt
d ( 2 sen ( 2π ⋅ t ) )
ξ =− µ0 ⋅ n 2 ⋅ A ⋅ l ⋅
dt
2
 80 
ξ =−4π ⋅ 10−7 ⋅   ⋅ 5 ⋅ 10−4 ⋅ 0,1 ⋅ 2 ⋅ cos(2π ⋅ t ) ⋅ 2π
 0,1 
ξ= −5,12π 2 ⋅ 10−5 ⋅ cos(2π ⋅ t )

7.6 Energia magnética


Assim como um capacitor armazena energia elétrica, um indutor tam-
bém armazena energia magnética. Considere-se um circuito que tem indu-
tância L, resistência R, bateria de força eletromotriz ξ e chave S, como
representado na figura 7.4. O símbolo representa a indutância no
circuito e R e L são a resistência e a indutância, respectivamente, de todo
o circuito.

Figura 7.4 – Circuito contendo indutância L, resistência R e força


eletomotriz

Inicialmente, a chave está aberta, então não há corrente elétrica no cir-


cuito. Quando a chave é fechada, a corrente elétrica aparece no circuito, assim
como uma diferença de potencial entre os terminais do resistor e uma dife-
rença de potencial entre os terminais do indutor.

–  155  –
Física II

Aplicando a lei das malhas de Kirchhoff nesse circuito obtém-se:


di
ξ − iR − L
= 0 (96)
dt
Multiplicando cada termo pela corrente elétrica i e arrumando a
equação, fica:
di
ξ ⋅ i = i 2 R + Li (97)
dt
Agora a equação (97) está em termos de energia potencial aplicada no
circuito, já que o termo ξ ⋅ i representa a taxa da energia potencial elétrica
que é liberada no sistema; o termo i 2 R representa a taxa pela qual a energia
potencial é liberada para o resistor ou dissipada pela resistência no circuito; e o
termo Lidi / dt é a taxa na qual a energia potencial é liberada para o indutor.
Chamando de Um a energia no indutor, então a variação dessa energia em um
intervalo de tempo é:
dU m = Lidi (98)

Integrando-se à equação (98), obtém-se:


1
U m = Li 2 (99)
2
que representa a energia armazenada no indutor transportando uma corrente
elétrica i. Pode-se interpretar essa energia armazenada no indutor como a
energia armazenada no campo magnético produzida pela corrente elétrica.

A energia armazenada no indutor é a energia armazenada


no campo magnético produzida pela corrente elétrica
dependendo da corrente i e da indutância L.

Exemplo 7.8
Um solenoide de 25 cm de comprimento, 5 cm2 de área e 100 voltas
é atravessado por uma corrente elétrica de 0,2 A. Determine a energia
armazenada no solenoide.

–  156  –
Indução

Solução
Calculando a indutância, tem-se:
2
 100 
L = µ0 ⋅ n 2 ⋅ A ⋅ l = 4 ⋅ π ⋅ 10−7 ⋅   ⋅ 5 ⋅ 10 ⋅ 0,25 = 8 ⋅ π ⋅ 10 H
−4 −6

 0,25 

Calculando a energia armazenada a partir da equação (99) obtém-se:


1 2 1
Um = Li = ⋅ 8 ⋅ π ⋅ 10−6 ⋅ 0,2 2 ≈ 1,005 ⋅ 10−6 J
2 2

Exemplo 7.9
Considere uma bobina com indutância de 1 H, resistência de 10
Ω , ligada a uma bateria de 12 V, sendo desprezível a resistência
interna da bateria. Qual é a corrente final que passa pelo circuito
e qual é a energia armazenada no indutor quando a corrente final
é atingida?

Solução
Como não há resistência interna na bateria, então V = ξ . Pela equação
di
(95), a força eletromotriz é igual a −L ⋅ . Aplicando-se a equação (96), a
corrente final fica: dt

di
ξ − iR − L =0
dt
12 − i10 + 12 = 0
10i = 24
i = 2,4 A

Aplicando-se a equação (99), determina-se a energia armazenada, ficando:


1 1
U m = Li 2 = ⋅ 1 ⋅ 2,4 2 = 2,88 J
2 2

–  157  –
Física II

Síntese
O fluxo magnético através de uma superfície
  é determinado de maneira análoga ao fluxo do
Φ = ∫ B ⋅d A
Fluxo campo elétrico.
S
magnético O fluxo magnético através de uma superfície limi-
Φ = N ⋅ B ⋅ A ⋅ cosθ tada por uma espira é diretamente proporcional
ao número de voltas que a espira contém.

dΦ Variando o fluxo magnético, produz-se uma força


ξ =− eletromotriz no circuito.
Lei de dt
Faraday A fem induzida no circuito depende da taxa de

ξ = −N ⋅ variação do fluxo magnético através da superfí-
dt cie em um solenoide com N espiras.
A fem induzida está em uma direção que se opõe
à variação que a produz.

Lei de Em termos de fluxo, a lei de Lenz afirma: variando


Lenz o fluxo magnético através de uma superfície, o
campo magnético, devido à corrente induzida,
produz um fluxo sobre ela mesma e em oposição
à variação.
  dΦ
Campo
elétrico
∫ E ⋅d s = − dt A lei de Faraday pode ser reescrita em termos
de campo elétrico: um campo magnético variável
induzido produz um campo elétrico.

A indutância ou autoindutância de um indutor é


Φ
L=N ⋅ diretamente proporcional ao fluxo magnético e
i inversamente proporcional à corrente elétrica.
Indutância
L = µ0 ⋅ n 2 ⋅ A ⋅ l A indutância de um solenoide tem dependência
magnética
apenas da geometria do solenoide.
di
ξ = −L ⋅ A fem é diretamente proporcional à indutância e
dt
à variação da corrente.

–  158  –
Indução

Taxa de energia potencial liberada para o indu-


di tor.
Li
Energia dt
Energia armazenada no indutor é a energia
magnética 1 armazenada no campo magnético produzida pela
U m = Li 2 corrente elétrica, dependendo da corrente i e da
2
indutância L.

–  159  –
8
Corrente alternada

Nas casas residenciais e comerciais as instalações elétricas


são alimentadas por correntes elétricas alternadas, ou seja, cor-
rentes que variam com o tempo. Os portadores de carga elétrica
no fio recebem um sinal que os obriga a mudarem de sentido.
Para os equipamentos eletrônicos, não importa o sentido da cor-
rente, e sim, que estejam em movimento, para transferir energia
ao equipamento.
Física II

Assim, a maior parte da energia elétrica usada atualmente é produzida


por geradores elétricos na forma de corrente alternada, que tem grande van-
tagem sobre a corrente contínua, o que será discutido neste capítulo, além de
aplicabilidades específicas da corrente alternada.

8.1 Geradores de Corrente alternada


Um gerador de corrente alternada consiste na rotação de uma bobina
sob ação de um campo magnético externo. A variação do fluxo do campo
magnético induz uma força eletromotriz (fem) que, por sua vez, gera uma
corrente alternada no interior do condutor.
Figura 1 – Modelo básico de um gerador elétrico

Um gerador simples de corrente alternada é mostrado na figura 1, onde


se ilustra um enrolamento de área A e N voltas, girando em um campo mag-
nético uniforme. As extremidades do enrolamento estão conectadas a anéis
chamados de anéis de deslizamento, que giram com o enrolamento. Eles
fazem contato elétrico usando escovas estacionárias condutoras que estão em
contato com o anel. Assim, a força eletromotriz e a corrente induzidas são
coletadas pelos anéis e transferidas ao resto do circuito.
Como o plano do enrolamento está girando, o campo magnético faz um
ângulo θ com o vetor normal ao plano, mudando a cada instante, sendo o
fluxo magnético através do enrolamento igual a Φ = N ⋅ B ⋅ A ⋅ cosθ , dado
pela equação (86), onde N é número de voltas e A é a área da superfície plana.
Assim, o fluxo através do enrolamento varia e uma fem é induzida.

–  162  –
Corrente alternada

Figura 2 – Ângulo entre vetor campo magnético e vetor área

Sendo ω a velocidade angular de rotação do enrolamento e δ o ângulo


inicial, o ângulo θ , em um instante de tempo t, é dado por
θ = ω ⋅ t + δ (100)

Substituindo a equação (100) na equação (86), segue que

Φ = N ⋅ B ⋅ A ⋅ cos (ω ⋅ t + δ ) (101)

Assim, a fem, dada pela equação (87), será

dΦ d ( N ⋅ B ⋅ A ⋅ cos (ω ⋅ t + δ ) )
ξ =− =− = N ⋅ B ⋅ A ⋅ ω ⋅ sen (ω ⋅ t + δ ) (102)
dt dt
O termo N ⋅ B ⋅ A ⋅ ω é o valor máximo da fem. Então, a equação (102)
pode ser escrita como
ξ = ξ pico ⋅ sen (ω ⋅ t + δ ) (103)
Isso significa que se pode produzir uma fem senoidal no enrolamento
através da sua rotação com uma velocidade constante ω na presença de um
campo magnético. Nos diagramas de circuitos, um gerador de corrente alter-
nada é representado pelo símbolo .

–  163  –
Física II

Exemplo 8.1
Uma bobina de 200 voltas possui uma área de 4 cm2. Girando em um
campo magnético de 0,8 T, com uma frequência de 50 Hz, qual será a
força eletromotriz de pico gerada?
Solução
ω 2π ⋅ f , então
A velocidade angular é relacionada pela frequência f por =
ξ pico = N ⋅ B ⋅ A ⋅ ω

ξ pico = N ⋅ B ⋅ A ⋅ 2π ⋅ f

ξ pico
= ( 200 voltas ) ⋅ ( 0,8 T ) ⋅ ( 4 ⋅10 −4
m 2 ) ⋅ 2π ⋅ ( 50Hz )

ξ pico ≈ 20,1V

Exemplo 8.2
Seja um enrolamento tem 400 voltas com uma área de 4 cm2. Qual deve
ser o campo magnético em que o enrolamento deve girar, com uma fre-
quência de 50 Hz, para gerar uma fem máxima de 10 V?
Solução
ξ pico = N ⋅ B ⋅ A ⋅ ω

ξ pico = N ⋅ B ⋅ A ⋅ 2π ⋅ f

(10 V )
= ( 400 voltas ) ⋅ B ⋅ ( 4 ⋅10 −4
m 2 ) ⋅ 2π ⋅ ( 50Hz )

(10V )
B= 0,199T
( 400voltas ) ⋅ ( 4 ⋅10−4 m2 ) ⋅ 2π ⋅ (50Hz )

8.2 Corrente alternada em um resistor


Considere um circuito simples, como ilustrado na figura 3, composto
por um gerador ideal e um resistor. Um gerador ideal é aquele em que pode
se desprezar a resistência interna, a sua autoindutância e sua capacitância.

–  164  –
Corrente alternada

Figura 8.3 – Circuito elétrico formado por um gerador ideal e um resistor.

De acordo com a lei das malhas, a queda de diferença de potencial atra-


vés do resistor será igual à fem do gerador. Supondo que o gerador produz
corrente alternada, a força eletromotriz é dada por
V R = ξ → V R = ξ pico ⋅ sen (ω ⋅ t + δ ) (104)
ou
VR = VR ⋅ sen (ω ⋅ t + δ ) (105)
pico

V Rpico = ξ pico
onde . Em alguns casos, é conveniente escolher a constante de
π
fase δ igual a zero ou a π . Se a constante de fase for δ = , então a equação
2 2
(105) fica
 ð
VR = VR ⋅ sen  ω ⋅ t +  = V R ⋅ cos (ω ⋅ t ) (106)
pico
 2 pico

Uma das principais vantagens da corrente alternada é o fato de que, à


medida que a corrente se alterna, o campo magnético que envolve o condutor
também se alterna, o que torna possível aplicar a lei de Faraday, permitindo
aumentar ou diminuir o valor da diferença de potencial alternada.
De acordo com a lei de Ohm, V = iR , e então a equação (106) fica
s (107)
então, a corrente elétrica no resistor fica

–  165  –
Física II

VR pico ⋅ cos(ω ⋅ t )
i= → i= i pico ⋅ cos(ω ⋅ t ) (108)
R
onde i pico =V pico / R . Assim, pode-se observar que a corrente elétrica i oscila
em torno de um valor num fator cos (ω ⋅ t ) , e tem seu valor máximo, positivo
ou negativo, quando o valor do cosseno do argumento for igual a +1 ou -1.

Exemplo 8.3
Seja a corrente que atravessa um resistor dada pela equação
i = 2A ⋅ cos ( 8s −1 ⋅ t ) . Determine o primeiro instante, diferente de zero,
em que a corrente tem seu valor máximo atingido.

Solução
O valor máximo para a corrente acontece quando o fator cosseno do argu-
mento é igual a +1 ou -1, assim, cos ( 8 ⋅ t ) =±1 .
O cosseno de um ângulo é +1 quando o ângulo é 0,2π ,4π ,... , logo, tem-se
cos ( 8 ⋅ t ) =+1 → 8 ⋅ t =0, 2π , 4π ,...

8 ⋅ t= 0 → t= 0
π
t 2π → =
8 ⋅= t → t ≈ 0,78s
4


O cosseno de um ângulo é -1 quando o ângulo é π ,3π ,5π ... , logo, tem-se


cos ( 8 ⋅ t ) =−1 → 8 ⋅ t =π , 3π , 5π ...
π
8 ⋅ t= π → t= → t ≈ 0,39s
8

⋅ t 3π → =
8= t → t ≈ 1,18s
8


O primeiro tempo, diferente de zero, em que a corrente é máxima, é t = 0,39 s.

–  166  –
Corrente alternada

Como a corrente está variando no resistor, de acordo com a equação


(108), a potência dissipada no resistor também varia com tempo. A potência
é determinada por P = i 2 ⋅ R , e substituindo a equação (108), a potência
instantânea fica

P= (i pico ⋅ cos(ω ⋅ t ))2 ⋅ R → P= i 2 pico ⋅ R ⋅ cos 2 (ω ⋅ t ) (109)


Pela equação (109), a potência varia do zero até o seu valor de pico
2 pico
i ⋅ R . Graficamente, a oscilação da potência é uma função cosseno,
começando com o valor máximo no instante t = 0, como mostra figura 8.4.
Figura 8.4 – Gráfico da potência em função do tempo

Normalmente se está interessado na potência média aplicada em um


ou mais ciclos completos. O valor médio para o fator cos 2 (ω ⋅ t ) é 1/2. A
potência dissipada em média, no resistor, fica
1 2
=
Pmédia i pico ⋅ R
2 (110)
1 2 2
Na equação (110), o termo i pico pode ser substituído por i RMS .
2
Assim, a equação (110) fica escrita como
2RMS
Pmédia = i ⋅ R (111)
Por definição, iRMS é o valor eficaz da corrente elétrica que pode ser
calculado fazendo a raiz quadrada do quadrado do valor médio. Esse valor,
que varia senoidalmente, é igual ao valor de pico da corrente dividido por
2 , ou seja,
1 2 pico
(i cosωt )
2méd 2méd
iRMS = i = pico = i (112)
2

–  167  –
Física II

Exemplo 8.4
Num circuito, uma fem tem valor máximo 10 V e é aplicada a um resis-
tor de 20Ω . Nestas condições, determine imáx e iRMS .
Solução
Sendo V Rpico = ξ pico no resistor, então a corrente máxima fica

V pico 10V
i pico = = = 0,5A
R 20Ω

1 2 pico 1
iRMS = i = ⋅ 0,52 = 0,35A Usando a equação (112), tem-se
2 2

Exemplo 8.5
Se uma lâmpada de 100 W é conectada em uma tensão de 120 V, então
quais os valores da imáx e iRMS ?
Solução
Aplica-se a equação P = i ⋅ V , onde a potência será a potência média e a
corrente é iRMS , de onde segue que
100W
Pméd = iRMS ⋅ V RMS → 100W = iRMS ⋅ 120V → iRMS = ≈ 0,83 A
120V
Usando a equação (112)
1 2 1 2
=
iRMS i pico → =
0,83 i pico → =
0,83 2
⋅ 2 i pico
2 2
i pico ≈ 1,17 A

O valor da corrente iRMS é o que a maioria dos amperímetros e voltí-


metros, para o caso de diferença de potencial, mede, em vez de valores de
pico. Assim a potência média também pode ser escrita em função da força
eletromotriz, ficando
Pméd = iRMS ⋅ ξRMS (113)

–  168  –
Corrente alternada

8.3 Corrente alternada em um capacitor


Quando um capacitor é conectado em um circuito ligado a um gerador
de corrente alternada, a queda de potencial é definida por
Q
VC = (114)
C
onde Q é carga na placa superior do capacitor, conforme mostra figura 5.

Figura 8.5 – Gerador de corrente alternada com capacitor.

A queda de potencial VC , através do capacitor é igual à fem do gerador,


ou seja,
VC = ξ = ξ pico cos ω ⋅ t → VC = VCpico cos ω ⋅ t (115)
onde ξ pico = VCpico . Substituindo a equação (115) na equação (114), tem-se
Q
VCpico cos ω ⋅ t = → Q = C ⋅ VCpico cos ω ⋅ t (116)
C
Assim, a carga na placa do capacitor varia no tempo e tem uma depen-
dência da queda de potencial de pico. A corrente elétrica é definida pelo
diferencial de carga pelo diferencial de tempo. Derivando ambos os membros
da equação (116) em relação ao tempo, obtém-se
dQ
i = → i =−i pico senω ⋅ t (117)
dt

–  169  –
Física II

onde i pico = ω ⋅ VCpico C . Usando a identidade trigonométrica dada por


sen x = ‒cos (x + π/2), a corrente pode ser reescrita da seguinte forma
 π
=i i pico cos  ω ⋅ t +  (118)
 2

Comparando as equações (118) e (115), nota-se que a queda de ten-


são está fora de fase com a corrente. O valor máximo da queda de tensão
ocorre em um quarto do período após o valor máximo da corrente. Diz-
-se que

A queda de potencial de um capacitor está


atrasada, em relação à corrente, 90º.

Isso significa que conforme a carga nas placas do capacitor aumenta,


a corrente diminui, e, um quarto de período depois, a carga estará no
valor máximo e a corrente será zero. Quando a carga diminui, a corrente
se torna negativa.

Exemplo 8.6
Uma força eletromotriz com um valor máximo de 12 V e uma frequ-
ência de 40 Hz é aplicada a um capacitor de 10µ F . Determine imáx e
iRMS .

Solução
Como ξ pico = VCpico , então aplicando i pico = ω ⋅ VCpico C , fica

ω ⋅VCpicoC =
i pico = 2π ⋅ f ⋅VCpicoC =
2π ⋅ 40 ⋅ 12 ⋅ 10 ⋅ 10−6 ≈ 0,0302 A

A partir da equação (112),


1 2 pico 1
iRMS = i ≈ 0,0302 2 ≈ 0,021A
2 2

–  170  –
Corrente alternada

Exemplo 8.7
 π
=
Seja uma corrente definida por i 0,02 A cos 10s −1 ⋅ t +  atravessando
 2
um capacitor de 20µ F . Represente o gráfico da corrente e da queda de
potencial.

Solução

 ð
Pela função i = 0,02A cos 10s −1 ⋅ t +  obtém-se i pico = 0,02A e
 2
ω = 10rad / s .
A queda de potência é definida por VC = VCpico cosω ⋅ t , então, para se escre-

ver a função VC é necessário encontrar o valor de VCpico . Assim,


i pico= ω ⋅ VCpico C
0,02
0,02 = 10 ⋅ VCpico ⋅ 20 ⋅ 10−6 → VCpico = = 100V
10 ⋅ 20 ⋅ 10−6

Então a função de queda de potencial é

VC = 100V cos (10s −1 ⋅ t )

Os gráficos ficam

A partir desse exemplo pode-se perceber a diferença de fase entre as duas


funções.

–  171  –
Física II

8.4 Circuitos LC e RLC


Um circuito chamado de LC é um circuito simples com uma indutância
e uma capacitância, mas sem resistência. Se for incluído um resistor em série
junto a um capacitor e o indutor, o circuito é chamado de RLC.

Circuitos LC são circuitos compostos por uma indutância e


uma capacitância. Circuitos RLC são circuitos compostos
por uma indutância, uma capacitância e um resistor em série.

Considere um circuito simples com uma indutância e uma capacitân-


cia, conforme figura 6. Admitindo que a placa superior do capacitor tenha
uma carga inicial Q 0 em t = 0 . Com o passar do tempo, a carga começa a
fluir através do indutor chegando a uma carga Q . Considerando o sentido
anti-horário como positivo, a corrente elétrica, quando a chave é ligada, é
i = −dQ / dt .

Figura 8.6 – Circuito simples com uma indutância e uma capacitância.

Aplicando a lei das malhas no circuito, fica

–  172  –
Corrente alternada

di Q
−L + =0 (119)
dt C
Assim, a indutância L é um fator que representa oposição à variação da
corrente, ou seja, quanto maior for à indutância, menor a variação da cor-
rente i. Substituindo a corrente i na equação (119), tem-se
d ( −dQ / dt ) Q
−L + =0 (120)
dt C

d 2Q Q
L + =0 (121)
dt 2 C
Dividindo cada termo por L, obtém-se

d 2Q Q (122)
2
=−
dt LC
A solução para a equação (122) é análoga à solução de um movimento
harmônico simples, sendo dada por
Q = Acos( ω ⋅ t − δ ) (123)
1
onde ω = , e A é a amplitude da função. Escolhendo as condições
LC
­iniciais Q = Q pico , i = 0 , δ = 0 e A = Q pico para t = 0 , a solução é
Q = Q pico cos( ω ⋅ t) (124)

e, derivando a equação (124), determina-se a corrente:


i =−ω ⋅ Q pico sen(ω ⋅ t ) → i =−i pico sen(ω ⋅ t ) (125)

onde i pico = ω ⋅ Q pico .


Os gráficos da carga e da corrente em função do tempo, na figura 7,
mostram a defasagem de 90º que há uma em relação à outra. A carga oscila
entre os valores +Q pico e −Q pico , enquanto a corrente oscila entre os valores
+ω ⋅ Q pico e −ω ⋅ Q pico .

–  173  –
Física II

Figura 8.7 – Carga versus tempo e corrente versus tempo

Exemplo 8.8
Considerando um circuito simples onde um capacitor de 4µ F é carre-
gado até 20 V e, então, é conectado a um indutor de 10µ H . Determine
a frequência de oscilação e o valor de pico da corrente.
Solução
Para a frequência de oscilação tem-se
1 1
ω = 2π ⋅ f → = 2π ⋅ f → f =
LC 2π ⋅ LC

1
f ≈ 25164Hz
2π ⋅ 10 ⋅ 10−6 H ⋅ 4 ⋅ 10−6 F

O valor de pico da corrente está relacionado com o valor de pico da carga.


Da equação (114), o pico da carga está relacionado ao pico de queda de
potencial através do capacitor, logo
Q pico CV pico
i pico =ω ⋅ Q pico → i pico = → i pico =
LC LC

4 ⋅ 10−6 F ⋅ 20V
i pico ≈ 12,65 A
10 ⋅ 10−6 H ⋅ 4 ⋅ 10−6 F

–  174  –
Corrente alternada

Exemplo 8.9
Se um capacitor de 5µ F é carregado e descarregado através de um indu-
tor, qual deve ser o valor da indutância para que a corrente oscile com
frequência de 8 kHz?

Solução
ω 2π ⋅ f para a frequência de 8 kHz, tem-se
Aplicando a equação =
1 1
ω = 2π ⋅ f → = 2π ⋅ f → f =
LC 2π ⋅ LC

1
8 ⋅ 103 Hz =
2π ⋅ L ⋅ 5 ⋅ 10−6 F

1
L ⋅ 5 ⋅ 10−6 F =
2π ⋅ 8 ⋅ 103 Hz
2
 1 
 
π ⋅ ⋅ 3
L= 
2 8 10 Hz
5 ⋅ 10−6 F

L = 7,92 ⋅ 10−5H

8.5 Energia em um Circuito LC


Também, de forma análoga ao sistema MHS, onde a energia total oscila
entre a energia potencial e a energia cinética, há dois tipos de energias asso-
ciadas aos circuitos LC: energia elétrica e energia magnética.
A energia elétrica armazenada no capacitor é
1 1Q2
U e = QVC = (126)
2 2 C
e substituindo Q, da equação (124), na equação (126), tem-se

–  175  –
Física II

2 pico
1Q cos 2 ( ω ⋅ t)
Ue = (127)
2 C
A energia magnética armazenada no indutor é
1
U m = Li 2 (128)
2
e substituindo i, da equação (125), na equação (128), tem-se

1Q
2
pico sen 2 (ω ⋅ t )
Um = (129)
2 C

A energia elétrica oscila entre seu máximo Q 2 pico / 2C e zero, com uma
frequência angular de 2ω , e a energia magnética também oscila entre seu
máximo Q pico / 2C e zero com uma frequência 2ω . A energia total é a
2

soma da energia eletrostática e da energia mecânica, sendo uma constante no


tempo. Logo, a energia total fica
2 pico 2 pico
1Q cos 2 ( ω ⋅ t) 1 Q sen 2 ( ω ⋅ t)
U T =U e +U m = + (130)
2 C 2 C
2
1 Q pico
UT =
2 C
( cos2( ω ⋅ t) + sen 2 ( ω ⋅ t) ) (131)

Pela relação trigonométrica cos 2 ( ω ⋅ t) + sen 2 ( ω ⋅ t) = 1 , a equação para


a energia total é
2
1 Q pico
UT = (132)
2 C
Essa energia total é a energia armazenada inicialmente no capacitor.

A energia total inicialmente armazenada num capacitor


é diretamente proporcional ao quadrado do valor de pico
da carga e inversamente proporcional à capacitância.

–  176  –
Corrente alternada

Exemplo 8.10
Considerando que em um circuito há um capacitor 10µ F que é carre-
gado até 110 V, qual é a energia armazenada no sistema?
Solução
Admitindo que a queda de potencial fornecida seja o valor máximo, o valor
da carga elétrica está relacionado com potencial no capacitor pela equação
(114), segue que
Q pico
VC = → Q pico = VC ⋅ C = 110V ⋅ 10 ⋅ 10−6 F = 1100 ⋅ 10−6 C
C
Substituindo na equação da energia total, fica

1 (1100 ⋅ 10 C ) pico
−6 2

=
U T = 6,05 ⋅ 10−2 J
2 10 ⋅ 10−6 F

Síntese

Um gerador simples de corrente alter-


nada é constituído de um enrolamento
de área A e N voltas, girando em um
campo magnético uniforme
Num gerador de corrente alternada, a
ξ = N ⋅ B ⋅ A ⋅ ω ⋅ sen (ω ⋅ t + δ )
fem induzida e a corrente são alternadas
Geradores
de Corrente ξ pico = N ⋅ B ⋅ A ⋅ ω Fem de um gerador de corrente alter-
alternada nada
ξ = ξ pico ⋅ sen (ω ⋅ t + δ )
Valor máximo da fem
Fem senoidal no enrolamento através
da rotação do enrolamento com uma
velocidade constante ω em um campo
magnético

–  177  –
Física II

V R = ξ pico ⋅ sen (ω ⋅ t + δ )
A queda de diferença de potencial
VR = VR ⋅ cos (ω ⋅ t ) através do resistor será igual à fem do
pico
gerador
i = i pico ⋅ cos (ω ⋅ t )
π
Para a constante de fase δ =
i pico = V pico / R 2
Corrente Corrente elétrica no resistor
alternada 2 pico

em um P =i ⋅ R ⋅ cos 2 (ω ⋅ t ) Corrente elétrica de pico no resistor


resistor Potência instantânea no resistor
1 2
Pmédia = i pico ⋅ R Potência dissipada média no resistor
2
Valor eficaz da corrente elétrica: é o
1 2 pico que a maioria dos amperímetros mede
iRMS = i
2 Potência dissipada média no resistor em
2RMS termos da corrente eficaz
Pmédia = i ⋅R

Queda de potencial de um capacitor que


Q é conectado em um circuito ligado a um
VC =
C gerador de corrente alternada
VC = ξ = ξ pico cosω ⋅ t A queda de potencial através do capaci-
tor, é igual à fem do gerador
VC = VCpico cosω ⋅ t Carga na placa do capacitor tem uma
Corrente
alternada dependência da queda de potencial de
Q = C ⋅ VCpico cosω ⋅ t pico
em um
capacitor i = −i pico senω ⋅ t Corrente elétrica pelo diferenciando a
carga elétrica
i pico = ω ⋅ VCpico C Corrente máxima
 ð Corrente reescrita na forma do cosseno
i = i pico cos  ω ⋅ t + 
 2 A queda de potencial de um capacitor
está defasada 90º em relação à corrente

–  178  –
Corrente alternada

Circuitos LC são circuitos compostos


por uma indutância e uma capacitância
Q = Q pico cos( ω ⋅ t) Circuitos RLC são circuitos compostos
por uma indutância e uma capacitância
1
ω= e um resistor em série
Circuitos LC
LC e RLC Carga elétrica de um capacitor em LC
i = −i pico sen( ω ⋅ t) para a constante de fase igual a zero
Frequência angular da função Q
i pico = ω ⋅ Q pico
Corrente pela derivação da função Q
Corrente máxima no circuito
Existem dois tipos de energias associa-
2 pico
1Q cos 2 ( ω ⋅ t) das aos circuitos LC: energia elétrica e
Ue = energia magnética
2 C
Energia 2 pico Energia elétrica armazenada no capa-
1Q sen 2 ( ω ⋅ t) citor
em um Um =
Circuito LC 2 C Energia magnética armazenada no
1Q
2 pico indutor
UT = Energia total no sistema que é a energia
2 C
armazenada inicialmente no capacitor

–  179  –
9
Equações de
Maxwell e ondas
eletromagnéticas

As equações de Maxwell são um grupo de equações que com-


põem a base do eletromagnetismo. Pode-se afirmar que a revolução
tecnológica, iniciada no final do século XIX, e que ainda continua,
deve-se ao desenvolvimento das equações de Maxwell e o entendi-
mento do eletromagnetismo.
Física II

As equações de Maxwell são assim chamadas em homenagem ao físico e


matemático escocês James Clerk Maxwell, que publicou em torno de 1860 o
artigo On Physical Lines of Force, dividido em quatro partes, relacionando os
vetores campo elétrico e campo magnético e suas fontes.
Neste capítulo será estudada a generalização, feita por Maxwell, da lei
de Ampère. Também será visto como as leis generalizas da eletricidade e do
magnetismo descrevem as ondas eletromagnéticas.

9.1 Corrente de deslocamento de Maxwell


A mecânica clássica é determinada pelas leis de Newton e, de maneira
similar, os problemas na eletricidade e magnetismo clássicos podem ser
resolvidos usando as leis Maxwell, sendo estas mais complexas que as leis de
Newton.
Podem-se dividir as equações de Maxwell em dois grupos: o grupo
“microscópico”, que utiliza os conceitos de carga total e corrente total em
níveis atômicos, e o grupo “macroscópico”, cuja descrição evita a necessidade
de se conhecerem tais cargas e correntes em dimensões atômicas.
Maxwell mostrou que as equações podem ser combinadas para formar
uma equação de onda para os vetores campo elétrico e campo magnético,
sendo tais ondas causadas por cargas aceleradas. Assim, o movimento da carga
gera uma onda eletromagnética.
Maxwell identificou uma falha na lei de Ampère, que relaciona a integral
do campo magnético ao longo de uma curva fechada à corrente que passa
através de qualquer superfície limitada por essa curva. Ou seja, um campo
magnético pode ser produzido por uma corrente elétrica num fio, sendo a lei
de Ampère definida por
 
∫ B ⋅ d l = µ0 ⋅ i (133)
C

Porém, Maxwell percebeu que a equação está incompleta, existindo duas


formas de se produzir um campo magnético: por meio de um campo elétrico
variável e por meio de uma corrente. Maxwell generalizou a Lei de Ampère,
incluindo um termo chamado de corrente de deslocamento, definido por

–  182  –
Equações de Maxwell e ondas eletromagnéticas

d ΦE
id = ε 0 (134)
dt
em que ϕ E é fluxo do campo elétrico através da superfície limitada pela
curva C, e ε 0 ≈ 8,85 ⋅ 10−12C 2 / N ⋅ m 2 é a permissividade no espaço livre,
a constante que está nas leis de Coulomb e Gauss. Tem dimensão de cor-
rente elétrica e, portanto, é expressa em ampères no Sistema Internacional
de Unidades.

Corrente de deslocamento é uma corrente fictícia dada


pela taxa de variação do fluxo do vetor campo elétrico.

A forma generalizada da lei de Ampère fica


 
∫ ⋅ d l = µ0 ⋅ i + µ0 ⋅ id (135)
B

A soma i + id é chamada de corrente generalizada. A corrente gene-


ralizada deve cruzar qualquer superfície limitada pela curva C. A equação
(135) mostra que o campo magnético pode ser gerado tanto pela corrente de
condução quanto pela corrente de deslocamento.
A corrente de deslocamento nos dá a noção de continuidade da cor-
rente através de um capacitor. Entretanto, a corrente de deslocamento não é
uma transferência de carga. Se imaginarmos duas placas paralelas num cir-
cuito, a corrente de condução i chega à placa positiva e sai da placa negativa.
Porém, a corrente não é contínua no intervalo entre as placas, pois nenhuma
carga é transportada nesse intervalo. Contudo, a corrente de deslocamento,
nesse intervalo, é igual a corrente de condução, mantendo a continuidade
da corrente.

Exemplo 9.1
Considerando que um capacitor de placas paralelas tem for-
mas circulares de raio r = 2cm e a variação do campo elétrico é
dE / dt = 80 ⋅ 1012V / m ⋅ s , determine a corrente de deslocamento.

–  183  –
Física II

Solução
Pela equação (134), tem-se
dE
id = ε 0 ⋅ A ⋅
dt

id ≈ 8,85 ⋅ 10−12 C 2 / N ⋅ m 2 ⋅ π ⋅ ( 0,02m ) ⋅ 80 ⋅ 1012V / m ⋅ s


2

id ≈ 0,8897A

Exemplo 9.2
Certa quantidade de carga está fluindo de uma placa negativa para uma
placa positiva, num circuito com um capacitor de placas paralelas circu-
lares de raio r. Se a taxa de movimento das cargas é i = dQ / dt = 1,2A ,
determine a corrente de deslocamento entre as placas.

Solução
Aplicando a equação (134), tem-se
dE
id = ε 0 ⋅ A ⋅
dt

O campo elétrico pode ser escrito em termos de densidade superficial de carga


σ Q /A
sobre as placas, E = = . Substituindo essa expressão no diferencial
ε0 ε0
do campo elétrico, obtém-se

Q / A 
d 
 ε 0  dQ
id = ε 0 ⋅ A ⋅ = = 1,2A
dt dt

Assim, a corrente de deslocamento entre as placas do capacitor é igual a cor-


rente nos fios do circuito que transportam a carga.

–  184  –
Equações de Maxwell e ondas eletromagnéticas

9.2 As equações de Maxwell


As equações de Maxwell resumem todo o eletromagnetismo clássico.
Nas equações que serão apresentadas a seguir, os caminhos de integração e
as superfícies de integração estão em repouso e as integrações ocorrem num
instante de tempo.
São elas:
Q liq
∫ E dA =
S
n
ε0
(136)

∫ B dA = 0 (137)
S
n

  d ΦB
∫ E ⋅ d l = −
C
dt
(138)

  d ΦE
∫ B ⋅ d l = µ
C
0 ⋅ i + µ0 ⋅ ε 0
dt
(139)

A equação (136) é a lei de Gauss. Essa equação descreve o fluxo do


campo elétrico através de qualquer curva fechada como sendo igual a 1/ ε 0
vezes a carga líquida dentro da superfície. Também descreve como as linhas de
campo elétrico saem de uma carga positiva e entram em uma carga negativa.
A equação (137) é, por vezes, chamada de lei de Gauss para o magne-
tismo. Essa equação estabelece que o vetor campo magnético seja nulo através
de qualquer superfície fechada. Também descreve a ideia de que polos magné-
ticos isolados não existem, sendo que as linhas de campo magnético necessi-
tam de um polo norte, de onde saem, e um polo sul, para onde entram.
A equação (138) é a lei de Faraday. Demonstra que a integral do campo
elétrico em torno de qualquer curva fechada C é igual o negativo da taxa de
variação do fluxo magnético através de qualquer superfície S limitada pela
curva. Como, S não é uma superfície fechada, o fluxo através de S não é
necessariamente nulo.
A equação (139) é a lei de Ampère modificada. Essa equação fornece a
ideia que a integral de linha do campo magnético em torno de qualquer curva

–  185  –
Física II

fechada C é igual a µ0 vezes a taxa de variação do fluxo elétrico através da


mesma superfície.
Os princípios fundamentais de todos os dispositivos eletromagnéticos
como motores elétricos, telefones, aparelhos de radar, etc., estão contidos nas
equações Maxwell.

9.3 Ondas eletromagnéticas


Quando as cargas elétricas livres aceleram ou quando elétrons ligados a
átomos e moléculas sofrem uma transição para estados de menor energia, as
ondas eletromagnéticas são produzidas.
As ondas de rádio são produzidas por correntes elétricas macroscópicas
oscilando em antenas de transmissão de rádio. Os raios X são produzidos pela
desaceleração de elétrons quando colidem com um alvo de metal. As ondas
de luz são geralmente produzidas pelas transições de cargas atômicas ligadas.
As ondas eletromagnéticas são formadas por vetores campos elétricos e
magnéticos, sendo perpendiculares entre si, como ilustrado na figura 1. Tam-
bém são perpendiculares à direção de propagação da onda. Essas ondas são
transversais e os campos elétricos e magnéticos estão em fase.

Figura 9.1 – Vetores campo elétrico e magnético em uma onda


eletromagnética.

Em cada ponto no espaço e em cada instante no tempo os módulos dos


vetores campo elétrico e magnético estão relacionados pela equação

–  186  –
Equações de Maxwell e ondas eletromagnéticas

E = cB (140)
em que c = 1/ µ0ε 0 é a velocidade da onda. Os vários tipos de ondas eletro-
magnéticas diferem apenas no comprimento de onda λ e na frequência f e
são relacionados à velocidade c na forma
c = λ ⋅ f (141)
Nossos olhos são sensíveis às ondas eletromagnéticas com comprimentos
de ondas de aproximadamente 400 nm até 700 nm. A luz visível, como é cha-
mada essa faixa, em seus menores comprimentos de onda, corresponde à luz
violeta, e os maiores comprimentos de onda, correspondem à luz vermelha.
Quando a onda eletromagnética tem seus comprimentos de onda abaixo
do menor comprimento da faixa visível, são chamadas de raios ultravioletas.
Quando o comprimento de onda está acima no maior comprimento da faixa
visível, são chamados de ondas infravermelhas.

Exemplo 9.3
Determinar a frequência de uma onda eletromagnética com um com-
primento:
λ = 400 nm

λ = 700 nm

Solução
Aplicando a equação (141) e c = 1/ µ0ε 0 tem-se
1
= λ ⋅f
µ0ε 0

1
=400 ⋅ 10−9 m ⋅ f
T ⋅m
4π ⋅ 10−7 ⋅ 8,85 ⋅ 10−12 C 2 / N ⋅ m 2
A

2,9986338 ⋅ 108 m / s = 400 ⋅ 10−9 m ⋅ f

–  187  –
Física II

2,9986338 ⋅ 108 m / s
f =
400 ⋅ 10−9 m

f ≈ 7,49 ⋅ 1014 Hz

1
= λ ⋅f
µ0ε 0

1
=700 ⋅ 10−9 m ⋅ f
T ⋅m
4π ⋅ 10−7 ⋅ 8,85 ⋅ 10−12 C 2 / N ⋅ m 2
A

2,9986338 ⋅ 108 m / s = 700 ⋅ 10−9 m ⋅ f

2,9986338 ⋅ 108 m / s
f =
700 ⋅ 10−9 m

f ≈ 4,28 ⋅ 1014 Hz

Pode-se notar, através do exemplo anterior, que o termo que se utiliza


c = 1/ µ0ε 0 é a velocidade da luz. Como utilizamos uma aproximação
para ε0, seu valor ali é uma aproximação do valor exato para c, que é igual a
2,99792458 ⋅ 108 m / s . Para efeito de cálculos, é comum arredondá-la para
3 ⋅ 108 m / s .

9.4 Energia em uma onda eletromagnética


Assim como outras ondas, as ondas eletromagnéticas transportam ener-
gia e quantidade de movimento. Para sua propagação, não é necessário maté-
ria, uma vez que os campos elétricos e magnéticos existem no vácuo.
A energia de uma onda eletromagnética está distribuída entre os campos
elétrico e magnético. Ao se propagar, a energia da onda oscila entre a energia
do campo elétrico e a energia do campo magnético. A parcela da energia é
descrita pela intensidade, determinada pela potência média por unidade de

–  188  –
Equações de Maxwell e ondas eletromagnéticas

área. A quantidade de movimento por unidade de tempo é chamada de pres-


são de radiação.
A figura 2 mostra uma onda eletromagnética se deslocando para a direita
em uma região cilíndrica de comprimento L e área de seção A.
Figura 9.2

A energia média da onda eletromagnética, dentro dessa região de


volume V, é
U média = u média ⋅ V (142)
em que o termo umédia é a densidade média de energia, energia por unidade
de volume. No intervalo de tempo ∆t , a onda se desloca uma distância L
e toda a energia passa através da extremidade direita da região. O intervalo
de tempo para a onda eletromagnética se deslocar por uma distância L é
∆t =L / c , em que c é a velocidade da onda.
Assim, a potência média, que é a energia por unidade de tempo, nessa
região é
U média
Pmédia =
∆t
umédia ⋅ V
Pmédia =
L /c
umédia ⋅ L ⋅ A
Pmédia =
L /c
Pmédia = u média ⋅ A ⋅ c (143)

Logo, a intensidade, que é a potência por unidade de área, fica


I = umédia ⋅ c (144)

–  189  –
Física II

Exemplo 9.4
Uma lâmpada de 40 W emite ondas eletromagnéticas em todas as dire-
ções. Determine a intensidade e densidade média de energia para um
ponto que está a 5 metros de distância dessa lâmpada.

Solução
Como a lâmpada emite as ondas em todas as direções, imagina-se uma
região formada por uma esfera que vai aumentando com a propagação da
onda. A uma distância de 5 metros, a esfera terá um raio de 5 metros, e a
área por onde os feixes de luz passam, sobre a esfera, é
A 4π ⋅ r 2
=

E da definição de intensidade, tem-se


Pmédia Pmédia 40W
=I = = ≈ 0,127W / m 2
4π ⋅ r 4π ⋅ ( 5m )
2 2
A

Para a densidade média de energia, aplica-se a equação (144), ficando


0,127W / m 2 = umédia ⋅ 3 ⋅ 108 m / s

umédia = 4,23 ⋅ 10−10 J / m 3

A densidade de energia total que a onda eletromagnética tem é a soma


das densidades de energia elétrica e magnética. A densidade de energia elé-
trica e a magnética são dadas por
1
uE = ⋅ ε 0 ⋅ E 2 (145)
2

1 B2
um = ⋅ (146)
2 µ0

Em uma onda eletromagnética no espaço livre, o campo elétrico E é


igual a cB , e a densidade de energia total da onda é a soma das densidades de
energias elétrica e magnética, podendo ser escrita das seguintes formas

–  190  –
Equações de Maxwell e ondas eletromagnéticas

B2 EB
u = ε0 E 2 = = (147)
µ0 µ0c
A densidade de energia média é determinada substituindo os valores
instantâneos do campo elétrico e campo magnético, pelos seus valores em
rms, que são iguais aos valores máximos dos módulos dos campos, E0 e B0,
divididos por 2 , obtendo-se
ERMS BRMS
umédia = (148)
µ0c
e, substituindo (148) na equação (144), a intensidade fica
ERMS BRMS
I= ⋅c
µ0c

1 E0 B0
I= (149)
2 µ0

em que E0 e B0 são os valores máximos do campo elétrico e do campo mag-


nético. Assim, a intensidade é diretamente proporcional aos campos elétricos
e magnéticos. Quando uma onda eletromagnética, com uma determinada
intensidade, incide sobre uma superfície, ela exerce uma pressão, chamada de
pressão de radiação. Isto se deve ao fato da onda eletromagnética transportar
momento linear. A relação da pressão de radiação terá também dependência
dos campos elétrico e magnético da onda eletromagnética.
A pressão de radiação é definida por
I
Pr = (150)
c

Pode-se relacionar a pressão de radiação com os campos elétrico e mag-


nético, usando as equações (149) (140), ficando
1 E0B0 1 E02 1 B02
Pr = = = (151)
2 µ0 ⋅ c 2 µ0 ⋅ c 2 2 µ0

–  191  –
Física II

Exemplo 9.5
Se uma onda eletromagnética tem a intensidade de 80 W/m2, qual serão
os valores de ERMS e BRMS ?
Solução
Aplicando a equação (150), encontra-se a pressão de radiação
2
I 80 W / m
Pr = = ≈ 26,6 ⋅ 10−8Pa
c 3 ⋅ 10 m / s
8

Aplicando a equação (151), determinam-se os valores máximos dos campos


elétrico e magnético
E02
26,6 ⋅ 10−8 Pa =
T ⋅m
⋅ ( 3 ⋅ 108 m / s )
2
2 ⋅ 4π ⋅ 10−7
A

T ⋅m
⋅ ( 3 ⋅ 108 m / s ) ≈ 245,29 V / m
2
=
E0 26,6 ⋅ 10−8 Pa ⋅ 2 ⋅ 4π ⋅ 10−7
A

e
B2
26,6 ⋅ 10−8 Pa = 0
T ⋅m
2 ⋅ 4π ⋅ 10−7
A

T ⋅m
=
B0 26,6 ⋅ 10−8 Pa ⋅ 2 ⋅ 4π ⋅ 10−7 ≈ 8,18 ⋅ 10−7T
A

Calculando os valores rms, obtém-se


E0 245, 29 V / m
ERMS = ≈ ≈ 173, 45V / m
2 2

e
B0 8,18 ⋅ 10−7T
BRMS = ≈ ≈ 5,78 ⋅ 10−7T
2 2

–  192  –
Equações de Maxwell e ondas eletromagnéticas

Exemplo 9.6
Uma onda eletromagnética tem um campo elétrico de amplitude
E0 = 103V / m . Determinar a intensidade I e a pressão de radiação Pr .

Solução
Encontra-se a pressão de radiação pela equação (151)

(103V / m )
2
1 E02
=
P = ≈ 4,42 ⋅ 10−6 Pa
r
2 µ0 ⋅ c 2 T ⋅ m
⋅ ( 3 ⋅ 108 m / s )
2
2 ⋅ 4π ⋅ 10−7
A

A intensidade é calculada pela equação (150):


I
4,42 ⋅ 10−6 Pa ≈ → I ≈ 1326 W / m 2
3 ⋅ 108 m / s

9.5 Equação de onda para a onda eletromagnética


É possível deduzir uma equação de onda em uma corda através da potên-
cia que se aplica na corda. Assim, a corda obedece a uma equação diferencial
parcial chamada de equação de onda, que é definida por
∂2 y 1 ∂2 y
= ⋅ (152)
∂x 2 v 2 ∂t 2
A equação (152) é dita parcial, pois a função y tem dependência de duas
variáveis, x e t, em que o primeiro membro é uma derivada parcial em relação
à x, e o segundo membro tem-se uma derivada parcial em relação ao tempo
t. A função y(x, t) representa o deslocamento da corda e v é a velocidade de
propagação na direção de x.
A solução geral para a equação (152) pode ser escrita como
y ( x,t ) = f 1 ( x − vt ) + f 2 ( x +vt ) (153)
As funções gerais de solução podem ser escritas como uma superposição
de ondas harmônicas, ficando

–  193  –
Física II

y ( x,t ) = y 0 sen ( k ⋅ x − ω ⋅ t ) (154)


e
y ( x,t ) = y 0 sen ( k ⋅ x + ω ⋅ t ) (155)
em que k = 2π / λ é o número de onda e =
ω 2π ⋅ f é a frequência angular.
Assim, os campos elétricos e magnéticos, de uma onda eletromagnética
também obedecem às equações de onda. Considera-se que os campos elétri-
cos e magnéticos são funções do tempo e de apenas uma coordenada espacial,
que adotaremos como x. Esse tipo de onda eletromagnética é chamado de
 
onda plana e os vetores E e B são perpendiculares ao eixo x. Cada vetor,
então, obedece à equação de onda, de onde segue que
 
∂2 E 1 ∂2 E
= ⋅ (156)
∂x 2 c 2 ∂t 2
e
 
∂2 B 1 ∂2 B
= ⋅ (157)
∂x 2 c 2 ∂t 2
que c 1/ µ0 ⋅ ε 0 é a velocidade da onda.
em =
Exemplo 9.7
Uma onda eletromagnética tem o seu campo elétrico dado por
 
=E 200cos(5 ⋅ 10−8 ⋅ x − 2 ⋅ 10−12 ⋅ t )k . Determinar:
a) a direção de propagação da onda;
b) a direção do campo magnético no plano x=0 no instante t=0;
c) o campo magnético dessa onda.
Solução
a) A direção de propagação da onda depende do sinal que aparece no argu-
mento da função cosseno. Assim, sendo a função cos ( k ⋅ x − ω ⋅ t ) , a
 

direção é a de aumento de x. O campo magnético é perpendicular à



direção de propagação e ao campo elétrico. O produto vetorial entre E
→ →
e B está na direção de propagação i . Logo, tem-se

–  194  –
Equações de Maxwell e ondas eletromagnéticas

→ → → →
=
E× B ( E0 cos ( k ⋅ x − ω ⋅ t ) ) k × ( B0 cos ( k ⋅ x − ω ⋅ t ) ) j

E × B = E0 ⋅ B0 cos 2 ( k ⋅ x − ω ⋅ t )  k × j 
→ → → →

 

E × B = E0 ⋅ B0 cos 2 ( k ⋅ x − ω ⋅ t )  −i 
→ → →

 

Sendo o campo elétrico positivo, e o fator cosseno ao quadrado um valor


positivo, então, pelo resultado apresentado, o campo magnético deveria
ser negativo para que o produto vetorial tenha como resultado o sentido
positivo direção do eixo x, ou seja,
→ →
B ( x ,t ) =−B0 cos ( k ⋅ x − ω ⋅ t ) j

No tempo igual a zero e na posição x igual a zero, tem-se


→ → → →
B ( 0,0 ) =−B0 cos ( k ⋅ 0 − ω ⋅ 0 ) j → B ( x ,t ) =−B0 j


Então B ( 0,0 ) está na direção de y negativo.

b) Numa onda eletromagnética, pela equação (140), E0 = cB0 e os veto-


res estão em fase, então
B0 ≈ 6,7 ⋅ 10−7T

e
 
B ≈ − 6,7 ⋅ 10−7 cos ( 5 ⋅ 10−8 x − 2 ⋅ 10−12t ) j

Exemplo 9.8
Uma onda eletromagnética tem o seu campo elétrico dado por
→ → →
=E 80sen ( 2 ⋅ 10−8 ⋅ x − 4 ⋅ 10−12 ⋅ t ) j + 80cos ( 2 ⋅ 10−8 ⋅ x − 4 ⋅ 10−12 ⋅ t ) k .  

Determinar o campo magnético dessa onda.

–  195  –
Física II

Solução
Pela equação fornecida no problema, a direção de propagação é a
direção de x, sentido positivo. O campo elétrico é uma superposi-
→ →
E 1 80sen ( 2 ⋅ 10−8 ⋅ x − 4 ⋅ 10−12 ⋅ t ) j
ção de duas ondas, sendo= e
→ →
=E 2 80cos ( 2 ⋅ 10−8 ⋅ x − 4 ⋅ 10−12 ⋅ t ) k . Como os campos estão em fase,
as componentes do campo magnético, associadas  a cada um desses campos,
devem ser tais que o produto interno entre E e B seja nulo (ou seja, deve
satisfazer o fato dos campos magnético e elétrico serem perpendiculares entre
si). Assim,
→ →
B 1 80sen ( 2 ⋅ 10−8 ⋅ x − 4 ⋅ 10−12 ⋅ t ) k
=

→ →
B 2 =−80cos ( 2 ⋅ 10−8 ⋅ x − 4 ⋅ 10−12 ⋅ t ) j

Assim, o campo magnético fica escrito como:


→ → →
B =B 1 + B 2 =

→ →
= 80 sen ( 2 ⋅ 10−8 ⋅ x − 4 ⋅ 10−12 ⋅ t ) k − 80cos ( 2 ⋅ 10−8 ⋅ x − 4 ⋅ 10−12 ⋅ t ) j

Síntese

Corrente de deslocamento é uma


d ΦE corrente fictícia dada pela taxa de
id = ε 0
dt variação do fluxo do vetor campo
Corrente de
deslocamento   elétrico
de Maxwell ∫ B⋅d l = µ0 ⋅ i + µ0 ⋅ id Forma generalizada da lei de
i + id Ampère
Corrente generalizada

–  196  –
Equações de Maxwell e ondas eletromagnéticas

Q liq
∫ E dA =
S
n
ε0 As equações de Maxwell são um
grupo de equações que compõem a
∫ B dA = 0
S
n
base do eletromagnetismo.
As equações Lei de Gauss
de Maxwell d ΦB
∫
C
=−
dt
Lei de Gauss para o magnetismo
Lei de Faraday
  dΦ
C∫ B ⋅ d l = µ0 ⋅ i + µ0 ⋅ ε 0 dt E Lei de Ampère modificada

As ondas eletromagnéticas são


produzidas quando cargas elétri-
cas livres aceleradas ou quando
elétrons ligados a átomos e molé-
culas sofrem uma transição para
estados de menor energia

E = cB As ondas eletromagnéticas são


Ondas formadas por vetores campos elé-
eletromagnéticas c = 1/ µ0ε 0 tricos e magnéticos, sendo perpen-
diculares entre si
Módulos dos vetores campo elé-
trico e magnético em uma onda
eletromagnética
Velocidade da onda eletromagné-
tica

–  197  –
Física II

U média = u média ⋅ V

Pmédia = u média ⋅ A ⋅ c
Energia média da onda eletromag-
I = umédia ⋅ c nética

1 Potência média, que é a energia


uE = ⋅ ε 0 ⋅ E 2 por unidade de tempo
2
Intensidade, que é a potência por
1 B2
um = ⋅ unidade de área
2 µ0
Densidade de energia elétrica
2
Energia em B EB Densidade de energia magnética
uma onda u = ε0 E 2 = =
µ0 µ0c
eletromagnética Densidade de energia total da
ERMS BRMS onda
umédia =
µ0c Densidade de energia média

1 E0 B0 Intensidade em termos do campo


I= elétrico e magnético
2 µ0
Pressão de radiação
I
Pr = Pressão de radiação em termos de
c campo elétrico e magnético
1 E0B0 1 E02 1 B02
Pr = = =
2 µ0 ⋅ c 2 µ0 ⋅ c 2 2 µ0

–  198  –
Equações de Maxwell e ondas eletromagnéticas

Equação de onda em uma corda


através da potência que se aplica
∂2 y 1 ∂2 y
= ⋅ na corda
∂x 2 v 2 ∂t 2
Solução geral para a equação de
y ( x,t ) = f 1 ( x − vt ) + f 2 ( x +vt ) onda
Equação de onda
para a onda  
∂2 E 1 ∂2 E Equação de onda para o campo
eletromagnética = ⋅ 2 elétrico de uma onda eletromag-
∂x 2 c 2 ∂t
  nética
∂2 B 1 ∂2 B
= ⋅ 2 Equação de onda para o campo
∂x 2 c 2 ∂t magnético de uma onda eletro-
magnética

–  199  –
10
Luz e suas
propriedades

Tentar explicar o que é a luz não é uma tarefa tão simples


quanto parece, apesar de a usarmos todos os dias durante nossas
vidas. Quando vemos um objeto, estamos vendo luz, que atinge
nossos olhos, o que nosso cérebro interpreta nos informando formas
e cores.
Física II

Uma definição básica é dizer que a luz, ou luz visível, é um agente


físico que sensibiliza nossos olhos e produz a sensação de visão. Mas tam-
bém se pode afirmar que é uma energia radiante que se propaga na forma
de onda eletromagnética.
O olho humano consegue captar ondas eletromagnéticas com compri-
mento de onda de aproximadamente 400 nm até 700 nm, e a luz que perce-
bemos tem frequência que varia entre 4 ⋅ 1014 Hz e 8 ⋅ 1014 Hz , aproximada-
mente. Assim, a luz é uma onda eletromagnética, que sensibiliza nossos olhos,
quando tem comprimento e frequência dentro dos limites mencionados.
Neste capítulo, será estudado como a luz é produzida, sua velocidade e
propriedades que apresenta.

10.1 Dualidade da luz


No século XVII, Newton tentou explicar o que era a luz através de uma
teoria conhecida como o modelo corpuscular da luz. Newton acreditava que
a luz era formada por pequenas partículas, que são emitidas pela fonte lumi-
nosa, propagando-se em linha reta com velocidade muito elevada e, ao atingir
nossos olhos, essas partículas estimulavam o cérebro, dando origem à visão.
Essa teoria foi aceita durante anos. Através desse modelo, Newton conseguiu
explicar vários fenômenos ópticos, que já eram conhecidos, como a refração,
a reflexão da luz e a cor.
Outro modelo para explicar a luz foi proposto mais tarde, conhecido como
modelo ondulatório. Neste modelo, a luz tem características de ondas. Thomas
Young observou o padrão de interferência de duas fontes de luz coerentes pro-
duzido por um par de fendas estreitas, o que se explicava somente se a luz tivesse
a característica de uma onda. A teoria ondulatória da luz foi reforçada com o
físico escocês, Maxwell, que, ao realizar experimentos para calcular a velocidade
de propagação de uma onda eletromagnética, encontrou um resultado igual ao da
velocidade da luz, dado esse que já havia sido descoberto. Assim, Maxwell propôs
a ideia de que a luz é uma onda eletromagnética. Mais tarde, experiências com-
provaram a ideia de Maxwell, e, assim, a unificação da óptica com a eletricidade.
Albert Einstein, em 1905, propôs a natureza da luz como partícula, com
o efeito fotoelétrico, no qual uma partícula, chamada de fóton, possui energia

–  202  –
Luz e suas propriedades

que está relacionada com a frequência e o comprimento de onda de luz, pela


equação conhecida como equação de Einstein:
h ⋅c
E =h ⋅ f = (158)
λ
−34
em que c é a velocidade da luz e h = 6,626 ⋅ 10 J ⋅ s é a constante de Planck.
Nos dias atuais, sabe-se que a luz tem sua propagação governada pelas
propriedades ondulatórias, no entanto, a troca de energia entre a luz e a maté-
ria também pode ser estudada do ponto de vista corpuscular.
Exemplo 10.1
Determine a energia do fóton correspondente aos comprimentos de
ondas λ1 = 400 nm e λ2 = 700 nm .
Solução
Aplicando a equação (158), tem-se
E1 = 4,9695 ⋅ 10−19 J
e
E 2 = 2,8397142 ⋅ 10−19 J

10.2 Velocidade da luz


Em torno do ano de 1600, Galileu Galilei tentou medir a velocidade da
luz. Com a ajuda de um assistente, subiram ao topo de colinas, que estavam
distantes aproximadamente 3 km uma da outra. Galileu, em uma das colinas,
levava consigo uma lanterna e uma capa para cobri-las e seu assistente, em
outra colina, também levava os mesmos aparatos.
A proposta de Galileu era medir o tempo de ida e volta da luz ao se
deslocar de um topo ao outro. Galileu e seu assistente, estando posicionados
cada qual em um topo, começaram o experimento. Galileu descobriria sua
lanterna e, quando seu assistente avistasse a luz, deveria descobrir sua lanterna
também, vendo assim a luz da lanterna de seu assistente e marcando o tempo
decorrido nesse processo.

–  203  –
Física II

Todo o processo idealizado por Galileu estava correto, porém não obteve
êxito na obtenção do valor da velocidade da luz. A velocidade da luz é tão
grande que, nestas condições, o intervalo de tempo é muito pequeno para a
luz percorrer essa distância. Na verdade, para se ter uma ideia, a luz consegue
percorrer, aproximadamente, 7 voltas em torno do planeta terra em 1 s. E
também, devem-se levar em consideração os instrumentos e as condições em
que o experimento foi realizado. Como Galileu fez para marcar o tempo em
1600? Seria possível o assistente descobrir a lanterna imediatamente após ver
a luz da lanterna de Galileu? Porém, mais tarde, outros cientistas, na tentativa
de determinar a velocidade da luz, utilizaram o método de Galileu, contudo,
utilizando equipamentos mais sofisticados.
O físico Armand Fizeau, em 1849, fez a primeira medição não astronô-
mica da velocidade da luz. Em uma montanha montou um sistema de len-
tes arranjadas e uma fonte de luz. Sobre outra montanha, aproximadamente
8,63 km de distância, colocou espelhos para refletir a luz, de modo a ser vista
por um observador (figura 1). A roda dentada era girada e gradativamente a
velocidade de rotação era aumentada. A luz refletida passava entre os espaços
vazios da roda, e então se relacionava o tempo para a roda girar o ângulo entre
espaços vazios ao tempo para a luz fazer o percurso de ida e volta.
Figura 10.1 – Método utilizado pelo Armand Fizeau para a determinação
da velocidade da luz.

O método de Fizeau foi aperfeiçoado mais tarde por Jean Foucault. Os


vários métodos utilizados para se medir a luz, estão, de modo geral, todos de
acordo. A velocidade da luz é dada por

–  204  –
Luz e suas propriedades

c = 299792458m / s

Para efeito de cálculo, aproxima-se esse valor para 300000000m / s ou,


em notação científica, 3 ⋅ 108m / s . Para a luz de algumas estrelas chegar até
nós, levam-se anos, pois as distâncias são astronômicas. Essas distâncias entre
as estrelas são medidas pela unidade chamada de ano-luz, ou seja, é a distância
que a luz percorre em um ano.
A distância de um ano luz é aproximadamente 9,46 ⋅ 10 m .
15

Exemplo 10.2
Uma galáxia na constelação de Andrômeda está a uma distância de
2 ⋅ 1019 km da Terra. Qual é a distância em anos luz?
Solução
Fazendo uma relação entre as distâncias, tem-se que se um ano luz é igual
9,46 ⋅ 1015m , então 2 ⋅ 1019 km será
2 ⋅ 1019 km
≈ 2,11 ⋅ 103 anos − luz
9,46 ⋅ 10 m15

Exemplo 10.3
A distância média do sol até a Terra é de 1,5 ⋅ 1011m . Quanto tempo leva
para a luz chegar até a Terra?
Solução
∆x
v=
∆t
1,5 ⋅ 1011 m
3 ⋅ 108 m / s ≈
∆t
1,5 ⋅ 1011 m
∆t ≈
3 ⋅ 108 m / s
∆t ≈ 500 s
∆t ≈ 8,3min

–  205  –
Física II

10.3 Reflexão e refração da luz


Na propagação de uma onda, mecânica ou eletromagnética, em deter-
minado meio, ao se encontrar um obstáculo, podem ocorrer alguns fenôme-
nos: a onda pode ser refletida, refratada ou difratada. Assim a luz, sendo uma
onda eletromagnética, está sujeita a estes fenômenos.
22 Reflexão
Um raio de luz incidindo sobre uma superfície de separação entre
dois meios volta a se propagar no meio de origem.
22 Refração
Um raio de luz incidindo sobre uma superfície de separação
entre dois meios, passa de um meio para outro mudando a dire-
ção de propagação.
22 Difração
Um raio de luz que passa através de uma abertura tem interferência
das frentes de onda, aumentando ou diminuinda sua intensidade.

Figura 10.2 – Reflexão, refração e difração da luz

A velocidade da luz no vácuo é, aproximadamente, 3 ⋅ 108m / s . No


entanto, ao mudar o meio de propagação, sua velocidade se torna menor.
Um meio é caracterizado pelo índice de refração n, que pode ser interpretado
como a dificuldade da luz se mover nesse meio. O índice de refração n é
definido como
c
n = (159)
v

–  206  –
Luz e suas propriedades

que é a razão entre a velocidade da luz no vácuo e velocidade que a luz tem
no meio. Como a velocidade luz em qualquer outro meio não será maior que
a velocidade da luz no vácuo, o menor valor que se encontra para o índice de
refração é 1. Pode-se imaginar que quanto maior o índice de refração n, maior
é a dificuldade da luz em atravessar o objeto.

Um meio transparente é caracterizado pelo índice de


refração que é a razão entre a velocidade da luz no
vácuo pela velocidade que a luz tem no meio.

Para a água o índice de refração é 1,33, para o vidro varia de 1,5 até 1,66,
aproximadamente, dependendo do tipo de vidro. O índice de refração do
diamante é aproximadamente 2,4, o que é um valor muito alto. No ar, o valor
do índice de refração é 1,0003, assim, a luz quase não tem dificuldade de
atravessar o ar, e então assume-se que a velocidade da luz no ar tem o mesmo
valor que a velocidade da luz no vácuo.
Um feixe de luz atingindo a superfície plana da fronteira que separa dois
meios diferentes, tem parte de sua energia luminosa refletida e parte de sua
energia luminosa refratada, ou seja, entrando no segundo meio. O ângulo de
incidência θ1 do raio que está incidindo na interface, que separa dois meios,
é o ângulo entre o raio de luz e a reta normal à superfície, como mostrado na
figura 3. O ângulo de reflexão θ1' é o ângulo formado com o raio refletido e
a reta normal.
Figura 10.3 – Ângulo de incidência e ângulo de reflexão

–  207  –
Física II

O raio refletido permanece no plano de incidência e os ângulos θ1 e


θ são iguais. Então, o enunciado da lei da reflexão que diz que o ângulo
'
1
de incidência é igual ao ângulo de reflexão, ou seja, θ1 = θ1 . Essa lei é
'

valida para qualquer tipo de onda, tanto para onda mecânica quanto para
onda eletromagnética.

Numa superfície plana, o ângulo do raio incidente


é igual ao ângulo do raio refletido.

Quando o raio de luz entra na superfície é chamado de raio refratado e


sua direção é alterada. O ângulo θ 2 que o raio refratado faz com a normal é
chamado de ângulo de refração.

Figura 10.4 – Ângulo de incidência e ângulo de refração

O ângulo θ 2 é menor que o ângulo θ1 se a velocidade da luz no


segundo meio for menor que no meio de incidência. A relação entre os
ângulos é definida por
n1 senθ1 = n2 senθ 2 (160)

em que n1 é indicie de refração do meio do qual luz parte e n2 é o índice de


refração do meio aonde a luz irá chegar. O ângulo θ1 é o ângulo de incidência
da luz e θ 2 é o ângulo de refração da luz.

–  208  –
Luz e suas propriedades

A equação (160) é conhecida como lei de Snell, tendo sido descoberta


experimentalmente pelo cientista Willebrord Snell. Também foi descoberta,
independentemente, mais tarde, pelo filósofo René Descartes.
Exemplo 10.4
Um feixe de luz se deslocando no ar entra num vidro, cujo índice de
refração é 1,55. Se o ângulo de incidência é igual a 45º, em relação à
normal, determine o ângulo de refração.
Solução
Estando a luz no meio 1, ar, e propagando-se para o meio 2, vidro, e usando
o índice de refração para o ar igual a 1, pela equação (160) tem-se
n1 senθ1 = n2 senθ 2

1,55 ⋅ senθ 2
1 ⋅ sen 45º =
1 ⋅ sen 45º 0,707
senθ 2= ≈ ≈ 0,456
1,55 1,55
Fazendo o arco seno do valor obtido, encontramos um ângulo dado por
=θ 2 arcsen0,456 ≈ 27º

Exemplo 10.5
Uma gaivota, sobrevoando uma praia a 1 m da superfície, avista um peixe
em uma direção que faz um ângulo de 30º em relação à normal. Se o peixe
estiver a 50 cm de profundidade, qual dever ser o ângulo em relação à normal
que fornece a direção em que a gaivota deve mergulhar para pegar o peixe?
Solução
O esquematizando o problema, tem-se

–  209  –
Física II

A altura que a gaivota está da superfície é de 1m e a profundidade que o


peixe está é de 0,5m. O ângulo que a gaivota deve mergulhar, em relação à nor-
mal, é a diferença de 90º menos o ângulo alfa.

Usando a lei de Snell para encontrar o ângulo de refração, tem-se

n1 senθ1 = n2 senθ 2

0,5
=
1.sen30 ° 1,33 senθ 2 → sen=
θ2 → 0,376 → θ 2 ≈ 22°
1,33

Para encontrar o ângulo alfa, no triângulo que está em vermelho, devem-se


determinar as distâncias x e y do triângulo e aplicar tangente do ângulo alfa. A
distância x é determinada a partir do triângulo que é formado pela altura em
que está a gaivota e o ângulo de incidência. Aplicando a tangente deste ângulo
segue que

x
tan30º = → x = 0,577m
1

A distância y é determinada a partir do triângulo que é formado pela pro-


fundidade em que está peixe e o ângulo de refração, aplicando a tangente do
ângulo.

y
tan22º = → y = 0,202m
0,5

Aplicando a tangente para o triângulo que está em vermelho, segue que

1 + 0,5
tan α
= → α ≈ 63º
0,202 + 0,577

O ângulo com o qual a gaivota deve mergulhar, em relação à normal, será


então

ângulo de mergulho = 90º −63º ≈ 27º

–  210  –
Luz e suas propriedades

10.4 Reflexão interna total


Imaginemos que um raio de luz se propaga dentro de um vidro atin-
gindo a interface vidro-ar, por exemplo, em diferentes ângulos. Assim, todos
os raios podem sofrer os fenômenos de refração e reflexão.
Figura 10.5 – Raio de luz dentro do vidro incidindo na interface vidro-ar

Conforme indicado na figura 5, à medida que o ângulo de incidência


aumenta, o ângulo de refração se afasta da normal ao plano. Então, chega um
momento em que o ângulo de incidência será tal que o ângulo de refração
será 90º. Esse ângulo de incidência é dito como ângulo crítico, e todos os
raios de luz não serão refratados, com toda a energia sendo refletida e perma-
necendo dentro do vidro. Esse fenômeno é chamado de reflexão interna total.
Figura 10.6 – Ângulo crítico para a reflexão interna total

–  211  –
Física II

O ângulo crítico pode ser determinado em termos dos índices de refra-


ção. Aplicando a lei de Snell, tem-se
n1 senθ1 = n2 senθ 2

n1 senθC = n2 sen90º

n2 sen90º
senθC =
n1

n2
senθC = (161)
n1

De acordo com a equação (161), n2 não pode ser maior que n1, pois não
existe valor real para o ângulo cujo seno é maior que 1.

A reflexão interna total ocorre apenas se a luz está


no meio com maior índice de refração: n1 > n2.

Exemplo 10.6
A luz se propaga num vidro que tem índice de refração n = 1,6. Deter-
mine o ângulo crítico para a reflexão interna total para a luz deixando o
vidro e indo para o ar.

Solução
Considerando o índice de refração do ar igual a 1, aplica-se a equação
(161), ficando
n2
senθC =
n1

θC ≈ 38,7º

–  212  –
Luz e suas propriedades

Exemplo 10.7
A luz se propaga na água e tem índice de refração n = 1,33. Determine
o ângulo crítico para a reflexão interna total para a luz deixando a água
e indo para o ar.

Solução
Considerando o índice de refração do ar igual a 1, aplica-se a equação
(161), ficando
n2
senθC =
n1

θC ≈ 48,8º
Uma aplicação para a reflexão interna total é a fibra ótica. Um feixe
de luz é transmitido através de uma longa e fina fibra de vidro. Quando o
feixe é transmitido, inicialmente, paralelo ao eixo da fibra, ele ira incidir
nas paredes da fibra com ângulos maiores que o ângulo crítico, e não se
perde energia luminosa para o meio externo. Arruma-se um conjunto de
fibras óticas que pode ser usado para transportar imagens. Em um sistema
de transmissão, por exemplo, usando a luz de frequência da ordem de
1014 Hz, podem-se transmitir informações em uma taxa mais elevada do
que em um sistema de ondas de rádio, que possui frequência da ordem
de 106 Hz.

10.5 Polarização
A luz natural emitida por uma lâmpada incandescente ou pelo sol é um
tipo de luz não polarizada. Este tipo de luz é formado por ondas eletromagné-
ticas que vibram em infinitos planos perpendiculares à direção da propagação
do feixe luminoso, ou seja, os vetores campo elétrico e campo magnético
estão se propagando em varias direções diferentes no espaço. Na figura 10.7
está representado um raio de luz, com os vetores campos elétricos, se propa-
gando na direção x. Um observador que esteja ao longo do eixo x enxerga os
vetores campo elétrico em todas as direções.

–  213  –
Física II

Figura 10.7 – Vetores campo elétrico propagando-se na direção x

Polarizar a luz significa alinhar todos os vetores campo elétrico no


mesmo plano. Nesse caso, a onda é chamada então de polarização plana ou
linearmente polarizada.
Figura 10.8 – Vetores campo elétrico alinhados

Há quatro fenômenos que produzem ondas eletromagnéticas polariza-


das: absorção, reflexão, espalhamento e birrefringência. Nessa seção, serão
discutidos polarização por absorção e polarização por reflexão.

10.5.1 Polarização por absorção


Existem alguns cristais que, quando cortados na forma adequada, absor-
vem e transmitem a luz de maneira diferente. A película polarizadora, conhe-
cida por Polaroid, foi inventada por E.H. Land no ano de 1938. As moléculas
dessa película são alinhadas quando a película é esticada em uma determinada
direção. Ao mergulhar em uma solução de iodo, essas cadeias se tornam con-

–  214  –
Luz e suas propriedades

dutoras em frequência ótica, e a luz ao incidir na película, gera uma corrente


elétrica ao longo das cadeias, com energia luminosa absorvida. Se o campo
elétrico é perpendicular às cadeias, a luz é transmitida.
Um feixe de luz não polarizada incide sobre uma película polarizadora
com o eixo de transmissão na direção x. Uma parte da intensidade da luz é
transmitida para a segunda película, chamada de analisadora, que forma um
ângulo θ com o eixo x.
Figura 10.9 – Luz não polarizada incidindo sobre duas películas
polarizadoras

A intensidade de luz que é transmitida pela película é dada pela lei de


Malus, sendo definida por
I = I 0 cos 2 θ (162)
em que I 0 é a intensidade da luz incidente.
Em cada ponto da película, o ângulo entre o vetor campo elétrico e o
eixo de transmissão é, em média, de 45º. Assim, pela lei de Malus, fica
1
= 0 cos θ
I I= =
2 2
I 0 cos 45º I0
2

–  215  –
Física II

ou seja, após passar pela primeira película, a intensidade cai na metade.


Quando as duas películas, polarizadora e analisadora, estão cruzadas (seus
eixos são perpendiculares) não sai luz através delas.
Exemplo 10.8
Considere que um feixe de luz não polarizado com intensidade de 6 W/
m2 incide sobre duas películas polarizadoras que tem eixos de transmis-
são formando um ângulo de 30º. Determine a intensidade de luz que
atravessa a segunda película.
Solução
Quando a luz incidente atravessa a primeira película, a intensidade se reduz
na metade
1
I 1 = 6 W / m 2 = 3W / m 2
2
Quando a luz incide na segunda película, aplica-se a lei de Malus
I 2 = I 1 cos 2θ = 3W / m 2 cos 2 30º = 3W / m 2 ⋅ 0,75 = 2,25W / m 2

Exemplo 10.9
Considerando três películas superpostas que tem eixos de transmissão
formando ângulo θ entre si, como mostra a figura.

–  216  –
Luz e suas propriedades

Determine o ângulo θ para a intensidade que sai da última película seja


¼ da intensidade incidente.

Solução
A luz, ao passar pela primeira película, tem sua intensidade reduzida na
metade, ficando
I0
I1 =
2

Ao passar pela segunda película, aplica-se a lei de Malus, para o ângulo θ ,  

ficando
I0
I2 = cos 2 θ
2

Ao passar pela terceira película, aplica-se novamente a lei de Malus, obtendo-


-se
I0
I3 = cos 4 θ
2

A intensidade final tem que ser ¼ da intensidade inicial, então fazendo


1
I3 = I0
4 , fica

1 I
I 0 = 0 cos 4 θ
4 2

Isolando cosseno de teta

1
θ 4 ≈ 0,84
cos=
2

Fazendo arco cosseno de 0,84


θ ≈ 32,8º

–  217  –
Física II

10.5.2 Polarização por reflexão


Outro processo para polarizar a luz é por meio de reflexão. Quando a
luz não polarizada incide numa superfície plana, na fronteira entre dois meios
transparentes, a luz que é refletida fica parcialmente polarizada, e o grau de
polarização depende do ângulo de incidência.

No ângulo polarizante, o raio refletido e o raio


refratado formam um ângulo de 90º entre si.

Há certo ângulo de incidência, chamado de ângulo polarizante, para o


qual a luz refletida fica totalmente polarizada. Neste ângulo, os raios refletidos
e refratados são perpendiculares entre si, como representado na figura 10.
Essa descoberta se deu em 1812, pelo cientista David Brewster. O ângulo
polarizante também é chamado de ângulo de Brewster.
Figura 10.10 – Raio refletido totalmente polarizado.

O vetor campo elétrico da luz pode ser decomposta nas componentes para-
lela e perpendicular ao plano de incidência. Na figura 10, a luz refletida está
totalmente polarizada, enquanto o raio refratado está parcialmente polarizado.
Considerando n1 o índice de refração no primeiro meio e n2 o índice de refração
do meio 2, a lei de Snell fornece, para o ângulo polarizante, n1 senθ P = n2 senθ 2 .

–  218  –
Luz e suas propriedades

Uma vez que o ângulo é o ângulo polarizante, a soma do ângulo de refle-


xão com o ângulo de refração dever ser 90º (verificação, a partir da figura, a
cargo do leitor), ou seja, θ=
2 90º −θ P . Substituindo na lei de Snell, obtém-se
n1 senθ P = n2 cosθ P

o que resulta em
n2
tgθ P = (163)
n1

Quando a luz incidente, com o ângulo polarizante, já está polarizada


com o campo elétrico no plano de incidência, não há luz refletida.

Exemplo 10.10
Uma luz não polarizada incide sobre um reservatório de água. Deter-
mine o ângulo de incidência para que a luz refletida seja totalmente
polarizada.

Solução
Sendo o meio 1 o ar, com n = 1, e o meio 2 a água, com índice de refra-
ção n=1,33, aplica-se a equação (163), obtendo-se
n2 1,33
tgθ=
P = = 1,33
n1 1

Fazendo arco tangente, fica


=θ P arctg1,33 ≈ 53º

Devido à polarização da luz refletida, alguns óculos de sol contêm pelí-


culas polarizadoras para diminuir a incidência de luz refletida, como em uma
praia, por exemplo. Também os fotógrafos podem se utilizar deste fenômeno
para fotografar objetos embaixo da água. A luz do sol, quando refletida no
ângulo polarizanter, é polarizada paralelamente à água, e utilizando uma
película polarizadora e na lente da câmera, arruma-se o ângulo até torná-lo
perpendicular a luz que reflete na água, eliminando a luz do sol que incide
na câmera.

–  219  –
Física II

10.6 Interferência e difração


Os fenômenos de interferência e difração explicam o comportamento
ondulatório da luz. A interferência é o fenômeno que ocorre no encontro de
duas ondas que se propagam no mesmo meio. Assim, as ondas se superpõem
naquele ponto, e suas amplitudes é a soma algébrica das amplitudes de cada
onda. Já a difração é a capacidade que a onda possui de contornar obstácu-
los, ou seja, é a passagem onda através de cantos ou aberturas presentes em
uma barreira.

10.6.1 Interferência em duas fendas


Para se observar a interferência de duas ondas coerentes, Thomas Young
utilizou, em seu experimento, duas fendas que atuam como fontes de luz
coerentes. As ondas se sobrepõem após as fendas, produzindo um padrão de
interferência sobre uma tela.

Figura 10.11 – Padrão de interferência a partir de duas fendas

Assim relacionam-se os máximos de interferência em ângulos θ dados por


d ⋅ senθm =
m ⋅ λ ,m =
0,1,2...
(164)
em que m é chamado de número de ordem, d é a distância entre as fen-
das e λ é o comprimento de onda. Para cada valor de m, encontra-se um
ângulo θ que está relacionado com a marcação na tela a partir de um
ponto central.

–  220  –
Luz e suas propriedades

Para pequenos ângulos as alturas das marcas na tela, a partir de um


ponto central, são igualmente espaçadas, e são dadas pela equação
ëL
ym = m (165)
d
em que L é a distância das fendas até a tela.
Exemplo 10.11
Duas fendas estão separadas por uma distância de 2 cm e são iluminadas
por uma luz de comprimento de onda igual a 600 nm. Se a tela está
afastada 4 m de distância, qual é o espaçamento entre as marcas obser-
vadas na tela?
Solução
Aplicando a equação (165), com m = 0,1,2,3,..., determina-se todos os pon-
tos em que a luz com maior intensidade acerta a tela, assim, tem-se
Para m=0
600 ⋅ 10−9m ⋅ 4m
y0 = 0 ⋅ =0
2 ⋅ 10−2m
Para m=1
600 ⋅ 10−9m ⋅ 4m
y1 = 1 ⋅ −2
= 1,2 ⋅ 10−4m
2 ⋅ 10 m
Para m=2
600 ⋅ 10−9m ⋅ 4m
y2 = 2 ⋅ −2
= 2 ⋅ 1,2 ⋅ 10−4m = 2,4 ⋅ 10−4m
2 ⋅ 10 m
Para m=3
600 ⋅ 10−9m ⋅ 4m
y3 = 3 ⋅ = 3 ⋅ 1,2 ⋅ 10−4m = 3,6 ⋅ 10−4m
2 ⋅ 10−2m
Logo, pode-se observar que cada marca na tela está afastada uma distância
igual a 1,2 ⋅ 10−4m .

–  221  –
Física II

10.6.2 Difração em uma fenda


Considerando uma única fenda estreita, a intensidade em qualquer
ponto da tela pode ser considerada constante, independente do ângulo θ
entre o raio até o ponto da tela e a linha normal entre a fenda e a tela.
Quando a fenda não é estreita, a intensidade sobre a tela diminui con-
forme o ângulo θ aumenta. A intensidade é máxima na direção frontal e
diminui para zero em ângulos que depende da largura da fenda e do compri-
mento de onda.

Figura 10.12 – Padrão de difração a partir de uma fenda

As primeiras regiões de intensidade nula, ou seja, onde não há marcação


na tela, ocorrem em ângulos dados por
λλ
senθ1 = (166)
a

Se a largura da fenda a for aumentada, o ângulo, para o primeiro zero,


diminui, fornecendo um máximo de difração central mais estreito. Se a lar-
gura da fenda aumenta, o ângulo para o primeiro zero aumenta, fornecendo
um máximo de difração central mais largo.
A expressão geral para os pontos de intensidade zero no padrão de
λ
difração de uma única fenda é senθm= m ⋅ com =1,2,3... Então, por essa
a

–  222  –
Luz e suas propriedades

expressão, ocorrerão mais pontos onde a intensidade será zero, porém, o que
interessa é a primeira ocorrência, pois quase toda a energia luminosa estará
contida no máximo de difração central.
A distância y1 entre o máximo central e o primeiro mínimo de difração
y
está relacionada ao ângulo θ1 e à distância L por tgθ1 = 1 .
L
Exemplo 10.12
Um feixe de luz, com comprimento de 600 nm, passa através de uma
fenda de 0,4 cm de largura. Determine a largura do máximo central, se
a tela está afastada uma distância de 5 m da fenda.

Solução
Com “largura” do máximo central devemos entender a distância entre o
primeiro mínimo e esquerda eu primeiro à sua direita. Assim, devemos cal-
cular:
λ 600 ⋅ 10−9 m
senθ1 = = −2
= 1,5 ⋅ 10−4 → θ1 ≈ 0,0085°
a 0,4 ⋅ 10 m

Logo,
5m.tg 0,0085° ≈ 7,4 ⋅ 10−4 m

Assim, a largura total do máximo de difração é, aproximadamente,


2.7,4 ⋅ 10−4m = 1,48 ⋅ 10−3m

10.6.3 Interferência e difração de duas fendas


Em duas fendas existe uma combinação do padrão de difração de uma
única fenda e do padrão de interferência de duas ou mais fendas, formando
um padrão de intensidade em uma tela afastada. Assim, em fendas estreitas, o
padrão é o mesmo padrão de duas fendas modulado pelo padrão de difração
de uma fenda, ou seja, a intensidade devida a cada fenda não é constante e
diminui com o ângulo.

–  223  –
Física II

Figura 10.13 – Padrão de interferência e difração de duas fendas

Pode-se observar pela figura 10.13, que o máximo central é formado por
certa quantidade N de franjas claras. Em cada lado do máximo central, o total
de N franjas é dado por
N = 2m − 1 (167)
em que m = d / a , com d sendo a separação entre as fendas e a a largura das
fendas. Nesse fenômeno, o m-ésimo máximo de interferência coincide com o
primeiro mínimo de difração.

Exemplo 10.12
Uma luz ilumina duas fendas, com larguras de a = 0,02mm cada uma,
separadas por uma distância d = 0,4mm . Determinar a quantidade de
franjas claras que são detectadas no máximo de difração central.

Solução
Determinando o valor de m quando o m-ésimo máximo de interferência
coincide com o primeiro mínimo de difração
d 0,4mm
m= = = 20
a 0,02mm

Usando a equação (167), fica


N = 2m − 1

–  224  –
Luz e suas propriedades

N = 2 ⋅ 20 − 1

N = 39

Observa-se 39 franjas claras na tela.

Síntese
Maxwell propôs a ideia de que a luz é uma
onda eletromagnética. Mais tarde, experiên-
cias comprovaram a ideia de Maxwell
Com o efeito fotoelétrico, no qual uma partí-
cula, chamada de fóton, possui energia, Albert
Einstein propôs a natureza da luz como par-
Dualidade h ⋅c
E =h ⋅ f = tícula
da luz λ
Nos dias atuais, sabe-se que a luz tem sua pro-
pagação governada pelas propriedades ondu-
latórias, e a troca de energia entre a luz e a
matéria e tem propriedades próprias de par-
tículas
Equação de Einstein

Galileu tentou medir o tempo de ida e volta da


luz ao se deslocar de um topo ao outro de uma
montanha e assim determinar a velocidade da
luz

c = 299792458m / s Outros cientistas, na tentativa de determinar a


Velocidade velocidade da luz, utilizaram o método de Gali-
da luz 9,46 ⋅ 1015m lei, contudo, utilizando-se equipamentos mais
sofisticados
A velocidade da luz
Um ano luz: distância que a luz percorre em
um ano

–  225  –
Física II

Na reflexão um raio de luz incidindo sobre uma


superfície de separação entre dois meios, volta
a se propagar no meio de origem
Na refração um raio de luz incidindo sobre
uma superfície de separação entre dois meios,
passa de um meio para outro mudando a dire-
ção de propagação
c
Reflexão n=
v Um raio de luz que passa através de uma aber-
e refração
tura, tem interferência das frentes de onda,
da luz n1 senθ1 = n2 senθ 2 aumentando ou diminuindo sua intensidade
Índice de refração: caracteriza um meio
transparente sendo a razão entre a velocidade
da luz no vácuo pela velocidade que a luz tem
no meio
Lei de Snell: relação entre os ângulos de inci-
dência e de refração

A reflexão interna total ocorre apenas se a luz


Reflexão n está no meio com maior índice de refração: n1
senθC = 2
interna total n1 > n2
Ângulo crítico para a reflexão interna total

É alinhamento de todos os vetores campo elé-


trico no mesmo plano, a onda é chamada então
de polarização plana ou linearmente polari-
I = I 0 cos 2 θ zada
Polarização por absorção: a intensidade de
Polarização n
tgθ P = 2 luz que é transmitida pela película é dada pela
n1 lei de Malus
Polarização por reflexão: no ângulo polari-
zante, o raio refletido e o raio refratado for-
mam um ângulo de 90º entre si

–  226  –
Luz e suas propriedades

Interferência em duas fendas: relacionam-se


os máximos de interferência em ângulos θ
d ⋅ senθm =
m⋅λ Alturas das marcas na tela, a partir de um
λL ponto central
ym = m
d Difração em uma fenda: intensidade zero no
padrão de difração
Interferência λ
senθm= m ⋅ Distância y1, a partir do máximo central ao
e difração a
primeiro mínimo de difração central
y1
tgθ1 = Interferência e difração de duas fendas: é a
L combinação do padrão de difração de uma
N = 2m − 1 única fenda e do padrão de interferência de
duas ou mais fendas
Quantidade N de franjas claras

–  227  –
Conclusão
Física II

As teorias e as leis da física ajudam a explicar muitos dos fenomenos


naturais, e como entender o funcionamento de máquinas e equipamentos
eletrônicos que usamos diariamente. Os conhecimentos adquiridos podem
capacitá-lo a fazer escolhas e a tomar melhores decisões.
Foram abordados os conceitos de eletricidade e magnetismo, come-
çando com as cargas elementares, o próton e o elétron, discutindo sobre as
forças de atração ou de repulsão que eles causam, e evoluindo os conceitos
gradativamente. Vimos e analizamos a teoria das ondas eletromagnéticas, que
foram previstas pela primeira vez por Maxwell e observadas por Heinrich
Hertz. Definimos a luz como uma parte do espectro eletromagnético, sendo
ondas eletromagnéticas. Analisamos as variações do campo magnético, que
tende a produzir uma variação de campo elétrico, e dispositivos utilizados em
aparelhos eletrônicos, como geradores e resistores.
Pode-se perceber que o estudo sobre eletricidade e magnetismo assumiu
uma enorme dimensão com o passar dos anos. É praticamente impossível
imaginar nossas vidas, no cotidiano, sem eletricidade. Os aparelhos eletrôni-
cos e os que dependem de eletricidade facilitam nossas vidas diárias, a exem-
plo de lâmpadas, computadores, aparelhos de televisão e geladeiras.
Como foi mencionado no primeiro capítulo desse livro, as teorias evo-
luem, e novas ideias aparecem a todo o momento. Espero que esta obra ajude
de modo significativo os alunos a perceberem e aplicarem de forma correta,
sempre que exigidos, os assuntos aqui abordados.

–  230  –
Referências
Física II

HALLIDAY, D. Fundamentos de física: eletromagnetismo. 4. ed. Rio de


Janeiro: LTC, 1996.
______. Fundamentos de física: eletromagnetismo. 7. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2006.
TIPLER, P. A. Física para cientistas e engenheiros: eletricidade e magne-
tismo, ótica. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000, v. 2.
______. Física para cientistas e engenheiros: eletricidade e magnetismo,
ótica. 5. ed. São Paulo: LTC, 2006, v. 2.

–  232  –
Na história da ciência, explicar os fenômenos que nos cercam levou significa-
tivos períodos de tempo. Foi uma evolução lenta, que demorou muito tempo,
até chegar no conhecimento que temos hoje. O conhecimento físico deve
ser percebido como uma construção. Também deve ser percebido como
uma criação do intelecto do homem, e assim, submetido a uma avaliação de
natureza ética.
A física utiliza-se de uma linguagem própria para traduzir seus conceitos e
estabelecer relações entre grandezas. Um conjunto de palavras e expressões
que não são utilizados com frequência no cotidiano, aparecem nas aborda-
gens para explicar os fenômenos que serão estudados. Os termos massa e
peso, por exemplo, parecem ter o mesmo significado, porém na física, são
dois conceitos totalmente diferentes, assim como temperatura e calor.
Neste livro são abordados conceitos de eletricidade e magnetismo, mostran-
do que a descoberta da eletricidade, e o fato dela estar associada a outra das
forças mais fundamentais da natureza, o magnetismo, fez com que a humani-
dade desse um salto gigantesco. Essa descoberta nos possibilita gerar uma
quantidade aparentemente ilimitada de energia elétrica, que podemos usar
para impulsionar máquinas, nos comunicarmos através dos continentes e
iluminar nossas casas.
Com uma abordagem didática, em que após a cada teoria, há aplicações
com exemplos resolvidos, o estudante, através dos passos envolvidos na
análise do problema, suas soluções e verificação de resultados, consegue
aprimorar o entendimento do assunto.

ISBN 978-85-60531-62-2

9 788560 531622

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