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Cumprir a missão e transformar o destino | Rede da Felicidade • BS • Ed.

2623 • 24/11/2022 • ()

BS

REDE DA FELICIDADE

Cumprir a missão e transformar o destino


Incentivos extraídos do romance Nova Revolução Humana

Era a primeira visita de Shin’ichi [Yamamoto, pseudônimo do presiden­te Ikeda no


romance] a Matsue. Ao encontrar-se com Gensuke Hamada, responsável do novo
distrito, que foi recepcioná-lo na estação, Shin’ichi cumprimentou-o com satisfação:

— Enfim, cheguei a Matsue! Finalmente chegou a hora de uma nova partida!

— Sim, muito obrigado — respondeu Hamada. Apesar de seu corpo robusto, estava
visivelmente tenso.

A residência de Hamada ficava em frente à estação. No térreo do sobrado ele dirigia


uma oficina mecânica de automóveis. Depois de concluir o ensino fundamental,
Hamada começou a trabalhar. Após árduos esforços, conseguiu estabelecer sua
própria empresa chegando a empregar cerca de trinta funcionários. Foi uma das
pessoas bem-sucedidas em sua cidade no período pós-guerra. Contudo, quando
seus negócios já tomavam um bom rumo, ele começou a cair na boemia. Hamada
saía todas as noites dizendo que tinha “compromissos de negócios” e
frequentemen­te pernoitava fora de casa. A desconfiança de sua esposa, Yukiko, foi
imediata e a crise no relacionamento do casal se agravava a cada dia. Ao anoitecer,
os dois sempre acabavam discutindo terrivelmente. Apesar de essa situação não
afetar os ne­gócios, a discórdia e a desarmonia na vida familiar tornavam‑se cada
vez mais sérias e intensas. A angústia de Yukiko causava‑lhe palpitações e
dificuldade respiratória toda vez que se aproximava o anoitecer. Era como se tivesse
alguma coisa entalada na garganta, o corpo se enrijecia e seu rosto ficava
acinzentado. No início, Hamada ficou assustado e preocupado com o estado de sua
esposa. Mas, com o passar do tempo, habituou-se a ponto de acusá-la de
fingimento. Quando Yukiko procurou um médico, foi constatada neurose.

Nessa época ela ouviu a respei­to do budismo por uma amiga. Converteu-se
imediatamente movi­da pelo desespero de resolver o seu problema. Isso foi em
março de 1957. Seguindo as orientações da amiga, Yukiko dedicou-se intensamente
em apresentar o budismo a outras pessoas. Ela se empenhou com toda a seriedade
e assim adquiriu esperança de transformar sua vida. As pessoas começaram a
observá-la com curiosidade e comentavam maldosamente pelas costas: “Será que
ela pensa que conseguirá se curar com a sua religião?”. Entretanto, a cada dia que
passava, ela parecia estar mais disposta e animada. Vendo essa transformação,
Hamada converteu-se sob a recomendação dela. Suas três filhas e alguns
funcionários começaram também a se interessar pela prática do budismo. Yukiko
pensou: “Agora que o meu marido começou a praticar, irá voltar para mim com toda
a certeza. Não há mais com o que me preocupar!”

Apesar de Hamada ter se convertido, não fazia o gongyo nem participava das
atividades, e suas saídas noturnas continuavam. A esperança acalentada por Yukiko
foi passageira e ela caiu novamente em desespero. Em julho, quatro meses depois
da conversão, Yukiko começou a falar coisas sem sentido: “Estou tão preocupada
com o meu marido que meus ombros estão rijos e os nervos do pescoço se
romperam. Só me resta morrer”. Por outro lado, quando se sentia bem-disposta,
empenhava-se na recitação do daimoku, dizendo: “Eu só conseguirei transformar o
meu carma com a prática da fé!”. Porém, quando era dominada pela ansiedade
sentia pena de si mesma e, tomada por uma profunda depressão, passava dias se
condenando e pensando somente em morrer. (...)

[Num certo dia de agosto, Yukiko tentou se suicidar. Felizmente, sua família descobriu
a tempo e ela escapou da morte. Em setembro, ele tentou pela segunda vez, mas
falhou novamente. No mês seguinte, ela se escondeu debaixo do vão do assoalho e
tentou morrer de inanição.]

Quando foi encontrada, horas depois, já não falava com coerência e seu olhar era
estranho. Na manhã seguinte, a família internou Yukiko em um hospital, pois os
médicos diagnosticaram esquizofrenia. Apesar do tratamento, ela era tomada por
alucinações e falava coisas incom­preensíveis. Mesmo assim recitava daimoku com
a determinação de superar o seu sofrimento.

Com o transcorrer de dez dias ela começou a recobrar a lucidez e a saúde. O


tratamento foi tão eficaz que surpreendeu os próprios médicos. Yukiko pôde deixar
o hospital após cem dias de internação. Tendo acompanhado a recuperação de sua
esposa, Hamada despertou sinceramente para a prática da fé. Ele deixou de passar
a noite fora de casa e se empenhou na realização do gongyo com sua família. O lar
se tornou radiante e caloroso e Yukiko se restabeleceu por completo.

Os vizinhos, perplexos com essa transformação, comentavam:


— Hamada deixou totalmente as farras e sua esposa também conseguiu transpor a
sua doença. Eles brigavam tanto, mas agora parecem que estão se dando muito
bem. Será que foi graças à religião?

Hamada passou a acompanhar sua esposa nas atividades, participando inclusive


das visitas para apresentar o budismo a seus amigos. Vendo os benefícios
recebidos pelo casal, as pessoas, por meio dos seus incentivos, foram se
convertendo uma após outra.

Ele passou a oferecer a casa para reunião e participava de todas as atividades junto
com sua esposa.

A primeira vez que Shin’ichi encontrou-se com Hamada foi em fevereiro de 1960,
quando este já exercia o cargo de responsável da Comunidade Matsue. (...) Apesar
de ser o líder da comunidade, Hamada fazia as atividades da organização a pedido
da esposa, que era a responsável pela Divisão Feminina da comunidade, e não por
iniciativa própria. Além disso, ele não se sentia à vontade em ser o líder dos
membros da comunidade e não ter escolaridade e ainda com um passado
vergonhoso.

Assim que Okada fez a apresentação, Shin’ichi disse-lhe:

— Então é o Sr. Hamada de Matsue? Muito obrigado por tudo. Desculpe-me por não
poder ir a Matsue, mas solicito-lhe que cuide bem dos membros por mim. Matsue
estará em boas mãos com o senhor lá.

Shin’ichi ofereceu-lhe uma tangerina que estava em sua mão.

— Sr. Hamada, vamos viver juntos pelo kosen-rufu. Um dia irei sem falta a Matsue.

Ele apertou a tangerina com as duas mãos e sentiu as lágrimas despontando em


seus olhos. Ficou comovido pela sinceridade com que Shin’ichi se preocupava com
uma pessoa como ele, além de oferecer-lhe calorosos incentivos.

No dia seguinte, Hamada viajou com Shin’ichi no mesmo trem para a cidade de
Tottori e aproveitou a ocasião para receber orientações.

— Eu fui nomeado para responsável de comunidade apesar de ter apenas o ensino


fundamental 1. Além de não possuir capacidade, não gosto de ler e muito menos de
escrever.
— O valor de um homem não se determina apenas pelo seu grau de escolaridade ou
posição social. Na nossa organização, o ponto fundamental é a prática da fé. Se o
senhor polir a sua personalidade, todos os membros irão apoiá-lo.

Da janela do trem, Shin’ichi apontou as cerejeiras e disse:

— Aquelas cerejeiras ainda estão sem folhas, mas logo as flores brotarão de seu
interior e encantarão a todos. Nós também não enxergamos o nosso interior, mas
cada um possui o estado de buda na vida. Esta nossa natureza interior fará com que
possamos abrilhantar ao máximo as nossas virtudes, cobrindo a nossa vida com
flores de felicidade. O senhor deve ter convicção disso.

A orientação de Shin’ichi penetrou no coração de Hamada. (...)

Ele guardou a tangerina e voltou com ela para Matsue. Ao chegar em casa, colocou-
a no oratório e orou com toda a seriedade. Do fundo de seu coração, desejou
corresponder às suas expectativas. Mais tarde, ele se reuniu com os responsáveis
de bloco para transmitir os sentimentos de Shin’ichi e dividiu a tangerina para
saboreá-la com todos. (...)

[A Comunidade Matsue começou a crescer a cada mês, passando de cinquenta


famílias para sessenta, e depois para setenta, e esse desenvolvimento tornou-se a
força motriz para a fundação de um novo distrito. Hamada foi indicado para ser seu
responsável.]

Pouco tempo depois, Yukiko teve a oportunidade de conversar com Shin’ichi numa
ocasião em que ele esteve em Kansai. Ela lhe contou que apesar de seu marido
estar decidido a lutar como responsável de distrito, sentia-se aflita ao questionar se
ele seria realmente capaz de arcar com essa responsabilidade.

— Indiquei seu marido para responsável de distrito. Por favor, transmita-lhe as


minhas recomendações e diga-lhe que eu estou contando com a luta dele. Se estiver
preocupada com o seu marido, procure fazer o gongyo ou ler as escrituras sempre
juntos. De qualquer maneira, seja a senhora o braço direito a prestar-lhe todo o
apoio.

Com essas palavras, o sentimento do casal Hamada consolidou-se plenamente.


Mais tarde, por ocasião da Reunião de Líderes realizada no dia 27 de março, foi
finalmente anunciada a criação do Distrito Matsue. (...)
[Na reunião de fundação do novo distrito, o auditório estava lotado. Hamada subiu ao
palco para proferir suas palavras como responsável de distrito. Apesar de ter um
manuscrito com o discurso, ele não conseguiu proferi-lo devido ao nervosismo e à
dificuldade em ler e escrever. Sua mãe começou a recitar daimoku no local e logo
outras vozes se juntaram à recitação. Todos tinham grande estima por Hamada.
Conheciam-no bem e sabiam que ele detestava falar em público. A recitação foi se
tornando cada vez mais alta.]

Encerrada a reunião de fundação, Shin’ichi e Hamada saíram do auditório e foram


incentivar os membros que se encontravam na parte externa. Subindo num pequeno
palanque, Shin’ichi disse, batendo nos ombros de Hamada:

— O Sr. Hamada tornou-se responsável deste distrito atendendo ao meu pedido. Por
favor, deem a ele todo o apoio necessário.

Logo após, foi novamente até a casa de Hamada. Ele parecia desanimado, talvez
porque não conseguiu falar satisfatoriamente na reunião de fundação.

Perguntou a Hamada:

— Por que o senhor está preo­cupado?

— Eu nem consigo dizer algo que toque o coração dos membros. Quando penso em
como desenvolver as atividades, fico muito perdido.

Shin’ichi pediu então para um líder que o acompanhava que providenciasse papel,
pincel e tinta preta. E escreveu uma dedicatória para Hamada: Koe Butsu Ji (a voz
executa o trabalho do Buda).

— No Gosho está escrito que “A voz executa o trabalho do Buda”.1 Falar é um ato
budista. O senhor deve recitar daimoku e se empenhar nos incentivos aos membros.
Em pouco tempo, estará falando naturalmente em qualquer ocasião. Não é
necessário se preo­cupar em falar longamente. Pode ser apenas uma única palavra.
De qualquer forma, o importante é falar com uma voz repleta de fé, convicção e
sinceridade.

Hamada jamais esqueceu essas palavras de Shin’ichi. Ao iniciar as atividades como


responsável de distrito, delegou a função de lançar e explicar as diretrizes e metas
para outros líderes que o assessoravam. Muito do apoio que Hamada recebeu era
fruto de seu caráter caloroso e amável.
Ao final da reunião, costumava falar sempre umas poucas palavras exprimindo toda
a sua determinação:

— Vamos nos esforçar ao máximo!

Apesar de curtas, essas palavras repercutiam na vida de todas as pessoas e foi o


que promoveu o desenvolvimento de muitos companheiros, chegando a criar o
grande avanço do kosen-rufu de Shimane.

Gensuke Hamada tem dificuldades para proferir suas palavras durante a reunião de fundação do
Distrito Matsue. Após a atividade, Shin’ichi Yamamoto, à esq., incentivou-o calorosamente

No topo: Ilustração mostra o momento em que Shin’ichi Yamamoto faz uma dedicatória para Hamada com
os dizeres: “A voz executa o trabalho do Buda”
O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu
pseudônimo, como autor, é Ho Goku.

Fonte:

IKEDA, Daisaku. Triunfo. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v.
4, p. 85-95, 2018.

Nota:

1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I,
p. 196, 2019.

Ilustrações: Kenichiro Uchida 

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