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2623 • 24/11/2022 • ()
BS
REDE DA FELICIDADE
— Sim, muito obrigado — respondeu Hamada. Apesar de seu corpo robusto, estava
visivelmente tenso.
Nessa época ela ouviu a respeito do budismo por uma amiga. Converteu-se
imediatamente movida pelo desespero de resolver o seu problema. Isso foi em
março de 1957. Seguindo as orientações da amiga, Yukiko dedicou-se intensamente
em apresentar o budismo a outras pessoas. Ela se empenhou com toda a seriedade
e assim adquiriu esperança de transformar sua vida. As pessoas começaram a
observá-la com curiosidade e comentavam maldosamente pelas costas: “Será que
ela pensa que conseguirá se curar com a sua religião?”. Entretanto, a cada dia que
passava, ela parecia estar mais disposta e animada. Vendo essa transformação,
Hamada converteu-se sob a recomendação dela. Suas três filhas e alguns
funcionários começaram também a se interessar pela prática do budismo. Yukiko
pensou: “Agora que o meu marido começou a praticar, irá voltar para mim com toda
a certeza. Não há mais com o que me preocupar!”
Apesar de Hamada ter se convertido, não fazia o gongyo nem participava das
atividades, e suas saídas noturnas continuavam. A esperança acalentada por Yukiko
foi passageira e ela caiu novamente em desespero. Em julho, quatro meses depois
da conversão, Yukiko começou a falar coisas sem sentido: “Estou tão preocupada
com o meu marido que meus ombros estão rijos e os nervos do pescoço se
romperam. Só me resta morrer”. Por outro lado, quando se sentia bem-disposta,
empenhava-se na recitação do daimoku, dizendo: “Eu só conseguirei transformar o
meu carma com a prática da fé!”. Porém, quando era dominada pela ansiedade
sentia pena de si mesma e, tomada por uma profunda depressão, passava dias se
condenando e pensando somente em morrer. (...)
[Num certo dia de agosto, Yukiko tentou se suicidar. Felizmente, sua família descobriu
a tempo e ela escapou da morte. Em setembro, ele tentou pela segunda vez, mas
falhou novamente. No mês seguinte, ela se escondeu debaixo do vão do assoalho e
tentou morrer de inanição.]
Quando foi encontrada, horas depois, já não falava com coerência e seu olhar era
estranho. Na manhã seguinte, a família internou Yukiko em um hospital, pois os
médicos diagnosticaram esquizofrenia. Apesar do tratamento, ela era tomada por
alucinações e falava coisas incompreensíveis. Mesmo assim recitava daimoku com
a determinação de superar o seu sofrimento.
Ele passou a oferecer a casa para reunião e participava de todas as atividades junto
com sua esposa.
A primeira vez que Shin’ichi encontrou-se com Hamada foi em fevereiro de 1960,
quando este já exercia o cargo de responsável da Comunidade Matsue. (...) Apesar
de ser o líder da comunidade, Hamada fazia as atividades da organização a pedido
da esposa, que era a responsável pela Divisão Feminina da comunidade, e não por
iniciativa própria. Além disso, ele não se sentia à vontade em ser o líder dos
membros da comunidade e não ter escolaridade e ainda com um passado
vergonhoso.
— Então é o Sr. Hamada de Matsue? Muito obrigado por tudo. Desculpe-me por não
poder ir a Matsue, mas solicito-lhe que cuide bem dos membros por mim. Matsue
estará em boas mãos com o senhor lá.
— Sr. Hamada, vamos viver juntos pelo kosen-rufu. Um dia irei sem falta a Matsue.
No dia seguinte, Hamada viajou com Shin’ichi no mesmo trem para a cidade de
Tottori e aproveitou a ocasião para receber orientações.
— Aquelas cerejeiras ainda estão sem folhas, mas logo as flores brotarão de seu
interior e encantarão a todos. Nós também não enxergamos o nosso interior, mas
cada um possui o estado de buda na vida. Esta nossa natureza interior fará com que
possamos abrilhantar ao máximo as nossas virtudes, cobrindo a nossa vida com
flores de felicidade. O senhor deve ter convicção disso.
Ele guardou a tangerina e voltou com ela para Matsue. Ao chegar em casa, colocou-
a no oratório e orou com toda a seriedade. Do fundo de seu coração, desejou
corresponder às suas expectativas. Mais tarde, ele se reuniu com os responsáveis
de bloco para transmitir os sentimentos de Shin’ichi e dividiu a tangerina para
saboreá-la com todos. (...)
Pouco tempo depois, Yukiko teve a oportunidade de conversar com Shin’ichi numa
ocasião em que ele esteve em Kansai. Ela lhe contou que apesar de seu marido
estar decidido a lutar como responsável de distrito, sentia-se aflita ao questionar se
ele seria realmente capaz de arcar com essa responsabilidade.
— O Sr. Hamada tornou-se responsável deste distrito atendendo ao meu pedido. Por
favor, deem a ele todo o apoio necessário.
Logo após, foi novamente até a casa de Hamada. Ele parecia desanimado, talvez
porque não conseguiu falar satisfatoriamente na reunião de fundação.
Perguntou a Hamada:
— Eu nem consigo dizer algo que toque o coração dos membros. Quando penso em
como desenvolver as atividades, fico muito perdido.
Shin’ichi pediu então para um líder que o acompanhava que providenciasse papel,
pincel e tinta preta. E escreveu uma dedicatória para Hamada: Koe Butsu Ji (a voz
executa o trabalho do Buda).
— No Gosho está escrito que “A voz executa o trabalho do Buda”.1 Falar é um ato
budista. O senhor deve recitar daimoku e se empenhar nos incentivos aos membros.
Em pouco tempo, estará falando naturalmente em qualquer ocasião. Não é
necessário se preocupar em falar longamente. Pode ser apenas uma única palavra.
De qualquer forma, o importante é falar com uma voz repleta de fé, convicção e
sinceridade.
Gensuke Hamada tem dificuldades para proferir suas palavras durante a reunião de fundação do
Distrito Matsue. Após a atividade, Shin’ichi Yamamoto, à esq., incentivou-o calorosamente
No topo: Ilustração mostra o momento em que Shin’ichi Yamamoto faz uma dedicatória para Hamada com
os dizeres: “A voz executa o trabalho do Buda”
O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu
pseudônimo, como autor, é Ho Goku.
Fonte:
IKEDA, Daisaku. Triunfo. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v.
4, p. 85-95, 2018.
Nota:
1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I,
p. 196, 2019.