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ACESSIBILIDADE

WEB E DIGITAL
COLETÂNEA DE TEXTOS
FICHA TÉCNICA

TÍTULO
Acessibilidade Web e Digital . Coletânea de Textos

AUTOR
Carina Rodrigues
Cláudio Esperança
Manuela Francisco
Norberto Sousa
Sandro Costa

EDIÇÃO
Politécnico de Leiria
www.ipleiria.pt

ORGANIZAÇÃO
Unidade de Ensino a Distância

COORDENAÇÃO
Isabel Pereira

IDENTIDADE GRÁFICA
Joana Mineiro

DATA
1.ª Edição Fevereiro 2021

TIPO DE SUPORTE
Eletrónico

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1. REGULAMENTAÇÃO
Francisco, M. & Sousa, N. (2019). Regulamentação. Acessibilidade web: por onde
começar. NAU: Politécnico de Leiria. [Curso online de acesso livre].

1.1. PERSPETIVA HISTÓRICA


Após a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes, proclamada pela ONU em 1975,
e do Programa de Ação Mundial para as Pessoas com Deficiência, aprovado pela pela
ONU a 3 em dezembro de 1982, tem sido notória a preocupação com a inclusão das
pessoas com deficiência, em todos os domínios, incluindo a web e o digital. Contudo,
este é um processo lento, pois exige grandes mudanças políticas e sociais inerentes à
própria evolução do conceito de deficiência, assim como às diferentes conjunturas
específicas de cada época e de cada país.

1.1.1. NO PANORAMA MUNDIAL


A Section 508... Em 1990 é publicado, nos EUA, o American Disability Act (ADA) que
proíbe a discriminação, sendo incluído no código do direito civil americano. Esta lei
federal dedica uma secção (section 508) que estabelece requisitos de acessibilidade para
a eletrónica e para as tecnologias de informação. A ADA é revista em 2008, para entrar
em vigor a 1 de janeiro de 2009 com a designação de ACT.

O W3C... Tim Berners-Lee cria, em 1994, o World Wide Web Consortium (W3C), com o
objetivo de assegurar a compatibilidade e definir protocolos entre as empresas do setor
informático. Em 1999 este consórcio apresenta um conjunto de diretrizes de
acessibilidade para conteúdo web (WCAG 1.0) que vão sendo adotadas, sem carácter
obrigatório, por vários países. Esta diretrizes vão sendo revistas e em 2008 é
apresentada a versão WCAG 2.0. Em 2018 é feita nova revisão e são publicadas, a 5 de
junho, as WCAG 2.1 que acrescentam à versão anterior 17 critérios de sucesso
relacionados com a acessibilidade móvel e dificuldades sentidas em particular por
pessoas com baixa visão e pessoas com deficiências cognitivas ou de aprendizagem.

A Declaração de Riga... É durante a Conferência Ministerial “ICT for an inclusive


society”, em 2006, que é assinada a Declaração de Riga. Nesta declaração é reconhecida
a importância das tecnologias de informação e comunicação (TIC) para uma melhoria da

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qualidade de vida de todos os indivíduos, sendo que Todos inclui pessoas com algum tipo
de incapacidade ou deficiência.

A Norma ISO/IEC 40500:2012... Em 2012 as diretrizes WCAG 2.0 são aprovadas pela
International Organization for Standardization (ISO) e pela International Electrotechnical
Commission (IEC).

A Diretiva EU 2016/2012... A 26 de outubro de 2016 a Comissão Europeia aprova esta


diretiva, destinada a todos os Estados-membros, com o objetivo de garantir que "os
organismos do setor público tomam as medidas necessárias para tornar os seus sítios
web e as suas aplicações móveis mais acessíveis tornando-os percetíveis, operáveis,
compreensíveis e robustos."

A Norma Europeia EN 301 549... A de 20 de dezembro de 2018 esta norma é


atualizada e estabelece os requisitos de acessibilidade para as tecnologias de informação
e comunicação, incluindo os sítios web, regendo-se pelas WCAG 2.1 e pela diretiva EU
2016/2012.

1.1.2. NO PANORAMA PORTUGUÊS


O GUIA... Com o apoio do W3C é criado, em 1999, o Grupo Português pelas Iniciativas
em Acessibilidade (GUIA) que desempenhou um papel importantíssimo na promoção da
acessibilidade na Internet e na respetiva legislação.

A RCM Nº 97/99... Em 1999 Portugal torna-se no primeiro país Europeu a regulamentar


a acessibilidade nas páginas da Administração pública, ao aprovar a Resolução de
Conselho de Ministros 97/99 de 26/08. Nesta resolução é criada a Iniciativa Nacional
para os Cidadãos com Necessidades Especiais na Sociedade da Informação (INCNESI)
que propõe a criação de condições de acessibilidade a toda a informação que circula na
Internet, contribuindo para a concretização dos objetivos do Livro Verde. Na sequência
desta iniciativa é criada, também em 1999, a Unidade de ACESSO com o objetivo de
apoiar o Ministério da Ciência e Tecnologia no acompanhamento da INCNESI.

A RCM Nº 22/2001... Em 2001 é aprovado, em Conselho de Ministros, a resolução Nº


22/2001, para avaliar o cumprimento das disposições legais relativas à acessibilidade nas
páginas da administração pública.

A RCM Nº 155/2007... Em 2007 é publicado, em Diário da República, a Resolução do


Conselho de Ministros Nº 155/2007 de 02/10, que pretende impor o cumprimento das
normas de acessibilidade nas páginas da administração pública. Estas normas não são

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mais que as diretivas WCAG do W3C, que são reconhecidas nessa Resolução como sendo
“…uma norma mundialmente utilizada para a criação de sítios web acessíveis.”

A RCM Nº 91/2012... Em 2011 o governo português vai mais longe com a Lei n.º
36/2011, de 21 de Junho, que estabelece a adoção de normas abertas nos sistemas
informáticos do Estado, e em 2012, a RCM nº 91/2012, de 8 de novembro, aprova o
Regulamento Nacional de Interoperabilidade Digital, elaborado pela Agência de
Modernização Administrativa, I.P. Este regulamento, atualizado em 2018 através da RCM
nº2/2018, define as especificações técnicas e formatos digitais a adotar pela
Administração Pública.

O Decreto-Lei n.º 83/2018... A 19 de outubro de 2018 é publicado, em Diário da


República, este Decreto-Lei que consiste na transposição da Diretiva (UE) 2016/2102, do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 26 de outubro de 2016, sobre a acessibilidade dos
sítios web e das aplicações móveis de organismos do setor público.

EM SÍNTESE

Atualmente, de acordo com a EN 301 549 e com o Decreto-Lei n.º 83/2018 (que engloba
a Diretiva EU 2016/2012, a Lei nº 36/2011 e a RCM nº 2/2018) os organismos do setor
público (com exceção das empresas de radiodifusão públicas), estão obrigados a cumprir
o nível “AA” das WCAG para os serviços e nível "A" para a informação e conteúdos
disponibilizados na Internet, devendo os dispositivos e as aplicações móveis garantir os
requisitos de acessibilidade para o acesso à informação ou serviços. Também os ficheiros
disponibilizados devem ser em formato aberto ou PDF.

1.2. O POTENCIAL INCLUSIVO DA WEB


O potencial da Internet, segundo Tim Berners-Lee (1997), é a sua universalidade, pelo
que o acesso não deve estar vedado a nenhum cidadão, qualquer que seja a sua
incapacidade. É com esta visão que o W3C cria a Web Accessibility Initiative (WAI), em
1997. Este grupo desenvolve um conjunto de diretrizes de acessibilidade para conteúdo
web, apresentando, em 1999, as WCAG 1.0 (Web Content Accessibility Guidelines). Em
2008, após quase uma década a melhorar as WCAG e a desenvolver outras diretrizes
como as UAAG e ATAG, este consórcio apresenta uma atualização das WCAG,

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encontrando-se em vigor, desde dezembro de 2008, as WCAG 2.0. Em 2018, estas
diretrizes foram atualizadas para a versão WCAG 2.1.

Para que se compreenda o âmbito das várias diretrizes, propostas pelo W3C, e em
particular as WCAG convém ter presente:

Conteúdo Web - refere-se a qualquer parte de um site, incluindo texto, imagem e


multimédia, bem como qualquer formulário, código de marcação, scripts, aplicativos e
outros equivalentes. Para estes conteúdos foram definidas as WCAG, que devem ser
utilizadas por todos os utilizadores que contribuem com conteúdos para a web, ou seja,
todos nós.

Agentes de utilizador - software que as pessoas usam para aceder ao conteúdo da


web, incluindo navegadores gráficos, navegadores de voz, navegadores de telemóveis,
players multimédia, plug-ins e algumas tecnologias ou produtos de apoio. Para os
agentes de utilizador o W3C desenvolveu as diretrizes UAAG que devem ser utilizadas
pelas instituições que disponibilizam estes serviços.

Ferramentas de autor - software ou serviços que as pessoas usam para produzir


conteúdo da web, incluindo editores de código, ferramentas de conversão de
documentos, sistemas de gestão de conteúdo, blogs, scripts de banco de dados e outras
ferramentas de criação de conteúdos. Para os programadores que desenvolvem estas
ferramentas o W3C disponibiliza as diretrizes ATAG.

EM SÍNTESE

Considerando o potencial inclusivo da web e o seu carácter universal foram criadas


diretrizes de acessibilidade para programadores e criadores de conteúdo. Esta diretrizes
pretendem que todas as pessoas, incluindo as pessoas com incapacidade ou deficiência,
possam perceber, compreender, navegar e interagir com a Web, podendo também
contribuir enquanto autores para a Web.

1.3. DIFERENTES PERFIS DE UTILIZADORES


Embora a acessibilidade não tenha como público alvo apenas as pessoas com deficiência,
a verdade é que tem para elas maior relevância. Isto porque os sites e conteúdos digitais
são muitas vezes o único meio, com ou sem auxílio de tecnologias de apoio, de aceder à

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informação, conhecer um serviço ou produto ou mesmo integrar-se. Contudo, apesar de
existirem variados produtos de apoio/ ajudas técnicas, estes não são suficientes para
ultrapassar determinadas barreiras na web.

De acordo com o W3C, as pessoas têm diversas habilidades, competências, ferramentas,


preferências e expectativas que podem influenciar a forma como usam a Web:

• Incapacidades relacionadas com a idade que podem condicionar o uso de produtos


de apoio/ajudas técnicas ou da web em geral. Por exemplo, uma pessoa com
baixo nível de conhecimentos de informática poderá encontrar dificuldades
acrescidas na interação com a web através de produtos de apoio.
• Múltipla deficiência que pode limitar a forma de interagir com a Web. Por
exemplo, alguém que é surdo e tem baixa visão pode beneficiar de legendas para
o áudio, mas apenas se estas tiverem a cor e tamanho ajustável.
• Condições de saúde que podem afetar a resistência, destreza ou concentração.
Por exemplo, uma pessoa com excesso de fadiga, dor ou outros sintomas que
podem afetar o uso físico do computador ou limitar a duração ou a extensão de
utilização da Web.
• Mudança de capacidades que afetam a utilização da Web de forma diferente em
diferentes momentos. Por exemplo, alguém que esteja em recuperação ou numa
fase de aprendizagem num determinado contexto, pode necessitar de recursos de
acessibilidade especial apenas por uns dias, dependendo da sua condição.
• Impedimentos temporários que podem ocorrer devido a um acidente, cirurgia ou
medicação. Estas pessoas podem não saber como usar os recursos de
acessibilidade ou desconhecer que existem e podem nem ter consciência das suas
próprias necessidades.
• Limitações situacionais impostas pelo meio que restringem a capacidade de
interação do indivíduo. Por exemplo, uma pessoa pode estar num ambiente
barulhento e incapaz de ouvir o áudio, na luz solar e incapaz de ver o ecrã, ou
pode utilizar um dispositivo que não suporta algumas tecnologias.
• Incapacidades derivadas de uma ou mais deficiências, que pode ser auditiva,
visual, motora, cognitiva e neurológica ou relacionado com a fala.

Os sites e ferramentas web, que são projetadas para pessoas com uma ampla gama de
habilidades, beneficiam a todos, inclusive as pessoas sem deficiência. Portanto, é
importante considerar a ampla diversidade de necessidades funcionais, ao invés de
categorizar as pessoas de acordo com as classificações médicas. Assim, podemos

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considerar os seguintes cenários que requerem necessidades específicas de
acessibilidade: Audição; Visão; Cognição e neurologia; Discurso; Motora.

EM SÍNTESE

Há muitas razões que levam as pessoas a vivenciar uma variedade de dificuldades


auditivas, físicas, visuais, cognitivas, neurológicas ou de discurso. Algumas podem ter
deficiência congénita ou adquirida derivada de uma doença ou acidente ou podem
desenvolver deficiências com a idade. Alguns podem não ter qualquer deficiência, mesmo
que vivenciem tais limitações funcionais, quer por motivos de saúde, quer pelo ambiente
que as rodeia ou simplesmente pela tecnologia e ferramentas que utilizam.

1.4. OS PRINCÍPIOS UNIVERSAIS


Para que possamos entender melhor a estrutura das diretrizes de acessibilidade para os
conteúdos web vamos tomar como ponto de partida os princípios do Design Universal.

Podemos pensar que o Design Universal teve as suas premissas na revolução industrial
por William Maurice com a ideia de servir o maior número de pessoas. No entanto, o
termo associado à inclusão surgiu pela primeira vez após a II Guerra Mundial, nos anos
60, com a exposição “A barrier - Free Design” através do arquiteto Ronald Mace do
Centro para o Design Universal na North Caroline State University (EUA). Este conceito
aplicado inicialmente à arquitetura, foi sendo adotado por outras áreas do design como o
mobiliário, equipamento e produto, até chegar a todas as áreas que envolvem ambientes
e produtos de consumo incluindo as telecomunicações, tecnologia e eletrónica.

Assim, de acordo com o Center for Universal Design (North Caroline State University,
EUA), o objetivo do design universal é simplificar a vida de todos, tornando produtos,
comunicações e os ambientes edificados mais usáveis e pelo maior número possível de
pessoas sem que isso implique custos extra, beneficiando pessoas de todas as idades e
habilidades.

Para tal, foram definidos 7 princípios que devem ser seguidos para que se cumpra com
este objetivo:

1: Uso equitativo - o design é útil e comercializável às pessoas com habilidades


diversas.

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2: Flexibilidade no uso - acomoda uma ampla gama de habilidades e preferências
individuais.

3: Simples e intuitivo - uso do design é fácil de entender, independentemente da


experiência dos utilizadores, conhecimento, competências linguísticas ou nível de
concentração.

4: Informação percetível - o design comunica eficazmente as informações necessárias,


independentemente de condições ambientais ou das habilidades sensoriais dos
utilizadores.

5: Tolerância de erro - o projeto minimiza os riscos e as consequências adversas de


ações acidentais ou não intencionais.

6: Baixo esforço físico - o design pode ser usado eficiente e confortavelmente e com
um mínimo de fadiga.

7: Tamanho e espaço para aproximação e uso - tamanho e espaço adequado que


permite uma abordagem, alcance, manipulação e uso independentemente do tamanho
do corpo do utilizador, postura ou mobilidade.

Se olharmos para as diretrizes de acessibilidade podemos verificar que os princípios do


design universal estão implícitos, de forma mais específica, nos 4 princípios fundamentais
para os conteúdos web.

[Vejamos:]

As Web Content Accessibility Guidelines (WCAG) 2.0 (Norma ISO/IEC


40500:2012) definem como tornar o conteúdo web mais acessível a pessoas com
deficiência. A acessibilidade envolve uma ampla gama de deficiências incluindo discurso,
visual, auditivo, físico, cognitivo, linguagem, aprendizagem e deficiências neurológicas.
Embora estas orientações abranjam uma vasta diversidade de questões, não conseguem
responder às necessidades de pessoas com todos os tipos, graus e combinações de
incapacidades. Estas orientações também fazem o conteúdo web mais utilizável por
indivíduos mais velhos com a mudança de habilidades devido ao envelhecimento e
muitas vezes melhoram a usabilidade para todos os utilizadores.

As WCAG 2.0 foram desenvolvidas através de um processo de colaboração entre o W3C e


indivíduos e organizações de todo o mundo, com o objetivo de fornecer um padrão
compartilhado para a acessibilidade do conteúdo da Web, que atende às necessidades de
indivíduos, organizações e governos, internacionalmente. As WCAG 2.0 baseiam-se nas

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WCAG 1.0 e são projetadas para serem aplicadas, em linhas gerais, a diferentes
tecnologias Web, agora e no futuro, e para serem testáveis com uma combinação de
testes automáticos e avaliação humana.

A acessibilidade da Web depende não só de conteúdo acessível, mas também de


navegadores acessíveis e outros agentes de utilizador. As ferramentas de autor também
têm um papel importante na acessibilidade da Web. Por isso o W3C desenvolveu
diretrizes específicas para os agentes de utilizador (UAAG) e para as ferramentas de
Autor (ATAG).

As WCAG, quer na 1ª versão (1999), quer na 2ª versão (2008), quer na 3ª versão


(2018), apresentam 4 princípios fundamentais:

1: Percetível - toda a informação e interface deve ser legível e percebida por todos.

2: Operável - a navegação e o acesso a todas as funcionalidades deve ser garantida,


independentemente do perfil do utilizador e dos dispositivos de navegação que utiliza.

3: Compreensível - toda a informação deve ser compreendida por todos e prever


tolerância ao erro.

4: Robusto - deve garantir a interoperabilidade entre sistemas e compatibilidade


tecnológica.

EM SÍNTESE

Como vimos, os princípios do design Universal preocupam-se com a interação da pessoa


com o meio e a usabilidade dos produtos, qualquer que seja as habilidades das pessoas e
o contexto. As WCAG preocupam-se com a interação da pessoa e o acesso à informação
em contexto web, independentemente do perfil da pessoa e do tipo de conteúdos
veiculados pela internet.

1.5. AS WEB CONTENT ACCESSIBILITY GUIDELINES


(WCAG)
Nota: Apesar de já estar disponível um documento de trabalho relativo à versão 2.2,
vamos focar-nos na versão WCAG 2.0 que está na base da norma ISO/IEC 40500:2012 e

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da RCM nº 2/2018. São, no entanto, acrescentadas nas páginas seguintes as alterações
mais significativas constantes da versão 2.1, publicada em junho de 2018 e que estão na
base da Norma Europeia EN 301 549. Assim, a informação apresentada neste capítulo é
baseada na tradução oficial das WCAG 2.0 e na versão das WCAG 2.1, disponíveis no site
do W3C.

1.5.1. A ESTRUTURA DAS WCAG 2.0


Estas diretrizes estão estruturadas em vários níveis de abordagem interligados: 4
princípios, 12 diretrizes, 61 critérios de sucesso testáveis que permitem verificar o nível
de conformidade e ainda técnicas do tipo suficiente ou aconselhadas.

Obs: Nas WCAG 2.1, são propostas mais 1 diretriz e 17 critérios de sucesso.

Como complemento a esta informação, são ainda disponibilizadas nas


WCAG, algumas falhas comuns, apresentando exemplos, links para recursos adicionais e
código fonte.

Procurando simplificar a compreensão desta estrutura e da sua aplicação, podemos


considerar que os princípios dizem respeito às grandes questões já referidas nos tópicos
anteriores: legibilidade (princípio Percetível), navegabilidade (princípio Operável),
leiturabilidade (princípio Compreensível) e à interoperabilidade (princípio Robusto).

As diretrizes podem ser entendidas como os pontos fundamentais que compõem cada
princípio.

Os critérios de sucesso indicam os procedimentos necessários para que se cumpram os


diferentes níveis de conformidade para cada diretriz. É com base nestes critérios que os
validadores automáticos avaliam o grau de acessibilidade (nível de conformidade) de um
página web.

As técnicas indicam o quê e como fazer, sendo do tipo suficiente (para que se atinja
determinado nível de conformidade) e do tipo aconselhado (o que se pode fazer para ir
mais longe e antecipar o surgimento de barreiras).

Assim, vamos analisar com maior profundidade esta estrutura.

1.5.2. OS NÍVEIS DE CONFORMIDADE


Conscientes que existem diferentes perfis de utilizadores, diferentes produtos/
tecnologias de apoio, diferentes plataformas e diferentes tipos de conteúdos, foram
definidos 3 níveis de conformidade com a acessibilidade:

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o nível mínimo (A) que apenas garante acessibilidade a alguns conteúdos, a alguns
perfis de utilizadores ou a algumas tecnologias;

o nível intermédio (AA) que não garantindo a acessibilidade total, permite a mais
utilizadores interagirem e acederem aos conteúdos;

e o nível máximo (AAA) que garante uma plena acessibilidade a todos os conteúdos, a
todas as tecnologias do momento e a quase todos os perfis de utilizadores.

Para que uma página web esteja em conformidade com um dos 3 níveis, é fundamental
que todos os critérios de sucesso desse nível sejam atingidos (caso se apliquem ao
conteúdo e interação da página).

Apesar de não termos ainda analisado as diretrizes e os critérios de sucesso


correspondentes a cada princípio, podemos ficar com uma ideia do número de critérios
de sucesso que abordam os 3 níveis de conformidade: dos 61 critérios de sucesso, 25
destinam-se a cumprir o nível mínimo de conformidade (A), 13 para o nível intermédio
de conformidade (AA) e 23 para o nível máximo de conformidade (AAA).

OBSERVAÇÃO:

Nas WCAG 2.1, dos 17 novos critérios de sucesso: 5 são do nível de conformidade A, 7
do nível AA e 5 do nível AAA

1.5.3. OS PRINCÍPIOS
Apesar de já conhecermos os 4 princípios das WCAG 2.0 vamos revê-los.

Princípio 1 - Percetível: Os utilizadores têm de ser capazes de perceber a informação


apresentada e o funcionamento da interface (tem de estar visível a todos os seus
sentidos).

Princípio 2 - Operável: Os utilizadores têm de ser capazes de funcionar com a


interface, independentemente do dispositivo que utilizam (a interface não pode requerer
uma interação que um utilizador não possa executar).

Princípio 3 - Compreensível: Os utilizadores têm de ser capazes de compreender a


informação e o modo de funcionamento da interface (não pode ir para além da sua
compreensão).

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Princípio 4 - Robusto: Os utilizadores têm de ser capazes de aceder aos conteúdos à
medida que as tecnologias avançam e com os produtos de apoio que utilizam
(compatibilidade tecnológica).

1.5.4. AS DIRETRIZES
Para o Princípio 1 (Percetível) temos 4 diretrizes:

1.1 Alternativas em Texto (Fornecer alternativas em texto para qualquer conteúdo não
textual permitindo, assim, que o mesmo possa ser alterado noutras formas mais
adequadas à necessidade da pessoa, tais como impressão em caracteres ampliados,
braille, fala, símbolos ou linguagem mais simples).

1.2 Multimédia Baseada no Tempo (Fornecer alternativas para multimédia baseada no


tempo).

1.3 Adaptável (Criar conteúdos que possam ser apresentados de diferentes maneiras
sem perder informação ou estrutura).

1.4 Discernível (Facilitar a audição e a visualização de conteúdos aos utilizadores,


incluindo a separação do primeiro plano e do plano de fundo).

Para o princípio 2 (Operável) temos 5 diretrizes (incluindo a nova, adicionada


na versão 2.1):

2.1 Acessível por Teclado (Fazer com que toda a funcionalidade fique disponível a partir
do teclado).

2.2 Tempo Suficiente (Fornecer tempo suficiente aos utilizadores para lerem e utilizarem
o conteúdo).

2.3 Ataques Epiléticos (Não criar conteúdo de uma forma conhecida por causar ataques
epiléticos).

2.4 Navegável (Fornecer formas de ajudar os utilizadores a navegar, localizar conteúdos


e determinar o local em que se encontram).

2.5 (WCAG 2.1) Modalidades de entrada (Facilitar a interação com diferentes


funcionalidades através de outros dispositivos de entrada além do teclado).

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Para o princípio 3 (Compreensível) temos 3 diretrizes:

3.1 Legível (Tornar o conteúdo de texto legível e compreensível).

3.2 Previsível (Fazer com que as páginas Web surjam e funcionem de forma previsível).

3.3 Assistência de Entrada (Ajudar os utilizadores a evitar e corrigir erros).

Para o princípio 4 (Robusto) temos 1 diretriz:

4.1 Compatível (Maximizar a compatibilidade com atuais e futuros agentes de utilizador,


incluindo tecnologias de apoio).

1.5.5. OS CRITÉRIOS DE SUCESSO


Para uma melhor identificação dos critérios de sucesso referentes a cada diretriz,
apresentamos esta informação em tabelas.

Assim, para cada princípio é apresentada 1 tabela com a coluna das diretrizes que dizem
respeito a esse princípio, uma coluna com os respetivos critérios de sucesso e uma
coluna com o nível de conformidade. Estas tabelas incluem a nova diretriz e os 17 novos
critérios de sucesso das WCAG 2.1, identificados com *.

Para o Princípio 1: Percetível existem 4 diretrizes e um total de 29 critérios de sucesso


(inclui as novidades das WCAG 2.1, ou seja, mais 7 critérios de sucesso, assinalados na
tabela com asterisco (*)).

TABELA 1: PRINCÍPIO PERCETÍVEL

Nível de
Diretriz Critério de sucesso
conformidade
1.1 Alternativas em
1.1.1 Conteúdo Não Textual A
Texto
1.2.1 Conteúdo só de áudio e só de vídeo (pré-gravado) A
1.2.2 Legendas (pré-gravadas) A
1.2.3 Audiodescrição ou Alternativa em Multimédia (pré-
A
gravada)
1.2.4 Legendas (em direto) AA
1.2 Média Dinâmica ou
Contínua 1.2.5 Audiodescrição (pré-gravada) AA
1.2.6 Língua Gestual (pré-gravada) AAA
1.2.7 Audiodescrição Alargada (pré-gravada) AAA
1.2.8 Alternativa em Multimédia (pré-gravada) AAA
1.2.9 Só áudio (em direto) AAA

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Nível de
Diretriz Critério de sucesso
conformidade
1.3.1 Informações e Relações A
1.3.2 Sequência com Significado A
1.3.3 Características Sensoriais A
1.3 Adaptável
* 1.3.4 Orientação AA

* 1.3.5 Identificar propósito de entrada AA

* 1.3.6 Identificar propósito AAA


1.4.1 Utilização da Cor A
1.4.2 Controlo de Áudio A
1.4.3 Contraste (Mínimo) AA
1.4.4 Redimensionar texto AA
1.4.5 Imagens de Texto AA
1.4.6 Contraste (Melhorado) AAA
1.4 Distinguível 1.4.7 Som Baixo ou Ausência de Som de Fundo AAA
1.4.8 Apresentação Visual AAA
1.4.9 Imagens de Texto (sem exceção) AAA
* 1.4.10 Realinhar AA
* 1.4.11 Contraste não textual AA
* 1.4.12 Espaçamento de texto AA
* 1.4.13 Conteúdo on Hover ou foco AA

Para o Princípio 2: Operável existem 5 diretrizes e um total de 29 critérios de sucesso


(inclui as novidades das WCAG 2.1, ou seja, mais 1 diretriz e 9 novos critérios de
sucesso, assinalados na tabela com asterisco (*)).

TABELA 2: PRINCÍPIO OPERÁVEL

Nível de
Diretriz Critério de sucesso
conformidade

2.1.1 Teclado A
2.1.2 Sem Bloqueio do Teclado A
2.1 Acessível por Teclado
2.1.3 Teclado (Sem Exceção) AAA
* 2.1.4 Caracteres das teclas de atalho A
2.2.1 Tempo Ajustável A
2.2.2 Colocar em Pausa, Parar, Ocultar A
2.2.3 Sem Temporização AAA
2.2 Tempo Suficiente
2.2.4 Interrupções AAA
2.2.5 Nova autenticação AAA
*2.2.6 Tempos limite AAA
2.3.1 Três Flashes ou Abaixo do Limite A
2.3 Convulsões 2.3.2 Três Flashes AAA
* 2.3.3 Animação das interações AAA

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Nível de
Diretriz Critério de sucesso
conformidade

2.4.1 Ignorar Blocos A


2.4.10 Cabeçalhos da Secção AAA
2.4.2 Página com Título A

2.4.3 Ordem do Foco A

2.4.4 Finalidade da Hiperligação (Em Contexto) A


2.4 Navegável
2.4.5 Várias Formas AA
2.4.6 Cabeçalhos e Etiquetas AA
2.4.7 Foco Visível AA
2.4.8 Localização AAA
2.4.9 Finalidade da Hiperligação (Apenas a Hiperligação) AAA
* 2.5.1 Gestos de apontador A
* 2.5.2 Cancelamento de apontador A

* 2.5 Modalidades de * 2.5.3 Etiqueta no nome A


entrada * 2.5.4 Atuação do movimento A
* 2.5.5 Tamanho do "alvo" (AAA) AAA
* 2.5.6 Mecanismos de entrada simultânea AAA

Para o Princípio 3: Compreensível existem 3 diretrizes e um total de 17 critérios de


sucesso. As WCAG 2.1 não introduziram alterações a este princípio.

TABELA 3: PRINCÍPIO COMPREENSÍVEL

Nível de
Diretriz Critério de sucesso
conformidade
3.1.1 Idioma da Página A
3.1.2 Idioma de Partes AA
3.1.3 Palavras Invulgares AAA
3.1 Legível
3.1.4 Abreviaturas AAA
3.1.5 Nível de Leitura AAA
3.1.6 Pronunciação AAA
3.2.1 Ao receber o Foco A
3.2.2 Ao entrar num campo de edição A
3.2 Previsível 3.2.3 Consistência de Navegação AA
3.2.4 Consistência de Identificação AA
3.2.5 Alteração a Pedido AAA
3.3.1 Identificação de erros A
3.3.2 Etiquetas ou Instruções A

3.3 Assistência na 3.3.3 Sugestão para eliminar o Erro AA


Inserção de Dados 3.3.4 Prevenção de Erros (Legais, Financeiros, Dados) AA
3.3.5 Ajuda AAA
3.3.6 Prevenção de Erros (de qualquer tipo) AAA

ACESSIBILIDADE WEB E DIGITAL . 16


Para o Princípio 4: Robusto existe 1 diretriz e um total de 3 critérios de sucesso (inclui
as novidades das WCAG 2.1, ou seja, mais 1 critério de sucesso, assinalado na tabela com
asterisco (*)).

TABELA 4: PRINCÍPIO ROBUSTO

Nível de
Diretriz Critério de sucesso
conformidade

4.1.1 Análise sintática A


4.1 Compatível 4.1.2 Nome, Função, Valor A
4.1.3 Mensagens de estado AA

SÍNTESE

As WCAG encontram-se estruturadas em torno de 4 princípios, cada um com diretrizes


específicas e os respetivos critérios de sucesso, que permitem verificar se a diretriz está
ou não em conformidade. Atualmente, encontram-se em vigor as versões 2.0 e 2.1 (esta
última acrescenta mais 1 diretriz e 17 critérios de sucesso).

1.6. REFERÊNCIAS REGULAMENTAÇÃO


Agência para a Modernização Administrativa (AMA). Projeto Acessibilidade [Website]

U. S. Department of Justice, Civil Rights Division. (2009). A Guide to Disability Rights


Laws. [Website]

W3C (2008). Web Content Accessibility Guidelines 2.0. [Website]

W3C (2018). What’s New in WCAG 2.1 [Website]

ACESSIBILIDADE WEB E DIGITAL . 17


2. INTERFACES
Costa, S., Esperança, C. & Francisco, M. (2019). Interfaces. Acessibilidade web: por onde
começar. NAU: Politécnico de Leiria. [Curso online de acesso livre].

2.1. PLANEAR PARA A ACESSIBILIDADE


A acessibilidade não recai só no conteúdo em si, mas também na estrutura onde é
apresentado. Uma estrutura semanticamente correta permite um acesso simplificado a
utilizadores com e sem necessidades especiais.

Um site é normalmente composto por camadas, sendo estas a estrutura (HTML), a


camada de apresentação (CSS), a camada que implementa ações e comportamentos de
certos elementos no site (Javascript) e a camada de acessibilidade (ARIA).

A correta utilização destas camadas é fundamental para a implementação de um site ou


aplicação web, especialmente no que toca à estrutura semântica HTML e à utilização dos
componentes ARIA.

A atualização semântica, trazida pela versão 5 das especificações do HTML, muito veio
ajudar à questão da construção de interfaces acessíveis. O HTML 5 mantinha a
retrocompatibilidade, simplificando as estruturas de metadados e introduzindo novos
elementos semânticos como o <section>, o <article> ou o <nav> para descrever
componentes comuns.

2.2. DESENHAR INTERFACES ACESSÍVEIS


Apresentamos agora alguns passos simples para desenhar interfaces web acessíveis.

• Use as tags de título (h1 – h6) sempre que possível para criar uma
navegação uniforme e consistente. Evite saltar entre níveis, isto é, respeite a
ordem hierárquica dos cabeçalhos, para não confundir os leitores de ecrã e os
utilizadores.

• Use a tag alt para uma descrição sumária de imagens; se as imagens não são
meramente decorativas, coloque nesta tag o equivalente textual.

ACESSIBILIDADE WEB E DIGITAL . 18


• Tenha uma estratégia para as hiperligações; evite utilizar frases como “clique
aqui” ou “saber mais” pois esses termos podem repetir-se ao longo da página e
confundir o utilizador. Como tal, deve atribuir sempre contexto às suas hiperligações,
por exemplo "Aceda à página x" ou "Saber mais sobre x".

• Escolha as cores com cuidado; utilize ferramentas como o colorsafe para verificar
se o contraste entre cor de texto e fundo é o melhor, e teste os seus esquemas de
cores com o funkify para garantir que a informação é percetível (por exemplo a
pessoas com daltonismo).

• Pense na forma como desenha formulários; os formulários são o canal de


comunicação primordial entre utilizador e aplicação. Utilize sempre a tag label para
identificar os campos de preenchimento e utilize as tags ARIA para identificar
campos de preenchimento obrigatório.

• Evite utilizar tabelas para dispor informação. Os leitores de ecrã, apesar de


navegarem nestas estruturas, são sujeitos a uma descrição extensa de quantas
colunas e quantas linhas estão na tabela antes de ser apresentada a informação lá
disposta. Pense noutras estruturas de informação para evitar a confusão.

• Tenha em consideração elementos dinâmicos, incorporados ou flash. Alguns


destes conteúdos já não são suportados por muitos navegadores (como é o caso do
flash) assim como a estrutura que é importada pelos elementos incorporados é algo
que não controlamos. Se vai utilizar elementos dinâmicos ou incorporados garanta
que são passíveis de serem interpretados pelo leitor de ecrã e que as suas
funcionalidades podem ser controladas por teclado, ponteiros e outros dispositivos.

• Ofereça transcrição ao utilizar elementos audio ou vídeo. Utilizadores com


problemas de audição necessitam de alternativas para aceder ao conteúdo.

• Tenho como foco a clareza de leitura de conteúdo. Um conteúdo bem


estruturado e simples de ler é melhor para todos os seus utilizadores e não apenas
para os que têm necessidades especiais.

• Valide a sintaxe. Os validadores de markup, que vamos abordar no tópico


seguinte, são essenciais para detetar problemas nos seus conteúdos. Estes
validadores validam a sintaxe HTML e CSS, de acordo com os standards do W3C,
permitindo que os problemas detetados possam ser resolvidos antes da informação
passar para o utilizador final.

ACESSIBILIDADE WEB E DIGITAL . 19


2.3. PRODUTOS DE APOIO
Os termos "Ajudas Técnicas" e "Tecnologias de Apoio" são utilizados desde a década de
noventa e dizem respeito a diferentes tipos de produtos e serviços que apoiam as
pessoas com deficiência nos vários contextos da vida diária.

Em 2009, o Decreto-Lei n.º 93/2009, de 16 de abril, vem alterar esta terminologia assim
como o sistema de atribuição de produtos de apoio (SAPA). Assim, o termo "Ajudas
Técnicas" é substituído por "Produtos de Apoio" e é definido como "qualquer produto,
instrumento, equipamento ou sistema técnico usado por uma pessoa com deficiência,
especialmente produzido ou disponível que previne, compensa, atenua ou neutraliza a
limitação funcional ou de participação" (Artº 4). Apesar desta alteração, o termo
Tecnologias de Apoio continua a ser utilizado, sendo por isso aceitáveis ambas as
terminologias.

Em contexto web e digital, as tecnologias utilizadas para interação com o computador


(software, dispositivos de entrada, periféricos, etc.) entre os quais software leitor de
ecrã, linha Braille, teclado e rato alternativo ou adaptado, passam a ser catalogados por
"Produtos de apoio para comunicação e informação" discriminados na lista homologada
pelo Despacho n.º 7197/2016, de 1 de junho.

Estes produtos podem ser instalados ou configurados em computadores e dispositivos


móveis, permitindo aos utilizadores a sua utilização sem restrições. Para tal, é
fundamental que as interfaces e conteúdos sejam criados de forma a não criar barreiras
e incompatibilidades com os produtos ou tecnologias de apoio.

O INR1 disponibiliza um catálogo de produtos de apoio, que pode ser consultado online.

SÍNTESE

Apesar da alteração da terminologia para "Produtos de Apoio", continua a ser frequente o


uso do termo "Tecnologias de Apoio" para referir as soluções que ajudam as pessoas com
algum tipo de incapacidade a interagir e comunicar no mundo digital. Assim,
consideramos que ambos os termos estão corretos, uma vez que qualquer ambiente
digital está, inevitavelmente, relacionado com a tecnologia.

1Instituto Nacional de Reabilitação (2020, 7 dezembro). “Produtos de Apoio” [Website]


https://www.inr.pt/produtos-de-apoio

ACESSIBILIDADE WEB E DIGITAL . 20


2.4. VALIDADORES AUTOMÁTICOS
Para testar se os conteúdos web cumprem com as diretrizes de acessibilidade WCAG,
existem validadores automáticos que avaliam o nível de conformidade de uma página
web. Contudo, estes avaliadores automáticos não são suficientes para garantir que a
interface de um site ou um conteúdo esteja totalmente acessível. Por exemplo, no caso
da descrição de uma imagem, os validadores não conseguem analisar o texto da
descrição, podendo esse texto não descrever corretamente a imagem, não ser adequado
ou até ser nulo. O mesmo se passa com a estrutura de cabeçalhos, podem existir, mas
não serem definidos corretamente ao longo do conteúdo. Como tal, esta avaliação deverá
sempre ser complementada de forma manual, com reais utilizadores com conhecimento
profundo das WCAG, e com diferentes produtos de apoio.

Os validadores automáticos ajudam a identificar erros fundamentais tais como erros de


sintaxe (por exemplo HTML, XML), validar folhas de estilo (por exemplo CSS) e falhas de
contraste de cores. Alguns validadores só verificam a sintaxe como o Validator do
W3C ou apenas as folhas de estilo como o Validador de CSS do W3C e outros podem
verificar apenas o contraste de cores como o Colors on the web.

Em Portugal, a Unidade Acesso, desenvolveu o validador Access Monitor que permite


validar a aplicação das WCAG 2.0 em conteúdos HTML disponíveis num site. Este
validador avalia folhas de estilo (CSS), conteúdos HTML, apresenta o índice obtido, numa
escala quantitativa de 1 a 10, identificando os erros e fornecendo informação detalhada
de como resolver os erros ou avisos identificados numa página. A AMA e o INR
disponibilizam informação relativa aos selos de usabilidade e acessibilidade

SÍNTESE

A avaliação automática de um site é fundamental para verificar se algumas diretrizes de


acessibilidade foram consideradas, não sendo garantia que as mesmas tenham sido
devidamente aplicadas. Em Portugal dispomos do validador AccessMonitor que é uma
excelente ferramenta para verificar alguns erros fornecendo ajuda para a sua correção.
Contudo, a validação automática não é suficiente para garantir plena acessibilidade,
devendo ser sempre complementada com uma avaliação pericial, recorrendo a diversas
tecnologias de apoio.

ACESSIBILIDADE WEB E DIGITAL . 21


2.5. REFERÊNCIAS INTERFACES
AMA, Selo de usabilidade e acessibilidade

W3Schools https://www.w3schools.com/

A11Y Project https://a11yproject.com/

Exemplo: Instituto nacional para a Reabilitação. Acessibilidade [Website]

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3. IMAGEM
Francisco, M. (2019). Imagem. In Acessibilidade web: por onde começar. NAU:
Politécnico de Leiria. [Curso online de acesso livre].

3.1. AS FUNÇÕES QUE ASSUMEM


Apesar dos diferentes contextos, a imagem é utilizada para diferentes fins – enquanto
elemento decorativo, suporte, complemento ou mesmo objeto de informação/
comunicação central. Assim, e de acordo com as diretrizes de acessibilidade WCAG 2.0,
as imagens na web assumem as seguintes funções:
• de conteúdo - quando constituem um conteúdo relevante para o utilizador;
• decorativas - quando existem apenas por questões estéticas;
• funcionais - quando estão associadas a processos de interação ou navegação;
• avançadas - quando se encontram como fundo de página, botões, imagens
seccionadas devido ao seu tamanho, imagens complexas como gráficos,
esquemas, expressões matemáticas, mapas, etc.

Para cada função, são dadas indicações relativas aos atributos HTML a utilizar e à
informação textual que deverá acompanhar a imagem. Estas indicações aplicam-se
também a documentos digitais que, apesar de não apresentarem os mesmos atributos
HTML, apresentam campos e funcionalidades semelhantes, dependendo de cada
software.

3.2. LEGENDA
O que é e para que serve
A legenda é, geralmente, composta por uma frase curta que transmite o sentido da
imagem no contexto onde é inserida. Como tal, o seu papel é fornecer informação que
relacione o conteúdo da imagem ao tema abordado no documento ou parágrafo escrito,
ou seja, a legenda funcionará como “ponte” ou elo entre o objeto pictórico e o conjunto
verbal escrito.

Onde é afixada
Quando a imagem é combinada com o texto verbal (conteúdos bimodais), deverá ser
utilizada uma legenda que poderá estar afixada antes ou depois da imagem.

ACESSIBILIDADE WEB E DIGITAL . 23


O atributo HTML para afixar a legenda à imagem é <caption> ou <figcaption>.

Quando deve ser utilizada


Sempre que for necessário relacionar a imagem com o contexto.

Todas as imagens devem ter legenda?


Não, depende do contexto e da sua função. Por exemplo, não faz sentido colocar legenda
em logótipos colocados nos cabeçalhos/rodapés de um site ou documentos; em imagens
ou gráficos associados a botões ou cuja função é meramente estética/decorativa.

3.3. TÍTULO
O que é e para que serve
O título é constituído por uma ou duas palavras que indicam o tema principal da imagem.
A sua função é fornecer informação textual orientadora e que, na web, fica visível
quando o cursor do rato passa sobre a imagem, não sendo lido pela maioria dos leitores
de ecrã.

Onde é afixada
O texto colocado no campo título poderá ser ou não visível (depende das configurações
definidas nos navegadores). Quando está visível o texto surge sobre a imagem.

O atributo HTML que permite afixar a titulo à imagem é <title>.

Quando deve ser utilizada


Em contexto web. Em alguns programas, nomeadamente no Word (Microsoft) e Writer
(Libre Office) o preenchimento do campo titulo não permite que alguns leitores de ecrã
consigam ler o campo da descrição, como tal, o seu preenchimento deve ser evitado.

3.4. TEXTO ALTERNATIVO


O que é e para que serve
O texto alternativo ou equivalente textual deverá indicar uma síntese do conteúdo da
imagem e a sua função enquanto elemento de um conteúdo (seja numa página web, seja
num documento ou outro tipo de recurso) deve servir o mesmo propósito (função) da

ACESSIBILIDADE WEB E DIGITAL . 24


imagem. O campo do texto alternativo, por norma, permite até 150 caracteres, sendo
aconselhável 80 caracteres, incluindo espaços.

Onde é afixada
A função do texto alternativo, afixado no atributo HTML (em contexto web) ou no campo
Descrição em programas como o MS Word ou LO Writer, é fornecer informação textual
ao leitor de ecrã.

No entanto, numa página web, o texto alternativo é colocado no lugar da imagem, caso
esta tenha sido removida ou não seja mostrada por incompatibilidade tecnológica. Em
ficheiros PDF o texto alternativo é mostrado quando o cursor do rato passa sobre a
imagem.

O atributo HTML que permite afixar o texto alternativo à imagem é <alt>.

Quando deve ser utilizada


Em todas as imagens, podendo haver exceções no caso de elementos gráficos cujo
propósito é meramente decorativo. Nestes casos, os gráficos deverão ser colocados de
forma a não serem lidos pelos leitores de ecrã.

De acordo com o W3C, para determinar o texto alternativo apropriado é fundamental


questionar o propósito da imagem no documento ou na página web.

Assim, o texto alternativo deve variar de acordo com o objetivo de utilização da imagem
(contextual ou informativa, funcional, decorativa ou estética, ou ainda imagens de mapas
e de fundo), considerando que, no caso de imagens decorativas ou de fundo, deve ser
fornecido um texto alternativo nulo (sem texto) e no caso de imagens complexas o texto
alternativo deverá dar apenas a indicação do que é abordado na imagem devendo a
descrição pormenorizada ser colocada em atributo próprio ou como informação adicional
(podendo ficar visível a todos ou apenas a leitores de ecrã).

TOME NOTA!

O texto alternativo não deverá exceder os 150 caracteres, sendo o ideal 80 caracteres
(incluindo espaços).

ACESSIBILIDADE WEB E DIGITAL . 25


3.5. DESCRIÇÃO LONGA
O que é e para que serve
A descrição longa é uma descrição pormenorizada da imagem. A sua função é transmitir
por palavras o que está na imagem - o que é e como é representado, ou seja, é a
tradução para texto do que se vê.

Onde é afixada
A descrição longa geralmente é fornecida à parte. Pode ser colocada numa nova página
HTML e o URL dessa página é afixado no atributo HTML <longdesc>. Outra hipótese, é
colocar no elemento HTML <figure>, como parágrafo, posicionado numa zona não
visível ou criar um grupo em HTML e colocar o URI no atributo <longdesc>. Nestas
situações apenas os leitores de ecrã têm acesso à descrição longa.

Como consideramos importante que todos tenham acesso à descrição longa, uma vez
que é sempre a leitura de quem descreve, sugerimos a sua colocação visível a
todos, através de formatação de destaque, ou no elemento HTML <div> ou no elemento
<figcaption>. Existe também a possibilidade de descrever a imagem no corpo de texto
e no contexto onde a imagem foi colocada. Pode ainda ser colocado, adjacente à
imagem, a letra "D" e associar a esta letra a hiperligação para uma página web com a
respetiva descrição longa.

Quando deve ser utilizada


Nas imagens complexas e que apresentem informação vital para compreender o contexto
ou a pertinência do uso da imagem numa página.

Algumas ferramentas que permitem criar e alojar páginas de texto simples, ou seja,
descrições longas: GitHub, WriteURL

TOME NOTA!

Como a descrição longa, por norma, não fica disponível para todos - apenas a leitores de
ecrã - não deve conter informação não visível na imagem (interpretações, intenções,
significados secundários, contextualizações, etc.) que podem ser úteis a todas as
pessoas.

ACESSIBILIDADE WEB E DIGITAL . 26


3.6. EXEMPLO
Apresentamos possíveis informações textuais, para cada campo de afixação de texto à
imagem.

(FONTE DA IMAGEM HTTPS://ARES.UNASUS.GOV.BR)

(Legenda) Figura 1: Igualdade versus Equidade

(Title) Igualdade e equidade

(Texto alternativo/ descrição) 2 imagens: a primeira retrata situação de igualdade, a


segunda retrata situação de equidade.

(Descrição longa) A primeira figura tem escrito Igualdade. Apresenta uma árvore com
frutos e 3 pessoas de tamanhos diferentes, cada uma em cima de uma caixa. As caixas
são todas iguais em tamanho e posição. A pessoa mais alta acede aos frutos sem
dificuldade, a pessoa de tamanho médio acede apenas aos frutos que se encontram nos
ramos mais baixos e a pessoa mais pequena não consegue aceder a nenhum fruto. A
segunda figura tem escrito Equidade. Apresenta o mesmo cenário com a diferença no
número e tamanho das caixas sobre as quais estão as pessoas. A pessoa mais alta está
com os pés no chão, a pessoa de tamanho médio está sobre uma caixa e a pessoa mais
pequena está sobre 2 caixas. Todos acedem aos frutos dos ramos mais baixos.

TOME NOTA!

Cada campo de texto ou atributo HTML deve ter um texto único. A informação
colocada na legenda ou no título não deverá ser repetida no texto alternativo, assim
como a descrição longa não deve repetir o texto alternativo.

ACESSIBILIDADE WEB E DIGITAL . 27


3.7. ORIENTAÇÕES PARA DESCREVER IMAGENS
Para descrever uma imagem (descrição longa) é importante ter presente que todas as
imagens transportam consigo valores denotativos e valores conotativos.

Entende-se por [Valores denotativos] os significados primários, logo, situam-se num


plano mais objetivo, uma vez que dizem respeito ao reconhecimento formal dos objetos
representados; e por [Valores conotativos] os significados secundários que carregam
um nível de subjetividade mais elevado, uma vez que dizem respeito aos aspetos
simbólicos que estão relacionados com os valores culturais e experiências pessoais
associados a cada objeto ou à composição formada pelos objetos representados.

Apesar de não ser consensual entre os estudiosos da imagem, consideramos que a


descrição da imagem deve ser o mais objetiva possível, ou seja, fornecer
informação sobre os elementos visuais que se destacam na imagem (pelo contraste
obtido pelas cores, tons, dimensões, movimento) e a forma como estão organizados
(configuração espacial). Isto permite que cada pessoa interprete a imagem de acordo
com a sua experiência e cultura. Assim, propõem-se uma lista de parâmetros
orientadores, que ajudam a descrever a imagem de forma mais objetiva.

TABELA 5: PARÂMETROS A DESCREVER

Tipologia Fotografia, pintura, desenho, gráfico


Tema/assunto O que é retratado na imagem
Local Onde se passa a cena
Foco/elemento É o primeiro elemento a ser fixado quando o olhar cai sobre a imagem (deve
principal ser indicado a sua localização na imagem - à esquerda, centro, direita, em
cima, em baixo…)
Caracterização dos Qual o seu aspeto, como se apresenta (por exemplo: a cor, forma, tamanho,
elementos volume, texturas, materiais, movimento, linhas, recortes, idade, raça,
principais género, traje, expressão do rosto e corpo, ação...)
2º plano/ O elemento a ser fixado quando se desvia o olhar do foco principal (deve ser
elemento indicado a sua localização na imagem - à esquerda, centro, direita, em cima,
secundário em baixo…)
Caracterização dos Qual o seu aspeto, como se apresenta (por exemplo: a cor, forma, tamanho,
elementos volume, texturas, materiais, movimento, linhas, recortes, idade, raça,
secundários género, traje, expressão do rosto e corpo, ação...)
Fundo/ envolvente Os elementos de fundo que funcionam como cenário ou envolvem os
elementos principais ou que criam ambientem (por exemplo ao nível das
texturas aparentes, cores predominantes, contornos, linhas, manchas,
movimentos...)
Luminosidade É dia, noite, amanhecer, final de dia, sombras, luz artificial
Enquadramento Planos, ângulo, ponto de vista, perspetiva…

ACESSIBILIDADE WEB E DIGITAL . 28


3.8. DESCRIÇÃO AUTOMÁTICA
Têm sido desenvolvidos estudos na área da inteligência artificial para que as imagens
sejam descritas de forma automática quando são carregadas ou utilizadas em
determinadas aplicações ou conteúdos.

Em 2016 o Facebook adicionou esta funcionalidade, contudo o resultado não é uma


descrição, mas sim a adição de palavras-chave relativas aos elementos destacados nas
imagens. Em 2018 é a vez do Instagram anunciar uma funcionalidade semelhante,
disponível para os leitores de ecrã. Em 2019, a Google disponibilizou uma funcionalidade
“Get image description” que pode ser ativada pelos leitores de ecrã, fornecendo uma
breve descrição do se parece estar na imagem.

Apesar destas funcionalidades ainda não reproduzirem com exatidão a descrição da


imagem, os investigadores continuam a apostar na inteligência artificial para conseguir
reproduzir os sentidos humanos, nomeadamente a visão.

3.9 REFERÊNCIAS IMAGENS


Francisco, M. (2015). A descrição parametrizada da imagem para um eLearning inclusivo
e acessível. Tese de doutoramento apresentada à Universidade Aberta. Lisboa. Versão
PDF e Versão HTML

Sousa, N. & Francisco, M. (2015). Inconsistências do Texto Alternativo nos Elementos


Gráficos. In Livro de Resumos SEMIME - IX Seminário "Exclusão Digital na Sociedade de
Informação". Lisboa: Edições FMH.

Thompson, T. (2014, junho 30). Converting Word to PDF or HTML: Options for
Accessibility. Terril Thompson [Blog]. http://terrillthompson.com/blog/517

Villafañe, J. (2006). Introducción a la Teoria de la Imagen. Madrid: Ediciones Pirámide.

W3C. (2017, outubro 3). HTML5: Techniques for providing useful text alternatives. In S.
Faulkner (Ed.). World Wide Web Consortium [Website].
https://www.w3.org/TR/html51/semantics.html#alt

WebAIM (2013, agosto 29). Alternative text. Web Accessibility in Mind [Website].
http://webaim.org/techniques/alttext/

ACESSIBILIDADE WEB E DIGITAL . 29


4. TEXTO
Francisco, M. (2019). Texto. In Acessibilidade web: por onde começar. NAU: Politécnico
de Leiria. [Curso online de acesso livre].

4.1. OS ELEMENTOS CRÍTICOS


A acessibilidade dos documentos em formato Office envolve vários aspetos que se
prendem com a tecnologia, interação, formatação de conteúdo e tipos de conteúdo.

No que respeita à tecnologia, devem ser tidos em conta a compatibilidade:

• das tecnologias de apoio utilizadas quer na edição quer na leitura de documentos;


• dos formatos dos ficheiros, sabendo que um .DOCX ou um .ODT, formatos
editáveis, só podem ser abertos por programas como MS Word ou Open Writer.
Como tal, o formato PDF é o mais aconselhável, quando não se pretende que
outros utilizadores editem o conteúdo.
• com a interação que se pretende, nomeadamente formulários, campos de edição,
caixas de seleção, etc. devendo as mesmas estar devidamente etiquetadas.

Em termos do conteúdo, quer dos documentos, quer das páginas web, devem ser
garantidos 3 fatores estruturais:

• Navegabilidade, ou seja, possibilidade de navegar no documento ou página, quer


pelos vários blocos de informação, quer pelos tipos de conteúdo. Este fator é
garantido pela utilização de estrutura hierárquica de cabeçalhos, índice,
hiperligações e conteúdo não textual devidamente legendado.
• Legibilidade, isto é, a informação é percetível quer pelo tipo e tamanho de letra,
espaçamentos, cores, quer pela informação adicional, ligações, referências
cruzadas, anotações ou destaques.
• Leiturabilidade, ou seja, ser compreensível, pelo que a clareza do texto, a
densidade da mancha de texto, a definição do idioma, a clarificação de
abreviaturas, equivalente textual para informação visual, etc. é fundamental para
que o texto seja entendido pelo maior número de pessoas.

ACESSIBILIDADE WEB E DIGITAL . 30


Contudo, mesmo aplicando as regras de acessibilidade para conteúdos digitais, é
importante ter consciência que nem todas as matérias são simples de trabalhar pelo seu
elevado nível de complexidade, tais como:

• Conteúdos STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics) que pelo


seu carácter visual e pela sua complexidade nem sempre se encontram soluções
eficazes e universais para uma transcrição textual ou linear.
• Imagens (estáticas) - como foi referido no módulo anterior, as imagens devem ter
legenda e descrição (texto alternativo) fazendo referência ao tema representado e
aos aspetos essenciais da imagem (os que motivaram a sua colocação no
conteúdo onde está inserida).
• Gráficos - devem ter legendas e descrição (tipo de gráfico, itens do gráfico, etc.).
• Tabelas - devem ter legenda e descrição ou sumário contendo informação relativa
ao seu conteúdo e como está estruturada (itens ou títulos das colunas e das
linhas). Se a tabela passar para a página seguinte, a linha de cabeçalho deve ser
repetida.
• Multimedia - conforme o conteúdo (vídeo, áudio, animação, conteúdos interativos)
devem ter legendas, transcrição textual descritiva, audiodescrição, interpretação
em Língua gestual, funcionalidades legíveis e acessíveis por teclado.

4.2. REGRAS A SEGUIR


As regras para criar conteúdos digitais acessíveis podem ser organizadas da seguinte
forma:

• Formatação da página ou documento;


• Conteúdo textual
• Elementos gráficos

4.2.1. A FORMATAÇÃO DO DOCUMENTO


Largura da página - não deve ter mais de 80 caracteres por linha. Porque as linhas de
texto muito extensas dificultam a fixação da posição no texto e a passagem para a linha
seguinte.

Alinhamento do texto - à esquerda. Porque o texto justificado assume diferentes


espaçamentos entre palavras, dificultando a leitura.

ACESSIBILIDADE WEB E DIGITAL . 31


Tipo de letra - Verdana, Tahoma, ou outro tipo de letra não serifada, não estilizada, não
condensada (letras muito juntas) e que não apresente ambiguidade (por exemplo, il, rn,
ao). Porque as letras com serifa muito marcadas ou estilizadas dificultam a leitura.

Tamanho de letra - Corpo de texto: 11 ou 12; Títulos e subtítulos: tamanho igual ou


superior ao corpo de texto. Porque para ser legível o tamanho de letra tem de estar
adequado com a finalidade do documento e/ou do espaço físico onde é apresentado.

Espaçamento - Entre linhas: 1,5; Entre parágrafos: mínimo 1,5 vezes maior do que o
espaçamento entre linhas. Porque as linhas próximas umas das outras dificultam a
leitura.

Estilos - utilize sempre um estilo Cabeçalho (ou Título nas versões mais recentes do MS
Word) para os títulos e subtítulos. Porque a utilização de estilos (Cabeçalho 1,
Cabeçalho 2, ...), ajuda a compreender a estrutura do conteúdo e facilita a navegação.

Fundo simples - Não utilize marcas de água ou imagens de fundo. Porque os fundos
com elementos gráficos ou marcas de água dificultam a leitura e podem alterar o sentido
do texto.

4.2.2. O CONTEÚDO TEXTUAL


Hifenização - deve ser evitada. Porque as palavras hifenizadas no final das linhas
criam desconforto na leitura.

Idioma - deve estar identificado o idioma geral de verificação e o idioma específico (se
existir). Porque a definição do idioma permite a pronunciação no respetivo idioma pelos
leitores de ecrã.

Numeração - deve ser manual, não utilize a funcionalidade “Numeração”. Porque os


automatismos (números e também alíneas) podem não são lidos pelo leitor de ecrã.

Listas - sempre que tiver uma lista de itens utilize a funcionalidade “Marcas” ou
“Bullets”. Caso não pretenda ter este grafismo visual, dê um enter entre os itens.
Porque este automatismo é lido pelos leitores de ecrã e ajuda a compreender onde
começa e acaba a lista.

Quebra de página - insira sempre uma quebra de página (deixando uma linha em
branco) quando pretende iniciar um capitulo ou uma nova secção no documento.
Porque desta forma os leitores de ecrã posicionam-se na página seguinte. Se utilizar
vários Enter até se posicionar na página seguinte serão lidos vários espaços em branco
que poderão ser interpretados como não existindo mais informação.

ACESSIBILIDADE WEB E DIGITAL . 32


Índice - é essencial e deve estar na primeira página ou após a capa. Porque o índice
facilita a preparação da leitura e aumenta a navegabilidade do documento.

Hipertexto e hiperligações - com termos claros e únicos. Não utilize “clique aqui”, nem
coloque na mesma página termos com o mesmo nome (“seguinte”, “ok”, “cancelar”).
Porque a clareza e singularidade do texto de uma hiperligação facilita a sua
identificação. Os leitores de ecrã facultam teclas de atalho para listar e saltar
diretamente para as hiperligações existentes no conteúdo.

Destaques e referências - Utilize vários meios para [destacar, corrigir ou comentar].


Além da cor, utilize parênteses retos [] e pode indicar antes do destaque o motivo do
mesmo: (e.g. Comentário; Correção; Atenção;…). Porque a utilização exclusiva da cor
para transmitir informações, corrigir texto ou utilizar como referência não é percetível
por pessoas com incapacidade visual.

4.2.3. OS ELEMENTOS GRÁFICOS


Tabelas - Utilize tabelas simples. Evite: colunas múltiplas (subdivisão de células),
tabelas complexas (tabelas dentro de tabelas) e tabulações manuais feitas com a tecla
TAB. Repetir a linha de cabeçalho no caso da tabela passar para a página seguinte.
Porque alguns leitores de ecrã não lêem colunas múltiplas na ordem correta nem
transmite corretamente o conteúdo de tabelas complexas.

Resumo de tabelas e gráficos - Anteceda gráficos e tabelas com um sumário (sobre a


sua organização – número de colunas e linhas - e um resumo do conteúdo). Porque a
informação sobre a estrutura e conteúdo de tabelas e gráficos pode evitar a transposição
de alguma célula, além de ajudar a compreender o conteúdo.

Imagens: Contexto, descrição e legenda - Contextualize as imagens no texto. Utilize


as funcionalidades de legendagem e descrição de imagens e outros elementos gráficos.
Porque a contextualização ajuda a perceber o sentido, a função e a pertinência da
imagem no texto.

Porque as legendas permitem que os leitores de ecrã identifiquem os elementos


gráficos. Porque a descrição permite que imagens sejam “vistas” por quem não vê.
Deve descrever os elementos principais (objetos, edifícios, pessoas), cores, emoção,
atmosfera, ação, propósito da imagem.

ACESSIBILIDADE WEB E DIGITAL . 33


Contraste - entre cores do texto e fundo: relação mínima 4.5:1; ideal 7:1.
Porque contrastes muito baixos entre a cor do texto e a cor de fundo dificultam a leitura
e compreensão da informação.

Para obter o código das cores e testar a relação de contraste:


• Para documentos (desktop): Colorpic
• Para a web (browsers): Eye dropper, Color Zilla
• Para testar a relação de contraste (online): Color Contrast Checker

4.3. AS REGRAS PARA CRIAR UM PDF


Por questões de interoperabilidade entre sistemas informáticos, e preservação da escrita
e formatação da informação original, é aconselhável criar documentos em formato PDF
(Portable Document Format).

Existem diversas formas para criar documentos em formato PDF a partir de um


documento do Office. Dependendo do software que tem instalado, será conveniente optar
por "Guardar como". Ao guardar para formato PDF, será ativado um botão "Opções", que
deverá clicar e aplicar as funcionalidades de acessibilidade. Isto vai permitir guardar a
informação não imprimível, nomeadamente a estrutura de cabeçalhos, idioma e
descrições.

ATENÇÃO!

Digitalização: ficheiros PDF a partir da digitalização NÃO são acessíveis. O resultado de


uma digitalização é uma imagem, e requer a conversão para texto (OCR).

4.4. REFERÊNCIAS TEXTO


Francisco, M. & Sousa, N. (2019). Guia para produção de conteúdos digitais acessíveis.
EU4ALL/Politécnico de Leiria (1ª Edição 2011). DOI: https://doi.org/10.25766/r5pk-ws58

Microsoft (s/d). Tornar seus documentos do Word acessíveis. Centro de acessibilidade do


Office: Suporte de acessibilidade do Word. [Website]

Libre Office (s/d). How to Create Accessible LibreOffice files. [Website] (Documentação
não disponível em português)

ACESSIBILIDADE WEB E DIGITAL . 34


5. VÍDEO
Francisco, M. & Rodrigues, C. (2019). Vídeo. In Acessibilidade web: por onde começar.
NAU: Politécnico de Leiria. [Curso online de acesso livre].

5.1. PLANEAR UM VÍDEO


Para planear um vídeo, é fundamental seguir alguns passos que facilitem a sua
elaboração e os tornem mais apelativos, didáticos e ajustados às necessidades do
público-alvo. Isto implica a elaboração de um guião que contemple o que vai transmitir,
quer em termos visuais quer em termos de áudio.

Se for um vídeo falado, o texto deve ser escrito previamente. Se este texto for seguido,
poderá ser usado para as legendas.

Caso o vídeo contenha elementos visuais ou sonoros, os mesmos devem ser


contemplados no guião ou storybord, podendo ser utilizados para a descrição do vídeo.

Se optar por audiodescrição deve fazer o respetivo guião, contemplando momentos


chave para introduzir a narração dos elementos visuais e sonoros.

5.2. LEGENDAS
Em contexto de vídeo, cinema, TV ou multimédia, as legendas são a versão textual do
discurso oral, portanto, do que é falado, e a legendagem é a tradução audiovisual,
podendo conter, além do texto falado, informação relativa a outros aspetos sonoros,
como por exemplo, o bater de portas, passos, buzinas, etc. ou a elementos visuais
importantes, como por exemplo expressões faciais.

Em inglês, e para efeitos de acessibilidade, existe uma clara distinção entre "subtitles" e
"captions":

• Subtitles - são legendas que apresentam apenas o texto falado, geralmente


traduções para outro idioma.
• Captions - são legendas que, além do texto falado, incluem informação visual
e/ou sobre eventos sonoros essenciais.

ACESSIBILIDADE WEB E DIGITAL . 35


As legendas podem ser abertas ou fechadas:

• Legendas abertas quando são colocadas diretamente no vídeo, ficando sempre


visíveis, não sendo, por isso, controladas pelo utilizador.
• Legendas fechadas quando as legendas podem ser ativadas ou desativadas
pelos utilizadores. Esta é a solução mais aconselhada, em termos de
acessibilidade e aquela que geralmente é feita em contexto web, nomeadamente
no YouTube.

Em termos de acessibilidade e de acordo com as diretrizes WCAG 2.0, as legendas


devem ser:

• Sincronizadas - o texto escrito deve aparecer ao mesmo tempo que o respetivo


áudio (discurso oral).
• Equivalentes - o conteúdo textual deve ser equivalente ao conteúdo falado.
• Acessíveis - as legendas devem ser legíveis, facilmente lidas e compreendidas.

5.3. TRANSCRIÇÕES
Texto Transcrito ou Transcrição
A transcrição refere-se à passagem das legendas que acompanham o vídeo, para formato
de texto, ou seja, as legendas são apresentadas sem o vídeo.

Texto Transcrito descritivo ou Transcrições descritas


Estas transcrições, além de apresentarem o texto das legendas, podem conter
informação visual ou sonora relevante para a compreensão do texto falado.

5.4. DESCRIÇÕES
As descrições apresentam um relato da componente visual do vídeo. Se o vídeo
apresentar elementos sonoros estes devem ser também referidos.

A descrição pode ser apresentada em formato de texto escrito, no entanto também


poderá existir em versão áudio. No caso de ser uma audiodescrição, a forma como é
elaborado o texto poderá ser diferente e obedecer a regras específicas, consoante o
contexto e a forma como é utilizado.

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Por exemplo, um filme que contenha falas ou outros elementos sonoros, a audiodescrição
deve ser feita em função das pausas para que não exista sobreposição de informação
essencial.

5.5. RECOMENDAÇÕES
Conhecidos os conceitos, vamos ver algumas recomendações e a forma como são
apresentadas (afixação) no vídeo e no contexto onde o vídeo é inserido.

5.5.1. A TRANSCRIÇÃO DESCRITA


A transcrição descrita deve conter o texto das legendas e a informação "chave" visual ou
sonora que deve ser colocada entre parênteses retos ou curvos. Tal como nas legendas,
a pontuação é importante para perceber o sentido e a forma como está a ser dito,
algumas expressões ou sons podem ser representados por símbolos em vez de palavras.

5.5.2. DESCRIÇÃO
A descrição deve apresentar frases curtas relativas a elementos visuais importantes e
que não são referidos do discurso oral. Deve ser o mais objetiva possível, devendo o
descritor evitar interpretações que não são visualmente percetíveis. Exemplos de
elementos visuais que, de acordo com o contexto do vídeo e do discurso falado (caso
exista), podem ser relevantes para a compreensão do vídeo:

• ação que está a decorrer;


• trajes;
• expressões faciais;
• palavras ou textos escritos;
• aspetos do cenário que são destacados nos diferentes planos ou pelos
personagens.

5.5.3. AFIXAÇÃO DA TRANSCRIÇÃO E DESCRIÇÃO


Quer as transcrições descritas (ou apenas a transcrição das legendas), quer as
descrições, podem ser apresentadas como ficheiro anexo ou como texto colocado numa
página HTML - neste caso pode ser colocada uma hiperligação para a página HTML, junto
ao vídeo, ou ser colocado o texto na página onde o vídeo foi inserido.

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No caso do YouTube, por norma, os vídeos que contêm legendas, permitem aos
utilizadores abrir a transcrição. Esta funcionalidade está disponível no botão "Mais ações"
representado visualmente por reticências (...).

TOME NOTA!

Para que um vídeo seja acessível ao maior número de utilizadores, devem ser
apresentadas todas as soluções - legendas e respetiva transcrição, descrição
textual ou audiodescriçao, interpretação para Língua Gestual - cabendo aos
utilizadores escolher A ou AS opções que melhor se adaptam às suas necessidades.

5.6. A INTERAÇÃO COM O "PLAYER"


Ter um vídeo acessível não é suficiente para garantir que todas as pessoas e tecnologias
de apoio consigam aceder ao seu conteúdo. É fundamental que a ferramenta que
reproduz o vídeo garanta a plena interação com as diversas funcionalidades do "player",
nomeadamente, os controladores de ação, ativação de legendas ou a leitura das
legendas.

Atualmente o YouTube garante essa interação, uma vez que o player, desenvolvido em
HTML 5, permite que os utilizadores de leitor de ecrã (ou os que navegam apenas por
teclado), na sua maioria, acedam às legendas que estão a ser visualizadas sobre a
imagem (desde que tenham sido criadas no YouTube) assim como às restantes
funcionalidades.

O YouTube disponibiliza ainda uma página com informação de apoio aos utilizadores de
leitor de ecrã, com indicações relativas a teclas que permitem controlar as
funcionalidades do player - Use YouTube with a screen reader

5.7. EXEMPLOS

5.7.1. VÍDEO SEM FALA


https://www.youtube.com/watch?v=nYTrIcn4rjg

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Descrição do vídeo

(Descrição realizada por Manuela Francisco)


Num céu azul com nuvens brancas, surgem os fios de alta tensão, ligados a postes de
eletricidade. Um pequeno pássaro azul pousa sobre um dos fios. Um outro pássaro igual
pousa junto dele. O primeiro dá-lhe bicadas e resmunga. Vão-se juntando a eles outros
pássaros iguais. Os pássaros vão discutindo entre si com sons agudos, até que ouvem
um som diferente. Calam-se e olham todos para o mesmo lado. Sobre um dos postes, ao
qual está ligado o fio, está um grande pássaro azul, com pernas altas. Os pássaros
arregalam os olhos. O pássaro grande acena-lhes e emite um som com ar simpático. Os
pássaros pequenos olham-se entre si e riem-se apontando para o pássaro grande. O
pássaro grande fala com eles através dos seus sons mais graves. Os 15 pássaros
pequenos falam entre si e caminham até ao meio do fio, afastando-se do pássaro
grande. Enquanto os pássaros falam, o pássaro grande voa e pousa no meio deles.
Enquanto os pássaros pequenos se afastam um pouco, o fio vai descendo em forma de
elástico com o peso do pássaro grande. Os pássaros pequenos vão escorregando para
junto do pássaro grande até ficarem encostados. Enquanto estes resmungam, o pássaro
grande está contente e divertido. Um dos pequenos pássaros bica o grande que
escorrega em direção ao chão, ficando pendurado pelas patas. Os pássaros pequenos
começam a bicar as patas do pássaro grande, até que este larga o fio. O fio sobe
rapidamente como se de elástico se tratasse, atirando para os ares, violentamente, os
pássaros pequenos, que perdem as penas. O pássaro grande, pousado no chão, começa
a ver penas a cair junto dele. Um pássaro pequeno, depenado, cai junto do pássaro
grande que o olha e ri-se à gargalhada. O pássaro pequeno encolhe-se envergonhado.
Os outros pássaros depenados caiem também junto deles, enquanto o pássaro grande se
ri divertido. Os pássaros pequenos fogem ficando o pássaro grande sozinho a rir.

5.7.2. VÍDEO COM FALA


https://www.youtube.com/watch?v=EVV_I-FHNTg

Descrição do vídeo

(Descrição realizada por Manuela Francisco)


Na rua, pessoas em cadeira de rodas circulam apressadamente pelas estradas e
passeios. Uma mulher que caminha no passeio parece sentir-se atrapalhada, desvia-se
das cadeiras de roda que passam apressadamente no passeio. A mulher entra num
edifício, onde se encontram algumas pessoas em cadeira de rodas numa fila. A mulher
dirige-se ao balcão e pede informação ao empregado que lhe responde em Língua
Gestual. A mulher olha para o empregado com um sorriso de quem não compreendeu.
No exterior de um edifico chove. Várias pessoas em cadeira de rodas sobem e descem
uma rampa molhada sem dificuldade enquanto um homem que caminha tenta equilibrar-
se ao descer a rampa escorregadia. Num outro passeio, com várias cabines telefónicas
baixas, uma pessoa em cadeira de rodas fala comodamente. Numa outra cabine, um
homem quase de cócoras, marca um número segurando em simultâneo o telefone, o
guarda-chuva, a pasta e uns papéis. Do outro lado do passeio, uma criança em cadeira
de rodas, com um movimento de surpresa, aponta para o homem atrapalhado. Um sinal
luminoso e sonoro para peões em cadeira de rodas passa de vermelho para verde. Os

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peões em cadeira de rodas atravessam calmamente, alguns conversando entre si. Numa
biblioteca, uma rapariga com bengala branca caminha por entre as estantes que contêm
livros, com capas da mesma cor e sem letras impressas nas lombadas. Um rapaz desvia-
se dela e dirige-se a uma estante. Desfolha vários livros, todos em Braille. Resignado,
senta-se junto às grandes janelas e olha para o exterior.
Surgem as legendas:
"Le monde est plus dur quand il n´est pas conçu pour vous"
"C´est porquoi les espaces EDF sont accessible a tous"
(tradução: O mundo é mais difícil quando não é projetado para si. É por isso que ou
espaços EDF são acessíveis para todos.)

5.7.3. VÍDEO COM FALA E TEXTO INCLUÍDO


https://www.youtube.com/watch?v=pXGdGGhHZX4

Descrição do vídeo

(Descrição realizada por Manuela Francisco)


Título do vídeo: Um dia na vida do João. Género: animação.
Episódio estacionar o carro: Ao longo de uma estrada, carros devidamente estacionados
junto ao passeio. Surge um carro com o símbolo de pessoa com deficiência que, ao longo
do estacionamento completo, não encontra um único lugar vago. O carro para em
segunda fila.
Episódio Andar no passeio: Numa estrada, carros estacionados na berma. Entre as
árvores que se encontram alinhadas ao longo do passeio, estão 2 carros indevidamente
estacionados. Enquanto alguns carros passam na estrada, surge uma cadeira de rodas no
passeio. Para. Desce do passeio para a estrada, contornando os carros mal estacionados.
Episódio Apanhar o metro: Uma cadeira de rodas parada no patamar que antecede uma
escada de acesso ao metro.
Episódio Levantar dinheiro: Numa parede de um prédio uma caixa multibanco. Chega a
cadeira de rodas e para debaixo da caixa.
Episódio Atravessar a rua: Uma passadeira na estrada ligada a um passeio alto. A
cadeira de rodas aproxima-se, para no passeio junto à passadeira enquanto carros
passam na estrada.
Episódio Ir à casa de banho: No primeiro plano ,3 paredes formam a casa de banho que
contém uma sanita. No segundo plano, uma secretária com um computador. A cadeira
de rodas aproxima-se e para junto à casa de banho. A cadeira volta para trás.
Episódio Ir ao médico: Uma casa com 5 degraus que dão acesso a uma porta. A cadeira
de rodas aproxima-se e para junto às escadas.
Episódio jantar fora: A lua, em forma de quarto crescente, surge por cima de uns pilares
de uma ponte. A imagem afasta-se um pouco passando a primeiro plano uma mesa com
uma vela acesa e 2 cadeiras A imagem vai-se afastando dando lugar a um novo cenário
onde se encontra a cadeira de rodas, uma mesa num canto da sala decorada com
candeeiros nas paredes e uma porta de onde se vislumbra a mesa inicial com vista para
a ponte. Um néon, na parede, cintila.
Episódio Ir ao cinema: Cadeiras dispostas em anfiteatro, iluminadas pelo foco de
projetor. O plano foca o corredor central, com degraus e luzes embutidas, vai subindo as
escadas até chegar ao patamar de entrada na sala. Chega a cadeira de rodas e para. A

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luz do projetor cintila.
Episódio Ir à praia: ondas em movimento vão dando lugar a uma praia com um chapéu
de sol na areia e ao fundo um passadiço de madeira elevado onde se encontra a cadeira
de rodas. As ondas movimentam-se ao longo do areal.
Episódio Ir ao ginásio: Uma sala com cadeira de ginásio e pesos. Junto a este
equipamento está a cadeira de rodas.
Surge o texto "Era bom que a vida do João e da Teresa e de tantas e tantas pessoas não
fosse assim. E não é preciso muito. Basta que todos façamos um pouco. E se o fizermos,
a vida deles vai passar a ser assim..."
Reinicia a animação com os mesmos episódios introduzindo nos mesmos cenários as
soluções adequadas:
Episódio estacionar o carro: é introduzido na cena um espaço de estacionamento, vazio,
destinado a condutores com deficiência. Episódio Andar no passeio: passeio sem
obstáculos com os carros devidamente estacionados. Episódio Apanhar o metro: no
patamar das escadas uma porta de elevador que desce ao piso inferior. Episódio
Levantar dinheiro: rampa com patamar na parede da caixa multibanco. Episódio
Atravessar a rua: passeio rebaixado na zona da passadeira. Episódio Ir à casa de banho:
sanita com apoios laterais. Episódio Ir ao médico: rampa colocada ao lado das escadas.
Episódio jantar fora: porta larga. Episódio Ir ao cinema: rampa em vez de escadas.
Episódio Ir à praia: cadeira de rodas adaptada para andar na areia e mar. Episódio Ir ao
ginásio: equipamento adaptado para pessoa em cadeira de rodas.

Transcrição do áudio

(Transcrição realizada por Manuela Francisco)


[História contada em tom efusivo e irónico, por voz masculina]
Um simples dia do João pode parecer um filme de aventuras, tipo Indiana Jones. São
obstáculos atrás de obstáculos que aparecem assim do nada.
Na semana passada, o João acordou num dia normal, arranjou-se e foi trabalhar. Como
sempre, foi de carro com a namorada. Quando chegaram não havia um único lugar vazio
num raio de 2 Km! A Teresa teve de parar o carro em segunda fila e ouvir buzinadelas
sem fim [ouve-se sons de buzinas].
A meio da manhã, o chefe do João disse-lhe que ele tinha de ir a um cliente apresentar
um projeto. O João pôs-se a caminho. Assim que saiu do prédio do seu escritório para ir
apanhar o metro, um problemazinho… 2 ou 3 carros estacionados em cima do passeio
não lhe davam a mínima hipótese de passar. Desce passeio, sobe passeio, e com ajuda
lá conseguiu. Chegou à entrada do metro e novo problema… 27 mil escadas e zero
elevador! Conclusão, teve de ir de táxi.
Por falar em táxi, lembrou-se que tinha de ir ao multibanco levantar dinheiro. Procurou a
caixa mais próxima e quando finalmente encontrou, nem quis acreditar. A caixa estava
tão alta que o João nem o ecrã conseguia ver. Mais uma vez, teve que ser a pessoa que
estava atrás dele na fila que o ajudou.
Ultrapassada mais uma aventura, seguiu viagem. Para isso teve que atravessar a rua
que tinha passeios tão altos que parecia que ia escalar o Evereste! Acabou por apanhar
um táxi e lá chegou ao cliente.
Antes de entrar na sala de reuniões foi à casa de banho - Ao fim do corredor à direita -
disseram-lhe. Assim que abriu a porta, o João até deu um sorriso irónico. Mais um WC

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sem barras de apoio! Não teve hipótese. O João teve que aguentar a reunião sem ir à
casa de banho. Pelo menos compensou, porque o cliente adorou a apresentação.
Antes de regressar ao escritório o João tinha uma consulta no dentista. Escusado será
dizer que o consultório era num R/C alto, num prédio antigo e que o João teve de ser
ajudado pelo próprio dentista, pela assistente e por um dos pacientes que estava na sala
de espera! Mas pronto, lá conseguiu. Menos uma cárie, mais um dente saudável.
[ouve-se música] E assim chegou o fim do dia. O João e a Teresa faziam 5 anos juntos e
ele tinha preparado uma surpresa. Um "romantic dinner". O restaurante era lindo e a
Teresa não suspeitou de nada até lá chegar. Esperaram uns minutos porque estavam a
preparar uma mesa especial na esplanada, com uma vista de rio espetacular. Mas
quando iam a passar lá para fora, houve um senão. A porta era mega estreita! Acabou-
se o jantar na esplanada. Passa para dentro do restaurante e é claro, esquece a vista do
rio. Mas correu bem, o que interessa é a intenção.
Depois a segunda parte da surpresa. O João tinha reservado bilhetes para irem ao
cinema, ver um filme que a Teresa estava doida para ver. O filme era ótimo, até superou
as expetativas da Teresa. O que não superou as expetativas foi o cinema que não tinha
nem uma rampa sequer. A única hipótese foi dar a volta ao cinema e entrar por uma
porta lateral a que o homem da bilheteira chamou [outro tom de voz] - Só se forem pela
porta dos artistas.
E depois do cinema foram para casa. As aventuras do dia tinham chegado ao fim. A
manhã seguinte recebeu-os com um dia de sol absolutamente divinal. O João e a Teresa
decidiram fazer uma bela prainha. Telefonaram a uns amigos e combinaram ir ter com
eles. Quando lá chegaram, mais um episódio [outro tom de voz] - de Missão impossível,
parte 47.
A propósito de impossível, um dos amigos do Tiago disse-lhe - olha lá ó João, fui lá
aquele ginásio que tu pediste e nada feito, eles nem sabiam que havia máquinas
adaptadas!
Era bom que a vida do João e da Teresa e de tantas e tantas pessoas não fosse assim. E
não é preciso muito. Basta que todos façamos um pouco. E se o fizermos, a vida deles
vai passar a ser assim [imagens desde o início da animação com as respetivas soluções].
Temos que tornar o mundo acessível. Deslocarmo-nos com segurança e autonomia é um
direito de todos!

5.8. REFERÊNCIAS VÍDEO


BBC Subtitle Guidelines

Neves, J. (2007). Guia de Legendagem para Surdos "Vozes que se vêem". Leiria:
Instituto Politécnico de Leiria e Universidade de Aveiro.

Neves, J. (2011). Guia de Audiodescrição "Imagens que se Ouvem". Instituto Nacional


para a Reabilitação e Instituto Politécnico de Leiria.

"Pictures painted in Words": ADLAB Audio Description guidelines, no âmbito do projeto


europeu ADLAB

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