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11/08/2016 Imprime 

todos os trechos

por Fernando Barrichelo

Todos os artigos
 

Decisões, Jogos e Insights
 
Lourdes  quer  comprar  leite  e  precisa  decidir  se  vai  ao  mercado
A  ou  B,  dependendo  do  preço  da  unidade  e  distância  da  sua
casa. Carlos vai de ônibus ao trabalho e precisa decidir se leva
o  guarda­chuva,  dependendo  da  probabilidade  de  chover.
Maurício  é  gerente  do  mercado  A  e  precisa  decidir  se  faz
promoção  de  leite  e  guarda­chuva,  mas  depende  de  como  o
concorrente,  o  mercado  B,  vai  reagir.  Patrícia  é  dona  do
mercado  B  e  precisa  decidir  se  faz  uma  campanha  de
marketing, mas depende do que Maurício está pensando fazer a
respeito do leite. Nossa vida diária é repleta de decisões, como
as  anteriores  e  muito  mais  ­  vivemos  tomando  decisões  sobre
tudo. Algumas são simples e imediatas, outras são mais complexas e precisam de reflexão.

Há  vários  tipos  de  decisões:  neste  livro  vamos  abordar  as  chamadas  decisões  estratégicas.  Sem  conceito  universal,  as
palavras  "estratégia"  e  "estratégica"  possuem  diferentes  significados  para  diferentes  autores.  No  nosso  caso,  decisões
estratégicas  são  aquelas  iguais  as  de  Maurício  e  Patrícia.  Ambos  se  encontram  em  situações  estratégicas,  cenários  em
que a decisão de um afeta a decisão do outro porque os resultados estão conectados. Se Maurício abaixar o preço do leite
e Patrícia não, Maurício vai se dar bem pois venderá mais. Mas se Patrícia também abaixar o preço, o resultado muda de
figura. Este conceito será bem explicado com vários exemplos ao longo do livro. 

Você pode melhorar suas decisões estratégicas, e por fim, o seu pensamento estratégico? É claro, para isso existem vários
insights úteis e modelos de decisão. Como analogia, para cada tipo de desenho ou pintura existe uma ferramenta adequada,
seja  lápis,  giz,  pincel,  entre  outros.  O  grande  artista,  no  seu  kit  de  instrumentos,  sabe  escolher  qual  deles  usar  em  cada
ocasião. O grande estrategista faz a mesma coisa: para cada decisão existe um modelo de pensamento mais adequado.
Modelos de decisão são um conjunto de regras mentais que tornam o raciocínio mais rápido e direcionado. 

Aqui vamos apresentar um dos modelos de decisão mais poderosos para as situações estratégicas, a Teoria  dos  Jogos.


Ela também é chamada por alguns autores como a Arte  e  Ciência  da  Estratégia.  Em  poucas  palavras,  é  sobre  antecipar
como os outros vão responder ao que você fará, quando simultaneamente eles estão pensando o mesmo sobre você. Teoria
dos  Jogos  é  o  estudo  sobre  as  tomadas  de  decisões  estratégicas  e  a  lógica  das  interações  humanas.  Ela  é  um  grande
framework  ­  uma  caixa  de  ferramentas  com  modelos  que  organizam  o  seu  raciocínio  ­  para  que,  junto  com  outros
tradicionais conceitos, você decida melhor nos ambientes estratégicos. 

Ao  contrário  do  que  parece  ser,  Teoria  dos  Jogos  não  se  refere  a  videogames,  nem  mesmo  a  simulação  de  cenários  em
jogos de empresas. Utilizamos a palavra "jogos" devido a analogia com as situações estratégicas: você precisa tomar uma
decisão  enquanto  imagina  a  decisão  do  outro,  como  nos  jogos  tradicionais.  A  palavra  "teoria"  é  usada  porque  se  trata  de

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uma coletânea de ideias que ajudam a descrever ou prescrever fenômenos ou comportamentos. É por isso que a Teoria dos
Jogos pode ser considerada a arte e ciência das decisões estratégicas. 

Originalmente,  a  Teoria  dos  Jogos  possui  uma  rigorosa  linguagem  matemática.  Entretanto,  não  usaremos  formulações
matemáticas neste livro. É verdade, existem algumas vantagens ao usar a matemática como pano de fundo de um modelo
mental; uma linguagem formal oferece precisão na comunicação e retira ambiguidades. Mas o problema do lado matemático
da Teoria dos Jogos é que afasta muita gente. A linguagem estritamente formal e conceitos muito abstratos tornam o estudo
muito árido e com poucas aplicações práticas. Ainda, como diz Ariel Rubenstein, a formalidade da Teoria dos Jogos cria a
ilusão  de  que  a  teoria  é  científica  a  ponto  de  resolver  todos  os  problemas [1].  Neste  livro  vamos  usar  apenas  estórias,
analogias, jogos e figuras esquemáticas [2].  Concordo  com  Rubenstein  quando  ele  comenta  que  "existe  uma  conexão  meio
mágica  entre  os  símbolos  e  as  palavras  no  mundo  da  Teoria  dos  Jogos".  Esta  transposição  de  conceitos  formais  em
fábulas é fascinante. Na prática, esses recursos ajudam a sistematizar o intuitivo. 

Os três grandes insights da Teoria dos Jogos

A  parte  I  aborda  com  mais  detalhes  sobre  Estratégia,  Situações  Estratégicas  e


Modelos de Decisão. Nas partes II a IV vamos mostrar vários modelos e estórias que
fornecem  os  três  tipos  de  insights  mais  relevantes  da  Teoria  dos  Jogos:  os  insights
para competir, insights para colaborar e insights para sinalizar. 

Nos  Insights  para  Competir,  você  verá  a  regra  número  um  da  Teoria  dos  Jogos:
coloque­se  na  posição  do  concorrente,  pense  adiante  e  raciocine  para  trás.
Basicamente  funciona  assim.  Ao  entender  as  suas  alternativas,  as  opções  do  adversário  e  os  ganhos  de  cada  um  para
cada  escolha,  imagine  as  melhores  ações  do  outro  jogador  e  depois  decida  o  movimento  que  maximize  o  seu  resultado
considerando o provável decisão do concorrente. Uma boa alternativa é usar esquemáticos como árvores de decisão, porém
o conceito simplificado é mais poderoso do que um completo mapeamento formal. O importante é forçar­se a pensar com a
cabeça do outro. Por isso, a regra número dois é igualmente importante e complementar: saiba exatamente os incentivos de
motivações do seu concorrente. Se você quer maximizar o seu lucro financeiro, mas o seu adversário está interessado em
aumentar o market­share mesmo perdendo dinheiro no início, você precisa levar isso em conta, caso contrário não estarão
jogando  o  mesmo  jogo.  Assim,  entender  todas  as  motivações,  até  as  irracionais,  faz  parte  do  mapeamento  da  situação
estratégia. Aqui você verá o conceito da "lógica da situação", ou seja, o entendimento do cenário completo ­ quem são os
jogadores,  qual  a  seqüência  de  decisões,  quais  os  ganhos  de  cada  um,  etc.  Entender  a  lógica  da  situação  ajuda  a
compreender  porque  os  comerciais  de  TV  são  mais  longo  a  medida  que  o  filme  avança,  porque  algumas  negociações
aparentemente  óbvias  e  ganha­ganha  não  são  concretizadas,  porque  multar  pais  pelo  atraso  em  buscar  os  filhos  não
funciona e porque Garrincha estava certo quando perguntou "o senhor já negociou com os russos?"

Nos Insights para Colaborar, apresentamos um famoso jogo que representa bem o dilema entre cooperar e trair, chamado
de Dilema dos Prisioneiros. Este "jogo­modelo" é uma das metáforas mais poderosas na ciência do comportamento humano
pois  inúmeros  relacionamentos  sociais/econômicos  tem  a  mesma  estrutura  de  incentivos.  Neste  jogo,  existe  a  grande
tentação  para  trair  e  aumentar  os  ganhos  individuais.  O  intrigante  é  que  a  melhor  solução  "racional"  é  competir  mesmo
quando  colaborar  fornece  melhor  resultado  a  ambos,  caracterizando  o  dilema.  Para  sair  deste  cilada  vamos  mostrar  duas
formas  básicas.  A  primeira  é  o  uso  de  uma  autoridade  central  que  force  os  jogadores  a  fazer  as  escolhas  melhores.  A
segunda forma é transformar o jogo de uma jogada só em um jogo de infinitas interações. O relacionamento repetido cria um
mecanismo automático de cooperação sem precisar de uma autoridade central, mas para isso você precisa jogar a tática do
"Olho por Olho". Alguns biólogos utilizam este conceito para explicar como surgiu a colaboração na evolução das espécies.
Quando  existem  múltiplos  ou  infinitos  jogadores,  a  metáfora  ajuda  a  explicar  o  comportamento  dos  free­riders,  como

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exemplo, porque as pessoas gastam mais quando a conta do restaurante é dividida de forma igual e porque as pessoas não
se preocupam com o aquecimento global. 

Nos  Insights  para  Sinalizar,  você  verá  os  conceitos  de  comprometimento  e  ameaças  críveis.  Seja  para  competir  ou
colaborar,  fazer  uma  sinalização  das  suas  intenções  de  forma  crível  é  uma  das  melhores  formas  de  convencer  seu
interlocutor.  Aqui  mostraremos,  por  exemplo,  porque  muitas  vezes  ter  menos  opções  é  muito  melhor  do  que  ter  muitas
alternativas de escolha. 

Em  Conclusões:  Jogando  Melhor,  apresentamos  uma  recapitulação  dos  conceitos  e  fornecemos  conselhos  sobre  como
"jogar melhor", ou seja, como identificar oportunidades e tomar melhores decisões estratégicas. 

Não  vamos  fugir  da  discussão  sobre  as  limitações  da  Teoria  dos  Jogos.  Muitos  estudantes  aprendem  a  "teoria"  em
disciplinas de graduação ou pós­graduação e, no final, saem do curso sem saber como aplica­la na vida real. Faz sentido.
Primeiro porque ela é explicada através dos conceitos matemáticos e abstratos que possuem fins mais acadêmicos do que
práticos. Segundo, porque as interações estratégicas no mundo real não são tão simples como nos exemplos didáticos dos
livros.  Nem  sempre  os  elementos  do  jogo  são  suficientemente  claros  para  aplicar  em  um  modelo  e  ter  uma  resposta
pragmática.  Ainda,  nem  sempre  os  jogadores  agem  de  forma  racional  conforme  prescreve  a  teoria  econômica.  Entretanto,
este  dilema  teoria­prática  não  é  exclusividade  da  Teoria  dos  Jogos.  Alias,  praticamente  em  todos  os  conceitos  nas
universidades existe certa dose de abstração com o propósito de construir o conhecimento, e não dar treinamento prático.
Até  hoje,  por  exemplo,  nunca  vi  um  caso  real  onde  mapeou­se  todos  os  pontos  do  gráfico  de  preço­quantidade  (curva  da
demanda)  para  calcular  a  elasticidade  e  definir  o  preço  que  maximiza  o  lucro.  Apesar  disso,  o  conceito  é  rico  e  utiliza­se
para se comunicar e testar estratégias. 

Assim,  neste  livro  também  utilizamos  exemplos  simplificados  pois  é  muito  mais  didático  para  a  compreensão.  Como
comentado,  todos  as  disciplinas  nas  escolas  de  administração  utilizam  modelos  simplificados.  Na  prática,  a  Teoria  dos
Jogos  e  seus  três  insights  (Competir,  Colaborar  e  Sinalizar)  oferecem  dicas  palpáveis  para  se  ter  mente  e  conseguir
reconhecer situações estratégicas. 

Nos Apêndices: Aprofundamento para Mentes Curiosas apresentamos outros detalhes opcionais. 

Uma nova forma de pensar

Muitas  coisas  parecerão  senso  comum.  Alguém  poderia  dizer  que  não  é  preciso  da
Teoria dos Jogos para chegar as mesmas conclusões. Isso é verdade. A Teoria dos
Jogos  é  estudada  dentro  de  três  disciplinas  ­  teoria  das  decisões,  economia  e
estratégia.  Não  é  trivial  segregar  nitidamente  a  "propriedade"  de  cada  conceito  em
cada  uma  das  quatro  matérias.  Onde  começa  um  e  termina  o  outro?  Ainda,  é
possível  mesclar  conceitos  com  a  economia  comportamental,  psicologia,  filosofia  e
lógica. 

Entretanto,  o  óbvio  apenas  parece  ser  óbvio  depois  de  entrar  em  contato.  Ainda,  não  é  porque  é  óbvio  então  é  fácil,  e
principalmente, comunicável. A vantagem de estudar este tópicos sob o guarda­chuva da Teoria dos Jogos (alias, vale para
qualquer disciplina) é ter todos os conceitos que "organizam o raciocínio" e "aceleram o conhecimento". O grande mérito é
conseguir sistematizar o intuitivo a ponto de ser categorizado, organizado e melhor comunicado. Esta é função de qualquer
modelo  de  decisão.  Aliás,  esta  é  função  da  ciência.  Ciência  nada  mais  é  que  o  conhecimento  organizado,  feita  para  ser
comunicada eficientemente e testar hipóteses. 

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Este "senso comum organizado" ajuda a pensar diferente. Abordar as suas próximas negociações e situações do cotidiano
usando  conceitos  da  Teoria  dos  Jogos  deixará  o  seu  raciocínio  mais  flexível,  inteligente  e  tolerante  a  ambiguidades  e
ineficiências. David McAdams utiliza o termo "game­awareness" como a habilidade de ver o mundo a sua volta com olhos
mais abertos e estratégicos  [3].  Esta  "consciência  sobre  o  jogo"  significa  entender  as  características  da  situação  (do  jogo)
em  questão.  A  consciência  permite  reconhecer  as  oportunidades  estratégicas  que  outros  não  vêem,  seja  para  competir,
colaborar ou sinalizar. 

Um  exemplo  de  McAdams  de  como  o  "game­awareness"  pode  ajudar  nos  negócios  é  Alfred  Sloan,  legendário  líder  da
General  Motors.  A  biografia  de  Sloan  mostra  a  habilidade  dele  em  entender  como  o  jogo  do  mercado  automobilístico
transformaria  não  somente  a  GM  como  toda  a  indústria.  Como  exemplo,  Sloan  percebeu  que  o  design  de  carros  era
importante  aos  consumidores  e  levou  a  GM  a  introduzir  um  novo  modelo  por  ano,  encorajando  o  comércio  por  carros
usados. Da mesma forma, o entendimento de Sloan sobre os incentivos das concessionárias levou a GM a ser o primeiro
fabricante a oferecer a compra de estoque encalhado, bem como o pioneiro a implantar um sistema contábil integrado. 

Aproveite  a  jornada  deste  livro.  Você  terá  seus  próprios  insights  para  um  melhor  pensamento  estratégico,  obtendo
vantagens competitivas/colaborativas nas sua próximas interações estratégicas.
 
[1] Ariel Rubenstein é escritor de vários livros sobre Teoria dos Jogos. Um texto curto sobre vantagens e limitações da teoria é no link

http://www.faz.net/aktuell/feuilleton/debatten/game­theory­how­game­theory­will­solve­the­problems­of­the­euro­bloc­and­stop­iranian­nukes­12130407.html

[2] Leitores mais voltados para a matemática podem ser aprofundar lendo vários livros­textos usados nas disciplinas das universidades. 

[2] Game­changer: Game Theory and the Art of Transforming Strategic Situations, David McAdams, 2014, WW Norton.

Pensamento Estratégico e Decisões Estratégicas
 
O que é o Pensamento Estratégico

Seja  um  executivo,  consultor,  gerente  ou  consumidor,  no  mundo  atual  você  precisa
analisar  o  ambiente  a  sua  volta  para  tomar  boas  decisões  e  ter  bons  resultados.  Para
isso,  você  precisa  pensar  estrategicamente.  Há  muitas  ferramentas  que  ajudam  o  seu
pensamento analítico e estratégico, e este site oferece alguns insights, teorias e modelos
para este fim. 

Mas  o  que  é  pensamento  estratégico?  Ele  envolve  analisar  os  problemas  e  as  oportunidades  a  partir  de  uma  perspectiva
ampla,  pensando  no  longo  prazo  e  compreendendo  o  impacto  de  suas  ações  sobre  os  outros  e  vice­versa.  Como  todo
mundo,  você  rotineiramente  se  depara  com  situações  complexas  e  problemas  difíceis.  Seu  trabalho  é  lidar  com  essas
situações da melhor forma possível, usando as informações que você tem. Em um mundo ideal, você tem acesso a todas
as  informações  que  precisa  para  enfrentar  estes  desafios,  porém  na  prática  você  tem  apenas  uma  quantidade  limitada.  O
pensar de forma estratégica ajuda a superar essas limitações.

O  pensamento  estratégico  é  uma  habilidade  poderosa  e  valiosa  que  aumenta  as  chances  de  sucesso  nos  seus  projetos
profissionais  e  pessoais.  Quando  você  pensa  estrategicamente,  você  gera  benefícios  importantes,  como  (1)  desenvolver
planos  de  longo  prazo  com  mais  eficiência  ao  antecipar  o  inesperado,  (2)  avaliar  se  deve  competir  ou  cooperar  com
concorrentes  e  (3)  visualizar  a  cadeia  de  reações  para  maximizar  seus  resultados.  Ainda,  consegue  alinhar  as  ações  com

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os  demais  interlocutores,  se  comunicar  melhor,  ganhar  compromisso  e  promover  a  cultura  do  planejamento.  Com  as
habilidades  de  pensamento  estratégico,  você  tem  um  guia  simples  e  abrangente  com  táticas,  ferramentas  e  estudos  de
caso. 

Existem  várias  teorias  e  técnicas  para  desenvolver  esse  tipo  de  raciocínio.  Como  exemplo,  o  curso  online  da  Harvard
Business  School  chamado  Strategic  Thinking  destaca  as  sete  habilidades  dos  melhores  estrategistas:  entender  o  quadro
geral  (big  picture),  ter  claro  os  objetivos  estratégicos,  identificar  os  padrões,  relacionamentos  e  tendências,  pensar
criativamente,  analisar  informações,  priorizar  as  ações  e  assumir  os  trade­offs  [1].  Já  Denise  Cummins,  no  livro  Good
Thinking  ­  seven  powerful  ideas  that  influence  the  way  we  think  apresenta  sete  métodos  que  ajudam  a  ter  um  melhor
julgamento:  escolha  racional,  julgamento  moral,  raciocínio  científico,  lógica,  solução  de  problemas,  raciocínio  análogo  e
teoria dos jogos [2]. 

Geralmente,  as  publicações  voltadas  ao  tema  usam  modelos  mentais  muito  bem  estruturados.  O  objetivo  deste  site  é
adicionar  ao  seu  framework  do  pensamento  estratégico  uma  poderosa  ferramenta,  chamada  Teoria  dos  Jogos,  que  é
especificamente  útil  para  aprimorar  o  seu  raciocínio  nas  situações  de  competição  e  cooperação.  Além  dela  vamos
incorporar os conceitos da Economia clássica, Economia comportamental, Teoria das Decisões, entre outras. Mas antes de
explicar esses temas propriamente ditos (no capítulo 2 em diante), é importante abordar um pouco mais sobre o processo
decisório no raciocínio humano para poder explicar o que é uma Decisão Estratégia e, por fim, o que é significa a palavra
Estratégico(a) no mundo da Teoria dos Jogos.

O que é uma Decisão Estratégica

Preste  atenção  sobre  o  seguinte.  Pensar  estrategicamente  significa  decidir  estrategicamente.  Decidir  significa  fazer  uma
escolha, escolher significa selecionar um item de um menu de opções. Como em um restaurante, você quer decidir o que
comer,  então  pede  o  cardápio  e  escolhe  um  dos  itens  do  menu.  A  figura  abaixo  apresenta  os  três  tipos  de  escolhas  que
rodeiam  o  nosso  cotidiano  [3]:  (1)  a  escolha  com  certeza,  (2)  a  escolha  com  incerteza  probabilística  e  (3)  a  escolha  com
incerteza estratégica.

A  escolha  com  CERTEZA  ocorre  quando  os  itens  do  menu  de  opções  são  finitos,  com
preferências e conseqüências bem definidas e racionais. Como no exemplo do restaurante, você
pode escolher entre carne, frango, peixe ou massa. A decisão até pode ser difícil ("oh céus, tudo
parece  bom"),  mas  depende  exclusivamente  do  seu  gosto.  Para  aumentar  os  subsídios  para
tomada  de  decisões,  você  até  pode  consultar  o  garçon  sobre  o  prato  mais  popular  ou  verificar
indicações nas redes sociais. 

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Outras escolhas podem ser menos triviais, como comprar um carro. Imagine que você tem duas opções. O carro A é mais
barato,  porém  não  possui  um  motor  tão  potente  e  alguns  opcionais  porta­treco  para  seus  filhos.  O  carro  B  é  mais  caro,
possui  os  acessórios  desejados,  mas  não  existe  na  cor  que  você  gostaria,  além  de  gastar  mais  combustível.  Existe  um
trade­off  a  resolver.  Você  recorre  a  alguns  conceitos  que  aprendeu  nas  aulas  de  Teoria  das  Decisões  e  usa  o  modelo  de
elencar  atributos  e  atribuir  pesos  e  notas  a  cada  um  deles.  Idem  para  comprar  roupas,  imóveis  ou  decidir  qual  o  melhor
resort  na  praia  para  o  próximo  verão.  Assim  você  cria  um  modelo  de  decisão.  Por  mais  difícil  que  possa  aparecer,  a
"escolha com certeza" é o tipo de decisão mais fácil ­ depende apenas de você, suas preferências e seus modelos. 

A  escolha  com  INCERTEZA  PROBABILÍSTICA  ocorre  quando  há  certo  grau  de  probabilidade  de  ocorrer  um
evento. Aqui entram em ação alguns conceitos de risco, chance e utilidade esperada. Para decidir se você sai
de  casa  com  guarda­chuva,  você  verifica  a  previsão  do  tempo  e  a  probabilidade  de  chuver.  Assim  você  pode
decidir se corre o risco de levá­lo a toa se não chover, ou não levá­lo e se molhar se chover. Outros raciocínios
similares são usados em jogos de azar ou loteria. 

Nosso  foco  de  estudo  para  este  livro  é  o  terceiro  tipo.  A  escolha  com  INCERTEZA  ESTRATÉGICA  ocorre  quando  o
resultado  da  sua  decisão  individual  é  dependende  da  decisão  individual  de  outra  pessoa.  Talvez  o  exemplo  mais  simples
seja  o  jogo  do  Par  ou  Impar.  Você  decide  Par  e  precisa  escolher  um  número  de  0  a  5  para  colocar.  Como  sabemos,  não
importa apenas o número que você coloca, e sim do número que você e o seu adversário colocam. O resultado depende da
soma dos números de ambos jogadores, e não apenas do seu número (seja Par ou Impar). Se você não quer depender da
sorte,  a  sua  decisão  depende  da  crença  do  que  o  outro  jogador  vai  colocar.  Confiando  que  ele  vai  colocar  Par,  então
você deve colocar Par. Se achar que ele vai colocar Impar, então deve colocar Impar para que o resultado seja Par.

O  xadrez  é  um  jogo  mais  sofisticado  que  possui  a  mesma  dinâmica  de  raciocínio.  Os  bons  jogadores  pensam  várias
jogadas  a  frente  antes  de  tomar  a  decisão  do  próximo  movimento.  Não  importa  a  sua  jogada  isolada  apenas,  o  resultado
depende  da  reação  do  meu  adversário.  A  combinação  de  movimentos  é  que  vai  gerar  o  ganhador.  Esse  tipo  de  escolha
também  tem  uma  componente  de  Incerteza  (não  depende  de  um  ranking  individual  de  preferência)  e  uma  componente
Estratégica (a incerteza não é aleatória e sim deliberada por uma outra pessoa). 

Como conclusão, podemos dizer que uma Decisão Estratégica é aquela cujo resultado desejado depende da combinação de
escolhas  dos  tomadores  de  decisão.  Em  outras  palavras,  dizemos  que  existe  uma  interdependência  de  decisões.  Como
você verá mais para frente, são estes tipos de situações interativas que utilizamos a Teoria dos Jogos para analisar e obter
insights.  Forneceremos  exemplos  reais  mais  palpáveis  ao  longo  do  livro,  e  você  perceberá  que  estudar  as  Decisões
Estratégicas (ou Situações Estratégicas) melhorará o seu Pensamento Estratégico.
 
[1]: Curso Strategic Thinking, Harvard Business Review, link http://ww3.harvardbusiness.org/corporate/demos/hmm10/strategic_thinking/get_started.html

[2]: Good Thinking, Denise D. Cummins, 2012, Cambridge University Press. Em inglês os sete métodos são Rational Choice, Moral Judgment, Scientific

Reasoning, Logic, Problem Solving, Analogical Reasoning e Game Theory.

[3] Michael Allinghan, Choice Theory, 2002, Oxford University Press

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Garrincha: O senhor já combinou com os russos?
Ele não sabia, mas estava raciocinando com a Teoria dos Jogos
 
Conta a lenda que na Copa de 1958, durante a preleção antes do jogo contra a antiga União Soviética, o
técnico brasileiro Vicente Feola reuniu os jogadores e combinou a estratégia da partida. Segundo Nelson
Correa, foi algo assim [1]: 

No  meio  de  campo,  Nilson  Santos,  Zito  e  Didi  trocariam  passes  curtos  para  atrair  a  atenção  dos
russos… Vavá puxaria a marcação da defesa deles caindo para o lado esquerdo do campo… Depois da
troca  de  passes  no  meio  do  campo,  repentinamente  a  bola  seria  lançada  por  Nilton  Santos  nas  costas  do  marcador  de
Garrincha.  Garrincha  venceria  facilmente  seu  marcador  na  corrida  e  com  a  bola  dominada  iria  até  à  área  do  adversário,
sempre pela direita, e ao chegar à linha de fundo cruzaria a bola na direção da marca de pênalti; Mazzola viria de frente em
grande  velocidade  já  sabendo  onde  a  bola  seria  lançada…  e  faria  o  gol!  Garrincha  com  a  camisa  jogada  no  ombro,  ouvia
sem muito interesse a preleção, e em sua natural simplicidade perguntou ao técnico: Tá legal, seu Feola… mas o senhor
já combinou tudo isso com os russos?

Luis  Nassif  lembrou  bem  que  "uma  das  características  de  qualquer  ser  humano  racional,  cartesiano,  é  a  capacidade  de
prever  as  consequências  de  um  lance  jogado.  Até  Garrincha,  gênio  do  futebol  e  escasso  em  raciocínio,  entendia  que  não
existe  tática  eficiente  se  não  se  prever  qual  será  a  reação  do  adversário.  O  famoso  “já  combinaram  com  os  russos”  é  um
monumento à boa lógica" [2].

Bem  vindo  ao  mundo  da  Teoria  dos  Jogos.  Garrincha  não  foi  nada  ingênuo.  Elaborar  uma  estratégia  significa  pensar
todas as suas opções considerando as reações do seu adversário. A ciência e arte da Teoria dos Jogos está em oferecer
algumas ferramentas formais para antecipar o movimento do outro jogador. Como exemplo, uma dos principais conceitos é
"coloque­se na posição do adversário e veja o que você faria se fosse ele".

 
[1] Nelson Correa, Blog Pô Meu, http://pomeu.com/automobilismo/esqueceram­de­combinar­com­o­lewis/

[2] Luis Nassif, Blog Luis Nassif Online, http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/serra­a­sina­de­ser­vidraca

O que é Teoria dos Jogos
Uma breve introdução intuitiva
 
O  que  é  Teoria  dos  Jogos  e  como  ela  pode  melhorar  as  suas  decisões  estratégicas?  Teoria  dos  Jogos  é  o  estudo  das
tomadas  de  decisões  entre  indivíduos  quando  o  resultado  de  cada  um  depende  das  decisões  dos  outros,  numa
interdependência similar a um jogo. 

Mas primeiro é interessante explicar o que não é  Teoria  dos  Jogos:  decidir  qual  carro  comprar,  por  exemplo.  Escolher  um
automóvel é uma decisão complexa pela quantidade de variáveis a considerar. Além do preço, existem a aparência, estilo,
tamanho, motor, conforto, acessórios, etc. Para complicar, sempre há um trade­off: nenhum carro possui exatamente todas
as características que você gostou. Seria bom se o carro A, como aqueles acessórios, também tivesse a configuração do
motor  do  carro  B.  Você  pode  criar  um  algoritmo  (mental  ou  via  computador)  para  colocar  todas  as  variáveis  e  pesos  de
importância (suas utilidades) e criar um ranking. Entretanto, o exemplo do carro é uma decisão isolada ­ a decisão é só sua
e não há interferência de outros no resultado. 

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Já  a  Teoria  dos  Jogos  estuda  cenários  onde  existem  vários  interessados  em  otimizar  os  próprios  ganhos,  as  vezes  em
conflito entre si. Por exemplo, imagine que em sua empresa você tem dúvidas sobre qual ação tomar para aumentar o seu
lucro: reduzir o preço, lançar outro produto ou fazer uma campanha de marketing?

No  caso  de  reduzir  o  preço,  conhecendo  a  curva  de  demanda,  se  abaixar  o  preço  em  3%,  sua  receita  sobe  7%  pois  vai
ganhar market­share. Você calculou a relação de preço versus vendas e, conseqüentemente, a migração de consumidores
do produto concorrente para o seu. Mas e se seu concorrente reagir e também abaixar o preço na mesma proporção? Como
conseqüência da estratégia dele, o seu ganho, antes imaginado como aumento em 7%, muda para uma perda de 5% pois
não aconteceu como você previu. 

O resultado (ganho ou perda) de uma decisão depende obrigatoriamente da movimentação dos dois concorrentes, tornando
a  tomada  de  decisão  muito  mais  complexa.  Por  isso,  você  precisa  saber  quais  são  os  ganhos  ou  perdas  de  cada
combinação  e  identificar  quais  são  os  incentivos  mais  atraentes  para  seu  adversário,  sabendo  que  ele  está  imaginando
quais são os seus ganhos para também tomar uma decisão. 

Com essas informações e deduções, reduzir o preço não é uma boa estratégia. Então você imagina fazer uma campanha de
marketing. Começa outro ciclo de previsões: como ele vai reagir neste caso? Ao se antecipar as ações do seu competidor,
você deve repensar antes de agir e visualizar todas as implicações de cada decisão, e ele fará o mesmo simultaneamente. 

Por isso, a melhor recomendação é: antes de tomar uma decisão, coloque­se no lugar do concorrente e imagine qual seria a
reação  dele  dadas  as  ações  e  incentivos  existentes.  Simultaneamente  ele  fará  o  mesmo  ­  entender  quais  são  suas
motivações e ações para que ele tome a melhor decisão. Este é ciclo sem fim: você pensa que ele pensa que você pensa
que ele pensa que.... 

Teoria  dos  Jogos  é  isso:  entender  que  sua  decisão  não  é  independente  e  ambos  os  ganhos  dependem  da  combinação  de
muitas ações em cadeia até chegar em um equilíbrio. Este equilíbrio é o chamado Equilíbrio de Nash, em homenagem a
John  Nash  Jr,  prêmio  Nobel  de  1994  e  que  foi  personagem  de  Russell  Crowe  no  filme  Uma  Mente  Brilhante,  ganhador  do
Oscar de 2002.

Outras analogias interessantes sobre decisões interdependentes são o Dilema da Ponte e o Dilema do Vagão de Trem.

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Teoria dos Jogos: o intuitivo agora sistematizado

Pensar  no  concorrente  e  nas  ações­reações  antes  agir  parece  ser  muito  intuitivo.  Você  já  pensa  assim,  certo?  Então,  por
que precisaria da Teoria dos Jogos para uma atitude tão óbvia? Resposta: porque a Teoria dos Jogos oferece metodologias
que organizam o seu raciocínio nos jogos do cotidiano com seu concorrente, chefe, subordinado, colega de trabalho, cliente,
fornecedor, vendedor, amigo, esposa/marido, governo, consumidor e outros.

Nesta  caixa  de  ferramentas  existem  alguns  conceitos  estruturados  que  ajudam  na  comunicação  e  no  entendimento  de
como as pessoas decidem. Exemplos:

­ matriz de resultados ou esquema de incentivos
­ jogos seqüenciais versus simultâneos
­ cooperação versus competição
­ dilema do prisioneiro e equilibrio ineficiente
­ equilíbrio de Nash
­ estratégia dominante e backward induction
­ jogos repetitivos e estratégia mista
­ informação incompleta

Assim como várias teorias de administração ajudam a estruturar o seu pensamento nas decisões competitivas, a Teoria dos
Jogos possui modelos formais e exemplos que facilitam o entendimento nas decisões interdependentes,  além  de  facilitar
a comunicação e treinamento dos conceitos como qualquer teoria formal. A base da teoria é colocar­se na posição do outro
e  raciocinar  o  que  você  faria  em  cada  situação,  modelando  todas  as  interações  com  benefícios/prejuízos  de  ambos  e  daí
tomar a melhor ação estratégica.

A  Teoria  dos  Jogos,  como  disciplina  independente,  não  resolve  todos  os  problemas,  mas  apresenta  vários  insights  para
melhorar  seu  pensamento  estratégico  como  um  elemento  complementar  das  demais  Teorias  de  Decisões.  Para  se
aprofundar  e  para  ser  um  bom  estrategista,  é  importante  unir  os  conceitos  das  disciplinas  de  Estratégia,  da  Economia
Clássica (como preferências e utilidades, resultado esperado, risco e incerteza, free­rider, assimetria de informações) e da
Teoria  Comportamental  (heurísticas  e  viéses  cognitivos).  Neste  último  caso,  quanto  mais  você  souber  quais  são  os
incentivos e reais motivações do seu concorrente ou parceiro, maiores as suas chances de ganhar o jogo. A união de todos
os elementos é uma grande forma para melhorar suas decisões estratégicas.

Analogia com o Dilema da Ponte
 
Existe  um  texto  de  Don  Ross,  no  site  da  Stanford  Encyclopedia  of  Philosophy
(capítulo de Game Theory) o qual chamei de Dilema da Ponte, que representa bem
a essência da Teoria dos Jogos  [1]. Imagine que você deseja atravessar um rio que
possui  três  pontes.  Assuma  que  é  impossível  via  natação  ou  barco.  A  primeira
ponte  é  conhecida  por  ser  segura  e  livre  de  obstáculos,  se  você  tentar  atravessar
lá,  você  terá  sucesso.  A  segunda  ponte  se  encontra  debaixo  de  um  penhasco  de

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pedras grandes que às vezes caem. A terceira é habitada por cobras mortais. 

Agora, suponha que você queira ranquear as três pontes de acordo com facilidade de passagem. Sua tarefa aqui é bastante
simples.  A  primeira  ponte  é  a  melhor,  obviamente,  pois  é  mais  segura.  Para  classificar  as  outras  duas  pontes  você
necessita  de  informações  sobre  seus  níveis  relativos  de  perigo.  Se  você  conseguisse  estudar  a  freqüência  de  queda  das
rochas e os movimentos das cobras durante algum tempo, você poderia descobrir que a probabilidade de ser esmagado por
uma  rocha  na  segunda  ponte  é  de  10%  e  de  ser  picado  por  uma  cobra  na  terceira  ponte  é  de  20%.  Seu  raciocínio  aqui  é
estritamente paramétrico, pois nem as pedras nem as cobras estão tentando influenciar suas ações, por exemplo, ocultando
os padrões típicos de comportamento. É bastante óbvio que você deve fazer aqui: atravessar a ponte segura. Por enquanto,
não há envolvimento da Teoria dos Jogos, apenas da Teoria da Decisão, com probabilidades e utilidades.

Agora vamos complicar a situação um pouco. Suponha que a ponte das rochas está na sua frente, enquanto a ponte segura
está  longe,  necessitando  uma  caminhada  difícil  por  um  dia  inteiro.  Sua  tomada  de  decisão  aqui  é  um  pouco  mais
complicada,  mas  continua  sendo  estritamente  paramétrica.  Você  teria  que  decidir  se  o  custo  da  longa  caminhada  vale  a
pena trocar pelos 10% de chance de ser atingido por uma pedra. No entanto, isso é tudo que você tem que decidir, e sua
probabilidade de sucesso depende inteiramente de você, o ambiente não está interessado em seus planos. 

No  entanto,  vamos  complicar  mais  um  pouco  a  situação,  acrescentando  um  elemento  que  interage  com  sua  decisão,
tornando o problema mais intrigante. Suponha que você é um fugitivo e seu perseguidor está te esperando do outro lado do
rio  com  uma  arma.  Ele  vai  atirar  em  você  apenas  se  ele  esperá­lo  na  ponte  que  você  atravessar,  caso  contrário  você
consegue escapar.

A  medida  que  pensa  qual  ponte  escolher,  seu  perseguidor  está  do  outro  lado  tentando  antecipar  o
seu raciocínio. Agora, parece que escolher a ponte segura seria um erro, uma vez que é exatamente
onde ele vai esperá­lo, e sua chance de morrer aumenta. Então talvez você deva correr o risco com
as  rochas,  uma  vez  que  estas  probabilidades  são  melhores.  Mas  espere  ...  se  você  chegou  a  essa
conclusão, o seu perseguidor, que é tão racional e bem informado como você, pode antecipar isso, e
estará esperando por você se você fugir das pedras.

Portanto,  talvez  você  deva  arriscar  com  as  cobras,  que  é  o  que  o  perseguidor  menos  espera.  Mas,  então,  não  ...  se  ele
acha  que  você  acha  que  ele  menos  espera  nas  cobras,  então  ele  vai  esperar  mais.  Esse  dilema,  você  percebe,  é  geral:
você  deve  fazer  o  que  o  seu  perseguidor  menos  espera,  mas  qualquer  coisa  que  você  ache  que  ele  menos  espera,
automaticamente é o que ele vai esperar mais.

Você  parece  estar  preso  na  indecisão.  Tudo  o  que  pode  consolá­lo  um  pouco  aqui  é  que,  do  outro  lado  do  rio,  seu
perseguidor é preso em exatamente no mesmo dilema, incapaz de decidir qual a ponte esperar porque logo que ele imagina,
comprometendo­se  a  uma,  ele  vai  notar  que  se  pode  encontrar  uma  melhor  razão  para  escolher  outra  ponte  pois  pode
antecipar essa mesma razão e, em seguida, evitá­la. 

São estes tipos de situações em que a Teoria dos Jogos se interessa, onde o resultado depende da decisão conjunta dos
jogadores,  onde  cada  um  tenta  antecipar  a  escolha  do  outro.  Os  "teóricos  dos  jogos"  entendem  que  existe  uma  solução
racional, isto é, uma melhor ação racional disponível para ambos os jogadores. No entanto, até a década de 1940, nem os
filósofos  nem  os  economistas  sabiam  como  encontrá­lo  matematicamente.  Von  Newman  e  John  Nash  fizeram  grandes
contribuições na modelagem matemática destes cenários e faz parte da maioria dos livros didáticos de teoria dos jogos. 

Mas o mais importante do legado da Teoria dos Jogos é o raciocínio da antecipação dos movimentos, intuitivo para a maior

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parte  das  pessoas  no  dia  a  dia,  pois  a  disciplina  oferece  alguns  conceitos  e  modelos  formais  que  ajudam  a  estruturar  o
pensamento. Com a ajuda de "jogos­modelos", ou seja, exemplos de situações e respectivas soluções, você pode usá­los
como analogia no seu cotidiano e tomar melhores decisões.
 
[1] Site Stanford Encyclopedia of Philosophy, link http://plato.stanford.edu/entries/game­theory/

Analogia com o Dilema do Vagão de Trem
 
Outra  analogia  muito  útil  sobre  decisões  interdependentes  para  explicar  a  essência  da  Teoria
dos  Jogos  é  dada  por  Thomas  Schilling,  no  livro  Choice  and  Consequence  (capítulo  What  is
Game Theory). Batizei este trecho como o Dilema do Vagão de Trem. 

Cena 1: Imagine que você está na plataforma de uma estação, pronto para embarcar no trem,
e  encontra  um  velho  amigo  que  tem  assento  reservado  em  um  vagão  diferente  do  seu.  Você  combina  de  encontrá­lo  no
vagão do jantar. Depois de embarcar no trem, você descobre que existe um restaurante na primeira classe e um buffet na
segunda classe. Você prefere comer na primeira classe, mas suspeita que seu amigo prefere o carro buffet. Você quer fazer
uma  reserva  que  coincida  com  a  dele.  Você  escolhe  a  primeira  classe  ou  o  carro  buffet?  (Evidentemente,  considere  que
você não sabe o número do celular dele e não podem ser comunicar).

Cena  2:  Imagine  agora  que  você  está  na  plataforma  e  encontra  um  amigo  que  você  quer  evitar.  Suas  reservas  estão  em
carros  diferentes,  mas  ele  sugere  encontrá­lo  no  jantar.  Você  fica  aliviado  quando  descobre  que  existem  dois  vagões  de
restaurante, o da primeira classe e o buffet. Se você escolher corretamente, você pode "inocentemente" desencontrar com
seu  amigo.  Você  tem  que  ter  cuidado,  ele  pode  imaginar  que  você  quer  fugir  dele.  Normalmente  você  janta  na  primeira
classe e ele sabe disso. Para qual vagão você faz sua reserva?

Perceba  nas  duas  situações  que  as  decisões  de  vocês  são  interdependentes  e,  portanto,  mais  uma  situação  em  que  a
Teoria  dos  Jogos  ajuda  na  análise.  Dois  ou  mais  indivíduos  têm  escolhas  a  fazer,  possuem  preferências  quanto  aos
resultados,  e  algum  conhecimento  das  opções  disponíveis  para  cada  um  e  sobre  as  preferências  dos  outros.  O  resultado
depende  das  escolhas  que  ambos  fazem.  Assim,  não  há  uma  melhor  escolha  "independente"  do  que  se  pode  fazer.  Você
depende das decisões dos outros.

Para alguns problemas, como escolher a rota que minimiza a distância de casa para o escritório, você pode chegar a uma
solução  sem  resolver  qualquer  problema  dos  outros  ao  mesmo  tempo.  Mas  nas  grandes  avenidas  e  trajetos,  porém,  você
precisa  saber  o  que  o  outro  motorista  vai  fazer  e  você  sabe  que  um  elemento  fundamental  em  sua  decisão  é  o  que  ele
pensa que você vai fazer. Qualquer "solução" de um problema como este é necessariamente uma solução para ambos os
participantes. Cada um deve tentar ver o problema a partir do outro ponto de vista. O que a Teoria dos Jogos faz é ajudar a
identificar  este  tipo  de  situação  de  forma  prática  e  intelectual,  e  tenta  propor  uma  solução  conjunta  satisfatória  para  os
participantes racionais.

Cada um deve basear sua decisão baseando­se nas suas próprias expectativas e a dos outros. A menos que supomos que
um  jogador  simplesmente  tenha  expectativa  errada,  deve  haver  alguma  consistência,  não  apenas  nas  suas
escolhas/expectativas,  mas  nas  expectativas  dos  outros.  Por  isso  que  a  Teoria  dos  Jogos  é  o  estudo  formal  das
expectativas  racionais  e  consistentes  de  que  os  participantes  tem  sobre  as  escolhas  dos  outros.  É,  porém,  abstrato  e
dedutivo, não estudo empírico de como as pessoas tomam decisões, mas uma teoria dedutiva sobre as condições em que

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as  sua  decisão  é  considerada  "racional",  "consistente",  ou  "não­contraditória".  É  claro  que  a  definição  "racional",
"consistente" ou "não­contraditória" para decisões interdependentes é em si parte do estudo da Teoria dos Jogos.

Os  próximos  exemplos  mostrarão  como  analisar  algumas  situações  utilizando  empresas,  estratégias  e  valores  numéricos
para mostrar como a metodologia funciona.
 
[1] Choice and Consequence, Thomas Schilling, capítulo 10, What is Game Theory.

Modelos de Decisão e sua Caixa de Ferramenta Mental
 
Sabemos  que  situações  da  vida  real  nas  tomadas  de  decisões  são  frequentemente  muito  complexas.
Teorias,  em  geral,  oferecem  um  modelo  para  essa  complexidade.  Um  modelo  é  para  uma  situação  real  o
mesmo  que  um  mapa  rodoviário  é  para  a  região  que  ele  representa.  O  mapa  é  uma  simplificação,  uma
representação propositadamente estilizada que omite algumas características e destaca outras. Se tivesse
todos  os  detalhes  da  região,  estrada,  cidade  ou  bairro,  seria  tão  complicado  que  não  daria  para  entender  e  portanto  seria
inútil  como  mapa.  Similarmente,  muitos  modelos  de  decisão  são  simplificações,  mas  extremamente  eficazes  como  um
mapa. Na verdade, a complexidade é melhor entendida ao quebrar a situações em componentes básicos. 

John McMillan, no livro Games, Strategies and Managers, apresenta um bom argumento quando alguém diz que "o mundo é
muito mais complicado que os modelos". Isso é verdade devido a natureza de qualquer modelo. Um modelo não é adequado
só se ele distorcer a situação atual ao omitir algo muito crucial  [1]. O que se busca, como qualquer teoria de administração,
é encontrar principios gerais. Nenhum cenário estratégico seria capturado totalmente por um modelo, principalmente quando
existem  indivíduos  diferentes  tomando  decisões.  Se  um  argumento  não  funciona  em  um  modelo  simplificado,  então  é
provável que ele não seja válido em um modelo mais complicado. Modelar é uma forma de testar ideias ao focar cada parte
por vez. Modelar significa reduzir uma situação de interesse na sua essência. Dizer que alguma coisa funciona na prática e
não na teoria significa que ela não foi totalmente compreendida. 

Tomada  de  decisões  estratégicas  não  podem  ser  completamente  reduzidas  a  uma  ciência;  sempre  haverá  espaço  para
truques.  Um  jogador  com  malícia  irá  invariavelmente  ganhar  de  um  lógico  inocente  no  poquer.  O  pensamento  estratégico
não  vem  naturalmente,  essa  habilidade  tem  que  ser  aprendida,  praticada  e  aplicada.  Mas  é  valioso  incentivar  uma
abordagem  científica  o  quanto  conseguirmos.  Ciência  é  conhecimento  organizado,  feita  para  ser  comunicada
eficientemente:  a  ciência  das  decisões  estratégicas  pode  ser  aprendida  em  um  livro.  McMillan  cita  o  filósofo  Karl  Popper
para  afirmar  que  o  objetivo  das  ciências  sociais  é  entender  a  "lógica  de  uma  situação".  Nós  entendemos  as  ações  das
pessoas se nós vemos como essas ações são apropriadas a situação e consistentes com comportamento racional. Como
verá neste site, a Teoria dos Jogos tenta entender a lógica das interações humanas e suas respectivas decisões. 

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O papel da Teoria dos Jogos como um modelo de decisão

A Teoria dos Jogos e demais conceitos aqui apresentados oferecem alguns pedaços concretos para entender essa "lógica
de  uma  situação".  Ao  ajudar  a  pensar  sistematicamente,  nos  dão  um  atalho  para  aquilo  que  os  jogadores  habilidosos
aprenderam  intuitivamente  por  longa  e  custosa  experiência.  Evidentemente,  as  teorias  são  limitadas,  mas  representam
ferramentas  poderosas  para  ajudar  a  entender  interações  estratégicas.  Não  é  possível  oferecer  respostas  definitivas  sobre
como agir em qualquer situação, tão pouco dizer aos gerentes como tocar os negócios. Uma tomada de decisão não pode
ser  reduzida  simplesmente  em  um  programa  de  computador  ou  regrinha  de  auto­ajuda.  A  Teoria  dos  Jogos  não  elimina  a
necessidade  de  conhecimento  e  intuição  adquirida  através  de  longa  experiência,  mas  oferece  um  atalho  para  entender  os
princípios do processo de decisão. 

Gerentes habilidosos e experientes entendem estes princípios intuitivamente, mas não necessariamente de uma forma que
eles  possam  se  comunicar  seus  entendimentos  aos  outros.  Por  isso,  um  dos  maiores  benefícios  da  Teoria  dos  Jogos  é
oferecer  uma  linguagem  para  expressar  esses  princípios.  Vamos  mostrar  exemplos,  analogias,  estórias  e  "jogos­modelos"
fáceis de memorizar e compartilhar, servindo como um grande exercício no processo de tomada de decisões. Assim, todos
os  conceitos  representam  uma  forma  de  economizar  e  antecipar  experiência,  ao  tornar  possível  captar  os  princípios  do
Pensamento Estratégico. 

O grande estrategista e sua caixa de ferramenta mental

Para  cada  tipo  de  desenho  ou  pintura  existe  uma  ferramenta  adequada,  seja  lápis,  giz,  pincel  e  respectivos  formatos,
densidade  e  cores.  No  seu  kit  de  instrumentos,  o  grande  artista  sabe  escolher  qual  usar  em  cada  ocasião.  O  grande
estrategista  faz  a  mesma  coisa.  Para  cada  problema  existe  um  modelo  de  decisão  mais  adequado,  mesmo  que  use
apenas mentalmente. Aqui você vai aprender alguns deles para seu kit de pensamento, e verá os cenários de competição
e cooperação com outros olhos. 

A  Teoria  dos  Jogos  é  um  dos  modelos  de  decisão  que  potencializa  seu  pensamento  estratégico.  Ela  é  chamada  por
muitos  escritores  como  a  ciência  da  estratégia.  Em  outras  palavras,  é  sobre  antecipar  como  os  outros  vão  responder  ao
que  você  fará,  quando  simultaneamente  eles  estão  pensando  o  mesmo  sobre  você.  Na  maioria  das  vezes,  quando  você
toma  uma  decisão,  o  resultado  da  sua  escolha  depende  da  reação  dos  outros  jogadores  (concorrentes,  parceiros,  chefes),
onde cada um busca o melhor para si numa complexa relação de interdependência de estratégias similar a um jogo.

Teoria dos Jogos é um estudo sobre as tomadas de decisões estratégicas e a lógica destas interações humanas. Ela é um
grande  framework  ­  uma  caixa  de  ferramentas  com  metodologias  que  organizam  o  seu  raciocínio  ­  para  que,  junto  com
outros tradicionais modelos de decisões e conceitos de economia, você tenha um melhor pensamento estratégico.
 
[1] Games, Strategies and Managers ­ How managers can use game theory to make better business decisions, John McMillan, 1992, Oxford University Press

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O papel da racionalidade nas explicações
 
Geralmente  os  não­economistas  reclamam  dos  economistas  quando  o  assunto  é  usar  modelos  racionais  de  decisão.  Um
artigo  da  The  Economist  chamado  The  benevolence  of  self­interest  responde  a  seguinte  questão:  "Como  os  economistas
esperam ser levados a sério se o seu modelo de homem é tão patentemente inadequado? A Economia clássica assume que
as pessoas são movidas pela busca racional de auto­interesse. Mas, como todos sabem, as pessoas não são racionais e
que  muitas  vezes  agem  desinteressadamente.  Onde,  nesta  visão  do  homem  como  uma  máquina  de  calcular,  há  o
reconhecimento do dever, amor e auto­sacrifício na conduta humana?" [1].

Como  resposta,  o  autor  diz  que  primeiro  é  preciso  questionar  se  o  termo  "racional"  significa  a  mesma  coisa  para  os
economistas  e  os  críticos.  Na  economia  clássica,  dizer  que  as  pessoas  são  racionais  não  é  assumir  que  nunca  cometem
erros,  como  os  críticos  geralmente  supõe.  É  apenas  dizer  que  eles  não  fazem  erros  sistemáticos,  ou  seja,  que  não
continuam fazendo o mesmo erro várias vezes. E quando os economistas falam de auto­interesse, não se referem apenas a
satisfação  dos  desejos  materiais,  mas  a  uma  idéia  mais  ampla  de  "preferências"  que  pode  facilmente  incluir,  entre  outras
coisas, o bem­estar dos outros.

Mesmo  quando  os  termos  são  adequadamente  compreendidos,  a  "busca  racional  do  auto­interesse"  é  uma  hipótese
simplificadora.  A  questão  é  saber  se  esta  simplificação  é  útil  ou  não.  O  comportamento  humano  é  muito  complicado  para
ser analisado a ponto de gerar um padrão e sugerir generalizações sem o emprego de tais simplificações. Em quase todos
os  ramos  da  economia,  a  racionalidade  tem  sido  um  útil.  Mas  se  os  críticos  da  economia  acreditam  que  qualquer  tipo  de
análise social é possível, seria melhor dizer qual outra hipótese simplificadora eles preferem usar. Sem surpresa, eles não
apresentam um candidato plausível.

O que é racionalidade

Michael Allingham, no livro Choice Theory: a Very Short Introduction, apresenta uma visão interessante sobre racionalidade,
e a define como um padrão coerente de escolhas relacionadas a um menu de opções  [2]. Segundo ele, devemos verificar a
forma que as escolhas mudam quando o menu muda. Um menu é uma lista de itens nas quais uma escolha deve ser feita.
Um  menu  simplificado  em  um  restaurante  poderia  ser:  (1)  sanduiche  de  carne  e  (2)  sanduiche  de  frango.  Assim,  existem
quatro opções de escolha: comer nada, carne, frango ou ambos. 

Por  exemplo,  você  escolhe  o  de  carne,  e  não  há  nada  de  irracional  nisso.  Mas  quando  o  garçon  chega  para  anotar  o  seu
pedido,  ele  diz  que  também  tem  sanduiche  de  queijo.  O  efeito  desta  informação  é  que  agora  você  tem  um  menu  de  três
itens de sanduiche: (1) carne, (2) frango e (3) queijo. Daí você muda de opinião e escolhe frango. De novo, não há nada de
mais na sua escolha de frango. Mas claramente há alguma coisa inapropriada no seu padrão de escolha: sua opção mudou
quando o menu foi acrescido de um item que você não quer, o de queijo. Nesta situação, a adição de um item irrelevante
(que  você  não  quer)  não  deveria  afetar  a  sua  decisão.  Não  faz  sentido  mudar  de  opinião  entre  carne  e  frango  porque
apareceu a opção de queijo. Isso seria incoerente. Outro exemplo é um menu com sopa de aspargus, cebola e espinafre.
Você  escolhe  aspargus.  O  garçon  então  diz  que  não  tem  sopa  de  espinafre.  Daí  você  escolhe  de  cebola.  De  novo,  a
ausência de um item que você não escolheria não poderia afetar sua opção; isso seria incoerente (ou seja, seria irracional).

Em resumo, irracionalidade pode ser interpretada de várias formas e várias pessoas relacionam com emoção ao contrastar
a  racionalidade  ligada  a  razão.  Mas  para  efeito  de  padrões  de  escolhas,  irracional  é  o  comportamento  incoerente,
inconsistente  ou  ilógico  a  um  padrão  de  preferências.  Irracionalidade  não  tem  nada  a  ver  com  emoção,  intuição  ou  tomar

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uma decisão rápida sem pensar. 

No mundo dos negócios existe menos irracionalidade

Anthony Kelly, no livro Decision Making using Game Theory, embora admitindo que muitas vezes o comportamento humano
é  puramente  emocional,  defende  que  premissa  da  racionalidade  nos  modelos  de  decisão  ainda  é  válida.  No  meio  dos
negócios, há um tipo de seleção natural que induz sucessivas gerações de tomadores de decisão a serem mais racionais,
baseado  no  fato  que  as  organizações  que  selecionam  estratégias  sub­ótimas  eventualmente  desaparecem  frente  aos
competidores [1]. 

No  mundo  atual,  os  executivos  são  bem  formados,  treinados  e  possuem  grande  conhecimento  e  experiência  sobre  os
impactos das ações nos negócios. Não há motivo para ser irracional quando não se maximiza seus resultados. O que pode
acontecer  é  que  as  percepções  entre  os  jogadores  sobre  os  payoffs  são  diferentes,  o  que  não  tem  nada  a  ver  com  a
racionalidade e sim a metodologia do cálculo. O executivo pode ser racional e fazer a conta errada. Ainda, o seu adversário
pode ter preferências diferentes e disposição a risco de forma distinta, então ele reage a um cenário de forma alternativa a
você.  Portanto,  o  desafio  está  em  entender  as  preferências  de  todos  os  jogadores  e  assim  agir  racionalmente  em
função  disso.  Você  entra  em  um  jogo  para  maximizar  seu  lucro,  achando  que  seu  adversário  deseja  o  mesmo,  entretanto
ele faz reações para maximizar o market­share, e não lucro como você tinha imaginado. Não há nada de irracional das suas
decisões e objetivos, tão pouco nas decisões e objetivos dele. 

Se um indivíduo escolhe uma alternativa aparentemente louca, é porque fez uma seleção com base numa crença irracional.
Portanto, o que é irracional é a crença, e não o critério e método de seleção, vale manter a premissa do modelo racional de
decisão.  Assim,  definir  a  irracionalidade  com  base  no  resultado  ou  na  ação  é  no  mínimo  suspeito  pois  é  incompleto.  Na
verdade,  seria  extremamente  racional  se  fingir  irracional  se  isso  fizer  parte  do  jogo  para  atingir  o  seu  objetivo.  Como  todo
jogo, os jogadores devem tentar antecipar e conhecer o adversário para prever este tipo de movimento. 

Na definição da Teoria dos Jogos, um jogador racional é aquele que 1) avalia os resultados, no sentido de ranquea­los em
ordem  de  preferência,  (2)  calcula  os  caminhos  para  os  resultados  para  entender  quais  ações  levam  aos  respectivos
resultados e (3) seleciona ações entre um conjunto de alternativas que levam aos resultados de maior preferência, dada as
reações  dos  outros  jogadores.  Em  resumo,  o  racional  é  aquele  visualiza  as  alternativas  possíveis  e  escolhe  aquela  que
melhor  serve  os  seus  propósitos.  Seu  objetivo  é  ganhar  um  jogo,  mas  quando  joga  contra  seu  filho,  você  deseja  perder.
Assim,  você  escolhe  movimentos  adequados  para  seu  objetivo  e  deixar  seu  filho  ganhar.  Você  foi  racional  porque  fez  as
ações coerentes e atingiu seu objetivo. 

A explicação racional sobre o irracional

Você  já  deve  ter  lido  vários  artigos  sobre  decisões  baseadas  na  emoção,  intuição,  feeling,  entre  outros
adjetivos  contrários  a  racionalidade.  Muitos  dizem  que  isso  é  positivo,  pois  a  mente  humana  não  é  muito
lógica  e  algumas  boas  decisões  não  nascem  da  razão.  Outros  dizem  que  a  emoção  é  ruim,  pois  induz  a
decisões sub­ótimas e que precisamos calcular e ponderar situações racionalmente com pros e contras.

Como  vimos  aqui,  não  devemos  confundir  o  conceito  de  racionalidade  e  não  vamos  negar  o  poder  a  intuição  em  algumas
tomadas de decisão, como bem explica Malcolm Gladwell no livro Blink ­ A decisão num piscar de olhos [4]. Mas tenho uma
constatação  interessante  e  um  pouco  curiosa:  todas  as  publicações  sobre  o  assunto  apresentam  argumentos  racionais

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para  explicar  o  comportamento  irracional.  Não  poderia  ser  diferente,  se  você  quer  explicar  algo  que  faça  sentido  a
alguém, você recorre a lógica e argumentação coerente [5].

Veja  um  exemplo.  Você  acompanha  um  incêndio  numa  casa  do  seu  bairro  e  fica  aterrorizado,  achando  que  poderia
acontecer  na  sua  também.  Não  é  racional  pensar  assim  pois  é  muito  raro,  estatisticamente,  ocorrer  incêndios,  ainda  mais
no  seu  bairro.  As  pessoas  tendem  a  superestimar  a  ocorrência  de  eventos  improváveis  se  as  lembranças  associadas  aos
mesmos forem particularmente dramáticas e, portanto, mais fáceis de lembrar. Como no exemplo, se você vir uma casa em
chamas,  aumenta  sua  crença  de  que  tal  acidente  ocorrerá  com  muito  mais  frequência  do  que  simplesmente  lesse  uma
matéria de jornal a respeito de um incidente em uma residência qualquer e longe. 

Os cientistas acharam uma explicação lógica para esse fenômeno emocional ­ entre os viéses da heurística, aplica­se aqui
o viés da disponibilidade ou da facilidade de lembrança,  quando  os  indivíduos  julgam  que  os  eventos  mais  facilmente
recordados  na  memória,  com  base  em  sua  vividez  ou  ocorrência  recente,  são  mais  numerosos  do  que  aqueles  de  igual
frequência  cujos  casos  são  menos  facilmente  lembrados.  Algo  fácil  de  lembrar  parece  ser  mais  numeroso  do  que  algo
menos fácil de lembrar [6] [7]. Essa é uma boa explicação racional. Então qual seria a explicação emocional? 

O  que  buscamos  nos  argumentos  para  explicar  o  mundo  são  certos  padrões  de  causa  e  efeito.  Padrão  garante
previsibilidade  e  previsibilidade  garante  explicação  ou  predição.  Essa  é  a  essência  de  todo  modelo  econômico,
psicológico,  sociológico  ­  explicar  o  passado  e  prever  o  futuro  de  forma  coerente  e  lógica  ­  sobre  qualquer  fenômeno  ou
atitude, seja racional ou emocional. Embora a mente humana seja bastante complexa, as teorias econômicas são baseadas
em  conceitos  abstratos  e  racionais  para  poder  se  comunicar  de  forma  eficiente  e  gerar  mais  conhecimento.  A  função  de
uma teoria ou modelo é criar um framework organizado e disciplinado para comunicar uma idéia e explicar ou prever algum
comportamento.
 
[1] The benevolence of self­interest, The Economist, 1998 (não cita autor no site), link http://www.economist.com/node/179495

[2] Choice Theory: a very short introduction, Michael Allingham, 2007, Oxford University Press

[3] Decision Making using Game Theory, Anthony Kelly, 2004, Cambridge University Press

[4] Blink ­ A decisão num piscar de olhos, Malcolm Gladwell, Editora Rocco

[5] Neste site vamos usar as palavras "racional" e "lógico" sem distinção, considerando que racional é usar um padrão coerente de pensamento. 

[6] Heurísticas e Vieses de Decisão: a Racionalidade Limitada no Processo Decisório, Macedo, Oliveira, Alyrio, Andrade. Universidade Federal Rural do Rio

de Janeiro

[7] Negociando racionalmente, Max H. Bazerman, 1994, Editora Atlas. Em outro exemplo, pesquisadores perguntaram a dois grupos que ouviram diferentes

nomes de pessoas famosas se as listas tinham mais nomes de homens ou de mulheres. Uma das listas continha mais nomes de homens, mas as mulheres

presentes na lista eram comparavelmente mais famosas. A outra lista continha mais nomes de mulheres, mas os homens da lista eram comparavelmente

mais famosos. Em ambos os casos, os grupos advinharam incorretamente que as listas tinham mais nomes do mesmo sexo das pessoas mais famosas.

Vamos sistematizar o intuitivo
 
Nossa  vida  é  recheada  de  insights  que,  de  repente,  nos  fazem  ver  uma  situação  de  forma  diferente.  Como
exemplo, ocorreu comigo ao aprender o conceito de Sunk Cost em Economia. Sunk cost ­ custos afundados ou
irrecuperáveis ­ são aqueles gastos já realizados que não podem ser mais recuperados. Como moral da estória,
os custos do passado não devem ser considerados nas decisões sobre o futuro.

Isso  abriu  meus  olhos  na  hora  de  tomar  uma  decisão  e  incorporei  o  conceito  no  meu  framework  de  pensamento.  Agora

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não  fico  mais  com  "peso  na  consciência"  ao  sair  no  meio  de  um  filme  chato  só  porque  eu  paguei  um  ingresso  caro.
Assistindo  tudo  ou  saindo  do  cinema,  eu  não  vou  receber  o  dinheiro  de  volta  de  qualquer  maneira  ­  é  sunk  cost,  dinheiro
perdido,  custo  afundado.  No  momento  da  decisão  (ficar  ou  sair  do  filme),  o  que  importa  são  as  alternativas  que  me  darão
mais satisfação a partir daí (futuro): terminar o filme, voltar para casa mais cedo, visitar uma loja que não daria tempo se
ficasse no cinema, tomar sorvete, etc. 

Este e outros conceitos de economia, estratégia e teoria das decisões são uma espécie de regras de ouro  na  minha  caixa


de  ferramenta  mental.  Em  geral,  conceitos  simples  e  bem  definidos  estruturam  as  tomadas  de  decisão  de  forma  mais
rápida,  servem  como  atalho  mental  e  viram  os  conselheiros  internos  que  possibilitam  retransmitir  as  dicas  de  forma  mais
didática. No caso do cinema, o conselho é simples: se o filme está chato e você tem coisa melhor a fazer no lugar dele, é
perfeitamente racional sair no meio.  Afinal,  sunk  cost  não  influencia  a  decisão  futura;  não  fique  preso  a  sua  decisão  do
passado. 

Entretanto,  a  analogia  acima  serve  para  ilustrar  como  incorporar  conceitos  no  seu  raciocínio,  mas  não  é  um  exemplo  de
decisão "estratégica", pois como a maioria dos conselhos de Economia e Teoria das Decisões, se referem a situações com
escolhas  isoladas  e  independentes.  Com  o  Pensamento  Estratégico  e  a  Teoria  dos  Jogos  a  situação  é  diferente,  mais
complexa  e  intelectualmente  desafiadora,  pois  envolvem  cenários  em  que  o  resultado  das  suas  decisões  é  afetado  pelas
decisões dos outros, numa interdependência igual a um jogo. 

Ah, agora faz sentido

Vamos  ajudar  seu  raciocínio  estratégico  basicamente  oferecendo  elementos  para  sua  caixa  de  ferramental  mental,  com
vários exemplos fáceis de serem lembrados e incorporados no dia a dia nas tomadas de decisão. Você verá que a maioria
dos  conceitos  ensinados  são  intuitivos,  em  muitos  casos  você  pensará  "ah...  isso  eu  já  sabia,  mas  interessante  olhar  por
este aspecto". O que faremos, na verdade, é sistematizar o intuitivo em um formato bem mais fácil de analisar e recordar.
Como  estamos  falando  de  decisões  entre  indivíduos  em  situações  similares  a  um  jogo,  muitas  vezes  relacionadas  ao
cotidiano, um dos grandes benefícios desta nova forma de pensar é entender a lógica das interações humanas. 

Para  conseguir  organizar  a  sua  intuição  e  seu  raciocínio  sobre  as  interações  humanas  visando  um  melhor  pensamento
estratégico,  a  Teoria  dos  Jogos  é  a  linha  mestre  de  todos  os  conceitos,  mas  para  ser  mais  aplicado  na  vida  real  é
necessário  incorporar  três  outras  teorias  ­  a  Economia  Clássica,  a  Economia  Comportamental  e  a  Teoria  das  Decisões.
Todas essas ferramentas estarão permeam as discussões estratégicas. 

Tanto  a  Teoria  dos  Jogos  como  a  Economia  possui  uma  matemática  avançada  para  explicar  os  seus  conceitos.  Não
usaremos fórmulas nesta abordagem, para isso existem livros­textos para graduação ou pós­graduação em que o leitor mais
avançado  pode  consultar.  Nossa  metodologia  é  converter  os  conceitos  em  jogos­modelos,  estórias  e  analogias.  Estes
são poderosos recursos para explicar os conceitos e propiciar o leitor duas vantagens ­ memorizar e transmitir para outros. 

Nosso tema unificador

No livro SuperFreakonomics, Steven Levitt e Stephen Dubner relatam que o primeiro livro (Freakonomics)
não tinha um "tema unificador" e que o livro era apenas uma coletânea de casos. Após feedbacks, eles
perceberam  que  existia  sim  um  tema  unificador:  as  pessoas  respondem  a  incentivos.  De  fato,  ambas
publicações  abordam  vários  exemplos  de  incentivos  não  óbvios  e  respectivos  comportamentos  na  vida

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real.

Qual  o  meu  tema  unificador  neste  site?  Usando  Teoria  dos  Jogos,  Economia,  Estratégia  e  Teoria  das  Decisões  vamos
estudar  os  comportamentos  humanos  e  entender/prescrever  o  que  está  por  trás  das  decisões  das  pessoas.  Por  exemplo,
fazendo analogia com Dilema dos Prisioneiros, a Teoria dos Jogos explica porque as pessoas buscam a cooperação e não
conseguem, a implicações numa guerra de preços entre empresas, quando dar gorgeta em um restaurante e o papel da Lei
Cidade Limpa em São Paulo. 

Os  jogos­modelos,  como  o  Dilema  dos  Prisioneiros,  Tragédias  do  Comuns,  Jogo  do  Ultimato,  o  Stag  Hunt,  Maching
Pennies, etc, e seus conceitos de Equilibrio de Nash, Backward Induction, etc, tornam uma situação mais clara, facilitam a
comunicação numa mesma linguagem e ajudam memorizar os conceitos.

No  dia  a  dia,  para  tomar  uma  decisão,  os  gerentes  usam  simultaneamente  vários  conceitos  (por  exemplo:  Sunk  Cost,
Utilidades  Esperadas,  Ranking  de  Prós  e  Contras,  Trade­off,  Custo  de  Oportunidade,  Custo  e  Benefício  Marginal,  Valor
Presente). Vamos incluir os conceitos das decisões interativas (ou estratégicas) na sua "caixa de ferramenta de decisões",
fornecendo  conceitos  palpáveis  para  um  raciocício  racional  estruturado.  Concluindo,  nosso  objetivo  aqui  é  propiciar
elementos  para  melhorar  o  seu  Pensamento  Estratégico  através  de  estórias  e  analogias  usando  conceitos  da  Teoria  dos
Jogos,  Economia  Comportamental  e  Estratégia.  Representam  um  complemento  intelectual  nas  tomadas  de  decisão,
especialmente em situações onde as decisões e resultados dos vários jogadores são interligados entre si.

A  Teoria  dos  Jogos  é  um  grande  exercício  de  pensamento  estruturado,  é  um  pensar  diferente  sobre  os  cenários  da  vida.
Como diz John Elster em Explaining Social Behavior "Teoria dos Jogos ilumina a estrutura das interações sociais. Uma vez
que você vê o mundo através das lentes da Teoria dos Jogos ­ ou ´teoria das decisões interdependentes´, como deveria ser
chamada ­ nada mais parece o mesmo".
 
[1] Explaining Social Behavior: More Nuts and Bolts for the Social Sciences, John Elster, 2007, Cambridge University Press

Visualize adiante, Raciocine para trás
 
Os exemplos citados até agora, como o Dilema da Ponte, o Dilema do Vagão de Trem, Garrincha e os Russos, entre outros,
foram analogias e histórias para criar uma visão geral de uma "situação estratégica" ou "decisão estratégica". Agora vamos
mostrar  uma  metodologia  para  ajudar  a  entender  a  lógica  da  situação  e  tomar  a  melhor  decisão  possível.  Para  isso,  é  um
pouco mais didático usar um jogo fictício e simples. 

O Jogo da Direita e Esquerda

Imagine  um  jogo  onde  você  joga  primeiro  e  depois  seu  adversário.  Você  tem  duas  opções  de  movimento  ­  esquerda  ou
direita.  Posteriormente,  seu  concorrente  também  tem  duas  opções  de  reação  ­  esquerda  e  direita.  Dependendo  das
decisões,  vocês  vão  ganhar  uma  quantia  de  balas,  figurinhas,  dinheiro,  mas  vamos  chamar  de  "pontos".  O  objetivo  de
vocês é ganhar o máximo possível. O jogo tem apenas uma rodada. 

• Se você escolher esquerda, e seu colega esquerda, você ganha 12 e ele 8 pontos
• Se você escolher esquerda, e seu colega direita, você ganha 5 e ele 10 pontos
• Se você escolher direita, e seu colega esquerda, você ganha 8 e ele 20 pontos

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• Se você escolher direta, e seu colega direita, você ganha 10 e ele 2 pontos

Agora é sua vez. Qual a sua decisão (esquerda ou direita) que maximiza o seu resultado? Olhando rapidamente a possível
pontuação acima, você poderia dizer que prefere Esquerda para ganhar 12 pontos. Mas lembre­se que esta é uma situação
estratégica,  onde  a  sua  ação  gera  uma  reação  e  o  resultado  depende  da  combinação  das  duas  decisões  ­  sua  e  do  seu
adversário. 

Para  melhor  entender  este  jogo  (ou  qualquer  outro)  é  muito  mais  fácil  contar  com  uma  ajuda  visual  ­  uma  árvore  de
decisões. Na Figura 1 abaixo, vemos o mesmo jogo em um formato gráfico.

Figura 1

Há  alguns  elementos  básicos  importantes.  Primeiro,  existem  dois  jogadores  (você  e  seu  adversário).  Segundo,  você  tem
duas  alternativas  (esquerda  ou  direita),  bem  como  seu  adversário.  Terceiro,  você  joga  primeiro,  depois  seu  adversário.
Assim,  quando  ele  jogar  você  já  terá  decidido  sua  opção  e  ele  saberá  disso.  Quatro,  para  cada  combinação  de  ações  (no
caso, quatro resultados possíveis) existem os ganhos (ou pontos). Por último, admite­se que você e seu adversário querem
ter  o  maior  resultado  possível.  Note  que  no  lugar  de  Esquerda­Direita  poderia  ser  Aumentar­Abaixar  Preço;  no  lugar  de
Pontos, poderia ser Lucro, Receita, Market­Share, etc. Um modelo gráfico ajuda a entender os retornos para cada decisão e
também ajuda a se comunicar de forma mais efetiva.

Portanto,  qual  a  melhor  decisão?  O  grande  conselho  para  decidir  sua  opção  é  a  Regra  Número  1  da  Estratégia  segundo  a
Teoria dos Jogos. Esta regra (em inglês Look Forward e Reason Backward) também é conhecida como Indução  Retroativa
(Backward Induction) e o conceito é bem simples. 

REGRA 1: VISUALIZE ADIANTE E RACIOCINE PARA TRÁS 

Note na Figura 2 os quatro possíveis finais (nós 4,5,6 e 7). Para o seu adversário, se você escolher Esquerda, no nós 2 ele
tem  duas  opções  ­  a  Esquerda  gera  8  pontos  para  ele,  e  a  Direita  gera  10  pontos  para  ele.  Idem  do  outro  lado,  caso  você
escolha Direita, ele tem duas opções ­ a Esquerda gera 20 pontos para ele, e a Direita gera 2 pontos para ele. Assim, você
precisa usar a regra número 2.

REGRA 2: COLOQUE NO LUGAR DO SEU ADVERSÁRIO 

Neste  caso,  seu  adversário  no  nó  2  quer  maximizar  o  resultado,  e  vai  escolher  Direita  pois  10  pontos  é  maior  do  que  8
pontos. No nó 3, ele vai escolher Esquerda porque 20 é maior do que 2. 

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Figura 2

Com  este  conceito  de  indução  retroativa,  agora  o  cenário  está  mais  reduzido  pois  você  raciocinou  quais  ações  seu
adversário irá tomar de forma racional querendo maximizar os resultados. Assim, na Figura 3 o novo jogo na sua etapa de
decisão.  Você  sabe  que  se  escolher  Esquerda  ele  vai  escolher  Direita,  então  você  vai  ganhar  5  pontos.  Se  você  escolher
Direita seu adversário vai escolher Esquerda, então você vai ganhar 8 pontos. 

Figura 3

Assim,  ao  visualizar  adiante  e  raciocinar  para  trás,  sua  decisão  é  mais  simplificada.  Direita  ganha  5,  Esquerda  ganha  8.
Uma  vez  que  você  quer  ter  o  maior  resultado  possível,  você  deve  escolher  por  Esquerda,  uma  vez  que  8  é  maior  que  5
pontos. A Figura 4 mostra o resultado do jogo.

Figura 4

Como  conclusão,  quando  você  encontrar  situações  estratégicas  semelhantes,  usar  o  Modelo  1  (Indução  Retroativa:
Antecipando as Reações do Rival) é a melhor estratégia. Você deve saber quais são as suas opções, as alternativas do seu
concorrente, os resultados de cada combinação e exatamente o que vocês estão tentando maximizar (ganhar).

Você deve ter percebido que, uma vez que a pontuação é esta e seu adversário quer maximizar os ganhos dele, você nunca

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irá conseguir os 12 pontos do nó 4, que teoricamente seria o seu maior valor. Mas os seus 8 pontos do nó 6 representa a
melhor  alternativa  possível.  Ainda,  você  pode  ficar  incomodado  pelo  ser  adversário  conseguir  o  melhor  valor  dele  (20
pontos) e muito melhor que o seu. Mas isso é a dinâmica de como os pontos são distribuídos antes das decisões. Você até
pode  escolher  uma  estratégia  sub­ótima  (escolher  Direita)  para  que  seu  adversário  ganhe  menos,  mas  neste  caso  você
também ganharia menos. 

Seria correto dizer que, na prática, as pessoas e empresas não fazem este mapeamento de forma rigorosa e racional, mas
o  modelo  simples  e  didático  ajuda  a  transmitir  valiosos  conceitos,  como  entender  a  situação  como  um  todo,  visualizar  os
incentivos  de  cada  jogador  e  seus  respectivos  ganhos  e  principalmente  forçar  o  seu  raciocínio  para  colocar­se  na  posição
do outro e antecipar reações antes de tomar decisões apressadas. Alguns outros exemplos serão dados a seguir.
 

Exemplo 1: Construir um edifício mais alto?
 
O  Sears  Tower  (hoje  chamado  Willis  Tower)  em  Chicago  é  um  dos  prédios  mais  altos  nos  Estados
Unidos [1].  Isso  dá  ao  edifício  um  status  especial  de  prestígio,  permitindo  aos  seus  proprietários
estabelecer  valores  de  aluguel  mais  elevados  do  que  outros  escritórios  semelhantes.  Suponha  que
uma nova empresa (que vamos chamar de "Entrante") esteja pensando em construir um edifício ainda
mais alto. Considere também que a empresa que tenha o edifício mais alto dos EUA ganhe um grande
lucro, diminuindo o dos demais. Entretanto, o Sears (ou algum outro concorrente) pode construir outro
prédio ainda mais alto, o que diminuirá substancialmente o retorno/lucro deste Entrante.

Didaticamente, este jogo é chamado de "jogo seqüencial" porque o Entrante escolhe em primeiro lugar, e o Sears saberá a
escolha  do  concorrente  antes  de  fazer  sua  decisão.  O  jogo  pode  ser  modelado  em  uma  árvore  de  decisão  mostrada  na
figura 1, que mostra todas as opções possíveis e os resultados de cada opção. Para facilitar a explicação, para cada passo
do jogo existe um número que representa um "nó". 

 Figura 1

Você  pode  ver  que  o  Entrante  (nó  1)  deve  decidir  entre  Entrar  e  Não  Entrar  nesse  mercado,  ou  seja,  construir  uma  torre
mais  alta  ou  não.  Se  escolher  Não  Entrar,  o  jogo  termina  no  nó  2.  Se  escolher  Entrar,  então  o  Sears  (nó  3)  tem  duas
opções, Não Construir (nó 4) ou Construir um prédio maior (nó 5).

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Os resultados em termos matemáticos (utilidades, pontos, dinheiro) são necessários para que os jogadores tomem as suas
decisões. Se Entrante não entrar, nada muda na situação atual ­ Sears recebe uma recompensa de 100, e o Entrante recebe
zero  (nó  2).  Se  o  Entrante  entrar  e  Sears  não  competir  pela  construção  de  uma  torre  ainda  maior,  então  Entrante  tem  a
vantagem  e  captura  uma  recompensa  de  60,  enquanto  Sears  recebe  40  (nó  4).  Se  o  Sears  construir  um  prédio  mais
elevado, então o Entrante perde dinheiro com um resultado de ­50 e Sears obtem 30 (nó 5).

O Sears naturalmente quer que o Entrante não entre no mercado porque obtem o resultado de 100 (nó 2), mas esta decisão
depende apenas do Entrante. Como é que o Entrante deve decidir?

Como vimos, ele deve usar o conceito de indução retroativa (backward inducton). O que chamamos de Regra 1, Visualizar
adiante, Raciocinar para trás, também é denominada por alguns autores como "Mire no Futuro e Raciocine com o Passado".
Assim,  de  trás  para  frente,  olhando  para  as  escolhas  possíveis  do  Sears  (última  etapa),  e  assumindo  que  o  Sears  quer
maximizar o seu retorno, o Sears vai preferir não construir um edifício maior, porque o retorno de 40 (não construir) é maior
do que 30 (construir). O Entrante sabe que Sears vai pensar dessa maneira, então se escolher entrar, o seu resultado será
de  60  (nó  4).  Em  seguida,  o  Entrante  sabe  que,  se  escolher  Não  Entrar  (outro  ramificação),  ele  vai  ficar  com  zero.  Se
escolher  Entrar,  ele  vai  ficar  60.  Consequentemente,  o  Entrante  vai  preferir  Entrar  e  construir  uma  torre.  O  resultado
esperado é o nó 4.

Figura 2

Note que neste modelo existem muitas simplificações, uma vez que há muito mais alternativas na vida real. Por exemplo, o
Entrante  poderá  construir  um  prédio  pequeno,  ou  Sears  poderia  construir  outra  torre  mesmo  que  o  Entrante  não  entre,  ou
pode construir um pequeno edifício se o Entrante se entrar.

No entanto, esta simplificação é útil para explicar a dinâmica da Teoria dos Jogos na construção de cenários e como
tomar decisões neste tipo de análise:
    ­ os jogadores possuem várias opções a decidir
    ­ para cada combinação de decisões há um resultado (lucro, receita ou qualquer utilidade)
    ­ os jogadores querem maximizar o resultado (dizemos que eles são "racionais")
    ­ todos conhecem as opções e o resultado de cada combinação (o chamado "conhecimento comum")
        ­  uma  vez  que  há  uma  sequência  de  decisões  (um  espera  o  outro  escolher  a  opção),  via  indução  retroativa  é  fácil

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descartar as possibilidades, nó a nó, e entender a melhor opção de cada jogador
    ­ desta forma, o equilíbrio é o resultado final neste raciocínio.
 
[1] Baseado em exemplo no livro Microeconomics and Behavior, de Robert Frank, com alterações.

Exemplo 2: Construir uma nova fábrica?
 
Considere  um  duopólio  no  mercado  químico  em  que  dois  concorrentes,  Chemco  e  Matco,  precisam  decidir  sobre  a
construção  de  uma  nova  fábrica  [2].  Não  está  claro  qual  será  o  primeiro  a  chegar  a  uma  conclusão,  mas  por  simplicidade
vamos supor Chemco irá decidir primeiro. O objetivo de cada empresa a longo prazo é maximizar os lucros, de modo que os
resultados (payoffs) na árvore de decisão representam cálculos de valor presente líquido (VPL), na figura 1. Neste exemplo,
se nenhum deles construir uma nova fábrica, cada jogador deve ganhar uma VPL de 100 (nó 4).

 Figura 1

Usando o conceito de indução retroativa (backward induction), Chemco deve olhar para a frente e raciocinar para trás a
fim de tomar sua decisão. 
• Se Chemco constuir uma nova fábrica, os payoffs sugerem que Matco não deve construir (pois 80 é melhor que 70). Estas
decisões farão Chemco ganhar 125 e Matco receber 80 (nó 6).
• Se Chemco decidir não construir a usina, Matco deve optar por construir no lugar (pois 115 é melhor que 100). Assim os
resultados de Chemco e Matco serão 80 e 115, respectivamente (nó 5).

Chemco  sabe  todos  os  resultados  e  a  reação  de  Matco  em  cada  momento  de  decisão.  Portanto,  entre  ganhar  115  (se
escolher  Construir)  e  80  (se  escolher  Não  Construir),  a  opção  dele  é  Construir.  O  resultado  do  jogo  é  o  nó  6:  Chemco
constrói, Matco não constrói. 

Os  incentivos  (payoffs)  na  árvore  de  decisão  mostra  também  que,  embora  seja  rentável  para  uma  nova  fábrica  a  ser
construída  no  setor,  duas  novas  fábricas  vão  levar  ao  excesso  de  capacidade,  consequente  desconto  de  preços  e  lucros
mais baixos para ambos os jogadores (nó 7).

Que visões estratégicas podem ser aprendidas com este exercício? Primeiro, ele ilustra a vantagem competitiva em ser o
primeiro  no  jogo  (first­mover  advantage).  Ao  fazer  a  decisão  de  construir  e  se  comprometer  com  a  planta  nova  antes  de
Matco, Chemco influencia os incentivos de Matco para evitar um resultado sombrio se ambos decidirem por novas plantas.

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Ele também demonstra simetria da vantagem do primeiro jogador: Matco também tem seus próprios incentivos para mover
primeiro.  Redesenhando  o  jogo  com  Matco  em  primeiro,  na  figura  2,  o  equilíbrio  será  o  nó  6  (Matco  contrói,  Chemco  não).
Isso sugere que, no primeiro jogo, Chemco deve se comprometer com muita credibilidade, talvez através dos tijolos reais e
argamassa para nova capacidade assim que possível. Caso contrário, Matco resolverá construir a planta. 

 Figura 2
 
[2] Baseado no artigo Games Managers Should Play, Hugh G. Courtney, Mckinsey Quarterly, 2000, com alterações

Recapitulação
 
Em uma situação estratégica sequencial, quando existe um jogador que primeiro toma uma decisão para depois o segundo
jogador  fazer  seu  movimento,  a  Indução  Retroativa  é  uma  ferramenta  bastante  apropriada  para  identificar  qual  será  o
resultado  do  jogo  e  ajudá­lo  a  tomar  a  decisão  que  maximiza  o  seu  ganho.  Neste  sentido,  duas  regrinhas  são  importantes
para ter em mente:

• Regra 1: VISUALIZE ADIANTE E RACIOCINE PARA TRÁS 
• Regra 2: COLOQUE NO LUGAR DO SEU ADVERSÁRIO 

Como essas duas regras você consegue entender as possíveis reações do seu rival antes de agir, possibilitando o melhor
resultado  para  você.  Um  formato  gráfico  como  uma  árvore  de  decisão  é  muito  útil  para  visualizar  todas  a  situação
estratégica, mapeando:

• Quem são os jogadores
• Quem joga primeiro
• Quais as opções de cada um
• Qual o resultado para cada combinação de decisões

Outras características importantes nestes cenários são:

• Todos os jogadores sabem as mesma coisa ­ quais as opções e resultados do adversário ­ chamamos de "conhecimento
comum"
•  Todos  os  jogadores  querem  maximizar  a  pontuação  (utilidades,  dinheiro,  satisfação)  e  portanto  tomam  a  melhor  decisão

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para isso ­ chamamos de "racionais"

Existem alguns questionamentos e limitações para o uso desta metodologia (mapear o jogo e usar a indução retroativa). A
primeira delas é que nenhuma situação estratégica é tão simples como nos exemplos dados ­ com apenas dois jogadores,
duas  ou  três  alternativas,  onde  todos  os  jogadores  possuem  conhecimento  comum  e  são  racionais.  Como  resposta,
poderíamos  dizer  que  a  utilidade  deste  raciocínio  simplificador  é  a  mesma  de  todos  os  outros  modelos  econômicos  ­  ao
simplificar para comunicar, conseguimos extrair a essência do jogo para obter insights relevantes para a tomada de decisão.
Outro  grande  benefício  é,  independente  de  mapeamento  formal  em  uma  árvore  de  decisão,  é  forçar  a  sua  mente  para  se
colocar na posição do outro, ver o cenário com outros olhos, para depois tomar uma decisão mais deliberada.

A segundo crítica é que nem sempre os ganhos que você está pensando são os mesmos que o seu rival quer atingir. Por
exemplo, você pode mapear uma situação entendendo que o lucro é o resultado monetário para considerar no jogo, mas na
verdade  seu  concorrente  está  preocupado  em  maximizar  o  market­share,  tomando  decisões  diferentes.  Este  é  mais  um
motivo  para  você  se  colocar  na  posição  do  outro  e  entender  os  reais  incentivos  do  seu  concorrente,  o  que  é  assunto
específico para o próximo capítulo.
 

Entendendo os incentivos e motivações
 
Os bastidores das negociações

Para ser efetivo nas suas decisões estratégicas envolvendo a previsão das reações do concorrente, você precisa entender
os reais desejos da outra parte. Um exemplo interessante é dado por Max Bazerman, no livro O Gênio da Negociação[2].

Ele conta a história de uma empresa americana que queria comprar ingrediente para um novo produto do mercado de saúde
de uma pequena empresa européia. A oferta foi financeiramente alta, mas a empresa européia recusou pois não aceitava a
cláusula de acordo de exclusividade. Não importava o preço alto para um volume alto. Exclusividade, não. Por outro lado, a
empresa  americana  não  queria  investir  em  um  produto  cujo  principal  ingrediente  pudesse  ser  facilmente  adquirido  por
concorrentes.

Foram muitas e muitas conversas e rodadas de negociação por executivos competentes e experientes. Mas parecia que o
impasse seria irreconciliável e a relação começou a se deteriorar. Um novo negociador foi enviado para a Europa e fez uma
simples  pergunta:  por  que?  Por  que  não  garantir  exclusividade  se  fosse  comprada  toda  a  produção?  Como  conta
Bazerman, a resposta surpreendeu os americanos: se o dono desse exclusividade, estaria desrespeitando um acordo com
um  primo,  que  comprava  pouquíssimo  para  um  produto  local.  Não  era  uma  questão  econômica,  e  sim  uma  questão  de
lealdade em família. 

Com  essa  informação,  o  acordo  foi  rápido:  exceto  aquele  volume  ao  primo,  todo  o  resto  seria  de  exclusividade  para  a
empresa americana. Isso parece óbvio, mas durante as negociações, sem entender realmente o que motivava as empresas,
nada  era  óbvio.  A  empresa  americana  achava  que  a  empresa  européia  simplemente  estava  criando  dificuldades.
Negociações  da  vida  real  chegam  a  impasses  por  falta  deste  entendimento  das  reais  motivações  e  o  esquema  de
incentivos. 

O Dilema da escola infantil

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Imagine  ser  o  administrador  de  uma  escola  infantil.  Sua  política  divulgada  aos  pais  é  a  de  que  as  crianças  devem  ser
apanhadas às 16h. No entanto, com frequência os pais se atrasam. O resultado é que no final do dia você precisa lidar com
algumas crianças ansiosas e um professor forçado a es perar que os pais apareçam, pagando hora extra. O que fazer? 

Esta  história  é  contada  por  Steven  Levitt  and  Stephen  J.  Dubner  no  livro  Freaknomics  sobre  algumas  creches  em  Haifa,
Israel[2]. Para resolver esse problema, uma dupla de economistas sugeriram multar os pais atrasados. Afinal, por que teria a
escola  que  cuidar  dessas  crianças  gratuitamente?  Fizeram  um  estudo  com  duração  de  20  se manas,  mas  a  multa  não  foi
introduzida de imediato. Durante as primeiras quatro semanas, os economistas simplesmente calcularam o número de pais
que se atrasavam.

Em média, ocorriam oito atrasos por semana em cada uma das creches. Na quinta semana, a multa foi introduzida. Avisou­
se  aos  pais  de  que  qualquer  atraso  superior  a  dez  minutos  seria  punido  com  o  pagamento  de  $3  por  criança  e  a  multa
adicionada  a  mensalidade,  em  tomo  de  $380.  Depois  da  adoção  da  multa,  o  número  de  atrasos  logo  ...  aumentou.  Em
pouco tempo já somavam 20 por semana, mais que o dobro da média original. O tiro saíra pela culatra. 

Você provavelmente já concluiu que a multa de $3 era sim plesmente pequena demais. A esse custo, um pai ou mãe de um
só  filho  podia  se  dar  ao  luxo  de  se  atrasar  diariamente  pagando  apenas  $60  extras  todo  mês  ­  um  sexto  da  mensalidade
básica. Conside rando­se o salário de uma babá extra para buscar os filhos, esse preço é bem barato. E se a multa fosse de
$100 em lugar de $3? Certamente teriam fim os atrasos, embora isso também fosse gerar um bocado de má­vonta de.

Mas a multa das escolas envolviam um outro problema, mais grave: incluíram um incentivo econômico (os $3) no lugar do
antigo o incentivo moral, que era a su posta culpa dos pais quando se atrasavam. Por apenas alguns dóla res diários, os pais
podiam  se  isentar  dessa  culpa.  Além  disso,  o  baixo  valor  da  multa  sugeria  aos  pais  que  o  atraso  para  buscar  as  crianças
não era algo tão grave assim. Se o problema resultante para a creche do atraso dos pais equivalia a apenas $3, para que se
preocupar em interromper outros compromissos de lazer ou chatear o chefe por sair correndo de uma reunião? 

Este é um exemplo simples de que como incentivos errados geram reações indesejáveis. Como um bom estrategista, você
precisa saber quais ações geram exatamente quais reações.

 
[1] Freaknomics, Steven Levitt and Stephen J. Dubner, 2007, Editora Campus

[2] O Gênio da Negociação, Max Bazerman

Os incentivos induzem comportamentos
 
"Economia não é apenas sobre dinheiro, é sobre como as pessoas reagem a incentivos". Essa frase foi dita numa palestra
pelo  jornalista  Stephen  Dubner.  Em  outra  palavras,  "os  incentivos  induzem  comportamentos".  O  próprio  Dubner,  em  seu
livro, possui uma ótima introdução ao assunto. 

"Aprendemos  a  reagir  a  incentivos,  negativos  e  positivos,  desde  o  início  da  vida.  Se  você  engatinhar  até  o  forno  quente  e
encostar a mão nele, vai queimar o dedo, mas se trouxer apenas notas 10 da escola, o prêmio é uma bicicleta nova. Se for
flagrado com o dedo no nariz durante a aula, voce vira piada, mas se vencer campeonatos para o time de basquete, passa a
ser  o  líder  da  turma.  Se  chegar  em  casa  depois  da  hora,  o  castigo  é  certo,  mas  se  tirar  boas  notas  no  colegio,  carimba  o
passaporte  para  uma  boa  universidade.  Se  a  euforia  do  novo  cargo  o  levar  a  exceder  o  limite  de  velocidade  na  volta  para

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casa,  fará  jus  a  uma  multa  de  $100,  mas  se  no  final  do  ano  atingir  sua  meta  de  vendas,  embolsando  uma  gratificação
polpuda,  não  só  os  $100  da  multa  se  transformam  em  mixaria,  como  você  vai  poder  comprar  aquele  fogão  estupendo  no
qual seu filho, na fase de engatinhar, poderá queimar o próprio dedinho". 

Incentivos  não  passam  de  meios  para  estimular  as  pessoas  a  fa z er  mais  coisas  boas  e  menos  coisas  ruins.  Como  John
McMillan  coloca,  em  Games,  Strategies  and  Managers,  as  pessoas  devem  ser  recompensadas  se  queremos  induzi­las  a
fazer algo que preferiam não fazer[2].  .  Toda  a  questão  sobre  incentivos  aparece  devido  alguma  divergência  de  interesses.
Um autor buscando fama quer seu livro a preço baixo para atingir escala grande, enquanto a editora prefere preço mais alto
querendo  lucros.  Um  dono  de  carro,  após  fazer  um  seguro  contra  roubas,  torna­se  mais  negligente  e  descuidado  do  que  a
seguradora gostaria. 

Para conseguir que as pessoas façam o que elas naturalmente não gostaria de fazer, é preciso dar alguma recompensa ou
sanção. É por isso que pais, empresas e governo inventam os chamados "esquemas de incentivos". Se você passar o sinal
vermelho, leva uma multa. Mas se você tiver dinheiro o suficiente, pode pagar quantas multas quiser para não se aborrecer
em  um  cruzamento  vazio  e  chegar  mais  rápido.  Em  São  Paulo  há  multa  de  rodízio  se  você  dirigir  nos  horários  e  dias
proibidos para o final da sua placa do carro, mas a multa é mais barata do que o taxi de ida e volta ao seu trabalho. Assim,
esse  incentivo  não  funciona,  por  isso  existe  o  sistema  de  pontuação  ­  ao  atingir  certo  limite  de  multas,  sua  habilitação  é
suspensa. 

Se  seu  filho  comer  verduras,  você  o  leva  para  passear.  Um  vendedor  de  calçados  ganha  comissão  por  venda,  assim  ele
tem  incentivo  de  vender  cada  vez  mais,  onde  ganham  ele  e  o  dono  da  loja.  Executivos  ganham  ações  da  empresa,  mas
com limitação de venda no curto prazo, para trabalhar duro e criar projetos que geram riqueza a longo prazo. E assim vai. O
mundo (a sua vida, na verdade) está repleto de incentivos, alguns funcionam mais e outros menos. 

Mas nem todo incentivo é financeiro, as pessoas também reagem aos incentivos morais (não querem cometer um ato que
consideram  errado)  e  sociais  (não  querem  ser  vistas  pelos  outros  como  alguém  que  age  errado).  Dubner  cita  que  em
algumas  cidades  nos  EUA  o  combate  a  prostituição  é  feito  com  uma  ofensiva  "cons trangedora",  difundindo  fotografias  de
clientes (e prostitutas) em sites na Internet e nas televisões abertas locais, sendo um freio amedrontador mais eficiente do
que uma multa. 

Por  que  tudo  isso  é  relevante  para  as  decisões  estratégicas?  Como  já  comentado  anteriormente,  em  uma  situação
estratégica,  como  um  lançamento  de  produtos  ou  redução  de  preço,  talvez  o  incentivo  do  seu  concorrente  seja  ganhar
market­share  a  curto  prazo  a  despeito  da  geração  de  lucro  como  você  imaginou.  Saber  o  incentivo  do  seu  concorrente  é
importante para você decidir suas ações. 
 
[2] Games, Strategies and Managers, John McMillan, 1992, Oxford University Press

Quais são os reais incentivos do seu concorrente?
 
Como vimos no capítulo anterior, tomar uma decisão isolada não garante o sucesso empresarial ou pessoal. É necessário
reconhecer  que,  enquanto  você  está  tentando  maximizar  seus  próprios  lucros  com  sua  estratégia,  os  concorrentes  estão
igualmente engajados neste mesmo propósito, o que certamente influencia no seu lucro também. Assim, as empresas tem
o desafio de antecipar as ações dos concorrentes com o intuito de prevenir movimentos que possam afetar negativamente
os seus interesses. Enquanto você monitora o concorrente, ele está monitorando você. Por isso, a grande contribuição dos

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modelos  de  pensamento  estratégicos  é  forçar  os  executivos  a  se  colocarem  no  lugar  dos  outros  participantes  ao  invés  de
apenas ver as situações na perspectiva do seu próprio negócio. 

Pankaj  Ghemawat,  em  Strategy  and  Business  Landscape,  menciona  algumas  pesquisas  com  gestores  de  empresas  onde
eles admitem a importância do pensamento dinâmico sobre a concorrência na tomadas de decisões, mas poucos realmente
utilizam  um  formato  sistematizado  para  tal[3].  .  A  razão  mais  comumente  citada  é  que  o  mundo  real  é  muito  imprevisível
para que tais antecipações sejam convertidas em ações. Uma questão legítima é o quão útil é prescrever um curso de ação
se  não  se  tem  certeza  se  os  competidores  irão  agir  racionalmente.  Quando  o  competidor  falha  em  maximizar  o  objetivo
econômico  previsto  (por  exemplo,  vendas,  share,  valor  presente)  para  maximizar  outra  função  objetivo  qualquer,
desconhecida pelo adversário, o jogo não é o mesmo para ambos. 

Como  já  citamos,  geralmente  nos  exemplos  hipotéticos  citando  a  "Empresa  A"  versus  "Empresa  B",  uma  das  premissas
nesta  metodologia  é  o  chamado  "conhecimento  comum",  onde  ambos  jogadores  conhecem  exatamente  as  alternativas  de
cada um e usam os mesmos valores dos ganhos para cada combinação de resultado. As dimensões a serem maximizadas
(lucro,  receita,  share,  pontuações,  utilidades)  são  conhecidas.  Esta  é  uma  boa  simplificação  para  transmitir  os  conceitos,
facilitar a visualização e mostrar a solução que gera o melhor resultado possível para cada um. 

O  problema  desta  abordagem  é  que  na  vida  real  você  precisa  saber  exatamente  como  o  Jogador  da  Empresa  B  pensa  e
age.  Além  de  saber  especificamente  a  empresa  e  seus  pontos  fortes,  fracos,  posição  no  mercado  e  cultura  envolvida,  é
também importante saber exatamente quem é a pessoa dentro da empresa que está tomando as decisões. Isso faz muita
diferença  no  mapeamento  do  jogo:  seu  adversário  irá  se  comportar  como  a  Teoria  dos  Jogos  racionalmente  prescreve,  ou
ele  está  tentando  maximizar  outros  objetivos?  Ao  se  colocar  verdadeiramente  na  posição  dele,  é  crucial  entender  se  ele  é
averso a riscos, se persegue objetivos de longo ou curto prazo, se é suscetível a escaladas irracionais de compromisso, e
outros  viéses  de  pensamento  cognitivo  que  vamos  abordar  nos  próximos  artigos.  Ou  seja,  além  de  fazer  as  previsões
normais via racionalidade no mercado envolvido, é imprescindível incorporar outras dimensões psicológicas. Caso contrário,
como nas escolas infantis de Israel, o tiro pode sair pela culatra. 

A Economia Comportamental

Por  mais  difícil  que  possa  ser,  ignorar  os  movimentos  dos  competidores  não  é  a  melhor  solução.  Por  isso,  Ghemawat
propõe  outra  teoria  para  complementar  a  Teoria  dos  Jogos:  a  Economia  Comportamental.  Na  maioria  das  vezes,  até  é
possível racionalizar uma sequência de eventos em termos de Teoria dos Jogos pura, mas nem sempre reflete a realidade
dos  ganhos  dos  jogadores  em  cada  nó  do  jogo.  No  lugar  disso,  aparentando  uma  irracionalidade,  há  evidências  que
indivíduos  e  empresas  frequentemente  aumentam  o  comprometimento  em  conflitos  devido  a  falácia  do  Sunk  Cost,  por
tentativas  de  justificar  escolhas  passadas,  por  percepção  seletiva,  hostilidade  e  várias  outros  preconceitos,  viéses  e
distorções. 

De  certa  forma,  esses  estudos  geram  padrões  de  comportamento  úteis  para  prever  comportamento  dos  competidores.  O
executivo  deve  entender  esses  padrões  do  adversário.  Enquanto  a  Teoria  dos  Jogos  toma  uma  perspectiva  econômica
focalizando  os  incentivos  da  competição  (exatamente  os  ganhos  econômicos  de  forma  racional),  a  Economia
Comportamental tenta identificar as predisposições dos concorrentes. 

A  Teoria  dos  Jogos  tenta  prescrever  a  melhor  ação  focalizando  o  que  os  concorrentes  deveriam  fazer  racionalmente  em
face de algumas hipóteses razoáveis. Ela se concentra nas interações entre participantes que vêem o cenário de negócios
da mesma maneira. Esta é uma hipótese bem atrativa e coerente. Mas os concorrentes podem não estar empenhados em
maximizar o seu valor patrimonial, ou podem ter diferentes opiniões sobre os cenários, ou ainda se comportem de maneira

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muito  arraigada,  refletindo  mais  inércia  do  que  escolha  de  mudança.  Qualquer  tentativa  de  prever  o  comportamento  alheio
deve levar em conta tais possibilidades.

Já a Economia Comportamental concentra­se em levantar o que os concorrentes realmente querem, o que vêem fazendo e
suas  crenças  para  atingir  os  objetivos.  Esta  teoria  tem  o  poder  de  aumentar  o  poder  de  previsão  através  de  redução  de
incertezas  que  permeiam  a  dinâmica  competitiva.  Com  ela,  devemos  avaliar  o  perfil  do  concorrente,  verificando  os
objetivos,  crenças  e  rotinas  deles  para  responder  o  que  eles  realmente  querem  e  o  que  costumavam  fazer  no  passado.  É
necessário  entender  as  reais  motivações,  comportamentos,  crenças  e  modelos  mentais  dos  dirigentes  das  empresas
concorrentes.  A  familiaridade  entre  os  participantes  e  interações  repetidas  entre  eles  também  aumenta  a  probabilidade  de
raciocinar no formato de teoria dos jogos e seus equilíbrios. 

Por  isso,  ao  analisar  os  cenários  competitivos,  é  importante  perguntar:  quais  são  as  reais  motivações  do  seu
concorrente? Quais são os incentivos dele?
 
[3] Strategy and Business Landscape, Pankaj Ghemawat, 2000, Prendice Hall

A JC Penney perdeu clientes porque abaixou o preço
 
Este  é  um  exemplo  de  como  a  Teoria  dos  Jogos,  Dilema  dos  Prisioneiros,  Economia
Comportamental,  Marketing  e  Pricing  se  unem  para  analisar  um  cenário  com  resultado
adverso.  Bob  Sullivam,  em  um  artigo  na  MSNBC,  explica  uma  estratégia  de  preço  da  cadeia
americana JC Penney que não funcionou e como poderia ser evitada [1].

A JC Penney, ícone entre as lojas de departamento, está perdendo dinheiro e a razão é simples, segundo Sullivam: numa
publicidade criativa e agressiva, lançou uma nova campanha de preços onde promete preços simplificados e baixos o ano
todo.  Não  há  mais  cupons  ou  confusas  remarcações  nas  etiquetas.  Não  há  mais  anúncios  enganosos  cheios  de  letrinhas
miúdas. A loja também acabou com os 99 centavos no final de etiquetas, apenas preços claros e honestos. Isso soa como
um ótimo discurso de vendas direcionado aqueles consumidores irritados em ficar colecionando cupons e preocupados em
saber quando há promoções. Mas para a maioria dos clientes, eles odiaram. 

A  campanha,  lançada  em  Fev/2012,  parece  ser  um  desastre.  A  receita  caiu  20%  no  primeiro  trimestre  em  comparação  ao
ano anterior. O tráfego de clientes caiu 10%. A empresa lucrou US$ 64 milhões dólares no primeiro trimestre de 2011, já em
2012  perdeu  US$  163  milhões.  O  que  deu  errado?  A  nova  estrutura  de  preços  simplificados  da  JC  Penney  não  conseguiu
atrair compradores (mesmo aqueles que se irritavam com o método anterior) e ainda conseguiu repelir todos os outros.

Se  os  executivos  da  JC  Panney  estivessem  familiarizados  com  o  trabalho  do  economista  comportamental  Xavier  Gabaix
tudo isso poderia ter sido evitado. Gabaix escreveu um artigo brilhante sobre "camuflagem e "supressão da informação". O
princípio é simples e mostra porque a "trapaça" funciona em nossos mercados e porque a honestidade é raramente a melhor
política.  Antigamente,  as  etiquetas  de  preço  eram  simples.  Uma  maçã  custa  10  centavos,  uma  xícara  de  café  custa  $  1.
Mas hoje o mercado consumidor é muito mais complicado, dando aos vendedores a oportunidade de criar confusão. 

Impressoras  de  computador  são  o  exemplo  clássico.  Você  pode  fazer  um  grande  negócio  em  uma  impressora,  mas  se  a
tinta  é  cara,  você  perde  no  final.  Na  verdade,  Gabaix  argumenta  que  é  impossível  para  os  consumidores  comprar
impressoras  de  forma  inteligente.  Nenhum  consumidor  sabe  quanto  custa  a  tinta  ­  os  cartuchos  não  vêm  em  tamanhos

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padrão,  a  quantidade  de  tinta  utilizada  para  imprimir  varia  e  os  custos  de  tinta  são  imprevisíveis.  Isso  faz  com  que  o
verdadeiro preço de uma impressora seja "camuflado", na terminologia do Gabaix. Não é escondido, mas não é muito claro.
É  fácil  para  as  empresas  de  impressora  diminuir  o  preço  do  equipamento  e  cobrar  a  mais  na  tinta.  O  vendedor  leva
vantagem. 

Se você pensar nisso, o preço camuflado está em toda parte, como em diária de hotel, TV por assinatura e
taxa de juros de um empréstimo. Os consumidores queixam­se disso constantemente: a mistura alucinante
de  cupons,  descontos  e  taxas  com  letras  miúdas  fazem  as  pessoas  se  sentirem  em  um  jogo.  Na  pior  das
hipóteses, as empresas estão literalmente trapaceando ao confundir. 

Você  poderia  achar  que  os  clientes  adorariam  a  oportunidade  de  comprar  de  uma  loja  que  não  jogasse  este  tipo  de  jogo.
Mas não, diz Gabaix, e a JC Penney deveria ter conhecido esse comportamento melhor. Foi um jogada imprudente. Toda a
manipulação  este  preço  é  realmente  uma  guerra  de  informação.  De  um  lado,  consumidores  adoram  descobrir  truques  para
poupar  mais  dinheiro,  de  outro,  as  lojas  fazem  armadilhas  para  ganhar  mais  dinheiro.  É  um  sistema  ruim,  mas  é  o  jogo
atual. 

É simplesmente impossível, Gabaix complementa, uma loja tentar mudar o jogo e preencher esta lacuna de informação. Se
o  varejista  tenta  educar  os  consumidores  sobre  truques  e  armadilhas,  e  procura  oferecer  um  produto  honesto,  uma  coisa
engraçada  acontece:  os  consumidores  dizem  "Obrigado  pelas  dicas",  e  voltam  para  as  empresas  complicadas  onde  eles
exploram  o  novo  conhecimento  para  conseguir  preços  mais  baratos,  deixando  a  empresa  "honesta"  no  pó.  Gabaix  chama
isso  de  "curse  of  debiasing",  algo  como  a  maldição  em  tirar  o  víes,  e  isso  leva  a  essa  conclusão  deprimente  de  que  a
camuflagem é a estratégia mais lucrativa.

Para  simplificar  um  pouco,  o  problema  da  JC  Penney  foi  a  seguinte.  Eles  disseram  ao  mundo  que  os  outros  varejistas  só
oferecem  os  seus  melhores  preços  durante  promoções  malucas.  As  lojas  JC  Penney  não  fariam  isso  mais.  Os
consumidores  sensatos  aparentemente  usaram  essa  informação  para  simplesmente  esperar  essas  promoções  em  outras
lojas.  Como  um  benefício  adicional,  JC  Penney  reduziu  os  custos  de  busca  dos  consumidores  porque  agora  eles  sabiam
que não precisavam mais se preocupar em ir numa loja da JC Penney. 

Existem outras empresas que fizeram esforços semelhantes para educar os consumidores que seus preços são realmente
os preços mais baixos após taxas ocultas. Durante a última década, os Hotéis Intercontinental divulgaram no site o preço
único  final,  incluindo  todas  as  taxas.  Mais  tarde  os  executivos  da  empresa  confessaram  que  os  clientes  os  deixaram  em
massa,  escolhendo  os  concorrentes  com  preços  mais  baixos  camuflados.  Mais  recentemente,  a  Southwest  Airlines
empreendeu  a  mais  agressiva  campanha  anti­camuflagem  já  conhecida,  acusando  as  taxas  de  bagagem  escondidas  das
outras companhias aéreas. A Southwest lançou a campanha "bagagem grátis", mas há indícios de que a empresa não será
capaz de resistir a ausência deste faturamento para sempre. 

Camuflagem  não  é  a  única  razão  de  porque  plano  de  preços  da  JC  Penny  é  falho.  A  empresa  também  está  deixando  um
monte de dinheiro sobre a mesa ao rejeitar um fenômeno conhecido como "discriminação de preços." Algumas pessoas têm
mais  dinheiro  do  que  tempo,  e  alguns  têm  mais  tempo  do  que  dinheiro.  Alguns  consumidores  não  se  importam  de  passar
horas  para  economizar  $  20;  outros  daria  de  bom  grado  os  $  20  para  ir  embora  rapidamente.  Varejistas  inteligentes
conseguem dinheiro de ambos. Ao matar os cupons, a JC Penney eliminou sua capacidade de satisfazer os discriminadores
de preços.

Além  disso,  remarcações  tem  o  truque  secular  de  "ancoragem".  Por  alguma  razão,  mesmo  os  consumidores  muito
inteligentes  se  sentem  melhor  em  pagar  $  60  por  algo  que  inicialmente  a  joga  dizia  que  custava  $  100,  e  em  seguida,

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reduziu  o  preço.  Mas  o  problema  real  é  a  tentativa  malfadada  da  JC  Penney  em  querer  ser  o  jogador  de  poker  justo  e
honesto num jogo típico de trapaças. Consumidores simplesmente são céticos, muitos deles não acreditam que um par de
sapatos  comprados  no  "preço  baixo  e  único  sem  mistérios  todo  dia"  realmente  é  mais  barato  do  que  um  par  de  sapatos
comprados no concorrente com um cupom de 25% de desconto. Goste ou não, taxas ocultas ­ e descontos secretos ­ estão
aqui para ficar.

Como podemos analisar sob a ótica da Teoria dos Jogos

A Teoria dos Jogos é a lei da antecipação dos movimentos. Antes de jogar, coloque­se na posição do
outro e veja como ele vai reagir. Conheça o outro jogador, seu perfil, suas preferências, as informações
disponíveis,  entre  outras  perguntas.  Mapeie  as  possíveis  ações  diferentes  e  os  resultados.  A  crítica
de  Sullivam  e  Gabaix  é  exatamente  essa  ­  a  JC  Penney  falhou  em  ter  um  pensamento  estratégico
mais abrangente e considerar algumas atitudes dos consumidores. Esse foi o primeiro erro ­ conheça seu interlocutor e as
regras do jogo. 

O  site  Mind  Your  Decisions  achou  um  segundo  erro.  O  autor  fez  uma  análise  muito  interessante  ao  usar  o  framework  do
Dilema dos Prisioneiros neste cenário. Não havia nada de intrinsecamente errado com a nova política de preços JC Penny.
Na  verdade,  os  preços  honestos  seria  uma  refrescante  mudança  no  padrão  das  lojas.  O  problema  foi  que  outras
empresas não adotaram preços honestos.[2].

Para  ilustrar  o  porque,  considere  o  seguinte  jogo.  Imagine  duas  empresas  que  podem  optar  por  utilizar  preço  "honesto"  ou
preço "complicado". Suponhamos que o jogo tem as seguintes características:
      ­ O total do mercado tem um valor de 100 unidades de lucro
      ­ Jogar preço "complicado" custa dinheiro e recursos (10 unidades) 
      ­ Se ambos jogam o mesmo preço (honesto ou complicado), cada um deles divide os lucros do mercado
          ­  Se  uma  empresa  joga  "honesto"  e  outro  "complicado",  a  empresa  que  escolher  o  "complicado"  lucra  quase  todo  o
mercado (90 unidades) e o "honesto" ganha 10 unidades. 

Entra a análise da Teoria dos Jogos. Neste caso, se você não está familiarizado, faça uma pausa e leia primeiro o artigo O
que  é  o  Dilema  dos  Prisioneiros  como  introdução,  e  eventualmente  este  também.  Numa  matriz  de  payoff,  os  resultados
seriam os seguintes.

JC Penney

Honesto Complicado

Honesto 50 , 50 10 , 80


Concorrente
Complicado 80 , 10 40 , 40

Você deve perceber que se ambas as empresas decidem por "honesto", o valor total do mercado é de $ 100, e cada uma
lucra  $  50.  Se  ambos  jogam  "complicado",  no  entanto,  cada  uma  perde  $  10  devido  o  custo  de  promoções,  o  valor  do
mercado reduz para $ 80, e cada uma leva $ 40. A mesma coisa acontece quando uma empresa prefere "honesto" e outra
"complicado". A empresa com "honesto" fica com $ 10, mas o "complicado" recebe $ 80, que é o valor de $ 90 menos os $
10 que perdeu devido o custo das promoções.

Qual é o resultado deste jogo do preço honesto? Como num Dilema dos Prisioneiros típico (de novo, leia o raciocínio neste
link),  é  melhor  jogar  uma  estratégia  de  preços  "complicado",  independentemente  do  que  a  outra  empresa  faça.  As  duas
empresas  poderiam  se  beneficiar  se  jogassem  honestamente,  mas  ao  invés  disso  elas  são  tentadas  a  trapacear  e  roubar

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uma recompensa para si. O resultado é que elas acabam em um equilíbrio ruim para todos. Demasiado mau para JC Penny
e para todos nós, consumidores, que teríamos gostado de ver os preços honestos vencerem.
 
[1] Bob Sullivam, artigo "Fair and square pricing? That`ll never work, JC Penney. We like being shafted", 

link http://redtape.msnbc.msn.com/_news/2012/05/25/11864178­fair­and­square­pricing­thatll­never­work­jc­penney­we­like­being­shafted

[2] Site Mind your Decision, link http://mindyourdecisions.com/blog/2012/06/12/how­jc­penny­lost­163­million­losing­a­prisoners­dilemma­game/

Recapitulação
 
Indivíduos,  e  consequentemente  empresas,  reagem  a  incentivos.  Assim,  entender  as  reais  motivações  e  incentivos  dos
seus concorrentes aumenta a chance de sucesso no seu jogo, na sua interação estratégica com eles. 

Os incentivos dos seus jogadores podem ser econômicas, sociais ou morais. Você pode querer maximizar o seu lucro, mas
o seu concorrente pode querer simplesmente ganhar status ou mesmo fazer com que você perca mesmo que ele também
perca um pouco. Aqui a questão não é exatamente sobre racionalidade, nem o certo ou o errado. O ponto principal é a sua
habilidade de identificar as reais motivações do seu parceiro, seja de longo ou curto prazo, e suas características principais,
como aversão a risco, ego, entre outros. 

Entender  o  que  vocês  estão  disputando  ou  querendo  maximizar  é  o  primeiro  grande  passo  para  jogar  o  jogo  correto  e
conseguirem vitória (em caso de disputa) ou colaboração.

O Leilão do Dólar e a Escalada Irracional
 
(texto em elaboração, aguarde...)
 

O Paradoxo do Chantagista ­ melhor pouco do que nada?
 
Se o seu parceiro ou concorrente não age de forma racional (ou faz de propósito irracionalmente), não há muito que fazer a
não  ser  conhecê­lo  melhor  para  identificar  alguns  padrões  e  viéses.  Veja  o  exemplo  do  Paradoxo  do  Chantagista,
idealizado  por  Robert  Aumman  no  artigo  The  Blackmailer  paradox.  É  uma  variante  do  Jogo  do  Ultimato  mas  com  um
tempero mais dramático. 

Dois homens, Rubens e Simão, são colocados em uma pequena sala com uma mala cheia de notas, totalizando $ 100.000.
O proprietário da mala anuncia o seguinte: "Eu vou lhes dar todo o dinheiro que está nesta mala com uma condição: vocês
dois tem que negociar um acordo sobre como dividi­lo. Só se vocês dois chegarem em um acordo é que eu me prontifico a
lhes dar o dinheiro; senão, não".

Rubens é uma pessoa racional e percebe a oportunidade de ouro. Ele se vira para Simão com a sugestão óbvia: "Você pega

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metade e eu a outra metade, de modo que cada um de nós terá $ 50.000". Para sua surpresa, Simão franze a testa e diz,
num tom que não deixa margem para dúvidas: "Olha aqui, eu não sei quais são os seus planos para o dinheiro, mas eu não
pretendo sair desta sala com menos de U$ 90.000. Se você aceitar, tudo bem. Se não, nós dois podemos ir para casa sem
nenhum dinheiro no bolso".

Rubens mal pode acreditar em seus ouvidos. "O que aconteceu com Simão?", ele pergunta a si mesmo. "Por que ele tem
que  ter  90%  do  dinheiro  e  eu  apenas  10%?"  Ele  decide  tentar  convencer  Simão  a  aceitar  sua  visão.  "Vamos  ser  lógicos",
ele insiste, "Estamos na mesma situação, nós dois queremos o dinheiro. Vamos dividir o dinheiro de forma igual e nós dois
vamos sair no lucro".

Simão, no entanto, não parece perturbado pela lógica de seu amigo. Ele escuta com atenção, mas quando Rubens termina
de  falar,  ele  diz,  ainda  mais  enfaticamente  do  que  antes:  "90­10  ou  nada.  Essa  é  a  minha  última  oferta".  Rubens  fica
vermelho de raiva. Ele está prestes a dar um soco no nariz do Simão, mas ele recua. Ele percebe que Simão não vai ceder
e que a única maneira que ele pode deixar o quarto com algum dinheiro é dar para Simão o que ele quer. Rubens ajeita sua
roupa, leva $ 10.000 dólares da mala, aperta a mão de Simão e sai da sala humilhado. 

O paradoxo nesta cena é que Rubens, o racional, é forçado a se comportar irracionalmente, por definição, a fim de alcançar
resultados  máximos  em  face  da  situação  que  evoluiu  de  forma  absurda.  O  que  provoca  esse  resultado  bizarro  é  o  fato  de
Simão  estar  tão  seguro  de  si  e  não  vacilar  ao  fazer  seu  pedido  exorbitante.  Apesar  de  ser  ilógica,  esta  atitude  convence
Rubens  de  que  ele  deve  ceder  para  que  possa  tirar  a  melhor  vantagem  possível  daquela  situação.  O  comportamento  de
Rubens  é  o  resultado  de  seu  sentimento  de  que  ele  deve  deixar  o  quarto  com  algum  dinheiro  na  mão,  não  importa  quão
pequena  seja  a  quantia.  Já  que  Rubens  não  pode  imaginar­se  saindo  da  sala  com  as  mãos  vazias,  ele  acaba  tornando­se
presa fácil para Simão.

Analisando friamente, é mais "racional" para Rubens aceitar os $ 10.000 do que ficar com nada e é isso que ele faz dado a
posição  tão  veemente  de  Simão.  Do  ponto  de  vista  de  Simão,  entretanto,  é  uma  estratégia  arriscada  pois  Rubens  poderia
também agir irracionalmente e negar, assim ambos ficariam sem nada. Mas parece que Simão é insensível a esse risco, e
acabou  se  beneficiando  devido  a  sua  irracionalidade  (ou  racionalmente  fingiu  ser  irracional)  e  da  racionalidade  (ou  seja,
medo) de Rubens, que aceitou os meros $ 10.000.
 
Texto original em http://www.aish.com/jw/me/97755479.html# e traduzido em http://www.jornalalef.com.br/ESPECIAL_1911_Robert.htm

O Jogo do Ultimato e o Contra­Intuitivo ao Racional
 
O  jogo  do  ultimato  é  um  famoso  jogo  e  experimento  utilizado  por  pesquisadores  e  teóricos  dos  jogos.  Carl  Sigmund,  no
artigo The Economics of Fair Play, discute porque preferimos justiça e cooperação no lugar de auto­interesse racional. 

Imagine  uma  situação  onde  você  e  outra  pessoa  anônima  estão  em  salas  separadas,  sem  poder  trocar  informação.  Um
sorteio com uma moeda decide quem fará uma proposta de dividir R$ 100. Digamos que você ganhou. Você deve fazer uma
simples  proposta  de  como  dividir  o  dinheiro  entre  vocês  dois,  e  a  outra  pessoa  só  pode  dizer  sim  ou  não.  Ela  também
conhece as regras e o total de dinheiro a ser dividido. 

Se a resposta for sim, o negócio é feito. Se a resposta for não, ninguém ganha nada. Em ambos os casos, o jogo termina e
não  pode  ser  repetido.  O  que  você  faria?  Instintivamente,  muitas  pessoas  entendem  que  dever  oferecer  50%  porque  a

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divisão  seria  justa  e  provavelmente  seria  aceita.  Outras  pessoas  mais  audaciosas  acham  que  deve  oferecer  menos  que  a
metade. Antes de responder, você deve se perguntar o que faria se você fosse o respondente. A única coisa que pode fazer
como  respondente  é  dizer  sim  ou  não.  Se  te  oferecerem  10%,  você  aceitaria  R$  10  para  o  outro  ficar  com  R$  90,  ou
preferiria  ficar  com  nada?  E  se  fosse  1%?  Seria  R$  1  melhor  que  nada?  Lembre­se:  pechincar  e  conversar  é  proibido  ­  ou
aceita ou rejeita, e o jogo acaba. 

Então, qual seria sua oferta? Você se surpreenderia com o resultado de vários experimentos:
­ dois terços ofereceram entre 40 e 50%
­ apenas 4% ofereceram menos que 20%
­ mais que a metade dos respondentes rejeitaram ofertas de menos de 20%

Propor uma quantia muito baixa é arriscado, pois pode ser rejeitada. Mas aqui está o enigma: por que alguém rejeitaria uma
oferta baixa? O respondente só tem 2 opções: ou aceita algo, ou fica sem nada. A única opção racional economicamente
é aceitar pois R$ 1 é melhor que nada.  Um  proponente  egoísta  que  está  seguro  que  o  respondente  é  egoísta  irá  fazer  a
menor oferta possível e ficar com o resto. Na análise via Teoria dos Jogos, que assume que pessoas são racionais e com
auto­interesse,  tudo  indica  que  o  proponente  deve  oferecer  o  menor  possível  pois  o  respondende  vai  aceitar.  Mas  não  é
como a maioria das pessoas jogam este jogo.

A  teoria  econômica  entende  que  indivíduos  racionais  fazem  escolhas  para  maximizar  seus  ganhos.  Mas  experiência  com
este jogo mostra que as pessoas são reguladas e influenciadas tanto por emoções como a lógica fria e auto­interesse. Esse
jogo  foi  testado  várias  vezes  e  em  muitas  culturas  e  países,  todos  com  o  mesmo  resultado.  Em  todos  eles  houve  um
contraste impressionante entre o que maximizadores de resultados deveria fazer e quanto peso eles deram para resultados
mais justos. E como na vida real, há muitas situações que envolvem trade­off entre o egoísmo e justiça, entre cooperação e
competição.

Mas ficam algumas questões. Imagine que um colega peça colaboração em um projeto. Você ficará feliz em ajudar, e você
espera  um  retorno  justo  do  seu  investimento  de  tempo  e  energia,  numa  próxima  oportunidade  que  você  precisar.  Mas  no
jogo  de  ultimato,  entretanto,  as  regras  não  são  as  mesmas  que  na  vida  real,  como  (1)  pechincar  não  é  possível,  (2)  as
pessoas  não  se  conhecem,  não  se  vêem  e  não  sabem  quem  são  após  o  experimento  e  (3)  o  dinheiro  desaparece  se  não
aceitarem e (4) o jogo nunca será repetido. É diferente da vida real onde colaboração existe porque há afinidade e porque um
ajuda o outro em outros momentos. Na vida real, se você fizer retaliação, sofrerá consequencias do seu egoísmo no futuro.
Mas neste jogo do Ultimato não.

Por que as pessoas agem de forma diferente?

Os economista exploraram este jogo com outras variações para ver os resultados. Numa delas, quando o proponente não é
escolhido  por  sorteio  numa  moeda,  e  sim  por  melhor  performance  num  quiz,  as  ofertas  são  frequentemente  mais  baixas  e
são mais aceitas ­ a desigualdade é sentida ser justificada e merecedora. Uma das conclusões foi que em jogos em pares,
como este, as pessoas não adotam a postura pura de auto­interesse, mas consideram a visão do parceiro. Elas  não  estão
interessadas apenas no próprio resultado, mas comparam com o do parceiro e numa situação justa.

Por que nós colocamos um alto valor na justiça a ponto de rejeitar 20% de uma boa quantia só porque nosso outro jogador
levará  quatro  vezes  que  nós?  Opiniões  são  divididas.  Alguns  especialitas  em  teoria  dos  jogos  acreditam  que  esses
indivíduos  falham  no  entendimento  que  o  jogo  só  ocorrerá  uma  única  vez.  Assim  os  jogodores  vêem  o  aceite  ou  rejeição
simplesmente como a primeira fase de um processo de barganha. 

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A  pechincha,  barganha  e  negociação  sobre  pedaços  de  recursos  é  um  tema  recorrente  desde  os  nossos  ancestrais.  Mas
por  que  é  tão  difícil  entender  que  o  Jogo  do  Ultimato  é  um  jogo  de  uma  interação  apenas?  Existem  evidências  em  outros
jogos  que  as  pessoas  sabem  das  diferenças  entre  encontros  repetidos  e  de  uma  jogada  só.  Uma  explicação  dos  autores
está  num  estudo  de  modelo  evolucionário:  nosso  aparato  emocional  tem  sido  moldado  há  milhões  de  anos  ao  viver  em
pequedos  grupos,  onde  é  difícil  manter  nosso  segredos.  Nossas  emoções  não  são  tão  ajustadas  para  interações  em
condições  de  anonimato  absoluto.  Nós  temos  a  expectativa  que  nossos  amigos,  colegas  e  vizinhos  vão  notar  nossas
decisões.

Se outros descobrem que eu fico contente com uma pequena divisão, eles provavelmente vão me fazer uma oferta baixa.
Se  eu  sou  conhecido  por  ficar  bravo  quando  encontro  um  oferta  pequena,  outros  tem  incentivos  para  me  dar  ofertas
maiores.  Assim,  evolução  deve  ter  criado  respostas  emocionais  para  baixas  ofertas.  Como  interações  de  uma  jogada  só
são  raras  durante  a  evolução  humana,  essas  emoções  não  discriminam  entre  interações  repetitivas  e  únicas.  Essa  é
provalvemente  uma  das  explicações  de  porque  muitos  respondem  emocionamente  a  baixas  ofertas  no  Jogo  do  Ultimato.
Nós sentimos que devemos rejeitar um oferta baixa para manter nossa auto­estima. Do ponto de vista evolucionário, essa
auto­estima é um mecanismo interno para adquirir reputação, que é benéfico para futuros encontros. 

Nas  minhas  leituras  sobre  o  tema  percebo  que  o  Jogo  do  Ultimato  intriga  até  hoje  os  pesquisadores  pois  as  experiências
mostram que nem todos agem de forma racional e no fim se prejudicam a si mesmos. Quem prefere ficar com nada do que
com $10 faz isso para punir o outro jogador a fim de que fique com zero, mesmo que essa punição não seja educativa uma
vez que não há segunda rodada. Há doadores que não acham justo fazer uma divisão desigual por motivos humanísticos, e
há os que ficam com medo do parceiro rejeitar, então melhor ficar com $50 com certeza do que correr o risco de ficar com
nada. 

De qualquer forma, o mundo real é complexo mesmo, e ter um bom raciocínio estratégico ajuda nestes casos ao conseguir
identificar, por exemplo, se o jogo é anônimo, se você conhece o perfil do adversário, se pode combinar antes e se os jogos
são  repetidos.  Mais  uma  vez,  independente  da  solução  "racional­matemática",  este  é  mais  um  exemplo  de  como  é
importante conhecer o outro jogador e quais são os reais incentivos dele.
 
[1] Scientific American, 2001, The Economics of Fair Play, by Karl Sigmund, Ernst Fehr e Martin A. Nowak

Prevendo os lapsos da racionalidade (até os próprios)
 
Você  deve  pensar  que  antecipar  movimentos  competitivos  se  refere  em  prever  ações  dos  outros.  Não  necessariamente,
você  pode  querer  antecipar  suas  próprias  ações.  Thomas  Schelling,  no  livro  Strategies  of  Commitment  and  other  essays,
apresenta  um  cenário  bem  interessante  para  ilustrar  como  as  decisões  racionais  no  presente  podem  prevenir  as  ações
irracionais no futuro, o que ele chamou de "lapsos de racionalidade". 

Imagine  um  homem  que  deixou  de  fumar  há  três  meses.  Durante  as  oito  primeiras  semanas  ele  foi  atormentado  por  um
desejo de fumar constante, mas as últimas quatro semanas tem sido mais confortáveis e ele está ficando otimista de que
ele  realmente  deixou  os  cigarros  para  sempre.  Numa  tarde  de  domingo,  um  amigo  aparece  na  casa  dele  sem  avisar  para
uma  conversa  de  negócios.  Após  o  bate­papo  o  amigo  vai  embora.  Quando  nosso  "fumante  recuperado"  volta  à  sala  ele
encontra  um  maço  de  cigarros  aberto  na  mesa  do  café.  Ele  pega  o  maço  e  corre  até  a  porta,  mas  vê  que  o  carro  do  seu
amigo já tinha desaparecido na esquina.

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Como ele iria ver o amigo na manhã seguinte, ele põe o maço no bolso de sua jaqueta e a pendura no quarto, assim poderia
devolver os cigarros. Em seguida, ele vai para a frente da televisão com uma bebida. Vinte minutos de televisão, ele volta
ao quarto, tira os cigarros do bolso da jaqueta e estuda o maço durante um minuto. Daí decide ir até o banheiro, esvazia os
cigarros no vaso sanitário e dá descarga. Ele volta à sua bebida e à televisão, aliviado.

O  que  acabamos  de  testemunhar?  Poderíamos  dizer  que  o  nosso  sujeito  antecipou  que,  na  presença  dos  cigarros,  algo
poderia ocorrer que ele não gostaria que acontecesse; então ele jogou fora os cigarros para se prevenir. Desperdiçar alguns
reais em cigarros do seu amigo foi uma proteção barata. No momento que jogou os cigarros, ele lidou racionalmente com o
risco  de  fazer  algo  que  não  queria  fazer  depois.  Podemos  interpretar  o  ato  deste  homem  como  uma  tentativa  racional  de
prevenir  um  comportamento  não­ótimo  que  a  presença  dos  cigarros  poderia  motivar.  Se  perguntasse  a  ele,  ele  poderia
explicar aquele comportamento como a "antecipação de algum ato irracional" enquanto ainda estava "racional".

Perceba como as pessoas exercem suas estratégias de limitar seu próprio comportamento futuro: muitas vezes a forma
que as elas restringem as próprias atitudes parece ser a mesma forma que elas fazem para restringir o comportamento de
outras  pessoas.  Neste  caso  elas  parecem  tratar  o  "eu  futuro"  como  se  fosse  "outro  indivíduo".  Por  exemplo,  se  o  nosso
homem  nunca  fumou  mas  sua  esposa  sim,  e  ela  está  numa  batalhar  para  larga­los,  e  o  seu  amigo  de  negócios  tivesse
deixado  cigarros  na  casa  deles,  ele  certamente  iria  se  desfazer  dos  cigarros  antes  que  sua  esposa  voltasse  para  casa.
Assim  dizer  que  ele  trata  a  "sua  personalidade  futura"  como  fosse  "o  outro  ele  mesmo"  ou  "o  outro  alguém",  faz  pouca
diferença.

A  maior  parte  da  literatura  sobre  este  tema  em  economia  e  filosofia  descreve  a  situação  como  uma  modificação  das
preferências ao longo do tempo. Imagine:
­ às cinco horas o homem não quer fumar
­ às cinco horas ele não quer fumar às dez
­ às dez horas ele quer fumar, lembrando­se perfeitamente bem que há cinco horas ele não queria que ele fumasse às dez,
lembrando­se de que há três meses ele não queria fumar em qualquer momento. 

Não  é  fácil  descrever  porque  o  homem  acenderia  o  cigarro  se  alguns  momentos  atrás  ele  esperava  não  fumar.  Se  é
"racional"  que  ele  fatisfaça  um  impulso  de  fumar,  exercendo  a  sua  soberania  às  dez  horas,  esta  é  uma  pergunta  que  não
pode  ser  respondida  pela  teoria  clássica  da  escolha  racional.  Esse  homem  até  poderia  se  referir  ao  seu  lapso  como
"irracional"  se  assim  quiser  chamá­lo;  pelo  menos,  assim  lhe  aparece  às  cinco  horas.  Neurologicamente  pode  haver  uma
resposta, mas nesta avaliação é difícil dizer se sucumbir às dez horas poderia ser julgado racional, irracional ou um "lapso
de racionalidade", como prefere chamar Schelling. 

De qualquer forma, na hora de prever os movimentos dos adversários (ou nossos), devemos reconhecer que as mudanças
de  preferência  ao  longo  do  tempo  exitem  de  fato  e  considerá­las  quando  apropriado,  da  mesma  forma  que  devemos
entender  os  reais  incentivos  e  motivações  das  pessoas.  Sendo  racional,  irracional,  lapso  de  racionalidade  ou  mudança  de
preferência ao longo do tempo, pouco importa, é preciso entender o fenômeno para ter um melhor Pensamento Estratégico.

 
[1] Strategies of Commitment and other essays, Thomas Schelling.

Cuidado ao jogar a Teoria dos Jogos com um taxista
 

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O livro The Art of Strategy tem um exemplo bem interessante, que numa tradução livre seria o seguinte.

Tarde  da  noite,  após  uma  conferência  em  Jerusalém,  dois  economistas,  um  deles  americano  co­autor  deste  livro,
encontraram  um  taxi  e  deram  as  instruções  do  hotel  ao  motorista.  Imediatamente  reconhecendo­os  como  turistas  norte­
americanos,  o  motorista  se  recusou  a  ligar  o  taxímetro  e,  em  vez  disso,  proclamou  seu  amor  para  os  americanos  e
prometeu­os uma tarifa mais baixa do que o aparelho.

Naturalmente, os passageiros foram um pouco céticos em relação a esta promessa. Por que este estranho ofereceria cobrar
menos  do  que  o  taxímetro  quando  estavam  dispostos  a  pagar  a  tarifa  medida?  Como  poderiam  saber  se  não  seria  mais
caro?  Então  eles  colocaram  o  chapéu  de  Teoria  dos  Jogos.  Se  tentassem  negociar  e  não  dar  certo,  terão  que  encontrar
outro carro, e taxis eram difíceis de encontrar. Mas se esperassem até chegar no hotel, a posição de barganha seria muito
mais forte. 

Quando eles chegaram ao hotel, o motorista exigiu 2.500 shekels israelenses (o equivalente a 2,75 dólares). Como saber se
foi justo? Como as pessoas geralmente barganham em Israel, o americano protestou e ofereceu 2.200 shekels. O motorista
ficou indignado. Ele alegou que seria impossível ir de lá para cá por esse montante. Antes que as negociações pudessem
continuar, ele trancou todas as portas automaticamente e refez a rota em alta velocidade, ignorando semáforos e pedestres.

Foram  seqüestrados  em  Beirute?  Não.  Ele  voltou  à  posição  original  e  indelicadamente  os  expulsou  de  seu  taxi,  gritando:
"Veja  agora  o  quanto  longe  os  seus  2.200  shekels  vão  te  levar".  No  fim,  encontraram  outro  táxi,  que  ligou  o  taxímetro  e
2.200 shekels depois chegaram ao hotel.

Certamente o tempo extra não valeu os 300 shekels. Por outro lado, a história valeu bem a pena. Ela ilustra os perigos de
uma  negociação  com  aqueles  que  ainda  não  leram  sobre  Teoria  dos  Jogos.  Geralmente,  orgulho  e  irracionalidade  não
podem ser ignorados. Há uma segunda lição para a história. Os americanos não pensaram muito à frente. Imagine o quão
mais forte a posição de barganha teria sido se tivessem começado a discutir o preço depois de sair do taxi. 

Alguns anos depois que essa história foi publicada pela primeira vez (no livro Thinking Strategically), os autores receberam
a seguinte carta:

Prezados professores, 

Vocês certamente não sabem meu nome, mas acho que vão se lembrar da minha história. Eu era um estudante clandestino
em Jerusalém e atuava como um motorista de taxi. Agora eu sou um consultor e por acaso li o livro de vocês quando ele foi
traduzido  para  o  hebraico.  O  que  vocês  podem  achar  interessante  é  que  eu  também  tenho  compartilhado  aquela  história
com meus clientes. Sim, foi realmente uma noite em Jerusalém. Quanto ao resto, bem... eu lembro de forma diferente.

Entre as aulas e as noites trabalhando como motorista de taxi, quase não havia tempo para eu passar com a minha noiva.
Minha solução foi tê­la comigo no banco da frente durante a sua corrida. Embora ela tenha ficado em silêncio, foi um grande
erro vocês deixarem ela de fora da história. Meu taxímetro estava quebrado, mas vocês pareciam não acreditar em mim.

Eu já estava cansado demais para discutir. Então nós chegamos, eu pedi 2.500 shekels, um preço justo. Eu estava mesmo
esperando  uma  tarifa  até  3.000.  Vocês  americanos  ricos  poderiam  muito  bem  pagar  50  centavos  de  dolar  de  gorgeta.  Eu
não  conseguia  acreditar  que  vocês  tentaram  me  enganar.  A  recusa  em  pagar  um  preço  justo  me  desonrou  na  frente  da
minha esposa. Por mais pobre que eu estava, eu não precisava aceitar aquela mísera oferta.

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Os  americanos  pensam  que  devemos  ficar  felizes  em  aceitar  essas  migalhas.  Eu  achei  que  deveria  ensinar  a  vocês  uma
lição  no  jogo  da  vida.  Minha  esposa  e  eu  estamos  casados  agora.  Ainda  rimos  dos  americanos  estúpidos  que  passaram
meia hora andando para lá e para cá procurando taxis para economizar meros vinte centavos.

Atenciosamente,

(Nome omitido)

Verdade  seja  dita,  os  autores  no  livro  revelam  que  nunca  receberam  tal  carta.  O  ponto  em  cria­la  foi  ilustrar  uma  lição
fundamental na Teoria dos Jogos: você precisa entender a perspectiva do outro jogador. Você precisa considerar o que
sabem,  o  que  os  motiva,  e  até  mesmo  como  eles  pensam  sobre  você.  Cuidado  com  a  regra  de  ouro  de  "não  fazer  aos
outros o que não gostaria que fizessem a você" ­ afinal, seus gostos podem ser diferentes.

Quando  se  pensa  estrategicamente,  você  tem  que  trabalhar  duro  para  entender  a  perspectiva  e  as  interações  de  todos  os
outros  jogadores  no  jogo,  incluindo  aqueles  que  podem  ficar  em  silêncio.  Isso  leva  a  um  último  ponto.  Quando  você  está
pensando que está jogando um jogo, pode ser apenas parte de um grande jogo. Há sempre um jogo maior.
 
Referência: The Art of Strategy: A Game Theorist`s Guide to Success in Business and Life, de Adam M. Brandenburger e Avinash K. Dixit. 

Recapitulação
 

Um roteiro para avaliação de cenários
 
Paul Papayoanou, no livro Game Theory for Business, desenvolveu um processo de avaliação de cenários o qual batizou de
Strategic  Gaming  [1].  Segundo  o  autor,  é  uma  metodologia  eficiente  para  aplicar  a  Teoria  dos  Jogos  de  forma  mais
eficiente.  Ela  aborda  cinco  questões  básicas  derivadas  da  Teoria  dos  Jogos  e  sustenta  um  processo  de  três  etapas:  a
Estruturação Dinâmica, Avaliação Estratégica e Planejamento da Execução. Essa abordagem é simples, intuitiva e fornece
insights  valiosos  rapidamente,  ajudando  as  empresas  a  construir  um  roteiro  dinâmico  e  um  plano  estratégico  e  tático  para
jogar o jogo de forma efetiva. 

As cinco questões básicas para criar os cenários competitivos são:
    1. Quem são os jogadores?
    2. Quais as opções que cada um tem?
    3. Qual a sequência de cada uma dessas ações?
    4. Quais são as incertezas?
    5. Quais são os payoffs para cada jogador para cada possível resultado?

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Com essas perguntas como pano de fundo, é possível sumarizar as três etapas do Strategic Gaming na figura abaixo: 

O  primeiro  passo  é  a  Estruturação  Dinâmica,  um  etapa  de  criar  o  escopo  e  estruturação  as  situações.  Aqui  as  quatro
questões  são  feitas  e  isso  permite  a  construção  das  árvores  de  decisão.  Um  diagrama  deste  tipo  mapeia  cada  possível
ação dos jogadores, em sequência, e também as incertezas mais importantes. Ainda, construir árvores de decisão ajuda as
pessoas  a  se  colocarem  melhor  na  posição  e  mente  dos  outros  jogadores  e  isso  enriquece  o  pensamento  estratégico.
Alguma avaliação quantitativa é feita, a qual ajuda a focar nas análises posteriores e oferece insights úteis e direcionamento
para ação de curto prazo.

O segundo passo é a Avaliação  Estratégica,  uma  fase  de  estimativa  quantitativa  na  árvore  de  decisão.  A  quinta  questão
entre  em  cena.  Métodos  tradicionais  de  Decision  Analysis  geralmente  são  usados  para  calcular  e  modelar  numericamente
os  payoffs,  e  em  seguida  as  técnicas  de  Teoria  dos  Jogos  são  empregadas  para  ganhar  insights  e  entender  quais
estratégias são as melhores considerando as incertezas e prováveis movimentos e reações dos outros jogadores.

O passo final é o Planejamento da Execução. Aqui todas as análises são reunidas e se avalia além da simples árvores de
decisão  para  desenvolver  um  plano  de  ação  que  possa  ser  implementado  efetivamente.  Assim  é  possível  entender  qual
movimento fazer agora e no futuro, sobre quais cenários e incertezas, e quais táticas influencia mais os jogadores. 

Em seu livro, Papayoanou informa que tem praticado este roteiro em sua atividade de consultoria em diversas empresas e
com  muito  sucesso.  Aqui  apresentamos  o  framework  geral,  e  no  livro  ele  entra  em  detalhes  em  cada  um  dos  elementos.
Entretanto,  no  nosso  contexto  é  suficiente  para  explicar  que  uma  metodologia  de  análise  (como  esta  ou  qualquer  outra
similar) é muito importante para conseguir avaliar os cenários corretamente e gerar subsídios e insights para ações.

 
[1] Game Theory for Business, a primer in Strategic Gaming, Paul Papayoanou, 2010, Probabilistic Publishing

Teoria dos Jogos é como VPL: o mapeamento é tarefa sua
 
A Teoria dos Jogos é geralmente criticada pelo fato de ser muito teórica, baseada na matemática e com pouca aplicação na
complexa  vida  real.  Precisamos  avaliar  essa  afirmação  com  ressalvas.  A  parte  matemática  pode  ser  eliminada,  tanto  que
não  abordamos  neste  site.  A  complexidade,  portanto,  está  no  mapeamento  dos  cenários,  que  depende  dos  seguintes
fatores:  (1)  sua  capacidade  analítica,  (2)  sua  experiência  na  situação  ou  mercado  e  (3)  seu  conhecimento  sobre  os
jogadores.  A  Teoria  dos  Jogos  não  faz  isso  para  você.  Neste  contexto,  a  Teoria  dos  Jogos  é  um  método  de  raciocínio,

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particularmente  útil  nas  situações  de  interdependência  de  decisões,  e  não  uma  ferramenta  estratégica  para  avaliação  de
mercado. 

Para  ficar  mais  claro,  como  comparação,  a  Teoria  dos  Jogos  é  como  a  teoria  do  Valor  Presente  Líquido.  O  VPL  possui
conceitos  e  fórmulas  bem  definidos.  Quando  você  quer  comparar  dois  cenários  com  diferentes  fluxos  de  caixa
(rendimentos/pagamentos),  você  os  "traz  a  valor  presente"  utilizando  uma  taxa  de  desconto  segundo  uma  fórmula
matemática que você aprendeu. Assim, você consegue verificar qual alternativa, no tempo, possui maior valor financeiro de
retorno. Nas aulas de Finanças, os melhores estudantes são aqueles que fazem os cálculos corretamente. 

Entretanto, o mais dífícil não é usar os dados (basta interpretar e saber usar as fórmulas). O complexo é obter  os  dados.


Entretanto, nas aulas os dados são fornecidos no enunciado do problema. Os estudos de casos, por mais complexos que
sejam,  apresentam  o  fluxo  de  caixa  como  uma  informação  disponível  para  todos  os  jogadores  ­  tanto  o  seu  como  do  seu
concorrente.  Assim,  você  aprende  o  conceito  de  valor  presente  e  respectivas  fórmulas,  mas  ninguém  responde  principal
pergunta: em um caso real, como calcular os rendimentos ao longo do tempo?

A  vida  real  é  diferente,  você  está  numa  empresa  e  não  possui  um  problema  com  enunciado  pronto.  Você  imagina  vários
cenários, sabe calcular o VPL (inclusive, o Excel tem a fórmula pronta) mas não sabe os valores para colocar como input.
Para  isso  precisaria  fazer  projeções  de  vendas,  custos,  reação  dos  concorrentes,  reação  dos  consumidores,  pesquisas,
situação  econômica  ao  longo  dos  anos,  entre  outros  dados.  Qualquer  valor  errado  compromete  o  resultado,  por  mais  que
você  saiba  a  teoria  do  Valor  Presente  Líquido.  Se  você  insistir  com  a  pergunta  em  uma  aula  de  finanças  (como  mapear  o
fluxo de caixa), uma resposta sincera poderia ser "isso é problema seu, não conheço sua realidade, mercado, concorrentes,
estrutura  de  custos,  perfil  dos  clientes;  aqui  está  o  conceito  teórico  para  comparar  cenários  usando  valor  presente  e  aqui
estão as fórmulas, boa sorte". 

Caso semelhante ocorre com a Curva de Demanda. Aulas de Economia apresentam uma curva onde, para cada preço do
seu  produto  existe  uma  demanda  ­  a  quantidade  que  você  irá  vender.  Os  consumidores  compram  mais  a  medida  que  o
preço  cai.  Com  esta  curva  exata  de  cada  preço­quantidade,  com  um  pouco  de  cálculo  de  primeiro  e  segundo  grau,  você
consegue definir qual exato preço estabelecer para que a quantidade vendida maximize os lucros. Assim você tem a noção
da elasticidade do preço, o que é muito útil. 

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Mas  idêntico  ao  conceito  do  VPL,  o  conceito  da  Curva  de  Demanda  só  traz  resultados  realmente  práticos  se  você  souber
qual  é  a  curva  de  demanda  do  seu  produto  real.  Como  saber  isso?  Você  não  vai  mudar  o  preço  todo  dia  ou  semana,
durante  anos,  só  para  identificar  a  relação  preço  versus  quantidade  vendida.  Então  como  saber  a  sua  curva?  Uma  vez
perguntei ao meu professor de Economia e ele respondeu "nas aulas nós usamos uma curva dada para ensinar o conceito;
se você quer saber como formá­la, converse com seu professor de Marketing Quantitativo". Assim, fui conversar com meu
professor  de  Marketing  e  ele  respondeu:  "Olha,  não  sei  responder.  Para  isso  existem  empresas  especializadas  de
consultoria que ajudam as empresas". 

Mesmo  assim,  o  fato  de  não  saber  calcular  os  inputs  reais  não  desqualifica  os  conceitos  ensinados  como  um  grande
framework  de  pensamento  sobre  VPL  (como  comparar  dois  investimentos)  e  sobre  Curva  de  Demanda  (como  calcular  o
ponto ideal de preço x quantidade para maximizar o lucro). Igualmente, a Teoria dos Jogos ensina os grandes conceitos para
modelar "a lógica da situação" ao colocar os payoffs de cada jogador (seja numa árvore sequencial de decisão ou seja numa
matriz  de  ações  simultâneas)  e  achar  o  ponto  de  equilibrio  (fazendo  o  backward  induction  nos  jogos  sequenciais  ou
descobrindo as estratégias dominantes nos jogos simultâneos).

Como  todos  os  jogos­modelos  e  estórias,  a  Teoria  dos  Jogos  apresenta  insights  sobre  competição  versus  colaboração,
equilibrios  ineficientes  e  como  ficar  atento  as  ações  e  reações  dos  concorrentes.  Criticar  a  Teoria  dos  Jogos  dizendo  que
não pode ser usada na realidade pela falta dados é o mesmo que criticar a maioria dos modelos Econômicos e Financeiros.
Os  modelos  são  o  condutor  da  linha  de  raciocínio  para  gerar  o  output,  mas  por  enquanto,  nada  substitui  sua  experiência,
criatividade, pesquisas quantitativas e outros métodos de Decision Analysis para gerar os inputs. 
 

Desenhando o Jogo Correto ­ Dois exemplos
 
Em uma guerra de preços, por exemplo, algumas empresas têm mais capacidade que outras para reagir e combater. Outros
não  podem  fazê­lo  por  causa  de  sua  estrutura  de  custos,  o  comportamento  avesso  ao  risco  ou  outros  motivos.  Por  isso,
não  basta  apenas  usar  ferramentas  matemáticas  computacionais  para  fazer  previsões  em  um  jogo.  Também  é  preciso
intuição  e  conhecimento  sobre  os  executivos  das  outras  empresas  para  desenhar  o  jogo  com  as  preferências  corretas
(deles). 

É o que chamamos de "desenhar o jogo correto"; assim a Teoria dos Jogos pode ajudar a analisar a lógica da situação de
forma eficiente. Dois exemplos abaixo mostram como os executivos desenharam o jogo correto e errado. Você deve estar
ciente  de  tais  exemplos  de  sucesso  e  falha.  Os  exemplos  são  do  livro  The  Right  Game  ­  Use  Game  Theory  to  Shape
Strategy, de Branderburger e Nelebuff [1].

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Exemplo 1 ­ Companhias Aéreas Kiwi ­ O jogo correto

Quando  um  novo  jogador  entra  no  mercado  com  um  preço  mais  baixo,  a  empresa  atual  só  tem  duas  respostas  eficazes:
igualar  o  preço  do  entrante  ou  se  acomodar  e  conceder  um  pouco  de  market­share.  A  Kiwi  International  Airlines  foi  uma
iniciante em 1992 fundada por ex­pilotos da Eastern Airlines (que tinha falido). A Kiwi tinhau uma vantagem de custo devido
ser de propriedade dos próprios empregados e por fazer leasing dos aviões. Entretanto, tinha pouco reconhecimento da sua
marca e grade de horário mais limitada do que as grandes companhias. O que fazer então? 

Decidiu  por  oferecer  preço  baixo  e  vôos  limitados.  Por  quê?  Quando  um  entrante  adota  essa  estratégia,  o  lucro  dos
jogadores depende de como a atual empresa vai responder. Ela pode recuperar o seu market­share perdido se igual o preço
do concorrente, ou pode dar, digamos, 10% do mercado. Certamente perder até 10% de participação é normalmente melhor
do  que  sacrificar  a  sua  margem  de  lucro.  Mas  o  entrante  não  pode  ser  demasiado  ganancioso;  se  ele  tenta  ganhar  muito
mais  mercado,  a  atual  empresa  vai  lutar  para  recuperar  a  sua  parte,  mesmo  sacrificando  um  pouco  de  margem.  Assim,
somente  quando  o  entrante  limita  a  sua  capacidade  é  que  a  atual  empresa  pode  se  acomodar  e  o  entrante  pode  ganhar
dinheiro. 

Isso  é  o  que  aconteceu  e  Kiwi  fez  dinheiro  por  ficar  longe  de  grandes  operadoras,  que  entenderam  que  Kiwi  não
representava  ameaça.  Kiwi  quis  capturar  no  máximo  10%  e  não  mais  que  quatro  vôos  por  dia.  Para  arquitetra  a  escolha
certa de preço e quantidade de vôos, Kiwi teve que se colocar na posição das grandes companhias aéreas para assegurar
que elas teriam um incentivo maior para acomodar, e não lutar. Isso mostra como os executivos da Kiwi compreenderam a
competição e desenharam o jogo correto. 

Exemplo 2 ­ Empresa Sweetener Holland ­ O jogo errado

O  NutraSweet,  um  adoçante  com  baixas  calorias  usadas  em  refrigerantes  como  Diet  Coke  e  Diet  Pepsi,  gerou  70%  de
margem  bruta  para  a  Monsanto.  Tais  lucros  costumam  atrair  outros  para  entrar  no  mercado,  mas  o  NutraSweet  estava
protegido por patentes na Europa até 1987 e nos Estados Unidos até 1992. 

Com  a  bênção  da  Coca­Cola,  um  entrante,  o  Holland  Sweetener  Company  (HSC),  construi  uma  fábrica  de  aspartame  na
Europa  em  1985,  antecipando  a  expiração  da  patente.  Como  HSC  atacou  o  mercado  europeu,  a  Monsanto  lutou
agressivamente. Usou­se reduções de preços e as relações contratuais com seus clientes para impedir a HSC de entrar no
mercado. Assim, a HSC estava ansiosa para mover a guerra nos Estados Unidos. 

No entanto, a guerra terminou antes de começar. Pouco antes da expiração da patente na Europa, tanto Coca­Cola e Pepsi
assinaram  novos  contratos  de  longo  prazo  com  a  Monsanto.  Parece  que  a  Coca­Cola  e  a  Pepsi  não  aproveitaram  a
oportunidade  de  concorrência  entre  fornecedores.  Na  verdade,  nem  Coca­Cola  nem  Pepsi  tinham  mesmo  desejo  real  de
mudar para um aspartame genérico. Nenhuma das empresas quis ser o primeiro a ter o logotipo da NutraSweet fora da lata e
criar  uma  percepção  de  que  foi  alterando  o  sabor  de  suas  bebidas,  uma  vez  que  a  NutraSweet  já  tinha  construído  uma
reputação de segurança e bom gosto. 

No  final,  o  que  a  Coca­Cola  e  Pepsi  realmente  queriam  ter  era  a  velha  e  boa  NutraSweet  a  um  preço  muito  melhor.  HSC
deveria  ter  reconhecido  que  a  Coca­Cola  e  Pepsi  tinham  pago  uma  alto  preço  alto  para  tornar  o  mercado  de  aspartame
competitivo. HSC desenhou o jogo correto, Coca­Cola e Pepsi sim. E a Monsanto fez bem em criar uma marca forte e uma

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vantagem de custo, minimizando os efeitos negativos da entrada de uma marca genérica. 

 
[1] Branderburger e Nelebuff, The Right Game ­ Use Game Theory to Shape Strategy.

Recapitulação
 
 

Ameaças críveis e navios queimados
 
Normalmente, você se beneficia quando possui várias alternativas a disposição para escolher uma
delas. Quanto mais opções tivermos, mais benefícios teremos, certo? Nem sempre. A existência
de  algumas  alternativas,  no  entanto,  aumenta  a  dificuldade  de  fazer  ameaças  críveis.
Conseqüentemente, eliminar opções pode aumentar o seu ganho.

Em  Game  Theory  at  Work,  James  Miller  apresenta  o  seguinte  exemplo.  Imagine  que  você  é  um
comandante  militar  medieval  que  deseja  invadir  um  castelo  inimigo.  Suas  tropas  navegaram  até  chegar  a  ilha  do  castelo.
Todo  mundo  sabe  que  você  está  determinado  a  lutar  até  o  fim  para  seu  exército  sair  vitorioso.  Mas  infelizmente  a  batalha
seria  longa.  Você  perderia  muitos  soldados  numa  batalha  sangrenta,  então  você  reza  desesperadamente  para  que  seu
inimigo se renda facilmente e o mais rápido. Você pensa: se inimigo sabe que vai perder a batalha, ele vai se render para
evitar mortes.

Entretanto, o seu inimigo ouviu falar de sua compaixão. Você não se importa com o bem­estar do adversário, mas você se
preocupa  tremendamente  com  as  vidas  de  seus  próprios  soldados  (talvez  por  razões  egoístas).  Ele  então  corretamente
suspeita que, se manter­se combativo por tempo suficiente, você será debilitado e enfraquecido com suas perdas e recuará.
Embora você deseje do castelo, você não quer dizimar o seu exército para obtê­lo.

Nesta  sequência  de  "eu  acho  que  ele  acha",  você  imagina  que  seus  oponentes  imediatamente  se  renderão  se  eles
acreditarem que você vai lutar até o fim. Por isso, se você fizer uma ameaça crível de lutar até a vitória, eles vão desistir e
você não tem que arriscar suas tropas. Infelizmente, a simples ameaça de lutar até o fim carece de credibilidade, então o
que você deve fazer? Você deve queimar seus próprios navios!

Imagine  que  se  o  seus  barcos  forem  queimados,  levaria  meses  para  seus  aliados  trazerem  novos  navios  para  a  ilha  para
resgatar seu exército. Enquanto isso, você morreria se não conseguir ocupar o castelo. Perder seus barcos seria obrigá­
lo a lutar até a vitória. Mais importante, seu inimigo acreditaria que, com seus barcos queimados, você nunca iria recuar. A
rendição  é  a  resposta  ideal  do  inimigo  para  a  queima  de  seu  barcos.  Ao  destruir  seus  navios,  você  limita  as  suas
escolhas.  Você  não  pode  mais  desistir  da  baalha.  Eliminar  a  opção  de  recuar  faz  sua  ameaça  virar  crível  e  permite  obter
uma vitória sem derramamento de sangue.

Avinash Dixit and Barry Nalebuff chamam estas decisões em Teoria dos Jogos de "movimentos estratégicos". Um jogador
pode  usar  ameaças  e  promessas  para  alterar  as  expectativas  dos  outros  jogadores  sobre  as  ações  futuras  e  induzi­los  a

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tomar  medidas  favoráveis   ou  impedi­los  de  fazer  movimentos  para  prejudicá­lo.  Para  ter  sucesso,  as  ameaças  e  as
promessas  têm  de  ser  críveis.  Isso  é  problemático  porque  quando  chega  na  hora  decisiva,  geralmente  é  muito  caro
cumprir  uma  ameaça  ou  promessa  (a  tentação  de  não  cumprir  é  grande  se  não  tiver  consequência).  Por  isso  é  preciso
aumentar a credibilidade: como princípio geral, pode ser vantajoso para um jogador reduzir a sua própria liberdade de ação
futura. Ao fazer isso, ele remove sua própria tentação de renegar uma promessa ou a perdoar as transgressões dos outros.

Exemplo histórico

A Stanford Encyclopedia of Philosophy  cita  que  muito  antes  da  Teoria  do  Jogos  aparecer  para  mostrar  como  pensar  sobre
este  tipo  de  problema  sistematicamente,  o  caso  ocorreu  a  alguns  líderes  militares  e  influenciou  suas  estratégias.  Conta  a
história  que  o  conquistador  espanhol  Cortez,  quando  chegou  ao  México,  contava  com  uma  pequena  força  militar  e  tinha
bons  motivos  para  temer  a  sua  capacidade  para  repelir  o  ataque  dos  astecas  muito  mais  numerosos.  O  que  ele  fez?
Removeu o risco das suas tropas pensarem em desistir e queimou os navios em que tinham ancorado.

Como a desistência e o recuo ficaram fisicamente impossível, os soldados espanhóis não tiveram melhor opção a não ser
ficar e lutar e, além disso, combater com mais determinação. Melhor ainda, do ponto de vista de Cortez, sua ação teve um
efeito desanimador sobre a motivação dos astecas. Ele teve o cuidado de queimar seus navios de forma muito visível, de
modo que os astecas teriam visto com certeza.

Eles,  então,  consideraram  o  seguinte:  qualquer  comandante  que  seja  tão  confiante  a  ponto  de  diberadamente  destruir  sua
própria opção deve ter boas razões para um otimismo tão extremo. Não é inteligente revidar a um adversário que tem uma
boa  razão  (qualquer  que  seja)  para  ter  certeza  que  ele  não  pode  perder.  Cortez  eliminou  propositadamente  suas  opções  e
não  tinha  mais  navios  para  voltar  para  casa.  Apesar  de  seus  soldados  serem  em  número  bem  menor,  a  ameaça  crível  de
lutar  até  a  morte  desmoralizou  o  inimigo.  Os  astecas,  portanto,  recuaram  para  as  colinas  em  vez  de  lutar  contra  um
oponente tão determinado e Cortez teve sua vitória sem sangue.

Outra  fonte  clássica  que  possui  essa  seqüência  de  raciocínio  é  Henrique  V  de  Shakespeare.  Durante  a
Batalha  de  Agincourt,  Henrique  V  decidiu  matar  seus  prisioneiros  franceses  bem  a  vista  do  inimigo  e
para a surpresa de seus próprios soltados, que inclusive descreveram esta a ação como imoral. Henrique
V  tinha  medo  que  os  prisioneiros  pudessem  se  libertar.  No  entanto,  um  expert  em  Teoria  dos  Jogos
poderia ter fornecido algumas dicas estratégicas complementares. Suas próprias tropas observaram que
os  prisioneiros  foram  mortos  e  perceberam  que  o  inimigo  viu  também.  Portanto,  os  soltados  de  Henrique  V  sabiam  qual
destino os esperariam na mão do inimigo se não vencessem. Metaforicamente, mas de forma muito eficaz, barcos deles
foram  queimados.  Ao  matar  os  prisioneiros  franceses  na  frente  de  todo  mundo,  Henrique  V  enviou  um  sinal  para  os
soldados de ambos os lados e assim alterou os incentivos de forma que favoreceu as perspectivas inglesas para a vitória.

Exemplos menos sangrentos

Esses exemplos podem parecer que a estratégia de "queimem os navios" se aplica somente em situações competitivas de
vida  ou  morte.  Não  necessariamente.  A  Stanford  Encyclopedia  of  Philosophy  fornece  outro  exemplo.  Suponha  que  você
possui  um  pedaço  de  terra  adjacente  ao  meu,  e  eu  gostaria  de  comprá­lo,  de  modo  a  expandir  o  meu  lote.  Infelizmente,
você não quer vender pelo preço que estou disposto a pagar. Então, eu poderia tentar mudar os incentivos: digamos que eu
anuncio que vou construir uma estação de tratamento de esgotos com um odor pútrido na minha terra ao lado de sua a não
ser  que  você  a  venda,  induzindo  você  a  baixar  o  seu  preço.  No  entanto,  este  movimento  não  muda  nada.  Se  você  se
recusar  a  vender  mesmo  com  a  minha  ameaça,  não  é  do  meu  interesse  de  realizá­la  porque  prejudicar  você  também  me
prejudica. Uma vez que você sabe isso, você deve ignorar a minha ameaça. Minha ameaça não é crível, acaba por ser um

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blefe. 

No entanto, eu poderia fazer uma ameaça crível se eu me comprometer. Por exemplo, eu poderia assinar um contrato com
alguns  fazendeiros  prometendo  fornecer­lhes  fertilizante  (do  esgoto  tratado),  mas  incluindo  no  contrato  uma  cláusula  de
saída  me  liberando  da  obrigação  somente  se  eu  dobrar  o  tamanho  do  meu  lote  e  assim  colocá­lo  para  algum  outro  uso.
Agora a minha ameaça é crível pois eu me amarrei: se você não vender, eu estou comprometido com a construção da
usina de esgoto. Uma vez que você sabe disso, agora você tem um incentivo para me vender sua terra para escapar de sua
ruína.

Em outro exemplo, suponha que nós dois desejamos roubar um antílope raro de um parque nacional a fim de vendê­lo como
troféu.  Um  de  nós  deve  conduzir  o  animal  para  a  outra  pessoa,  que  aguarda  escondido  para  atirar  e  carregá­lo  em  um
caminhão. Você promete, é claro, compartilhar o produto comigo. No entanto, sua promessa não é crível. Assim que tiver
o antílope, você não tem nenhuma razão para não levá­lo embora e embolsar todo dinheiro. Afinal, eu nem posso reclamar
para a polícia sem ser preso também.

Mas  agora  suponha  que  eu  faça  o  seguinte.  Antes  de  nossa  caçada,  eu  instalo  no  caminhão  um  alarme  que  pode  ser
desligado  apenas  digitando  um  código.  Só  eu  sei  o  código.  Se  você  tentar  dirigir  sem  mim,  o  alarme  soará  e  nós  dois
seremos pegos. Você, sabendo disso, agora têm um incentivo para esperar por mim. O que é importante notar aqui é que
você prefere que eu instale o alarme, uma vez que isso faz a sua promessa de dar a minha parte ser crível. Se eu não fizer
isso,  deixando  a  sua  promessa  sem  credibilidade,  seremos  incapazes  de  concordar  com  crime  e  vamos  perder  nossa
oportunidade de ganhar dinheiro com a venda do troféu. Assim, você se beneficia por eu impedi­lo de fazer o que é tentador
para você.

Em  resumo,  queimar  os  seus  navios  e  diminuir  algumas  opções  para  ter  ameaças  e/ou  comprometimento  críveis  são
ferramentas poderosas para conquistar alguns objetivos, seja em competição ou colaboração. Também é uma boa forma de
resolver o Dilema dos Prisioneiros. 

PS:  Essa  é  a  essência  de  certas  barganhas  e  contratos  quando  um  precisa  confiar  na  promessa  de  outro.  Uma  outra  boa
referência é ler os seguintes capítulos de Games, Strategies e Managers, de John McMillan: Negotiating (Gaining Bargaining
Power) e Contracting (Creating Incentives e Designing Contratcs).

 
1. Game Theory, por Avinash Dixit and Barry Nalebuff, em Library of Economics and Liberty ­ http://www.econlib.org/library/Enc/GameTheory.html

2. Game Theory, por Stanford Encyplodia of Philosophy ­ http://plato.stanford.edu/entries/game­theory/

3. Livro Game Theory at Work, por James D. Miller.

4. Livro Games, Strategies e Managers, de John McMillan

O que é o Dilema dos Prisioneiros
 
O  Dilema  dos  Prisioneiros  é  um  jogo  muito  famoso  que  representa  bem  o  dilema
entre  cooperar  e  trair  [NOTA  1].  Resumidamente,  a  estória  é  a  seguinte.  Dois
suspeitos, A e B, são presos pela polícia. A polícia não tem provas suficientes para
os condenar, então separa os prisioneiros em salas diferentes e oferece a ambos o

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mesmo acordo: 

1. Se um dos prisioneiros confessar (trair o outro) e o outro permanecer em silêncio, o que confessou sai livre enquanto o
cúmplice silencioso cumpre 10 anos. 
2. Se ambos ficarem em silêncio (colaborarem um com ou outro), a polícia só pode condená­los a 1 ano cada um. 
3. Se ambos confessarem (traírem o comparsa), cada um leva 5 anos de cadeia. 

Cada  prisioneiro  faz  a  decisão  sem  saber  a  escolha  do  outro  ­  eles  não  podem  conversar.  Como  o  prisioneiro  vai  reagir?
Existe algum decisão racional a tomar? Qual seria a sua decisão?

Usando uma matriz como recurso visual

Uma forma esquemática para mostrar uma interação humana, ou seja, um jogo, é através de uma "matriz  de  resultados"


[NOTA  2].  Embora  o  enunciado  do  problema  seja  simples  e  intuitivo  para  entender  de  forma  verbal,  a  representação  gráfica

oferece  uma  grande  ajuda  para  visualizar  o  cenário  de  forma  completa  e  entender  as  opções  e  implicações  para  cada
jogador.

Nesta  figura  você  visualiza  as  duas  opções  de  cada  prisioneiro  e  o  resultado  de  cada  combinação  de  ação.  Para  cada
célula,  os  valores  vermelhos  a  direita  referem­se  ao  Prisioneiro  A;  os  azuis  a  esquerda  referem­se  ao  Prisioneiro  B.
Estão descritos quantos anos cada prisioneiro ficará na cadeia. Neste cenário, quando menor o valor da pena, melhor para o
prisioneiro. 

Os  prisioneiros  não  podem  combinar  a  decisão  (estão  em  salas  isoladas  e  sem  comunicação)  e  devem  escolher
simultaneamente. Cada jogador quer ficar preso o menor tempo possível, ou seja, maximizar seu resultado individual. Qual
a  melhor  decisão?  Considerando  os  incentivos  deste  jogo  (os  valores  das  penas  para  cada  combinação  de  decisões  na
matriz), existe uma única decisão racional a tomar: trair. A explicação é a seguinte:

Imagine que você é o prisioneiro A. Assim, você raciocina nas duas hipóteses:
­ Suponha que o Prisioneiro B escolha Colaborar. Então, se você escolher Colaborar, leva 1 ano de prisão. Se escolher
Trair, sai livre. Neste caso, Trair é a melhor opção.
­  Suponha  que  o  Prisioneiro  B  escolha  Trair.  Então,  se  você  escolher  Colaborar,  leva  10  anos  de  prisão.  Se  escolher
Trair, fica com 5 anos. Neste caso, Trair é a melhor opção.

Perceba que Trair é a melhor opção em ambos os casos. Em outras palavras, Trair  é  a  melhor  opção  independente

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da decisão do Prisoneiro B.

Agora, imagine o que o Prisoneiro B está pensando: se ele é racional como você, provavelmente a mesma coisa.
­ Ele supõe que você vai escolher Colaborar. Então, se ele escolher Colaborar, leva 1 ano de prisão. Se escolher Trair,
sai livre. Neste caso, Trair é a melhor opção.
­ Ele supõe que você vai escolher Trair. Então, se ele escolher Colaborar, leva 10 anos de prisão. Se escolher Trair, fica
com 5 anos de prisão. Neste caso, Trair é a melhor opção.

De novo, perceba que Trair é a melhor opção em ambos os casos.

O dilema: a escolha individual não é o melhor para ambos

Em  Teoria  dos  Jogos,  chamamos  que  Trair  é  a  Estratégia  Dominante,  ou  seja,  aquela  que  apresenta  o  melhor  resultado
independente  da  decisão  do  outro  jogador.  Quando  em  um  certo  jogo,  devido  o  esquema  de  incentivos  (a  matriz  de
resultados)  você  não  precisa  se  preocupar  com  a  decisão  alheia  porque  existe  uma  opção  melhor  independente  do  seu
competidor, então você deve escolher a estratégia dominante.

Neste  exemplo  dos  prisioneiros,  como  ambos  vão  escolher  Trair  devido  a  estratégia  dominante,  cada  um  é  preso  por  5
anos. Assim, dizemos que Trair­Trair é a solução de equilíbrio, equilibrio do jogo ou Equilibrio de Nash. O Equilibrio de
Nash  [NOTA  3]  é  a  solução  (combinação  de  decisões)  em  que  nenhum  jogador  pode  melhorar  seu  resultado  com  uma  ação
unilateral.  Ou  seja,  dado  que  Trair­Trair  é  a  solução  de  equilíbrio  (o  resultado  racional  do  jogo),  se  o  Prisioneiro  A  mudar
unilateralmente para Colaborar ele sai perdendo (15 anos), o mesmo ocorrendo para o Prisioneiro B.

O grande problema no Dilema dos Prisioneiros é que o equilíbrio (Trair­Trair) não é o melhor resultado pois existe um outro
possivel  e  melhor:  se  ambos  escolherem  Colaborar  (ficar  em  silêncio)  cada  um  ficaria  com  apenas  um  ano  de  prisão.
Assim,  o  Dilema  dos  Prisioneiros  é  uma  abstração  de  situações  comuns  onde  a  escolha  do  melhor  individual  conduz  à
traição  mútua,  enquanto  que  a  colaboração  proporcionaria  melhores  resultados.  Por  isso  dizemos  que  o  Dilema  dos
Prisioneiros resulta em um "equilíbrio ineficiente" pois o esquema de incentivos e racionalidade induz a um resultado pior. 

Você poderia imaginar que este equilíbrio só ocorre porque as pessoas não podem conversar e combinar as ações, e que
se  pudessem  fazer  um  acordo  prévio,  tudo  se  resolveria.  Isso  não  é  necessariamente  verdade.  Você  quer  colaborar  (ficar
em silêncio), mas quem garante que o seu parceiro fará o mesmo? O quanto você confia no outro jogador? 

Você  é  o  prisioneiro  e  sua  vida  está  em  jogo.  Você  combina  antes  que  vai  colaborar  e  quer  cumprir  sua  palavra.  Seu
comparsa  sabe  isso.  Então,  o  que  garante  que,  no  último  instante,  ele  não  vai  te  trair,  justamente  sabendo  que  você  vai
colaborar? Para ele é simples, ele sai livre e você pega 15 anos de prisão... Daí é tarde. Provalvelmente, o seu comparsa
pensará  da  mesma  forma  a  seu  respeito.  Por  isso,  o  Dilema  dos  Prisioneiros  se  torna,  na  verdade,  num  Dilema  da
Confiança. Como resolver esse dilema? Você verá nos próximos artigos.

 
[1] O Dilema dos Prisioneiros foi inventado em 1950 por Merrill Flood e Melvin Dresher, e foi adaptado e divulgado por A.W.Tucker. 

[2] Em inglês, o termo usado é "payoff matrix". Em português existem algumas variantes: matriz de resultados, matriz de recompensas e matriz de

pagamentos.

[3] O nome Equilibrio de Nash é devido seu inventor, John Nash, ganhador do prêmio Nobel em 1994 e que foi retratado no filme Uma Mente Brilhante, em

2001.

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O Dilema dos Prisioneiros na vida real ­ Guerra de Preços
 
[OBS: para melhor aproveitar este artigo, sugiro primeiro ler o O que é o Dilema dos Prisioneiros como introdução]

O maravilhoso mundo do Dilema dos Prisioneiros abre as portas para muitas analogias com a vida real. Este "jogo­modelo"
é uma das metáforas mais poderosas na ciência do comportamento humano pois inúmeras interações sociais e econômicas
tem  a  mesma  estrutura  de  incentivos  (a  matriz  de  resultados).  O  conflito  típico  dos  jogos  da  categoria  "Dilema  dos
Prisioneiros" é que cada jogador escolhe sua estratégia dominante e o resultado é pior ao grupo como um todo; é o conflito
entre o interesse individual e coletivo. 

O exemplo do Posto de Gasolina e a Guerra de Preços

Imagine  uma  cidade  com  apenas  dois  postos  de  gasolina.  Você  é  dono  de  um  deles,
chamado GASOIL, que fica lado a lado do seu concorrente, o posto CARGAS. Devido a
proximidade, quando uma pessoa precisa abastecer o carro, ela vai até eles, visualiza o
preço de ambos e escolhe pelo menor. Embora existam outros motivos que diferenciam
os postos, como a cordialidade e velocidade dos frentistas, o preço é o fator mais relevante. 

Assim, se o assunto é preço, alguns centavos a menos podem induzir parte dos clientes a preferir o posto com menor valor.
Por  exemplo,  se  seu  concorrente  abaixar  o  preço  em  5%,  ele  ganha  cerca  de  30%  dos  seus  clientes.  Este  aumento  de
volume  de  clientes  compensa  o  preço  reduzido,  melhorando  a  rentabilidade,  enquanto  você  perde  faturamento.  Por  isso,
você  pensa:  que  tal  abaixar  o  preço  do  litro  de  $3  para  $2,90?  Isso  fará  com  que  habituais  clientes  do  CARGAS
(concorrente) passem a abastecer no GASOIL (o seu posto).

A  vida  empresarial  seria  mais  fácil  se  as  decisões  foram  isoladas.  Entretanto,  como  o  seu  concorrente  vai  reagir?  Ao
notar que você abaixou o preço e ele perdeu clientes, ele também vai abaixar o preço para $2,90. Como resultado, os dois
postos  terão  preço  igual  ($2,90  no  lugar  de  $3,)  e  o  mesmo  volume  de  cliente  como  antes,  mas  ambas  empresas  perdem
faturamento e lucro. Essa é a essência de uma guerra de preços que prejudica o negócio dos dois postos. 

Suponha  que  vocês  tomam  a  decisão  simultaneamente.  Se  hoje  é  domingo,  vocês  vão  decidir  qual  o  preço  inicial  na
segunda­feira.  Durante  o  dia  não  é  possível  alterar  o  preço,  apenas  de  um  dia  para  outro.  Vocês  não  se  conversam  e  não
sabem qual preço o concorrente vai adotar. Você fica sabendo apenas no dia seguinte e qualquer arrependimento será tarde
demais (ao menos durante um dia inteiro, até você tomar alguma atitude para o dia seguinte).

Considerando  essa  dinâmica  de  mercado  com  clientes  sensíveis  ao  preço,  ambos  tem  incentivos  para  abaixar  o  preço  e
ganhar  mais  momentaneamente.  Entretanto,  se  os  dois  fizerem,  ambos  saem  perdendo.  Assim,  preventivamente,  você
conversa  com  o  dono  do  CARGAS  e  combinam  de  não  abaixar  os  preços.  Ele  concorda,  mas  você  vai  dormir  com  a
dúvida: será que posso confiar nele? Se ele abaixar o preço a noite, você perderá toda a clientela do dia seguinte. Você está
num dilema ­ o Dilema da Confiança, ou melhor dizendo, é um jogo semelhante ao Dilema dos Prisioneiros.

Matriz de Resultados possui a mesma armadilha dos Prisioneiros

Embora  seja  intuitivo,  podemos  representar  a  matriz  de  resultados  do  posto  de  gasolina  abaixo.  Em  cada  célula
(combinação de escolhas), o valor da esquerda refere­se os ganhos do Gasoil, e o valor a direita são os ganhos da Cargas.

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O valor em si é meramente ilustrativo, mas a proporção entre eles é que é relevante para a decisão. 

CARGAS

Manter Reduzir

Manter 50 , 50 30 , 60


GASOIL
Reduzir 60 , 30 40 , 40

Se  ambos  colaborarem,  os  dois  ganham  $50  por  dia.  Se  um  deles  abaixar  o  preço,  recebe  $60  enquanto  o  que  mantem
reduz para com $30. Já se ambos reduzirem o preço, o resultado para cada um será $40, pois significa abaixar o preço sem
aumentar volume de clientes. Como visto na metodologia de análise no Dilema do Prisioneiro, (40,40) é o ponto de equilíbrio
(reduzir­reduzir) pois abaixar o preço é a estratégia dominante de cada um, resultando em pior valor se tivessem mantido o
preço. 

Eles  caíram  na  armadilha  e  muitos  chamam  essas  situações  de  Dilema  Social  ­  o  interesse  individual  e  análise
estritamente matemática e racional induz a resultados piores do que outras opções olhando o coletivo. Como mencionado, é
difícil  sair  dessa  armadilha  ­  quem  vai  arriscar  a  colaborar  (manter  o  preço)  se  há  chance  do  outro  trair  (reduzir  o  preço)  e
ganhar sozinho?

O próximo exemplo refere­se ao dilema da propaganda visual na cidade de São Paulo e a solução da lei Cidade Limpa.

Recapitulação
 
 

Cooperação via Autoridade Central: exemplo da Lei Cidade Limpa
 
[OBS: para melhor aproveitar este artigo, sugiro primeiro ler o O que é o Dilema dos Prisioneiros como introdução]

Como  resolver  o  Dilema  dos  Prisioneiros?  Como  conseguir  a  cooperação


quando  os  incentivos  induzem  as  pessoas  para  o  egoísmo  e  individualismo,
mesmo sabendo que no final todos perdem?

Uma das respostas é o uso de uma autoridade central que force os jogadores
a  colaborarem,  sob  pena  de  alguma  sansão.  É  o  que  ocorreu  com  a  Lei
Cidade Limpa, em São Paulo, válida desde 2007.

Antes da lei, existia na cidade era uma verdadeira guerra de propaganda visual, um típico dilema dos prisioneiro. Para serem

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vistos, os comerciantes cada vez mais colocavam letreiros maiores em suas lojas. Como consequência, ninguém via nada,
a logomarca sequer era notada e gerava uma poluição visual enorme. Assim, ninguém saia lucrando (apenas empresas de
letreiros...)

Uma forma de converter esse esquema numa matriz de resultados é a seguinte: 

Se  as  empresas  não  entrassem  na  guerra  do  "o  meu  é  maior  e  mais  luminoso",  todos  estariam  OK  (quadrante  esquerdo
superior ­ manter logo). Entretanto, a tentação era muito grande para se aproveitar: se a LOJA 2 aumentar seu letreiro, o seu
logo  vai  aparecer  "muito"  e  da  LOJA  1  "nada"  pois  o  grande  ofusca  o  pequeno.  O  inverso  ocorre  se  LOJA  2  aumentar  e
LOJA 1 manter o seu logo. O final você já sabe... se ambas aumentarem o tamanho do logo, todos aparecem "pouco". 

Embora seja uma representação aproximada (Ok, muito, nada, pouco), o esquema demonstra a essência deste jogo. Existe
uma estratégia dominante para aumentar o logo, uma vez que "muito" é melhor que "Ok", e "pouco" é melhor que "nada". 

Como resposta a esse dilema, a prefeitura de São Paulo limitou o tamanho dos letreiros de cada loja para 4 m2 e até 5m de
altura.  Essas  dimensões  pode  ser  questionada  do  ponto  de  vista  arquitetônico,  entretanto,  como  política  pública  para
combater a poluição visual e terminar a guerra entre as lojas (Dilema dos Prisioneiros), a lei é bem eficaz pois os jogadores
(as  lojas)  não  conseguiam  entrar  em  cooperação  por  si  próprios.  Afinal,  eles  estavam  numa  armadilha  e  não  sabiam  sair
dela.  Se  você  tem  uma  loja  e  decide  manter  o  logo,  quem  garante  que  seu  vizinho  não  vai  aumentar  o  dele?  E  se  ele
aumentar, ofuscando o seu, o que você fará?

Outro exemplo: quando os governos proibiram a propaganda de cigarro, em vários países, muitos acharam que seria o fim
da  indústria  do  tabaco.  Mas  não  foi  o  que  ocorreu.  As  empresas  também  estavam  num  Dilema  dos  Prisioneiros,  presos  a
armadilha  de  gastar  fortunas  em  propaganda.  As  campanhas  publicitárias  eram  caras  e  ostensivas,  mas  o  propósito  era
defensivo  ­  as  empresas  faziam  campanhas  porque  as  demais  faziam.  O  exemplo  é  similar  ao  nossos  caso  do  posto  de
gasolina;  se  uma  empresa  deixasse  de  fazer  propaganda,  dado  o  investimento  da  outra,  os  clientes  poderiam  migrar  de
marca  e  transferir  o  lucro.  No  fim,  a  restrição  da  propaganda  ajudou  as  empresas  a  evitar  campanhas  milionárias;  embora
sem este artifício para atingir o público, não perderam lucratividade pois os custos diminuíram. 

Tanto  no  caso  da  lei  Cidade  Limpa,  como  na  propaganda  de  cigarro  ou  no  aumento/redução  de  preços,  os  jogadores
(empresas,  indivíduos)  até  agradecem  uma  autoridade  central  que  as  force  um  acordo  coletivo  que  limite  a  competição  e
canibalismo.
 

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Recapitulação
 

Cooperação via estratégia Olho por Olho
 
[OBS: para melhor aproveitar este artigo, sugiro primeiro ler o O que é o Dilema dos Prisioneiros como introdução]

Em  que  condições  a  cooperação  surgirá  num  mundo  de  egoístas  sem  uma  autoridade  central?  Essa
foi uma das questões que Robert Axelrod trabalhou para elaborar um estudo que resultou no livro The
Evolution of Cooperation. [NOTA 1]

Aqui  entra  em  cena  o  conceito  de  reciprocidade,  ou  como  dizem  alguns  autores,  "você  coça  minhas
costas, depois eu coço a sua". Eu colaboro com você, então você colabora comigo. Mas sabendo que
as pessoas respondem a incentivos, e que a recompensa por uma traição é maior, o que garante que eu não vou trair? 

Como Axelrod coloca, nas situações em que cada indivíduo tem um incentivo para ser egoísta, como a cooperação pode se
desenvolver?  A  resposta  para  este  dilema,  segundo  os  cientistas  em  Teoria  dos  Jogos,  está  na  repetição  infinita  das
interações entre os jogadores. O que torna possível a cooperação é o fato dos jogadores poderem se encontrarem várias
vezes. Traduzindo: vou colaborar porque sofrerei retaliação se eu trair, e é melhor você colaborar comigo pois vou retaliá­lo
se você me trair. A traição mútua não é vantajosa para ninguém. 

O conceito é simples e intuitivo, mas foi sistematizado e provado. O estudo mais conhecido sobre interações repetitivas do
jogo  do  Dilema  dos  Prisioneiros  foi  um  concurso  de  computador  conduzido  por  Axelrod  em  1980.  Ele  convidou  várias
pessoas renomadas em Teoria dos Jogos, Psicologia, Sociologia, Ciências Políticas e Economia para submeter estratégias
interativas  para  um  concurso  via  por  computador.  O  computador  era  apenas  para  ter  velocidade  na  simulação  (o  concurso
poderia ser feito com várias pessoas presentes, lápis e papel). 

Como definição, uma estratégia é uma sequência de regras de decisão, é uma especificação do que fazer em qualquer
situação  que  possa  surgir.  Uma  estratégia  pode  ser  cooperar  durante  alguns  padrões  e  trair  em  outros,  ela  pode  usar
probabilidades, pode usar o padrão do concorrente e de resultados para decidir o que fazer em seguida. Neste concurso, a
estratégia  deveria  especificar  o  que  fazer  a  cada  interação  do  Dilema  dos  Prisioneiros  e  poderia  usar  todo  histórico  de
interação (sua e do oponente). Para cada jogada, o resultado era em pontos, como na matriz abaixo.

Jogador B

Colaborar Trair

Colaborar 3 , 3 0 , 5


Jogador A
Trair 5 , 0 1 , 1

Relembrando, esse esquema de pontução relembra o esquema do Dilema dos Prisioneiros. Duas pessoas estão em um

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jogo. Eles precisam escolher entre duas opções: Cooperar ou Trair. As possíveis combinações são:

1. Se ambos cooperarem, cada um ganha 3 pontos como Recompensa.
2. Se ambos trairem, cada um ganha 1 ponto, que é a Punição por falharem em juntar forças.
3. Se um trair enquanto o outro coopera, o traidor recebe 5 pontos (que é a Tentação) e o colaborador não recebe nada
(é o Idiota). 

Como  um  jogodor  racional  irá  jogar?  Traindo,  é  claro.  Esta  é  a  resposta  correta,  não  importando  o  que  ou  outro  vai
fazer, porque: 
­ Se o outro jogador vai Cooperar, então você ganha 5 pontos ao Trair ou 3 pontos ao Cooperar. Melhor trair. 
­ Se o outro jogador vai Trair, então você ganha 1 ponto ao Trair ou 0 pontos ao Cooperar. Melhor trair. 

O problema é que o outro jogador, sendo racional também, pensa exatamente da mesma forma. Como resultado, ambos
acabam  ganhando  apenas  1  ponto,  muito  menos  se  existisse  uma  cooperação  mútua,  pois  poderiam  ganhar  3  pontos.
Como Karl Sigmund coloca, o Dilema do Prisioneiro não é, de fato, um dilema, pois trair é a única opção racional  [Nota  2].
Então, como conseguir a cooperação? A resposta está na repetição do jogo, como foi demonstrado no concurso.

Neste  torneio,  cada  programa  competia  com  todos  os  outros  programas  (inclusive  com  ele  mesmo)  e  os  pontos  eram
acumulativos.  Cada  jogo  consistia  em  200  jogadas.  Como  é  possível  ganhar  5  pontos  em  cada  jogada,  teoricamente  a
pontuação  final  varia  de  0  a  1.000.  Por  exemplo:  quando  uma  estratégia  "Sempre  Cooperar"  joga  contra  uma  estratégia
"Sempre  Trair",  quem  cooperar  soma  0  pontos  e  quem  trai  soma  1.000  pontos.  Uma  pontuação  razoável  é  ganhar  3  em
todas as 200 interações quando ambos cooperam toda vez, somando 600 pontos. 

Importante  mencionar  que  não  há  uma  estratégia  certa  pois  depende  contra  qual  adversário  você  está  jogando.  Nenhuma
estratégia é melhor independente da estratégia do outro. Por exemplo, se jogar contra um programa que sempre colabora, a
sua  melhor  estratégia  é  trair  sempre  pois  consegue  5  pontos  a  todo  momento.  O  problema  é  que  nem  sempre  você  sabe
contra quem está jogando; não é porque seu oponente cooperou 2 vezes é que ele irá cooperar as 200 jogadas. O inverso
também é verdade; se você encontrar um jogador que sempre trai, então melhor trair pois ao menos você consegue 1 ponto
no lugar de zero. 

Jogar  contra  um  jogador  que  sempre  colabora  ou  sempre  trai  é  muito  simples.  Mas  na  prática  o  seu  oponente  reage
conforme  a  sua  jogada  e  conforme  as  crenças  que  ele  tem  sobre  você.  Além  disso,  o  concurso  não  esperava  encontrar  a
estratégia mais bondosa, mais ética. O que ele esperava era descobrir qual a estratégia que somaria pontos, considerando
que  os  jogadores  não  podiam  se  comunicar  e  que  levavam  em  conta,  a  cada  momento,  as  decisões  do  passado  como
aprendizado. 

Neste  primeiro  concurso,  quatorze  estratégias  foram  inscritas.  Axelrod  acrescentou  mais  um  jogador  com  uma  estratégia
"Aleatória"  (50%  entre  cooperar  e  trair).  A  estratégia  inscrita  mais  longa  teve  77  linhas  de  código  de  programa,  e  esta  foi
obteve a pior resultado de 282,2 pontos em média. A estratégia aleatória foi um pouco pior, com 276,3 pontos.

OLHO POR OLHO

A  estratégia  com  maior  pontuação  foi  também  a  estratégia  mais  simples.  Enviada  por  Anatol  Rapopor,  foi  chamada  de
OLHO POR OLHO (em inglês, TIT FOR TAT). Ela tinha 4 linhas de código e pode ser explica numa sentença: coopere na
primeira  jogada,  depois  faça  o  que  o  outro  jogador  fez  na  jogada  passada.  OLHO  POR  OLHO  fez  em  média  504,5
pontos.  Contra  estratégias  específicas  a  pontuação  variou  do  menor  score  de  225  pontos  até  o  máximo  de  600  pontos.

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[NOTA 3]

William Poundstone explica bem o sucesso desta estratégia. [NOTA 4]

Por que a estratégia OLHO POR OLHO é tão efetiva? 

Primeiro,  ela  é  uma  estratégia  gentil  pois  nunca  é  a  primeira  a  trair.  Ela  começa  colaborando  e  dá  ao  oponente  o
benefício  da  dúvida.  Se  a  outra  estratégia  retornar  o  favor  e  continuar  assim,  OLHO  POR  OLHO  nunca  trai.  Ela  não
arranja encrenca e fica contente se assim continuar. Quando OLHO POR OLHO joga contra si mesmo, ambos começam
cooperando e nunca provocam o outro. 

Para se ter noção, os oito primeiros classificados tinham uma estratégia gentil, ou seja, nunca ser o primeiro a trair. Os
outros  não  eram.  As  estratégias  gentis  pontuaram  entre  472  e  504  pontos.  A  estratégia  não­gentil  melhor  classificada
obteve  401  pontos.  Assim,  não  ser  o  primeiro  a  trair  era  uma  propriedade  que  separava  as  estratégias  mais  bem­
sucedidas das menos bem­sucedidas. 

Segundo, OLHO POR OLHO também é provocativa. Ela trai em resposta a uma traição. Depois da segunda rodada, ela
responde a provocação do outro na mesma moeda. Se a outra estratégia trai na jogada 5, então OLHO POR OLHO trai
na rodada 6. 

Terceiro,  outro  grande  predicado  de  OLHO  POR  OLHO  é  o  perdão.  Ela  não  é  draconiana  a  ponto  de  uma  simples
transgressão  levar  a  traição  perpétua.  Ela  sempre  está  disposto  a  cooperar  a  medida  que  o  oponente  queira  cooperar.
Se a outra estratégia cooperar, então OLHO POR OLHO volta a cooperar para sempre. 

Quarto, além de ser gentil, provocativa e disposta ao perdão, OLHO POR OLHO é uma estratégia simples. Ela ameaça
"faça  ao  outro  o  que  eles  fizerem  com  você".  A  ameaça  faz  parte  do  seu  comportamento  estratégico,  e  OLHO  POR
OLHO  cumpre  a  promessa  ao  repetir  a  ação  mais  recente  do  oponente  na  esperança  que  a  outra  estratégia  perceba
isso.  Interessante  é  que  OLHO  POR  OLHO  pune  a  traição  do  adversário  de  imediato,  na  próxima  jogada.  Essa
estratégia  é  melhor  que  outras,  do  tipo  "contar  até  10  antes  de  ficar  zangado"  (ou  seja,  deixar  um  certo  número  de
traições antes de retaliar). 

Quinto,  outra  qualidade  importante  do  OLHO  POR  OLHO  é  que  sua  estratégia  não  é  segredo.  Alguém  jogando  OLHO
POR OLHO não precisa ter medo que o oponente descubra sua estratégia. Pelo contrário, é bom que o oponente saiba
disso.  Quando  se  joga  contra  OLHO  POR  OLHO,  ninguém  pode  se  sair  melhor  do  que  cooperar.  Isso  faz  dela  uma
estratégia muito estável.

O primeiro concurso de Axelrod não foi tão conclusivo porque a pontuação de uma estratégia depende da combinação com
outras estratégias. Como foram inscritos apenas 14 programas, seria provável que não representassem todas as estratégias
possíveis no mundo. Por isso Axelrod promoveu um segundo concurso e informou o resultado do primeiro e do sucesso do
OLHO  POR  OLHO.  Estava  implícito  que  agora  o  desafio  era  vencer  OLHO  POR  OLHO.  No  total,  foram  inscritos  62
programas de 6 países. Apesar da forte concorrência, OLHO POR OLHO venceu novamente.

O mais interessante é que OLHO POR OLHO ganhou sem explorar nenhuma outra estratégia. Ainda, OLHO POR OLHO não
venceu ninguém em particular, mas mesmo assim ganhou o concurso. As estratégias foram chamadas para competir, e não
colaborar.  Ou  seja,  o  objetivo  era  somar  mais  pontos,  mesmo  se  precisasse  trair.  Não  havia  julgamento  moral,  trair  fazia
parte legítima do jogo. E o intrigante é que a estratégia vencedora, o OLHO POR OLHO, prega a colaboração; quem mais
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colaborou ganhou mais pontos somando todos os jogos. 

O  próprio  Axelrod  no  seu  livro  conclui:  "OLHO  POR  OLHO  venceu  o  torneio  porque  ele  foi  bom  nas  suas  interações  com
uma grande variedade de outras estratégias. Em média, foi melhor do que qualquer outra regra contra as outras estratégias
no  torneio.  No  entanto,  OLHO  POR  OLHO  não  pontuou  melhor  em  nenhum  jogo  comparado  com  seu  o  adversário!  Na
verdade,  ele  não  pode.  Ele  deixa  o  outro  jogador  trair  primeiro,  depois  nunca  escolhe  trair  mais  vezes  que  os  outros
jogadores  traiam.  Portanto,  OLHO  POR  OLHO  atinge  sempre  a  mesma  pontuação  que  o  outro  jogador,  ou  pouco  menos.
OLHO  POR  OLHO  venceu  o  concurso  não  por  ganhar  dos  outros  jogadores,  mas  sim  forçando  o  comportamento  do  outro
jogador  e  deixando­o  fazer  o  bem.  OLHO  POR  OLHO  foi  tão  consistente  em  proporcionar  resultados  mutuamente
gratificantes que alcançou maior pontuação geral do que qualquer outra estratégia". 

Uso da OLHO POR OLHO na vida real

Em  resumo,  a  estratégia  OLHO  POR  OLHO  educa  o  oponente  para  a  cooperação.  Na  vida  real,  se  você  trair,  na  próxima
rodada  seu  oponente  irá  te  trair  e  criar  uma  situação  indesejável.  Por  isso,  você  tem  incentivos  para  colaborar  e  dar  o
exemplo para que nas próximas interações vocês consigam uma situação de ganha­ganha. Mas se você cooperar para dar
o exemplo e ele trair para se aproveitar da situação? Daí você retribui com uma retaliação na sequência. Se ele colaborar,
você perdoa e volta a colaborar. 

Mas será que a simples repetição da interações e convivência leva a cooperação? Karl Sigmund defende que se o número
de  interações  é  conhecido  com  antecedência  por  ambos  jogadores,  não  haverá  cooperação.  A  última  rodada  da  série  é  o
simples  Dilema  do  Prisoneiro  de  uma  jogada  só  e  o  resultado  já  é  conhecido:  a  traição,  pois  não  haverá  próxima
oportunidade  para  sofrer  a  retaliação.  Nesta  última  interação,  trair  não  traz  consequência  de  retaliação  e  não  afetará  as
próximas  rodadas  (que  não  existirão).  Uma  vez  que  passado  é  passado,  nem  a  gratidão  nem  a  vingança  terão  efeito  e
assim não há motivos para desviar a estratégia de maximizar o ganho ao trair.

Uma vez a última interação já está definida (trair), o que acontecerá na penúltima jogada? A mesma coisa (trair), pois não há
incentivo para colaborar se você sabe que o adversário vai trair pelo mesmo raciocínio ­ a penúltima jogada tem as mesmas
características da última jogada. Retroagindo o raciocínio para todas as jogadas, descobre­se que não haverá colaboração
em  nenhum  ponto  se  ambos  pensarem  racionalmente.  E  se  você  não  pensar  assim,  e  seu  adversário  sim,  ele  usará
sempre a traição e, sabendo disso, colaborar dará ganhos bem menores. 

E aí? Nunca existirá cooperação?

Em um jogo repetido, é a expectativa  de  futuros  encontros  que  faz  a  cooperação  ser  mais  atraente.  O  fim  das  interações
não  deve  ser  conhecido  com  antecedência,  deve  sempre  existir  alguma  probabilidade  de  uma  próxima  jogada.  Este  é  o
significado  da  expressão  "O  mundo  dá  voltas"  e  o  poder  educativo  de  deixar  claro  a  sua  estratégia  OLHO  POR  OLHO:
"Você  coça  as  minhas  costas  e  eu  coço  as  suas,  mas  se  você  trair,  saiba  que  o  mundo  dá  voltas,  voltaremos  a  nos
encontrar  e  revidarei  com  traição.  Então  é  melhor  para  todos  colaborar  desde  já,  como  eu  estou  fazendo  desde  o  início  ­
sempre colaboro, eu perdoo, mas não sou idiota".
 
[NOTA 1] A Evolução da Cooperação, de Robert Axelrod, 2010, Leopardo Editora (original em inglês de 1984)

[NOTA 2] Games of Life, Karl Sigmund, 1993, Penguin Books

[NOTA 3] Se você quer fazer simulações de computador para ver por si mesmo, a IOWA State University possui um ótimo software com essas estratégias. O

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link é http://www.econ.iastate.edu/tesfatsi/demos/axelrod/axelrodT.htm. Com o software você pode escolher quais estratégias jogarão entre si, quais os

resultados, quantas rodadas e verificar os vencedores em formato de tabela e gráfico.

[NOTA 4] Livro Prisoner´s Dilemma, de William Poudstone, 1992, Anchor Books

Não há razão para dar gorjeta em restaurante
 
[OBS: para melhor aproveitar este artigo, sugiro primeiro ler o O que é o Dilema dos Prisioneiros como introdução e demais
na sequência]

Você leu nos artigos anteriores que a cooperação no mundo da Teoria dos Jogos ocorre quando há interações
repetidas  e  particularmente  não  se  sabe  quando  será  a  última  vez.  Numa  situação  estilo  Dilema  dos
Prisioneiros  de  apenas  uma  jogada,  a  melhor  estratégia  racional  é  trair,  uma  vez  que  não  há  uma  nova
chance para o outro revidar. Escrevi a palavra "razão" no título no sentido de racional, mas evidentemente
há outros "motivos" para cooperar. 

Vamos usar o exemplo de um restaurante onde a gorjeta é opcional. Não se trata de um Dilema dos Prisioneiros típico onde
"o  melhor  racional  individual  é  o  pior  coletivo",  mas  a  analogia  com  situações  repetidas  versus  interação  única  se  encaixa
bem neste Dilema da Gorgeta. Há tempos que os economistas se perguntam: porque as pessoas dão gorjetas?.  Existem
duas explicações ­ uma emocional e uma racional. A emocional refere­se ao sentimento de que o garçon recebe salário fixo
muito  baixo  e  depende  de  gorjetas  para  complementar  a  renda,  e  assim  há  uma  atitude  altruísta  de  agradecimento  e
colaboração.  A  explicação  racional  desta  "generosidade"  está  exatamente  no  auto­interesse  do  cliente  nas  interações
repetidas ­ frequentadores assíduos dão gorjetas mais polpudas justamente porque os garçons, na próxima vez, irão atender
cada vez melhor.

Se dar gorjeta para receber um melhor serviço na próxima vez é um raciocínio válido, imagine o inverso. Se você não der
gorjeta,  alguns  garçons  ficam  chateados  e  outros  ficam  revoltados  e  vingativos.  É  preciso  tomar  cuidado  com  algumas
reações.  Por  isso,  suponha  que  você  é  um  frequentador  assíduo  de  um  restaurante  e  nunca  dá  gorjeta.  Provavelmente  o
garçon lembrará de você na próxima vez. Essa é uma situação de interação repetida com demonstração de traição, então
cuidado com os garçons vingativos e seu amigo cozinheiro...

Entretanto,  você  está  viajando,  sabe  que  nunca  vai  voltar  naquele  restaurante,  então  por  qual  razão  daria  gorjeta?  Ainda,
porque dar mais dinheiro ao taxista ou camareira? Do ponto de vista racional econômico no mundo do auto­interesse, não há
razão para cooperar (gastar mais), especialmente se o valor é alto. 

A prática da gorjeta contraria os pressupostos da economia clássica, afinal a gorjeta é uma despesa que os consumidores
são livres para evitar e o pagamento é realizado após o serviço feito sem vínculo para melhorar a qualidade. Mesmo assim
percebe­se  que  as  pessoas  deixam  gorjetas,  mesmo  quando  nunca  mais  retornarão,  ou  são  fregueses  raros  cuja
probabilidade de reencontrar o mesmo trabalhador novamente é mínima. Acadêmicos recorrem para as normas  sociais,  e
não  econômicas,  como  a  única  explicação  para  este  fenômeno,  uma  vez  que  já  virou  uma  prática  quase  universal  nos
estabelecimentos.

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Free­riders e Tragédia dos Comuns
 
Além  do  Dilema  dos  Prisioneiros,  outra  poderosa  estória­modelo  com  características  similares  é  a
Tragédia dos Comuns. Len Fisher, no livro Rock, Paper, Scissors ­ Game Thoery in Everyday Life
explica  a  origem  deste  nome.  O  termo  Tragedy  of  the  Commons  (commons  no  sentido  de
"público") foi cunhado pelo ecologista e teórico dos jogos Garrett Hardin numa publicação em 1968.
Hardin  ilustra  o  problema  usando  a  parábola  de  um  grupo  de  pastores  que  tinham  seus  animais
numa  terra  pública.  Cada  pastor  pensava  em  adicionar  um  animal  ao  seu  rebanho  com  o  seguinte  raciocínio:  um  animal
extra  proporcionaria  um  bom  lucro  adicional,  e  no  geral  a  pastagem  diminuiria  somente  um  pouquinho,  então  parece
perfeitamente lógico ao pastores colocarem um animal extra. A tragédia ocorre quando todos os outros pensam na mesma
maneira.  Quando  todos  adicionam  um  animal,  a  terra  se  torna  superpopulada  e  em  breve  não  há  nenhum  pasto  mais
sobrando [1].

Como  Fisher  brinca,  a  Teoria  dos  Jogos  explica  porque  colherinhas  gradualmente  desaparecem  das  áreas  comuns  de
escritórios. Tecnicamente falando, os usuários de colheres tomam decisões considerando que a utilidade deles (ou seja, os
seus próprios benefícios) cresce bastante ao pegar uma colher para uso pessoal enquando a utilidade de todos os demais
colegas  diminui  uma  pequeninha  fração  per  capita  (afinal,  há  uma  monte  de  colheres).  Mas  a  medida  que  todos  tomam  a
mesma decisão, todas as colheres comuns desaparecem!

Basta  fazer  a  analogia  das  colheres  para  qualquer  outro  recurso  e  ver  que  sérios  problemas  globais  tem  como  origem  o
mesmo ciclo vicioso desta lógica de pensamento. O benefício individual causa grande custo para a comunidade envolvida.
A tragédia dos comuns exerce seu poder destrutivo quando alguns colaboraram por benefício mútuo mas outros percebem
que poderiam se sair melhor ao quebrar a cooperação.

Se eu jogar papel no chão, meu pedacinho não fará sujeira alguma, mas se todos jogaram, as ruas ficam atoladas de lixo.
Essa  é  a  essência  do  free  rider  (em  português  poderiamos  dizer  de  caronista).  O  free  rider  se  beneficia  ao  não  colaborar,
sempre está pegando carona nas costas dos outros que colaboram. Em um modelo de condomínio, onde a água do prédio é
dividida  de  forma  igual  a  todos  os  apartamentos,  se  eu  gastar  um  pouco  mais  não  pagarei  pelo  meu  consumo  pois  será
rateada por todos os 40 condôminos. É por isso que a tendência dos edifícios mais modernos é possuir medidor individual
para cobrar o consumo exato de cada unidade. 

Mais exemplos: dividindo a conta de um restaurante

Um caso típico de divisão de recursos comuns ocorre no pagamento de uma conta de restaurante. Em
um  sistema  a  la  carte,  onde  cada  convidado  escolhe  seu  prato,  um  método  tradicional  de  divisão  é
repartir  a  conta  em  partes  iguais,  independente  da  quantidade  consumida.  Sabemos  cada  prato  tem
um  preço  diferente  ­  há  pratos  caros  e  baratos.  Além  disso,  alguns  pedem  entrada  e  outros  não,
alguns comem somente salada, há os que pedem sobremesa. Bebedores pedem vinho e outros apenas suco. E assim vai ­
na hora de dividir alguém vai pagar mais ou menos se comparado com o valor exato ingerido. Os defensores argumentam
que  separar  os  valores  individuais  dá  muito  trabalho  (anotações  em  papel,  calculadora,  gorgeta  proporcional),  além  de  ser
indelicado e, afinal, um produto compensa o outro. 

Mas  o  problema  não  reside  no  método  de  divisão  em  si.  A  analogia  com  a  Tragédia  dos  Comuns  é  a  seguinte.  Cada
convidado pode pensar da seguinte maneira ­ eu vejo que todo mundo está pensando em pedir a carne por $20 cada, mas
há  o  camarão  por  $40.  Como  somos  em  10  pessoas,  se  eu  pedir  camarão,  pagarei  uma  fração  adicional  pequena  pois  os
meus $40 serão diluídos em dez. Ainda, se eu ficar na carne e outros pedirem um prato mais caro, eu é que estarei pagado

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a  mais  sem  usufruir.  Entretanto,  todos  tem  o  mesmo  racional  e  quando  se  percebe  todos  pediram  camarão  para  pegar
carona e o desastre é grande ­ a conta fica muito mais cara do que gostariam (ou do que seria se estivessem sozinhos ou
se o sistema fosse outro). Sabendo deste comportamento humano, se você fosse um dono de restaurante, qual modelo de
cobrança adotaria ­ uma conta única por mesa ou sistema de comandas individuais?

Mas  um  dos  fenômenos  mais  nocivos  onde  vemos  o  problema  do  Dilema  dos  Prisioneiros,  Tragédia  dos  Comuns  e  Free
rider  é  a  discussão  sobre  aquecimento  global,  onde  os  jogadores  são  os  governos  dos  países.  Este  é  um  exemplo  típico
onde  o  auto­interesse  individual  causa  problemas  para  todos  os  habitantes.  Investir  contra  o  aquecimento  global  é  muito
caro  para  os  países,  são  necessárias  mudanças  de  políticas  de  emissão  de  gases,  sistemas  de  controles,  despesas  em
métodos alternativos de energia, etc. Se eu gastar uma fortuna e os outros países não, minhas ações isoladas não farão a
menor diferença na natureza. Por outro lado, se os outros países o fizerem e eu não, vou me beneficiar de um melhor clima
mundial  as  custas  dos  demais  sem  gastar  um  centavo.  O  próximo  artigo  discorre  isso  melhor  (Jogando  com  o  Planeta  ­
Teoria dos Jogos e Aquecimento Global).

Insights para resolver o dilema

Poderíamos evitar situações da Tragédia dos Comuns se todos mudassem de comportamento e tornassem mais altruístas.
Mas  a  vida  é  assim,  alguns  comportamentos  humanos  são  frutos  dos  incentivos  existentes.  A  Teoria  dos  Jogos  não  faz
julgamento  moral,  ela  simplesmente  aceita  o  fato  que  o  auto­interesse  é  uma  motivação  das  pessoas  na  hora  de  fazer
decisões.  O  papel  da  Teoria  é  ajudar,  através  de  modelos  e  analogias,  as  pessoas  a  reconhecerem  esta  armadilha  e  ter
alguns insights para sair dela.

Uma  saída  já  mencionada  é  usar  a  gestão  de  uma  autoridade  central  (ver  artigo  Colaboração  via  Autoridade  Central:
exemplo da Lei Cidade Limpa)  para  punir  seriamente  aqueles  que  desviam  do  combinado,  mudando  os  incentivos  do  jogo.
Outra  forma  é  adotando  a  estratégia  Olho  por  Olho  (ver  artigo  Cooperação  via  estratégia  OLHO  por  OLHO)  ao  punir  o
adversário  quando  este  o  trair,  mantendo  sempre  a  colaboração  como  guia  mestre  de  conduta.  Entretanto,  esta  última
estratégia  é  funcional  apenas  quando  você  está  interagindo  com  um  jogador  de  cada  vez,  o  que  não  é  o  caso  quando  se
joga  contra  múltiplas  pessoas,  como  na  Tragédia  dos  Comuns  e  outros  Dilemas  Sociais.  Nestes  casos  é  necessário  um
formato de medição individual.

Como  vimos,  uma  medição  individual  é  ter  um  aparelho  de  consumo  de  água  por  apartamento  ou  ter  uma  comanda  de
consumo  particular  no  restaurante.  Em  outros  casos,  é  ter  câmeras  de  vigilância  em  todos  os  lugares  para  apontar  os
infratores de jogar papel no chão e roubarem colheres do escritório. Não é fácil, conhecemos muitos free riders no escritório
ou  na  faculdade  que  se  beneficiam  do  trabalho  coletivo  e  não  fazem  muita  contribuição  relevante  (sim,  dá  raiva).  Aqui  a
palavra chave é accountability, do inglês que poderíamos chamar de responsabilização, ao conseguir diferenciar e medir os
esforços e ações individuais. Caso contrário, a Tragédia dos Comuns será o reino dos Free Riders.
 
[1] Rock, Paper, Scissors ­ Game Thoery in Everyday Life, Len Fisher, 2008, Basic Books

Aquecimento Global e Teoria dos Jogos
Uma versão do dilema do prisioneiro pode sugerir formas de romper o impasse de Quioto
 
Baseado no artigo "Playing games with the planet", The Economits, 27/09/2007 ­ original nos Links

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Como  em  qualquer  encontro  sobre  alterações  climáticas,  sempre  existem  políticos  que
declaram  que  é  "urgente"  ou  "vital"  ou  "imperativo"  proteger  o  planeta  do  superaquecimento.
E mesmo assim poucos governos estam dispostos a resolver o problema por si mesmos. Na
prática,  o  que  esses  apaixonados  oradores  geralmente  querem  dizer  é  que  é  urgente  (vital,
imperativo) para todos os outros países, exceto para seus próprios.

Isso é natural. Afinal, todos os países desfrutarão dos benefícios de um clima estável se eles
ajudaram a realizá­lo ou não. Então, um governo que possa persuadir os outros a cortar suas emissões de gases de efeito
estufa sem fazê­lo obtém o melhor dos dois mundos: evita toda a despesas envolvidas e ainda escapa da catástrofe.

Os mais óbvios "free­riders" são os Estados Unidos e Austrália, os únicos países ricos que se recusam a colocar um limite
para  suas  emissões.  Mas  eles  estão  longe  de  serem  os  únicos  agressores:  a  maioria  dos  países  pobres  também  estão
interessados em responsabilizar os países ricos em conter o aquecimento global para continuar a poluir.

Onde entra a Teoria dos Jogos

O problema, claro, é que se todos contarem que os outros vão agir, entãoninguém vai atuar e as conseqüências podem ser
muito piores do que se todos fizessem a sua parte só um pouquinho para começar. Os especialistas em Teoria dos Jogos
chamam  esse  cenário  de  uma  versão  simplificada  do  "Dilema  do  Prisioneiro".  Nele,  dois  presos  acusados  do  mesmo
crime se encontram em celas separadas, incapazes de se comunicar. Seus carcereiros tentam convencê­los a delatar um
ao outro. Se nenhum deles acusar ao outro, ambos receberão uma sentença de apenas um ano. Se um aceitar o acordo e o
outro ficar calado, o traidor fica livre enquanto o bode expiatório pega dez anos de cadeia. E se ambos denunciarem um ao
outro, ambos ficam presos cinco anos.

Se o primeiro prisioneiro está planejando ficar quieto, o segundo tem um incentivo para denunciá­lo, e assim sai impune ao
invés  de  passar  um  ano  na  prisão.  Se  o  primeiro  prisioneiro  está  planejando  trair  o  segundo,  então  o  segundo  vai  levar  a
melhor  se  trair  também,  e  assim  receber  uma  sentença  de  cinco  anos  em  vez  de  dez  anos.  Em  outras  palavras,  uma
pessoa  racional,  com  auto­interesse,  sempre  vai  trair  o  seu  companheiro  de  prisão.  Assim,  os  dois  ficam  cinco  anos  na
cadeia enquanto poderiam ter cortado sua pena para um ano caso ambos ficassem calado.

Almas  pessimistas  assumem  que  a  resposta  internacional  à  mudança  climática  terá  o  mesmo  rumo  que  o  dilema  do
prisioneiro. Líderes racionais vão sempre negligenciar o problema, alegando que os outros vão resolvê­lo, deixando seu país
se tornar um free­rider. Assim, o mundo está condenado a ser um forno, apesar do aquecimento global poder ser evitado se
todos cooperassem.

No  entanto,  em  um  artigo  recente,  Michael  Liebreich,  da  empresa  de  pesquisa  New  Energy  Finance,  baseia­se  na  Teoria
dos Jogos para chegar à conclusão contrária. A dinâmica do dilema do prisioneiro, ele aponta, muda drasticamente quando
os  participantes  sabem  que  jogarão  o  jogo  mais  de  uma  vez.  Nesse  caso,  eles  têm  um  incentivo  para  cooperar  a  fim  de
evitar ser punido por sua má conduta de seu oponente em rodadas subseqüentes.

O jornal cita um estudo sobre o assunto por um acadêmico americano, Robert Axelrod, que argumenta que a estratégia mais
bem  sucedida  quando  o  jogo  é  repetido  tem  três  elementos:  primeiro,  os  jogadores  devem  começar  cooperando;  em
segundo  lugar,  eles  devem  deter  a  traição  ao  punir  o  transgressor  na  próxima  rodada;  e  terceiro,  eles  não  devem  guardar
rancores,  mas  sim  iniciar  novamente  com  cooperação  após  a  punição  adequada.  O  resultado  desta  estratégia  deve  ser  a
cooperação sustentável ao invés de um ciclo de retaliações.

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Liebreich  acredita  que  tudo  isso  traz  lições  para  os  negociadores  do  clima  mundial.  Tratados  sobre  a  mudança  climática,
afinal,  não  jogos  de  uma  jogada  só.  Na  verdade,  as  Nações  Unidas  está  agora  mesmo  incentivando  seus  membros  para
negociar um sucessor para o seu tratado em vigor, o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012. Muitos temem que o esforço
entrará  em  colapso  a  menos  que  os  retardatários  sejam  persuadidos  a  aderir.  Mas  o  artigo  argumenta  que  os  países
racionais  não  serão  intimidados  por  "free­riders".  Eles  continuarão  a  reduzir  suas  emissões,  enquanto  elaboram  sanções
para aqueles que não o fazem.

Resolvendo Quioto

O  Protocolo  de  Quioto  já  incorpora  alguns  desses  elementos.  Os  países  que  não  cumprirem  os  seus  compromissos,  por
exemplo, deveriam ser punidos com a obrigação de reduzir suas emissões de forma mais acentuada na próxima vez. Mas
Liebreich argumenta que também deve haver sanções para os países ricos que se recusam a participar, e incentivos para
os  países  pobres  para  juntar­se  (que  são  isentas  de  quaisquer  cortes  obrigatórios).  Ao  invés  de  tentar  elaborar  um  acordo
que  é  agradável  a  todos,  os  países  mais  entusiasmados  devem  simplesmente  avançar  com  um  sistema  para  que  os
resistentes possam aderir mais tarde.

O regime global sobre mudança climática, Liebreich acredita, também deverá se revisto com mais freqüência para permitir
que  o  jogo  se  desenvolva  mais  rapidamente.  Então,  ao  invés  de  estipular  grandes  reduções  de  emissões,  a  ser
implementado ao longo de cinco anos, em Quioto, os negociadores poderiam considerar a adoção de metas anuais. Dessa
forma, os governos cooperativos sabem que não podem ser aproveitados por muito tempo, enquanto que free­riders
podem ser punidos e de volta ao rebanho mais rapidamente.

Há falhas na analogia, é claro. No mundo real, os governos podem se comunicar e formar alianças, o que torna a dinâmica
do  jogo  muito  mais  complicado.  E  os  governos  podem  não  agir  de  forma  coerente  e  racional.  Algumas  pessoas  assumem
que a política dos EUA sobre o aquecimento global vai mudar em 2008 (o texto foi escrito em 2007), juntamente com o seu
presidente.  E  a  vontade  da  maioria  dos  países  em  agir  é  presumivelmente  ligada  à  gravidade  dos  efeitos  do  aquecimento
global. Se as coisas ficam ruins o suficiente, então com alguma sorte todo mundo vai jogar o jogo.
 
Baseado no artigo "Playing games with the planet", The Economits, 27/09/2007 ­ original nos Links

Rinocerontes e Free­riders
 
Os rinocerontes pretos são uma das espécies mais ameaçadas em extinção no planeta. Menos de
2.500  vivem  no  sul  da  África  ­  dos  65.000  existentes  em  1970.  Esse  é  um  desastre  ecológico,
mas  também  é  uma  situação  onde  conceitos  básicos  de  economia  explicam  porque  certas
espécies estão em perigo e o que podemos fazer a respeito.

Por que as pessoas matam os rinocerontes pretos?  Pela  mesma  razão  que  as  pessoas  vendem  drogas  ou  trapaceiam
nos  impostos  ­  elas  podem  ganhar  muito  dinheiro  em  relação  ao  risco  de  serem  pegas.  Nos  países  asiáticos,  o  chifre  do
rinoceronte preto é considerado um afrodizíaco poderoso e um remédio para abaixar a febre. 

Como resultado, um único chifre de rinoceronte atinge US$ 30.000 no mercado negro, um valor enorme para países onde a
renda per capita é aproximadamente US$ 1.000 por ano. Em outras palavras, o rinoceronte preto é bem mais valioso morto
do que vivo para a população pobre no sul da África.

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Infelizmente,  este  é  um  tipo  de  mercado  que  não  se  regula  por  si  próprio.  Diferente  de  automóveis  ou  computadores,  as
empresas  não  produzem  novos  rinocerontes  pretos  as  medida  que  a  fonte  de  suprimento  diminiu.  Na  verdade,  ocorre  o
oposto,  a  medida  que  o  rinoceronte  preto  fica  mais  raro,  o  preço  do  chifre  no  mercado  cresce  ainda  mais,  dando  mais
incentivo ainda para os bandidos caçarem os rinocerontes restantes.

O círculo vicioso é composto por outro aspecto é comum em muitos desafios ambientais. A maioria dos rinocerontes pretos
são  de  propriedade  pública,  não  ficam  em  propriedades  privadas.  Isso  cria  mais  problemas  de  conservação.  Imagine  se
todos  os  rinocerontes  estivessem  na  mão  de  um  fazendeiro  avarento  que  não  tivesse  nenhum  escúpulo  em  matar
rinocerontes para transformá­los em pó afrodizíaco. Esse fazendeiro não tem nenhuma paixão pelo meio ambiente. Ele é tão
maldoso e egoísta que as vezes chuta no cachorro apenas por prazer. Você acha que esse fazendeiro inescrupoloso teria
deixado  o  seu  rebanho  de  rinocerontes  cair  de  65.000  para  2.500?  Nunca.  Ele  teria  criado  e  protegido  esses  animais  de
forma  a  possuir  um  estoque  sempre  para  suprir  o  mercado.  Isso  não  tem  nada  a  ver  com  autruísmo,  tem  a  ver  com
maximizar o valor dos recursos escassos. 

Recursos  comuns,  por  outro  lado,  apresentam  seus  problemas.  Primeiro,  a  população  dos  vilarejos  que  moram  perto  dos
rinocerontes  não  possuem  benefício  algum  em  tê­los  por  perto.  Ao  contrário,  animais  enormes  como  rinocerontes  e
elefantes  podem  causar  distruição  massiva  nas  plantações.  Ao  se  colocar  na  posição  destes  moradores,  imagine  que  a
população  da  África  de  repente  ficou  muito  preocupada  em  preservar  ratos  marrons  e  que  a  forma  de  proteger  é  deixá­los
viver na sua casa. Daí imagine que um fazendeiro te oferece muito dinheiro se você mostrar onde eles estão no seu porão.
Humm. É verdade que milhões de pessoas se beneficiam em conservar rinocerontes pretos e gorilas das montanhas, mas
isso  pode  ser  parte  do  problema  ­  é  fácil  ser  um  free­rider  e  deixar  outras  pessoas  (ou  organização)  fazer  o  serviço.  No
último ano, quanto tempo e dinheiro você contribuiu para preservar espécies ameaçadas em extinção?

Operadores de safari, que ganham dinheiro ao trazer turistas ricos para ver a vida selvagem, encontram problema similar de
free­rider.  Se  uma  das  empresas  de  safari  investe  bastante  na  conservação,  a  outra  empresa  que  não  fez  investimentos
ainda  se  beneficia  pelos  rinocerontes  que  foram  salvos.  Então  a  operadora  que  gastou  dinheiro  na  conservação  sofre
desvantagem  no  mercado,  pois  ela  precisa  ser  mais  cara  (ou  ganhar  menos  margem)  para  recuperar  o  investimento  na
conservação. O único que leva vantagem é o caçador de rinocerontes, que os mata e vende seus chifres.

Isso é bastante deprimente. Mas a Economia pode oferecer ao menos alguns insights sobre como os rinocerontes pretos e
outras espécies podem ser salvas. Uma estratégia de conservação eficiente poderia ser alinhar corretamente os incentivos
das pessoas que moram perto do habitat natural dos rinocerontes. Explicando: forneça as pessoas locais alguma razão para
elas  quererem  os  animais  vivos  no  lugar  de  mortos.  Essa  é  a  premissa  na  indústria  nascente  de  eco­turismo.  Se  turistas
ficarem dispostos a pagar bastante dinheiro para estacionar e fotografar os rinocerontes e, mais importante, se a população
local de alguma forma se beneficiar de um lucro dividido deste turismo, dai ela terá grande incentivo para mantê­los vivos.
Isso funcionou em locais como Costa Rica, um país que protegeu suas florestas ao estabelecer mais de 25% do país como
um parque nacional. O turismo gera US$ 1 bilhão em receita anual, representando 11% do PIB. 

 
[1] Naked Economics, de Charles Wheelan, 2002, W.W.Norton, página 23

Dilemas Sociais
 

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Em certo sentido, todos os dilemas abaixo são o mesmo dilema. A cooperação produziria melhor resultado a todos, mas a
solução cooperativa não é um equilíbrio de Nash e há pelo menos um equilíbrio de Nash não cooperativo apenas esperando
para nos atrair para a armadilha.

O  Dilema  dos  Prisioneiros  é  apenas  um  dos  muitos  dilemas  sociais  que  nos  deparamos  nas  tentativas  de  cooperar.  Sete
destes  dilemas  são  particularmente  prejudiciais,  e  "teóricos  dos  jogos"  têm  dado  um  nome  diferente  bem  evocativo  para
cada um.

Além do Dilema dos Prisioneiros, os outros seis são os seguintes:

­  A  Tragédia  dos  Comuns,  que  é  logicamente  equivalente  a  uma  série  de  Dilemas  do  Prisioneiros  jogados  entre  várias
pessoas em um grupo.

­  O  Free  Rider  (uma  variante  da  Tragédia  dos  Comuns),  que  surge  quando  as  pessoas  se  beneficiam  de  um  recurso  da
comunidade sem contribuir para isso.

­ O Covarde [Chicken] (também conhecido como Brinkmanship), em que cada um tenta empurrar um ao outro perto do
limite, e cada um espera que o outro vai desistir primeiro. Ele pode surgir em diversas situações, desde alguém que tenta
empurrar o outro numa linha de tráfego até os confrontos entre nações que poderiam levar à guerra.

­ O Dilema do Voluntário, em que alguém deve fazer um sacrifício em nome do grupo, mas se ninguém o fizer, então todo
mundo sai perdendo. Cada pessoa espera que alguém vá ser o único a fazer o sacrifício, o que poderia ser tão trivial como
fazer um esforço para colocar o lixo para fora ou dramático como sacrificar sua vida para salvar outros.

­ A Batalha dos Sexos, em que duas pessoas têm preferências diferentes, como um marido que quer ir ao futebol enquanto
a mulher prefere ir ao cinema. O dilema é ou compartilhar a companhia do outro ou seguir a própria preferência sozinho.

­ A Caça ao Veado (Stag Hunt), em que a cooperação entre os membros de um grupo daria uma boa chance de sucesso
em um empreendimento arriscado de alto retorno, mas um indivíduo pode ganhar uma recompensa garantida, mas inferior,
se romper a cooperação e ir sozinho.

 
Esta é uma tradução livre da página 55 do livro Rock, Paper, Scissors ­ Game Theory in Everyday Life, de Len Fisher.

Recapitulação
 

Conclusões
 

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(texto em elaboração, aguarde...)

Tudo isso parece intuitivo, então por que a Teoria dos Jogos?
 
A  Teoria  dos  Jogos  sugere  algumas  técnicas  para  lidar  com  cenários  complexos,  mapeando  jogadores,  estratégias,
resultados,  incentivos  e  avaliando  a  seqüência  de  ações­reações  antes  de  tomar  uma  decisão.  Alguns  poderiam  dizer  que
tudo  isso  é  muito  intuitivo  e  não  é  preciso  da  Teoria  dos  Jogos  ou  qualquer  outra  ferramenta.  Indivíduos,  empresas,
governos e exércitos já pensam por antecipação há séculos. 

Isso  pode  ser  verdade,  mas  é  incompleto.  Perder  peso  é  intuitivo,  basta  controlar  a  alimentação  e  fazer  exercício.  Ser
intuitivo  não  significa  ser  fácil.  Se  tudo  se  baseasse  na  intuição  de  antecipar  movimentos,  não  existiram  tantos  tropeços
estratégicos de empresas e pessoas. 

A  função  de  qualquer  modelo  de  decisão  é  organizar  o  raciocínio  e  facilitar  a  comunicação.  Existem  várias  pessoas  com
raciocínio  muito  bem  organizado  a  ponto  de  conseguir  mapear  mentalmente  todas  as  possibilidades,  perfil  dos  demais
jogadores, ações e reações, sem necessidade de técnicas, artifícios e analogias. Entretanto, como essa habilidade é muito
individual,  dificilmente  essa  pessoa  consegue  explicar  os  motivos  da  decisão  e  todo  cenários  de  forma  didática  para
compartilhar com os pares. A Teoria dos Jogos oferece um modelo para essa comunicação.

Como analogia, imagine qualquer outro modelo de economia e estratégia. As cinco forças de Porter, por exemplo, além de
organizar  o  raciocínio  nos  cenários  competitivos,  ajuda  um  grupo  de  pessoas  a  focar  em  partes,  encapsulando  todo  o
contexto  em  cinco  características  (Novos  Entrantes,  Fornecedores,  Clientes,  Produtos  Substitutos  e  Rivalidade  dos
Concorrentes). Uma pessoa com raciocínio estruturado poderia imaginar todo o cenário de forma intuitiva, mas dificilmente
poderia se comunicar tão efetivamente se não existisse esse modelo de abordagem. 

Porque escrevo sobre o pensamento humano
 
Desde a época da faculdade de Engenharia na Poli­USP sou fascinado pelo tópico Inteligência. Comecei a
ler  tudo  sobre  o  tema  até  que  um  dia  escrevi  um  livro  reunindo  vários  insights  para  leigos  [1].  Eu  queria
entender  porque  existem  pessoas  mais  inteligentes  que  outras.  Não  foi  uma  tese  de  doutorado,  não
consegui  responder  exatamente.  Mas  foi  gostoso  perguntar,  aprender  e  relatar.  Abandonei
momentaneamente  o  tema  e  fui  trabalhar  com  educação  em  Ciência  e  Tecnologia.  Meu  foco  terminou  no  Pensamento
Estratégico para executivos de empresas e estudantes de administração e economia. 

A trajetória foi a seguinte. Tenho um gosto particular por Educação [2]. Além do meu primeiro ensaio sobre inteligência, após
a  graduação  em  Engenharia  abri  minha  própria  empresa:  uma  fábrica  e  loja  de  brinquedos  científicos  para  ensinar
tecnologia  para  crianças,  além  de  oferecer  oficinas,  cursos  e  publicações.  Entretanto,  dos  três  pilares  Educação­
Engenharia­Business, eu não entendia nada sobre como administrar uma empresa e o negócio não foi lucrativo, apesar de
ter  milhões  de  fãs  nos  aspectos  educacionais  e  técnicos.  Por  isso  resolvi  fazer  pós­graduação  em  administração  na

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Fundação  Getúlio  Vargas  e  depois  MBA  (dois  anos  full  time)  nos  Estados  Unidos,  na  Carnegie  Mellon  University  com
ênfase em Estratégia.

Apareceu a Teoria dos Jogos e a Ciência do Pensamento Estratégico

Foi  no  MBA  que  me  apaixonei  por  Teoria  dos  Jogos.  Após  fazer  a  disciplina,  fui  convidado  para  ser  assistente  de
professor  para  outras  turmas,  basicamente  corrigindo  prova,  fazendo  setup  dos  jogos  e  como  tutor  para  dúvidas.  Isso  me
rendeu  o  prêmio  Outstanding  Teaching  Assistant  Award  na  formatura  [3].  No  trabalho  de  conclusão,  escrevi  o  paper  Game
Theory  for  Managers:  Some  review,  applications  and  limitations,  que  foi  referenciado  como  a  melhor  publicação  em
estratégia da disciplina no ano [4]. E não parei mais. 

Desde  que  conheci  a  Teoria  dos  Jogos  tenho  me  empenhado  bastante  em  estudar  mais.  O  chamado  "rato
de  biblioteca"  hoje  em  dia  se  tornou  o  rato  da  Amazon  e  do  Google.  Comprei  praticamente  todos  os  livros
que vi pela frente e naveguei muito na Internet em busca de mais conhecimento. Até usei minhas férias do
trabalho para pegar um avião para os EUA e participar de um congresso internacional de Teoria dos Jogos
na Kellogg School of Management ­ Northwestern University (leia o artigo "Meu encontro com John Nash")

Apesar  de  ser  um  fã  incondicional,  reconheço  e  admito  que  a  Teoria  dos  Jogos  ­  da  forma  que  é  ensinada  na  academia  e
nos  congressos  ­  é  extremamente  entediante  e  difícil  ao  leigo  não­matemático.  Até  a  versão  ensinada  nas  escolas  de
Business  possui  um  rigor  ao  conceitos  originais  de  difícil  aplicação  real.  Se  formos  olhar  o  lado  acadêmico,  é  fascinante
pela complexidade intelectual, mas é limitada. Minha opinião é que a Teoria dos Jogos é apenas um pedaço para um pensar
estratégico mais amplo. Por isso minha proposta é unir (1) os modelos abstratos da Teoria dos Jogos sem usar modelagem
matemática,  (2)  as  estórias  e  analogias  das  interações  humanas  ­  os  "jogos"  e  (3)  os  demais  conceitos  de  teoria  de
decisão,  economia  clássica,  economia  comportamental,  psicologia  cognitiva,  influência  dos  incentivos,  entre  outros.  É
preciso colocar tudo isso em um mesmo framework, como verá mais adiante. 

No  final,  coincidência  ou  não,  o  estudo  da  Teoria  dos  Jogos  e  do  Pensamento  Estratégico  me  permitiu  entrar  em  contato
novamente  com  os  pilares  originais  ­  a  Educação  pois  escrevo  os  artigos  para  ensinar  os  leitores,  o  Business  ao  abordar
sobre  estratégia,  competição,  cooperação  e  movimentos,  a  Engenharia  por  ser  um  assunto  que  exige  a  lógica  e
racionalidade e a Inteligência pois estamos tratando sobre o raciocínio e o pensar. Eu gosto muito da frase abaixo:

                   Assim  como  os  atletas  têm  o  prazer  de  treinar  seus  corpos,  também  há  imensa  satisfação  em  treinar  a
mente  para  pensar  de  uma  forma  que  é  simultaneamente  racional  e  criativa.  Com  todos  os  seus  enigmas  e  paradoxos,  a
Teoria dos Jogos oferece um magnífico ginásio mental para essa finalidade. Espero que exercitar­se neste equipamento lhe
traga o mesmo prazer que eu tive   ­ Ken Binmore, em Playing for Real

Imagino  que  muitos  leitores  também  gostam  de  fazer  o  exercício  mental  neste  ginásio  chamado  Pensamento  Estratégico.
Se você for como eu, vai gostar do tema devido a cinco fatores:

1.  O  gosto  pela  pesquisa  e  pelo  pensar:  a  Teoria  dos  Jogos  me  desafia  intelectualmente.  Tenho  o  mesmo  sentimento
descrito  acima  por  Ken  Binmore.  A  teoria  pode  ficar  difícil  o  tanto  você  quiser  e  sou  fascinado  em  entender  essa
complexidade.  Como  a  Teoria  dos  Jogos  não  é  muito  difundida,  estudá­la  requer  um  trabalho  de  pesquisa,  procurando
referências bibliográficas, indo às livrarias, buscando sites especializados, matérias na mídia, etc. Um dos meus desafios é
decifrar o complexo e simplificar para os leigos, estudantes e executivos, tornando a leitura mais gostosa e prática. 

2. O gosto por modelos e padrões: como bom engenheiro que sou, tudo na vida tem regras, modelos, causa e efeito. A

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Teoria dos Jogos usa a lógica para explicar o comportamento humano. Não necessariamente consegue explicar tudo, mas
fornece ótimos insights e, depois de entendê­la, muitas situações fazem sentido. Um dos pontos mais fortes da Teoria dos
Jogos  é  "explicar  a  lógica  das  situações".  Através  de  alguns  modelos  e  estórias,  é  possível  perceber  a  lógica  em  várias
interações humanas. Por "lógica" entende­se uma explicação coerente, refletida, baseada nos incentivos existentes. 

3.  O  gosto  pelo  estratégico,  pela  competição  e  cooperação:  a  Teoria  dos  Jogos  tem  esse  nome,  "jogo",  porque  as
interações  estratégicas  tem  uma  grande  analogia  com  os  jogos  ­  dois  ou  mais  jogadores,  com  auto­interesse,  disputando
algo  com  uma  característica  principal:  o  resultado  da  interação  (ou  do  jogo)  depende  das  decisões  de  ambos  jogadores,  e
não  de  uma  ação  isolada.  Pensando  bem,  a  vida  cotidiana  e  empresarial  é  recheada  de  situações  estratégicas  em  você
precisa se antecipar aos movimentos do seu "oponente" em busca de um resultado, seja na competição ou na cooperação. 

4. O gosto pelos incentivos e princípios econômicos: um dos postulados em Economia é que as pessoas respondem a
incentivos.  Entendê­los  e  usá­los  corretamente  gera  uma  grande  vantagem  para  modelar  comportamentos.  A  Teoria  dos
Jogos  parte  do  princípio  que,  dados  os  incentivos,  as  pessoas  vão  escolher  suas  ações.  Aos  conhecê­los  poderemos
mapear  e  antecipar  as  reações  para  então  decidirmos  o  que  fazer,  enquanto  isso  o  outro  jogador  está  pensando  o  mesmo
sobre nós. Esse raciocínio sem fim "eu penso que ele pensa que eu penso..." é desafiador e um dos segredos dos grandes
estrategistas. 

5. O gosto pelo cognitivo e comportamento humano: a racionalidade pura não explica todos os fenômenos sociais pois
os  indivíduos  tomam  decisões  de  forma  emocional  sem  avaliar  consistentemente  todos  as  alternativas  e  resultados.  Em
outras ocasiões o ser humano escolhe algo pior para si. Mesmo assim, podemos explicar a lógica da irracionalidade. Unir a
Teoria dos Jogos com a Teoria Comportamental potencializa o seu uso para saber antecipar os movimentos, conhecendo as
particularidades do adversário. Isso também é absolutamente desafiador nesta jornada pelo saber. 

Todos esses fatores unidos me ajudam a entender o mundo com outros olhos. Certamente, a Teoria dos Jogos
traz  muito  mais  perguntas  do  que  respostas.  Mas  tal  como  a  Filosofia,  bom  mesmo  é  questionar,  é  pensar,  é
refletir. E no meio de todos os insights, várias aplicações aparecem, como você verá aqui.
 
[1] Para ler este livro, você comprar online encadernado neste link https://www.agbook.com.br/book/26098­­Inteligencia_em_Questao, ou fazer o download

grátis neste link http://www.barrichelo.com.br/inteligencia/index.html. 

[2] Meu pai é professor, minha mãe é professora, minha irmã mais velha é professora. Sou engenheiro­administrador. Minhas irmãs mais novas também são

de áreas do conhecimento não­empresarial: fonoaudióloga e fisioterapeuta. 

[3] Confira no link http://tepper.cmu.edu/news­multimedia/news/news­detail/index.aspx?nid=255

[4] Disponível no link http://www.teoriadosjogos.net/teoriadosjogos/paper.asp

Onde eu uso Teoria dos Jogos na prática
Alguns insights para uma nova forma de pensar
 
A  beleza  da  Teoria  dos  Jogos  é  que,  mesmo  originada  da  matemática,  ela  nos  ajuda  a  ter  um  modelo  mental  para
situações  do  cotidiano  onde  precisamos  prever  comportamentos  alheios  nos  momentos  de  competição  ou  cooperação.  A
seguir alguns insights que eu sempre tenho em mente usando a Teoria dos Jogos como um framework. 

Primeiro,  a  Teoria  dos  Jogos  me  permite  buscar  meus  objetivos  sem  interpretar  o  meu  auto­interesse  ("egoísmo"  para
alguns)  como  uma  atitude  ruim  e  antiética.  Não  há  necessidade  de  se  sentir  culpa.  Da  mesma  forma,  a  teoria  me  permite

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enxergar como legítimo o auto­interesse do outro  jogador,  sem  considerá­lo  um  inimigo  moral.  Mesmo  existindo  interesses
individuais  conflitantes,  ainda  é  possível  ter  uma  atitude  colaborativa,  onde  cada  um  se  aproxima  ao  máximo  dos  seus
próprios objetivos. 

Segundo,  entender  a  "lógica  da  situação"  me  propicia  ficar  atento  sobre  como  o  desenho  dos  incentivos  influencia
comportamentos  e  como  as  pessoas  reagem  a  eles.  Saber  o  que  o  outro  realmente  quer  (suas  reais  motivações)  é  um
exercício que faço para prever as atitudes. 

Terceiro,  a  Teoria  dos  Jogos  me  possibilita  ser  mais  racional  em  determinadas  situações,  sem  reagir  com
mágoa/raiva/espanto quando o outro age de forma diferente do que eu gostaria. Ao entender o desenho do jogo, eu consigo
admitir que eu reagiria da mesma forma se estivesse no lugar dele. 

Quarto, eu passo a ser mais prudente nas ações, não necessariamente lento, ao tomar as decisões antecipando a reação
dos outros, ajustando a estratégia inicial por conta disso. Assim minimizam­se os erros bobos e os comentários do tipo "fui
surpreendido". Você nunca será surpreendido se mentalmente se colocar na posição do outro, considerando as opções que
ele tem e considerando que ele quer o melhor para ele. 

Por último, interpreto que Teoria dos Jogos, assim como qualquer outra teoria, não é a solução para todos os problemas.
Teoria dos Jogos é para a Economia o que a Física é para a Engenharia: fornece alguns fundamentos para que se una com
outros conceitos e se torne prática. Teoria dos Jogos e Física apresentam os conceitos. Economia e Engenharia convertem
na prática. 

Em resumo, após estudar Teoria dos Jogos eu passei a entender que muitas situações da vida são semelhantes a um jogo,
onde  as  pessoas  têm  objetivos  diferentes,  com  auto­interesse.  Também  passei  a  admitir  que,  dados  os  incentivos  que  a
pessoa tem, eu agiria de forma semelhantes no lugar dela. E por fim, que tudo isso é legítimo e mesmo assim conseguimos
cooperar e conviver em sociedade. 

Como exemplo, é muito importante saber reconhecer quando estamos presos num Dilema do Prisioneiro, pois este "modelo"
gera insights para buscar cooperação e, se não for possível, tentar resenhar os payoffs do jogo para que o equilíbrio.

Assim, usando Teoria dos Jogos, eu compilaria as seguintes dicas

*  Lembre­se  que  os  resultados  que  você  pretende  não  são  isolados,  mas  frutos  da  interdependência  das  suas  ações  e  do
outro. Tudo o que fizer terá alguma reação e a combinação de ações é que define o resultado final para ambos. 

* Coloque­se no lugar do outro antes de agir e imagine quais incentivos e opções ELE possui para agir. De forma racional e
consistente, imagine o que você faria se você FOSSE ELE. Isso é diferente de "o que você faria NO LUGAR DELE". 

* Se você tem uma estratégia dominante, aquela que você tem o melhor resultado independente das ações do outro, use­a.
Isso significa que não precisa perder tempo avaliando todas as decisões pois isso não afeta o seu resultado. 

*  Preocupe­se  com  o  SEU  resultado  como  objetivo  final.  Ou  seja,  se  você  ganhar  mais  com  certa  combinação  de  ações,
ótimo. Não fique preocupado se você, ao ganhar mais, permite que ele ganhe mais também. Ao conseguir o SEU máximo
possível dada a situação, não compare os resultados dele pois a vida não é um jogo de soma­zero ­ ambos podem ganhar.

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Apenas considere o resultado DELE para prever a ação DELE. 

*  Considerando  as  premissas  e  desenho  dos  payoffs,  aja  racional  e  consistentemente  para  atingir  os  objetivos.  Se  sua
estratégia  é  agir  irracionalmente  de  propósito,  então  sua  ação  é  racional.  Se  o  seu  oponente  parece  agir  de  forma
irracional,  então  ele  deve  ter  premissas,  objetivos  e  matriz  de  payoffs  diferentes  ­  os  quais  você  não  conseguiu  captar
corretamente. 

* Como mostram outras teorias comportamentais, desvios de racionalidade existem. Saber quais são os vieses cognitivos
de  uma  decisão  (exemplo:  ancoragem  ou  dificuldade  de  lembrança)  pode  te  ajudar  na  sua  estratégia  para  prever
corretamente quais premissas e utilidades seu oponente valoriza. 

* Resultados sub­ótimos, ou equilíbrios ineficientes, existem e fazem parte dos jogos reais. Se você não ficar satisfeito com
essas  imperfeições  conquistadas,  você  precisa  mudar  o  desenho  de  incentivos.  Caso  contrário  o  equilíbrio  será  sempre  o
mesmo: o ineficiente ou sub­ótimo. 

*  Não  precisa  calcular  todos  os  números  de  todos  os  resultados  para  tomar  decisões.  Use  um  sistema  de  ranking  ou
preferências  (as  utilidades  de  cada  opção),  mesmo  que  sejam  as  palavras  "mais  lucro"  e  "menos  lucro"  num  padrão
referencial. 

* Exceto um turista que tem certeza que nunca voltará mais ao estabelecimento, é melhor cooperar. A vida está muito mais
para  um  Dilema  do  Prisioneiro  com  infinitas  repetições  do  que  jogo  de  uma  tacada  só.  Suas  ações  de  "traição"  serão
captadas e devolvidas em formato de não­cooperação.
 

Meus dois encontros com John Nash
 
Encontro número 1 (2008)

Encontrei  John  Nash  no  Games  2008:  Third  World  Congress  of  the  Game  Theory  Society  (Evanston,  IL,  EUA,  12/7  a
17/7/08).  Para  quem  não  sabe,  Nash  ganhou  o  Prêmio  Nobel  em  1994  pelos  estudos  em  Teoria  dos  Jogos  (onde  existe  o
termo Equilibrio de Nash) e foi retratado como personagem de Russell Crowe no filme que ganhou o Oscar em 2002, Uma
Mente Brilhante. Detalhes sobre o Prêmio Nobel está nesta página.

Nash  tinha  uma  cara  de  bom  velhinho.  Em  2008  completava  80  anos:  andava  bem  devagar,  falava  com  pausa  e  muito

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baixinho. Se vestia com roupa um pouco amassada e aquela camisa branca por baixo da camisa social. Andava na maior
parte solitário, vagando no meio do congresso. Não o vi conversando com as "novas autoridades", aqueles professores de
50 anos com ar arrogante que faziam as apresentações. Mas era o único "famoso" que entrou em TODAS as salas, sentou
do lado de TODOS os participantes e as vezes puxava uma conversa discreta. 

Quando  andava  ele  encarava  todas  as  pessoas  diretamente  no  olho.  Depois  sentava  sozinho  em  algum  lugar  e  ficava
escrevendo algo. Fiquei sabendo que ele ficava fazendo conta de matemática por recomendação do psiquiatra pois era uma
forma  de  se  manter  ativo  e  longe  da  esquizofrenia  que  o  atacou  no  passado,  a  qual  foi  retratada  no  filme.  Nash  fez  uma
pergunta numa apresentação de um brasileiro do INSPER. "Ganhei meu dia", reportou o brasileiro. No meio acadêmico Nash
é igual a um artista.

A  palestra  do  Nash  foi  com  transparência  e  retroprojetor  (veja  foto  abaixo)  e  não  powerpoint  e  laptop.  Ele  pediu  desculpas
pelo  improviso.  Não  entendi  nada,  não  porque  ele  falou  baixinho,  mas  porque  a  sua  fluência  incrível  nas  questões
matemáticas  estão  além  do  meu  alcance.  O  título  da  palestra  de  45  min  foi  "Work  on  a  Project  to  Study  Three­Person
Cooperative Games Using the Agencies Method". 

Algumas  pessoas  se  aproximavam  de  Nash  para  tirar  dúvidas,  as  quais  ele  solicitamente  respondia.  Não  sei  o  que
conversavam ­ devia ser questões para achar algum equilíbrio para algum jogo matemático. Eu pensei em puxar conversa,
mas  não  tinha  idéia  do  que  perguntar.  Na  verdade  mesmo,  eu  queria  saber  o  que  ele  achou  do  filme  sobre  ele.  Obvio  que
não deveria ser uma pergunta original, mas seria interessante ouvir diretamente dele. 

Os  participantes  do  congresso  ficavam  alvoroçados  ao  encontrar  os  Prêmios­Nobel  famosos  (eram  quatro).  Via­os
entregando  papers  em  mãos;  é  similar  a  entregar  currículo  em  mãos  para  conseguir  uma  entrevista.  Mas  Nash  foi  a  única
pessoa entre todos os famosos que o público queria tirar foto. Queriam tirar foto COM Nash, e não DE Nash. Tietagens a
parte, eu também. E esta é a minha foto COM John Nash. 

Encontro número 2 (2010)

Encontrei  John  Nash  novamente  em  Julho/2010  no  2º  Brazilian  Workshop  of  The  Game  Theory  Society,  na  USP,  São
Paulo. O evento teve como sub­título "in honor of John Nash, on the occasion of the 60th anniversary of Nash Equilibrium".
Isso porque foi em 1950 quando Nash escreveu sua dissertação que revolucionou o meio acadêmico em Teoria dos Jogos
ao  criar  o  Equilíbrio  de  Nash.  Como  brincadeira,  Robert  Aumann  (outro  Prêmio­Nobel  presente  no  evento)  disse  que
chamaria o workshop de "Nash Fest". 

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Em 2010 estava com 82 anos, um pouco mais frágil, andar mais devagar, voz muita baixa e difícil de entender. De resto, ele
continua o mesmo. Uma cara de bom velhinho e muito lúcido ­ inclusive deu mais uma palestra (daquelas que não consigo
entender).  Como  no  evento  de  2008,  passeou  por  todos  os  locais,  entrava  nas  salas  e  auditórios,  assistia  prestando
atenção, fazia algumas perguntas.

Um ponto interessante foi uma sessão chamada "Conversation with John Nash", onde a coordenadora do evento (Marilda
Sotomayor) fazia perguntas. Neste momento percebe­se mais uma vez como Nash era muito, muito simples e humilde. O
evento  mostrou  uma  cena  do  filme  Uma  Mente  Brilhante,  na  qual  Nash  e  amigos  estavam  em  um  bar  quando  entram
algumas garotas. Segundo o filme, foi naquele momento que Nash teve o insight para escrever sua tese. Você pode ver a
cena e comentários no meu artigo Cena do filme Uma Mente Brilhante ­ Não é Equilibrio de Nash.

Após  a  cena,  a  própria  organização  informou  que  aquilo  não  era  Equilibrio  de  Nash,  mas  aproveitou  para  perguntar  se  ele
realmente teve um insight sobre seu teorema. Ele ficou pensando, balbuceou algo que não consegui entender e completou
algo assim: Não... acho que não tive insight... difícil de lembrar... Seria o mesmo que perguntar a Thomas Edson como foi o
insight para criar a lâmpada. Talvez não tenha tido ou não me lembre. 

Ora,  John  Nash,  cá  entre  nós.  Se  você  respondesse  que  teve  o  insight  no  bar,  no  chuveiro,  ou  embaixo  de  uma  árvore
quando caiu uma maçã na sua cabeça (como foi com Newton e a gravidade), mesmo que fosse mentira, seria muito  mais
marcante e vendedor. Mas não... preferiu manter a serenidade que as fotos deste artigo mostram e simplesmente dizer que
"acha que não teve". 

(Igualmente  quando  foi  perguntado  "por  que  você  escolheu  a  matemática  e  Teoria  dos  Jogos".  A  resposta  foi  confusa:
gostou de um curso em Carnegie Mellon sobre Economia Internacional porque o professor era ótimo (um russo visitante de
Chicago), e que depois gostava de Engenharia e Química, e resolveu fazer Engenharia Química, desistiu, pensou em fazer
Inglês, mas não viu futuro. Daí resolveu fazer Matemática. Bem... de novo, nada vendedor...) 

Mas  John  Nash  pode  fazer  e  dizer  essas  coisas,  por  algumas  razões.  Ele  fez  uma  contribuição  imensa  em  Teoria  dos
Jogos,  sua  teoria  ganhou  seu  nome  (Equilíbrio  de  Nash),  ganhou  o  Prêmio  Nobel,  ficou  afastado  30  anos  devido  a
esquizofrenia  (que  o  filme  retrata),  se  recuperou,  voltou  a  ativa  para  dar  aulas,  participa  de  congressos  internacionais
(mesmo com a idade avançada) e é bem simpático e simples.

A simplicidade e o raciocínio vão além. Navegando pela internet achei um vídeo­entrevista para uma rede de TV americana
(neste link).  Uma  das  perguntas  foi:  Se  você  fosse  escolher  alguma  coisa  para  ainda  conquistar  na  vida,  o  que  seria?  Ele
respondeu: "Bem, apenas gostaria de fazer um bom trabalho nesta idade avançada, após muitos anos sem trabalhar. Se eu
pudesse subtrair todos os anos que não trabalhei, eu não seria tão velho assim como os meus 81 anos indicam. Veja, 81
menos 35 são 56, e essa não é uma idade de fazer nada." E em que área você se concentraria? "Eu gostaria de fazer algo

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totalmente diferente, alguma coisa em que eu não seria tão esperto."

Todo mundo tirando foto

Neste evento, o público era a maior parte brasileiros, especialmente mestrandos, doutorandos e professores de economia e
matemática (embora os palestrantes eram internacionais e as palestras em inglês). Diferente do evento de Kellogg em 2008,
onde as pessoas era mais contidas, desta fez a tietagem foi geral. TODO mundo (os brasileiros) queria tirar foto ao lado de
Nash. Embora existissem outros 3 Prêmios­Nobel e outros professores renomados dos EUA, as pessoas queriam tirar foto
apenas de Nash. 

Fiquei pensando se existe alguma explicação para tal comportamento. Quando tiramos fotos, ou é para mostrar para alguém
ou é para guardar de recordação. Não faz sentido mostrar fotos de desconhecidos para outros. Mas por que não tirar foto de
Robert Aumman, que também é Nobel, velhinho, mais engraçado nas palestras e também deixou teorias fantásticas?

Uma explicação talvez seja porque apenas Nash virou personagem de filme, sofreu uma doença, assim celebridade. Isso é
verdade, mas tem algo mais ­ difícil de explicar... Nash é Nash.... 

Veja também:
Matéria no Jornal da Cultura sobre Nash e o Evento (Vídeo)
Entrevista interessante com Nash em site português
Entrevista com John Nash ­ One on One (Video em Inglês)

A Cena do filme Uma Mente Brilhante não é o Equilibrio de Nash
 
Após  o  sucesso  do  filme  Uma  Mente  Brilhante  (A  Beautiful  Mind,  em  2001),  ganhador  do  Oscar
2002, que retrata a vida do genial John Nash interpretado por Russel Crowe, muitas pessoas usam
a cena do bar como um exemplo de Teoria dos Jogos e Equilibrio de Nash. 

O filme é realmente muito bom e a cena é fantástica. Você pode ver no YouTube neste link.  Abaixo
a  reprodução  (em  inglês)  da  fala  exata  dos  personagens  no  momento  em  que  Nash  e  seus  amigos  vêem  a  loira  e  suas
amigas morenas entrarem no bar. A principal frase está em destaque. 

Nash: Oh. Does anyone else feel she should be moving in slow motion?

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Bender: Will she want a large wedding, you think?

Saul: Shall we say swords, gentlemen? Pistols at dawn?

Hansen: Have you remembered nothing? Recall the lessons of Adam Smith, the father of modern economics.

Saul: Yes, in competition...

Group: ...individual ambition serves the common good.

Hansen: Exactly.

Nielssen: Every man for himself, gentlemen.

Bender: And those who strike out are stuck with their friends.

Hansen: I’m not gonna strike out.

Saul: You can lead a blonde to water, but you can’t make her drink.

Hansen: Uh, I don’t think he said that.

Saul: All right, nobody move. She’s looking over here. All right, she’s looking at Nash.

Hansen:  Oh,  God.  All  right,  he  may  have  the  upper  hand  now,  but  wait  until  he  opens  his  mouth.  Remember  the  last
time?

Bender: Ah yes, that was one for the history books.

Nash: Adam Smith needs revision.

Hansen: What are you talking about?

Nash: If we all go for the blonde, we block each other, and not a single one of us is going to get her. So then we go for
her friends, but they will all give us the cold shoulder because nobody likes to be second choice. But what if no one goes
for the blonde? We don’t get in each other’s way, and we don’t insult the other girls. That’s the only way we win. That’s
the  only  way  we  all  get  laid.  Adam  Smith  said,  the  best  result  comes  from  everyone  in  the  group  doing  what’s  best  for
himself, right? That’s what he said, right? Incomplete. Incomplete! Because the best result would come from everyone in
the group doing what’s best for himself and the group.

Hansen: Nash, if this is some way for you to get the blonde on your own, you can go to Hell.

Nash: Governing dynamics, gentlemen... governing dynamics. Adam smith was wrong.

Traduzindo a explicação de Nash:

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. Se todos nós escolhermos a loira, nós vamos nos bloquear e nenhum de nós vai conquistá­la.
. Então partimos para as morenas, mas elas vão nos rejeitar pois ninguém gosta de ser a segunda opção.
. Mas e se ninguém for atrás da loira?
. Daí não competiremos entre nós e não insultaremos as amigas. Essa é a única forma de vencer.

A repercussão

Após  o  filme  muitos  se  interessaram  pela  vida  de  Nash  e  suas  idéias  sobre  Teoria  dos  Jogos.  E  imediatamente  os
especialistas  e  professores  no  assunto  rebateram  dizendo  que,  embora  o  filme  seja  genial,  os  fundamentos  teóricos  eram
imprecisos. De fato, Hollywood quis retratar a biografia de Nash e sua esquizofrenia, e não dar aula sobre Teoria dos Jogos. 

No  DVD  "Games  People  Play:  Games  Theory  in  Life,  Business,  and  Beyond",  o  professor  Scott  P.  Stevens  comenta  "So
putting Hollywood on notice, you can mess with Nash´s life, but don´t mess with his equilibrium". 

Abaixo dois links de pessoas provando que a solução do filme não é tecnicamente um Equilíbrio de Nash. 

1. Site Mind Your Decisions ­ Artigo "Game Theory scene from A Beautiful Mind". 

The movie is directed so well that it sounds persuasive. But it’s sadly incomplete. It misses the essence of non­cooperative
game theory. A Nash equilibrium is a state where no one person can improve, given what others are doing. This means you
are  picking  the  best  possible  action  in  response  to  others—the  formal  term  is  you  are  picking  a  best  response.  (For  more,
see my article on why Nash equilibrium exist).

As an example, let’s analyze whether everyone going for a brunette is a Nash equilibrium. You are given that your three of
your friends go for brunettes. What is your best response?

You can either go for the brunette or the blonde. With your friends already going for brunettes, you have no competition to go
for the blonde. The answer is clear that you would talk to the blonde. That’s your best response. Incidentally, this is a Nash
equilibrium.  You  are  happy,  and  your  friends  cannot  do  better.  If  your  friends  try  to  talk  to  the  blonde,  they  end  up  with
nothing and give up talking to a brunette. So you see, when Nash told his friends to go for the brunettes in the movie, it really
does sound like he was leaving the blonde for himself.

Now, in practical matters it will be hard to achieve the equilibrium that only one person goes for a blonde. There is going to
be  competition  and  someone  in  the  group  will  surely  sabotage  the  mission.  So  there  are  two  ways  you  might  go  about  it
using strategies outside the game. One is to ignore the current group and wait for another group of blondes (the classic “wait
and see” strategy). The second is to let a random group member go for the blonde as the others distract the brunettes (also
practiced as “wingman theory”).

2. Universidade da Virginia, Departamento de Economia ­ Paper "A Beautiful Blonde: a Nash coordination game". 

Dois  professores  escreveram  um  paper  de  12  páginas  com  sofisticada  matemática  para  mostrar  que  a  solução  é  uma
"mixed strategy". 

Conclusão

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É verdade que a cena do filme não pode ser usada de forma didática para explicar nenhum conceito técnico de equilíbrio e
estratégia de Teoria dos Jogos. Mas serve para mostrar que a essência da Teoria dos Jogos é prever quais as decisões os
demais  jogadores  (os  amigos  de  Nash  e  as  garotas)  tomarão  para  assim  ajustar  a  sua  escolha.  É  o  jogo  de  antever  as
ações  e  tomar  a  melhor  decisão  sabendo  que  os  competidores  estão  pensando  da  mesma  forma.  Além  disso,  o  filme  é
ótimo.
 

Indiana Jones não usou a Teoria dos Jogos
 
O livro Thinking Strategically possui um exemplo bem interessante sobre tomadas de decisão
onde é necessário antever alguns passos e possíveis consequencias  [2]. Relembre a cena do
clímax  do  filme  Indiana  Jones  e  a  Última  Cruzada.  Indiana  Jones,  seu  pai  e  os  nazistas
chegaram ao local do Santo Graal. Os dois Joneses se recusam a ajudar os nazistas a dar o
último passo. Assim, os nazistas atiram no pai de Indiana. Somente o poder de cura do Santo
Graal poderia salvar o idoso Dr. Jones de seu ferimento mortal.

Devidamente  motivado,  Indiana  lidera  o  caminho  para  o  Santo  Graal.  Mas  há  um  desafio  final.  Ele  deve  escolher  entre
dezenas  de  cálices,  dos  quais  apenas  um  é  o  cálice  de  Cristo.  Enquanto  o  copo  correto  oferece  a  vida  eterna,  a  escolha
errada é fatal. O líder nazista impacientemente escolhe um cálice dourado bonito, bebe a água benta, e morre subitamente,
pois escolheu o errado.

Indiana escolhe um cálice de madeira, o cálice de um carpinteiro. Dai exclama: "Há apenas uma maneira de descobrir", ele
mergulha o cálice na fonte e bebe o que ele espera ser o cálice da vida. Ao descobrir que ele escolheu sabiamente, Indiana
leva o cálice ao seu pai e aquela água cura a ferida mortal.

Se colocarmos a árvores de decisão e possibilidades, seria mais ou menos como a figura abaixo. Como diz Dixit e Nalebuff
no  livro,  embora  esta  cena  seja  emocionante,  é  um  pouco  constrangedor  que  um  tal  professor,  que  se  distingue  como  Dr.
Indiana Jones, cometa um erro tão estratégico em Teoria dos Jogos. Ele deveria ter dado a água para seu pai sem testá­
la primeiro. Explica­se: se Indiana escolhesse o cálice certo e oferesse antes ao seu pai, seu pai estaria salvo. Se Indiana
escolhesse o cálice errado, então seu pai morre, mas Indiana é poupado. Em comparação, se testasse o copo errado antes
de dá­lo a seu pai, não haveria segunda chance ­ Indiana morreria devido a água e seu pai morreria devido a ferida.

Você  verá  em  outros  trechos  que  este  exemplo  também  aponta  uma  das  fraquezas  da  Teoria  dos  Jogos,  que  é  ser
estritamente  racional  e  não  ter  valor  moral  nas  decisões.  Emocionalmente  falando,  talvez  Indiana  não  quisesse  testar  o
cálice em seu pai (mesmo já mortalmente ferido) para não querer assumir a responsabilidade se precipitasse a sua morte... 

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[1] Thinking Strategically, Avinash K. Dixit e Barry J. Nalebuff, W W Norton and Company, 1993

Alguma empresa usa Teoria dos Jogos?
Percepção dos jornalistas do Fast Company
 
O  desafio  de  muita  gente,  inclusive  o  meu,  é  adaptar  a  Teoria  dos  Jogos  para  o  uso  em  treinamento  de  executivos  em
empresas, principalmente nas formulações estratégicas ou apoio na tomadas de decisões em situações de interdepedência
de ações­reações com competidores. 

Mas  o  artigo  abaixo  é  um  tanto  desanimador,  extraído  da  revista  Fast  Company,  com  título  original:  You  Got  Game
Theory!, de Martin Kihn. Numa tradução livre, é o seguinte. 

Era tudo tão divertido até que percebemos que nenhuma empresa na verdade usa teoria dos jogos

A Teoria dos Jogos é um ramo da economia, que soa divertido, introduzida nos anos 1940 pela gênio húngaro John von
Neumann e desenvolvido nos anos 1950 por John Nash de Princeton, o sujeito do filme Uma Mente Brilhante, vencedor
do Oscar em 2001.

Durante  os  anos,  a  posição  da  teoria  dos  jogos  ­  que  descreve  as  interações  entre  participantes  com  auto­interesse,

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como jogadores de pôquer e negociadores ­ cresceu, e suas idéias foram aplicadas em vários campos como evolução,
leilões,  até  contra  terrorismo.  Interessados  no  jogo,  nós  aqui  no  CDU  (Consultant  Debunking  Unit)  decidimos  descobrir
quanto tempo a teoria dos jogos chegaria a ser um o grande jogo nos negócios. Afinal, tem sido ensinado a quase todos
mundo  do  2.5  milhões  de  MBAs  e  economistas  só  nos  Estados  Unidos.  Certamente,  pensávamos,  seria  um  estrondo
transformar uma dúzia de exemplos de teoria dos jogos aplicados no mundo real. 

Adotando  a  nossa  habitual  metodologia  rigorosa,  decidimos  os  seguintes  parâmetros.  Para  servir,  um  bom  exemplo
deve:
  1. ser uma situação de negócios real onde alguém usou as idéias da teoria dos jogos; 
  2. ter ocorrido nos últimos cinco anos passados; e 
  3. envolver empresas reais e ativas, não governos, organizações sem fins lucrativos, ou Russell Crowe. 

Primeiro,  nós  procuramos  na  literatura.  Selecionamos  um  portfólio  relevante  de  40  publicações  e  submetemos  as
nossas  perguntas.  Tentamos  novamente.  E  novamente.  E  encontramos  .  .  .  nada.  Houve  abundância  de  menções  de
leilões de governos, e uma Mente Brilhante surgiu centenas de vezes. Não era exatamente o que tínhamos em mente.

Possivelmente,  pensamos,  os  meios  de  comunicação  é  que  não  possuem  esses  exemplos.  Destemidos,  montamos
uma  lista  de  30  renomados  teoristas  de  jogos  ao  redor  do  mundo,  e  enviamos­lhes  uma  pesquisa,  "Você  pode  pensar
em  algum  exemplo  de  companhias  reais  e  ativas  que  aplicaram  conscientemente  conceitos  de  teoria  dos  jogos  em
verdadeiro problema de negócios?"

A  resposta  foi  .  .  .  um  coro  ensurdecedor  de  coçar  cabeças.  "A  resposta  curta  é:  eu  não  sei,"  disse  David  Levine  de
UCLA. "Deixe­me pensar nisto," respondeu Muhamet Yildiz do MIT.

Outros  na  nossa  lista  de  experts,  apesar  de  não  oferecer  nenhum,  você  sabe,  exemplo  real,  foram  dispostos  a  refletir
sobre  porque  eles  não  conseguiram.  A  teoria  dos  jogos  tradicional  "prescreve  muitos  conselhos  que  não  parecem  de
fato funcionar" admitiu Paul Bartha da Universitade British Columbia. Por que não? Talvez porque "os tipos de situações
que  permitiriam  a  aplicação  de  métodos  formais  são  tão  simples  de  que  as  pessoas  podem  entendê­las  sem  muita
ajuda," sugeriu a Andy McLennan, da Universidade de Minnesota.

Isto significa que a teoria de jogo é somente, digamos, senso comum? "A teoria de jogo oferece um modo sistemático e
agradável  de  pensar  sobre  estratégia,  mas  não  é  mágica"  concordou  Hal  Varian,  economista  na  Universidade  de
Califórnia­Berkeley e o co­autor do bestseller Information Rules (Harvard Business School Press, 1999). Ou, como David
McAdams do MIT colocou, "a teoria dos jogos é na verdade uma modelo mental e, uma vez que você o tem, você a vê
em todo lugar."

Em todo lugar, e talvez, em nenhum lugar.

No  fim,  nenhum  dos  nossos  especialistas  teve  um  exemplo  concreto.  Mas  muitos  ofereceram  o  mesmo  conselho:
"pergunte  a  Preston  McAfee"  ­  um  economista  no  Instituto  da  California  Institute  of  Technology  e  possivelmente  o
teorista des jogos mais avançado do país (ele projetou um leilão de telefonia do governo). Ele foi mais encorajante: "há
muitos exemplos," ele mandou por correio eletrônico, concordando com uma entrevista.

Conversamos  com  o  professor  no  seu  escritório  em  Caltech.  "Então",  perguntamos,  "quais  são  todos  esses  exemplos
da teoria de jogo aplicada à vida real?" Houve um silêncio do outro lado da linha. "Bem", ele disse, "muitas companhias
contrataram  teoristas  de  jogos  para  preparar  aqueles  leilões  de  telefonia."  Okay  ­  mas  que  tal  situações  de  leilão  não

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governamentais?  "Não  sei  de  nenhuma  companhia  que  emprega  teoristas  de  jogos  puros  ­  mas  talvez  eles  estejam
mantendo esse assunto quieto". 

Muito, muito quieto.

Este  artigo  rodou  o  mundo  com  muitos  defensores  ("realmente,  ninguém  usa")  e  críticos  ("não  é  bem  assim,  o  assunto  é
abstrato e possui insights"). Um dos críticos ao artigo é David McAdams, que advoga que a Fast Company foi tendenciosa
e  parece  não  ter  conversado  com  nenhum  executivo  de  negócios.  Em  seu  livro  "Game­Changers",  McAdams  reporta  que
líderes de empresas relatam que Teoria dos Jogos fornecem insights para vantagem competitiva. 

Eu  também  tenho  feito  pesquisas  em  busca  de  exemplos  reais  de  empresas  que  usam  Teoria  dos  Jogos.  As  revistas
especializadas  apenas  apresentam  formulações  matemáticas  de  situações  não  muito  próximas  a  vida  real.  Os  exemplos
em  jornais  e  revistas  de  negócios  são  muito  superficiais.  Existem  empresas  de  consultoria  que  dizem  usar  Teoria  dos
Jogos,  mas  nos  respectivos  sites  não  há  relatos  palpáveis  de  seus  clientes.  E  finalmente,  os  livros­textos  de  Teoria  dos
Jogos  usados  na  Escolas  de  Business  apresentam  casos  didáticos,  mas  não  necessariamente  reais  como  acontece  em
outras disciplinas. 

Em 2008, as vésperas do congresso Games 2008: Third World Congress of the Game Theory Society (Evanston, IL, EUA,
12 a 17/7/08), me apresentei por email para a prof. Marilda Sotomayor, especialista da USP em Teoria dos Jogos (e outros
assuntos na cadeira de Matemática), dizendo que sou fanático pelo tema e gostaria de conversar mais sobre aplicações no
pensamento estratégico e no dia­a­dia (nem citei "empresas" e "planejamento").

A  resposta  foi  simpática.  Ela  estava  em  período  de  férias  e  depois  passaria  um  tempo  nos  EUA  lecionando,  mas  se  eu
quisesse  saber  a  linha  de  pesquisa,  eu  poderia  ler  o  livro  dela  (Two  sided­matching,  também  acadêmico  e  matemático).
Agradeci  e  perguntei  sobre  referências  de  Teoria  dos  Jogos  no  mundo  da  economia  e  business.  A  resposta  foi  dura:  "Não
conheço nada sobre o que você deseja saber."

Ruim, muito ruim. Entretanto, o caso não é tão desanimador. Nos próximos artigos escrevo porque é tão difícil usar a Teoria
dos Jogos de forma "matemática" no planejamento estratégico real, e com utilizá­lo com um modelo mental para entender o
mundo a sua volta.

 
Link original do artigo da Fast Company: http://www.fastcompany.com/magazine/91/debunk.html. 

Martin Kihn é o autor de House of Lies: How Management Consultants Steal Your Watch and Then Tell You the Time (Warner Books, March 2005).

O Jogo da Divisão do Bolo
 
Imagine o seguinte cenário. Seus dois filhos(as) sempre brigam para repartir um bolo pela metade. Eles sempre reclamam
que você não é justo(a) e que um dos pedaços sempre fica maior do que outro[1]. O que você pode fazer a respeito?

Uma solução é criar um jogo, chamado de Jogo da Divisão do Bolo. A regra é simples e bem definida. Um dos filhos tem
o direito de cortar o bolo na proporção que quiser, e o outro tem o direito de escolher qual pedaço quer comer, o maior ou o
menor. Este é o chamado "Eu corto, você escolhe", ou ainda "Você corta, eu escolho". 

Qual  o  resultado?  Nesta  brincadeira,  o  primeiro  filho  imagina  que,  se  dividir  de  forma  desigual,  o  seu  irmão  irá  escolher  o

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maior  pedaço.  Portanto,  ele  tem  todo  o  incentivo  do  mundo  para  dividir  exatamente  na  metade  pois  não  quer  ficar  com  a
menor parte. O segundo filho não pode reclamar pois tem a chance de escolher a maior parte, se existir.

Você,  como  pai  ou  mãe,  acabou  de  criar  um  jogo  com  um  "esquema  de  incentivos"  em  que  os  próprios  participantes
colaboram devido o auto­interesse de cada um. O auto­interesse induziu uma divisão equalitária dada as regras do jogo.
 
[1] Prisoner´s Dillema, William Poundstone, 1993, Anchor

Robert Aumann: o que a Teoria dos Jogos está tentando
conquistar?
 
O  texto  abaixo  é  minha  tradução  e  adaptação  livre  de  alguns  trechos  do  paper  "What  Is  Game  Theory  Trying  to
Accomplish?", de Robert Aumann. Você lê o original neste link.

A  linguagem  da  Teoria  dos  Jogos  ­  coalisões,  recompensas,  mercado  ­  nos  indica  que  ela  não  é  um  ramo  da  matemática
abstrata, e sim voltada ao mundo que nos rodeia. Ela deveria ser capaz de nos dizer algo sobre esse mundo, mas a maioria
de nós há muito percebemos que a Teoria dos Jogos e o mundo real (que poderia ser melhor chamado de mundo complexo)
têm  uma  relação  que  não  é  inteiramente  confortável.  Eu  poderia  dizer  que  as  mesmas  dúvidas  se  aplicam  a  Teoria
Econômica.

Para enfrentar a questão sobre o que queremos com a Teoria dos Jogos, primeiro devemos voltar um pouco e nos perguntar
o que a ciência, em geral, está tentando fazer. Uma pessoa leiga pode responder a essa pergunta em termos de aplicações
práticas: lâmpadas, plásticos, computadores, bomba atômica, prevenção da depressão, e assim por diante. Ela entende que
aplicações e invenções exigem uma ampla infra­estrutura básica de ciência. Assim (de acordo com este ponto de vista), o
objetivo da ciência é o desenvolvimento da aplicação prática.

Os observadores mais sofisticados, incluindo os cientistas, respondem a questão em termos de poder de previsão. A teoria
da  relatividade  foi  um  sucesso,  eles  acreditam,  porque  previu  o  movimento  do  planeta  Mercúrio  e  o  deslocamento  das
imagens das estrelas durante um eclipse solar. Se uma teoria não tem poder de previsão, então isso não é ciência.

Ambos  esses  pontos  de  vista  perdem  o  ponto  principal,  eu  acho.  No  nível  mais  básico,  o  que  estamos  tentando  fazer  no
domínio da ciência é entender nosso mundo. Predições são um excelente meio de testar a nossa compreensão, e uma vez
que  compreendemos,  as  aplicações  são  inevitáveis,  mas  o  objetivo  básico  da  atividade  científica  continua  a  ser  a
compreensão de si mesmo.

Relacionamentos, Unificação, Simplicidade: elementos da compreensão

A  compreensão  é  um  conceito  complexo,  com  vários  componentes.  Talvez  o  componente  mais  importante  seja  ver  as
coisas se encaixando, relacionando­as umas com as outras. Para compreender uma idéia ou um fenômeno, ou mesmo uma
música,  é  preciso  relacioná­lo  com  as  idéias  e  experiências  familiares  para  se  encaixar  em  um  framework  e  "se  sentir  em
casa".

Quando você ouve Bach, sente­se atacado por sons desconexos, confusos e sem sentido. Mas, finalmente começa a ouvir
padrões,  a  flauta  entende  o  que  o  violino  diz,  grupos  de  som  variam  em  altos  e  baixos,  trechos  são  repetidos.  Os  sons

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aparecem  e  você  começa  a  se  sentir  em  casa.  Depois  de  um  tempo  você  reconhece  o  estilo,  e  mesmo  quando  está
escutando outra música desconhecida você pode relacioná­la com outras do mesmo compositor ou época. Compreende­se
a música.

Gostaria  de  enfatizar  que  não  estou  falando  apenas  sobre  familiaridade.  Embora  seja  importante,  não  é  o  ponto  principal.
Estou  falando  sobre  relacionar,  associar,  reconhecer  padrões.  Flocos  de  neve  são  hexagonais,  o  conchas  de  certos
moluscos marinhos são espirais logarítmicas, ônibus em rotas lotadas chegam em grupos, ondas e ondulações ocorrem no
oceano da mesma forma que dunas de areia, a febre está associada a infecções, até coisas totalmente aleatórias tem seus
padrões (distribuições normais e de Poisson). 

Isso nos leva ao segundo componente de compreensão, que é parte da primeira: a unificação. Quanto maior a área coberta
por  uma  teoria,  maior  é  a  sua  "validade".  Não  me  refiro  "validade"  no  sentido  usual  da  verdade,  mas  sim  no  sentido  da
aplicabilidade  ou  utilidade.  Podemos  mensurar  a  validade  de  uma  idéia  pela  quantidade  de  pessoas  que  a  usam  (direta  ou
indiretamente).

Parte da grandeza de teorias como a gravidade, evolução ou teoria atômica da matéria é que elas cobrem muitos tópicos e
explicam uma variedade de coisas. Naturalmente, uma teoria unificadora é realmente um caso especial de relacionamento;
diferentes  fenômenos  são  reunidos  e  relacionados  entre  si  por  meio  dela.  A  idéia  da  gravitação  é  importante  porque  nos
permite relacionar as marés com o movimento dos planetas e as trajetórias de mísseis. 

O  terceiro  componente  da  compreensão  é  a  simplicidade.  O  que  quero  dizer  é  basicamente  o  oposto  da  complexidade,
embora  o  outro  significado  de  "simples"  ­  o  oposto  de  difícil  ­  também  desempenha  uma  função.  Aqui  existem  vários  sub­
componentes.  Um  deles  é  a  contenção;  poucos  parâmetros  devem  ser  usados  para  explicar  qualquer  fenômeno  particular.
Para  explicar  a  teoria  da  gravidade,  Newton  usa  apenas  dois  parâmetros(massa  e  velocidade).  A  teoria  da  evolução  ou  a
teoria atômica da matéria são outros exemplos de contenção da estrutura básica. Um exemplo de complexidade, o oposto
do que queremos, é a moderna teoria das partículas elementares. É claro que ninguém está particularmente feliz com isso,
e ela é considerada uma etapa intermediária no caminho para uma teoria mais satisfatória.

Chegamos finalmente à questão de simplicidade no sentido de oposto a dificuldade. Para uma teoria ser útil, trabalhar com
ela deve ser prático. Se você não consegue descobrir o que ela implica, não vai unificar nada, não vai estabelecer relações.
Quanto mais simples é uma teoria, mais útil ela é e, portanto, mais válida.

Ciência e Verdade

A maioria dos leitores deve ter entendido que, no meu ponto de vista científico, teorias não são consideradas "verdadeiras"
ou  "falsas".  Na  construção  de  um  teoria,  não  estamos  tentando  chegar  à  verdade,  ou  mesmo  se  aproximar  dela,  e  sim
estamos tentando organizar nossos pensamentos e observações de maneira útil.

Uma  analogia  grosseira  é  um  sistema  de  suprimentos  em  um  escritório.  Não  nos  referimos  a  esse  sistema  como  sendo
"verdadeiro" ou "falso", e sim falamos se ele "funciona" ou não, ou melhor ainda, o quão bem ele funciona. A medida que a
operação do escritório cresce, o sistema de abastecimento muda e evolui. Em alguns pontos, um sistema completamente
novo  pode  ser  introduzido  para  acomodar  a  evolução  do  tipo  e  quantidade  de  material  a  ser  suprido.  Da  mesma  forma,  as
teorias  científicas  devem  ser  julgadas  pela  maneira  como  elas  nos  permitem  organizar  e  compreender  as  nossas
observações,  ou  quão  bem  elas  "funcionam".  Conforme  nossas  observações  aumentam  de  volume  e  mudam  de
características,  antigas  teorias  científicas  não  são  mais  adequadas  quanto  antes,  elas  precisam  evoluir,  mudar  ou  serem
substituídas por novas e diferentes teorias. 

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Verdade, assim, não é o ponto. Nós descartamos uma teoria não porque ela foi "falsa", mas porque já não funciona, não é
mais  adequada.  É  até  possível  que  duas  teorias  concorrentes  possam  existir  felizes  lado  a  lado  e  serem  usadas
simultaneamente,  em  grande  parte  da  mesma  maneira  que  muitos  de  nós  classificamos  e  guardamos  arquivos  tanto
cronologicamente como pelo nome do correspondente.

Um  exemplo  famoso  são  a  mecânica  relativista  versus  mecânica  newtoniana.  Provavelmente  é  justo  dizer  que  a  maioria
dos  cientistas  que  buscam  a  "verdade"  consideram  a  mecânica  relativista  uma  melhor  aproximação  do  que  a  mecânica
newtoniana.  No  entanto,  eles  continuam  a  usar  mecânica  newtoniana  para  os  assuntos  do  dia­a­dia.  Por  quê?  Bem,  eles
dizem, a teoria de Newton é normalmente uma aproximação bastante boa para a relatividade. Por que se contentar com uma
aproximação quando você pode obtê­la exatamente certo? Bem, eles podem dizer, em muitos casos a teoria da relatividade
é muito pesada para trabalhar; a teoria de Newton é mais viável, mais fácil de usar. Mas então, ao que parece, a "verdade"
não  é  afinal  o  único  critério.  A  mecânica  newtoniana  continua  a  ser  usada  como  um  modelo  em  maior  escala  do  que  a
relatividade, mesmo depois dela ter sido desacreditada do ponto de vista da "verdade".

Teoria dos Jogos como Ciência Descritiva

Em suma, a Teoria dos Jogos e a Teoria Econômica se preocupam com o comportamento interativo do homem rational. O
Homo Rationalis é a espécie que atua sempre de forma propositada e lógica, tem bem definido o seus objetivos, é motivada
apenas pelo desejo de atingir esses objetivos o mais próximo possível, e tem a capacidade de cálculo necessária para fazê­
lo.

A dificuldade com essa definição é evidente. O Homo Rationalis é uma espécie mítica, como o unicórnio e a sereia. O primo
dele na vida real, o Homo  Sapiens,  muitas  vezes  é  guiado  por  incentivos  psicológicos  subconscientes,  ou  até  mesmo  por
aqueles  conscientes,  que  são  totalmente  irracionais.  Instintos  de  grupo  desempenham  um  grande  papel  em  seu
comportamento. Mesmo quando os seus objetivos são bem definidos, a sua motivação para alcançá­los pode ser inferior ao
necessário e longe de possuir capacidade de cálculo infinito. Ele é muitas vezes completamente estúpido, e mesmo quando
inteligente,  ele  pode  estar  cansado,  com  fome,  distraído  ou  bêbado,  incapaz  de  pensar  sob  pressão,  ou  guiado  mais  pela
suas emoções do que pelo seu cérebro. E isso é apenas uma lista parcial de desvios do paradigma racional. 

Assim, não podemos esperar que a Teoria dos Jogos ou Teoria Econômica sejam descritivas no mesmo sentido que a física
ou  a  astronomia  são.  A  racionalidade  é  apenas  um  dos  vários  fatores  que  afetam  o  comportamento  humano.  Nenhuma
teoria  baseada  em  um  fator  isolado  pode  produzir  previsões  confiáveis.  Mas  a  boa  notícia  é  que  nós  ganhamos  alguns
insights  sobre  o  comportamento  do  Homo  Sapiens  ao  estudar  o  Homo  Rationalis.  Aparentemente  existe  suavelmente  uma
espécie  de  mão  invisível  trabalhando:  embora  em  determinadas  situações  um  indivíduo  possa  agir  irracionalmente,  parece
haver  um  efeito  que  empurra  as  pessoas  no  sentido  da  tomada  de  decisão  racional.  Isso  não  faz  as  pessoas  mais
racionais,  mas  a  medida  que  alguns  contextos  se  tornam  mais  comuns  e  familiares,  isso  os  faz  agir  mais  racionalmente
nesses contextos.

No fim, o Homo Rationalis pode servir de modelo para alguns aspectos do comportamento do Homo Sapiens.  Isso
acontece com as idéias de biologia e evolução, em que a doutrina da sobrevivência do mais apto se traduz em maximizar o
comportamento  dos  genes.  Sabemos  que  os  genes  realmente  não  maximizam  qualquer  coisa,  mas  os  fenômenos  que
observamos são tão bem amarrados pela hipótese de que eles agem como se estivessem maximizando.

As coisas são mais complicadas na ciências sociais, em primeiro lugar, porque as próprias decisões são muito complexas,
e segundo porque o não­maximizar o comportamento não é tão impiedosamente castigado como na selva, mas talvez haja

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uma  tendência  semelhante.  As  teorias  econômicas  explicam  fenômenos  reais  apenas  algumas  vezes,  e  não  podemos
esperar  que  sempre  o  façam,  nem  sequer  podemos  dizer  de  antemão  quando  esperamos  que  elas  o  façam.  Ainda  não
sabemos como integrar as ciências racionais (como a Teoria dos Jogos e Economia) com as ciências não­racionais
(como Psicologia e Sociologia) para produção de previsões precisas. 

Mas,  para  melhor  ou  para  pior,  é  assim  que  as  coisas  são.  Precisamos  nos  acostumar  ao  fato  de  que  a  Economia  não  é
Astronomia  e  a  Teoria  dos  Jogos  não  é  Física.  Sabemos  que,  na  educação  dos  nossos  filhos,  devemos  aceitar  cada  um
para o que ele é, para o bem que está dentro dele, e não forçá­lo para ser outro molde. As ciências são os filhos de nossas
mentes,  nós  devemos  permitir  a  cada  uma  delas  se  desenvolva  naturalmente,  e  não  forçá­las  em  moldes  que  não  são
apropriadas para elas.

Deve­se  salientar  que  nossa  área  de  pesquisa  (Teoria  dos  Jogos,  Economia)  não  são  de  modo  algum  a  única  dentro  da
ciência que não é forte em previsão. A medida do sucesso deve ser "Ela me permite ter insights?" ao invés de "Quais serão
minhas  observações?".  Similar  a  isso  são  disciplinas  como  a  psicanálise,  arqueologia,  meteorologia,  e  até  certo  ponto  a
aerodinâmica.  Aviões  não  são  projetados  ao  se  resolver  as  equações  da  aerodinâmica:  eles  são  projetados  por  intuição  e
experiência,  e  testados  em  túneis  de  vento  e  em  vôos  de  teste.  A  intuição  que  vai  para  o  projeto  é  baseada  em  parte  na
teoria, que fornece princípios gerais importantes. 

A  Teoria  dos  Jogos  não  pretende  descrever  o  Homo  Sapiens,  e  sim  o  Homo  Rationalis.  Por  outro  lado,  quando  vamos
aconselhar  as  pessoas,  fica  claro  que  devemos  dar  conselhos  racionais  que  maximizam  as  utilidades,  ou  seja,
precisamente o que o Homo Rationalis faria, de modo que os dois aspectos são nesse sentido bastante próximos.

O Equilíbrio de Nash

Esta  é  certamente  a  solução  teórica  dentro  da  Teoria  dos  Jogos  mais  frequentemente  usada  na  teoria  econômica.  O
Equilíbrio de Nash é extremamente comum em muitas aplicações diferentes. Em mercados competitivos perfeitos, ele está
intimamente associado ao equilíbrio competitivo. Também é usado em estudos de entrada e saída, leilões e problemas de
agente­principal. 

Na teoria da escolha social ele é onipresente. É provavelmente seguro dizer que ele afeta de forma significativa em todas as
áreas  em  que  os  incentivos  são  importantes,  e  isso  inclui  quase  todos  os  da  teoria  econômica.  O  equilíbrio  de  Nash  é  a
personificação  da  idéia  de  que  os  agentes  econômicos  são  racionais  e  que  atuam  simultaneamente  para  maximizar  a  sua
utilidade. Se houver alguma idéia que pode ser considerado a força motriz da teoria econômica, é isso.

Assim,  em  certo  sentido,  equilíbrio  de  Nash  encarna  a  mais  e  fundamental  idéia  da  economia,  que  as  pessoas  agem  de
acordo com os seus incentivos. Ele é sem dúvida o conceito mais bem sucedido ­ isto é, amplamente usado e aplicado, da
Teoria dos Jogos. Ele toca quase toda área da teoria econômica, assim como a escolha social e política.

Mas  há  problemas  com  a  sua  interpretação  intuitiva.  Em  jogos  de  informação  perfeita,  o  equilíbrio  pode  ser  alcançado  por
uma  espécie  de  programação  dinâmica,  indução  retroativa,  cujo  procedimento  intuitivo  conteúdo  é  muito  clara  e
convincente. Em outros jogos não é claro como os jogadores devem chegar a um equilíbrio, e como um equilíbrio específico
seria  escolhido  entre  o  conjunto  de  todos  os  equilíbrios  possíveis.  De  fato,  há  jogos  em  que  o  equilíbrio  de  Nash  parece
muito estranho e contraditório. 

Conceitualmente, o equilíbrio de Nash e suas variantes expressa a idéia de que cada jogador maximiza a sua utilidade; ele é
uma simples expressão da racionalidade do jogador individual. A definição do equilíbrio de Nash é extremamente simples e

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atraente. Além disso, o conceito é matematicamente muito fácil de trabalhar. Como resultado, ele gerou importantes insights
nas suas aplicações e iluminou relações entre diferentes aspectos das situações com decisões interativas. 

Discussão controversa: a Teoria dos Jogos é útil de alguma forma?
 
Ariel  Rubinstein,  economista  e  acadêmico  na  New  York  University  e  Tel  Aviv  Universisty,  é  um  escritor  sobre  Teoria  dos
Jogos  com  opiniões  bem  contundentes.  Uma  destas  opinões  está  no  posfácio  da  famoso  livro  Theory  of  Games  and
Economic Behavior (1944), de John von Neuwman e Oscar Morgentern (na edição de 2007). Veja o texto na íntegra aqui. 

Embora seja expert e fanático sobre Teoria dos Jogos, Rubinstein afirma que a teoria não serve para muita coisa prática.
Numa tradução livre, abaixo alguns trechos:

Será a Teoria dos Jogos útil de alguma forma? A literatura popular está cheia de argumentos
sem  sentido.  Mesmo  dentro  da  comunidade  dos  teóricos  do  jogo,  há  uma  grande  discordância
sobre o seu significado e respectiva utilidade prática. Há aqueles que acreditam que o objetivo da
Teoria  dos  Jogos  é  basicamente  fornecer  uma  boa  previsão  do  comportamento  humano  em
situações  estratégicas  e  que,  se  ainda  não  chegamos  "lá",  chegaremos  quando  melhorarmos  os
modelos  e  acharmos  formas  de  medir  as  intenções  de  jogadores  reais.  Não  estou  certo  em  que
essa opinião visionária é baseada. Precisamos lidar com a dificuldade de prever comportamentos nas ciências sociais,
onde a previsão em si é parte do jogo.

Há ainda aqueles que acreditam no poder da Teoria dos Jogos para melhorar o desempenho na vida real nas interações
estratégicas.  Eu  nunca  me  convenci  que  existe  uma  base  sólida  para  essa  crença.  Parece  existir  um  certo  padrão  no
comportamento  estratégico  que  se  torna  evidente  quando  se  faz  experiências.  É  gratificante  às  vezes  encontrar
comportamentos similares na sociedade. Mas esses padrões estão relacionados com as previsões clássicas da Teoria
dos Jogos?

Outros (e eu também) acham que o objetivo da Teoria dos Jogos é basicamente estudar as considerações utilizadas na
tomada de decisões em situações interativas. A teoria identifica padrões de raciocínio e investiga suas implicações na
tomada de decisões em situações estratégicas. Neste sentido, a Teoria dos Jogos não tem implicações normativas
e  sua  significância  empírica  é  muito  limitada.  Teoria  dos  Jogos  é  vista  como  a  prima  da  Lógica.  A  Lógica  não  nos
permite discriminar as afirmações verdadeiras das falsas e não nos ajuda a distinguir o certo do errado. Assim, a Teoria
dos Jogos não nos diz qual ação é preferível e não prevê o que os outros vão fazer. 

Se  a  Teoria  dos  Jogos  é,  no  entanto,  útil  ou  prática,  ela  é  apenas  indiretamente.  Em  qualquer  caso,  o  ônus  da
prova  recai  sobre  aqueles  que  usam  a  Teoria  dos  Jogos  para  fazer  recomendações  de  políticas/procedimentos,  por
exemplo, e não sobre aqueles que duvidam do valor prático da teoria. E, além do mais, às vezes me pergunto porque as
pessoas  são  tão  obcecadas  na  procura  da  "utilidade"  da  Economia  e  da  Teoria  dos  Jogos.  Deveria  a  pesquisa
acadêmica ser julgada por sua utilidade?

A Teoria dos Jogos popularizou o termo "Dilema do Prisioneiro", que é amplamente utilizado na imprensa popular e pelos
políticos. No entanto, é usada para expressar uma idéia trivial: que há situações em que o comportamento egoísta pode,
em última instância, prejudicar todos os participantes. Eu vejo a Economia (e ainda mais abrangente, todas as ciências

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sociais)  como  cultura.  É  uma  coleção  de  termos,  considerações,  modelos  e  teorias  usadas  por  pessoas  que
pensam  sobre  as  interações  econômicas.  A  Teoria  dos  Jogos  alterou  a  cultura  da  Economia.  A  maioria  dos
economistas contemporâneos usam a Teoria dos Jogos como uma ferramenta essencial para transferir suas suposições
sobre  uma  situação  em  algum  resultado  prático.  A  Teoria  dos  Jogos  tem,  essencialmente,  tornado­se  uma  caixa  de
ferramenta  a  partir  do  qual  economistas  escolhem,  muitas  vezes  mecanicamente,  os  instrumentos  para  transformar
suposições em previsões.

A Teoria dos Jogos melhora o mundo?

Pessoalmente, eu não estou certo de que a Teoria dos Jogos "melhora o mundo". A Economia, em geral, e a Teoria dos
Jogos, em particular, não são uma descrição do comportamento humano. Pelo contrário, quando ensinamos a Teoria
dos Jogos nós podemos afetar o modo como as pessoas pensam e se comportam em interações econômicas e
estratégicas.  Seria  impossível  que  o  estudo  sobre  os  jogos  e  pensamento  econômico  possa  fazer  as  pessoas  serem
mais manipuladoras ou mais egoístas?

A  Teoria  dos  Jogos  tornou­se  a  principal  ferramenta  na  caixa  de  ferramentas  do  economista.  No  entanto,  na  última
década  houve  poucas  idéias  novas  na  Teoria  dos  Jogos.  Assim,  o  palco  está  montado  para  um  novo  trabalho  não
convencional que vai abalar a economia como o livro do Von Neumann e Morgenstern fez há sessenta anos. É claro que
idéias originais não podem simplesmente ser solicitadas a aparecer. No entanto, é da responsabilidade da profissão criar
um ambiente que atraia as pessoas não convencionais com uma ampla base educacional e com uma abordagem mental
que possa gerar idéias inovadoras. 

Em todo caso, devemos nos sentir privilegiados: podemos jogar jogos não só como crianças e sim como acadêmicos,
mas  precisamos  ter  em  mente  que  os  desafios  que  o  mundo  enfrenta  hoje  são  complexos  demais  para  serem
capturados por qualquer matriz matemática de um jogo.  (veja mais sobre opiniões de Rubeinstein aqui)

Este  argumento  criou  certas  reações  favoráveis  e  contrárias  em  alguns  blogs  especializados  em  Economia  e  Teoria  dos
Jogos  (ver  indicação  no  rodapé  deste  texto).  No  blog  The  Leisure  of  Theory  of  Class,  o  professor  do  Department  of
Managerial Economics & Decision Sciences at Northwestern University Eran Shmaya concorda com Rubinstein. 

"Posfácio de Ariel"

Eu  não  vejo  a  Teoria  dos  Jogos  como  um  exercício  de  matemática  ou  lógica,  mas  eu  nunca
achei  a  teoria  útil  nas  minhas  próprias  interações  com  outros  seres  humanos.  Como  diz
Rubinstein, o ônus da prova recai sobre aqueles que usam a Teoria dos Jogos para fazer recomendações de política ou
procedimentos,  e  eu  nunca  vi  tal  prova.  Eu  nunca  me  deparei  com  nenhum  exemplo  em  que  um  teorema  ou  uma
definição  da  Teoria  dos  Jogos  transformou  em  recomendação  de  política  ou  fez  previsões  sobre  o  comportamento
humano em situações estratégicas.

E mesmo houvesse situações em que a Teoria do Jogo seja útil nesse sentido, isso não a faria mais emocionante para
mim. Eu tenho vários motivos para gostar da Teoria dos Jogos, mas duvido que qualquer um de nós tenha a usado para
melhorar  seu  desempenho  em  situações  estratégicas.  Como  diz  Rubinstein,  por  que  tantos  teóricos  do  jogo  sentem  a
necessidade  de  justificar  o  seu  interesse  na  Teoria  de  Jogo  apelando  à  sua  aplicabilidade  na  vida  real?  Você  pode  ver
isso  nos  congressos.  Embora  nem  todos  realmente  afirmem  que  a  Teoria  dos  Jogos  é  útil  para  a  formulação  de
políticas, mesmo assim está sempre implícito que esse é o objetivo final. 

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Nos comentários, Anon questiona: se a Teoria dos Jogos não é útil, então por que ela é ensinada nas universidades e
nas  escolas  de  negócios?  Ciência  é  útil,  matemática  é  útil  porque  ela  ajuda  a  ciência.  Então  matemática  deve  ser
ensinada. E Teoria dos Jogos?

Eran responde: de fato, partes da física tem aplicações tecnológicas. Exemplo: você precisa saber um pouco de física
para  construir  uma  bomba  atômica.  No  entanto,  o  motivo  que  Einstein  estava  interessado  na  relação  entre  massa  e
energia  não  era  o  potencial  de  aplicação  tecnológica.  Isso  também  se  aplica  aos  departamentos  de  física  nas
universidades; eles buscam a compreensão das leis da natureza como uma valiosa meta em si. Neste raciocínio, acho
que  a  Teoria  dos  Jogos  é  "útil  para  a  compreensão  da  economia",  da  mesma  forma  que  a  Física  é  útil  para  a
compreensão  das  leis  da  Natureza,  que  a  Literatura  é  útil  para  a  compreensão  da  cultura,  e  que  a  História  é  útil  para
entender, bem, a história.

No  entanto,  a  Teoria  dos  Jogos  e  também  Literatura  e  História,  não  têm  uma  "aplicação  tecnológica"  similar  às  da
Física.  Se  você  conhece  a  Teoria  dos  Jogos  você  não  será  capaz  de  usar  diretamente  esse  conhecimento  na
formulação  de  políticas  da  mesma  forma  que  pode  utilizar  o  conhecimento  de  física  para  construir  bombas  e  pontes.
Mas,  digo  e  repito,  eu  não  vejo  essa  falta  de  aplicação  prática  como  um  grande  problema.  Se  você  quis  dizer  que  a
única razão que temos departamentos de matemática é para ensinar matemática para físicos, então acho que você está
errado.

Afinal, então é útil para que?

Anon  replica:  o  questionamento  não  é  sobre  aplicações  tecnológicas  da  Teoria  dos  Jogos,  e  sim  se  ela  é  útil  para
entender as ciências sociais de forma mais ampla. O que deu para entender do argumento de Rubinstein e Eron é que a
Teoria dos Jogos não é útil para nada. Parece existir certa confusão sobre a palavra "útil". 

Eran elucida: todo conhecimento é útil para entender alguma coisa: o conhecimento da Literatura é útil para entender a
nossa cultura, o conhecimento da História é útil para a compreensão do nosso passado. A Teoria dos Jogos é útil para a
compreensão das interações sociais. Física tem um poder adicional "tecnológico" e normativo. Isso significa que você
pode usar diretamente o conhecimento da Física para construir e prever coisas. A Teoria dos Jogos não tem esse poder
"tecnológico".  Os  especialistas  em  Teoria  dos  Jogos  podem  entender  melhor  Economia,  mas  eu  não  acredito  que  eles
podem  traduzir  este  entendimento  para  melhorar  o  desempenho  deles  nas  interações  sociais,  para  fazer  uma  melhor
recomendação  de  política  (que  eu  acho  que  é  o  analógo  à  tecnologia)  ou  para  prever  comportamentos  humanos  em
interações estratégicas. Da mesma forma, enquanto eu acho que professores de História podem ter bom entendimento
do passado, eu não acredito que eles são os melhores para prever algo sobre o futuro e também não acho que eles são
melhores em fazer políticas públicas.

Para deixar mais claro, verifique se as duas afirmações abaixo têm o mesmo conteúdo:
    1a ­ a teoria dos jogos é útil para a recomendação de políticas e para fazer previsões
    2a ­ a teoria dos jogos é útil para a compreensão da economia
de forma semelhante que:
    1b ­ o conhecimento da história é útil para a recomendação de políticas e para fazer previsões
    2b ­ o conhecimento da história é útil para a compreensão de nosso passado / nossa civilização.

No caso, não, elas não tem mesmo conteúdo. Concordo com a 2a e 2b e discordo de 1a e 1b. Quando digo em "útil",
"utilidade"  ou  "tecnológico",  estou  me  referindo  as  afirmações  do  tipo  1  (fazer  recomendação  de  políticas  ou  fazer

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previsões).  E  mesmo  que  Teoria  dos  Jogos  (ou  História)  conseguisse  ser  "útil"  neste  sentido,  ela  não  seria  tão  mais
excitante do que já é para mim. 

Eu (Fernando Barrichelo) entro na discussão: Você disse a Teoria dos Jogos, diferentemente das teorias com poder
"tecnológico",  não  consegue  prever  o  comportamento  humano,  melhorar  o  desempenho  nas  interações  sociais  e  fazer
uma  melhor  recomendação  de  política  pública  ou  procedimentos.  Mas  disse  que  a  Teoria  dos  Jogos  é  útil  para  a
compreensão das interações sociais. Assim, "compreender as interações sociais" é útil para ...?

A  resposta  foi:  para  absolutamente  nada.  Mas  não  estou  nenhum  pouco  preocupado  com  isso.  Para  mim,  a
compreensão  das  interações  sociais  é  um  objetivo  digno  por  si  só,  da  mesma  forma  que  a  compreensão  das  leis  da
natureza era um objetivo digno de Newton e Einstein. Eu tenho quase certeza que eles estavam menos interessados na
aplicação tecnológica, da mesma forma que a compreensão a evolução das espécies e da história da humanidade são

objetivos valiosos também per si. Isso já é suficiente.

No blog Cheap Talk também existiram opiniões diversas.

Lones Smith:  Estudar  um  campo  "inútil"  não  é  o  que  atrai  as  pessoas  para  a  Economia,  não  é  o
que  faz  existir  Prêmio  Nobel  para  esta  área,  e  não  é  o  que  faz  existir  pessoas  bem  pagas  para  tal.
Essa  visão  é  muito  desanimadora.  Ainda,  Rubinstein  continua  sua  eresia  dizendo  que,  no  estágio
atual,  Teoria  dos  Jogos  está  morta  e  seca.  Rubinstein  levou­nos  à  terra  prometida,  parece  que  ele  não  quer  deixar  a
gente entrar. Vou continuar escrevendo artigos (e incentivar outros a fazerem o mesmo) com a premissa de que a Teoria
dos Jogos não é somente útil, mas a parte "mais útil" da Economia. Em Economia, a capacidade de explicar o mundo
das "escolhas humanas" é baseada numa sólida compreensão da Teoria dos Jogos.

Sean  Crockett:  Concordo  com  o  Rubinstein  que  a  Teoria  dos  Jogos  é  um  exercício  de  lógica/matemática  e  não  uma
regra  normativa  com  significado  empírico.  Mas  eu  também  concordo  com  Lones  que  a  maioria  dos  economistas
esperam  que  seu  trabalho  não  seja  propriamente  um  exercício  matemático,  mas  também  tenha  algum  significado
prático. A Teoria dos Jogos fornece um framework "lógico" para o comportamento humano, então é natural investigá­lo
de  forma  empírica.  A  Teoria  dos  Jogos  prevê  melhor  o  comportamento  em  algumas  configurações  do  que  em  outras,
então  precisamos  caracterizar  essas  diferenças.  Por  exemplo,  a  Teoria  dos  Jogos  tende  a  se  dar  muito  bem  em
interações repetidas e mal em jogos de uma jogada só ou com backward induction. 

Beau: A comparação de Rubeinstein entre Teoria dos Jogos e a Lógica é precisamente certa, no sentido de que a teoria
econômica,  como  a  lógica,  nos  obriga  a  "pensar  corretamente"  sobre  certos  problemas  inspirados  no  mundo  real.  Isso
não significa que os insights teóricos são imediatamente relevantes para o mundo real, mas é mais um passo na direção
certa.

Eilon, professor no Department of Statistics and Operations Research da Tel Aviv University, no mesmo blog The Leisure of
Theory of Class, no postTeoria dos Jogos pode Melhorar o Mundo? faz sua defesa que Teoria do Jogos é muito útil sim. 

"Teoria dos Jogos pode Melhorar o Mundo?"

Muitos  estão  comentando  que  a  Teoria  dos  Jogos  não  é  útil  para  a  "previsão  do  comportamento  em  situações

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estratégicas" e para "melhorar o desempenho nas situações estratégicas da vida real". Devo dizer que
discordo  disso.  Eu  acredito  que  Teoria  dos  Jogos  pode  melhorar  o  mundo  (quando  aplicado
corretamente) e pode melhorar o desempenho na vida real. 

Algumas  interações  da  vida  são  complexas,  algumas  são  muito  triviais.  A  Teoria  dos  Jogos  não  está  suficientemente
avançada  para  lidar  com  situações  complexas,  mas  ela  pode  administrar  situações  simples.  Isso  é  semelhante  ao
analisar, por exemplo, o fluxo de água nos canos. A Física tem avançado o suficiente para permitir a analisar o fluxo de
água  em  tubos  massados,  quando  uma  pessoa  sozinha  normal  só  conseguiria  entender  o  fenômeno  em  tubos  retos.
Economia e Psicologia não fizeram o mesmo progresso, por isso vamos esperar até que possamos realizar simulações
mais  avançadas  sobre  o  comportamento  humano.  A  Teoria  dos  Jogos  nos  ensina  insights,  como  "pensar
estrategicamente",  ou  que  "a  crença  do  outro  jogador  pode  ser  diferente  da  sua  crença".  Estas  percepções  são  as
pérolas da teoria, e elas podem nos ajudar quando enfrentar interações estratégicas. 

Como exemplo, eu costumava dar palestras populares sobre a Teoria dos Jogos. Meu pai tem menos educação formal e
tem uma gráfica. Numa palestra eu disse à platéia para pensar estrategicamente em uma interação estratégica e para se
colocar no lugar do outro jogador. Poucos dias depois, meu pai teve que imprimir um jornal para um novo cliente que ele
não  conhecia.  Como  gerente  cauteloso,  pediu  para  o  cliente  pagar  todo  o  trabalho  adiantado.  O  cliente  concordou.
Poucos minutos antes que o trabalho ir para impressão meu pai recebeu uma telefonema: o cliente pagou apenas 80%
do montante, ele disse que iria pagar o restante após o trabalho feito. A primeira reação do meu pai foi para cancelar o
trabalho  pois  o  cliente  não  manteve  o  acordo.  Então  ele  pensou  em  seu  filho  teórico  dos  jogos:  ponha­se  no  lugar  do
outro  jogador.  Ele  o  fez.  E  então  ele  percebeu  que  se  ele  fosse  o  cliente,  ele  também  não  estaria  disposto  a  pagar  a
total adiantado: essa é a primeira vez que ele trabalha com essa gráfica, e ele não sabe se eles fazem um bom trabalho
e no prazo. Ele decidiu dar uma chance à Teoria dos Jogos e disse aos seus trabalhadores para imprimir o trabalho. O
final foi feliz, o resto do dinheiro foi pago após o trabalho feito. 

Podemos  considerar  qeu  essa  história  envolve  interações  muito  simples.  Pode­se  dizer  que  o  raciocínio  é  mais
psicológio  do  que  sobre  jogos.  Talvez,  mas  cheguei  a  conhecer  esses  insights  por  causa  da  Teoria  dos  Jogos,  sendo
completamente  ignorante  em  psicologia.  Minha  conclusão  sobre  histórias  semelhantes  é  que  o  pensamento  em  Teoria
dos Jogos pode melhorar o mundo. 

Eron (sim, ele de novo) retruca: uma coisa que podemos concordar é que é útil pensar estrategicamente e se colocar
nos lugar dos outros. Mas não concordo que tais percepções são pérolas provenientes da Teoria dos Jogos. Na verdade,
se é isso que a Teoria dos Jogos tem a oferecer, então eu a consideraria banal, chata e sem sentido. E se essas idéias
é o que você está procurando, então estou certo que você pode encontrar muitas delas em vários livros de auto­ajuda,
cujos autores não tenham lido nenhuma página em Teoria dos Jogos. Eu entendo que a Teoria dos Jogos faz parte de
seu raciocínio nessas histórias, embora acho que a maioria das pessoas não precisam de Teoria dos Jogos para poder
fazer  esse  tipo  de  raciocínio.  Você  parece  sugerir  que  está  mais  consciente  do  conselho  "ponha­se  no  lugar  do
outro"  não  como  um  efeito  colateral  da  sua  pesquisa  na  Teoria  dos  Jogos  e  sim  porque  o  conselho  é,  de
alguma forma, o produto final.

Eilon  se  explicar  melhor:  Você  está  misturando  as  coisas.  Existe  muitas  provas  sofisticadas  em  Teoria  dos  Jogos
onde  as  "pérolas"  são  as  equações  e  soluções  matemáticas.  Mas  o  que  os  leigos  precisam  são  regras  simples,
princípios e idéias que os ajudem a ser pessoas melhores, mais bem­sucedido, compreender melhor os seus vizinhos e
o meio ambiente. E a Teoria dos Jogos os dá tais percepções. É este o objetivo da Teoria dos Jogos? Não, seu objetivo
é  provar  teoremas  matemáticos.  Mas  essas  idéias  são  subproduto  da  teoria.  E  uma  vez  que  os  temos,  por  que  não
compartilhá­los com pessoas que podem usá­los em seu benefício?

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Você  está  correto  em  dizer  que  muitas  dessas  idéias  podem  ser  obtidas  usando  o  bom  senso.  O  ponto  é  que  as
pessoas não usam esses insights. Você acha que o presidente Obama (ou seus assessores) se colocou no lugar do
primeiro­ministro israelense Benyamin Netanyahu antes de gastar tanta energia no processo de paz Israel­Palestina? A
"Maldição do Vencedor" em leilões era um problema real, até que foi finalmente compreendida. Não estou certo de que
ainda  hoje  todos  os  concorrentes  em  leilões  realmente  entendem.  Milgrom  tem  muitas  histórias  de  leilões  que  ficaram
muito ruins para o vendedor porque foram mal concebidos. Assim, os insights que Teoria dos Jogos fornecem, ainda
que  possa  parecer  trivial  para  especialistas  como  você  e  eu,  estão  longe  de  ser  trivial  para  o  homem  na  rua.
Para ele, são pérolas.

Eron rebate: Há duas maneiras de interpretar sua afirmação de que a Teoria dos Jogos melhora o mundo.

A:  Os  teóricos  do  jogo  desde  Von  Neumann  até  Neyman,  ao  modelar,  observar  e  experimentar,  conseguiram  descobrir
duas  verdades  profundas:  É  útil  pensar  estrategicamente  em  situações  estratégicas,  e  se  colocar  no  lugar  da  outra
pessoa.  Agora  essas  verdades  estão  disponíveis  para  o  mundo  através  do  produto  de  uma  "empresa  intelectual"  que
chamamos de Teoria dos Jogos

B: Os teóricos do jogo, como subproduto de suas pesquisas, têm à sua disposição algumas ferramentas retóricas ­ um
par de anedotas com jargão científico embaladas com terno e gravata ­ com os quais eles podem transmitir idéias como
"pensar  estrategicamente"  com  mais  sucesso  do  que  outros  profissionais  da  auto­ajuda  e  seus  jargões  do  tipo  "como
ficar rico no mercado em cinco passos".

Até agora eu não sei quais opções você está defendendo. Eu discordo do primeiro. Eu não tenho opinião clara sobre a
segunda.  A  diferença  entre  as  duas  interpretações  não  está  no  nível  da  trivialidade  de  idéias  como  "pensar
estrategicamente", mas se a Teoria dos Jogos é a responsável pela produção desses insights. 

Aliás,  seu  primeiro  parágrafo  começa  por  dizer  que  eu  misturo  teoria  e  e  prática  e  termina  com  as  necessidades  dos
leigos. Eu não entendi a sua lógica aqui. Por "praticando" Teoria dos Jogos que você quer dizer "explicando Teoria dos
Jogos  para  os  leigos"?  Eu  não  acho  que  isso  é  o  que  as  pessoas  normalmente  querem  dizer  quando  falam  sobre  a
prática da ciência.

Eilon  complementa:  O  que  é  prática?  Isso  pode  ser  diferente  para  pessoas  diferentes.  O  presidente  Obama  pode
querer  aplicar  a  Teoria  dos  Jogos  para  diversas  situações  políticas:  quando  fazer  declarações,  quando  pressionar  esta
ou aquela pessoa, quanto investir neste ou aquele projeto. Ben Bernanke, pode querer ver a sua aplicação a problemas
na macroeconomia: os efeitos do aumento da taxa de juros, ou quando aumentar um determinado imposto.

Eu acho que a Teoria dos Jogos dá uma ajuda limitada aqui, temos modelos que fornecem insights, mas a realidade é
frequentemente mais complexas e nossos modelos podem acabar desconsiderando aspectos importantes. 

Mas  o  presidente  Obama  e  Ben  Bernanke  não  são  as  únicas  pessoas  no  mundo.  Na  verdade,  a  maioria  das  pessoas
não se preocupam com o que a Teoria dos Jogos tem a dizer sobre os problemas que afligem esses dois caras. Aplicar
a  Teoria  dos  Jogos  seria  trivial  para  nós,  mas  não  para  a  maioria  das  pessoas.  Identiciar  os  participantes  na  situação
que  você  enfrenta,  identificar  seus  objetivos,  quais  são  as  informações  disponíveis  para  você,  qual  é  a  informação
disponível para os outros jogadores, se você deve revelar suas informações ou escondê­la, a maldição do vencedor, o
uso  da  punição,  a  utilidade  não  é  a  renda  monetária.  Na  verdade,  como  você  disse,  esses  são  os  tipos  de  idéias  que
você espera encontrar nos livros de auto­aperfeiçoamento. Mas é uma coisa tão má? Quanto mais você consulta, mais

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você percebe que essas são as observações simples que as pessoas precisam.

Será  que  os  teóricos  jogo  inventaram  essas  idéias?  Nem  um  pouco.  Son  Tzu,  o  autor  de  "A  Arte  da  Guerra"  alcançou
percepções semelhantes há 2500 anos. Nicolau Maquiavel fez isso 500 anos atrás. Estou certo de que outros o fizeram
também. Então você não precisa de Teoria dos Jogos para chegar a essas idéias, mas certamente a Teoria dos Jogos
ajuda.

Nós somos treinados para pensar de forma estratégica e, portanto, esses pontos parecem banais para nós. Quando uma
situação  nos  é  apresentada,  podemos  fazer  perguntas  sobre  as  implicações  que  as  pessoas  não  familiarizadas  com  a
Teoria dos Jogos podem não perguntar. Esta é, aliás, a razão pela qual você será contratado como um consultor.

Espero que agora você possa interpretar melhor a minha opinião. A Teoria dos Jogos pode melhorar o mundo porque ela
pode  ajudar  o  homem  leigo.  Ela  também  pode  ajudar  os  caras  grandes  como  Obama  e  Bernanke  para  tomar  decisões
melhores,  mas  esta  afirmação  será  mais  convincente  se  escrita  por  um  economista  sério,  e  não  por  mim.  Assim,  a
minha interpretacåo a meu ver é muito mais do que uma comparação entre A e B, é menos ridícula da forma que você
apresentou. 

E  eu  (Fernando  Barrichelo)  também  escrevi:  Eilon  e  Eran,  eu  gosto  muito  das  suas  discussões.  Tenham  certezam
que vocês estão melhorando o mundo apenas por postarem e apresentarem seus argumentos. 

Deixe­me  dar  minha  opinião  aqui.  Eu  sou  uma  pessoa  leiga  neste  contexto  (não  sou  matemático  e  economista,  sou
engenheiro com MBA). Mas eu sou outra pessoa desde que eu aprendi a Teoria dos Jogos. Eu gosto a matemática que
embasa a teoria, mas o que eu mais gosto é que a Teoria dos Jogos ajuda a estruturar o raciocínio. 

Saber  algumas  anedotas  intelectuais  com  modelos  formais,  pensar  nos  incentivos  em  termos  de  matriz  de  payoff,
colocar­se  no  lugar  dos  concorrentes  antes  de  tomar  a  minha  decisão,  entender  a  diferença  entre  um  jogo  de  uma
interação  só  e  as  situações  interativas  infinitas,  e  muito  mais,  são  muito  úteis.  Eu  não  pensava  desta  forma  antes  de
aprender a Teoria dos Jogos.

Sim, é verdade, eu poderia aprender tudo isso em outras disciplinas, da mesma forma que eu aprendi outros conceitos
úteis como custo afundado, custo marginal, valor presente, etc. Eles também mudar a minha maneira de pensar.

Poderíamos  dizer  que  esses  insights  não  tem  origam  a  Teoria  dos  Jogos.  No  entanto,  foi  a  Teoria  dos  Jogos  que  fez
isso para mim, e tenho certeza que pode fazer o mesmo para os outros. Afinal, todos os conceitos já estão agrupados
na Teoria dos Jogos. Então, por que não usá­los para ensinar a pensar estrategicamente? Não é o único caminho, mas é

uma maneira poderosa para complementar aulas de estratégia e economia.

E na defesa sobre a utilidade, Eilan continua em outro post:

"Para que serve a Teoria dos Jogos?"

Por que estudar a Teoria dos Jogos? Como um matemático, a minha resposta é que a Teoria dos Jogos
é  matematicamente  interessante.  Eu  fico  satisfeito  enquanto  eu  posso  estudar  modelos  interessantes,
desenvolver técnicas para resolver problemas e provar resultados difíceis. 

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Mas alguns de nós estão mais próximos do mundo real do que eu, e afirmam que a Teoria dos Jogos está relacionada a
problemas  reais.  No  entanto,  sabemos  que  dificilmente  as  situações  interativas  que  encontramos  na  vida  real  se
encaixam em algum modelo de Teoria dos Jogos. O Dilema do Prisioneiro, citado por qualquer pessoa quando menciona
Teoria  dos  Jogos,  tem  uma  matriz  de  recompensas  que  não  corresponde  a  interação  real.  Será  que  não  existem
conseqüências para as decisões dos presos? A matriz consegue identificar corretamente as utilidades dos presos? As
utilidades  são  de  conhecimento  comum?  Tenho  certeza  de  que  quem  lê  este  post  vai  ser  capaz  de  levantar  mais
problemas sobre a representação do jogo do Dilema do Prisioneiro. 

Os  leilões  são  outra  aplicação,  amplamente  citado  da  Teoria  dos  Jogos,  onde  uma  sólida  teoria  foi  desenvolvida.  Mas
tome  um  leilão  dos  mais  simples,  do  tipo  envelope  fechado  com  vencedor  da  maior  oferta.  Concorrentes  disputam  um
contrato  de  fornecimento  de  bens  específicos  para  alguma  empresa  (comum  na  vida  real).  O  seu  private  value  é  $1M.
Qual é a probabilidade do private value do adversário ser $1,1, $1 ou $0,9M? Dá um tempo, ninguém pode dizer. E o que
o outro licitante pensa sobre o seu private value? A distribuição dos valores é de conhecimento comum? Como você vê,
a grande teoria dos livros não oferece muita ajuda. 

Mesmo assim, acho que a Teoria dos Jogos é útil. De fato, muito útil. E pessoalmente, eu uso diariamente. A meu
ver,  em  qualquer  interação  a  Teoria  dos  Jogos  identifica  os  aspectos  que  cada  participante  deve  considerar  antes  de
escolher  uma  ação.  O  modelo  básico  da  Teoria  dos  Jogos  nos  diz  que  devemos  identificar  o  jogo:  quem  são  os
jogadores,  quais  são  as  suas  ações,  quais  são  seus  objetivos.  Quando  o  jogo  for  repetido,  a  teoria  nos  diz  que  a
coordenação pode ser conseguida por meio de ameaças. Jogos sequenciais chamam nossa atenção para os promessas
e  reputação.  Em  suma,  a  meu  ver,  as  pessoas  que  usam  Teoria  dos  Jogos  na  "vida  real"  desenvolvem  modelos  que
fornecem insights sobre como entender melhor os vários tipos de situações interativas. 

Eran retruca: minha experiência pessoal é completamente diferente. Eu não uso a Teoria dos Jogos no dia a dia, e na
verdade  não  me  lembro  de  uma  única  instância  em  minha  vida  quando  eu  conscientemente  usei.  Assim,  por  exemplo,
eu  não  acredito  que  meu  conhecimento  sobre  jogos  repetidos  mudou  o  meu  comportamento  nas  interações  de  longo
prazo com outras pessoas e certamente não entra o meu raciocínio em tais situações. 

Eilon complementa: a Teoria dos Jogos não inventou nada. Ele explica os fenômenos. E como tal, tenho certeza que
pessoas inteligentes, sem qualquer experiência em Teoria dos Jogos pode explicar os fenômenos também. Eu acho que
a questão não é se as pessoas inteligentes usando apenas o seu senso comum poderiam ter a mesma conclusão que
nós  teóricos  dos  jogo  chegamos,  mas  se  elas  conseguem  fornecer  uma  explicação  clara  para  certos  fenômenos.
Tomemos  por  exemplo  a  "Maldição  do  Vencedor".  Este  era  um  problema  real  na  década  de  50,  e  a  Teoria  dos  Jogos
explicou o erro de licitantes. Como não foi possível alguém inteligente chegar à mesma conclusão antes? Claro, alguém
até pode ter feito isso, mas a Teoria dos Jogos deu uma explicação muito elegante a este fenómeno. Ou pegue o
exemplo de desenhar um leilão. Qualquer pessoa pode lançar um leilão de primeiro preço, mas é a arte de desenhar um
leilão  que  gera  altas  receitas  para  o  vendedor.  Uma  pessoa  esperta  pode  fazê­lo,  certamente,  mas  a  Teoria  dos  Jogos
pode explicar porque um bom desenho de uma pessoa inteligente funciona, e talvez possa melhorá­lo. No fim, acho que
a teoria ajuda a tomar decisões melhores.

E  qual  a  minha  opinião?  Eu  acho  a  Teoria  dos  Jogos  é  útil  para  melhorar  o  raciocínio  estratégico.  Também
admito que aplicação prática não é fácil, nem direta. Mas não me preocupo com isso. Várias outros conceitos
da  Economia  e  Estratégia  ensinados  nas  universidades  também  são  bem  diferentes  da  Física  aplicada  ­  são
teorias  que  ajudam  o  indivíduo  a  ter  um  background  mais  abrangente  para  fazer  livre  associação  quando
necessário. Alguns exemplos:
­ as Cinco Forças de Porter (em Estratégia): o conceito é bastante interessante e abre a visão para encarar a concorrência,

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mas nunca vi ninguém usá­lo no dia a dia, e vi quase nada nas apresentações estratégicas dentro da empresa onde trabalho
e nas empresas de amigos.
­  Sunk  Cost,  ou  custo  afundado  (em  Economia):  talvez  as  pessoas  raciocinem  de  acordo  com  o  Sunk  Cost  sem  saber  o
conceito; quando o aprendem dizem "a­ha! então existe um conceito formal por trás disso!".

Teoria  dos  Jogos  é  um  estudo  formal.  Incorporá­la  é  tão  útil  quanto  incorporar  todos  os  outros  estudos  formais,  como
Economia,  Filosofia  ou  Psicologia.  Quanto  mais  teoria  você  tem  no  seu  background,  mais  você  fará  associações  e
analogias para colocar em prática e, principalmente, você vai se expressar de forma convincente, transmitir os conceitos e
ensinar outras pessoas.

 
(1) Mais informação sobre Ariel Rubinstein no site pessoal (http://arielrubinstein.tau.ac.il) e perfil na Wikipedia (http://en.wikipedia.org/wiki/Ariel_Rubinstein)

(2) Os blogs com repercussão, recomendo ler nesta sequência, incluindo os comentários:

­ http://theoryclass.wordpress.com/2010/10/12/ariels­afterword/

­ http://cheeptalk.wordpress.com/2010/10/06/rubinsteins­afterward/

­ http://theoryclass.wordpress.com/2010/10/14/does­game­theory­improve­the­world/

­ http://theoryclass.wordpress.com/2010/04/26/what­is­game­theory­good­for/

(3) Em outro texto, Rubinstein responde a entrevista no livro Game Theory: Five Questions, publicado aqui, onde ele também questiona algumas utilidades

da Teoria dos Jogos.

Ehud Kalai: as especializações da Teoria dos Jogos
 
Ehud Kalai, ex­presidente do Game Theory Society, em palestra no 2o Congresso da Game Theory Society em 2004, disse
que o estudo dos jogos se expandiu tão significantemente além das duas principais teorias (cooperativa e não­cooperativa)
que no estágio atual a Teoria dos Jogos requer especialização.

Assim, ele dividiu a pesquisa atual em Teoria dos Jogos em treze principais especialidades (com colaboração de Aumann,
Schmeidler e Wilson):

1.  TEORIA  DOS  JOGOS  NÃO­COOPERATIVOS  (Noncooperative  Game  Theory):  estuda  o  comportamento  de  jogadores
maximizadores de ganhos que levam em consideração todas as informações e estratégias

2.  TEORIA  DOS  JOGOS  COOPERATIVOS  (Cooperative  Game  Theory):  estuda  como  as  considerações  de  eficiência,
justiça e estabilidade direcionam a alocação de custo e benefício de coalisões de jogadores racionais

3. TEORIA DOS JOGOS EMPÍRICO/HISTÓRICO (Empirical/Historical Game Theory): estuda o comportamento passado e
atual de jogadores no mundo real

4.  TEORIA  DOS  JOGOS  COMPORTAMENTAL  (Behavioral  Game  Theory):  usa  pesquisas  e  experimentos  de  laboratório
para estudar comportamento de jogadores

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5.  TEORIA  DOS  JOGOS  EVOLUCIONÁRIA  (Evolutionary  Game  Theory):  estuda  jogos  guiados  por  princípios  como
imitação e sobrevivência dos mais ajustados

6.  TEORIA  DOS  JOGOS  ALGORÍTIMICA/ARTIFICIAL  (Algorithmic/Artificial  Game  Theory):  estuda  assuntos  de
complexidade computacional, comportamental e de informação em jogos feitos por jogadores humanos ou computadores

7.  EPISTOMOLOGIA  INTERATIVA  (Interactive  Epistemology):  estuda  o  assunto  de  conhecimento,  incluindo  o
conhecimento sobre o conhecimento

8. JOGOS COMBINATÓRIOS (Combinatorial Games): lida com assuntos matemáticos particulares aos jogos

9.  TEORIA  DA  DECISÃO  NÃO­BAYESIANA  (Non­Bayesian  Decision  Theory):  se  concentra  no  processo  decisório  sob
incertezas, quando se relaxam ou substituem as premissas bayesianas da teoria clássica

10.  ESTUDOS  NEUROLÓGICOS  DOS  JOGOS  (Neurological  Studies  of  Games):  lida  com  atividades  psicológicas
observadas durante o jogo 

11.  JOGOS  ECONÔMICOS  (Economic  Games):  usa  as  ferramentas  acima  para  ganhar  insights  nas  interações
estratégicas­econômicas e a performance de sistemas econômicos

12.  JOGOS  POLÍTICOS  (Polítical  Games):  usa  as  ferramentas  acima  para  ganhar  insights  nos  comportamentos  políticos­
estratégicos e a performance de sistemas políticos e sociais

13. ENGENHARIA DE JOGOS (Game Engineering): usa o conhecimento teórico e comportamental na construção de
efetivos jogos no mundo real e suas estratégias.

Esta  divisão  didática  ajuda  a  focar  melhor  no  que  desejamos  para  o  mundo  empresarial  ­  os  Jogos  Econômicos  (11)  e  a
Engenharia dos Jogos (13) e assim nos especializarmos neste seguimento. 

No  lugar  de  desenvolver  novos  modelos  matemáticos  para  encontrar  equilíbrios  nos  jogos,  ou  desenvolver  modelos  que
capturem  em  fórmulas  os  comportamentos  de  jogadores  com  racionalidade  integral  ou  limitada,  é  muito  mais  útil  aos
executivos de empresas usar as ferramentas teóricas como insights para reagir diante de situações estratégicas no mundo
dos negócios.

 
Insights do Paper publicado na revista Games and Economic Behavior, Volume 63, Número 2, Julho 2008, página 421

O que Teoria dos Jogos precisa melhorar, segundo três "Prêmios­
Nobel"
Comentários de três acadêmicos premiados com Nobel de Economia
 
Ao participar do Games 2008: Third World Congress of the Game Theory Society (Kellogg Schooll, Evanston, IL, EUA, 12/7 a
17/7/08),  assisti  a  um  painel  com  três  acadêmicos  que  ganharam  o  Nobel  de  Economia  com  contribuições  em  Teoria  dos
Jogos. 

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Uma das perguntas foi: onde a Teoria dos Jogos ainda precisa se desenvolver?

A resposta: não falta desenvolver algo muito novo na parte teórica (não há nada pendente de solução). Entretanto, comentaram
que o grande desafio é transformar a Teoria do Jogos em algo mais aplicável e mais acessível ao público comum. 

 Da esquerda para direita: Maskin, Myerson e Aumann

Algus detalhes: 

1. ROBERT AUMANN

Disse  que  em  setembro  de  2001  ele  estava  na  conferência  de  Teoria  dos  Jogos  em  StoneBrook,  vizinho  de  Nova  York.
Terminado o evento ele queria passar o final de semana em NY. Pegou um taxi de manhã e o taxista respondeu: não dá, não
está sabendo da confusão? Qual? Aviões bateram nas Torres Gêmeas, está uma correria. Melhor não ir para lá. Mas Aumann
não  queria  passar  o  final  de  semana  em  StoneBrook.  Insistiu.  E  nunca  chegou  tão  rápido  ­  o  trânsito  estava  livre  e
maravilhoso. 

Daí pergunta para a platéia: "O que isso tem a ver com Teoria dos Jogos?"

Após  silêncio,  continuou.  Imagine  um  GPS.  O  GPS  é  um  ótimo  mapa,  mas  não  transmite  informação  sobre  tráfego  e
congestionamentos.  Se  o  aparelho  dissesse  que  naquele  momento  há  um  acidente  em  certo  local,  todo  mundo  iria  desviar  e
congestionar outro ponto da cidade. Assim, o melhor caminho seria justamente as ruas do acidente.

E complementa: "O maior desafio da Teoria dos Jogos são as aplicações práticas". 

2. ROGER MYERSON

Segundo Myerson, falta um livro no mercado que faça um resumo de todos os modelos e aplicações da Teoria dos Jogos para
ensinar  as  escolas.  Existem  alguns  que  ele  usa  nas  aulas  que  ministra,  dos  quais  ele  considera  como  melhor  o  usado  na
graduação de economia, e não os usados nos mestrados e doutorados. 

Para  ele,  o  que  falta  é  conseguir  converter  Teoria  dos  Jogos  para  aqueles  que  não  tem  familiaridade  com  o  ramo,  caso
contrário teoria continuará confinada no meio acadêmico. 

3. ERIC MASKIN

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Para  Maskin,  um  assunto  recente  é  o  Behavioral  Economics  (Economia  Comportamental).  Segundo  ele,  essa  teoria  não  é
totalmente compreendida e há espaço para aprofundamento. 

O grande desafio é integrar a Teoria Comportamental com Teoria dos Jogos num MESMO framework, tornando a aplicação na
vida real mais viável. 

Obs1: Kellogg School depois publicou uma nota sobre este painel em seu site. Veja aqui.

Um trecho interessante é:

“Cooperative  game  theory,  by  its  very  nature,  takes  a  broader  view,”  said  Maskin,  adding  that  another  area  of  economics  —
behavioral — had demonstrated considerable development but remained “just a collection of anomalies” at the moment. Maskin
said he would like to see efforts to integrate behavioral economics within game theory. 

For  his  part,  Myerson  pointed  out  “a  big  problem”  facing  game  theorists  who  are  educating  the  next  generation  of  scholars:
“What  models  do  you  want  to  teach  undergraduates?”  he  asked.  “The  question  of  how  you  export  game  theoretic  insights  in
systematic ways for students who are not going to be game theorists, that’s our job.”

Aumann,  a  professor  at  the  Hebrew  University  of  Jerusalem  who  earned  his  Nobel  Prize  in  2005  for  work  in  enhancing  the
understanding of cooperation and conflict using game theoretical analyses, reminded the audience that “some disciplines, like
mountain  climbing  …  have  very  visible  challenges,”  making  it  easier  to  see  the  road  ahead.  For  game  theory,  and  indeed  for
most sciences, Aumann said it’s less evident how the field will develop. “It doesn’t become obvious what’s important until much
later,” said Aumann, providing an example from genetic research: “Before the discovery of DNA, you couldn’t say ‘Go discover
DNA.’” 

Obs2 ­ Veja o site oficial do Prêmio Nobel (http://nobelprize.org/index.html)

Robert Aumann ganhou o prêmio em 2005 "for having enhanced our understanding of conflict and cooperation through game­
theory analysis" segundo esta página

Roger  Myerson  e  Eric  Maskin  ganharam  o  prêmio  em  2007  "for  having  laid  the  foundations  of  mechanism  design  theory",
segundo esta página

Marilda Sotomayor: Teoria dos Jogos ensina a pensar
 
Cópia de texto original do blog http://ph­acido.blogspot.com/2006/01/teoria­dos­jogos­ensina­pensar.html

Por ser interessante, abaixo a transcrição exata para facilitar a leitura e pelo fato do link ser público. 

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Teoria dos jogos ensina a pensar

Terça­feira, Janeiro 17, 2006

A  seguir,  uma  entrevista  que  fiz  com  a  professora  Marilda  Sotomayor,  da  FEA­USP,  e  que  não  pude  aproveitar  para  a
matéria  que  publiquei  no  Valor  ­  por  causa  do  deadline.  Uma  das  maiores  autoridades  em  teoria  dos  jogos  do  país,  a
professora resumiu em um único texto as sete perguntas abaixo.

1. Qual o papel da teoria dos jogos na teoria econômica atual?

2. A teoria dos jogos está cada vez mais presente nos livros­texto de microeconomia. Ela é parte da teoria neoclássica? O
conceito de racionalidade dos agentes é a mesma nas duas teorias?

3.  Como  a  senhora  analisa  os  dois  prêmios  Nobel  dados  à  teoria  dos  jogos?  Quero  dizer,  quais  as  características  dos
laureados deste ano e quais as dos vencedores em 1994?

4.  No  livro  Theory  of  Games  and  Economic  Behavior,  von  Neumann  e  Morgenstern  argumentavam  que  a  economia
precisava ganhar estatus de ciência, como a física ­ o grande paradigma para eles. A senhora acha que a Teoria dos Jogos
foi  uma  tentativa  de  axiomatização  da  economia,  uma  forma  de  trazer  a  uma  "ciência  social"  os  padrões  epistemológicos
das chamadas "ciências duras"?

5.  O  comitê  que  define  os  vencedores  do  prêmio  do  Banco  da  Suécia  também  premiou,  em  2002,  pesquisadores
(Kahnemann e Tversky) cujas pesquisas de economia aplicada, de alguma forma, contrariavam os conceitos da teoria dos
jogos sobre o comportamento das pessoas. O que a senhora pensa disso?

6. Como está o ensino de teoria dos jogos no Brasil? As escolas estão atualizadas?

7.  Alguns  economistas  considerados  não­ortodoxos  questionam  o  uso  de  teoria  dos  jogos  como  sendo  mais  uma  das
tentativas  de  matematizar  uma  realidade  muito  mais  complexa,  incapaz  de  caber  nos  modelos  matemáticos.  Qual  a  sua
opinião?

Respostas:

Sem  ir  a  fundo  no  que  voce  quer  saber,  o  que  posso  lhe  dizer  é  que  Teoria  dos  Jogos  tem  representado  um  papel
fundamental  na  Teoria  Econômica.  Robert  Aumann  costuma  dizer  nas  suas  conferências  que  a  maior  aplicação  de  Teoria
dos Jogos à Economia é em Jogos Cooperativos, contrariamente à opinião de muitos economistas.

Nos  Estados  Unidos,  por  exemplo,  há  uma  central  que  usa  um  algoritmo  para  distribuir  os  médicos  que  terminam  as
Escolas  de  Medicina  pelos  hospitais  onde  devem  fazer  um  ano  de  residência.  Esse  mecanismo,  chamado  National
Residence Matching Program (NRMP), existe desde de 1951, com participação voluntária de 90% dos médicos e hospitais.
Mas  antes  disso,  o  mecanismo  era  descentralizado,  com  os  hospitais  fazendo  ofertas  aos  candidatos  por  telefone,  um
procedimento parecido ao que acontece hoje no Brasil com omercado de admissão dos estudantes de economia aos cursos
de pós­graduação da ANPEC.

Esse procedimento tinha regras que mudavam praticamente a cada dois anos, pois não conseguiam chegar a uma alocação
dos médicos aos hospitais que fosse satisfatória para todos os participantes. Quase sempre sobravam vagas em hospitais

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bem  conceituados,  e  médicos  com  bons  currículos  ficavam  sem  poder  fazer  a  residência.  Este  processo  de  ensaio  e  erro
perdurou por 50 anos.

A explicação do insucesso do procedimento antes de 1951 e do sucesso do mecanismo atual, que já dura mais de 50 anos
sem  sofrer  alteração,  é  dada  através  da  teoria  dos  jogos  cooperativa.  De  fato,  a  teoria  dos  jogos  prega  que  o  conceito  de
equilíbrio cooperativo em jogos em que a principal atividade dos jogadores é a formação de coalizões (grupos de jogadores)
é  dado  pelo  conceito  de  núcleo.  Neste  mercado,  uma  alocação  em  que  existem  um  hospital  e  um  candidato  tais  que  o
hospital prefere o médico a algum daqueles alocados a ele e o candidato prefere o hospital àquele para o qual foi alocado,
não está no núcleo do jogo. 

Num  artigo  meu  com  David  Gale,  de  1985,  é  provado  que  a  alocação  produzida  pelo  algoritmo  usado  pelo  NRMP  está  no
núcleo do jogo cooperativo e que as falhas na organização do mercado antes de 1951 levavam a alocações fora do núcleo.
Assim, a alocação produzida antes de 1951 não era um equilíbrio cooperativo, enquanto que a produzida pelo algoritmo o é.
É, portanto, a constatação na prática da teoria, num experimento natural de organização de mercado!

Este  fato  tem  sido  citado  por  Aumann  frequentemente.  É  claro  que  os  modelos  teóricos  do  jogo,  como  todo  modelo
matemático, não podem retratar fielmente a realidade e nem se propõem a isso. No entanto, eles têm um compromisso com
a  realidade  e  através  deles  muitos  mercados  têm  sido  estudados  e  melhor  compreendidos,  o  que  têm  ajudado  as
instituições criadas para organizar tais mercados. 

Veja o que aconteceu, por exemplo, com os modelos de jogos de matching de dois lados ao longo dos últimos vinte anos.
Esses  jogos  que  modelam  mercados  de  trabalho  em  nível  de  entrada,  mercados  de  compra  e  venda,  mercados  de
admissão de candidatos à instituições, leilões, etc, deixaram de ser apenas modelos de matemática pura para tornarem­se
parte importante do campo emergente de Desenho de Mercados. 

Com  raras  exceções,  os  mais  renomados  teóricos  do  jogo  são  matemáticos,  como  Aumann,  Nash,  David  Gale,  Shapley,
Sergiu Hart, Hervé Moulin, etc. Os melhores centros de Teoria dos Jogos pertencem a Departamentos de Matemática, como
em Israel e Rússia. No Brasil, todos os cursos de jogos são oferecidos por departamentos de Economia e o ensino dessa
disciplina ainda deixa muito a desejar. 

Além  de  não  ser  ensinada  em  muitas  universidades  brasileiras,  a  USP/SP  é,  até  que  eu  saiba,  a  única  que  oferece  jogos
cooperativos a alunos de graduação e pós­graduação. No congresso internacional que organizei na USP, em 2002, Aumann
ministrou  um  mini  curso  de  jogos  cooperativos.  Tivemos  70  alunos  brasileiros,  vindos  das  mais  diversas  universidades
brasileiras, comoPUC/RJ, FGV/RJ, UFRJ, Unicamp, UnB, etc. Tenho defendido que o ensino de teoria dos jogos deveria ser
feito nas escolas secundárias brasileiras.

Meus alunos sempre me dizem, quando o meu curso de jogos na USP termina, que estão deixando o curso com "a cabeça
diferente".  O  ponto  é  que  ensinamos  matemática  às  crianças  com  o  intuito  de  ensiná­las  a  pensar.  No  entanto,  elas  têm
dificuldades  com  os  números  e  assim  nem  sempre  conseguimos  alcançar  nosso  objetivo.  Com  a  teoria  dos  jogos  nao
precisamos dos numeros...

Quanto ao Nobel, era esperado há bastante tempo que Aumann o ganhasse um dia. Só que dividido com Lloid Shapley, com
quem, inclusive, Aumann fez diversos trabalhos importantes. Costumava­se dizer: "Aumann é o papa da Teoria dos Jogos,
mas Shapley é o deus!" 

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Link original http://ph­acido.blogspot.com/2006/01/teoria­dos­jogos­ensina­pensar.html

Ariel Rubinstein: o uso da Teoria dos Jogos
 
O livro Game Theory: 5 questions apresenta uma entrevista de 5 perguntas a vários teóricos dos jogos renomados. 

Abaixo uma seleção (tradução adaptada) de parte das respostas de Ariel Rubinstein. 

Por que você ficou inicialmente interessado em Teoria dos Jogos?

Eu  poderia  dizer  que  é  o  nome  dada  a  essa  engenhosa  disciplina  ­  Teoria  dos  Jogos  ­  que  me  atraiu.  Duvido  que  eu  teria
escolhido  um  campo  chamado  "Teoria  da  racionalidade  e  da  tomada  de  decisões  em  situações  economicamente
interativas".  Mas,  na  verdade  meu  primeiro  encontro  com  a  teoria  dos  jogos  foi  uma  decepção.  No  meu  segundo  ano  de
graduação  (1972­3),  eu  tentei  um  curso  ministrado  pelo  Departamento  de  Matemática,  intitulado  Introdução  à  Teoria  dos
Jogos.  Lembro­me  que  o  auditório  estava  cheio  e  o  professor  muito  entusiasmado.  Ele  começou  o  curso  com  alguns
teoremas abstratos sobre convexidade. Sai antes do final da primeira classe.

Eu também poderia dizer que eu escolhi a Teoria dos Jogos porque eu queria melhorar minhas habilidades estratégicas para
as  aventuras  do  futuro  ou  para  melhorar  minhas  habilidades  de  negociação  em  mercados  ao  ar  livre  em  Jerusalém.  Mas
isso  não  seria  justo  também.  Eu  nunca  pensei  na  Teoria  dos  Jogos  como  sendo  útil  em  um  sentido  prático.  Na  verdade,
fiquei bastante chocado em 1987 quando eu descobri pela primeira vez que alguns dos meus colegas teóricos econômicos
acreditavam que um modelo poderia ser confirmado em laboratório usando dados reais e empíricos.

As  sementes  do  meu  interesse  em  Teoria  dos  Jogos  foram  plantadas  durante  a  minha  graduação  em  matemática  na
Universidade Hebraica. Enquanto eu admirava a beleza intelectual do material, eu tinha uma vaga noção de que, apesar  de
seu caráter abstrato, a matemática tinha alguma ligação com a vida real. Então, eu tentei sobrepor os modelos matemáticos
sobre  o  tema  que  ocupou  meus  pensamentos  desde  então:  o  reino  da  interação  humana.  Em  algum  lugar  entre  a
matemática e o estudo da interação humana, a Teoria dos Jogos que me esperava.

Que  exemplo(s)  de  seu  trabalho  (ou  o  trabalho  dos  outros)  ilustra  o  uso  da  teoria  dos  jogos
para os estudos básicos e/ou aplicações?

Implícito  nesta  questão  é  a  idéia  de  que  a  Teoria  dos  Jogos  pode  e  provavelmente  deve  ser  avaliada  de  acordo  com  sua
utilidade.  A  frase  "o  uso  da  teoria  dos  jogos",  que  aparece  na  pergunta,  soa  semelhante  a  "o  uso  da  física  no  projeto  de
foguetes" ou "o uso da biologia na identificação de doenças genéticas." Na minha opinião, não é análogo.

A discussão sobre a utilidade da Teoria dos Jogos é carregada de emoção e sujeita a equívocos. A terminologia cotidiana
da teoria dos jogos atrai a atenção das pessoas, mas pelo motivo errado. Os seres humanos estão ansiosos para encontrar
soluções  profissionais  para  os  problemas  que  precisam  resolver.  Olham  para  as  técnicas  e  idéias  para  melhorar  suas
habilidades  estratégicas,  como  se  fosse  musculação  para  reforçar  as  suas  habilidades  atléticas.  Em  meus  trinta  anos  de
profissão ainda não encontrei um único caso em que a Teoria dos Jogos tenha proporcionado a solução de um problema real
e não encontrei nenhuma evidência de que tenha a capacidade de melhorar o pensamento estratégico.

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Um  artigo  que  li  no  jornal  israelense  "Haaretz",  enquanto  escrevo  este  ensaio,  demonstra  a  confusão  do  público  sobre  a
Teoria  dos  Jogos.  Um  ex­político  estava  escrevendo  sobre  a  atual  tensão  entre  Irã  e  Israel.  Ele  afirma  que  a  Teoria  dos
Jogos  já  é  capaz  de  explicar  as  interações  entre  dois  jogadores  racionais.  Ele  também  afirma  que,  segundo  a  Teoria  dos
Jogos,  um  jogador  irracional  tem  uma  vantagem  sobre  um  racional.  (Na  minha  opinião,  isso  é  um  mito  promovido  por
radicais  que  querem  convencer  as  pessoas  racionais  para  agir  de  forma  leviana).  Mas  então,  ele  alega  que  no  momento
ninguém  sabe  como  analisar  um  jogo  entre  dois  jogadores  irracionais.  Ele  passa  a  assumir  que  o  Presidente  do  Irã  é
irracional  e  que  o  governo  israelense  aprovou  recentemente  uma  estratégia  irracional  através  da  nomeação  de  um  dos
políticos  mais  controversos  para  lidar  com  ameaças  estratégicas.  Isso  o  levou­o  a  recorrer  a  Teoria  dos  Jogos,  e  Robert
Aumann, em particular, para "nos salvar".

Essa pessoa, obviamente, leva a Teoria dos Jogos muito a sério quando afirma que a Teoria dos Jogos é útil. Esta alegação
é  feita  frequentemente.  Quase  toda  pesquisa  e  textos  em  Teoria  dos  Jogos  começa  com  uma  frase  como  "A  teoria  dos
jogos é útil em uma ampla gama de campos ­ na Botânica, Zoologia e Medicina, passando pela Economia, Administração,
Ciência  da  Computação  e  Política  até  História  e  Estudos  Bíblicos".  No  entanto,  o  fato  do  "Dilema  do  Prisioneiro"  ser
mencionado em um texto não significa que ele seja uma aplicação da Teoria dos Jogos. E o fato de que os teóricos do jogo
estarem envolvidos em uma discussão não significa que exista uma aplicação da Teoria dos Jogos.

Lembremo­nos que os teóricos do jogo e os economistas são, no final, apenas humanos. Paradoxalmente, assumimos que
todo  agente  no  mundo  é  egoísta,  manipulador  e  age  para  conquistar  seus  próprios  interesses,  mas  de  alguma  forma  não
estamos acostumados a pensar em nós mesmos desta forma quando se avalia a utilidade dos nossos próprios modelos.

Acredito  que  um  dos  objetivos  da  sociedade  deve  ser  a  busca  do  conhecimento  para  seu  próprio  benefício.  Para  mim,  a
Teoria  dos  Jogos  é  uma  investigação  sobre  as  formas  pelas  quais  os  seres  humanos  pensam  em  situações  interativas.
Mesmo  que  a  Teoria  dos  Jogos  não  tenha  nenhum  uso  prático,  ela  ainda  tem  valor  como  parte  de  nossa  investigação
contínua da mente.

Qual é o verdadeiro papel da teoria dos jogos em relação a outras disciplinas?

Qual  seria  uma  resposta  à  seguinte  pergunta:  "Qual  é  o  papel  apropriado  da  lógica  em  relação  a  outras  disciplinas?"  Eu
diria que se a palavra "lógica" for substituída por "Teoria dos Jogos" a resposta a essa pergunta seria a mesma.

Há  muitas  semelhanças  entre  a  lógica  e  a  Teoria  dos  Jogos.  Considerando  que  a  lógica  é  o  estudo  da  verdade  e  da
inferência, Teoria dos Jogos é o estudo das considerações estratégicas. A lógica é motivada pela forma como usamos as
noções  da  verdade  e  consequências  na  vida  diária,  enquanto  a  Teoria  dos  Jogos  é  motivada  por  considerações
estratégicas que usamos na vida diária.

Tanto a lógica e a Teoria dos Jogos são analisados através de modelos formais. A lógica não induz as pessoas a pensar de
forma  lógica  assim  como  a  Teoria  dos  Jogos  não  induz  as  pessoas  a  pensar  estrategicamente.  Então,  qual  é  o  papel  da
lógica  ou  da  Teoria  dos  Jogos  em  relação  a  outras  disciplinas?  A  resposta  é  simplesmente  que  ambos  fornecem  um
conjunto de idéias e ferramentas bem embasadas para uso em outras disciplinas.
 

Robert Aumann: para atingir a paz não se pode fazer concessões
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Ele discute sobre paz e conflito entre paises
 
Robert Aumann deu uma entrevista interessante à Revista Veja. 

Como  curiosidade:  encontrei­o  pessoalmente  no  evento  Games  2008:  Third  World  Congress  of  the  Game  Theory  Society
(Evanston,  IL,  EUA,  12/7  a  17/7/08).  Ele  participou  de  uma  plenária,  a  qual  eu  cito  meu  texto  O  que  Teoria  dos  Jogos
precisa melhorar, segundo três "Prêmios­Nobel" (inclusive há uma foto dele). 

Reproduzi abaixo alguns dos trechos desta entrevista. A texto completo está no link da revista. 

Robert Aumann recebeu, em 2005, o Prêmio Nobel de Economia por seus estudos na área da Teoria dos Jogos. Suas teses
ajudam a compreender os princípios que regem os conflitos e como se consegue convencer adversários a cooperar entre si.
As  teorias  do  judeu  ortodoxo  de  79  anos  têm  aplicação  prática  na  economia,  na  diplomacia,  em  política  e  até  em  religião.
Aumann  começou  a  se  interessar  pelo  assunto  na  década  de  50,  depois  de  conhecer  John  Nash  –  vencedor  do  Prêmio
Nobel  de  Economia  de  1994  –  e  de  receber  a  missão  de  desenvolver  estratégias  de  defesa  para  os  Estados  Unidos  em
plena  Guerra  Fria.  Aumann  nasceu  na  Alemanha  e  sua  família  emigrou  para  os  Estados  Unidos  em  1938,  para  fugir  do
nazismo.  Um  de  seus  filhos  morreu  na  primeira  guerra  do  Líbano,  em  1982.  Aumann,  que  vem  ao  Brasil  no  próximo  dia  9
para uma série de palestras, concedeu a seguinte entrevista a VEJA, de sua sala na Universidade Hebraica de Jerusalém.

O que é a Teoria dos Jogos?
É  uma  ciência  que  examina  situações  em  que  dois  ou  mais  indivíduos  ou  entidades  lutam  por  diferentes  objetivos,  nem
sempre  opostos.  Cada  jogador  tem  consciência  de  que  os  outros  também  agem  de  forma  a  atingir  as  próprias  metas.  Um
exemplo óbvio são os jogos recreativos ou esportivos, como o xadrez, o pôquer e o futebol, em que todos os participantes
possuem metas próprias. No xadrez, cada peça movida por um jogador desencadeia uma série de reações no adversário. A
compra  de  uma  casa  também  pode  ser  analisada  por  meio  da  Teoria  dos  Jogos,  mas  sugere  um  cenário  completamente
diferente,  pois  o  comprador  tem  objetivos  comuns  aos  do  vendedor.  Ambos  estão  interessados  em  que  o  negócio  se
concretize.  Alguns  aspectos  da  negociação,  porém,  são  opostos,  porque  o  comprador  quer  um  preço  mais  baixo  e  o
vendedor  um  preço  mais  alto.  Nessa  disputa,  o  comprador  analisa  os  movimentos  do  vendedor,  e  vice­versa.  Cada  um
pensa  sob  o  ponto  de  vista  do  outro  para  elaborar  uma  maneira  de  atuar.  O  mesmo  vale  para  a  política  ou  para  a  guerra.
Minha pesquisa consiste em analisar as estratégias de situações interativas como essas.

Há fórmulas matemáticas para analisar as estratégias possíveis?
Não  há  uma  fórmula  matemática  universal,  mas  existem  conceitos  fundamentais  na  Teoria  dos  Jogos,  como  a  noção  de
equilíbrio.  Esse  conceito  foi  inventado  por  John  Nash,  a  quem  a  maioria  das  pessoas  conhece  pelo  filme  Uma  Mente
Brilhante  (com  Russell  Crowe  no  papel  do  cientista).  Nash  desenvolveu  a  noção  do  ponto  de  equilíbrio,  que  ocorre  quando
cada jogador encontra sua maneira ideal de atuar no jogo. Cada um, portanto, cria sua melhor estratégia possível, levando
em conta o que o outro está fazendo. Para cada tipo de situação há fórmulas diferentes a ser aplicadas. 

Nash ganhou o Prêmio Nobel por sua teoria do ponto de equilíbrio e o senhor por ter dado um passo além, com a
Teoria dos Jogos Repetitivos. Em que elas diferem?
A base conceitual é a mesma. Mas a maneira de as pessoas se comportarem no jogo repetitivo é diferente. Quando se joga
o mesmo jogo repetidas vezes, o comportamento de um jogador hoje afeta a atuação do outro amanhã, e assim por diante.
Minha teoria vê toda essa repetição como um único jogo e determina qual é o equilíbrio do processo inteiro. A conclusão é
que,  em  uma  situação  repetitiva  –  uma  negociação  que  se  estende  por  várias  rodadas,  por  exemplo  –,  é  mais  fácil
conseguir cooperação entre as partes. A ideia básica dessa teoria é o uso de incentivos. No ponto de equilíbrio de um jogo,
cada um faz o que é melhor para si. Para convencer o outro a fazer algo que é bom para você, é preciso dar a ele motivos

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para que o ajude.

Se fazer concessões não ajuda, que tipo de incentivo pode acabar com um conflito? 
É preciso dizer na mesa de negociação: "Não vamos aceitar essas demandas e, se vocês insistirem nelas, vamos revidar
com violência". Há dois tipos de incentivo: a cenoura e o porrete. Theodore Roosevelt dizia para falar com suavidade, mas
ter sempre à mão um porrete. Se Chamberlain tivesse dito a Hitler em 1938 em Munique que não aceitaria certas demandas,
Hitler  teria  de  recuar,  porque  não  estava  ainda  preparado  para  a  guerra.  Na  crise  dos  mísseis  de  Cuba,  em  1962,  o
presidente americano John Kennedy deixou claro aos russos que, se os mísseis não fossem retirados da ilha, os Estados
Unidos agiriam. Com isso, Kennedy conseguiu a paz.

Foi a partir desse ponto que a Guerra Fria atingiu seu equilíbrio?
Exato.  A  Guerra  Fria  nunca  esquentou  porque  nenhum  dos  lados  cedeu  às  demandas  do  outro  além  de  determinados
limites. Havia aviões carregando armas nucleares no ar 24 horas por dia, 365 dias por ano, durante mais de quarenta anos.
Em um jogo, algumas concessões podem ser necessárias, mas sempre com uma contrapartida. Do contrário, o adversário
torna­se mais e mais intransigente e segue em frente com seus planos, sentindo­se impune.

Freakonomics: sobre Schelling e Teoria dos Jogos
Texto retirado do livro Freakonomics
 
Steven  Levitt  postou  em  seu  blog  uma  resenha  interessante  sobre  Thomas  Schelling,  autor  de  Strategy  of  Conflict,
ganhador do prêmio Nobel de Economia em 2005. Esta é a versão contida na 2a edição em português do Freakonomics.

Mudei de endereço dez vezes desde que me formei na faculdade. E em todas essas vezes sempre me peguei olhando
para a velha e mal tratada caixa de cadernos da faculdade e me perguntando se nao seria hora de joga­la fora. Afinal, ela já
tinha 15 anos e jamais fora aberta uma única vez.

O fato de Thomas Schelling abocanhar o Premio Nobel de Economia finalmente me deu motivos para abrir a caixa. No meu
segundo  ano  de  faculdade  tive  aula  com  Schelling.  Acredito  que  o  curso  se  chamava  algo  do  tipo  "Conflito  e  Estrategia".
Ainda tenho uma clara lembrança das aulas. Um Schelling de corte escovinha andava para lá e para cá no tablado jamais
lendo  anotações,  contando  uma  história  atrás  da  outra  para  ilustrar  a  aplicação  dos  conceitos  simples  da  teoria  dos
jogos na vida cotidiana. (...)

Para mim, essa primeira apresentação à teoria dos jogos foi estimulante. Para  alguém  que  pensa  de  forma  estratégica,


ou  gostaria  de  pensar  assim,  as  ferramentas  básicas  da  teoria  dos  jogos  sao  essenciais.  A  beleza  das  aulas  de
Schelling  residia  em  vislumbrar  como  era  fácil  a  matemática  e  com  que  presteza  ela  podia  ser  aplicada  as  situações  do
mundo real. Os tópicos do curso eram básicos: o Dilema do Prisioneiro, na primeira aula; o modelo "ponto focal", do próprio
Schelling, nas segunda e terceira aulas; a trágedia dos recursos comuns e do bem público em seguida. Depois, vinham os
movimentos estratégicos de compromisso, as ameaças críveis e nao c ríveis e estratégias e táticas para controlar o próprio
comportamento  (para  quem  não  sabe,  Schelling  cunhou  o  termo  "ponto  focal"  trinta  anos  antes  de  Malcolm  Gladwell
popularizá­lo). 

Qualquer  economista  poderia  ensinar  essas  disciplinas  em  sala  de  aula,  mas  ninguém  as  teria  ensinado  como  Schelling.
Cada  conceito  vinha  acompanhado  de  uma  bateria  de  exemplos.  Minhas  anotações  são  tão  pobres  ­  eu  anotava  apenas

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algumas palavras­chave    que agora só me resta adivinhar que historia se escondia por trás das palavras (...) "VHS x Beta",
"a natureza do jogo nas ligas de bridge", "a escolha de universidades", "o aeropono de Dulles x aeropono National", (...) "um
bom meteorologista faz apostas provaveis", "andando grudado no carro da £rente", (...) "dando aleatoriamente a descarga no
vaso" etc. 

Chego a me lembrar de ter tentado imediatamente por em prática as aulas de Schelling. Quem me conhece sabe que posso
adormecer  em  qualquer  lugar,  a  qualquer  hora.  Imagino  que  tenha  dormido  durante  cerca  de  90%  de  minhas  aulas  na
faculdade. Por isso, quando Schelling nos ensinou sobre compromisso, resolvi passar a sentar na primeira fila da sala como
forma de me comprometer a não dormir. Infelizmente, a tentação do sono revelou­se demasiadamente forte na maioria das
vezes. Se Schelling se lembrasse de mim, seria como o único aluno da primeira fila que sempre caia no sono. 

Em minha opiniao, Schelling representa o que há de melhor na teoria dos jogos. Foi pioneiro na área, um homem de idéias.

Infelizmente para a teoria dos jogos, as idéias simples que são tão atraentes foram rapidamente minadas.

O que veio a seguir foi menos interessante. A moderna teoria dos jogos tomou­se extremamente matemática, carregada de
notações e apartada da vida cotidiana. Muitos de meus colegas não concordariam comigo, mas acho que a teoria dos jogos
falhou no cumprimento de sua grande promessa inicial. Nao sou o único a se sentir assim. 

Conversei recentemente com um conhecido teórico dos jogos. Ele me disse que, se soubesse o que sabe hoje e estivesse
começando na profissão, sequer pensaria em ser um teórico dos jogos. 

Schelling  foi  uma  de  minhas  primeiras  inspirações.  Seu  curso  e  seus  escritos  foram  uma  das  grandes  influências  que  me
levaram a economia. Minha abordagem tem muito em comum com a dele. Comentei isso no ana passado com um de meus
colegas,  que  por  acaso  encontrou­se  com  Schelling  e  lhe  disse  que  podia  me  contar  entre  seus  ex­alunos.  Schelling  nao
demonstrou qualquer emoção. 

Steven D. Levitt (20 de outubro de 2005)

 
Original em inglês no próprio blog http://freakonomics.blogs.nytimes.com/2005/10/20/nobel­prize­winner­thomas­schelling/

Thomas Schelling ganhou Prêmio Nobel em 2005 "for having enhanced our understanding of conflict and cooperation through game­theory analysis". Mais

detalhes no link http://nobelprize.org/nobel_prizes/economics/laureates/2005/

Tim Harford: sobre John Von Neumann e sua obsessão pelo
pôquer
 
O  texto  abaixo,  do  livro  A  lógica  da  vida,  de  Tim  Harford  (pag  55)  apresenta  um  interessante  relato  sobre  as  origens  da
Teoria dos Jogos, com John Von Neumann e seu gosto pelo pôquer. 

A  teoria  dos  jogos  surgiu  da  mente  brilhante  de  John  Von  Neumann,  um  célebre  e  prodigioso  matemático,  quando  ele
decidiu  criar  uma  teoria  do  pôquer.  O  brilhantismo  acadêmico  de  Von  Neumann  nos  proporcionou  percepções  fascinantes,
mas  a  força  fria  de  sua  lógica  poderia  ter  nos  levado  ao  Armagedom.  Esse  brilhantismo  foi  reforçado  pela  sabedoria  mais
terrestre  de  Thomas  Schelling,  frequentemente  expressa  por  meio  de  uma  prosa  inteligente,  em  vez  de  por  meio  de

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equações. Atormentado por um vício em cigarros do qual não conseguia se livrar, Schelling desviou a teoria dos jogos para
uma direção que hoje nos permite análises surpreendentes dos infelizes viciados em máquinas caça­níqueis. 

No  fim  dos  anos  1920,  o  homem  mais  brilhante  do  mundo  decidiu  elaborar  a  maneira  correta  de  jogar  pôquer.  John  Von
Neumann, um matemático que ajudou a criar o computador e a bomba atômica, estava interessado em uma nova ideia. A
sua amada matemática poderia descobrir os segredos do pôquer, que parecia ser o jogo tipicamente humano, de segredos e
mentiras? 

Von  Neumann  acreditava  que  se  desejássemos  uma  teoria  que  pudesse  explicar  a  vida  ­  ele  a  chamava  de  "teoria  dos
jogos" ­ deveríamos começar com uma teoria que pudesse explicar o pôquer. Seu objetivo era levar o rigor da matemática
às  ciências  sociais,  e  isso  queria  dizer  voltar­se  para  a  economia,  já  que  as  decisões  racionais  da  economia  podem  ser
modeladas  com  a  matemática.  Von  Neumann  achou  que  poderia  desenvolver  uma  explicação  matemática,  racional,  para
muitos aspectos da vida e que sua teoria poderia vir a ser aplicada em soluções diplomáticas, no surgimento inesperado de
cooperação  entre  inimigos,  nas  possibilidades  do  terrorismo  nuclear  e  mesmo  no  lado  oculto  do  namoro,  do  amor  e  do
casamento.

Mas, como ele explicou para seu colega Jacob Bronowski, o pôquer era o ponto de partida: ``A vida real consiste em blefes,
em  táticas  sutis  de  engano,  em  perguntar  para  si  mesmo  o  que  a  outra  pessoa  acha  que  quero  fazer.  E  é  a  isso  que  se
referem os jogos em minha teoria." 

Blefe,  enganos  e  adivinhação  do  pensamento  alheio  são  temas  pouco  promissores  para  um  matemático,  mas  se  alguém
poderia fazer isso, esse alguém era Johnny Von Neumann. Suas façanhas com cálculos eram notórias: em Princeton, após
a  guerra,  ele  ajudou  a  planejar  o  computador  mais  rápido  do  mundo,  antes  de  desafiar  a  máquina  em  um  torneio  de
operações matemáticas para mostrar que ele era mais rápido. Ninguém se surpreendeu com o resultado ou com o fato de o
exibido Von Neumann ter sugerido o torneio.

Em outra ocasião, ele recusou um pedido para trabalhar com o auxílio de um supercomputador na solução de um importante
problema,  em  vez  de  uma  solução  direta  com  lápis  e  papel.  Embora  houvesse  matemáticos  mais  profundos,  ninguém  era
mais rápido que Johnny. Na imaginação popular dos anos 1940 e 1950, Von Neumann talvez se destacasse mais que seu
contemporâneo  de  Princeron,  Albert  Einstein,  e  seus  colegas  brincavam  que  ele  era  um  semideus,  que,  tendo  estudado
intensamente os homens, era capaz de imitá­los com perfeição. 

Contudo, para entender o pôquer, Von Neumann tinha de descobrir novos caminhos. O pôquer não é simplesmente um jogo
de  azar,  com  base  em  probabilidades,  nem  é  um  jogo  de  pura  lógica,  sem  elementos  aleatórios  ou  segredos,  como  o
xadrez. O pôquer, ao contrário do que aparenta, é um desafio muito mais sutil. Durante o jogo, os jogadores fazem apostas
para  obter  o  direito  de  confrontar  suas  cartas  com  as  dos  adversários.  No  entanto,  as  informações  mais  importantes  no
pôquer são privadas.

Cada  jogador  vê  apenas  uma  parte  de  um  que bra­cabeça  e  deve  formar  a  imagem  completa,  observando  o  que  os  outroS
jogadores fazem. A melhor mão leva a mesa (pot) ­ o acumulado das apostas; por isso, quanto maior a aposta, mais caro
se torna perder a mesa. Ainda assim, em muitas rodadas, especialmente entre jogadores experientes, não há abertura das
cartas,  porque  um  dos  jogadores  faz  uma  aposta  agressiva  o  suficiente  para  intimidar  os  outros.  Isto  é,  não  há  conexão
direta entre o que um jogador aposta e a mão que ele detém. 

Os iniciantes acreditam, equivocadamente, que o blefe é apenas uma maneira de se levar a mesa com canas ruins. Na final
de  1972  da  World  Series  ofPoker,  o  famoso  ladino  Amarillo  Slim  ganhou  o  campeonato  porque  blefou  tantas  vezes  que,

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quando  apostou  todas  as  suas  fichas  em  um  full  house  (uma  mão  excelente),  seu  adversário,  "Puggy"  Pearson,  tinha
certeza  de  que  Slim  estava  blefando  novamente;  com  isso,  cobriu  a  aposta  e  perdeu.  Um  jogador  que  nunca  blefa  jamais
ganhará  uma  boa  mesa,  porque  nas  raras  vezes  em  que  ele  aumentar  a  aposta,  os  adversários  vão  sair  da  rodada  sem
comprometer muito dinheiro. 

E há o blefe reverso: simular fraqueza quando você está com uma boa mão. Naquela que foi a final de 1988 da World SefÍes
of  Poker,  Johnny  Chan  (apelidado  de  "Expresso  do  Oriente",  por  ter  ganhado  muito  dinheiro  tão  rapidamente)  desprezou
todas  as  oportunidades  de  aumentar  as  apostas  e  apenas  "pagava  para  ver"  despretensiosamente  o  jogo  adversário.  Na
última  rodada,  seu  adversário,  Erik  Seidel,  estava  convencido  de  que  Chan  não  tinha  uma  boa  mão  e  apostou  tudo  o  que
possuía.  Chan  cobriu  a  aposta  e  exibiu  urna  sequência,  arrematando  700  mil  dólares  e  o  título  de  campeão  mundial  pelo
segundo ano consecutivo. 

Tentar enganar o adversário parece uma questão de psicologia, não de matemática. Poderia realmente haver uma estratégia
racional por trás de todos esses blefes, que não passasse pela ideia de leitura corporal ou de interpretação dos movimentos
sutis do adversário? A matemática pura poderia identificar esses movimentos de blefe? Von Neumann achava que sim. Seu
trabalho sobre a teoria dos jogos atingiu o ápice com o livro Theory of Games and Economic Behavior, lançado em 1944 e
escrito  em  conjunto  com  o  economista  Oskar  Morgenstern.  O  livro  incluía  um  modelo  estilizado  de  pôquer,  no  qual  dois
jogadores racionais se confrontavam em um cenário extremamente simples.

Para entender a abordagem do autor, imagine­se jogando uma rodada do pôquer de Von Neumann. As regras mais simples
limitam  sensivelmente  a  capacidade  de  variar  suas  apostas  ou  de  você  estudar  seu  adversário,  aumentando  as  apostas.
Ainda assim, essas regras traduzem algo da essência do jogo de pôquer. Você e seu adversário fazem uma pequena aposta
inicial na mesa, e você começa. 

Você olha para suas cartas e pensa. As regras mais simples lhe dão duas opções: ou passar a vez (não apostar) ou fazer
uma  aposta  maior.  Nesse  jogo  simplificado,  quando  você  passa  a  vez,  as  mãos  são  mostradas  e  a  melhor  mão  ganha  a
mesa. (Seu adversário não tem de tomar nenhuma decisão nesse momento; como o pôquer real, isso não é justo, e é por
isso que os jogadores se alternam em cada jogada.) Contudo, se você faz a aposta, é o adversário que deve optar agora:
ele pode desistir, encerrando a jogada e cedendo a pequena mesa para você, ou ele pode "pagar para ver", aceitando a sua
aposta,  o  que  significa  abrir  o  jogo  diante  das  apostas  maiores.  Qual  seria  o  movimento  racional?  E  qual  seria  a  resposta
racional de seu adversário? 

Na realidade, as duas respostas estão relacionadas. Você não deve decidir sem considerar a resposta do adversário, e este
não deve reagir à sua aposta sem refletir sobre a estratégia que você tenha. A relação recíproca das duas estratégias é o
que  toma  a  questão  um  problema  para  a  teoria  dos  jogos  de  Von  Neumann,  e  não  tanto  para  a  teoria  das  probabilidades,
necessária para o entendimento do jogo de roleta. 

À  primeira  vista,  mesmo  essa  versão  simplificada  do  pôquer  parece  terminar  em  um  ciclo  de  raciocínio  sem  fim.  Se  você
decidir apostar mesmo com cartas muito ruins, então o adversário, com qualquer mão razoável, deverá "pagar para ver". Se
você  preferir  apostar  somente  com  as  melhores  mãos  possíveis,  ele  deverá  desistir  quando  você  fizer  as  apostas.  O  que
temos  é  um  processo  de  raciocínio  que  passa  pelo  ciclo:  "Se  ele  pensa  que  eu  penso  que  ele  pensa  ...  "  Não  podemos
fazer mais nada? Sim, podemos, se seguirmos a análise de Von Neumann. 

O que Von Neumann criou foi uma teoria do processo perfeito de tomada de decisão; ele estava procurando os movimentos
que  os  jogadores  infalíveis  executariam.  A  teoria  dos  jogos  encontra  esses  movimentos  procurando  as  estratégias  de
oposição  que  sejam  consistentes,  no  sentido  de  que  nenhum  jogador  infalível  mudaria  sua  estratégia  se  soubesse  a

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estratégia  do  outro  jogador.  Há  várias  estratégias  que  não  seguem  esse  padrão.  Por  exemplo,  se  o  adversário  for  muito
cauteloso  e  desistir  do  jogo  com  frequência,  você  provavelmente  blefará  bastante.  Mas  se  você  blefar  muito,  o  adversário
provavelmente  não  será  tão  cauteloso.  As  duas  estratégias  não  se  encaixam.  Elas  poderiam  ser  usadas  por  jogadores
ingênuos, mas não pelos jogadores perfeitamente racionais de Von Neumann. 

Em  vez  disso,  precisamos  considerar  a  combinação  das  estratégias  dos  dois  jogadores.  A  estratégia  de  seu  adversário  é
mais simples que a sua. Uma vez que o jogo simplificado não lhe dá a opção de desistir, também não dá ao adversário a
chance  de  blefar,  porque  não  é  possível  blefar  alguém  que  não  pode  desistir.  (A  ele,  por  outro  lado,  é  permitido  desistir,  o
que  quer  dizer  que  você  pode  tentar  blefá­lo.)  Uma  vez  que  ele  não  pode  blefar,  ele  deve  simplesmente  "pagar  para  ver",
quando estiver com uma mão boa, ou desistir, quando estiver com uma mão ruim. A única questão é saber qual o nível de
"mão boa" que ele deve ter para "pagar para ver". Isso vai depender da frequência com que você blefa. 

Que  atitude  tomar,  então?  Com  uma  mão  excelente,  você  deve  fazer  a  aposta:  não  perderá  nada  se  o  adversário  desistir,
enquanto  terá  chance  de  ganhar  uma  boa  mesa  se  ele  "pagar  para  ver".  Mas  com  uma  mão  mediana,  você  não  deve
apostar:  se  ele  estiver  com  uma  mão  ruim,  ele  desistirá  e  você  levará  a  mesa,  que  você  ganharia  do  mesmo  jeito  se
passasse a vez; mas se de estiver com uma boa mão, ele "pagará para ver" e ganhará. Cara, ele ganha; coroa, você perde.
Você deve passar a vez e torcer para que sua mão mediana ganhe a mesa. 

E  se  você  estiver  com  uma  péssima  mão?  Deve  passar  ou  apostar?  A  resposta  é  surpreendente.  Passar  seria  pouco
inteligente,  porque  os  jogos  seriam  abertos  e  você  perderia.  Faria  mais  sentido  apostar  com  essa  péssima  mão,  porque  a
única maneira de você ganhar alguma coisa é com a desistência do adversário, e a única maneira de ele desistir é se você
fizer a aposta. Paradoxalmente, é melhor você apostar com cartas ruins do que com uma mão mediana: o blefe perfeito (e
racional)! 

Há  uma  segunda  razão  para  você  apostar  com  cartas  ruins  e  não  fazê­lo  com  uma  mão  mediana:  seu  adversário  terá  de
"pagar para ver" com um pouco mais de frequência. Como ele sabe que suas apostas são bem fracas às vezes, não poderá
se permitir a desistência com muita facilidade. Isso significa que, quando você apostar com uma boa mão, provavelmente
ele "pagará para ver" e você ganhará com essa boa mão. Como você está blefando com cartas ruins, suas boas mãos lhe
darão mais dinheiro ­ como aconteceu com o fuIl house de Amarillo Slim na última rodada da final de 1972. 

"Dos  dois  motivos  possíveis  para  o  blefe",  escreveu  Von  Neumann  em  Theory  of  Games,  "o  primeiro  é  dar  uma  (falsa)
impressão de força em situação de fraqueza (real); e o segundo é a intenção de dar uma (falsa) impressão de fraqueza em
situação de força (real)." 

O  que  é  notável  na  análise  de  Von  Neumann  é  a  maneira  como  sua  tática  surge  racionalmente  da  lógica  do  jogo.  Von
Neumann  havia  encontrado  o  desafio  que  mencionara  a  Bronowski  e  mostrou  que  o  blefe,  longe  de  ser  algum  insondável
elemento humano do jogo de pôquer, é regido por leis matemáticas. A mensagem de Von Neumann é de que há uma base
matemática,  racional,  mesmo  para  o  jogo  aparentemente  psicológico  de  blefar  no  pôquer.  E  se  ele  estava  certo  de  que  o
pôquer  era  uma  analogia  significativa  para  os  problemas  cotidianos,  seu  sucesso  sugeria  que  talvez,  apenas  talvez,
houvesse uma base matemática e racional para a própria vida. 

O livro de Von Neumann tornou­se muito famoso não como um manual de pôquer, mas por situar a economia e as ciências
sociais em uma base lógica, matemática. Um crítico daquela época declarou: ``A posteridade poderá considerar esse livro
como  uma"das  maiores  conquistas  científicas  da  primeira  metade  do  século  XX".  Mas  os  acadêmicos  se  decepcionaram:
logo perceberam que a aplicação da teoria dos jogos na vida real era difícil.

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Por  muitos  anos  após  a  morte  de  Von  Neumann,  em  1957,  os  acadêmicos  lutaram  para  aplicar  a  teoria  dos  jogos  em
questões de economia, biologia e estratégia militar, mas não conseguiram corresponder às expectativas trazidas por Theory
of Games. O problema talvez fosse que Von Neumann era considerado um semideus, enquanto, para ser útil, a teoria dos
jogos teria de se aproximar do cérebro mais limitado dos simples mortais. 

Para compreender a dificuldade, considere o que Von Neumann entendia por "jogo": é a descrição matemática do vínculo
entre as estratégias e as possíveis remunerações. Para definir um curso racional de ação, bastaria aplicar a matemática.
Isso tudo pode parecer muito abstrato, mas a teoria dos jogos de Von Neumann é abstrata. Se você já está confuso, está
começando a perceber as dificuldades dessa teoria. 

Fundamental na abordagem de Von Neumann é a suposição de que os jogadores são tão inteligentes quanto o próprio Von
Neumann. Ele queria entender como seria o jogo infalível, e sua teoria pode, em princípio, ser aplicada a qualquer jogo de
"soma zero" entre dois jogadores, como o pôquer, em que o valor que um jogador perde é o valor que o outro ganha. Mas,
na prática, há dois problemas. 

O  primeiro  é  que  o  jogo  pode  ser  tão  complexo  que  mesmo  o  mais  rápido  dos  computadores  não  poderia  calcular  a
estratégia  perfeita.  O  modelo  do  pôquer  é  uma  ilustração  exata  do  porquê  de  a  teoria  dos  jogos  ter  começado  a  provocar
cena desapontamento no mundo real. Enquanto a análise de Von Neumann destilava com grande elegância alguns insights
essenciais  para  uma  boa  jogada  no  pôquer,  ela  não  ia  muito  longe  como  um  manual  prático.  O  modelo  de  Von  Neumann
alcança alguma simplicidade ao limitar o número de jogadores, suas opções e o tipo de cartas.

O  emaranhado  do  pôquer  real  torna­serapidamente  impressionante:  considerando­se  dez  possibilidades  por  segundo,  um
jogador teria de ter começado a calcular desde o nascimento da galáxia para encontrar uma solução por meio da teoria dos
jogos para apenas dois jogadores dentro do jogo mais popular de pôquer, o Texas Hold`em. E se o pôquer real já representa
tamanho  desafio,  que  dizer  de  um  problema  real  de  economia,  como  negociar  um  aumento  ou  definir  uma  estratégia  de
negócio? 

O segundo problema é que a teoria dos jogos torna­se menos útil se o adversário é falível. Se o jogador 2 não é um expert,
o jogador 1 poderá explorar seus erros, em vez de se defender das brilhantes estratégias que nunca acontecerão. Quanto
pior o adversário, menos útil é a teoria dos jogos.

Esse  problema  manifesta­se  particularmente  no  pôquer.  Uma  estratégia  de  pôquer  perfeita  sob  a  ótica  da  teoria  dos  jogos
deixará passar boas oponunidades no caso de um jogo contra um adversário falível ­ isto é, contra qualquer um. Ao final do
jogo,  conforme  as  probabilidades  vão  se  equilibrando,  a  estratégia  não  será  derrotada.  Mas  ela  poderá  ganhar  muito
lentamente diante de adversários fracos. Um adversário pode estar blefando muito; outro pode nunca blefar. Para um tipo de
falibilidade, exige­se um jogo mais conservador; para o outro, um jogo mais agressivo. A teoria dos jogos presume que erros
nunca serão cometidos. 

Um  jogador  de  pôquer  real  que  quisesse  usar  as  teorias  de  Von  Neumann  teria  de  ser  capaz  de  executar  cálculos  mais
rapidamente  que  o  próprio  semideus.  Ele  também  teria  de  lidar  com  o  problema  dos  adversários  ingênuos,  cujo
comportamento não se enquadrasse nas jo gadas perfeitas imaginadas pela teoria de Neumann. 

Não  surpreendeu,  portanto,  que  a  Princeton  University  Press  tenha  divulgado  em  1949  um  anúncio  um  tanto  tímido  para
celebrar os cinco anos das fracas vendas do livro Theory of Games and Economic Behavior. O anúncio dizia: "Bons livros
sempre  levam  algum  tempo  para  alcançar  reconhecimento  ...  sua  influência  ultrapassa  em  muito  o  número  de  leitores",  e

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mencionava "alguns exemplares comprados por jogadores profissionais". Mas há pouca evidência de que as teorias de Von
Neumann tenham provocado impacto imediato na comunidade do pôquer.  

Ehud Kalai: Teoria dos Jogos e relação com Aviões e Matemática
 
Ehud  Kalai,  ex­presidente  do  Game  Theory  Society,  em  palestra  no  2o  Congresso  da  Game  Theory  Society  em  2004,  faz
uma analogia entre Teoria dos Jogos e a construção de aviões.

Para  aviões,  os  físicos  desenvolvem  a  teoria  básica,  os  engenheiros  desenham  a  aeronave  e  os  pilotos  as  dirigem.  Os
engenheiros  tem  o  conhecimento  básico  da  física  envolvida,  mas  grande  conhecimento  prático  é  adquirido  ao  fazer
experimentos com túneis de vento e ao aprender com aviões feitos anteriormente. Os pilotos tem conhecimento básico de
física e engenharia, mas tem habilidades práticas adicionais para voar corretamente. 

Da  mesma  forma,  para  desenhar  e  jogar  leilões  é  preciso  especializações  similares.  Especialistas  téoricos  de  jogos
oferecem a teoria básica. Em complemento, os profissionais de leilão precisam ter conhecimento de teoria comportamental,
obtidas em laboratório ou estudando os jogos de leilões anteriores.

A Teoria dos Jogos parece estar evoluindo na direção similar ao da Física, segundo Kalai. 

A  matemática  pode  ser  uma  disciplina  pura  ­  por  isso  há  faculdade  e  pós­graduação  específicos  para  matemática.  Mas  a
matemática é usada pela física. Por sua vez, a física também pode ser uma disciplina isolada (por isso há faculdade e pós­
graduação específicos para física). Por exemplo: o logarítimo é uma invenção da matemática e pode ser estudado por si só.
Já a física usa logarítimo para explicar certos fenômemos naturais. 

Continuando,  a  engenharia  usa  a  física  para  as  aplicações  reais.  Para  construir  um  avião,  um  prédio,  um  carro,  um
computador  ou  uma  lâmpada,  são  necessários  os  conceitos  teóricos  da  física,  que  por  sua  vez  utiliza  os  conceitos
matemáticos.

Uma crítica comum é que o conhecimento de Teoria dos Jogos não faz um indivíduo ser um melhor jogador. Essa afirmação
é  controversa.  É  muito  provável  que  ser  um  bom  físico  não  o  qualifica  o  indivíduo  a  ser  um  bom  engenheiro  ou  um  bom
piloto, mas também não quer dizer que o físico é inútil na construção ou operação de aviões.

Com  apenas  conhecimento  de  teoria  dos  jogos,  uma  pessoa  não  é  necessariamente  boa  em  dar  lances  em  leilões.
Entretanto,  tal  conhecimento,  quando  combinado  com  outras  habilidades,  melhora  a  performance  nas  áreas  de
conhecimento inter­relacionadas. 

Comparando com o assunto, a Matemática está para Teoria dos Jogos da mesma forma que Matemática está para Física.
E a Teoria dos Jogos está para a Economia da mesma forma que a Física está para a Engenharia. A Engenharia pode
ser teórica ou prática, da mesma forma que Economia pode ser teórica ou prática.

Uma  boa  explicação  de  Economia,  do  ponto  de  vista  prático,  foi  dado  por  Stephen  Dubner,  em  palestra  em  2007  na
Conferência da IBM em São Paulo. Segundo ele, Economia não é apenas sobre dinheiro, inflação e taxas de juros, e sim a
ciência de como a pessoas reagem a incentivos e modelar incentivos para influenciar comportamentos. 

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Igualmente,  a  Matemática  oferece  para  a  Teoria  dos  Jogos  a  possibilidade  de  criar  e  transmitir  conceitos  lógicos  para  ser
melhor comunicada. E a Teoria dos Jogos oferece para Economia e Ciência das Decisões um modelo formal para explicar e
orientar as melhores decisões. 

 
Insights do Paper publicado na revista Games and Economic Behavior, Volume 63, Número 2, Julho 2008, página 421

A aposta de Pascal ­ Você concorda?
 
O  argumento  abaixo  é  chamado  de  "Aposta  de  Pascal"  (Pascal´s  Wager)  pois  é  atribuído  ao  filósofo  do  século  17  Blaise
Pascal. Esse texto é encontrado no livro de Graham Priest. [NOTA1]

Você  pode  escolher  em  acreditar  na  existência  de  Deus  ou  não.  Suponha  que  você  escolha  acreditar.  Ou
Deus  existe  ou  não.  Se  Deus  existe,  então  tudo  ótimo.  Se  não  existe,  então  a  sua  crença  é  apenas  uma
inconveniência  (você  deve  ter  perdido  tempo  na  igreja  ou  feito  algumas  coisas  que  não  quis  fazer,  mas
nenhuma delas é desastroso). 

Agora suponha que você tenha escolhido não acreditar em Deus. De novo, se ele não existe, tudo ótimo. Mas se
ele  existe,  então  você  está  encrencado.  Você  sofrerá  após  a  morte,  talvez  até  a  eternidade  se  nenhum  perdão

ocorrer. Assim, qualquer pessoa sábia deveria acreditar na existência de Deus ­ é apenas mais prudente.

O  argumento  possui  muitos  críticos  pois  parte  da  premissa  que  Deus,  se  existir,  é  vingativo  contra  aqueles  que  não
acreditam.  Um  contra  argumento  bem  interessante  é  um  vídeo  curto  no  Youtube.  Outros  detalhes  você  consegue
procurando na Web.

Mas  o  ponto  aqui  não  é  sobre  Deus,  crenças  ou  castigos,  e  sim  sobre  a  lógica  deste  raciocínio.  No  caso,  Pascal  usa,  de
forma  implícita,  a  teoria  do  valor  esperado.  [NOTA2]  Graham  vai  um  pouco  além  na  matemática  para  exemplificar  a
questão.  Digamos  que  exista  10%  de  probabilidade  de  existir  Deus  e  90%  de  não  existir  Deus,  e  que  cada  combinação
exista uma consequência também numérica. 

Em outras palavras, o raciocínio de Pascal seria o seguinte:
1. Se você acredita em Deus e Ele existe, será beneficiado com a ida ao paraíso (100 pontos).
2. Se você acredita em Deus e Ele não existe, não terá perdido muita coisa (­10 pontos).
3. Se você não acredita em Deus e Ele não existe, não terá perdido nada (0 pontos).
4. Se você não acredita em Deus e Ele existe, você irá para o fogo eterno (­1.000.000 pontos).

Então:
­ O valor esperado em Acreditar em Deus é = 10% x 100 + 90% x ­10 = 1
­ O valor esperado em Não Acreditar em Deus é = 10% x ­1.000.000 + 90% x 0 = ­100.000

O  percentual  exato  sobre  a  probabilidade  de  Deus  existir  não  importa  muito,  tão  pouco  a  acuracidade  dos  "pontos"  no
resultado.  O  tamanho  da  diferença  entre  eles  na  forma  de  ranking  é  o  que  importa  nessa  análise  da  teoria  da  decisão.
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Admitindo que a combinação 4 (não acreditar em Deus e Ele existir) resulta em um prejuízo muito grande, o valor esperado
para Não Acreditar é muito alto. Assim, é "mais prudente" acreditar, como diz Graham Priest. 

Apesar dos ensinamentos do valor esperado e utilidades serem bem divulgados nas aulas de lógica, matemática, estatística
e economia, na vida cotidiana não vejo muita gente fazendo o cálculo para tomada de decisão. Em todo caso, entendo que
há algum cálculo semelhante mesmo quando a decisão é intuitiva. Vejamos o caso de decidir andar de bicicleta. 

Andar  de  bicicleta  quando  não  está  chovendo  é  muito  divertido,  digamos  10  pontos.  Mas  andar  quando  está  chovendo  é
horrível, digamos ­5 pontos. Se há 10% de chance de chover, o valor esperado para andar de bicicleta é 10% x ­5 + 90% x
10  =  8,5  pontos.  Já  ficar  em  casa  quando  está  sol,  deixando  de  ter  andado  de  bicicleta  é  muito  ruim,  digamos  ­5.  No
entanto,  ficar  em  casa  quando  chove  não  é  grande  coisa,  mas  ao  menos  não  se  molha,  então  vale  0  pontos.  Portanto,  o
valor esperado para ficar em casa é 10% x 0 + 90% x ­5 = ­4,5.

Note  que  agora  sim  a  probabilidade  de  chover  importa  mais  uma  vez  que  os  pontos  (as  utilidades)  do  resultado  são  mais
próximos. 
1. Se você for andar de bicicleta e não chover, você tem o passeio perfeito (10 pontos).
2. Se você for andar de bicicleta e chover, você se molha (­5 pontos).
3. Se você não for andar de bicicleta e não chover, você perdeu uma oportunidade (­5 pontos).
4. Se você não for andar de bicicleta e chover, você não se molhou mas não também não fez outra coisa (0 ponto).

Portanto, para essa probabilidade de chover e o tamanho da recompensa, é melhor se arriscar e andar de bicicleta.

 
1. Fonte: Logic ­ A very short introduction, de Graham Priest, Editora Oxford, página 94.

2. O valor esperado (em inglês, expected value ou expectation) é o ganho ou perda média que resulta de uma situação tendo em conta todos os

resultados possíveis e as suas probabilidades. 

Dilema dos Prisioneiros em formato de diálogo
 
Tradução e adaptação livre de um trecho do livro Negociation Analysis, no capítulo de Game Theory (pag. 64)

É uma boa explicação sobre o Dilema dos Prisioneiros explorando a racionalidade individual versus a racionalidade grupal. 

Considere  o  jogo  abaixo  usando  as  seguintes  premissas:  (1)  conhecimento  comum  entre  os  jogadores,  (2)  escolhas
simultâneas e (3) nenhuma comunicação entre eles.

Colin

Esquerda Direita

Cima 5 , 5 ­5 , 10


Rowena
Baixo 10, ­5 ­2, ­2

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Se  você  fosse  o  Rowena,  que  alternativa  escolheria:  para  Cima  ou  para  Baixo?  Se  você  fosse  a  Colin,  que  alternativa
escolheria: Esquerda ou Direita? 

Acompanhe o diálogo abaixo, onde um Moderador ajuda os dois jogadores a escolher.

COLIN: Bem, parece que Direita domina Esquerda e Baixo domina Cima, então...

MODERADOR: Com licença, vejamos, você está dizendo que Direita domina Esquerda porque... 

COLIN: Porque 10 é melhor que 5 no caso de Cima e ­2 é melhor ­5 no caso de Baixo. Assim eu pensaria em escolher Direita.
Eu  também  acho  que  Rowena  preferia  escolher  Baixo,  porque  10  é  melhor  que  5  e  ­2  é  melhor  que  ­5.  Mas  isso  nos  dá  um
resultado de (­2, ­2). Ao mesmo tempo, há um outro ponto, Cima­Esquerda, que nos dá o resultado de (5, 5). Parece louco nós
terminarmos com (­2, ­2). Então vou escolher Esquerda e espero que Rowena veja o que eu vejo e que há outro resultado bom
para ambos. 

MODERADOR: OK, assim você escolheu Esquerda. Rowena, o que você fez? 

ROWENA: Desculpe, Colin, mas eu escolhi Baixo. 

COLIN: Mas, Rowena, como você pôde fazer isso? 

ROWENA: Escute, eu estou aqui para maximizar o meu resultado e sabendo que você escolheu Esquerda, eu tenho só uma
escolha. Eu poderia ganhar 5 or 10 e minha responsabilidade é maximizar meu retorno. Estou agindo como se fosse um agente
para meu chefe. 

MODERADOR: Me deixe interromper aqui. Neste jogo Baixo domina Cima. E semelhantemente Direita domina Esquerda. O par
de estratégia (Baixo, Direita) está em equilíbrio. É o único equilíbrio. Colin, como você reage a tudo disto? 

COLIN: Eu sinto como se eu tentasse fazer a coisa inteligente e Rowena levou vantagem disso. 

ROWENA:  Isso  é  tolice!  Eu  não  levei  vantagem,  eu  simplesmente  olhei  para  o  que  meus  payoffs  (resultados).  Você  poderia
ve­los da mesma maneira que eu. Não há nenhuma razão para escolher 5 em lugar de 10. Baixo domina Cima. 

COLIN:  Você  está  dizendo  que  não  importa  o  que  eu  faço,  você  ainda  escolheria  Baixo.  Mas  se  eu  pensasse  da  mesma
maneira, então você não estaria ganhando seus 10, você ganharia ­2. 

ROWENA: Sim, mas se você escolhesse Direita, então eu teria que escolher entre ­5 e ­2 e eu preferiria ­2. 

COLIN: Sim, mas se você escolhesse Baixo, então eu também teria que escolher entre ­5 e ­2 e eu preferiria ­2. 

MODERADOR: Colin, antes de escolher você gostaria de saber o que Rowena escolheu? Saber antes te ajudaria? 

COLIN: Com certeza ajudaria. 

MODERADOR: Bem, suponha você descubra que ela vai escolher opção Cima. 

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COLIN: Se nós estivéssemos num jogo, eu acho que eu escolheria Direita. 

MODERADOR: Assim, se você tivesse espionado e descobrisse o que ela iria escolher, o que você faria? 

COLIN: Eu escolheria Direita, como eu já disse.

MODERADOR: E se nosso serviço de espionagem falasse a você que ela escolheu a opção Baixo, o que você faria? 

COLIN: Eu ainda escolheria Direita. 

MODERADOR: Mas é exatamente isso que nós dissemos. 

ROWENA:  Isso  é  uma  armadilha.  Nós  fomos  presos  no  resultado  (­2,  ­2)  mas  ainda  há  outro  resultado  (5,  5)  que  é  melhor.
Como podemos sair daquela armadilha?

COLIN: Bem, nós podemos tentar fazer um acordo. 

MODERADOR: Ok, mas esse é o ponto: é uma armadilha mesmo. É a chamada "armadilha social". Há algo intrigante aqui. A
anomalia mora no próprio jogo. O comportamento racional prescreve para jogadores usarem a estratégia dominante: o jogador
da linha deve escolher Baixo e o jogador da coluna deve escolher Direita. 

COLIN: Você está dizendo que é racional fazer escolhas que levam a resultados inferiores? 

MODERADOR: Sim, nesta situação os dois jogadores racionais fazem pior do que dois jogadores irracionais. 

ROWENA: O que tem de racional fazer o pior? 

MODERADOR:  Bem,  me  deixe  repetir.  Imagine  que  você  é  o  jogador  da  coluna  e  seu  chefe  disser  para  você  fazer  o  melhor
possível. O que você, Colin, faria se você soubesse que Rowena escolheu Cima? Você escolheria Direita? O que faria você se
escolhesse Baixo? Você escolheria Direita. Certo? 

ROWENA: Um dos meus professores de Economia dizia que a racionalidade individual as vezes pode conduzir a um resultado
coletivo inferior. É este um caso em questão? 

MODERADOR: Bem, nós poderíamos dizer que racionalidade individual pode levar a uma irracionalidade grupal ou resultados
pobres. Este é o dilema; é o que se chama de dilema social, ou uma armadilha social. 

COLIN: Este provavelmente é um jogo onde nós gostaríamos de falar primeiro um com o outro. 

MODERADOR: Certamente. Se você pudesse falar com o outro, o que faria?

ROWENA: Tentaria chegar a algum tipo de acordo. Com algum tipo contrato nós combinaríamos chegar no ponto de Esquerda­
Cima. 

O Dilema do Prisioneiro

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O dilema de duas pessoas é sem dúvida o mais célebre de todos os jogos. 

Em 1950, muitas pessoas que trabalhavam em Teoria dos Jogos sabiam que este dilema era de conhecimento de povo. Mas
não foi chamado o dilema do prisioneiro naquele momento.

A  interpretação  do  jogo  como  um  dilema  de  dois  prisioneiros  foi  introduzida  em  1953  por  AJ  Tucker  e  milhares  documentos,
experiências e teses de doutorado foram baseadas nele desde então.

Ele é importante porque sua mensagem está tão clara: comportamento sem coordenação, racional e egoísta pode resultar em
resultados terríveis. É a essência de uma patologia social e evidência desta estrutura pode ser encontrada extensivamente em
nossa sociedade.

Mas antes proseguir, me deixe descrever primeiro a interpretação de Tucker sobre este dilema. 

Um  acusador  público  sabe  que  dois  prisioneiros  realmente  são  culpados  de  um  crime,  mas  ele  não  tem  prova  aceitável  para
convencer um júri deste fato. Os criminosos sabem isto. O acusador público apresenta o seguinte problema de escolha a cada
dos prisioneiros, separadamente.

Os prisioneiros são mantidos em separado. A cada um é dada a escolha de não confessar  ou  confessar  o  crime  eles  tinham


cometido.
­ Se nenhum confessar, eles serão presos durante um ano em um inquérito menor: posse de arma ilegal.
­  Se  eles  ambos  confessarem,  cada  um  ganha  um  sentença  de  três  anos,  menos  que  a  sentença  de  pena  máxima  para  o
crime.
­ Se uma pessoa confessar e o outro não, então o confidente sairá impune e o não confidente ganhará cinco anos de prisão.
Estes resultados são como mostrado abaixo.

Prisioneiro 2

Não confessar Confessar

Não confessar 1 , 1 5 , 0


Prisioneiro 1
Confessar 0, 5 3, 3

Para  dar  ao  jogo  a  estrutura  que  queremos  discutir  é  extremamente  importante  que  cada  prisioneiro  prefira  se  livrar  e  ter  o
amigo  pegar  cinco  anos  do  que  a  opção  de  ambos  ganharem  um  ano.  Cada  uma  está  preocupado  com  si  mesmo;  não  há
nenhuma honra entre ladrões. 

Lembre  que  eles  são  presos  de  forma  incomunicável  e  que  cada  um  não  tem  lealdade  ao  outro.  Naturalmente  o  jogo  será
jogado  uma  vez.  Confessar  domina  não­confessar.  Desde  confessar  é  melhor  que  não­confessar,  não  importa  o  que  o  outro
prisioneiro vai escolher. Assim eles confessam e cada um pega três anos de prisão. Isso é a armadilha social. 

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Relato sobre 2º Brazilian Workshop of Game Theory Society

Evento ocorreu na USP de 29/07 a 04/08/2010
 
Se você gosta de Teoria dos Jogos, de antecipar e modelar as ações dos concorrentes com movimentos sequenciais (numa
árvore  de  decisões)  ou  simultâneas  (numa  matriz  de  payoffs)  e  acha  que  este  congresso  apresentaria  vários  textos  de
negócios com estudos de casos reais ou fictícios para melhorar seu poder de decisão empresarial, desista. Este evento foi
acadêmico mesmo.

Veja o site oficial e o programa completo. Neste evento encontrei Nash pela segunda vez. 

De forma geral, o evento tem o mesmo formato e conteúdo que o Games 2008: Third World Congress of the Game Theory
Society (Evanston, IL, EUA, 12/7 a 17/7/08). Veja também programa completo.  Neste  evento  encontrei  Nash  pela  primeira
vez. 

Claramente  o  evento  é  voltado  a  acadêmicos  (professores,  pesquisadores,  estudantes)  de  Economia  e  Matemática  que
gostam dos conceitos formais da Teoria dos Jogos, sem necessariamente relação com o ambiente empresarial. Isso não é
nenhum  demérito  aos  eventos  e  seus  participantes.  Pelo  contrário,  é  a  reunião  das  cabeças  inteligentíssimas  trocando
informações  e  experiência  entre  si.  Eu  sou  um  executivo  de  mercado,  procuro  escrever  de  forma  mais  simples  as
aplicações  da  Teoria  dos  Jogos,  e  mesmo  assim  fui  aos  dois  eventos.  O  que  eu  busco  é  energia  e  inspiração,  e  eventos
deste quilate os têm de sobra. 

Na ocasião várias veículos de comunicação publicaram notícias. Abaixo são os que consegui colecionar. Alguns falam do
evento, outros falam de algumas aplicações após entrevistar as personalidades presente. 

Site da FEA USP, Videos do evento, entrevistas, etc

UOL Notícias (Ciência), 04/08/10, Prêmios Nobel discutem Teoria dos Jogos em São Paulo 

Folha.com (Ciência), 04/08/10, Para cientista israelense, armas trazem paz 

Folha.com (Ciência), 04/08/10, Sociologia precisa de equações, dizem prêmios Nobel 

Época Negócios (Economia), 04/08/10, "Crise econômica é uma doença que precisa de tratamento", diz John Nash

Estadão.com (Ciência), 03/08/10, Corte unilateral de emissão de CO2 seria ´ato de caridade´, diz ganhador do Nobel

Site Itamarary (by Valor Econômico), 04/08/10, A teoria dos jogos, aplicada por seus grandes nomes

Agência Fapesp, 04/08/10, Quatro mentes brilhantes

Jornal da USP, 10/08/10, O mundo explicado pela teoria dos jogos

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11/08/2016 Imprime todos os trechos

Site da FEA, 19/08/10, Workshop sobre teoria dos jogos traz quatro ganhadores do Nobel + (PDF da revista)

Reitoria da USP no Youtube, Matéria no Jornal da Cultura sobre Nash e o Evento (Vídeo)
 

Teoria dos Jogos dentro de cursos executivos
 
[Este é o anexo do artigo Onde aprender mais sobre Teoria dos Jogos]

Três exemplos de cursos curtos que possuem conteúdo de Teoria dos Jogos no currículo.

1. Kellog Schooll of Management (NorthWestern University), curso executivo Competitive Strategy:

Fundamentals of Competitive Strategy
­Analytical frameworks for strategy formulation 
­The economics of value creation and capture

External Environment Analysis
­Market forces underlying industry profitability and firm performance 
­Modern game­theory approaches to effectively compete with a small number of rivals 
­Industry evolution and optimal responses to growth opportunities and shakeouts 
­Winner­take­all markets: when it’s a different battle 

Internal Profitability Analysis 
­Critical evaluation to indentify firms’ competitive advantage 
­Assessments for determining long­term sustainability of competitive advantage 
­Strategic investments: developing effective resources and capabilities 
­Capitalizing on growth opportunities through strategic positioning and “fit”

2. University of Chicago, curso executivo de Corporate Strategy:

Industry Analysis and Positioning
­Economic framework for analyzing the structure of the industry in which a firm competes
­How the competitive position of a firm determines its level ofperformance

Competitive Advantage, Sustainability, and Entry
­How the capabilities and strategic assets of a company determine its competitive advantage
­The effects of competition on the longevity of competitive advantage
­Implications for entry decisions

Corporate Strategy
­Allocation of resources and coordination of activities between business units
­Optimal scope of the firm in terms of diversification and vertical integration
­Effective organization and management of multi­unit companies

Strategic Scenario Analysis and Game Theory
­Integrate the insights of game theory into a formal decision making model
­Interaction among firms in concentrated industries where reactions and counterreactions are anticipated
­Positioning, resource, and process choices
­Integrate traditional scenario analysis and game theory

Strategic Planning

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­Defining long­term objectives, strategic objectives, and strategic initiatives
­Translating strategic objectives into an execution plan
­Developing a strategic execution roadmap

Strategy Implementation
­Relationship between a firm`s competitive strategy and the organizational structure and resources that enable it to implement that strategy
­Framework for identifying the set of requisite resources that underlie a strategy
­Critical organizational mechanisms required to effectively implement the strategy

New Venture Strategy
­Analysis of new business opportunities
­Unique problems associated with analyzing future competition for products which do not exist
Technology Strategy
­How to use corporate­level strategy to understand strategy formulation and implementation in high­technology industries
­Unique strategic issues for industries that focus on technology
­The impact technology shifts have on strategy across industries

Strategic Thinking
­The process companies can use to develop and analyze unique, creative strategies
­Utilizing decision making models and avoiding common decision traps
­Analyzing and managing uncertainty

3. Fundação Getúlio Vagas (FGV), curso executivo GV­PEC Intensivo de Economia:

I. O funcionamento do sistema de preços ou como os economistas pensam: para entender o "economês";

II.  Elasticidade­preço,  elasticidade  preço­cruzado  da  demanda,  elasticidade  renda  e  tipos  de  bens:  conceitos  econômicos  que  dão  base  a

procedimentos de como identificar mercados, segmentá­los e definir estratégia para produtos;

III.  Estruturas  de  mercado:  do  modelo  ideal  de  competição  perfeita  aos  modelos  de  reais  de  competição  imperfeita:  como  identificar  estratégias

específicas para empresas em monopólios, oligopólios e mercados com diferenciação de produto em geral;

IV. Jogos e estratégia: quais são os conceitos econômicos pressupostos pelos modelos de estratégia competitiva entre firmas e nações?;

V. Jogos de empresas: a economia em ação no cotidiano das empresas;

VI Modelo de principal e agente: aplicação na economia;

VII. Análise da conjuntura setorial (Microeconômica): como definir uma estratégia empresarial?;

VIII. Modelos de decisão aplicados às organizações e teoria dos jogos;

IX. Formulação de cenários estratégicos para instituições financeiras, empresas e famílias;

X. Princípios macroeconômicos básicos: conceitos fundamentais para a construção de cenários estratégicos e para a interpretação da conjuntura

econômica;

XI. Crescimento econômico 1: O que é crescimento e quais são seus determinantes? Por que não há ``Milagre do Crescimento``? Como utilizar tais

conceitos em cenários de planejamento estratégico setorial, macroeconômico e nas suas finanças pessoais?;

XII.  Crescimento  econômico  2:  O  que  fazer  para  o  Brasil  voltar  a  crescer?  Aplicações  práticas  para  o  planejamento  estratégico  setorial,

macroeconômico e pessoal (famílias);

XIII. As flutuações econômicas de curto­prazo: Por que existe desemprego? Quais são as relações entre desemprego e inflação? Quais são as

relações entre a conjuntura política e econômica?;

XIV. Workshop 1: Para entender a política econômica na prática: jogos e casos;

XV. Workshop 2: Construção de cenários para a economia brasileira em 2007/2008.

O  curso  em  vídeo  sobre  Strategic  Thinking  Skills  da  empresa  The  Great  Courses  também  apresenta  um  capitulo  sobre
Teoria dos Jogos:

The World of Strategic Thinking

The Origins and Relevance of Ancient Strategy

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The Dawn of Modern Strategic Thinking

Modern Principles of Strategic Conflict

Geography—Know Your Terrain

Grand Strategists and Strategic Intent

The Core and the Rise of Strategic Planning

Which Business Strategy? Fundamental Choices

Your Competitive Advantage—Find the Blue Ocean

Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats

Avoid the Pathologies of Execution

Tactics of Combat as Problem­Solving Tools

Shock of the New—Inflection Points

Surprise! Perils and Power of Strategic Deception

The Sources and Uses of Reliable Intelligence

Move and Countermove — The Theory of Games

The Evolution of Cooperation

When Strategy Breaks Down

Leverage Cognitive Psychology for Better Strategy

Strategic Intuition and Creative Insight

From Systemic Problems to Systemic Solutions

Seize the Future with Scenario Analysis

The Correlation of Forces, Luck, and Culture

Strategic Thinking as a Way of Life.

Exemplos ruins na mídia sobre Teoria dos Jogos
 
Não é fácil encontrar casos reais e práticos sobre Teoria dos Jogos em jornais e revistas onde o autor mostre um problema
de negócios e resolva­o usando conceitos da teoria. Abaixo alguns exemplos ruins. 

Exemplo 1. Link da Revista Exame de 26.01.2010.

Sob o título "CSN, Camargo ou Votorantim. Quem leva a Cimpor?", o artigo inicia com o seguinte parágrafo:

"Desde quando o matemático húngaro John von Neumann conheceu a lógica do jogo de pôquer, ele notou certa semelhança
com  o  mundo  dos  negócios.  Os  óculos  de  sol  e  o  boné,  para  esconder  qualquer  expressão  reveladora,  indicam  que  o
resultado de qualquer jogador depende não só do que ele faz mas também de como os adversários reagem. Essa sacada de
Neumann provocou uma revolução nas ciências econômicas. Vira e mexe, a chamada Teoria dos Jogos está presente em
produções de Hollywood, na hora de pagar a conta do bar e, vá lá, em operações de fusões e aquisições."

A  partir  daí,  explica  os  cenários  possíveis  sobre  a  briga  das  três  empresas  (CSN,  Camargo  e  Votorantim)  para  comprar  a
Cimpor  e  esquece  sobre  a  Teoria  dos  Jogos.  Não  cita  nenhum  conceito  e  não  faz  nenhuma  comparação  com  a  teoria.  É
como se a introdução estivesse desconectada com a matéria em si.

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Exemplo 2. Link do Estadão de 16.01.2009.

Sob o título "Teoria dos jogos explica por que paqueras são demoradas", o texto é interessante e informa que "fêmeas usam
o tempo para isolar os machos ruins, já que os bons se dispõem a esperar". Um dos trechos é:

"A  pesquisa,  publicada  na  revista  especializada  Journal  of  Theoretical  Biology,  usa  teoria  dos  jogos  para  analisar  como
machos e fêmeas se comportam estrategicamente no jogo do acasalamento. O modelo matemático considera um macho e
uma fêmea em um encontro de cortejo, e o jogo termina quando um dos dois desiste ou a fêmea aceita acasalar. O modelo
pressupõe  que  o  macho  é  "bom"  ou  "ruim",  do  ponto  de  vista  da  fêmea,  e  que  ela  está  interessada  em  aceitar  o  "bom"  e
rejeitar o "ruim". Já o macho ganha pontos se conseguir acasalar com qualquer fêmea, mas recebe mais se for "bom"."

Nos  outros  parágrafos  o  raciocínio  sobre  esperar  o  bom  é  desenvolvido  mas,  como  em  outras  matérias,  não  cita  mais  a
Teoria dos Jogos. Igualmente, não correlaciona os seus conceitos em relação ao tema. 

Exemplo 3. Link do Site Consultor Jurídico de 06.08.2008.

Sob o título "Juiz dá preço a litigância de má­fé e condena advogado", o episódio não deixa de ser engraçado:

"No  começo  do  mês  passado,  o  juiz  Fábio  Eduardo  Bonisson  Paixão,  da  12ª  Vara  do  Trabalho  de  Vitória,  folheava  os
processos que entrariam na pauta no dia seguinte, quando foi surpreendido por uma inusitada petição. O advogado Alberto
José Oliveira pedia R$ 830 mil de indenização por danos morais da Companhia de Transportes Urbanos de Vitória por causa
da greve de ônibus de três dias que tomou conta da capital do Espírito Santo em maio deste ano.

O argumento do advogado era o de que foi moralmente afetado, como passageiro, pelos distúrbios causados pela greve. Ele
nunca  trabalhou  para  a  empresa  de  ônibus.  O  juiz  sequer  analisou  o  mérito  da  questão  ao  lembrar  que,  na  Justiça  do
Trabalho,  é  preciso  provar  a  relação  material  prévia  entre  as  partes.  No  caso  de  greve,  isso  só  acontece  quando,  por
exemplo, o trabalhador é impedido de exercer seu direito de greve.

Dado o valor do pedido, Bonisson Paixão não só arquivou a ação como também aplicou uma multa por litigância de má­fé.
Primeiro porque o cálculo apresentado por Oliveira estava fora da realidade: como a greve durou três dias, a empresa teria
que indenizar o advogado em R$ 1.527,77 por hora de ônibus parados.

“A  estratégia  do  pedido  foi  muito  arriscada”,  afirma  o  juiz.  Ele  cita  a  teoria  dos  jogos  para  mostrar  que  Oliveira  arriscou
perder  R$  190  mil  ao  pedir  R$  830  mil  de  indenização.  Isso  porque  havia  o  risco  processual  de  2%  de  custas,  1%  por
litigância de má­fé e 20% de indenização por litigância. “Melhor teria sido gastar R$ 1,50 e concorrer aos R$ 15 milhões da
mega­sena acumulada”, comentou o juiz."

Entretanto, qual fundamento da Teoria dos Jogos para induzir o raciocínio para rejeitar o pleito? O artigo não explica. 

Comentários: Por que é difícil achar na mídia exemplos didáticos sobre Teoria dos Jogos? Minha hipótese é que a Teoria
dos  Jogos  é  muito  complexa  para  ser  detalhada  em  jornais  e  revistas  de  massa.  Isso  é  assunto  para  revistas
especializadas.  Como  consequência,  o  que  se  encontra  nas  revistas  de  negócios  e  jornais  são  casos  como  estes  ­  citam
que algum pesquisador ou empresa usou Teoria dos Jogos mas não explica em detalhes. 

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Exemplo 4. Link da Forbes Magazine

Aqui um outro exemplo onde o autor utiliza Teoria dos Jogos mas não convence muito. Em um artigo da Forbes, Cybercrime
Game  Theory:  Why  Apple`s  Malware  Grace  Period  Ended  Early,  o  jornalista  cita  um  estudo  de  um  pesquisador  que  teria
usado a Teoria dos Jogos para prever quando os computadores MACs seriam atingidos por malwares.

O  artigo  é  interessante  e  mostra  uma  fórmula  de  cálculo,  algumas  premissas  e  um  resultado.  Mas  não  cita  COMO  o
pesquisador usou a Teoria dos Jogos para isso. Ao menos oferece link para o paper original publicado no IEEE Security &
Privacy, neste link. 

Entretanto, ao ler o paper, o conceito de Teoria dos Jogos não é usado na sua concepção correta. O autor utiliza uma matriz
de  payoff,  jogadores,  estratégias,  mas  comete  dois  erros.  Primeiro,  na  matriz  utiliza  um  jogador  (os  hackers)  contra  dois
jogadores  (os  PCs  e  os  MACs),  um  em  cada  coluna  de  ação.  O  correto  é  usar  apenas  um  jogador  com  duas  opções  de
ação, e não a opção de dois jogadores. Segundo, coloca o payoff apenas do hacker, e não do adversário, como se a ação
de um jogador não afetasse a ação do outro. 

O  pesquisador  até  pode  ter  usado  um  bom  raciocínio  e  fórmulas  (Decision  Analisys  e  equivalentes)  para  resolver  o
problema, mas não usou a Teoria dos Jogos propriamente dita. 
 
[1]: http://www.forbes.com/sites/andygreenberg/2012/04/20/cybercrime­game­theory­why­apples­malware­grace­period­ended­early/

[2]: http://www.securitymetrics.org/content/attach/Metricon3.0/j3attAO.pdf

Porque é difícil usar a Teoria dos Jogos nas empresas
 
Um  contexto  histórico  ajuda  a  explicar  porque  a  Teoria  dos  Jogos  ficou  complexa  o  suficiente  para  ter
difícil aplicação prática. Ela nasceu nos anos 40 por John Von Neumann como um ramo da matemática
e  conviveu  por  um  bom  tempo  apenas  no  meio  acadêmico.  Até  hoje  os  congressos  sobre  o  tema  são
voltados para a matemática, onde a Teoria dos Jogos é reverenciada pelos acadêmicos que gostam de
problemas complexos e desafios intelectuais. John Nash, em particular, resolveu um problema complexo nos anos 50, criou
um conceito que ganhou o seu nome, o chamado "equilíbrio da Nash", e levou o Prêmio Nobel em 1994. Suas formulações
matemáticas afastam o executivo de empresas que quer algo mais simples. 

Como  método  matemático  para  resolver  problemas  bem  definidos,  a  Teoria  dos  Jogos  não  deixa  de  ser  mais  uma
ferramenta de otimização, como a Decision Analysis, que é bem usada por profissionais na prática. Entretanto, tem uma
característica diferente. Enquanto a Decision Analysis tem como variáveis­inputs as incertezas, probabilidades e restrições
para  achar  o  ponto  ótimo  que  maximize  os  trade­offs,  a  Teoria  dos  Jogos  incorpora  dois  elementos  extras  complicados.
Primeiro, adiciona os payoffs do segundo jogador quer reage para otimizar as condições dele, afetando o seu resultado, e
vice  versa.  Ambos  precisam  incorporar  no  algoritmo  de  otimização  as  reações,  pressupostos  e  incentivos  alheios.
Segundo, não é uma otimização estanque, ou seja, de uma jogada só; é preciso avaliar uma cadeia de reações sucessivas
e otimizar todo o cenário. Portanto, como exercício matemático é mais complexo. 

Neste fascínio pela complexidade, os acadêmicos estão interessados no processo de otimização em si. Para isso, utilizam
os  payoffs  e  estratégias  como  um  dado  do  problema.  Pouco  importa  se  os  jogadores  se  chamam  Coca­Cola  e  Pepsi,  ou
simplementente  A  e  B.  Também,  pouco  importa  se  os  valores  dos  payoffs  são  reais  ou  fictícios,  se  são  referente  a  lucro,

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receita,  prazo,  ou  simplemente  uma  utilidade.  Não  interessa  se  tem  valor  de  1.234  versus  2.453,  basta  ser  diferente  e
representar uma hierarquia de preferências do jogador, como 1, 2, 3 e 4. Ainda, não importa se os movimentos se referem a
entrada no mercado, abaixar o preço ou virar a esquerda, basta que o movimento A do jogador B seja coerente com o payoff
de valor 1. Como conclusão, a relevância neste cenário de otimização matemática está em achar uma solução de equilíbrio
que resolvar o melhor interesse dos jogadores, e isso não é trivial (John Nash, John Von Neumann e outros que o digam). 

Até  aqui  não  existe  novidade  conceitual  pois  essa  situação  de  usar  dados  prontos  (fictícios  ou  não)  é  comum  em  outras
disciplinas.  Quando  se  aprende  sobre  Curva  de  Demanda  (calcula  quanto  é  a  quantidade  em  função  do  preço)  e  Valor
Presente  (calcula  quanto  vale  o  dinheiro  agora  em  função  de  um  fluxo  de  entrada  e  saída  futuros)  é  a  mesma  coisa  ­  o
professor faz um enunciado dos dados e verifica se o aluno aprendeu a usar os dados corretamente dentro as fórmulas. 

Onde reside o maior problema

Mas  não  é  apenas  a  matemática  a  principal  vilã.  O  problema  é  que  na  vida  real  os  dados  não  estão  disponíveis.  Se  a
otimização matemática em si na Teoria dos Jogos já é mais difícil de a complicada Decision Analysis (usar mix strategy ou
quando  há  dois  equilíbrios),  no  mundo  real  achar  os  dados  corretos  é  o  pior  complicador.  Você  precisa  saber  qual  o
problema que quer otimizar e qual payoff correspondente. Se isso não é fácil dentro da sua empresa, pior ainda é descobrir
o payoff do seu concorrente. Vocês não estão sentados numa mesma sala de aula para combinar a estrutura do jogo
na lousa. Além de supor o valor dos payoffs dele, você precisa supor que ele está usando os mesmos payoffs, e que ele
sabe  os  seus.  Ainda,  é  preciso  confiar  que  estão  usando  a  mesma  métrica  (receita  ou  lucro?),  um  número  finito  de
estratégias (aumentar preço, diminuir, sair do mercado), a sequência de ações e a influência das combinações de ações nos
payoffs de cada um. Esta é a premissa da Teoria dos Jogos Matemática (TJM): conhecimento comum, racionalidade e
maximização das utilidades escolhidas. Quer piorar um pouco? Se tudo isso é complicado para dois jogadores, imagine
mapear,  estruturar  e  otimizar  para  três  ou  mais  empresas,  o  que  mais  se  aproxima  com  a  realidade.  É  por  isso  que  a
maioria dos livros­textos em Economia apresentam o conceito usando uma situação de Oligopólio. 

Pankaj  Ghemawat,  no  livro  Games  Businesses  Play,  menciona  quatro  problemas  da  Teoria  dos  Jogos  na  perpectiva  da
estratégia  de  negócios.  Primeiro,  o  conhecimento  sobre  o  fenômeno  estratégico  a  ser  estudado  está  fora  do  escopo  da
Teoria  dos  Jogos  em  si  (que  mostra  a  solução  matemática  e  não  a  formulação  do  problema).  Ainda,  o  téoricos  dos  jogos
(game theorists) não estão muitos dispostos a aprender muito sobre negócios, deixando esse papel aos estrategistas, e não
aos  economistas.  Segundo,  a  análise  dentro  da  Teoria  dos  Jogos  (game­theoretic  analysis)  foca  mais  na  explicação  dos
efeitos interativos do que testar a importância prática. Terceiro, teoristas dos jogos modelam os fenômenos estratégicos de
forma  fragmentada,  uma  vez  que  foca  em  um  mínimo  número  de  variáveis  econômicas  ao  excluir  outras  ­  psicológicas,
políticas,  organizacional,  technológica  ­  o  que  limita  tanto  o  teste  científico  como  sua  utilidade  prática.  Quarto,  o  equilíbrio
na  Teoria  dos  Jogos  (game­theoretic  equilibrium)  pode  ser  um  resultado  não  realista  de  se  observar  na  prática  devido  a
informação e grau de racionalidade. 

Como  conclusão,  a  Teoria  dos  Jogos  Matemática  não  é  nada  prática,  ou  ao  menos  é  difícil  de  aplicar  com  a  mesma
sofisticação  em  que  os  acadêmicos  chegaram  nas  suas  simulações  teóricas.  Executivos  querem  fórmulas  e
recomendações  para  usar.  Para  isso  contratam  consultorias  para  fazer  diagnósticos  e  reduzir  o  complexo  em  simples.  As
melhores estratégias são as mais simples de comunicar em poucos slides (de preferência uma simples que ninguém tenha
pensado antes, que provavelmente é derivada de pensamentos complexos iniciais). 

Mas não descarte a Teoria dos Jogos

Entretanto,  antes  que  os  inimigos  da  Teoria  dos  Jogos  comemorem  essa  declaração  dizendo  "eu  não  disse?",  importante

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considerar  um  contra­argumento.  Alguns  dizem  que  não  é  possível  usar  Teoria  dos  Jogos  "porque  não  sei
calcular as estratégias e payoffs do meu concorrente". Essa desculpa é muito simplista e perigosa. Se você
não  sabe  nada  sobre  seu  adversário,  como  quer  competir  de  outra  forma  séria,  mesmo  utilizando  técnicas
mais  simples  (ex:  SWOT  Analisys  e  Cinco  Força  de  Porter)?  Utilizar  essas  técnicas  sem  considerar  o
concorrente  no  mínimo  é  suicida.  Assim,  dizer  que  não  aplica  nada  da  Teoria  dos  Jogos  "simplemente  porque"  é  difícil
prever as reações do concorrente (ou fornecedor, cliente, gestor, funcionário, amigo, esposa) significa admitir que não é um
bom estrategista.

Pode ser difícil converter todas as estruturas de decisão numa árvore ou matriz de payoff de forma clássica e acadêmica,
bem  como  definir  o  equilíbrio  de  Nash  e  resolver  a  questão  da  mesma  forma  que  os  acadêmicos  faria  se  os  dados  do
problema fossem fornecidos. Mesmo que você conseguisse fazer tudo isso, se seu adversário não fizer o mesmo cálculo,
improvável que o equilíbrio ou resultado do seu jogo seja o mesmo previsto que o seu.

Entretanto,  não  imagino  que  as  empresas  usem  a  Curva  de  Demanda  para  verificar  a  elasticidade  em  cada  ponto
matemático  da  curva,  preço  a  preço,  quantidade  a  quantidade,  no  gráfico.  Para  realmente  ter  esse  gráfico  com  todos  os
pontos  é  extremamente  difícil  e  custoso  ­  ou  seria  necessário  uma  pesquisa  longa  muito  bem  feita  ou  previamente  ter
testado de forma real todas os preços para ver a reação do cliente. Mesmo assim, ninguém reclama da Curva de Demanda ­
todos aprendem, usam os jargões, e isso se torna suficiente para o executivo que quer modelos simples para se comunicar
e discutir numa reunião. 

Você  verá  em  outros  artigos  deste  site  que  a  Teoria  dos  Jogos  oferece  insights  palpáveis  para  conseguir  avaliar  cenários
competitivos  e  assim  usar  em  situações  análogas  para  tomar  decisões  mais  embasadas.  Teoria  dos  Jogos  oferece  uma
estruturação de raciocínio através de modelos formais, sem precisar de sofisticação matemática.

Conclusão

Os  acadêmicos  estudaram  tanto  e  criaram  uma  coisa  tão  complexa  que  agora  resta  ao  mundo  executivo  e  consultorias
simplificar um pouco, como já o fizeram para outros conceitos econômicos. As grandes escolas de administração do mundo
não incluiriam a Teoria dos Jogos no currículo se ela fosse irrelevante ou difícil demais, o objetivo das B­schools é preparar
futuros  executivos.  A  ironia  do  destino  é  a  seguinte.  Muitos  reclamam  que  "modelos"  acadêmicos  são  muito  simplistas  e
não  capturam  a  realidade  do  dia  a  dia.  Entretanto,  a  Teoria  dos  Jogos  é  bem  mais  complexa  por  natureza,  incorpora  a
interdependência  das  decisões  e  exige  que  saiba  do  concorrente.  Isso  é  muito  mais  parecido  com  o  mundo  real  do  que
outros conceitos em Economia e Administração, mas daí a criticamos por ser muito complexa. 

Por  isso,  a  grande  vantagem  é  conseguir  aprimorar  o  pensamento  estratégico  ao  raciocinar  com  os  conceitos  da  Teoria
dos  Jogos:  pensar  com  a  cabeça  do  outro  jogador,  levantar  opções  de  estratégias  e  pressupor  reações,  encarar  os
interlocutores  como  maximizadores  com  auto­interesse,  entender  dinâmicas  da  colaboração  através  do  Dilema  dos
Prisioneiros  e  seu  equilíbrio  ineficiente,  etc.  O  que  está  faltando  é  colocar  tudo  isso  num  framework  mais  fácil  de  ser
explicado ­ quem já passou por esta fase vira um fã da Teoria.
 

O dilema do Viajante
 

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Ao  jogar  este  jogo  simples,  as  pessoas  sempre  rejeitam  a  escolha  racional.  De  fato,  agindo  ilogicamente,  acabam
colhendo uma recompensa maior ­ um resultado que exige um novo tipo de raciocínio formal.

Baseado no artigo "The Traveler´s Dilemma", American Scientific, 20/05/2007 ­ original nos Links

Lucy  e  Pete,  retornando  de  uma  remota  ilha  do  Pacífico,  descobrem  que  a  companhia  aérea
quebrou antiguidades idênticas que cada um tinha comprado. Um gerente de companhia aérea
diz ficaria feliz em compensá­los, mas é prejudicado por não ter idéia do valor desses objetos
estranhos. Perguntar aos viajantes qual o preço seria impossível, pois eles iriam inflá­lo.

Em vez disso, ele elabora um esquema mais complicado. Ele pede a cada um deles para escrever o preço da antiguidade
qualquer valor inteiro entre 2 dólares e 100, sem falar entre si. Se ambos escreverem o mesmo número, este deverá mesmo
ser o preço de verdade, e ele vai pagar a cada um deles desse montante. Mas se eles escrevem números diferentes, ele irá
assumir que menor valor é o preço real e que a pessoa que escreveu o maior número estava trapaceabdo. Nesse caso, ele
vai pagar aos dois o número mais baixo, juntamente com um bônus e um pênalti ­ a pessoa que escreveu o menor número
receberá $2 mais como uma recompensa pela honestidade e quem escreveu o maior número receberá $2 a menos como um
castigo. Por exemplo, se Lucy escrever $46 Lucy e Pete escrever $100, Lucy vai receber $48 e Pete receberá $44.

Quais números Lucy e Pete escreveriam? Qual o número que você escreveria?

Cenários  deste  tipo,  em  que  um  ou  mais  indivíduos  têm  escolhas  a  fazer  e  será  recompensado  de  acordo  com  essas
escolhas,  são  conhecidos  como  jogos  pelas  pessoas  que  os  estudam  (Teoria  dos  Jogos).  Kaushik  Basu  criou  este  jogo,
"Dilema  do  Viajante",  em  1994  com  vários  objetivos  em  mente:  para  contestar  a  visão  estreita  de  um  comportamento
racional  e  processos  cognitivos  utilizados  por  economistas  e  muitos  cientistas  políticos,  para  desafiar  os  pressupostos  da
economia tradicional e para destacar um paradoxo lógica da racionalidade.

Dilema  do  Viajante  (TD)  alcança  esses  objetivos,  pois  a  lógica  do  jogo  determina  que  2  é  a  melhor  opção,  mas  a  maioria
das pessoas escolhe 100 ou um número próximo a 100 ­ tanto aqueles que não tenham pensado a partir da lógica e aqueles
que  compreendem  que  eles  são  desviando  acentuadamente  da  escolha  racional.  Além  disso,  os  jogadores  colhem  uma
recompensa maior por não aderir a razão desta maneira. Assim, existe algo racional quando se escolhe não ser racional aos
jogar o Dilema do Viajante. 

Nos  anos  que  se  seguiram  desde  que  eu  criei  o  jogo,  TD  assumiu  uma  vida  própria,  com  os  investigadores  ampliando  e
reportando  resultados  de  experimentos  de  laboratório.  Estes  estudos  têm  produzido  insights  sobre  a  tomada  de  decisão
humana. No entanto, permanecem questões em aberto sobre como a lógica e o raciocínio pode ser aplicado a TD.

Senso Comum e Nash

Para  ver  por  que  2  é  a  escolha  lógica,  plausível  considerar  uma  linha  de  pensamento  que  Lucy  poderia  prosseguir:  sua
primeira  idéia  é  que  ela  deve  escrever  o  maior  número  possível  de  100,  que  vai  ganhar  o  seu  $100  se  Pete  é  igualmente
ávido.  (Se  o  antigo  realmente  lhe  custou  muito  menos  do  que  $100,  ela  agora  seria  feliz  pensando  na  insensatez  do
esquema inventado pelo gerente da companhia aérea.)

Logo, porém, ela percebe que se tivesse escrito $99 em vez disso, ela faria um pouco mais de dinheiro, porque nesse caso
ela receberia $101. Mas certamente essa percepção também ocorrerá com Pete, e se ambos escreveu $99, Lucy receberia
$99. Se Pete escreveu $99, então ela poderia fazer melhor se tivesse escrito $98, caso em que ela receberia $100.

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No entanto, a mesma lógica que levaria Pete escolher $98 também. Nesse caso, ela poderia desviar para $97 e ganhar $99.
E  assim  por  diante.  Continuando  com  essa  linha  de  raciocínio  levaria  os  viajantes  em  espiral  decrescente  para  o  menor
número  permitido,  ou  seja,  2.  Pode  parecer  altamente  implausível  que  Lucy  realmente  fosse  nesta  aspiral  até  atingir  $2.
Isso não importa (e é, de fato, o ponto em questão) ­ este é o lugar onde a lógica nos leva.

Teóricos dos jogos geralmente usam este estilo de análise, chamado de backward induction. Backward induction prevê que
cada jogador irá escrever dois e que eles vão acabar recebendo 2 dólares cada (um resultado que pode explicar por que o
gerente de companhia tem feito tão bem em sua carreira corporativa). Praticamente todos os modelos usados pelos teóricos
dos  jogos  prevem  este  desfecho  para  TD  ­  os  dois  jogadores  ganham  $98  menos  do  que  seria  se  cada  um  deles
inocentemente escolhesse $100 sem pensar nas vantagens de escolher um número menor.

Dilema  dos  Prisioneiros  está  relacionado  com  a  mais  popular  do  Dilema  do  Prisioneiro,  em  que  dois  suspeitos  que  foram
presos  por  um  crime  grave  são  interrogados  separadamente  e  cada  um  tem  a  opção  de  incriminar  os  outros  (em  troca  de
indulgência pelas autoridades) ou manter o silêncio (que deixa a polícia com evidência inadequada para um caso, se o outro
prisioneiro  também  permanece  em  silêncio).  A  história  soa  muito  diferente  do  nossa  estódia  dos  dois  viajantes  com
antiguidades  danificadas,  mas  a  matemática  das  recompensas  para  cada  opção  no  Dilema  do  Prisioneiro  é  idêntico  ao  de
uma variante da TD em que cada jogador tem a escolha de apenas 2 ou 3 em vez de cada inteiro 2­100.

Os teóricos do jogos analisam os jogos sem usar toda a pompa das narrativas coloridas e sim através das chamadas matrix
de recomensas ­ uma grade quadrada com todas as informações relevantes sobre as escolhas possíveis e resultados para
cada jogador. A escolha de Lucy corresponde a uma linha da grade e escolha de Pete para uma coluna, os dois números no
quadrado selecionado especificam as suas recompensas.

Apesar  de  seus  nomes,  Dilema  do  Prisioneiro  e  a  versão  de  duas­escolhas  no  Dilema  do  Viajante  não  retrata  um  dilema
real.  Cada  participante  tem  uma  escolha  inequívocamente  correta,  a  saber,  2  (ou,  no  caso  dos  presos,  incriminar  o  outro).
Essa escolha é chamada a "escolha dominante" porque é a melhor coisa a fazer não importa o que o outro jogador faça. Ao
escolher a 2 em vez de 3, Lucy vai receber $4 em vez de $3, se Pete escolher $3, e ela irá receber $2 em vez de nada, se
Pete escolher $2.

Em  contraste,  a  versão  completa  do  TD  não  tem  escolha  dominante.  Se  Pete  escolher  $2  ou  $3,  Lucy  faz  melhor
escolhendo $2. Mas, se Pete escolher qualquer número entre 4 e 100, Lucy ganharia mais ao escolher um número maior do
que 2.

Ao  estudar  uma  matriz  de  recomensa,  Teoria  dos  Jogos  se  baseia  com  mais  freqüência  no  Equilíbrio  de  Nash,  em
homenagem a John F. Nash Jr, da Universidade de Princeton. (Russell Crowe retratou Nash no filme Uma Mente Brilhante).
Um Equilíbrio de Nash é um resultado do qual nenhum jogador pode fazer melhor ao desviar de forma unilateral. Considere o
resultado (100, 100) em TD (o primeiro número é a escolha de Lucy, e a segunda é de Pete). Se Lucy alterar a sua selecção
a 99, será o resultado (99, 100), e ela vai ganhar $101. Pelo fato de Lucy ganhar mais por esta mudança, o resultado (100,
100) não é um equilíbrio de Nash.
 

Vender ou ficar com o ingresso do show do Michael Jackson?
 

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Responda essa pergunta: "Após a morte de Michael Jackson, as pessoas que compraram um ingresso do show de Londres
devem  vendê­lo  ou  não,  segundo  Teoria  dos  Jogos?".  Essa  mesma  questão  apareceu  em  vários  jornais  e  blogs  em  2009.
Selecionei dois deles abaixo, numa tradução livre. 

1. Os ingressos de Michael Jackson valem mais do que a restituição? (Times Online, Dr. Christopher Paley, postado por
Hannah Devlin, em 01/07/2009) [1]. 

Na oferta aos donos de bilhetes do show de Michael Jackson de terem o dinheiro de volta ou ficar com o bilhete inutilizável
como  lembrança,  AEG  introduziu  aos  fãs  um  dos  mais  intratáveis  problemas  nas  ciências  matemáticas.  Se  quase  todo
mundo tem a restituição, em seguida, os bilhetes, desenhado pelo próprio Rei do Pop, se tornam item de colecção e valem
uma fortuna. No entanto, se todos os 750.000 fãs ficarem com seus bilhetes, então todos eles terão todos inúteis pedaços
de papel. 

A  escolha  que  os  fãs  enfrentam  é  análoga  ao  problema  "Bar  El  Farol",  que  tem  sido  alvo  de  centenas  de  trabalhos
acadêmicos  e  inspirou  toda  uma  nova  disciplina  (Minority  Game).  Neste  problema,  há  um  pequeno  bar,  que  oferece  uma
grande  diversão  as  quintas­feiras  à  noite,  caso  tenha  menos  de  sessenta  pessoas.  Entretanto,  será  uma  noite  muito
desagradável se mais de sessenta pessoas estiverem presentes. Existem 100 pessoas na cidade. Assim, em uma quinta­
feira à noite, você irá ao bar ou não? 

Se  você  pensar  que  a  maioria  das  pessoas  vai  ficar  em  casa,  então  você  deve  ir.  Mas  se  todo  mundo  pensar  da  mesma
maneira,  o  local  ficará  lotado.  Uma  vez  que  você  percebeu  isso,  você  deve  ficar  em  casa  e  ouvir  um  CD.  Entretando,  se
todo  mundo  pensar  como  você,  daí  o  bar  ficará  vazio  e  você  perdeu  a  chance  de  se  divertir  no  bar.  Da  mesma  forma,  se
você raciocinar que cada fã Michael Jackson pedirá a restituição, então você deve ficar com o bilhete, mas eles pensam da
mesma maneira e haverá uma abundância de lembranças. Assim que você deve pedir seu dinheiro de volta, mas então ... 

Então, com o benefício de centenas de trabalhos acadêmicos de cientistas ao redor do mundo, o que deve fazer leitor que
possui um bilhete? A pesquisa nos diz que, se você assume que todo mundo vai usar a mesma estratégia que você, então
o melhor que pode fazer é arremessar um dado: decidir se deve ou não manter o bilhete, de acordo com uma probabilidade
determinada pela demanda de bilhetes e preços.

No entanto, calcular a probabilidade é bem difícil e os fãs, sem conhecer a teoria do Minority Game, não vão jogar os dados.
Existe um fator de que o problema Michael Jackson não está no mesmo padrão problema Bar El Farol. Se os proprietários
do  Bar  El  Farol  distribuíssem  folhetos  anunciando  que  iriam  ficar  quietos  nesta  semana,  então,  seria  uma  aposta  segura
ficar  em  casa  com  um  copo  de  vinho.  Portanto,  meu  conselho  seria  ler  os  jornais  e  decidir  o  que  fazer  com  base  nos
conselhos  de  um  expert.  Se  todos  os  artigos  estiver  dito  que  os  bilhetes  ficarão  como  coleção,  então  melhor  pedir  um
reembolso. Se todos artigos acusarem a AEG de rasgar os bilhetes de fãs distraidos, melhor então ficar com o bilhete. Foi,
afinal, projetado por Michael Jackson. 

Sei tudo isso soa implausível, e é. Teoria dos Jogos faz suposições exigentes sobre a racionalidade humana que pode não
se aplicar ao luto fãs. Eu faria uma investigação mais minuciosa em psicologia econômica que sugere que as pessoas não
estão  muito  dispostas  a  se  afastar  de  um  item  quando  sentem  um  senso  de  propriedade.  Um  fã  nostálgico  deve  pedir  o
reembolso. 

2. Dear Economist: Michael Jackson: ticket or refund? (Financial Times, por Tim Harford, 03/07/2009  [2]. 

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Pergunta: Após ler seu capítulo sobre o Teoria dos Jogos em seu livro, The Undercover Economist, descobri que os fãs de
Michael Jackson (cerca de 800.000 deles) tem a oportunidade de receber os seus bilhetes concerto como uma lembrança,
em  lugar  de  uma  restituição  do  dinheiro.  Presumo  o  valor  futuro  de  qualquer  um  bilhete  dependerá  quase  exclusivamente
sobre as escolhas dos outros 799.999 fãs. Para o não­fã nostálgico, que apenas pretende ver o melhor resultado financeiro,
qual seria o seu conselho com base numa análise de Teoria dos Jogos? Patrick Hudson 

Caro Patrick, 

Acho  que  ele  é  seguro  assumir  que  se  os  demais  799.999  fãs  ficarem  com  o  bilhete  como  recordação,  seria  melhor  ao  fã
remanescente pegar a restituição, ao passo que, se os 799.999 fãs pegarem o dinheiro de volta e 1 fã ficar com o bilhete,
este bilhete será muito valioso. (Temos também de assumir que o promotores não irão, em seguida, inundar o mercado com
os outros 799.999 bilhetes indesejados.) 

Da  perspectiva  de  Teoria  dos  Jogos,  o  equilíbrio  da  solução  é  claro.  Digamos  que  recordação  e  de  reembolso  são
igualmente  valiosos  se  100.000  ficarem  com  a  recordação  e  700.000  pegarem  a  restituição.  Nesse  caso,  cada  fã  deveria
adoptar uma "estratégia mista", com uma probabilidade de um oitavo tendo a recordação. (Nerdy Uma dica: roll três dados,
existe uma chance de que um em oito o total é de exatamente 10.) Cada fã terá prazer em randomise, porque cada fã, sabe
que uma ou outra maneira, ele ou ela vai ter algo de valor equivalente.
 
[1] Link http://timesonline.typepad.com/science/2009/07/will­your­michael­jackson­tickets­be­worth­more­than­a­refund.html

[2] Link http://www.ft.com/cms/s/2/01ce5dae­66a1­11de­a034­00144feabdc0.html

O jogo e o custo da sinalização
 
Todos  nós  sabemos  o  quão  difícil  é  encontrar  o  profissional  ideal  para  um  emprego.
Dezenas  de  candidatos  enviam  currículos  que  são  repletos  de  credenciais
impressionantes.  O  problema  é:  será  que  essas  credenciais  realmente  indicam  se  os
candidatos  são  de  fato  qualificados?  Na  verdade,  entra  em  cena  um  jogo  de
sinalização através de credenciais. 

Para tentar determinar se um candidato é qualificado, você precisa saber seu histórico e
como  ele  alcançou  as  suas  várias  credenciais.  Algumas  delas  podem  sinalizar  alta  produtividade  no  local  de  trabalho,
enquanto  outras  credenciais  não.  Um  jogo  de  sinalização  é  um  jogo  de  informação  assimétrica,  onde  o  primeiro  jogador
envia  uma  mensagem  para  o  segundo  jogador.  O  primeiro  jogador  (candidato)  sabe  o  seu  próprio  tipo.  O  segundo  jogador
(recrutador) não sabe tipo do primeiro jogador, mas vai agir depois de receber a mensagem.

Por  muitos  anos  o  "bilhete  de  entrada"  para  uma  carreira  bem  remunerada  tem  sido  um  diploma  universitário.  Um  diploma
pode revelar dedicação e inteligência, ou pelo menos demonstrar a própria vontade de investir recursos valiosos para a meta
de  auto­aperfeiçoamento.  Provavelmente  muitos  programas  de  graduação  fornecem  competências  que  são  valiosas  no
mercado.

Veja  como  o  Prêmio  Nobel  Michael  Spence  abordou  o  problema  de  unir  empregadores  e  candidatos  a  emprego.  Os
empregadores  querem  contratar  trabalhadores  produtivos,  enquanto  os  candidatos  querem  empregos  bem  remunerados.
Suponha  que  você  tenha  a  sensação  de  que  alguém  com  um  diploma  será  mais  produtivo  do  que  alguém  sem

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graduação ­ essa será nossa premissa básica. 

Quanto  um  trabalhador  produtivo  vale  para  uma  organização?  Vamos  medir  o  seu  resultado:  suponhamos  que  um
trabalhador produtivo gera $100.000 de receita para a empresa, enquanto um trabalhador improdutivo gera menos, digamos,
$50.000.

Agora  considere  um  empregado  em  potencial  iniciando  sua  carreira.  Usando  a  mesma  dicotomia,  vamos  supor  que  todo
mundo  no  mercado  de  trabalho  sabe  seu  próprio  tipo:  se  ele  é  realmente  um  trabalhador  produtivo  ou  improdutivo.  Esta
informação não é conhecida, é claro, para os empregadores. Que estratégia deve adotar esse indivíduo em particular: obter
um diploma antes de entrar no mercado de trabalho, ou então entrar no mercado de trabalho imediatamente?

Nós todos sabemos que concluir um curso de graduação e pós­graduação exige muito tempo, esforço e dinheiro. Sabemos
também  que  em  muitas  instituições  o  diploma  pode  ser  adquirido  apenas  pagando  mensalidades  e  aparecendo
ocasionalmente  nas  classes  (neste  casos,  entra  em  cena  a  credencial  da  instituição).  Mas  por  simplificação  nesta
premissa, por hora vamos considerar o problema de obter um diploma basicamente como monetário. Estudantes pagam por
suas credenciais, tanto diretamente em mensalidade ou em perda de rendimento.

Os  empregadores  estão  interessados   em  saber  se  os  profissionais  a  contratar  são  realmente  produtivos.  Mas  como  eles
não  pode  anexar  eletrodos  nas  cabeças  dos  candidatos  para  descobrir  isso,  eles  confiam  em  currículos  e  credenciais.
Lembre­se, neste exemplo estamos assumindo que ser titular de um diploma é um sinal de produtividade no local de
trabalho.

Obter uma gradução (ou outro diploma) é uma maneira de enviar um sinal. Mas lembre­se que diplomas universitários, como
a maioria dos sinais, não pode ser obtido gratuitamente para ser significativo ­ deve haver algum tipo de custo ou sacrifício
envolvidos.  A  questão  agora  é,  quanto  custa  para  obter  uma  credencial,  ou  em  outras  palavras,  investir  em  um  sinal  que
diz: "Eu sou produtivo" para o empregador?

Spence  assumiu  que  é  mais  caro  para  uma  pessoa  improdutiva  obter  uma  credencial  do  que  para  uma  pessoa
produtiva.  Há  maneiras  diferentes  de  ver  isso.  Uma  delas  é  que  a  pessoa  naturalmente  improdutiva  precisa  de  mais
esforço  para  alcançar  o  mesmo  objetivo.  Por  exemplo,  a  pessoa  improdutiva  acaba  terminando  o  curso  em  oito  anos,  em
vez de quatro para obter o seu diploma. Sem chegar com um número exato, vamos supor que uma pessoa produtiva precisa
gastar $C para obter suas credenciais, enquanto custa o dobro (ou seja, $2C) para a pessoa improdutiva para obter o seu.

Qual  salário  o  empregador  está  disposto  a  pagar?  Suponha  que  o  empregador  acredita  que  os  candidatos  credenciados
serão produtivos, e que os candidatos não­credenciados serão improdutivos. Ainda, suponha que o empregador anuncie um
salário  de  $90.000  para  candidatos  com  diploma,  e  $  45.000  para  aqueles  sem  diploma.  Queremos  descobrir  então  três
respostas:
1. Quais os candidatos devem procurar diploma
2. Se os empregadores estão realmente contratando as pessoas certas com os salários corretos
3. Quanto um diploma deve custar

Fazendo a análise

Primeiro, vamos resumir os dados neste mercado de trabalho:
• Os trabalhadores produtivos geram $100.000 de receita

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• Os trabalhadores improdutivos geram $50.000 de receita
• A empresa paga $90.000 para candidatos que tenham um diploma
• A empresa paga $45.000 para os candidatos sem diploma
• O diploma custa $C para as pessoas produtivas
• O diploma custa $2C para as pessoas improdutivas
• A empresa não sabe o tipo do candidato (produtivo ou improdutivo)

Suponha  que  um  candidato  produtivo  é  contratado.  (Lembre­se,  o  empregador  não  sabe  se  o  candidato  é  produtivo).
Considerando o custo da educação, esta pessoa receberá $90.000­C se ela tiver um diploma, e $45.000 se ela não tiver a
graduação. Da mesma forma, um candidato improdutivo receberá $90.000­2C se ele tiver um diploma, e $45.000 se não.

Desta forma, o profissional tipo produtivo terá mais benefício financeiro ao obter um diploma desde que (90.000­C) > 45.000.
E sobre o tipo improdutivo? Para essa pessoa, é melhor não começar um curso de graduação se 45.000 > (90.000­2C). Se
resolvermos  essas  duas  condições  em  conjunto,  vemos  que  quando  o  custo  da  educação  (C)  é  menor  que  $45.000,  é
melhor para o tipo produtivo obter seu diploma. Também, quando C é maior do que $22.500, não vale a pena para o tipo de
improdutivo fazer a graduação.

O  resultado  é  um  notável  equilíbrio  notável  separando  os  extremos  (separating  equilibrium).  Enquanto  o  custo  de  um
diploma  universitário  (neste  modelo)  é  entre  $22.500  e  $45.000,  os  dois  tipos  de  candidatos  a  emprego  se  segregam
perfeitamente. Os tipos produtivos sempre obtem um diploma, e vice­versa, os tipos improdutivos nunca.

Conclusão:  a  sinalização  que  ambos  enviam  é  perfeitamente  confiável.  O  empregador  vai  contratar  candidatos
credenciados pelo salário alto, e não­credenciados pelo salário baixo. Finalmente, este simples modelo social também nos
diz como a fixar um preço pela educação a fim de obter um resultado desejável. Observe que um preço baixo (por exemplo,
$ 22.501) é mais eficiente para essa sociedade do que um preço elevado (digamos, 44.999 dólares).

Um  alerta:  não  cometa  o  erro  de  tomar  qualquer  modelo  da  Teoria  dos  Jogos  muito  literalmente.  O  chamado  equilibrio
separador  (separating  equilibrium)  apenas  fornece  uma  história  atraente.  Você  deve  resistir  à  tentação  de  sair  escrevendo
uma  carta  a  revistas  especializadas  dizendo  quem  deve  ir  para  a  faculdade  e  quais  os  preços  estabelecer  para  cursos  de
graduação. Os modelos são bons enquanto as premissas são boas. Antes de tirar conclusões para o mundo real, você tem
que pensar muito sobre a legitimidade das generalizações. Na prática, diferentes diplomas enviam sinais diferentes, os seus
custos são diferentes, algumas instituições têm padrões mais elevados que outros, e assim por diante.

Como você pode suspeitar, o mundo perfeitamente ordenado (em forma de ranking entre os produtivos e improdutivos, por
exemplo)  não  existe  em  todas  as  situaçoes.  É  possível  que  alguma  sinalização  não  funcione,  criando  um  mundo
assimétrico e imperfeito.

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Mas os insights do modelo são bons. Além de concluir que existe uma faixa ótima de preço da educação que ajuda ou
induz  uma  sinalização  crível,  também  concluimos  algo  importante  sobre  os  extermos.  Se  é  muito  caro  para  obter  um
diploma, não vale a pena nem para o tipo produtivo, e certamente não vale a pena para o improdutivo (pois custo o dobro).
Assim,  neste  caso,  quando  o  custo  da  educação  é  elevada  (superior  a  $45.000  no  modelo),  todos  os  candidatos  são
agrupados no mesmo barco. Todos eles selecionam a mesma estratégia, que é não obter o diploma. 

Como ninguém vai obter um diploma, não há sinalização de produtividade e, conseqüentemente, o empregador irá oferecer a
todos  o  baixo  salário  pois  não  consegue  diferenciar  os  candidatos.  Diferente  do  equilibrio  separador,  este  é  o  equilíbrio  de
agrupamento (pooling equilibrium), onde os diferentes tipos são indistinguíveis para o empregador. Da mesma forma, se é
muito barato obter um diploma, vale a pena para todo mundo, produtivos e improdutivos, e todos terão o diploma, Assim, o
empregador também não consegue oferecer diferenciação no salário usando a credencial do diploma como indicador. 

A  vida  real  é  repleta  de  sinais  usados  pelas  pessoas  usando  credenciais  ou  outros  atributos  para  serem  percebidas  de
forma distinta e obter vantagem competitiva. Este jogo da sinalização é mais complexo do que o modelo apresentado, que
foi propositamente simplificado. Ficam os insights para sua próxima estratégia ­ como desenhar um esquema de incentivos
e custos que consiga diferenciar as pessoas para seu propósito? Igualmente, como emitir uma sinalização convicente?
 
Baseado no livro The Complete Idiot´s Guide to Game Theory, Edward C. Rosenthal, Alpha Editors, 2011

O jogo da busca de uma empregada doméstica
 
O  serviço  de  uma  agência  de  babá  ou  doméstica  geralmente  funciona  assim.  As  babás  procuram  a  agência,  preenchem
uma ficha, passam por uma triagem e fazem parte de um banco de dados. Os empregadores (pai ou a mãe com crianças
pequenas)  entram  em  contato  com  a  agência,  que  envia  algumas  candidatas  para  entrevista  de  acordo  com  o  perfil
solicitado. 

A agência não faz esse serviço de graça ­ o empregador paga o valor de um salário mensal da profissional e a babá
paga uma comissão.  O  valor  ao  empregador  é  alto,  mas  há  garantia:  se  durante  os  primeiros  três  meses  a  babá  não  der
certo, a agência inicia outro processo de indicações e entrevistas de graça. 

Antes de explorar os incentivos econômicos deste "jogo", abaixo um acontecimento real comigo. Contratamos uma agência
que  agendou  uma  entrevista  com  Maria  numa  terça­feira  às  10h.  No  dia  da  entrevista,  às  9h,  recebemos  uma  ligação  da
agência dizendo que a candidata não viria mais pois alegou um acidente de ônibus no dia anterior. A estória estava estranha
e pedimos o telefone da Maria. Ao ligar para ela percebemos certo gaguejar ­ estava claro que não era esta a verdade. Após
insistir, Maria revelou que a agência pediu a ela para inventar esta versão e não a verdade: o cliente da entrevista anterior
gostou e a contratou primeiro. Ligamos para a agência. A gerente disse que sabia apenas a estória do acidente de ônibus e
nada mais sobre outro emprego (sabia das demais entrevistas, mas sem efetivação até então). Ou seja, a gerente disse que
a agência também foi enganada. Quem estava dizendo a verdade? Ambas versões estavam estranhas. Não fomos a fundo
pois isso pouco importava. Bola para frente, próxima candidata. 

Mas  o  caso  oferece  ótimos  elementos  para  uma  análise  de  Teoria  dos  Jogos,  especificamente  no  Dilema  dos
Prisioneiros. Se todos colaborassem, todos ganhariam, mas observe os motivos econômicos de cada um:
­ A agência faz a triagem, oferece as babás e recebe seu pagamento (um salário)
­ A babá mostra suas qualidades, recebe seu emprego e paga a comissão

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­ A empregador paga um salário e recebe a babá

Não é difícil de ver que existem vários incentivos para a traição. Primeiro, nada impede que o empregador acerte com a
babá  de  contratá­la  "por  fora"  e  combinar  o  seguinte  discurso  para  com  a  agência:  o  empregador  diz  que  conseguiu  uma
babá com outra empresa (é legítimo procurar em mais de uma empresa) e a candidata diz que conseguiu emprego através
de outra agência (é legítimo e comum uma candidata usar mais de uma agência simultaneamente). Neste caso ambos não
pagam  nada  para  a  agência.  Mesmo  que  a  agência  venha  a  descobrir  o  conluio,  há  pouco  recurso  judicial.  Segundo,  nada
impede também que empregador e empregado combinem e mintam o salário final acertado para pagar menos comissão. 

Na verdade, o único jogador que não possui incentivos para a traição é a agência. A única vantagem que ela possui, devido
assimetria de informações, é saber de alguns "defeitos" da candidata e não revelar ao provável empregador e tentar passar
"gato  por  lebre".  Entretanto,  todas  as  deficiências  da  babá  são  descobertas  na  entrevista  ou  nos  primeiros  meses,  e  há  a
garantia  contratual  da  agência  de  iniciar  um  processo  novamente  sem  custo.  Qualquer  tentativa  de  deslealdade  ou
incompetência  da  agência  no  processo  agride  sua  própria  reputação.  Tecnicamente,  este  é  um  jogo  repetitivo  típico  ­  a
agência  depende  de  indicações  de  clientes  satisfeitos.  Uma  "escorregada"  da  agência  faz  com  que  ela  perca  clientes
potenciais. 

A  babá  é  outra  "jogadora"  que  possui  poucos  incentivos  para  trair  considerando  as  conseqüências.  Nada  garante  que  ela
fique no emprego o resto da vida e vai precisar de uma agência novamente. Certamente não terá lugar na mesma agência
que  traiu  e,  caso  os  concorrentes  sejam  minimamente  organizados  para  criar  uma  lista  negra  de  candidatos  (o  que  seria
certo, a exemplo de uma lista de mau pagadores no comércio), a traidora não conseguirá nenhuma ajuda na recolocação no
mercado.

O empregador é o único que não sofre do problema de reputação no jogo repetitivo, pois não existe uma lista negra de
clientes  a  ponto  de  prevenir  outra  agência  de  ter  um  empregador  mentiroso.  Neste  esquema  de  incentivos,  para  o  cliente
trata­se de um jogo de interação única; para a agência e babá são jogos de interação repetitiva, e isso faz toda diferença no
comportamento. 

Mesmo assim, a maioria dos clientes são honestos, por que? Existem duas possíveis explicações para isso. Primeiro, para
o  empregador  trair  é  necessário  a  participação  da  babá  na  trama  e  ela  não  tem  garantia  de  sucesso  no  novo  emprego  a
ponto  de  não  precisar  mais  da  agência  do  futuro.  Mais  que  isso,  existe  a  possibilidade  do  cliente  propor  e  a  babá  rejeitar
usando  argumentos  morais,  e  nenhum  cliente  gostaria  de  tal  repreensão  vexatória.  Segundo,  como  mostram  alguns
experimentos,  pessoas  não  necessariamente  agem  apenas  economicamente  quando  existem  nítidos  componentes  éticos
no jogo. Ou seja, seria fácil trair, com pouquíssima consequência, mas "é errado". Assim, vamos fazer a coisa certa. Ainda
bem. 
 

Onde aprender mais sobre Teoria dos Jogos
 
Se  você  deseja  se  aprofundar  mais  sobre  o  tema,  existem  várias  alternativas  disponíveis  em  livros  ou  em
sala­de­aula. Todas os formatos se complementam. 

Para  quem  gosta  de  ler  e  estudar  sozinho,  a  opção  ideal  são  as  publicações  específicas  sobre  Teoria  dos  Jogos.  Na
página  de  indicação  de  livros  [neste  link]  você  encontra  uma  série  para  o  leitor  auto­didata.  Há  basicamente  dois  tipos:

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aqueles  mais  técnicos  com  formulações  matemáticas  e  conceitos  mais  formais  (uma  espécie  de  livro­texto)  e  os  mais
voltados para o pensamento estratégico com mais estudos de caso, sem tecnicidade mas ainda específico sobre Teoria dos
Jogos.  A  maioria  são  na  língua  inglesa,  mas  já  há  boas  publicações  em  português,  seja  por  autores  nacionais  como  por
traduções. Apenas indiquei livros que possuo na minha biblioteca. 

Existem  livros  não  específicos  sobre  Teoria  dos  Jogos  mas  que  abortam  o  tema  em  algum  contexto.  Geralmente
apresentam um capítulo (ou menos) dentro dos tópicos de Economia ou Estratégia. Abaixo são dois exemplos. Apesar de
serem não serem profundos na teoria em si, apresentam uma boa noção.
­ Economia: The Cartoon Introduction to Economics, de Yoram Bauman 
­ Estratégia: A Estratégia e o Cenário dos Negócios, de Pankaj Ghemawat

A internet possui uma infinidade de sites ou artigos, evidentemente menos estruturados ou completos, mas ajudam a você a
formar  uma  cenário  mais  diverso.  A  página  de  links  [clique  aqui]  apresenta  algumas  opções  de  sites,  posts  em  blogs,
artigos em revistas/jornais e vídeos. 

Para  quem  quer  aprender  em  sala­de­aula,  geralmente  a  Teoria  dos  Jogos  é  ensinada  nas  disciplinas  de  Economia  nos
cursos de gradução e pós­graduação em Administração ou Economia, quando se aborda Competição em Oligopólios  [se
você tem alguma informação diferente, escreva aqui].

Como exemplo, alguns livros­textos de Economia que apresentam capítulos sobre Teoria dos Jogos são:
­ Introdução à Economia, de R Glenn Hubbard e Antony Patrick O´Brien
­ Principles of Economics, de Robert Frank e Ben Bernank
­ Microecnomics and Behavior, de Robert Frank

Além  dos  cursos  de  Economia/Administração  em  graduação  ou  pós,  existem  poucos  casos  de  cursos  presenciais
específicos  sobre  Teoria  dos  Jogos.  Apenas  conheci  um,  na  Casa  do  Saber  (link1  e  link2)  [se  você  tem  mais  alguma
informação, escreva aqui].

Mas  há  ainda  cursos  presenciais  para  executivos  onde  Teoria  dos  Jogos  é  um  tópico  dentro  do  currículo.  Como  exemplo,
abaixo dois cursos de Estratégia e um em Economia que utilizam a Teoria dos Jogos no contexto de tomada de decisões.
Clique aqui no programa e veja onde exatamente a Teoria dos Jogos está enserida.

1. Na Kellog Schooll of Management (NorthWestern University), curso executivo Competitive Strategy.
2. Na University of Chicago, curso executivo Corporate Strategy.
3. Na Fundação Getúlio Vagas (FGV), curso executivo GV­PEC Intensivo de Economia.

Ainda,  o  curso  em  vídeo  sobre  Strategic  Thinking  Skills  da  empresa  The  Great  Courses  também  apresenta  um  capítulo
sobre Teoria dos Jogos. Clique aqui no programa e veja onde exatamente a Teoria dos Jogos está enserida.

Um software para simular o torneio e a estratégia OLHO por OLHO
 
A  IOWA  State  University  possui  um  ótimo  sofware  para  simularmos  os  resultados  do  famoso  torneio  de  Robert  Axelrod,
onde a estratégia OLHO POR OLHO (TIT FOR TAT).

http://www.cienciadaestrategia.com.br/teoriadosjogos/list­imprimetodostrechos.asp 125/128
11/08/2016 Imprime todos os trechos

O link é http://www.econ.iastate.edu/tesfatsi/demos/axelrod/axelrodT.htm

Com  o  software  você  pode  escolher  quais  estratégias  jogarão  entre  si,  quais  os  payoffs,  quantas  rodadas  e  verificar  os
vencedores em formato de tabela e gráfico. 

Dois  grandes  livros  que  explicam  o  Computer  Prisioner´s  Dilemma  Tournament  e  o  resultado  da  estratégia  OLHO  POR
OLHO são:
­ The Evolution of Cooperation, de Robert Axelrod
­ Prisoner´s Dilemma, de William Poundstone

Trechos destes livros sobre o TIT FOR TAT são reveladores:

"The  trouble  with  TIT  FOR  TAT.  As  well  as  TIT  FOR  TAT  performed,  it  does  not  follow  that  it  is  the  "best"  of  all  possible
strategies. It is important to realize that no strategy is good or bad out of context. How well a strategy does depends on the
strategies  with  which  it  interacts.  TIT  FOR  TAT  does  have  several  failings.  It  doesn´t  take  advantage  of  unresponsive
strategies. When paired with ALL C (1), TIT FOR TAT coorperates and wins 3 points each dilemma.

It would do better to defect and win 5 points. In fact, with any unresponsive strategy, the best course of action is to defect.
Defection always yields a higher payoff in the current dilemma, and there is no possibility of retaliation with an unresponsive
strategy. TIT FOR TAT is more or less predicated on the assumption that the other player is trying to get a good score. After
the first move, TIT FOR TAT repeats the strategy of the other player. When paired with a "mindless" strategy like RANDOM,
TIT FOR TAT descends to its level and does no better." (Poundstone)

"TIT TAT won the tournament because it did well in its interactions with a wide variety of other strategies. On average, it did
better than any other rule with the other strategies in the tournament. Yet TIT FOR TAT never once scored better in a game
than  the  other  player!  In  fact,  it  can´t.  It  lets  the  other  player  defect  first,  and  it  never  defects  more  times  than  the  other
players  has  defected.  Therefore,  TIT  FOR  TAT  achieves  either  the  same  score  as  the  other  player,  or  little  less.  TIT  FOR
TAT won the tournament, not by beating the other player, but by eliciting behavior from the other player which allowed both to
do well. TIT FOR TAT was so consistent at eliciting mutually rewarding outcomes that it attained a higher overall score than
any other strategy." (Axelrod)

A grande contribuição deste simulador é fazer estes testes. Eu fiz. E é verdade sobre os pontos acima.
 
(1) ALL C significa Sempre Cooperar

O auto­interesse pode ajudar todo mundo
 
Nesta  sua  jornada  em  entender  os  reais  incentivos  para  prever  as  reações  do  outro  jogador,  é  muito  provável  que  seu
interlocutor busque maximizar os próprios objetivos. Chamamos este propósito de "auto­interesse" (do inglês self­interest).
O auto­interesse não é sinônimo de "egoísmo" e não necessariamente possui uma visão de "eu mais, você menos" ou "eu
ganho,  você  perde".  O  auto­interesse  é  o  interesse  em  si  próprio  na  busca  nos  próprios  ganhos  e  é  um  desejo  legítimo.
Você  pode  ganhar  mais,  eu  não  me  importo,  desde  que  eu  ganhe  o  que  eu  quero,  como  lucro,  market­share,  uma  boa
negociação de preço, ser promovido, mais dinheiro, poder ou qualquer utilidade, não importando se o outro jogador ganhe ou

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perca.  Meu  auto­interesse  não  está  vinculado  a  sua  perda  ­  pode  existir  o  "ganha­ganha"  mesmo  com  auto­interesse.  Não
estamos  falando  de  sabotagem  ou  métodos  destruidores.  Neste  contexto  do  auto­interesse,  não  há  nada  de  imoral  em
buscar os próprios objetivos. 

Pode parecer paradoxal, mas o auto­interesse também beneficia os outros. Popularizado por Adam Smith, há uma corrente
econômica  que  diz  que  a  sociedade  como  um  todo  faz  avanços  porque  os  indivíduos  maximizam  os  próprios  objetivos
(auto­interesse).  Conhecer  esses  objetivos  individuais,  particularmente  do  seu  adversário,  é  a  essência  do  Pensamento
Estratégico. James Miller faz uma caricatura interessante de como auto­interesse ajuda todo mundo e induz a colaboração.
Em seu livro Game Theory at Work ­ How to Use Game Theory to Outthink and Outmaneuver Your Competition, ele escreve
algo assim[2]:

"No  mundo  da  Teoria  dos  Jogos  não  existe  clemência  ou  compaixão,  apenas  auto­interesse.  A  maioria  das  pessoas  se
preocupam apenas com elas e todo mundo sabe e aceita isso. O seu empregador nunca vai te dar um aumento porque "é
uma coisa legal a fazer". Você conseguirá o aumento se convencê­lo de que isso serve aos interesses dele. Este mundo da
Teoria dos Jogos é igual ao ambiente supercompetitivo dos negócios no mundo capitalista. 

Mas  mesmo  quando  todos  agem  de  forma  cruel  e  competitiva,  a  lógica  da  Teoria  dos  Jogos  ensina  que  as  pessoas
egoístas devem cooperar e tratar os outros com lealdade e respeito. Você poderia perguntar, "Ler este livro irá me ajudar a
ganhar dinheiro?". Uma resposta genuína em Teoria dos Jogos seria: uma vez que você já comprou este livro, então eu
não realmente me importo qual benefício você terá ao lê­lo.

Na verdade, você provavelmente já comprou este livro ao ler a capa, a orelha, o índice e o primeiro paragrafo da introdução.
Talvez  eu  deveria  apenas  colocar  muito  esforço  nestas  pequenas  partes  do  livro  e  no  resto  apenas  ´encher  linguiça´,  ser
verborrágico  e  repetitivo  apenas  para  deixar  o  livro  grosso  o  suficiente  para  custar  mais  caro.  Afinal  das  contas,  eu  tenho
mais coisas importantes na vida para fazer do que escrever para o prazer de pessoas que eu nunca encontrei. 

É claro, eu gosto de dinheiro e quantas mais cópias do livro eu vender, mais dinheiro eu vou ganhar. Se você gostar deste
livro,  você  pode  sugerir  a  um  amigo  que  comprará  uma  cópia.  Também,  se  eu  escrever  outro  livro,  você  estará  mais
propenso a comprá­lo se gostar deste aqui. Assim, por razões puramente egoístas, eu colocaria bastante esforço para
oferecer a você informações valiosas.

Ainda,  a  editora  do  livro  (McGraw­Hill)  tem  o  direito  contratual  de  rejeitar  meu  manuscrito.  Como  ela  é  uma  empresa  de
longos  anos  no  negócio  de  publicações,  ela  seria  afetada  negativamente  se  publicar  um  conteúdo  imbecil  numa  boa
embalagem.  Por  isso,  se  eu  falhar  em  colocar  algo  de  valor  neste  livro,  a  editora  vai  pedir  de  volta  o  dinheiro  que  me
adiantou.  Por  isso,  saiba  que,  se  você  acabar  gostando  deste  livro,  não  é  porque  eu  escrevi  com  o  propósito  de
deixá­lo feliz. Eu o escrevi para maximizar meus rendimentos. Eu não me importo com sua satisfação. É o sistema
capitalista sob o qual os livros são produzidos nos EUA que criam incentivos para eu seriamente me esforçar a escrever um
livro que os consumidores vão gostar e ter benefícios ao ler."

A  descrição  de  James  Miller  pode  ser  um  tanto  caricata  ou  exagerada,  mas  representa  bem  como  o  auto­interesse  do
escritor fornece benefícios aos leitores e a editora. Como moral da estória, você precisa manter em mente que, na maioria
dos seus jogos, seus parceiros e concorrentes estão pensando NELES mesmo. Isso tem duas implicações ­ primeiro, como
descrito  no  Modelo  2,  você  precisa  saber  exatamente  qual  é  o  incentivo  e  motivação  deles;  segundo,  como  vimos,  não
necessariamente o auto­interesse é ruim.
 
[2] Game Theory at Work, James Miller, 2003, McGraw­Hill

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