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Estudando: Geografia Geral

OS CENÁRIOS GEOPOLÍTICOS DO PÓS-GUERRA FRIA


Com o colapso do SOREX e o término da “Guerra Fria” (o conflito político e ideológico entre os
“blocos”capitalista e socialista), os teóricos das relações internacionais passaram a elaborar os possíveis
cenários geopolíticos para o século XXI. Quatro são, nos dias de hoje, as propostas esboçadas pelos analistas
internacionais:

● “um só mundo”— para alguns, o fim da “era das ideologias”, em função da extinção da União Soviética,
tenderá a criar um mundo harmônico, crescentemente próspero em razão da “globalização” e culturalmente
unido pela definitiva vitória do modelo sócio-econômico baseado no mercado e no consumo de bens gerados,
majoritariamente, pela indústria norte-americana;

● “nós e os outros” –outros estudiosos acreditam que os antigos conflitos ideológicos entre posições ditas
de “esquerda” e “direita” estão sendo substituídos por confrontos entrerealidades culturais diferente. Estas,
atualmente, são“cristã ocidental”( dominante nos Estados Unidos da América e na Europa do oeste) ; a
“muçulmana” (prevalecente em todo o “arco islâmico” que compreende as regiões entre o Marrocos e as
Filipinas, abrangendo inúmeras etnias, tais como árabes, persas, indianos,etc.);a “cristã ortodoxa”, imperante
no leste europeu; a “hinduísta”, religião seguida pela maioria da população indiana; a “latino – americana”,
caracterizada pela miscigenação e por uma religiosidade sincrética modelada pela interpenetração de
conceitos e ritos católicos e africanos; a “chinesa”, originariamente plasmada pelo confucionismo e hoje
experimentando um curioso e paradoxal “socialismo de mercado”; a “nipônica” e, por fim, a cultura da “África
Negra”. Assim, o século XXI, pelo menos no seu início, conheceria conflitos entre cristãos e mulçumanos,
hinduístas versus islâmicos do Paquistão, “cristãos ortodoxos” contra católicos e assim por diante;

● o “realismo” – os adeptos da “Escola Realista” das relações internacionais acreditam que, apesar do
surgimento de outros “donos do poder” ( empresas transnacionais, e companhias de telecomunicação em
escala mundial, etc ), os Estados Nacionais e seus interesses continuarão sendo, ainda por um longo tempo,
os agentes fundamentais das ações e conflitos internacionais;

● “caos total” – por fim, há também analistas que defendem a idéia de que a bipolaridade de poder – Estados
Unidos e União Soviética - , reinante ao longo da “Guerra Fria”, disciplinava as relações internacionais. Noutros
termos, Washington e Moscou impunham freios a eventuais delírios aventureiros de líderes e nações situados
em suas respectivas órbitas. Hoje, o desaparecimento da URSS, que deu lugar a uma Rússia debilitada, o
planeta, cada vez mais, será palco de conflitos desfechados por potencias regionais. Guerras como as do
Golfo ( 1990 – 1991 ), quando o Iraque invadiu o Kuwait, e as da Península Balcânica talvez não teriam
ocorrido se a União Soviética ainda fosse uma superpotência.

A GLOBALIZAÇÃO

Embora de uso relativamente recente, o termo “globalização” denomina um fenômeno inerente aos
fundamentos e à lógica do capitalismo:a permanente expansão em busca de mercados consumidores, de
áreas fornecedoras de matérias – primas e regiões destinadas à aplicações financeiras. Na realidade, a
“mundialização” da economia capitalista teve início quando da expansão ultramarina dos Tempos Modernos,
ainda no século XV. Hoje, este processo de “planetarização” da economia e dos modelos de organização
sociopolítica parece inexorável. De fato, o sistema financeiro já se encontra totalmente “mundializado”: as
aplicações financeiras, graças aos rápidos sistemas de comunicação existentes, são transferidas, entre as
principais bolsas mundiais, em questão de segundos. Também, os produtos, apesar das cotas de importação
e restrições protecionistas ainda prevalecentes, conhecem uma ampla e rápida circulação mundial. A cada
dia,a Organização Mundial do Comércio ( OMC )e oAcordo Geral para Tarifas e Comércio( GATT, em inglês )
vêm combatendo as medidas restritivas à circulação de gêneros e ampliando o livre comércio. Mais do que
nunca, empresas transnacionais vêm produzindo bens similares em várias nações do globo: automóveis,
calçados, eletrodomésticos e vestuário são praticamente idênticos em todos os países. Também no aspecto
cultural, a “globalização” tem se imposto: programas de televisão, filmes e competições esportivas são
acompanhados pela imensa maioria dos cidadãos do planeta, cujos hábitos de consumo e valores estéticos
são cada vez mais semelhantes.

Lamentavelmente, a “globalização”, nos moldes em que ela ocorre hoje, apresenta uma série de aspectos
negativos:

● ampliação das discrepâncias entre as nações desenvolvidas e as subdesenvolvidas– a “mundialização” da


economia pressupõe “tecnologia de ponta” (altamente sofisticada) só apropriada e desenvolvida pelas
grandes potências, graças aos recursos financeiros investidos na educação e em pesquisas. Os países mais
carentes de poupança e ainda vitimados pela existência de analfabetismo e “bolsões” de pobreza não têm
condições de acompanhar o progresso tecnológico, tornando – se, cada vez mais, dependentes das nações
hegemônicas ou até mesmo excluídos da modernidade. Além disso, a rapidez das transferências financeiras
em escala mundial cria para os países pobres o problema dos capitais voláteis, ou seja, necessitando de
recursos cambiais para garantir suas moedas, os governos das nações subdesenvolvidas, além de obrigados
a oferecer ao investidor externo altas taxas de juros – sacrificando o poder de compra de seus cidadãos - ,
correm o risco permanente de “fuga” de investimentos. Ademais, estes são sempre improdutivos, pois não
geram riquezas, consistindo em capitais estritamente especulativos;

● o “sucateamento” das indústrias dos países subdesenvolvidos–a liberalização das importações– exigida
pelo Fundo Monetário Internacional ( FMI ), pelo Banco Mundial e pela Organização Mundial do Comércio,
entidades controladas pelas grandes potências - ,a estabilização cambial e a elevação artificial do valor de
suas moedas e, por fima,feroz competição, entre as nações chamadas de “emergentes”, pela conquista de
mercados mundiaisfazem com que muitos países em desenvolvimento, cuja as indústrias eram beneficiadas
por um rígido protecionismo alfandegário, conheçam a dilapidação de seu parque industrial e o aumento do
desemprego;
● a concentração da riquezacompetição entre os países dominantes e as grandes empresas, próprias da
lógica do capitalismo, geram cartelização de mercados, com o controle dos grandes oligopólios
transnacionais sobre todos os setores econômicos vitais, centralizando o poder econômico nas mãos de
alguns poucos grupos. Atualmente, as grandes empresas, interessadas em aumentar sua capacidade de
investimento, buscam “fusões” entre elas visando dominar a produção e a oferta de serviços em escala
mundial;

● o desemprego estrutural– tradicionalmente, os surtos de desemprego coincidiam com períodos recessivos


da economia mundial. Retomado o desenvolvimento econômico, aumentava a oferta de trabalho.Hoje,
conhecemos um fenômeno inédito: altas taxas de desenvolvimento acompanhadas de desemprego. Isto
ocorre pelo fato de que as grandes corporações transnacionais, buscando minimizar seus custos e maximizar
lucros, produzem, cada vez mais, baseadas em “tecnologia de ponta”, dispensando mão de obra. A
informatização e a robotização crescentes são responsáveis pela tragédia do desemprego hoje experimentada
por milhares de trabalhadores. Se a modernização tecnológica, de início, marginalizou os países mais pobres,
atualmente assusta operários e técnicos das nações desenvolvidas.Não se pode, portanto, mais falar em
“surtos de desemprego”, pois ele é uma conseqüência inevitável da estrutura do atual modelo econômico.
Até os anos 70 do século XX, o capitalismo conheceu a “luta de classes” entre burguesia e proletariado; hoje, o
conflito se dá entre os “incluídos” no sistema sócio – econômico, não importando se empresários ou
empregados, e os “excluídos”, impossibilitados da aquisição de bens e totalmente destituídos da cidadania.

Nos dias de hoje, a controvérsia sobre a “globalização” criou dois segmentos sociais antagônicos:alguns,
normalmente ligados ao empresariado, defendem uma “mundialização econômica” baseada na competição
entre empresas e países, já que o capitalismo é altamente concorrencial e monopolizador;outros pregam
uma “globalização dos povos”, isto é, uma unificação econômica que beneficie a sociedade e não somente
os capitalistas.
De qualquer maneira, o mundo, hoje, está organizado sobre novas bases. Antigamente, as relações
internacionais tinham como agentes os Estados Nacionais, que defendiam os seus interesses, por vezes
ideológicos, como ocorreu durante o período da “Guerra Fria”, quando o capitalismo enfrentou o socialismo.
Na ocasião, o grande temor mundial era a eventual eclosão da guerra nuclear. Atualmente, são mais relevantes
as questões do desenvolvimento econômico, do equilíbrio ecológico e da cooperação econômica mundial.

Em suma, o capitalismo conhece hoje uma nova etapa de seu desenvolvimento. Inicialmente, mercantil;
depois, industrial livre concorrencial; no século XIX, oligopolista e imperialista; em meados do século XX,
monopolista de estado e, atualmente, neoliberal, informatizado epós-industrial. Entretanto, o modo de
produção capitalista sempre se caracterizou por flutuações periódicas de expansão e contração
econômica.Nikolai Kondratieff(1892 – 1930), economista russo, buscou definir os ciclos das crises
capitalistas, hoje denominados de ciclos de Kondratieff. Com a duração aproximada de 40 a 60 anos, cada um
desses ciclos apresenta um período de prosperidade, seguido de recessão, depressão e recuperação.

A partir da Revolução Industrial, podemos perceber quatro grandes ciclos da evolução econômica mundial,
conforme o gráfico abaixo:

O primeiro ciclo se estende de 1782 a 1845. A prosperidade do período foi possibilitada pelas inovações
tecnológicas da Primeira Revolução Industrial, ocorrida na Grã-Bretanha. O segundo, de 1845 a 1892, decorreu
da Segunda Revolução Industrial, caracterizada pela expansão ferroviária e siderúrgica. Na ocasião, embora a
Inglaterra ainda liderasse a economia mundial, outros países começaram a trilhar as vias da industrialização.
Além disso, surgiriam os oligopólios, as sociedades anônimas, o sistema financeiro internacionalizado e a
corrida neocolonialista, geradora da fase imperialista do capitalismo. O terceiro ciclo, de 1892 a 1948, foi
marcado pela invenção do motor a explosão e pelo amplo aproveitamento da eletricidade do petróleo. A nação
hegemônica do período foi os Estados Unidos da América, cuja presença geopolítica foi determinante no
Pacífico e no Atlântico. Finalmente, o quarto ciclo é baseado na “tecnologia de ponta”, notadamente na
eletrônica, na química fina e na biotecnologia.

Atualmente, o capitalismo, principalmente o norte-americano, conhece uma fase de ampla prosperidade e


pleno emprego. Entretanto, dado o caráter cíclico das crises capitalistas, o temor mundial é que este momento
privilegiado dos Estados Unidos acabe de maneira desastrosa, o que geraria uma recessão mundial..

A economia mundial apresenta, nos dias de hoje, a seguinte divisão mundial do trabalho:

● nações que vendem “tecnologia de ponta”, produzem bens sofisticados e são donas de fabulosos
excedentes de capital aplicados em escala mundial (EUA, República Federal da Alemanha, França, etc.);

● países que adotaram um “modelo econômico exportador” de bens de consumo durável (automóveis,
aparelhos de vídeo, etc.), sem grandes investimentos na pesquisa científica e tecnológica, optando por
copiar e baratear os produtos das nações tecnologicamente desenvolvidas. Em momentos de prosperidade
mundial, o “modelo exportador” gera uma rápida acumulação de capital, ciclicamente interrompida pelas
crises recessivas (Japão e os outros “tigres asiáticos”, tais como Coréia, Taiwan, Malásia, Indonésia e
Singapura);

● nações capitalistas periféricas exportadora de matérias-primas (Emirados Árabes, República do Congo,


Arábia Saudita, etc.);

● nações capitalistas periféricas relativamente industrializadas, caracterizadas pelo baixo investimento em


pesquisa, diferenças econômico-sociais marcantes e produção industrialbaseada em tecnologia importada
(Brasil, México, Índia, etc.);
● nações economicamente retardadas, destituídas de industrialização, produtora de gêneros primários para a
difícil subsistência de seus habitantes e exportadoras de bens de baixo custo no mercado mundial. Tais
países são hoje rotulados de “quarto mundo” (por exemplo, a maioria das nações do continente africano)

Como sempre, a mais importante tarefa da humanidade, continua sendo a de edificar uma sociedade melhor e
mais justa, capaz de fornecer a todos saúde, educação, vestuário, habitação e lazer. Três são os obstáculos
imediatos à construção de uma comunidade internacional mais harmônica:

● as discrepâncias de padrão de vida entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos;

● os ódios étnicos e a xenofobia crescentes, até certo ponto reações “tribais” contra a globalização, que vêm
fomentando levas e levas de migrantes em todo planeta;

● as questões ambientais, tais como a preservação das florestas, a despoluição dos rios e Oceanos, a
preservação da camada de ozônio e a proteção à espécies de animais e vegetais sob ameaça de extinção.

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