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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Instituto de Letras
Departamento de Letras Clássicas e Orientais (LECO)

Lucas Miguel Ferreira Martins

(Trabalho – Cultura Clássica)

Rio de Janeiro
2022
Ainda hoje, é importante saber quem foi Platão, pois sua
influência filosófica ainda está presente na cultura ocidental.
Suas ideias e o legado da vida de Sócrates influenciaram
nomes como Agostinho de Hipona. Sua interpretação da
caverna continua e ainda é relevante. É um dos filósofos mais
famosos e estudados, principalmente por sua dedicação em
publicar os diálogos de seu professor Sócrates. Mas mais do
que isso, ele foi responsável por imortalizar as famosas
palavras de outros filósofos gregos antigos, incluindo
Parmênides, Heráclito e Pitágoras. Muitos dos escritos desses
filósofos foram perdidos, e Platão contribuiu para o que eles
ensinaram. As obras de Platão trataram principalmente sobre
a imortalidade da alma, o mundo metafísico, a busca da
excelência humana e a essência da realidade. Em uma de
suas obras mais famosas ”A República”, está presente no
Livro VII, O Mito da Caverna, o qual discorreremos ao longo
deste trabalho.
O Mito da Caverna ou Alegoria da caverna é um diálogo de
Platão que faz referência ao conhecimento de uma forma
geral, é uma história metafórica narrada por Platão que
trabalha o diálogo entre Glauco e Sócrates, em que este narra
uma história a Glauco para falar sobre o conhecimento
humano. Sócrates diz a Glauco para imaginar uma espécie
de caverna subterrânea onde as pessoas viviam como
prisioneiras para sempre. Nesta caverna, há uma parede onde
os prisioneiros foram amarrados à mão para que só
pudessem ver o que acontecia na parede paralela.
Atrás dos prisioneiros há uma chama ardente através da qual
as pessoas caminham, gesticulam e movem objetos para
projetar suas sombras na parede para os prisioneiros verem.
Eles também falam e gritam, criando um eco que os
prisioneiros podem ouvir. Sombras e ecos são reflexos
distorcidos de imagens e sons reais. Tendo vivido ali toda a
vida acorrentado, os prisioneiros conhecem o mundo apenas
o que vivenciaram.
Após um dos prisioneiros ser forçado a sair das correntes
para poder explorar o interior da caverna e o mundo externo.
Ele Entraria em contato com a realidade iria acabar
percebendo que toda sua a vida foi um mero reflexo de
imagens projetadas por estátuas. Ao sair da caverna e
vislumbrar o mundo real ficaria encantado com a realidade, a
natureza, os animais e etc. Voltar para a caverna para contar
a verdade e repassar o conhecimento obtido no mundo “real”
para seus colegas ainda presos. Porém, seria ridicularizado
ao contar tudo o que viu e sentiu, pois seus colegas só
conseguem acreditar na realidade que enxergam na parede
iluminada da caverna. Os prisioneiros vão o chamar de louco,
ameaçando-o de morte caso não pare de falar daquelas ideias
consideradas absurdas e talvez esse seja o grande diferencial
entre o Mito e a obra de Jordan Peele.
O Mito funciona como uma Metáfora, ou uma Alegoria, onde
Platão, no diálogo, tenta representar de alguma forma a
sociedade, logo, não deve ser interpretado literalmente, assim
como no filme “Nós”, ou “Us” no título original. A obra
cinematográfica trabalha a partir da vida de uma família que
viaja para a antiga casa de praia dos avós em Santa Cruz,
Califórnia. A diversão acaba interrompida quando eles são
atacados durante a noite por um grupo de clones do mal
empunhando tesouras douradas e vestindo roupas vermelhas.
Até agora, o filme apenas toca em alguns de seus principais
temas aqui e ali, mas eles entram em foco durante o ato final.
Quando apenas a Red, que funciona como um membro de
liderança entre os clones e essa é clone de Adelaide,
interpretada por Lupita Nyong’o, é a única que resta das
duplicatas da família, a protagonista deve retornar ao lugar de
infância onde tudo começou em 1986. A família de Adelaide
vai a um parque de diversões local, a garotinha (Adelaide) vai
até uma casa de espelhos e é atacada por seu próprio reflexo.
Mais tarde é revelado ao espectador que neste momento a
“reflexão” tomou o lugar de Adelaide no mundo real,
efetivamente roubando sua vida e fazendo com que a
pobrezinha – muda depois de ser estrangulada – fique presa
junto com os Reds nos túneis, tornando-se a versão sombria
dela.
Esse mundo duplicado é populado por cópias idênticas de
cada pessoa dos Estados Unidos, chamadas de Tethered –
ou os Atrelados. Eles moravam em grandes túneis e lugares
que foram abandonados pelos humanos. É interessante
perceber que pela falta de conhecimento de mundo os clones
não são capazes de sair de sua realidade, como se houvesse
um bloqueio, assim como no Mito de Platão, foi preciso que
por uma obra do destino, ou divino que um ser escolhido
conseguisse sair daquela realidade imagética e conhecesse
de fato o mundo real.
Quando a versão clone da Adelaide assume a vida no mundo
real ela passa por uma série de dificuldades, tendo que
aprender por si só como é a vida. De fato, ela passa por
injustiças e até represálias, mas mesmo assim consegue
constituir uma família, e mesmo com todo o sofrimento
passado, ela sabe que a vida no mundo “superior” é melhor
que uma vida inteira sem o conhecimento do que é real.
Diferentemente do prisioneiro na obra de Platão, a clone de
Adelaide não volta e nem sequer tem a pretensão da voltar
para avisar aos outros, o que acontece é quase o oposto, há
uma tentativa de retomada de poder por parte da verdadeira
Adelaide que ficara presa durante anos com os clones. Só ela
sabe a verdade, só ela tem o conhecimento de mundo e a
vivência para guiar os outro clones para um tipo de rebelião e
é isso que acontece.
Ao longo de ambas as obras aparecem inúmeros elementos
metafóricos, e podemos correlacionar alguns deles como: os
prisioneiros da caverna que é uma metáfora sobre nós
mesmos, os cidadãos comuns, no filme estes são os clones,
forçados a viverem em constante cegueira. Caverna, que
segundo Platão, seria fonte de engano e dúvida, pois ele nos
ilude na forma como apreendemos as aparências das coisas,
nos fazendo acreditar que essas são as próprias coisas. No
caso da obra de Peele são os extensos túneis e lugares que
foram abandonados pelos humanos. E o próprio “sair da
caverna” que em ambas as obras representam a libertação do
prisioneiro e a sua fuga da caverna simboliza a busca pelo
conhecimento verdadeiro.
Podemos transpor o Mito de Platão para uma interpretação
sociológica da humanidade do século XXI. No qual a
humanidade parece ter se acostumado com a falta de
conhecimento de um modo, que há uma recusa geral por uma
busca da verdade. E quando isso acontece, a própria
realidade parece querer te reprimir, como no filme de Peele,
quando a verdadeira protagonista tenta retomar seu lugar.
Hoje, as pessoas têm uma infinidade de informações por meio
da mídia televisiva, da internet e das redes sociais, mas
insiste em permanecer apenas nesse nível meramente
informativo, não buscando conhecer profundamente o mundo
que habitam.
Com essa análise das duas obras, é observado que Jordan
Peele, um cineasta que por muitos já é considerado um dos
maiores de todos os tempos, utilizou na obra abordada (“Nós”
ou “Us”) bastante da passagens e ideias já abordadas por
Platão em sua República, mostrando que o Mito, ainda hoje,
se faz presente em nossa sociedade.
Referências bibliográficas.
 Porfírio, Francisco Mito da Caverna. Mundo
Educação, publicado em:
https://www.google.com/amp/s/mundoeducaca
o.uol.com.br/amp/filosofia/mito-caverna.htm
 Eloi, Arthur, Nós | Entenda os significados por
trás do terror de Jordan Peele. Omelete, 2020.
Disponível em:
https://www.omelete.com.br/terror/nos-
entenda-os-significados-por-tras-do-terror-de-
jordan-peele?
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