Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
portuguesa
Por Carlos Eduardo Varella Pinheiro Motta
Doutorado em Letras - Literatura e Língua Portuguesa (PUC-Rio, 2013)
Mestrado em Linguística, Letras e Artes (PUC-Rio, 2008)
Graduação em Jornalismo (PUC-Rio, 2001)
Faça os exercícios!
Ouça este artigo:
Século XVI: Renascimento
Neste período, destaca-se a inspiração na cultura clássica
greco-latina. Além disso, surgiram novos gêneros, como a
literatura de viagens, a poesia épica e os romances de
cavalaria.
Século XVII: Barroco
Período marcado pela utilização de linguagem rebuscada,
permeada por figuras de linguagem, além do tom melancólico
e conflituoso, demarcando a luta interna entre os prazeres
mundanos e a devoção religiosa. Em termos históricos,
retrata a passagem definitiva da Idade Média, marcada pelo
teocentrismo (Deus no centro), para a Idade Moderna,
marcada pelo antropocentrismo (homem no centro). Desse
modo, os séculos que abrangem o barroco foram marcados
pelas lutas entre classes sociais e pelas crises religiosas. Os
principais representantes foram: Antônio José da Silva
(Anfitrião), Frei Luís de Souza (Os Anais de D. João III) e o
Padre Antônio Vieira (Sermões).
Século XVIII: Arcadismo ou Neoclassicismo
Período caracterizado pela revalorização dos ideais artísticos
greco-romanos (Grécia e Roma) e a influência da corrente
de pensamento iluminista. Além disso, destaca-se o ideal da
vida bucólica, que prega a fuga das cidades e posterior
adoção da vida pastoril no campo, preferencialmente, ao lado
da mulher amada.
Os principais representantes foram: Curvo Semedo (Fábulas),
José Agostinho de Macedo (Newton: Poema) e Manuel Maria
Barbosa du Bocage (Sonetos), que se afastaram dos exageros
do período barroco, restabelecendo, desse modo, o equilíbrio
na literatura.
Literatura Contemporânea
Destaca-se pelo equilíbrio entre o experimentalismo e o
realismo.
Índice
I – Introdução………………………………………………………………………..1
1.1 – Biobibliografia………………………………………………………………….2
1.5 - Aspetos sociais e culturais que influenciam a vida dessas mulheres e que
demonstram a sua emancipação……………………………………………………….5
1.7 – Resumo (Sapatos de verniz, Filhos de Deus e Juntas atrás do sol) …………..6 a 8
II – Conclusão…………………………………………………………………………10
O objetivo é o de analisar a referida obra cujo enredo gira em torno do papel da mulher
na construção da sociedade, na vida familiar, exaltando a figura da mãe trabalhadora,
mesmo em cenários adversos de abandono.
Biobibliografia da autora;
Justificação do título e da capa da obra;
Presença e características da mulher na obra;
Discurso da mulher e da narradora na obra;
Aspetos sociais e culturais que influenciam a vida dessas mulheres e que
demonstram a sua emancipação;
Temáticas, Inovações e Estéticas
Resumo geral da obra (e de três contos escolhidos)
Biobibliografia
O título Filhos de Deus adequa-se aos conteúdos da obra porque conta um conjunto de
situações vividas no quotidiano por pessoas muitas vezes ignoradas pela sociedade, que
lutam todos os dias para a sua sobrevivência e dos filhos na sua maioria mulheres. O
título do livro foi tirado num dos contos da obra porque conta a história de uma senhora
costureira “Nha Teodora” que foi abandonada pelo marido. Ela trabalhava
incansavelmente para educar os filhos e para que nada lhes faltasse, respondia a todos
que os filhos eram “filhos de Deus”, tinha o sonho de conhecer os EUA, mas acabou por
ajudar o filho a emigrar e tempos depois ela também foi para os EUA onde ficou
dececionada com a realidade do país e a atitude do filho que não interferiu na sua
defesa.
Portanto, o conto engloba quase todos os conteúdos retratados na obra, desde a luta das
mulheres na educação, o abandono do marido, os sonhos que muitas vezes abrem mão
por causa dos filhos, a tristeza, a deceção.
A presença da mulher na obra é bastante forte sendo elas na maioria das vezes
protagonistas da sua própria historia com características de mães ou noivas abandonadas
pelo parceiro, guerreiras, filhas, concelheiras, amigas e acima de tudo chefes de família.
Ainda que, com todos estes desafios, a mulher continua a resistir às dificuldades do dia-
a-dia.
Os discursos das mulheres e da narradora na obra na maioria das vezes são discursos de
coragem, de resistência, de denúncia sobre os abusos que estão sujeitas pela sociedade e
a narradora também mostra o seu ponto de vista com relação à realidade da mulher
cabo-verdiana e não só, das suas angústias, sonhos, desafios, medos e decisões à
respeito das lutas que enfrentam dia-a-dia, a solidariedade e abandono. As personagens
praticamente têm a mesma linha de discurso com a narradora que faz críticas sobre a
sociedade que as marginaliza em todos os sentidos.
4
Essas mulheres eram influenciadas pelas próprias mulheres que lhes deram voz, força e
coragem a partir dessas influências, elas perceberam que são mulheres guerreiras e
fortes independentemente daquilo que a sociedade pensa ou incute nas suas cabeças
como valores de que devem ser submissas aos homens e a seus prazeres e abusos, como
elas lutam pela sua sobrevivência e têm toda a liberdade de tomar as suas próprias
decisões e escolhas não devem resumir as suas vidas só aos preconceitos sociais e
culturais que a sociedade impõe.
Enfim, são vários temas que enriquecem a obra e que permitem com que o leitor faça
uma reflexão acerca.
Com relação a estética, Dina Salústio é uma escritora que consegue transformar um
assunto do dia-a-dia e introduzi-lo na literatura dando-lhe vida e sentido de maneira que
faz emocionar, identificar e inspirar novos leitores.
“Cabo Verde é ainda e também um pequeno espaço onde mora o mundo. Nós mulheres
escrevemos sobre isso, escrevemos isto. De várias maneiras, com intensidades
diferentes, de vários jeitos e em vários géneros. Escrevemos com o corpo magoado, com
o corpo humilhado, com o corpo abandonado, com o corpo maltratado. Também
escrevemos com o corpo alegre, realizado, dançante e vitorioso. Em primeira pessoa. E
mais: nós estamos a aprender a escrever, mas sobretudo estamos a colocar-nos no lugar
da outra mulher e a aprender a ver do lugar onde ela se encontra e de onde ela olha para
nossa escrita a sua verdade não seja deturpada ou adaptada a outros interesses.”
(SALÚSTIO, 2018b, pp.22-23)
É a história de uma senhora peixeira que o marido emigrou deixando-a com a filha.
Trabalhava incansavelmente para educar a filha e para que nada a faltasse. A filha
estudou e tornou-se a melhor aluna da escola, o orgulho da sua mãe. Quando chegou o
dia da formatura, a mãe fez de tudo para estar mais bonita e elegante, comprou vestido e
sapatos que não lhe serviam, mas preferiu sofrer as dores nos dedos e no calcanhar só
para poder estar presente na formatura da filha. A mãe por ser peixeira e aos olhos da
filha, não tinha elegância preferiu então não ir com a mãe e sim com os pais da amiga.
Deixou a mãe sozinha e desiludida com o seu comportamento. Sendo a mãe uma mulher
forte e trabalhadora que é não se deixou levar pela tristeza, sorriu e decidiu que ninguém
mais a magoaria.
“O dono da loja dos tecidos que sempre a via se declarava apaixonado parou e
perguntou-lhe quando é que decidia a viajar com ele. – O mundo é grande e prometo
que vais gostar de o ver comigo - disse, sorrindo. Olhou-o pensando nas viagens não fez
e nos amores que não viveu. Que outra coisa não teve? Que pessoas não conheceu? Que
outro sonho não sonhou? Que festas não assistiu? Mandou entrar para um café.
Descalçou. Os pés estavam em sangue. Voltou a abrir a porta e, muito segura, deixou os
sapatos de verniz na rua. Nunca mais permitiria que nada a magoasse.” (SALÚSTIO,
2018ª, 16)
O conto intitulado filhos de Deus retrata a história de uma mulher que se chamava Nha
Teodora, mãe de dois filhos (um rapaz e uma menina), uma senhora muito batalhadora
que foi abandonada pelo marido e que criou seus filhos sozinha. Era uma senhora muito
preocupada com o seu ofício e com a criação dos filhos, trabalhava incansavelmente
(horas a fios) e as vezes dias seguidos para que conseguisse sustento dos filhos porque
não teve ajuda paterna e teve de arrumar formas de driblar às dificuldades da vida. Mais
tarde, foi a óbito, visto que dedicava muito tempo ao trabalho desafiando a sua própria
força e Deus era o único pai dos filhos órfãos. Podemos comparar esta história a vida de
muitas mulheres cabo-verdianas e mulheres do mundo todo que diariamente lutam para
solucionar os problemas do dia a dia. Mostra a realidade de muitas mulheres
abandonadas, amarguradas, e trabalhadoras e que continuam sendo mães solteiras que
criam filhos sozinhas tendo Deus como único pai dos seus filhos.
“Anos depois, com a morte de Nha Teodora e o aparecimento do pai dos filhos, ela não
só compreende como também se indigna com o fato e questiona-se: “Que pai aquele?
Que pai aquele que esquecia os filhos e não poupava a mulher?” (SALÚSTIO, 2018, p.
32)
Este conto narra a história de quatro amigas (Djena, Betty, Eva e Maria) que não se
viam há 3 anos, e ao se reencontrarem colocam os assuntos em dia num almoço que
organizaram na casa da Betty. Conversaram sobre vários assuntos como:
entretenimento, política, vidas de gentes conhecidas e desconhecidas e também sobre
seus relacionamentos. Djena começou por lamentar que não esperava que seu
casamento fosse tão curto e que o ex marido se desinteressasse tão rapidamente por ela.
Olhou para a amiga Eva que estava triste e reparou que não usava mais anel de
compromisso como antes. Eva então com um olhar abarcado disse às amigas que o ex
pediu a separação. Já Betty, tentava sempre procurar soluções para seu antigo
relacionamento, mas disse que o ex nunca se sentia comprometido e que deixava todas
as despesas afetivas do relacionamento para ela e mesmo com a chegada do bebé não
alterou em nada a situação. Quanto á Maria, mantinha-se calada foi a única cujo
relacionamento durara mais tempo. Um tempo de que não gostava de se lembrar. Isto
porque, vivia num relacionamento tóxico, abusivo no qual o marido batia nela. As
amigas tinham os olhos presos na cicatriz que marcava o braço da Maria. De repente a
sala ficou sufocante, tentavam mudar de assunto e desviavam os olhares. O conto
termina com a Betty abrindo uma janela, olhando para a manhã. Todas levantam-se
juntas e saem atrás do sol.
“Desse modo, ao percebê-la, as outras amigas refletem sobre o que não contaram, sobre
o que já sofreram e suportaram, sobre o quanto é difícil falar a verdade sobre abusos e
violências. Nesse ambiente, uma vez acolhedor, agora sufocante, Betty, a dona da casa,
abre a janela para entrar o sol e “As outras mulheres levantaram-se e, juntas, saíram
atrás do sol” (SALÚSTIO, filhos de Deus 2018, p. 39)
Conclusão
Portanto, este conto permite-nos fazer uma reflexão acerca dos assuntos abordados na
obra que são críticas e denúncias de comportamentos observados na sociedade cabo-
verdiana.
“Não queremos uma escrita que multiplique estereótipos, ódios e indiferença, nem
incentive desigualdades e injustiças. Estamos a desenterrar temas que incomodam e
inquietam a sociedade e que levam as pessoas e os poderes a pensarem e a tomarem
partido e a decidirem. Estamos a escrever para construir uma sociedade livre.”
(SALÚSTIO, 2018b, p.23)
Referências bibliográficas
https://youtu.be/m1N_3cztiaw
https://www.buala.org/pt/autor/dina-salustio
10