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Ministério da Mulher, da Família e dos Direito Humanos

Secretaria Nacional da Família

Projeto Família na Escola


Ministra de Estado da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos

Damares Regina Alves

Secretária Nacional da Família

Ângela Vidal Gandra da Silva Martins

Diretor do Departamento de Formação, Desenvolvimento e Fortalecimento da


Família

Marcelo Couto Dias

Coordenação Geral de Apoio à Formação e Desenvolvimento da Família

Kamila Carrilho Caetano Manoeli

Marcos Maurício Rodrigues Pereira

Rodrigo Gastalho Moreira

Thaís Sampaio Ribeiro


Apresentação da análise ex ante do Projeto Família na Escola, que se encontra
sob responsabilidade da Secretaria Nacional da Família do Ministério da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos (MMFDH).

Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos

Projeto Família na Escola


Família na Escola
Sumário

1.DIAGNÓSTICO DO PROBLEMA ...................................................................................................6


1.1. Definição do problema .....................................................................................................6
1.2.Visão geral do problema que a proposta visa mitigar ......................................................6
1.2.1. Da importância da família no desenvolvimento do ser humano..............................6
1.2.2. Dafunção da família, da escola e seus desafios atuais..............................................7
1.2.3. Do papel da família na educação formal e informal ...............................................10
1.2.4. Da negligência parental e violência intrafamiliar e seus impactos .........................13
1.3 Mapeamento das causas que acarretam o problema.....................................................15
1.4.Quais são as evidências da existência do problema na realidade brasileira? ................16
1.4.1. Violência intrafamiliar .............................................................................................16
1.4.2. Negligência e abandono ..........................................................................................19
1.4.3. A influência da participação dos pais no desempenho escolar dos filhos ..............26
1.4.4. Evasão Escolar..........................................................................................................29
1.4.5.Problemas psicológicos ............................................................................................30
1.5.Apresentação do contexto internacional do problema ..................................................33
1.6.Quais as razões para que o governo federal intervenha no problema?.........................36
1.7.Foram ou estão sendo adotadas políticas para combater o mesmo problema
identificado? ..........................................................................................................................41
2. IDENTIFICAÇÃO DOS OBJETIVOS, DAS AÇÕES E DOS RESULTADOS ESPERADOS ....................42
2.1.Objetivos da proposta .....................................................................................................42
2.2.Resultados e os impactos esperados para a sociedade ..................................................44
2.3.Ações a serem implantadas.............................................................................................45
2.4.Metas de entrega dos produtos ......................................................................................46
2.5.Relação existente entre as causas do problema, as ações propostas e os resultados
esperados ..............................................................................................................................46
2.6.Políticas públicas semelhantes já implantadas no Brasil e em outros países,
reconhecidas como casos de sucesso ....................................................................................47
3. DESENHO, ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO E FOCALIZAÇÃO .............................................50
3.1.Agentes públicos e privados envolvidos e sua possível atuação na proposta ...............50
3.2.Apresentar possíveis articulações com outras políticas em curso no Brasil ..................51
3.3. Apresentar possíveis impactos ambientais decorrentes da execução da proposta ......51
3.4.Apresentar estimativa do período de vigência da proposta ..........................................51
3.5.Público-alvo que se quer atingir......................................................................................51
3.6.Características e estimativas da população elegível à política pública ..........................52
3.7.Apresentar critérios de priorização da população elegível, definidos em função da
limitação orçamentária e financeira .....................................................................................52
3.8.Descrever como será o processo de seleção dos beneficiários ......................................52
4. IMPACTO ORÇAMENTÁRIO E FINANCEIRO .............................................................................53
4.1.Apresentar análise dos custos da proposta para os entes públicos e os particulares
afetados. ................................................................................................................................53
4.1.1.Investimento inicial ..................................................................................................53
4.1.2.Custo anual ...............................................................................................................53
4.1.3.Municípios ................................................................................................................53
4.2. Se a proposta de criação, expansão e aperfeiçoamento da ação governamental
implicar aumento de despesas ou renúncia de receitas e de benefícios de natureza
financeira e creditícia, apresentar: .......................................................................................54
4.3.Apresentar declaração de que a medida tem adequação orçamentária e financeira com
a Lei Orçamentária Anual, compatibilidade com o Plano Plurianual e com a Lei de
Diretrizes Orçamentárias.......................................................................................................54
4.4.Potenciais riscos fiscais da proposta ...............................................................................54
5. ESTRATÉGIA DE CONSTRUÇÃO DE CONFIANÇA E SUPORTE ...................................................54
5.1.O conjunto de cidadãos e cidadãs apoia a política proposta por confiar que ela é
relevante e que as instituições responsáveis irão levá-la a cabo? .......................................54
5.2 Quais são as razões ou as evidências de que há envolvimento dos interessados, que
levem os agentes internos e externos à política a apoiarem a sua execução e a estarem
alinhados?..............................................................................................................................55
6. MONITORAMENTO, AVALIAÇÃO E CONTROLE .......................................................................56
7. GESTÃO DE RISCOS .................................................................................................................58
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................................58
ANEXO I ......................................................................................................................................63
PLANILHA 1 – IDENTIFICACAO DE RISCOS ..................................................................................63
ANEXO II .....................................................................................................................................64
ESTUDO DE CASO: ......................................................................................................................64
CORRELAÇÃO ENTRE PRÁTICAS EDUCATIVAS PARENTAIS POSITIVAS E NEGATIVAS E
HABILIDADES SOCIAIS DAS CRIANÇAS ........................................................................................64
ANÁLISE EX-ANTE
PROJETO-PILOTO FAMÍLIA NA ESCOLA

1.DIAGNÓSTICO DO PROBLEMA

1.1. Definição do problema

Alto índice de práticas parentais negativas manifestadas na forma de


negligência parental e violência intrafamiliar.

1.2. Visão geral do problema que a proposta visa mitigar

1.2.1. Da importância da família no desenvolvimento do ser humano

Partindo do conceito e da importância antropológica na formação e


desenvolvimento do ser humano e da sociedade como um todo, podemos enumerar
algumas características essenciais da família, de acordo com Burgos:

▫ É o lugar de origem da vida e, portanto, da perpetuação da sociedade.


▫ É a primeira comunidade interpessoal da criança: todo homem
estabelece sua relação com o mundo e com a sociedade por meio de uma
família e é, portanto, o lugar onde forma sua identidade.
▫ É a primeira comunidade intersexual. Os dois sexos são relacionados na
sociedade principalmente através da família. Primeiro o marido e a
esposa, depois os filhos com o pai e com a mãe e finalmente os irmãos
com as irmãs, se houver.
▫ É também a primeira comunidade intergeracional. Os pais criam a
próxima geração (que é o futuro) e os avós assumem a conexão com a
geração do passado.
▫ É o lugar onde as relações humanas mais essenciais são estabelecidas e
se mantém: o amor de um casal; paternidade, maternidade, filiação e
fraternidade de uma maneira que pode ser justamente chamada de
centro afetivo da pessoa.
▫ A família também desenvolve outras funções sociais: econômica,
educacional, socialização primária e secundária, ajuda para pessoas com
deficiência, etc.

Por todas essas razões, pode-se afirmar claramente que a família é a célula 1
ou estrutura essencial da sociedade e que o funcionamento geral do tecido social
depende de maneira muito significativa de seu funcionamento adequado.

Sendo assim, a primeira infância é o momento mais importante para o


desenvolvimento do ser humano, pois nessa fase o caráter do indivíduo é formado e
fortalecido. As experiências ocorridas durante esse período terão influência ao longo de
toda a vida do indivíduo, tanto na área da saúde, quanto no seu bem-estar social,
emocional e cognitivo.

Porém, a sociedade tem passado por profundas mudanças nas últimas


décadas, mudanças estas que têm impactado de forma fundamental a estrutura e o
equilíbrio das famílias, além dos diversos desafios enfrentados para o próprio sustento
material.2

1.2.2. Da função da família, da escola e seus desafios atuais

Durante os primeiros anos de vida, as crianças estão basicamente inseridas


na escola e em casa e, por isso, a interação família-escola é imprescindível, pois a família,
espaço de orientação e construção da identidade do indivíduo deve promover,
juntamente com a escola, uma parceria a fim de fomentar o desenvolvimento integral

1 CARVALHO, Olivia et al . O valor das práticas de educação parental: visão dos profissionais. Ensaio:
aval.pol.públ.Educ., Rio de Janeiro , v. 27, n. 104, p. 654-684, Sept. 2019 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362019000300654&lng=en&nrm=iso>.
2 SOUZA, Arlete Luiza. Interação Entre Escola e Família no Processo de Ensino e Aprendizagem da Criança, em Portal

da Educação. Disponível em: https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/medicina/interacao-


entre-escola-e-familia-no-processo-de-ensino-e-aprendizagem-da-crianca/57669.
da criança e do adolescente, obtendo maior eficácia na educação e formação das
crianças tanto no lar quanto na escola.

“Costuma-se dizer que a família educa e a escola ensina, ou seja, à


família cabe oferecer à criança e ao adolescente a pauta ética para a
vida em sociedade e a escola instruí-lo, para que possam fazer frente
às exigências competitivas do mundo na luta pela sobrevivência”.
(OSORIO, 1996, p.82).3

A escola, detentora do conhecimento científico, deve fornecer e promover


nessa relação, todo seu cabedal de conhecimento a fim de somar esforços e construir
junto com a família um caminho eficaz de educação.

“As famílias, responsáveis pelo desenvolvimento moral, social e


psicológico de seus filhos, devem ser apoiadas nessa missão de exercer
a parentalidade de maneira positiva e serem motivadas também a
buscar a interação com a escola, promovendo, questionando,
sugerindo e interagindo de forma a fornecer elementos que, através
de discussões e ampla comunicação com os educadores, promovam as
iniciativas que vão ao encontro das necessidades dos educandos.” 4

Uma ligação estreita e continuada entre os professores e os pais leva a uma


ajuda recíproca e, frequentemente, ao aperfeiçoamento real dos métodos de
aprendizado. Ao aproximar a escola da vida ou das preocupações profissionais dos pais,
e ao proporcionar, reciprocamente, aos pais um interesse pelas coisas da escola, chega-
se até mesmo a uma divisão de responsabilidades (PIAGET, 1972 apud JARDIM, 2006,
p.50).

Contudo, devido à excessiva carga horária de trabalho dos pais, e com a


participação das mulheres no mercado de trabalho, pais deixam a criação dos filhos cada
vez mais aos cuidados de instituições extra familiares: berçários, creches e escolas. Com
essas modificações, espera-se que a escola assuma, além da função de desenvolver o

3 SOUZA, Arlete Luiza. Interação Entre Escola e Família no Processo de Ensino e Aprendizagem da Criança, em Portal
da Educação. Disponível em: https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/medicina/interacao-
entre-escola-e-familia-no-processo-de-ensino-e-aprendizagem-da-crianca/57669.
4 SOUZA, Arlete Luiza. Interação Entre Escola e Família no Processo de Ensino e Aprendizagem da Criança, em Portal

da Educação. Disponível em: https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/medicina/interacao-


entre-escola-e-familia-no-processo-de-ensino-e-aprendizagem-da-crianca/57669.
potencial da aprendizagem, também a função de educar valores. 15Como menciona
Bassedas et al (1996, p.33):

“Família como sistema possui uma função psicossocial de


proteger os seus membros e uma função social de transmitir e
favorecer a adaptação à cultura existente”.

Não obstante a isso, percebe-se que paulatinamente a legítima autoridade


familiar tem sido relativizada e aos poucos emerge um fenômeno que tem dado origem
a um ciclo vicioso no qual há cobranças mútuas entre família e escola, o que prejudica a
interação entre esses entes, bem como contribui para a perda de identidade familiar
enquanto fomentadora de laços que propiciem o amadurecimento de indivíduos
capazes de se inserir no contexto social como pessoas responsáveis e autônomas.
Gokhale (1980) nos diz:

“A família não é apenas o berço da cultura e a base para um


futuro melhor, também é o centro da vida social. A educação
bem sucedida da criança no ambiente familiar é que vai servir
de apoio à sua criatividade e ao seu comportamento produtivo
quando for adulto. A família tem sido, é e será a influência mais
poderosa para o desenvolvimento da personalidade e do
caráter das pessoas”.5

No entanto, com o advento de um modo de vida no qual a família precisa


atender demandas sociais cada vez mais complexas, surge a necessidade de inserir as
crianças na escola cada vez mais cedo.

Porém é importante destacar que não basta o ingresso da criança na escola,


é necessário acompanhamento e apoio, uma vez que não se trata de uma terceirização
da formação integral, mas antes de uma parceria família-escola. Nesse sentido, leciona
Maldonado (MALDONADO,2002 Apud JARDIM, 2006, p.20)

5SOUZA, Arlete Luiza. Interação Entre Escola e Família no Processo de Ensino e Aprendizagem da Criança, em Portal
da Educação. Disponível em: https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/medicina/interacao-
entre-escola-e-familia-no-processo-de-ensino-e-aprendizagem-da-crianca/57669.
“Se a família a coloca a criança na escola, mas não a acompanha
pode gerar nela um sentimento de negligência e abandono em
relação ao seu desenvolvimento. Por falta de um contato mais
próximo e afetuoso, surgem as condutas caóticas e
desordenadas, que se refletem em casa e quase sempre,
também na escola em termo de indisciplina e de baixo
rendimento escolar”.6

De uma maneira geral, sobre o fundamental e insubstituível papel da família


na educação da criança, afirma Nérici (1972, pg. 12) “A educação deve orientar a
formação do homem para ele poder ser o que é e da melhor forma possível.”7

Percebe-se, assim, que a ação educativa tem influência da família e essa


influência, no entanto, é básica e fundamental no processo de educar a criança,
nenhuma outra instituição possui condições de substituir.

Contudo, tanto a família quanto a escola, possuem importância fundamental


no desenvolvimento integral da criança e devem, por conseguinte, andar de mãos dadas
nessa missão educativa.

1.2.3. Do papel da família na educação formal e informal

A família se modifica através da história, mas continua sendo um sistema de


vínculos afetivos onde se dá todo o processo de humanização do indivíduo. Um
ambiente familiar estável e afetivo contribui de forma essencial para o bom
desempenho escolar da criança. Um lar deficiente, mal estruturado social e
economicamente, tende a favorecer o baixo desempenho escolar das crianças, destaca
Symansky (SYMANSKY, 2001).8

A formação do caráter do indivíduo se dá através da junção de três fatores


essenciais: as características naturais e hereditárias (como os temperamentos, por

6 MALDONADO, M. T. apud BITTENCOURT, Elaine Aparecida de Melo de. EDUCAÇÃO: A AUSÊNCIA DA FAMÍLIA NA
HISTÓRIA DAAPRENDIZAGEM ESCOLAR. 2017. Disponível em: http://www.uniedu.sed.sc.gov.br/wp-
content/uploads/2017/02/Elaine-Aparecida-de-Melo-de-Bitencourt.pdf
7 SOUZA, Arlete Luiza. Interação Entre Escola e Família no Processo de Ensino e Aprendizagem da Criança, em Portal

da Educação. Disponível em: https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/medicina/interacao-


entre-escola-e-familia-no-processo-de-ensino-e-aprendizagem-da-crianca/57669.
8 SOUZA, Maria Ester do Prado. Família / Escola: a importância dessa relação no desempenho escolar. Santo Antônio

da Platina: [s.n.], 2009. 25 p.


exemplo), as influências que recebe do exterior (a relação com as amizades, o ciclo
social, o que aprende na escola, a televisão etc.) e a qualidade do ambiente familiar.
Sendo o ambiente familiar o fator mais determinante para o caráter e a personalidade
que essa criança desenvolverá no decorrer dos anos.

Se uma criança, independente do seu perfil natural e das influências que


recebe do seu entorno, possui um ambiente familiar limpo, harmonioso, onde se vive o
respeito e a confiança, além de um afeto repleto de carinho e limites, essa criança
certamente desenvolverá uma visão positiva da vida e do mundo, se tornando um
cidadão capaz de contribuir de maneira ativa com a sociedade.

Por outro lado, sabe-se que, quando algo não vai bem no ambiente familiar,
o escolar também é afetado. Percebe-se que a grande maioria das dificuldades
apresentadas pelas crianças é proveniente de problemas familiares. Por falta de um
contato mais próximo e afetuoso, surgem as condutas caóticas e desordenadas, que se
reflete em casa e quase sempre, também na escola em termos de indisciplina e de baixo
rendimento escolar (MALDONADO, 1997, p. 11). 9

ESTEVES (1999) assegura que “a família renunciou às suas responsabilidades


no âmbito educativo, passando a exigir que a escola ocupe o vazio que eles não podem
preencher”10. Essa erosão do apoio familiar na educacão e no ensino dos seus filhos não
se expressa apenas na falta de tempo para ajudar as crianças nos trabalhos escolares ou
para acompanhar sua trajetória escolar, mas percebe-se um crescente movimento de
delegação dos papéis e responsabilidades familiares à escola e seus profissionais,
gerando uma sobrecarga nos professores e um desgaste na relação família-escola.

Faz-se necessário destacar o trecho do estudo Fundamentos da família como


promotora do desenvolvimento infantil: parentalidade em foco, (Pluciennik, 2015, p. 98/99) que

afirma que “a escola é um dos principais agentes de desenvolvimento das crianças, mas

9 SOUZA, Arlete Luiza. Interação Entre Escola e Família no Processo de Ensino e Aprendizagem da Criança, em Portal
da Educação. Disponível em: https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/medicina/interacao-
entre-escola-e-familia-no-processo-de-ensino-e-aprendizagem-da-crianca/57669.
10 ESTEVES, Jose M apud NUNES, NEUDIRAN GONÇALVES. A INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA NA ESCOLA PARA A
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO. 2012. Disponível em: https://www.webartigos.com/artigos/a-influencia-da-
familia-na-escola-para-a-construcao-do-conhecimento/99641
não o único.”11 É no seio familiar que se dá a maior parte do desenvolvimento da
primeira infância, e, por isso, se faz importante o fortalecimento do diálogo entre ambas
as instituições.

Compreende-se desta forma que:

▫ É indispensável a participação da família na vida escolar dos filhos, pois essa


presença potencializa um melhor desempenho nas atividades escolares.
▫ É indispensável que a família esteja em harmonia com o plano educativo da
instituição e ambas somem esforços em prol do desenvolvimento das crianças.
A família deve, portanto,se esforçar1.2..
▫ Esta presença implica envolvimento, comprometimento, estímulo e
colaboração.
▫ O papel dos pais, portanto, é dar continuidade ao trabalho da escola, criando
condições para que seus filhos tenham sucesso tanto na sala de aula como na
vida adulta.
▫ A falta de comprometimento dos pais no processo de educação integral dos
filhos - definido hoje como problema social, se caracteriza como uma forma de
negligência parental. Ela pode ser causada pelo despreparo e ausência de
orientação familiar e pelo enfraquecimento dos vínculos familiares, acarretando
atitudes de indiferenças e uma crescente delegação dos papéis e funções
familiares a terceiros como babás, avós, escolas etc.
▫ Quanto mais as famílias se envolvem com a educação dos filhos e participam
ativamente da vida escolar, melhores são os resultados de aprendizagem dos
alunos. Esta afirmação é praticamente consensual no campo educacional, e não
faltam evidências para embasá-la.
▫ A maior participação dos pais resulta em melhores notas, como demonstra
relatório divulgado em fevereiro de 2016, pela Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e os resultados do Pisa (exame

11Fundamentos da família como promotora do desenvolvimento infantil: parentalidade em foco/ organizadores


Gabriela Aratang Pluciennik, Márcia Cristina Lazzari, Marina Fragata Chicaro. -- 1. ed. -- São Paulo: Fundação Maria
Cecília Souto Vidigal - FMCSV, 2015. (p. 98-99)
internacional da entidade), apontam os impactos positivos na melhoria do
ambiente escolar e na redução da indisciplina.12

1.2.4. Da negligência parental e violência intrafamiliar e seus impactos

A partir de um estudo feito no Instituto Universitário de Lisboa, Cláudia


Camilo e Margarida Vaz Garrido13 classificaram a negligência parental como uma forma
de maus tratos. Segundo as autoras,

“mau trato diz geralmente respeito a “qualquer forma de trato físico e


(ou) emocional, não acidental e inadequado, resultante de disfunções
e (ou) carências nas relações entre crianças ou jovens e pessoas mais
velhas, num contexto de uma relação de responsabilidade, confiança
e (ou) poder” (Magalhães, 2004, p. 33) que perturbem o
desenvolvimento físico, psicológico ou emocional considerado como
normal para a criança (Pontón, Franco, & Ramírez, 2006; Roig & De
Paúl, 1993). O mau trato pode ser ativo, quando inclui o uso da força
física, sexual ou psicológica; ou passivo, quando revela omissão e falha
nos cuidados que condicionam o bem-estar da criança (Barudy,
1998).”14

Pode-se dizer, portanto, que a negligência parental é uma forma omissiva


de mau trato. É a ausência de cuidado em alguma ou várias das necessidades básicas da
criança, essenciais para o seu desenvolvimento. Essas necessidades podem ser:

• Físicas (habitação, alimentação, higiene, vestuário, acompanhamento da saúde


física); e
• Educacionais (acompanhamento escolar, desenvolvimento da saúde mental e
das habilidades de vida);

A negligência à saúde física pode levar à má nutrição, deficiência no


desenvolvimento cerebral, infecções respiratórias ou gastrointestinais, dentre outros
problemas de saúde. A negligência educacional, por sua vez, pode desencadear o

12 Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/222-537011943/42761-desempenho-em-leitura-no-


pisa-ficou-80-pontos-abaixo-da-media. Acessado em: 12/08/2020.
13 CAMILO, Cláudia; GARRIDO, Margarida Vaz. Desenho e avaliação de programas de desenvolvimento de

competências parentais para pais negligentes: Uma revisão e reflexão. Aná. Psicológica, Lisboa , v. 31, n. 3, p. 245-
268, set. 2013. Disponível em <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-
82312013000300003&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 01 set. 2020.
14 Idem.
desinteresse pelos estudos e uma possível evasão escolar, dificuldade nas relações
sociais, isolamento e problemas psicológicos.

Essas práticas familiares negligentes estão geralmente associadas à falta de


conhecimento ou competência parental para educar, supervisionar e responder às
necessidades dos filhos.

Dessa forma, Camilo e Garrido propõe, como solução para a negligência


parental o conhecimento e o desenvolvimento das habilidades parentais, assim como é
a proposta deste Projeto.

Daniel Shaw, PhD da pela Universidade de Pitsburgh, também enfatiza a


importância da orientação parental para o desenvolvimento social e emocional das
crianças:

“Várias dimensões das práticas parentais foram associadas a diversos


tipos de ajustamento da criança. Do lado positivo, cuidados iniciais
caracterizados como sensíveis, responsivos, comprometidos,
proativos e estruturadores foram associados a ajustamentos
socioemocionais positivos. Inversamente, práticas parentais na
primeira infância – do nascimento aos 5 anos de idade – caracterizadas
como negligentes, rígidas, distantes, punitivas, invasivas e reativas
foram associadas a vários tipos de desajustamentos.”15

Além da negligência, existem outros tipos de violência intrafamiliar que


influenciam negativamente no desenvolvimento das crianças. Ao contrário da
negligência, que é uma prática omissiva, as violências física, emocional e sexual são
práticas ativas.

Todos esses tipos de violência desencadeiam consequências nas esferas

física, social, comportamental, emocional e cognitiva da criança, podendo ser


apresentadas a curto, médio ou longo prazo.16

“De forma geral podemos dizer que toda criança que sofre violência
nos primeiros anos de vida pode ter o seu desenvolvimento cerebral

15Shaw, Daniel S., Habilidades parentais. Em: Tremblay RE, Boivin M, Peters RDeV, eds. Tremblay RE, ed. tema.
Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância [on-line]. http://www.enciclopedia-
crianca.com/sites/default/files/dossiers-complets/pt-pt/habilidades-parentais.pdf. Atualizada: Dezembro 2011.
Consultado: 01/09/2020.
16 REICHENHEIM, Michael E.; HASSELMANN, Maria Helena; MORAES, Claudia Leite. Conseqüências da violência

familiar na saúde da criança e do adolescente: contribuições para a elaboração de propostas de ação. Ciênc. saúde
coletiva, Rio de Janeiro , v. 4, n. 1, p. 109-121, 1999 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81231999000100009&lng=en&nrm=iso>. access
on 01 Sept. 2020. https://doi.org/10.1590/S1413-81231999000100009
comprometido. Após um longo período vivenciando ou presenciando
a violência a criança terá seu sistema imunológico e nervoso afetado o
que resulta em inaptidões sociais cognitivas. A maioria das crianças
apresenta problemas sociais e baixa autoestima o que gera descuido
com o próprio corpo, e a longo prazo podem gerar alucinações, baixo
desempenho no trabalho e até gerar problemas de violência em
relacionamentos futuros.” 17

1.3 Mapeamento das causas que acarretam o problema

As causas da negligência parental e da violência intrafamiliar são diversas,


como a baixa renda, educação insuficiente e cultura da violência. Mas as causas que esta
proposta pretende combater são:

▫ Fragilidade dos vínculos familiares.


▫ A crescente delegação dos papéis e funções familiares.
▫ Educação repressiva baseada na violência.
▫ Falta de preparo e orientação dos pais/responsáveis pelas famílias para terem
um bom relacionamento interpessoal e saberem educar os filhos com práticas
parentais positivas.

Todas essas causas podem contribuir para o problema em foco nessa


análise, que é o alto índice de práticas parentais negativas manifestadas na forma de
negligência parental e violência intrafamiliar. Dessa forma, os desafios intrafamiliares
aumentam, gerando uma série de consequências negativas, como:

▪ Reflexos na escola: mau comportamento dos filhos, baixo rendimento,


desinteresse pelos estudos, evasão escolar e excessiva cobrança dos pais junto
aos professores e profissionais de educação, gerando desgastes dos professores
e dos demais profissionais da educação;
▪ Relacionamento disfuncional entre pais e filhos, sem diálogo e confiança, com
manifestações de agressividade verbal e física tanto dos pais quanto dos filhos,
baixa autoestima, falta de estímulos positivos e afeto;

17 MARKHAM, Ursula. Traumas de infância: esclarecendo dúvidas. São Paulo:Ágora, 2000.


▪ Problemas crescentes de saúde física, mental e emocional em crianças, como
distúrbios de atenção, hiperatividade, agressividade, depressão etc.

Nesse contexto, tem-se a seguinte árvore do problema:

1.4. Quais são as evidências da existência do problema na realidade


brasileira?

Identificamos essencialmente duas manifestações das práticas parentais


negativas: a violência intrafamiliar e a negligência parental, muitas vezes ocasionadas
por falta de conhecimento, formação e orientação por parte dos pais no que diz respeito
à educação e desenvolvimento integral das crianças.

Da mesma forma, há inúmeras evidências de que essas práticas parentais


negativas acarretam diversos prejuízos como baixo desempenho e até mesmo evasão
escolar, além de problemas psicológicos e emocionais nas crianças.

1.4.1. Violência intrafamiliar

Como o tema da violência assumiu grande importância para a saúde pública


em função de sua magnitude, gravidade, vulnerabilidade e impacto social sobre a saúde
individual e coletiva, os elementos da desestruturação familiar indicados pelo Ministério
da Saúde, intitulado “Caderno de Atenção Básica – Violência intrafamiliar: orientações
para a prática em serviço”, publicado em 2002 18 ratifica a urgência em se mobilizar e
fortalecer as ações, serviços e profissionais de saúde na perspectiva de assumir uma
nova atitude e colaboração em relação ao problema.

O Ministério da Saúde conceitua a violência intrafamiliar, como[...] toda


ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a
liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de outro membro da família. Pode ser
cometida dentro ou fora de casa por algum membro da família, incluindo pessoas que
passam a assumir função parental, ainda que sem laços de consanguinidade, e em
relação de poder à outra. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002, p. 15) 19

O Caderno de Atenção Básica descreve que a violência intrafamiliar pode se


manifestar de várias formas, em diferentes graus de severidade e periodicidade. Julga-
se pertinente listar os tipos de violência intrafamiliar e algumas formas de manifestação,
segundo o Ministério da Saúde (2002, p. 17-22)20: violência física, violência sexual,
violência psicológica, violência econômica ou financeira, violência institucional, e.g.
ausência de serviços públicos efetivos, eficientes e eficazes, discriminação, amparo aos
direitos reprodutivos, dentre outros.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) firmou parceria com o Conselho


Federal de Medicina (CFM) e o Ministério dos Direitos Humanos para buscar soluções
contra agressões a crianças e adolescentes. Diariamente, são notificadas no Brasil, em
média, 233 agressões de diferentes tipos (física, psicológica e tortura) contra crianças e
adolescentes com idade até 19 anos.21

Um grupo de trabalho formado por técnicos e especialistas das três


entidades analisa as estatísticas, a legislação e as diferentes percepções sobre o
problema para desenvolver estratégias específicas. Dados do Sistema Nacional de

18 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência intrafamiliar: orientações para prática em
serviço 1Secretaria de Políticas de Saúde. - Brasília: Ministério da Saúde, 2002.
19 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência intrafamiliar: orientações para prática em

serviço 1Secretaria de Políticas de Saúde. - Brasília: Ministério da Saúde, 2002.


20 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência intrafamiliar: orientações para prática em

serviço 1Secretaria de Políticas de Saúde. - Brasília: Ministério da Saúde, 2002.


21Brasil registra diariamente 233 agressões a crianças e adolescentes. Dados da SBP indicam que parte dos casos

ocorre no ambiente doméstico. Disponivel em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2019-


12/brasil-registra-diariamente-233-agressoes-criancas-e-adolescentes. Acessado em 15/08/2020.
Agravos de Notificação (Sinan), ligado ao Ministério da Saúde, mostram que, somente
em 2017, foram feitas 85.293 notificações de violência intrafamiliar.22

Os dados foram extraídos pela Sociedade Brasileira de Pediatria e indicam


que, parte dessas situações, ocorre no ambiente doméstico ou tem com autores pessoas
do círculo familiar e de convivência das vítimas. De acordo com a pesquisa divulgada em
16/12/2019 pela Agencia Brasil, EBC:

▫ Do total de casos notificados pelos serviços de saúde, 69,5% (59.293) são


decorrentes de violência física; 27,1% (23.110) de violência psicológica; e 3,3%
(2.890) de episódios de tortura. O trabalho não considerou variações como
violência e assédio sexual, abandono, negligência, trabalho infantil, entre outros
tipos de agressão, que serão abordados pela SBP em publicação a ser divulgada
em 2020.
▫ A série histórica (de 2009 a 2017) revela que o volume de agressões chega a
471.178 registros. No primeiro ano da série, houve 13.888 notificações (média
de 38 por dia). Oito anos depois, o volume cresceu 34 vezes.23

Nesse sentido, o Ministério da Saúde declara que dentre os anos de 2011 e


2018 foram notificados 266.666 casos de violência interpessoal contra crianças. A
distribuição destas notificações entre os anos de notificação está descrita no gráfico
abaixo:

22Ibid
23 Ministério dos Direitos Humanos Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos - Disque Direitos Humanos Relatório
2017. Disponível em <https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-informacao/ouvidoria/dados-disque-100/relatorio-
balanco-digital.pdf> acessado em 28 agosto 2020.
Fonte: Sinan

Segundo relatório feito com base nas denúncias ao Disque Direitos


Humanos, o Disque 100, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos,
os números aumentaram ainda mais nos anos de 2018 e 2019.

Em 2019, foram feitas 86.837 denúncias, dentre as quais 55% foram


referentes a violações de direitos humanos contra crianças e adolescentes. 24

1.4.2. Negligência e abandono

As dinâmicas familiares negligentes associam-se geralmente à falta de


conhecimento ou competência parental para educar, supervisionar e responder às
necessidades dos filhos menores.25

Considerando que a violência doméstica praticada contra crianças e


adolescentes pode se dar de forma física, sexual, psicológica/moral e por
negligência/abandono, esta última constitui 38,5% do total de casos4, segundo uma
pesquisa feita em 2013 pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Segundo dados apresentados pelo Balanço Anual do Disque Direitos


Humanos, Disque 100, o número de denúncias de violação aos direitos humanos da

24 Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Disque Direitos Humanos. Relatório 2019. Disponível
em: https://crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/mmfdh/disque_100_relatorio_mmfdh2019.pdf
25 CAMILO, Cláudia; GARRIDO, Margarida Vaz. Desenho e avaliação de programas de desenvolvimento de

competências parentais para pais negligentes: Uma revisão e reflexão. Aná. Psicológica, Lisboa , v. 31, n. 3, p. 245-
268, set. 2013. Disponível em <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-
82312013000300003&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 01 set. 2020.
criança e do adolescente, tornaram a subir em 2017, com 89.049 ligações, um aumento
de aproximadamente 9,4%.26Foi um total de 61.416 casos denunciados de negligência,
seguidos de 39.561 de violência psicológica e 33.105 de violência física, violência sexual,
20.330 casos, e outras violências, 11.944.

A Ouvidoria do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos


apresentou novo balanço em 2019 27, registrando, novamente a negligência como o tipo
de violência doméstica mais denunciado. Foram 62.019 casos denunciados, seguidos de
36.304 de violência psicológica, 33.374 de violência física e 17.029 de violência sexual.
No comparativo entre os últimos anos, encontramos um aumento em todos os tipos de
violação, sendo a negligência, o aumento mais significativo, equivalente a 7.112 casos.

Balanço anual da Ouvidoria disque 100. Ano 2019.

No mesmo sentido, o Ministério da Saúde também apresenta dados de


notificações recebidas. Mais da metade foram descritos como casos de negligência e
abandono, conforme mostra o gráfico seguinte:

26 Ministério dos Direitos Humanos Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos - Disque Direitos Humanos Relatório
2017. Disponível em <https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-informacao/ouvidoria/dados-disque-100/relatorio-
balanco-digital.pdf> acessado em 28 agosto 2020.
27 Ministério dos Direitos Humanos Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos - Disque Direitos Humanos Relatório

2019. Dispponível em:


https://crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/mmfdh/disque_100_relatorio_mmfdh2019.pdf
Fonte: Sinan

Ainda pode-se encontrar dados referentes aos acusados e aos locais onde os
crimes acontecem. É alarmante o resultado de que as violências de origem intrafamiliar
e ocorridas na casa da vítima representa a maioria dos casos. Os crimes cometidos por
pessoas do círculo familiar, mãe, pai, familiares de segundo grau, padrasto, avó, tio e
outras relações com vínculo familiar, totalizam 79% dos casos. Os casos onde os pais são
acusados somam 58%, sendo 40% das violações cometidas pela mãe e 18% cometidas
pelo pai.

Balanço anual da Ouvidoria disque 100. Ano 2019.


Balanço anual da Ouvidoria disque 100. Ano 2019.

No mesmo sentido, o Ministério da Saúde também afirma que dentre as


negligências notificadas entre 2011 e 2018, observa-se que em todo o período, o local
mais frequente é a residência – Tabela 1. A descrição do tipo de agressor dentre as
negligências ocorridas na residência se encontra demonstrado na Tabela 2.

Tabela 1. Distribuição das notificações de negligência contra criança segundo local de ocorrência
por ano de notificação. Brasil, 2011 a 2018

ano da notificação

local de 201
ocorrência 1 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total

4.77 10.05 10.08 10.92 12.56 14.59 16.74


Residência 3 7.757 2 5 6 3 4 4 87.494

Habitação Coletiva 22 35 56 47 49 47 74 104 434

Escola 74 192 171 195 210 252 253 262 1.609

Local de pratica
esportiva 17 10 20 25 30 27 43 32 204

Bar ou Similar 26 25 29 36 44 25 43 43 271

Via pública 391 657 742 905 881 980 1.214 1.290 7.060

Comércio/Serviços 145 405 343 692 870 661 752 895 4.763

Indústrias/constru
ção 2 5 13 7 8 6 11 12 64
1.37
Outros 8 1.555 1.991 2.278 2.198 2.179 3.651 4.046 19.276

Ignorado 689 1.240 1.167 1.124 1.575 1.424 3.672 3.373 14.264

Em Branco 249 249 394 300 8 7 6 12 1.225

7.7 12.13 14.97 15.69 16.79 18.17 24.31 26.81 136.66


Total 66 0 8 4 9 1 3 3 4

Fonte: Sinan

Tabela 2. Distribuição das notificações de negligência contra criança segundo local de ocorrência
por ano de notificação. Brasil, 2011 a 2018.

ano da notificação

201 201 201 201 201


Agressor 1 2 3 4 5 2016 2017 2018 Total

3.24 5.21 6.81 7.61 8.82 10.69 12.21 14.34


Mãe 4 8 9 1 8 8 8 4 68.980

1.53 2.64 3.59 4.02 4.56


Pai 8 9 6 2 4 5.474 6.875 7.667 36.385

Cuidador(a) 98 124 149 129 149 148 140 152 1.089

Fonte: Sinan

Outros gráficos disponibilizados são acerca do gênero mais frequente, faixa


etária e raça. Eles evidenciam que a maior incidência de violação aos direitos da criança
é nas meninas negras e pardas com idades entre 4 e 17 anos, havendo, ainda, uma
quantidade considerável de violações à vítimas com idades de 0 a 3 anos. Esses dados
são profundamente alarmantes pois demonstram que os casos perpassam a primeira
infância e a fase da adolescência o que pode comprometer o desenvolvimento saudável
do menor.
Balanço anual da Ouvidoria disque 100. Ano 2019.

A negligência familiar é a campeã de denúncias sobre violações de direitos


fundamentais de crianças e adolescentes no país. Dos pelo menos 28.465 casos de
problemas de convivência familiar e comunitária levados aos Conselhos Tutelares em
2019, 13.218 relatavam negligência dos pais.

Balanço anual da Ouvidoria disque 100. Ano 2017.

Estes dados são corroborados pelo SIPIA (Sistema de Informações para


Infância e Adolescência), sistema nacional do Governo Federal que reúne as queixas de
4.945 dos 5.924 Conselhos Tutelares existentes em municípios e estados, representando
285.789 casos de Violações relativas à Convivência Familiar e Comunitária no período
entre janeiro de 2016 a janeiro de 2020.O número de casos de negligência dentro das
famílias vem aumentando desde 2011. Apenas em 2014, foram apresentadas 3.031
denúncias aos conselhos.

Com referência à prática do abandono, faz-se, necessário tipificar os vários


tipos de abandono: de natureza material, intelectual e afetiva. Conforme descrito pelo
Laboratório de Estudos da Família (LEFAM), “a ausência paterna decorre de um vínculo
com a criança que, de alguma maneira, não tem força o suficiente para se sobrepor a
outros interesses ou necessidades desse pai.” Assim, ele deixa de cumprir uma função
paterna que pode ser tanto de natureza material, intelectual ou afetiva: três formas de
abandono. Os dois primeiros estão previstos no Código Penal. O último, entretanto, só
começou a ser tratado na Justiça nos últimos anos.

O abandono material acontece quando se deixa de prover, sem justa causa,


a subsistência do filho menor de 18 anos a partir da não garantia de recursos, de pensão
alimentícia ou perante negligência em prestar socorro em caso de enfermidade grave.
O intelectual, por sua vez, ocorre quando o responsável deixa de garantir a educação
primária do seu filho, dos 4 aos 17 anos, sem justa causa.

De acordo com os dados do relatório da UNICEF e PNAD de 2017, no Brasil,


2,8 milhões de meninas e meninos de 4 a 17 anos estavam fora da escola em 2015. 28
Desse total, quase 1,6 milhão tinham entre 15 e 17 anos, haviam passado pela escola,
mas evadiram, e outros 820 mil estavam fora da educação infantil. A exclusão escolar
afeta principalmente meninas e meninos das camadas mais vulneráveis da população,
já sem outros direitos constitucionais.

Por fim, vale registrar que a indiferença afetiva de um genitor em relação a


seus filhos, ainda que não exista abandono material e intelectual, pode ser constatada
como abandono afetivo. Atualmente, algumas decisões do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) ocorrem no sentido de conceder indenização a partir da premissa de que o
abandono afetivo constitui descumprimento do dever legal de cuidado, criação,

28 Relatório UNICIF 2017 Educação - Disponível em https://data.unicef.org/resources/a-future-stolen/


educação e companhia presente, previstos implicitamente na Constituição Federal de
1988.29

1.4.3. A influência da participação dos pais no desempenho escolar


dos filhos

A maior participação dos pais resulta em melhores notas, como demonstra


relatório divulgado em fevereiro de 2016, pela Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) e os resultados do Pisa (exame internacional da
entidade), apontam os impactos positivos na melhoria do ambiente escolar e na redução
da indisciplina.30

O atual contexto imposto pela pandemia do Coronavírus (COVID-19)


destacou ainda mais a necessidade dessa aproximação entre escola e família, uma vez
que no momento atual, com as escolas fechadas, a comunicação da escola com a família,
e a respectiva participação desta no acompanhamento das aulas e atividades de ensino-
aprendizagem propostas pela escola (sobretudo para o público da Educação Infantil e
Ensino Fundamental), tornou-se ainda mais relevante para auxiliar as crianças e
adolescentes a sentir-se motivadas e responsáveis visando um bom desempenho
escolar.

Conforme destaca o parecer do Conselho Nacional de Educação, CNE Nº


05/2020, “é importante que as escolas busquem uma aproximação virtual dos
professores com as famílias, de modo a estreitar vínculos e melhor orientar os pais ou
responsáveis na realização destas atividades com as crianças. A escola é um dos
principais agentes de desenvolvimento das crianças, mas não o único. O que se aprende
no âmbito da família, e em outros ambientes – inclusive engatinhar, andar, correr, falar
–, também faz parte do desenvolvimento na primeira infância, motivo pelo qual é tão

29 Vale destacar que o IBGE apresenta a categoria Mulher sem cônjuge e com filhos, mas não apresenta a categoria
Homens sem cônjuge e com filhos. Estas mães solo correspondem à 17,4% das famílias brasileiras no ano de 2009.

30Conforme Mapa de Aprendizagem 2015, desenvolvido pelo Iede, Fundação Lemann e Itaú BBA. Disponivel em:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2019-09/participacao-de-pais-na-vida-escolar-melhora-
desempenho-dos-filhos
relevante fortalecer o diálogo entre os diversos atores que se relacionam com a
criança.”31

De acordo com os dados da plataforma educacional Mapa da Aprendizagem


201932 sobre a participação ativa dos pais na vida escolar de seus filhos, a OCDE fez uma
pesquisa em 49 países, e, no Brasil, cerca de 50,2% dos estudantes afirmam que os pais
participam ativamente das atividades escolares. O resultado coloca o país na 24ª posição
do ranking.
Os dados demonstram ainda que o nível socioeconômico é um fator que
impacta na participação dos pais na escola. Um grupo de 63,2% de alunos com maior
nível socioeconômico relatou acompanhamento constante dos pais, enquanto os de
menor nível representam somente 46%.

Observa-se também que o abandono e a evasão escolar são problemas


enfrentados por gestores e educadores e, por conseguinte, pela sociedade. Segundo
dados do UNICEF (2014), existem no Brasil cerca de 21 milhões de adolescentes, com
idade entre 12 e 17 anos, sendo que de cada 100 estudantes que entram no Ensino
Fundamental, apenas 60 terminam o 9º ano.33

Destacamos dois estudos sobre a baixa participação dos pais na vida escolar
dos seus filhos:

1. A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo divulgou em 2013 um


mapeamento inédito sobre a participação dos pais na vida escolar dos
alunos da rede estadual de ensino.34 A pesquisa avaliou uma amostragem
de 1 milhão de alunos, representativa dos 4,3 milhões de estudantes da
rede. O objetivo foi detectar o acompanhamento dos responsáveis na
lição de casa, ferramenta aliada do ensino e que auxilia na aproximação

31 Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=145011-


pcp005-20&category_slug=marco-2020-pdf&Itemid=30192
32 Mada de Aprendizagem Brasil 2019. Pisa 2015 e Pisa 2018, OCDE. Disponível em
http://mapadaaprendizagem.com.br/dados-de-aprendizagem/. Acesso em 28 Agosto 2020.
33 Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) - 10 desafios do ensino médio no Brasil: para garantir o direito

de aprender de adolescentes de 15 a 17 anos / [coordenação Mário Volpi, Maria de Salete Silva e Júlia Ribeiro]. – 1.
ed. – Brasília, DF: UNICEF, 2014.
34 Disponivel em: https://www.educacao.sp.gov.br/noticias/pesquisa-inedita-revela-que-sete-em-cada-10-pais-

participam-da-vida-escolar-dos-filhos/
das famílias da rotina das mais de 5 mil escolas estaduais de São Paulo. 35
Foi constatado que:
i. quanto mais novo o aluno, maior o índice de participação dos
pais;
ii. 17% dos alunos do 7º ano disseram que os responsáveis nunca
ajudam no dever escolar;
iii. entre os estudantes do Ensino Médio a parcela que não conta
com o apoio dos pais sobe para 45,7%, quase três vezes
superior;
iv. entre os estudantes com menos de 12 anos (3º e 5º anos), 5%
ficam sem assistência da família na hora da lição;
v. a mãe foi apontada como a mais participativa nas tarefas (61%);
vi. o levantamento mostra ainda que um em cada três estudantes
conta com o apoio dos pais na hora do dever (33,9%);
vii. a parcela de alunos que indicou os irmãos como ajudantes
somou 26,8% e
viii. 60% dos pais e responsáveis buscam acompanhar as notas dos
filhos junto às unidades escolares.
2. Em outro estudo realizado em 2015 pelo Programa Internacional de
Avaliação de Estudantes (Pisa)36, reunindo os dados coletados pela
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
foi constatado que:
i. No Brasil, 50,2% dos estudantes dizem que os pais têm interesse
pelas atividades escolares. A porcentagem coloca o país na 24ª
posição em um ranking de 49 países com o dado disponível. A
média dos países da OCDE é 48,07%.
ii. Os dados brasileiros apontam que há diferença entre aqueles
com maior nível socioeconômico, grupo no qual 63,2% dos

▫ 35 Os critérios utilizados no questionário foram: participação dos pais na vida escolar baseada em

participação de reunião com escola, acompanhamento do boletim bimestral ou das tarefas de casa
36 Último exame internacional com dados disponíveis, realizado em 2015, que avalia estudantes de 15 anos de

cerca de 70 países, por meio da plataforma de dados educacionais Mapa da Aprendizagem.


estudantes relatam a participação dos pais, e aqueles com
menor nível socioeconômico, com 46%.

De acordo com o diretor executivo do Interdisciplinaridade e Evidências no


Debate Educacional (IEDE), Ernesto Martins Faria, "pais que participam geram um
ambiente de valorização da educação que é super necessário para o jovem se engajar.
Participar da vida escolar é acompanhar a frequência escolar dos filhos, ou seja, saber
se estão ou não indo para a escola, participar de reuniões e conversar com os próprios
filhos. É importante, que pais e escolas ajam em conjunto”.

A partir desses dados, pode-se verificar a importância do comprometimento


dos pais com a educação de seus filhos e suas consequências. Quanto mais envolvidos
estiverem, melhor será o desempenho escolar e os efeitos dessa educação na vida
adulta.

1.4.4. Evasão Escolar

De acordo com a mais recente pesquisa do módulo de Educação da PNAD


Contínua 2019, divulgado em 15/07/2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE,37 pela primeira vez com dados consolidados nacional sobre abandono
escolar, destaca-se:

▫ Das 50 milhões de pessoas de 14 a 29 anos do país, 20,2% (ou 10,1 milhões) não
completaram alguma das etapas da educação básica, seja por terem
abandonado a escola, seja por nunca a terem frequentado. Desse total, 71,7%
eram pretos ou pardos.
▫ Os resultados mostraram ainda que a passagem do ensino fundamental para o
médio acentua o abandono escolar, uma vez que aos 15 anos o percentual de
jovens quase dobra em relação à faixa etária anterior, passando de 8,1%, aos 14

37https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/28285-pnad-

educacao-2019-mais-da-metade-das-pessoas-de-25-anos-ou-mais-nao-completaram-o-ensino-
medio#:~:text=Entre%20os%20principais%20motivos%20para,escola%20ou%20creche%20em%202019.
anos, para 14,1%, aos 15 anos. Os maiores percentuais, porém, se deram a partir
dos 16 anos, chegando a 18,0% aos 19 anos ou mais.
▫ Entre os principais motivos para a evasão escolar, os mais apontados foram a
necessidade de trabalhar (39,1%) e a falta de interesse (29,2%). Entre as
mulheres, destaca-se ainda gravidez (23,8%) e afazeres domésticos (11,5%).
▫ O atraso ou abandono escolar atingia 12,5% dos adolescentes de 11 a 14 anos e
28,6% das pessoas de 15 a 17 anos.
▫ Entre os jovens de 18 a 24 anos, quase 75% estavam atrasados ou abandonaram
os estudos, sendo que 11,0% estavam atrasados e 63,5% não frequentavam
escola e não tinham concluído o ensino obrigatório.

1.4.5. Problemas psicológicos

Além do desempenho escolar, a falta de comprometimento dos pais para


com seus filhos gera vários efeitos psicológicos na criança, especialmente sobre sua
autoestima. O Ministério da Saúde estima que 10 a 20% de crianças e adolescentes (no
grupo etário entre 5 e 14 anos) sofram de algum distúrbio psiquiátrico. 38

Por esse motivo, a procura por atendimento psicológico, explica Marinho


(2001a), tem aumentado muito nas últimas décadas, especialmente pelas dificuldades
que inúmeras famílias têm encontrado para educar seus filhos em um ambiente
consideravelmente distinto do qual foram educadas.39

Em pesquisa realizada por estudiosos das Universidades de São Paulo e


Paraná40, constatou-se a íntima relação entre as habilidades parentais e distúrbios
psicológicos, como depressão e estresse.

38Menezes TT, Melo VJ. O pediatra e a percepçao dos transtornos mentais na infância e adolescência. Adolesc
Saude. 2010;7(3):38-46
39 MARINHO, M. L.apud MONDIN, Elza Maria Canhetti. CONTEXTO E COMPORTAMENTO: DEFININDO AS

INTERAÇÕES NA FAMÍLIA E NA PRÉ-ESCOLA 2006. Disponível em:


https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/102237/mondin_emc_dr_mar.pdf;sequence=1
40GOMIDE, Paula Inez Cunha et al. Correlação entre práticas educativas, depressão, estresse e habilidades sociais.
PsicoUSF, Itatiba , v. 10, n. 2, p. 169-178, dez. 2005. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-82712005000200008&lng=pt&nrm=iso>.
acessos em 28 ago. 2020.
A pesquisa utilizou o IEP - Índice de Estilo Parental como parâmetro. Esse
índice é obtido por meio de um questionário composto de 42 questões abordando duas
práticas educativas positivas e cinco negativas. O Índice de Estilo Parental é calculado
somando-se os pontos obtidos nas questões referentes às práticas positivas (monitoria
positiva e comportamento moral) que são subtraídos da somatória dos pontos das
práticas negativas (punição inconsistente, negligência, disciplina relaxada, monitoria
negativa e abuso físico). O índice quando negativo informa a prevalência de práticas
educativas negativas e quando positivo, a presença de práticas positivas no processo
educativo.

O resultado da pesquisa mostrou, em famílias com índice de educação


parental negativo, altos índices de distúrbios psicológicos nas crianças, como depressão
(62,5%) e estresse (100%). Por outro lado, em famílias com índice de educação parental
positivo, nenhuma criança apresentou sinais de depressão, e apenas 25% apresentaram
sinais de estresse. Mais informações sobre esta pesquisa podem ser encontradas no
ANEXO II - Estudo de Caso: Correlação entre Praticas Educativas Parentais Positivas e
Negativas e Habilidades Sociais das Crianças.41

A literatura também aponta, por um lado, uma correlação positiva entre


depressão e estresse e as práticas educativas negativas de negligência, abuso físico,
punição inconsistente, disciplina relaxada e monitoria negativa.42

Por outro lado, vários autores43 mostraram que pais que procuram
desenvolver habilidades sociais como estratégias educacionais, evitam que seus filhos
apresentem comportamentos antissociais.44

41 GOMIDE, Paula Inez Cunha et al . Correlação entre práticas educativas, depressão, estresse e habilidades sociais.
Psico-USF (Impr.), Itatiba , v. 10, n. 2, p. 169-178, Dec. 2005 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-82712005000200008&lng=en&nrm=iso>. access
on 02 Sept. 2020. https://doi.org/10.1590/S1413-82712005000200008.
42 Eisenberg, N., Fabes, R., Carlo, G., Peer, A. L., Swintzer, G., Karbons, M. & Troyer, D. (1993). The relations of

empathy-related emotions and maternal practices to children's comforting behavior. Journal of Experimental Child
Development, 55, 131-150.
43Gelfand, D. M., Teti, D. M., Messinger, D. S. & Isabella, R. (1995). Maternal depression and the quality of early
attachment: An examination of infants, preschoolers, and their mothers. Developmental Psychology, 31(3), 364-376.
44GOMIDE, Paula Inez Cunha et al. Correlação entre práticas educativas, depressão, estresse e habilidades sociais.
PsicoUSF, Itatiba , v. 10, n. 2, p. 169-178, dez. 2005. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-82712005000200008&lng=pt&nrm=iso>.
acessos em 28 ago. 2020.
Neste tema, discorre Kaloustian (1988, p.22):

“A família é o lugar indispensável para a garantia da


sobrevivência e da proteção integral dos filhos e demais
membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma
como vêm se estruturando. É a família que propicia os aportes
afetivos e, sobretudo materiais necessários ao desenvolvimento
e bem-estar dos seus componentes. Ela desempenha um papel
decisivo na educação formal e informal, é em seu espaço que
são absorvidos os valores éticos e humanitários, e onde se
aprofundam os laços de solidariedade. É também em seu
interior que se constroem as marcas entre as gerações e são
observados valores culturais”.

A imagem abaixo retrata tomografias cerebrais realizadas em duas crianças,


ambas com 3 anos de idade. O chocante resultado evidencia que a criança que é criada
em um ambiente acolhedor, com cuidados atenciosos, possui o cérebro da esquerda,
maior e mais saudável; enquanto isso, o cérebro menor é de uma criança que sofreu
trauma emocional extremo e negligência.

Imagem: Texas Children's Hospital

A imagem e conclusão foi divulgada pelo professor e psiquiatra Bruce Perry,


chefe do setor de psiquiatria do Texas Children’s Hospital.

"Estas imagens mostram o impacto negativo que a negligência e os maus-


tratos têm no desenvolvimento do cérebro do bebê e criança. Este cérebro da direita é
bem menor do que a média esperada para esta idade e tem ventrículos aumentados e
atrofia cortical. Essencialmente, isso significa que o bebê da direita vai sofrer com
atrasos no desenvolvimento e problemas de memória", salienta o professor e psiquiatra
Bruce Perry.45

Dessa forma, fica evidente o quanto a negligência pode impactar as


estruturas cerebrais de crianças em desenvolvimento, provocando danos psicológicos
futuros.

O anexo I deste documento também expõe resultados de pesquisas sobre


as consequências das práticas parentais negativas na saúde física, mental e emocional
em crianças, como distúrbios de atenção, hiperatividade, agressividade, depressão etc.

1.5. Apresentação do contexto internacional do problema

Modelos bem sucedidos em diversos países membros da OECD demonstram


a relevância da família como espaço de orientação, construção da identidade de um
indivíduo - devendo promover juntamente com a escola uma parceria, a fim de
contribuir no desenvolvimento integral da criança e do adolescente. Como prova de tal
importância desta interação entre ambas as instituições, estão exemplos de sucesso,
onde através da participação das famílias na vida escolar das crianças, obteve-se uma
melhora considerável na aprendizagem e comportamento.46

As sensíveis relações entre escola e família existem em todas as culturas ao


redor do globo terrestre, no entanto, algumas iniciativas com essas perspectivas vêm
sendo criadas no âmbito privado e são oferecidas em escolas particulares no Brasil e no
âmbito internacional, em países como Chile, Suíça, Holanda, Alemanha e Irlanda, todas
com registro de experiências bem-sucedidas.

Existe uma extensa literatura mundial sobre a importância do envolvimento


dos pais na educação das crianças (Henderson e Berla 1994, e Henderson 1987). De
forma geral, crianças cujos pais estão envolvidos em atividades escolares e se colocam

45 TANNER, Claudia. A tale of two toddler brain scans: One shows the shocking impact caused by abuse and the
other reveals the difference love can make - but can you tell which is which? 2017. Disponível em:
https://www.dailymail.co.uk/health/article-5043215/Brain-scans-toddlers-reveal-impact-childhood-neglect.html
46 OECD (2011), Doing Better for Families, OECD Publishing, Paris,

http://dx.doi.org/10.1787/9789264098732-en.
como voluntários na escola, são mais propensos a se sair bem na escola, permanecer na
escola e apresentar menos problemas comportamentais do que as crianças cujos pais
não estão envolvidos.

Conforme pesquisas, constatou-se que o desempenho dos alunos da Coréia


do Sul se mostrou acima da média de países com desenvolvimento superior. Segundo a
pesquisa tal fato deve-se ao envolvimento da família no processo de aprendizagem e a
um ambiente familiar saudável. Os pais acompanham os filhos nas lições de casa de
forma sistemática, e em alguns casos voltam a estudar para poderem ajudar os filhos no
aprendizado.47

Uma análise em 2005 realizada pela instituição Chicago Child Parent Center
– um programa de educação precoce com um componente de apoio aos pais – examinou
os fatores responsáveis pelos efeitos significativos do programa no longo prazo com
relação ao aumento das taxas de conclusão escolar e na redução das taxas de detenção
juvenil. Os autores realizaram análises e comprovaram que atitudes e expectativas
parentais, ao lado de maior participação na educação das crianças desde o começo do
programa, levam a mudanças sustentadas no ambiente familiar, que dão aos pais
melhores condições de apoiar o desempenho escolar e as normas comportamentais, o
que, por sua vez, tem efeitos ao longo prazo sobre os comportamentos dos
estudantes.48

Neste estudo, as intervenções de capacitação parental para pais e pré-


adolescentes, têm sido o foco do maior e mais sofisticado conjunto de pesquisas sobre
intervenções para crianças com problemas de conduta, e registram os resultados mais
promissores. As intervenções de educação em habilidades parentais foram utilizadas
com sucesso em clínicas e no ambiente familiar, implementadas com famílias
individualmente ou em grupos. Os resultados da capacitação foram quantificados
tomando por referência mudanças no comportamento dos pais – por exemplo, menos
autoritários, controladores e críticos, e mais positivos. No comportamento da criança

47 Adema, W., M. Huerta, A. Panzera, O. Thévenon, and M. Pearson. 2009. “The OECD Family
Database: Developing a cross-national tool for assessing family policies and outcomes,”
Child Indicators Research 2(4): 437–460.
48 Arthur J. Reynolds, Success in Early Intervention: The Chicago Child-Parent Centers (Lincoln, NE.: 17 University of

Nebraska Press, 2000); and Arthur J. Reynolds and Dylan L. Robertson, “School-Based Early Intervention and Later
Child Maltreatment in the Chicago Longitudinal Study,” Child Development 74, no. 1 (February 2005): 3–26.
observou-se, por exemplo, menos agressivo física e verbalmente, mais adequado e
menos destrutivo.49

Ficou também demonstrado que as práticas positivas e os fatores familiares


– incluindo envolvimento na escola e redução de abusos e negligência – são mediadores
significativos sobre a taxa de conclusão do curso secundário, taxas de detenção juvenil
e taxas de delinquência juvenil.50

De acordo com os pesquisadores, existe uma relação direta entre o


engajamento das famílias no processo de aprendizado e os bons resultados escolares.
Os melhores exemplos nesse campo vêm de países asiáticos, como Japão e Coréia do
Sul, aonde as mães chegam ao extremo de fazer cursos para aprender a lição dos filhos.
A experiência oriental tem contribuído para colocar tais estudantes entre os melhores
do mundo.

Outro exemplo de sucesso que temos é o das escolas de Reggio Emilia, na


Itália, que tiveram sucesso em suas ações pedagógicas com o trabalho conjunto entre
família e instituição escolar.51

A experiencia internacional destaca ser de grande importância o papel e a


responsabilidade de programas de apoio à família, no sentido de se estimular e
promover iniciativas que levem as famílias a participarem no processo de ensino por

49McMahon RJ. Intervenções de capacitação de pais de crianças em idade pré-escolar. Em: Tremblay RE, Boivin M,
Peters RDeV, eds. Tremblay RE, ed. tema. Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância [on-line].
http://www.enciclopedia-crianca.com/habilidades-parentais/segundo-especialistas/intervencoes-de-capacitacao-
de-pais-de-criancas-em-idade. Publicado: Maio 2006 (Inglês). Consultado: 25/08/2020.

50GOODSON BD. Programas de apoio aos pais e resultados para a criança. Em: Tremblay RE, Boivin M, Peters RDeV,
eds. Tremblay RE, ed. tema. Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância [on-line].
http://www.enciclopedia-crianca.com/habilidades-parentais/segundo-
especialistas/programas-de-apoio-aos-pais-e-resultados-para-crianca. Publicado: Junho 2005 (Inglês).
Consultado: 25/08/2020.

51 EDWARDS, C.; GANDINI, L.; FORMAN. Abordagem de ReggioEmilia. Porto Alegre: Artmed, 1999.
meio de educação de valores no seio da família e no fortalecimento dos vínculos
familiares.52

1.6. Quais as razões para que o governo federal intervenha no


problema?

Diante de situações atuais de risco social e vulnerabilidades vividas pelas


famílias brasileiras, principalmente por pressões geradas pelos processos de exclusão
social e cultural, essas famílias precisam ser apoiadas pelo Estado e pela sociedade, para
que possam cumprir suas responsabilidades. Diante disso, a centralidade da família no
âmbito das políticas públicas se constitui em importante mecanismo para o efetivo
fortalecimento de vínculos familiares e sócio comunitários.53

A primeira infância é o momento mais importante para o desenvolvimento


do ser humano, pois nessa fase o caráter do indivíduo é formado e fortalecido. As
experiências ocorridas durante esse período terão influência ao longo de toda a vida do
indivíduo, tanto na área da saúde, quanto no seu bem-estar social, emocional e
cognitivo.

Durante os primeiros anos de vida, as crianças estão basicamente inseridas


na escola e em casa e, por isso, a interação família-escola é imprescindível, pois a
família, espaço de orientação e construção da identidade do um indivíduo, deve
promover juntamente com a escola uma parceria a fim de contribuir com o
desenvolvimento integral da criança e do adolescente.
O texto da pesquisadora Gabriela Aratang Pluciennik, sintetiza tal aspecto
ao dizer que:
“O desenvolvimento integral da primeira infância depende das
famílias, de múltiplas formas. Mais especificamente, a influência de
práticas e estilos parentais no desenvolvimento integral de crianças
pequenas configura um campo de ação da política pública diferente
do tradicional, que pode se mostrar tão efetivo como outras ações

52MATA, Natália Teixeira; SILVEIRA, Liane Maria Braga da; DESLANDES, Suely Ferreira. Família e negligência: uma
análise do conceito de negligência na infância, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/csc/v22n9/1413-
8123-csc-22-09-2881.pdf
53Conselho Municipal Dos Direitos da Criança e do Adolescente. Plano de Ação (2019-2029). São Roque. 2019.
Disponível em: http://saoroque.sp.gov.br/arquivos/plano_de_aCAo_municipal_12032926.pdf
exclusivas nos campos educacionais ou de assistência social. Nesse
sentido, ações que ajudem as famílias a realizarem suas melhores
práticas e consolidarem estilos participativos contribuem para o
desenvolvimento integral das crianças e, por consequência, da
sociedade. De modo geral, as famílias devem contar com ações
públicas específicas que reconheçam o importante papel que têm
como rede de cuidado e afeto. Mais importante ainda é o
reconhecimento de que as práticas parentais não devem ser deixadas
como elemento de discrição exclusiva dos pais e cuidadores, mas que
esses podem ser informados e orientados a desenvolver ações para as
quais existem evidências, como apresentadas acima, que promovem o
desenvolvimento emocional, psicológico e intelectual das crianças, em
especial na primeira infância.” 54

Por este motivo, faz-se necessário que o Governo Federal oferte ações de
sensibilização e orientação de pais para o desempenho das funções familiares e das
habilidades parentais e favoreça, em consequência, o envolvimento da família na escola,
fortalecendo essas duas frentes de educação. O investimento nessa fase é estratégico
para o país.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos conceitua a família como


“elemento natural e fundamental da sociedade” e determina que esta merece a
proteção do Estado. Outrossim, estabelece que pertence aos pais “a prioridade do
direito de escolher o gênero de educação a dar aos filhos.” Dessa forma, infere-se que
os pais devem ser os protagonistas na educação de seus filhos e que a
formação humana das crianças deve começar em casa, sendo complementada pelo
ensino escolar.

Corroborando com tal entendimento, o Pacto San José da Costa Rica prevê
em diversos dispositivos a proteção da família e o dever dos pais para com a educação
de seus filhos:

Artigo 19 - Direitos da criança


Toda criança terá direito às medidas de proteção que a sua condição
de menor requer, por parte da sua família, da sociedade e do Estado.”
“Artigo 32 - Correlação entre deveres e direitos
1. Toda pessoa tem deveres para com a família, a comunidade e a
humanidade.

54Fundamentos da família como promotora do desenvolvimento infantil: parentalidade em foco/ organizadores


Gabriela Aratang Pluciennik, Márcia Cristina Lazzari, Marina Fragata Chicaro. -- 1. ed. -- São Paulo: Fundação Maria
Cecília Souto Vidigal - FMCSV, 2015. (p. 42)
Disciplina também, sobre a mesma temática, a Constituição Federal,
quando define a família como base da sociedade em seu art. 226. Já o art. 227
preceitua sobre o dever da família, juntamente com o Estado e a sociedade, de garantir
à criança seus direitos fundamentais, inclusive à educação. Nota-se que a Carta Magna
coloca em primeiro lugar a família como titular desse dever, uma vez que o núcleo
familiar é o primeiro contato da criança com o mundo. Dessa forma, resta evidente a
importância da formação parental para que possam exercer da melhor forma o seu
papel de pais e educadores.

No âmbito da legislação infraconstitucional, têm-se a Lei de Diretrizes e


Bases da Educação Nacional (Lei nº. 9.394/1996), que ratifica os preceitos
constitucionais. A referida lei começa enfatizando que os processos formativos do ser
humano se desenvolvem primariamente na família, e que constitui dever desta a
educação “inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana,
tendo por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”

Os Arts. 12 e 13 da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional destacam


a importância da articulação entre escola, família e sociedade. A integração entre essas
três partes é de suma importância para o desenvolvimento integral da criança, devendo
todas estarem em consonância, sempre se comunicando entre si.55

O Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece, dentre as suas metas,


estratégias para o aumento da qualidade da educação e determina:

Meta 1.12: implementar, em caráter complementar, programas de


orientação e apoio às famílias, por meio da articulação das áreas de
educação, saúde e assistência social, com foco no desenvolvimento
integral das crianças de até 3 (três) anos de idade;
Meta 2.9: incentivar a participação dos pais ou responsáveis no
acompanhamento das atividades escolares dos filhos por meio do
estreitamento das relações entre as escolas e as famílias;

55 https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/109224/lei-de-diretrizes-e-bases-lei-9394-96#art-12
Da mesma forma, a Base Nacional Comum Curricular – BNCC enfatiza que
“nessa direção, e para potencializar as aprendizagens e o desenvolvimento das crianças,
a prática do diálogo e o compartilhamento de responsabilidades entre a instituição de
Educação Infantil e a família são essenciais.”

Além disso, o Brasil é signatário da agenda 2030 da ONU. O Objetivo de


Desenvolvimento Sustentável (ODS 2030), número 4, se refere a assegurar a educação
inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao
longo da vida para todos. De mãos dadas com este item, a participação ativa dos pais na
vida dos filhos é uma forma concreta de potencializar a aprendizagem e a educação de
qualidade.

O setor privado tem investido na qualidade de ensino, com a criação de


escolas que promovem programas de orientação e apoio familiar, obtendo em seus
resultados maior interação das famílias com a vida escolar das crianças, de forma que
tanto a família quanto a escola assumem seus papéis de forma mais comprometida.

O ensino público no Brasil passa por constantes transformações. Os


relatórios divulgados pelo Instituto de Pesquisa e Administração da Educação (IPEA)
apontam que mais de 80% das escolas brasileiras são públicas, 56 ou seja, o desafio do
Estado brasileiro em sanar as lacunas abertas ao longo da história da educação do país
é grande. Por isto, a Base Nacional Comum Curricular foi lançada para repensar a
educação básica de forma positiva e viável, em que escola e família devem caminhar
juntas para promover o desenvolvimento integral das crianças.

O Governo Federal inclui, dessa forma, em suas ações e programas de


educação básica e infantil apoio às famílias, orientações na solução de problemas
oriundos da falta de comprometimento dos pais no desenvolvimento integral dos filhos,
com o objetivo de fortalecer os vínculos familiares e de promover uma ferramenta de
interação família-escola.

Assim sendo, o Projeto Família na Escola desenvolvido pela Secretaria


Nacional da Família, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos,

56 Anuário Brasileiro da Educação Básica 2019


enquadra-se nos Macroprocessos Finalísticos deste Ministério (MF 3) - com o objetivo
de “coordenar ações de educação dos direitos humanos para todos” e compreende o
Planejamento Estratégico em (PEI – P2) - cuja finalidade é “Intensificar a educação em
direitos humanos e a cultura de valorização da família, com foco na proteção e inclusão”.

É importante entender como a família pode atuar para incentivar o pleno


desenvolvimento na primeira infância e estabelecer fatores de proteção; e do mesmo
modo, como na família é possível haver fatores de risco que favoreçam um déficit no
potencial de desenvolvimento das crianças. Tais fatores, por sua vez, são influenciados
por características estruturais e de dinâmicas internas da família. 57

Os aspectos estruturais são associados a variáveis demográficas e


socioeconômicas como o tipo de arranjo familiar, a renda e o grau de escolaridade dos
pais; enquanto os aspectos de dinâmicas internas são relacionados a práticas parentais
e estilos de interação entre pais e filhos.58

Fica claro, pelos dados e embasamentos teóricos, que o ambiente familiar e


a própria instituição familiar é, por excelência, responsável por transmitir aos indivíduos
os elementos necessários para a convivência em sociedade e por dar o suporte
adequado ao seu desenvolvimento por completo enquanto ser humano. As disfunções
(violência intrafamiliar e negligência parental) que ocorrem neste cenário além de
romperem com o vínculo e os laços de afeto e solidariedade entre os cônjuges e seus
membros, tem efeito direto sobre a tendência a prática de atos infracionais pelos
adolescentes - a relação existente entre a desestruturação familiar e a criminalidade
juvenil é de causa e consequência. 59

Nessa perspectiva, o Poder Público e a sociedade civil devem concentrar


todos os esforços para a estruturação, alinhamento e execução de políticas públicas
integradas em atenção às famílias, favorecendo o desenvolvimento de indivíduos

57WEBER, L. N. D., Selig, G. A.; BERNARDI, M. G. & Salvador, A. P. V. (2006). Continuidade dos estilos parentais
através das gerações-transmissão intergeracionais de estilos parentais. Paidéia, 16(35),407-414.
58 FONSECA, Patrícia Nunes da et al . Hábitos de estudo e estilos parentais: estudo correlacional. Psicol. Esc. Educ.,

Maringá , v. 18, n. 2, p. 337-345, ago. 2014 . Disponível em


<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572014000200337&lng=pt&nrm=iso>. acessos
em 02 set. 2020. https://doi.org/10.1590/2175-3539/2014/0182755.
59 FIGUEIREDO, Sabrina Oliveira de. Desestruturação familiar e criminalidade juvenil:

reflexões sobre uma possível relação à luz de abordagens interdisciplinares. 2020. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/79709/desestruturacao-familiar-e-criminalidade-juvenil/3
saudáveis emocionalmente, famílias fortalecidas e uma sociedade mais íntegra. Quanto
mais cedo se investir no desenvolvimento da criança maior será o retorno para ela
própria, para sua família e para a sociedade.

1.7. Foram ou estão sendo adotadas políticas para combater o


mesmo problema identificado?

Iniciativas de combate à violência intrafamiliar e negligência parental,


problemas que essa proposta visa mitigar, são presentes em variadas políticas
governamentais. Porém, não foram identificadas políticas nacionais com o objetivo de
fomentar a educação das habilidades parentais como ferramenta de redução dos índices
de negligência e violência intrafamiliar.

No entanto, projetos de integração entre família e escola foram e continuam


sendo elaboradas pelas instituições de ensino, a fim de subsidiá-las em suas práticas
pedagógicas e educacionais. Porém, sem desconsiderar a importância das iniciativas já
existentes, há lacunas nessas práticas, como a falta de estratégias simples e práticas
para ajudar os pais e/ou responsáveis a lidar, de forma confiante, com o comportamento
de seus filhos, prevenir problemas no desenvolvimento da criança e construir
relacionamentos fortes e saudáveis, como o Projeto Família na Escola propõe.

O Projeto, aqui desenhado, visa inserir, portanto, no contexto das escolas


públicas brasileiras, orientação aos pais ou responsáveis sobre temas relacionados ao
desenvolvimento de suas habilidades parentais e ao crescimento sadio e integral da
criança, com o intuito de sensibilizar os pais para práticas positivas de parentalidade e
minimizar os índices de negligência e violência no ambiente familiar. Dessa forma, o
Projeto também promove que os responsáveis sejam atores ativos na educação de seus
filhos, favorecendo o fortalecimento dos vínculos familiares e a criação de uma cultura
em que a escola seja parceira da família e não um instrumento de confronto.

A presente proposta, portanto, é inédita no contexto brasileiro – e se faz


necessária e urgente.
2. IDENTIFICAÇÃO DOS OBJETIVOS, DAS AÇÕES E DOS RESULTADOS ESPERADOS

O Projeto Família na Escola visa oferecer aos pais e responsáveis


conhecimento e ferramentas quanto à aquisição das habilidades parentais e do
desenvolvimento integral das crianças, a fim de ajudá-los a lidar com os desafios
cotidianos da educação dos filhos, prevenir problemas de desenvolvimento e construir
um relacionamento forte e saudável na família.

O público-alvo do Projeto são pais de crianças matriculadas na rede pública


de ensino, nas séries da Educação Infantil e Ensino Fundamental I.

2.1. Objetivos da proposta

São objetivos do Projeto Família na Escola:

• Apresentar conceitos e promover o conhecimento das principais habilidades


parentais necessárias para a educação dos filhos;
• Sensibilizar e orientar os pais para o bom desempenho das funções familiares;
• Promover relações positivas na família, fundamentadas no exercício da
responsabilidade parental;
• Incentivar um ambiente familiar saudável que estimule as crianças a
desenvolverem o seu potencial com segurança e autoestima;
• Favorecer o envolvimento da família na escola, a fim de gerar uma relação de
unidade e a participação ativa das famílias na vida escolar das crianças;
• Promover a parentalidade positiva como meio de mitigar os impactos negativos
da negligência e violência intrafamiliar, conforme mostra o esquema abaixo:
A imagem acima60 demonstra as diversas dimensões da parentalidade,
principal objeto deste Projeto, desde os pré-requisitos para desenvolvê-la até as
principais áreas a serem influenciadas. Como se pode ver, para que as habilidades
parentais sejam desenvolvidas, é necessário que os pais entendam a necessidade e a
importância dessas práticas (motivação), para assim absorverem e compreenderem o
conceito da parentalidade e como exercê-la (conhecimento e compreensão), e também
saberem aproveitar os momentos para exercer da melhor forma as atividades parentais
(oportunidades).

60Fundamentos da família como promotora do desenvolvimento infantil: parentalidade em foco/ organizadores


Gabriela Aratang Pluciennik, Márcia Cristina Lazzari, Marina Fragata Chicaro. -- 1. ed. -- São Paulo: Fundação Maria
Cecília Souto Vidigal - FMCSV, 2015
Os recursos dizem respeito às qualidades e as competências parentais,
adquiridas por experiência ou por meio de programas de orientação parental. As
atividades parentais compõem o conjunto de atividades necessárias para uma
parentalidade adequada, que vão desde os cuidados físico, mental e emocional,
passando pelo controle e disciplina, para que se alcance o desenvolvimento integral e
saudável da criança.
Por fim, as áreas funcionais configuram todos os aspectos do
desenvolvimento da criança que se pretende atingir: a saúde física e mental, o
comportamento social e o funcionamento educativo e intelectual.

2.2. Resultados e os impactos esperados para a sociedade

Com a implementação do Projeto Família na Escola, os resultados esperados


devem impactar na vida de muitas famílias que hoje se veem desnorteadas diante dos
desafios cotidianos que surgem no processo de educação dos filhos.

São alguns resultados esperados:

▪ Sensibilização dos pais/responsáveis sobre a importância da prática da


parentalidade positiva;
▪ Desenvolvimento de habilidades parentais;
▪ Fomento ao comprometimento dos pais na educação dos filhos;
▪ Aumentar o conhecimento, as habilidades e a confiança dos pais no que tange a
educação das crianças;
▪ Reduzir a prevalência de problemas emocionais e comportamentais em crianças
e adolescentes;
▪ Desenvolvimento e fortalecimento de habilidades de vida em crianças e
adolescentes, tornando-os mais fortes e saudáveis integralmente.
▪ Redução de comportamentos desafiadores e de risco nas famílias e escolas,
como violência, desrespeito, depressão, transtornos de aprendizagem, evasão
escolar etc.
▪ Redução das taxas de negligência, abandono e maus-tratos infantis, a longo
prazo.
Destacamos, também, outros aspectos importantes que o projeto
influenciará positivamente:
▪ No resgate da autoridade paterna e materna que passou a ser questionada e
colocada à prova, influenciada por um ambiente de permissividade, onde os
limites educacionais outrora rígidos e mais restritos tornam-se elásticos.
Verifica-se, hoje, que muitos jovens acabam se queixando da posição dos pais e
educadores: o que poderia ser interpretado como generosidade libertária acaba
sendo visto por eles como simples ausência. (LA TAILLE, 2008, p.64).
▪ Na participação dos pais na vida escolar dos seus filhos, na melhora do
rendimento escolar e na redução da evasão escolar. Por falta de um contato
mais próximo e afetuoso, surgem condutas desordenadas, que se reflete em casa
e também na escola em termo de indisciplina, baixo rendimento escolar e evasão
(MALDONADO, 2002 apud JARDIM, 2006, p.20).
▪ Na promoção do diálogo, afeto, estímulo e respeito no ambiente intrafamiliar,
fortalecendo a autonomia e preparando a criança para os desafios e
oportunidades da vida presente e adulta.

2.3. Ações a serem implantadas

Dentre as ações previstas para o Projeto-piloto Família na Escola, no ano de


2021, podemos citar:

▪ Lançamento de curso em formato EaD para capacitação de profissionais da área


da educação, saúde e assistência social: as escolas que aderirem ao Projeto
designarão os profissionais para essa capacitação com duração de 40 horas.
Esses profissionais receberão, além do conteúdo a ser ministrado, materiais de
apoio como apresentação em formato ppt e roteiro de apresentação.
▪ Lançamento da palestra de formação sobre habilidades parentais e
fortalecimento de vínculos familiares nas escolas, ministrada pelo profissional
capacitado no curso EaD. Os pais terão a oportunidade de participar da palestra
que acontecerá no dia das reuniões bimestrais, totalizando 4 encontros anuais,
com duração de, no máximo, 1 hora.
▪ Nessa mesma ocasião, os pais receberão um folder ou cartilha com o mesmo
conteúdo abordado na formação presencial.
▪ Os pais também receberão acesso ilimitado à plataforma digitalcom o conteúdo
abordado nos módulos presenciais, além de vídeos, dicas de filmes, livros e
atividades para serem realizadas em família.

2.4. Metas de entrega dos produtos

A previsão de entrega dos produtos é a seguinte:

▫ Em 2020: capacitação de 200 profissionais através do curso EaD.


▫ Em 2021: adesão e implantação do Projeto-piloto em 200 municípios.
▫ Em 2022: ampliar o alcance do Projeto para 1.000 profissionais capacitados no
curso EaD e adesão de mais de 300 municípios.

2.5. Relação existente entre as causas do problema, as ações


propostas e os resultados esperados

O alto índice de negligência parental e violência intrafamiliar, problema que


este Projeto visa mitigar, tem como causa essenciais a falta de orientação e preparo dos
pais com relação às suas habilidades e funções familiares e ao desenvolvimento integral
de seus filhos.

Sendo assim, o Projeto propõe oferecer aos pais de crianças da Educação


Infantil e Ensino Fundamental I da rede pública de ensino, palestras formativas com foco
no desenvolvimento das habilidades parentais e da educação integral das crianças.

As famílias terão acesso a conteúdo de orientação familiar, que promova o


conhecimento e a confiança que os pais necessitam para enfrentar os desafios
cotidianos na educação de seus filhos; além de reduzir ou evitar problemas de saúde
física, mental, emocional e comportamental em crianças e adolescentes, fazendo-os se
desenvolverem integralmente com toda a potencialidade que possuem, inseridos em
um ambiente familiar positivo e afetuoso.

Os conteúdos abordados terão como temas principais: direitos e deveres da


família na educação das crianças e o lar como primeiro espaço educativo; os marcos do
desenvolvimento da criança e o papel da família; a interação família e escola e as
transições de ensino; o papel da família na educação da inteligência, da vontade e da
afetividade.

O Projeto incorpora ações que visam promover o fortalecimento dos


vínculos familiares e prevenir a ruptura dos vínculos originais, sensibilizar os pais quanto
a importância de educar com responsabilidade, por meio de um ambiente familiar
saudável e positivo, criando soluções que possam ser adequadas ao contexto e
coerentes com os direitos dos seus membros.

Nesse sentido, o Projeto Família na Escola vai ao encontro de modelos de


políticas públicas integradas e coordenadas de apoio à família, nos moldes do previsto
no artigo 226 da Constituição Federal, caput e § 8, de modo que o Poder Público possa
em todos os níveis (federal, estadual, municipal) cumprir o seu dever legal e
constitucional de fornecer às famílias condições para que possam exercer suas
responsabilidades parentais.61

2.6. Políticas públicas semelhantes já implantadas no Brasil e em


outros países, reconhecidas como casos de sucesso

Há uma tendência no mundo atual de que a intervenção do Estado não se


limite a tentar proteger a criança depois que ela sofreu alguma espécie de violência, mas
agir de forma preventiva para fortalecer as famílias, reconhecendo as suas
potencialidades e capacidades de atuação junto às crianças. Políticas públicas que

61BRASIL. Secretaria Especial de Direitos Humanos. Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de
Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. 2006. Disponível em:
http://www.dhnet.org.br/dados/pp/a_pdfdht/plano_nac_convivencia_familiar.pdf
tenham centralidade nas famílias asseguram o direito de crianças e adolescentes a uma
convivência familiar e comunitária positiva.62

No âmbito nacional não existem políticas públicas similares ao que este


Projeto propõe. No âmbito internacional, em países como Chile, Estados Unidos, Suíça,
Holanda, Alemanha e Irlanda, encontramos um conjunto de programas internacionais
de intervenção preventiva na área de práticas educativas parentais. 63

Dentre eles, destacamos quatro programas que demonstraram evidências


de efetividade - sendo que os que mais se assemelham ao formato do Projeto Família
na Escola são o “Chile Crece Contigo” e o “Triple P – Programa de Parentalidade
Positiva”.

1. Programa Triple P - tem o objetivo de ensinar práticas educativas efetivas para


lidar com comportamentos disruptivos de crianças na fase pré-escolar. O
programa visa promover nos pais autonomia e autoeficácia para melhorar as
práticas educativas de forma eficiente e atender as necessidades da criança, por
meio de disciplina assertiva, ajuste de expectativas e criação de um ambiente
positivo de aprendizagem. Os pais aprendem a resolver problemas por meio da
definição do problema e da formulação, execução e avaliação de planos de
mudanças.

2. Programa ACT - também tem o objetivo de melhorar as práticas educativas


parentais e prevenir violência e maus tratos nos cuidados às crianças, incluindo
oito sessões em grupo altamente interativas e dinâmicas. O programa aborda os
seguintes temas principais: a compreensão do desenvolvimento na primeira
infância; a identificação do estado emocional de raiva em si e na criança e como
controlá-la; a violência contra a criança nas suas diferentes formas; práticas
educativas positivas; disciplina; e como expandir esses conhecimentos e
aprendizados para a comunidade. No Brasil, foi realizada em 2002 uma parceria
entre a Universidade Federal de São Carlos e o Laboratório de Pesquisa em

62 MACANA, E; COMIM, F. O papel das práticas e estilos parentais no desenvolvimento da primeira infância, In:
PLUCIENNIK, G; LAZZARI, C.; CHICARO, M. (org.) Fundamentos da Família como promotora do desenvolvimento
infantil: parentalidade em foco. São Paulo: Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, 2015.
63 UNICEF (2015). A Systematic Review of Parenting Programmes for Young Children. New York, Author.
Prevenção de Problemas de Desenvolvimento e Comportamento da Criança
(LAPREDES), da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, com a American
Psychological Association – APA no sentido de desenvolver estudos voltados
para a validação do ACT para a realidade brasileira (Silva, Stern & Anderson,
2002).

3. Programa Incredible Years [Anos Incríveis] - baseado nos princípios


psicológicos de como o comportamento da criança é aprendido e pode ser
modificado, visando tornar os pais competentes para: serem sensíveis e
responsivos na interação com os filhos; oferecer atenção positiva para promover
comportamentos pró-sociais nas crianças; criarem expectativas e imagens
positivas das crianças; desenvolverem disciplina com ética, ensinando as
consequências do comportamento inadequado; aceitarem as características de
temperamento da criança, adaptando a interação a essas características
individuais, com seus pontos fortes e limitações; e a usar seu poder de
responsabilidade para monitorar os filhos, ajudando-os a resolver problemas. O
programa, portanto, pretende modificar práticas parentais que envolvam
imagens e expectativas negativas da criança, falta de atenção e disciplina
violenta e punitiva.64

4. O Programa Chile Crece Contigo faz parte do Sistema de Proteção


Social administrado, coordenado, supervisionado e avaliado pelo Ministério do
Desenvolvimento Social do Chile. A missão deste subsistema é acompanhar,
proteger e apoiar totalmente todas as crianças e suas famílias, como uma
maneira concreta de contribuir para gerar as melhores condições para o
desenvolvimento da primeira infância, ajudando os responsáveis a cumprirem
melhor a extraordinária tarefa de criar seus filhos.

64Fundamentos da família como promotora do desenvolvimento infantil: parentalidade em foco/ organizadores


Gabriela Aratang Pluciennik, Márcia Cristina Lazzari, Marina Fragata Chicaro. -- 1. ed. -- São Paulo: Fundação Maria
Cecília Souto Vidigal - FMCSV, 2015. (p. 78)
Todos esses programas, assim como o Projeto Família na Escola, são políticas
públicas que visam o desenvolvimento das habilidades parentais, a educação integral
das crianças e o fortalecimento dos vínculos familiares.

3. DESENHO, ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO E FOCALIZAÇÃO

3.1. Agentes públicos e privados envolvidos e sua possível atuação


na proposta

As ações a serem implementadas seguirão a seguinte estratégia de


compartilhamento de atribuições:
1) Pela União:

a. Produção dos conteúdos a serem abordados no Projeto;


b. Oferta de curso EaD para capacitar os profissionais das escolas que
ministrarão as palestras formativas aos pais;
c. Produção e disponibilização do material gráfico, folder ou cartilha, em
formato digital;
d. Disponibilização de conteúdo formativo aos pais em plataforma digital;
e. Monitoramento do Projeto nos Municípios participantes e
f. Avaliação dos resultados obtidos.

2) Pelos entes apoiadores:

a) As escolas que aderirem ao Projeto serão responsáveis por:


▪ Designar um profissional da escola para receber a capacitação
através do curso EaD;
▪ Organizar o espaço físico e a palestra que será ofertada aos pais
no dia da reunião bimestral;
▪ Cadastrar os grupos familiares interessados em participar do
Projeto;
▪ Providenciar a impressão do material gráfico (folder ou cartilha) a
ser entregue aos pais;
▪ Auxiliar no processo de inscrição e monitoramento dos pais
participantes e
▪ Facilitar o processo de avaliação do Projeto.

3.2. Apresentar possíveis articulações com outras políticas em curso


no Brasil

Não há planejamento para articulação com outras políticas. No entanto, o


Projeto Família na Escola é uma parceria entre o Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos (MMFDH) e o Ministério da Educação (MEC).

3.3. Apresentar possíveis impactos ambientais decorrentes da


execução da proposta

Não se observa impactos ambientais decorrentes da execução da política


pública em questão, dado que não há construções a serem feitas, nem utilização de
maquinário.

3.4. Apresentar estimativa do período de vigência da proposta

O Projeto Família na Escola terá vigência de 1 ano como projeto-piloto,


podendo, após a avaliação final, se tornar um Programa de ação continuada.

3.5. Público-alvo que se quer atingir

O Projeto Família na Escola tem como público-alvo principal as famílias que


tenham crianças na idade de 0 (zero) a 11 (onze) anos, matriculadas na Educação Infantil
e Ensino Fundamental I (até o 5º ano) da rede pública de ensino. Além dos pais e
responsáveis, o Projeto atingirá os profissionais da educação, saúde e assistência social
que de alguma forma tiverem acesso ao conteúdo.

3.6. Características e estimativas da população elegível à política


pública

Famílias com crianças na idade entre de 0 (zero) e 11 (onze) anos,


matriculadas na rede pública de ensino, independentemente da classe social
pertencente.

Segundo o INEP, em 2019, havia 2.432.216 crianças matriculadas em creches


estaduais e municipais; 3.947.335 matriculadas na educação infantil e 11.688.559
matriculadas nos anos iniciais do ensino fundamental de escolas da rede pública de
ensino.65

3.7. Apresentar critérios de priorização da população elegível,


definidos em função da limitação orçamentária e financeira

Não existe priorização da população elegível, pelo contrário, o Projeto


pretende alcançar o maior número de famílias possível, pois não implicará em limitação
orçamentária e financeira.

3.8. Descrever como será o processo de seleção dos beneficiários

O Projeto Família na Escola é destinado aos pais e responsáveis de crianças


matriculadas na rede pública de ensino (Educação Infantil e Ensino Fundamental I).

65Boletim do MPGO. Censo Escolar registra queda de 4% em matrículas do ensino médio nas escolas públicas. 2019.
Disponível em: http://www.mpgo.mp.br/boletimdompgo/2020/02-
fev/paginas/infancia_juventude_educacao/noticias/censo-escolar-registra-queda-de-4percent-em-matriculas-do-
ensino-medio-nas-escolas-
publicas.html#:~:text=Em%202019%20foram%202.432.216,Minist%C3%A9rio%20da%20Educa%C3%A7%C3%A3o%
20(MEC).
Dessa forma, não haverá processo de seleção e todas as famílias das escolas
que aderirem ao Projeto serão convidadas. Será feita apenas a inscrição para fins de
avaliação e acompanhamento das famílias interessadas e participantes do Projeto.

4. IMPACTO ORÇAMENTÁRIO E FINANCEIRO

4.1. Apresentar análise dos custos da proposta para os entes


públicos e os particulares afetados.

Não se aplica.

4.1.1. Investimento inicial

O custo estimado como investimento inicial é de R$200.000,00 (duzentos


mil reais) no total, para a elaboração dos materiais necessários para o desenvolvimento
do curso EaD e a contratação de consultores para a elaboração dos conteúdos e para a
avaliação do Projeto. Não se prevê adicionais para a implantação do Projeto-piloto.

4.1.2. Custo anual

Não haverá.

4.1.3. Municípios

Os municípios não sofrerão impacto orçamentário e financeiro. O


desenvolvimento do Projeto, curso EaD e aplicativo, ficará a cargo do MMFDH e do MEC.
Haverá apenas o custo de impressão do material gráfico (folder ou cartilha), que ficará
a cargo da escola optar por imprimir ou não.
4.2. Se a proposta de criação, expansão e aperfeiçoamento da ação
governamental implicar aumento de despesas ou renúncia de receitas e de
benefícios de natureza financeira e creditícia, apresentar:

Não se aplica.

4.3. Apresentar declaração de que a medida tem adequação


orçamentária e financeira com a Lei Orçamentária Anual, compatibilidade com
o Plano Plurianual e com a Lei de Diretrizes Orçamentárias

Os recursos serão provenientes de PRODOC (PNUD BRA 13/017) e de


dotações orçamentárias de despesas discricionárias do MMFDH, estando em
conformidade com o Plano Plurianual, com a Lei de Diretrizes Orçamentárias e com a
Lei Orçamentária Anual.

4.4. Potenciais riscos fiscais da proposta

A proposta não oferece riscos, pois as despesas são discricionárias e


contingenciáveis.

5. ESTRATÉGIA DE CONSTRUÇÃO DE CONFIANÇA E SUPORTE

5.1. O conjunto de cidadãos e cidadãs apoia a política proposta por


confiar que ela é relevante e que as instituições responsáveis irão levá-la a
cabo?
Os cidadãos apoiarão a política proposta, pois o projeto visa inserir no
contexto das escolas públicas um programa de capacitação que oriente os pais e
responsáveis a desempenharem suas funções familiares, promover as relações positivas
na família e fortalecer a relação família-escola, sendo os próprios cidadãos os principais
beneficiários do projeto.

A parceria família-escola promove uma nova cultura educacional,


favorecendo o desenvolvimento de futuros adultos saudáveis emocionalmente, famílias
fortalecidas e uma sociedade mais íntegra.

5.2 Quais são as razões ou as evidências de que há envolvimento


dos interessados, que levem os agentes internos e externos à política a
apoiarem a sua execução e a estarem alinhados?

A primeira infância é o momento crucial para a educação da criança, sendo


de extrema importância a formação dos pais para o uso de suas habilidades parentais e
dos estímulos positivos que devem oferecer ao bom desenvolvimento da criança. Dessa
forma, tanto as escolas quanto as famílias serão beneficiadas com o Projeto e se
motivarão a manter a qualidade das ações com foco nos resultados previstos.

5.3. Como os envolvidos participam ou se manifestam na elaboração da


proposta?

O Projeto Família na Escola foi construído a partir do diálogo e interações


entre o Ministério da Mulher da Família e dos Direitos Humanos e o Ministério da
Educação, sob a ótica das competências de cada um, parceiros no desenvolvimento
deste Projeto.

5.4. A política proposta é uma prioridade das lideranças políticas? Já


foram identificadas as lideranças que podem endossá-la?

A proteção da Primeira Infância e a promoção da família é uma prioridade


do Governo Federal como um todo. Diversos agentes políticos reconhecem a
importância da primeira infância e a necessidade em apoiar e orientar os pais e
responsáveis por crianças que se encontram nessa fase de desenvolvimento. Além disso,
o fortalecimento das relações familiares é uma política prioritária no Ministério da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos através da Secretaria Nacional da Família, e
recebe todo o seu apoio e incentivo da ministra Damares Alves.

Logo, o Projeto potencializa o compromisso do Estado com a família e a


educação.

5.5. Quais seriam as possíveis oposições ativas para a execução dessa


política?

A cultura da falta de planejamento e de formação para habilidades


parentais, de querer resultados imediatos ou a curto prazo, de não investir em
prevenção e educação poderia representar uma forma de oposição indireta. No entanto,
como os custos são extremamente baixos e pode-se considerar como um investimento
que poupará muitos problemas no futuro, acredita-se que não haveria oposição direta.

Contudo, não se vislumbra oposição direta de nenhum segmento, devido às


evidências robustas do problema e dos expressivos benefícios apresentados pelo
projeto.

6. MONITORAMENTO, AVALIAÇÃO E CONTROLE

6.1 A política pública poderia ser implementada a partir de projeto-


piloto?

O Projeto Família na Escola será inicialmente implementado a partir de


projeto-piloto. A partir dos resultados obtidos, será definida a melhor estratégia de
implantação e suporte na manutenção do Projeto nos demais municípios brasileiros,
ampliando o alcance, já que se sabe que os efeitos são benéficos.
A avaliação do projeto-piloto será realizada por uma equipe de consultores
contratados e inspecionado pela equipe gestora da Secretaria Nacional da família (SNF).

6.2. Como será realizado o monitoramento e quais serão os indicadores


desse monitoramento ao longo da execução da política?

O monitoramento do projeto será feito por meio de relatórios gerenciais


gerados por Sistema operacional em desenvolvimento pelo MEC.

Os indicadores de performance terão como base os seguintes resultados a


serem avaliados no primeiro semestre de 2022:

▫ Aumento da sensibilidade dos pais sobre a temática;


▫ Pais mais seguros, com mais conhecimento e com ferramentas para enfrentar os
desafios da educação de seus filhos;
▫ melhoria na qualidade da relação familiar;
▫ ambiente familiar mais harmonioso e positivo;
▫ Consciência e aquisição de habilidades parentais;
▫ redução em maus-tratos infantis;
▫ melhoria em engajamento escolar;
▫ melhoria na relação família-escola;
▫ redução da agressividade e de conflitos na família e na escola;

6.3. Posteriormente, como será realizada a avaliação dos resultados da


política?

A avaliação será realizada por profissionais contratados e acompanhada pela


equipe gestora da SNF, por meio de pesquisa e relatórios aplicados junto às escolas e
aos pais, identificando o impacto causado na realidade das famílias participantes do
projeto e comparando os resultados com as famílias não alcançadas pelo projeto.
6.4. Como se dará a transparência e a publicação das informações e dos
dados da política?

O MMFDH e o MEC disponibilizarão, em página própria na internet, todas as


informações acerca do projeto.

6.5. Mecanismos de controle a serem adotados

O projeto terá supervisão do controle do MMFDH, por meio de relatórios


dos locais que receberam intervenções do programa.

7. GESTÃO DE RISCOS

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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escolaspublicas.html#:~:text=Em%202019%20foram%202.432.216,Minist%C3%A9rio%
20da%20Educa%C3%A7 %C3%A3o%20(MEC).

Brasil registra diariamente 233 agressões a crianças e adolescentes. Dados da SBP


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https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/109224/lei-de-diretrizes-e-bases-lei-
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BRASIL. Ministério da Educação. Desempenho em leitura no Pisa ficou 80 pontos abaixo


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mínima anual, em razão da Pandemia da COVID-19. Disponível em:
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ANEXO I

PLANILHA 1 – IDENTIFICACAO DE RISCOS


ANEXO II

ESTUDO DE CASO:

CORRELAÇÃO ENTRE PRÁTICAS EDUCATIVAS PARENTAIS POSITIVAS E NEGATIVAS


E HABILIDADES SOCIAIS DAS CRIANÇAS66

Resumo

As Práticas Educativas adotadas pelos pais (positivas e/ou negativas),


apresentam grande relevância em todo o ambiente que a criança esteja inserida. O
estudo aponta que famílias de risco têm práticas parentais negativas, estresse e
depressão elevados e habilidades parentais sociais rebaixadas. Por meio do Inventário
de Estilos Parentais (IEP), foi possível perceber de que forma cada prática parental pode
implicar na habilidade social das crianças, a importância do uso de práticas parentais
positivas e a prevenção do uso de práticas negativas.

Principais Resultados

A literatura apresentada no estudo considera o déficit dos pais em


habilidades parentais como fatores de risco para o aparecimento de comportamentos
antissociais em crianças e adolescentes.

66GOMIDE, Paula Inez Cunha et al . Correlação entre práticas educativas, depressão, estresse e habilidades sociais.
Psico-USF (Impr.), Itatiba , v. 10, n. 2, p. 169-178, Dec. 2005 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-82712005000200008&lng=en&nrm=iso>. access
on 02 Sept. 2020. https://doi.org/10.1590/S1413-82712005000200008.
O estudo, realizado em 2005 por pesquisadores da Universidade de São
Paulo (USP), selecionou em seu modelo teórico sete práticas educativas que comporiam
o Estilo Parental, sendo cinco relacionadas ao desenvolvimento de comportamentos
antissociais e duas favoráveis ao desenvolvimento de comportamentos pró-sociais. O
abuso físico, a punição inconsistente, a disciplina relaxada, a monitoria negativa e a
negligência são consideradas estratégias educacionais negativas.

Já as duas práticas parentais positivas, monitoria positiva e comportamento


moral, dizem respeito ao uso adequado de reforçadores sociais, ao desenvolvimento da
empatia e ao estabelecimento de contingências reforçadoras ou punitivas para o
comportamento do filho onde se estabelecem regras claras e consequências (sanções)
para o não-cumprimento das mesmas; são ações que promovem o desenvolvimento de
habilidades pró-sociais.

O estudo utilizou o Inventário de Educação Parental ou Índice de Estilo


Parental (IEP), instrumento que foi construído para avaliar o nível do Estilo Parental
indicando se este é de risco ou de não-risco. O objetivo da pesquisa, portanto, foi o de
buscar a correlação entre as práticas educativas positivas e negativas, obtidas pela
aplicação do IEP, com as habilidades sociais dos pais, depressão e estresse familiar.

Práticas educativas parentais positivas

A monitoria positiva é definida como o conjunto de práticas parentais que


envolvem atenção e conhecimento dos pais acerca de onde seu filho se encontra e das
atividades desenvolvidas pelo mesmo (Dishion & McMahon, 1998; Gomide, 2001, 2003,
2004; Stattin & Kerr, 2000).

Para Gomide (2003) são ainda componentes da monitoria positiva as


demonstrações de afeto e carinho dos pais, principalmente relacionadas aos momentos
de maior necessidade da criança. O apoio e amor dos pais são a base da monitoria
positiva, que unidos ao interesse real pela criança criam o ambiente propício para a
revelação infantil e afastam a necessidade da fiscalização estressante por parte dos pais.

O comportamento moral refere-se a uma prática educativa pelo qual os pais


transmitem valores como honestidade, generosidade, senso de justiça, fazendo a
discriminação do certo e do errado por meio de modelos positivos, sempre mediando a
relação com afeto. Pesquisas apontam alguns fatores como essenciais para o
desenvolvimento do comportamento moral nas crianças: a existência do sentimento de
culpa; o desenvolvimento da empatia; ações honestas; crenças parentais positivas sobre
trabalho; ausência de práticas antissociais e reparação do dano.

Práticas educativas parentais negativas

O estudo sugere que a negligência ocorre quando os pais não estão atentos
às necessidades de seus filhos, ausentam-se das responsabilidades, omitem-se no
auxílio aos filhos, ou simplesmente quando há interação familiar sem afeto, sem amor.

As crianças negligenciadas comportam-se de forma apática ou agressiva,


sendo tais comportamentos supostamente promovidos pela relação de pobre apego dos
pais para com as crianças. Segundo os autores, a falta de calor e carinho na interação
com a criança pode desencadear sentimento de insegurança, vulnerabilidade e eventual
hostilidade e agressão em relacionamentos sociais.

A punição inconsistente ocorre quando os pais punem ou reforçam os


comportamentos de seus filhos de acordo com o seu bom ou mau humor, de forma não
contingente ao comportamento da criança, ou seja, é o estado emocional dos pais que
determina as ações educativas e não as ações da criança. Como consequência, a criança
aprende a discriminar o humor de seus pais e não aprende se seu ato foi adequado ou
inadequado.

A monitoria negativa se caracteriza pelo excesso de fiscalização da vida dos


filhos e pela grande quantidade de instruções repetitivas, que não são seguidas pelos
filhos, produzindo um clima familiar hostil, estressado e sem diálogo, já que os filhos
tentam proteger sua privacidade evitando falar sobre suas particularidades.

O estudo chama a atenção para o fato de que modelos de monitoria


estressante acarretam efeitos para os adolescentes, tais como tendência a unir-se a
pares antissociais e, concomitantemente, aumentam o risco de delinquência.
A disciplina relaxada caracteriza-se pelo não-cumprimento de regras
estabelecidas. Os pais ameaçam e quando se confrontam com comportamentos
opositores e agressivos dos filhos omitem-se, sem fazer valer as regras.

A literatura indicada no estudo demonstra que crianças expostas


constantemente a práticas educativas de disciplina relaxada estarão em potencial
situação de risco para o desenvolvimento de comportamentos delinquentes, uma vez
que os comportamentos de agressividade e de oposição encontram em tal prática
campo propício para o seu desenvolvimento.

No estudo, considera-se abuso físico quando os pais machucam ou causam


dor em seus filhos na tentativa de controlá-los. O texto diferencia punição corporal de
abuso físico. A punição corporal é um ato de força física que pune a criança com a
intenção de corrigir ou controlar o mau comportamento dela, porém sem pretensão de
causar lesão física ou moral; já o abuso físico é caracterizado pelo socar, espancar,
chutar, morder, queimar, sacudir, enfim, atos que machucam a criança. Para Gomide
(2003) a prática do abuso físico pode gerar crianças apáticas, medrosas, desinteressadas
e, principalmente, antissociais.

Baseando-se nestas práticas educativas parentais, foi desenvolvido um


Inventário de Estilos Parentais (IEP) capaz de identificar práticas parentais negativas
utilizadas em famílias de risco e positivas usadas por pais que desenvolvem
comportamentos pró-sociais em seus filhos.

A interrelação entre práticas parentais, depressão, estresse e habilidades sociais

A literatura apontada na pesquisa destaca, por um lado, uma correlação


entre depressão e estresse e as práticas educativas negativas de negligência, abuso
físico, punição inconsistente, disciplina relaxada e monitoria negativa. Diversos
pesquisadores mostraram que pais com habilidades sociais tendem a exercer a
monitoria positiva e o comportamento moral como estratégias educacionais, evitando
que seus filhos apresentem comportamentos antissociais.
Depressão

O estudo busca demonstrar a correlação entre o uso das práticas educativas


e a depressão parental. De acordo com Menegatti (2002), pais depressivos são menos
carinhosos, responsivos e mais irritáveis, hostis e críticos. Como consequência sua prole
tende a ser mais autocrítica e com dificuldades de regular suas emoções. A autora
também observa que a depressão nos pais pode ser um antecedente para a prática
parental negligente, podendo estar ligada à drogadição e ao comportamento antissocial
em crianças e adolescentes.

As pesquisas de Gelfand e cols. (1995) indicaram que filhas de mães com


depressão crônica estão sob risco de sofrer vários distúrbios emocionais e cognitivos e
tendem a se tornar igualmente deprimidas. Já os filhos de mães deprimidas tendem a
ter baixo desempenho em medidas cognitivas, a sofrer acidentes e a adquirir problemas
comportamentais.

Estresse

O estresse, nos dias atuais, tem afetado grande parte da população, estando
fortemente presente na vida moderna. Malagris e Castro (2000) conceituam estresse
como uma reação do organismo decorrente de alterações psicofisiológicas que
acontecem quando uma pessoa enfrenta situações que podem irritá-la, amedrontá-la,
excitá-la, confundi-la ou mesmo proporcionar intensa felicidade. Sendo assim, qualquer
evento que favoreça uma quebra do equilíbrio do organismo exigindo adaptação pode
ser fonte de estresse. Estes estressores podem ser externos e internos. Os externos são
os acontecimentos que ocorrem na vida das pessoas e os internos são as características
individuais adquiridas pelo sujeito em sua vida, a saber, padrão comportamental,
crenças, capacidade de enfrentamento, sentimentos, cognições, habilidades sociais do
sujeito.

Assim, as reações físicas e psíquicas ocasionadas pelo estresse podem


influenciar na relação entre os pais e seus filhos. Estudos confirmam que pais
estressados se utilizam com maior frequência de práticas educativas negativas, como
punição inconsistente, negligência, disciplina relaxada, monitoria negativa e abuso físico
(Pinheiro, 2003; Sabbag, 2003). Na década anterior, Patterson e cols. (1992) afirmaram
que famílias com altos índices de estresse estão sob o risco de gerar filhos com
comportamentos antissociais.

Gomide (2003) destaca que a punição inconsistente pode agir como


estressor para a criança, que dependerá sempre do estado diário do humor dos pais
para receber ou não reforço ou punição. Assim, pais estressados utilizam-se de práticas
educativas negativas e estas se tornam fontes de estresse para a criança. As pesquisas
sobre o estresse infantil de Lipp (2000) destacam que durante o desenvolvimento
intelectual, emocional e afetivo a criança confronta-se com situações de tensão de níveis
altos e muitas vezes a mesma ainda não adquiriu capacidade para lidar com tais eventos
estressantes. Caso os adultos ao redor dessa criança reajam às situações de tensão da
vida com ansiedade e angústia a criança aprenderá a agir assim também. Sendo assim,
a forma como seus pais e/ou responsáveis lidam com situações estressantes tornam-se
modelo a ser seguido pela criança.

Habilidades sociais

A capacidade humana de conviver socialmente e as estratégias utilizadas na


relação com o outro são denominadas desempenho social; no entanto, a habilidade
social é o conjunto dos desempenhos apresentados pelo indivíduo diante das demandas
de uma situação interpessoal. Em contrapartida, os déficits de habilidades sociais estão
associados a dificuldades e conflitos nas relações interpessoais e a uma variedade de
alterações psicológicas, tais como problemas conjugais, isolamento, desajustamento
escolar, delinquência, suicídio, além de síndromes clínicas como a depressão e a
esquizofrenia (Del Prette & Del Prette, 1999, 2001).

Del Prette e Del Prette (2001) desenvolveram um inventário para identificar


o repertório de habilidades sociais de adultos e adolescentes. Para esses autores a
aprendizagem de habilidade social inicia-se no ambiente familiar e escolar, sendo no
contexto familiar, geralmente, onde os pais fazem a mediação para a aprendizagem
desta habilidade. Os autores entendem que pais que educam seus filhos agindo de
forma agressiva, negligente ou que fornecem modelos inapropriados produzem déficits
na aprendizagem de comportamentos sociais adequados.

Pesquisas (Weber, 2004; Pinheiro, 2003; Salvo, 2003; Löhr, 2001)


demonstram que pais com boas práticas parentais aumentam a probabilidade de que
seus filhos desenvolvam comportamentos pró-sociais, como a empatia e assertividade.
Também a literatura especializada no relacionamento entre pais e filhos associa o estilo
parental ao desenvolvimento de habilidades sociais das crianças e adolescentes.
Patterson e cols. (1992) apontam habilidades parentais fundamentais para o
desenvolvimento de comportamentos pró-sociais, tais como: o uso apropriado do
reforço positivo; o ensinamento de resolução de problemas; a supervisão e monitoria
positiva dos filhos; o incentivo à aquisição de hábitos de estudar para melhorar o
desempenho escolar. Além do efeito imediato nas relações parentais, estas habilidades
parentais aumentarão a autoestima da criança e diminuirão a probabilidade de
aparecimento de comportamentos antissociais.

Método

Participantes

A amostra foi composta por oito famílias (pai, mãe e filhos), que foram
selecionadas a partir do IEP aplicado nos filhos, sendo quatro com Índice de Estilo
Parental Negativo (IEP entre -8 e -34) e quatro com Índice de Estilo Parental Positivo (IEP
entre +7 e +15). Os adolescentes, quatro meninos e quatro meninas, tinham idade
variando entre 14 e 17 anos, média de 14 anos, e todos frequentavam a 8a série do
Ensino Fundamental, sendo metade de uma escola pública e a outra metade de uma
escola particular. A idade dos pais variava de 36 a 63 anos, média de 48 anos, e das
mães, de 38 a 52 anos, média de 45 anos.

Instrumentos

Foram utilizados quatro instrumentos e duas medidas comportamentais, a


saber:

a) Inventário de Estilos Parentais, IEP aplicado nos adolescentes. O IEP é


composto de 42 questões abordando duas práticas educativas positivas e cinco
negativas. O Índice de Estilo Parental é calculado somando-se os pontos obtidos nas
questões referentes às práticas positivas (monitoria positiva e comportamento moral)
que são subtraídos da somatória dos pontos das práticas negativas (punição
inconsistente, negligência, disciplina relaxada, monitoria negativa e abuso físico). O
índice quando negativo informa a prevalência de práticas educativas negativas e quando
positivo, a presença de práticas positivas no processo educacional.

b) Inventário de Depressão Beck (Beck e cols., 1997).

c) Inventário de Habilidades Sociais (Del Prette & Del Prette, 2000).

d) Medidas comportamentais: nota escolar e checklist. Foi considerada a


média escolar dos adolescentes durante o ano de 2002. O checklist foi desenvolvido
pelos pesquisadores, como forma de levantamento dos comportamentos dos
adolescentes em ambiente escolar.

Resultados

A coleta de dados com as famílias com Índice de Estilo Parental (IEP)


positivo foi realizada com rápida anuência dos pais e verdadeira cooperação; já com as
famílias com IEP negativo verificou-se uma enorme dificuldade para a aceitação do
convite, relutância em marcar o horário e demonstração de baixa disponibilidade para
responder aos inventários.

Os dados obtidos pela aplicação dos inventários estão sumarizados na


Tabela 1. Mediante a aplicação do Inventário de Habilidades Sociais (IHS) identificou-
se, que, entre os oito membros das famílias com IEP negativo, apenas três (37,5%)
obtiveram índice indicativo de repertório elaborado, os demais obtendo escores abaixo
da média, inclusive com duas indicações para treinamento em Habilidades Sociais; já nas
famílias com IEP positivo verificou-se apenas um indivíduo com indicação de
treinamento em Habilidades Sociais, tendo os demais (87,5%) apresentado escores
acima da média.

A avaliação geral indicou que a maioria dos membros das famílias com IEP
positivo obteve IHS elevado (87,5%), ausência total de depressão e baixa incidência de
estresse (25% de seus membros). Por outro lado, entre os participantes das famílias com
IEP negativo, 62,5% apresentaram repertório insuficiente em habilidades sociais, todos
os membros obtiveram escores indicativos de estresse e 62,5% deles, escores
indicativos de depressão.

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