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OSTROM 1990 – GOVERNANDO OS COMUNS

A evolução das instituições para a ação coletiva


Capítulo 1 – Reflexão sobre os comuns
As questões sobre como melhor governar os recursos naturais usados
comunitariamente por diversos indivíduos não são mais resolvidas na academia do que
no mundo da política.
Alguns artigos acadêmicos sobre a tragédia dos comuns recomendam que o
Estado controle (controle do Estado exige fiscalização e imposição de regras
ponderadas para cada situação) a maioria dos recursos naturais para prevenir a sua
destruição; outros recomendam que a privatização desses recursos irá resolver esses
problemas.
No entanto, nem o Estado, nem o mercado são uniformemente eficientes em
permitir que os indivíduos sustentem relações de longo prazo quanto ao uso produtivo
dos sistemas de recursos naturais. Destaca-se que comunidades de indivíduos têm
confiado em instituições que não se assemelham nem ao Estado nem ao mercado para
governar alguns sistemas de recursos com graus razoáveis de sucesso por longos
períodos.
Principais objetivos do livro:
1) Criticar os fundamentos da análise política tal como aplicado a muitos recursos
naturais;
2) Apresentar exemplos empíricos de esforços de sucesso e insucesso para
governar e gerir tais recursos;
3) E iniciar o esforço para desenvolver melhores ferramentas intelectuais para
entender as capacidades e limitações das instituições auto governantes para
regular muitos tipos de recursos.

1º Ostrom descreve os 3 modelos mais frequentemente usados para fornecer uma


base para recomendar soluções de mercado ou Estado.

Depois, ela postula algumas alternativas teóricas e empíricas para esses


modelos para começar a ilustrar a variedade de soluções que vão além dos Estados e
do mercado.

Por fim, utilizando um modelo institucional de análise, ela busca explicar como
as comunidades de indivíduos praticam diferentes formas de governar os comuns.

3 modelos influentes de base para propostas de governar os


comuns
1º A Tragédia dos Comuns
Quando um número de usuários tem acesso a um recurso coletivo, o total de
unidade de recursos retirados do recurso coletivo será maior do que o nível econômico
ideal de retirada.

2º O jogo do dilema do prisioneiro


Situação: produtores criando gado em um pasto coletivo; existe um limite para o
nº de animais que podem ser criados nesse pasto para que esses animais possam ser
bem alimentados (L).

- Em um jogo de duas pessoas, a estratégia “cooperativa” pode ser pensada como a


criação de L/2 animais para cada produtor.
Nessa estratégia, ambos os produtores ganharam 10 unidades de rendimento ao
limitar sua produção à L/2:
1 coopera 2 coopera – 10;10

- A estratégia de “defeito/ viciosa” é cada produtor aumentar o nº de animais o máximo


que ele achar que puder enquanto os lucros excederem seus custos.
Nesse caso, pode haver duas possibilidades:
- Se ambos os produtores optarem pela estratégia de “defeito/ viciosa”, eles
terão 0 benefício:
1 não coopera 2 não coopera – 0;0

- Se um deles limita sua produção à L/2 (coopera) e outro aumenta a sua


produção o máximo que puder/ quiser, o primeiro (tolo) tem um prejuízo de -1 e o
segundo (traidor) um rendimento de 11, ou vice-versa:
1 coopera 2 não coopera – 11; -1
1 não coopera 2 coopera – -1; 11

O jogo do dilema do prisioneiro é conceitualizado como um jogo não cooperativo


no qual todos os jogadores possuem informação completa. Em jogos não cooperativos,
a comunicação entre os jogadores é proibida ou impossível ou simplesmente
irrelevante desde que não seja explicitamente modelado como parte do jogo.
Se a comunicação for possível, presume-se que acordos verbais entre os
jogadores não sejam vinculativos, a menos que a possibilidade de acordos vinculativos
seja explicitamente incorporada na estrutura do jogo.
Informação completa implica que todos os jogadores conhecem a estrutura
completa da árvore do jogo e dos benefícios relacionados aos resultados. Os jogadores
também conhecem ou não os movimentos atuais dos outros jogadores, dependendo se
eles são observáveis ou não.
Em um jogo do dilema do prisioneiro cada jogador tem uma estratégia
dominante no sentido de que o jogador sempre é mais propício a escolher essa
estratégia (trair) não importa o que o outro jogador escolha.
Quando ambos os jogadores escolhem a sua estratégia dominante, dadas essas
suposições, eles produzem um equilíbrio que é o terceiro melhor resultado para
ambos (defect.-defect).
O equilíbrio resultante de cada jogador escolhendo a sua “melhor” estratégia
individual não é, no entanto, um resultado Pareto-ideal (tal resultado ocorre quando
NÃO HÁ outro resultado estritamente preferido por pelo menos um jogador que é
ao menos tão bom para os outros).
No jogo de duas pessoas do dilema do prisioneiro, ambos os jogadores
preferem o resultado de cooperar-cooperar ao resultado trair-trair. Assim, o resultado
de equilíbrio é Pareto-inferior e não Pareto-ideal. Contudo, em uma primeira rodada,
os indivíduos tendem a escolher a estratégia dominante.

3º A lógica da ação coletiva


Uma visão intimamente relacionada com a dificuldade de fazer com que os
indivíduos busquem seu bem-estar coletivo contrastado com o bem-estar individual foi
desenvolvida por Mancur Olson (1965) no seu livro A Lógica da Ação Coletiva.
A Tragédia dos Comuns, O Dilema do Prisioneiro e a Lógica da Ação Coletiva
são conceitos intimamente relacionados nos modelos que definiram a forma aceitável
de se ver muitos problemas que os indivíduos encaram quando tentam atingir
benefícios coletivos.
No coração de cada um desses modelos está o PROBLEMA DO CARONA.
Quando uma pessoa não pode ser desprovida do benefício coletivo que os outros
ajudam a fornecer, cada pessoa é motivada a não contribuir com o esforço coletivo,
mas a agir como carona as custas dos demais.
Se todos os participantes escolhem ser caronas, o benefício coletivo não será
produzido. A tentação de ser carona, no entanto, pode dominar o processo de decisão
e então tudo irá terminar onde ninguém queria estar (trair-trair). Alternativamente,
alguns podem fornecer enquanto outros agem como caronas, levando ao um nível
menor do que o ideal da promoção do benefício coletivo (cooperar-trair).
Esses modelos são, portanto, extremamente úteis para explicar como indivíduos
perfeitamente racionais podem produzir, sob certas circunstâncias, resultados que não
são “racionais” quando vistos pela perspectiva de todos os envolvidos.
O que torna esses modelos tão perigosos – quando eles são usados
metaforicamente como a base para a política – é que as restrições que se supõem
fixas para fins de análise são tomadas na fé como sendo fixadas em ambientes
empíricos, a menos que as autoridades externas as alterem.
Ou seja, os prisioneiros no famoso dilema não podem mudar as restrições
impostas a eles pelo promotor, eles estão na cadeia. Nem todos os usuários dos
recursos naturais são igualmente incapazes de mudar as suas restrições. À medida
que os indivíduos são vistos como prisioneiros, prescrições políticas irão abordar essa
metáfora. Prefiro abordar a questão de como melhorar as capacidades dos envolvidos
para mudar as regras de restrição do jogo para levar a resultados que não sejam
tragédias sem remorso.

O uso metafórico de modelos


Esses três modelos e suas muitas variantes são representações diversas de
uma teoria ampla e ainda em evolução sobre a ação coletiva. Muito mais trabalho será
necessário para desenvolver a teoria da ação coletiva em uma base confiável e útil
para análise política.
Como uma teoria em fase de evolução ao invés de completa, ela provoca
discordâncias com relação a importância ou insignificância de algumas variáveis e
quão melhor especificar relacionamentos chaves.

A crítica da autora concentra-se nesses próximos parágrafos:


Muito do que tem sido escrito sobre recursos de uso comum, no entanto, aceitou
sem críticas os modelos anteriores e a suposição de uma tragédia imbatível.
Estudiosos foram tão longe a ponto de recomendar que a Tragédia dos Comuns de
Hardin deveria ser leitura necessária a todos os estudantes, e se possível, de toda a
humanidade. Especificações políticas confiaram em grande extensão em um dos três
modelos originais, mas aquelas tentativas de usar esses modelos como base para
prescrição política encontraram frequentemente pouco menos do que um uso
metafórico dos modelos.
Quando os modelos são usados como metáforas, um autor geralmente aponta
para a semelhança entre uma ou duas variáveis em uma configuração natural e uma
ou duas variáveis em um modelo. Se chamar atenção para as semelhanças é tudo que
a metáfora pretende, ela atende o propósito usual de transmitir rapidamente
informações em forma gráfica. Esses três modelos foram frequentemente usados
metaforicamente, no entanto, para outro propósito.
A semelhança entre os vários indivíduos conjuntamente utilizando um recurso
em uma configuração natural e os muitos indivíduos produzindo conjuntamente um
resultado sub ótimo/ ideal no modelo, tem sido usado para transmitir uma sensação de
que mais semelhanças estão presentes. Referindo-se às configurações naturais como
“tragédia dos comuns”, “problemas da ação coletiva”, “dilema do prisioneiro”, “recursos
de acesso aberto” ou até mesmo “recursos de propriedade comum”, o observador
frequentemente deseja evoca uma ideia de indivíduos indefesos pegos em um duro
processo de destruição de seus próprios recursos.
Funcionários públicos algumas vezes não fazem mais do que evocar imagens
sombrias aludindo brevemente às versões popularizadas dos modelos, presumindo
como auto evidentes que os mesmos processos ocorrem em todos os ambientes
naturais. Muitos outros observadores assumiram que muitos recursos são como
aqueles especificados nos três modelos. Para tal, assume-se que os indivíduos caíram
em uma armadilha sombria. As recomendações políticas resultantes igualmente
tiveram um caráter sombrio.

Prescrições políticas atuais (JOGOS)


- O Leviatã como a “ÚNICA” maneira
A lógica do poder coercitivo de governar.
“Se a ruína é para ser evitada em um mundo aglomerado, as pessoas devem
responder a uma força coercitiva fora de suas psiques individuais (consciência).”
Pressão externa – um governo central controla a maioria dos sistemas de
recursos naturais.  Se não se pode esperar dos interesses privados a proteção do
domínio público, então é necessário que ocorra regulação externa por agências
públicas, governo ou autoridades internacionais.

EXEMPLO – JOGO 2:
- 1 autoridade externa impõe certas regras/ estratégias (quem pode usar o pasto,
quando pode usar, quantos animais podem ser criados); fiscaliza insistentemente e
penaliza qualquer produtor que não coopere.
- Multa por descumprimento das regras (não cooperação): - 2 unidades do
benefício.
1 coopera 2 coopera – 10;10 – SE FOSSE UMA EMPRESA INTERNA, TERIA UM CUSTO
DE FISCALIZAÇÃO.
1 coopera 2 não coopera – 9; - 1
1 não coopera 2 coopera – - 1; 9
1 não coopera 2 não coopera – - 2; - 2
Neste caso, a estratégia dominante será a cooperação
Se uma autoridade externa determina com precisão a capacidade do recurso de
uso comum, inequivocamente atribui essa capacidade, monitora as ações e aplica
infalivelmente sanções de inconformidade, então um agente centralizado pode
transformar o jogo dos produtores de Hardin para gerar um equilíbrio ótimo eficiente
para os produtores.
Pouca consideração é feita quanto ao custo de criar e manter tal agente (fator
exógeno ao problema).
Contudo, tal jogo é baseado em suposições considerando a precisão das
informações, capacidades de monitoramento, confiabilidade das sanções e custo zero
de administração.

JOGO 3 – a agência central possui informação completa sobre a


capacidade da área de pastagem, mas informação incompleta sobre as ações
particulares dos produtores.
Nesse caso, o agente central comete erros na hora de punir (deixando de punir
o não cooperativo e/ou punindo o cooperativo). O agente central pode não cometer
erros, então o jogo 3 se realiza conforme o jogo 2:
1 coopera 2 coopera – 10;10
1 coopera 2 não coopera – 9; - 1
1 não coopera 2 coopera – - 1; 9
1 não coopera 2 não coopera – - 2; - 2

Contudo, se o agente central erra ao realizar as punições, então o jogo passa a


ser:
1 coopera 2 coopera – 9.4; 9.4
1 coopera 2 não coopera – 9.6; -1.6
1 não coopera 2 coopera – -1.6; 9.6
1 não coopera
2 não coopera – - 1.4; - 1.4
O ponto de equilíbrio volta a ser o mesmo do Jogo 1. No entanto, com valor
menor do que se não existisse regulação. Assim, de nada adianta punição se o agente
central não tiver informação suficiente.

- A Privatização como a “ÚNICA” maneira


Da mesma forma, outros analistas políticos usaram igualmente os fortes termos
ao pedir a imposição de direitos de propriedade privada sempre que os recursos forem
de propriedade comum.
A única forma de evitar a tragédia dos comuns nos recursos naturais é acabar
com o sistema de propriedade comum criando um sistema de direitos de propriedade
privada.
A privatização dos comuns é a solução ideal para todos os problemas de uso
coletivo. A maior preocupação era em como fazer isso enquanto aqueles que já faziam
uso do recurso estavam indispostos a mudar para um conjunto de direitos privados
para os comuns.
Contudo, tal sistema é falho, visto que, não existem maneiras de privatizar
alguns tipos de recursos comuns, tal como o oceano ou o ar. Tal teoria poderia ser
aplicada à terra, mas não a outros recursos.

- A “ÚNICA” maneira?
Analistas que encontram uma situação empírica com uma estrutura
supostamente sendo um dilema dos comuns, muitas vezes exigem a imposição de uma
solução por um meio de um ator externo: A “única maneira” de se resolver o dilema dos
comuns é fazendo X.
Acredita-se que essa atitude é necessária e suficiente para resolver o dilema
dos comuns.
Ambas as soluções apresentadas anteriormente (agência central e privatização)
aceitam como um princípio central, que a mudança institucional deva vir de fora e ser
imposta sobre os indivíduos da ação. Contudo, eu não defendo nenhuma dessas duas
soluções. Pelo contrário, ao invés de haver uma única solução para um único
problema, eu defendo que muitas soluções existem para lidar com muitos problemas
diferentes.
Ao invés de presumir que soluções institucionais ideais podem ser projetadas
facilmente e impostas a um baixo custo por autoridades externas, eu defendo que
“obtendo as instituições corretamente” é um processo difícil, que toma tempo e que é
causador de conflitos. É um processo que precisa de informações confiáveis sobre as
variáveis de tempo e espaço assim como um extenso repertório de regras
culturalmente aceitas.
Novos arranjos institucionais não funcionam na prática como eles funcionam em
modelos abstratos, a menos que os modelos sejam bem especificados e válidos
empiricamente e os participantes em uma configuração prática entendam como fazer
as novas regras funcionarem.
O principal argumento da autora é que: a capacidade dos indivíduos de se
livrarem de vários tipos de situações de dilema varia de situação para situação.
Os casos abordados nesse livro ilustram esforços de sucesso e insucesso para
escapar de resultados trágicos. Ao invés de basear a política na suposição de que os
indivíduos envolvidos são indefesos, eu desejo aprender mais da experiência dos
indivíduos nas configurações práticas.
Por “sucesso” eu digo instituições que permitem os indivíduos de alcançar
resultados produtivos em situações onde as tentações para agir como carona e se
esquivar da cooperação estão sempre presentes.
As instituições raramente são privadas ou públicas – O mercado ou O Estado.
Muitas instituições de recursos de propriedade comum (CPR) bem sucedidas são ricas
misturas de instituições público e privado. Na prática, instituições públicas e
privadas frequentemente estão/ são intercaladas e dependem umas das outras,
em vez de existirem em mundos isolados.

Uma solução alternativa


Jogo 5 – os próprios produtores podem fazer um contrato vinculativo para se
comprometerem com uma estratégia cooperativa que eles mesmos vão
monitorar.
Um contrato vinculativo é interpretado dentro da teoria do jogo não cooperativo
como aquele que é infalivelmente aplicado por um ator externo – assim como
interpretamos a penalidade postulada anteriormente como sendo infalivelmente
aplicada pela autoridade central.
No jogo atual, uma maneira simples de interpretar isso é adicionando um
parâmetro (o custo de impor um acordo) aos retornos e mais uma estratégia para cada
conjunto de estratégia dos produtores.
EQUILÍBRIO RESULTANTE DO JOGO = O único acordo viável é que ambos os
produtores compartilhem níveis de rendimento sustentáveis do uso do pasto e os
custos de execução do acordo igualmente, desde que tais custos para cada produtor
seja inferior a 10.
No jogo 5 os jogadores podem sempre garantir que o pior que eles farão é o
resultado de ambos não cooperarem do jogo 1.
Eles não são dependentes da exatidão da informação obtida por um membro
distante sobre suas estratégias. Se um jogador sugere um contrato baseado em
informação incompleta ou tendenciosa, o outro jogador pode ter uma resistência em
concordar. Eles determinam seus próprios contratos e pedem ao executor para
executar apenas aquilo que foi acordado. Se o executor (monitor) decide cobrar muito
por seus serviços, nem o jogador concordaria com tal contrato.
A solução do jogo do dilema dos comuns por instrumentos similares ao jogo 5
não é apresentado como a ÚNICA maneira de se resolver o dilema dos comuns. É
SIMPLISMENTE UMA MANEIRA, que têm as suas fraquezas em muitos pontos.

Conjunto rico de aplicações alternativas para solucionar o jogo:


1. Uma terceira parte particular assume o papel de um executor externo.
2. Execução de contrato previamente acordado entre os jogadores.
3. O executor apenas auxilia as partes a encontrar métodos para resolver as
disputas que crescem dentro do conjunto de regras em uso as quais as partes
concordaram em cumprir.

A principal diferença do Jogo 5 para o 2 e 3 é que os próprios participantes


criam seus próprios contratos com base nas informações que eles têm. Eles observam
o comportamento dos outros e têm um incentivo para relatar infrações contratuais. O
interesse próprio daqueles que negociam o contrato os levará a monitorarem cada um
e relatar as infrações fazendo com que o contrato seja aplicado.
Contudo, o executor do contrato (agência externa reguladora) sempre precisa
contratar os consultores/ monitores, enfrentando assim o problema do agente-principal
em como garantir que os seus consultores cumpram com o seu trabalho (monitorar as
ações dos produtores).
É difícil estimar com precisão as multas apropriadas para conduzir ao
comportamento cooperativo. De fato, é mais preocupante quando as multas/
sanções impostas por um agente externo é excessivo aos participantes.
Um outro problema é que pode haver confusão entre agentes externos
(executores) de jogos onde houve comum acordo para a atuação desses e agentes
externos (analistas e funcionários públicos) de jogos dos tipos 2 e 3, onde não houve
acordo entre os membros sobre como cooperar e fazer cumprir acordos.
O que Ostrom pretende fazer com esses jogos simples é gerar diferentes formas
de pensar sobre os mecanismos que os indivíduos podem usar para livrar eles mesmos
do dilema dos comuns. Para desafiar essa mentalidade, é preciso apenas mecanismos
simples que ilustrem alternativas àquelas que normalmente são apresentadas como
soluções dominantes.

Uma alternativa empírica (caso dos pescadores da costa da


Alanya)

Muitas respostas potenciais vêm à mente com relação à questão do porquê


alguns indivíduos não alcançam os benefícios coletivos enquanto outros sim. Entre elas
uma combinação de fatores internos e externos.

- Fatores internos de determinados grupos interferem na capacidade dos


grupos em lidar ou não com as armadilhas próprias do dilema dos comuns.
Tipos de fatores internos:
1) Falta de comunicação;
2) Falta de confiança;
3) Nenhum senso comum de que eles possam compartilhar um futuro próspero em
conjunto;
4) Grupos de poder dentro do grupo como um todo que controlam as regras do
jogo;
A diferença entre aqueles que conseguiram e não conseguiram se livrar dos
dilemas dos comuns também pode ter a ver com fatores externos do seu alcance, por
exemplo:
1) Falta de autonomia para alterar a sua própria estrutura institucional;
2) Rápidas mudanças externas que afetam a capacidade do grupo de adaptar as
suas estruturas internas;
3) Forte influência de sistemas de incentivos perversos que são resultados de
políticas seguidas por autoridades centrais, etc.

Prescrições políticas como metáforas

Analistas políticos que recomendariam uma prescrição única para o problema


dos comuns deram pouca atenção a como os arranjos institucionais diversos operam
na prática.
Muitas prescrições políticas são nada menos do que metáforas. Tanto os
centralizadores quando os privatizadores frequentemente defendem instituições
idealizadas e simplificadas demais – paradoxalmente, quase instituições sem
instituição. Afirmações sobre a necessidade de regulamentação central e privatização
nos dizem nada sobre como elas serão instituídas e as suas principais características
para mitigar os problemas dos recursos comuns. Sendo que esses detalhes
institucionais são importantes.
Se quaisquer equilíbrios são possíveis ou não e se um equilíbrio seria uma
melhoria para os indivíduos envolvidos (ou para outros que por sua vez são afetados
por esses indivíduos) dependerá das estruturas particulares das instituições.
Além disso, a estrutura específica do ambiente físico envolvido também terá um
grande impacto na estrutura do jogo e em seus resultados. Assim, um conjunto de
regras usadas em um ambiente físico pode ter consequências muito diferentes se
usadas em um ambiente físico diferente (O AMBIENTE EXTERNO E AS
CARACTERÍSTICAS DESSE AMBIENTE IMPORTAM).

Políticas baseadas em metáforas podem ser prejudiciais


Os resultados podem ser diferentes dos esperados ao se confiar em metáforas
como base para o aconselhamento sobre políticas.
“A nacionalização da propriedade das florestas nos países do Terceiro Mundo, por exemplo, tem
sido defendida com o argumento de que os moradores locais não podem administrar florestas para
sustentar sua produtividade e seu valor na redução da erosão do solo. Em países onde pequenas
aldeias possuíam e regulavam suas florestas locais por gerações, a nacionalização significava
expropriação. Nessas localidades, os moradores haviam anteriormente exercido considerável restrição
sobre a taxa e a maneira de colher produtos florestais. Em alguns desses países, as agências nacionais
emitiram regulamentos elaborados sobre o uso das florestas, mas não conseguiram empregar número
suficiente de agentes florestais para fazer cumprir esses regulamentos. Os agentes florestais
empregados recebiam salários tão baixos que aceitar subornos tornou-se um meio comum de
complementar sua renda. Os efeitos desastrosos de nacionalizar florestas anteriormente comunais foram
bem documentados para a Tailândia, Nepal e Índia. Problemas semelhantes ocorreram em relação à
pesca costeira quando as agências nacionais presumiram que tinham jurisdição exclusiva sobre todas as
águas costeiras.”

Um desafio
Um desafio importante é desenvolver teorias de organização humana baseadas
na avaliação realista das capacidades e limitações humanas em lidar com a
diversidade de situações que inicialmente compartilham algum ou todos os aspectos da
tragédia dos comuns.
Teorias empiricamente validadas da organização humana serão ingredientes
essenciais de uma ciência política que pode informar decisões sobre as consequências
prováveis de uma multidão de formas de se organizar as atividades humanas.
Entretanto, pode-se ficar preso na própria teia intelectual. Quando anos foram
dispendidos no desenvolvimento de uma teoria com considerável poder e elegância, os
analistas obviamente irão querer aplicar essa ferramenta para o máximo de situações
possíveis. O poder da teoria é exatamente proporcional à diversidade de situações que
ela pode explicar. Contudo, toda teoria tem limites.
O que está faltando é uma teoria de ação coletiva adequadamente especificada
na qual um grupo de diretores pode se organizar voluntariamente para reter os
resíduos de seus próprios esforços. São exemplos de empresas auto-organizadas
(cooperativas, sociedade de advogados). Tais empresas irão desenvolver os seus
próprios mecanismos internos de governança e fórmulas para alocar custos e
benefícios aos parceiros.
Contudo, enquanto uma explicação teórica sobre empresas auto organizadas e
governadas é totalmente desenvolvida e aceita, a maioria das decisões políticas
continuarão a ser tomadas com base na presunção que os indivíduos não conseguem
se auto organizar e sempre precisam ser organizados por autoridades externas.
Sem uma teoria adequada de ação coletiva auto-organizada, não se pode prever
ou explicar quando os indivíduos serão incapazes de resolver um problema comum
através da auto-organização sozinhos, nem se pode começar a verificar quais das
muitas estratégias de intervenção poderão ser efetivas para resolver problemas
específicos.
OBJETIVO: entender como os indivíduos se organizam e se auto governam
para garantir os benefícios coletivos em situações onde as tentações para agir como
carona e romper compromissos são substanciais.
Contribuir para uma compreensão dos fatores que podem melhorar ou prejudicar
as capacidades dos indivíduos de organizar a ação coletiva relacionada ao
fornecimento de bens públicos locais.
Todos os esforços em se organizar a ação coletiva, seja por meio de um
regulador externo, uma empresa, ou um conjunto de diretores que desejam ganhar
benefícios coletivos devem dirigir-se a um conjunto comum de problemas, os quais tem
a ver com cooperar, agir como carona, resolver problemas de comprometimento,
providenciar o fornecimento de novas instituições e monitorar a conformidade dos
indivíduos com conjuntos de regras.
OSTROM 2010 – ENTRE MERCADOS E ESTADOS:
GOVERNANÇA POLICÊNTRICA DE SISTEMAS
ECONÔMICOS COMPLEXOS

2 Tipos de Bens – Samuelson

Bens puramente privados = Um indivíduo pode ser privado de seu uso se não
pagar por ele; apenas um indivíduo disfruta de tal bem, ou o faz à medida que os
demais obtenham menos acesso a esse bem.

Bens públicos = impossível de restringir o uso para aqueles que não pagaram
por ele; diversos indivíduos disfrutam do bem, sem limitação pela quantidade
consumida pelos demais.

3º Tipo de bem – Buchanan (“bens do clube”) – renomeado


para “bens de pedágio”
Bens exclusivos de associações privadas, os quais excluem os indivíduos que não são
membros de participar e consumir os benefícios de tal bem/ serviço disponível ao
grupo.

Termos: subtração de uso e exclusividade podem variar de baixa a alta.

Inclusão de um 4º tipo de bem – recursos de uso comum (florestas, sistemas de


água, áreas de pesca, a atmosfera) os quais compartilham as características de
subtração dos bens privados e dificuldade de exclusão dos bens públicos.

Bens de ‘pedágio’ – são aqueles fornecidos em menor escala por associações públicas
bem como por associações privadas.

Os tipos de bens afetam diferentemente os problemas que os indivíduos enfrentam na


criação de instituições para permitir que eles forneçam, produzam e consumam
diversos bens.

Esses 4 tipos de bens possuem subtipos de bens que variam substancialmente devido
a certas características/ atributos desses bens e fatores externos a esses bens.

Subtração do Uso (REPRESENTA A


FINITUDE DO BEM) se o bem é finito,
maior a subtração de uso do bem!!!
Alta Baixa
Dificuldade de se excluir Alta Recursos de uso Bens públicos:
potenciais beneficiários conjunto: lençóis segurança e paz
freáticos, lagos, de uma
comunidade,
defesa nacional,
conhecimento,
sistemas de irrigação,
proteção contra
áreas de pesca,
incêndio,
florestas, etc.
previsões do
GRUPO EXCLUSIVO
tempo, etc.
GRUPO
INCLUSIVO
Bens de ‘pedágio’:
Bens privados:
teatros, clubes
Baixa alimentos, vestuário,
particulares,
automóveis, etc.
creches.

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