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História da literatura

portuguesa
Por Carlos Eduardo Varella Pinheiro Motta
Doutorado em Letras - Literatura e Língua Portuguesa (PUC-Rio, 2013)
Mestrado em Linguística, Letras e Artes (PUC-Rio, 2008)
Graduação em Jornalismo (PUC-Rio, 2001)

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 Idade Média (Séculos XII a XV): Trovadorismo e
Humanismo
 Século XVI: Renascimento
 Século XVII: Barroco
 Século XVIII: Arcadismo ou Neoclassicismo
 Primeira Metade do Século XIX: Romantismo
 Segunda Metade do Século XIX: Realismo e Naturalismo
 Fins do Século XIX: Simbolismo
 Início do Século XX: Modernismo 
 Literatura Contemporânea

Idade Média (Séculos XII a


XV): Trovadorismo e Humanismo
Os primeiros registros da Literatura Portuguesa datam do
século XII. Devido à integração cultural e linguística entre
Portugal e Galícia, que hoje pertence ao território espanhol,
boa parte desses registros, principalmente as cantigas
trovadorescas, foram elaborados em galego-português.

O Trovadorismo é o gênero dos primórdios da literatura


portuguesa, pois dele surgiram as primeiras manifestações.
As “cantigas” são os principais registros da época,
tradicionalmente divididas em quatro tipos: de amor, amigo,
escárnio e maldizer.

Os principais representantes foram: Aires Nunes, D. Duarte,


D. Dinis, João Garcia de Guilhade e Paio Soares de Taveirós.
Posteriormente, surgiu a corrente Humanista, na qual foram
consolidados o teatro, a prosa historiográfica e a poesia
palaciana foram consolidados.

Os principais representantes foram: Gil Vicente (O Auto da


Barca) e Fernão Lopes (Crônicas do Reis D. João I, D.
Fernando, D. Pedro I, D. Dinis).

Século XVI: Renascimento
Neste período, destaca-se a inspiração na cultura clássica
greco-latina. Além disso, surgiram novos gêneros, como a
literatura de viagens, a poesia épica e os romances de
cavalaria.

Os principais representantes foram: Luís de Camões (Os


Lusíadas), Sá de Miranda (Poesia e Teatro) e Fernão Mendes
Pinto (Peregrinação).

Século XVII: Barroco
Período marcado pela utilização de linguagem rebuscada,
permeada por figuras de linguagem, além do tom melancólico
e conflituoso, demarcando a luta interna entre os prazeres
mundanos e a devoção religiosa. Em termos históricos,
retrata a passagem definitiva da Idade Média, marcada pelo
teocentrismo (Deus no centro), para a Idade Moderna,
marcada pelo antropocentrismo (homem no centro). Desse
modo, os séculos que abrangem o barroco foram marcados
pelas lutas entre classes sociais e pelas crises religiosas. Os
principais representantes foram: Antônio José da Silva
(Anfitrião), Frei Luís de Souza (Os Anais de D. João III) e o
Padre Antônio Vieira (Sermões).

Século XVIII: Arcadismo ou Neoclassicismo
Período caracterizado pela revalorização dos ideais artísticos
greco-romanos (Grécia e Roma) e a influência da corrente
de pensamento iluminista. Além disso, destaca-se o ideal da
vida bucólica, que prega a fuga das cidades e posterior
adoção da vida pastoril no campo, preferencialmente, ao lado
da mulher amada.
Os principais representantes foram: Curvo Semedo (Fábulas),
José Agostinho de Macedo (Newton: Poema) e Manuel Maria
Barbosa du Bocage (Sonetos), que se afastaram dos exageros
do período barroco, restabelecendo, desse modo, o equilíbrio
na literatura.

Primeira Metade do Século


XIX: Romantismo
O Romantismo demarcou o fim do Arcadismo/Neoclassicismo,
apresentando como principais temas o amor, a nostalgia, a
melancolia, o subjetivismo e o resgate do passado histórico
medieval, reelaborado de forma mítica. Essa abertura
temática proporcionou a combinação de diversos gêneros
literários, indo da poesia ao romance.

O tema costumava girar em torno de amores proibidos, no


qual os heróis rebeldes disputavam o coração de donzelas
frágeis e desamparadas.

Os principais representantes foram: Almeida Garrett (Folhas


Caídas), Alexandre Herculano (Eurico, o Presbítero), Camilo
Castelo Branco (Memórias do Cárcere) e Júlio Dinis (Uma
Família Inglesa).

Segunda Metade do Século


XIX: Realismo e Naturalismo
Neste período, observa-se a quebra dos padrões românticos,
entre eles, a negação do subjetivismo e do idealismo tão
presentes na estética romântica, tornando a escrita mais
simples e direta e o conteúdo mais focado nas questões do
cotidiano.

O Naturalismo, ou “Ultrarrealismo”, representou o


aprofundamento dessas tendências, com base nas teorias
científicas e evolucionistas que se encontravam em alta na
época.

Os principais representantes foram: Antero de Quental (Liga


Patriótica do Norte), Cesário Verde (Cântico do Realismo)
e Eça de Queirós (O Primo Basílio).
Fins do Século XIX: Simbolismo
Movimento que se opôs aos padrões do Realismo, tendo sido
inaugurado com a publicação do livro Oaristos, de Eugênio de
Castro.

Nessa corrente, destacam-se, entre outros atributos, um


vocabulário mais rebuscado, a profusão de temas místicos e
religiosos, além da idealização da infância e do campo.

Os principais representantes foram: Antônio Nobre


(Despedidas) e Camilo Pessanha (Clepsidra).

Início do Século XX: Modernismo 


O Modernismo português, tal como no Brasil, caracteriza-se
pela aproximação aos movimentos de vanguarda da época,
rompendo com antigos padrões estéticos por meio de uma
linguagem literária inovadora.

Os principais representantes foram: Fernando Pessoa (Mar


Português, Obras Completas de Alberto Caero, Álvaro de
Campos, Ricardo Reis) e Mário de Sá-Carneiro (Loucura),
idealizadores da revista Orpheu, que pretendia divulgar os
ideais modernistas.

Literatura Contemporânea
Destaca-se pelo equilíbrio entre o experimentalismo e o
realismo.

Entre os principais representantes, destaca-se,


principalmente, o Prêmio Nobel José Saramago. Uma de
obras mais conhecidas, Ensaio sobre a Cegueira, foi adaptada
para o cinema pelo diretor brasileiro Fernando Meirelles.
Faculdade de Ciências Sociais
Humanas e Artes

Curso de: Línguas, literaturas e culturas. Estudos Cabo-


verdianos e Portugueses.
Participantes:

Adalmira Amadeu Ferreira


Domingos Semedo Correia
Lotiana Semedo

Praia, junho de 2022

Índice

I – Introdução………………………………………………………………………..1

1.1 – Biobibliografia………………………………………………………………….2

1.2 – Justificação do título e da capa………………………………………………….3

1.3 - Presença e características da mulher na obra……………………………………4

1.4 - Discurso da mulher e da narradora na obra……………………………………...4

1.5 - Aspetos sociais e culturais que influenciam a vida dessas mulheres e que
demonstram a sua emancipação……………………………………………………….5

1.6 – Temáticas inovações e estéticas…………………………………………………5

1.7 – Resumo (Sapatos de verniz, Filhos de Deus e Juntas atrás do sol) …………..6 a 8

II – Conclusão…………………………………………………………………………10

III - Referências bibliográficas……………………………………………………….11


Introdução

O presente trabalho insere-se no âmbito da disciplina de Literatura cabo-verdiana II


lecionada pela Professora Doutora Salomé Miranda.

Antes de mais nada, é importante ressaltar que, a presença da figura feminina na


literatura cabo-verdiana, começou desde o seculo XIX com a publicação dos primeiros
poemas nas Revistas e Almanaques editados em Cabo Verde e no estrangeiro. Uma das
pioneiras era Antónia Gertrudes Pusich, que contribuiu bastante para impulsionar e
empoderar as mulheres para a vida literária no arquipélago. A obra em análise “Filhos
de Deus”, da autoria da escritora Dina Salústio, é uma coletânea de 35 contos e
monólogos que retrata determinadas situações e assuntos sobre a mulher em cabo-verde
e no mundo como: o abandono, a discriminação, a alegria, deceção, violência doméstica
e abusos em que a maioria das protagonistas são mulheres.

O objetivo é o de analisar a referida obra cujo enredo gira em torno do papel da mulher
na construção da sociedade, na vida familiar, exaltando a figura da mãe trabalhadora,
mesmo em cenários adversos de abandono.

A metodologia utilizada neste estudo foi a de: leitura da obra já mencionada, pesquisa


biobibliográfica e a de investigação de algumas entrevistas da autora em relação à obra.

O trabalho aborda os seguintes tópicos:

 Biobibliografia da autora;
 Justificação do título e da capa da obra;
 Presença e características da mulher na obra;
 Discurso da mulher e da narradora na obra;
 Aspetos sociais e culturais que influenciam a vida dessas mulheres e que
demonstram a sua emancipação;
 Temáticas, Inovações e Estéticas
 Resumo geral da obra (e de três contos escolhidos)

Biobibliografia

Bernardina de Oliveira Salústio (Dina Salústio), escritora e poetisa cabo-verdiana,


nasceu em 1941, na ilha de Santo Antão (Cabo Verde). Em 1994 publicou uma
coletânea de 35 contos intitulada Mornas Eram as Noites, e estreou-se no romance
com A Louca de Serrano, em 1998. Tem outras obras também como Filhas do vento
2009, Estrelinha Tlim Tlim, infantojuvenil 2000. Foi uma das fundadoras da Associação
dos Escritores Cabo-verdianos, assim como de diversas publicações literárias. Foi
distinguida com o primeiro prêmio de literatura infantil de Cabo Verde em 1994 e com
o terceiro prêmio de literatura infantil dos PALOP em 1999. Paralelamente à sua
atividade de escritora, foi professora, assistente social e jornalista em Cabo Verde,
assim como em Portugal e em Angola. Dirigiu também um programa de rádio dedicado
a assuntos educativos e foi produtora de rádio. A sua escrita é matéria de vários estudos
destacando-se algumas teses de licenciaturas, mestrado e de doutoramento no Brasil,
Portugal, Itália e Cabo Verde. Trabalhou ainda para o Ministério dos Assuntos
Exteriores de Cabo Verde e foi a vencedora da edição 2022 do Prémio Literário Guerra
Junqueiro Lusofonia Cabo Verde.
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Justificação do título e da capa

O título Filhos de Deus adequa-se aos conteúdos da obra porque conta um conjunto de
situações vividas no quotidiano por pessoas muitas vezes ignoradas pela sociedade, que
lutam todos os dias para a sua sobrevivência e dos filhos na sua maioria mulheres. O
título do livro foi tirado num dos contos da obra porque conta a história de uma senhora
costureira “Nha Teodora” que foi abandonada pelo marido. Ela trabalhava
incansavelmente para educar os filhos e para que nada lhes faltasse, respondia a todos
que os filhos eram “filhos de Deus”, tinha o sonho de conhecer os EUA, mas acabou por
ajudar o filho a emigrar e tempos depois ela também foi para os EUA onde ficou
dececionada com a realidade do país e a atitude do filho que não interferiu na sua
defesa.

Portanto, o conto engloba quase todos os conteúdos retratados na obra, desde a luta das
mulheres na educação, o abandono do marido, os sonhos que muitas vezes abrem mão
por causa dos filhos, a tristeza, a deceção.

Com relação à imagem de um cais e de pessoas na capa, a autora escolheu essa


ilustração porque em vários contos aparece o mar e o cais que representa a separação e a
chegada. Neste caso, o cais seria então um elo de ligação entre o leitor e os contos.
Quanto às pessoas, estas ilustram as mulheres do conto juntas atrás do sol, que saíram
atrás do sol como forma de curarem as suas mágoas. O sol ali representa/está associado
à energia, cura, vida força, o renascimento.

Presença e características das mulheres na obra

A presença da mulher na obra é bastante forte sendo elas na maioria das vezes
protagonistas da sua própria historia com características de mães ou noivas abandonadas
pelo parceiro, guerreiras, filhas, concelheiras, amigas e acima de tudo chefes de família.
Ainda que, com todos estes desafios, a mulher continua a resistir às dificuldades do dia-
a-dia.

Discurso das mulheres e da narradora na obra

Os discursos das mulheres e da narradora na obra na maioria das vezes são discursos de
coragem, de resistência, de denúncia sobre os abusos que estão sujeitas pela sociedade e
a narradora também mostra o seu ponto de vista com relação à realidade da mulher
cabo-verdiana e não só, das suas angústias, sonhos, desafios, medos e decisões à
respeito das lutas que enfrentam dia-a-dia, a solidariedade e abandono. As personagens
praticamente têm a mesma linha de discurso com a narradora que faz críticas sobre a
sociedade que as marginaliza em todos os sentidos.
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Aspetos sociais e culturais que influenciam a vida dessas mulheres e que


demonstram a sua emancipação

Essas mulheres eram influenciadas pelas próprias mulheres que lhes deram voz, força e
coragem a partir dessas influências, elas perceberam que são mulheres guerreiras e
fortes independentemente daquilo que a sociedade pensa ou incute nas suas cabeças
como valores de que devem ser submissas aos homens e a seus prazeres e abusos, como
elas lutam pela sua sobrevivência e têm toda a liberdade de tomar as suas próprias
decisões e escolhas não devem resumir as suas vidas só aos preconceitos sociais e
culturais que a sociedade impõe.

Temáticas, Inovações e Estéticas

Nas temáticas encontramos assuntos como: o abandono, a emigração, a violência


doméstica, a escravatura, a solidão, a ingratidão, etc.

Enfim, são vários temas que enriquecem a obra e que permitem com que o leitor faça
uma reflexão acerca.

Quanto as inovações, a obra traz momentos de pensamentos e reflexões da autora: ela


escreve sobre assuntos que infelizmente são encontrados no quotidiano de vários cabo-
verdianos e não só, mas também de pessoas no mundo inteiro, E isso provoca de uma
maneira positiva mudanças na mentalidade social, principalmente dos jovens.

Com relação a estética, Dina Salústio é uma escritora que consegue transformar um
assunto do dia-a-dia e introduzi-lo na literatura dando-lhe vida e sentido de maneira que
faz emocionar, identificar e inspirar novos leitores.

“Cabo Verde é ainda e também um pequeno espaço onde mora o mundo. Nós mulheres
escrevemos sobre isso, escrevemos isto. De várias maneiras, com intensidades
diferentes, de vários jeitos e em vários géneros. Escrevemos com o corpo magoado, com
o corpo humilhado, com o corpo abandonado, com o corpo maltratado. Também
escrevemos com o corpo alegre, realizado, dançante e vitorioso. Em primeira pessoa. E
mais: nós estamos a aprender a escrever, mas sobretudo estamos a colocar-nos no lugar
da outra mulher e a aprender a ver do lugar onde ela se encontra e de onde ela olha para
nossa escrita a sua verdade não seja deturpada ou adaptada a outros interesses.”
(SALÚSTIO, 2018b, pp.22-23)

Resumo geral da obra

“Filhos de Deus” é uma coletânea de contos e monólogos inspirados no quotidiano da


mulher cabo-verdiana e não só, cada conto tem uma história diferente, mas que têm o
mesmo objetivo espelhar a realidade da mulher em diferentes situações da vida, o papel
importante que desempenha na sociedade como: mães, filhas, chefes e noivas, os
desafios e lutas que enfrentam, a discriminação, a injustiça, o abandono, a violência
baseada no género. A autora aproveita dos contos para fazer denúncias dos
acontecimentos e dar seu ponto de vista sobre os males sociais dos quais as mulheres
são vítimas e tentar emancipá-las e os monólogos serviam para a reflexão sobre a
realidade feminina, suas inquietações e desejos.

Resumo do conto Sapatos de Verniz

É a história de uma senhora peixeira que o marido emigrou deixando-a com a filha.
Trabalhava incansavelmente para educar a filha e para que nada a faltasse. A filha
estudou e tornou-se a melhor aluna da escola, o orgulho da sua mãe. Quando chegou o
dia da formatura, a mãe fez de tudo para estar mais bonita e elegante, comprou vestido e
sapatos que não lhe serviam, mas preferiu sofrer as dores nos dedos e no calcanhar só
para poder estar presente na formatura da filha. A mãe por ser peixeira e aos olhos da
filha, não tinha elegância preferiu então não ir com a mãe e sim com os pais da amiga.
Deixou a mãe sozinha e desiludida com o seu comportamento. Sendo a mãe uma mulher
forte e trabalhadora que é não se deixou levar pela tristeza, sorriu e decidiu que ninguém
mais a magoaria.

“O dono da loja dos tecidos que sempre a via se declarava apaixonado parou e
perguntou-lhe quando é que decidia a viajar com ele. – O mundo é grande e prometo
que vais gostar de o ver comigo - disse, sorrindo. Olhou-o pensando nas viagens não fez
e nos amores que não viveu. Que outra coisa não teve? Que pessoas não conheceu? Que
outro sonho não sonhou? Que festas não assistiu? Mandou entrar para um café.
Descalçou. Os pés estavam em sangue. Voltou a abrir a porta e, muito segura, deixou os
sapatos de verniz na rua. Nunca mais permitiria que nada a magoasse.” (SALÚSTIO,
2018ª, 16)

Resumo do conto Filhos de Deus

O conto intitulado filhos de Deus retrata a história de uma mulher que se chamava Nha
Teodora, mãe de dois filhos (um rapaz e uma menina), uma senhora muito batalhadora
que foi abandonada pelo marido e que criou seus filhos sozinha. Era uma senhora muito
preocupada com o seu ofício e com a criação dos filhos, trabalhava incansavelmente
(horas a fios) e as vezes dias seguidos para que conseguisse sustento dos filhos porque
não teve ajuda paterna e teve de arrumar formas de driblar às dificuldades da vida. Mais
tarde, foi a óbito, visto que dedicava muito tempo ao trabalho desafiando a sua própria
força e Deus era o único pai dos filhos órfãos. Podemos comparar esta história a vida de
muitas mulheres cabo-verdianas e mulheres do mundo todo que diariamente lutam para
solucionar os problemas do dia a dia. Mostra a realidade de muitas mulheres
abandonadas, amarguradas, e trabalhadoras e que continuam sendo mães solteiras que
criam filhos sozinhas tendo Deus como único pai dos seus filhos.

“Anos depois, com a morte de Nha Teodora e o aparecimento do pai dos filhos, ela não
só compreende como também se indigna com o fato e questiona-se: “Que pai aquele?
Que pai aquele que esquecia os filhos e não poupava a mulher?” (SALÚSTIO, 2018, p.
32)

Resumo do conto Juntas atrás do sol

Este conto narra a história de quatro amigas (Djena, Betty, Eva e Maria) que não se
viam há 3 anos, e ao se reencontrarem colocam os assuntos em dia num almoço que
organizaram na casa da Betty. Conversaram sobre vários assuntos como:
entretenimento, política, vidas de gentes conhecidas e desconhecidas e também sobre
seus relacionamentos. Djena começou por lamentar que não esperava que seu
casamento fosse tão curto e que o ex marido se desinteressasse tão rapidamente por ela.
Olhou para a amiga Eva que estava triste e reparou que não usava mais anel de
compromisso como antes. Eva então com um olhar abarcado disse às amigas que o ex
pediu a separação. Já Betty, tentava sempre procurar soluções para seu antigo
relacionamento, mas disse que o ex nunca se sentia comprometido e que deixava todas
as despesas afetivas do relacionamento para ela e mesmo com a chegada do bebé não
alterou em nada a situação. Quanto á Maria, mantinha-se calada foi a única cujo
relacionamento durara mais tempo. Um tempo de que não gostava de se lembrar. Isto
porque, vivia num relacionamento tóxico, abusivo no qual o marido batia nela. As
amigas tinham os olhos presos na cicatriz que marcava o braço da Maria. De repente a
sala ficou sufocante, tentavam mudar de assunto e desviavam os olhares. O conto
termina com a Betty abrindo uma janela, olhando para a manhã. Todas levantam-se
juntas e saem atrás do sol.

“Desse modo, ao percebê-la, as outras amigas refletem sobre o que não contaram, sobre
o que já sofreram e suportaram, sobre o quanto é difícil falar a verdade sobre abusos e
violências. Nesse ambiente, uma vez acolhedor, agora sufocante, Betty, a dona da casa,
abre a janela para entrar o sol e “As outras mulheres levantaram-se e, juntas, saíram
atrás do sol” (SALÚSTIO, filhos de Deus 2018, p. 39)

Conclusão

O trabalho foi muito interessante porque conseguimos perceber melhor a importância da


luta pelos direitos iguais do homem e da mulher na sociedade para dar mais
oportunidades às mulheres para a sua emancipação em todos os sectores. Os contos
analisados nos permitem concluir que a violência, a injustiça e o abandono existem, mas
que através de atitudes solidárias com o outro conseguiremos, por menor que seja, uma
transformação em nós e aqueles que nos rodeiam. O tema da Mulher é trabalhado sob
diversos ângulos, em várias narrativas há outra ideia que ressalta, a cumplicidade
intrínseca entre mulheres, tecida não raras vezes através da partilha de silêncios e
omissões. Muitas são as histórias que mergulham o leitor na acidez das traições e da
deslealdade, tendo sempre a Mulher como figura basilar: Dina Salústio faz-nos ver e
sentir Cabo Verde através de seus contos ao apresentar mulheres machucadas, homens
maltratados, crianças espancadas, famílias desfeitas, violência doméstica, estupro,
abandono e os padrões impostos pela sociedade machista e patriarcal.

Portanto, este conto permite-nos fazer uma reflexão acerca dos assuntos abordados na
obra que são críticas e denúncias de comportamentos observados na sociedade cabo-
verdiana.

“Não queremos uma escrita que multiplique estereótipos, ódios e indiferença, nem
incentive desigualdades e injustiças. Estamos a desenterrar temas que incomodam e
inquietam a sociedade e que levam as pessoas e os poderes a pensarem e a tomarem
partido e a decidirem. Estamos a escrever para construir uma sociedade livre.”
(SALÚSTIO, 2018b, p.23)

Referências bibliográficas

https://youtu.be/m1N_3cztiaw

file:///C:/Users/L/Downloads/59919-227165-1-PB.pdf (Citações: SALÚSTIO, 2018b,


pp.22-23; SALÚSTIO, 2018b, p.23)

Obra: “Filhos de Deus”, Salústio Dina, 2018

https://www.buala.org/pt/autor/dina-salustio
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