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A MÃE
COMO ME FOI REVELADA
A MÃE
COMO ME FOI
REVELADA
pg
Prefácio……………………………………………………………04
Introdução………………………………………………………...06
Poder Mântrico…………………………………………………...18
Poder do Pensamento…………………………………………….22
Poderes Yóguicos…………………………………………………28
Estado de Samadhi……………………………………………….35
Ashram……………………………………………………………57
Nota………………………………………………………………..80
Glossário…………………………………………………………..81
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PREFÁCIO
O autor deste livro, Sri Jyotish Chandra Ray, comumente conhecido como
“Bhaiji” (irmão maior), era enormemente querido e reverenciado pelos devotos de Sri
Anandamayi Ma. Realmente, poderíamos chamá-lo o Príncipe dos Bhaktas. Quem quer
que o conhecesse ficava impressionado pela visível nobreza do seu caráter, sua absoluta
simplicidade e seu extraordinário espírito de serviço. Graças à sua destacada pureza e
modéstia lhe foi possível alcançar uma introspecção de profundidade fora do comum. O
que faz com que “Matri Darshan” seja tão valioso é que foi escrito por alguém dotado de
um alto grau de compreensão, a quem, de fato, Mataji havia revelado a Si mesma.
Sri J.C. Ray nasceu em 16 de Julho de 1880, em Chittagong e recebeu ali sua
educação. O próprio livro dará ao leitor uma acertada idéia dos acontecimentos essenciais
da vida de Bhaiji, no que concerne a sua relação com Sri Ma.
INTRODUÇÃO
Perdi minha mãe quando não era mais que um garotinho. Escutei meus parentes
dizerem que meus olhos se enchiam de lágrimas quando ouvia as outras crianças
balbuciarem “ma, ma” e que tranquilizava meu coração lançando-me ao chão, chorando
em silêncio.
Meu pai era uma pessoa piedosa. Durante minha primeira infância, o profundo
espírito religioso de sua vida implantou em mim sementes de aspiração divina. Em 1908
fui iniciado pelo guru de nossa família em Sakthi Mantra (representação sonora da
Deusa do Universo ou Mãe do Mundo). Consequentemente, tive que render culto à Mãe
Divina. Quando pude expressar efusivamente todo meu fervor devocional com “Ma,
Ma”, durante meu tempo de oração, encontrei grande alívio e felicidade. Inclusive, só
então podia dar-me conta que a Mãe é a fonte-origem da suprema alegria e felicidade
para todos os seres vivos. Havia em mim um desejo incontrolável de encontrar uma
Mãe viva, que, com seus olhares amorosos, pudesse transformar minha alma
tempestuosa. Dirigi-me a muitas pessoas piedosas e estava tão desesperado a ponto de
consultar os astrólogos em busca de uma resposta a minha dúvida: terei a sorte de
encontrar semelhante mãe? Todos me davam grandes esperanças.
Com esse objetivo em mente, visitei muitos lugares santos e tive a oportunidade
de encontrar numerosas personalidades espirituais; mas nenhuma satisfazia meu desejo.
Uma manhã fui até lá com espírito devocional e tive bastante sorte de poder ver
a Mataji, por cortesia de seu marido, a quem as pessoas se referiam como Pitaji, ou Pai.
Meu coração estremeceu ao ver Sua serena postura yóguica junto a toda modéstia e
graça de uma jovem recém-casada. Em seguida, invadiu minha mente a idéia de que a
pessoa de quem meu coração havia tido saudades todos esses anos e por cuja busca eu
havia viajado a tantos locais sagrados, se encontrava revelada diante de mim.
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Todo meu ser ficou inundado de prazer e cada fibra do meu corpo bailava em
êxtase. Senti-me impulsionado a lançar-me e prostrar-me a seus pés, gritando entre
lágrimas “Ma, por que tens me mantido afastado de Ti todos estes longuíssimos anos?”
Durante muito tempo depois não fui à Shahbag. Pensava da seguinte maneira:
“Enquanto Ela não me atraísse até Si como se fosse minha própria Mãe, retirando seu
véu, como poderia render-me a Seus pés? Havia um grande conflito dentro de mim. Um
intenso desejo de vê-La e uma dor aguda por sua frieza. Ambos eram igualmente fortes
e opostos entre si. Parecia que nenhuma forma de aproximação era possível. Entretanto,
costumava ir ao templo Sikh vizinho e, de pé, junto à parede do jardim, olhava a Mãe à
distância, de modo que ninguém pudesse perceber. Durante aqueles dias de indecisão,
analisava os movimentos de minha mente e me perguntava aonde iriam parar as coisas.
Mas não tinha força para tomar uma decisão. Recebia frequentemente todo tipo
de notícias sobre Mataji e escutava com atenção todas as histórias sobre Sua Lila. Desta
maneira passei sete meses entre o estrondo e o burburinho da vida diária. Um dia,
trouxe Mataji à minha casa. Uma intensa alegria comoveu meu ser por inteiro ao
encontrar-me com Ela depois de tanto tempo. Mas minha felicidade durou pouco.
Quando estava a ponto de sair, inclinei-me para tocar Seus pés, mas Ela os afastou.
Senti-me transpassado por uma dor repentina. Tentei então aliviar as pontadas da luta
que havia em meu coração lendo vários livros sobre religião. Decidi-me a publicar um
pequeno livro sobre religião e práticas religiosas. O livro foi escrito e publicado com o
titulo de “Sadhana” e enviei uma cópia para Ma, através de SJ. Bhupendra Narayan Das
Gupta. Ela lhe disse secamente: “Peça ao autor que venha ver-me.”
Ao receber este chamado da Mãe, fui a Shahbag uma manhã. Vi que o silêncio
que Ela havia observado durante os últimos anos havia terminado. Ela veio e Se sentou
perto de mim. Li para Ela o livro inteiro e, depois de escutar falou: “Devido aos três
anos de silêncio, as cordas vocais não me funcionam adequadamente e, entretanto, as
palavras se esforçam para sair da minha boca hoje. Seu livro é bastante bom. Tente
desenvolver ainda mais a pureza de pensamento e ação.”
Durante aquela entrevista com Ela, Pitaji estava presente. Comecei a sentir que
um novo mundo estava se abrindo diante de mim e que eu estava sentado como se fosse
um menino diante de seus pais.
Depois se soube que neste período Mataji comia no chão e não utilizava nenhum
tipo de prato. Pitaji lhe havia dito, certo dia: “Não pegas a comida em pratos de latão
nem de bronze, comerá num de prata?” Ma riu e disse: “Sim, mas não fale a ninguém
sobre isso nos próximos três meses e, por favor, tampouco faça você nenhum intento de
procurar para mim pratos de prata.” Pois bem, antes que houvesse passado os três
meses, lhe demos o prato de prata, como mencionei anteriormente.”
Soube por várias fontes que muitos dos devotos de Sri Ma haviam sido bastante
afortunados a ponto de encontrar imagens de vários deuses e deusas revelados em Seu
corpo. Mas, como eu via com meus próprios olhos, em Sua vida cotidiana,
manifestações de grandes poderes sobrenaturais, não me preocupava em buscar alguma
revelação em especial. Minha humilde aspiração era que, se pudesse modelar minha
vida servindo os ideais de paciência e serenidade, n’Ela sempre manifestos, seria mais
do que suficiente para mim.
Uns quinze dias depois, fui a Shahbag uma manhã e encontrei a porta da casa de
Mataji fechada. Sentei-me diante da porta, a uns 25 ou 30 cm de distância.
Repentinamente, a porta se abriu de todo. Encontrei, para meu desconcerto, a figura de
uma deusa divinamente bela, tão genialmente resplandecente como o sol ao se pôr,
iluminando em sua totalidade o interior da casa. Num abrir e fechar de olhos se retirou
toda irradiação do interior do Seu corpo e Mataji estava ali, de pé e sorrindo em sua
forma habitual.
Depois de algum tempo Mataji se aproximou de mim. Colheu uma flor e umas
poucas folhas de erva de dhurba e os colocou sobre minha cabeça, ao mesmo tempo que
eu caía aos Seus pés.
Fiquei louco de alegria. Os dias que vão nunca mais voltam. Como desejaria que
retornasse aquele bendito momento!
Desde aquela vez se foi enraizando em minha mente uma profunda convicção de
que Ela não era somente a mãe, mas sim a Mãe do Universo. Voltei para casa. Tão logo
me aquietei, resplandeceu em minha mente a mesma imagem luminosa de Mataji e as
lágrimas rolaram por minha face. Desde aquele mesmo dia Sua Graça provocou tal
mudança em mim, e de modo tão natural, que Sua figura ocupou o lugar da deusa a que
havia venerado naqueles 18 anos, desde minha iniciação, no começo da juventude. Esta
mudança às vezes gerava algumas dúvidas na minha cabeça, sobre se eu seguia o
caminho correto ou não. Mas em poucos dias Sri Ma ocupou Seu legítimo lugar em
minha alma, assumindo-a por completo.
Sri Anandamayi Ma (Seu nome original era Nirmala Sundari Devi) nasceu no
povoado de Kheora, distrito de Tipperah, em 1318 da Era Saka (30 de Abril de 1896),
nas primeiras horas de uma sexta-feira, uma hora e doze minutos antes do amanhecer.
Recentemente descobriu-se o local exato do Seu nascimento. Quando foi a Kheora, em
17 de Maio de 1937, pressionada por Seus devotos, indicou o local exato onde Seu
corpo tocou o solo pela primeira vez. Seu pai, Bepin Behari Bhattacharji, era
descendente da conhecida família brâmane Kashyapa, do povoado de Vidyakut, no
mesmo distrito. Passou a primeira parte de Sua vida na casa do seu tio materno. Tanto o
pai quanto a mãe de Sri Ma, Sm Mokshada Sundari Devi, tinham naturezas muito
amáveis e caridosas. Sua devoção a Deus, sua simplicidade e o nível de vida social eram
quase ideais. A casa materna de Mataji, em Sultanpur, Tipperah, teve um status social
muito alto durante gerações. Havia muitos pandits (pessoas instruídas em sânscrito e nas
escrituras hindus) cultos e devotos na família. Relata-se que uma piedosa mulher da
mesma família montou a pira funerária de seu marido cantando hinos alegremente. Sri
Ma casou-se com Sainut Ramani Mohan Chakravarti, do povoado de Atpara, de
Vikrampur, quando contava com apenas 12 anos e dez meses de idade. Ele pertencia à
conhecida família brâmane Bharadwaj, deste povoado. Dedicou sua vida ao bem estar
dos demais. Mais tarde ficou conhecido como Bholanath, Rama Pagla ou Pitaji.
Durante Sua residência em Shahbag, o finado Rai Bahadur Pran Gopal Mukherji
era o Diretor Geral dos Correios, em Dacca. Ele e Sri Baul Chandra Basak encontraram
meios para levar a cabo a conservação do templo de Siddheswari.
A primeira vez que conheci Sri Ma, ela deu-me uma indicação, dizendo: “Tua
sêde pelas coisas espirituais não é suficientemente forte.” Mas para alguém agitado pela
confusão dos desejos mundanos, tal ânsia por uma vida mais elevada não era possível a
não ser que pudesse aprender a dirigir até Seus pés todas as incontroláveis ondas de
emoções e impulsos. Sempre rezava silenciosamente e em segredo em meu coração “Oh
Mãe, te manifestas como fome em cada ser, desperta em mim uma fome real pelas
coisas imutáveis e imperecíveis.”
4) Uma noite, quando regressei do meu escritório, disseram-me que uma pessoa
desconhecida havia deixado um peixe grande em minha casa, dizendo que
voltaria em breve. Mas ninguém apareceu. O peixe estava sobre o saco. Ao
anoitecer, como não apareceu ninguém, o peixe foi cortado em postas e eu o
enviei à Mãe, em Shahbag. Na manhã seguinte, quando fui para lá, Pitaji me
disse: “Tua Mãe me disse, na noite passada –‘Olhe aqui, Jyotish é meu Deus.”
Ao perguntar, soube que, na manhã anterior, umas poucas pessoas participaram
do kirtan (cântico dos nomes e da magnificência de Deus, realizado por uma
pessoa ou por um grupo de pessoas). Todas elas desejavam ter Seu prasad
(comida oferecida a uma deidade ou santo, e depois consumida pelos devotos).
Não havia, porém, provisões. Justo na hora que Mataji estava preparando os
condimentos para cozinhar, meu servente Khagen chegou com o peixe e outros
artigos necessários. Isto A fez exclamar as palavras repetidas por Pitaji. “Fiquei
surpreso” contou Bholanath “ao saber que um desconhecido havia trazido peixe
à sua casa e como foi enviado, junto com outras coisas indispensáveis, para
satisfazer o clamor dos devotos pelo prasad de Sri Ma.” Tais incidentes foram
numerosos. Em Shabag, um homem solicitou prasad de Sri Ma, mas não havia
frutas e doces. Quando meu servente chegou com as coisas viu que,
aparentemente, Mataji já estava esperando por elas
7) Certa vez, por volta do meio dia, eu estava ocupado em meu escritório. Bhupen
veio e me disse: “Mataji te pede para ir a Shahbag. Eu Lhe disse que o Diretor
de Agricultura estará ausente hoje, mas Ma respondeu: ‘ Deves levar-lhe esta
mensagem, deixe que ele faça o que considerar mais apropriado.”
Sem pestanejar, deixei todos os papéis esparramados sobre minha mesa e, sem
informar a ninguém do escritório, saí para Shahbag. Quando cheguei, Sri Ma
disse: “Vamos até o Ashram de Siddheswari.” Acompanhei Mataji e Pitaji.
Havia um pequeno buraco exatamente onde hoje se levanta um pequeno pilar e
um Shiva Lingam. A Mãe sentou-se neste buraco e Seu rosto resplandecia com
um sorriso radiante, transbordando de felicidade. Exclamei ante Pitaji: “Desde
hoje chamaremos a Ma com o nome de Anandamayi.” Ele respondeu: “Sim, que
assim seja.” Ela me fitou com um olhar fixo, sem dizer uma palavra.
Quando estávamos a ponto de partir, as 17:30, Ela perguntou: “Você estava todo
o tempo tão cheio de júbilo, como pode ser que agora esteja tão pálido?”
Respondi que o pensamento de ir para casa me faz lembrar o trabalho inacabado
no escritório. Ela disse: “Isto não tem importância.” No dia seguinte, quando fui
ao escritório, o Diretor não disse nada sobre minha ausência do dia anterior.
Perguntei a Mataji por que havia me chamado tão inesperadamente no dia
anterior. Ela respondeu: “Para avaliar o quanto você evoluiu nestes meses.”
Acrescentou, com um sorriso afável: “Se você não viesse, quem haveria dado
um nome a este corpo?”
Perguntei a Mataji como Ela havia se sentido quando o carvão aceso estava
queimando-lhe a carne. Ela disse em resposta: “Não fui consciente de nenhuma
dor. Não parecia outra coisa senão diversão: contemplei com alegria o que o
pobre carvão estava fazendo com meu pé e observei que começou a queimar
primeiro os pelos, depois o pé. Cheirava a queimado e o carvão foi gradualmente
apagando, depois de fazer seu trabalho. Quando, mais tarde, formou-se uma
chaga, esta continuou seu curso. Porém, tão logo se despertou em você um forte
desejo de que a ferida se curasse, houve uma mudança repentina para melhor.”
10) Era o mês de Magh, no meio do inverno, com um frio penetrante. Ao amanhecer
me encontrava andando descalço com Sri Ma sobre os campos de erva de
Ramna, molhados pelo orvalho. Vi ao longe um grupo de mulheres que se
dirigia ao nosso encontro. Pensei que, logo que chegassem, levariam Ma ao
Ashram de Ramna. Conforme me passavam estes pensamentos pela cabeça, o
campo inteiro ficou coberto por uma névoa muito espessa e não se podia
enxergar as mulheres. Depois de umas três horas, quando regressamos ao
Ashram, ouvimos que o grupo de mulheres havia se cansado de tentar encontrar-
nos e se viram obrigadas a regressar, decepcionadas. Os campos eram muito
grandes. Quando informei a Sri Ma de meus pensamentos, ela disse: “Seu forte
desejo foi satisfeito.”
11) Numa ocasião Mataji sofria um forte resfriado, com tosse. Encontrando-A muito
mal, lhe roguei, com voz trêmula e suplicante: “Ma, que Sua saúde se
restabeleça prontamente.” Ela me olhou fixamente e disse com um sorriso: “A
partir de amanhã estarei bem.” E assim foi.
12) Certa manhã encontrei Mataji com febre. Regressei a minha casa e de noite rezei
fervorosamente para que sua febre passasse ao meu corpo. Ao começar o dia,
tive febre e dor de cabeça. Quando fui ver Ma, pela manhã, como costumava
fazer, Ela logo falou: “Estou bem, mas você tem febre. Volte para sua casa, tome
um banho e coma sua comida habitual.” Assim o fiz e, de tarde, já estava bem.
Sri Ma sempre diz: “Com a força da concentração tudo é possível.”
13) Chegou à minhas mãos um livro chamado Sadhu Jivani ( Vida dos Santos). Ali
encontrei esta frase: “Ele – um Sadhu – costumava aconselhar seus devotos para
que sempre dessem comida aos pobres.” Escrevi a seguinte nota, na margem:
“Dar só comida não satisfaz a alma humana.” Este livro foi levado a Sri Ma, em
Shahbag e um dos Seus devotos leu em voz alta meu comentário. Ma não disse
nada. Poucos dias depois fui, bem cedo, a Shahbag. Neste momento, um homem
que parecia ter um ataque de loucura, veio a mim e disse: “Dê-me algo de comer
ou morrerei de fome.” Mataji buscou o que pôde conseguir na despensa e deu ao
homem. Ele quis água para beber e Mataji me disse para dá-la. Fiquei sabendo
que o homem era muçulmano, havia jejuado três dias e havia entrado no Ashram
pulando a cerca. Mataji me disse que ele tinha vindo me ensinar a importância
de dar de comer e beber a quem o necessita. Cada coisa tem seu lugar e
momento adequado. Nada se perde na divina economia do mundo.
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14) Um dia, disse a Mataji: “Ma, todos estes dias, surgem em meu interior sons
mântricos, numa onda contínua. Durante o dia e também ao cair da noite a
corrente de sons brota naturalmente do meu coração, com um jorro que sai aos
borbotões de uma fonte.” Ao dizer isto, um ligeiro matiz de satisfação pessoal
ficou escondido no mais recôndito do meu coração. Ma me olhou em silêncio.
Quando cheguei em casa, o som cessou e, apesar dos meus melhores esforços,
não pude reavivá-lo. Transcorreu o dia e a noite avançava, mas a corrente
jubilosa de melodia mântrica não pôde ser restaurada. Na manhã seguinte,
solicitei a Bhupen que informasse a Mãe sobre minha triste condição. Bhupen a
encontrou no caminho, enquanto Ela se dirigia à casa de um devoto, numa
carruagem. Ela começou a rir. Eram dez da manhã. Bem neste horário senti que
a corrente obstruída começava a fluir com sua cadência anterior. Depois, soube
por Bhupen a hora em que ele havia se encontrado com Sri Ma. Em conexão
com este fato, A escutaram comentar que o menor matiz de “eudade” (egoísmo)
atrasa o próprio progresso espiritual.
15) Em seguida, dou outro caso da prontidão com que a influência benigna de Sri
Ma ajuda o crescimento de nossa vida interior. É uma pena que deixemos de
reconhecer seu valor e não o utilizemos para nossa elevação espiritual. Ao
passar o primeiro entusiasmo, recaímos em nossa condição anterior.
Certo dia Sri Ma disse, entre risos: “Quando se cantam os nomes divinos, ou
mantras, a mente se purifica gradualmente, o amor e a reverência pelo Ser
Supremo se despertam e os pensamentos se tornam sutis e refinados. Então se
começa a vislumbrar planos mais altos de existência, o que favorece a elevação.”
O dia em que escutei estas palavras, sentei-me num canto solitário da casa para a
oração da noite; para minha surpresa, experimentei um novo regozijo devido ao
fluxo de nomes divinos. Continuaram sem parar; chegou o sono e, tão logo
acordei, as jubilosas vibrações estremeceram meu ser uma vez mais. No dia
seguinte, a mesma onda regozijante continuou em voz baixa, durante a pressão
da rotina do escritório. Ao anoitecer, quando coloquei minha mente no estado
propício à oração, a felicidade da noite anterior enchia meu coração, de modo
que eu não tinha nenhuma vontade de dormir. Ao cair da noite o fluxo era tão
intenso que cheguei a pensar que me sentiria aliviado se houvesse uma pausa.
Mas tudo continuou com o ímpeto que lhe era próprio. Nunca havia tentado
sentar na postura de Gomukhi. Nas primeiras horas da manhã, antes do sol sair,
encontrei a mim mesmo fazendo esta postura. Durante estas horas meu corpo e
minha mente estavam imersos num mar de inexprimível alegria. As lágrimas
brotavam dos meus olhos sem parar. Num período de meditação, passei todo o
tempo imóvel e estive completamente absorto.
A esta canção dei o titulo de “Canção de um Homem Louco” e enviei uma cópia
impressa da mesma a Sri Ma. Depois, soube que quando a recebeu, Ela estava cortando e
podando, com uma podadeira, uma cabaça para a cozinha. Enquanto lhe recitavam a
canção, lhe caiu da mão a cabaça e Ela sentou-se imóvel durante um tempo. Depois,
quando A encontrei, Ela disse: “O mundo é a encarnação de bhava (o amor divino).
Todas as coisas criadas são sua expressão material. Se alguma vez puderes despertar
para este amor divino, verás em todos os lugares do universo o jogo do Um. Isolando-se
deste amor divino o homem vai às cegas e perde o verdadeiro sentido da vida.”
Compus muitas canções neste estilo e as ofereci a Seus pés. Expressou Seu
deleite algumas vezes e outras as deixou de lado, com uma aprovação muda. Houve
muitas ocasiões nas quais Sri Ma estava longe de Dacca e as canções brotaram de meu
coração durante minhas orações noturnas ou durante as longas meditações, à meia noite.
Podia ver a figura de Mataji de pé, diante de mim, imóvel e assistindo meu
arrebatamento. Quando regressou a Dacca, depois de viajar a distintos lugares, pediu-
me que repetisse canções que havia cantado em diferentes ocasiões, em minha própria
casa. Era realmente estranho que Ela pudesse nomear inclusive as canções que ainda
não lhe haviam sido apresentadas.
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Meu intenso desejo de estar ao Seu lado, às vezes me transportava pelo ar até o
infinito. Durante esta etapa, as poucas canções que compus foram publicadas num
volume com o titulo de “Ao Teus Sagrados Pés.”
Era meu caso. A ilimitada Graça de Sri Ma não pôde manter-me firme a Seus
pés em todos os momentos da minha vida e em todos meus pensamentos. Com efeito, é
difícil para um homem preso nas redes da ilusão (avidya) encontrar um refúgio
permanente de paz no Divino.
Um dia eu disse a Mataji: “Até uma pedra se haveria convertido em ouro com
um toque tão santificado quanto o Seu, mas minha vida demonstrou ser um triste
fracasso.”
Ma respondeu: “Aquilo que tarda muito tempo em chegar a ser, madura numa
beleza perdurável, depois de um igualmente prolongado período de desenvolvimento.
Por que você se preocupa tanto com isso? Agarre-se bem à mão que te guia, como um
menino confiante.” Escutei suas elucidativas palavras de ânimo com todo meu afã e,
ainda assim, senti uma secura abrasadora afetando cada fibra do meu ser. Abaixo, cito
um exemplo para mostrar como Sua penetrante visão mantinha vigilância sobre meus
conflitos.
Quando, sob impulso de uma profunda devoção, comecei a buscar Sua presença
todos os dias, soube que algumas pessoas criticaram minha conduta. Suas reflexões me
deixaram em dúvida e comecei a sentir que aproximar-se a esta ou aquela pessoa para a
própria elevação espiritual não era senão uma debilidade humana comum.
Deixei de visitar a Sri Ma, já que minha mente vacilava sob a influência da
critica. Decidi ler Yoga Vashita e melhorar minha vida interior mediante o cultivo do
intelecto. Durante sete ou oito dias dediquei-me a estudar atentamente o livro.
Ele me disse: “Por favor, leve-me até Sri Ma.” Depois de conhecê-la, disse: “Eu
também perdi minha mãe faz muito tempo, mas tão logo conheci a Mataji, a dor da
morte de minha mãe se desvaneceu por completo.”
Narrei a Ma tudo o que havia passado pela minha cabeça e chorei a Seus pés.
Ela começou a rir e disse: “Nestes dias, a não ser que a pessoa se force a avançar por
determinado caminho, não se pode prosseguir.”
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PODER MÂNTRICO
Com a idade de 22 anos foi com Bolanath a Bajitpur e permaneceu ali durante 5
ou 6 anos. Até o fim deste período, de Seus lábios saíram espontaneamente muitos
mantras e do Seu corpo se projetavam muitas imagens de deuses e deusas. Seus
membros adotavam espontaneamente varias posições yóguicas. Enquanto essas
manifestações divinas encontravam expressão em Seu corpo em Bajitpur, deixou de
sair-lhe a fala durante aproximadamente um ano e três meses e, quando veio a Dacca,
continuou em silêncio outro ano e nove meses, completando assim três anos inteiros.
Nestes atos de veneração não havia objetos materiais nem tampouco nenhum
desejo de sua parte de realizar tais cerimônias. Tão logo se sentava num local solitário,
todas as atividades físicas e mentais relacionadas ao cerimonial de veneração se
manifestavam por um misterioso processo de auto-surgimento. Pessoas bem versadas
em ritos e rituais Sastras descobriram depois que todos os diversos processos de
veneração realizados por Ela tinham bastante concordância com os prescritos nos
Sastras. Quando alguém perguntava como era possível que realizasse esses ritos com
tanta perfeição, Sua única resposta era: “Não me pergunte nada agora; no momento
oportuno você saberá.”
Em 10 de Abril de 1924 Mataji chegou a Dacca e, uma semana mais tarde veio a
Shahbag. Muitos devotos começaram a reunir-se ali para obter Seu Darshan (estar na
presença de um santo, sábio ou Deidade). Em 1925 alguns devotos lhe pediram que
realizasse o Kali Puja (culto cerimonial dedicado à Mãe Divina) pois tinham ouvido
falar que Sua celebração do puja era maravilhosa. Ela respondeu: “Sei pouco dos ritos e
rituais Sastras (escrituras sagradas hindus). Seria melhor que vocês conseguissem ajuda
de sacerdotes profissionais.” Mais tarde, entretanto, por pedido de Bholanath,
concordou em realizar o puja.
Quando a Mãe era venerada por seus devotos, o júbilo deles não conhecia
fronteiras. Mas quando Ela mesma elegeu venerar a uma Deusa para que os iluminasse,
a dignidade desta veneração se multiplicou por mil.
Iriam sacrificar uma cabra, que foi banhada na água. Quando a trouxeram para a
Mãe, Ela a colocou no colo e chorou, enquanto acariciava suavemente o corpo do
animal com Suas mãos. Recitou alguns mantras, tocando cada parte do corpo do animal
e lhe sussurrou algo na orelha. Depois disso venerou a cimitarra com a qual se ia
sacrificar a cabra. Prostrou-se sobre o solo, colocando o cutelo sobre seu próprio
pescoço. De Seus lábios saíram três sons parecidos com balidos de uma cabra. Quando
o animal foi sacrificado, este não se moveu, nem guinchou, nem houve rastro de sangue
entre a cabeça e o corpo separados. Somente com grande dificuldade uma única gota de
sangue saiu finalmente do cadáver do animal. Durante todo este tempo o rosto de Sri
Ma se iluminou de uma intensa e pouco comum beleza e, ao longo da cerimônia, houve
um toque de grande santidade e de profunda absorção nas pessoas que estavam
presentes.
Em 1926 os devotos rogaram a Ma que realizasse o puja mais uma vez. Não
disse nada. Mais tarde, quando a estavam levando até a casa de um devoto, levantou Sua
mão esquerda, sorriu e permaneceu em silêncio. Quando Pitaji perguntou-lhe sobre o
significado do Seu gesto, não respondeu. Quando sentou-se para comer, uma vez mais
repetiu o mesmo movimento de Sua mão esquerda. Passados alguns dias, Sri Ma
explicou que, no caminho para a casa do devoto, havia visto, a uns 12 metros à frente, a
deusa vivente Kali, flutuando no ar a um metro por cima do solo, estendendo Suas mãos
até Mataji como se desejasse ir ao Seu regaço. Esse dia, enquanto comia, a mesma se
havia colocado diante d’Ela como uma menina. Essa era a razão pela qual havia
levantado a mão esquerda.
No dia anterior ao Kali Puja, quando os devotos voltaram a fazer sua oração à
Sri Ma, Ela pediu a Pitaji: “ Já que estão tão impacientes para celebrar o Puja, podes
oficiar como sacerdote.” Ele disse então aos devotos: “Já que vossa Mãe pediu que eu
realize o puja, assim o farei. Por favor, façam todos os preparativos necessários.” Eles
perguntaram pelo tamanho da imagem e Pitaji sugeriu que deveria ser tão alta como
havia sido indicado por Sri Ma nas duas ocasiões nas quais havia levantado sua mão
enquanto estava sentada.
Mataji estava, naquele momento, deitada numa imóvel e inerte condição. Eram
11 da noite. Tomaram medidas extremas. Houve muita discussão sobre como se poderia
obter, no transcorrer de um curto dia, uma imagem do tamanho indicado. Sri Surendra
Lal Banerji saiu de Shahbag com muitas dúvidas e foi à cidade. Encontrou numa loja
uma estátua com as medidas corretas. Havia um total de doze imagens, onze das quais
haviam sido encomendadas por clientes. A peça extra havia sido modelada pelo artista
por sua própria iniciativa.
A imagem chegou a tempo. Sri Ma sentou-se para realizar o puja. Havia uma
atmosfera divina ao redor de Sri Ma. Depois de um tempo, levantou-se repentinamente
e disse a Pitaji: “ Vou para o meu lugar. Por favor, realize o puja você mesmo.”
Dizendo isto, colocou-se ao lado da imagem e, com estranhos risos, sentou-se no chão.
A atmosfera inteira da casa sobrecarregou-se de um maravilhoso êxtase divino, divino
demais para ser expresso em palavras. Sri Ma disse: “ Todos vocês, fechem os olhos e
cantem o nome de Deus.”
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A noite terminava ao mesmo tempo em que o puja chegava ao seu fim. Não
havia provisões para o sacrifício. Quando chegou a hora da última oferenda (Arathi), Sri
Ma disse: “Não deve haver oferendas, deixem que o fogo sacrificial se preserve.” Esse
fogo é mantido aceso até hoje.
Sri Ma disse: “A Personalidade e forma dos deuses e deusas são tão reais como
teu corpo ou o meu. Podem ser percebidas com a visão interior aberta pela pureza, o
amor e a reverência.”
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PODER DO PENSAMENTO
Durante seus anos mais jovens, assim como depois de vir a Dacca, Sri Ma
permaneceu a maior parte do tempo quase imóvel. Soubemos que, durante horas, caía
absorta num êxtase divino que nenhuma palavra podia explicar. Às vezes passava vários
dias neste estado e, durante o kirtan, Seu corpo adotava várias posições, todas elas
indicativas da Suprema Felicidade.
Um pouco mais tarde, começou a mover-se nessa postura. Seu corpo parecia
estar cheio de uma presença celestial. Não prestava atenção às roupas que caíam
folgadamente sobre Sua pessoa. Ninguém tinha o poder nem estava disposto a detê-la.
Seu corpo inteiro continuava bailando com um compasso medido da maneira mais
delicada e chegou ao lugar onde o kirtan estava acontecendo; então foi como se o Seu
corpo se fundisse sobre o solo sem fazer ruído. Conduzido por algum poder misterioso,
continuou rodando, como folhas secas de uma árvore movidas lentamente por uma
suave brisa.
Depois de algum tempo, enquanto ainda estava caída sobre o chão, saíram de
Seus lábios uns acordes musicais muito suaves “Hare Murare Madhukeitabhare.” As
lágrimas lhe escorriam pela face ininterruptamente. Depois de algumas horas recobrou
Sua condição normal.
Seu rosto resplandecente, Seu olhar doce e inefável, Sua terna e suave voz
transbordando de divina emoção, fazia com que todas as pessoas ali reunidas
recordassem as imagens de Caitanya Deva, tal e qual estão descritas em suas biografias.
Todas as mudanças físicas observadas no Senhor Gouranga há muitos e muitos anos se
manifestaram novamente sobre Sua pessoa naquela ocasião. Ao entardecer, quando Sri
Ma entrou no hall do kirtan, todos os sintomas do êxtase do meio-dia reapareceram.
Depois de algum tempo, pronunciou algumas palavras com um acento tão claro e suave
e com tão doce sensação de divina emoção que a audiência emudeceu de arrebatamento
celestial.
Depois que os doces foram repartidos, ao final do kirtan, Sri Ma distribuiu Ela
mesma prasad com tanta graça e beleza e houve tal expressão de divina maternidade em
Seus modos, que as pessoas sentiram que Ma Lakshimi devia estar encarnada em Seu
corpo. Shashibhushan e outros compreenderam esse dia que o corpo de Sri Ma não era
senão um veiculo para a infinita Graça de Deus.
Seu corpo foi lançado num marulhar rítmico, seguindo Sua respiração, e, com os
membros estendidos, rodou sobre o solo ao compasso da música. Do mesmo modo que
as folhas caídas de uma árvore são movidas pelo vento, assim, ligeiros e delicados eram
Seus movimentos. Nenhum ser humano, apesar de seus esforços, poderia tê-los imitado.
Todos os presentes sentiram que Sri Ma estava brilhando sob efeito de forças celestiais
que moviam todo Seu ser com uma sensação como de ondas. Muitos tentaram detê-la,
sem êxito. Por fim Seus movimentos cessaram e Ela permaneceu imóvel como um
pedaço de argila. Parecia impregnada de uma felicidade que a tudo penetra e que a tudo
se estende. Seu semblante estava iluminado com uma luz celestial. Seu corpo inteiro
transbordando Ananda divino.
24
Em outra ocasião havia uma grande multidão durante o kirtan de Shahbag. Sri
Ma entrou num estado similar ao que acabamos de descrever. Porém, desta vez,
reclinou-se sobre o solo a partir de uma postura sentada. Tinha a respiração quase
suspensa. Estendeu as mãos e os pés e largou-se sobre o chão, com o rosto voltado para
baixo. Depois, rodou agilmente, num movimento como o de uma onda. Aos poucos,
como alguém que é arrebatado por um impulso ascendente, levantou-se do chão com
lentidão, sem apoio, e se manteve sobre os dois dedos gordos dos pés, tocando o solo
de leve. Sua respiração parecia haver parado completamente e tinha as mãos levantadas
para o céu. Seu corpo tinha só um ligeiríssimo contato com o chão, tinha a cabeça
dobrada para trás e os olhos dirigidos até a metade do céu, com um olhar fixo,
resplandecente. Avançou, dando alguns passos, como uma marionete de madeira se
move, levada pelas cordas ocultas do seu operador, que está atrás do cenário. Seus olhos
estavam radiantes de luz divina. Seu rosto sorria alegremente, com um riso
celestialmente doce e seus lábios faiscavam de gozo. Depois de um tempinho, apoiando
seu corpo inteiro sobre os dedos gordos dos pés e mantendo-se ao compasso do kirtan,
moveu-se como uma criatura do ar, como se todo o peso do seu corpo houvesse sido
retirado por um poder invisível.
Durante este período nos sentimos convencidos de que Seu corpo estava
possuído por forças divinas, que o faziam bailar numa variedade de preciosas posturas.
Parecia estar tão cheia de gozo extático que inclusive as raízes dos pêlos do Seu corpo
se engrossavam, ficando de pé. Sua tez tornava-se carmesim. Todas as expressões de
auto-inicio de um estado divino pareciam estar aglutinadas no estreito espaço do Seu
corpo; manifestavam as preciosas belezas do Infinito em incontáveis formas, elegantes e
rítmicas.
25
Outro dia ia para Dacca, saindo de Calcutá. Muitos meninos e meninas, senhoras
e cavalheiros, foram à estação para despedirem-se d’Ela. Todos estavam chorando
diante da perspectiva da separação. Sri Ma uniu-se a eles e também começou a chorar,
tão amargamente que foi impossível pará-la. Uma multidão havia se reunido. Disseram:
“O mais provável é que a mulher que chora seja uma noiva recém-casada que estão
levando embora da casa de seus pais para a casa do marido.” O impulso continuou
desde o meio dia até o anoitecer.
Um dia, me perguntou: “Onde está o centro do seu riso e do seu pranto?” Minha
resposta foi: “Ainda que todo estímulo proceda do cérebro, o verdadeiro centro está em
algum ponto perto do coração.”
Mataji se deu conta de minha confusão e disse: “Percebeu agora onde reside o
centro de nosso riso e de nosso pranto? Quando um sentimento ou pensamento é
expresso por uma só parte do nosso corpo, não atua com toda sua força.”
Escutei Sri Ma dizer que quando todos os pensamentos do devoto fluem numa
corrente para Deus, as vibrações discordantes do mundo exterior, ao serem opostas às
suas aspirações, resultam dolorosas ao aspirante. Se, neste momento, alguém faz dano
inclusive a um animal ou planta, a vibração alcança o sadhaka, causando-lhe sofrimento
mental. Ondas adversas ou sensações de prazer golpeiam contra a firme corrente de sua
devoção a Deus. Enquanto o sadhaka está fortemente vinculado ao mundo exterior,
pensará que o que percebe pelos sentidos está totalmente dentro do seu “eu.” Nesta fase
até a queda de uma folha da árvore cria ondas no campo da sua consciência.
Durante as primeiras etapas da vida da Mãe, tudo o que ocorria em Seu mundo
exterior encontrava espontaneamente uma resposta n’Ela.
Foram deixados 4 de tais hinos sagrados, que puderam ser escritos por partes.
Quando nos dirigimos a Mataji para sua correção e verificação Sua resposta foi: “Se há
de ser, um dia ocorrerá. Não neste momento.” Um dos 4 hinos é o seguinte:
“Luz do universo e espírito que o controla e o guia, aparece entre nós. Desde Ti
uma teia de mundos se estende a cada momento. Dispersador de todos os temores,
aparece entre nós! Semente do Universo, Ser no qual resido. Estás presente nos
corações de todos os devotos. Tu, a quem tenho presente diante de mim, desvaneces os
temores de todos os seres criados. Encarnação de todos os deuses e muito mais. Tu hás
saído de mim e eu sou a epítome do mundo criado. Contemplemos a fundação mesma
do Universo, através de quem o mundo busca libertação. Tu te alças sobre Tua própria
natureza eterna e básica. Tu hás saído do Pranava, a semente do mundo e fundamento
de toda existência e da verdade de tudo. Os Vedas não são senão chispas de Tua eterna
luz. Tu simbolizas a parelha celestial, Kama e Kamesvari, que se acham dissolvidos
juntos na felicidade suprema que tudo impregna e representados por Nada e Bindu,
quando se diferenciam para conservar Tua Lila. Dispersa, Tu, os temores deste mundo!”
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“Em Ti busco refúgio. És minha proteção e meu lugar final de descanso. Leva
Tu todo meu ser dentro de Ti. Como Salvador, aparece em duas formas: o libertador e o
devoto que busca libertação. Só por mim todos são criados a minha própria imagem; por
mim são todos enviados ao mundo; em mim encontram todos refúgio final. Sou a causa
primeira indicada nos Vedas como Pranava, sou Mahamaya e Mahabhava, todos em
um. A devoção a mim é a causa de Moksha (libertação). Todos são meus. Rudra deve
todos seus poderes a mim. Assinalo a glória de Rudra que se faz manifesta em todas as
ações e em todas as causas.”
Em conexão com esses hinos, Sri Ma disse certa vez: “A Causa primeira do
Universo é a Palavra Eterna única; com a evolução dessa palavra sempre perdurável, o
progresso da vida material da criação continua por linhas paralelas.”
Durante esta fase da vida de Mataji em que se revelaram muitos desses hinos,
Sua voz se tornava às vezes aguda e penetrante como uma espada; outras vezes era tão
doce como uma brisa da noite; em determinados dias respirava uma força cheia de
tranquilidade e profunda felicidade, como um influxo de um céu de lua cheia no meio
da noite. Com as mudanças nas melodias, a expressão de Seus olhos e de Seu rosto
sofria as transformações correspondentes.
PODERES YÓGUICOS
Sri Ma disse que durante um tempo Seu corpo atravessou uma etapa na qual as
diferentes posturas yóguicas (asanas, mudras, etc) se manifestavam de forma natural.
Geralmente apareciam também quando estava recolhida, longe da vista dos homens. Em
conexão com isto Mataji declarou certa vez: “Do mesmo modo que uma semente deve
manter-se na escuridão, sob a terra, antes que saiam brotos, assim também, em
consequência das práticas de um sadhaka, produzem-se muitas mudanças sutis que
passam bastante despercebidas.”
Às vezes Suas mãos, pés e pescoço se dobravam com uma volta tão rígida que
parecia não haver possibilidade que voltassem a sua posição normal.
Numa ocasião, Sri Ma disse: “Este corpo reluzia com uma luz tão brilhante que
se iluminou todo o espaço ao redor dele. Essa luz parecia estender-se gradualmente,
envolvendo todo o universo.” Neste estado, Ela precisava cobrir o corpo com uma roupa
ou pano extra e retirar-se durante muito tempo para um canto solitário da casa.
Durante este período Seu corpo emanava tal poder divino que, diante de Seu
olhar, as pessoas esqueciam tudo sobre si mesmas e ficavam impregnadas de prazer
celestial. Ao tocar Seus pés, alguns caíam inconscientes. Os locais onde Ela se sentava
ou encostava se esquentava intensamente.
Também observamos em várias ocasiões que se, durante aquelas fases de auto
absorção, Ela era deixada consigo mesma durante vários dias seguidamente, geralmente
esquecia como falar ou rir ou inclusive esquecia como diferenciar entre diferentes
utensílios de comer ou beber. Muita gente deseja presenciar exemplos de seus poderes
ocultos. A eles sugeria-se que ficassem alguns dias perto d’Ela e experimentassem as
maravilhosas influências espirituais que irradiam d’Ela em cada momento, pelas quais
inclusive os corações mais estéreis floresciam com uma nova vitalidade. As pessoas são
imperceptivelmente guiadas à órbita de Sua expansiva vida espiritual por Sua vontade
natural de assegurar o bem estar de todos os seres sensíveis.
Uma tarde fui a Shahbag com Niranjan. Sri Ma e Bholanath estavam sentados.
Havia alguns desenhos no chão. Bholanath disse: “Tua Mãe desenhou estas figuras dos
centros vitais do corpo humano.” Ao ouvir isto Ela disse:
“Enquanto passeava, ao meio dia, sentei-me aqui numa postura yóguica, quando
observei alguns centros vitais em forma de lótus, desde o centro mais alto no cérebro,
descendo ao longo da coluna até o mais baixo, separados poucas polegadas uns dos
outros. Vi claramente como desde a ponta mais baixa da espinha dorsal até acima
estavam colocados muitos centros, mais e mais finos, dos quais somente os seis
principais foram aqui desenhados. Não os desenhei deliberadamente, minha mão
moveu-se por si mesma sobre o solo e assim saíram estes desenhos.”
“Você deve notar que, através destas áreas vitais de nervos entrelaçados,
funcionam os impulsos herdados, as propensões adquiridas, emoções, diferentes
instintos, ciclos de pensamentos e noções sobre a vida e a morte, etc, que encontram seu
caminho até embaixo desde o centro mais alto, no cérebro, em resposta ao estímulo
recebido de todos os órgãos dos sentidos. Correntes de vida e de fluido vital circulam
veloz ou lentamente através desses canais e guiam os processos vitais e correntes de
pensamento do homem. Tal como a terra, a água, o fogo, o ar e o espaço além da
atmosfera se interpenetram uns aos outros, assim também estes seis centros principais se
encontram dentro do corpo aparentemente um em cima do outro, mas funcionando em
mútua interdependência, como uma cadeia vital. Uma pequena reflexão os convencerá
de que o jogo da vida tem lugar nos centros altos de vossos corpos, quando vossos
pensamentos são puros e estão cheios de gozo. Assim como os mananciais de água
situados no fundo de um poço ou de um depósito mantém seu constante abastecimento,
ou igual à seiva da vida das plantas se encontra sob a terra, na parte profunda perto das
raízes, também no extremo mais baixo da espinha dorsal (muladhara) se encontra
adormecida a fonte de gigantescas forças vitais, derivadas, em última instância, do sol,
desde onde se emitem as correntes de vossa vida. Quando, com grande paciência e
pureza, vocês se esforçam em limpar seus veículos interiores e exteriores, as vibrações
resultantes de seus pensamentos se encontram com centros cada vez mais altos,
liberando sua tensão, soltando a força vital reprimida no centro mais baixo para buscar
saídas mais acima. Então todo o torpor, instintos originais e samskaras (disposições
mentais herdadas de encarnações anteriores) se desvanecem gradualmente, como a
névoa sob os raios do sol. Junto ao desatar do obstáculo, nosso apego aos objetos dos
sentidos começa a relaxar-se e a vida interior começa a tomar forma.”
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“Quando o devoto chega mais além do centro vital mais alto, percebe
interiormente diferentes sons e o devoto chega a sentir sons de conchas, flautas,
campainhas, etc, todas se submergindo no ritmo cósmico de uma grande voz de infinito
silêncio. Neste estado nenhum pensamento ou objeto do mundo exterior pode distrair
sua atenção. Enquanto avança, seu ser se dissolve na profundidade sem fundo dessa
musica prazerosa que impregna o universo inteiro e encontra repouso eterno.”
Um dia Sri Ma foi ao Siddheswari Ashram com todos os que estavam presentes.
Esse lugar estava então muito abandonado. Havia uma base com um altar de um quarto
de metro por meio metro quadrado de altura. A Mãe sentou-se nela. Todos os devotos
sentaram-se ao redor em silêncio, absortos em seus próprios pensamentos. Seu corpo se
encolheu gradualmente a um tamanho tão pequeno que todo mundo tinha a impressão
de que só sobraria Seu sári sobre o altar. Ninguém podia vê-la. Todos se perguntavam o
que aconteceria. Gradualmente houve uma agitação sobre o tecido e muito lenta e
suavemente um corpo tomou forma e Ela apareceu, sentada em posição ereta. Durante
quase meia hora olhou o céu, com olhar fixo, e disse então: “Como ocupação de suas
vidas, vocês reduziram este corpo.”
31
Sri Ma disse: “Tal como uma pipa de papel voa alto no céu, contando com uma
fina linha, assim o yogue, contando com sua respiração vital e uma fina corda de
samskara, pode flutuar no ar, pode encolher seu corpo físico ao tamanho de um grão,
assumir um tamanho enorme ou inclusive desvanecer-se.”
Ouvimos que muita gente recebeu iniciação de Sri Ma durante o sonho enquanto
outros obtiveram flores junto com mantras e encontraram depois estas flores ao
acordarem.Mas nenhum de nós tem conhecimento algum de que Mataji houvesse
iniciado a um devoto em forma física.
Também ouvimos de muita gente que, em suas próprias casas, longe de Sri Ma,
ficaram sobressaltadas ao encontrar sua figura presente ante seus olhos por um período
muito curto.
Também havia casos nos quais Sri Ma passava perto de um grupo de homens,
mas só um ou dois deles podiam vê-la. Disse: “Estou sempre presente com todos vocês,
mas vocês têm pouco desejo de me ver. Que posso fazer? Estejam seguros, tenho meus
olhos fixos no que fazem ou deixam de fazer.”
Sri Ma nos disse que estando se movendo ou estando em repouso, nada muda
n’Ela. Está sempre muito desperta. Às vezes, depois de levantar-se da cama, disse ter
visto certos incidentes que aconteceram em determinados locais. Posteriormente, ao se
investigar, pode-se confirmar a exatidão de Suas declarações.
Eu costumava ver Sri Ma ao meu lado, bem como uma luz de relâmpago ou
como uma indefinida figura imóvel; às vezes tomava uma forma definida e condensada
e se deslocava ao meu redor, dando algumas voltas que duravam às vezes até Seu
desaparecimento.
No fim de 1930, Sri Ma se alojava no Cox’s Bazar, umas 300 milhas de Dacca.
Eu estava sentado em minha cama, em Dacca, durante as primeiras horas da manhã,
pensando n’Ela, quando a ouvi sussurrar: “Levante um templo dentro da área do
Ashram.”
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Voltei a mim bruscamente quando a escutei. Sabia que Sri Ma nunca ordena a
ninguém que faça nada. Meditei uma e outra vez sobre isso. Achei que tais sussurros
tinham que ter vindo de Sri Ma. Mas uma dúvida não saía de minha cabeça: “Por que
Seu sussurro era tão indistinto?” Sua voz normal era inconfundível, bem definida,
ressonante, vital. Mas quando escrevi uma carta para o Cox’s Bazar, soube que Ela
havia estado guardando silêncio alguns dias e, exatamente nesta manhã, às oito horas,
havia começado a falar. Quando Sri Ma regressou a Dacca, me informaram que havia
murmurado algumas palavras pela manhã, mas poucas pessoas tinham podido distingui-
las. Depois de escutar esse mandado de Sri Ma, empreendeu-se a construção do templo
com grande fervor.
Ela sempre disse que pode ver os corpos etéreos de santos que morreram há
muito tempo. Um dia falou: “Tal como vocês estão sentados ao meu redor, há muitos
espíritos incorpóreos congregados aí. São tão reais quanto vocês mesmos.”
Disse também que pode ver as diferentes formas que tem as diferentes
enfermidades. Quando buscam admissão em Seu corpo, Ela lhes permite entrar. “Como
só há Uma vida neste universo, as enfermidades não são nem chamadas nem afastadas
por mim. Tal como vocês são uma fonte de alegria para mim, elas também são.”
Em Maio de 1929 Sri Ma partiu de Dacca mas, por alguma razão, vários
obstáculos impediram Sua livre travessia. Quando retornou a Dacca, em Agosto, tinha
febre. Em Seu corpo começavam a aparecer muitos sintomas sobrenaturais. Mandou
que permitissem a Seu corpo adotar vários asanas, sentada ou estendida sobre o chão, de
acordo com Seus impulsos espontâneos. Isto continuou durante uma hora completa. Sri
Ma disse depois que todas elas haviam sido posturas yóguicas. Ao ver estas
manifestações as pessoas temiam que Ela renunciasse a Seu corpo. Em outra ocasião
aconteceu que a Seus membros faltavam coesão; tanto de pé como sentada, Seus
membros pendiam soltos e não podiam mover-se a não ser que fossem adequadamente
sustentados. Junto a estas reações, teve febre alta, frouxidão no ventre e todos os
sintomas de hidropisia. Passaram-se três ou quatro dias desta maneira, quando
Brahmacharini Gurupriya Devi lhe implorou: “Ma, não podemos mais nos organizar
para cuidar do Seu corpo, tem compaixão de nós.” Depois desta oração, a debilidade
desapareceu do corpo de Sri Ma, mas a febre e outros sintomas continuaram, como
antes. Durante uns seis dias se verteram sobre Sua cabeça 60 ou 70 cubos cheios de
água, entre as 11:00 e as 17:00 horas, mas a temperatura nunca abaixou. Ela não queria
tomar medicamentos. Chamaram um doutor ayurvédico que a examinou e disse:
“Podemos tratar seres comuns, normais, mas os sintomas de Ma são totalmente
diferentes.” Ao encontrá-la prostrada sobre a cama, todos os devotos se encheram de
profunda inquietude e rezaram para que curasse Seu próprio corpo.
Na manhã seguinte Sri Ma disse: “Preparem um prato de arroz para este corpo.”
Ela, que havia estado obrigada a ficar de cama, com febre alta e hidropisia, prostrada
seguidamente, sem nenhum movimento durante 17 ou 18 dias, estava receitando a Si
mesma Sua dieta normal de arroz, lentilhas e verduras! Todos estavam surpresos.
Assim pois, segundo Suas instruções, preparou-se arroz, lentilhas e verduras. Três ou
quatro pessoas estiveram atarefadas mantendo Seu corpo na posição e introduzindo
comida em Sua boca. Comeu uma pequena quantidade de cada prato. Depois de uma
febre prolongada, muitos teriam sofrido sérias complicações como resultado de uma
dieta assim, mas Ela, gradualmente, se recuperou.
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Em todas Suas ações parece que a natureza, obediente à Sua vontade, ajuda Seu
corpo a funcionar. Estou convencido de que, se prestarmos atenção à expressão natural
de Sua vontade, nos absteremos de perturbar a atmosfera ao redor d’Ela com vibrações
de nossas predileções e aversões individuais e, se fizermos somente o que Ela diz,
poderemos desfrutar de uma ilimitada felicidade presenciando o belo funcionamento de
Sua vontade. Ao mesmo tempo, teremos a boa sorte de obter muitas oportunidades para
nos auto-cultivarmos.
Um dia eu estava passeando com a Mãe no Ramna Maidan. Ela não falou. Dei-
me conta que o espírito do silêncio absoluto havia se apoderado d’Ela. Voltou depois de
andar um tempo sem direção. Durante oito ou dez dias esteve absolutamente muda.
D’Ela não emanavam nem sinais, nem gestos, nem sugestões, nem sequer um sorriso.
Costumava sentar-se caladamente absorta em Seu próprio Ser interior. Se alguém lhe
falava, nem Seus olhos nem Sua atenção eram atraídos para ele. Estava sentada,
concentrada no interior, como a estátua do Senhor Buda. Quando comia, Seus lábios se
separavam só um pouco, para fecharem-se de novo pouco depois de tomar um pequeno
bocado.
34
Durante este estado de silêncio parecia que Sua conexão com o mundo exterior
se havia cortado completamente. Depois de uns dez dias começou a cochichar umas
poucas palavras quebradas. Tivemos a impressão de que estava reaprendendo a utilizar
Seus órgãos vocais e a recobrar o poder da fala. Assim passaram três dias, até que
gradualmente reassumiu Sua forma normal de falar. Tive a boa sorte de ver Sri Ma duas
ou três vezes neste estado.
Nestas fases de silêncio Seu aspecto transbordante, Sua sólida mas serena
compostura, Seu aspecto afável e rosto resplandecente, todos eles despertavam nosso
amor e reverência. Quanto mais a olhávamos, com Seus olhos pensativos, maior se fazia
o desejo de olhá-la. No começo, quando após Seu matrimônio, Sri Ma guardou silêncio
durante três anos, muitos expressaram sua tristeza, pensando que Ela havia ficado
completamente muda e diziam: “Ai, é uma pena, uma grande injustiça de Deus; fez com
que esta bela jovem ficasse muda, ainda que lhe houvesse dado as melhores virtudes do
sexo feminino.”
Sri Ma disse: “ Se você deseja guardar verdadeiro silêncio, teu coração e tua
mente devem fundir-se tão estreitamente em contemplação que toda natureza, tanto
dentro quanto fora, fique congelada, como se fosse uma pedra. Mas se você deseja
meramente abster-se de falar, isso é outra questão.”
ESTADO DE SAMADHI
Quando nos aproximamos de Sri Ma com o pedido de que nos fizesse saber os
diferentes estados de Samadhi, Ela nos indicou quatro níveis:
Certo dia, enquanto Ela andava pela casa ou estava sentada, depois de entrar nela
com ar de naturalidade ou depois de rir-se ou falar umas poucas palavras, Seus olhos se
abriam muito, com um olhar vazio, e todos os Seus membros relaxavam-se de modo tão
sobrenatural que Seu corpo parecia derreter-se sobre o solo.
Podíamos então observar que, tal como o suave disco dourado do sol poente,
todo resplendor de Seus modos e expressões habituais se desvaneciam pouco a pouco de
Seu semblante, para dentro de misteriosas profundezas.
Quando Sri Ma voltou à consciência física, Sua respiração voltou a ser mais e
mais profunda e com ela reviveram todos os movimentos dos Seus membros. Em
determinados dias, pouco depois deste despertar, Seu corpo recaía uma vez mais na
condição inerte anterior, com tendência a congelar-se uma vez mais no estado de
Samadhi. Quando lhe abríamos os olhos com a ponta dos dedos, havia um olhar vazio
em Seus olhos e, em seguida, as pálpebras se fechavam de novo automaticamente.
Quando, depois do Samadhi, recuperou Seu estado normal, Seu corpo inteiro
parecia estar inundado de alegria. No umbral do despertar, às vezes ria ou ria e chorava
ao mesmo tempo.
Durante o Samadhi Seu rosto perdia toda vivacidade, o corpo parecia estar muito
frágil e débil e em Seu aspecto geral não havia, em absoluto, expressões nem de alegria
nem de dor. Neste estado tardava muito mais em recobrar Seu Ser normal. Em 1930,
quando veio ao Ramna Ashram, sempre parecia haver perdido todo sinal de vida
durante o Samadhi e passava quatro ou cinco dias seguidos sem resposta a nenhum
estímulo exterior. Durante todo o evento, do princípio até o final do Samadhi, não havia
indícios de que estivesse viva ou pudesse jamais voltar a estar. Seu corpo ficava tão frio
quanto o gelo e permanecia frio durante muito tempo depois que lhe voltava à
consciência.
Ao perguntar-lhe, mais tarde, soubemos que enquanto estava neste estado, sentia
uma corrente de vida fina como se fosse um fio, fluindo desde o extremo inferior da
espinha dorsal diretamente até o centro mais alto do cérebro e, junto a ela, uma sensação
de satisfação percorria cada fibra do Seu corpo, até os poros dos pêlos. Nesses instantes
sentia que cada partícula de Sua armação física bailava em infinitas ondas de felicidade.
Tudo aquilo que via ou tocava lhe parecia ser uma parte vital de Si mesma. Seu corpo
físico gradualmente deixava de funcionar. Se, naquele momento, sua coluna vertebral
ou as articulações eram massageadas por um longo período, permanecia quieta durante
um tempo e recobrava Sua condição normal. Era nesta fase que a encontrávamos
transbordando de felicidade celestial e Seu aspecto tinha todo o indício de alguém que
se havia perdido no amor universal.
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Certa vez, ao cair da noite, Sri Ma estava prostrada num estado de Samadhi.
Nossa Didima estava sentada sobre a cama, ao seu lado. Pitaji também estava no
quarto. Lá pelas duas da manhã eu estava sentado no terraço, meditando sobre os pés de
lótus da Mãe. Senti uma emocionante sensação em meu coração, produzida pelo som de
seus passos. Abri os olhos mas não pude ver nada. Escutei um leve som dentro do
quarto. Quando deixei meu assento observei duas pequenas marcas dos pés de Mataji.
Poucos dias mais tarde, disse a Mataji: “Ouvi falar que não é possível para
ninguém deslocar-se com o corpo físico durante o Samadhi. Como pude ter sentido
Teus passos naquela noite?” Sri Ma disse: “É possível que um homem possa explicar
todas as coisas com palavras?” e continuou em silêncio.
Em outra ocasião lhe perguntei: “Quais são os sinais de um sadhaka?” Ela disse:
“quando um devoto alcança certo nível de pureza mental, pode vir a se comportar como
um menino ou que se torne insensível aos estímulos do mundo, como um coágulo de
matéria inerte, ou que viole todos os cânones da vida social como se fosse um louco, ou
que, às vezes seja sacudido por rajadas de pensamentos e emoções elevadas e passe por
santo. Mas, através de todas estas diversas formas de vida seu propósito permanece fixo
no objetivo central. Se, nesta fase, se esquece de sua intenção final, seu progresso se
detém aí.”
“Mas, se com um intenso esforço, continua as tentativas até seu objetivo, todas
suas atividades se centrarão ao redor do objetivo supremo. Sempre se verá que,
inclusive ainda que pareça uma massa de matéria inerte, indiferente a estímulos
externos, estará pleno de alegria e felicidade, tão logo recupere sua consciência física.
Gradualmente, segundo vá estabelecendo nele este humor jubiloso, sua relação com as
pessoas e as coisas irá se tornando imbuída de um espírito de alegria e prazer, que o faz
querido e adorado por todos. Sua vida interior e exterior se converte numa expressão da
única Felicidade Suprema.”
“Na fase seguinte, o devoto alcança um nível onde inclusive o conceito de uma
existência universal desaparece. Então sua forma de vida não pode ser explicada pelos
cânones normais do raciocínio humano. Neste estado, todas as vibrações de sua mente-
corpo ficam suspensas e há muita probabilidade de que a alma saia de sua estrutura
mortal. Mas se há um resíduo de um samskara forte, que assegure o bem estar humano,
é possível que continue vivendo durante certo período de tempo. Permanece, entretanto,
inalterável, em todas as circunstâncias da vida, ainda que pensemos que é suscetível de
mudar simplesmente porque retém seu corpo.”
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“A única diferença entre este devoto e o yogue que abandona o corpo é que este
último deixa o corpo pelo esforço de sua própria vontade. Inclusive no momento da sua
saída do corpo físico, retém a consciência de que tem um corpo que está abandonando,
enquanto que a pessoa que abandona seu corpo num estado de completo Samadhi não é
consciente de seu corpo individual nem de esforço algum ao abandoná-lo. Os samskaras
da vida e da morte deixam de funcionar nele e tão logo o carma de suas vidas passadas
se esgota, o corpo se desprende de modo natural.”
Suas instruções são do tipo universal, pensadas para todos os homens. Ainda
assim sua importância real nem sempre é compreendida por pessoas como nós. Apesar
disso, quando algumas de Suas palavras iluminam a mente de uma pessoa específica, a
consciência que esta alcança por seu próprio conhecimento limitado encontra expressão
em sua vida de acordo com sua própria capacidade de avançar. Não é fácil imaginar
quão infinitamente variados são os riachos que fluem desde o Himalaia até as planícies
da Índia, através das geleiras, cataratas, rios e fontes, enriquecendo e fertilizando muitas
regiões estéreis. Ainda que o Himalaia não perca nada enviando estas correntes
perpétuas, o bem estar do mundo se assegura com elas. Um caso similar é o de Sri Ma e
Seus devotos.
Aqueles que têm observado a face reluzente de Sri Ma, sempre com um sorriso
radiante, Sua ilimitada simplicidade quase infantil, Seus chistes brincalhões, fluindo de
um coração transbordante de emoção divina, devem ter ficado encantados muito mais
do que se pode imaginar. Em todas Suas palavras e expressões, em cada um de Seus
olhares e gestos, reina uma doçura que não tem igual em nenhum outro local. Uma
fragrância divina emana de Seu corpo, de cada uma de Suas expirações e de Seus
aparatos e roupas de cama. Quando canta, pensamentos e idéias divinas emanam da
fonte interior de nossos corações.
Mataji sempre disse: “Não tenho nada novo para ver, ouvir ou dizer.” Não
obstante, ocorre que até as coisas mais simples parecem atrair Sua atenção até um grau
que faz com que nos sintamos inclinados a compará-la a uma menina encantada com
sua preciosa boneca.
Não há fim as divertidas brincadeiras que mantém com Seus devotos. Numa
ocasião desejavam vê-la vestida como Krishna menino e também de jovem, no começo
da adolescência. Os devotos se organizaram para vesti-la. Há duas fotografias que
mostram estas caracterizações. Que impressionantes são as expressões de Sri Ma nestas
duas diferentes poses! A beleza de Seu rosto revela o encanto de Sri Krishna quando
menino e ao converter-se em jovem. É realmente inconcebível de que oculta fonte saiu
um resplendor divino semelhante para dar a Seu aspecto tanta ternura, a Seu semblante
uma expressão tão sossegada e afável, a Seu rosto um halo assim de pureza e doçura e a
Seus membros uma flexibilidade tão ágil. Não é só algo estranho, mas sim sobrenatural
e sem precedentes.
Em Seu riso franco as fibras do Seu Ser se juntavam e dançavam. Aqueles que
estavam presentes nesse momento puderam ver o brilho de luz sagrada que iluminou
Seu semblante; um riso tão puro e sincero é difícil encontrar num ser humano. A
fotografia revela muito imperfeitamente só uma fração de Sua expressão real.
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Onde quer que Sri Ma vá, Sua presença leva uma doçura delicada, impregnando
os pensamentos e idéias das pessoas que se congregam ao Seu redor. Qualquer que
possa ser a natureza de nossos pensamentos, sempre nos sentimos agradavelmente
surpresos ao ver que nossa mente está sendo purificada e refinada por Sua sutil
influência. A visão de Sri Krishna despertou um efeito maternal em Yashoda,
sentimentos amorosos em Sridama e Sudama e um amor desinteressado nos corações
das vaqueiras de Brajadhama. A presença de Sri Ma também induz a diversas fases de
amor e adoração devocional em diferentes almas.
Desde Sua tenra infância esteve jogando com as principais fontes da vida
humana. Seus camaradas não conhecem alegria sem Sua companhia. Quem quer que
entre em contato com Ela, crianças, jovens, velhos, ficam tão encantados que
normalmente perguntam, ao ir embora: “Quando voltaremos a nos encontrar?” Aonde
quer que vá uma multidão se reúne em deleite. Uma onda de prazer intoxicante agita
com nova inspiração a centenas de milhares de homens e mulheres e suas almas dançam
em resposta a Suas doces palavras e expressões. No momento em que deixa o local,
sentimos a sensação de vazio. Houve também pessoas que, ao vê-la com o cabelo
desarrumado, o jeito despreocupado de se vestir e os modos descuidados, chegaram a
considerá-la uma mulher excêntrica e tentaram evitar Sua presença, mas, sem querer, já
não podiam desgrudar seus olhos d’Ela.
Vimos muitos exemplos onde, com um mero olhar, Sri Ma deteve a chuva ou,
com um leve sorriso ou com uma ruidosa gargalhada, colocou fim a todas as disputas ou
demonstrações de má vontade entre Seus devotos.
Sri Ma, por Sua própria natureza, tomava muito pouca comida. Chega a ser
difícil imaginar como uma pessoa possa viver com uma dieta tão escassa. Nas primeiras
etapas da Sua vida, quando se manifestaram em Seu corpo muitos processos yóguicos,
passou muitos dias sem tomar sequer uma gota de água. Não sentia nenhuma inclinação
a comer até que não cessassem os processos yóguicos. Durante estes dias de jejum
completo ou parcial, Seu aspecto era reluzente e alegre, Seu corpo ágil, cheio de saúde e
vigor habituais.
Desde muito cedo se ajustou a uma dieta muito restrita. Passou cinco meses
comendo só um punhado de comida, logo antes do anoitecer. Durante uns oito meses
somente comia três bocados de arroz de dia e três à noite. Durante cinco ou seis meses
viveu a base de um pouco de frutas e água, que tomava duas vezes ao dia. Houve uma
ocasião em que passou cinco ou seis meses comendo uma pequena quantidade de arroz
somente duas vezes por semana; nos outros dias, um pouco de fruta.
Desde 1926 já não pode comer com Suas próprias mãos; sempre que tentava
levar comida à boca Sua mão se afrouxava e grande parte da comida caía entre Seus
dedos. Isto não era devido a nenhuma enfermidade. Nessa época decidiu-se que a
pessoa que costumava alimentá-la devia, uma vez de dia e outra à noite, dar-lhe somente
tanta comida quanto pudesse pegar com as pontas dos dedos. Desta maneira passaram
uns cinco meses. Em dias alternados bebia uma quantidade pequena de água. Durante
seis meses comeu três grãos de arroz fervido pela manhã e três à noite e duas ou três
frutas maduras, que haviam caído das árvores de modo natural. Às vezes acontecia que
a comida lhe tocava somente os lábios e depois caía. Durante uns três meses comeu
tanta comida quanto era possível colocar em Sua boca de uma só vez. Durante oito ou
nove meses comeu somente cinquenta gramas de arroz misturado com lentilhas
(fervidas no tacho sacrificial) ou uma pequena quantidade de sopa de verduras
misturadas com um pouco de arroz fervido. Durante vários dias seguidos viveu de uma
pequena quantidade de leite ou de uma ou duas fatias de pão sem levedura. Também
passava vários dias completamente sem comida.
43
Depois de deixar de comer arroz por alguns dias, não podia nem sequer
reconhecê-lo. Havia uma servente de Kahar em Shahbag, que estava comendo arroz.
Quando Sri Ma a viu, disse: “O que você está comendo? Eu também comerei com ela.”
Um dia encontrou um cachorro que estava comendo arroz e começou a dizer
lastimosamente: “Quero comer, quero comer!” Quando lhe impediam tais impulsos,
costumava jogar-se no chão durante um tempo, como uma menina irritada. Uma vez Sri
Ma disse espontaneamente: “O homem tenta abandonar seus velhos hábitos. Meu
costume é totalmente diferente. Penso em modos de recuperar os velhos hábitos. Vocês
têm que alimentar-me com três grãos de arroz fervido por dia, de outro modo perderei o
hábito de comer arroz, tal como esqueci como usar as mãos para pegar a comida.”
Aqueles que costumavam alimentá-la tinham que estar alertas para comprovar
que não lhe fosse dada nem uma partícula de comida a mais do que Ela queria. Tinham
que levar uma vida pura, de autocontrole; os utensílios de cozinha e os talheres tinham
que estar escrupulosamente limpos e puros. Não sendo assim Ela não podia engolir a
comida ou virava o rosto ou levantava-se automaticamente. Costumava dizer: “Não há
diferença entre este corpo e um torrão de argila. Posso comer a comida posta no chão ou
em qualquer outro lugar, da forma que eu queira; mas respeitem a higiene; a limpeza e
outras regras e obrigações sociais são necessárias para vossa educação, por isto este
corpo segue automaticamente esses regulamentos.”
Sri Ma disse: “Ninguém pode deixar de trabalhar com a força da sua vontade.
Quando seu carma se esgota, todo trabalho cessa automaticamente.”
A partir de Maio de 1926 as regras mais rígidas relacionadas com Sua dieta se
relaxaram . Mas o que Ela comia, a despeito de tudo, era extremamente pouco.
Poderíamos dizer que era a ração de um bebê! Quatro ou cinco anos depois de haver
deixado de comer com Suas próprias mãos, alguns devotos expressaram sua grande
ilusão de vê-la comendo sozinha de novo, como antes. Por pedido deles, aceitou tentar e
sentou-se com os pratos colocados à Sua frente. Mas, depois de colocar um bocado de
comida na boca, deu um pouco aos outros e esfregou o resto sobre o chão. Não podia
comer nada. Depois disso, ninguém mais pediu que comesse com Suas próprias mãos.
Disse: “Considero todas as mãos como minhas: de fato, sempre comi com minhas
próprias mãos.”
Quando via que outros eram incapazes de fazer algum trabalho, ia em sua ajuda
e, para surpresa de todos, o resolvia com facilidade. Os pratos de comida preparados por
Ela eram deliciosos e portanto, quando havia uma festa, era requisitada para dirigir a
cozinha.
Sri Ma gostava muito de distribuir comida entre todas as pessoas, tanto adultos
quanto crianças. Ela podia privar-se de comer e de qualquer conforto pessoal, desde que
pudesse satisfazer aos demais. Numa ocasião um sadhu foi do Gujarat à Shahbag, em
Dacca. Com a borda do Seu sári, Ela limpou seu assento e o entreteve com Sua habitual
humildade e doçura. O prato de comida estava tão esmeradamente servido que parecia
estar, por assim dizer, santificado por seu grande amor e desinteressado espírito de
serviço. Ao ir embora o sadhu disse: “Hoje recebi comida da Mãe do Mundo. Nunca em
minha vida me haviam servido com tanto cuidado e pureza.”
Sempre que podia, cozinhava para todos os devotos de pouca idade e, com afeto
maternal, lhes servia a comida. O prasad recebido de Suas mãos despertava um júbilo
sem precedentes no coração de Seus devotos. Muitos incidentes misteriosos ocorriam
quando o prasad era distribuído. Um dia a esposa do finado Niranjan Roy trouxe umas
laranjas para Sri Ma. Ela mesma as distribuiu, pois todo mundo ali presente exclamava:
“Quero prasad das mãos de Mataji!” A quantidade de laranjas era muito pequena para o
grande número de pessoas que as pedia. Tudo indicava que faltariam laranjas. Mas os
modos de Sri Ma são inescrutáveis; todo mundo recebeu uma laranja e não sobrou
nenhuma. Num outro dia houve uma festa de kirtan na casa de Niranjan, em Dacca.
Preparou-se comida para umas 60 pessoas mas o número de convidados aumentou até
aproximadamente 120. Sri Ma se deu conta e permaneceu no canto da casa em que
estava a comida até que se terminou de servir. Depois de todos comerem se comprovou
que ainda restava comida.
Ela nunca tinha mais do que duas mudas de sári para usar. Normalmente dava
uma das duas, mas acontecia de tal modo que, tão logo presenteava uma delas, lhe
ofereciam outra.
Uma vez que Sri Ma parou em Kalighat e eu fui vê-la, um devoto a fez vestir um
sári de fino tecido de Dacca. Haviam decidido que Ma iria até a casa de Jnan Babu. Ao
saber que Mataji iria antes a outro lugar, me adiantei. Comprei um sári de uma
qualidade intermediária com a idéia de que, quando Ma chegasse à casa de Jnan Babu,
lhe dariam esse novo sári e, deste modo, Ela poderia deixar o mais fino e caro para a
esposa de Jnan Babu. Não revelei meu propósito para ninguém. Sri Ma chegou à casa de
Jnan Babu. Mas, para minha consternação, vi que havia colocado um sári muito normal,
pois o de tecido fino de Dacca, que tinha posto antes, já havia deixado no lugar que
tinha visitado antes. Eu estava surpreso, mas Ma ria toda vez que me olhava. Nenhum
dos presentes podia compreender o significado do Seu riso. Mais tarde, lhe confessei o
propósito tão ridículo com que eu havia comprado o sári.
Dei antes alguns exemplos da extraordinariamente pobre dieta de Sri Ma. Outros
poucos exemplos podem ser dados, mostrando como às vezes consumia quantidades
descomunalmente grandes de comida.
O finado Sri Tarak Bandhu Chakravarty, inspetor de escolas jubilado, que vivia
em Gandaria, Dacca, veio caminhando aproximadamente cinco milhas com uns doces
preparados em sua casa, com leite de sua própria vaca. Ainda não havia amanhecido
quando chegou. Sri Ma estava, contudo, na cama. Como uma criança impaciente o
ancião exclamou: “Ma, Ma, te trouxe uns doces preparados com especial esmero, não os
vai comer?”
Outro dia Baby vinha ver a Mataji com alguns doces que havia ela mesma feito.
Quando esta se encontrava a quase meia milha de distância Sri Ma, de repente, riu
fortemente e disse: “Chegam doces para mim.” Sentou-se como uma criança, desejosa
de comê-los.
Havia ocasiões nas quais, ao chegar alguém, exclamava: “Mostre o que você
trouxe para mim.” Assim expressava Sua alegria pelos regalos, com brincadeiras e com
muita felicidade. Por outro lado,os incidentes não eram raros, quando as pessoas tinham
que esperar muito tempo com suas oferendas, mas Sri Ma nem sequer os percebia.
Em outra ocasião, disse para minha esposa: “Por favor, prepare comida Sati para
a Mãe”. Foi feita de má vontade e enviada a Sri Ma. Logo soubemos que Ela nem as
tocou.
Está fartamente comprovado que algumas pessoas que, com grande devoção e
amor para Sri Ma, esperaram a certa distância e em silêncio lhe ofereceram todos os
seus melhores sentimentos, sentiram suas bênçãos no mais profundo do coração. Em
troca, havia outras que traziam montes de oferendas, rezavam e vertiam lágrimas para
obter Sua graça, mas não recebiam nem Seu ensinamento nem Sua atenção. Todo
mundo obtém uma resposta d’Ela de acordo com a sinceridade e a intensidade de sua
devoção. Suas bênçãos não dependem da natureza das coisas materiais que lhe são
oferecidas.
Nada aparece como estranho a Sri Ma, que vê todas as coisas sem a ajuda do
olho físico, que pode ler todos os pensamentos sem ser ajudada por palavras faladas,
que vê e ouve tudo, que vai e vem como o que está elevado nas alturas, completamente
alheio aos assuntos deste mundo e, entretanto, em vivo contato com eles. Dia e noite
esquecida de Seu conforto ou fadiga pessoal, Ela parece estar sempre esperando a todos
os homens, estejam estes aflitos ou à vontade.
O povo se congrega ao Seu redor desde a manhã bem cedo até tarde da noite.
Algumas pintam sua testa com vermelhão, outras decoram Seu cabelo e outras lhe
propõem dar-lhe banho e lavar-lhe o rosto ou a boca, ou lavar-lhe os dentes com pasta
de dentes. Pode ser que algumas lhe peçam permissão para trocar o sári, outros
expressam o desejo de colocar um doce ou uma fatia de fruta em Sua boca, algumas lhe
sussurram ao ouvido orações secretas, outras estão desejosas de que lhes conceda uma
entrevista privada. Alguns podem inclusive atrever-se a dispersar a multidão que a
rodeia dizendo: “Por favor, afastem-se, não molestem a Mãe deste modo.”
Mas, olhem a Sri Ma! Ela se senta, hora após hora, dia após dia, de forma
maravilhosamente tranquila, em meio a todo este ruído, tumulto e pelejas. Ela
permanece quieta e firme, com o rosto transbordando felicidade, atendendo a todo tipo
de pedidos ou rogos com tão amorosa graça que a atmosfera parece inundada de divino
gozo e felicidade. Pode ser que os corações das pessoas congregadas não estejam todos
igualmente atraídos por Sua dignidade, mas Seus olhares doces e compassivos se
depositam com igual ternura sobre todos os seres humanos, do mesmo modo que os
raios do sol do amanhecer. Entretanto, nunca se viu ninguém que se tenha afastado de
Sua presença desesperado ou desanimado.
Disse: “O mundo de Deus está feito de ambos, pessoas que entendem e que não
entendem Sua natureza. Ambos têm que ficar satisfeitos com os jogos que quiserem.”
Por esta mesma razão ninguém ainda foi capaz de dizer: “A Mãe não é minha, senão
tua.” Qualquer um que tenha a sorte de entrar em contato íntimo com Ela pode vir a
pensar: “Ma é minha, somente minha.” As pessoas têm aberto o mais profundo do
coração e, em consequência, tem encontrado uma nova esperança e uma nova paz.
Um dia, um amigo que havia regressado da Inglaterra havia pouco tempo, com a
cabeça embebida de idéias ocidentais, veio ver Sri Ma a meu pedido. Ele disse que, ao
vê-la, o mantra que havia recebido do seu guru muito tempo antes de viajar ao
estrangeiro e que havia quase esquecido, se reavivou em sua memória. Há muitos
exemplos que mostram como, só de sentar-se a Seus pés, as pessoas adquiriam o poder
de concentração e devoção que lhes permitia venerar a Deus e contemplar a divindade.
Também ouvimos falar de muita gente que, com a mera visão de Sri Ma ou ao
tocar Sua mão, se arrependeu dos pecados passados e avançou na vida espiritual. Numa
cidade grande de Uttar Pradesh uma senhora muito respeitável, a esposa de um oficial
do governo, veio ver Mataji. Depois de haver se sentado a Seu lado por um tempo, se
arrependeu tão profundamente de alguns de seus pecados passados que, ao voltar para
casa, confessou toda sua culpa ao marido, pedindo que a expulsasse e pusesse fim à sua
conduta viciosa. A Mãe chegou a saber disso, chamou os dois, marido e mulher e
encontrou os meios para restaurar suas relações domésticas normais. É bem sabido que
pessoas que normalmente eram menosprezadas por todos como pecadoras ou seres
desprezíveis, podiam encontrar a Sri Ma facilmente acessível e eram induzidos a
recuperar-se de seus costumes ruins. Mataji sempre disse: “Quero especialmente a
aquelas pessoas que não tem apoio que as sustente no caminho até uma vida pura.” Não
são raros os exemplos de pessoas completamente ignorantes da vida espiritual que
puderam sentir um impulso que os elevou, mediante a atitude de render-se a Ela. Por
outro lado, se comprovou que muitos pandits instruídos ou adeptos de práticas religiosas
vieram vê-la por alguns dias e logo voltavam cheios de vaidade. Sri Ma disse: “Nada
acontece a menos que haja chegado sua hora: todo mundo obtém o que merece.”
O que Ma diz é tão universal e tão atrativo que as pessoas sentem os desejos e
aspirações mais sublimes expressos em Suas palavras. Cada uma das frases que sai de
Seus lábios ilumina de forma natural um novo horizonte que é glorioso e perdura para
sempre. Ela não entra em nenhuma discussão elaborada ou argumento teórico, nem
tampouco dá com gosto nenhuma instrução ou ordem a ninguém. Uma pessoa obtém
d’Ela tanto quanto seja a intensidade do amor e devoção que a inspiram.
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Há muitos casos nos quais pessoas que se aproximaram d’Ela com problemas
encontraram, para surpresas suas, a resposta para suas dúvidas e dificuldades no curso
da conversa d’Ela com outras pessoas. Numa ocasião Sri Ma foi a Baidyanath Dham e
Brahmachari Balanandi lhe disse: “Ma, abra o tesouro do Teu peito.” A resposta foi:
“Sempre está aberto para todos.”
O tema central de suas palavras e expressões é este: vida e religião são uma só
coisa. Tudo o que faças para manter sua vida, trabalho e atividades diárias, todos
intentos de ganhar a vida, devem ser feitos com sinceridade, amor e devoção, com uma
firme convicção de que a verdadeira vida, na prática, consiste em aperfeiçoar a própria
existência espiritual em harmonia com o universo. Para levar a cabo esta síntese a
cultura religiosa deveria ser tão natural e fácil como comer ou beber quando temos fome
ou sede.
Disse: “Realize com seriedade, amor e boa vontade as tarefas diárias da vida e
tente se elevar passo a passo. Faça com que em todas as atividades humanas exista um
contato vivo com o Divino e não terá que renunciar a nada. Seu trabalho estará então
bem feito e estarás no bom caminho para encontrar o Senhor. Tal como uma mãe
alimenta seu filho com todos os cuidados e afetos possíveis e o faz crescer para que seja
um menino saudável e um jovem formoso, assim também encontrará que os sutis toques
da Divina Mãe modelam sua vida interior e o faz alcançar altura e estatura completa.
Qualquer que seja o trabalho que tenha que fazer, faça com resolução, satisfação,
simplicidade e toda alegria de que seja capaz. Somente assim poderá recolher o melhor
fruto do trabalho. Com a plenitude do tempo, as folhas secas da vida cairão de forma
natural e outras novas brotarão.”
Muitas vezes ouvimos Sri Ma dizer que quando costumava atender Suas
obrigações familiares estava completamente absorvida no trabalho e não tinha o menor
pensamento em seu vestido, comida ou corpo. Dedicava-se por completo as tarefas que
estavam designadas e levava a cabo o cumprimento das ordens de Seus maiores na
família com cuidadoso escrúpulo. Seus vizinhos sempre diziam: “A esta mocinha
recém-casada falta todo sentido comum.”
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Um dia Sri Ma estava ensinando os vários modos que há para saudar a Deus e
disse: “Quando você se inclinar para Deus, deixe-se perder completamente com uma
devoção firme e você obterá alegria e poder. Se não pode fazer outra coisa, pelo menos
pela manhã e pela noite, na hora assinalada, prostre teu corpo, tua mente, tua vida, ante
Ele, como saudação e entrega, e pense n’Ele, ainda que seja só um pouco.” Em conexão
com isto acrescentou: “Há duas classes de pranamas (reverência): uma é oferecer-Lhe o
corpo inteiro e a mente com todos os pensamentos, desejos, impressões dos sentidos,
amor, afeto, devoção, exatamente como ao esvaziar o conteúdo de um jarro inteiro, até
sua última gota. A outra forma é como ao espargir sal através dos buracos diminutos de
um saleiro: a maior parte dos teus pensamentos e desejos fica retido numa câmara
escondida da sua mente e somente se deixa escapar um pouco de sal.”
Pramatha Babu foi transferido de seu posto em Dacca como Chefe Geral dos
Correios. Foi ver Sri Ma para despedir-se d’Ela. A Mãe lhe disse: “Quem saúda quem?
Te inclinas ante ti mesmo.” Ele ficou cheio de assombro e alegria ao ouvir tal
comentário. Em outra ocasião o professor universitário Atal Behari Bhattacharji caiu
enfermo em Shahbag durante a folga do puja. Desejava ardentemente que Sri Ma viesse
vê-lo e lhe desse uma massagem em sua dolorida cabeça, como se fosse sua mãe. Mataji
foi e passou Suas mãos por cima de todo seu corpo, da cabeça aos pés. Uma vez
recuperado, regressou a Rajshahi, seu local de trabalho. Depois de alguns dias
discutiram este incidente em Shahbag. Eu comentei: “Ao cavalheiro faltava sentido
comum e sua inteligência era igualmente pobre. Não vejo com que propósito fez Sri Ma
realizar este serviço durante sua doença.” Tão logo Mataji escutou meu comentário, Seu
rosto mudou de cor. Disse: “Quem quer que eu faça uma massagem nos pés?” Com
estas palavras avançou até mim. Saí de perto e Ela me seguiu. Pitaji interviu e a deteve.
Até agora recordo a cara de menina de Sri Ma iluminada com calor maternal, sempre
ansiosa de atender, tranquilizar e servir a todos Seus filhos. Nesse momento Sj
Shashanka Mohan Mukherji gritou: “Ma, Ma” e caiu a Seus pés.
Em relação a este evento Sri Ma disse: “Do mesmo modo que um corpo humano
tem partes diferentes, como cabeça, mãos, pés, músculos, dedos das mãos e dos pés,
sinto que vocês representam meus diferentes membros. Todos pertencem a um só corpo,
cada um tem um trabalho para fazer, todos da mesma importância.”
Mataji começou a rir e disse: “O que você fez? Não fica doente uma pessoa ao
comer uma mosca?” Respondi: “Se por Tua boa vontade, a mosca passa a uma melhor
vida, não sofrerei nenhum dano.” E eu não fiquei doente.
Depois de uma meia hora vimos, para nossa surpresa, que Sri Ma saía do hall de
repente, rodeada de devotos que a seguiam com uma lanterna. Veio em nossa direção
com passos rápidos, tocou meu amigo com a mão direita e continuou andando. Nós três
seguimos Seus passos. Havia uma tumba de um santo muçulmano, muito bem
preservada, na esquina de Shahbag. Sri Ma foi ali e adotou as posturas habituais dos
muçulmanos durante suas orações, pronunciando ao mesmo tempo as palavras que eles
utilizam. Meu amigo muçulmano se uniu a eles também. Ao regressar dali, o kirtan
continuou e meu amigo cantou junto com o grupo, bateu palmas com eles e ia dando
voltas. Aconteceu que o homem que estava encarregado da tumba estava ausente
naquela noite e não havia acendido as velas nem oferecido doces, como era costume.
Seguindo instruções de Mataji, meu amigo muçulmano ofereceu batasha (espécie de
doce feito com açúcar e ovos) sobre a tumba e acendeu as velas. Tinha desejo de ver Sri
Ma comendo alguns dos doces. Quando os levou, num prato, Ela comeu alguns deles.
Ele também comeu do prasad oferecido ao final do kirtan. Era um muçulmano ortodoxo
mas tinha um alto conceito de Sri Ma e, depois disso, chegou a ter uma consideração
inquebrantável por Ela.
Uma vez Sri Ma foi à casa de Rai Bahadur Jogesh Chandra Ghosh. Nesse dia
havia kirtan. De repente, observou-se uma mudança n’Ela. A alguns metros de
distância, um jovem muçulmano, vestido como indiano, estava sentado na penumbra,
passando despercebido. Sri Ma abriu caminho entre a multidão, até o jovem, e começou
a cantar “Allah, Allah-há-Allah.” Ao jovem lhe saltaram as lágrimas e ele se uniu a Sri
Ma para rezar as orações habituais. Depois nos disse: “A felicidade e a clareza com que
Sri Ma invocou o nome de Alá está além de nossas melhores possibilidades. Nunca
antes eu havia experimentado tal regozijo como senti esse dia ao pronunciar o nome de
Deus junto a Sri Ma.”
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Sri Kali Prasanna Kushari e sua esposa Srimati Mokshada Sundari Devi, a irmã
de Pitaji, amavam muito a Mãe. Em Sua companhia encontraram muito deleite. Numa
ocasião Sri Kushari veio a Dacca mas ficou alojado em outro lugar. Havia falado sobre
questões religiosas com Sri Ma e estava a ponto de partir. Disse, entre risos: “Sua fama
é de ter um grande poder. Se tens tal poder, converta-me em cinzas. ”Dizendo isto,
acendeu umas varetas de incenso e partiu para sua casa, com o incenso nas mãos. Pitaji
e Mataji iam para outro local e todos saíram juntos. O sol esquentava muito. Sri Kushari
cobria Sri Ma com seu guarda-chuva. Os dois caminhavam na frente. De repente
Kushari deu um salto e exclamou: “Ai! De onde chove este fogo sobre minha cabeça?
Está me queimando? Está fazendo de verdade? Por favor, detenha o fogo! Já tenho
suficiente prova do Seu poder!” Para sua consternação comprovou que uma parte do seu
guarda-chuvas estava queimado…
Em outra ocasião diferente, um cavalheiro colocou umas flores a Seus pés. Ela
pegou uma e, indicando as pétalas, o pólen e aludindo a sua essência, ilustrou os
aspectos físicos, astrais e espirituais da vida e fez o povo compreender o jogo eterno do
Divino.
Precisamente nesta época eu estava lendo no jornal que, antes que Lord Irwin
viesse à Índia como Vice- Rei e Governador Geral, ele pediu a opinião de seu pai. Este
último respondeu: “Não se preocupe pelo resultado dos acontecimentos, não temos
controle sobre eles. Reze a Deus e peça que possas antever algo do futuro.” Ambos, pai
e filho, foram à igreja rezar. Quando regressavam, o pai disse: “Terás que ir à Índia.” O
filho confirmou: “Eu também sinto a mesma coisa.”
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Perguntaram a Ma: “Pode uma pessoa que tenha visto Deus fazer com que
outros O vejam?” Ela respondeu que um homem só pode ter uma visão d’Ele quando
esteja maduro para isso. O que tiver uma visão pode ajudar os outros a tê-la só até certo
ponto. A visão em si mesma só é possível com a Graça de Deus.
Noutra ocasião houve uma discussão sobre as vidas passadas dos homens. Sri
Ma disse: “A reencarnação é um fato. Não há nenhuma dúvida. Quando se retira a
catarata do olho mediante uma operação, se recupera a vista. Do mesmo modo, através
de uma profunda concentração no Divino, quando se recolhe o véu que obscurece nossa
visão e a mente se purifica e se foca no Si Mesmo, o significado dos mantras e das
deidades, as quais são suas formas sonoras, vem até nós e as impressões de nascimentos
anteriores se projetam em nossa consciência. Tal como, enquanto estamos em Dacca,
podemos ter uma imagem mental do que vimos em Calcutá, assim também podemos
projetar uma imagem mais gráfica de nossas vidas passadas em nossa tela mental atual.
Quando os vejo, posso ter a visão de uma série de imagens de suas vidas passadas.”
Quando tinha uns quatro anos, costumava ir à casa de Sua bisavó com uma
panela para pegar requeijão batido. Um dia, encheu a panela até quase derramar, o que
irritou a ancião, que disse: “você come requeijão demais, hoje não vai levar nada!” Tão
logo pronunciou a ameaça, a anciã viu, para sua consternação, que se abria um buraco
na panela e todo o requeijão saía pelo orifício. Ela olhou o rosto de Nirmala com
assombro. Depois desse incidente Ela sempre era chamada para que levasse o
requeijão, inclusive quando chegava tarde.
Vimos Sri Ma tornar-se tão severa como um raio, ainda que Ela seja por
natureza tão doce e terna quanto uma flor. Numa ocasião foi tão dura comigo por falar
sem pensar que me ordenou: “Vamos, suma da minha vista!” Noutro dia em que a
desobedeci ao resultado foi que guardou silêncio durante alguns dias. Houve muitos
exemplos nos quais fui o bastante afortunado para receber Seu mais alto castigo. Se
alguém faz o mal e expressa seu arrependimento, Seu doce e compassivo olhar irradia
uma graça tão inefável que a mente do transgressor muda por completo e se torna pura e
feliz. Mas se tem a mente agitada com medo, e orgulho para com Suas palavras, até que
não haja arrependimento sente-se uma terrível angústia.
Uma vez Pitaji se pôs do meu lado e intercedeu por mim, mas Mataji disse: “O
castigo severo é concedido para aqueles que são capazes de suportar. Se queres retirar
uma árvore, no começo deves usar um machado, depois podes usar um facão ou
canivete para cortar os ramos e talos. Assim, o castigo há de ser severo ou pequeno,
segundo a necessidade do caso.”
Sri Ma tinha também outras maneiras de dar alívio aos que sofrem. Pediu a um
enfermo que fechasse os olhos ao anoitecer e pusesse as mãos sobre algo. Levando a
cabo Suas instruções, se recuperou. Às vezes pedia a um paciente que comesse a comida
que haviam preparado para Ela e Ela comia a comida do doente. Em casos de febre ou
de problemas graves do estômago, os pacientes que seguiam os conselhos de Sri Ma
comiam comida que não era considerada benéfica pelos médicos, com o resultado que
recuperavam sua saúde anterior em muito pouco tempo.
Quando meu filho tinha uns quinze anos, sofreu de disenteria durante 10 ou 12
dias. Sri Ma veio vê-lo, numa noite. Desde esta noite começou a recuperar-se, mas Ma
teve disenteria durante alguns dias. Também se sabe que pacientes que não estavam
destinados a vir vê-la violavam as indicações da Mãe, ou involuntariamente ou por
engano, pressionados pelas circunstâncias a não segui-las. Em tais casos o resultado
final era previsível, segundo a forma de ser de Mataji. Os Sastras hindus dizem que os
resultados de nossas ações passadas, nesta vida ou em vidas anteriores, só podem ser
neutralizadas com um trabalho firme nesta vida, com a ajuda da Graça Divina. Mas um
trabalho que provoque a intervenção divina é muito difícil de realizar a não ser que
algum santo, por compaixão, se preste voluntariamente a tais esforços.
Sri Ma disse: “Enquanto virem este mundo objetivo, a criação existe para vocês.
Há conflito, na medida em que prevaleçam as noções de tu e eu, felicidade e desgraça,
luz e escuridão. Ponha ênfase em ações que sejam expressão de tua verdadeira natureza,
de teu próprio dever inato como ser humano. Quando renunciar as atividades inspiradas
pelos sentidos e pelos impulsos exteriores, teu ser interior (Anteratma) se despertará.
Então você poderá fixar seu olhar no Ser Supremo e ficará livre da atadura da visão que
percebe o mundo da dualidade.”
Nos primeiros anos de vida de Sri Ma, as oportunidades para Sua educação eram
bem escassas e tampouco Ela prestava muita atenção a isto. Era considerada uma aluna
brilhante em sua classe. Desde a infância não lia livro algum nem praticava caligrafia.
Ainda assim Seus conhecimentos básicos tinham grande solidez. Aquilo que estudava,
dominava a fundo.
Pedimos-lhe varias vezes que nos desse uma mostra de Sua caligrafia em
bengali. Disse: “Não escrevo nada que tenha um propósito. Quando chegar o momento,
pode ser que você consiga.” Afortunadamente, em 1930 recebemos a mostra.
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Há muitas fotos de Sri Ma, seu número pode ser de milhares. O que é
surpreendente é que não haja duas iguais. Sj Subodhi Chandra Dasgueta, de Dacca e Sj
Shashi Bhushan Dasgueta, de Chittagong, entre outros muitos fotógrafos, tem feito
numerosas fotos. Em Outubro de 1926 Shashi Bhushan veio a Dacca durante a
celebração do Durga Puja e alguns de nós fomos juntos a Shahbag tirar uma foto de Sri
Ma pela manhã.
O mesmo, com minha ajuda, tirou Sri Ma do quarto e a sentou para ser
fotografada. Ela estava, entretanto, num estado de auto-absorção, com Seu corpo e
membros frouxos. Suspeitando que poderia mover-se durante a exposição, Shashi
utilizou 18 placas. Depois, foi para Chittagong. Mais tarde nos escreveu para dizer que,
das 18 placas só a última tinha dado um bom retrato; nas outras havia uma esfera de luz,
em forma de lua, na frente de Sri Ma e, o que era mais estranho, minha figura aparecia
atrás d’Ela, embora eu estivesse fora do campo da câmera. Dou aqui um extrato da carta
que me escreveu Shashi Bhushan, muito tempo depois:
ASHRAM
Numa segunda-feira ofereceu leite puro com cinco ou seis bananas, numa panela
de barro. Depois de sete dias, por volta das 21:00h, Sri Ma encontrou ali o leite e as
bananas exatamente nas mesmas condições de quando as ofereceu. Nem uma só
formiga havia tocado a panela. Ma disse que tomaria um gole dele. Muitas pessoas
tentaram detê-la, pensando que o leite poderia estar contaminado. Mas Ela tinha que
fazer da Sua maneira. Bebeu um gole e muitos tomaram Seu prasad. O que sobrou no
recipiente permaneceu ali. Na manhã seguinte descobriram que todo o conteúdo havia
sido tomado, sem sobrar nenhuma gota.
Quando Niranjan foi transferido a Dacca, meses mais tarde, tentamos reunir o
dinheiro, mas não tivemos êxito. Até princípios de 1927 fiquei de cama, por causa de
uma doença grave. Um dia Niranjan veio ver-me e disse que o Zamindar (coletor de
impostos) de Gouripur, Sj Brojendra Kishore Roy Chowdhury havia enviado 1.000
rúpias.Niranjan acrescentou: “Primeiro tente se recuperar, depois faremos um esforço
para reunir mais fundos.” Niranjan coletou, gradualmente, mais dinheiro, mas
Nittananda Giri insistiu em que lhe pagassem 6.000 rúpias pela propriedade. Depois de
sofrer por mais de um ano e meio, retomei minhas obrigações no Departamento
Agrícola de Dacca. Inspecionamos muitos terrenos para construir um Ashram, mas
nenhum parecia mais adequado que o sugerido por Sri Ma. Estávamos em apertos.
60
Com respeito ao Ashram, Sri Ma disse: “Um Ashram quer dizer um lugar
sagrado que inspira pensamentos divinos no ser humano. Todos seus residentes devem
se esforçar muito por manter a atmosfera pura, mediante oração contínua, sadhana,
pensamentos nobres, meditação e discursos religiosos. Num lugar assim bastaria haver
algumas poucas cabanas cobertas de palha para que os residentes vivessem nelas.” E foi
devido a isto que uma pequena cabana foi erigida para Ma.
Ao ver Pitaji, Mataji disse: “Deixe que este corpo viaje com seu pai; você pode
permanecer, por favor, no Ashram.” Pitaji, depois de muitos protestos, deu seu
consentimento e disse impulsivamente: “Faça-se Sua vontade.” Muitos acompanharam
Ma até a estação. Pitaji e eu ficamos, mas depois de um tempo fomos para lá também.
Pitaji tentou, por todos os meios, fazê-la desistir do projeto, expressando sua
desaprovação, mas Ma permaneceu firme.
O trem para Mymensingh estava pronto. Sri Ma entrou. Pitaji me pediu que
subisse em outro compartimento, a não ser que Ma não quisesse. Obedecendo estas
instruções, a acompanhei.
Depois de partir para Mymensingh à meia noite, vestido só com uma tanga e
sem poder informar a ninguém de minha família sobre minha saída repentina, houve
uma grande luta em meu coração. Mau encontro palavras para descrevê-la. O sol é
chamado de fonte de toda a vida e atividade e, ao terminar a noite, com os raios de sol
matinal, as exigências do escritório e da vida familiar reavivaram a lembrança de
infinitas obrigações que me estavam aguardando. Que escravos da rotina somos! As
cadeias do mundo são demasiado rígidas e sutis para serem rompidas. Minha mente
estava estranhamente nublada de pensamentos obscuros sobre as obrigações deste dia,
inclusive sobre quando eu teria a oportunidade única de sentar-me aos pés de Sri Ma.
Ano após ano eu havia desejado tocar estes pés e Ela havia me tirado, praticamente, das
portas da morte. Parecia-me que nossa atenção, reverência e amor não eram senão
impulsos emocionais fugazes; em realidade veneramos secretamente nossos desejos
egoístas. Sri Ma disse: “Vossas expressões de amor e reverência flutuam sobre vosso
corpo como brisas de vento. A não ser que uma câmara interior de vossa alma se abra,
para deixar que entre uma corrente livre de verdadeira devoção, como podereis oferecer
a verdadeira coisa em lugar da mera aparência?”
O que ocorre normalmente é que Ela dá uma instrução ou sugestão só uma vez.
Se a cumprimos em seguida, sem vacilar, acaba sendo o melhor para nós; ao contrário
ou ficamos decepcionados com o resultado ou caímos em dificuldades imprevistas.
Depois de alguns dias Mataji e Pitaji vieram de Chandpur a Dacca e ficaram ali,
no Ashram de Siddheswari. Pitaji caiu gravemente doente. Após muito sofrimento,
quando se encontrava a caminho de recuperar-se, Mataji caiu de cama. Isto já foi
descrito antes.
Muito tempo antes, quando eu disse a Sri Ma que a construção do templo era
necessária para alojar a imagem de Kali, Ma respondeu: “Espere mais um ano.” Passado
um ano desta resposta, no começo de 1931, graças aos esforços de Bhupati Nath Mitra e
Nagendra Nath Roy, a pedra fundamental do templo foi colocada. Quando se cavou
para a colocação dos alicerces descobriu-se quatro ou cinco tumbas, grandes e
pequenas, cada uma das quais contendo um esqueleto, alguns sentados e outros
deitados.
Com relação a isto Sri Ma disse: “ Todo este lugar tem uma santidade própria,
por haver sido residência de Samnyasis no passado. Você foi um deles. Vi alguns dos
santos movendo-se nos campos de Ramna. Estes sadhus desejam que se construa algum
templo sobre suas tumbas para que os homens possam vir e rezar a Deus aqui e manter a
pureza do lugar, para o benefício de todos. Por essa razão este local foi escolhido para
você levantar um Ashram. Os que participam da tarefa precisam ter tido algum tipo de
associação com os finados santos.”
Perguntei a Ma: “Se eu fui um samnyasi, por que tenho que trabalhar tão
penosamente agora?” Sua resposta foi: “Até que o fruto do carma se esgote temos que
continuar o trabalho que não terminamos.”
63
Ocorreu-me pensar que Sri Ma estava cantando esta canção em Shahbag. Soava
como Sua voz. Na manhã seguinte soube que Ma havia realmente cantado estes versos.
Cantou somente estas duas estrofes, várias vezes.
De repente Ela disse: “Hoje é sábado, amanhã será domingo. Por que vocês não
se sentam juntos algumas horas da noite cantando kirtan?” Niranjan regressou a sua
casa. Eu passei toda noite em Shahbag cantando kirtan. Nas primeiras horas da manhã
Ma começou a cantar, com uma melodia madrugadora: “Hari, Hari, Hari, Hari, Hari,
Hari, Hari bol”
Despertou em mim uma nova inspiração. Deste dia em diante pude sentir que, na
cultura religiosa, o kirtan era um lugar muito mais elevado que outros ritos e práticas
religiosas. A prática atual de cantar kirtan no Ashram toda noite de sábado começou em
Novembro de 1926. Nesse dia, junto ao nome de “Hari” se acrescentou, pela primeira
vez, a palavra “Ma” (Mãe). Em poucos dias se organizou o kirtan por turnos, nas casas
de alguns devotos, cada casa num dia da semana.
Este foi o começo de uma nova forma de kirtan, com o som-símbolo “Ma”. Sem
um desejo entusiasta por obter a Graça da Mãe durante Sua ausência, não se poderia ter
realizado. Quando se compuseram estas canções, Sri Ma estava longe de Dacca durante
vários meses. Seus devotos estavam atravessando uma dor aguda pela separação. O
intenso desejo de voltar a ter Ma entre eles fez com que aquelas orações fossem tão
doces e comoventes!
Segui Sua sugestão e cheguei à conclusão de que uma canção em bengali teria
maior atrativo do que uma em sânscrito para uma congregação bengali. Inspirado por
Ela, a seguinte canção tomou forma, numa noite, por volta das três da manhã. A
tradução é a seguinte:
66
Desde meu primeiro encontro com Sri Ma, seu sempre alegre, simples e
tranquilizador semblante inundou minha vida de um encanto tão inefável que, inclusive
em meio a várias distrações e emoções que passei, cheguei a esquecer minhas
preocupações e tentações.
Como eu havia visto no corpo físico de Sri Ma vários bhavas (êxtase espiritual)
sem precedentes, em Sua presença ficava impressionado, com prazer e assombro. Ante
Ela cheguei a sentir que não era senão um menino ou um pobre mendigo, desamparado,
um ser completamente inapropriado para estar sentado a seus pés. De fato, em toda
minha vida nunca me sentei em Sua presença. Costumava estar de pé, a uma certa
distância. Cada manhã eu tinha a sorte de ter o primeiro darshan de Seus pés, porque
muito pouca gente podia ir ao Ashram tão cedo. Algumas manhãs encontrei Ma sentada
tranquilamente num lado da cama, mas com toda languidez do sonho, entretanto, sobre
Suas pálpebras. Às vezes Seus brilhantes olhos e Sua doce face pareciam irradiar
profusamente afeto e graça maternais sobre todos os homens; em outras ocasiões Seu
aspecto ao amanhecer portava toda serenidade e graça de um precioso céu de Outono,
infinitamente brilhante e, contudo, bastante isolado das coisas do mundo. A expressão
de Seu rosto mudava constantemente com as transformações que se produziam em Seus
pensamentos e emoções interiores. Às vezes parecia uma anciã. Outras, em meio a Seus
jogos alegres e de risos sonoros de uma menina feliz, de repente assumia um aspecto tão
sério, pensativo e determinado que nos impunha respeito e medo. Nesse estado Seu
corpo adquiria dimensões não usuais, Seu rosto tinha uma expressão tão solene que nos
fazia sentir que a Mãe Rudrani havia tomado posse de todo Seu ser. Em tais ocasiões,
Seu riso selvagem, Seus olhos revirados e os movimentos de Seus membros – todos
conspiravam para provocar terror em nossos corações, embora depois de um tempo,
Suas expressões habituais de alegria e doçura se restaurassem.
68
Muitos dias tentei, com uma forte vontade, apagar todo pensamento sobre Ela,
mas Ela escapava de cada um dos meus intentos perversos e capturava minha mente e
minha razão mais ainda. Tais intentos me deixavam exausto e mudo como um torrão de
barro. Não podia encontrar nenhum meio para apagar minha sêde de afeto de Sri Ma.
Assim comecei a debilitar-me e meu corpo caminhou até a crise.
Era necessário para mim. O desejo intenso de vê-la me faria esquecer a dor
provocada pela doença. Nestes dias minha mente girava em torno de Seus pés dia e
noite. Impregnava todo meu ser, por dentro e por fora. Mais tarde eu soube que Sri Ma
havia dito um dia, em Shahbag, que Ela era o sangue que estava nos lábios de todas as
pessoas. Ao ouvir este comentário Pitaji veio, em seguida, me ver. Eu vomitava sangue
nestes dias e minhas forças estavam quase acabando. Em muitas ocasiões Ma
costumava guiar-me com Suas sugestões até um remédio, bastante antes que a
informassem verbalmente sobre as mudanças que ocorriam em minha doença.
Uma noite tive uma crise muito aguda. Os médicos que me atendiam declararam
meu caso irremediável. Eram duas da manhã. Chovia a cântaros, com um ruído
ensurdecedor. Os cães ladravam, fazendo mais terrível a escuridão. Comecei a ter visões
espantosas, todo o pêlo do meu corpo se levantou. Nesse momento vi, tão claro quanto à
luz do dia, a Sri Ma sentada ao lado direito da minha almofada. Uma agradável surpresa
veio sigilosamente até mim. Antes que o primeiro momento de assombro se dissipasse,
a encontrei passando Sua mão pela minha cabeça. Era tão tranquilizador! Num instante
caí num sono profundo.
Deste dia em diante, durante uns dez meses, o tempo que estive confinado,
sempre sentia que Ma estava sentada em minha cama, perto da almofada, com uma
feição muito tranquila e serena e não queria entregar-me à morte.
Às vezes quando durante horas seguidas, não podia suportar a dor da tosse,
seguida de cuspir sangue, costumava repetir o nome de Ma e logo a intensidade da dor
diminuía.
Durante minha doença Sri Ma pediu a Brahmachari Jogesh que fosse, durante
um ano, ao oeste da Índia e que vivesse lá de esmolas, sem nenhuma residência fixa.
Possivelmente o fizesse com a intenção de desviar algum de meus sofrimentos.
69
Após uns cinco meses de tratamento eu quis provar quanta força eu havia
adquirido com o tratamento médico. Tentei dar uns poucos passos, apoiado contra a
parede do quarto. O esforço me causou, nesta mesma noite, um abundante vômito de
sangue. Quando informaram ao doutor, ele deixou instruções aos habitantes da casa de
que devia estar deitado sobre a cama, sem mover-me.
Sri Ma regressou a Dacca uns quatro ou cinco meses depois e veio ver-me.
Perguntou: “Como você se sente agora?” Disse: “Não tenho muita dor, mas me sinto
muito incomodado devido a não ter podido tomar um banho frio durante muito tempo.”
Era o mês de Maio. O calor era asfixiante. Ma sentou-se um pouco e logo se foi. No dia
seguinte voltou com Pitaji, à uma da tarde. Naquele momento todos da casa dormiam.
Minha filha de 12 anos, que estava incumbida de me vigiar, também estava adormecida.
Sri Ma disse: “Gostaria que você tomasse um banho; se te agrada, há um depósito logo
ali; vai e toma um bom banho.”
Esse depósito estava afastado uns 60 ou 70 metros. Logo que escutei a voz de
Sri Ma, esta produziu uma nova força de amor e devoção em meu frágil corpo. Meu
corpo não era senão um esqueleto. A advertência do médico de não abandonar minha
cama atravessou minha mente por um instante e depois se desvaneceu. Neste estado,
enquanto, cambaleante, tentava me colocar de pé e pegar outro calção para colocar após
o banho, Pitaji rapidamente me segurou e me levou até o depósito. O piso da minha casa
estava a um metro e meio por cima do nível do solo. Baixei as escadas e andei todo o
trecho. Era um depósito reserva da hospedaria da universidade muçulmana situada em
uma das suas margens. Havia também um letreiro que dizia que o depósito não deveria
ser utilizado para lavar-se ou banhar-se. Mas este dia não se via nenhum habitante da
hospedaria. Além disso, em minha casa, todo mundo dormia. Desci ao depósito e me
dei um delicioso banho. Ao voltar para casa estendi a roupa molhada no varal e me
deitei na cama para descansar.
Tão logo caí na cama minha filha acordou. Encontrou Sri Ma sentada ao seu
lado.Ao atravessar o campo para tomar banho, muitas sementes espinhosas grudaram no
calção que eu usava. Quando meu servente Khagen viu o pano cheio daquelas sementes
espinhosas sua dedução natural foi que eu havia andado pelo campo ao meio-dia. Isto
foi comunicado a minha esposa a qual mostrou o calção à Sri Ma e se queixou de que eu
houvesse andado pelo campo ao meio-dia, contra a proibição expressa do médico. Sri
Ma riu, sem dizer uma palavra. Eu estava surpreso, perguntando-me como pude haver
andado através do campo ao descoberto para tomar uma ducha no depósito, em plena
luz do dia, passando despercebido e como pude ter forças para suportar um esforço
assim. Era uma proeza além de toda compreensão.
70
Depois de uns quatro meses, quando abandonei Dacca para mudar para um
clima mais saudável, contei a história a Niranjan. Posteriormente, após recuperar-me,
retomei minhas obrigações no escritório e contei então o fato aos meus médicos, que
não deram crédito à história. Minha esposa, à princípio, tampouco acreditou. Quando
lhes descrevi a história completa, finalmente acabaram acreditando.
Naqueles dias Sri Ma costumava vir me ver uma vez ao dia. Uma manhã veio
muito cedo e, depois d’Ela ir embora, Brahmachari Kamalakanta me trouxe umas flores
de champak. Olhei as flores com pesar, porque não teria oportunidade, esse dia, de
oferecê-las aos pés de Sri Ma com minhas próprias mãos. À tarde Kulada Dada me
trouxe uma rosa preciosa. O mesmo pensamento doloroso se repetiu. A rosa ficou na
mesa, junto com as flores de champak. Que flores tão bonitas não pudessem ser
depositadas aos pés de Ma me desiludia muito. Justo nesse momento Ela entrou, de
repente, em meu quarto, foi até a mesa e se reclinou. Olhou-me durante 3 ou 4 minutos,
bastante abstraída e logo foi embora. Pensei que Ela havia levado as flores. No dia
seguinte, lhe perguntei sobre isto. “Não sei com certeza o que levei, mas devo haver
levado algo daqui. Fui à casa do Zamindar de Dhankora e dei algo a uma mulher que
estava ali. Depois fui à casa de um vice-magistrado, onde havia uma mulher doente e
também deixei algo ali.” Mais tarde soube que, na primeira casa Ela havia dado a rosa e
na segunda uma flor de champak. A mulher enferma logo se recuperou.
Acabo de recordar outro incidente. Durante minha doença Pitaji ordenou que
todos os dias me enviassem, desde Shahbag, prasad de arroz. O arroz, porém, só era
oferecido no templo às duas da tarde e o prasad costumava chegar a minha casa muito
mais tarde. Um dia, em minha casa, fizeram uma crítica adversa a toda a organização.
Isto me produziu tanto mal estar que cheguei a sentir que não havia necessidade de que
me trouxessem prasad em meio a tanto desgosto e crítica entre os membros de minha
família. O dia transcorreu. Eram duas da manhã e não havia chegado nenhum prasad de
Shahbag. Ocorreu-me que minha reticência em receber prasad entre tantos desgostos
era, provavelmente, a causa de que se houvesse deixado de enviar. Chorei e chorei sobre
minha cama e o prasad chegou em meia hora. Soube que Sri Ma acabava de levantar da
cama ordenando: “Vão rápido levar prasad para Jyotish.” Me deu a entender, mais tarde,
que quando, durante o meio-dia precedente, buscaram permissão de Sri Ma para que se
enviasse o prasad como de costume, Ela disse não. De modo que a prática de enviá-lo
ficou interrompida. Em conexão a isso, Sri Ma disse: “Não faço nada por vontade
própria; vocês riem e choram de acordo com vossos impulsos e vossos desejos se
cumprem.”
71
Durante minha enfermidade, fui a Vindhyachal para mudar de ar. Aconteceu que
me encontrei com a Mãe em Calcutá, no caminho de Vindhyachal, e pedi que Ela
também fosse. Não quis. Ao chegar a Vindhyachal passei toda noite chorando por Ela.
Tão só um dia depois chegaram ali Mataji e Pitaji.
De Vindhyachal fui a Chunar. Sri Ma também foi. Um dia disse: “Você não sai
nunca para passear?” Eu respondi: “Estou fraco demais para andar. Como poderia fazê-
lo?” No dia seguinte, ao amanhecer, me levou com Ela para dar um passeio.
Caminhamos cinco ou seis milhas, pelas altas planícies, assim como por colinas baixas
e voltamos às 11 horas. Enquanto íamos colina abaixo, me senti muito débil e só podia
caminhar à duras penas. Ma se voltou e disse: “ Nossa casa não está longe.” Em dez
minutos apareceu uma charrete, de modo bastante inesperado, numa pequena rua. Caso
contrário, teríamos que caminhar uma milha mais para chegar a um ponto de parada. Eu
tinha medo de que o grande esforço, devido a um passeio tão longo, pudesse agravar a
enfermidade. Mas nada disso aconteceu. Pouco depois Sri Ma disse: “Tanto no mundo
de trabalho diário como na esfera espiritual, a paciência é o melhor amparo.”
A uma pequena distância de minha casa, Pitaji, Mataji e eu nos sentamos numa
relva. Mataji disse que gostaria de se banhar com água colhida do poço que havia perto
dali. Começou a me pressionar, como uma menininha. Eu lhe disse: “Vou chamar meu
servente.” Ela respondeu: “Não, não deves fazê-lo.” Me senti desconcertado, pois
naqueles lugares todos pegam água dos poços antes do pôr do sol. Senti-me com pena,
porque pensava que não poderia fazer que se cumprissem os desejos de Sri Ma. Mas,
para minha surpresa, apareceu um homem com uma lanterna, no poço, para tirar água.
Pedimos-lhe que pegasse água para o banho de Ma também. Sri Ma disse: “O que quer
que buscais pode ser conseguido sempre que a sêde pelo objeto de vosso desejo
impregne cada fibra de vosso ser.”
Durante minha doença passei uns dias em Giridih. Um dia estava desejando ver
a Ma e, para minha surpresa, vi que Ela e todo seu grupo chegaram na manhã seguinte.
Alguns meses depois do primeiro darshan de Sri Ma, Niranjan lhe disse, em
Shahbag: “Ma, frequentemente pensamos que, depois que se ponha em funcionamento
Teu Ashram, ambos, eu e Jyotish viveremos ali como brahmacharis durante nossa
próxima encarnação.” Ma me olhou e perguntou: “Por que estás calado? Não serias
capaz de fazê-lo inclusive com este corpo?”
A pequena cabana, com varandas por todos os lados, que havia erigido no
Ashram segundo minhas próprias idéias, era utilizada por Ma. Ela ficava em qualquer
uma das duas grandes varandas. Disse-me que eu havia sido um dos sannyasis que
habitavam o lugar, e que o lugar que eu inconscientemente havia escolhido para
construir-lhe a cabana, era o mesmo lugar onde havia passado minha vida durante meu
anterior nascimento.
Senti que foi pela minha especial boa sorte que o corpo físico de Ma ficasse no
mesmo local onde realizei meu sadhana durante minha existência prévia. Provavelmente
meu carma havia dirigido o curso dos acontecimentos pois, quando vi a Sri Ma pela
primeira vez, pareceu-me que Sua pessoa encarnava a todos os deuses e deusas e senti
que havia sido a Deusa que presidia toda a série de meus nascimentos anteriores.
Nunca me sentei na presença de Ma. Meu corpo inteiro permanecia erguido com
um sentimento de alegria interior. Quando alguém me pedia que sentasse, me sentia
bastante incomodado.
Um dia um velho advogado, de nome Sri Ashwiri Kumar Guha Thakurta, foi ali
para um passeio matinal e disse a Ma: “Vim aqui mas não para ver aTi, Mãe, mas para
conhecer Teu filho favorito e observar com meus próprios olhos como ele vem a Ti tão
cedo, toda manhã, faça frio, calor ou chuva e como segue cada um dos Teus passos em
absoluto silêncio. Só a contemplação disto me dá uma grande alegria.” Eu então lhe
disse: “Abençoe-me para que eu possa passar o resto da minha vida desta maneira.” O
ancião me abraçou contra seu peito e disse: “Já estás abençoado.”
Eu costumava pensar que, como Sri Ma não dizia nada contra minhas excursões
matinais, não tinha que temer. Assim, continuei a rotina normal da minha vida.
Perguntei-lhe aonde ia; respondeu-me que iria comigo. Fiz-lhe saber que ia ao
Ashram de Ramna. Disse que também iria. Seu aspecto era suspeito e eu tinha muito
medo. De repente, eu gritei: “Não, não deve vir comigo!” Dito isto, andei depressa, com
passos largos, sem olhar em direção alguma. Depois de haver me afastado, olhei para
trás e vi como o homem havia ficado imóvel como um tronco no local onde o havia
deixado. Quando cheguei ao Ashram, encontrei a Mãe de pé, na porta, com Seu
afetuoso olhar fixo em mim. Caí a Seus pés e relatei o que havia ocorrido. Não disse
uma só palavra. Mais tarde soube que tinha ocorrido um assassinato naquele mesmo
bairro.
74
Podemos observar em cada fase da vida que são necessárias três coisas para o
êxito na luta pela existência: um objetivo nobre, uma firme determinação e uma
dedicação de todo o coração ao dever. Ainda que em alguns casos não se consiga
nenhum êxito tangível com estas virtudes, ao menos, desse modo, se desenvolve a
disposição para fazer o bem e um trabalho substancioso que dá frutos na primeira
oportunidade.
A partir daí me convenci de que, seja o que for que um homem consiga com
uma prática religiosa constante, com o isolamento mental do objeto dos sentidos, pode
ser conseguido através do poder da palavra de um Mahatma.
Depois de uns sete ou oito meses, Sri Ma disse um dia, durante um passeio
matinal: “Escute, sua vida atual está chegando ao fim.” A ouvi, mas não provocou
nenhuma resposta profunda dentro de mim.
Uns poucos meses depois, tirei uma licença de 4 meses. Estava buscando uma
estação de montanha para mudar de ares. Enquanto isso, em 12 de Junho de 1932, lá
pelas 22:30, Sri Ma enviou Brahmachari Jogesh até mim perguntando se eu poderia
acompanhá-la. Quis saber onde Ela desejava ir. Sua resposta foi: “A qualquer lugar.”
Fiquei calado. Ela perguntou: “Por que ficou calado?” Meditei sobre o fato de que não
teria tempo de informar ninguém sobre o assunto. Assim que, apegado à atração do
mundo, disse: “Tenho que pegar dinheiro em casa.” A Mãe disse: “Pegue aqui o que
precisar.” Eu disse: “Está bem” com os lábios; mas senti que meu filho e minha esposa
apareciam desde as profundezas do meu coração, dizendo: “Aonde vais? Abandonando-
nos?”
Apesar disso, com uma manta, uma colcha e um calção, parti com Mataji e
Pitaji. Ao chegar à estação Sri Ma disse: “Reserve bilhetes até o fim desta linha.”
Fizemos uma reserva para Jagannath Gunge. Ao chegar lá, no dia seguinte, Sri Ma
disse: “Vamos até a outra margem.” Dalí fomos a Katibar. Sobraram apenas umas
poucas rúpias mas, bastante inesperadamente, me encontrei com um velho amigo, que
me deu 100 rúpias e uma grande quantidade de frutas e caramelos. Dalí fomos a
Lucknow, descemos em Gorakphur e pegamos o expresso para Dehradun.
Sri Ma disse: “Vejo que é tudo velho.” Aonde iríamos na continuação era
bastante incerto. Pela tarde Pitaji e eu fomos andar e descobrimos que havia um templo
de Kali nas proximidades. Fomos até lá e nos disseram que, a umas três ou quatro
milhas de distância, no povoado de Raipur, se levantava um templo de Shiva que estava
bastante solitário e que era um lugar adequado para fazer vida de retiro. Em seguida, um
pandit de Raipur veio encontrar-se conosco. Tivemos uma conversa com ele e o
acompanhamos a Raipur na manhã seguinte. Pitaji gostou do local. Quando buscamos a
opinião de Mataji, Ela disse: “Decidam vocês, para mim todos os lugares são bons.”
SRI SRI MA
Está mais além da inteligência comum compreender o que Sri Sri Ma representa
e o que é em realidade. Ainda que Ela sempre diga: “Sou somente vossa filhinha louca”,
em todos os aspectos de Sua vida, em Seu sempre encantador Lila entre nós, todos os
poderes da Divindade encontram expressão em formas tangíveis.
Em Sri Ma encontramos uma fonte perene de alegria e doçura, ainda que esteja
rodeada dia e noite pelo ruído, rumores e milhares de súplicas de toda classe de pessoas.
Seus olhares tranquilos e serenos, Sua elegante e sempre sorridente resposta a todas as
perguntas, Seu maravilhoso sentido de humor trazem satisfação e alegria a todas as
almas. Sua forma de viver é tão universal e tão omni-abarcante que poderia chamar-se
Amor Maternal Encarnado.
Quando lhe perguntaram, numa ocasião, quem era Seu mestre ou de quem havia
recebido iniciação, comentou: “Nos primeiros anos meus pais foram meus guias; na
vida de casada, meu marido, e agora, em qualquer situação da vida, todos os homens e
coisas do mundo são meu guru. Mas uma coisa é certa, o Ser Supremo é o único guia
para todos.”
Desde este ponto de vista, das pessoas do mundo, Sri Ma é uma filha, esposa e
mãe ideal. Para um aspirante à vida espiritual, Suas palavras e comportamento tem um
significado profundo, indicando formas de cultura espiritual e de práticas yóguicas,
assim como as verdades básicas do dualismo, não dualismo, monismo dualista e outras
doutrinas filosóficas.
77
Seu aspecto afável e doce, Sua paciência e resistência pouco comuns, Seu
espírito de sacrifício e simplicidade, Seus modos sempre alegres e com senso de humor
ao tratar a homens, mulheres e crianças, Sua clara e imaculada visão e Sua boa vontade
até todos os seres vivos, Seu amor por todos os homens independentemente de qual seja
sua casta, credo, comunidade e nacionalidade, Sua absoluta liberdade frente ao prazer, a
dor e similares, fazem d’Ela uma figura única nos tempos modernos. Não se pode dizer
que tenha obtido a perfeição através do próprio esforço já que, os que a tem observado
desde Sua infância asseguram que Ela tem sido a mesma em pensamentos e ações toda
Sua vida. Nunca foi vista realizando exercícios religiosos ou espirituais de nenhum tipo.
Um vislumbre dessa verdade, uma sugestão d’Ela, brilha em todas Suas ações,
palavras e canções. Sua vida ilustra o grande fato de que o homem, enquanto cumpre
suas obrigações diárias dócil e alegremente e mantém relações sociais pode ainda assim
avançar em seu caminho espiritual.
Chegou à hora de nos perguntar-nos o que é que nos levou a este estado de
coisas. Estamos caindo nas estreitas vias de cultos e preconceitos desgastados pelo
tempo. As idéias e os ideais dos velhos tempos e os da era atual estão se encontrando
cara a cara e tem produzido paralisia em nossa vida social e religiosa. Sri Ma se
encontra no começo dos caminhos.
Sua vida abre os olhos de todos nós. Mostra com Suas atividades cotidianas
como podemos unir cada minúsculo detalhe da vida com o infinito e como podemos
cultivar uma nova perspectiva em nossas relações com os homens e fazer deste mundo
um lugar de nova alegria, esperança e paz.
Do ponto de vista mundano, não possui nada que possa chamar de Seu. Todos os
lugares do homem público comum, os templos, as dharmsalas, os ashrams públicos e as
cabanas são agora Seus únicos lugares de residência – lugares nos quais qualquer
pessoa, desde o mais alto ao mais baixo, podem vir a Ela sem nenhum impedimento.
Tem se dedicado inteira e completamente ao bem do mundo. Todos os seres vivos são
Seus próprios parentes e amigos.
79
Como dissemos anteriormente, Ela disse: “Acho que o mundo inteiro é um vasto
jardim, com vossa beleza e graça individual. Movo-me de um lado para o outro. O que
os faz ficar tristes quando os abandono, somente para estar ali, em meio aos vossos
irmãos?”
Em outra ocasião disse: “Não tenho necessidade de dizer ou fazer nada; nunca
houve necessidade, tampouco há agora, nem haverá no futuro. O que encontrastes
manifestado em mim no passado, o que vês agora e o que observareis no futuro é só
para o vosso bem. Se pensais que há algo meu, peculiar, tenho que dizer-lhes que este
algo é o mundo inteiro.”
Às vezes a ouvem dizer: “Tenha fé neste corpo. Tua fé, de todo coração, te
abrirá os olhos.” De vez em quando também diz: “Este corpo não é senão uma boneca,
como vocês desejaram jogar com ela, ela segue jogando.”
Destes e de outros comentários se faz evidente que em Sua pessoa o poder que
jaz detrás deste mundo fenomênico tomou forma. Suas atividades emanam de uma
fonte-origem e voltam a ela. Não tem sentido de dualidade. Às vezes diz: “Só Tu és e
somente Tu” e em outras “Só Eu Sou e tudo está contido em Mim.”
Numa ocasião disse: “Há alguma diferença essencial entre eu mesmo e você
mesmo? Somente porque Ele é, também há você e eu. Se, com uma fé incondicional,
uma forte devoção e um coração cheio de amor, qualquer um de vocês puder exclamar:
‘Mãe, vem, vem a mim, Mãe, não posso passar os dias sem Ti’ estejam seguros, a Mãe
Universal estenderá Seus braços até vocês e os apertará contra Seu peito. Não a
considerem somente como um refúgio misterioso em suas horas de aflição. Recordem
sempre, Ela está muito perto de vocês, guiando todas as forças de suas vidas. Caminhem
com esta convicção; Ela tomará de seus ombros todo o peso das responsabilidades e
lhes dará forças para cumprir o carma.”
=========================) 0 (=========================
80
NOTA
Os hinos que saíram espontaneamente dos lábios de Sri Ma não estão em
sânscrito nem em outra língua que nos seja conhecida. Há certas palavras e expressões
neles que estão em sânscrito e os hinos parecem ter natureza de orações. Deveriam ser
considerados como mantras, nos quais cada sílaba tem seu próprio significado e não
pode ser substituído por nenhum sinônimo. A tradução dada no texto não deve,
portanto, ser considerada uma reprodução dos hinos. E mais: parece que os sons que
saíram dos lábios de Sri Ma nem sempre foram reproduzidos corretamente.
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GLOSSÁRIO
Carma – Ação, o resultado da ação, tal como a lei de causa e efeito pela qual as ações
inevitavelmente produzem seu fruto.
Dal (dhal) – Lentilhas ou outra espécie de feijão cozido, geralmente servido com pão
sem levedura e outros vegetais, prato muito popular na Índia.
Darshan – Visão. Fala-se em ter darshan de um santo, sábio ou deidade, o que significa
ser abençoado ante sua visão ou presença;
Hari - Deus, um dos três nomes de Vishnu, o que sustenta e conserva o universo, o que
é venerado pelos vaishnavas.
Kirtan – Cântico dos nomes e da magnificência de Deus. Pode ser realizado por uma
pessoa ou por um grupo de pessoas acompanhado de instrumentos musicais.
Lila - Jogo. Movimentos e ações do Ser Supremo que são livres por natureza e que não
estão sujeitos às leis
Mudra - Gesto. Postura particular do corpo ou de parte dele, que representa a expressão
de uma Deva Shakti (força natural mais elevada, poder de uma divindade) concreta.
Sem esta postura uma shakti determinada pode não funcionar. Os mudras são realizados
para produzir as mudanças necessárias na mente e no caráter. No caso de Sri Ma, estes
mudras apareciam espontaneamente.
Pranava - A sílaba mística Om, que é o som primordial, que representa a Realidade
Suprema Espiritual.
Prasad - A comida oferecida a uma deidade ou santo se converte em prasad quando foi
aceita e portanto abençoada. É então consumida pelos devotos.
Puri - Espécie de pastel de farinha de trigo, frito com manteiga refinada ou azeite.
Sadhana - Prática espiritual levada a cabo com o propósito de preparar-se para a auto
realização.
Sadhú - Alguém que dedica sua vida ao esforço espiritual e está livre de laços
familiares e de negócios.
Sakti - Energia Divina. No hinduísmo, a Sakti está simbolizada geralmente por uma
mulher divina.
Samskara – Disposições mentais, que atuam como sementes e tem uma tendência a
germinar como ações. Estes samskaras são normalmente trazidos de encarnações
anteriores. São destruídos quando brilha a luz do Supremo Conhecimento (Jnana).
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